DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

(Editada desde 1851)

v. 133 n. 10/12 out./dez. 2013

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 133 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2013 A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990, com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha. –– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943. Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005 COMANDO DA MARINHA Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Corpo Editorial Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor) Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

Diagramação Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Assinatura/Distribuição Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes Marinheiro-QPA Tierry Pinheiro Almeida

Departamento de Publicações e Divulgação Primeiro-Tenente (RM2-T) Luiz Cesário da Silveira do Nascimento

Apoio Administrativo e Expedição Suboficial-CN Maurício Oliveira de Rezende Suboficial-MT João Humberto de Oliveira Artífice de Artes Gráficas Ilda Lopes Martins

Impressão / Tiragem Mangava Comércio Ltda / 8.500 A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial daMARINHA DO BRASIL desde 1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN- TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não refletindo o pensamento oficial daMARINHA . As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos, entretanto, a citação da fonte.

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9 nossa CAPA 9 JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO Deolinda Oliveira Monteiro – Jornalista Breve histórico. Ordem do Dia do Comandante da Marinha. Exposição do Diretor do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Comemorações

  

22 O deSaFio Geraldo de Souza Vieira – Vice-Almirante (Refo-IM) Memórias do Arsenal de Marinha – pensamentos e ideias. Abordagem expondo a amplitude das tarefas. Na Ordem do Dia, as belas palavras do autor. Exortação

33 CHARLES DE GAULLE: A GUERRA DA LAGOSTA E A DIPLOMACIA NAVAL Guilherme Mattos de Abreu – Contra-Almirante (RM1) Crise potencialmente grave que evoluiu para solução aceitável. Atuação da Mari- nha. Visita de De Gaulle ao Brasil – relacionamento cordial com Castelo Branco

39 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES Sergio de Almeida Oliveira – Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN) Marcelo A. Savi – Professor Doutor Sensores e atuadores empregados em estruturas ou sistemas. Ligas com memória de forma, materiais piezoelétricos e magnetoestrictivos, fluídos eletromagnetorreológicos. Aplicações e usos

57 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO Eduardo Italo Pesce – Professor René Vogt – Engenheiro Pressupostos básicos – Marinhas que possuem. Comparação de características. Navios simples e versátil

67 Por que a 148a Divisão Alemã se entregou somente aos brasileiros na Itália? Gelio Fregapani – Coronel (Refo) Desempenho digno e louvável de brasileiros na Itália. Quinze mil alemães se rendem à Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial

70 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen (Parte II) Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1) Como se formavam os oficiais de carreira da Royal Navy. A seleção, a escolha e a profissão naval. O exemplo de Nelson 88 FALHAS ORGANIZACIONAIS EM ANÁLISE DE ACIDENTES: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO COSTA CONCORDIA Luiz Octávio Gavião – Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN) Gilson Brito Alves Lima – Professor Doutor Análise de acidentes – fatores – metodologia para exame. Análise de resultados: síntese do acidente – o Costa Concordia e as falhas cometidas

109 OS PORTOS HISTÓRICOS: A GÊNESE DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DO SUL DO BRASIL Marcia Fernandes Rosa Neu – Professora Doutora Síntese da economia no Sul. Portos de Antonina, Laguna, Pelotas e Porto Alegre. Importância e declínio

124 Desafios e perspectivas da educação a distância no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha Antonio Tadeu Cheriff dos Santos – Professor Doutor A experiência do ensino a distância no HNMD. Auxílio na formação do pessoal – diretriz política no desenvolvimento dos cursos

134 CRUZADOR: UMA NAVIS RARA William Carmo Cesar – Capitão de Mar e Guerra (Refo) Gênese do navio de guerra – o cruzador e sua diversidade. Na Marinha do Brasil e no mundo

143 treinando oficiais para a missão de LÍDERES EDUCADORES EM VILLEGAGNON: O RELATO DE UMA EXPERIêNCIA Erica Barreto Nobre – Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Justificativa e antecedentes. A experiência: planejamento, objetivos, programa e metodologia. Avaliação e resultados

153 Sistemas de Propulsão Azimutal – Eficiência e Segurança Luiz Fernando Theodoro de Castro – Engenheiro Naval Evolução da tecnologia – sistemas de propulsão azimutais. Das pequenas unidades aos navios maiores. Perspectivas na indústria brasileira

161 OPERAÇÕES ESPECIAIS REALIZADAS PELAS EQUIPES SEAL DA MARINHA NORTE-AMERICANA EM AÇÕES DE GUERRA RIBEIRINHA CONDUZIDAS DURANTE O CONFLITO DO VIETNÃ Rodney Alfredo Pinto Lisboa – Professor Breve histórico do Vietnã. Consequências da Guerra Fria. Gênese das equipes Seal. Engajamento na guerra e sua retirada. Referência internacional

173 Marinha do Brasil e as Práticas de Compensação Comercial, In- dustrial e Tecnológica Anderson Chaves da Silva – Capitão de Corveta (IM) Breve histórico do offset. No mundo, no Brasil, na Marinha 184 ÉTICA: A TÁTICA DA VIDA – As virtudes como princípios éticos úteis para a Liderança Militar a partir do pensamento aristotélico, na obra Ética a Nicômaco Leandro Aparecido Rossetto Alves – Segundo-Tenente (RM2-T) Liderança – ética – ética militar. Virtudes e atributos da ética. Tática da vida do homem em sociedade

193 DEFESA E DIPLOMACIA – O BRASIL E AS MISSÕES DE PAZ DA ONU Victor Luiz Meirelles de Souza – Guarda-Marinha O Brasil nas missões de paz – participação da Marinha. Haiti – Líbano. Comando da Força-Tarefa Marítima da Unifil

203 O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL Matheus Ronaldo Custódio Brandão – Guarda-Marinha Daniel Martins Saraiva Leontsinis – Guarda-Marinha O trabalho em equipe – clima organizacional para melhor rendimento. A preparação e os fatores geradores do comportamento

208 ARTIGOS AVULSOS 208 MICROCRÉDITO: UM ESTUDO DE CASO NO PROGRAMA CREDIAMIGO DO BANCO DO NORDESTE DO BRASIL Marcelo Gomes da Cunha – Capitão-Tenente (IM) Rodrigo José Guerra Leone – Professor Doutor Pesquisa a respeito de gestores de instituições de microcrédito. Análise descritiva. Acesso ao crédito a empreendedores com atividades relacionadas à produção

210 Necrológio

216 Doações à dphdm

221 ACONTECEU HÁ CEM ANOS Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa Marinha, no País e em outras partes do mundo

231 REVISTA DE REVISTAS Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações rece- bidas do Brasil e do exterior

241 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

NOSSA CAPA

JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO

Organização e adaptação Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista

sumário

Introdução Ordem do Dia do Comandante da Marinha Exposição do diretor do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha As comemorações

INTRODUÇÃO Colônia, atuou de maneira decisiva na- quele episódio histórico e, mais tarde, na ano de 2013 marcou o quadricentená- expulsão dos franceses, o que lhe rendeu a O rio das ações da Força Naval que, sob distinção, concedida pelo rei, de passar a o comando de Jerônimo de Albuquerque usar o sobrenome “Maranhão”. Maranhão, realizou importante missão Nascido em Pernambuco, em 1548, e contra os franceses estabelecidos na então fundador, em 1599, da cidade de Natal chamada França Equinocial, culminando (RN), Jerônimo de Albuquerque foi o em sua expulsão. primeiro brasileiro a comandar uma Força Jerônimo de Albuquerque foi um ma- Naval em missão tipicamente militar. Foi rinheiro precursor que, ainda no Brasil de Recife que partiu, em junho de 1613, JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO

em missão de reconhecimento. Em 10 de pernambucana”, disse o diretor adjunto dos novembro do ano seguinte, após a derrota Correios, Fábio Peixoto Barbosa Marques. na Batalha de Guaxenduba e não obtendo O comandante da Marinha, Almirante reforços militares da França, os invasores de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, foram expulsos. presidiu a cerimônia e destacou sua rele- Para marcar os 400 anos do início das vância: “Jerônimo de Albuquerque, filho ações de Jerônimo de Albuquerque, foram de português com uma índia, teve papel realizadas diversas comemorações. Em fundamental na construção atual do nosso 26 de junho, foi inaugurado um busto do território, soube unir a cultura portuguesa homenageado na Capitania dos Portos de à indígena e conquistar esse povo para a Pernambuco, no Recife, com leitura da defesa do território. O que não conhecíamos Ordem do Dia do Comandante da Albuquerqu ainda era sua importante atuação de e M o ar Marinha e lançamento do selo im an numa força naval, o que nos ôn h r ão comemorativo dos Correios Je deixa muito satisfeitos”. alusivo à efeméride. O diretor do Patrimô- ORDEM DO DIA DO nio Histórico e Docu- COMANDANTE DA mentação da Marinha MARINHA (DPHDM), Vice- Almirante (Refo -EN) O comandante da Armando de Senna Marinha expediu a Bittencourt, autor de seguinte Ordem do diversos artigos sobre Dia sobre o assunto: história e estudioso do “Na virada do sé- tema, disse na ocasião: culo XVI para o XVII, “Jerônimo de Albuquer- dentre os grandes de- que é um personagem de safios que se descorti- P grande importância para a r l navam aos portugueses im a e v história naval. Há registros i a para a ocupação da região ro N franceses que comprovam a b ça norte do País, sobressaía ra or sil F sua participação”. eir ma a necessidade de expulsar os o a c dar u A integração dos Correios à co- oman invasores franceses. memoração, por meio do lançamento do Nas diversas campanhas da América por- selo, evidencia a importância de Jerônimo tuguesa, o Poder Naval foi um dos grandes de Albuquerque para a defesa do território pilares para a sustentação do nosso imenso durante a invasão francesa. Foram produzidos território. Em 2013, estamos comemoran- 540 mil selos comemorativos, acompanhados do um desses grandes feitos históricos, o por selo de 1o porte de carta comercial para quadringentésimo aniversário do início das circulação em território brasileiro, com a re- ações da Força Naval que, sob o comando produção da aquarela sobre papel, de 2006, de de Jerônimo de Albuquerque, contribuiu de- Carlos Kirovsky, da flotilha comandada pelo cisivamente para a conquista do Maranhão. insigne marinheiro. O quadro pertence ao Durante a União Ibérica, entre os anos acervo da DPHDM. “É um momento muito de 1580 e 1640, quando o trono de Portugal importante. Os Correios têm orgulho de parti- foi ocupado por reis espanhóis, corsários cipar da homenagem a esse precursor da garra franceses, sob o comando de Daniel de La

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A flotilha sob seu comando era composta por aproximadamente cem homens embar- cados em três ou quatro navios, construídos no Brasil e denominados ‘caravelões’, tendo partido de Recife em junho de 1613 e estabelecido sua base de operações em Jericoacoara, no Ceará, onde fundou o Forte de Nossa Senhora do Rosário. O sucesso alcançado nessa fase inicial da missão foi decisivo para que, em 1614, reunidas as informações necessárias sobre o efetivo, os Capitania dos Portos de Pernambuco – Inauguração meios navais e as fortificações rivais, Jerôni- do busto de Jerônimo de Albuquerque mo de Albuquerque partisse do Rio Grande do Norte com forças regulares e guerreiros Touche, Senhor de La Ravardière, estabe- indígenas e expulsasse os invasores. leceram uma colônia no Maranhão, que ficou conhecida como França Equinocial, e lá construíram, em 1612, um forte, ao qual denominaram São Luís. No ano seguinte, o governador-geral, Gaspar de Souza, obedecendo às ins- truções do Rei Felipe III, começou os preparativos para combater os franceses, realizando uma incursão naval para fazer o reconhecimento dos redutos inimigos naquela região. Essa ação era impres- cindível, pois os portugueses detinham poucas informações de navegação sobre a perigosa costa maranhense, uma área bastante frequentada por estrangeiros Busto de Jerônimo de Albuquerque inaugurado na provenientes das Antilhas. Capitania dos Portos de Pernambuco Para conduzir a expedição, foi designado Jerônimo de Albuquerque, brasileiro nato, Em 26 de outubro de 1614, oito em- filho da índia tupi batizada como Maria do Es- barcações entraram na Baía de São José, pírito Santo Arcoverde e de pai português, de fundando, nas proximidades da foz do Rio quem herdou o nome, e que se notabilizou no Munim, o Forte de Santa Maria de Gua- processo de colonização de Pernambuco. A xenduba, que, em 19 de novembro, sofreu sua escolha como chefe daquela empreitada, um ataque de 1.700 inimigos. As nossas que resultou em torná-lo o primeiro nascido forças, mesmo apresentando um efetivo no Brasil a comandar uma Força Naval, menor, agiram rapidamente, rechaçando a deveu-se à sua larga experiência militar e à tentativa de desembarque e incendiando as capacidade de articular interesses portugueses embarcações adversárias. com a cultura indígena, incluindo sua língua La Ravardière, tendo em vista o grande materna, o tupi, facultando-lhe uma grande fracasso da iniciativa militar, solicitou uma ascendência sobre seus subordinados. trégua de um ano, aceita por Jerônimo de

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Albuquerque, mas recusada pelo Rei Felipe palestras em órgãos da Marinha e extra- III, que ordenou uma nova campanha contra Marinha sobre o tema, adaptadas conforme os oponentes, os quais, em novembro de o público assistente. Um desses públicos 1615, renderam-se às tropas sob o comando foi o composto pelos aspirantes da Escola do capitão-mor de Pernambuco, Alexandre Naval, no Rio de Janeiro, instituição que de Moura. promoveu, em 28 de junho, um painel As vitórias sobre os sobre Jerônimo de Al- franceses no Maranhão buquerque. fizeram com que Jerô- Transcrevemos nimo de Albuquerque abaixo a palestra apre- fosse reconhecido pelo sentada pelo Almirante reino como capitão- Bittencourt, intitulada mor da conquista da- Jerônimo de Albu- quela região. querque e a primeira Esse fato histórico Força Naval coman- passa a compor o rol dada por natural do dos importantes feitos Brasil: que contribuíram para O comandante da Marinha e Fábio Marques, a garantia do nosso dos Correios, no lançamento do selo comemorativo “Jerônimo Pai grande espaço territo- rial e para a formação do sentimento patri- Portugal precisava garantir seu mono- ótico. A partir da aplicação do Poder Naval, pólio da Carreira da Índia, tão arduamente foi possível assegurar o domínio do norte conquistado. A costa do Brasil, que se do Brasil, cabendo projetava no Oceano enaltecer a atuação do Atlântico Sul, conside- brasileiro e mameluco rando o regime de ven- Jerônimo de Albu- tos, era uma posição querque, que, em uma estratégica que não po- ação pioneira, coman- dia ser ignorada. Logo, dou uma Força Naval, a presença frequente tendo participado de de corsários franceses forma relevante da no litoral brasileiro expulsão dos invaso- mostrou que havia uma res franceses. Além do vulnerabilidade que mais, ao acrescentar Selo de 1o porte de carta comercial com imagem da somente se resolveria ‘Maranhão’ ao seu flotilha de Jerônimo de Albuquerque com a ocupação dessa nome, vinculou sua costa, colonizando-a. própria identidade à terra que defendeu.” Era uma solução difícil para Portugal, cujos interesses então eram principalmente EXPOSIÇÃO DO diretor do comerciais. patrimônio histórico e A produção de açúcar, plantando cana documentação da marinha e utilizando a experiência e a tecnologia já implantada nas Ilhas Oceânicas portuguesas, Como parte das comemorações, o foi a forma escolhida para dar um respaldo DPHDM, Almirante Bittencourt, proferiu econômico a esse difícil empreendimento

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Contra-Almirante Guerreiro, comandante da Escola Naval e o DPHDM

cunhado, Jerônimo de Albuquerque, que chegou a Pernambuco em 1535 com a irmã, esposa do donatário. Jerônimo estabeleceu as bases da propriedade, fundando Igaraçu e Olinda, foi capitão-mor após a morte de Duarte Coelho, em 1554, até a chegada do sobrinho, que foi o segundo donatário, e ajudou também, mais tarde, o terceiro, ainda no período difícil do início da ocu- Vice-Almirante (Refo-EN) Bittencourt, DPHDM, pação da terra. Permaneceu no Brasil todo em exposição na Escola Naval o tempo, até sua morte, em 1593. Foi um dos conquistadores do Novo Mundo, o que de colonização de uma terra tropical e lhe trouxe notável prestígio em sua época1. selvagem. A tentativa de ocupar a costa do Bento Teixeira, considerado o primeiro es- Brasil, na primeira metade do século XVI, critor barroco da língua portuguesa, em sua por meio de iniciativa privada, criando Prosopopeia2, canta em versos seus feitos capitanias hereditárias, não teve sucesso, de pioneiro. Isso permite que se possa ver exceto em Pernambuco e São Vicente. As Jerônimo de Albuquerque e seu ambiente dificuldades eram enormes, principalmente conforme o ponto de vista do início do pela presença dos indígenas no Brasil, que século XVII. O índio era considerado por se organizavam em sociedades guerreiras tri- Teixeira como sendo bárbaro e insolente e bais. Havia constante conflito entre as tribos, precisava, portanto, ser amansado e instruído acumulando-se ofensas mútuas ao longo do na fé de Cristo. O francês inimigo, por sua tempo, que exigiam vinganças. Quando o vez, devia ser acossado com rigor e expulso. colonizador se aliava a uma tribo, tornava-se A ideia do ‘nobre selvagem’, tão afastada da inimigo das que eram hostis àquele grupo. dura realidade e dos primeiros tempos da O donatário da Capitania Hereditária de colonização, ainda levaria quase dois séculos Pernambuco era Duarte Coelho, que também para se difundir pelo mundo. tinha interesses fora do Brasil. Em sua ca- Além de serem vistos como bárbaros pitania brasileira foi muito ajudado por seu brutais, os índios eram numerosos e aguer-

1 FRAGOSO, João; ALMEIDA, Carla; SAMPAIO, Carlos. Conquistadores e negociantes. Rio de Janeiro; Ci- vilização Brasileira, 2007. 2 TEIXEIRA, Bento. Prosopopeia, 1601.

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ridos. Era necessá- rio recrutá-los para a causa da colonização, pois os portugueses estavam em minoria, e empregar sua força contra os inimigos: os indígenas hostis e os franceses. Jerô- nimo precisou fazer alianças com eles. A melhor forma de garanti-las era tomar como esposa uma das filhas do principal de cada tribo, criando um vínculo com sua Jerônimo de Albuquerque e o mapa do Maranhão família. Sem dúvida, ele se empenhou em empregar essa tática. havia o sentimento de patriotismo. Era um Ao morrer, deixou dezenas de filhos gera- vassalo do rei de Portugal, defendendo dos pelas ‘cunhãs’ da terra. Daí o apelido seus próprios interesses, sua cultura e sua que ganhou de ‘Adão Pernambucano’3. Um religião. Jerônimo de Albuquerque, o filho desses filhos, o da ‘princesinha índia’ Ma- da ‘princesinha índia’, foi, no entanto, ria do Espírito Santo Arcoverde e neto do fundamental para a ocupação portuguesa ‘morubixaba’ tupi Arcoverde, devidamente do Nordeste do Brasil, contribuindo, sem reconhecido, foi batizado de Jerônimo de saber, para a formação do território que Albuquerque, em homenagem ao pai. futuramente seria brasileiro4 e que só ficaria independente cerca de dois séculos depois. Jerônimo Filho Dos muitos filhos de Jerônimo (o portu- guês), Jerônimo, o mameluco, foi o que mais Jerônimo, o mameluco, cresceu em se destacou. Inicialmente, participou de ex- dois mundos, aprendendo a conviver com pedições contra índios hostis acompanhando a cultura indígena e a portuguesa. Apesar seu pai. Mais tarde, liderou naturais da terra e de natural da terra, não se pode dizer que portugueses, combatendo as tribos inimigas e era brasileiro no sentido moderno que tem os franceses, pois, além de ocupar uma posi- essa palavra, pois nessa época não existia ção social elevada, falava o tupi, sua língua de a consciência de ser brasileiro e ainda não infância, e o português5 fluentemente.

3 A elevada frequência do sobrenome Albuquerque no Brasil, principalmente no Nordeste, merece consideração. A fama de Jerônimo chegou à Europa e, por recomendação da rainha de Portugal, 25 anos depois de chegar ao Brasil, casou-se com uma portuguesa, com quem também teve filhos. 4 BITTENCOURT, Armando de Senna; LOUREIRO, Marcello Gomes; e RESTIER JUNIOR, Renato Jorge Paranhos. Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão, p.77. In Navigator – Subsídios para a História Marítima do Brasil, v.7, N.3, junho de 2011. Rio de Janeiro, Editora Serviço de Documentação da Marinha, 2011. 5 Quanto ao português, cf. VAINFAS, Ronaldo (Org.), Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808), Rio de Janeiro: Objetiva, 2001: “...Jerônimo de Albuquerque... foi daqueles que se aportuguesaram completamente, pelo menos nos fatos públicos da vida”.

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O papel desempenhado por mamelucos Conheceram inicialmente a costa entre na colonização e expansão do território o Mearim e a foz do Amazonas melhor ocupado pelos portugueses na América foi do que os portugueses7 e a frequentavam. muito importante para a história do Brasil. Procuraram se estabelecer no Brasil várias Eles eram os mais habilitados, conhece- vezes, mas sempre foram empreendimen- dores dos costumes indígenas e europeus, tos de ‘natureza privada’, alguns chefiados servindo de mediadores entre as duas por particulares com cartas de corso con- culturas. Criados por mães índias, estavam cedidas pela França. acostumados a hábitos de higiene e alimen- Nunca contaram, porém, com o auxílio tação mais adequados substancial do Go- à vida nos trópicos verno francês quando e obtinham muitos tiveram que lutar para conhecimentos úteis não serem expulsos, sobre a terra em que mesmo quando se es- viviam. Contando tabeleceram no Mara- com o apoio de pais nhão com uma colônia europeus, que os re- de produção agrícola. conheciam como fi- Encontraram sempre a lhos, participavam, reação do Governo de depois, da sociedade Portugal e de forças dos colonizadores. organizadas esponta- No Sul, eles foram a neamente pelos por- maioria dos bandei- tugueses que viviam rantes6, que, descen- no Brasil, não faltan- do os rios, principal- do o apoio de forças mente os da bacia do navais, inclusive das Paraná, ampliaram espanholas no período as fronteiras para o da União das Coroas Oeste. No Norte, Je- Ibéricas (1580-1640), rônimo pôde servir para expulsá-los. como paradigma, mas Mapa do Brasil em 1626, de João Teixeira Albernaz Os que se estabe- houve outros que ajudaram a expulsar in- leceram na Paraíba foram atacados por vasores franceses e, mais tarde, holandeses portugueses, apoiados por uma força naval e seus mercenários. comandada pelo almirante espanhol Diogo Os franceses se interessaram pelo Bra- Flores Valdez, e expulsos. Retiraram-se sil desde as primeiras décadas do século para o Rio Grande do Norte. XVI. Entre os produtos da terra que os Para desalojá-los de lá, o capitão-mor interessavam, o pau-brasil era o mais im- de Pernambuco, Manuel Mascarenhas portante. Possuíam manufaturas de tecidos Homem, organizou uma expedição em que necessitavam de corantes, e os tons de 1597. Jerônimo de Albuquerque, o ma- vermelho que se podia obter desta árvore meluco, foi escolhido para comandar uma tinham muita aceitação na Europa. das companhias de infantaria por suas boas

6 Alguns deles não falavam o português, como, por exemplo, Domingos Jorge Velho, o conquistador do Quilombo de Palmares. 7 Cf. CALMON, Pedro. História do Brasil, São Paulo: Ed. Nacional, 2v. p. 33, 1939-1941.

RMB4oT/2013 15 JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO

qualidades de líder guerreiro e articulador um grupo de missionários capuchinhos. Os de interesses portugueses com os índios e padres Ivo d’Evreux, que esteve no Brasil8 em provavelmente também por ser filho de um 1613 e 1614, e Claude D’Abeville deixaram conquistador famoso. Seu pai, o Jerônimo notáveis relatos sobre a terra. português, já havia falecido, mas passara Mais tarde, partiam da França reforços para o filho uma posição social destacada para a colônia, sendo o mais significativo entre os colonizadores. o de 1614. Cabe, porém, observar que os Os franceses e seus aliados indígenas recursos se originaram principalmente da foram derrotados. Para sedimentar a vitória, iniciativa privada e não do apoio prestado o Forte dos Reis Magos, que os portugue- pela monarquia. Havia, inclusive, a pressão ses haviam erigido na foz do Rio Grande contrária de defensores da aliança da França (atual Potengi), foi entregue a Jerônimo com a Espanha, e estavam em andamento de Albuquerque, que habilmente pacificou negociações para o casamento de Luís XIII os índios locais. Em seguida, ele fundou da França com a infanta espanhola Ana um povoado que foi D’Áustria. a origem da cidade de Natal e, em 1603, foi O comando de força nomeado capitão-mor naval por Jerônimo do Rio Grande, cargo de Albuquerque em que ocupou por seis 1613 anos. Enquanto Jerônimo Desde 1608, o estava ocupado com governador-geral do a colonização do Rio Brasil, Diogo de Me- Grande do Norte e tam- nezes, estava preocu- bém cuidando de seus Aquarela da Força Naval comandada por Jerônimo pado com as atividades interesses, os franceses de Albuquerque, de Carlos Kirovsky dos franceses no Mara- planejaram aquela que foi sua invasão mais nhão, mantendo o Rei Felipe II de Portugal importante no futuro território brasileiro, a do (Felipe III de Espanha) informado. Em Maranhão, que já era bem conhecido por eles 1613, chegou ao Brasil um novo gover- e onde, inclusive, mantinham boas relações nador, Gaspar de Sousa, com ordens do com os tupinambás que lá habitavam. rei para tomar providências em relação ao Em 18 de julho de 1612, chegaram ao Bra- Maranhão. Logo ao chegar, ele transferiu sil três navios com o propósito de estabelecer sua sede para Olinda e resolveu enviar uma uma colônia na ilha que depois foi denomi- expedição de reconhecimento. nada de São Luís. Lá, já se encontravam uns Para comandar essa expedição – uma 400 franceses e navios oriundos do Havre e operação tipicamente militar –, o Governa- de Dieppe, o que mostra que já frequentavam dor-Geral Gaspar de Sousa designou Jerôni- bastante o local. A primeira iniciativa foi mo de Albuquerque, o ‘experimentado nas a construção de um forte batizado de São cousas do sertão e dos índios’, que se tornou, Luís, mas logo começaram a construir casas assim, o primeiro natural da terra a comandar e armazéns e a trabalhar a terra. Pretendiam uma força naval em missão militar. Tal ex- se instalar para sempre na colônia que deno- pedição, formada por três ou quatro navios minaram França Equinocial. Veio com eles transportando uns cem homens, portugueses 8 D’EVREUX, Ivo. Viagem ao Norte do Brasil, Rio de Janeiro: Freitas Bastos & Cia., 1929.

16 RMB4oT/2013 JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO e índios, partiu de Pernambuco em junho Martim Soares10. Acrescentou também que de 1613. Jerônimo levava consigo seu filho deram tiros de peças para chamar a atenção Antônio de Albuquerque, comandando uma dos selvagens, desembarcaram e obtiveram companhia de 50 homens. informações de que os franceses tinham Não se devem esperar grandes feitos em ‘um belo forte, canoas, navios e canhões’. missões de reconhecimento. Elas, em geral, Foram também avistados nas proximidades são realizadas com forças insuficientes para três navios, possivelmente da força naval ações ofensivas, com o propósito de obter de Jerônimo, que estava no Ceará. informações. São, no entanto, essenciais O reconhecimento português, segun- para que se possa planejar uma ação efetiva do D’Evreux, fez com que os invasores contra o inimigo. se alarmassem com Ao passar pelo Ce- a possibilidade de ará, Jerônimo tomou a serem sitiados11, por seu serviço o Capitão terem enviado uma Martim Soares Mo- expedição ao Pará que reno, português que reduzira seu efetivo lá estava por ordem na colônia. Manda- do governador-geral ram uma canoa, que anterior, Diogo de Medalha comemorativa dos 400 anos das ações sob demorou três meses o comando de Jerônimo de Albuquerque Menezes. Moreno, para alertar o Sr. De após combater um navio francês em Mu- La Ravardiere, que a comandava. Ele curipe, próximo ao local onde hoje está resolveu regressar, interrompendo sua Fortaleza, havia fundado no Ceará um forte viagem, o que, segundo o cronista, ‘cau- que denominou Presídio de Nossa Senhora sou muito mal à colônia, porque se teria do Amparo. colhido muitos gêneros pela margem dos Em seguida, Jerônimo fundeou no Rio rios, muito mais povoados de selvagens Camocim, que escolhera como base da de diversas nações...’12 Constata-se que operação de reconhecimento, por estar estavam reforçando a defesa da futura Ilha relativamente próximo do Maranhão, de São Luís por meio do assentamento de mas ainda no litoral do atual Estado do outras tribos. A notícia também fez com Ceará. Do Rio Camocim, determinou que que algumas delas, já recrutadas, adiassem Moreno, com 25 homens e um navio9, seus planos e passassem a esperar o resul- prosseguisse para obter informações. Esse tado dos acontecimentos13. Com o regresso destacamento da força principal comple- de La Ravardière, porém, ativaram-se as tou por mar o reconhecimento e destruiu obras das fortificações, que foram providas algumas posições francesas. de artilharia e guarnições. O padre francês Ivo D’Evreux, que esta- Moreno, no entanto, não pôde regressar va nessa época no Maranhão, noticiou em ao Ceará, por encontrar condições adver- seu livro a presença de um navio coman- sas de navegação – provavelmente ventos dado por um capitão português chamado contrários típicos dessa região da costa do 9 Como se verá mais adiante neste texto, no item sobre os navios de Jerônimo de Albuquerque, 25 homens era uma tripulação possível para o tipo de navio que estavam empregando nessa missão. 10 D’EVREUX, Ivo. Opus cit. p. 89. 11 D’EVREUX, Ivo. Opus cit. p. 169. 12 D’EVREUX, Ivo. Opus cit. p. 170. 13 D’EVREUX. Ivo. Opus cit. p. 170.

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Nordeste, que tornavam a viagem para o o relatório de Martim Soares Moreno com Norte muito mais fácil do que a viagem informações sobre o efetivo, as fortificações para o sul do Continente Americano14. e a força naval dos franceses no território Seguiu então para as Antilhas e daí para a ocupado, no Maranhão. Só então se teve o Espanha, aonde chegou em abril de 1614. resultado completo do reconhecimento de Enviou então seu relatório por carta, que 1613 e foi possível dimensionar a força ne- somente chegou a Pernambuco três meses cessária para a ‘jornada’ que iria expulsá-los. mais tarde. Após aguardar o regresso de Martim So- Os navios de Jerônimo de Albuquerque ares Moreno por algum tempo, sem notícias, Jerônimo decidiu se retirar de Camocim de- Sabe-se, pela bibliografia existente, que vido à má qualidade da água doce disponível os navios utilizados por Jerônimo de Albu- (‘má aguada’) e foi para Jericoacoara, um querque eram ‘caravelões’. Dava-se esse pouco mais a leste na costa do Ceará. Em nome a pequenas caravelas rústicas que Jericoacoara, fundou a pequena fortificação foram muito utilizadas na costa brasileira. de Nossa Senhora do Rosário. Como o es- Eram embarcações muito adequadas para toque de provisões estava baixo, resolveu, essa costa, onde há maior probabilidade de em seguida, retirar-se para Pernambuco por mares tranquilos17, permitindo, portanto, o terra, deixando no forte 40 homens coman- emprego de navios pequenos. Tinham velas dados por seu sobrinho, Gregório Cardoso latinas, que permitiam navegar melhor com de Albuquerque. Provavelmente o regresso vento contrário. por terra foi escolhido porque os índios, Os pequenos estaleiros que se estabe- pouco acostumados a longas viagens marí- leceram no Brasil, praticamente desde o timas, sofriam muito com enjoos15. Estava início da colonização, construíam prin- terminada a participação de Jerônimo nesta cipalmente esses caravelões até meados expedição por mar. do século XVII. A construção naval é das Em Pernambuco, ele recebeu, em 22 primeiras indústrias da terra, juntamente de junho, do Governador Gaspar de Sousa com a indústria açucareira e a fabricação um regimento16 que o nomeava ‘Capitão de telhas. Apesar das excelentes madei- da Conquista e Descobrimento das Terras ras18 brasileiras, a construção naval teve do Maranhão’ (provisão de 29 de maio dificuldades para prosperar, pois competia de 1613). Dois dias depois, partia para o por mão de obra, que era escassa, com a Rio Grande do Norte, para recrutar índios indústria açucareira. Além disso, havia falta flecheiros. de carpinteiros navais experientes. Somente em 24 de julho de 1614 chegou Os detalhes dos caravelões, no en- a Pernambuco um navio trazendo a carta com tanto, são pouco conhecidos. Conforme 14 Essa característica do regime de ventos, que às vezes tornava a viagem a vela para Lisboa relativamente mais fácil do que para o Rio de Janeiro, poderia, mais tarde, fazer com que o Maranhão e o Pará não fizessem parte do território do Brasil, mas tal não aconteceu graças à ação, durante a Guerra de Independência, do Almirante Cochrane, primeiro comandante da Esquadra brasileira. 15 Na próxima expedição, a mais importante, de 1614, Jerônimo preferiu caminhar por terra, alegando que os índios enjoavam no mar. 16 BONICHON, Philippe e GUEDES, Max Justo. “A França Equinocial”. In. História Naval Brasileira, Primeiro Volume, Tomo I, Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975, p. 560. 17 Exceto na costa da Região Sul do Brasil. 18 Essas madeiras eram diferentes das que os portugueses conheciam, o que exigiu um notável trabalho para conhecê-las melhor, desenvolvendo tecnologias para seu armazenamento e emprego.

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Carlos Francisco Moura, em seu capí- hoje, existem estaleiros na Região Nor- tulo sobre os caravelões19 na História deste brasileira que continuam utilizando Naval Brasileira, encontram-se poucas métodos de alguma forma semelhantes, informações nos documentos produzidos em que as medidas das embarcações são pelos principais autores contemporâneos obtidas de tabuinhas riscadas com ‘ponta a eles, como as do Tratado Descriptivo seca’, chamadas também de ‘graminhos’. do Brasil em 1587, de Gabriel Soares Os desenhos (ou planos) necessários à de Sousa, que permitem inferir-lhes um documentação atualmente exigida pelas comprimento entre 11,25 e 17,50 metros, Capitanias dos Portos são produzidos e uma referência no Livro Náutico, a qual posteriormente à obra. relaciona o custo de um deles, de 40 ou 50 tonéis de capacidade, permitindo também A ofensiva contra os franceses saber que a tripulação do mesmo era de 25 homens e ‘que era artilhado com dois Em agosto de 1614, os navios e as tropas falcões e quatro berços e que levava dez estavam prontos e partiram sob o comando arcabuzes aparelhados’20. Daí a suposição de Diogo de Campos Moreno, tio de Mar- de Martim Soares Moreno ter partido do tim, para se encontrarem com Jerônimo de Ceará, para completar o reconhecimento Albuquerque e as tropas de indígenas por do Maranhão, com somente um navio, ele recrutadas. Em 5 de setembro, seguiram levando seus 25 homens. novamente viagem, por mar e por terra, Moura mostra também, em gravuras desta vez para expulsar definitivamente os holandesas da Batalha de 1640 entre as franceses, que foram derrotados no desem- forças navais luso-espanhola e holandesa barque em Guaxenduba e capitularam em na costa do Brasil, pequenas caravelas novembro de 1615. latinas de dois ou três mastros que prova- O bom desempenho de Jerônimo, velmente correspondem à imagem desses capitão-mor da conquista, foi reconhecido, caravelões21. e ele, mais tarde, pôde juntar o sobrenome Uma das razões do pouco conheci- Maranhão ao seu. Assim, a monarquia, mento sobre detalhes dos caravelões, por meio de suas intrincadas redes de vas- já que não há maiores referências a salagem, realizou mais uma vez com bom eles nos principais livros portugueses êxito sua política ultramarina. Vassalos que lhes são contemporâneos, é que os como ele, que eram capazes de movimentar estaleiros da costa do Brasil seguiam suas próprias redes de aliados, tornavam métodos semelhantes aos utilizados na essas realizações possíveis, contando com construção naval portuguesa no período pouquíssimos recursos de comunicação, das Grandes Navegações. Construíam em um mundo habitado por pessoas quase sem desenhos, baseados em proporções independentes, nem sempre civilizadas, e regimentos provavelmente nem sempre dispersas em vastidões ainda selvagens e escritos, variando dimensões por meio de que supriam por si o que precisavam para ‘graminhos’22 de origem medieval. Ainda resolver suas próprias necessidades.

19 MOURA, Carlos Francisco, “Um caso típico brasileiro – Os Caravelões”, in História Naval Brasileira, Primeiro Volume , Tomo I, Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975. 20 MOURA, opus cit. p. 105. 21 MOURA, opus cit. p. 111. 22 Métodos, em geral gráficos, utilizados para estabelecer dimensões seguindo a variação de curvas preestabelecidas.

RMB4oT/2013 19 JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE – UM MARINHEIRO NA CONQUISTA DO MARANHÃO

Recuperado o Maranhão, os portugue- palestras ministradas pelo presidente do ses enviaram uma expedição que fundou Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o Forte, origem da cidade de Belém, no Arno Wehling; pelo Professor-Doutor Luiz Pará, iniciando a expulsão de diversos Fabiano de Freitas Tavares, do Programa intrusos que haviam se estabelecido nas de Pós-Graduação em História da Univer- margens e na foz do Rio Amazonas. As- sidade Federal Fluminense (UFF); e pelo sim, completou-se a ocupação da costa Embaixador Vasco Muniz, do IHGB. norte do futuro Brasil. As apresentações Flotilhas de grandes foram divididas em canoas artilhadas por dois blocos: o primeiro, esses portugueses ga- com informações sobre rantiram, em seguida, o poder e as relações fa- sua posse.” miliares nas origens do Maranhão e de como o AS Estado se apresentava COMEMORAÇÕES no contexto histórico e político nacional da Além das homena- época; no segundo, fo- gens já citadas, foi re- O delegado fluvial do Porto Velho, ram abordados a vida alizada em 3 de julho, Capitão de Corveta (T) Macêdo, e os feitos de Jerônimo na sede dos Correios e o diretor regional dos Correios em Rondônia de Albuquerque, que obliteram selo comemorativo de Porto Velho, no es- tanto contribuíram para tado de Rondônia, solenidade de lançamen- a conquista da região. to do selo comemorativo dos 400 anos das Em 26 de outubro, a Capitania dos ações da Força Naval comandada por Jerô- Portos do Maranhão, em parceria com a nimo de Albuquerque. Prefeitura Municipal O evento contou com a de Icatu (MA), tam- participação de autori- bém inaugurou busto dades civis e militares. de Jerônimo de Al- Na oportunidade, o buquerque Maranhão. Capitão de Corveta O evento aconteceu (T) Luiz Reginaldo na praça central da de Macêdo, delegado cidade, fundada pelo fluvial de Porto Velho, homenageado e que efetuou a chancela do Alunos do CFO do CIAW que ostenta o seu nome. primeiro selo, acom- participaram do Seminário no IHGB O evento fez parte da panhado pelo diretor programação em co- regional dos Correios em Rondônia, Sérgio memoração aos 399 anos de Icatu, onde se Simão de Araújo. localiza a praia em que foi travada a Batalha Em 17 de julho, no Rio de Janeiro, foi de Guaxenduba, contenda decisiva para a realizado, no Instituto Histórico e Geográ- reconquista do Estado, em 1615. fico Brasileiro (IHGB), o seminário “Je- Participaram da cerimônia o Prefeito rônimo de Albuquerque e a Conquista do José Ribamar Moreira Gonçalves e o ca- Maranhão”. Presidido pelo Vice-Almirante pitão dos Portos do Maranhão, Capitão de Armando de Senna Bittencourt, contou com Mar e Guerra Jair dos Santos Oliveira, além

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do vice-presidente da Sociedade Amigos do Maranhão, Telma Bonifácio dos Santos da Marinha-Maranhão, Raimundo Batista Reinaldo; pela historiadora e professora Silva, e Paulo Fernando de Albuquerque Maria de Lourdes Lacroix; pela chefe de Maranhão, descendente direto de Jerônimo gabinete da Reitoria da UFMA, Silvia de Albuquerque. Duailibe Costa, representando o Reitor A Universidade Federal do Maranhão Natalino Salgado; e pelo Professor Paulo (UFMA) também se integrou ao Quadri- Fernando de Albuquerque, descendente de centenário de Jerônimo de Albuquerque, Jerônimo de Albuquerque. com o seminário “Jerônimo de Albu- O Almirante Bittencourt fez a pales- querque e sua importância na história do tra inaugural com o tema “Jerônimo de Maranhão: símbolos, significados e repre- Albuquerque e a primeira força naval sentações”, realizado nos dias 20 e 21 de comandada por natural do Brasil” e, na novembro, no Cam- sequência, foi compos- pus do Bacanga, em ta mesa para debater o São Luís. O evento tema “Por ordem de foi uma realização da sua majestade: Jerô- Capitania dos Portos nimo de Albuquerque do Maranhão e do e a conquista do Ma- Instituto Histórico e ranhão”, tendo como Geográfico do Mara- participantes o Almi- nhão, com o apoio da rante Bittencourt, a UFMA, da Sociedade Professora Lacroix, e dos Amigos da Ma- Inauguração do quadro de Sansão Pereira o Professor de História rinha do Maranhão Euges Lima. (Soamar) e do Instituto de Desenvolvi- Também como parte das comemorações mento do Poder Marítimo do Maranhão alusivas a Jerônimo de Albuquerque, a (Idepom), e contou com a participação DPHDM e a Casa da Moeda lançaram a da DPHDM. “Medalha Comemorativa dos 400 Anos do Foram abordados, por meio de palestras Início das Ações da Força Naval sob o Co- e mesas-redondas, a vida, o percurso e o mando de Jerônimo de Albuquerque”. Na trabalho desta figura histórica reconhecida ocasião, houve também o descerramento da pela Marinha do Brasil como herói naval. obra de arte do pintor Sansão Pereira que A mesa de abertura do Seminário foi com- representa o retrato imaginado do homena- posta pelo diretor do Patrimônio Histórico geado. O evento contou com a presença do e Documentação da Marinha, pelo capitão comandante da Marinha. dos Portos do Maranhão, Capitão de Mar e Pelas várias homenagens promovidas, Guerra Jair dos Santos Oliveira; pela pre- reforça-se a importância de Jerônimo de sidente do Instituto Histórico e Geográfico Albuquerque na história do País.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História do Brasil; História marítima; Albuquerque, Jerônimo de; Maranhão;

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GERALDO DE SOUZA VIEIRA Vice-Almirante (Refo-IM)

SUMÁRIO

Introdução – Memórias Ordem do Dia no 004 Apresentação O Desafio Encerramento Conclusão

Introdução – memórias Sentou-se. Deu uma esticada de ombros. Olhou para mim. reunião estava terminando. Já havia – Sente-se. A tocado volta ao expediente. Havia sempre duas cadeiras em frente à O almirante levantou-se. Levantamo- mesa. Sentei-me. nos. Não éramos mais que três ou quatro – A rotina no Arsenal é pesada. oficiais. Começamos a nos despedir. Não respondi imediatamente. – Fique aqui. Quero falar com você. – Solecada, não é... Muito trabalho. Mui- Deixei meus papéis na mesa de reunião. ta gente. Muita ordem de serviço. Muitas O almirante dirigiu-se para sua mesa oficinas. Muitos navios. A construção de fra- de trabalho. Ainda de pé, arrumou alguns gatas... Não acho tão pesado assim... Estou papéis. Aproximei-me. gostando. Aprendo sempre alguma coisa... O DESAFIO

– É pesada. do mundo e dos homens. Guardo dele de- Pensei no que devia falar. zenas de circunstâncias que dão prova de – A responsabilidade sobre os ombros espírito humanamente brilhante. do senhor deve ser muito pesada. Mas a Os temas faziam sentido entre si. Era rotina é apenas agitada. Não percebo queixa uma trilogia bem imaginada. Eu os ouvi. entre os oficiais. Guardei meu tema e... esqueci os outros Não adiantou coisa alguma. Ficou dois. Já fiz de tudo. Inventei, imaginei, calado. sonhei, recorri à meditação, tentei me auto- – O senhor conhece todo o Arsenal. Nada hipnotizar. Só me falta ir a algum terreiro é mistério. Conhece os homens-chave. Co- ou visitar alguma mãe de santo. Não há nhece os mestres. Conhece cada oficina... jeito de me lembrar dos outros dois temas. – Não temos momento algum de con- Não me perdoo! vívio que não seja em serviço. Nenhum Desembarquei do Arsenal em 2 de janei- contato social. Nenhum momento de ro de 1978 para cumprir requisito de direção relaxamento. no Serviço de Reembolsável da Marinha, – É... Isso é verdade... sem o que teria a carreira encerrada. – Andei pensando em fazer uns jantares De gosto, estaria no arsenal até hoje. Era com os oficiais e senhoras... chefe do Departamento de Controle. Vou Cortei imediatamente. morrer sem entender, sem querer aprender – Ótima ideia. Umas três ou quatro e sem concordar com a cientificação das vezes por ano. Seria bacana! Envolvendo coisas, sobretudo óbvias ou que dispensam a família, tudo muda! Deve haver esposa formulações científicas. Administração de oficial que nunca veio ao Arsenal. Nem está cientificada. Hoje, muito mais que no sabe onde fica... final dos anos 70. Havia o superintendente – Você acha que vai dar certo? industrial, o superintendente administrati- – A ideia é perfeita... vo e o almirante. E eu, entre os três, sem – Mas tem uma coisa. Gostaria de fazer entender o que deve fazer o Departamento três jantares. Em cada um deles, um oficial de Controle. Nunca pretendi controlar falaria sobre um tema... nada. Sempre quis ajudar todos, em tudo. Pensei imediatamente: vai sobrar para Fizemos boas coisas. Algumas remanescem mim. até hoje. – Você vai ser um dos oradores. No final de 1978, recebi a notícia de O almirante citou os temas. que o jantar seria realizado em 28 de – Qual prefere? dezembro, data aniversária do Arsenal. – Todos são apropriados. Qualquer um... Escrevi o texto sobre O Desafio. O jantar – O Desafio está bem? foi excelente. Correu tudo como o almi- – Está ótimo. rante imaginara. – Então, O Desafio é seu. Tempos depois, ocasionalmente, alguém Confesso terrível falha. Os temas co- me perguntava pelo O Desafio. Prometia locados faziam sentido entre si. Já tinha encontrá-lo na papelada e enviar. Não en- percebido que, debaixo daquela pessoa contrava. Decidi procurar de verdade. Mexi voltada para trabalhos físicos, muitos deles em tudo e não achei. Perdi o texto. Uma quase brutos, manifestavam-se sensibilida- pena, porque gostava do que escrevera. de contrastante, inteligência lúcida, coração Afeiçoei-me a alguns oficiais que me emotivo, percepção rápida, delicada visão distinguiram com suas amizades. Tinha-

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lhes carinho de pai. A quase todos, falta- – Como fico agora? Não me manifestei lhes o pai verdadeido, cuja ausência procu- junto ao almirante pela distinção que me ro preencher. Em 2012, procurei o Reco* atribuiu. Certamente encontrei-me com ele para colher algumas informações sobre algumas vezes. Sempre fui respeitoso para Logística. Prometera-me papéis interes- com ele. Sempre foi cordial comigo. santes. Entregou-me os papéis prometidos. – Agora não tem jeito... Quando me retirava, retrucou: Fiquei com a ordem do dia nas mãos. – Não vai embora assim não. Tenho um Sem enxergá-la. papel para o senhor. – Por que o senhor se foi tão cedo? Sentei-me novamente. Peguei o papel e – Por que fez isso comigo? comecei a ler. – Quero ficar só. – Isto é uma ordem do dia do Arsenal. – Deixem-me chorar minhas lágrimas... Que eu tenho a ver com isto? Fiquei só. Peguei a primeira folha da – Leia, almirante. ordem do dia. Forcei a vista. Firmei o olho. Passei a primeira folha. A segunda folha Consegui ler a primeira palavra... era o texto de O Desafio. – Como é isto? ORDEM DO DIA No 004 – Guardei. O almi- rante fez ordem do dia, Assunto: Aniversário anexando seu discurso, Olhar para o futuro é em 29 de dezembro e distribuiu para toda sempre edificante. O de 1978 a oficialidade, enge- nheiros, mestres e civis exercício da especulação, Apresentação distinguidos de todo o seja ela no campo filosófico arsenal. O senhor não Na data em que o Ar- sabia? seja ela no campo das senal de Marinha do Rio – Claro que não. atividades técnico- de Janeiro comemora Estava no Reembol- administrativas, tira-nos do mais um aniversário de sável. Não recebi a sua fundação, não pode, Ordem do Dia. Tem dia a dia trivial e nos lança o seu diretor, deixar mais de 30 anos que no desconhecido, no campo de olhar para o futuro, procuro este papel. tentando adivinhar-lhe Deve ter ocorrido das ideias os mistérios. A Marinha de o almirante ter-me dos nossos dias está pedido ou ter mandado alguém me solicitar revestida de imensas responsabilidades. o texto na mesma noite do jantar. Natural- Vivemos uma das muitas fases de transição mente, eu o entreguei e... me esqueci de por que tem passado a nossa Marinha desde tê-lo feito. a sua institucionalização. É uma fase difícil Está aí circunstância do modo de ser do que exige de todos nós um perfeito enten- almirante. Durante a leitura, deve ter deci- dimento das nossas potencialidades e das dido distribuir o texto por todo o arsenal. nossas limitações. Alguém deve ter falhado em não me Olhar para o futuro é sempre edificante. encaminhar a ordem do dia. O exercício da especulação, seja ela no

* Capitão de Mar e Guerra (IM) Ricardo José Salgado de Moraes.

