A Conferência De Algeciras De 1906: a Posição Portuguesa Face À Questão Marroquina
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS A conferência de Algeciras de 1906: a posição portuguesa face à questão marroquina. Ilham Houass Tese orientada pela Prof./ª Doutora Teresa Nunes, especialmente elaborada para a obtenção do grau de Mestre em história Contemporânea. ANO 2016 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS A conferência de Algeciras de 1906: a posição portuguesa face à questão marroquina. Ilham Houass ANO 2016 Aos meus pais Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, a Deus que iluminou o meu caminho e deu-me a força para contrariar as dificuldades durante o período da elaboração deste trabalho. Á minha excelentíssima orientadora, a Professora Doutora Teresa Nunes, pelas suas fundamentais orientações e pelos seus conselhos constantes que me permitiram seguir importantes pistas de investigação e elaborar esta dissertação, A todos os meus professores de mestrado da Faculdade de Letras-Universidade de Lisboa, Aos meus pais e irmãos, uma palavra especial de reconhecimento, pelos seus incentivos, encorajamento e compreensão, pela ausência de três anos de imigração no meu segundo pais, Portugal, Aos meus colegas e amigos tanto marroquino como portugueses, pelas suas dedicações sem limites, Gostaria, também de aproveitar o ensejo para expressar o meu profundo agradecimento ao professor doutor Abdessalam Okab, e à Professora Doutora, Maria Antónia Mota, nossos coordenadores da Licenciatura dos Estudos Portugueses na Faculdade de Letras da Universidade de Mohammed V, pelos seus esforços, paciência, dedicação e profissionalismo em manter a ligação deste fio cultural e académico entre Portugal e Marrocos, Estou muito grata, finalmente, aos membros de júri por terem aceitado ler e avaliar a minha dissertação. Este trabalho teve o apoio financeiro de Camoês- Instituto da Cooperação e da Língua I.P., através da cedência de uma bolsa de investigação (referência n° 510322506), imprescindível para a conclusão deste estudo. Resumo Neste estudo visa-se estudar a primeira crise marroquina ou a questão marroquina, como os historiadores contemporâneos ocidentais lhe chamavam, na conferência de Algeciras de 1906, procurando perceber a posição portuguesa face a questão marroquina, com base em documentos inéditos existentes nos arquivos nacionais de Portugal, como o arquivo Histórico-diplomático de Ministério de Negócios Estrangeiros. Trata- se de analisar uma serie de correspondências, despachos, relatórios de diplomatas, etc. A importância desta documentação consiste na informação que contém acerca de questões, tais como as rivalidades das potências europeias em torno de Marrocos, a rutura de Statu quo de Marrocos e a celebração duma conferência internacional em Algeciras. Palavras-chave: Marrocos; Portugal; a Conferência de Algeciras. Résumé Cette étude vise à étudier la première crise marocaine ou la question marocaine, comme les historiens occidentaux contemporains l'appelaient, dans la conférence d'Algésiras en 1906, en cherchant à se rendre compte de la position portugaise face à la question marocaine, sur la base des documents inédits existants dans les archives nationales du Portugal, comme l’archive Historique-diplomatique du Ministère des Affaires Etrangères. Il s'agit d'une série de correspondances, d’ordonnances, de rapports diplomatiques, etc. L'importance de cette documentation réside dans l'information qu'elle apporte au sujet des questions telles que les rivalités des puissances européennes autour du Maroc, la rupture du statu quo du Maroc et la célébration d'une conférence internationale à Algesiras. Mots-clés: Maroc; Portugal; la Conférence d'Algesiras. Índice Introdução 7 I. Marrocos e a penetração europeia............................................................................................. 13 1. A pressão militar................................................................................................................... 13 2. A pressão económica............................................................................................................ 20 3. O estabelecimento europeu em Marrocos........................................................................... 28 II. A Conferência de Algeciras………………………………………………………………… 33 1. A contextualização................................................................................................................... 33 2. A definição de objetivos diplomáticos.................................................................................... 43 3. A caracterização das diplomacias europeias em confronto e seus protagonistas……… 58 III. A posição portuguesa face à questão marroquina................................................................. 