Historia Da Litteratura Espirito-Santense [Microform]

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Historia Da Litteratura Espirito-Santense [Microform] I B R.AFLY OF THE UNIVLRSITY OY ILLINOIS 869.909 C57h \ -i *-'•" v<f^-i ir ""^-m. •^'' '.--- flPPONSO CLÁUDIO 'r^p^im^'^^h^KP-^''^- Historia da Litteratura Espirito - Santense COl»-! XJ3S/I FROLOOO POB CLÓVIS BEVILÁQUA (Subsídios para a Histeria da Litteratura grasileira) PORTO Officinas do "Commercio do Porto' 108—Rua do «Commercio do Porto»—112 1912 ? 7 ^^/. >^'^.t—^ <--c-«í€-£>^ <']:'-m^mr C57A , SyMo J{oméro, o tgregio aucfor da ijfistoria da Sifterafura brasileira* e incomparável renovador da critica litteraria neste paiz. homenagem do mais obscuro dos seos discípulos e admiradores. (Zyt mo-cidade a quem incumbe a gloria e o dever de venerar e augmentar o patri- mónio litterario que IÇe transmitti- ram os seos antepassados. A MEUS FILHOS jÇlaríco, T{egina Judif}} de freifas. DO MESnO AUCTOR: Critica histórica; A Insurreição do Queimado (Edição à'A Provinda do Etpirito-Santo Vietoria, 1886, exgottada). Critica biographica: Dr. João Climaco (Edição do Instituto Profissional, Rio de Janeiro, 1902). Carta- prologo r AFFONSO CLÁUDIO Percorri as paginas da Historia da Litteratura Espirito-Santensee nem. sei dizer quantas vezes, uma phrase, uma idéa ou uma referencia, penetran- do-me o espirito, fêl-o remontar á epocha em que, no Recife, ouviamos as prelecções do conselheiro Silveira de Souza, intelligencia culta e despren- dida, a dissertar sobre o direito natural, e as do conselheiro Pinto Júnior, alma bondosa e châ, forçada a debater-se nas agruras do Warnkoenig. Andávamos a sonhar cousas grandiosas para a pátria ; acreditávamos em um sol radioso da sciencia, cahindo em fustigações luminosas sobre as trevas adensadas na terra ; e, nas tardes refres- cadas pelas virações que remontavam o Capibe- ribe, gostávamos de celebrar os fastos litterarios do tempo ou de recordar, no silencio das tristes noites do convento de S. Francisco, as audácias lyricas dos poetas de nossa predilecção. Seguiu você depois outro rumo, andou por S. Paulo, batalhou na politica, foi magistrado no seu querido Espirito Santo, e agora de novo nos encontramos. Certamente nâo quer inculcar que nesse pe- daço do Brasil tenha florescido uma litteratura vigorosa e autónoma. Pretende apenas mostrar que também ahi têm vivido e trabalhado cultores conspícuos das lettras, alguns dos quaes influíram na evolução do pensamento geral do Brasil ; outros, mais modes- tamente dotados, apenas formaram o plano de onde se destacaram aquellas figuras maiores. E, depois da leitura de seu livro, feito com esmero, fica-se vendo melhor que, se o Espirito Santo nâo se tem constituído um foco luminoso de irradiação litteraria, nâo lhe passaram ao longe as correntes que têm movimentado a litteratura pátria. E' um pequeno Estado, que pode hoje apre- sentar os nomes de um Collatino Barroso ou de um Ulysses Sarmento entre os seus artistas da palavra, de um Cândido Costa, entre os seus pesquisadores da historia pátria e de um Moniz Freire, entre os seus jornalistas doutrinadores, nâo é certamente uma terra improductiva de boas intelligencias, no numero das quaes merece ser contemplado o auctor du Historia da Litteratura Espirito-Santense. Nâo é este livro simplesmente um serviço ; prestado ao Espirito Santo, cujos fastos litterarios se celebram. É uma contribuição valiosa para a historia da litteratura brasileira, porque é da ar- ticulação dos differentes núcleos locaes que se forma a litteratura do paiz porque se põem ; em relevo e sob uma luz particular certos vultos, que talvez não fossem sufficientemente apreciados por observador collocado em outro ponto de vista; e porque se podem destacar peculiaridades e mi- núcias, que expliquem melhor certas idéas e ten- dências notadas nos escriptores. Sua feição particularista será mais própria para afagar o amor próprio dos espirito-santenses mas o seu aspecto gerai interessa a todos os bra- sileiros. Assim como, nos diversos Estados da Repu- blica, associações beneméritas se afadigani na pes- quisa da historia local, erigindo as solidas mura- lhas que hâo de constituir o vasto edifício da Historia do Brasil, também das contribuições dos historiadores da vida litteraria dos differentes Es- tados, ha de resultar um conhecimento mais exa- cto e mais seguro da evolução mental do paiz, so- bre tudo se ás monographias particulares forem traçadas com o cuidado e com o critério da sua. Rio, março de 1907. Clóvis ^evilaqua. - -PS Explicação preliminar Este li vfo estava destinado a ser impresso na Im- prensa Nacional, em virtude da auctorisação conferida áò presidente da Republica, pelo art. 8.® n.° iii, da lei orçamentaria n.° 1.617, ^^ ^° ^^ dezembro de 1906. Entregues os originaes na Secretaria do Interior effi começo de 1907, a requerimento do auctor foi orçado na Imprensa Nacional o custo da impressão, em 4:o6/\.