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campo filosófico seja ela no campo das ati- Arsenal tem-lhe afeto sincero e lembrança vidades técnico-administrativas, é sempre constante. um exercício gratificante, tira-nos do dia a Se, para vós, não me abona outra razão dia trivial e nos lança no desconhecido, no que a ordem recebida, para mim sobram campo das ideias. razões outras, de toda ordem. Convidei um dos nossos amigos, um dos A distinção atribuída é honra e perigo. oficiais que tendo passado, rapidamente, A honra decorre do mérito enorme da pelo Arsenal aqui deixou a marca da sua ordem que me impôs Sua Excelência, ainda competência, da sua inteligência e do seu que o ordenado mérito tenha nenhum e lhe entusiasmo pelas coisas de Marinha, para faltem todos. que nos falasse a respeito do Arsenal de O perigo é meu e vosso. hoje e do Arsenal do futuro. É nosso, uma vez, porque pela boca, Pedi ao Comandante Geraldo que falas- talvez, pequemos todos, por gula, em tão se sobre os desafios que o Arsenal enfrenta delicioso jantar. nos dias de hoje. Pedi-lhe que buscasse na Se pela boca, comigo, correis um risco sua memória fatos e palavras dos nossos só, por ela mesma me arrisco, sozinho, duas primeiros diálogos a respeito das reformu- vezes. Se fechada, em comendo, peco por lações necessárias nos métodos e processos gula. Aberta, por fala, peco por estultícia. de trabalho do Arsenal visando à Marinha Se pela boca, por gula, condenamos o do futuro e pedi-lhe que compusesse com estômago nosso, pela mesma boca, por estul- estes retalhos de ideias um quadro que tícia, condeno cabeça minha e ouvido vosso. nos desse a verdadeira dimensão do nosso Pior será, e grande tragédia, se o vinho desafio. vosso toldar cabeça minha. Se minhas Minhas senhoras, meus senhores, com- ideias, embriagadas, embaralharem, com panheiros do Arsenal, passo a palavra ao tamanho embrulhamento, não mais vosso CMG (IM) Geraldo de Souza Vieira. ouvido, mas a razão vossa. Em tamanho desarranjo, será bom colocar O Desafio ponto e fim para que, concertados em inusita- do desconcerto, nos lancemos no caminho do Eis-me posto de pé e fala, estando vós tema que me foi proposto: O Desafio. sentados e ouvidos. Servir no Arsenal é aceitar desafios. O desafio será explicar tal circunstância. Aqui os temos de todos os matizes. Pois, em sendo afastado, me vejo chegado. Para não trazer a esta praça-d’armas as- Em sendo distância, me sinto reunido. sunto de serviço, como sempre foi tradição Não basta citar que, desde um ano atrás, naval e gosto pessoal, e para não ofender quando perdi o convívio do dia a dia, não a beleza com que nos brindam as gentis passou semana em que não me ligasse a senhoras, como é de bom tom e de admira- esta Casa. Por muitas necessidades minhas ção pessoal, meu e minha, não discorrerei e pouca utilidade vossa. tecnicamente sobre os desafios. Apenas, e Tenho reanalisado, em perspectiva, os de leve, os farei observar. problemas vividos e presentes, defrontados, Um deles é o desafio geográfico. Um embatidos, desafiados, vencidos. Arsenal em pleno centro da cidade do Rio O interesse vosso tem sido cuidado meu, de Janeiro, em área congestionada, com pois o oficial que ama sua Marinha conhece usurpações em vários de seus espaços. seu Arsenal. O oficial que conhece este Desafio de desalojar organizações militares

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aqui intrometidas, de reconquistar prédios e uma repartição pública, nem transformá- áreas, de conquistar todas as possibilidades lo em empresa cujo maior acionista é o do terreno. Desafiar uma ótica comparti- Estado. A integração do Arsenal com as lhada e acreditar que, da ponte para a ilha, Forças Navais operativas é condição de sua tudo deve ser Arsenal: plano, aterro, colina. essencialidade. Encarar a imperiosidade de Aceitar o desafio dos engenheiros que tornar congruentes os enfoques típicos de projetaram inicialmente esta obra e pro- uma e outra posição. var que somos capazes de lhes seguir o Outro é o desafio da estruturação orgâ- exemplo e restituir e modernizar a planta nica. Rebentar a rotina da departamentali- do Arsenal. zação clássica, romper a estrutura em linha, Outro é o desafio das instalações e dos implantar esquemas funcionais, organogra- equipamentos. Afrontar a realidade de que mas matriciais. Arrostar as consequências o Arsenal se insere em contexto indus- da inexperiência no funcionamento de trial brasileiro bastante desenvolvido, no novos tipos de estrutura organizacional. qual cada opção de reequipar-se constitui Desafio já feito e vencido, pois é coisa com desafio de avaliação, de ponderação, de três anos de implantação. Manter flexibili- otimização, de pioneirismo. Desafiar a dade para acertar situações à medida que ilusão de que qualquer se oferecem. Vergar, ao maquinaria nos serve, sabor das circunstân- de que toda máquina A integração do Arsenal cias, os duros conceitos nos é útil. Encarar a com as Forças Navais de estrutura rígida. essencialidade de nos- Outro é o desafio do sas instalações para operativas é condição de trabalho simultâneo nos atendimento das reais sua essencialidade campos da construção e necessidades navais. do reparo. Não apenas Outro é o desafio da aceitar a simultanei- comunidade industrial. Entender que não dade como ordem, mas praticá-la como basta ser Arsenal para ser ótimo. A partir do opção. Nem enfatizar ora uma, ora outra arranco industrial da década dos 50, temos atividade. Entender que uma Marinha com de encarar parque industrial florescente, limitações financeiras não pode dar-se ao dinâmico e até explosivamente capacitado. luxo de duplicar instalações, equipamen- Aceitar o desafio de termos, a nosso lado, tos, mão de obra, capacidade gerencial e dezenas de indústrias com potencialidades conhecimentos para o requinte de ou só similares, orientadas para metas diversas, construir ou só reparar. Confluir esforços mas passíveis de se direcionarem para pro- e aproveitar oportunidades para exercer pósitos recíprocos, comuns, complemen- ambas as funções com eficiência e proveito. tares. Entender trabalho compartilhado, Outro é o desafio dos métodos adminis- acreditar no esforço conjugado. trativos. Encarar com serenidade relativo Outro é o desafio da natureza jurídica. retardamento na utilização de métodos O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro é inicialmente sofisticados e agora usuais o maior órgão da Administração Direta do e comuns na área da administração. Ser Brasil. E tem que conciliar uma capacida- capaz de dar a volta por cima e automatizar de operativa tipicamente industrial com a as técnicas de planejamento, execução e natureza jurídica de órgão público. Nada controle. Passar da execução da ordem de adianta o extremismo de fazer deste parque serviço para o conceito de desenvolvimento

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de redes encadeadas e lógicas conotadas a contingente de funcionários públicos sob metas, tempos, recursos, máquinas e ho- comando imediato único. Consumiram-se mens. Enfrentar a parada do processamento ambos: a máquina e os funcionários. Dela automático de dados e informações, menos quase nada sobrou. Deles, tivemos que re- como resultado de ideias novas e produtos fazer todos os conceitos, sob enfoque mais fáceis e muito mais como salto para pata- feliz, apesar da mesma orientação básica. mar superior, para melhor dimensionamen- Deles, restaram trabalho gigantesco, exem- to dos problemas, para equacionamento plos inesquecíveis, obras perfeitas, lições mais feliz das soluções. edificantes, muito suor, muitos sonhos, mui- Outro é o desafio da manutenção sem tas vigílias, muitas desilusões. Ainda estão operação. Com as tradicionais dificuldades por aí, aqui conosco, mantendo vivo todo para operar, agora agravadas com a crise um grande amor por estas ruas, por estas mundial de combustível, que se avoluma praças de máquinas, por estas oficinas, por desde 1973, somos forçadamente levados estes cais, por estes diques, por estas popas, a uma Marinha de cabeço, quando muito por estes fundos duplos, por todos os cantos de boia. Como seria bom e diferente se de seu Arsenal e de nossos navios. São eles a tivéssemos sempre no mar, exaurindo os professores de uma geração que se vem tanques, queimando mancais, rachando lançando à frente da massa trabalhadora do camisas, estourando manômetros, ades- Arsenal. Foram seis, sete, oito mil. Hoje são trando, aprendendo, sentindo, vivendo o o fermento que transmite à massa de três, mar, o exercício, a manobra, a formatura, a quatro, cinco mil empregados do regime busca, o ataque, a operação, a tática. Como especial todo o entusiasmo pelo Arsenal. seriam diferentes os pedidos de serviço para Desafio de mudar completamente a substituição de armários, reparo de banhei- gerência de pessoal, terminando cega e ros, troca de pisos. Há, psicologicamente, louca anuência a normas frias. Engajar para inconsistência enorme para a aceitação do conhecer o mercado de trabalho, disputar navio como arma sem haver alvo, como a mão de obra disponível, administrar sa- manobra sem haver teatro, como mira sem lários, contratar, demitir. Deixamos de ser haver fogo, como fogo sem haver míssil, meros executores de alíneas e parágrafos, como reparo sem haver operação. O desafio cumpridores de política alienada e passa- da essencialidade de capacidade de deter- mos a fazer, dentro do possível, nós mes- rência, da importância de poder permanente mos, ainda que bitolados, nossas opções. e eficaz suficiente para preservar, alta e Desafio de incutir nessa nova massa de valorosamente, a imagem do Brasil, a rea- empregados colaboradores todo um ideá- lidade de nossa gente, de nossas riquezas, rio naval, todo endoutrinamento típico de de nossas instituições. nosso meio. Acender-lhes e aumentar-lhes Outro é o desafio do pessoal. Partindo o ardor patriótico, o orgulho de servirem no de um quadro de funcionários públicos com Arsenal, de ajudarem a construir e manter enormes virtudes e qualidades, batemo-nos nossa Marinha. durante muitos anos na incongruência de vê- Outro é o desafio da gerência integral los encaixados numa máquina burocrático- dos meios à disposição. O Arsenal tem administrativa voltada para trabalhos de aceitado o desafio de suportar todos seus repartição pública, alienada das pertinências custos a conta da execução dos projetos de uma massa operária, em que pese o Ar- que lhe são confiados. Acabou-se, porém, senal ter sido – e talvez ainda ser – o maior a época das vacas gordas e dos dinheiros

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largos. Findou-se o período das requisições preendam sua forma de trabalho. A própria à Diretoria de Fazenda – lá se vão meus Marinha, desacostumada de encarar as coi- tempos de tenente –, à Diretoria de Inten- sas deste jeito, tem estranhado a demanda dência e, agora, à Diretoria de Finanças. O financeira do Arsenal. Flui o Plano de Ação arrocho orçamentário e a execução de pro- da Marinha sem sobressaltos, escorado na jetos grandes fizeram emergir a figura do programação financeira junto à Secretaria administrador, muito mais impressionante do Tesouro Nacional do Ministério da Fa- que a figura do mais antigo. As mudanças zenda, enquanto o desembolso do Arsenal têm sido grandes e o Arsenal tem aceitado equilibra-se no cronograma de recebimento a porfia. Dar-vos-ei apenas uma dimensão. das faturas de seus clientes, o maior número A Marinha gasta em pessoal, por mês, deles e o maior montante delas referentes a algo perto dos 600 milhões de cruzeiros. Organizações Militares da própria Marinha. São 4.500 oficiais, são 12.000 graduados, O aumento de vencimentos dos militares e são 30.000 praças, são 16.000 civis, afora funcionários é decretado, e funcionam auto- os inativos e pensionistas. É uma popula- maticamente as reservas de contingência do ção ativa de mais de Governo. O mercado de 60.000 pessoas. O Ar- mão de obra típica de senal é mais ou menos A realidade é que o estaleiros salta e o Ar- 10% desta massa e Arsenal aí está: equipado, senal tem que se esticar deste dinheiro. Noven- em explicações sobre o ta por cento de todo produzindo, construindo, valor do homem-hora, pessoal são pagos por reparando, melhorando, defender posições, criar requisições série V, batalhando, desafiando. argumentos, divagar série S, série R, séries sobre o óbvio. A rea- X, Y, Z, sacadas pelas E custa o que custa, seja lidade é que o Arsenal Organizações Milita- muito, seja pouco, seja aí está: equipado, pro- res sobre a Diretoria de duzindo, construindo, Finanças. O Arsenal, caro, seja barato reparando, melhorando, não. O Arsenal é pago batalhando, desafiando. no rebite, no cabo passado, no induzido E custa o que custa, seja muito, seja pouco, enrolado, na chapa soldada, na diretora seja caro, seja barato. É um custo naval ajustada, no canhão instalado, na peça como o são a Estação Rádio de Belém, o moldada, no aço corrido, no eixo torneado, Contratorpedeiro Espírito Santo, a Odon- na redutora alinhada, na ordem de serviço toclínica Central da Marinha, o Colégio satisfeita, no reparo terminado, no evento Naval, a Adidância no Japão e o Batalhão cumprido, na fatura paga. Ali, no duro. de Engenharia. Custa e tem que ser pago. Outro é o desafio da incompreensão. Por A validade de seu custo deve ser apurada serem as coisas como estão sendo, por estar nos mesmos moldes auditoriais aplicáveis aceitando o desafio de custear-se, por não a qualquer organização militar da Marinha. depender do “Pague-se” mas do “Pronto”, Até, no entanto, que se compreenda bem por ter exibido a realidade de que os custos esta esquematização, todos nós temos que são elevados, por não estar drenando os aceitar o desafio da palavra amarga, do canais automáticos de receber dinheiro, desconhecimento dos propósitos, da crítica engajou-se o Arsenal na necessidade de descabida, da ironia velada, da inveja sem que todos os que servem na Marinha com- disfarce.

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Outro desafio é o da inibição para a pro- imediato com toda sorte de problemas, a ab- cura de trabalho. Estamos aqui plantados em sorção de cabedal valioso de experiência, tudo grande parque industrial. O Arsenal tem sido isto está aqui disponível. O desafio consiste em objeto de surpresa para muita gente, inclusive enquadrar estas circunstâncias na perspectiva de países industrialmente adiantados. Não de carreira de cada militar, oficial ou gradua- têm sido poucos e raros os técnicos que citam, do, de cada elemento civil, qualquer que seja em relatórios, não terem esperado encontrar sua formação. Em harmonizar os fluxos das instalações tão boas, plantas tão bem equipa- carreiras programados pelo setor de pessoal das e pessoal tão qualificado. Nosso próprio com a variedade de aplicações possíveis pessoal, que conhece outros estaleiros pelo dentro do Arsenal. Subsequentemente, com- mundo afora, é testemunho de nossa poten- patibilizar o aperfeiçoamento com o setor de cialidade. A Marinha tem construído este ensino. Perfeito encaixe de todas as peças no Arsenal à custa de pioneirismo meritório, mosaico da carreira naval fará de cada qual um introduzindo equipamento e técnica que, homem profissionalmente realizado, contente em seguida, se disseminam por empresas em servir no Arsenal, mais interessado em ter privadas. Tal pioneirismo não é, as mais seu próprio capacete que em usar o capacete das vezes, financeiramente compensador. da função que ocasionalmente desempenha. Comercializada a capacidade, porém, surge, O Arsenal ser-lhe-á comissão agradável, ser- de imediato, a grita contra a competição no lhe-á serviço e casa, trabalho e alegria, suor e mercado. Decorre daí a inibição em procurar descanso. encomendas, em aplicar a potencialidade, em Outro é o desafio das normas. As normas, utilizar a capacidade ociosa. Gerenciar orga- constitucionais, legais, regulamentares, são a nização cuja despesa é mandatória e sempre expressão atual dos fenômenos sociais da co- crescente e cuja receita é inibida representa munidade. Na medida em que não refletem a disforme proposição, profunda inquietação, comunidade, em que não dizem respeito às tremendo desafio. Mais que isto. Quando se interações sociais, em que regem situações amealham trabalhos, os compradores sem- superadas, as normas se tornam letra morta, pre julgam merecer preços ínfimos, custos texto vazio, regra inócua. Como tantas outras baixos, renda zero. Não lhes ocorre que coisas no campo filosófico, a norma tem seu administração segura, econômica, dinâmica, aspecto material e formal, seu conteúdo e produtiva, representa menor parcela de im- seu continente, a ideia e a letra, o espírito e posto para todos os cidadãos. O egoísmo de a frase. Não é coisa fácil aceitar o deafio de cada encomenda é visível, a dificuldade no respeitar todas as normas, corolário da for- diálogo é evidente. Resta a alternativa única mação militar, e enfrentar sua impertinência de sobrecarregar os custos dos projetos que lógica ou sua aplicação descabida. a Marinha confia ao Arsenal, o que, por sua Desafio de ver, na norma, aquilo que vez, enfrenta o desafio da incompreensão. É tem de sadio, distinguir o propósito da guinar de Scylla para bater em Charydbis. mera circunstância, procurar o caminho Outro é o desafio da realização profissional. balizado e evitar os tropeços, os saltos, os O Arsenal oferece as mais amplas e diversas atalhos. Ter descortino para saber que é oportunidades para os oficiais de quase todos ético haver competição para fornecimentos os Corpos e Quadros: médicos, dentistas, far- de materiais e prestação de serviços, sem macêuticos, do Corpo da Armada, intendentes, reduzi-la a meros processos licitatórios. fuzileiros e, sobretudo, engenheiros. O efetivo Que é natural haver limite numérico de exercício das mais variadas funções, o contato contratados sem torná-lo inflexível para

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aumentos na demanda decorrentes da car- do japonês, acertar as tampas das redutoras do ga de trabalho, sem torná-lo insensível às Minas. Reparar o contratorpedeiro, desmiolar oportunidades de oferta de mão de obra. o Humaitá, modernizar o Minas, construir as Que é justo haver parâmetros salariais na fragatas. Tudo isto é desafio demais. esfera federal sem incorrer no afastamento Outro é o desafio da remuneração. Ser dos padrões do mercado de trabalho. militar no Arsenal, pegar às 7h15, sair quando Desafio cruel, que joga o chefe em con- puder, aguentar reclamação da mulher, suar a flitos objetivos que desgastam as forças, camisa, correr para o rancho, acariciar os fi- ocupam o tempo e minam os contatos. lhos adormecidos, não receber gratificação de Que o lançam em lutas subjetivas que voo, não ganhar gratificação de embarque, dar consomem o espírito, provocam as dúvidas, pau, não contar comando nem direção, andar dificultam as decisões. Pequeninas batalhas sem condução, ver de perto o descompasso constantes que moldam o grande chefe. do vencimento com o mercado de trabalho, Outro é o desafio do conhecimento ina- escutar tanto barulho, descer até o fundo do proveitado e da execu- dique e ainda gostar de ção do desconhecido. ser marinheiro, ter amor Fazer cada qual sentir- E ainda gostar de ser à farda, ir tocando como se útil, apesar de não Deus é servido e a Mari- haver oportunidade marinheiro, ter amor à nha navegada, isto é de- para pleno emprego de farda, ir tocando como safio pessoal difícil, mas tudo que sabe. Desafio gostosamente praticado. de conferir gêneros Deus é servido e a Marinha Outro é o desafio do alimentícios no cais navegada, isto é desafio tempo, ter prazo para sendo pós-graduado pessoal difícil, mas tudo: a ordem de serviço, em mecânica e mestre o relatório, o cronogra- em ciências. Entender gostosamente praticado ma, o Pert, o incêndio que a Marinha e o Ar- do Custódio, o Projacs, senal são organizações o evento, a reunião, o que atingem a compleição pela execução de PNR, a obra, a saída do navio, a entrada tarefas simples e complexas. Que, na carreira no dique. Não são trabalhos que devem ser naval, temos que desempenhar todas as fun- feitos. São prazos que devem ser cumpridos. ções necessárias, nem sempre as preferidas. É tempo que tem de ser observado, é prazo Desafio de cumprir a tarefa para a qual sem prorrogação. É ano que passa, é mês não estamos perfeitamente preparados. que conta. É dia que corre, é hora que chega. Buscar os livros, consultar as notas, quebrar Senhor almirante, chega também a hora o galho, pedir o bizu, arranjar o jeito, imagi- de terminar. nar a fórmula, catar o macete, bolar a coisa, Dou por concluída a tarefa, cumprida inventar o artifício, safar a onça, apelar para a ordem, aceito o desafio. Se o tema foi a criatividade, estudar, descobrir e acertar. O Desafio, tenho-o por satisfeito, que de Alinhar a redutora que a General Electric conflitos citei mais de dez a fio. nem sequer começou, reparar o hélice da De fio a pavio, rolei por sobre entrada, fragata que o gringo julgou impossível, pegar peixes e carnes, por sobre pratos, talheres o gato que a Westinghouse deixou passar, por e água, por sobre salão, luzes e vozes, por funcionando a hidráulica do guincho do Gar- sobre mesas, amigos e vinhos, por sobre cia D’Ávila, desempenar o eixo pela técnica sobremesas, café e licor.

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Por tanto desafio, receio que desafino Desafio que me toca a mim, que vos e é bom pôr termo e compasso em tanto toca a vós, que nos toca a todos: o desafio desatino. da realização plena. Se não por outras razões, pelo receio Desafio de tudo desafiar. maior do que a FIO*. E após tudo concluído, nós, os inquietos, Vossa Excelência, de muitas lições que os ardorosos, os valentes, os destemidos, os me deu, fez notável uma. A de que o uni- ousados, os sonhadores, os idealistas have- verso se divide no mundo das coisas e no mos de aceitar o último desafio. Havemos mundo das ideias. de mergulhar no infinito, entregar o corpo As coisas aí estão: é o mundo físico, ao seio da terra e repousar o espírito nas cheio de céu, de rios, de mares; de bichos, mãos de Deus. de plantas, de pedras; de chapas, de máqui- No dia seguinte, na primeira luz da nas, de aparelhos; de peças, de solda, de madrugada, oito mil homens e mulheres força; de energia, de luz, de calor. tomarão este caminho. As ideias estão aí: os projetos, as me- Às 7h15, correrão os portões do edifício 49. tas, as técnicas; as normas, os planos, os Às 7h30, o Arsenal de Marinha do Rio sonhos; os desejos, de Janeiro, este Arsenal, as dúvidas, as ânsias; apitará. os conhecimentos, as Às 7h30, o Arsenal de Será a nova hora dos intenções, os ideais. Marinha do Rio de Janeiro, mesmos desafios. Será a Entre ambos os mesma hora de desafios mundos, o desafio este Arsenal, apitará. novos. maior, o desafio sín- Será a nova hora dos tese: o homem. O de- Encerramento safio da alga que se mesmos desafios. Será a fez ser vivo; o desafio mesma hora de desafios Dizem os mais sá- do animal que se fez novos bios que a idade e os homem; o desafio do cabelos brancos nos homem que superou o conferem a faculdade plano material e vislumbrou o plano divino; de melhor conhecer os homens e de melhor o desafio do cérebro que fez a primeira escolher aqueles que possam interpretar de abstração e penetrou no mundo metafísico. uma forma mais correta os nossos pensa- O desafio do companheiro que estendeu a mentos e as nossas vontades. mão primeira e disse a primeira palavra; Bastou que eu lhe acenasse com o tema o desafio de acoplar, de integrar o mundo e lhe dissesse das minhas preocupações das coisas e o mundo das ideias; o desafio para com o futuro para que o Comandante de todas as superações; o desafio do ser in- Geraldo interpretasse fielmente a minha tegral, do sentido verdadeiro do ser social. vontade e nos brindasse com tão belas pa- Desafio histórico deste Arsenal, que vem lavras. Escolhi eu bem o orador e escolheu fazendo nada mais que isto em seus 215 bem o orador as suas palavras e os dois com anos de desafio: integrando coisas e ideias nossas cabeças grisalhas louvamos o dito no desafio permanente do homem. dos nossos sábios.

* Folha de Informação de Oficiais, documento semestral que os comandantes remetem à Diretoria de Pessoal Militar da Marinha emitindo conceito sobre comportamento e desempenho dos oficiais sob suas ordens.

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Senhores, senhoras, nada mais vou Tentei recuperar sua figura... lembrar acrescentar às palavras do Comandante seu jeito... ouvir sua voz... Geraldo. – Não mereci, não mereço a distinção. Muito obrigado. Tudo aprendi com suas belas lições, com Hugo Freidrich Schieck Junior – Vice- meus tristes enganos. Almirante (EN) – Diretor – Não existe linha em meu texto que não seja reflexo da grandiosidade de seu CONCLUSÃO espírito, do calor de seu entusiasmo, do refrigério de sua sabedoria... Dobrei os papéis na mesa do Reco. – Por que o senhor se foi tão cedo? Perdido... Largado... – Por que publicou a Ordem do Dia? Tanto tempo... Quanta coisa... Quantas – Por que fez isso comigo? recordações... Desandei a chorar minhas lágrimas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Entusiasmo; Espírito de Corpo; Exemplo; Exortação; Liderança; Princípios; Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro;

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Guilherme Mattos de Abreu* Contra-Almirante (RM1)

Guerra da Lagosta é uma crise razoa- A crise foi um problema potencialmente A velmente conhecida de nossa história, grave. O seu desencadeamento pode ser que, ainda assim, mereceria um estudo inte- atribuído ao próprio presidente da Repúbli- grado, uma vez que as diversas abordagens ca do Brasil, que a precipitou, ao autorizar encontradas são setoriais. Com isso, não a atividade de barcos franceses “em caráter se consegue apreender e harmonizar, em excepcional”, em desacordo com as trata- justa medida, todos os aspectos do tema. tivas em andamento no âmbito ministerial, Destaca-se que foi um confronto que envol- e em poucos dias voltar atrás, provocando veu um assunto ambiental, possivelmente indignação do governante francês1. o primeiro com essa característica em que Poderia evoluir para um confronto o Brasil se envolveu. militar, uma vez que unidades da Marinha

* O autor ingressou no Colégio Naval em 1969. Foi declarado guarda-marinha em 1974 e promovido a contra-almirante em 2004. Exerceu os comandos do Navio-Patrulha Pirajá, da Corveta Bahiana, do Colégio Naval, do Primeiro Esquadrão de Corvetas e, como almirante, da 2a Divisão da Esquadra. Também foi subchefe de Operações do Comando de Operações Navais, assistente do Comando da Escola Superior de Guerra (ESG) e diretor do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (Caepe) daquela Escola. Deixou o Serviço Ativo em abril de 2008. 1 Indica a literatura que o Presidente João Goulart aparenta não ter percebido a sensibilidade com que se deve evoluir no âmbito das relações internacionais. O tema “captura de lagosta pelos franceses na plataforma continental brasileira”, no âmbito ministerial, estava em discussão com autoridades daquele país. Entretan- to, em audiência com o embaixador francês, o presidente autorizou a operação de barcos franceses por um período limitado (em 8 de fevereiro de 1963); em poucos dias, em função das reações dos setores nacionais envolvidos, o Governo brasileiro voltou atrás (18 de fevereiro) – o que provocaria irritação do Presidente Charles de Gaulle. Além disso, com o assunto efervescente, João Goulart delegou a presidência da reunião CHARLES DE GAULLE: A GUERRA DA LAGOSTA E A DIPLOMACIA NAVAL

francesa estavam relativamente próximas, majestade da França havia sido ultrajada.” realizando exercícios de adestramento de (REYNALD, 1964. p. 120) rotina nas costas do Senegal. Tanto que a Como se vê, o presidente francês levara escalada da crise ocorreu em decorrência a sério o incidente. Isto fica evidente por de o Presidente Charles de Gaulle decidir suas atitudes à época e pelo desdobramento enviar um dos navios de guerra que par- da crise, que foi a sua visita ao Brasil em ticipava do adestramento (o Contratorpe- 1964, tema deste artigo. Evento que, assim deiro Tartu) para proteger os barcos de como a Guerra da Lagosta, insere em seu pesca franceses. Daí a reação brasileira contexto o emprego da Diplomacia Naval. de mandar navios da Esquadra e unidades No período de 20 de setembro a 16 de da Força Aérea Brasileira (FAB) do Rio outubro de 1964, o General De Gaulle rea- de Janeiro para o Nordeste, ato que seria lizou um périplo por dez países da América acompanhado por uma mídia alvoroçada. do Sul2, por ar e por mar. Foi um evento Por fim, a crise seria solucionada, com a desgastante para ele, então com 73 anos saída dos barcos franceses das proximida- (além de recém-operado) – a mais longa des de nosso litoral. viagem que realizou no período em que Em síntese, quase se chegou ao enfrenta- esteve à frente do governo da França. A mento bélico, não só para preservar um re- viagem constituiu uma das muitas inicia- curso econômico da plataforma continental, tivas do Presidente na condução de uma mas também para proteger o seu habitat, política que mirava o engrandecimento da que os franceses já teriam impactado em França e que passou a ser conhecida como outras áreas, devido às técnicas de captura “política de grandeza” (politique de gran- que empregavam. deur)3. A aproximação com a América La- A atitude do Presidente Charles de tina iniciou-se com uma visita ao México, Gaulle mereceria críticas na França, visto em março. Em seguida, os seus interesses que o país possuía investimentos aplicados voltaram-se para a América do Sul. Ao lon- no Brasil, em escala muito mais relevante go da visita ao continente, em seus curtos daquela que poderia ser alcançada com discursos, o General De Gaulle invocaria atividade lagosteira em nossas costas. O com sucesso a atração da cultura europeia ex-premier Paul Reynald, em meio aos seus – francesa em particular – nos países sul- comentários a respeito da política externa americanos, o que parecia mais evidente no executada por Charles de Gaulle, assinalou Uruguai, na Argentina e no Brasil. Buscou que vários ministros e outras autoridades oferecer aos sul-americanos novas opções tentaram chamar a atenção do Presidente para ajuda técnica e financeira, ainda que para a progressiva deterioração da situa- em menor escala do que a proporcionada ção. “Em vão. De Gaulle considerou que a pelos Estados Unidos.

do Conselho de Segurança Nacional, realizada na noite de sexta-feira, 22 de fevereiro (véspera de carnaval), ao Chanceler Hermes Lima; e foi passar o carnaval com a família em São Borja. Os primeiros navios da Esquadra suspenderiam para o Nordeste na madrugada de 24, domingo. O deslocamento de aeronaves da FAB começou na manhã desse mesmo dia. (BRAGA, 2004, página 67 a 70 e 82; DABUL, 1994) Carlos Alves de Souza, embaixador do Brasil na França à época, relatou em suas memórias que “Jango considerava o assunto sem importância”. (SOUZA, 1979, página 315) 2 Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil. 3 A política conduzida pelo Presidente De Gaulle na época ficou conhecida comopolitique de grandeur (“política de grandeza”), que tinha como objetivos: reformar e desenvolver a economia do país, promover uma política externa independente e alcançar uma posição de destaque no cenário internacional.

34 RMB4oT/2013 CHARLES DE GAULLE: A GUERRA DA LAGOSTA E A DIPLOMACIA NAVAL

Os deslocamentos do presidente foram Esta mudança de proceder – uma de- realizados em um Caravelle – aeronave monstração de força, em função do meio símbolo do soerguimento da indústria aero- empregado, evidentemente vinculada à crise náutica francesa4 –, e a bordo do Cruzador (Guerra da Lagosta – 1963) – aparenta ter Colbert. O cruzador encontrou a comitiva sido temperada pela irritação do presidente presidencial nas escalas em Peru, Chile e francês em face de outros contenciosos e das Uruguai. A bordo do navio, legalmente matérias veiculadas pela mídia antes da via- “território francês”, o General De Gaulle gem (particularmente a agressiva entrevista assinava decretos, que eram publicados no de Carlos Lacerda, no Aeroporto de Orly, Diário Oficial com a inscrição: “Confeccio- em 24 de abril6). O Cruzador Colbert era um nado a bordo do Colbert”, seguida de sua dos navios mais modernos e poderosos da assinatura. Em Montevidéu, o presidente Marinha Nacional francesa. A sua presença embarcou no cruzador, seguindo, em uma era uma amostra do desenvolvimento e da travessia de três dias, para o Rio de Janeiro, capacidade de projeção do Poder Militar, aspecto que constitui um diferencial nesse bem como, simbolicamente, do poder da périplo, ainda que tenha havido um breve Nação francesa, aspecto que insere a visita embarque por ocasião da visita ao Chile5. no contexto da Diplomacia Naval.7

Cruzador Colbert 4 A preocupação em se utilizar um meio aéreo de fabricação francesa esteve presente no planejamento desta e de outras viagens presidenciais. Na viagem anterior ao México (março de 1964), em função da autonomia da aeronave presidencial, de Gaulle atravessou o Atlântico a bordo de um Boeing 707, mas trocou de avião em uma escala, de modo a chegar à cidade do México a bordo do Caravelle, “sob os olhos das câmeras e de jornalista de todo o mundo”. (La Caravelle présidentielle) 5 O Presidente De Gaulle, após visitar a Bolívia, deslocou-se para Arica (Chile), onde embarcou no Cruzador Colbert (29 de setembro), seguindo para Valparaiso, onde foi recebido pelo Presidente do Chile, em 1o de outubro. 6 O Governador Carlos Lacerda foi à Europa em abril de 1964, em missão oficial, a fim de explicar a Revolução de 31 de março. Foi muito agressivo em entrevista à imprensa, na escala no Aeroporto de Orly, Paris (24 de abril), ofendendo os franceses e o seu presidente, bem como minimizando a importância da futura visita do Presidente De Gaulle ao Brasil (a qual se limitaria a discursos e banquetes, disse). Note-se que a agressivi- dade de Lacerda foi uma reação à hostilidade com que foi recebido pelos jornalistas franceses, mas também significou iniciar “a missão com o pé esquerdo”. Uma escala posterior na França constou desse périplo pela Europa, mas Lacerda não foi recebido por De Gaulle e foi ignorado pelo mundo oficial francês. Na visita ao Brasil, embora tivesse como porto de che- gada o Rio de Janeiro, De Gaulle procurou restringir a presença de Carlos Lacerda, governador do Estado da Guanabara, nos eventos a que compareceria, pois desejava ter o mínimo contato possível com aquele político. Lacerda ignoraria a presença do Presidente francês no Rio de Janeiro, não comparecendo ao seu desembarque no Cais da Bandeira. (Viana Filho, 1975. p. 105) 7 O Colbert também transportaria o Presidente De Gaulle em sua visita ao Canadá (1967), ocasião em que aquele chefe de Estado provocou um incidente diplomático, ao bradar em um discurso, para surpresa dos canadenses (24 de julho de 1967): “Vive le Québec libre! Vive le Canada français! Et vive la France!”

RMB4oT/2013 35 CHARLES DE GAULLE: A GUERRA DA LAGOSTA E A DIPLOMACIA NAVAL

O presidente do Brasil, à época, era O presidente francês desembarcou no Cais o Marechal Castelo Branco. Um homem da Bandeira, fronteiro ao Edifício do Ministé- culto e preparado, que nunca se entregava rio da Marinha, no Rio de Janeiro, sendo rece- de improviso aos assuntos governamentais. bido por Castelo Branco, em 13 de outubro; Assim, orientou o Itamaraty quanto às dali, seguiu pela Avenida Rio Branco, sob implicações da viagem do chefe de Estado aplausos da população, até o Monumento aos francês, que não teria “apenas o significa- Mortos da Segunda Guerra Mundial. Após do de restabelecimento total de antigas e a cerimônia de aposição floral, os presiden- históricas relações, nem de passear, num tes deslocaram-se para o Aeroporto Santos outro continente, a sua glória”, bem como Dumont, de onde uma aeronave da FAB os estudou a coleção de documentos que transportou até Brasília. Seguiu-se a viagem lhes foram remetidos pelo Ministério das do presidente francês a São Paulo e o retorno Relações Exteriores e dos organizados ao Rio de Janeiro, onde foi oferecida uma pela Embaixada da França. Além disso, recepção em retribuição ao Marechal Castelo interferiu pessoalmente nos detalhes da Branco, a bordo do Colbert, atracado no píer programação (Viana Filho, 1975, p. 173). da Praça Mauá, em 15 de outubro. De Gaulle De Gaulle, ao contrário, não parece que embarcou no Caravelle présidentielle no dia fora bem orientado sobre Castelo, “a quem seguinte, retornando à França. possivelmente imaginava um presidente Os eventos por ocasião da chegada e as como muitos outros que conhecera”. (ibidem) conversas travadas no voo e em Brasília apa-

Flagrantes da chegada do Presidente De Gaulle ao Rio de Janeiro (Arquivo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha)

36 RMB4oT/2013 CHARLES DE GAULLE: A GUERRA DA LAGOSTA E A DIPLOMACIA NAVAL

Embarque em automóvel para desfile na Avenida Rio Branco rentam ter mudado a percepção do dignitário francês quanto ao Brasil e seu presidente. A bordo da aeronave da FAB travou-se um diálogo que, provavelmente, serviu como um divisor de águas no relacionamento entre os dois presidentes. “Disse De Gaulle, com do para o Marechal Castelo Branco e que agressividade quase impertinente: ‘Sempre este muito o impressionara, como estadista me preocupa saber o que é um ditador sul- e por sua cultura. (idem, p. 173) Ambos americano e por que a história os registra tão parecem ter se relacionado bem! numerosos’. ‘Senhor O Almirante René presidente – respondeu Besnault, na época aju- Castelo Branco –, um É interessante observar dante de ordens do pre- ditador sul-americano como este marco da sidente francês, apon- é um homem, não ne- tou que este périplo cessariamente um mili- diplomacia de ambos os pareceu-lhe um marco tar como nós dois, que países, em sequência a uma espetacular em um pro- acha extremamente crise relevante, pôde contar jeto que não começou agradável agarrar o nem cessou com o Ge- poder e extremamente com um meio naval, como neral De Gaulle, mas desagradável deixá-lo. símbolo de poder, como se estendeu bem além. Eu deixarei o poder em O objetivo francês era 15 de março de 1967. cenário ou como apoio à o de criar, ampliar ou E o senhor, que planos diplomacia presidencial reforçar a cooperação tem?’.” O último ato econômica, científica e seria a recepção a bor- política com os países do do Colbert, em 15 de outubro, onde era em vias de desenvolvimento e o de assumir visível a cordialidade entre os dois chefes um papel crescente no mundo. A América de Estado, o que contrastava com o tom Latina ocupava, a este respeito, um lugar cerimonioso do primeiro encontro. (idem, essencial aos olhos do dignitário francês, e p. 176, 178) a iniciativa de aproximação protagonizada Mais tarde, já na França, De Gaulle diria por De Gaulle continuaria a dar frutos desde a interlocutores que não o haviam prepara- então. (BESNAULT, 1998)

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É interessante observar como este contar com um meio naval, como símbolo marco da diplomacia de ambos os países, de poder, como cenário ou como apoio à em sequência a uma crise relevante, pôde diplomacia presidencial.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Visita de presidente; Visita ao Rio de Janeiro; Gaulle, Charles de; Diploma- cia; Guerra da Lagosta;

Referências

BESNAULT, R. (Amiral René Besnault). Périple de l’Amérique du Sud d’un « Edecan », Espoir no 114, 1998. http://www.charles-de-gaulle.org/pages/l-homme/dossiers-thematiques/de-gaulle-et- le-monde/de-gaulle-et-l-amerique-latine/temoignages/rene-besnault-periple-de-lrsquoamerique- du-sud-drsquoun-edecan.php BRAGA, C. A Guerra da Lagosta. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha. 2004. DABUL, A. “Guerra da Lagosta: A busca a verdade histórica”. Revista do Clube Naval, no 294, 1994. Rio de Janeiro: Clube Naval. 1994. DULLES. J. Carlos Lacerda, Brazilian Crusader: The years 1960-1977. (Volume II) – Texas Uni- versity Press. 1996. p. 246 – 251. Disponível: http://books.google.com.br/books?id=4XZM gf42RmcC&pg=PA250&lpg=PA250&dq=lacerda+de+gaulle+orly&source=bl&ots=Ia8NY WYmZJ&sig=GZXJ1zKB_jdDe0mwbInQsbYZbQ0&hl=en&sa=X&ei=sHLLUaeEE8PE0g Gq-IGYDg&ved=0CD0Q6AEwAA#v=onepage&q=lacerda%20de%20gaulle%20orly&f=false Fondation Charles de Gaulle. La Caravelle présidentielle. Disponível: http://www.charles-de-gaulle. org/pages/la-memoire/symboles/la-republique-gaullienne/la-caravelle-presidentielle.php. Acessado em 13 de junho de 2013 Fondation Charles de Gaulle. Chronologie des relations entre la France et l’Amérique latine de 1940 a 1965 et du voyage du général de Gaulle en Amérique du Sud. Disponível: http://www. charles-de-gaulle.org/pages/l-homme/dossiers-thematiques/de-gaulle-et-le-monde/de-gaulle- et-l-amerique-latine/reperes/chronologie-des-relations-entre-la-france-et-l-amerique-latine. php. Acessado em 27 de junho de 2013 REYNAUD, P. The Foreign Police o Charles de Gaulle: A critical assessment by Paul Reynaud, former Premier of France (trad.). New York: The Odissey Press Inc. 1964 (título original: La Politique Etrangère du Gaullisme. 1964.) SOUZA, C. Um embaixador em tempos de crise. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1979. VIANA FILHO, L. O Governo Castelo Branco, 2a ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio Editora. 1975.

38 RMB4oT/2013 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES*

Sergio de Almeida Oliveira** Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN) Marcelo A. Savi*** Professor Doutor

SUMÁRIO

Introdução Ligas com memória de forma Materiais piezoelétricos Materiais magnetoestrictivos Fluidos eletromagnetorreológicos Conclusões

INTRODUÇÃO se destacar o comportamento adaptativo que fornece a capacidade de auto-regulação natureza é a fonte de inspiração essen- dos sistemas naturais. A cial para pesquisadores e engenheiros Por meio da História, a tecnologia que tentam desenvolver sistemas e estrutu- humana é sempre relacionada com mate- ras. Dentre os aspectos inspiradores, deve- riais diferentes, e é possível reconhecer

* Extraído da Tese de Doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro: “Mode- lagem Termomecânica de Ligas com Memórias de forma em um contecto tridimensional”. ** Doutor em Engenharia Mecânica. É aluno de pós-doutorado na UFRJ, onde desenvolve atividades de pesquisa. *** Doutor em Engenharia Mecânica (1994). É professor da UFRJ (Departamento de Engenharia Mecânica, Coppe/ Escola Politécnica), onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão. OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES

as eras definidas por alguma invenção Variações desses materiais têm sido ou utilização de materiais: pedra e metal, investigadas, aumentando ainda mais a por exemplo. Recentemente, os materiais aplicabilidade dos materiais inteligentes. inteligentes podem ser identificados como Nesse sentido, podem-se mencionar as o estímulo de uma nova era. Basicamente, ligas ferromagnéticas e polímeros com os materiais inteligentes possuem um aco- memória de forma e as fibras óticas. Além plamento entre grandezas mecânicas e não disso, deve-se ressaltar a combinação de mecânicas, que confere ao material um tipo diferentes tipos de materiais compósitos especial de comportamento. Neste sentido, híbridos. Recentemente, há uma tendência é possível imaginar inúmeras aplicações para a redução de dispositivos inteligentes devido ao acoplamento de campos que, para micro e nanoescala, como os chama- geralmente, não estão ligados. dos MEMS e NEMS (micro – ou nano – A utilização dos materiais inteligentes sistemas eletromecânicos). na área tecnológica tenta explorar a ideia Materiais inteligentes são usualmente de construir sistemas e estruturas com utilizados como sensores e atuadores em es- comportamento adaptativo que tenham a truturas ou sistemas inteligentes. A escolha capacidade de alterar propriedades, devido do material adequado para cada aplicação às mudanças ambientais, e serem reparados depende de muitos fatores, e dois requisi- quando necessário. tos imprescindíveis no projeto devem ser Além do termo materiais inteligentes, destacados (Lagoudas, 2008): a densidade também são usualmente empregados os de energia de atuação e a frequência de termos materiais adaptativos, multifuncio- atuação do material. nais ou ativos. Lagoudas (2008) chamou de Este trabalho apresenta uma revisão materiais ativos um subgrupo de materiais sobre os principais materiais inteligentes multifuncionais que apresentam sensibi- e suas aplicações. A ideia é fornecer uma lidade e capacidade de atuação. Mas, em revisão abrangente, discutindo aplicações geral, é possível utilizar o termo materiais tecnológicas relatadas na literatura. Será inteligentes a fim de expressar os materiais feito um breve histórico sobre o desenvol- que apresentam acoplamentos entre campos vimento desses materiais, seus fenômenos físicos diferentes e, portanto, com caracterís- físicos e algumas de suas aplicações. Os ticas adaptativas que podem ser empregadas materiais inteligentes apresentados neste para adequar-se às mudanças ambientais. trabalho são as ligas com memória de Entre as muitas possibilidades, os ma- forma, materiais piezoelétricos, materiais teriais inteligentes podem ser classificados magneto-estrictivos e fluidos eletrosmag- de acordo com as diferentes formas de netorreológicos. acoplamento. Atualmente, os materiais mais utilizados são as ligas com memória LIGAS COM MEMÓRIA DE de forma, os materiais piezoelétricos, os FORMA materiais magnetoestrictivos e os fluidos eletromagnetorreológicos. Esses materiais As ligas com memória de forma (SMAs) têm a capacidade de mudar sua forma e apresentam um acoplamento termomecâ- rigidez, entre outras propriedades, por meio nico que lhe dá a capacidade de recuperar da imposição de temperatura ou de campos uma forma previamente definida a partir de de tensão, de uma diferença de potencial, um processo de carregamento termomecâ- ou de um campo eletromagnético. nico apropriado. Quando há uma restrição

40 RMB4oT/2013 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES para a recuperação de forma, essas ligas chamada de martensita maclada (twinned), promovem forças de restituição elevadas. que tem 24 variantes que representam As SMAs são conhecidas desde 1930. 24 subtipos com diferentes orientações Porém, somente em 1960 é que passou cristalográficas. A formação martensítica a existir interesse tecnológico a respeito induzida por tensão tende a mudar essas 24 do comportamento das SMAs. Em 1962, variantes da martensita maclada em apenas Buehler e colaboradores do Laboratório uma variante, alinhada com a direção do de Artilharia Naval dos Estados Unidos carregamento de tensão, que é chamado da América (EUA) descobriram o efeito martensita não maclada (detwinned). memória de forma em uma liga de Ni-Ti, A fim de apresentar as principais ideias que começou a ser conhecido como Niti- por trás desses fenômenos, considere uma nol, como uma referência às letras iniciais amostra das SMAs em alta temperatura. do laboratório (NOL). Atualmente, as Nessa condição, a amostra tem fase auste- aplicações das SMAs estão se tornando nítica, e uma carga mecânica pode induzir bem conhecidas por diferentes campos da à transformação de fase em martensita ciência e da engenharia. não maclada. Retirada à carga mecânica, As singulares propriedades das SMAs ocorre uma transformação de fase reversa estão associadas com transformações de na amostra. A Figura 1 apresenta um dese- fase responsáveis por diferentes compor- nho esquemático do processo, juntamente tamentos termomecânicos dessas ligas. com uma curva de tensão-deformação que Basicamente, duas fases estão presentes representa o comportamento macroscópico nas SMAs: austenita e martensita. A fase do fenômeno pseudoelástico. austenítica é estável em altas temperaturas e Considere agora uma temperatura mais em um estado livre de tensão, apresentando baixa de tal forma que a amostra possui uma única variante. Por outro lado, a fase uma fase martensítica maclada estável. martensítica é estável a baixa temperatura Quando submetida a um carregamento me- em um estado livre de tensão, estando cânico, ocorre um processo de reorientação, relacionada com inúmeras variantes. Uma dando origem à formação da martensita não transformação de fase pode ser induzida maclada. Quando o processo de carrega- por tensão ou por temperatura. Quando a mento-descarregamento estiver concluído, martensita é induzida por temperatura, é a amostra de SMA apresenta uma defor-

Figura 1 – Pseudoelasticidade (Paiva, 2004)

RMB4oT/2013 41 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES

mação residual. Essa deformação residual sem qualquer carga mecânica. Esse fenômeno pode ser recuperada por meio do aumento é uma consequência do treinamento da amostra da temperatura que induz à transformação de SMA. A Figura 3 mostra uma representação da fase martensita para austenita. Esse é o esquemática do efeito em duas vias. efeito de memória de forma. É importante observar que a variação da temperatura pro- voca uma alteração da forma, e a amostra recupera sua forma original. A relação entre o efeito pseudoelástico e o de memória de forma pode ser estabelecida a partir de um movimento do ciclo de histerese mostrado na curva de tensão-deformação da Figura 1. Uma vez que se diminui a temperatura da amostra, o laço de histerese se move para baixo também. A Figura 2 mostra uma imagem esquemática do fenômeno do Figura 3 – Efeito de memória de forma reversível efeito memória de forma, juntamente com (Paiva, 2004) a curva de tensão-deformação. Aplicações

As propriedades singulares das SMAs atraem o interesse tecnológico em diversos campos das ciências e da engenharia. Ma- chado & Savi (2002, 2003) e Duering et al. (1999) apresentam uma visão geral das aplicações mais relevantes das SMAs dentro do campo biomédico. Aplicações biomédi- cas das SMAs tornaram-se bem-sucedidas, devido à característica não invasiva de dispositivos com SMAs e também devido à sua excelente biocompatibilidade. SMAs são usualmente empregadas em instrumentos cirúrgicos, cardiovasculares e ortopédicos e em aparelhos ortodônticos, entre outros usos. Estruturas autoexpansivas constituem uma das principais aplicações das SMAs, como o filtro Simon e ostent . Na Figura 4, (a) e (b) têm uma sequência de imagens que Figura 2 – Efeito memória de forma (Paiva, 2004) ilustram o comportamento do filtro Simon O efeito de memória de forma reversível é quando introduzido no corpo humano em outro fenômeno associado às SMAs. Basica- uma veia. Inicialmente, o filtro Simon está mente, esse fenômeno é tal que a amostra tem em uma condição deformada, contraído. uma forma no estado austenítico e outra no Uma solução salina o mantém a baixa estado martensítico. A variação de temperatura temperatura, permitindo a introdução no produz uma mudança na forma da amostra, interior de uma veia. No momento em que

42 RMB4oT/2013 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES o filtro Simon estiver na posição desejada, A utilização do Stent segue o mesmo pro- cessa-se a solução salina, e a temperatura cedimento do filtro de Simon, Figura 4(c). do corpo humano promove o aumento A Figura 4(d) apresenta grampos de SMAs da temperatura que causa a expansão do utilizados. A ideia é colocar o grampo em filtro por meio da transformação de fase. uma configuração e, depois, aquecê-lo para

(a)

(b)

(c)

(d) Figura 4 – Estruturas autoexpansivas (Machado & Savi, 2003)

RMB4oT/2013 43 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES

Figura 5 – Instrumentos cirúrgicos (Machado & Savi, 2003; Duering et al., 1999)

que ele assuma uma nova configuração; a Paiva & Savi (2006) discutem algumas das temperatura do corpo aquece-o e auxilia a aplicações de engenharia das SMAs. Mais uma recuperação óssea. vez, as estruturas autoexpansivas são larga- A Figura 5 apresenta alguns instrumen- mente empregadas. A Figura 6 apresenta uma tos cirúrgicos. conexão de tubo conhecido como CryOfit,

(a) (b)

(c) Figura 6 – (a) Acoplamento CryOfit SMA (Hodgson and Brown, 2000), (b) Dispositivo pré-carregado com SMA (SINTEF, 1999), (c) Dispositivos de acoplamentos

44 RMB4oT/2013 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES utilizada pela primeira vez no F-14 Usaf, tendo sido desenvolvida pela Raychem (2001). Além disso, a Figura 6 mostra também um conjunto de SMAs empregado em flanges. Outra aplicação interessante está rela- cionada às estruturas flexíveis multiatuadas que podem ser usadas em aerobarcos ou em asas de aviões (Figura 7(a)). Este tipo de utilização de SMAs substitue sistemas Figura 8 – Aplicações robóticas com SMAs pneumáticos com inúmeras vantagens, (Robotic muscles, webdocs.cs.ualberta.ca/~database/ como custo, tempo de manutenção e peso. MEMS/sma_mems/muscle.html, 2012) Rediniotis et al. (2002) apresenta um pro- tótipo de um hidrofólio que tenta imitar Aplicações dinâmicas constituem outra o movimento da cauda de um peixe. Fios área importante dentro da engenharia em atuadores de SMAs são externamente acio- que as SMAs podem ser exploradas. De nados por uma fonte elétrica, promovendo uma maneira geral, essas aplicações estão a mudança de forma (Figura (7b)). associadas tanto à dissipação adaptativa de As SMAs também estão sendo utilizadas energia, relacionada ao seu comportamento na robótica. Em essência, SMAs tentam histerético, quanto às mudanças de suas imitar o movimento contínuo dos músculos. propriedades mecânicas causadas pelas Essa ideia é explorada para a construção de transformações de fase. Esses aspectos próteses, que inclui mãos, braços e pernas. podem ser explorados tanto em um controle A Figura 8 mostra um protótipo de uma passivo-adaptativo quanto em um controle mão mecânica. ativo. Um fator limitante para a concepção

FIOS DE SMA (a)

(b) Figura 7 – Estruturas flexíveis de SMAs multiatuadas – (a) Aircraft Maneuverabilidy (webdocs.cs.ualberta.ca/~database/MEMS/sma_mems/flap.html, 2012); (b) Reidiniotiset al., 2002

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de novas aplicações é a velocidade de res- (Ibrahim, 2008; Brennan, 2006). Savi et posta das SMAS. al. (2010) discutem o uso das SMAs em As respostas dinâmicas dos sistemas absorvedores de vibração e Williams et com elementos com memória de forma al. (2002) investigam um protótipo deste têm sido estudadas, mostrando um com- dispositivo (Figura 9). portamento bastante complexo devido as O controle passivo-adaptativo de vibra- suas características fortemente nãolinea- ções tem sido aplicado em pontes e outras res. Essa riqueza de possibilidades inclui estruturas civis incluindo aquelas submeti- respostas periódicas, quasi-periódicas, das a terremotos (Seadat et al., 2002). caos e hipercaos (Savi et al., 2002; e Savi et al., 2008). MATERIAIS PIEZOELÉTRICOS Uma alternativa interessante é explorar a elevada capacidade de dissipação das O fenômeno piezoelétrico é baseado na SMAs no impacto. Desta forma, é possível indução de um dipolo elétrico. Como conse- gerar um comportamento menos comple- quência, essa classe de materiais apresenta xo, mudando radicalmente a resposta do um acoplamento eletromecânico recíproco. sistema quando comparada com aquelas Em outras palavras, uma vez que um campo obtidas com um impacto elástico (Santos elétrico é aplicado, o material apresenta uma & Savi, 2009). deformação mecânica; por outro lado, quan- O uso de absorvedores dinâmicos de do o material sofre uma carga mecânica, um vibração consiste em um dispositivo de potencial elétrico é gerado. Essa reciproci- controle de vibração passivo que tem a dade permite que esse tipo de material possa finalidade de reduzir a vibração de um ser utilizado como sensores ou atuadores em sistema primário submetido a uma exci- estruturas inteligentes. tação externa. O absorvedor é constituído Os dois comportamentos presentes nos de um oscilador secundário que, uma vez piezoelétricos são conhecidos como efeito conectado ao sistema primário, é capaz de direto, que transforma a tensão mecânica absorver energia de vibração do sistema em uma fonte de voltagem, sendo típico dos primário. Uma alternativa para sistemas sensores; e o efeito inverso, que converte em que a frequência de forçamento varia uma fonte de voltagem externa em energia ou tem algum tipo de incerteza é o conceito de deformação mecânica (deslocamento ou de um absorvedor de vibração adaptativo força), sendo típico dos atuadores. A altas temperaturas, normalmente definidas acima da temperatura de Curie, o material é paraelétrico, não polarizado. Para baixas temperaturas, as moléculas sofrem uma mudança cristalográfica, ori- ginando dipolos orientados aleatoriamente em toda a estrutura (Figura 10(a)). A apli- cação de um campo elétrico (polarização) tende a reorientar os dipolos elétricos em relação ao campo elétrico, levando a uma manifestação de dipolo elétrico em escala macroscópica (Figura 10b). Com a remoção Figura 9 – Absorvedor de vibração adaptativo (Williams et al., 2002) do campo elétrico, os dipolos não retornam

46 RMB4oT/2013 OS MATERIAIS INTELIGENTES E SUAS APLICAÇÕES

Eletrodo

Eletrodo

(a) (b) (c)

Figura 10 – Polarização para obter o efeito piezoelétrico: (a) orientação polar aleatória; (b) Polarização por meio de uma fonte de voltagem DC; (c) Polarização permanente depois da remoção da fonte de voltagem DC

à sua configuração original, permanecendo em sensores de detonação para motores de orientados (Figura 10(c)). Esse processo combustão interna, sensores piezoelétricos gera um corpo piezoelétrico permanente, para a detecção de desgaste e sensores de pro- com o eixo de polarização estabelecido. ximidade em carros. A Figura 11 apresenta a ideia dos sensores para detecção de desgaste. Aplicações A monitoração da integridade estrutural (structural health monitoring) é uma apli- Materiais piezoelétricos são frequente- cação de piezoelétricos que vem conquis- mente utilizados como sensores e atuadores tando muita notoriedade, especialmente para diversas finalidades. Aplicações como nos setores aeronáutico e aeroespacial. sensores são numerosas e estão relaciona- Diversos estudos estão considerando o uso das com a indústria aeroespacial, automo- adequado dos sensores para identificação bilística, robótica, entre outras tantas. de danos. A correção de temperatura é Nuffer & Bein (2006) apresentaram a um aspecto importante a ser considerado utilização de acelerômetros piezoelétricos (Grisso & Imnan, 2010).