69 1. Os trabalhos preparatórios e a percepção dos diplomatas portugueses........................ 69 2. A posição portuguesa no contexto da conferência.............................................................. 81 3. Portugal face às Polémicas e Resoluções da Conferência…………………………….. 95 4. Áreas de interesse e influência portuguesa..................................................................... 101 Conclusão………………………………………………………………………............................ 111 Fontes e bibliografia……………………………………………………………………………… 115 Introdução No início do século XIX, Marrocos foi um Estado soberano pleno reconhecido pelo cenário internacional da época e, em particular, pelos países europeus. Prova disso é que o Império Xerifino estabeleceu embaixadas, ratificou vários tratados e respeitou as cláusulas das convenções internacionais. No entanto, no segundo terço do século XIX, mais precisamente, em 1844, Marrocos confrontou-se com uma situação vulnerável perante a pressão europeia. Na realidade, esta situação já se fazia sentir muito antes, nomeadamente, a partir da Idade Média e desde então foi crescendo. Mas, com a consolidação do crescimento económico europeu a partir de meados do século acima referido, Marrocos passou a ser mais dependente do comércio exterior, tornando-se deste modo um instrumento ao serviço dos interesses estrangeiros. As guerras napoleónicas atrasaram o dito processo, mas depois de 1815, a Europa, 1 que tinha adquirido consciência política com as negociações de Viena , estava disposta a intervir em nome da conjugação de duas premissas: a liberdade e a tradição. A libertação dos escravos, a eliminação da pirataria e a liberalização do comércio eram os lemas daquele 2 momento . A nova fase vivida pelos países da Europa não era suficiente para explicar o movimento expansionista colonial europeu. O problema essencial, segundo o autor Jean- Louis Miège, « est celui du passage de L’impérialisme de fait, du free trade- celui de l’expansion commercial et de la domination économique à la colonisation avec contrôle 3 politique et occupation territoriale ». Essa política expansionista colonial europeia, que se consolidou a partir de meados do século XIX, envolveu Marrocos no jogo das estratégias políticas e comerciais dos países europeus. Vislumbrou-se então os cinco principais protagonistas nesta área regional: a França, contígua devido à sua presença na Argélia, esperava concluir o seu império colonial pela conquista de Marrocos; a Espanha, estabelecida no Norte de Marrocos, seja na conquista de 1- O congresso de Viena foi uma conferência diplomática ocorrida na capital de Áustria (Viena) entre Setembro de 1814 e Junho de 1815. Contou com a participação das principais potências monárquicas do período (Grã- Bretanha, Prússia, Rússia e Áustria), a fim de estabelecer o equilíbrio de forças entre as nações europeias após a queda do império francês liderado por Napoleão Bonaparte. 2- Abdallah Laroui, Historia Del Magreb desde los Orígenes hasta el Despertar Magrebí. Un ensayo interpretativo, Madrid, Editorial MAPFRE, 1994, p. 283. 3- Jean-Louis Miège, Expansion Européenne et Décolonisation de 1870 à nos jours, Paris, Presse Universitaire de France, 1937, p. 151. 7 4 império alauita para segurança das suas praças de Ceuta e de Melilla, seja como uma alternativa colonial na perda das suas colónias de América, em 1898; a Grã-Bretanha, senhora de Gibraltar e preocupada com a presença francesa na costa mediterrânea africana, considerando-a um atentado contra a segurança das suas rotas marítimas; a Itália, uma potência mediterrânica, acalentou, durante anos, realizar a sua empresa colonial nas terras entre a Tripolitânia e a Tunísia, para defender as suas águas no Mediterrâneo, transformando a zona central do mar num “lago” Italiano; e a Alemanha que, desde o início da sua Weltpolitik, considerou-se parte interessada em Marrocos, como forma de exigir compensações para a sua expansão colonial noutras áreas geográficas. Os interesses e objetivos muito diferentes de cada um dos países referidos levaram Marrocos a entrar gradualmente numa série de conflitos, a fim de proteger a sua independência como Estado. Neste contexto, Marrocos assinou diversos acordos bilaterais e outros coletivos, por vezes sob pressão dos países europeus, devido a eventos importantes, como a guerra de Isly, em 1844, e, mais tarde, com a Batalha de Tetuão de1859-1860. Estes dois conflitos bélicos abriram um novo capítulo nas relações de Marrocos com as potências ocidentais. Um capítulo doloroso, caracterizado, anos após anos, por novas e sucessivas cedências no campo comercial. Estas concessões foram uma das primeiras causas da crise marroquina, que, mais tarde seria internacionalizada em duas conferências: a primeira foi a Conferência de Madrid, em 1880 e a segunda foi a Conferência de Algeciras, realizada em 1906. A partir desta perspectiva,