ítt>4SS réis, correspondente á edição de 1:000 exemplares, dos quaes teria a União metade, nos termos - ^ ;tííí rasí da lei citada. ^ ^^ ' Demorando-se o Governo Federal em decidir si conéentiá ou não na pedida impressão, novo reque- rimento lhe foi dirigido, mas como o primeiro hlo ; lõgi^u despacho. ,- : ' ' Convencido de que a auctorisação não teria effe- (ítividade, pela pouca attenção dispensada ás reiteradas reclamações, requeri em setembro a restituição dós ori- ginaes, abrindo ásàim mão do favor que o Congresso Nacional prodigalisou-me, mas a que o Governo houVe por bem negar apoio, sob o pretexto de não aggravar o' déficit orçamentário! Embora esse mesmo motivo devesse prevalecer em relação â soberba loucura da Exposição Nacional de 1908, eu resignei-me a ouvir XVIII o que ficou dito, a mim mesmo jurando que nestas paginas deixaria registrada a alludida declaração do Governo, symptoma evidente do desapreço em que vivem as lettras neste paiz! Sem poder acudir ás despezas que a publicação re* clamava, ficou o trabalho aguardando ensejo para ser estampado, até que em começo de 1909, o Governo do Estado do Espirito Santo, pretendendo inaugurar a Im- prensa Estadual e desejando solemnisar esse aconteci- mento com a impressão de um livro referente aos homens e coisas da ex-provincia, distinguio com a sua preferencia o escripto a que venho alludindo. Reanimado com a es- perança de que teria afinal realidade o fructo do estudo de alguns annos, destinado por mim á divulgação pela imprensa, enviei ao mesmo Governo com a possível bre- vidade os originaes em meo poder, os quaes foram aco- lhidos com a maior benevolência, havendo o jornal oíScial — Diário da Manhã, — de i3 de abril daquelle anno, noticiado nestes termos a próxima estampagem da minha Historia da Litteratura: «Estampamos hoje a carta prologo que o dr. Cló- vis Beviláqua dirigiu ao nosso illustrado conterrâneo dr. Affonso Cláudio, a propósito da Historia da Litteratura Esp irito- Santense. Dispensamo-nos de salientar o valor dessas paginas com as quaes o bello talento do dr. Aífonso Cláudio vae enriquecer a bibliotheca do Estado, por isso que o mérito de sua importante obra foi exuberantemente sagrado pela penna adamantina do eminente jurisconsulto brasi- leiro que traçou os períodos em outro logar transcriptos. Reconhecendo a necessidade de prestigiar o utilíssimo livro facilitando a divulgação de quanto elle se occupa em prol do nosso engrandecimento intellectual, o sr. dr. Jeronymo Monteiro poz á disposição do sr. dr. Aífonso » . XIX Cláudio as officinas da imprensa oíticial para a impressão do vantajoso livro, logo que ellas estejam apparelhadas para satisfazer a serviços dessa natureza. ,. ^ . Assim s. ex.* manifesta o muito que lhe merece o sr. dr. Affonso Cláudio, que com esse trabalho presta mais um serviço real á terra que lhe deu o berço, cuja iitteratura elle estuda com admirável fulgor. Mas, todas essas promessas e boas phrases não pas- saram de illusorias miragens; decorridos dois annos, apezar das informações officiaes trazerem ao meo conhe- cimento que o serviço de composição havia começado, nada estava feito, nem uma linha entrara em lettra de forma, de sorte que tomei a resolução de solicitar a de- volução dos autographos, restando-me apenas agradecer ao presidente do meo Estado, a presteza com que acce- deo ao meo pedido. E não foi pequeno favor! . Eis em resumo, as peripécias que retardaram a pu- blicação do presente estudo, ora confiado á pericia de um editor amigo, sem nem-um bafejo dos Governos deste paiz. Servindo á causa das lettras de minha Pátria e em particular do meo torrão natal, a animação com que meos conterrâneos e amigos acolheram este livro e as expres- sões gentis com que acariciaram a leitura que do original fizeram, confortando-me em um estádio da vida em que as desillusões fanaram todos os ideaes, constituem um incentivo poderoso para que as profícuas pesquisas litte- rarias prosigam e novos achados venham avolumar o acervo do nosso thesouro intellectual, fragmentado em monumentos que atravessaram mais de dois séculos, ex- postos a todas as vicissitudes. Essa tarefa pertence á mocidade; eu, dou-me por XX satisfeito com a pequena contribuição que as paginas a seguir imperfeitaniente condensam, certo de haver o assumpto sido tratado por escriptores de reputação feita nô mundo litterario em que vivemos; sem temor, porem, posso confessar, que si por esse motivo arrisco o meo obscuro nome, o brilho e a grandeza do daquel- les que o houverem ou tenham de o eclypsar, servir- me-ão de consolo, ou na bellissima linguagem do maior historiador de Roma: — si in tanta scriptorum turba mea fama in obscuro sit^ nobilitate ac magnitudine eorum^ neo qui nomini officient^ me consoler; Tito Lívio, Hist. Rom. /, pref. Rio, 1909. Stffonso Cláudio. INTRODUCÇÃO Feição Garacteristica da Litteratura Nacional. Insigne escriptor pátrio, enn recente obra por todos os motivos digna de applausos e de demorado estudo, assevera que a litteratura em toda a America, tem sido um processo de adaptação de idéas européas ás socie- dades do continente, adaptação que tendo sido mais ou menos inconsciente no tempo colonial, hodiernamente tende a tornar-se deliberada e comprehensiva (*).
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