Figura 11 – Sensores piezoelétricos para detecção de desgaste (Nuffer & Bein, 2006). A ideia é monitorar a vibrações da roda, levando a uma avaliação do seu estado de desgaste

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Quanto ao uso de piezoelétricos como Imnan e colaboradores desenvolveram atuadores, eles são normalmente utilizados diversos estudos mostrando o conceito da para redução de vibração em situações em que colheita de energia e a sua aplicabilidade se necessita de alta frequência e baixa carga. em situações diferentes. A modelagem ma- A ideia de absorvedores dinâmicos de temática e o uso de elementos finitos tam- vibrações, discutida no contexto de aplica- bém foram abordados (Erturk & Imnam, ção de SMA, pode ser usada com materiais 2008). Além disso, é importante destacar piezoelétricos. Uma das possibilidades é a alguns estudos de comparação experimen- conversão da energia de vibração mecânica tal entre vários atuadores de compósitos em energia elétrica, que pode ser dissipada ativos para geração de energia (Sodano em um circuito elétrico adequado. Qiu et et al., 2006). Aplicações aeronáuticas são al. (2009) apresentaram uma visão geral de especial interesse, especialmente por da aplicação de piezoelétricos na redução evitar vibrações indesejáveis de aeronaves de vibrações. (De Marqui Jr & Erturk, 2013; Dias et Nitsche & Gaul (2005) propuseram al., 2013). uma junta com elementos piezoelétricos Recentemente, há uma crescente utili- que pode ser usada como um dispositivo zação da tecnologia MEMS/NENS (micro semiativo para reduzir vibrações. A ideia e nanosistemas eletromecânicos), que pode é reduzir os efeitos de atrito, atenuando a explorar o baixo consumo de energia em vibração da estrutura (Figura 12). dispositivos eletrônicos à base de silício A colheita de energia a partir de vi- (Donelan et al., 2008; Yang et al., 2009). brações é outro campo de aplicação de Na literatura existem artigos de revisão materiais piezoelétricos. A ideia central que discutem as principais aplicações com é coletar energia disponível do ambiente uso de materiais piezoelétricos (Anton & em torno de um sistema e convertê-la em Sodano, 2007; Sodano et al., 2004). energia elétrica utilizável. Outras formas A colheita de energia biomecânica é possíveis são geralmente associadas a uma possibilidade de geração de eletricida- variações térmicas, movimentos e energia de a partir de pessoas durante as atividades eletromagnética. De uma maneira geral, diárias, sendo uma alternativa promissora esse tipo de aplicação pode transformar vi- para as baterias que alimentam dispositi- brações indesejáveis em energia utilizável, vos portáteis (Li et al., 2009). Há vários e os materiais piezoelétricos constituem o exemplos relacionados com esse tipo de transdutor essencial para converter energia aplicação, mas é importante destacar aque- mecânica em elétrica. les que exploram a caminhada das pessoas.

(a) (b) Figura 12 – Dispositivos para redução de vibrações: (a) Junta semiativa; (b) Viga com uma junta semiativa no centro (Nitsche & Gaul, 2005)

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Neste sentido, é possível coletar a energia MATERIAIS de vibração associada a movimentos de MAGNETOESTRICTIVOS pessoas caminhando com mochilas (Fe- ensta et al., 2008), Figura 13. A Figura 14 Os materiais magnetoestrictivos apre- mostra a utilização da colheita de energia sentam um acoplamento entre os campos da pressão dos pés para a transformação em mecânicos e magnéticos. Eles podem ser energia elétrica, para ambientes públicos. definidos como materiais que têm uma A concepção dos dispositivos de colheita alteração de forma devido a uma aplica- de energia tem sido objeto de diversos estudos ção de um campo magnético. A história que propõem soluções para torná-los mais da magnetoestricção começou em 1840, eficientes. Nesse contexto, a análise de diver- quando James Prescott Joule (1818-1889) sas frequências de excitação e amplitudes de identificou uma mudança de comprimento vibração tem um papel importante. Assim, em uma amostra de ferro sujeito a um cam- os efeitos não lineares podem ser essenciais po magnético. Esse efeito ficou conhecido para tornar um dispositivo aplicável em uma como efeito Joule, sendo o mecanismo determinada situação. Da Silva et al. (2013) mais comum empregado em atuadores investigaram o efeito do comportamento his- magnéticos. O efeito inverso, quando um terético piezoelétrico nos sistemas de colheita campo mecânico faz com que surja uma de energia a partir de vibrações. magnetização na amostra, é conhecido

Figura 13 – Colheita de energia a partir do caminhar de pessoas com mochilas (Feensta et al., 2008)

Elementos piezoelétrico

(a) (b)

Figura 14 – Colheita de energia a partir de um piso: (a) Mecanismo de geração de energia por intermédio de uma caminhada; (b) Gerador de energia experimental a partir dos pés de passageiros por ocasião da saída da estação Norte Marunouchi, Tokyo

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como efeito Villari, sendo normalmente utilizado para os sensores. Inicialmente, as aplicações relacio- nadas com o efeito magnetoestrictivos foram receptores de telefone, hidrofones e osciladores, entre outros. A partir de 1970, as aplicações tiveram uma am- pliação considerável devido às novas descobertas relacionadas a esses ma- teriais. Recentemente, materiais como Figura 16 – Atuador Terfenol-D (Janocha, 2001) Terfenol-D e Metglass deram um novo objetivo de obter um posicionamento pre- impulso no uso dessas propriedades como ciso de cargas pesadas e também o controle sensores e atuadores. ativo de vibração. A ideia básica por trás do comportamento Dispositivos magnetoestrictivos podem magnetoestrictivo é que este tipo de material ser usados em conjunto com outras tecno- é dividido em domínios, cada um com uma logias convencionais, como pneumáticos e polarização magnética uniforme. A aplicação hidráulicos, possibilitando a construção de de um campo magnético tende a promover mecanismos eficientes. A Figura 17 apresenta o alinhamento desses domínios, mudando a uma bomba que combina atuação magneto- forma do material. A Figura 15 mostra um estrictiva e hidráulica para produção de um desenho esquemático desses alinhamentos. movimento linear (Olabi & Grunwald, 2008).

Figura 15 – Figura esquemática do fenômeno magnetoestrictivo Figura 17 – Bomba magnetoestrictiva combinada Aplicações com atuação hidráulica (Olabi & Grunwald, 2008) Outro tipo de atuação semelhante aos As aplicações relativas aos materiais materiais piezoelétricos é a usada em magnetoestrictivos envolvem várias situ- válvulas de injeção para motores de com- ações de atuação sem contato que podem bustão interna, Figura 18 (Janocha, 2001). ser imaginadas para produzirem diferentes tipos de movimentos. Em geral, é possível imaginar aplicações semelhantes às dos materiais piezoelétricos. Comparado ao PZT, o Terfenol-D tem mais força e pode ser utilizado em baixa voltagem. A Figura 16 apresenta um transdutor Terfenol-D Figura 18 – Válvula magnetoestrictiva para motores indicado para aplicações industriais com o de combustão interna (Janocha, 2001)

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Esse dispositivo reduz o consumo de Kordonsky, 1993; Weiss et al., 1994; Carlson combustível e ruídos relacionados com o et al., 1994; Carlson, 1994; Carlson, 2005). funcionamento do motor. Além disso, evita Os fluidos ER e MR geralmente apre- o controle de voltagem necessário para os sentam um comportamento newtoniano dispositivos com materiais piezoelétricos. típico na ausência de campos eletromag- O uso de películas finas é outra pos- néticos. No entanto, quando submetidos a sibilidade de utilização relacionada com um campo elétrico ou magnético, o fluido materiais magnetoestrictivos (Olabi & muda seu comportamento, apresentando Grunwald, 2008). A Figura 19 mostra um uma resposta não linear. Os fluidos ER e micromotor que gera movimentos lineares MR possuem as mesmas características. devido à película fina com características Portanto, vamos usar o termo geral de magnetoestrictivas na superfície. Esse tipo fluido ER-MR e, da mesma forma, tratar de dispositivo tende a avançar para evitar o campo aplicado, em geral, como um o contato ao ser acionado por um campo campo eletromagnético. Deve-se entender magnético que produz vibrações com am- que o fluido ER é acionado por um campo plitudes de flexão de 10-20mm/s. elétrico, enquanto o fluido MR é acionado por um campo magnético. Um fluido ER-MR é uma suspensão de sólidos que apresenta mudanças drás- ticas nas propriedades reológicas devido à aplicação de campos eletromagnéticos. Esse comportamento é denominado efeito eletromagnético, que está sendo relacio- nado para as disposições estruturais na Figura 19 – Micromotor magnetoestrictivo (Olabi & suspensão. Antes da aplicação do campo Grunwald, 2008) eletromagnético, as partículas são distri- buídas de forma aleatória. A aplicação FLUIDOS do campo eletromagnético provoca uma ELetroMAGNETORREOLÓGICOS orientação das partículas que altera a vis- cosidade do fluido. A Figura 20 apresenta Os fluidos eletrorreológicos (ER) e mag- netorreológicos (MR) são conhecidos como fluidos controláveis. Eles apresentam um aco- plamento entre os campos mecânico e elétrico ou magnético. Portanto, uma mudança em um campo elétrico ou magnético causa uma mu- dança no comportamento reológico mecânico. O primeiro estudo sobre os fluidos ER foi em 1940 por Willis Winslow. Na mesma dé- cada, Jacob Rabinow (Rabinow, 1948, 1951), no National Bureau of Standards EUA, in- vestigou os fluidos MR. Apesar de inúmeras pesquisas desenvolvidas entre 1940 e 1950, Figura 20 – Fluido eletromagnético: efeito da somente na década de 1990 este tipo de fluido aplicação de um campo eletromagnético (http:// obteve interesse comercial (Shtarkman, 1991; ciencia.hsw.uol.com.br/armadura-liquida2.htm, 2013)

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Figura 21 – Modos básicos de operação de um fluido ER-MR: (a) Modo de pressão; (b) Modo de cisalhamento; (c) Modo de compressão um desenho esquemático do líquido antes e após a aplicação do campo. Existem três modos de operação básicos relacionados aos dispositivos ER-MR: pres- são induzida ou polos fixos, em que o líquido é forçado a fluir entre os polos magnéticos estacionários; corte direto ou movimento dos polos, em que uma força induz à tensão de Figura 22 – Amortecedor MR (Costa, 2008) cisalhamento por meio do fluido; e filme de aperto, em que o líquido é submetido a uma Com relação à indústria automobilística, força de compressão, alterando a distância Prabakar et al. (2009) discutiram o controle entre os polos magnéticos. A Figura 21 semiativo de uma dinâmica de automóveis apresenta imagens esquemáticas relativas utilizando amortecedores MR. Olabi & a cada modalidade de operação. Cada um Grunwald (2007) apresentaram a dinâmica desses modos está relacionado com diferen- do sistema por meio de um amortecedor tes aplicações. O modo da pressão induzida MR como um elemento secundário na é usualmente empregado em válvulas e suspensão do carro. amortecedores. O modo de cisalhamento A mesma ideia de amortecedores inte- está associado às aplicações em freios e em- ligentes pode ser aplicada em processos breagens. O modo de compressão, por sua industriais. Carlson et al. (1995) discutiram vez, está associado a alguns amortecedores os amortecedores MR que empregam con- de pequena amplitude de vibração. Contudo, trole ativo que permite imaginar diferentes esse modo não tem sido estudado com tanta possibilidades de aplicação, incluindo dis- ênfase como os dois primeiros. positivos de travamento (Figura 23). Usan- do a mesma ideia, aplicações de engenharia Aplicações civil consideram o uso de amortecedores

Os fluidos MR-ER são essencialmente utilizados para construir amortecedores, freios e embreagens inteligentes que po- dem ser aplicados para diversos fins. As indústrias automobilística, aeroespacial e biomédica estão especialmente interessadas neste tipo de comportamento. A Figura 22 apresenta um amortecedor típico com fluido MR. Figura 23 – Amortecedor de travamento (Carlson et al., 1995)

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Figura 24 – Amortecedor de controle de abalo sísmico (Yang et al., 2002) MR para proteger estruturas submetidas Por outro lado, a utilização dos fluidos ER- a cargas sísmicas (Figura 24). Yang et MR na fabricação de freios faz com que a al. (2002) discutiram respostas dinâmicas frenagem tenha uma atuação mais suave e desse tipo de aplicação. com menor consumo de energia (Figura 26). Aplicações biomédicas também empre- Esse tipo de dispositivo tem a vantagem de gam o conceito de amortecedores inteligen- ser de fácil operação, sendo aplicável em tes a fim de reproduzir os movimentos das diversas situações (Carlson et al., 1995). pernas humanas. Em geral, os amortecedores MR podem ser utilizados em próteses de joelhos para obter um caminhar mais natu- ral. Carlson et al. (2001) apresentaram um protótipo do joelho com amortecedor MR. Os fluidos ER-MR podem ser úteis para construir freios e embreagens. A ideia rela- cionada à embreagem é que ele permite um torque controlável. Kavlicoglu et al. (2002) discutiram um protótipo desse dispositivo que pode ser usado em motores (Figura 25).

Figura 26 – Figura esquemática de um freio com fluido MR (Carlson et al., 1995)

Conclusões

Os materiais inteligentes constituem um novo paradigma de projeto que tem contribuído para sua aplicação em diver- sos setores do conhecimento humano. As inovações tecnológicas associadas são importantes, podendo definir a era dos materiais inteligentes. A utilização na Figura 25 – Protótipo de embreagem com fluido medicina proporciona melhor qualidade MR (Kavlicoglu et al., 2002) de vida, permitindo cirurgias e tratamen-

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tos pouco invasivos. Na engenharia, o e Tecnologia em Estruturas Inteligentes uso dos materiais inteligentes garante em Engenharia (INCT-EIE), que congrega maior segurança, conforto, durabilidade uma rede de pesquisadores do Brasil e do e ideias que não poderiam ser pensadas exterior. O Instituto tem difundido a ideia com os materiais convencionais. Todos dos materiais inteligentes, e suas aplica- esses conhecimentos e essas inovações ções nas mais variadas áreas. podem ser levados para o setor militar, proporcionando avanços significativos. AGRADECIMENTOS No Brasil, várias pesquisas e projetos são desenvolvidos utilizando o paradigma dos Os autores agradecem o apoio das Agên- materiais inteligentes. Em especial, vale cias CNPq, Capes e Faperj e, através do destacar o Instituto Nacional de Ciência INCT-EIE, o apoio do CNPq e da Fapemig.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ciência; Análise; Desenvolvimento; Energia; Engenharia; Estudo; Material; Pesquisa;

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56 RMB4oT/2013 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO*

EDUARDO ITALO PESCE Professor** RENÉ VOGT Engenheiro***

SUMÁRIO

Introdução Pressupostos básicos Navio multiuso Simplicidade e versatilidade Conclusão

INTRODUÇÃO meios que constituem uma Marinha de porte médio, que normalmente conta com salvaguarda da soberania e a promo- recursos limitados, sejam caracterizados A ção dos interesses marítimos de um pela versatilidade, simplicidade e robus- Estado requerem flexibilidade e adapta- tez, assim como por um custo de operação bilidade. Além disso, é desejável que os compatível com a realidade orçamentária1.

* Trabalho submetido à Revista Marítima Brasileira em novembro de 2013. ** Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB. *** Segundo-tenente (RM2), engenheiro civil, empresário e membro da Sociedade Amigos da Marinha de São Paulo (Soamar-SP). Colaborador da RMB. 1 Cf. Eduardo Italo Pesce, “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”, Revista Marítima Brasileira 132 (10/12): 115-132 – Rio de Janeiro, out./dez. 2012. NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

Tomando por base um estudo conceitual cos países. apresentado por estes autores, em artigo Um navio de controle de área marítima publicado em 20102, o presente trabalho (NCAM) pode ser descrito como um NAe examina a validade, para Marinhas de de porte modesto, capaz de operar com ae- porte médio, do conceito de um navio de ronaves de decolagem curta do tipo STOVL controle de área marítima (NCAM) de (Short Take-Off/Vertical Landing) e/ou aproximadamente 10 mil toneladas, capaz helicópteros. Mesmo possuindo capacidade de operar com helicópteros multiemprego operativa limitada (principalmente ao em- e veículos aéreos não tripulados (Vant). prego antissubmarino), um navio deste tipo O texto do artigo baseia-se em fontes e deve ser capaz de operar com helicópteros bibliografia ostensivas, sendo as opiniões em quantidade suficiente para garantir uma de caráter estritamente pessoal. cobertura aérea ininterrupta4. A Tabela no 1 mostra um total 39 na- PRESSUPOSTOS BÁSICOS vios dotados de convés de voo contínuo

O patrulhamento de Tabela no 1: Navios com mais de 10 mil toneladas dotados de extensas áreas marítimas convés de voo contínuo requer o emprego de aero- Países Número de navios Tipo de aeronave naves de asa fixa, helicóp- EUA 20 (10 CVN, 10 LHD/LHA) CATOBAR, STOVL, He teros e navios. O emprego operativo de helicópteros Reino Unido 2 (1 CVL, 1 LPH) STOVL, He a bordo de navios de su- Índia 2 CVL STOBAR, STOVL, He perfície é amplamente difundido. Entretanto, Japão 2 DDH He a maioria das Marinhas Itália 2 CVL STOVL, He pode contar apenas com aeronaves de esclareci- Espanha 2 (1 SCS, 1 LHD) STOVL, He mento marítimo baseadas Rússia 1 CV STOBAR, He em terra. Poucas dispõem de aeronaves embarcadas China 1 CV STOBAR, He de asa fixa, assim como de Brasil 1 CVL CATOBAR, He navios-aeródromo (NAe) capazes de operar com França 4 (CVN, 3 LHD) CATOBAR, He tais aeronaves3. Outros STOVL, He meios de monitoramento, Tailândia 1 SCS como satélites de vigilân- Coreia do Sul 1 LHD He cia marítima ou sistemas Total 39 unidades CATOBAR, STOBAR, STOVL, He

de detecção acústica de Observação: CVN = Nuclear-Powered ; CV = Aircraft Carrier; CVL = Light Aircraft Carrier; LHD/ leito marinho, são de uso LHA = (convoo com doca); LPH = Amphibious Assault Ship (convoo sem doca); SCS = Sea Control Ship; CATOBAR = Catapult-Assisted Take-Off But Arrested Landing; STOBAR = Short Take-Off But igualmente restrito a pou- Arrested Landing; STOVL = Short Take-Off/Vertical Landing. FONTE: Wertheim, Combat Fleets of the World, Op. cit.

2 Cf. Eduardo Italo Pesce & René Vogt, “NE/NAeH 10.000 – Um navio-escola multiuso para a Marinha do Brasil”, Revista Marítima Brasileira 130 (01/03): 65-77 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2010. 3 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Navios-aeródromo, projeção de poder e controle de área marítima”, Revista Marítima Brasileira 132 (04/06): 111-124 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2012. 4 Ibidem.

58 RMB4oT/2013 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO e hangar, com deslocamento de 10 mil tada a capacidade de operar com aeronaves toneladas ou mais, atualmente operados por STOVL, lançadas por meio de uma rampa 12 Marinhas5. Ainda que sua dotação aérea Ski-Jump de 12 graus na proa. Tal navio não inclua aeronaves de asa fixa, um navio é um NCAM de porte modesto, capaz de que disponha de um convoo desimpedido operar com aeronaves de asa rotativa. Na de proa a popa é capaz de operar com terminologia empregada pela Marinha do vários helicópteros simultaneamente. Isso Brasil, talvez pudesse ser classificado como lhe confere vantagem tática considerável “navio-aeródromo de helicópteros” (NAeH). em relação a navios menores, dotados de Em tempo de paz, uma unidade com plataforma a ré para pouso e decolagem características semelhantes estaria apta a destas aeronaves. De um modo geral, na- desempenhar missões de patrulha naval, vios-patrulha oceânicos (NPaOc) e corvetas busca e salvamento, interdição marítima operam com apenas um helicóptero leve a e emprego político do Poder Naval. Numa bordo, enquanto que fragatas e contrator- situação de conflito, poderia ser emprega- pedeiros são capazes de operar com um ou da na proteção do tráfego marítimo, em dois helicópteros orgânicos de porte médio. missões de escolta de comboios ou em O conceito denominado “porta-helicóp- operações de varredura antissubmarino. teros de patrulha oceânica”, ou Offshore Um navio desse tipo também pode ser Patrol (OPHC), foi visto como um NPaOc com capacidade desenvolvido nos anos 80 do século passado ampliada, dotado de um convoo desimpe- para atender aos requisitos da Marinha Real dido para pousos e decolagens simultâneas tailandesa. Diversos estudos de projeto, in- de helicópteros. O problema com relação cluindo versões com deslocamento de 5 mil, a projetos semelhantes, por mais versáteis 6 mil, 7.800 e 11 mil toneladas, foram reali- que estes sejam, é a tendência a compará- zados pela empresa alemã Bremer Vulkan a los com NAe muito maiores, e não com partir de 1985, tendo sido interrompidos em outras classes de navio capazes de operar 1991 devido ao cancelamento do contrato. com aeronaves de asa rotativa. Nova concorrência para a Tailândia seria vencida pela empresa espanhola Bazán NAVIO MULTIUSO (atualmente Navantia) em 1992, resultando no projeto final do HTMSChakri Naruebet Em trabalho anterior, apresentamos (CVH-911), um pequeno NAe com 11.486 o conceito de um navio-escola multiuso toneladas de deslocamento carregado, en- para a Marinha do Brasil denominado NE/ tregue e incorporado ao serviço em 19976. NAeH 10.0007. Conforme destacamos na- O custo de obtenção do Chakri Naruebet quele trabalho, tal navio também poderia foi de US$ 336 milhões. Geralmente visto ser empregado em missões de controle como o menor NAe atualmente existente, de área marítima, possuindo, ainda, uma este navio foi originalmente concebido capacidade limitada de apoio a operações como um porta-helicópteros. Durante o anfíbias. Os pressupostos adotados para desenvolvimento do projeto, foi acrescen- o possível projeto buscariam combinar

5 Cf. Eric Wertheim (Ed.), The Naval Institute Guide to COMBAT FLEETS OF THE WORLD, 16th Ed. – Their Ships, Aircraft, and Systems (Annapolis: Naval Institute Press, 2013), passim. 6 Cf. “HTMS Chakri Naruebet” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http://en.wikipedia. org/wiki/HTMS_Chakri_Naruebet. Último acesso em 14/9/2013. 7 Cf. Pesce & Vogt, Op. cit.

RMB4oT/2013 59 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

versatilidade, simplicidade e economia. O econômico e eficiente, compatível com a re- aspecto visual do navio seria semelhante alidade orçamentária de Marinhas de porte ao de uma versão mais curta do Chakri médio, que dispõem de recursos limitados8. Naruebet, sem rampa Ski-Jump, com des- Na Tabela no 2, as principais características locamento carregado de 10.720 toneladas do HTMS Chakri Naruebet (CVH-911) são (ver desenho em três vistas na figura). comparadas às de um navio de controle de área A futura substituição do NE Brasil marítima conceitual, denominado NCAM 109. (U27) por uma unidade com tais carac- Este seria uma versão do NE/NAeH 10.000 terísticas permitiria agregar considerável para emprego em missões operacionais, em valor à presença naval brasileira exercida tempo de paz assim como em situações de pelo atual NE, em suas viagens anuais ao conflito. Em princípio, o casco original e os exterior para instrução e adestramento de equipamentos anteriormente previstos para a guardas-marinha (GM). O projeto do NE/ versão NE poderiam ser mantidos. Este navio NAeH poderia ser facilmente reconfigu- teria comprimento total de 155 metros, com- rado para diferentes missões e teria bom primento entre perpendiculares de 140 m, boca potencial de exportação. Talvez poucos de 22 m na linha-d’água, calado carregado de países se interessassem por um NE tão 6 m, borda livre de 14 m e pontal de 20 m. O sofisticado. Outros talvez considerassem sistema de propulsão seria do tipo diesel com tal navio “austero” demais como unidade dois motores, dois eixos e potência total de operacional. Contudo, sua versatilidade 24.146 BHP. A velocidade máxima seria de 24 poderia garantir-lhe um nicho de mercado nós, com alcance estimado de 18.650 milhas atualmente inexplorado: o de um NAeH marítimas a 18 nós10.

8 Ibidem. 9 Cf. “HTMS Chakri Naruebet”, Op. cit. Cf. também Pesce & Vogt, Op. cit. 10 Cf. Pesce & Vogt, Op. cit.

60 RMB4oT/2013 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

Tabela no 2 CVH-911 e NCAM 10 – Comparação de características

Características CVH-911 NCAM 10 Comprimento total 182,65m 155m Comprimento na linha-d’água 164,1m 140m Boca na linha-d’água 22,5m 22m Calado carregado 6,12m 6m Bordo livre 14m Pontal 20m Dimensões do convés de voo 174,6m x 27,5m 145m x 28m Dimensões do hangar 65m x 16m Deslocamento carregado 11.486t 10.720t Coeficiente de bloco 0,58 Comprimento/boca na linha-d’água 7,29 6,36 Sistema de propulsão 2x LM2500/ 2x MTU 12V1163 TB93 ou 2x Bazán-MTU 16V1163 TB83 equivalentes Potência 2x 22.125 SHP (2x 16.499 kW)/ 24.146 BHP (17,7 MW) 2x 5.600 BHP (2x 4.200 kW) Densidade de potência 1,66 kW/t (17.760 kW/10.720t) Velocidade máxima 25,5 nós 24 nós Velocidade sustentada 17,5 nós 20 nós Grupos geradores elétricos 4x MTU 16V4000 G81 ou equivalentes Capacidade de geração total 8,8 MW Alcance 10.000 milhas náuticas a 12 nós/ 18.650 milhas náuticas a 18 nós 7.150 milhas náuticas a 16,5 nós Autonomia e víveres 46 dias com 650 pessoas Armamento 3x8 MAS Matra Sadral Conforme especificação Aeronaves 14 helicópteros e STOVL 10 helicópteros de médio porte

FONTES: “HTMS Chakri Naruebet” – Wikipedia, the free enclyclopedia, Op. cit.; Pesce & Vogt, Op. cit.

Os sistemas de armas e sensores desta de aeronaves, além de sistemas de direção classe de navio seriam especificados por de tiro, guerra eletrônica (CME/Mage) e cada cliente, de acordo com as suas ne- telecomunicações. Para emprego antissub- cessidades. Em princípio, poderiam ser marino, poderia ser instalado um sistema instalados a bordo lançadores de mísseis de sonar de hidrofones rebocados do tipo superfície-ar (MAS) para defesa de pon- towed array. to, canhões automáticos antiaéreos e um O convoo de 145 m de comprimento sistema de lançamento de despistadores por 28 m de largura teria uma área de mísseis (SLDM). Os equipamentos de 4.060 m2, com quatro pontos para eletrônicos incluiriam radares para vigi- pouso e decolagem de helicópteros de lância aérea e de superfície e para controle porte médio (Sikorsky MH-60 Seaha-

RMB4oT/2013 61 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

wk11 ou equivalentes). O hangar de 65 m Segundo tais pressupostos, o NCAM 10 de comprimento por 16 m de largura, por poderia embarcar, por exemplo, nove heli- sua vez, teria uma área de 1.040 m2. Seria cópteros MH-16 e pelo menos três Vant de ainda dotado de uma rampa Roll-On-Roll- asa rotativa (Northrop Grumman MQ-8C Off a boreste, para embarque e desem- Fire Scout15 ou similar dotado de radar). barque de viaturas e material quando o Com tal dotação de aeronaves, provavel- navio estivesse atracado ao cais12. Com mente seria capaz de manter em voo três rotor e cauda dobrados, um helicóptero MH-16 em missão de patrulha antissubma- multiemprego MH-60 (cuja designação rino, com mais três em alerta no convoo e na Marinha do Brasil é MH-16) tem suas três em manutenção no hangar. Além disso, dimensões reduzidas para 13,12 m de manteria no ar um MQ-8C em missão de comprimento, com largura de 3,26 m e vigilância de superfície, com um segundo altura de 4,04 m13. O hangar deste navio Vant no convoo e um terceiro no hangar. teria capacidade para 12 a 16 helicópteros Um navio desse tipo seria capaz de realizar MH-16. Durante as operações, porém, o operações de voo em condições de mar nas espaço disponível provavelmente per- quais um NPaOc ficaria impossibilitado de mitiria abrigar de seis a oito aeronaves lançar e recuperar seu helicóptero. deste tipo, além de viaturas de convés e A dotação de pessoal a bordo do diversos outros equipamentos. NCAM 10 seria de aproximadamente Em missões de controle de área maríti- 600 oficiais e praças, com acomodações ma, o NCAM 10 poderia operar com um suficientes para a tripulação do navio e o Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino esquadrão embarcado, assim como para (EsqdHS) integrado por dez a 12 helicóp- um comando e estado-maior de força e teros MH-16, que também possuem capa- um pequeno contingente de tropa. A ca- cidade de ataque a navios. Este esquadrão pacidade de transporte de tropa do NCAM poderia incluir certo número de aeronaves 10 seria limitada, uma vez que este navio do tipo Vant (talvez substituindo alguns não seria uma unidade especializada de helicópteros), para missões de esclareci- assalto anfíbio. Em condições normais, mento, vigilância e observação. O navio poderia embarcar um destacamento de poderia operar, sem restrições, com Vant de forças especiais (fuzileiros navais ou asa rotativa ou de rotores basculantes, mas mergulhadores de combate) equivalente a a operação com Vant de asa fixa tornaria uma companhia. Como comparação, um necessário instalar a bordo um sistema de NPaOc de 1.800 toneladas, com capacida- lançamento e recuperação14. de para apenas um helicóptero orgânico,

11 Cf. “Sikorsky SH-60 Seahawk” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_SH-60_Seahawk. Último acesso em 16/11/2013. Cf. também Pesce & Vogt, Op. cit. 12 Cf. Pesce & Vogt, Op. cit. 13 Cf. “1o Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1)” – Página do Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav) – Sítio oficial da Marinha do Brasil em http://www.mar.mil.br/foraer/esqdhs1.htm. Último acesso em 6/9/2013. 14 Cf. Pesce & Vogt, Op. cit. 15 Cf. “Northrop Grumman MQ-8 Fire Scout” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http:// en.wikipedia.org/wiki/MQ-8_Fire_Scout. Acesso em 16/11/2013. O autor faz a devida ressalva quanto às restrições de autonomia deste tipo de Vant, tomado apenas como exemplo.

62 RMB4oT/2013 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO geralmente dispõe de acomodações para reservas petrolíferas na camada do pré-sal um grupo ou pelotão de forças especiais, estão localizadas em áreas próximas do além da tripulação normal. limite exterior da ZEE ou além desse limite, onde as rigorosas condições meteorológicas SIMPLICIDADE E e de mar a serem enfrentadas representam VERSATILIDADE enorme desafio. No Atlântico Sul, a ocorrência de ata- Os custos de obtenção, operação e ques de piratas a navios mercantes, assim manutenção do NCAM 10 (menos o custo como a instalações petrolíferas, está atual- total das aeronaves) deveriam ser compa- mente limitada à área do Golfo da Guiné, ráveis aos de uma fragata, a fim de viabi- no trecho do litoral africano situado entre lizar sua aquisição por Marinhas de porte a Costa do Marfim e o Gabão. Nas águas médio, cujo orçamento é invariavelmente da Nigéria, ocorreram 261 atos de pirataria limitado. Em tempo de paz, um navio marítima entre 2003 e 2012. Nos últimos desta classe poderia ser empregado em anos, esse tipo de delito tem se alastrado missões de patrulha naval para a vigilân- para as águas vizinhas do Benim e do Togo. cia de extensas áreas A produção petrolífera da Zona Econômica oriunda dessa costa Exclusiva (ZEE) e da Navios desta classe poderiam da África vem se ex- Plataforma Continen- atuar na proteção dos pandindo, e isso pode tal, assim como em campos petrolíferos do resultar num aumento operações de busca e da pirataria marítima salvamento. Poderia pré-sal situados a grandes na região16. também participar de distâncias do litoral O combate à ação operações de combate de piratas no Golfo à pirataria, de inter- brasileiro e na manutenção de Áden e no Ocea- dição marítima ou de uma presença permanente no Índico, nas proxi- de evacuação de não na “Amazônia Azul” midades do litoral da combatentes, além Somália, na área co- de realizar ações de nhecida como “Chifre presença naval no exterior. Em tempo da África”, já conta com a participação de guerra, o navio seria provavelmente de unidades navais de diversos países, empregado em operações antissubmari- inclusive navios de escolta e unidades de no de proteção ao tráfego marítimo e de maior porte, tais como navios de assalto escolta de comboios. anfíbio. Se a tendência de aumento dos Operando em conjunto com unidades casos de pirataria no Golfo da Guiné vier menores, navios desta classe poderiam a se confirmar, é possível que medidas atuar como “escoltas de área” na proteção semelhantes tenham que ser adotadas no dos campos petrolíferos do pré-sal situados Atlântico Sul num futuro próximo. Menor a grandes distâncias do litoral brasileiro, e mais econômico que um navio de assalto assim como na manutenção de uma pre- anfíbio, um NCAM como o descrito neste sença permanente nas águas jurisdicionais trabalho poderia ser bastante útil em tal que constituem a “Amazônia Azul”. As modalidade de operação.

16 Cf. Henrique Peyroteo Portela Guedes, “Pirataria marítima fora de controle no Golfo da Guiné”, Revista Ma- rítima Brasileira 133 (07/09): 105-114 – Rio de Janeiro, jul./set. 2013.

RMB4oT/2013 63 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

As unidades anfíbias dos tipos LHD, LPD, LSD ou LST. Entretanto, diversas LHA e LPH são conhecidas no Brasil como Marinhas poderiam desejar evoluir além “navios de propósitos múltiplos” (NPM). dos navios de escolta ou NPaOc equipados Normalmente de grande porte, tais navios com helicópteros, rumo a um navio de (com ou sem doca para embarcações de maior capacidade. Em tais casos, o navio desembarque) possuem convoo corrido, indicado não seria um NAe de tipo clássico, com superestrutura em “ilha” a boreste, capaz de operar com caras e sofisticadas sendo capazes de operar com helicópteros aeronaves de asa fixa, mas um NCAM de grande porte, para desembarque da tro- simples e econômico, com capacidade pa de fuzileiros navais com o respectivo para um número razoável de helicópteros equipamento. Alguns operam também com e aeronaves do tipo Vant. aeronaves do tipo STOVL17. Na América do Sul, países como Chile, Para ser viável, um NCAM especia- Peru, Colômbia e, possivelmente, Argentina lizado deve também poderiam ter interesse apresentar uma rela- em tal tipo de navio. ção custo-benefício Versátil, simples e Em outros continentes, amplamente favorável compacto, o NCAM 10 talvez países como Mé- em relação à de um xico, Portugal e África NPM. Caso contrário, deslocaria cerca de 10 do Sul pudessem se in- a tendência de uma mil toneladas a plena teressar. Atualmente, as Marinha com recursos Marinhas desses países limitados será optar carga e teria capacidade operam com aeronaves por um navio de maior para operar com dez a 12 de asa rotativa a bordo capacidade, que pode- helicópteros de seus navios de super- ria sem empregado em fície. Algumas dessas operações anfíbias, de Marinhas possuem um controle de área marítima ou de apoio lo- ou mais navios de desembarque. A obtenção gístico. O principal argumento em favor de de um NCAM, para ampliar a capacidade de um NCAM seria a sua capacidade de operar controle de áreas marítimas de suas respec- com a mesma quantidade de helicópteros tivas Forças Navais, poderia ser uma boa a partir de um casco menor e mais econô- opção. O projeto básico deste navio seria ela- mico. No caso de um NPM e um NCAM borado a partir de uma possível encomenda. de porte semelhante, o segundo teria capa- O projeto e a construção deveriam atender cidade de operar e manter aeronaves em às normas de sociedades classificadoras para maior número. navios de emprego militar18. Não é grande o número de Marinhas que contam com os recursos necessários à CONCLUSÃO obtenção de um navio de assalto dos tipos LHD, LHA ou LPH. As que necessitarem Poucas Marinhas dispõem atualmente de um ou mais navios de desembarque de um (ou mais) NAe, capaz de operar com geralmente optarão por unidades dos tipos aeronaves de asa fixa, mas o emprego de

17 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Navios de propósitos múltiplos: tendência em expansão”, Segurança & Defesa 29 (110): 18-28 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2013. 18 Cf. Pesce & Vogt, Op. cit.

64 RMB4oT/2013 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO helicópteros a partir de navios de superfície do tipo MH-16 Seahawk ou equivalente. é amplamente difundido. Um tipo de navio Como alternativa, a dotação de aeronaves cujo uso vem se tornando cada vez mais poderia ser constituída por uma com- comum é o Offshore Patrol Vessel (OPV) binação de helicópteros e aeronaves do dotado de helicóptero orgânico, conhecido tipo Vant. Este navio estaria capacitado a no Brasil como NPaOc. A principal limi- desempenhar missões de Patrulha Naval, tação de um NPaOc é sua capacidade de busca e salvamento, interdição marítima operar com apenas um helicóptero leve, ou de emprego político do Poder Naval em em condições de mar moderadas. tempo de paz, além de realizar operações No entender dos autores, a capacidade de antissubmarino em tempo de guerra. vigilância e patrulhamento de extensas áreas Diversas Marinhas que já operam com marítimas de uma Marinha de porte médio helicópteros embarcados a bordo de navios poderia ser consideravelmente ampliada de superfície, mas ainda não possuem uni- pela incorporação de pelo menos um NCAM dades de combate de grande porte, pode- de porte modesto, capaz de operar com uma riam demonstrar interesse pela obtenção de quantidade razoável de helicópteros mul- um navio com características semelhantes tiemprego e Vant. Tomando por base um às do NCAM descrito neste trabalho. Este estudo desenvolvido pelos autores em artigo deve ser visto como uma evolução dos anterior19, apresentamos neste trabalho um NPaOc e navios de escolta, e não como conceito de navio de multiemprego denomi- um “pequeno navio-aeródromo”. Para nado NCAM 10, o qual poderia atender às viabilizar sua aquisição, dentro dos limites necessidades de tais Marinhas. do orçamento de uma Marinha que dispõe Versátil, simples e compacto, o NCAM de poucos recursos, os custos de obtenção, 10 deslocaria cerca de 10 mil toneladas a operação e manutenção de tal navio (exceto plena carga e teria capacidade para operar o custo total das aeronaves) deveriam ser com dez a 12 helicópteros multiemprego comparáveis aos de uma fragata.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Navio de Controle de Área Marítima; Marinha do Brasil;

19 Ibidem.

RMB4oT/2013 65 NCAM 10 – UM NAVIO DE CONTROLE DE ÁREA MARÍTIMA PARA MARINHAS DE PORTE MÉDIO

REFERÊNCIAS

BRASIL. Comando da Marinha. “1o Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (EsqdHS-1)” – Pá- gina do Comando da Força Aeronaval (ComForAerNav). Disponibilizado no sítio oficial da Marinha do Brasil em http://www.mar.mil.br/foraer/esqdhs1.htm. Último acesso em 6/9/2013. GUEDES, Henrique Peyroteo Portela. “Pirataria marítima fora de controle no Golfo da Guiné”. Revista Marítima Brasileira 133 (07/09): 105-114. Rio de Janeiro, jul./set. 2013. “HTMS Chakri Naruebet” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http:// en.wikipedia.org/wiki/HTMS_Chakri_Naruebet. Último acesso em 14/09/2013. “NORTHROP Grumman MQ-8 Fire Scout” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http://en.wikipedia.org/wiki/MQ-8_Fire_Scout. Acesso em 16/11/2013. PESCE, Eduardo Italo. “Navios de propósitos múltiplos: tendência em expansão”. Segurança & Defesa 29 (110): 18-28. Rio de Janeiro, abr./jun. 2013. _____. “A Marinha do Brasil no contexto estratégico do Hemisfério Sul”. Revista Marítima Brasileira 132 (10/12): 115-132. Rio de Janeiro, out./dez. 2012. _____. “Navios-aeródromo, projeção de poder e controle de área marítima”. Revista Marítima Bra- sileira 132 (04/06): 111-124 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2012. _____ & VOGT, René. “NE/NAeH 10.000 – Um navio-escola multiuso para a Marinha do Brasil”. Revista Marítima Brasileira 130 (01/03): 65-77. Rio de Janeiro, jan./mar. 2010. “SIKORSKY SH-60 Seahawk” – Wikipedia, the free encyclopedia. Artigo disponibilizado em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Sikorsky_SH-60_Seahawk. Último acesso em 16/11/2013. WERTHEIM, Eric (Ed.). The Naval Institute Guide to COMBAT FLEETS OF THE WORLD, 16th Ed. – Their Ships, Aircraft, and Systems. Annapolis, MD: Naval Institute Press, Aug. 2013 (1,008 pp.).

66 RMB4oT/2013 Por que a 148a Divisão Alemã se entregou somente aos brasileiros na Itália?

gelio fregapani* Coronel (Refo)

O texto a seguir é o depoimento do General Dionísio Maciel Nascimento Junior1 ao autor – Coronel Fregapani, que o reproduziu no livro de sua autoria – No lado de dentro da Selva II, lançado em 2009, em 3a edição, pela Editora Thesaurus de Brasília Ltda. O texto foi acompanhado pelo seguinte comentário de autor anônimo: “Para recordar fatos históricos da Segunda Guerra Mundial, na qual o Brasil teve desempenho digno de um povo digno! Mesmo num quadro de extrema violência, o emprego dos valores existen- ciais ligados à bondade, à compreensão e ao respeito mútuo consegue natu- ralmente se impor numa situação crítica e conduzir os graves acontecimentos e todos os problemas decorrentes a soluções mais humanas e honrosas, além de menos sangrentas. Muito interessante e educativo!” A mais Linda das Histórias da Guerra (Título do capítulo de p. 115-122)

“Foi em abril de 1945. Os alemães te, pretendiam nos esperar no vale do Rio tinham retraído da Linha Gótica depois da Pó, mais ao Norte. Nosso Esquadrão de Re- nossa vitória em Montese e, provavelmen- conhecimento, comandado pelo Pitaluga2,

* Um dos fundadores e ex-comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva, do Exército. Autor dos livros: Amazônia, a Grande Cobiça Internacional (2000); A Amazônia no Grande Jogo Geopolítico – Um Desafio Mundial (2011); e Segredos da Espionagem (2001 – 1a edição; 2012 – 2a edição). 1 Na ocasião capitão, era ajudante de ordens do General Euclides Zenóbio da Costa, comandante da Primeira Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Dionísio, ao passar para a reserva, foi promovido a general. 2 Capitão Plínio Pitaluga, na ocasião, que alcançou o posto de general na ativa. Por que a 148a Divisão Alemã se entregou somente aos brasileiros na Itália?

os avistou na Vila de Collechio, um pouco que os italianos das tropas deles fossem antes do rio. A pedido do general, fui ver tratados como prisioneiros de guerra (nor- pessoalmente, e lá, por ser o mais antigo, malmente os italianos que acompanhavam coordenei à noite um pequeno ataque com os alemães eram fuzilados pelos comu- o esquadrão e um pelotão de infantaria, sem nistas italianos das tropas aliadas) e que intenção maior do que avaliar, pela reação, não fossem entregues à guarda dos negros a força do inimigo. norte-americanos. Sem defender efetivamente o local, os Esta última exigência merece uma ex- alemães passaram para o outro lado do rio plicação: à primeira vista, parece racismo. e explodiram a ponte. Então observamos Que os alemães são racistas, é óbvio, mas que se tratava de uma tropa muito maior por que então eles se entregaram aos nossos do que poderíamos ter imaginado. Eram soldados, muitos deles negros? Bem, os milhares deles, e nós tínhamos atacado com negros americanos naquela época consti- uma dezena de tanques e pouco mais de 50 tuíam uma tropa só de soldados negros, soldados. mas comandada por Informamos ao co- oficiais brancos. Dis- mando superior que o Queriam aproveitar a criminados em sua pá- inimigo teria lá pelo oportunidade de se render tria, descontavam sua menos um regimen- raiva dos brancos nos to. O comando, numa aos brasileiros porque prisioneiros alemães, decisão ousada, pegou sabiam que teriam bom os quais submetiam a todos os caminhões da tratamento. Podíamos torturas e vinganças artilharia, encheu-os de brutais. É claro que soldados e os mandou ser inimigos, mas nos contra eles os alemães em reforço à pequena respeitávamos e parecia até lutariam até a morte. tropa que fazia frente Não era só uma a tantos milhares. haver alguma afeição questão de racismo. Considerei cum- Perguntei ao intér- prida a minha parte e fui jantar com o prete do lado alemão (nos entendíamos em Coronel Brayner3, que comandava a uma mistura de inglês, italiano e alemão) tropa que chegara – prosseguiu Dionísio. por que queriam se render, com tropa muito Durante a frugal refeição de campanha, superior aos nossos efetivos e ocupando apresentaram-se três oficiais alemães com uma boa posição do outro lado do rio. Ele uma bandeira branca, dizendo que vieram me respondeu que a guerra estava perdida, tratar da rendição. Fiquei de intérprete, mas que tinham 400 feridos sem atendimento, estava confuso; no início nem sabia bem que estavam gastando os últimos cartuchos se eles queriam se entregar ou se estavam para sustentar o fogo naquele momento pensando que nós nos entregaríamos, diante e que estavam morrendo de fome. Que do vulto das tropas deles, que, por sinal, queriam aproveitar a oportunidade de se mantinham um violento fogo para mostrar render aos brasileiros porque sabiam que seu poderio. teriam bom tratamento. Esclarecida a situação, pediram três con- Combinada a rendição, cessou o fogo dições: que conservassem suas medalhas, dos dois lados. Na manhã seguinte, vieram

3 Floriano de Lima Brayner alcançou o posto de general na ativa.

68 RMB4oT/2013 Por que a 148a Divisão Alemã se entregou somente aos brasileiros na Itália? as formações marchando garbosamente, cabeça do seu sargento, que esperou o tiro cantando a canção ‘Velhos Camaradas’, em forma, olhando firme para frente. Um também conhecida no nosso Exército. frio percorreu a espinha de todos, mas foi a A cerimônia era tocante – prosseguiu melhor solução, concluiu Dionísio. Dionísio. Era até mais cordial do que o Ao ouvir esta história, eu já tinha mais final de uma partida de futebol. Podíamos de dez anos de serviço, mas não pude deixar ser inimigos, mas nos respeitávamos e pa- de me emocionar. Não foram as tragédias recia até haver alguma afeição. Eles vinham nem as atitudes altivas o que mais me im- marchando, e cada companhia colocava pressionaram. O que mais me marcou foi suas armas numa pilha, continuando em o bom coração de nossa gente, a magnani- forma, e seu comandante apresentava a midade e a bondade de sentimentos, coisas tropa ao oficial brasileiro, que lhe destina- capazes de serem reconhecidas até pelo va um local de estacionamento. Só então inimigo. Capazes não só de poupar vidas, os comandantes alemães se desarmavam. como também de facilitar a vitória. É claro A primeira unidade que isto só foi possível combatente a chegar porque os alemães esta- foi o 36o Regimento Na história pátria vam em situação crítica; de Infantaria da 9a noutro caso, ninguém Divisão Panzer Grena- podemos ver como Caxias, se entregará só porque dier. Seguiram-se mais agindo com bondade, só o inimigo é bonzinho, de 14 mil homens, na pacificou, e como Moreira mas que a crueldade maioria alemães, da pode fazer o inimigo 148a Divisão de In- César, com sua crueldade, resistir até a morte, isto fantaria e da Divisão só incentivou a resistência também é real. Na his- Bessaglieri Itália, que tória pátria podemos os acompanhava. até a morte em Canudos ver como Caxias, agin- Entretanto, houve do com bondade, só um trágico incidente: Um nosso soldado, pacificou, e como Moreira César, com sua num impulso de momento, não se con- crueldade, só incentivou a resistência até a teve e arrancou a Cruz de Ferro do peito morte em Canudos. de um sargento alemão. O sargento, sem O General Dionísio e o intérprete ale- olhar para o soldado, pediu licença a seu mão – Major Kludge – se tornaram amigos comandante para sair de forma, pegou e se corresponderam até a morte do primei- uma metralhadora em uma pilha de armas ro, no início dos anos 90. O General Mark a seu lado e atirou no peito do brasileiro. Clark, comandante do 5o Exército norte- Depois largou a arma na pilha e entrou americano, ao qual a Força Expedicionária novamente em forma, antes que todos se Brasileira (FEB) estava incorporada, disse refizessem da surpresa. Por um momento, que foi um magnífico final de uma ação ninguém sabia o que fazer. Já vários dos magnífica. Dionísio disse apenas: ‘A histó- nossos empunhavam suas armas quando ria real é ainda mais bonita do que se fosse o oficial alemão sacou da sua e atirou na somente um grande feito militar’.”

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Segunda Guerra Mundial; Força Expedicionária Brasileira;

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(Parte II)

Francisco Eduardo Alves de Almeida* Capitão de Mar e Guerra (RM1)

ntes da Guerra de Independência dos os melhores marinheiros do século XVIII, AEstados Unidos da América do Norte, pois, além da quantidade de população em dezembro de 1775, o primeiro-ministro disponível voltada para o mar, os britânicos britânico William Pitt, em discurso na possuíam um “caráter” que os distinguia Câmara dos Comuns, disse sobre a Royal de seus contendores franceses e espanhóis. Navy (RN): “Devemos ter nossa Marinha Seria isso verdade? Como combatentes tais tanto e tão bem tripulada quanto possível como Horatio Nelson eram convocados e antes de declarar guerra... não é pois agora adestrados para a luta no mar? É exatamente necessário para nós, uma vez que estamos à isso o que se pretende discutir aqui: o modo beira de uma guerra, usar todos os métodos como se formavam os oficiais de carreira da pensáveis para encorajar os marinheiros Royal Navy no período de vida de Nelson. mais hábeis e capacitados a ingressar no serviço de Sua Majestade?”1 O que Pitt Os oficiais de carreira desejava era aumentar os efetivos da RN com os melhores homens disponíveis em A entrada de um jovem na RN, no século mais 55 mil marinheiros, desejo atendido XVIII, para se tornar um oficial de carreira pelo Parlamento logo em seguida. não se dava por concurso público ou por um Alfred Mahan dizia, ao final do século processo de escolha por almirantes. A RN XIX, que a Grã-Bretanha (GB) contava com espelhava a sociedade britânica estratificada

* Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre e doutor em História Com- parada, UFRJ. Instrutor de Estratégia e História Naval da Escola de Guerra Naval, ex-diretor do Serviço de Documentação da Marinha. 1 FERGUSSON, Neil. Império. Como os britânicos fizeram o Mundo Moderno. op. cit, p. 56. A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen – (Parte II)

do período2, no qual se sabia quem provinha jovem tivesse um capitão ou um almirante de uma classe nobre ou de uma mais abasta- na família, suas chances de ser midshipman da ou mesmo da burguesia e da classe mais eram realmente grandes. Nelson, por exem- baixa da população. Por essa estratificação, plo, contou com a indicação e proteção do dificilmente um jovem da classe mais mo- irmão de sua mãe, Capitão Maurice Su- desta da sociedade teria chances de subir ckling, para entrar na RN. Fatos incríveis, na carreira até alcançar o posto de capitão, no entanto, ocorreram nesse grupo, como o ainda menos de almirante, contudo isso não do célebre Almirante Rodney, vencedor da seria, por si só, impossível. Batalha dos Santos, que, por sua influência, Um jovem que desejasse se voluntariar promoveu seu filho de apenas 15 anos de para ser midshipman3, primeiro passo para idade ao posto de capitão. Mais tarde, esse ser oficial na RN, deveria provir de algumas jovem oficial fracassaria na profissão e seria classes sociais perfeitamente determinadas levado à corte marcial por negligência e na sociedade britânica. Ele poderia ser origi- impedido de ser promovido a almirante5. nário da classe nobre, ligada à família real, O outro grupo de voluntários provinha como, por exemplo, o príncipe William, fi- da classe média, como filhos de ministros lho de Jorge III e futuro William IV, que teve da Igreja da Inglaterra, comerciantes, um papel relevante na carreira de Nelson. médicos, advogados e integrantes do Exér- Ele poderia provir também da aristocracia cito e do serviço estatal, grupo também que adquiriu um pariato, como foi o caso expressivo de candidatos. do Almirante Howe, neto de visconde, ou Por fim,o grupo menos numeroso provi- de Lorde Cornwallis, que era filho de um nha da burguesia comercial e de trabalha- conde. Segundo Brian Lavery, a chance de dores mais modestos. Segundo Brian Lavery, promoção rápida para esses voluntários era a maioria desses midshipmen não conseguiu grande, e por certo teriam grande influência prosseguir na carreira por falta de “influência”.6 na condução dos destinos da RN4. O historiador inglês Michael Lewis, Outro grupo de voluntários poderia ser baseando-se no Dicionário Biográfico Naval, originário de proprietários de terra, que, de William O’Byrne, publicado em Londres embora não tivessem o pariato, por sua em 1849, e na Biografia da Marinha Real, condição financeira e atividade política, de John Marshall, também publicada em tinham influência em seus condados e Londres, em 1823, listou um grupo de 1.800 comunidades. Esse era percentualmente oficiais da RN entre os anos de 1793-1815 e de um grupo de voluntários muito numeroso. onde provinham os seus genitores, chegando Um grupo também muito numeroso era a um número interessante por cada grupo de o de jovens filhos de oficiais de Marinha midshipmen entrante na RN no século XVIII, o ou de parentes destes. Existiam famílias que dá uma ideia dos números e do percentual muito tradicionais ligadas à RN, como os das classes sociais dos quais os oficiais eram Samaurez, os Hood e os Parker. Se um oriundos. Os números são os seguintes:

2 MACFARLANE, Alan. História do casamento e do amor. São Paulo: Companhia das Letras,1990, p. 60. 3 Em inglês a palavra é midshipman, traduzida em português para guarda-marinha, um posto intermediário entre aspirante e oficial. Por uma questão de fidelidade com o sentido da palavra, que também pode significar cadete do mar, prefere-se utilizar a palavra original em inglês midshipman para descrever, como era no século XVIII, o aprendiz de oficial no mar. Trata-se de uma escolha pessoal de nomenclatura. 4 LAVERY, Brian. Nelson’s Navy.The ships, men, and organization 1793-1815. Annapolis: USNI, 1989, p. 90. 5 Idem. 6 Idem.

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Grupo social ou ocupação dos pais Número absoluto no Percentual no total de grupo listados Família Real e pares do Reino 216 12 % Proprietários de terra 494 27,4% Família Naval 434 24,1% Igreja 156 8,7% Exército 132 7,3% Advogados, médicos, serviço 177 9,9% governamental, artistas Comércio e classe trabalhadora 191 10,6% Total 1.800 100% Tabela 1. Fonte: LEWIS, Michael. A Social History of the Navy 1793-1815. London: Chatham, 2004, p. 31 e 36.

Dessa maneira, um jovem que desejasse cavalheiro] tinha um significado real, tão entrar na RN como midshipman deveria ser real que qualquer homem que chegasse a indicado a um capitão, geralmente coman- ser um oficial poderia se considerar (se dante de um navio de guerra. Normalmente não fosse anteriormente) a ser também essa escolha seria pessoal do próprio capitão, um gentleman; e seu status era frequen- atendendo a um parente ou a pedido de co- temente aceito pela opinião pública nhecido de influência em sua comunidade. e, algumas vezes, até pela sociedade. Esse capitão não necessitava da autorização Mas tal ascensão era rara. A maioria do Almirantado para aceitar um jovem como dos oficiais já era nascidagentleman ou midshipman em seu navio; bastava ele que- pelo menos “quase nascida gentleman”, rer recrutá-lo. Não existia custo com essa enquanto a grande maioria dos homens escolha; assim, um comandante de navio não era nem de perto gentleman.8 recrutava o aprendiz naval que desejasse. Existiam famílias abastadas e influentes que O ser oficial de Marinha e gentleman solicitavam o recrutamento de seus filhos por era uma condição social inseparável na RN meio apenas de conexão social. Esses jovens do século XVIII; no entanto, tal condição eram tratados como jovens gentlemen7 por provinha de uma longa luta por poder e normalmente provirem de classes mais abas- influência na Marinha de guerra desde os tadas da sociedade britânica. Michael Lewis tempos de Elizabeth I no século XVI. afirmou o seguinte sobre a característica de O sociólogo alemão Norbert Elias, nos ser gentleman na sociedade britânica do anos 30 do século XX, efetuou um estudo período, que vale a pena reproduzir: sociológico sobre a gênese da profissão naval que se tornou paradigmático para Naqueles dias [século XVIII], a ex- os historiadores navais. Ao estudar a ori- pressão officer and gentleman [oficial e gem da oficialidade naval inglesa, Elias

7 A palavra em português é “cavalheiro”; no entanto, por uma escolha pessoal, prefere-se utilizar a expressão inglesa gentleman, por ser mais característica que cavalheiro, que nos conduz a pensar em “homem de sen- timentos e ações nobres”. A sua denotação no século XVIII incluía essa designação e também o homem de boa sociedade, de educação esmerada, cortês, brioso, nobre e honrado. 8 LEWIS, Michael. A Social History of the Navy. London: Chatham, 2004, p. 23.

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percebeu claramente um antagonismo e unir em uma só pessoa as qualidades de um franca disputa entre dois grupos sociais bom marinheiro com as de um gentleman. que compunham a comunidade naval no Essas características provinham de longo século XVI. De um lado os gentlemen, isto tempo e de grandes disputas na RN. é, membros da nobreza e da aristocracia Por certo, o comando de um navio do com suas “virtudes” de honra, berço, brio século XVI ao século XVIII requeria es- e fina educação, e de outro lado membros sas duas características fundamentais. Por das classes mais baixas, como comerciantes um lado, o comandante deveria possuir e artesãos, que primavam pela praticida- competência no campo militar para efetuar de, pelo pouco refinamento e pela baixa os combates no momento e no local mais educação formal. Dessa rivalidade entre apropriados, e, por outro lado, deveria agre- os dois grupos surgiu a institucionalização gar conhecimentos marinheiros suficientes da profissão de oficial da Marinha inglesa. para levar sua embarcação para esse local, Elias percebeu inicialmente que os ofi- percebendo as condições de navegação ciais da Marinha britânica do século XX se e de mar mais favoráveis9. A primeira consideravam, ou pelo menos queriam ser característica de um bom comandante, a considerados, gentlemen. De onde surgira competência militar, derivava dos valores aquele desejo? Elias percebeu que dominar e habitus10 dos nobres, logo de gentlemen, as lides marinheiras era apenas uma das isto é, coragem, espírito de combate, co- funções desses oficiais. Tanto no passado laboração, nobreza, orgulho, disciplina como no tempo em que ele viveu, os oficiais e hierarquia. A segunda característica de de Marinha da RN imaginavam ser líderes um eficiente comandante, sua condição militares no comando de homens no mar. de bom marinheiro, provinha de homens Uma de suas funções mais importantes acostumados com as lides náuticas, não era combater com eficiência no mar, do- associadas à nobreza e sim a mercadores, minando tanto a tática naval como a arte que aprenderam essas habilidades, a partir de manobrar navios. Em tempos de paz, de navios mercantes em mares bravios, com assim como de guerra, esses oficiais teriam a utilização de trabalho manual ostensivo, contato com representantes de outros paí- não condizente com a característica de se ses, esperando-se que fossem capazes de ser gentleman.11 falar uma ou duas línguas estrangeiras, de Os tarimbeiros, provindos das classes representar dignamente o seu país com tato baixas e médias urbanas que ascendiam ao e polidez e de se comportar com boas ma- comando de navios, começavam cedo na neiras e civilidade. Em resumo, deveriam carreira, normalmente como grumetes, com

9 A expressão inglesa para esse tipo de marinheiro que viria a se opor aos gentlemen era “tarpaulin”, que pode ser traduzido em português para tarimbeiro. Na língua inglesa, tarpaulin significa “encerado, pano alcatroado, capa encerada”, que se relacionava com o marinheiro criado nas lides marinheiras, nas quais o alcatrão era muito usado em lonas e cabos. Fonte: LIMA, Alexandre de Azevedo.Termos Náuticos. Inglês/Português v1, Rio de Janeiro: SDGM, 1981, p. 765. 10 O conceito de habitus está associado à obra de Pierre Bourdieu. Para esse sociólogo francês, o habitus que- ria denotar certas propriedades implantadas nas mentes e nos corpos dos seres humanos. Ele definiu tais propriedades como disposições transferíveis e duráveis por meio dos quais as pessoas percebem, pensam, apreciam, agem e avaliam o mundo. Elas podem variar desde formas de comportamento corporal, fala, gesto, vestuário e maneiras sociais até tipos específicos de conhecimento mútuo e memória coletiva, passando por uma ampla gama de habilidades motoras e práticas. Fonte: SCOTT, John. Sociologia: conceitos-chave.Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 98. 11 ELIAS, Norbert. The Genesis of the Naval Profession. Dublin: University College Dublin Press, 2007, p. 3.

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10 ou 11 anos de idade, passando por um questão de se afastar dos seus marujos e período de sete anos de aprendizado a bor- raramente entabulava uma conversa com do, podendo servir tanto em embarcações o simples marinheiro. Essa distância era mercantes como de guerra. Aos poucos bem marcada pelo posicionamento de um eles iam subindo na hierarquia, sempre em fuzileiro real permanentemente de plantão constante contato com as lides náuticas. A na porta que dava acesso ao seu camarote distância entre os comandantes tarimbeiros particular, de modo a manter os marujos e os marinheiros era pequena. Esses co- distantes. mandantes não se mostravam superiores, Os gentlemen não queriam se misturar podendo dormir no convés “sem coisa com os marinheiros que provinham de outra alguma sobre ele, exceto uma lona12, que classe social, pois os consideravam brutos, seus marujos estariam satisfeitos”.13 Se ele desonrados e mal-educados. Por outro lado, levasse um filho consigo para o navio, ele os marinheiros não queriam se envolver seria elogiado ou punido junto com outras com aqueles nobres esnobes, no entanto crianças a bordo sem qualquer preferência mantinham um desejo latente de um dia ou distinção. Um comandante tarimbeiro também se tornarem gentlemen. exigia pouco para si, suas acomodações O ser bom comandante requereu a agre- eram frugais, sendo capaz de conversar com gação de ambas habilidades, no entanto a seus marujos, conhecer todos pelo nome, necessidade de um gentleman ser forçado beber juntos no convés e enfrentar o mau a realizar trabalho manual, como as classes tempo ao lado de todos. mais baixas da sociedade inglesa, lhe era Os gentlemen, por outro lado, provindo extremamente traumatizante e desonrosa. O das classes mais elevadas, com conexões na que Elias quis entender era como poderia corte, chegavam ao comando de navios em um gentleman tornar-se um tarimbeiro sem razão das suas relações sociais com o rei, perder a sua característica de ainda ser gen- normalmente nos navios de guerra, uma vez tleman e nem diminuir o seu status social? que não cogitavam de um período a bordo A rivalidade entre esses dois grupos de aprendizado para aprender o ofício do socialmente divergentes resultou em uma marujo comum. Preocupavam-se, precipua- fusão de características militares e náuticas mente, com seu desempenho militar. Quan- que moldou o ser oficial de Marinha inglês do embarcados, os gentlemen levavam con- a partir do século XVI até o final do século sigo criados, músicos, barbeiros e diversos XVIII. Esse tipo de rivalidade foi essencial, acompanhantes. Eles assumiam em relação segundo Elias, para que a Inglaterra (e aos marujos um ar de superioridade que os depois a Grã-Bretanha) tivesse condições distinguiam das classes mais baixas. O seu de competir com vantagem contra seus estilo de vida permanecia o mesmo que em maiores opositores do período, a Espanha terra, com comida diferenciada e melhores e a França, que não tiveram essas mesmas acomodações, normalmente no tombadilho, condições15, permanecendo atreladas à di- local onde se encontravam os oficiaisgen - ferenciação e ao afastamento entre os dois tlemen14. Quando comandando um navio grupos sociais, com terríveis consequências de guerra, o comandante gentleman fazia para a luta no mar. Para Elias, o sistema

12 Daí a expressão em inglês tarpaulin. 13 ELIAS, Norbert. Escritos e Ensaios. Estado, Processo, Opinião Pública. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 101. 14 Idem. 15 ELIAS, Norbert. The Genesis of the Naval Profession. op. cit, p. 3.

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político inglês provou ser o mais adequado só elemento, o oficial de Marinha, redundou para o desenvolvimento de uma Marinha de no domínio das tarefas militares e marinhei- Guerra, e a supremacia marítima britânica ras, resultando em eficiência no combate. pode ser imputada à sua estrutura política Para Elias, o conflito entre gentlemen e e à rivalidade eficaz entre esses dois gru- tarimbeiros na RN levou à criação de uma pos pelo controle dos comandos navais, nova instituição hierárquica que permitiu resultando, por consequência, em aberta adquirir tanto conhecimentos militares espe- cooperação ao invés de antagonismo.16 cíficos degentlemen , como habilidades ma- Na França, a burocracia foi uma das rinheiras de tarimbeiros, o posto de midship- razões para a inferio- man, e assim moldar um ridade das suas forças novo corpo de oficiais navais, transforman- de Marinha mais pro- do seus oficiais em fissional e completo.18 combatentes cautelo- Essa especialização do sos. Segundo Elias, corpo de oficiais a partir “quando uma ação de midshipman foi o re- dava errado, os oficiais sultado de uma interde- [franceses] tinham que pendência intensa entre fazer um relatório de- os dois grupos, de longa talhado dos eventos duração, induzindo os pelos quais eram con- protagonistas a cooperar siderados responsá- e a ter “fortes sentimen- veis. Isso os tornava tos de solidariedade”.19 supercautelosos”.17 Na Esse processo foi longo, Marinha francesa, os cheio de altos e baixos e nobres continuaram a extremamente conflitu- dominar os rumos da oso. A criação do posto força, com um fosso de midshipman foi uma profundo entre com- tentativa acertada para batentes nobres e mari- dotar os jovens gentle- nheiros, pelo menos até men entrantes na RN a Revolução Francesa, Quadro a óleo: Midshipman do século XVIII por de instrumentos que os quando muitos desses Thomas Rowlandson tornassem marinheiros. aristocratas foram exe- A idade média de cutados e afastados de suas atividades pelos recrutamento de um jovem era de apenas 11 revolucionários, com nocivos resultados anos, quando se agregava como “voluntário para a armada francesa, em razão da falta de 1a classe”, ficando por dois anos até ser de especialistas para combater os britânicos designado oficialmente como midship- no mar. Na Inglaterra, a colaboração entre man. Segundo o antropólogo inglês Alan os dois grupos a partir do século XVI foi Macfarlane, existia uma tradição inglesa maior, e a fusão desses dois “tipos” em um de se enviar filhos jovens e crianças para

16 Ibidem, p. 14. 17 Ibidem, p. 13. 18 Ibidem, p. 17. 19 Ibidem, p. 20.

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ganhar o sustento fora de casa. A RN foi jovens voluntários gentlemen para se trans- uma instituição que acolhia esses jovens, formarem em oficiais, dessa feita em outros rompendo os vínculos da “unidade domés- moldes e currículos24. tica de produção e consumo, separando as Normalmente o jovem midshipman gerações dos pais e dos filhos”20. Para esse recebia a bordo aulas formais de navega- estudioso, existiam fortes evidências de que ção, astronomia e trigonometria, além de esse padrão comportamental prevaleceu até artilharia, por um mestre-escola devida- o século XIX. Em um navio de linha de 1a mente contratado para isso. A disciplina classe podiam existir até 24 midshipmen; era rígida, e era exigido o cumprimento de em um de 2a classe, 18; em um 3a classe, 12; diversas tarefas a bordo. Qualquer deslize nas 4a, 5a e 6a classes variava o número, de era reportado ao comandante para as puni- acordo com os seus diferentes tamanhos.21 ções regulamentares. Quando não existia Um midshipman também poderia entrar um mestre-escola, o próprio comandante na RN via Portsmouth Naval Academy, do navio ministrava as aulas. Era muito fundada em 1729, que tinha a tarefa de pre- comum o midshipman ficar sem almoçar se parar jovens gentlemen para serem futuros não estabelecesse com precisão a posição oficiais, sendo geralmente escolhidos filhos astronômica do navio na carta.25 A vida a de oficiais de Marinha. Essa academia bordo para aqueles jovens gentlemen mid- ministrava aulas formais a alunos entre 13 shipmen era realmente muito dura. e 16 anos de idade por um período de três Uma vez alcançada a idade de 15 anos, anos escolares. Eram ensinadas navegação, as aulas formais terminavam e era permi- marinharia, matemática, física, astronomia, tido que tivessem uma ração de bebida, artilharia, fortificação e outras matérias aos normalmente rum, além de mudarem de alunos. Essa instituição de ensino da RN acomodações para junto dos midshipmen nunca foi popular, possivelmente, segun- mais antigos. do Brian Lavery, pela aversão a estudos Em tempos de guerra, os midshipmen acadêmicos na RN e por burlar o privilégio eram responsáveis por uma série de tarefas de os capitães indicarem os voluntários a a bordo dos navios da RN. Eles poderiam servirem em seus navios22. Essa academia ser mensageiros durante o combate, ou formava poucos voluntários, sendo que ser responsáveis pelas guarnições dos em 1773 tinha apenas 15 alunos. Michael canhões, ou mesmo auxiliares do co- Lewis acredita que somente 2,7% dos mandante ou de tenentes, transmitindo midshipmen vieram de Porstmouth, um ordens e incentivando os marujos. O que número pequeno realmente, e a maioria de se esperava, no entanto, é que agissem filhos de oficiais de Marinha.23 Finalmen- com valentia e fossem honrados. Quando te, em 1806 a academia foi formalmente o príncipe William, futuro rei, aos 13 fechada. Dois anos depois, ela foi substi- anos de idade, em 1779, se agregou à RN, tuída pelo Royal Naval College, também seu pai, o rei da Inglaterra Jorge III, lhe em Portsmouth, que continuou a educar escreveu a seguinte carta:

20 MACFARLANE, Alan. História do casamento e amor. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 94. 21 FREMONT-BARNES, Gregory. Nelson’s Officers and Midshipmen. Oxford: Osprey, 2009, p. 8. 22 LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. op. cit. p. 88. 23 LEWIS, op. cit, p.148. 24 RONALD, D.A B Young Nelsons. Boys Sailors during the Napoleonic Wars. Oxford: Osprey, 2009, p. 59. 25 FREMONT-BARNES. Gregory Nelson’s Officers and Midshipmen. Oxford: Osprey, p. 8.

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Embora em casa você seja um príncipe, idade dos candidatos a tenente, uma vez que a bordo no HMS Prince George você é era exigida a idade mínima de 19 anos, quanto somente um jovem aprendendo a profis- no “tempo de mar”, certificados esses emitidos são naval: mas o príncipe que você é o por comandantes inescrupulosos, em razão de acompanha; assim, o que os outros jovens interesses nem sempre ostensivos. O próprio fazem você não deve fazer. Nunca deve Nelson teve a idade alterada de 15 para 18 ser abandonado de seus pensamentos que anos, de modo a poder submeter-se antecipa- maior obediência é necessária de você damente ao exame para tenente.29 para seus superiores na Marinha, assim O exame para tenente requeria um grupo como maior polidez a seus colegas e avaliador de três capitães que tivessem expe- maior compreensão com seus inferiores riência de mar e comandado navios da RN. Os do que com os outros que não foram exames podiam ser conduzidos em Londres, informados que essas qualidades são Portsmouth e Plymouth ou em postos avan- essenciais para um gentleman26. çados da RN, com a devida autorização do comandante em chefe local. Normalmente, o Durante a Batalha de Trafalgar, muitos exame constava de questões teóricas e práticas desses jovens midshipmen ansiavam o com- envolvendo marinharia, navegação, astrono- bate valentemente. No próprio capitânia mia, matemática e liderança. Se o midshipman de Nelson, o HMS Victory, existiam um falhasse na prova, poderia realizar outros jovem de 10 anos de idade, quatro de 12 e exames meses depois. Muitos midshipmen seis de 13. Pouco antes da batalha, Nelson tentaram inúmeras vezes essas provas, perma- se dirigiu aos seus midshipmen dizendo: necendo nesse posto anos ou mesmo décadas. “Amanhã eu farei algo do que vocês, jo- Se o jovem passasse no exame para te- vens gentlemen, terão muito o que dizer e nente, ele ainda deveria aguardar comissão pensar pelo resto de suas vidas”.27 Thomas nos navios da RN. Em períodos de guerra, Dalrymple, um mestre-escola instrutor de ele seria aproveitado imediatamente, pois midshipmen a bordo do HMS Mars, que existiriam vagas para tenentes. Em períodos participou de Trafalgar, afirmaria poste- de paz, ele poderia permanecer anos na riormente que muitos de seus pupilos “se esfera, até abrir uma vaga para tenente em comportaram como jovens Nelsons”28. algum navio da RN. O historiador inglês Esse era o espírito que acompanhava o ser Gregory Fremont-Barnes argumentou que midshipman no final do século XVIII. existiam 2 mil midshipmen sem função na Ao atingir a idade de 19 anos, os midship- condição de “aprovados para tenente”, em men podiam se candidatar ao exame para 1813, esperando comissão.30 Muitos acei- tenente. Os candidatos também obtinham tavam ser suboficiais em outros navios até um certificado, emitido pelos comandantes, a abertura de vagas, de modo a ter melhor provando que possuíam “tempo de mar” de remuneração que a de midshipman. pelo menos seis anos. Muitos dos certificados Ao se apresentar em um navio, o jovem podiam conter informações falsas, tanto na tenente era incluído na Navy List31 e, as-

26 RONALD, op. cit. p. 35. 27 Ibidem, p. 200. 28 Ibidem, p. 15. 29 LEWIS, op.cit. p. 157. 30 FREMONT-BARNES, Gregory. Nelson’s Officers and Midshipmen. op. cit. p. 10. 31 A Navy List era uma listagem de todos os oficiais da RN a partir do posto de tenente até almirante por antiguidade.

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sim, estava elegível para receber metade vação da disciplina e pela navegação34. do salário32, caso não houvesse vagas no Esse oficial não corria quartos35, no en- futuro. Daquele momento em diante, o jo- tanto deveria estar sempre disponível no vem tenente gentleman dependeria de suas tombadilho36 para qualquer eventualidade. conexões sociais, além de seu desempenho Os primeiros-tenentes de navios de 1a no mar na guerra e na paz como oficial a classe tinham maiores chances de serem bordo de um navio da RN. promovidos, em razão da proximidade Sua promoção na escala hierárquica era com almirantes e de maior exposição, no por escolha, não necessitando aguardar a caso de serem eficientes. Em um navio de reserva ou morte daqueles tenentes mais linha existiam de três a oito tenentes, que antigos que ele. Isso criava situações insó- se acomodavam em camarotes próprios litas, como, por exemplo, o tenente mais para a sua graduação e dividiam a praça- antigo da Navy List em 1799 estar como o d’armas37. Em um navio de linha de 3a número 1 desde 1744, isto é, por mais de 50 classe de 74 canhões, por exemplo, exis- anos. Ou mesmo o número 2 desde 1747, e tiam cinco tenentes, e em uma fragata de o três e o quatro desde 1757.33 5a classe, três ou quatro38. Em combate, os Normalmente o jovem tenente assumia tenentes comandavam baterias de canhões, uma divisão de marinheiros a bordo do auxiliados pelos midshipmen. navio, sendo, assim, responsável pelo O jovem tenente poderia ser promovido bem-estar e asseio de seus subordinados. por escolha de três formas distintas. A pri- Além disso, coordenava os trabalhos de sua meira, em razão de suas conexões políticas divisão, supervisionava as tarefas dos mid- e sociais, sendo inclusive comum os filhos shipmen, mantinha o navio em formatura, de pares, com ligações com almirantes do reportando ao comandante qualquer anor- Almirantado, serem escolhidos primeiro malidade, conservava as dependências de para promoção. A segunda, o jovem tenente sua divisão arrumadas e limpas e treinava chamava a atenção do almirante comandan- seus homens em armas leves e em técnicas te em chefe de uma estação que tinha a au- de artilharia e abordagem. toridade de indicar o oficial para promoção, O tenente mais antigo de bordo era normalmente ratificado pelo Almirantado. designado primeiro-tenente e eventual No caso de morte de comandantes ou de substituto do comandante, responsável afastamento de oficiais por corte marcial, pela administração do navio, pela preser- esse almirante poderia promover automati-

32 Este caso chama-se half pay e protegia o oficial em caso de indisponibilidade para o serviço por doença ou falta de vagas. 33 Ibidem, p. 11. 34 Na Marinha brasileira, era e continua sendo chamado de “imediato”. Em inglês, esse cargo foi posteriormente designado executive officer, o mesmo que subcomandante. 35 Correr quartos significa correr os turnos obrigatórios de serviço de um grupo de oficiais e marinheiros. Nor- malmente os quartos corriam em dois turnos, e em alguns navios em três turnos. Com dois quartos, metade da tripulação estaria de serviço e a outra metade descansando. Com três turnos, 1/3 estaria de serviço no período noturno. Os tenentes eram os responsáveis pelos quartos de serviço. No caso de fainas gerais, os quartos eram suspensos e todos se apresentavam para as funções gerais a bordo. Fonte: LAVERY, Brian. Life in Nelson’s Navy. op. cit. p. 39. 36 Em inglês quarterdeck, local próprio a bordo onde ficavam os oficiais. 37 Em inglês wardroom, local das refeições dos oficiais de bordo. 38 Ibidem, p. 29.

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camente os tenentes. Assim, naturalmente, tcher Christian.41 Podiam também substituir vagas de tenentes em navios de 1a classe comandantes mortos durante determinado eram muito procuradas, pois eram passa- período até a chegada de novo comandante portes para a promoção. Em 1797, a bordo nomeado pelo Almirantado. do HMS Ville de Paris, de 1a classe, foram O tenente poderia ascender aos postos promovidos de uma só vez sete tenentes.39 acima, de mestre, comandante ou capitão42, A terceira forma de promoção era por meio conforme suas conexões profissionais e de suas ações em combate. Normalmente políticas. Caso tivesse boas conexões, ele depois de importantes batalhas, um número passaria diretamente a capitão e, assim, grande de tenentes era promovido. Após as tornava-se passível de comandar um navio batalhas do Glorioso Primeiro de Junho e de linha. O posto de mestre e comandante de Trafalgar, todos os primeiros-tenentes fora inicialmente criado no final do século dos navios participantes das batalhas foram XVII e era um intermediário entre tenente promovidos. As ações individuais de navio e capitão. Sua criação oficial foi em 1747 e contra navio também eram recompensadas correspondeu ao posto de major no Exército com promoções. Nelson, por exemplo, de- britânico. A partir de 1794, esse posto pas- monstrou grande habilidade desde jovem. sou apenas a ser de comandante, perdendo Aos 19 anos, já um distinto tenente, sob a designação de mestre, e se tornar o único a indicação de seu tio, Capitão Maurice caminho para ser promovido a capitão.43 Suckling, controller da RN, conseguiu O mestre e comandante poderia comandar ser promovido a mestre e comandante e pequenos navios, como brigues e chalupas, um ano depois era novamente promovido com até 28 canhões44. Alguns oficiais sem a capitão40, com apenas 20 anos de idade. conexões permaneceram como mestres e Os tenentes podiam comandar pequenas comandantes até o fim de suas carreiras embarcações do tipo escuna com até 18 ca- em half pay, sem possibilidades de acesso nhões. Um caso conhecido foi o do Tenente a capitão. Durante períodos de guerra, as William Bligh, comandante do HMAV promoções de todos os postos foram acele- Bounty, envolvido em um motim célebre radas; assim, muitos mestres e comandantes orquestrado por seu imediato, Mestre Fle- foram promovidos nesses períodos.

39 LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. op. cit. p. 97. 40 O posto de capitão era chamado de “post captain” no final do século XVIII. Em português, o posto de capitão é chamado de capitão de mar e guerra. Por uma questão de escolha pessoal, resolveu-se manter a palavra capitão para identificar esse posto. Assim, os postos da RN no período erammidshipman , tenente, mestre e comandante e capitão. Os postos de oficial-general serão apresentados à frente. Outro detalhe importante é que, em inglês, o comandante de navio, commanding officer, também era chamado de captain pela tripulação, nesse caso indicando uma função e não um posto hierárquico. 41 William Bligh escreveu um livro célebre sobre esse motim ocorrido em 1789 a bordo de seu navio, o HMAV (Her Majesty Auxiliary Vessel) Bounty, cujo título foi Mutiny on the Bounty, arquitetado por seu imediato, Fletcher Christian. O motivo alegado para o motim foram os maus tratos de Bligh contra a tripulação. Bligh chegaria em 1814 a ser promovido a vice-almirante na RN. Ele lutaria ao lado de Nelson como comandante do HMS Glatton de 54 canhões na Batalha de Copenhagen, em 1801. Em 1961, foi lançado pelo mercado cinematográfico o filme O Motim do Bounty, estrelado por Marlon Brando no papel de Fletcher Christian, cabeça do motim, e tendo Trevor Howard como Bligh. Fonte: BLIGH, William. Mutiny on the Bounty. Vercelli: White Star, 2006 e TRACY, Nicholas. Who is who in the Nelson’s Navy. London: Chatham, 2006, p. 44. 42 Não confundir o posto de comandante, commander em inglês, com o de comandante de navio, em inglês com- manding officer. O tenente podia ser um comandante de navio, isto é, commanding officer. 43 HICKOX, Rex.All you want to know about 18th century Royal Navy. Bentonville: Rex Publishing, 2005, p. 30. 44 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit 57.

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Suas tarefas como comandantes de no Exército britânico. Ao ultrapassar os navios eram idênticas às dos comandantes três primeiros anos, ele conseguia alguns do posto de capitão, embora não estivessem privilégios, como a correspondência a elegíveis a ascender a almirantes. A partir coronel no Exército, podendo vestir duas de 1827, foram designados imediatos de dragonas em seu uniforme, em vez de uma navios de linha comandados por capitães45. como capitão com menos de três anos. Nelson, como tenente, foi promovido a Normalmente o tamanho dos navios de mestre e comandante, linha correspondia ao permanecendo apenas tempo de posto. Assim, seis meses nessa gra- um capitão recente- duação, indo rapida- mente promovido co- mente a capitão, segun- mandava inicialmente do o historiador Joel uma fragata de 5a ou 6a Hayward em razão de classe47. Outro capitão “sua excepcional habi- mais antigo na Navy List lidade, energia e com- comandaria um de 2a ou prometimento” e por ter mesmo de 1a classe, com recebido o comando de o respectivo aumento uma chalupa e depois de responsabilidades e de uma fragata, navio salários. Dessa forma, o típico de um comando comando de uma fragata de capitão, “tudo antes era considerado o passo de 21 anos de idade”46. inicial para o comando Seja como for, Nelson de um navio de linha foi a capitão com muito de maior classe. A RN pouca idade, e por certo Capitão Horatio Nelson, futuro almirante, Visconde possuía comandantes suas conexões no Almi- Nelson e Duque de Bronti de fragatas que depois rantado, por meio de seu (óleo sobre tela de J. F. Rigaud) foram promovidos ao tio, Capitão Suckling, o Almirantado com distin- ajudaram a galgar postos rapidamente. ção, em razão de suas capacidade marinheira, O posto seguinte e mais desejado por valentia e ousadia em combate. um oficial de Marinha era o de capitão, Existia somente uma exceção a isso, que que lhe permitia comandar um navio de 1a era o caso do navio capitânia do almirante a 6a classes. Eles eram colocados em ordem comandante da esquadra ou divisão. Esse de antiguidade na promoção na Navy List oficial-general normalmente escolhia seu e não existia escolha para a promoção a “capitão de bandeira”, isto é, o comandan- almirante. As promoções ao posto seguinte, te de seu navio de linha capitânia, não se contra-almirante, seguiam rigorosamente importando com sua antiguidade na Navy a lista por antiguidade constante da Navy List. Nelson, por exemplo, em Trafalgar, List. Com até três anos de posto, o jovem estava a bordo de um navio de linha de capitão era equivalente a tenente-coronel 1a classe, o HMS Victory, enorme para a

45 LAVERY, Brian. Nelson´s Navy. op. cit. p. 98. 46 HAYWARD, Joel. For God and Glory. Lord Nelson and his Way of War. Annapolis: Naval Institute Press, 2003, p. 2. 47 LAVERY, David. Nelson´s Navy. op. cit. p. 98.

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época, com mais de 100 canhões. O co- o Capitão James Gambier,51 do 3a classe mandante do navio era o Capitão Thomas HMS Defense, de 74 canhões. Ele era ex- Hardy48, com apenas 36 anos de idade, bem tremamente religioso e procurava impingir mais moderno que a maioria dos capitães a seus comandados os ditames da Bíblia e subordinados a Nelson. Hardy já havia de textos sagrados, com grande resistência e comandado o HMS Elephant sob as ordens impopularidade por parte de sua tripulação. de Nelson na Batalha de Copenhagen, como Ao receber o comando de um navio “capitão de bandeira”. Thomas Hardy era por ordens do Almirantado, o capitão se um dos favoritos do Almirante e esteve ao apresentava na nova comissão, içava o seu seu lado nos momentos finais em Trafalgar. pavilhão de comando e passava a dormir a No mar, o capitão, comandante de um bordo para coordenar a preparação de sua navio, era responsável por tudo o que unidade para o mar. Ele verificava todo o ocorria a bordo. Sua responsabilidade era armamento, a situação de navegabilidade tão grande que existia um ditado que dizia e conservação do navio, os mantimentos que “um navio não era melhor que seu estocados e a necessidade de adquirir outros capitão”.49 Sua reputação de gentleman e itens de recompletamento, além dos claros de combatente eficiente baseava-se naqui- sempre existentes na tripulação, de modo a lo que era percebido por sua tripulação e determinar que fossem estabelecidos grupos pelos almirantes seus comandantes. Como de captura para arregimentar à força novos apontado, o capitão comandante de navio marinheiros.52 Contava com o seu imediato, tinha poder total sobre seus marinheiros e na figura do primeiro-tenente, para conduzir oficiais e ampla liberdade de ação, inclusive os serviços administrativos de bordo, sempre para escolher os midshipmen que seriam a ele se reportando. A ele, capitão, era impu- adestrados em seu navio. tada a tarefa de julgar os faltosos de bordo, Sua postura era normalmente distante, punindo os transgressores, inibindo uma embora em combate estivesse todo o tempo série de vícios, imoralidades e indisciplinas e no tombadilho, ao lado de seus oficiais. Em defendendo a honra da Grã-Bretanha, “quei- tempos de paz, ele tinha o poder de diminuir mando, afundando e destruindo” o inimigo. salários de seus subordinados e de usar a No total, eram 48 itens a serem observados chibata para corrigir faltas disciplinares. O por ele durante o seu período de comando.53 navio refletia a postura de seu comandante. O capitão, comandante de navio, era um juiz O Capitão Edward Riou,50 da Fragata HMS da suprema corte e, conforme o historiador Amazon, que foi morto em combate ao lado John Masefield diria em 1905, “era uma de Nelson em Copenhagen, produzia uma espécie de homem próximo da divinda- série de ordens e obrigações escritas a serem de”.54 Não existia recurso de seus atos, suas cumpridas pela tripulação, sendo muito decisões eram absolutas, com poder sobre querido por todos que de sua companhia seus homens de vida ou morte.55 Assim, ele privavam. Outros eram detestados, tais como podia transformar a vida de qualquer um

48 TRACY, op. cit. p.171. 49 HICKOX, op. cit. p. 29. 50 TRACY, op. cit. p. 305. 51 Ibidem, p. 148. 52 Esses grupos eram chamados de press gangs. 53 MASEFIELD, John. Sea life in Nelson’s time. 3a ed. Annapolis: USNI, 1971, p. 26. 54 Idem. 55 Ibidem, p. 27.

RMB4oT/2013 81 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen – (Parte II)

a bordo em um paraíso ou em um inferno. fato curioso é que os marinheiros não Vivia, dessa maneira, sozinho em suas aco- apreciavam capitães que fossem consi- modações espaçosas a bordo na popa, longe derados “bonzinhos demais”. Gostavam de seus marinheiros, inacessível e distante, de comandantes do tipo tarimbeiros e protegido sempre por um fuzileiro real que que fossem também gentlemen, justos e guardava a porta de seu camarote contra disciplinados, que conhecessem tanto as intrusos56. Almoçava e jantava sozinho com lides marinheiras como boas maneiras e seus pensamentos. Quando se dirigia ao etiqueta e que julgassem suas faltas com tombadilho, local apropriado para os oficiais isenção e imparcialidade58. Não apreciavam gentlemen ficarem, todos os demais tenentes tampouco capitães rígidos e cruéis, que não e midshipmen se dirigiam para bombordo, entendiam o mundo no qual vivia a guarni- afastados dele, em sinal de respeito. A ção de marinheiros. Nelson, por exemplo, ele ninguém poderia era muito querido e se dirigir, a não ser respeitado por seus ofi- para discutir assuntos ciais e marinheiros. Em de serviço. Nenhum certa ocasião, durante o marinheiro poderia fa- bloqueio naval ao porto lar com o capitão sem francês de Toulon, um estar descoberto, isto marinheiro o derrubou é, sem chapéu ou gor- acidentalmente com ro. Quando voltava de sua maca de dormir, uma conferência ou vi- fato que poderia levar sita protocolar, do por- a uma punição pelo to para o navio, ele era código disciplinar na- recebido com honras val. Ao ver Nelson ca- por um contramestre, ído, este marinheiro o que utilizava o apito ajudou a levantar-se, e um toque especial, constrangido, pronto com marinheiros for- para ser punido ou pelo mados57, tradição que menos repreendido. permanece até hoje em Capitão Sir Edward Pellew, futuro Primeiro Nelson, com humor e todas as Marinhas. Os Visconde de Exmouth, comandante de fragata que bom-senso, disse: “Me- oficiais e midshipmen alcançaria o almirantado posteriormente nino, não foi culpa sua, também o aguardavam mas minha. Eu deveria no portaló para os cumprimentos. Esta ceri- prestar mais atenção, em vez de ficar no mônia servia tanto para a chegada como para seu caminho”59. A tripulação adorou tal a partida do capitão. observação vinda de um herói nacional e Em viagem, ele não corria os quartos gentleman. de serviço e não interferia nas atividades O capitão, comandante de navio, que administrativas de bordo, deixando para visse sua embarcação incluída na lista de o primeiro-tenente essa supervisão. Um reserva e descomissionada da RN corria o

56 Uma das características fundamentais do gentleman. 57 Os chamados side boys. 58 Idem. 59 LAVERY, Brian. Life in Nelson´ Navy. op.cit. p. 24.

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sério risco de ficar em half pay até surgir para ultrapassar oficiais mais antigos na nova vaga em outro navio. Ele não rever- lista de capitães. No entanto, poderiam teria a comandante, mas permaneceria em ser abertas vagas de almirantes coloca- half pay até ser chamado para nova comis- dos em half pay por falta de comissões são pelo Almirantado. na atividade, criando-se, dessa forma, Até 1794, um capitão estava autoriza- novas vagas para promoção, sempre por do a ter quatro serventes para cada cem antiguidade. homens a bordo. Se ele fosse designado Um posto transitório acima de ca- para outro navio, poderia levar com ele pitão e anterior ao de contra-almirante não somente serventes, mas o patrão e era o de comodoro. Esse posto, ra- a guarnição de seu ramente preenchido, escaler, alguns su- não era permanente boficiais, seu secre- e era designado a um tário, seu comissário capitão comandante de de abastecimentos um grupo ou pequeno e alguns marinhei- esquadrão de navios, ros selecionados. Se quando não existiam fosse para um navio almirantes para assu- de 1a classe, poderia mir esses comandos. levar até 80 homens; Os comodoros eram de 2a classe, 65; de escolhidos na lista de 3a classe, 50; de 4a capitães pelo Almi- classe, 40; de 5a clas- rantado, e este posto se, 20; e de 6a classe, correspondia ao posto 10.60 de brigadeiro-general Sua promoção a no Exército britânico. contra-almirante, Sendo temporário, ao primeiro posto do terminar a missão ou Almirante Sir John Jervis, futuro Lorde e Primeiro almirantado, se da- Conde St. Vincent, vencedor da Batalha do Cabo de tarefa, o comodoro ria exclusivamente St. Vincent revertia ao posto de por antiguidade (ele capitão em sua antigui- dependia da promoção de oficiais mais dade na Navy List.61 Esse posto passou a antigos para que se abrissem as vagas ser permanente em 1806. correspondentes) ou por falecimento Os postos acima de capitão eram os de almirantes. Dessa maneira, ao ser de almirantes, designados pelo Almi- promovido, o capitão passava a ser o rantado. Normalmente os almirantes contra-almirante mais moderno da Navy comandavam divisões e esquadrões de List e iniciava a ascensão na longa escada navios que compunham as esquadras. hierárquica do Almirantado. Não existia Por serem promovidos automaticamente possibilidade de um capitão ser selecio- por sua antiguidade, eram homens com nado por influência política ou mesmo grande experiência em operações navais pela proteção de almirantes mais antigos e de grande conhecimento nas lides

60 MASEFIELD, op. cit. p. 26. 61 FREMONT-BARNES, Gregory. The Royal Navy 1793-1815. op. cit. p. 26.

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marinheiras, com diversos comandos de combate naval que ficou conhecido na navios de linha. O número de anos nos história naval como Batalha do Cabo São quais labutaram na RN os fazia, conhe- Vicente, com uma estrondosa vitória de cidos pela força. Caso fossem incapazes Jervis. Nelson, inclusive como como- de assumir funções de mando, o Almi- doro, teve uma participação destacada rantado os promovia a contra-almirantes nesse combate naval. Pela atuação de e imediatamente os colocava sem função Jervis nessa batalha, ele foi alçado ao em half pay, o que aumentava a flexibi- pariato, recebendo o título de Conde St. lidade da administração naval. Daqueles Vincent. Por suas qualidades de lideran- promovidos e designados para funções ça e desempenho profissional, Jervis foi de comando eram esperadas qualidades designado primeiro lorde do mar entre de liderança, experiência administrati- 1801 e 1804.62 va, conhecimento técnico-profissional, A partir das guerras anglo-holandesas perspicácia tática e estratégica e, a mais no século XVII, a RN foi dividida em importante, a percepção política para três esquadras, que receberam cores defender os interesses do Império quan- designativas. A esquadra mais antiga do afastados da Grã-Bretanha, agindo foi chamada de esquadra vermelha. A independentemente em uma época em seguinte, de esquadra branca, e a mais que as comunicações eram difíceis e moderna, de esquadra azul. Os almi- problemáticas. rantes dessas esquadras hasteavam seus Alguns almirantes assumiam funções pavilhões de cores nos topes dos mas- administrativas em terra, arsenais, bases tros de seus navios capitânias. Como as e colônias britânicas espalhadas ao re- esquadras eram divididas em divisões dor do globo. Existiam também funções comandadas por almirantes mais mo- específicas no Almirantado, geralmente dernos, as cores acompanhavam seus completadas por oficiais generais nos úl- chefes; assim, uma divisão da esquadra timos postos, em razão de suas conexões vermelha comandada por um contra- políticas e seus desempenhos profissio- almirante também tinha seu pavilhão de nais. Um exemplo clássico desse caso cor vermelha hasteado no mastro de seu foi o do Almirante Lorde John Jervis, navio capitânia. primeiro Conde St. Vincent. Em 1797, Existiam então três postos de oficiais- quando comandava uma divisão de na- generais. O mais moderno e primeiro vios, em frente às costas espanholas, com posto do almirantado era o de contra- a missão de impedir a saída de navios almirante63, seguido de vice-almirante64 franceses e espanhóis do Mediterrâneo e de almirante65, o posto mais antigo e para se agregarem aos navios franceses máximo da hierarquia. Assim, pode ser de Brest para a projetada invasão da Grã- percebido que existiam inicialmente nove Bretanha, Jervis interceptou uma divisão postos de oficial-general na RN, acrescida espanhola que se encontrava perto do de outro posto em 1805, na sequência a Cabo São Vincente. Irrompeu então um seguir determinada:

62 Ibidem, p. 47. 63 Em inglês, rear-admiral, ou almirante da divisão de ré da esquadra (rear division). 64 Em inglês, vice-admiral ou almirante da divisão de vante da esquadra (van division). 65 Em inglês, admiral ou almirante comandante da esquadra, normalmente localizado no centro.

84 RMB4oT/2013 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen – (Parte II)

Terminologia em português Terminologia em inglês Almirante de Esquadra Admiral of the Fleet Almirante da Esquadra Vermelha – a partir de 1805 Admiral of the Red Almirante da Esquadra Branca Admiral of the White Almirante da Esquadra Azul Admiral of the Blue Vice-Almirante da Esquadra Vermelha Vice-Admiral of the Red Vice-Almirante da Esquadra Branca Vice-Admiral of the White Vice-Almirante da Esquadra Azul Vice-Admiral of the Blue Contra-Almirante da Esquadra Vermelha Rear-Admiral of the Red Contra-Almirante da Esquadra Branca Rear-Admiral of the White Contra-Almirante da Esquadra Azul Rear-Admiral of the Blue

A escala hierárquica era longa a partir de sendo promovido por atos de heroísmo a contra-almirante, sempre por antiguidade. comandante nesse mesmo ano.66 Em 1819, Quando um almirante da Esquadra Ver- foi promovido a capitão; em 1851, a contra- melha ascendia a almirante de esquadra ou almirante; em 1857, a vice-almirante; em quando falecia, automaticamente abria-se 1863, a almirante, já contando com 72 uma vaga, e um almirante era promovido anos, sempre em atividade. Em 1877, foi por antiguidade a almirante da Esquadra promovido a almirante de esquadra, já com Vermelha, abrindo uma vaga de almirante quase 87 anos, em half pay naturalmente, da Esquadra Branca e assim por diante, se- pois a idade já pesava bastante. O mais in- guindo até o contra-almirante da Esquadra teressante é que Provo continuava na Navy Azul, que abria uma vaga para um capitão List como half pay, podendo ser chamado a ascender ao almirantado. Só existia um almi- qualquer momento pela RN. No seu centé- rante de esquadra na RN; os demais postos simo aniversário, Provo continuava lúcido, mantinham-se com os efetivos completos, escrevendo e lendo com facilidade, sendo conforme as necessidades em caso de guerra festejado não só na RN como em todo o e paz, utilizando-se o conhecido processo Reino Unido como um dos sobreviventes de half pay. Os almirantes mantinham-se do período de Nelson. Faleceu um ano sempre em atividade, e sua graduação era depois, com 101 anos de idade, tendo sido mantida até o seu falecimento. um dos últimos almirantes de esquadra do Um caso excepcional de longevidade na período a vela na RN.67 RN foi o do Almirante de Esquadra Provo As responsabilidades de um almirante Wallis. Nascido em 1791, Provo entrou em comando no mar eram grandes. Ele para a RN em 1800, com apenas nove anos era responsável pela sua divisão de navios de idade, como um jovem midshipman e por guiá-los com eficiência em combate, e gentleman. Em 1813, ele era tenente, procurando sempre destruir o adversário.68

66 Durante uma ação na Guerra de 1812 contra os EUA. 67 LEWIS, op. cit. p.184. 68 Foi exatamente nesse aspecto que o Almirante Sir John Byng falhou, sendo levado a corte marcial e a posterior fuzilamento (ver RMB do 3o trimestre – 2a parte).

RMB4oT/2013 85 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen – (Parte II)

Era esperado também que ele tivesse ca- As acomodações dos almirantes a bordo pacidade de representar diplomaticamente de seus navios capitânias ficavam na popa, a Grã-Bretanha, principalmente em locais constando de uma cabine de trabalho com onde inexistiam embaixadores ou cônsules varanda, um camarote de dormir com sani- britânicos. Como o sistema lidava com tários próprios e uma cabine de refeições, capitães que reconhecidamente estavam atendidas por serventes, cozinheiros, se- despreparados para assumir uma função de cretário e auxiliares. Os almirantes tinham mando como contra-almirante da Esquadra sempre, assim como o comandante do Azul? navio, um fuzileiro real zelando por sua Em razão da rigidez hierárquica, o Almi- segurança. Em navios de 1a classe, nor- rantado não poderia preteri-lo na promoção, malmente as acomodações do almirante uma vez que a antiguidade era o critério ficavam no convés abaixo do comandante no avanço profissional, no entanto poderia e acima da praça-d’armas dos oficiais.71 promovê-lo a contra-almirante da Esquadra O que se esperava de um almirante Azul e colocá-lo em half pay, aguardando durante o combate? Primeiro, que agisse futura comissão69. Ao mesmo tempo, se como gentleman, defendendo sua honra, o sistema desejasse promover um capitão sua dignidade e a Grã-Bretanha. Segun- mais moderno na Navy List, ele promoveria do, que se posicionasse no tombadilho os capitães mais antigos e os colocaria em próximo do comandante para que fosse half pay, permitindo a promoção desse visto por todos os marinheiros, exposto oficial a contra-almirante da Esquadra a todos os perigos do combate. Por essa Azul. Esse expediente foi utilizado pelo postura, Nelson acabou sendo localizado Almirantado para promover Nelson a por um atirador francês durante a Batalha contra-almirante. O sistema de esquadrões de Trafalgar e alvejado mortalmente. Em por cores subsistiu na RN até 1864, quando terceiro, era fundamental que o almirante foi descontinuado e a bandeira de cor bran- mantivesse frieza na ação, de modo que a ca adotada para todos os navios de guerra. eficiência e o moral fossem mantidos em A cor vermelha denotou, a partir daquele combate. Em quarto lugar, era primordial instante, os navios da Marinha Mercante.70 que o almirante não demonstrasse nenhuma Apesar de as promoções serem por hesitação, temor ou preocupação. E, por antiguidade, existia o patronato de alguns fim, esperava-se que tomasse as decisões almirantes com capitães promissores, o que táticas com critério e objetividade, sendo para o sistema não era uma atividade danosa, que o mais importante era a vitória. Se ele pois os capitães eficientes eram logo percebi- procedesse conforme o apontado e não dos pelos seus chefes imediatos, almirantes, obtivesse a vitória, esperava-se que ele pelo que queriam promovê-los e engajá-los como menos salvasse o maior número de navios seus assistentes, comandantes de divisão, subordinados a ele e apoiasse aqueles com a certeza de que contariam com almi- avariados, impedindo a sua captura pelo rantes leais e competentes. inimigo72. Porém nada substituía a vitória.

69 Pejorativamente, esse almirante era chamado de contra-almirante da Esquadra Amarela ou almirante amarelo. Fonte: LAVERY, Brian. Nelson’s Navy. op. cit. p. 99. 70 HICKOX, op. cit. p. 28. 71 No caso de navios de 1a classe, como o HMS Victory. Fonte: LONGRIDGE, Nepean. The anatomy of Nelson’s ships. Hertfordshire: Model and Allied Publishing, 1977, p. 20. 72 FREMONT-BARNES, Gregory. Nelson’s Officers and Midshipmen. op. cit. p. 57.

86 RMB4oT/2013 A MARINHA REAL BRITÂNICA NO TEMPO DE HORATIO NELSON: Officers and gentlemen – (Parte II)

Um exemplo típico de como deveria cuja mente estava absorvida com tantas se comportar um gentleman almirante é coisas importantes poderia, com a maior descrito por William Smith, de 21 anos calma e equanimidade, perguntar gen- de idade, servente do Almirante Cuthbert tilmente como eu estava me sentindo e Collingwood, segundo no comando de Lord falar de assuntos comuns como se nada Nelson durante a Batalha de Trafalgar. importante estivesse acontecendo.73 Smith afirmou que Collingwood falava calmamente durante a fase mais árdua do A RN esperava exatamente esse tipo de combate, dizendo: reação de um officer and gentleman almi- rante da força durante o combate. Em nenhuma ocasião pude observar Em próxima edição da Revista Maríti- uma pequena mudança de sua maneira ma Brasileira, serão discutidas a carreira de proceder usual. Isso me impressionou e a vida das praças que compunham as tanto que não se apagará de minha men- tripulações dos navios da Royal Navy no te. Eu me pergunto como uma pessoa século XVIII.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História da Marinha da Inglaterra; História marítima; Nelson, Horatio;

73 Ibidem, p. 56.

RMB4oT/2013 87 FALHAS ORGANIZACIONAIS EM ANÁLISE DE ACIDENTES: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO COSTA CONCORDIA

“O elemento humano é novamente a causa primária do acidente do Costa Concordia, tanto em sua primeira fase, caracterizada por uma atitude não convencional do comandante, que pro- vocou a colisão do navio em uma rocha, quanto pelo gerenciamento das fainas de emergência que se seguiram.” Ministério de Infraestrutura e Transportes da Itália Relatório final do acidente doCosta Concordia

“O erro humano não é a causa de um acidente, mas o efeito ou sintoma de um problema mais profundo. O erro humano não é aleatório, mas conectado ao sistema organizacional. O erro humano não deve ser a conclusão de uma investigação, mas um ponto de partida.” Sidney Dekker, autor do livro The field guide to human error investigations

LUIZ OCTÁVIO GAVIÃO* Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN) GILSON BRITO ALVES LIMA** Professor Doutor

SUMÁRIO

Introdução Revisão da literatura A abordagem sistêmica em análise de acidentes Os fatores organizacionais em um acidente Metodologia Análise dos resultados Síntese do acidente Fatores organizacionais do caso Costa Concordia Falhas latentes da “atitude não convencional” do comandante Falhas latentes do gerenciamento das fainas de emergência Considerações finais

INTRODUÇÃO vitimando fatalmente 190 passageiros. O marinheiro responsável por fechar as m 1987, o ferry-boat Herald of Free portas-estanque da proa, após concluir o EEnterprise naufragou logo após sus- embarque dos veículos dos passageiros, pender do porto de Zeebrugge, na Bélgica, estava dormindo em sua coberta; seu

* Aluno do Mestrado em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense (UFF). ** Professor associado da Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduação e Mestrado em Engenharia Civil e Doutorado em Engenharia de Produção, com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. FALHAS ORGANIZACIONAIS EM ANÁLISE DE ACIDENTES: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO COSTA CONCORDIA

supervisor imediato observou à distância acidentes, e suas equipes de passadiço não um tripulante próximo à proa e supôs que se obstaram a uma série de erros cometidos era o subordinado cumprindo sua tarefa, por seus comandantes. Ambas as comissões sem verificar fisicamente o fechamento do de investigação atribuíram ao erro humano convés-doca. Logo após desatracar, o ferry- a causa direta dos acidentes e abordaram de boat teve sua flutuabilidade comprometida forma superficial as eventuais falhas orga- com a entrada de excessivo volume de água nizacionais nesses eventos (HINRICHS, (SHEEN, 1987). HOLLNAGEL, BALDAUF, 2012). A companhia responsável pelo navio De maneira geral, as investigações de concluiu que o erro humano era a causa segurança se concentram no erro humano, do naufrágio. No entanto, o julgamento cometido pelos operadores envolvidos da comissão de investigação do acidente, diretamente no acidente. Raras são as in- embora confirmando os erros da tripulação, vestigações verdadeiramente sistêmicas, indicou que existiam outras causas sublimi- que buscam compreender o acidente como nares. Dentre outros aspectos, a companhia resultante de um conjunto de falhas que recusara várias solicitações do comandante decorrem dos diferentes níveis de uma para instalar sensores nas portas-estanque, organização. Llory (1999) ressalta que a admitia com frequência a sobrecarga na consequência disso é uma certa uniformida- embarcação e estipulava regime intenso de das análises de acidentes, que finalmente de trabalho, cuja demanda por horas extras recaem sobre a falha do operador no “fim de serviço atingira o próprio marinheiro de linha” e apresentam as clássicas reco- culpado pela companhia. Assim, segundo mendações de melhoria das interfaces, do Sheen (1987), chefe da comissão de inves- treinamento do pessoal e reavaliação das tigação, a companhia também se encontrava, normas com a finalidade de restringir e “em todos os níveis hierárquicos, infectada controlar a atividade do “ponto frágil” do pela doença do sono”. Essa conclusão do sistema. Para o autor, isso expõe um mo- relatório oficial representava um ponto de delo de análise incompleto e padronizado, inflexão na análise de acidentes marítimos, que pouco contribui para a prevenção de demonstrando que a segurança no mar ia novos acidentes. além do erro humano, pois também sofria Segundo Dekker (2002), essa tendência severa influência de fatores organizacionais. de atribuir ao erro humano a principal fonte Cem anos após o naufrágio do Titanic, de culpa dos acidentes alimenta uma cultura as trágicas coincidências com o acidente organizacional focada no lampiste.1 O autor do Costa Concordia não se limitaram aos denomina esse comportamento de “teoria fatos, mas também às conclusões em seus da maçã podre” e relaciona diversas causas relatórios finais. Os navios representavam para sua ocorrência. Dentre outros fatores, o estado da arte de suas companhias, coli- Dekker (2002) destaca a pressão política diram contra objetos submersos (iceberg sobre os investigadores de acidentes contra e uma rocha), navegavam sob visibilidade o envolvimento de outros níveis da organi- restrita, seus comandantes eram reconhe- zação, as limitações de conhecimento dos cidamente experientes, sem histórico de investigadores sobre a abordagem sistêmica

1 Lampiste é o auxiliar de eletricista a quem normalmente se atribui, na França, a responsabilidade por todo e qualquer malfeito ou acidente, o “bode expiatório”. Nota de Alda Porto, tradutora do livro Acidentes indus- triais: o custo do silêncio, de Michel Llory.

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e as restrições de tempo e recursos para manos que envolvem um acidente (IMO uma investigação abrangente e detalhada. 1997, 2000). Segundo Grech, Horberry e Koester (2008), A relevância da abordagem sistêmica se essa cultura da culpa atinge especialmente a estende além das recomendações da IMO. atividade marítima, pois os comandantes de De fato, uma análise sistêmica de elevada navio são, em última análise, responsáveis qualidade permite diagnosticar as falhas da pelos destinos de seu navio, de sua carga organização como um todo e, dessa forma, e do pessoal a bordo. Além disso, esses contribuir para implementar barreiras efeti- autores ressaltam que acidentes de grave vas à prevenção de novos acidentes. Para as repercussão na mídia influenciam as orga- diversas especialidades da engenharia, o es- nizações e a própria opinião pública para a tudo dos acidentes industriais ganha maior rápida busca por culpados. Esses aspectos visibilidade em 1931 com o livro de Herbert comprometem a visão sistêmica dos inves- Heinrich Industrial Accident Prevention: tigadores, e seus relatórios terminam por a safety management approach. Des- atribuir a culpa a um de então, a academia “bode expiatório”. tem contribuído para a Ao final da década A cultura da culpa evolução da segurança de 1990, a Organiza- do trabalho. Para o ção Marítima Interna- atinge especialmente a profissional do mar, o cional (IMO) identifi- atividade marítima, pois assunto pode ser útil cou essas dificuldades aos investigadores de e disseminou orienta- os comandantes de navio acidentes marítimos, ções específicas para a são, em última análise, por abordar referên- melhoria da análise de responsáveis pelos destinos cias sobre múltiplas acidentes marítimos, áreas do conhecimento, por meio da aborda- de seu navio, de sua carga e que complementam gem sistêmica. Em do pessoal a bordo os conceitos descritos 1997, a Resolução 849 nas Normas da Auto- publicou o Código de ridade Marítima no 09 Investigação de Acidentes, que reconhecia (Normam-09), que regulam a Investigação a importância de identificar não somente de Segurança dos Acidentes e Incidentes as causas diretas de um acidente, mas Marítimos (Isaim) e o Inquérito Adminis- também as causas indiretas, enfatizando a trativo sobre Acidentes e Fatos da Nave- busca de fatores contribuintes do sistema e gação (IAFN).2 a elaboração de recomendações sem atri- Nesse sentido, este artigo busca aten- buir culpa ou responsabilidades. Em 2000, der a duas finalidades: primeiramente, a Resolução 884 disseminava emendas à compreender o significado da abordagem resolução anterior, introduzindo práticas sistêmica em análise de acidentes, confor- à investigação sistêmica dos fatores hu- me recomenda a IMO, e, secundariamente,

2 No caso dos acidentes marítimos, a mesma ocorrência normalmente é submetida a uma investigação de segurança e a um inquérito administrativo, produzindo seus respectivos relatórios. Enquanto a investigação de segurança, de conhecimento público, visa contribuir para a prevenção de acidentes e de incidentes marítimos no futuro, o inquérito administrativo, de natureza sigilosa, tem por finalidade tramitar processos cíveis, criminais e administrativos a serem dirigidos aos tribunais marítimos, para o julgamento dos responsáveis e aplicação das respectivas penas. Este artigo abordará exclusivamente a investigação de segurança.

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identificar quais falhas organizacionais mica na análise de acidentes marítimos. Se- podem estar associadas em um acidente. O gundo as Resoluções 849 e 884, as causas artigo segue a estrutura padrão da acade- imediatas dos acidentes são as mais visíveis mia: o problema abordado na introdução; e identificáveis, porém existem condicio- a revisão da literatura, com as principais nantes latentes, denominadas underlying teorias relacionadas à análise de acidentes; conditions, que completam o processo de a metodologia utilizada para a pesquisa; e, análise do acidente. Essas causas latentes por fim, a análise dos resultados, obtida podem se referir aos setores mais diversos com a aplicação da metodologia ao caso do do sistema ou do meio ambiente, respon- naufrágio do Costa Concordia, para verifi- sáveis por erros ou omissões, existentes car as falhas organizacionais associadas às até mesmo em períodos significativamente falhas diretas desse acidente. anteriores ao acidente (IMO 1997, 2000). O artigo apresenta as limitações óbvias Embora seja possível identificar conceitos de concisão de um tema amplo em algumas da teoria sistêmica em passado distante, o his- páginas. A teoria de análise de acidentes tórico recente de maior relevância dessa teoria é vasta, envolvendo diversos modelos e nos remete aos estudos do biólogo Ludwig assuntos de natureza interdisciplinar. A von Bertalanffy, a partir de sua obra Teoria análise de acidentes envolve conhecimento Geral dos Sistemas. Suas pesquisas sobre o das interações complexas entre o ser huma- comportamento dos organismos vivos se es- no, a tecnologia e os processos organiza- tendeu aos campos científico e social, em que cionais. Isso requer o “organismos” humanos apoio de especialistas formavam um conjunto em múltiplas áreas A análise de acidentes de partes interagentes e do conhecimento, da interdependentes para engenharia à socio- envolve conhecimento a busca de um objeti- logia, do administra- das interações complexas vo comum. Bertalan- dor ao profissional do ffy (1969) ressalta que mar. Por outro lado, a entre o ser humano, a compreender o com- abordagem sistêmica tecnologia e os processos portamento das diversas envolve um conceito organizacionais partes do sistema requer generalista, pois, nor- uma abordagem gene- malmente, a soma das ralista, interdisciplinar. partes do problema A abordagem sistê- não reflete a dinâmica do todo. Assim, este mica em análise de acidentes ganha ênfase artigo priorizou o estudo dos fatores orga- nas obras de James Reason (1997). Na nizacionais que influenciam indiretamente década de 1990, esse autor deixa relevante os acidentes marítimos. legado ao aperfeiçoar sua teoria sistêmica em Managing the risks of organizational REVISÃO DA LITERATURA accidents. A comunidade científica cunhou sua teoria como Swiss Cheese Model – A abordagem sistêmica em análise de SCM, por caracterizar o acidente como acidentes resultante de um alinhamento de erros, omissões e circunstâncias especiais (ou Ao final da década de 1990, a IMO mesmo rotineiras), agravadas por falhas ou destacou a importância da abordagem sistê- ausência de barreiras (defesas do sistema),

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FIGURA 1: Modelo SCM. Fonte: adaptado de FIGURA 2: Modelo de acidentes organizacionais. REASON (1997) Fonte: adaptado de REASON (1997)

similares aos “furos” de um queijo suíço. Os fatores organizacionais em um Interessante salientar que as “fatias do acidente queijo suíco” do modelo de Reason incluem tanto fatores sistêmicos quanto do ambiente Em aperfeiçoamento ao modelo de externo. O sistema ideal de barreiras seria, Reason (1997), o Departamento de Defesa ainda, representado graficamente por lâ- dos Estados Unidos da América (EUA) minas inteiras, sem “furos” nas fatias que desenvolveu uma taxonomia das falhas simbolizam as defesas em profundidade do latentes e diretas para cada componente sistema (figura 1). do sistema em acidentes aéreos. De fato, O mérito do mode- o modelo DoD adap- lo de Reason (1997) A gestão de recursos tou o modelo original reside na necessidade de Wiegmann e Sha- de o analista consi- envolve as decisões da ppell (2000), que era derar uma “cadeia” alta administração da denominado Human de falhas latentes que Factor Analysis and contribuem para as organização e dos demais Classification System falhas ativas de um órgãos reguladores em – HFACS. Embora a te- acidente. As falhas relação aos recursos oria seja originalmente latentes são profun- aplicada na análise de das no sistema, re- humanos e materiais, acidentes aéreos, seus querem perspicácia financeiros e informacionais conceitos são adaptá- dos analistas e podem veis ao ambiente marí- conviver durante con- timo (DOD, 2005). siderável período de tempo, até mesmo O mérito do modelo DoD-HFACS é de forma rotineira, sem a ocorrência de facilitar a classificação das causas dos acidentes. A figura 2 representa na base os acidentes entre os diversos níveis que en- fatores organizacionais como as condições volvem os operadores (falhas diretas) e os latentes mais profundas e distantes das supervisores/gestores (falhas latentes). No causas diretas dos acidentes e, de igual que se refere aos fatores organizacionais, forma, o final da investigação. o modelo estabelece a seguinte definição

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das causas de acidentes desse nível hierár- cargueiro Swanland afundou, após 34 anos quico: “comunicações, ações, omissões ou de serviço, por danos estruturais ao casco por políticas dos níveis mais elevados de gestão falta de manutenção. O casco se encontrava que, direta ou indiretamente, interferem nas com elevado grau de corrosão, e a compa- práticas de supervisão, condições ou ações nhia não realizou as devidas inspeções e dos operadores que resultam em falhas do manutenção nos últimos anos de serviço sistema, erro humano do navio. É interessante ou situação insegu- acrescentar que o relató- ra”. O DoD-HFACS Diversos acidentes rio do Marine Accident subdivide os fatores Investigation Branch, organizacionais em marítimos também estão do Reino Unido, critica três categorias: a ges- relacionados à manutenção a IMO por sua atitude tão dos recursos, o em relação aos navios clima organizacional e dos meios que se encontravam em a gestão de processos estado de conservação (DOD, 2005). similar ao do Swanland (TSB, 1999 e MAIB A gestão de recursos envolve as decisões 2013). O relatório assim descreve: da alta administração da organização e dos Swanland é um dos 248 cargueiros que demais órgãos reguladores em relação aos afundaram desde 2002, com a perda de recursos humanos e materiais, financei- 800 marinheiros; 226 desses navios pos- ros e informacionais. Nesse campo estão suíam 15 anos de serviço ou mais, 139 incluídos o recrutamento, a seleção, o dos quais com mais de 27 anos. As pre- treinamento e o suporte à saúde dos recur- ocupações com a segurança e a elevada sos humanos, entre outros, assim como a incidência de vítimas em navios similares política de distribuição de recursos finan- têm sido repetidamente transmitidas à ceiros, o apoio de meios ao planejamento IMO. Entretanto, o progresso em re- das operações, a qualidade dos meios de solver esse problema é lento. Espera-se controle de tráfego e apoio de terra (portos que a perda do Swanland e de seus seis e aeroportos). Também estão incluídas tripulantes seja um catalizador para que a política de manutenção do material, a a IMO se envolva efetivamente com a renovação do inventário depreciado por segurança desses cargueiros. maquinário mais moderno e atualização de sistemas diversos. Nesse contexto, as novas O clima organizacional influencia as tecnologias devem ser bem avaliadas antes atitudes e os comportamentos no trabalho. de sua implementação, pois um moderno Segundo Helmreich e Merritt (2004), de design ou sistema pode trazer uma gama de forma similar à aviação comercial, o ambiente riscos ainda não visualizados às operações. de trabalho da indústria marítima sofre a in- Diversos acidentes marítimos também fluência de três tipos de cultura: a nacional, estão relacionados à manutenção dos meios. a profissional e a organizacional. É possível Em 1999, o Porta-Contêiner Canmar Spirit identificar diversas nacionalidades a bordo navegava rumo ao porto de Montreal, Cana- dos navios mercantes. O navio Costa Concor- dá, e sofreu diversas avarias nas máquinas dia, por exemplo, empregava profissionais de por falhas de manutenção preventiva, cau- 38 nacionalidades. O timoneiro desse navio sando a explosão de um compressor de ar era cidadão indonésio, e sua incompreensão que vitimou o operador local. Em 2011, o do idioma de trabalho da Costa Cruzeiros, o

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italiano, indicava ao comandante o uso do Por fim, o ambiente de trabalho ma- idioma inglês, que tampouco o timoneiro rítimo também é afetado pela cultura or- dominava com proficiência. Isso chama a ganizacional. As empresas desenvolvem atenção para o impacto da nacionalidade normas, valores e crenças que se refletem sobre a comunicação interna e o trabalho de em estratégias, atitudes e formas de ges- equipe, devido à diferente percepção que a tão. Esses aspectos também influenciam cultura nacional molda no comportamento a comunicação interpessoal, o trabalho de humano por gerações (MIT, 2012). equipe e o treinamento. Em resumo, a soma A cultura do profissional do mar remon- das influências nacionais, profissionais e ta à antiguidade e guarda características organizacionais é decisiva sobre o compor- peculiares. O navio é simultaneamente tamento do profissional do mar, requerendo ambiente de trabalho e lar do marinheiro. considerável atenção e treinamento para As operações exigem que essas diferenças o confinamento ao não comprometam a se- navio por significati- A cultura do profissional gurança das operações. vo período de tempo, do mar remonta à O clima organiza- comprometendo o re- cional, assim resultante lacionamento social e antiguidade e guarda das culturas nacional, familiar. Atualmente, características peculiares. profissional e organi- as operações maríti- O navio é simultaneamente zacional, contribui para mas estão otimizadas a cultura de segurança para reduzir custos e ambiente de trabalho da empresa. Embora períodos de perma- e lar do marinheiro. seja um conceito de nência nos portos, di- difícil definição, Gre- ficultando o descanso As operações exigem o ch, Horberry e Koester das tripulações em ter- confinamento ao navio por (2008) consideram que ra. As tarefas a bordo significativo período de a cultura de segurança são exigentes tanto é uma característica física quanto emocio- tempo, comprometendo do sistema que insiste nalmente, sendo, na o relacionamento social e em operações livres de maioria das vezes, re- acidentes e não aceita alizadas sob condições familiar correr riscos significa- meteorológicas e de tivos em seus diversos mar adversas. Segundo Grech, Horberry níveis. Uma verdadeira cultura de segu- e Koester (2008), essas dificuldades mol- rança se traduz em reduzido número de daram ao longo dos séculos um comporta- acidentes ao indivíduo, ao navio e ao meio mento hierarquizado a bordo, conferindo ao ambiente, embora a recíproca não seja comandante elevado poder disciplinador, verdadeira. Esses autores destacam que o que pode, de certa forma, comprometer a relatório do acidente do navio Herald of comunicação aberta dos níveis hierárquicos Free Enterprise, já citado, aborda em deta- inferiores sobre eventuais riscos e procedi- lhes as deficiências na cultura de segurança mentos inseguros.3 da empresa.

3 No Brasil, o poder do comandante de uma embarcação (mercante), excetuando-se, assim, os navios da Marinha do Brasil, está formalmente descrito nos Art. 8o, 9o e 10o da Lei no 9.537, de 11 de dezembro de 1997, que dispõe sobre a segurança do tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional.

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De fato, implementar uma cultura de culpados, e isso decorre basicamente do segurança eficiente requer elevado compro- apoio explícito da mais alta gestão da em- metimento da organização, pois dela depen- presa, pois, os operadores, se não tiverem de sua implementação e a responsabilidade a certeza desse comprometimento dos seus pela segurança no mar. Esse aspecto está chefes, tenderão a perpetuar os erros até à evidenciado na Convenção Internacional ocorrência de grave acidente; para a Segurança da Vida no Mar (Solas) e – a prioridade da segurança, pois o no International Safety Management Code sucesso da cultura de segurança depende (ISM). Em 2003, o Comitê de Segurança do grau com que as decisões e a alocação Marítima da IMO publicou uma série de ca- dos recursos são pautadas em sua causa; racterísticas recomendadas para estimular a – o relacionamento chefe-subordinado cultura de segurança no mar, que incluem: e a satisfação no trabalho, pois um bom – a participação dos stakeholders na relacionamento no trabalho estimulará uma identificação, análise e gestão dos riscos; cultura proativa de segurança, facilitando a estes devem ter voz ativa nos diversos compreensão das decisões, sua implemen- órgãos e esferas de decisão para que pos- tação e a confiança de que tais medidas são sam contribuir com as medidas efetivas de benéficas à empresa e ao operador; e redução de riscos; – o treinamento, o elemento que agrega – o comprometimento e a visibilidade competência à execução dos procedimen- (identificação clara) daqueles que tomam tos, juntamente com a atenção e a com- as decisões que impactam na segurança da preensão das atividades executadas (IMO, atividade do mar; 1993, 2003, 2010). – a relação entre produtividade e A gestão de processos abrange o conjunto segurança, indicando que a busca pela qua- de normas, regulamentos, mapas de proces- lidade na segurança também reduz custos, sos e manuais de procedimentos em geral com a diminuição do número de acidentes; que envolvem as operações da empresa. – a construção de um ambiente de Processos bem elaborados e mal executados confiança, pois pensar em segurança por podem comprometer a segurança da organi- meio de mais regulamentos e auditorias zação. Ao contrário, check-lists incompletos conduz a empresa a uma cultura de obe- ou “descolados” da realidade e da dinâmica diência, ao invés de fomentar o comporta- das tarefas são rapidamente descartados mento responsável; pelos operadores, conferindo elevado grau – o compartilhamento de percepções, de liberdade, que agrava os riscos previstos pois aqueles que gerenciam a segurança pelos engenheiros e analistas de sistemas. devem ter a mesma percepção do risco Llory (1999) descreve que esses desvios na dos operadores expostos a ele, para que as execução das tarefas colocam em evidência barreiras sejam efetivas; a distância entre o trabalho prescrito e o tra- – a comunicação, para incentivar que as balho real. Nesse contexto, o autor enfatiza boas práticas sejam disseminadas e que as que a investigação do acidente deve incluir o intenções relacionadas à segurança sejam ponto de vista dos operadores, pois somente explícitas a toda organização; suas versões ou testemunhos permitem – o aprendizado organizacional, que identificar eventuais vulnerabilidades em envolve tanto a prática de buscar lições processos considerados “seguros”. aprendidas de acidentes do passado quan- Esse aspecto esteve evidente por ocasião to desestimular uma cultura de busca por do acidente nuclear na usina de Three Miles

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Island, na Pensilvânia-EUA, em 1979. So- pelos operadores de “fim de linha”, em mente 15 anos depois, um operador da sala detrimento da influência organizacional sob de controle da usina expôs a perspectiva dos a forma de falhas latentes, que por vezes operadores no momento do acidente, em um antecedem os acidentes por considerável congresso sobre o tema, contrastando com período de tempo. Para a análise dos resul- as análises clássicas. Em síntese, o operador tados, os autores selecionaram o acidente apresentou uma série de diferenças de per- do navio Costa Concordia, tendo em vista cepção entre aqueles que elaboram e os que a repercussão do naufrágio, em decorrência executam os processos de segurança, pois as das circunstâncias e da trágica coincidência especificações técnicas existentes na sala de de fatos com o acidente do Titanic, a pou- controle indicavam o oposto do necessário cos meses do centenário deste último. Por para controlar a emergência. Além disso, necessidade de concisão do texto, optou-se os indicadores (painéis de alarme, registros, pela análise da causa primária do acidente, computadores e impressoras) eram ergono- conforme descrito anteriormente. micamente dispersos para lidar com uma Em relação aos procedimentos técnicos situação que se deteriorava rapidamente. utilizados, a pesquisa se classifica como A influência organizacional no acidente é “bibliográfica”. Ela se desenvolveu com surpreendente nas palavras de Llory (1999), base em livros, relatórios e artigos científi- que descreve que o erro do procedimento cos, descritos ao final do artigo. As fontes causador do acidente era conhecido pelos primárias dos modelos de abordagem sistê- especialistas e pelos responsáveis pela con- mica de acidentes foram os livros e artigos cepção dos procedimentos, visto que uma científicos dos próprios autores citados, e as nova versão destes estava em processo de fontes primárias dos acidentes foram os rela- difusão, mas as dificuldades administrativas tórios oficiais das comissões de investigação, haviam retardado ou impedido sua disse- disponíveis nos portais de internet desses minação nas centrais nucleares. Segundo órgãos. Com a finalidade de contribuir para Llory, “a nova versão estava pronta havia novas pesquisas, seguem abaixo os portais meses, mas quis a ironia que cinco ou seis de internet dos principais órgãos divulga- dias depois do acidente a central recebesse dores de relatórios de acidentes marítimos: o procedimento-guia”. – Austrália: Australian Transport Safety Bureau (www.atsb.gov.au); METODOLOGIA – Brasil: Diretoria de Portos e Costas da Marinha (www.dpc.mar.mil.br); A metodologia de pesquisa será descrita – Canadá: Transportation Safety Board com base na classificação proposta por Gil of Canada (www.tsb.gc.ca/eng/); (2002). Em relação à finalidade principal – Dinamarca: Danish Maritime Accident desse artigo, a pesquisa se classifica como Investigation Board (www.dmaib.com); “exploratória”. Essa pesquisa busca maior – EUA: National Transportation Safety familiaridade com o significado e a rele- Board (www.ntsb.gov); vância da abordagem sistêmica em análise The Nautical Institute Marine Acci- de acidentes. A pesquisa permitiu aprimorar dent Reporting Scheme – MARS (www. conhecimentos e revelar como os relatórios nautinst.org/en/forums/mars/index.cfn); e finais de acidentes tendem a explorar com U.S. Coast Guard Casualty Reports maior profundidade os erros diretos, respon- (https://homeport.uscg.mil/marineca- sáveis primários pelos acidentes e cometidos sualtyreports);

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– Reino Unido: Marine Accident Inves- Civitavecchia e Savona, quando colidiu a 16 tigation Branch (www.maib.gov.uk); nós com a Ilhota Le Scole, adjacente à Ilha de – Suécia: Swedish Accident Investiga- Giglio, às 21h45m07s. O navio transportava tion Board (www.havkom.se); 3.206 passageiros e 1.023 tripulantes. O rela- – Nova Zelândia: Maritime New Zea- tório final indica que, no momento do aciden- land (www.msa.govt.nz); e te, o estado do mar era 4, com ventos E-NE Transportation Accident Investigation de 17 nós, visibilidade restrita e tempo par- Commission (www.taic.org.nz). cialmente nublado. A colisão provocou uma A revisão da literatura identificou o refe- abertura no casco de 53 metros na carena, na rencial teórico para a análise dos fatores or- altura de cinco compartimentos estanques que ganizacionais que interferem nos acidentes. abrigavam o sistema de geração de energia Foram relacionadas e delineadas suas três de bordo, que alimentava os equipamentos categorias: a gestão dos recursos, o clima de governo e propulsão. O navio sofreu uma organizacional e a gestão de processos. A queda geral de energia (black-out) e perdeu partir de uma abordagem qualitativa desses máquinas, e o leme travou com máxima incli- componentes sobre o relatório final do caso nação a boreste. O navio manteve segmento, Costa Concordia, os autores buscaram iden- à medida que perdia velocidade, e se tornou tificar e analisar os fatores organizacionais vulnerável às condições de mar e vento. Por do acidente, relacionados no tópico a seguir. fim, encalhou na Ilha de Giglio por volta das 23 horas, adquirindo banda inicial de 15 ANÁLISE DOS RESULTADOS graus, posteriormente 40 graus, e já durante as operações de resgate atingiu inclinação Síntese do acidente final de 80 graus. O acidente causou a morte de 32 pessoas, feriu 157 e provocou a perda Em 13 de janeiro de 2012, o navio de total do navio. A figura 3 ilustra os itinerá- passageiros Costa Concordia realizava o rios de viagem e do momento do acidente trecho final de sua viagem, entre os portos de (MIT, 2012).

FIGURA 3: Itinerários de viagem e do acidente. Fonte: adaptado de LIETO (2012)

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Fatores organizacionais do caso Costa na gestão de recursos. Respectivamente, Concórdia por que o interesse comercial da compa- nhia em navegar próximo à costa não era O relatório final é detalhado no que diz formalmente regulado na gestão de pro- respeito aos erros diretos que culminaram cessos da empresa e/ou pela Autoridade no acidente, porém superficial nas pesquisa Marítima italiana? Como o clima organi- das influências organizacionais, oriundas zacional poderia contribuir para que uma de decisões da Costa Cruzeiros ou mesmo decisão imprudente do comandante fosse de instâncias superiores. Os erros diretos passivamente executada por sua equipe são minuciosamente analisados a partir dos de passadiço? De que forma a gestão de dados do Voyage Data Recorder (VDR) do recursos humanos da empresa interferiu Costa Concordia, replicados em simula- no acidente? ções e análises no navio Costa Favolosa, O segundo grupo de erros, decorrente da mesma classe (MIT, 2012). das dificuldades de controle de avarias e da O relatório destaca que o navio se en- faina de abandono do navio, encontra falhas contrava em pleno atendimento do Solas e latentes relacionadas à gestão de recur- dos demais requisitos sos e também à gestão de segurança reco- de processos. Como o mendados pela IMO, O comandante foi design/projeto do na- ao partir de Civita- imprudente ao alterar o vio e os processos da vecchia na noite de 13 voyage plan, pois assumiu companhia poderiam de janeiro de 2013. comprometer o geren- No capítulo destinado um risco elevado e ciamento das fainas de às recomendações de desnecessário à segurança emergências a bordo? segurança, o relatório Como a companhia dis- apresenta uma série de do navio tribuiu seu pessoal para providências adotadas o serviço de bordo? pelo Estado de Bandeira e pela Costa Cru- zeiros logo após o acidente, que poderiam Falhas latentes da “atitude não ter servido de base para a análise das falhas convencional” do comandante organizacionais ao acidente com a mesma profundidade de detalhes. O comandante foi imprudente ao alterar Os diversos erros diretos analisados o voyage plan, pois assumiu um risco ele- no relatório final foram reunidos em dois vado e desnecessário à segurança do navio. grupos de erros cruciais: o primeiro, origem O planejamento originalmente apresentado dos demais erros em sequência, decorreu da no porto de Civitavecchia era diferente e decisão do comandante de alterar o rumo mais seguro que o implementado pelo co- planejado para o trecho Civitavecchia-Sa- mandante na noite de 13 de janeiro de 2013, vona, navegando sob condições inseguras, conforme a figura 4. O rumo tradicional o que o relatório denomina de “atitude não oferecia a segurança de aproximadamente convencional” do comandante. Consideran- cinco milhas náuticas da Ilha de Giglio. No do os fatores organizacionais descritos na entanto, o comandante assumiu um risco revisão da literatura, é possível relacionar considerável, pois uma guinada de quase esse erro crucial a deficiências na gestão 60 graus à distância de 0,5 milha náutica da de processos, no clima organizacional e Ilha de Giglio, sob visibilidade restrita, com

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vento e corrente desfavoráveis, dependia de turística”, evitando os indesejáveis custos minucioso planejamento, que de fato não à segurança, induziria a Costa Cruzeiros a ocorreu (LIETO, 2012). planejar, regulamentar e treinar seus opera- O risco cresce de forma direta ao pe- dores a executar com segurança esse proce- rigo e de forma indireta às barreiras para dimento. No entanto, a prática sem graves anulá-lo ou reduzi-lo. O perigo de navegar acidentes dessa prática informal e rotineira em águas restritas, próximo à costa nas talvez não tenha estimulado a companhia condições descritas e afastado da rota a normatizá-la, nem tampouco os órgãos tradicional ampliou a dimensão do perigo. reguladores da indústria de cruzeiros. E a Por outro lado, as falhas de planejamento companhia negou ter conhecimento sobre e a imperícia na execução dessa manobra essa prática histórica do inchino.4 não ofereceram as defesas necessárias para Em entrevistas após o acidente, Pier Lui- reduzir o risco. A seleção de um ponto de gi Foschi, presidente da Costa Cruzeiros, guinada adjacente à ilha, no alinhamento do culpou o comandante e negou que a com- rumo verdadeiro 278 graus, à velocidade panhia tivesse conhecimento desse tipo de de 16 nós, ampliava a responsabilidade procedimento. Sloan (2012) publicou uma da equipe de passadiço para realizar uma pesquisa junto às maiores operadoras de manobra próxima à perfeição para evitar a turismo marítimo sobre a prática do “sail- colisão (figura 4). by-salute”, sem respostas conclusivas sobre a responsabilidade organizacional desse procedimento. Essa declaração de Foschi não coincide com as viagens anteriores do próprio navio. De fato, o relatório final atesta que, em agosto de 2011, ocorreu uma passagem semelhante na Ilha de Giglio, porém diurna e sem acidentes (MIT, 2012). Da mesma forma, encontram-se disponí- veis na página de internet do periódico Gi- glio News (2012) as cartas tramitadas entre FIGURA 4: Alteração de rotas. Fonte: adaptado de o prefeito da Ilha de Giglio, Sergio Ortelli, LIETO (2012) e o Capitão Massimo Calisto Garbarino, O relatório final do acidente não apro- a respeito dessa passagem do Costa Con- fundou a eventual influência organizacional cordia próximo à ilha, no dia 14 de agosto sobre a “atitude não convencional” do de 2011. Interessante acrescentar que o comandante. Analisa-se, inicialmente, a prefeito de Giglio solicita transmitir os gestão de processos da empresa, especifi- agradecimentos à Costa Cruzeiros e men- camente sobre o conceito de “navegação ciona a influência de um residente ilustre turística” ou “sail-by-salute”, uma prática da ilha e personagem-chave para subsidiar usual e incentivada informalmente pelas a análise da “atitude não convencional” do companhias de navegação para tornar a Capitão Schettino: Mario Palombo. viagem mais aprazível aos clientes, nave- A carta deixa implícito o poder de influ- gando próximo à costa. Uma gestão de pro- ência de Mario Palombo para essa passa- cessos atenta ao benefício da “navegação gem do Costa Concordia próxima da ilha,

4 Termo sinônimo do “sail-by-salute”, descrito no artigo de Bento et al (2013), publicado na RMB.

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denominando-o, inclusive, de “histórico investigadores, capazes de analisar esses comandante” da Costa Cruzeiros. Lieto aspectos. (LLORY, 1999). (2012) descreve Palombo como mentor Sobre a passagem “sail-by-salute”, cabem de Schettino na companhia e destaca uma ainda algumas observações finais. A passa- parcela de seu depoimento em que Palombo gem ocorreria à noite, a partir das 21h40, em admite que, entre 2007 e 2011, realizara uma região costeira fracamente iluminada passagens semelhantes à do acidente, com e sob nebulosidade. Os castelos e casas lu- os navios Costa Pacifica e o próprio Costa xuosas da Ilha de Giglio não poderiam ser Concordia, ambos da Costa Cruzeiros. facilmente apreciadas de bordo, a 900 metros Essas evidências podem ser falhas la- da costa, nessas condições. Além disso, os tentes que contribuíram para o acidente. depoimentos à Justiça italiana esclarecem Uma análise da rotina da Costa Cruzeiros, que os passageiros não foram informados tanto das operações normais que realiza- dessa passagem por ocasião da partida de vam a “navegação turística” quanto de Civitavecchia, com o intuito de atender à uma informal “pressão” exercida sobre finalidade da “navegação turística”. Esses os comandantes para o atendimento das aspectos indicam que a decisão do coman- intenções da companhia, poderia ser inves- dante em alterar o plano de navegação pode tigada. O caso específico da influência de ter decorrido de motivações pessoais, talvez Mario Palombo e Massimo Garbarino sobre para atender às solicitações de autoridades, do Francesco Schettino seria uma evidência ex-comandante em terra e dos profissionais importante nesse sentido. Essa análise de hotelaria, presentes no passadiço (TRIBU- permitiria verificar a existência de uma NALE DI GROSSETO, 2012). política informal da companhia, ou mesmo Existe também outro ponto de vista sobre assumida pelos comandantes, para que o clima organizacional. Um dos aspectos as viagens fossem assim comercialmente mais alarmantes do acidente é justamente atraentes aos clientes. o fato de uma decisão tão imprudente do O relatório final tampouco confirma comandante, com tantos riscos aos passagei- esses testemunhos dos capitães Mario Pa- ros, tripulantes e ao navio, ser implementada lombo e Massimo Calisto Garbarino. As com tal grau de liberdade e passivamente declarações analisadas por Lieto (2012) são executada por sua equipe, contrariando re- depoimentos formais junto à justiça italia- gulamentos e as boas práticas do serviço do na, que ocorrem sob contexto diferente de passadiço. O clima organizacional a bordo um testemunho que busque a prevenção de permitiria uma “ressalva” ou “sugestão” de novos acidentes. Nesse contexto, verifica- sua equipe para demover o comandante de se a relevância de incluir nos relatórios sua decisão imprudente? de investigação as diversas versões do Uma reunião entre o comandante e o acidente, que permitam identificar aspec- oficial responsável pelo planejamento da tos de cunho psicológico e psicossocial, navegação ocorreu ainda antes da partida típicos dos fatores humanos, que moldam de Civitavecchia, sobre a decisão daquele comportamentos individuais e a cultura de alterar o plano de navegação original. da companhia. Para tanto, além de maior Os depoimentos confirmam que a intenção flexibilidade no formato e na dimensão do do comandante era realizar a “sail-by- relatório para abrigar novas versões e teste- salute”, havendo tempo suficiente para munhos dos principais atores, talvez sejam o planejamento e o consequente briefing necessários especialistas junto à equipe de antes da partida, ambos não realizados. Os

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regulamentos atribuem essa responsabili- dencia o grau de improviso do novo plano, dade ao comandante, porém não impõem traçado na carta náutica no 6, em escala uma supervisão/aprovação do plano de 1/100 mil. O navio não dispunha das cartas navegação nem tampouco as empresas in- náuticas 119 e 74, de escalas 1/20 mil e 1/5 vestem em recursos para o monitoramento mil, respectivamente, que identificavam e a intervenção em tempo real. A boa prá- com maior precisão a costa da Ilha de Gi- tica do serviço das equipes de passadiço glio. O Costa Concordia, embora possuísse envolve uma série de procedimentos que moderno sistema de navegação integrada conferem segurança à navegação, desde o (INS), dependia das cartas náuticas impres- briefing do plano de navegação ao trabalho sas como meio principal de navegação, pois de equipe durante a execução da manobra, seu sistema não utilizava cartas eletrônicas para que todo o passadiço compartilhe a vetorizadas. Assim, a empresa impunha o mesma consciência situacional. Os anexos sistema de navegação convencional como 24 e 25 do relatório final5 listam normas e principal e o INS como auxílio à navega- procedimentos da companhia sobre o plano ção. Essa deficiência de material de apoio de navegação e sobre o serviço da equipe às operações é de responsabilidade da de passadiço (LIETO 2012 e MIT 2012). companhia, tanto de sua supervisão quanto O relatório final não faz menção à reali- do provimento dos meios (LIETO, 2012). zação de qualquer briefing do comandante O relacionamento do comandante com com suas equipes para orientá-los sobre o suas equipes sofreu provável influência novo plano de navegação. A figura 5 evi- do chamado “gradiente de autoridade”.6

FIGURA 5: Carta náutica no 6, recuperada do naufrágio. Fonte: MIT (2012)

5 O Ministério de Infraestruturas e Transportes da Itália publicou somente o corpo do relatório final, que contém a lista de anexos e apêndices, sem os conteúdos. 6 A expressão “gradiente de autoridade” se refere à distribuição do processo decisório e ao equilíbrio, ou desequi- líbrio, da autoridade e do poder em um grupo ou organização, em dada situação. Essa questão não costuma ser considerada na indústria marítima tal qual na área médica e na aviação. A expressão descreve a facilidade ou a dificuldade de um subordinado questionar ou sugerir mudanças em algo proposto por seu superior, sem afronta a sua autoridade.

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Dificilmente se verificam situações em gestão de recursos humanos da empresa e que os subordinados questionam esse tipo contribui de forma indireta para o acidente de alteração imposta pelo comandante, (MIT, 2012). principalmente dada sua experiência e os A imperícia do comandante, descrita no precedentes bem-sucedidos em passagens relatório final, indica que a guinada do rumo tão próximas à costa da Ilha de Giglio. verdadeiro 278 graus para o rumo verdadei- O relatório final menciona somente nas ro 334 graus obedeceu a sete comandos de conclusões as providências da companhia proa por azimutes (300, 310, 325, 330, 335, em relação à necessidade de regras mais 340 e 350) e, em seguida, a sete comandos rígidas sobre roteiros de navegação e do por ângulo de leme (10º a boreste, 20º a monitoramento on-line da execução desse boreste, todo leme a boreste, leme a meio, planejamento. Essas 10º a bombordo, 20º a medidas organizacio- bombordo e todo leme nais de curto prazo Uma única guinada se a bombordo). O últi- adotadas pela empresa traduziu em 14 ordens ao mo comando ocorreu introduziram barreiras às 21h45m05s, a dois do sistema para redu- timoneiro indonésio, que segundos da colisão zir a liberdade de ma- não compreendia o idioma com a rocha. Logo após nobra do comandante assumir a manobra, o em situações similares de trabalho italiano, e que comandante ampliou à do acidente (HINRI- tampouco dominava o a velocidade do navio CHS, HOLLNAGEL idioma inglês de 3,5 nós para 16 nós, e BALDAUF, 2012). considerada elevada A imperícia do co- para a navegação próxi- mandante durante sua manobra é um erro ma à ilha. Uma única guinada se traduziu direto ao acidente, porém uma falha latente em 14 ordens ao timoneiro indonésio, que desse erro se refere à responsabilidade da não compreendia o idioma de trabalho companhia pelo treinamento do coman- italiano, e o VDR evidencia que tampouco dante e de sua equipe de passadiço. O dominava o idioma inglês (MIT, 2012). relatório final é detalhado nesse aspecto, O monitoramento da posição do navio pois analisou a cronologia do acidente a na carta náutica foi ainda mais prejudicado, partir dos dados registrados no VDR. Essa pois o oficial responsável abandonou o falha em treinamento é componente da camarim de navegação para auxiliar o timo-

FIGURA 6: Desempenho irregular do timoneiro. Fonte: adaptado de PICCINELI e GUBIAN (2013)

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neiro. O comandante então disseminava suas de comando da aeronave, porém o relatório ordens ao timoneiro em inglês, por diversas final ressalta que as regras da indústria ma- vezes mal compreendidas. O gráfico da figu- rítima precisam ser mais explícitas nesse ra 6 descreve as diferenças entre as ordens aspecto. Isso denota outra falha latente dos do comandante ao timoneiro e sua efetiva órgãos reguladores (MIT, 2012). execução, por meio dos registros do VDR. No capítulo destinado às recomendações, O atraso na compreensão das ordens, asso- o relatório final apresenta as medidas ado- ciado à imperícia do timoneiro, retardava tadas pela companhia logo após o acidente. ainda mais a guinada do navio para o rumo Entre elas, cabe destacar as medidas da verdadeiro 334 graus. Considerando que o Carnival Corporation, empresa detentora trecho Civitavecchia-Savona era o sétimo e dos direitos da Costa Cruzeiros, para que último da viagem, uma análise retrospectiva o comandante e seus oficiais realizem os dos dados referentes ao serviço do passadiço seguintes programas de treinamento: BRM7; poderia revelar essa falha latente, porém isso ECDIS-Nacos8; navegação; estabilidade do não consta no relatório final. navio; e curso de instrutor ao comandante. A presença de pro- Cabe ainda destacar que fissionais não tripu- o comandante, em 16 lantes no passadiço A responsabilidade da anos de carreira, assim também expôs a regu- como seus oficiais de lamentação de segu- companhia se agrava em passadiço, nunca ha- rança do sistema. O decorrência dos exercícios via realizado cursos de comandante subiu ao gerais realizados a bordo BRM. Embora o BRM passadiço com aproxi- não fosse um curso obri- madamente cinco mi- dois meses antes do gatório para equipes de nutos de antecedência acidente. Provavelmente, passadiço, essa deficiên- à guinada para o rumo cia técnica é fator latente verdadeiro 334 graus, os exercícios apresentaram que pode comprometer prevista para ocorrer indícios de erros similares e a segurança do navio às 21h39m. Os proce- não corrigidos (MIT, 2012). dimentos do passadiço A responsabilidade para assumir a manobra da companhia se agrava não foram seguidos, o tempo era insuficiente em decorrência dos exercícios gerais reali- para tal e, ainda nesse interim, o comandante zados a bordo dois meses antes do acidente. teve sua atenção distraída por uma ligação te- A magnitude dos erros diretos cometidos lefônica para terra para confirmar a distância pelo comandante e por sua equipe de pas- de segurança de 0,5 milha da Ilha de Giglio. sadiço por ocasião do acidente indica que Sua atenção também foi tomada pela presença esses exercícios deveriam ser analisados no passadiço de integrantes do departamento pelos investigadores. Provavelmente, os de hotelaria de bordo, cujo maître era resi- exercícios apresentaram indícios de erros dente na ilha e teria a oportunidade de vê-la similares e não corrigidos, que culminaram do passadiço. A aviação comercial proíbe a no acidente. Dessa forma, a companhia presença de não tripulantes no compartimento teria falhado ao não acompanhar e não

7 Bridge Resources Management (BRM), curso que simula o serviço de uma equipe de passadiço e permite a integração entre seus elementos e o exercício da liderança do comandante. 8 Electronic Chart Display Information System (ECDIS) e Navigation Automation Control System (Nacos).

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detectar a série de deficiências descritas navios, estão explícitas nas recomendações (MIT, 2012). do relatório final. As duas questões principais que decorrem disso não são abordadas: pri- Falhas latentes do gerenciamento das meiro, se as recomendações de segurança em fainas de emergência design e projetos foram impostas aos navios construídos em data posterior à de tantos As fainas de emergência a bordo, envol- outros que operam em cruzeiros marítimos, vendo o controle de avarias e o abandono ao menos em tese, os navios com sistemas do navio, sofreram dificuldades em decor- potencialmente “inseguros” não deveriam rência de falhas latentes. No contexto dos ter sofrido uma avaliação minuciosa dos fatores organizacionais pesquisados neste órgãos técnicos? Segundo, após o acidente, artigo, essas falhas esses navios construídos estiveram relacionadas antes de 2010 sofrerão à gestão de recursos e O artigo atendeu ao seu tal avaliação? à gestão de processos propósito de compreender Ainda em relação à da companhia. gestão de recursos, as Em relação à gestão o significado da abordagem acusações do coman- de recursos, o siste- sistêmica em análise dante sobre as falhas ma de propulsão do das portas estanque são Costa Concordia era de acidentes, conforme improcedentes. O co- exclusivamente depen- recomenda a IMO, e mandante alegou que o dente da energia elé- identificar quais falhas rápido alagamento dos trica para a operação, cinco compartimentos e o alagamento dos organizacionais podem atingidos com a coli- compartimentos dos estar associadas em um são deveu-se à falha no seus geradores após trancamento das portas a colisão causou um acidente estanques. No entanto, “apagão” e deixou o o navio possuía um sis- navio à deriva. Segundo o relatório final, tema de sensores para a detecção da estan- a despeito da gravidade do alagamento de queidade, e esses dados coletados do VDR cinco compartimentos vitais do navio, o aci- confirmam que as portas se encontravam fe- dente demonstrou a deficiência dodesign do chadas no momento do acidente (MIT, 2012). posicionamento dos geradores, da proteção Em relação à gestão de processos, o re- física dos compartimentos estanques, do latório final é explícito quanto às falhas na sistema de detecção de alagamentos, da se- organização dos recursos humanos a bordo. leção das bombas para esgotamento da água O relatório final descreve que as dificuldades e, principalmente, da falta de redundância do de comunicação e de procedimentos dos tri- sistema de geração de energia (MIT, 2012). pulantes por ocasião das fainas de abandono O navio Costa Concordia foi lançado foram evidentes. Vários tripulantes não eram ao mar em 2006, e as principais exigências familiarizados com o lay out do navio, o que em design e projetos que eliminariam essas tornou a evacuação um caos. Isso também falhas latentes envolvem os novos navios marca uma falha latente relacionada ao construídos a partir de 2010. As diversas treinamento das equipes e, principalmente, emendas à convenção Solas, referentes às à organização do pessoal na Tabela Mestra necessidades de alteração na construção dos do navio (MIT, 2012).

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Segundo o relatório, a indústria de cru- fatores organizacionais, subdivididos em três zeiros confunde a Tabela Mestra (Muster categorias: a gestão dos recursos, o clima List) com a lista da Tripulação de Segurança9 organizacional e a gestão de processos. (Minimum Safe Manning – MSM), descrita Diversas referências a acidentes ma- na resolução 890 da IMO. De fato, a tripu- rítimos buscaram identificar a influência lação de segurança precisa estar certificada organizacional em cada categoria. De ma- e treinada de acordo com a convenção de neira geral, os relatórios são detalhados na segurança da IMO, a SCTW10, sendo, assim, análise das causas diretas e superficiais na assegurado o mínimo padrão desejado para identificação de eventuais falhas latentes. cada tipo de serviço a bordo, garantindo a Uma pesquisa nos portais dos principais ór- operação segura da embarcação. No entanto, gãos e institutos que divulgam os relatórios o pessoal embarcado, listado na Tabela Mes- de acidentes marítimos confirma a ênfase tra em fainas de emergência, nem sempre nos erros diretos de vários “Schettinos” e recebe a mesma consideração técnica da o anonimato dos agentes organizacionais companhia, carecendo da certificação e do que os contrataram, certificaram, treina- treinamento adequado (MIT, 2012). ram, supervisionaram e regulamentaram. Esse anonimato não se refere à busca de CONSIDERAÇÕES FINAIS culpados, mas demonstra a necessidade de uma investigação detalhada e retrospectiva As epígrafes no início desse artigo sobre as falhas latentes de um acidente. indicam as diferenças entre a teoria e a Nesse contexto, faz-se necessário enfati- prática da abordagem sistêmica em análise zar que o relatório de investigação tem por de acidentes. Enquanto a teoria considera finalidade a prevenção de novos acidentes, os erros diretos como sintomas de um pro- diferentemente dos inquéritos administra- blema maior, os relatórios de acidentes os tivos. Embora existam check-lists para sua tratam como a conclusão da investigação. elaboração, conforme descritos nas próprias O artigo atendeu ao seu propósito de resoluções 849 e 884 da IMO, não há limites compreender o significado da abordagem em sua extensão, nem tampouco formalidades sistêmica em análise de acidentes, conforme processuais típicas dos inquéritos. Dessa for- recomenda a IMO, e identificar quais falhas ma, as versões ou testemunhos dos diversos organizacionais podem estar associadas em atores diretos e indiretos ao acidente, mesmo um acidente. Nesse contexto, foram apre- contraditórios, servem de subsídios essenciais sentados os principais modelos que funda- aos investigadores e aos pesquisadores para mentam essa análise, com destaque para o a compreensão dos diversos fatores contri- SCM de Reason (1997) e o DoD-HFACS buintes do sistema e para trabalharem em (2005), aplicado para acidentes aéreos. Esses aperfeiçoamentos que proporcionem a devida modelos são representações limitadas da segurança das atividades marítimas. realidade, porém são úteis pela classificação Llory (1999) alerta que a análise de um das causas diretas e das falhas latentes de um acidente não tem fim, na medida em que acidente. O artigo tratou especificamente dos novas versões e teses surgem para que uma

9 A Lei no 9.537, de 11 dez. 1997, já citada, define “Tripulação de Segurança” como a quantidade mínima de tripulantes necessária a operar, com segurança, a embarcação. 10 A Convenção SCTW (Standards of Certification, Training and Watchkeeping for Seafarers) representa um dos quatro pilares do sistema regulatório da atividade marítima, juntamente com as convenções da IMO, Solas e Marpol, além da Convenção Marítima da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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atividade reduza cada vez mais seus riscos enfocarem somente os erros diretos. O operacionais. No próprio caso do Costa esforço dos investigadores depende de Concordia, Pimenta (2013) apresenta uma uma sólida bagagem conceitual da abor- versão sobre a atitude voluntária de Schet- dagem sistêmica, do apoio de técnicos tino ao realizar a manobra denominada das mais diversas especialidades para “varação”, guinando o navio avariado em a análise do homem e da máquina, da 180 graus para que encalhasse em águas capacidade de suportar a natural pressão rasas, facilitando a faina de abandono. da opinião pública ávida por culpados e, Mesmo contestada por Bento (2013), que principalmente, de independência da pró- argumenta a incapacidade de manobra dos pria indústria marítima para que possam três bow-thrusters do navio para tal guinada, investigar falhas latentes em outras esferas a discussão atende plenamente à finalidade hierárquicas. Gerard Mendel, no prefácio de ampliar a participação da comunidade do livro Acidentes industriais: o custo científica no debate em prol da segurança.11 do silêncio, de Michel Llory, resume a Cabe a devida ressalva de que este artigo importância da abordagem sistêmica que reconhece os erros diretos de elevada gravi- se buscou neste artigo: dade cometidos pelo comandante do Costa O que um acidente nos mostra é sempre Concordia e, principalmente, o brilhante a soma de várias reações da realidade trabalho técnico elaborado pelos investiga- existente, reações que, para serem com- dores do MIT. A pesquisa nos relatórios de preendidas, exigem análises baseadas outros acidentes marítimos não encontrou em vários campos disciplinares. Um similar em relação ao tratamento dos dados acidente de grande extensão é, pode-se coletados do VDR e das análises efetuadas dizer, a desforra da realidade global no caso Costa Concordia. No entanto, o re- sobre a visão reducionista da ciência latório explora com intensidade a “ponta do especializada. Mas o espírito do cientista iceberg” do sistema e com superficialidade atual não está preparado para transitar os fatores organizacionais que pudessem nesses campos interdisciplinares. As- contribuir para o acidente. sim, tendem facilmente a satisfazer-se É complexo identificar os verdadeiros com a explicação simplista executante motivos de os relatórios de acidentes – fator humano – bode expiatório.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Acidente marítimo; Avaria; Marinha Mercante da Itália; Análise de risco;

11 O relatório final do MIT descreve que o navio guinou em decorrência do travamento do leme com máxima inclinação a boreste e aos ventos e às correntes favoráveis a essa guinada de 180 graus, sem ação deliberada do comandante, pois o sistema de geração de emergência não suportou a demanda de energia e operou de forma descontínua.

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108 RMB4oT/2013 OS PORTOS HISTÓRICOS: A GÊNESE DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DO SUL DO BRASIL

Marcia Fernandes Rosa Neu1 Professora Doutora

SUMÁRIO

Introdução: a economia do Sul do Brasil A economia do Sul do Brasil e os primeiros portos: Antonina, Laguna, Pelotas e Porto Alegre Porto de Antonina (PR) Porto de Laguna (SC) Porto de Pelotas (RS) Porto de Porto Alegre (RS) Considerações finais

a maior parte da iniciativa era do governo INTRODUÇÃO: A ECONOMIA DO português. Já após a independência bra- SUL DO BRASIL sileira, houve a intensificação de ações empreendedoras coloniais de iniciativa té o século XVIII, toda iniciativa privada, atuando principalmente no Sul do Ade ocupação do Sul do Brasil era País. Ressalta-se que não havia dificuldades planejada com o objetivo de consolidar a para a atração de novos colonos, em função expansão do território brasileiro; portanto, da primeira crise do capitalismo europeu,

1 Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Geografia Regional pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora da Universidade do Sul de Santa Catarina. OS PORTOS HISTÓRICOS: A GÊNESE DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DO SUL DO BRASIL

na qual milhares de pequenos produtores disputado pelos países ibéricos. O interior rurais e urbanos foram transplantados com ficou fora do interesse português até a a promessa de terra e a oportunidade de independência do Brasil e somente voltou “fazer a América”. a fazer parte dos planejamentos governa- Apesar de Paraná, Santa Catarina e mentais quando a ameaça veio pelo interior, Rio Grande do Sul comporem este mes- com os ataques dos índios na Serra e no mo período histórico, tiveram processo Planalto Sul, e dos argentinos, nas regiões de ocupação diferenciado. A colônia de de fronteiras (NEU, 2003, p. 25). Santa Catarina teve semelhante processo No início do século XX, os três estados de ocupação em relação ao Rio Grande do Sul do Brasil estavam articulados à do Sul, mas no Paraná foi muito diferente. economia nacional de forma distinta, mas Segundo Waibel, isso se explica principal- complementar. Paraná fazia parte da expan- mente porque o litoral paranaense é muito são da economia cafeeira do oeste paulista estreito e o clima muito diferente do clima e continuava a receber imigrantes, que, até dos outros dois estados e das condições 1960, ocupavam áreas produtoras do Oeste geográficas da serra. Esta pode ser uma paranaense (FURTADO, 2002). das razões apontadas por Waibel (1979, p. O Rio Grande do Sul se integrou por 239) para a existência de poucos alemães meio das vendas de todos os tipos de no Paraná. produtos às regiões produtoras de café. Enquanto a ocupação do interior bra- Concorria com os países platinos, levando sileiro continuava a ser motivo de preo- a vantagem das tarifas mais reduzidas nas cupação pela dificuldade de atração de linhas de cabotagem. O Estado de Santa colonos, no litoral já vinha se iniciando Catarina, muito semelhante ao Rio Grande a colonização havia mais de um século, do Sul, fornecia produtos têxteis e fari- principalmente com os grupos de açorianos nha de mandioca, também atuando como e de vicentistas que iniciaram a ocupação atividade articulada à economia nacional de enseadas e baías, escolhendo, assim, (FURTADO, 2002). locais propícios à instalação de armações Logicamente, os portos e as hidrovias, baleeiras ou de entrepostos comerciais, mesmo que sem a organização necessária, que sustentariam a economia no centro permitiram que os produtos do interior dos do Brasil. estados chegassem às áreas centrais do País, No século XIX, a maioria das cidades- como Rio de Janeiro e Santos. Sobre os pri- portos do Sul do Brasil já estava em plena meiros portos do Sul do Brasil, pretende-se atividade. As cidades que nasceram in- discorrer um pouco mais. tegradas estavam se fortalecendo como entrepostos comerciais, industriais e/ou A ECONOMIA DO SUL DO BRASIL como canais de comunicação entre as áreas E OS PRIMEIROS PORTOS: mais densamente povoadas, como Rio de ANTONINA, LAGUNA, PELOTAS E Janeiro, Santos e a própria Europa. PORTO ALEGRE Dessa forma, a Região Sul assume for- mas específicas de desenvolvimento muito Segundo Morgan (1958), um porto é diferenciado em relação a outras áreas do um lugar equipado para facilitar a relação Brasil. O litoral foi ocupado primeiro para necessária entre o navio, as agências e o garantir o resguardo da costa brasileira e transporte marítimo e terrestre. No caso evitar a ocupação espanhola em território do Sul do Brasil, os portos fomentaram a

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ocupação litorânea e diversificaram a base A conexão realizada entre os portos de produtiva, pelos investimentos que gera- Paranaguá e os portos do Rio Grande do vam em seu entorno (MORGAN, 1958). Sul demonstra pouco contato entre eles, Isso porque a viabilização de qualquer apenas 3,3% do total movimentado; já os mercado passa, necessariamente, pelas portos de Santa Catarina e do Rio de Janeiro estruturas de circulação de mercadorias. movimentaram um total de 31,3% e 48,8%, Andrade lembrou que: respectivamente. O porto de Paranaguá [...] até o século XIX, as áreas pro- estava mais conectado ao centro comercial dutoras dos países coloniais de baixa brasileiro e, provavelmente, a ligação com densidade demográfica necessitavam Santa Catarina complementava as cargas localizar-se nas proximidades do litoral, dos navios até as metrópoles (WESTHA- e as mercadorias eram transportadas LEN, 1998). para os portos em lombos de burros O mercado meridional tinha estabeleci- ou em veículos de tração animal [...] do com o restante do Brasil uma integração (ANDRADE, 1989, p. 101). diferente, não fazia parte diretamente da economia colonial, pois poucos produtos Wolkwitsch (1973) destacou, ainda, que despertavam interesse comercial das metró- a localização ideal para qualquer indústria poles. Entretanto, em Santa Catarina e no passava diretamente pela capacidade de Rio Grande do Sul, produtos agropecuários escoamento da produção, pois, assim, mi- foram fundamentais para a manutenção de nimizaria os custos com o transporte. No áreas produtoras para o mercado colonial, Brasil Meridional, as estradas, no início do como é o caso do gado, do trigo, da farinha século, eram quase inexistentes, portanto es- de mandioca e do arroz, para as áreas pro- tar próximo de um porto significava a sobre- dutoras de café ou as de extração de ouro vivência de qualquer atividade econômica. (NEU, 2009). Já no século XIX, há relatos de comércio Portanto, Santa Catarina e Rio Grande paralelo entre os portos do Sul, de navios do Sul foram suporte às economias agro- que passavam pelos portos de Santa Ca- exportadoras do Sudeste brasileiro, ali- tarina e do Rio Grande do Sul. Embora mentando áreas produtoras de ouro e, mais o contato com o porto do Rio de Janeiro tarde, de café. O gado contribuiu enorme- fosse mais expressivo, Westphalen (1998) mente para a ocupação das áreas interiores destaca a frequência desse comércio: do Sul, pois ampliou a fronteira brasileira, As embarcações que frequentavam o espalhando grupos de estancieiros em áreas porto de Paranaguá, no século XIX, antes sem dono ou pertencentes ao território eram aquelas que realizavam o comércio espanhol (NEU, 2009). especial ou interno, por meio da navega- Essa ampliação, na maioria das vezes, ção de cabotagem, com os demais portos não foi pacífica; estava sempre cercada de do Império. Vinham do Sul, dos portos muitas disputas de fronteiras, fortalecendo de Santa Catarina e do Rio Grande do a cultura do gaúcho no interior do Sul do Sul, ou para eles se dirigiam. Outras Brasil. vinham do Norte, principalmente do Rio de Janeiro e de Santos. Algumas PORTO DE ANTONINA (PR) vezes de portos mais distantes, como Bahia e Pernambuco (WESTPHALEN, O Paraná, por fazer parte da periferia 1998, p. 33). mais imediata de São Paulo, tanto na ex-

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ploração do ouro como na cultura do café, exportador brasileiro. Graças à extração da passou a contar com dois portos, sendo erva-mate, Antonina tornou-se uma cidade que um deles era localizado em área mais influente e próspera. ao fundo da Baía de Paranaguá, o porto de Antonina disputava com a Vila de Parana- Antonina, e o outro no início da Baía, em guá, desde 1648, a possibilidade de ser o porto mar mais aberto, o porto de Paranaguá. escolhido do Paraná. No entanto, a construção Por volta de 1714, o garimpo de ouro nas da Estrada da Graciosa, ligando Curitiba a encostas da Serra do Mar se intensificou, Antonina, beneficiava o porto de Antonina, criando a necessidade de escoar a produção pois, por ela, os produtos que desciam a serra pelo porto de Antonina. Há relatos de que, podiam ser comercializados diretamente, sem em muitas ocasiões, a extração de ouro era precisar passar por Paranaguá. tão numerosa que tanto Antonina como O mesmo não aconteceria se a estrada Paranaguá escoavam a produção. passasse primeiro por Morretes, pois a No final do século XIX, com a conclusão ausência de um porto marítimo implicaria da estrada da Graciosa e do terminal ferro- o transporte de todas as mercadorias via viário, ambos ligando Antonina a Curitiba, fluvial para o porto de Paranaguá. Antoni- gerou-se um forte impulso progressista, in- na, após esta data, passou a ser o principal tensificado pelos ciclos da madeira, do café eixo comercial do Paraná. e da erva-mate. Em 1920, era o quarto porto No entanto, as mudanças na economia mundial, após a Segun- da Guerra Mundial e após o ciclo da erva- mate, determinaram o declínio da economia da cidade e das ativi- dades de seu porto, culminando, em 1970, com a paralisação da Indústria Matarazzo, importante geradora de negócios e empregos. Ainda, segundo An- drade (1989), houve aumento significativo no tamanho dos navios, impedindo que estes entrassem em portos com calados menores. Os que tentaram ainda permanecer na rota da navegação de grande porte ampliaram seus custos de dragagem e aumentaram as tarifas Figura 1: Paranaguá: ocupação no período colonial. Fonte: BERNARDES, Nilo. 1952 portuárias.

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Tabela 1: Antonina – Tráfego Marítimo de Antonina, 1962/1964 1962 1963 1964 Número de navios 100 180 172 Tonelagem de registro 230 333 341 Fonte: Anuário estatístico do Brasil 1965, org. MFRN O porto de Antonina, marcado por Este terminal está disponibilizado para car- uma história de grande movimentação, ga geral/contêineres (açúcar, arroz, madeira começou a declinar e, na década de 1970, e pneus, entre outros). praticamente não recebia mais navios. Este Antonina, depois de passar por um lon- porto não constou nos anuários estatísticos go período desativado, começou a receber oficiais desde 1969, embora, de 1962 a 64, investimentos do Governo do Estado do tivesse movimentado mais que os portos Paraná, que administra, por meio da APPA, de Pelotas (RS) e Imbituba (SC) (tabela 1). as modificações para a integração do porto Segundo o Ministério dos Transportes, na economia regional. As obras são de recu- o porto de Antonina é administrado pela peração e dragagem do Terminal da Ponta autarquia estadual, originado pelo Decreto do Félix2 para congelados, e a reforma do no 26.298 de 23/2/1949, em concessão do Terminal Barão de Teffé para carga geral Governo Federal ao Governo do Paraná, e (Ministério dos Transportes). disponibiliza ao mercado dois terminais por- Em 2000, o porto de Antonina movi- tuários: a Ponta do Félix e o Barão de Teffé. mentou 40 embarcações no cais público O Terminal Barão de Teffé, de domínio e no terminal, mas este número ainda é público da Administração dos Portos de pequeno se comparado à movimentação Paranaguá e Antonina (APPA), é composto de 1964, de 172 navios. O papel do porto, pelo cais comercial (navios de até 155 metros historicamente como porto principal dian- e com calado de 19 pés – 5,79 m), por dois te da economia próspera da extração do armazéns (2.436 m e 1.056 m), e mais balança ouro e da erva-mate, passou a ser de porto (100 toneladas) para operação de múltiplo auxiliar, contribuindo para minimizar os uso, em área total de 256.622,95 m². gargalos do porto de Paranaguá e recebendo Em 1999, a Interportos e a APPA embarcações que não exigem calados mais firmaram acordo operacional que possi- profundos (tabela 2). bilitava movimentação de granéis sólidos (fertilizantes, sal, trigo etc.) pelo sistema PORTO DE LAGUNA (SC) de transbordo de navios ao largo. O suporte é dado por duas barcaças (capacidade de Laguna e Pelotas produziam o charque 5.000 t), funil e guindastes (180 t/hora). que, de forma muito expressiva, realizava

Tabela 2: Antonina – Movimento de embarcações nos cais públicos e terminais, 2000 Tipo de navegação longo curso cabotagem outras total Navios 33 7 – 40 Fonte: Ministério dos Transportes, org. MFRN

2 O Terminal Ponta do Félix é um terminal privado, vendido ao Fundo Previ do Banco do Brasil e do Banco do Estado do Paraná em 1997 pelo Grupo Leão Ltda.

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integração à economia nacional, conectan- dente e carne. A Estrada de Ferro Dona Te- do as áreas mineradoras do Centro-Oeste resa Cristina, inaugurada no final do século brasileiro por meio do fornecimento de XIX, servia de ligação ao porto de Laguna; alimentos à produção de ouro (NEU, 2003). no entanto, quando os impostos eram eleva- Furtado lembrou que as feiras paulistas dos, o rio servia muito bem aos interesses constituíam o mercado em que mais tarde, dos colonos (DALL’ALBA, 1979). além dos muares, começou a ser comercia- Guedes (1994) ressalta que o carvão lizado o gado vivo, trazido pelas mesmas também era transportado pelo porto de tropas que traziam as mulas pelo Oeste Laguna e, depois de 1945, com a produção brasileiro. de navios de grande porte, iniciou-se o de- A região Rio-Grandense, onde a criação clínio muito acentuado na movimentação de mulas se desenvolveu em grande de cargas. Além disso, existia outro sítio escala, foi, dessa forma, integrada no portuário próximo, o porto de Imbituba, conjunto da economia brasileira. A que apresentava as melhores condições e cada ano subiam do Rio Grande do Sul que, com poucos investimentos, poderia dezenas de milhares de mulas, as quais movimentar o minério em grande quantida- constituíam a principal fonte de renda de, fosse por possuir retroárea maior, fosse da região. [...] desse modo, a econo- por apresentar um calado maior. mia mineira, através de seus efeitos Os resultados para a formação urbana de indiretos, permitiu que se articulassem Laguna, com mais de 200 anos de história, as diferentes regiões do sul do Brasil foram de intensa estagnação econômica, (FURTADO: 2002, p. 77). que perdura, de certa forma, até o dia de hoje. A atividade portuária não foi substitu- A alteração da rota do gado mudou ída por nenhuma outra atividade econômica profundamente as áreas de charqueadas, de igual magnitude, capaz de reativar a principalmente para Laguna, que tinha na economia da cidade, onde atualmente pre- produção e na movimentação de carne sal- domina o turismo, com alta sazonalidade, gada uma grande fonte de renda. Sabe-se que e a pesca, com semelhante situação. este produto constituiu, no final do século Segundo o Ministério dos Transportes, XIX, mais da metade das exportações do a transformação do porto de Laguna em Estado. As áreas de colônia se beneficiaram um porto pesqueiro, pelo Decreto-Lei no também, principalmente por meio da expan- 525, de 8/4/1969, autorizou a constituição são do mercado interno e da venda de banha de sociedade mista destinada à exploração de porco e vinho (FURTADO, 2002). dos serviços do porto de pesca. Em 1980, O porto de Laguna, mais especifica- após as devidas modificações, inaugura-se mente, beneficiou-se do desenvolvimento porto de pesqueiro de Laguna, operado pelo da pequena produção agrícola que se de- Governo Federal por meio da Administra- senvolveu nas colônias alemãs a partir do ção do porto de Laguna, vinculado à Cia. final do século XIX. Esses produtos vinham Docas do Estado de São Paulo (Codesp). pela bacia do Rio Tubarão até Laguna e, Movimenta pescado e gelo, produzido na de lá, eram escoados para Rio de Janeiro fábrica do próprio porto. O porto de Laguna e São Paulo, onde abasteciam o mercado está localizado na Lagoa de Santo Antônio, metropolitano. possui calado, em média, de 6 metros, um Pelo porto eram transportados banha, canal de acesso de 8 a 9 metros e 1,95 farinha de mandioca, açúcar, madeira, aguar- quilômetro de extensão.

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sanato de base familiar que se fazia ao nível dos núcleos coloniais para suprir as necessi- dades essenciais. Por outro lado, o surgimen- to da indústria se liga também à presença da acumulação de capital via comércio (PESA- VENTO, 2002, p. 49).

Assim, continua a autora, antes de 1880 a indústria se concentrou em Pelotas e Rio Gran- de, servindo mais aos Figura 2: Vista aérea do porto de Laguna, 2006. Fonte: Silva, Alex V. Consulta: interesses do mercado www.panoramio.com, em 2010 nacional do que ao abas- tecimento das necessida- A atividade pesqueira, pelas caracte- des locais. O enriquecimento dos comerciantes rísticas do sítio portuário de Laguna, na locais passou a ser facilmente notado pela desembocadura da bacia do Rio Tubarão opulência das construções nessas cidades. e do Complexo Lagunar da microrregião O comerciante enriquecido diversificou da Amurel (Associação dos Municípios da paulatinamente suas atividades, apli- Região de Laguna), assume papel de desta- cando capital não só na indústria como que na pesca e na produção de camarão e em empresas de navegação, bancos, de pescados em geral. Pode ser considerado companhias de seguros, loteamentos, como uma das áreas de maior produtividade hotéis. Dentro da realidade onde o poder de pescados do Sul do Brasil, atendendo às regional era dominado por latifundiá- embarcações pesqueiras em larga escala, rios da pecuária, as possibilidades de que encontram nas instalações do porto atuação política dos imigrantes foram facilidade de seleção, congelamento e quase nulas; destacou-se aqui, além da escoamento da produção. figura do comerciante, a elite cultural (PESAVENTO, 2002, p. 49). PORTO DE PELOTAS (RS) Somente no final do século XIX os imi- Pelotas, em situação diferente de Laguna, grantes alemães, enriquecidos, começaram teve o capital reinvestido, gerando a diver- a ter destaque político. Os italianos, que sificação industrial, como relata Pesavento: chegaram nessa época, demorariam um [...] a acumulação de capital ocasionada pouco mais para alcançar tal espaço. Dessa pelo grande comércio foi responsável forma, a solução encontrada pelos colonos foi por duas alterações básicas: por um lado, procurar se especializar na produção agrícola, a importação de produtos do exterior criando áreas produtoras de uva/vinho e/ou contribuiu para desestimular um arte- áreas especializadas em banha, por exemplo.

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Prado (1972) destacou que a localização enquanto isso, a indústria de charqueada da das indústrias de charque era a ideal, pois Capitania expandiu-se rapidamente. ficava entre os rios Pelotas e São Gonçalo, Contudo, a crise também chegou nesta “próximos dos grandes centros criatórios área de economia próspera do século XIX. da fronteira e do porto para o comércio Os estancieiros criavam o gado sem se pre- exterior da capitania, o Rio Grande”. No ocupar com o melhoramento da produção entanto, destacou Prado, o porto de Pelotas ou com as condições de higiene. Os char- não apresentava as condições adequadas queadores compravam o gado, pagando para a atracagem (PRADO, 1972, 205). cada vez menos, para compensar o preço Percebe-se, assim, que o porto de Pelo- elevado do frete e a concorrência com o tas era o mais utilizado para o escoamento charque platino, o que diminuía a lucrati- da produção de charque, mas a cidade era, vidade e os investimentos dos estancieiros depois da capital, Porto Alegre, o maior em outras áreas produtivas. centro urbano da Província; além disso, era Nesse período, o consumo do charque líder em riqueza e prestígio social, de tal havia se espalhado para os centros urbanos, forma que a educação dos filhos dos ricos em grande parte pela classe média urbana acontecia na França. das grandes metrópoles. A qualquer alte- O período de quase um século marcou ração no preço, restringia-se o consumo, a economia gaúcha, principalmente pela e não era possível alterar esse valor para forma como houve a opção da maioria compensar as dificuldades de produção. dos colonos para a pecuária. O cultivo do Dessa forma, os estancieiros, conforme trigo era incentivado pelos portugueses, no relata Pesavento (2002), criaram, em 1912, entanto os problemas com seu plantio eram a União de Criadores, tentando, entre outras significativos. A concorrência com o trigo coisas, garantir o melhoramento do rebanho dos Estados Unidos era muito prejudicial, e a formação de frigoríficos em parcerias ainda mais quando as pilhagens por ladrões, com capital local. o confisco pelo exército ou as excursões Segundo Pesavento (2002, p, 71), “o Es- dos índios causavam grandes prejuízos. tado gaúcho apoiou o projeto de renovação Leitman afirmou que em zona de guerra a idealizado pelos criadores, que permitiam pecuária apresentava um risco menor do a adoção dos mais modernos processos de que a agricultura (LEITMAN, 1979). conservação de carne pelo frio”. Pesavento Leitman ainda destacou que: conclui que, assim, haveria aproveitamento De 1780 aos primeiros anos da década integral de todo o rebanho. de 1820, o trigo rio-grandense foi a A Primeira Guerra Mundial se aproxi- fonte de capital que ajudou a expansão mava, e consigo a mudança significativa na da indústria de charque e a construção forma de consumir da população europeia. de pequenos navios costeiros. De 1820 Agora, a quantidade era preterida à qualida- em diante, a província exportou somente de, por isso Pelotas e Rio Grande viveram couro, carne-seca, sebo, pelo e chifres intenso processo de euforia. para Rio de Janeiro, Bahia e Pernambu- Pesavento destacou que os criadores co (LEITMAN, 1979, p. 87). articulados criaram um frigorífico nacional, o Frigorífico Rio Grandense e, com isso, ini- No período de 1811 a 1825, à medida que ciaram uma campanha que movimentou todo os luso-brasileiros penetravam na Cisplatina, o Estado (Pesavento, 2002, p.71). No mesmo o cultivo de trigo começou a se ressentir; período, com isenção fiscal, três frigoríficos

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norte-americanos se instalaram no Rio Gran- cerca de dois terços, aparentemente abor- de do Sul3. Este fato implicou mudanças de tando o que, no final da década anterior, planos do Frigorífico Rio-Grandense, que se parecia ser o início da formação de um instalou, a partir daí, em Pelotas. importante núcleo industrial na região A mudança nas perspectivas da pecuária do Estado; diminuía em cerca de 2/3 do gaúcha produziu melhorias significativas que seria uma das regiões mais indus- nas charqueadas gaúchas, que passava tam- trializadas do Sul do Rio Grande do Sul bém a abastecer as áreas produtoras de café (ALONSO & BANDEIRA:1990, 108). no Centro-Sul do Brasil. Outras regiões passaram a competir com o Rio Grande do A economia de Pelotas também apre- Sul no abastecimento do mercado interno, sentou, no mesmo período, redução de sua com produtos agrícolas. No entanto, como participação relativa, tanto da indústria os preços dos fretes eram menores, os de transformação quanto da indústria de gaúchos tinham mais vantagens em colocar beneficiamento. Alonso e Bandeira desta- seus produtos no mercado. Esse fato garan- cam ainda que, historicamente, Pelotas foi tiu às regiões produtoras gaúchas a venda o centro da indústria de beneficiamento de boa parte de sua produção ao mercado do Estado, embora nos últimos anos tenha emergente das áreas produtoras de café. apresentado baixo dinamismo econômico. Alonso e Bandeira (1990) chamam a Hoje, os gêneros mais importantes da atenção para o fato de que a sociedade cidade são produtos alimentares, química, construída pela pecuária e pelo charque no metalurgia, couros e peles. Sul Rio-Grandense caracterizava-se pela O porto de Pelotas escoa a produção concentração da propriedade e da renda. de clínquer5 para a indústria de cimento As remunerações dos empregados eram em Porto Alegre. O município de Can- insignificantes, algumas nem eram moneti- diota (RS) possui formação de calcário, zadas. Com tudo isso, o Sul do Rio Grande que é explorada pela indústria Cimpor do Sul foi crescendo economicamente, mas e beneficiada numa fábrica instalada no apenas em renda absoluta (ALONSO e mesmo município, com capacidade de 594 BANDEIRA, 1990). mil toneladas/ano. Todo esse material é A base industrial com pouca susten- levado pelo porto de Pelotas em barcaças tação não garantiu, em longo prazo, o (tipo chata) para o porto de Porto Alegre, crescimento industrial dessa região. Uma onde compõe a matéria-prima da indústria das possibilidades pode ter sido o pequeno de cimentos da marca Cimbagé (gráfico mercado consumidor para dar suporte ao 1). O desembarque é pouco significativo: processo industrial que permaneceu, em perfaz apenas uma média de 2% do total, grande parte, dependente de exportações. concentrando-se em granéis sólidos, como Nesse sentido, Alonso e Bandeira (1990) o coque verde de petróleo. demonstram que: As instalações portuárias se concentram A indústria gaúcha teve sua parcela no em um cais acostável, com três berços, total do VAF4 da indústria diminuída em numa extensão de 500 metros e profun-

3 Os frigoríficos que se instalaram no Rio Grande do Sul foram: Armour, em 1917, e Wilson, em 1918, na cidade de Santana do Livramento, e Swift, em Rio Grande, em 1917. 4 Valor Adicionado Fiscal. 5 Clínquer é o calcário beneficiado no município de Candiota (RS). Serve de matéria-prima para a produção de cimento em Porto Alegre.

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Gráfico 1 – Movimentação de cargas – Porto de Pelotas – RS (1986 a 2002)

Fonte: Ministério dos Transportes, Org. MFRN

didade média de 6 m. O terminal de uso Paralelamente à expansão das sesmarias privativo da Companhia de Cimentos do e dos fortes militares (Rio Pardo e Santo Brasil, Cimbagé, armazena clínquer, coque Amaro), a Coroa portuguesa promoveu de petróleo, cascas de arroz, calcário e fer- a vinda para o Rio Grande de casais tilizante e dispõe de píer com plataforma açorianos, com o objetivo de povoar a de 19,6 m, contando com dois dolfins de zona das missões, que por direito caberia atracação. Tem profundidade de 5,20 m, a Portugal, garantindo assim a posse dispõe de dez silos verticais para armaze- da terra. Chegando em grandes levas a nagem comportando 7.050 toneladas, silo partir de 1752 (ponto alto da imigração), horizontal de 105 mil toneladas e nove tan- os casais d’El Rey foram distribuídos ques com capacidade de 15 mil toneladas6. pelo porto de Viamão ou de Dornelles (Porto Alegre), não recebendo terras de PORTO DE PORTO ALEGRE (RS) imediato, ante a possibilidade de serem transferidos paras as missões (PESA- O porto de Porto Alegre fica localizado VENTO, 2002, p. 22). à margem esquerda do Rio Guaíba, a noro- este de Porto Alegre. Integrou as estratégias A região das Missões passou a ser dispu- portuguesas de ocupar as terras meridionais tada entre Portugal e Espanha. Além disso, da Colônia de Portugal com a imigração os padres jesuítas foram expulsos pelos de grande número de casais açorianos no portugueses, que temiam o crescimento eco- século XVIII. nômico que a região apresentava. Isso levou A colonização de Porto Alegre lançou a maioria dos casais a permanecer em porto as bases para a ocupação do Rio Grande do de Viamão, mesmo sem receber as terras de Sul. Pesavento lembra que: que precisa para iniciar sua produção.

6 Informações: entrevistas no porto de Pelotas, setor de Estatística, e no site transportes.gov.br/bit/portos, consulta em 2/2/2005.

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No século seguinte, a procedência A comparação dos dados com os dos dos imigrantes foi diversificada. Grupos demais portos do Estado do Rio Grande de alemães, italianos, poloneses e árabes do Sul também demonstra que o porto de se dirigiam ao Sul em busca de terra e Porto Alegre superava a movimentação do oportunidade de trabalho. Alguns se insta- porto do Rio Grande, tanto em número de laram em áreas próximas a Porto Alegre e navios como em tonelagem movimentada passaram a compor um grupo de pequenos (tabela 3). produtores rurais e ou artesãos. Percebe-se que a natureza do sítio Esse foi um dos fatores em dúvida que portuário, às margens do Rio Guaíba, não leva historiadores a chamar a atenção para demandou grandes investimentos para as disparidades regionais gaúchas, pois esta construção de cais acostável como nos área do Estado também fortaleceu o merca- demais portos. Eles estavam praticamente do consumidor, que adquiria intensamente prontos, precisavam apenas de poucas produtos do Nordeste açucareiro. Dessa melhorias. Para os demais portos não, os forma, o porto de Porto Alegre localiza-se investimentos eram elevados e foram apli- numa área de grande expressão econômica, cados à medida que eram indispensáveis ao que, mediante a diversificação de sua pro- funcionamento do porto. dução, gerou reinversões que foram capa- No entanto, com o passar dos anos, não zes de intensificar o mercado consumidor e houve ampliação do cais acostável, que atrair ou criar empresas grandes e médias. hoje ainda possui 8.028 m, subdivididos em A construção do porto organizado de Por- três trechos. Um denominado Cais Mauá, to Alegre foi iniciada no começo do século apresenta 3.240 m de comprimento, seis XX. Por intermédio de investimentos do Go- berços, com profundidade variando de 4 verno Estadual, foram construídos 148 me- m a 5,5 m, e 18 armazéns, sendo 12 para tros de cais com 4 metros de profundidade. carga geral e seis para utilização diversa. No final de 1969, havia uma extensão maior Outro trecho, denominado Cais dos Nave- de cais acostável do que em qualquer porto gantes, apresenta 3.268 m, 12 berços, com brasileiro, superando, inclusive, o porto de profundidade de 6 m, e 11 armazéns, sendo Santos e o do Rio de Janeiro (7.034 e 7.391, seis para carga geral e cinco para utilização respectivamente). Nota-se que, dessa forma, diversa (Anuário Estatístico do porto de o porto da Capital já possuía boas instalações Porto Alegre, 2000) para a época e, pelo fato de estar em área de Possui ainda o porto cinco pátios grande crescimento econômico, servia aos descobertos – um maior para carvão e os propósitos que lhe cabiam, ou seja, circular demais para uso variado. Nessa área, estão a produção e receber o necessário para o instalados três silos para grãos: um vertical consumo local. e operado pela Cia. Estadual de Silos e Tabela 3: Tráfego Marítimo – 1962/64 PORTOS NÚMERO DE NAVIOS TONELAGEM DE REGISTRO 1962 1963 1964 1962 1963 1964 Pelotas 90 48 25 96 41 31 Porto Alegre 1.627 1.758 1.816 1.444 1.219 1.214 Rio Grande 849 747 724 2.320 2.171 2.036 Fonte: Anuário Estatístico do Brasil: 1965. Org. MFRN

RMB4oT/2013 119 OS PORTOS HISTÓRICOS: A GÊNESE DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DO SUL DO BRASIL

Armazéns (Cesa); outro, horizontal, na So- inseticidas (como cargas líquidas), além de ciedade Anônima Moinhos Rio Grandense outros, que fornecem matérias-primas para (Samrig), com capacidade de 15 mil t; as indústrias da Região Norte do Estado. e mais outro horizontal, da Companhia Os usuários do porto dispõem de uma de Armazéns Graneleiros (Ciagran), com plataforma logística invejável, pois todos capacidade de 50 mil t. os sistemas de transportes estão conecta- Para depósito de óleos vegetais, são dos, desde aeroporto e rodovias duplicadas utilizados quatro tanques pela Samrig, tota- até o transporte ferroviário. Além disso, o lizando 4.400 t. O último trecho, conhecido porto tem linha de barcaças que transpor- como Cais Marcílio Dias, tem 1.366 m de tam soja e outros produtos agrícolas em comprimento, cinco berços e profundidade granéis para o porto do Rio Grande. Este variando entre 4 m e 5 m e serve à movi- sistema pode ser fortalecido, pois, segundo mentação de areias e seixos rolados. entrevista com funcionários do porto, so- Diferente de Pelotas, Porto Alegre tem mente 12% da soja movimentada por Rio maior destaque no desembarque de mer- Grande é transportado por esse modal. Há cadorias, cujo suporte da maioria delas se de se ressaltar que uma das vantagens do deve à diversificação industrial da região. transporte pelas barcaças é o custo, consi- Como a exportação de mercadorias requer deravelmente reduzido para o exportador, maior calado para o recebimento de navios o que, consequentemente, diminui o preço integrados ao transporte internacional, con- dos subprodutos da soja. forme demonstra o gráfico 2, o movimento de desembarque é muito superior ao de CONSIDERAÇÕES FINAIS embarque, definindo o papel que este porto desempenha na região. Destaca-se que, como porto eminente- Os principais produtos desembarcados mente marítimo, o Estado do Rio Grande ao longo do período demonstrado são: trigo, do Sul possui apenas o porto do Rio Gran- sal, sorgo, arroz, ureia, produtos químicos, de, pois Pelotas e Porto Alegre, embora cloreto de potássio, fosfatos, amonium, tenham ligação marítima, são portos mais cálcio natural, nitrogênio, nitratos, amô- lacustres de que marítimos. De qualquer nias, potássio (granéis sólidos), propanos e maneira, estes últimos portos têm impor-

Gráfico 2 – Evolução da movimentação de cargas – Porto de Porto Alegre-RS (1996 a 2000)

Fonte: Ministério dos Transportes

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tância tanto para a história do Rio Grande econômico e possibilidades de emprego do Sul como para a do Brasil. Atualmente, e renda. desempenham papéis de importância mais Deve-se lembrar que esses portos, regionais, à exceção do porto da Capital, apesar de apresentarem pequena movi- que está interligado pela hinterlândia com mentação de carga, representam para o as demais regiões brasileiras. setor produtivo grandes possibilidades de O porto de Laguna, por muitos anos, redução de custos de transportes. Segundo sentiu-se preterido ao porto de Imbituba, Starr e Slack (1999): principalmente depois que empresários [...] portos específicos podem ser consi- do Rio de Janeiro investiram neste para o derados dentro de um contexto mais am- escoamento de carvão, o que gerou estag- plo. Os pontos centrais interiores procu- nação na cidade de Laguna. Entretanto, há ram alternativas de entrada selecionando de se considerar que as condições naturais os portos que oferecem flexibilidade com do porto de Laguna não levariam os empre- relação ao serviço marítimo num contex- sários cariocas a outra decisão. to global. Assim, alguns portos alcançam A microrregião catarinense em que o status de porto concentrador (hub Laguna está inserida possui atividade port), enquanto que outros se reduzem a industrial deprimida, sem potencial de serviços de alimentação (feeder port) [...] crescimento. Sabe-se que a construção dos (STARR E SLACK: 1999, 205). molhes, no início do século XX, é apontada como uma das causas do declínio deste por- Os autores ainda ressaltam que, além to, principalmente pela aceleração do asso- dessa preocupação, deve-se considerar os reamento da barra de acesso7. No entanto, portos muito mais como facilitadores de esse problema seria facilmente resolvido se transações econômicas do que geradores de houvesse interesse federal de investimento crescimento local. No entanto, pelas inver- na sua infraestrutura. Atualmente, o porto sões que podem gerar, são capazes de atrair de Laguna foi reestruturado para ser um outras atividades econômicas, ampliando a porto apenas pesqueiro. capacidade produtiva de uma região. Antonina, após um longo período sem Em suma, os portos de Antonina, Pelo- atividade, tornou-se um porto auxiliar ao tas, Laguna e Porto Alegre têm grande sig- porto de Paranaguá. Assim, o fato de am- nificado para as economias locais, exceção bos terem o mesmo tipo de administração feita a Porto Alegre, que tem abrangência gera um planejamento integrado, e a mo- regional, dada sua localização numa área vimentação de cargas passa a ser planejada de grande produção industrial e por receber para haver complementaridade. Com essa constantemente matérias-primas para as possibilidade, a cidade ganha novo fôlego indústrias da região.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Porto; Antonina; Laguna; Pelotas; Porto Alegre; Economia;

7 Segundo relato de jornais da época, houve erro no projeto e na construção dos molhes, ampliando-se, assim, o assoreamento do canal de acesso, inviabilizando a entrada de navios de grande porte (Jornal Albor, 1937).

RMB4oT/2013 121 OS PORTOS HISTÓRICOS: A GÊNESE DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DO SUL DO BRASIL

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RMB4oT/2013 123 Desafios e perspectivas da educação a distância no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha

Antonio Tadeu Cheriff dos Santos1 Professor Doutor

SUMÁRIO

Resultados e discussão A experiência da Divisão de Ensino a Distância da Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias Educação a Distância em Saúde, Telemedicina e Telessaúde: conceitos e contexto Modelo de Gestão em EAD em Saúde: visão sistêmica Conclusão

os últimos anos, a prevenção e o con- sição demográfica pelo qual passa o País, com Ntrole de doenças e agravos à saúde no consequente aumento do número de casos Brasil vêm ganhando destaque no âmbito de doenças crônico-degenerativas, o que das políticas de saúde pública e de formação proporciona grande impacto e pressão social. e qualificação do pessoal da área da saúde, Com o objetivo de organizar a atenção, devido, principalmente, ao processo de tran- formação e qualificação em saúde no País

1 Bacharel e licenciado em Enfermagem, mestre e doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho. Professor da Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias há 29 anos, atuando na Divisão de EAD desde 2006, em consultoria, desenho instrucional, elaboração e tutoria de cursos na área de saúde, metodologia científica e bioética. Desafios e perspectivas da educação a distância no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha

e de adequá-las aos princípios norteadores Considerando esse cenário, o propósito do Sistema Único de Saúde (SUS), o Mi- deste estudo é refletir sobre a necessidade nistério da Saúde vem lançando políticas de formulação de uma estratégia de geração envolvendo as ações de promoção, preven- e difusão do conhecimento a ser utilizada ção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, em programas educacionais em saúde no cuidados paliativos e educação profissional, âmbito do ensino naval, buscando no uso a serem implantadas em todas as unidades das Novas Tecnologias de Informação e federadas. Objetivos que não são distantes Comunicação (NTICs) uma alternativa da realidade do Sistema de Saúde da Ma- para romper com as barreiras geográficas rinha e dos desafios técnicos e logísticos e garantir acesso a programas educacionais que enfrentam a Diretoria de Saúde e a qualificados. Metodologicamente, a base Diretoria de Ensino da Marinha do Brasil para essa reflexão foi fundamentada na para formação e atualização de pessoal. análise dos principais documentos e da Essas políticas, no âmbito do Ministério literatura que tratam dos modelos de gestão da Saúde, buscam organizar e implementar e produção de materiais educativos para a ações por meio de uma Rede de Atenção, educação a distância e telessaúde. com estabelecimento de fluxos de referên- cia e contrarreferência, garantindo acesso Resultados e discussão e atendimento integral. As ações devem ser organizadas em uma linha de cuidados que A experiência da Divisão de Ensino perpasse todos os níveis de atenção (aten- a Distância da Escola de Saúde do ção básica e atenção especializada de média Hospital Naval Marcílio Dias e alta complexidade) e de atendimento (pro- moção, prevenção, diagnóstico, tratamento, As atividades de ensino desenvolvidas reabilitação e cuidados paliativos). na Escola de Saúde são realizadas exclu- Apesar dessas políticas inserirem em sivamente na modalidade presencial. Este seus eixos norteadores a promoção da modelo, no entanto, vem enfrentando desa- educação permanente, um de seus maiores fios operacionais e logísticos para atender desafios encontra-se justamente em possuir à crescente demanda por conhecimento, e articular uma capacidade instalada, capaz formação e capacitação na área da saúde, de atender às demandas de formação e tanto no âmbito do Hospital Naval Marcílio atualização dos profissionais da rede de Dias (HNMD), como na Marinha como atenção à saúde, em tempo, quantidade e um todo. qualidade da produção atual do conheci- Nesse cenário, a Vice-Diretoria de Ensi- mento científico. no do HNMD, em consonância com as di- Nesse sentido, caberia aos gestores o de- retrizes da Diretoria de Ensino da Marinha senvolvimento de ações educacionais que (DEnsM) no âmbito da Educação a Distân- pudessem suprir essa deficiência e aper- cia (EAD), constituiu, em 2005, na Escola feiçoar os processos de trabalho em suas de Saúde, uma divisão (Divisão de Ensino instituições, proporcionando melhorias do a Distância) responsável pela implementa- cuidado aos usuários. Entretanto, devido à ção de tecnologias educacionais interativas existência dos poucos polos de excelência em suas iniciativas educacionais, inclusive que poderiam desenvolver essas ações, aquelas de “educação a distância”. ainda persiste a inexistência de ações pla- A Divisão de Ensino a Distância nasceu nejadas e permanentes em nível nacional. apoiada na visão estratégica de dotar o ensi-

RMB4oT/2013 125 Desafios e perspectivas da educação a distância no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha

no naval de meios educacionais modernos missíveis (2013), e Prevenção de Úlcera por voltados para a formação de pessoal da Pressão (2013). saúde das diversas organizações militares A experiência acumulada nesse processo em todo o território nacional. Surgiu tam- permitiu verificar que a utilização e a apro- bém da necessidade de o HNMD possuir priação do uso das tecnologias interativas mais um meio que lhe permitisse planejar e da informação e comunicação, aplicadas desenvolver iniciativas de educação, quali- ao processo educacional, proporcionam o ficação, gestão do conhecimento e trabalho acesso e a gestão democrática do conhe- – educação continuada e permanente – em cimento na área da saúde, com o planeja- ações e projetos voltados para o Sistema mento, o desenvolvimento e a execução de de Saúde Naval. Uma visão que guarda cursos nesse campo. relação com o escopo das ações da Univer- Nesse cenário, a aplicação das NTICs sidade Aberta do Sistema Único de Saúde aplicadas aos processos e sistemas de (UNA-SUS), e com a aplicação da política educação a distância possuem os seguintes de Telessaúde do Ministério da Saúde pressupostos: e dos Ministérios da – As NTICs são fa- Ciência e Tecnologia cilitadoras do acesso e da Educação – Rede A Divisão de Ensino a e armazenamento de Universitária e de Te- Distância nasceu apoiada dados e da informação. lemedicina (Rute). Nesse procedimento, Os anos entre 2006 na visão estratégica de elas impulsionam um a 2008 compreendem dotar o ensino naval dinâmico processo de o desenvolvimento ensino-aprendizagem, dessa visão estratégi- de meios educacionais em que professores e ca, com a estruturação modernos voltados para a alunos, apesar de es- e o aprendizado do formação de pessoal tarem separados no uso das tecnologias tempo e no espaço, educacionais interati- têm, pela mediação de vas voltadas para o desenvolvimento de recursos didáticos e estratégias de apren- ações de ensino (semipresenciais e a dis- dizagem sistematicamente organizados tância). Nesse período, foram produzidas e veiculados pelos diversos meios de e implementadas disciplinas vinculadas comunicação, a possibilidade de cons- aos cursos dos Programas de Residência trução de conhecimentos (BRASIL, e Aperfeiçoamento de Oficiais do Quadro 1996; MORAN, 2007; LITWIN,2001; da Saúde – Divisão de Ensino Superior da MOORE E KEARSLEY, 2008). Escola e o curso expedito de Suporte Básico – O uso de NTICs não significa ter o de Vida para Praças (Divisão de EAD). O enfoque da tecnologia como um fim em período de 2009 a 2013 foi marcado pelo si mesmo, mas como estratégia a serviço desenvolvimento de material didático vol- de um projeto educacional, logístico e tado para as necessidades de qualificação/ técnico, uma vez que necessitam de ade- atualização do pessoal de enfermagem do quação, treinamento da equipe, recursos HNMD: Treinamento de Higienização das humanos, estratégia de acesso a serviços Mãos (2010), Prevenção de Quedas (2011), de saúde e infraestrutura em informáti- Gerenciamento de Resíduos (2012/2013), ca. Sua aplicação efetiva deve se fazer Prevenção de Doenças Sexualmente Trans- acompanhar de uma avaliação criteriosa

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dos diversos fatores que podem agregar Assim, a equipe da Divisão de Ensino valor à atividade educacional. Pelo fato a Distância da Escola de Saúde funciona de a educação a distância e do uso de também como uma assessoria específica NTICs envolverem recursos tecnológi- das demais áreas de atuação da Escola e cos, ambos possuem custos de implan- do HNMD para assuntos de Educação a tação e custos de manutenção (equipe, Distância e uso de NTICs. A sua proposta tecnologia e comunicação). de trabalho envolve a promoção e o uso das – O uso de NTICs aplicadas a programas novas tecnologias interativas de informação de ensino em saúde (semipresenciais e e comunicação nos programas educacio- a distância) exige especificidades no nais, exercendo o papel de uma assessoria planejamento das ações educacionais, técnica no planejamento e na produção de entre elas a motivação, a disponibiliza- cursos semipresenciais e a distância, bem ção de acesso a recursos educacionais de como nos processos informais que envol- qualidade e a interação com centros de vam ensino e aprendizagem mediados pelas excelência. Também devem ser levados referidas tecnologias. em conta aspectos relacionados com A equipe desenvolve suas ações em as estratégias de aprendizagem e de conformidade com as seguintes diretrizes: avaliação de competências profissionais – fundamentar e promover a aplicação (WEN, 2008). O aumento da qualidade adequada de NTICs para desenvol- educacional em saúde deverá incluir vimento de conhecimento, hábitos e esses elementos, juntamente com a dis- atitudes que favoreçam as atividades ponibilização de oferta e a estruturação educativas da Escola de Saúde; de cursos/atividades coerentes com as – estruturar, desenvolver e capacitar a necessidades técnicas e laborais dos pro- equipe multidisciplinar da Divisão de fissionais de saúde, dadas as caracterís- Ensino a Distância para a gestão e a ticas específicas de atuação desse grupo aplicação das tecnologias educacionais (plantões, tempos de cirurgias etc.), que, interativas nos processos de ensino- em muito, podem vir a limitar o acesso aprendizagem; desse público ao desenvolvimento de – promover processos de qualificação atividade educacional a distância. O da equipe da Escola de Saúde para a mesmo se aplica aos seus professores/ utilização das tecnologias interativas autores/tutores, que necessitam de apoio nas atividades educacionais; e orientação com vistas à otimização e – manter a interlocução com a Di- ao uso do seu tempo para as atividades retoria de Ensino (Departamento de de ensino. Ensino a Distância e Tecnologia Edu- – Programas de treinamento e cursos cacional) a fim de promover orientação (semipresenciais e a distância) que técnica para desenvolvimento e uso fazem uso de NTICs pressupõem as do ambiente virtual de aprendizagem habilidades de leitura, comunicação (Moodle), uso de vídeo e webcon- escrita e capacidade de interação social, ferência, bem como a formação de uma vez que suportam uma prática edu- materiais didáticos voltados para cur- cativa que se fundamenta na geração e sos/programas de ensino a distância, na promoção de formas singulares de buscando colaboração e aperfeiçoa- interação entre professores e alunos mento do uso de novas tecnologias (LITWIN, 2001). educacionais interativas; e

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– estabelecer estratégias de acompanha- estratégia disponível para formar e qualificar mento e avaliação do uso de NTICs em profissionais de saúde que trabalham no SUS. projetos educacionais, especificamente Essa proposta pode se concretizar por meio em EAD. das novas tecnologias de comunicação e in- formação aplicadas aos processos de trabalho, A incorporação das tecnologias intera- modelos de formação de políticas, atenção, tivas nos processos educacionais envolve, gestão, participação popular e controle social entretanto, além dos aspectos comuns no setor saúde (OLIVEIRA, 2007). Struchi- do planejamento e da análise da prática ner, Roschke e Ricciardi (2002) igualmente pedagógica, elementos relacionados a de- apontam que essas mudanças podem ser safios institucionais vinculados às esferas alcançadas por meio de um programa com o política, pedagógica e de infraestrutura de uso de redes colaborativas em educação per- informática/telessaúde. São esses aspectos manente em saúde. Nesse programa, a EAD que precisam ser aprofundados de modo a proporciona, via tecnologia, as condições de proporcionar uma reflexão em termos de diálogo e interação entre profissionais para uma gestão de EAD. a configuração e a con- solidação de um novo Educação Para a Organização paradigma de formação a Distância e qualificação da força em Saúde, Mundial de Saúde, as novas de trabalho da saúde. A Telemedicina tecnologias possibilitam a Telemedicina/Telessaú- e Telessaúde: oferta de serviços ligados de, nesse contexto, pode conceitos e ser apontada enquanto contexto aos cuidados com a saúde, uma ação indicada para nos casos em que distância promover essas ações De acordo com a de educação a distância Lei de Diretrizes e é fator crítico (WEN, 2008). Bases (LDB), a Edu- Em sentido amplo, cação a Distância é uma modalidade de o conceito de Telemedicina e Telessaúde ensino que possibilita processos de ensino- envolve a utilização da informática e das aprendizagem, com mediação de recursos telecomunicações aplicadas às tarefas didáticos sistematicamente organizados, tradicionalmente executadas por médi- apresentados em diferentes suportes de cos, enfermeiros e outros profissionais informação, utilizados isoladamente ou de saúde em assistência clínica, ensino combinados, e veiculados pelos diversos e pesquisa. Para a Organização Mundial meios de comunicação (BRASIL,1996). de Saúde (OMS), essas novas tecnologias Adotada pelo setor saúde, a Educação a possibilitam a oferta de serviços ligados aos Distância vem sendo utilizada como suporte cuidados com a saúde, nos casos em que a de políticas exercidas pelo Ministério da distância é um fator crítico. Saúde. Dentre essas políticas, destacam-se as De uma maneira geral, os termos “tele- Políticas de Educação Permanente em Saúde medicina e telessaúde” são utilizados como (BRASIL, 2007) e o Programa Nacional sinônimos. No entanto, telessaúde possui Telessaúde Brasil Redes (BRASIL, 2011). um sentido mais abrangente do que o termo Para Oliveira (2007), a educação perma- telemedicina, uma vez que se refere ao uso nente realizada via EAD é uma poderosa de NTICs no setor da saúde.

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Diversas iniciativas, no Brasil e no mun- plantação de infraestrutura de informação e do, já fazem uso das telecomunicações na telecomunicação com prioridade em zonas prestação, educação, gestão e administração remotas, isoladas e marginais no País, para dos cuidados de saúde2, graças ao contínuo possibilitar o desenvolvimento contínuo a desenvolvimento tecnológico nessa área. distância das equipes de Saúde da Família. O permanente desenvolvimento da Esse marco político-institucional evoluiu tecnologia de telecomunicações vem afe- na forma e amplitude com a criação do tando os processos de trabalho na área da Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes saúde, abrindo novas possibilidades para (Telessaúde Brasil Redes – Portaria GM/MS a colaboração entre profissionais. Entre no 2.546/2011), com o objetivo de apoiar a as atividades educacionais e assistenciais consolidação das Redes de Atenção à Saúde utilizadas no âmbito da telemedicina e ordenadas pela atenção básica no âmbito do telessaúde, as mais disseminadas são: a Sistema Único de Saúde (SUS). videoconferência, os estudos de caso na No entanto, se essas ações trazem inú- área da assistência e da pesquisa, a segunda meras possibilidades de atuação, elas tam- opinião formativa, a prestação de serviços bém suscitam uma diversidade de questões diagnósticos em regiões muito distantes3 culturais, tecnológicas e legais, as quais e a consultoria de natureza pedagógica adicionam ao tema uma complexidade sobre dúvidas na assistência4. Igualmente, conceitual e operacional. Ou seja, a análise destacam-se os programas de educação a do tema requer, além da junção do campo distância, realizados em ambientes virtuais da Telemática com o universo laboral e téc- de aprendizagem específicos, voltados para nico das profissões da saúde, a aplicação de a educação continuada; e o aperfeiçoamen- conceitos teóricos e experiências práticas to e a atualização dos profissionais da área relativas a várias áreas do conhecimento. da saúde profissional. Destacam-se entre elas: Economia, Logís- No Brasil, as ações em telemedicina são tica, Pedagogia, Andragogia, Tecnologia da realizadas desde a década de 90, porém de Informação e Modelos de Gestão em EAD. forma pontual. A partir de 2007, essas ações ganharam força, notadamente pelo Projeto Modelo de Gestão em EAD em Nacional de Telessaúde Aplicado à Aten- Saúde: visão sistêmica ção Básica à Saúde. Instituído inicialmente pela Portaria no 35, de 4 de janeiro de 2007, Pensar na elaboração de programas esse projeto teve como propósito “desen- de educação a distância em larga escala, volver ações de apoio à assistência à saúde envolvendo muitos estudantes e ações em e, sobretudo, de educação permanente de vários lugares geográficos, encerra desafios Saúde da Família, visando à educação para relacionados às necessidades de logística, o trabalho e, na perspectiva de mudanças de suporte de tutoria, produção de material práticas de trabalho, que resulte na quali- e infraestrutura de informática e teleco- dade do atendimento da Atenção Básica do municações. Ao pensar nestes termos, é SUS ” (Art. 1o). Igualmente, buscava a im- necessário buscar uma visão ampla para

2 Isso define o que chamamos de Telemedicina. A Resolução CFM no 1.643/2002, no seu Art. 1o, define “a Tele- medicina como o exercício da Medicina por meio da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em Saúde”. 3 Essa ação caracteriza o conceito de Telessaúde. 4 Conceitos, respectivamente, de segunda opinião clínica e formativa.

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os aspectos de gestão e planejamento do preocupando-se com a escolha do ambiente uso dos recursos da educação a distância de aprendizagem e com as tecnologias a e das novas tecnologias de comunicação serem adotadas. Entretanto, muito mais do e informação. que escolha tecnológica ou de plataforma, Normalmente, as instituições iniciam o planejamento e a execução de um projeto suas atividades de EAD sem uma ideia de educação a distância, nos seus aspectos clara ou completa de todos os desafios, ou operacionais, requerem um trabalho de da natureza de todas as demandas a serem organização detalhado, no qual se abrem atendidas. Ribeiro, Timm e Zaro (2007) inúmeras etapas e procedimentos, com comentam que grande parte das institui- suas particularidades (RIBEIRO; TIMM; ções forma a sua equipe com educadores ZARO, 2007; FILATRO, 2008; MOORE; e gestores da instituição que trabalharam KEARSLEY, 2008). As exigências variam previamente ou possuem afinidade com de acordo com a natureza do curso, o tipo educação a distância, ou mesmo trazendo de aluno e as tecnologias envolvidas, entre profissionais externos com experiência outros itens. Em suma, o desenho de um para compor a equipe. Em qualquer um curso de educação a distância irá variar de dos casos, indicam que “são necessárias acordo com as demandas, as quais são di- ações expressivas de capacitação da equipe, nâmicas e se alteram ao ritmo das múltiplas tanto pela natureza da atividade quanto pela situações. Essas situações são ainda mais sua própria característica multidisciplinar, agudas quando a instituição trabalha com incluindo professores e futuros tutores”. os vários níveis de educação profissional A problemática central de um novo nú- em saúde. Nesses cresce a exigência de cleo de EAD está relacionada à dificuldade desenhos de cursos a distância/teleduca- de elaboração de uma política e de um plano ção que contemplem e atendam demandas de trabalho que, realmente, atendam às ne- específicas. Profissionais da área da saúde, cessidades de todos os potenciais usuários por conta das suas jornadas, horários e es- (internos e externos) a serem beneficiados pecificidade de tarefas, requerem suportes na instituição (RIBEIRO; TIMM; ZARO, midiáticos e tipos de interação distintos, 2007). Essa política e esse plano de trabalho bem como estruturas de tutoria diversas, devem levar em conta desde a necessidade com logísticas, estratégias pedagógicas da produção de material didático adequado, (incluindo, nessas, estruturas curriculares passando pelo investimento, atualização e mais flexíveis e leves) e professores dife- manutenção da infraestrutura de informática renciados. Wen (2003; 2008), tendo em vis- (formação de orçamentos para equipamentos ta as possibilidades de ações de telessaúde e softwares de produção de materiais para e teleducação, as reuniu em três grandes educação a distância) até o planejamento da áreas de concentração: 1 – Teleducação adequação da carga horária dos profissionais interativa e rede de aprendizagem colabo- da instituição que acabarão envolvidos na rativa, trazendo os aspectos mais formais produção intelectual do material didático do que se convenciona chamar de educação dos cursos e, também, em tutoria. Eis os a distância; 2 – Teleassistência/Regulação elementos a serem considerados dentro de e Vigilância Epidemiológica, agrupando as uma visão sistêmica da gestão em educação atividades de assistência e de sua gestão; a distância. e 3 – Pesquisa Multicêntrica/Colaboração Instituições privadas e públicas inves- de Centros de Excelência e da Rede de tem na educação a distância geralmente Teleciência, envolvendo a “integração

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de diversos centros de pesquisa” (WEN, a Distância da Escola de Saúde na formação 2008). Atualmente, todas essas áreas são de múltiplos cursos e acompanhamento realidades, graças ao Programa Nacional de vários tipos de públicos, bem como a Telessaúde Brasil Redes (Telessaúde Brasil gestão dos seus clientes internos (equipe Redes – http://www.telessaudebrasil.org. de EAD, equipe de professores e tutores, br/) e às ações e atividades de grupos de profissionais de saúde e da gestão). Foram interesse especial da Rede Universitária de apresentadas questões conceituais e de con- Telemedicina (Rute/RNP – www.rute.rnp. texto relativas à estruturação e à concepção br), ambas com materiais didáticos em saú- do setor de EAD e como este configura a de disponíveis para intercâmbio e acesso. sua identidade e missão. Assim sendo, a estruturação de uma As soluções apontadas apenas vis- visão sistêmica na gestão das ações de edu- lumbram o horizonte de possibilidades, cação a distância/teleducação e telessaúde indicando um caminho para o desenvol- é essencial para o desenvolvimento de um vimento das atividades de educação a processo profissional e sustentável. distância a serem implementadas pela O processo será Divisão de Educação a capaz de prover os Distância do Hospital elementos que vão O artigo refletiu sobre Naval Marcílio Dias. dar suporte ao pro- A posição do autor é jeto institucional de a importância da que as soluções devem educação com o uso estruturação de um ser construídas aprovei- de NTICs, os quais, modelo de gestão e de tando oportunidades e numa perspectiva de materiais disponíveis uma política de acesso uma diretriz política para nos atuais programas livre do conhecimen- favorecer a implantação e o governamentais. A Di- to e de um trabalho visão cumpre, dessa colaborativo em rede, desenvolvimento de cursos forma, uma das suas compõem o horizonte a distância e ações de atribuições com a as- com soluções técnicas telessaúde/teleducação sessoria e a indicação e políticas a serem de soluções flexíveis consideradas pelo Sis- e customizadas para a tema de Ensino Naval em saúde para a sua instituição, equacionando a relação custo x implantação e seu desenvolvimento. benefício, sem perder o foco das questões pedagógicas e, principalmente, da nature- Conclusão za dos conteúdos complexos exigidos no âmbito da saúde naval. O artigo refletiu sobre a importância Pelo encaminhamento desta proposta, da estruturação de um modelo de gestão torna-se evidente haver um efetivo esfor- e de uma diretriz política para favorecer ço de trabalho conjunto entre as unidades a implantação e o desenvolvimento de de Ensino da Marinha que fazem uso de cursos a distância e ações de telessaúde/ NTICs – Diretoria de Ensino e Diretoria teleducação, de acordo com necessidades de Saúde da Marinha do Brasil, em parce- específicas do Sistema de Ensino e Saúde ria com os demais membros do Programa da Marinha. Essa visão leva em conta a ex- Nacional Telessaúde Brasil Redes (Teles- periência acumulada da Divisão de Ensino saúde Brasil Redes) e Rede Universitária

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de Telemedicina (Rute/RNP) –, visando geográficas, facilitando o acesso às in- direcionar os processos educacionais à real formações e à democratização do saber, necessidade e às peculiaridades do ensino em meio ao desenvolvimento de uma e da saúde navais. estratégia educativa orientada para a trans- O autor acredita que esse intento po- formação dos serviços de ensino e saúde tencializará as ações comprometidas com e para o desenvolvimento permanente de o incremento da qualidade de formação. recursos humanos para rede de atenção à Ao mesmo tempo, eliminará as barreiras saúde naval.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ensino à distância;

Referências

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132 RMB4oT/2013 Desafios e perspectivas da educação a distância no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha

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WILLIAM CARMO CESAR** Capitão de Mar e Guerra (Refo)

SUMÁRIO

A gênese do navio de guerra O cruzador e sua diversidade O cruzador na Marinha brasileira Os cruzadores no mundo Alguns cruzadores tornaram-se famosos o dia 24 de agosto de 1980, por volta rebocado para Formosa, preferiu o pélago Ndas 23 horas, ao largo da Cidade do oceânico a ser sucateado em um estaleiro Cabo, no litoral atlântico da África do Sul, qualquer. o Cruzador Tamandaré, incorporado à Ma- Decorridos menos de dois anos do rinha do Brasil em fevereiro de 1952, antigo episódio acima, outro cruzador, o argen- USS CL- 49 St. Louis e heroico Lucky Lou tino ARA General Belgrano, também sobrevivente dos tempos de Pearl Harbor e ex-norte-americano (CL-46 USS Phoenix), da campanha do Pacífico durante a Segunda afundava a 150 milhas a leste da Isla de los Guerra Mundial, foi a pique em meio a uma Estados, atingido por torpedos disparados tempestade. Adquirido em leilão por uma do Submarino Nuclear Conqueror, da Real firma estrangeira, após sua desativação, Marinha Britânica, durante a guerra das em 1976, o bravo C-12, que estava sendo Falklands/Malvinas, de 1982.

* Publicado na Revista de Villegagnon, 2012. ** Coordenador e instrutor de História Naval na Escola Naval (1996-2013); instrutor de História Naval para Guardas-Marinha (2006). Autor do livro “Uma história das guerras navais” (2013). Autor de vários artigos para revistas. CRUZADOR: UMA NAVIS RARA

Cruzador Ligeiro Tamandaré (C12) saindo a barra do Rio de Janeiro Em junho de 2006, em uma inesquecível Tendo compartilhado por mais de três Viagem de Instrução de Guardas-Marinha, anos da praça-d’armas do saudoso C-12, em embarcado no Navio-Escola Brasil como meu primeiro e proveitoso embarque como instrutor de História Naval, tive a oportu- oficial de Marinha, passei a nutrir grande nidade de conhecer, no admiração e interes- porto de Callao, Peru, se pela história desse o BAP Almirante O transporte de riquezas importante navio-tipo, Grau, um dos últimos hoje uma navis rara nas cruzadores ainda em pelos mares, desde tempos Marinhas de guerra do atividade. Comissio- remotos, despertou a planeta. nado na Armada peru- cobiça, a pirataria, e ana, o belíssimo ex-De A GÊNESE Ruyter da Marinha ho- provocou o choque de DO NAVIO DE landesa, modernizado interesses entre mercadores GUERRA nos anos 1985-88, in- clusive com instalação rivais O transporte de ri- de reparos para lança- quezas pelos mares, mento de mísseis Otomat, exibia ainda sua desde tempos remotos, despertou a co- imponente bateria de quatro torres duplas biça, a pirataria, e provocou o choque de canhões Bofors de 152 mm. de interesses entre mercadores rivais.

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Surgiram as primeiras disputas marítimas, las quadradas e latinas, e armados com caracterizadas por lutas nos conveses entre canhões, deram dimensão estratégica aos marinheiros e mercadores em ações de poderes navais, levando potências euro- pilhagem. peias ao domínio de mares nunca dantes Com o propósito de prover a defesa navegados, abrindo caminho para a for- das embarcações e de suas mercadorias, mação de grandes impérios no ultramar. soldados começaram a ser embarcados nas Das pequenas caravelas portuguesas e naves redondas, de boca larga, utilizadas no naus ibéricas, vieram as carracas de mea- transporte de cargas. Mas logo iria surgir o dos do século XVI e os galeões do século navio longo, especialmente desenhado para XVII, que chegaram a montar mais de três o combate: a galera a remo, com pouco mastros. calado, boca estreita e mais manobreira que A abordagem e a luta corpo a corpo o navio redondo. no convés, do tempo das galeras antigas Os fenícios foram os precursores no e mediterrâneas, deixavam de ser prática emprego de galeras birremes, com duas corrente, em favor do combate à distância bancadas de remadores e armadas com pelo fogo da artilharia. Nascia a linha de esporão (aríete) à proa. Graças a essa pio- batalha quando as manobras de possuir neira arma estrutural, e também ao corvo, o vento passaram a ser perseguidas pelos à catapulta e ao fogo grego, cartagineses, comandantes de força ofensivos. A era da gregos, romanos e bizantinos puderam vela atingia o seu auge com os superartilha- manter, cada um a seu tempo, o domínio dos navios de linha, as belonaves capitais do Mediterrâneo e dos mares adjacentes. das principais Marinhas mundiais, como a Posteriormente, navios de borda alta, HMS Victory, capitânia de Horacio Nelson multimastreados e guarnecidos com ve- em Trafalgar.

Cruzador Almirante Grau (Peru)

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Com a introdução do vapor e do aço Das últimas décadas do século XIX a bordo, fruto da Revolução Industrial, o ao início do século seguinte, uma gama século XIX vai assistir a uma das maiores variada de modelos de cruzadores, com mudanças no desenho, na construção, no características peculiares, passou a ser armamento e também nas táticas e na con- construída e incorporada às forças navais. dução da guerra naval. O projetil explosivo Como eram destinados ao ataque ou à pro- nos canhões navais decreta o fim dos cascos teção das rotas marítimas comerciais, em de madeira, a proteção encouraçada se torna cruzeiros distantes e prolongados, de um vital para a defesa do navio e uma disputa modo geral possuíam grande capacidade de acirrada se estabelece entre o canhão e a armazenamento de combustível (carvão) e couraça: nascia o encouraçado, o sucessor eram armados com pesados canhões, o que do navio de linha. os aproximou do porte dos encouraçados. E, ao lado dos encouraçados, outro Entre esses variados tipos encontramos navio-tipo de grande porte e quase tão primordialmente: o cruzador encouraçado imponente, porém mais veloz, passou a ou blindado – CE, que possuía uma cinta ser bastante empregado pelas Marinhas de de proteção encouraçada no casco, acima guerra: o cruzador. da linha-d’água e no convés; o cruzador protegido – CP, com proteção encouraçada O CRUZADOR E SUA apenas no convés; e o scout cruiser – SC, DIVERSIDADE surgido no início do século XX, de menor porte, menos armado e protegido, porém O termo cruiser, ou cruising, fora origi- mais veloz que os demais, pois era desti- nalmente empregado para indicar não uma nado a operar junto das esquadras, como classe ou tipo de navio, mas sim a função a escolta ou líder de flotilhas. ele atribuída. Podia ser, por exemplo, uma Em 1907 foi lançado um supercruzador fragata ou um brigue destacado para a reali- encouraçado, ou encouraçado-veloz, um zação de tarefas especiais, como patrulha e verdadeiro dreadnought-cruiser, um único proteção do tráfego mercante, em operação tipo de navio capaz de executar a tarefa de escoteiro, isto é, isolado dos grupos e forças três belonaves – do cruzador protegido de navais, em cruzeiros normalmente distantes menor porte, do cruzador encouraçado/ e muitas vezes prolongados. blindado e do próprio encouraçado: o Durante a era da vela, quando os ingleses HMS Invencible, seguido do Inflexible e começaram a classificar os navios por clas- do Indomitable, que, a partir de novembro ses, de acordo com seu porte, quantidade de de 1911, foram oficialmente denominados conveses artilhados e número de canhões a cruzadores de batalha pelo Almirantado bordo, os cruzadores eram os navios mais britânico. Além dos ingleses, os alemães leves, mais velozes e menos artilhados do e japoneses também lançaram cruzadores que os navios de linha, com menos de 60 da batalha que se aproximavam do porte canhões, portanto não destinados a engajar de um encouraçado, ainda com canhões de na linha de combate principal, mas sim em grande calibre, porém um pouco menores, tarefas especiais. Ao final dos anos 1880, e couraças menos espessas, embora os o termo passou a ser institucionalizado na alemães tenham optado por couraças mais Marinha Real Britânica, que reclassificou protegidas e canhões de calibre menor. todas as antigas fragatas e corvetas como Posteriormente, os ingleses fizeram uma cruisers. reclassificação geral de seus cruzadores,

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em função do armamento, que resultou em que resultou na incorporação, até o final cruzadores leves, armados com canhões dos anos 1860, de cerca de vinte navios, de até 6 polegadas, blindados como o CE, ainda com casco de madeira, mas movidos nas laterais e no convés, mas de menores a vapor e por rodas de pás laterais, como dimensões, e em cruzadores pesados, a Fragata D. Afonso, construída na Ingla- com canhões de calibre superior, até 12 terra e comissionada em 1848, que teve polegadas. como primeiro comandante o Capitão de Mar e Guerra Joaquim Marques Lisboa, O CRUZADOR NA MARINHA futuro almirante, Marquês de Tamandaré BRASILEIRA e Patrono da Marinha. Nos anos de 1864 e 1868, dois amplos Ao final da primeira metade do século programas navais, que incluíram fragatas, XIX, a Marinha Imperial brasileira possuía corvetas e canhoneiras encouraçadas, fo- uma esquadra de naus e fragatas, em tudo ram propostos e em parte executados. Dessa semelhante às Marinhas de guerra da era forma, em 1869, ao final da Guerra do Para- napoleônica, ou seja, com esses navios de guai, o Brasil apresentava uma força naval casco de madeira e movidos a pano, en- com quase 60 belonaves, entre as quais 16 quanto os países industrializados já adota- de primeira linha, força, segundo alguns vam o vapor como propulsão. A renovação autores, “somente ultrapassada, quanto da frota com meios navais equipados com ao número de unidades, pelas armadas de a nova tecnologia trazida pela Revolução Grã-Bretanha, Rússia, Estados Unidos e Industrial tornou-se uma necessidade e Itália, embora a maior parte desses navios provocou uma série de encomendas, tanto fosse de dimensões apropriadas a operações no exterior como em nossos estaleiros, costeiras e fluviais”.1

Cruzador Rio Grande do Sul – 1910

1 NARCISO, José. “A política de Poder Naval no Brasil”. In: RPN, março 1980, p. 26.

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Somente a partir de 1870, portanto ainda circum-navegações da Marinha brasileira. no II Reinado do Império, começariam a ser Um terceiro, o Tamandaré, também mere- incorporados à Marinha do Brasil navios ce destaque por ter sido o maior até então maiores, entre eles os primeiros cruzadores, lançado pelo Arsenal da Corte, com 4.500 que, ao final do século XIX, como pode toneladas e 96 metros. ser constatado no Quadro I, chegaram a No século seguinte, já em plena Re- somar cerca de 15 unidades. Desses, dois pública, a Esquadra receberia seus quatro tornaram-se famosos como navios-escola, o últimos cruzadores, como mostrado no Almirante Barroso e o Benjamin Constant, Quadro II: em 1910, como parte do pro- que, em Viagens de Instrução de Guardas- grama de 1906 do Almirante Alexandrino, Marinha, realizaram, respectivamente em dois scouts de 3.150 t, 122 m e velocidade 1888-1889 e 1908, a segunda e a terceira de 27 nós, construídos na Grã-Bretanha QUADRO I – Cruzadores da Marinha do Brasil – Século XIX

Nome Comissão/ Loal de Deslocamento Propulsão Armamento Observações Baixa construção Comprimento

Trajano 1873/1906 AMRJ 1.400 t/64 m Mista 3 x 70 lbs Cruzador Escola

Guanabara 1879/1893 AMRJ 1.900 t/61 m Vapor 9 x 70 lbs

Parnahyba 1879/1889 AMRJ 470 t/53 m Vapor 1 x 30 lbs

Almirante 1882/1893 AMRJ 2.050 t/72 m Mista 6 x 120 mm Realizou, entre 1888-1890, a Barroso 2a circum-navegação da MB, (Cruzador- levando Guardas-Marinha Escola)

Primeiro de 1882/1917 AMRJ 730 t/56 m Mista 2 x 57 mm Março 2 x 37 mm

Imperial 1884/1887 Ponta da Areia 730 t/62 mm Mista 7 x 32 lbs Marinheiro

Tiradentes 1890/1919 Armstrong 750 t/50 m Vapor 3 x 57 mm Grã-Bretanha 2 tubos torpedo

Benjamin 1892/1926 La Seyne 2.300 t/74 m Mista 4 x 120 mm Efetuou a 3a circum-navega- Constant Toulon 8 x 120 mm ção da MB, com Guardas- (Navio-Escola) 4 tubos torpedo Marinha, em 1908

República 1892/1920 Armstrong 1.230 t/70 m Vapor 6 x 120 mm Grã-Bretanha 4 tubos torpedo

Andrada 1894/1913 Noruega 1.877 t/85 m Mista 2 x 120 mm Ex-Britania e ex-America 2 x 76 mm 2 tubos torpedo

Barroso 1896/1931 Armstrong 2.300 t/108 m Vela 6 x 152 mm C-1 Grã-Bretanha 4 x 120 mm 3 tubos torpedo

Tymbira 1896/1917 Kiel 1.040 t/86 m Vapor 2 x 100 mm Cruzadores-Torpedeiros Tamoyo 1896/1916 Alemanha 6 x 57 mm Tupy 1897/1915 3 tubos torpedo

Tamandaré 1897/1915 AMRJ 3.400 t/96 m Mista 10 x 150 mm Cruzador Protegido, maior 2 x 120 mm belonave construída no antigo 5 tubos torpedo Arsenal da Corte

NOTA: Foram, ainda, comissionados por curto período, os seguintes cruzadores: – Entre 1893 e 1894, como cruzadores auxiliares, o Pereira da Cunha (ex-Vênus) e o Meteoro, dois vapores mercantes. – Em 1896, junto com o C-1 Barroso, dois outros cruzadores de 3.400 t e 180 m, o Almirante Abreu e o Amazonas, os quais foram transferidos para os Estados Unidos, em 1898, e renomeados, respectivamente, USS Albany e New Orleans.

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– o Rio Grande do Sul e o Bahia; quatro com apenas um. Merece destaque o USS décadas depois, em 1951, dois cruzadores Long Beach, dos EUA, de 15 mil t, 220 m leves transferidos da Marinha dos Estados e armado com mísseis, como o primeiro na- Unidos, veteranos da Segunda Guerra vio de guerra de superfície com propulsão Mundial, o C-11 Barroso e o C-12 Ta- nuclear, lançado em 1959, comissionado mandaré, com mais de 11 mil t, 185 m e em 1961 e desativado em 1995. 15 canhões de 152 mm, em cinco torres Nos últimos anos do século XX, passa- triplas, as últimas e imponentes belonaves das duas décadas da baixa de nosso último mais bem artilhadas da Marinha brasileira cruzador (C-12, 1976), apenas duas Mari- desde os tempos dos encouraçados Minas nhas no mundo ainda contavam com esse Gerais e São Paulo. tipo de belonave em suas Armadas, além do Peru, com seu belíssimo Almirante Grau: OS CRUZADORES NO MUNDO – os Estados Unidos, com quatro nu- cleares de 8.700 t e 180 m (Mississipi, Na primeira metade da década de 1970, Arkansas, California e South Carolina) e quando os cruzadores Barroso e Tamanda- 27 convencionais, de 7 mil t e 173 m, da ré estavam ativos e incorporados à Esqua- classe Ticonderoga; e dra brasileira, vários países ainda possuíam – a Rússia, com quatro cruzadores de esse tipo de belonave em suas Marinhas, batalha nucleares, de 19 mil t e 230 m, destacando-se os Estados Unidos, a União classe Kirov (Almirante Ushakov, Almi- Soviética e a Grã-Bretanha com mais de rante Lazarev, Almirante Nakhimov e Pyotr dez exemplares cada, além de Argentina, Veliki), quatro de 9.800 t e 186 m (Moskva, Chile, França e Itália com três; o Peru e a Marshal Ustinov, Varyag e Almirante Índia com dois e a Holanda e a Espanha Lobov), além de cinco de 7.600 t e 173 m

QUADRO II – Cruzadores da Marinha do Brasil – Século XX

Nome Comissão/ Loal de Deslocamento Propulsão Armamento Observações Baixa construção Comprimento

Rio Grande 1910/1948 Armstrong 3.150 t/122 Vapor 10 x 120 mm Participou da 1 a Guerra do Sul Grã-Bretanha mm 6 x 47 mm Mundial, integrando a (Scout Cruiser) 2 tubos torpedo DNOG, em 1918, e da 2a Guerra Mundial

Bahia 1910/1945 Armstrong 3.150 t/122 m Vapor 10 x 120 mm Participou da 1 a Guerra (Scout Cruiser) Grã-Bretanha 6 x 47 mm Mundial, integrando a 2 tubos torpedo DNOG, integrando a FNNE, afundando em 1945

Barroso 1951/1973 Philadelphia 11.000 t/185 m Vapor 15 x 152 mm Comissionado na Marinha C-11 Navy Yard 8 x 127 mm dos EUA, de 1939 a 1945, (Cruzador EUA 28 x 40 mm participou da 2 a Guerra Leve) Mundial

Tamandaré 1951/1976 Bremerton 11.000 t/185 m Vapor 15 x 152 mm Comissionado na Marinha C-12 Washington 8 x 127 mm dos EUA, de 1939 a 1945, (Cruzador EUA 28 x 40 mm participou da 2 a Guerra Leve) Mundial

NOTA: Em 1917, foram comissionados dois cruzadores-auxiliares, o Belmonte (ex-Posen) e o Parnahyba (ex- Alrick), navios mercantes alemães. Ambos foram, no entanto, transferidos para o Lloyd Brasileiro, ainda naquele ano, sendo o Belmonte renomeado Mandu. Em 1937, o Mandu voltou a servir à Marinha de guerra, como navio-tender, para apoio ao recebimento, na Itália, dos submarinos T1 – Tupy, T2 – Tymbira e T3 – Tamoyo.

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(Ochakov, Kerch, Azov, Petropavlovsk e e merecem ser relembrados, entre os quais Vladivostok). podemos incluir: – o Aurora, que participou do cruzeiro ALGUNS CRUZADORES da frota russa do Báltico ao Mar do Japão, TORNARAM-SE FAMOSOS sobreviveu à Batalha de Tsushima e par- ticipou da Revolução Russa, de outubro Inúmeros cruzadores participaram de 1917, e hoje pode ser visitado, como de guerras e engajaram várias batalhas navio-museu, em São Petersburgo; navais, importantes e decisivas. Alguns – o HMS Hood, cruzador de batalha foram afundados e muitos sobreviveram. inglês, afundado pelo Encouraçado Bismar- Históricas operações navais aí estão para ck em maio de 1941, ao largo da Islândia, comprovar: Tsushima (1905); Coronel; vitimando cerca de 1.400 tripulantes; Falklands (1914) ou Jutlândia (1916), na – o HMS Belfast, cruzador britânico, I Guerra Mundial; Pearl Harbor – de onde com ações no Cabo Norte e na Normandia, suspendeu heroicamente, durante o ataque na Segunda Guerra Mundial, e na Guerra aeronaval japonês da manhã de 7 de de- da Coreia, hoje também navio-museu, em zembro de 1941, o nosso Tamandaré, então meio ao Tâmisa, à vista da belíssima Tower CL-49, USS Saint Louis – e tantas outras Bridge; no Pacífico, no Atlântico, no Mediterrâneo – o Bahia, scout brasileiro, integrante e no Índico, na Segunda Guerra Mundial, da Divisão Naval de Operações em Guerra assim como na Coreia, no Vietnã e nas (DNOG), na Primeira Guerra Mundial, e Malvinas. da Força Naval do Nordeste (FNNE), na Como o Lucky Lou, o saudoso C-12/ Segunda Guerra Mundial, afundado por CL-49, muitos tiveram ação de destaque explosão acidental, em julho de 1945, em

Cruzador Aurora – 1903 (Rússia)

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Cruzador Tamandaré – 1897

Estação Naval de apoio a aeronaves, nas conflito das Falklands/Malvinas, atingido proximidades dos rochedos de São Pedro por torpedos disparados do submarino e São Paulo; nuclear britânico Conqueror, em maio de – o General Belgrano, da Armada 1982, sendo, portanto, o último cruzador Argentina, que foi ao fundo durante o afundado em ação naval de guerra.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Cruzador;

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Almirante Trajano Augusto de. Nossa Marinha: seus feitos e glórias, 1822- 1940. Rio de Janeiro: Fundação Emílio Odebrecht & SDGM, 1986. Jane’s Fighting Ships. Edições 1973-1974 e 1996-1998. LAMBERT, Nicholas. Sir John Fisher’s Naval Revolution. Columbia, South Carolina: University of Carolina Press, 2002. NARCISO, José. A Política de Poder Naval no Brasil. (In: revista Portos & Navios, fevereiro a setembro de 1980). Rio de Janeiro: RPN,1980. PEMSEL, Helmut. A history of war at sea. Annapolis: Naval Institute Press, 1979. http://www.naviosbrasileiros.com.br/ngb/ngb-new.htm.

142 RMB4oT/2013 treinando oficiais para a missão de LÍDERES EDUCADORES EM VILLEGAGNON: O RELATO DE UMA EXPERIêNCIA*

“Quando tudo o que é natural, criativo, flexível, caloroso e que emana do espírito humano é esmagado e apertado, qualidades de comando como a compaixão, as decisões corajosas e a vocação militar dão lugar à conformidade, à deformação de caráter, à indecisão e ao medo de falhar.” Norman Dixon

Erica Barreto Nobre** Capitão de Mar e Guerra (RM1-T)

sumário

Apresentação Justificativa e antecedentes O relato da experiência Planejamento e passos preliminares Objetivos Programa e metodologia Avaliação e resultados Conclusão

APREsENTAÇÃO Por meio deste breve artigo, pretende-se não só in­centivar a reflexão e a discussão citação de Dixon, na epígrafe, pode sobre a questão da formação militar e do A gerar polêmi­ca ou incômodo pelas preparo daqueles que dela se encarregam, palavras cruas e incisivas, mas ela nos re- mas também registrar e divulgar alterna­ mete à complexidade da formação militar, tivas de aperfeiçoamento empregadas com problematizando esta questão e alertando sucesso, as quais, se não forem documen- sobre as vicissitudes e os riscos do processo tadas, correm o risco de se limitarem a de transformar jovens cidadãos em discipli- meras iniciativas pessoais, autografadas, nados e valorosos futuros líderes militares. datadas e esquecidas, sem nunca chegarem

* N.R.: Matéria publicada na Revista Villegagnon de 2012. ** Psicóloga, graduada pela UERJ, ingressou na Marinha em 1983. Serviu no Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha (Chefe do Departamento de Psicologia) e na Escola Naval (Instrutora de Liderança e Chefe do Centro de Ensino de Ciências Sociais). Atualmente, na Reserva, é instrutora naquela Escola. Mestre em Psicologia Social pela UFRJ, com dissertação relativa à liderança militar-naval. Recebeu o Prêmio Produção Acadêmica 2006, por artigo publicado na RMB (4o Trim/2005). A sua matéria “Ser Militar” foi selecionada como capa da RMB (2o Trim/2012). treinando oficiais para a missão de LÍDERES EDUCADORES EM VILLEGAGNON: O RELATO DE UMA EXPERIêNCIA

Antes de explicitar os objetivos e a meto- dologia do treinamen- to propriamente ditos, para que este possa ser avaliado, reproduzido e aperfeiçoado no fu- turo, faz-se necessário relatar brevemente a sua origem e história.

JUsTiFicATivA E ANTEcEDENTEs Cerimônia de Juramento à Bandeira pelos Aspirantes do 1o ano a constituir práticas institucionalizadas. A A premissa que justifica a necessidade natureza da atividade militar implica uma de treina­mento específico para desempenhar saudável renovação de quadros de pessoal a função de líder educador, em Organiza- a cada dois anos, o que, se por um lado traz ções Militares (OM) de forma­ção, é que as vantagens, por outro, algumas vezes, pode atividades destes militares distinguem-se, também im­plicar perdas por descontinui- significativamente, daquelas operativas, tí- dade e lacunas de registro histórico quanto picas da car­reira, exigindo conhecimentos e a práticas bem-sucedidas. Eventual­mente, competências peculia­res. A experiência mos- retorna-se a linhas de ação que já se haviam tra que excelentes oficiais no nível operativo mostrado infrutíferas, reincidindo-se em não, estão, necessariamente prepara­dos para velhos erros ou, simplesmente, retrocede-se serem bons educadores, lidando com jovens quanto a avanços ante­riormente alcançados, em formação. J. Gardner enfatiza o papel dos apenas porque pessoas se vão e a memória modelos ou mentores, considerando que há de determinadas práticas eficazes se perde. diversos atributos de liderança que poderiam O relato que se segue diz respeito ao ser mais bem aprendidos por meio de exem- último trei­namento realizado na Escola plos vivos. Este aspecto evidencia a necessi- Naval (EN), em maio de 2011, denominado dade de se dar muita atenção à seleção e ao “Ciclo de Palestras de Psicologia e Lideran- pre­paro dos oficiais do Comando do Corpo ça para Oficiais Educadores do Comando de Alunos (Colégio Naval) ou do Corpo de do Corpo de Aspirantes da Escola Naval”. Aspirantes (Escola Naval) e de todos aqueles Ele é o resul­tado de um longo percurso. que se vão responsabilizar pela formação de Desde 2002, vários trei­namentos deste tipo futuros líderes. Eles são agentes multiplica- foram realizados, mas se entende que, após dores. Seus acertos e erros se refletem sobre diversos descaminhos, equívocos e reformu­ toda uma nova geração de militares. lações, finalmente se alcançou um formato Enquanto as Aca­demias Militares têm suficiente­mente bem-sucedido de treina- como missão, em linhas gerais, formar mento, que tem boa ade­são e agrega valor à oficiais para os primeiros postos da carreira atuação dos oficiais do Comando do Corpo militar, o Comando do Corpo de Aspirantes/ de Aspirantes (ComCA) no seu incansável e Cadetes é responsável, basicamente, pela diuturno esforço para bem formarem a futura formação militar dos jovens, incluindo-se aí geração de oficiais de Marinha de carreira. a forja da liderança e do caráter militar. Eles

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devem formar personalidades, disseminar um modelo mais teórico­ de disseminação valores e incentivar vocações, mas também de conceitos e teorias de Psicologia e de têm o po­der de decepcionar, de desiludir liderança, associado também a técnicas de e de “deformar” cará­ter, relembrando a dinâ­mica de grupo, que visavam desen- contundente epígrafe de Dixon, seja por volver competências de relacionamento desconhecimento, desmotivação ou inabi- interpessoal. lidade. Assim, nenhum esforço é supérfluo Ao longo de uma década, em que sete ou excessivo para melhor prepará-los para a desses trei­namentos (seis para a EN – 2002, tão importante e específica missão de educar. 2003, 2005, 2007, 2008 e 2012 – e um para Em 2002, já consciente e preocupado o Colégio Naval – 2010) foram ministra- com estas questões, o então vice-almirante dos, passou-se por uma série de evolu­ções e diretor de Ensino e de adaptações, em da Marinha, Kleber busca do formato ideal Luciano de Assis, de- Para as dificuldades que de treinamento que terminou que fosse melhor respondesse elaborado um treina- este novo mi­lênio parece às necessidades dos mento de liderança nos reservar, mais do que oficiais, bem como para os oficiais do nunca, precisamos de às exigências da mis- ComCA da Escola são da Escola, e que, Naval. Na mesma ótimos líderes, de homens também, fosse opera- oca­sião, o Almirante que observam a ética, são cionalmente viável, Kleber determinou tendo em vista a árdua também que o currí- firmes, apreciam a justiça, rotina dos oficiais, e culo de liderança da exercitam a coerência e apresen­tasse para eles EN fosse atualizado. são excelentes indutores do credibilidade, con- Estu­dioso do tema da quistando sua genuí­na liderança, afirmava sentimento de poder dos adesão. Os treinamen- ele, em palestras que subordinados tos posteriores a 2002 ministrava naquela foram realizados por época: iniciativa da Superin- “(...) ressalto não ter dúvidas de tendência de Ensino­ da EN, sempre com que te­mos excelentes gerentes. Mas a a autorização do comandante da Escola. experi­ência tem mostrado que ser ge- Em 2010 houve pela primeira vez uma rente não significa, obrigatoriamente, solicitação formal de treinamento por ser líder. E para as dificuldades que parte do próprio comandante do Corpo de este novo mi­lênio parece nos reservar, Alunos, no caso, do Colégio Naval. A essa mais do que nunca, precisamos de óti- demanda seguiu-se, em 2011, uma solici- mos líderes, de homens que observam tação de treinamento oriunda também do a ética, são firmes, apreciam a justiça, setor ComCA, desta vez da Escola Naval, exercitam a coerência e são excelentes o que pode ser interpretado como um in- indutores do sentimento de poder dos dício importante de reconhecimento,­ pelo subordinados.” público-alvo, da necessidade e da va­lidade do treinamento oferecido. Depois das diver- O primeiro desses treinamentos ocorreu, sas experiências, chegou-se a um formato portanto, em novembro de 2002, e seguiu de treinamento mais operacional, alinhado

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com as 25 orientações práticas­ de conduta um dos primeiros oficiais a enviar tropa contidas na publicação “Voga para os Ofi- para operações de paz da ONU, em 1995 ciais da Escola Naval”. Esta foi elaborada, (Angola-Calomboloca), quando comanda- em 2007, por determinação do comandante va o Bata­lhão de Engenharia de Fuzileiros da EN, àque­la época o Contra-Almirante Navais. Comandou também, por dois Arnon Lima Barbosa, com a finalidade anos, o Centro de Adestra­mento da Ilha precípua de nortear o cumprimento da da Marambaia (Cadim), oportunidade em missão dos oficiais, designados para a EN, que foi encarregado, entre outros eventos enquanto líderes educadores. significativos, de receber e hospedar o Cabe esclarecer que, a partir de 2002, então Presidente da Repú­blica, Fernan- a Escola Naval passou a contar com uma do Henrique Cardoso, por sete períodos equipe de lideran­ça, lotada no Centro de sucessivos. Ensino de Ciências Sociais da Superinten- Contando com a participação dessa dência de Ensino. Além do Capitão de Mar equipe e com o apoio de sucessivos chefes, e Guerra (Ref) Júlio Roberto Gonçalves superintendentes de ensi­no e comandantes, Pinto, coordenador da Área de Formação de 2002 até os dias atuais, diversos projetos Humanística e coautor dos manuais de de liderança, além das disciplinas curricu- Liderança (DEnsM-1005) e de Estudo de lares ministradas aos aspirantes e dos trei- Casos (DEnsM-1006), ingressaram na Es- namentos volta­dos para os oficiais do Setor cola, àquela época, mais dois oficiais: um, ComCA, foram imple­mentados na Escola da Armada, e outro, do Qua­dro Técnico. Naval e encontram-se em andamento,­ tais O CMG (RM1) Jayme Pessôa da Silveira como: site de liderança na página da EN Neto, experiente oficial submarinista, na intranet; treinamento de liderança para foi comandan­te do Aviso de Instrução aspirantes adaptadores; projeto de debate Guarda-Marinha Jansen, encarregado da de filmes de liderança e ética em dias de Turma de Guardas-Marinha de 1986 na Prática Profissional Naval com os terceiro e primeira viagem do Navio-Escola Brasil; quartanistas; palestras sobre cultura militar- ComCA da EN, em 1998, e se graduou, naval, ética e liderança para docentes e posteriormente, em Psicologia. A própria oficiais RM2 recém-ingressos na EN etc. autora é oficial psicóloga do Quadro Em seguida, será abordada a metodo- Técni­co, com Especialização em Psicolo- logia empre­gada no Ciclo de Palestras gia Organizacional pela Fundação Getúlio de Psicologia e Liderança para Oficiais Vargas, tendo cursado, por indicação da Educadores do Comando do Corpo de As- Marinha, Mestrado em Psicologia Social pirantes da Escola Naval, incluindo-se os pela Universidade Federal do Rio de Ja- seguintes tópicos: planejamento, objetivos, neiro, com dis­sertação relativa ao tema programa, técnicas, avaliação e resultados. liderança militar, no qual se especializou. Mais recentemente, em 2009, juntou-se O RElATO DA EXPERiÊNciA à equipe o CMG (RM1-FN) Paulo R. Ribeiro da Silva. Militar operativo e Passa-se à descrição sumária deste competente, além de muito estu­dioso, foi último treina­mento, realizado em 2011, o primeiro oficial a participar, pela MB, a pedido do comandante do Corpo de em operações de paz da Organização Aspirantes da EN, CMG Herman Stroub, das Nações Unidas (ONU) (Unavem – e com a participação deste, que em muito Angola), em 1989, como observador e contribuiu para os bons resultados obtidos.

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Planejamento e passos preliminares Programa e metodologia

O planejamento do treinamento foi O conteúdo programático do trei- antecedido pela aplicação, para os oficiais namento incluiu os seguintes tópicos: do ComCA, de um breve questionário sobre apresentação de publicações que norteiam preferências relativas à carga horá­ria, aos liderança nas Forças Armadas (FFAA)/ dias e horários do treinamento e temas a MB; atualização teórica em liderança; serem tratados. Foi oferecida uma lista de especificidades e novas tendências da sugestões de temas, com a possibilidade liderança militar; inteligência emocional de incluir outros. Aqueles que desper­taram e desenvolvimento de competências de maior interesse dos oficiais foram: estudos li­derança; bases psicológicas da liderança; de casos, atualização teórica em lideran- psicologia da aprendizagem e emprego ça, novos desafios da liderança militar, de incentivos (recompensas e punições); aplicação de recompensas e puni­ções na sociedade contemporânea e “geração Y”; formação militar e inteligência emocional. psicologia da juventude e adaptação do A partir do levantamento desse ques- jovem à vida militar; motivação para a tionário, foi planejado o treinamento, cuja carreira militar; ética e a for­ja do caráter proposta foi submetida à apreciação do su- na formação militar; e voga para oficiais perintendente de Ensino, Contra-Almirante educadores (orientações práticas). (CA) (RM1) Guilherme Mattos de Abreu, A metodologia empregada envolveu, e do comandante da Escola,­ CA Leonardo basicamente, exposição teórica, estudos Puntel. Uma vez aprovado, foi re­alizado um de casos e debates. Podem­-se citar como treinamento, desenvolvido em dez encon­ exemplos de atividades realizadas a dis­ tros, dois por semana, com uma média de cussão de trechos de filmes sobre educação uma hora e meia de duração, totalizando e liderança, como “Coach Carter: Treino uma carga horária de aproximadamente para a Vida”; debate de dilemas éticos do 15 horas. cidadão comum e da rotina dos aspirantes; e estudos de casos reais ocorridos na Escola Objetivos Naval e em outras academias militares, tratando de si­tuações como furto de uma – Alinhar a atuação dos oficiais que prova ou motim de alunos. servem na EN, como líderes educadores, Embora o treinamento tenha sido com a 13a diretriz da Es­tratégia Nacional de precedido por todo um planejamento, a Defesa, com a diretriz P-7 (li­derança) das autora logo percebeu que seria importante Orientações do Comandante da Ma­rinha se manter atenta às dificuldades e às neces- (Orcom), com os preceitos da Doutrina sidades contingenciais daqueles oficiais do de Liderança da MB (EMA-137) e com a Setor ComCA, adaptando a programação publicação “Voga para os Oficiais da EN” às demandas e urgências do grupo. Assim, (EN-01) e promover atualização teórica so- várias atividades e provi­dências não previs- bre o tema, compatível com as publicações tas inicialmente foram incluídas ao longo citadas e com o atual currículo de lide­rança do processo. Ao se discutir a motivação ministrado aos aspirantes da EN. dos as­pirantes para a carreira militar, por – Fornecer uma base teórica de Psicolo- exemplo, natural­mente a discussão evoluiu gia e Educação para o exercício de funções para a motivação em geral do oficial na MB em OM de formação. e na EN, discutindo-se também os entraves

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e as dificuldades práticas do exercício das Foi elaborado também um relatório final fun­ções de oficial educador em OM de sobre o treinamento, que incluiu o resultado formação. Para li­dar com essas questões, estatístico global da “Pesquisa de Opinião” foi elaborado um instrumento de “Pesquisa aplicada aos oficiais sobre alguns óbices de de Opinião” que solicitava que os partici­ ordem prática, associados às ativi­dades de pantes do treinamento respondessem à se- Setor ComCA, bem como algumas linhas guinte ques­tão: “Cite as principais dificul- de ação que poderiam favorecer e poten- dades (de ordem pessoal e/ou institucional) cializar o cum­primento de sua missão. Este que encontra para atuar como um oficial foi enviado ao coman­dante do Corpo de educador junto aos aspirantes, colocando Aspirantes e, com o conhecimento deste, em prática os princípios apresentados na também ao superintendente de Ensino da publicação EN-­01 (Voga para os Oficiais Escola Naval. Algumas das conclusões da Escola Naval) e os conte­údos debatidos desse relatório serão apresentadas sucinta- durante o presente Ciclo de Palestras”. Em mente no tópico a seguir. seguida, os participantes deveriam sugerir linhas de ação para superar as dificuldades Avaliação e resultados apontadas. Outro exemplo de prática incluída Ao todo, 30 oficiais/guardas-marinha durante o trei­namento foi uma atividade (RM2), incluindo o comandante e o imedia- de “consultoria” ao co­mandante do Corpo to do Corpo de As­pirantes, participaram do de Aspirantes e a decorrente se­leção de treinamento, sendo que 23 destes foram cer- estudos de casos pontuais, visando inter- tificados por terem frequenta­do pelo menos vir em situações específicas do setor, em 50 por cento dos dez encontros realizados. consonância com a visão do comandante O comandante do Corpo de Aspirantes es- do Corpo de Aspirantes, ali­nhando pro- teve presente em todas as palestras, o que cedimentos e aperfeiçoando determinadas contribuiu sobremaneira para sinalizar para competências dos oficiais. os oficiais subordi­nados a importância do Ao final do treinamento, um dos oficiais treinamento e para concretizar o sucesso participan­tes levantou, como dificuldade do mesmo. para o seu aperfeiçoa­mento, a limitação Vale ressaltar que o empenho do coman- de feedback sobre o desempenho na fun- dante do Corpo de Aspirantes em realizar ção. A exemplo do que já ocorre na área o treinamento e sua atitude de parceria e acadê­mica, na qual a realimentação dos de proatividade foram fundamentais para docentes (militares e civis) pelos aspirantes os bons resultados obtidos. Pe­quenos pro- integra o Sistema de Avaliação do Sistema blemas, muitas vezes fáceis de resolver, de Ensino Naval (Savsen), foi elaborado, mas que tinham impacto relevante sobre a experimentalmente, e com base nos 25 motiva­ção dos aspirantes, eram prontamen- preceitos da pu­blicação “Voga para os te equaciona­dos e resolvidos pelo ComCA, Oficiais da Escola Naval”, um modelo pi- ao serem levantados durante os encontros. loto de Inquérito Pedagógico de Feedback Um exemplo: a “parte azul”, que é pouco para Oficiais Educadores do ComCA da valorizada como incentivo por grande EN, acompanhado­ de modelo de Folha de parte dos aspirantes, porque está cercada Levantamento de Resultados.­ Este instru- de múlti­plos trâmites burocráticos, ganhou mento foi disponibilizado informal­mente imediatamente uma “audiência VIP”, como para os oficiais participantes interessados. ele próprio denomi­nou, no horário da pa-

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rada, da qual ficariam isentos,­ naquele dia, elevou de uma média de aproxima­damente apenas os aspirantes agraciados pela boa 750 para os atuais quase 900, sem alteração conduta. A nova voga vigorou, contudo, por correspondente do número de oficiais do pouco tempo, possivelmente porque, com ComCA. Embora a missão de formar os a troca de oficiais no setor, a memória dos oficiais para os pri­meiros postos da carreira motivos da alteração da rotina da audiência seja inexoravelmente cum­prida pela Escola da “parte azul” se perdeu. e pelos competentes e dedicados ofi­ciais Os participantes avaliaram o treinamen- do ComCA, é difícil avaliar as possíveis to como muito bom e de elevada aplica- perdas, a médio e longo prazos, em ter- bilidade prática para a função, mas apon- mos de qualidade da formação, quanto aos taram certo prejuízo no aprovei­tamento inúmeros aspectos intangíveis e subjetivos individual, devido às atividades paralelas desta, tais como nível de comprometimento si­multâneas, que implicavam interrupções e de motivação para a carreira dos jovens e ausências. Muitos sugeriram que os en- oficiais e consolidação de um caráter mili- contros pudessem ter pros­seguimento, por tar e de valores éticos compatíveis com a entenderem que se havia criado um espaço profissão militar e com a institui­ção MB, proveitoso para reflexão e debate da mis- que cada vez mais trafega na contramão do são que exerciam, de análise e estudo de individualismo, do hedonismo, do imedia- situações e casos reais e de alinhamento de tismo e do materialis­mo, que prevalecem na condutas e procedimentos entre os oficiais sociedade contemporânea e que competem do setor ComCA. com a vocação militar. A autora avalia, ainda, que este tipo Dentre as linhas de ação sugeridas pelos de treinamento­ contribui para melhorar a oficiais, foi mencionada a possibilidade de integração entre os edu­cadores da Superin- se empregar os ofi­ciais RM2 como auxilia- tendência de Ensino e aqueles do Comando res dos comandantes de Companhia. Esta do Corpo de Aspirantes e para aumentar a linha de ação poderia ser implementada, consistência entre o currículo teórico de experi­mentalmente, sem alteração da tabela liderança apresentado aos aspirantes e a de lotação ou do efetivo e sem necessidade prática desta. de requisitar reforços de pes­soal, apenas Analisando-se os resultados da Pes- empregando o elevado número de oficiais quisa de Opi­nião aplicada aos oficiais RM2 embarcados e já disponíveis no De- do ComCA e levando em conta, ainda, a partamento de Educação Física e Esportes experiência desta instrutora em diver­sos (Defe), departamento do próprio Corpo outros treinamentos similares ao longo de Aspirantes. Essa designação poderia de dez anos na Escola Naval, verifica- ser efetuada, inicialmente, meramente no se, reincidentemente, que os oficiais que nível da de­legação de tarefas, sem qualquer desempenham a função de formadores alteração ou criação formal de função e no Comando de Aspirantes percebem que sem mudança de organograma, a título de suas atividades sofrem atrito pelo acúmulo experiência e sob criteriosa avaliação. Os de atividades paralelas, especialmente­ as ofi­ciais do Defe poderiam empenhar-se nas administrativas, e pela proporção elevada­ tarefas ape­nas burocráticas e administrati- de aspirantes a cargo de cada oficial, sendo vas durante a manhã, com contato limitado que nos últimos anos esta situação vem-se com os aspirantes, que estariam em aula, po- agravando, em função do aumento do nú- dendo permanecer em suas atividades-fim mero de aspirantes. O total de aspirantes se de treinamento físico-militar e treinamento

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de equipes à tarde, mantendo a rotina já em mitir aos futuros instrutores de Liderança e vigor. Isso aumenta­ria a disponibilidade psicólogos da Es­cola Naval uma experiên- de tempo e o contato dos coman­dantes de cia que possa ser repetida e aperfeiçoada no Companhia e de Batalhão, modelos e forma­ futuro. Também objetivou-se divulgar para dores por excelência, com os aspirantes. o público-alvo de oficiais do ComCA uma Essa linha de ação, s.m.j., poderia, pelo ferra­menta útil para o melhor desempenho menos, minimizar o proble­ma levantado e de suas funções. atenderia ao critério de aceitabilidade, na Uma síntese das principais conclusões medida em que não consiste em “terceiri- alcançadas será apresentada em seguida. zar” a for­mação do oficial de Escola para Os resultados de qualquer treinamento jovens e inexperientes guardas-marinha/ de liderança voltado para o exercício de oficiais RM2, mas em desvencilhar o oficial funções no Setor ComCA poderiam ser po- de carreira do ComCA de tantas atribuições tencializados se este fosse acompanha­do por secundárias, porém urgentes, que competem outras medidas complementares. Este tópico com sua missão precí­pua, liberando estes já foi abordado com maior profundidade em oficiais para um maior outro artigo da autora contato com os aspi- (“Treinamento em Li- rantes em formação. Entusiasmo, vibração e fogo derança na formação Embora os trei- do oficial de Marinha namentos realizados sagrado são con­tagiosos e – uma abordagem psi- venham sendo bem constituem-se em requisitos cológica”), publicado avaliados pelos par- essenciais para aqueles em 2005, na Revista ticipantes, os meios Marítima Brasileira. para a re­alização de que atuam como modelos Algumas das medidas um trabalho de exce- durante a formação pro­postas transcendem lência possivelmente o âmbito de ação da Es- vão além do preparo cola Naval, referindo- e do treinamento. Acredita-se que, para os se ao sistema de recursos humanos da MB conteúdos disseminados no Ciclo de Pales- entendido de forma abrangente. tras se tornarem realidade, aperfeiçoando, Primeiramente, parece fundamental a de fato, ainda mais a prática da formação questão do voluntariado para este tipo de dos aspirantes pelo Setor ComCA, é fun- comissão, considerando-se que seria ideal damental que alguns obstáculos críticos à também a elaboração de um perfil e a exi- atuação dos oficiais sejam removidos ou, gência de seleção psico­lógica para a função. pelo menos, minorados. O Treinamento de Psicologia e Liderança para Oficiais Educadores designados para cONclUsÃO o Setor ComCA, se inserido após uma pré-seleção, te­ria a sua eficácia ampliada, Algumas lições foram aprendidas ao propondo-se a desenvolver competências longo dos anos, ministrando aulas de Psico- pedagógicas de um grupo de oficiais que logia e de Liderança para sucessivas turmas já teria evidenciado potencial e interesse de aspirantes, assim também como vários para tal tipo de função. Entretanto, para treinamentos para diferentes grupos de ofi- garantir uma relação can­didato/vaga que ciais do Comando do Corpo de Aspirantes. viabilize a seleção daqueles com perfil Ao contar essa história, pretendeu-se trans- mais adequado para a função, é imperioso

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aumentar a atratividade e o prestígio das O desempenho dos oficiais do ComCA funções vinculadas à formação, as quais é, muito provavelmente, a variável mais exigem profunda abnegação e dedi­cação crítica da equação da motivação e do moral e que, por vezes, parecem não estar asso- do Corpo de Aspirantes da Esco­la Naval. ciadas à valorização e ao reconhecimento Em alguns momentos, a perfeita harmonia suficientemente compatíveis.­ Entusiasmo, en­tre autoridade, afetividade e entusiasmo vibração e fogo sagrado são con­tagiosos e é alcançada pe­los oficiais líderes e educa- constituem-se em requisitos essenciais para dores e se reflete com clareza no semblante aqueles que atuam como modelos durante e nas atitudes dos aspirantes. Em 2011, a formação. A motivação não depende numa questão de uma prova de liderança apenas de cada indivíduo, mas também dos que tratava de liderança transformacional incentivos proporcionados pelo siste­ma de e de carisma, um aspi­rante intendente do 3o recursos humanos de cada organização. ano escreveu: “O ComCA é um líder que Quanto à inserção e à metodologia do apresenta carisma, e o Corpo de Aspiran­ treinamen­to propriamente dito, a experi- tes confia nele plenamente e o tem como ência mostrou que referência.” Somente ele pode ser uma fer- líderes vocacionados e ramenta útil para o O desempenho dos oficiais treinados para atuarem Setor ComCA, desde como educadores esta- que se apresente num do ComCA é, muito rão à altura do desafio formato objetivo, prá- provavelmente, a variável da epígra­fe, vislumbra- tico e operacional, mais crítica da equação da do por Dixon: formar sendo conduzido com militares disciplina­dos certa flexibilida­de, motivação e do moral do sem “quebrar” o caráter para que possa se Corpo de Aspirantes dos futuros coman- ajustar às urgências e dantes. Para tanto, é às deman­das de cada preciso aprender a edu- grupo. O engajamento dos participantes é car. Educar canali­zando adequadamente a fortemente influenciado pelo comprometi- agressividade e a rebeldia, de­senvolvendo o mento e pela presença do comandante e do autocontrole e o endurance e preser­vando a imediato do Corpo de Aspirantes durante iniciativa, o autorrespeito, a coragem moral os encontros. Aliás, a inserção ideal do e o senso de justiça, que devem caracterizar treinamento é por uma demanda do próprio o líder militar. comandante do Corpo de Aspirantes, com Encerra-se este artigo com a transcrição, o respaldo e a aprovação do comandante abaixo, das 25 orientações básicas contidas da Escola. Os parti­cipantes devem ser na publicação “Voga para os Oficiais da previamente consultados sobre te­mas de Escola Naval”. interesse a serem incluídos no programa. 1a) Pratique uma liderança inspira- O treinamento deve ocorrer, preferencial- dora, que atribua sentido ao exercício mente, fora do local de trabalho, para evitar da profissão militar e às tarefas exigidas interrupções constantes devido a atividades dos aspiran­tes durante a rotina de for- paralelas. Idealmente, poderia ser realizado mação – os “porquês” e “para quês” são antes que os novos oficiais assumissem as fundamentais. suas funções no setor, o que ocorre, em 2a) Demonstre entusiasmo profissional geral, a cada dois anos. e mantenha acesa a chama do idealismo.

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3a) Colabore para elevar e manter ele- 15a) Mantenha o autocontrole, evitando vado o moral do Corpo de Aspirantes e da perdê-lo, principal­mente no relacionamento tripulação da Escola Naval. com os aspirantes que você deve liderar. 4a) Ensine o aspirante a ter autoconfiança. 16a) Dirija-se ao aspirante com correção 5a) Aprenda a comunicar-se com corre- e evite palavras de baixo­ calão. ção e eficiência. 17a) Conheça os aspirantes e demonstre 6a) Seja exemplo: “Nada do que você verdadeiro interesse pelo seu aperfeiçoa- disser vai valer mais do que o que você mento e bem-estar. fizer.” 18a) Conquiste lealdade por meio de 7a) Persiga a coerência entre o discurso ações e bons exemplos. oficial da Instituição – valores e preceitos 19a) Nunca desprestigie a cadeia de expressos – e os critérios para atribuição comando. de mérito e aplicação de prêmios e punições 20a) Mantenha os aspirantes bem in- aos aspirantes. formados, evite que rumo­res e boatos se 8a) Pratique a abnegação. espalhem. Seja honesto, mesmo que a 9a) Estimule o companheirismo e a prima- verdade não lhe seja favorável. zia do bem comum so­bre o individualismo. 21a) Promova a interiorização crítica e 10a) Seja exigente, perseguindo a me- reflexiva de valores éticos. lhoria contínua. 22a) Estimule e reconheça as demonstra- 11a) Empregue com bom senso a sua ções do atributo coragem­ moral. autoridade legal. 23a) Apoie e estimule a iniciativa do as- 12a) Cultive a obediência da autodis- pirante e combata a men­talidade “erro zero”. ciplina. 24a) Elogie o trabalho bem feito, assim 13a) Se for preciso punir para impor a como o esforço sincero para cumprir a disciplina, o que não é de­sejável, seja justo, missão, mesmo que o objetivo pretendido não deixe rastros de rancor. não tenha sido alcançado. 14a) Aja com firmeza, mas tenha paci- 25a) Estimule os aspirantes a apresenta- ência, compreensão e tato. rem soluções para os problemas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Escola Naval; Formação de Oficial; Liderança; Princípios militares;

referências

BRASIL. Estado Maior da Armada. EMA-137. Doutrina de Liderança da Marinha. Brasília: EMA, 2004. ______. Escola Naval. EN-01. Voga para os Oficiais da Escola Naval. Rio de Janeiro: EN, 2007. ______. Estratégia Nacional de Defesa. 2.ed. Brasília-DF, 18 dez. 2008. DIXON, Norman F. On The Psychology of Military Incompetence. London: Futura Publications Limited, 1979. GARDNER, John W. Liderança. Rio de Janeiro: Editora Record, 1990. NOBRE, Erica B. (Dissertação de Mestrado) Crenças de superiores e subordinados sobre o perfil do líder militar-naval­ brasileiro neste final de século. UFRJ, 1998. ______. “Treinamento em Liderança na Formação do Oficial de Marinha – uma abordagem psico- lógica”. Revista Ma­rítima Brasileira. Rio de Janeiro, v.125 (10/12), p. 161-169, out/dez. 2005.

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Luiz Fernando Theodoro de Castro* Engenheiro Naval

ste artigo descreve os aspectos que embarcações e, consequentemente, o custo Eexplicam a evolução tecnológica dos operacional dos armadores. Além disso, sistemas de propulsão azimutais no cenário existe, mundialmente, uma forte pressão mundial da construção naval e menciona para a redução dos níveis de emissão de po- as principais características, vantagens e luentes, que estão diretamente relacionados desvantagens destes sistemas. com o consumo de combustíveis. Há mais de cinco décadas, no campo A principal característica dos sistemas da propulsão marítima, os sistemas que azimutais são os conjuntos compactos acio- combinam propulsão e direção em um nados por unidades compostas de motores único conjunto vêm sendo utilizados por diesel ou diesel-elétricos. Na configuração uma grande variedade de navios que re- diesel, uma embreagem entre o motor e o querem excelente capacidade de manobra e propulsor transmite a potência necessária, elevado grau de posicionamento dinâmico. através de um acoplamento elástico e um Esses sistemas ganham maior destaque a eixo cardã para o propulsor. Na configu- partir dos anos 90, quando o alto custo do ração diesel-elétrica, um motor elétrico combustível impulsiona a busca de solu- acoplado verticalmente ao propulsor é ções capazes de diminuir o consumo das alimentado por um conjunto diesel-gerador.

* Engenheiro de Tecnologia Militar. Encarregado da Divisão de Coordenação de Submarinos, Navios Distritais, Navios da Diretoria de Hidrografia e Navegação e Embarcações de Apoio da Diretoria de Engenharia Naval. Sistemas de Propulsão Azimutal – Eficiência e Segurança

É preciso fazer distinção entre o sistema no interior da embarcação, podendo ser um de propulsão do tipo podded thruster e o motor elétrico, alimentado por gerador, ou sistema azimuth thruster. O primeiro diz um motor diesel. Neste caso, a hélice pode- respeito à configuração em que o motor rá ser de passo fixo ou passo variável com elétrico de frequência variável é fixado acionamento hidráulico, em que o sentido de externamente ao casco e acondicionado em rotação e a velocidade das pás são coman- cápsula submersa, com perfeito sistema de dados por inversor de frequência, quando a selagem tríplice, evitando-se contaminação motorização for elétrica, ou por engrenagem por água salgada no interior do motor, e onde redutora-reversora, quando a máquina mo- o seu induzido é o eixo propulsor, que, por triz for motor diesel. A configuraçãoazimuth sua vez, é dotado de hélice de passo fixo. O thruster, por ser mais simples, é comumente sentido de rotação e a velocidade das pás utilizada em pequenas embarcações. são controlados por inversor/conversor de A denominação AziPod (R) é marca frequência. O segundo sistema é composto registrada do grupo ABB Marine, com sede de um conjunto impelidor retrátil, rebatível em Helsinki, Finlândia. O termo é derivado ou fixo, em que a motorização está instalada da aglutinação de “Azi” (Azimuth) + “Pod” (cápsula, casulo). Dentre os principais fabricantes desses sistemas no mundo, podemos elencar os seguintes: Schottel (alemão), Rolls-Royce – KaMeWa (anglo-sueco), ZF Group (ale- mão), HRP (holandês, adquirido em 2009 pelo Grupo ZF), Berg Propulsion (sueco), Wärtsilä (finlandês), ABB Marine Naval (finlandês), Thruster Master (americano), Lips Propeller (holandês, adquirido em 1998 pelo TI Group-UK), sendo que os cinco primeiros possuem representação no Brasil. Podded Thruster Posicionados na região de popa dos navios, os conjuntos azimutais possibi- litam a absorção de grandes potências, disponíveis até 27MW, bem como a rea- lização de movimentos rotacionais (giro 360º), por meio de unidades hidráulicas. Alguns desses azimutais podem também ter movimentos na direção vertical para o ajuste do sistema de propulsão às di- versas condições de calado, assegurando, assim, maior impulsão. A existência de tubulão em volta do hélice de alguns destes sistemas é necessária para obten- ção de maior tração estática, apêndice Electrical Azimuth Diesel Azimuth Thruster comumente encontrado nos rebocadores Thruster Z – Drive L – Drive e empurradores.

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Fabricante Potência (KW) RPM Diâmetro Peso (Kg) Hélice (mm)

Schottel 150 - 6.000 2.300 - 600 650 - 4.200 880 - 65.000

Rolls Royce 330 - 27.000 1.800 - 100 1.000 - 8.000 1.500 - 27.000

ZF Group/HRP 100 - 2.000 5.000 - 2.100 600 - 2.550 240 - 1.000

Lips 2.300 - 7.000 1.200 - 750 2.700 - 4.400 ND

Wärtsilä 800 - 7.000 ND ND ND

Thruster Master 55 - 8.000 ND ND ND

Tabela característica dos fabricantes de conjuntos azimutais

Sem dúvida, este vem sendo o conceito da embarcação, uma vez que o calor dissipado ideal de propulsão aplicado a rebocadores/ pelo motor é tratado diretamente pela água empurradores para navegação fluvial ou do mar que envolve o habitáculo do motor1); marítima, e em operações com platafor- – redução das operações necessárias mas semissubmersíveis de perfuração. É para a partida e parada dos motores; igualmente empregado nas embarcações – economia de espaço na instalação (au- de apoio PSV, em grandes navios de cru- sência de mancais de sustentação e escora, zeiro, ferry-boats, barcaças, embarcações linha de eixo, máquina do leme e leme); de recreio, navios mercantes de pequena e – possibilidade de realização de ins- média capacidades e em algumas classes peções internas e prevenção de falhas por de navios militares, tais como navios de meio de diagnósticos precisos; assalto anfíbio e hidroceanográficos. – manutenção simplificada; – alta confiabilidade; a) Vantagens em relação ao sistema – otimizado para minimizar cavitação de propulsão convencional (eixos, pés de e vibração; galinha, hélices e lemes): – baixo ruído; – construção confiável; – excepcional manobrabilidade (visto – menor período de docagem (inexis- que o impelidor pode ser girado em qual- tência das operações de retirada de linha quer direção, dispensando inclusive o uso de eixo e alinhamento); de bow thruster); – unidade propulsora em “L” ou “Z”; – requer menor distância de parada para – preservação ambiental (baixa emissão a embarcação; de gases de descarga); e – ótima eficiência do propulsor (melhor – planta propulsora totalmente concebi- aproveitamento da energia entregue ao da por um mesmo fabricante. hélice pelo motor, uma vez que as perdas mecânicas são menores); b) Desvantagens em relação ao sistema – operação econômica (baixo consumo de de propulsão convencional: óleo combustível e de óleo lubrificante e eco- nomia da capacidade de resfriamento interno – maior peso do conjunto propulsivo;

1 Comentário válido somente para sistemas do tipo AziPod.

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– menor governabilidade (devido à inexistência de lemes); – custo inicial elevado; – grande número de componentes ele- trônicos importados; – limitação da potência produzida pelo motor (atualmente, a máxima potência disponível não ultrapassa 27MW)2; – limitação do diâmetro dos hélices que podem ser implementados; e – inadequado para navios mercantes com grande capacidade de carga. AziPod Twin Propeller c) Tipos de propulsores azimutais:

Azimuth Contra Rotating Propeller

d) Tipos de instalação: Rudder Tubular Propeller

Instalação Transom

AziPod Instalação well mounted

2 Comentário válido somente para sistemas do tipo AziPod.

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mentos, sistemas de giro, arrefecimento e sistema de selagem.

Instalação rebatível no convés Azimuth Thruster

Hydrocoolers Cooling Fans Slipreing Unit

Hull Plating Cooling Air Trunking

Instalação retrátil

Hydraulic Steering Motor Pod Submerged Past

e) Características direcionais de empuxo

Empuxo unidirecional

Empuxo mulidirecional

As figuras a seguir dão uma ideia da interação dos sistemas Azimuth Thruster e AziPod com seus periféricos, como barra- AziPod

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f) Aplicação de azimutais em meios vios de assalto anfíbio e porta-helicópteros comerciais de alto valor agregado (Landing Helicopter Dock – LHD) franceses da classe Mistral, espanhóis da classe Juan O emprego destes sistemas em navios- Carlos I e holandeses da classe Johan De sonda, plataformas de perfuração semis- Witt. Entretanto, para este autor, o emprego submersíveis, navios de apoio offshore desses sistemas parece não ser ideal para e navios-tanque passou a ser de suma outras classes de navios, tais como os navios importância, dada a necessidade de se de escoltas (destróieres, fragatas e corvetas), manter sempre grau muito preciso de podendo ainda ser visto com reservas pelos posicionamento dinâmico nesses navios, projetistas, devido a uma série de fatores e independentemente das condições de vento, dificuldades que precisam ser investigados ondas e correntes. Essa ação é executada e superados: com extrema eficiência pelos sistemas – governabilidade prejudicada pela au- azimutais, dispostos em localizações pré- sência de lemes, resultando no empobreci- selecionadas ao redor das obras vivas, ge- mento da estabilidade direcional do navio; rando forças de empuxo que se contrapõem – avanço reduzido na execução das às forças do vento e aos efeitos do estado de curvas de giro, podendo comprometer se- mar e correntes. Tipicamente, as unidades riamente a execução de manobras evasivas semissubmersíveis de prospecção de pe- torpédicas realizadas por esses navios; tróleo chegam a ter de seis a oito azimutais – interferência no sistema sonar (prin- posicionados nas extremidades de vante e cipalmente os rebocados), em face de o de ré do conjunto de flutuadores. motor de propulsão estar posicionado externamente ao casco3; – vulnerabilidade da planta propulsora às explosões submarinas4; – aumento da resistência ao avanço, dada a dimensão dos apêndices ao caso; – o montante do empuxo transmitido ao navio, em elevadas velocidades (≥ 30 nós), concentra-se em área relativamente pequena do casco, acarretando em mo- mento fletor considerável e exigindo maior reforço estrutural na ligação com casco e, por conseguinte, maior peso concentrado na Representação esquemática de uma plataforma de popa para ser compensado em distribuição perfuração dotada de oito unidades azimutais de peso ao longo do navio; g) Aplicação de azimutais em navios – difícil obtenção, pelos arquitetos na- militares vais, de curva de distribuição longitudinal de pesos adequada; Durante a última década, os sistemas azi- – aumento nas amplitudes das acele- mutais vêm encontrando espaço no projeto e rações e velocidades verticais, nas áreas na construção de meios militares dotados de de convoo localizadas a ré (maior inércia propulsão elétrica, como, por exemplo, na- seccional da região); e

3 e 4 Comentários válidos somente para sistemas do tipo AziPod.

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– navios militares de alta performance mação, o ABB Marine Naval, tem para 2014 possuem relação peso/potência menor perspectivas de instalação de uma unidade que a de muitos navios comerciais. Como fabril de propulsores do tipo AziPod (R) exemplos, podem ser citados os destróieres C-compacto, um centro de serviços maríti- da Marinha dos Estados Unidos da classe mos e um centro especializado em unidades Arlleigh Burke, com 10 mil t/81MW (0, AziPod (R), auxiliando e servindo ao rápido 123 t/KW) e os navios de cruzeiro da crescimento do setor naval brasileiro. companhia Carnival Cruise Lines, com 70 Entre as regiões avaliadas para sediar mil t/28MW (2,5 t/KW). Desse modo, as a nova fábrica do AziPod (R), foram in- potências máximas disponíveis no mercado cluídos os estados de Pernambuco, São para AziPod são, ainda hoje, limitadoras Paulo e Rio de Janeiro. A fábrica planejada, para sua aceitação no emprego militar. segundo o gerente comercial da empresa, terá capacidade de produção anual de mais de 30 unidades. O cronograma das obras permitirá a entrega dos propulsores em tempo hábil para as unidades de perfuração da Petrobras no Brasil. Os investimentos previstos pelo Grupo ABB no País aparentam estar em sintonia com planos de desenvolvimento da in- dústria naval brasileira, que acenam com possibilidade, para os próximos anos, de existir demanda na Petrobras para 28 Navio de assalto anfíbio da classe Camberra, da navios-sondas, garantia prévia de posicio- Marinha australiana namento preferencial no fornecimento de Cabe ressaltar que alguns navios de propulsores azimutais. guerra usam pequenas unidades azimutais Um centro de serviços também faz parte retráteis para facilitar as manobras a bai- dos planos dessa empresa para 2014, com xa velocidade, durante as atracações em fornecimento de peças sobressalentes ao portos; entretanto, isso parece estar longe mercado local. de ser uma tendência. Pods fixos também A tendência por esses sistemas no estão sendo considerados em futuros pro- Brasil, estimulada pelo ganho em ma- jetos, sendo este um conceito distinto do nobrabilidade, vem também alcançando apresentado neste artigo. a navegação interior, o que era visto, há poucos anos, com reservas pelo dirigente do h) Perspectivas do sistema na indústria Centro de Engenharia Naval e Oceânica do naval brasileira Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), por acreditar ele que os azimutais seriam O crescente mercado latino-americano na sensíveis demais para trabalhar em águas área naval vem incentivando que se planeje rasas. As operações bem-sucedidas de gran- o fortalecimento de negócios de diversas des comboios dotados desses sistemas na empresas atuantes neste segmento de pro- hidrovia Madeira-Amazonas mostram que pulsão, que parece ganhar força no Brasil. a suposição aventada não se concretizou. Dentre essas, um dos mais renomados gru- A opção pelo sistema de propulsão pos, líder em tecnologias de potência e auto- do tipo AziPod possibilita hoje a melhor

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relação entre energia elétrica produzida tornou-se a mola propulsora para conferir e o empuxo necessário para impulsionar maior eficiência, confiabilidade e rapidez os navios e as embarcações. Tal aspecto às operações dos modernos meios navais, possibilita aos armadores a escolha por sendo determinante para a conquista do manter maior reserva de potência ou prio- mercado e para o atendimento às normas rizar projetos mais eficazes, em termos de ambientais vigentes, com a construção dos custo e peso pela redução do tamanho dos chamados “navios verdes”, que pretendem grupos diesel-geradores. ser ambientalmente mais corretos. Não há dúvidas de que os bons resulta- Por último, a formação de profissionais dos alcançados são devidos aos crescentes dedicados e especializados nesses ser- investimentos em pesquisa e desenvol- viços e a multiplicação de oficinas, com vimento e à cooperação entre empresas, ferramentas especiais para a realização de armadores, estaleiros e centros de pesquisa. manutenção e reparos, são fatores impres- A necessidade de progresso e soluções cindíveis para o pleno êxito desta inovadora tecnológicas inovadoras neste segmento tecnologia no Brasil.

Propulsão AziPod do Navio de Cruzeiro ABB AziPod Mermaids de 21,5 MW cada no Navio MS Freedom of Seas RMS Queen Mary 2

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Propulsão; Desenvolvimento de equipamento; Engenharia Naval;

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Rodney Alfredo Pinto Lisboa* Professor

SUMÁRIO

Processo de descolonização do Vietnã Consequências da Guerra Fria (1945-1991): o envolvimento da URSS e dos EUA no conflito do Sudeste Asiático Gênese das equipes Seal Engajamento dos Seal na Guerra do Vietnã Operadores Seal se retiram do conflito Considerações finais

PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO e norte do Vietnã, respectivamente), DO VIETNÃ além do Laos e do Camboja, a Indochina Francesa – assim conhecida por ocasião ividida em cinco territórios distin- dos eventos ocorridos durante a Segunda Dtos, compreendendo a Cochinchina, Guerra do Ópio1 (1856-1860) – foi palco Annan e Tonquim (regiões sul, central de um dos maiores conflitos armados tra-

* Professor da Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá-Fepi (Itajubá-MG) e das Faculdades Integradas Asmec (Ouro Fino-MG). 1. Conflito ocorrido entre forças anglo-francesas contra tropas chinesas lideradas pela Dinastia Qing. Levado a cabo como uma extensão da Primeira Guerra do Ópio (1839-1842), com o objetivo de forçar a China e liberar o comércio de produtos, principalmente no que se refere à comercialização do ópio. OPERAÇÕES ESPECIAIS REALIZADAS PELAS EQUIPES SEAL DA MARINHA NORTE-AMERICANA EM AÇÕES DE GUERRA RIBEIRINHA CONDUZIDAS DURANTE O CONFLITO DO VIETNÃ

vados na segunda metade do século XX. assumindo o controle sobre região norte do Localizada na região sudeste da Ásia, a país e proclamando a República Democráti- Indochina viu arrefecer a administração ca do Vietnã em setembro de 1945.5 francesa no decorrer da Segunda Guerra Mundial2 (1939-1945) quando a França foi CONSEQUÊNCIAS DA levada a render-se perante a ameaça repre- GUERRA FRIA6 (1945-1991): O sentada pela Alemanha nazista. Estando o ENVOLVIMENTO DA URSS E DOS governo francês isolado na cidade de Vi- EUA NO CONFLITO DO SUDESTE chy3, a administração ASIÁTICO colonial na Indochina mostrava-se frágil e Aproveitando-se da Por meio da Con- deteriorada em vir- ferência de Potsdam tude da incapacidade fragilidade francesa (Alemanha), realizada do governo central na região, o Japão – em 1945, as grandes de prover qualquer que, juntamente com potências concordaram auxílio às possessões que tropas britânicas asiáticas.4 a Alemanha e a Itália, (ao sul) e chinesas (ao Aproveitando-se da compunha as forças do norte) fossem encar- fragilidade francesa regadas de organizar na região, o Japão – Eixo – tomou o controle a retirada das tropas que, juntamente com da Indochina em março de japonesas da Indochi- a Alemanha e a Itália, 1945 na. Contando com a compunha as forças colaboração britânica, do Eixo – tomou o a França foi reintrodu- controle da Indochina em março de 1945. zida no território indochinês, retomando Posteriormente, com a rendição das tropas a administração na região sul. Embora japonesas, que colocou ponto final nas incomodado com a presença francesa, Ho hostilidades da Segunda Guerra Mundial, Chi Minh – líder do Partido Comunista e movimentos nacionalistas, que haviam se chefe do governo norte-vietnamita – fez um unido para criar a Frente pela Independência acordo com a França, permitindo a presença do Vietnã (Vietminh), invadiram a cidade de temporária de tropas no sul desde que os Hanói (futura capital do Vietnã do Norte), franceses reconhecessem a legitimidade

2. Conflito militar global envolvendo duas alianças político-militares antagonistas: Aliados (representados por Reino Unido, URSS e EUA) e Eixo (representado por Alemanha, Itália e Japão). O conflito configurou-se apresentando duas frentes de combate principais: o Teatro de Operações europeu e o Teatro de Operações do Pacífico. 3. Após a rendição da França à Alemanha, o território francês foi dividido em duas zonas distintas (ocupada e não ocupada). A região não ocupada por tropas alemãs (compreendendo dois quintos do país) teria um governo francês com sede na cidade de Vichy. Entre 1940 e 1944, o governo francês do Primeiro-Ministro Henri Philippe Pétain foi fortemente influenciado pelo regime nazista, opondo-se às Forças Livres francesas, que lutavam pela libertação do país e encontravam-se baseadas inicialmente em Londres (Reino Unido) e pos- teriormente em Argel (Argélia). 4. TAVAREZ, Heloísa Feres de Faria (ed.). “Guerra no Rio Vermelho”. Guerra na Paz. v. 1. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984a, p. 105-106. 5. Ibidem, p. 106. 6. Período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os EUA e a URSS, compreendendo o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da URSS (1991).

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da República Democrática do Vietnã e que recebeu apoio substancial da China e estabelecessem um prazo para a retirada da União das Repúblicas Socialistas Sovi- de suas tropas. Entretanto, esse tratado éticas (URSS).7 foi ignorado em virtude da persistência Levados a confrontar as forças do francesa em manter um governo colonial Vietminh em um conflito de proporções na Cochinchina. A posição tomada pela assimétricas8, os militares franceses so- França foi o estopim para o conflito entre as freram inúmeros reveses por não estarem tropas francesas e o exército do Vietminh, familiarizados com as ações de guerrilha promovidas pelos combatentes nativos. As adversidades enfrentadas em consequência de constantes derrotas levaram a França a buscar auxílio financeiro junto ao governo dos Estados Unidos da América (EUA).9 Nos primeiros anos da década de 1950, o impasse gerado pela divisão do território em dois governos antagonistas (a República Democrática do Vietnã, no norte, e o gover- no colonial francês, no sul) levou as tropas francesas a conduzirem uma ofensiva que confrontaria o poder de fogo francês con- tra a capacidade de um exército formado essencialmente por camponeses. Contudo, em maio de 1954, os franceses foram sub- jugados pelo exército Vietminh na pista de pouso de Dien Bien Phu, localizada a 300 km a oeste de Hanói.10 Finalmente, em julho do mesmo ano, por ocasião da Confe- rência de Genebra (Suíça), tratativas entre a França e o Vietminh acabaram por definir um acordo militar que dividia o Vietnã na altura do paralelo 17, originando o Vietnã do Sul (sob controle francês) e o Vietnã Mapa da Indochina francesa durante a década de 1960. Em 11 destaque, no retângulo, a rede hidrográfica do delta do Rio do Norte (sob autoridade do Vietminh). Mekong (localizada na região da Cochinchina), que compreendia A crescente influência comunista no a principal área de operações das equipes Seal entre 1964-1973, Vietnã, iniciada a década de 1960, preo- período em que permaneceram engajadas na Guerra do Vietnã. cupava o então presidente dos EUA, John (Fonte: WIEST, 2002, p. 15)

7. TAVAREZ, op. cit., p. 106. 8. Modalidade de enfrentamento que contrapõe duas forças militares que guardam entre si diferenças consideráveis de meios de combate, com um dos oponentes apresentando grande superioridade em relação ao adversário. Quando a diferença do poder de combate apresentado pelos antagonistas é significativa, aquele que se mostra inferiorizado adota ações características da guerra irregular (não convencional). 9. FERRARI, Ana Cláudia (org.). Descolonização no Sudeste da Ásia. Guerra: disputas globais, desastres locais – 1945 até o presente. Coleção História Viva, v. 7, São Paulo: Duetto Editorial, 2011a, p. 496. 10. Ibidem, p. 498. 11. TAVAREZ, Heloísa Feres de Faria (ed.). “República Condenada”. Guerra na Paz. v. 3. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984b, p. 521-522.

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Fitzgerald Kennedy. A formação da Frente de tropas norte-americanas contra alvos do de Libertação Nacional12 (FLN) tornou Vietnã do Norte. O envolvimento efetivo dos ainda mais frágil a situação sociopolítica EUA na Guerra do Vietnã (1955-1975) deu- do Vietnã do Sul, à medida que os vietcon- se a partir de 30 de julho de 1964, em virtude gues atacavam guarnições de segurança do de um suposto ataque realizado por forças governo, principalmente nas regiões mais norte-vietnamitas contra o USS Maddox, afastadas das grandes cidades. A vulnera- contratorpedeiro estadunidense que patru- bilidade do autoritário e incipiente governo lhava o Golfo de Tonquim. Em represália, a sul-vietnamita levou o Presidente Ngo Dinh Força Aérea norte-americana (US Air Force) Diem a decretar estado bombardeou o território de emergência e solici- do Vietnã do Norte, dan- tar maior apoio militar Lyndon Johnson não do início à guerra aérea.16 aos EUA.13 Atendendo apenas intensificou o ao apelo do gover- auxílio militar dado ao GÊNESE DAS no sul-vietnamita, em EQUIPES SEAL17 maio de 1961 Ken- Vietnã do Sul, como nedy enviou cerca de também autorizou ações As equipes Seal sur- 400 “Boinas Verdes”14 giram a partir de um (Green Berets) para clandestinas de tropas estudo conduzido pelo treinar o exército da- norte-americanas contra Diretório de Operações quele país em táticas alvos do Vietnã do Norte Navais do Pentágono de guerrilha.15 (Opnav [Pentagon’s Com a morte de Operation Navy]) no Kennedy, em 1963, Lyndon Johnson assumiu início da década de 1960. Elaborado após a Presidência dos EUA, focando a questão do o fracasso da denominada Operação Mon- Vietnã como decisiva para conter o avanço do goose18, o referido estudo considerava a comunismo na Ásia. Ele não apenas intensi- capacidade da Marinha norte-americana ficou o auxílio militar dado ao Vietnã do Sul, (US Navy) em conduzir operações em como também autorizou ações clandestinas conflitos de baixa intensidade (contrain-

12. Também conhecido pelo termo “vietcongue”, constituía um exército formado por milícias sul-vietnamitas que, juntamente com tropas do Vietnã do Norte, combateram a coalizão formada entre o Vietnã do Sul e os EUA no decorrer da Guerra do Vietnã. 13. TAVAREZ, Heloísa Feres de Faria (ed.). “Vietnã: e os americanos chegaram”. Guerra na Paz. v. 3. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984c, p. 526-527. 14. Também conhecidos como Forças Especiais (Special Forces), constituem as tropas do Exército norte-americano adestradas para a condução de operações de guerra não convencional. O termo “Boinas Verdes” é alusivo à cor da cobertura utilizada como peça regular do uniforme adotado pela unidade. 15. FERRARI, Ana Cláudia (org.). A Guerra do Vietnã. Guerra: disputas globais, desastres locais – 1945 até o presente. Coleção História Viva, v. 7, São Paulo: Duetto Editorial, 2011, p. 500. 16. TAVAREZ, op. cit.,1984c, p. 528. 17. Acrônimo da língua inglesa empregado para designar a natureza universal das vias de operações da unidade a partir do Mar (SEa), do Ar (Air) e da Terra (Land). 18. Codinome dado à operação de invasão da Baía dos Porcos, localizada ao sul de Cuba, realizada em 1961 por forças paramilitares constituídas por exilados cubanos contrários ao governo de Fidel Castro. Com o apoio das Forças Armadas (FFAA) norte-americanas e da Central de Inteligência Americana (CIA), os oposicio- nistas tentaram invadir a ilha cubana para depor o regime socialista, que, àquela altura, era um importante aliado do governo soviético.

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surgência e guerra não convencional).19 a partir de plataformas aéreas, marítimas e Apresentados em um memorando datado de terrestres. O propósito que motivou a cria- 10 de março de 1961, os dados obtidos por ção dos Seals estava calcado na tarefa de ocasião da pesquisa realizada introduziam conduzir operações militares em ambiente o conceito da “Guerra Naval de Guerrilha e marítimo e ribeirinho (fluvial) utilizando Contraguerrilha” e traziam o delineamento os conhecimentos adquiridos pelas Uni- das Equipes Seal20 (ST [Seal Teams]), que dades de Demolição Naval de Combate seriam constituídas por ocasião de uma (NCDUs21) e Equipes de Demolição Sub- Ordem Presidencial emitida em janeiro de marina (UDTs22) nas campanhas em que 1962 pelo Presidente John Kennedy. tais unidades se envolveram no decorrer Incorporadas às Frotas do Pacífico da Segunda Guerra Mundial e da Guerra (ST-1) e do Atlântico (ST-2), duas equi- da Coreia23 (1950-1953). pes foram desenvolvidas pela Marinha Em novembro de 1963, respectivamen- com o objetivo de operar como unidades te sediadas em Coronado (Califórnia) e de Mergulhadores de Combate (MECs), Little Creek (Virgínia), a ST-1 e a ST-2, sendo aptas a executar ações heterodoxas juntamente com as UDTs e as Unidades de mediante inserção no teatro de operações Apoio de Embarcações (BSUs24), tiveram

Formação original da ST-2, após ser comissionada, em 1962. (Fonte: Disponível em . Acesso em: 27 fev. 2013)

19. HAWKINS, Tom. Origins and Evolution of. U. S. Seal Teams: 1942-1962. Navy Seal 50: Commemorating the 50th anniversary of the establishment of the U.S. Navy Seals, Tampa-FL, 2012, p. 51. 20. Ibidem, p. 51. 21. Acrônimo da língua inglesa usado em referência às Naval Combat Demolition Units, empregadas pela Mari- nha dos EUA no Teatro de Operações da Europa para prover suporte às manobras de desembarque anfíbio. 22. Acrônimo da língua inglesa empregado em referência às Underwater Demolition Teams, que sucederam as NCDU auxiliando nas manobras de desembarque anfíbio no Teatro de Operações do Pacífico e, posterior- mente, na Guerra da Coreia. 23. Conflito que opôs a Coreia do Sul e seus aliados (EUA e Reino Unido) à Coreia do Norte (apoiada pela China e pela URSS). O resultado inconclusivo da guerra contribuiu para que o território permanecesse dividido entre a República da Coreia (Coreia do Sul) e a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte). 24. Acrônimo da língua inglesa usado para designar as Boat Support Units, componente da Marinha dos EUA responsável por conduzir operações especiais utilizando embarcações de pequeno porte navegando principal- mente em águas rasas (ambiente costeiro e ribeirinho), empregando o armamento embarcado para: realizar bombardeamento costeiro, interceptar e/ou confrontar embarcações adversas e atacar pontos de apoio logístico que serviam à causa inimiga. As BSUs constituem as unidades precursoras do atual SWCC (Special Warfare Combatant-Craft Crewmen).

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seus comandos subordinados aos Grupos de responsabilidades e desafios que testavam o Apoio às Operações Navais (NOSGs [Naval máximo de suas habilidades em tarefas dis- Operations Support Groups]).25 Inicialmente tintas. Antes do envolvimento formal dos organizadas com contingente de dez oficiais EUA no conflito, os Seals foram enviados e 50 praças, as recém-instituídas equipes para a cidade de Da Nang (Vietnã do Sul) Seal valeram-se da experiência acumulada como consultores militares para prover o pelas UDTs nos conflitos supramencionados adestramento dos MECs sul-vietnamitas recrutando membros oriundos dessas unida- (LDNN28) e das Unidades de Reconhe- des.26 Nos anos seguintes após sua criação, cimento Provincial (PRU29). Entre 1962 os Seals receberam basicamente o mesmo e 1964, operadores Seal subordinados à treinamento ministrado aos componentes Central de Inteligência Americana30 (CIA das UDTs, somando-se a ele instruções [Central Intelligence Agency]), realizaram adicionais para a condução de operações o adestramento das LDNN e das UDTs de contrainsurgência. Na década de 1960, como parte do Planejamento Operacional a diferença entre as unidades UDT e as 34A, que previa o engajamento dessas equipes Seal estava centrada nas tarefas de unidades contra alvos situados em território responsabilidade de cada unidade. Enquanto norte-vietnamita.31 as UDTs se concentravam na execução de Particularmente no que se refere às ações marítimas de superfície e submarina, PRUs, é importante destacar que tais or- os Seals se responsabilizavam por desen- ganizações participaram do controverso volver operações em ambiente terrestre Programa Phoenix, que previa o emprego localizados em áreas predominantemente de população nativa para identificar e neu- ribeirinhas.27 tralizar a infraestrutura da FLN.32 A con- trovérsia envolvendo o Programa Phoenix ENGAJAMENTO DOS SEAL NA implicava a CIA, acusada de ser a responsá- GUERRA DO VIETNÃ vel pelo desenvolvimento e pela implemen- tação de procedimentos de captura e prisão A Guerra do Vietnã tornou-se a prova de suspeitos, a fim de obter informações de fogo para as equipes Seal, impondo-lhes – mediante tortura e execução – sobre pos-

25. HAWKINS, op. cit., p. 53. 26. THOMPSON, Leroy. U. S. Special Operations Forces in the Cold War. G.I. Series, London: Greenhill Books, 2002, p. 7. 27. MACDONALD, Peter. US Special Forces. Fighting Elites. New York-NY: Gallery Books, 1990, p. 61. 28. Acrônimo vietnamita usado em referência às tropas Lien Doi Nguoi Nhia, que operavam como unidades equivalentes aos Seals. 29. Acrônimo da língua inglesa empregado para designar as Provincial Reconnaissance Units, organizações pa- ramilitares constituídas por milícias locais somadas a mercenários oriundos do Laos e do Camboja. Essas organizações foram financiadas pela CIA e treinadas por militares norte-americanos com o intuito de defender o território sul-vietnamita de um ataque vietcongue. Cada PRU era estrategicamente designada para atuar em sua província de origem sob a premissa de que lutariam com mais afinco tendo laços de afinidade com a região por eles defendida. 30. Órgão governamental de caráter civil responsável por coordenar os serviços de espionagem e prover importantes informações relacionadas à segurança nacional junto ao governo norte-americano. 31. ZIMMERMAN, Dwight Jon. Establishment, Vietnam, Urgent Fury: 1962-1983. Navy Seal 50: Commemorating the 50th anniversary of the establishment of the U.S. Navy Seals, Tampa-FL, 2012, p. 57. 32. PETERSEN, Erick. The Strategic Utility of U.S. Navy Seals. 2009. 121 f. Thesis (Master of Science in Defense Analysis) – Naval Postgraduate School, Monterey-CA, 2009, p. 43-44.

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síveis inimigos do governo sul-vietnamita Seal nas operações de combate, a ênfase com o objetivo de eliminar eventuais focos dada aos objetivos desse programa rapida- de resistência vietcongue nas aldeias.33 As mente desvaneceu, levando-o à gradativa unidades de campo das PRUs, denominadas extinção, fato que ocorreu em 1972.35 “Caçadores-Executores” (Hunter-Killer), Decretada a participação das Forças Ar- apresentavam contingente miscigenado de madas (FFAA) norte-americanas no conflito até dez militares norte-americanos e sul- do Vietnã, em 1964, a ST-1 desdobrou 12 vietnamitas. As formações de Caçadores pelotões36 para regiões próximas aos cursos (compostas por cinco homens) eram encar- de rio com o objetivo de interditar as ações regadas de localizar o inimigo, enquanto as dos vietcongues e das tropas do Vietnã do formações de Executores (constituídas de Norte. Por sua vez, a ST-2 envolveu-se no outros cinco integrantes) encarregavam-se conflito em 1967, desdobrando três pelotões de estabelecer contato direto, enfrentando para o sudeste asiático. Como resultado da os oponentes e eliminando-os quando experiência acumulada na Guerra do Vietnã, necessário.34 Com a entrada dos EUA na as equipes Seal envolveram-se em operações guerra e a efetiva introdução das equipes particularmente distintas, entre as quais destacam-se: embos- cadas e ataques contra alvos inimigos com o objetivo de inutilizá-los ou destruí-los; opera- ções de reconhecimen- to visando à coleta de dados de inteligência; ações de contrainsur- gência, contraguerri- lha e contraterrorismo; resgate de cidadãos norte-americanos e/ou prisioneiros de guerra; e treinamento de tropas Membros do pelotão X-Ray da ST-1 e integrantes da LDNN sul-vietnamita. Os estrangeiras. Embora Seals usavam uniforme descaracterizado (incluindo trajes civis) e armamento não sem a mesma relevân- convencional, como a metralhadora Stoner 63A1 5,56 mm, de uso exclusivo das equipes Seal. (Fonte: Disponível em . Acesso em: 2 mar. 2013) a cabo no delta do Rio

33. TAVAREZ, Heloísa Feres de Faria (ed.). “Troca de Posições: vietnamização e pacificação”. Guerra na Paz. v. 3. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984d, p. 731. 34. DENÉCÉ, Éric. A história secreta das Forças Especiais. São Paulo: Larousse, 2009, p. 132-133. 35. PETERSEN, op. cit., p. 43-44. 36. Cada pelotão Seal era formado por 16 homens (dois oficiais e 14 praças) divididos em dois Grupos de Combate (GC) de sete elementos, sendo um oficial (líder de GC) e seis praças. 37. Curso de água que possui o maior delta (foz) do mundo. Formado por vários canais, braços e leitos de ou- tros rios, o delta do Rio Mekong está localizado ao nível do mar e possui área predominantemente plana e predisposta a alagamentos. Tais características favorecem o cultivo do arroz, motivo pelo qual uma grande concentração de pessoas encontrava-se habitando as margens do Mekong e de seus afluentes no período em que a guerra era travada.

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Mekong37, é digno de nota o envolvimento supramencionada. de alguns operadores Seal em campanhas Neste ponto, é importante salientar que militares conduzidas no Laos e no Camboja, a doutrina militar norte-americana adotada a serviço do Grupo de Estudos e Observação pelo Exército (US Army) encontrou um (SOG38) e no Vietnã do Norte, sob autori- imenso desafio ao se defrontar com a típica dade da CIA.39 configuração geográfica da região, caracte- Como exemplo de campanhas conjuntas rizada por uma intrincada rede hidrográfica. realizadas pelas equipes Seal, destacamos a Sem poder adotar procedimentos conven- participação de um pelotão de cada equipe cionais relacionados à mobilidade, uma vez operando de modo a apoiar as ações da que as florestas tropicais e os cursos de água Operação Game Warden, cujo objetivo limitavam o deslocamento de tropas por principal era interditar as vias de comu- terra, a solução encontrada pelas FFAA es- nicação ribeirinhas utilizadas pelas tropas tava centrada no transporte aéreo e fluvial. vietcongues no delta do Mekong. A ST-1, Surgia, assim, o conceito de Águas Marrons especificamente, cedeu um de seus pelotões (Brown Water) criado pela Marinha para para prover suporte junto à Força-Tarefa auxiliar no traslado de tropas do Exército e 116 (TF-116), criada em dezembro 1965 realizar o patrulhamento dos afluentes que sob a designação oficial de Força de Pa- formavam o delta do Rio Mekong. trulhamento Fluvial (River Patrol Force), Nos combates em que se envolveram com o intuito de patrulhar os cursos de no Vietnã, os Seals ficaram conhecidos água interiores por ocasião da operação pela tintura verde de camuflagem aplica- da sobre a face para minimizar o brilho reflexivo da pele, motivo que os levou a serem nomeados pela milícia vietcongue de “Homens de Rostos Verdes”.40 Operando sem padronização quanto ao uniforme, eles empregavam uma infinidade de armas (algumas munidas de silenciadores para eliminar sentinelas) e procedimentos pouco ortodoxos, que priorizavam a furtividade para surpreender o inimigo quando e onde ele menos esperava. Em suas incursões, cujo tempo de duração podia variar entre Destacamento Seal desdobrado para operar com a TF-116 seis e 12 horas, os Seals – normalmente passa por inspeção pré-operacional efetuada pelo então distribuídos em pequenas formações de secretário da Marinha dos EUA (Fonte: MACDONALD, sete elementos (Grupo de Combate [Squa- 1990, p. 60) drons]) – transportavam o equipamento

38. Acrônimo da língua inglesa usado em referência ao Studies and Observation Group, organização integrante do Comando Militar de Assistência ao Vietnã (MAC/V [Military Assistance Command/Vietnam]) responsável por sequestrar e/ou executar inimigos, destruir meios de comunicação, realizar operações psicológicas e resgatar militares norte-americanos aprisionados. A área de operação do SOG estendia-se para além das fronteiras do Vietnã do Sul, chegando à Birmânia, ao Laos, Camboja, ao Vietnã do Norte e a algumas províncias da China. 39. DUNNIGAN, James F. Ações de Comandos: operações especiais, comandos e o futuro da arte da guerra norte-americana. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2008, p. 232. 40. ZIMMERMAN, op. cit., p. 63.

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mínimo necessário a fim de favorecer a e helicópteros de escolta Bell UH-1B Sea- mobilidade no ambiente adverso de uma wolf. O suporte obtido com a adição desses floresta tropical.41 Desse modo, eles se recursos, que, somados aos pelotões des- limitavam a carregar o armamento indi- dobrados em território vietnamita, ficaram vidual acrescido do equipamento básico conhecidos como “Pacote Seal”, mostrou- necessário para uma patrulha a pé, cuja se de imensa valia para ambas as equipes configuração comportava: cantil, ração Seal, uma vez que elas necessitavam de de campanha, kit de primeiros socorros, uma rápida e eficiente capacidade de des- granadas de mão (granada de fragmentação locamento para compensar a familiaridade e granada de fumaça) e mina antipessoal das tropas vietcongues com as condições M18A1 Claymore42. adversas de mobilidade por terra.44 Em 1966, a demanda de missões para as No decorrer de 1968, os pelotões da quais os Seals eram requeridos aumentou ST-1 enfrentaram tropas vietcongues na re- consideravelmente, levando a Marinha dos gião de Rung Sat, reduzindo drasticamente EUA a aparelhar as equipes Seal com uma a atividade das milícias sul-vietnamitas nas Equipe de Apoio Móvel (MST43), uma BSU proximidades de Saigon (capital do Vietnã do Sul).45 O resultados das operações conduzi- das pelos Seals era tão restritivo à iniciativa da causa vietcongue que recompensas em di- nheiro eram oferecidas para qualquer milicia- no que eliminasse um operador Seal.46

OPERADORES SEAL SE RETIRAM DO CONFLITO

A tripulação de uma embarcação de assalto das equipes Seal (Stab [Seal Team A partir de 1970, Assault Boat]) realiza operação de extração de um grupo de combate Seal em um manguezal característico do delta do Rio Mekong e dos canais da Península de Ca em virtude do processo Mau (Fonte: Disponível em . Acesso em: 2 mar. 2013) proposto pelo então 41. PETERSEN, op. cit., p. 45. 42. Mina explosiva operada a partir de controle remoto direcional que, ao ser acionada, dispara pequenas esferas de aço a uma distância de 100 metros em um arco de 60º à frente do artefato. 43. Acrônimo da língua inglesa usado para designar a Mobile Support Team, equipe de transporte responsável por navegar em águas rasas (ambiente costeiro e ribeirinho) com o objetivo de apoiar as equipes Seal em operações de inserção e extração de tropas. 44. MACDONALD, op. cit., p. 62. 45. ZIMMERMAN, op. cit., p. 59-61. 46. Ibidem, p. 63. 47. Esse processo previa a redução gradual do envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã, entregando a respon- sabilidade na condução do combate ao Exército sul-vietnamita.

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Presidente Richard Nixon no decorrer do retirar gradativamente do Vietnã, sendo que mesmo ano, o número de missões atribu- os Seals deixaram o país definitivamente ídas às equipes Seal começou a diminuir em março de 1973. Dois anos depois, es- sensivelmente. Nesse período, as operações tando o Exército sul-vietnamita fragilizado conduzidas pelos Seals passaram a se con- em virtude da extrema dependência do centrar em ações envolvendo o resgate de apoio militar ofertado pelos EUA, país prisioneiros de guerra. Sobre esse aspecto, cujo governo atravessava profunda crise é importante destacar o ataque ao campo de política por ocasião da renúncia do Presi- prisioneiros realizado em 22 de novembro de dente Nixon50 em agosto de 1974, coube às 1970, quando, tomando por referência dados forças do Vietnã do Norte organizar uma de inteligência previamente coletados, 15 série de ações que culminaram com a de- operadores Seal e 19 integrantes da LDNN socupação forçada e caótica da embaixada realizaram uma ação conjunta para libertar norte-americana em Saigon e a rendição das 48 militares mantidos em cativeiro em um forças sul-vietnamitas em abril de 1975.51 campo de prisioneiros.48 Conforme estimati- vas apresentadas pelo departamento da Ma- rinha dos EUA, nos enfrentamentos em que se envolveram com os Seals, 580 vietcongues tiveram morte confir- mada e cerca de 300 tiveram morte provável. Por sua vez, as equipes Seal totalizaram um total de 46 mortes nas campanhas em que atu- aram no Vietnã.49 Componente do denominado Pacote Seal, helicóptero Bell UH-1B Seawolf Por conta do proces- sobrevoa curso de rio prestando apoio aéreo para uma formação de Barcos so de vietnamização, Patrulha Fluvial (PBR [Patrol Boat River]) que realizam navegação operacional as FFAA norte-ameri- na região do delta do Rio Mekong (Fonte: Disponível em . Acesso em: 4 mar. 2013

48. BRERETON, Richard G. U S Navy Seal Combat Manual. Millington-TN: Naval and Education Training NAVEDTRA, 1974, p. 16. 49. Ibidem, p. 16. 50. A renúncia de Nixon, ocorrida em 9 de agosto de 1974, deveu-se ao denominado Caso Watergate, que trata da invasão à sede do Comitê do Partido Democrata, situado no Complexo Watergate, em Washington (capital dos EUA). Na ocasião da invasão, realizada durante a campanha presidencial de 1972 (Nixon concorria à reeleição), um grupo de cinco pessoas foi detido sob acusação de realizar ações ilegais de espionagem. Acusado de ter conhecimento acerca das ações ilegais efetuadas contra os Democratas, o presidente eleito pelo Partido Republicano foi forçado a renunciar em virtude de evidências irrefutáveis que atestavam sua ciência sobre o ato de espionagem. 51. TAVAREZ, Heloísa Feres de Faria (ed.). “O Vietnã Unificado: caos e terror na queda de Saigon”.Guerra na Paz. v. 4. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984e, p. 944.

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Pelos serviços prestados no decorrer do tropas vietcongues e norte-vietnamitas, foi conflito travado no Vietnã, as equipes Seal sobrepujado por adversários que se valiam receberam inúmeras condecorações. Para das mais rudimentares formas de luta (guerri- ter uma noção do comprometimento que lha). Apesar do revés, com os conhecimentos os Seals demonstraram no cumprimento adquiridos nas campanhas realizadas no do dever, a ST-1 foi agraciada com duas decorrer da Guerra do Vietnã, as FFAA Citações Presidenciais de Unidade (Pre- norte-americanas agregaram imenso valor às sidential Unit Citation), uma Comenda suas experiências de combate, colocando-as à da Marinha de Unidade (Navy Unit Com- prova em conflitos ocorridos posteriormente. mendation) e uma Comenda de Mérito de Membros destacados da comunidade Unidade (Meritorious Unit Commenda- de Forças Especiais dos EUA, as equipes tion). Individualmente, os operadores da Seal da Marinha envolveram-se no conflito ST-1 foram laureados com as seguintes do sudeste asiático atuando com a mesma distinções: uma Me- eficiência, mas sem a dalha de Honra (Medal mesma publicidade que of Honor), duas Cru- A capacidade adaptativa os Boinas Verdes do zes de Marinha (Navy Exército. Enfrentando Cross), 42 Estrelas de equacionar tradição e as adversidades típicas de Prata (Silver Star), inovação ajudou a construir de uma floresta tropical, 402 Estrelas de Bronze superando as vastas áre- (Bronze Star), duas a reputação dos Seals as alagadas que consti- Legiões do Mérito (Le- tornando-os referência tuem a labiríntica rede gion of Merit), 352 internacional hidrográfica do delta do Medalhas de Comen- Mekong, lutando contra da da Marinha (Navy um inimigo que os an- Commendation Medal) e 51 Medalhas da tagonizava de forma rústica e obstinada, os Marinha por Realização (Navy Achieve- Seals viram-se forçados a conjugar doutrinas ment Medal).52 tradicionais das operações especiais com inovadores procedimentos de combate testa- CONSIDERAÇÕES FINAIS dos e desenvolvidos com a guerra em curso. Essa capacidade adaptativa de equacio- A unificação do Vietnã, ocorrida em nar tradição e inovação mostrou resultados 1975, por ocasião da ascendência do Vietnã significativos nas campanhas militares que do Norte sobre o Vietnã do Sul, frustrou a sucederam a Guerra do Vietnã, ajudando a iniciativa norte-americana de conter o avanço construir a reputação dos Seals de modo do comunismo na Ásia. Na prática, a queda de a torná-los modelo de referência interna- Saigon representou uma humilhante derrota cional para diversas tropas congêneres, político-militar dos EUA, uma vez que o po- incluindo-se entre elas o Grupamento de der de combate estadunidense, cujos recursos Mergulhadores de Combate (Grumec) da superavam inúmeras vezes a capacidade das Marinha do Brasil.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Marinha dos EUA; Operação; Guerra ribeirinha; Guerra do Vietnã;

52. BRERETON, op. cit, p. 16.

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REFERÊNCIAS

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172 RMB4oT/2013 Marinha do Brasil e as Práticas de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica

Anderson Chaves da Silva* Capitão de Corveta (IM)

SUMÁRIO

Introdução Offset – Breve histórico Offset no mundo Offset no Brasil Offset – Algumas definições Metodologia A legalização do offset na Marinha do Brasil Os casos de offset na Marinha do Brasil Considerações finais

Introdução benefícios para as partes envolvidas, a ponto de passarem a competir em preço e m um mundo cada vez mais globali- qualidade com o produto principal e, em Ezado, as políticas de Compensações muitos casos, se tornarem o fator determi- Comerciais, Industriais e Tecnológicas, ou nante na escolha de um fornecedor. Dessa simplesmente offset, têm trazido grandes maneira, ter conhecimento pleno do que se

* Encarregado da Divisão de Acompanhamento de Operações de Crédito, mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Negócios Internacionais (MBA) pelo Centro Univer- sitário Internacional (Uninter). Marinha do Brasil e as Práticas de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica

deseja receber e se o país tem condições de mostrarem as práticas de offset na Mari- absorver o que o fornecedor tem a oferecer nha do Brasil. Por fim, são apresentadas torna-se premissa nas negociações de offset. algumas considerações finais, com o intuito Além disso, é importante não negligen- de fomentar novos trabalhos e discussões ciar que o fator determinante de qualidade destinadas a disseminar o tema em questão. e quantidade de offset é o poder de compra do importador. Ou seja, quanto maior o Offset – Breve histórico valor total da aquisição, e quanto maior o número de possíveis fornecedores estran- Não é tarefa fácil estabelecer a origem geiros, maior o poder do importador de histórica da atividade de compensação no exigir compensações que atendam ao seu comércio internacional. Todavia, na Anti- interesse estratégico. guidade existia uma classe de comerciantes Affonso (2011) salienta que o uso do marítimos, nas cidades gregas, dedicada ao offset tem se mostrado uma prática cada comércio exterior, que atendia à demanda vez mais presente nas negociações inter- por mercadorias de grande consumo, como nacionais, tanto nas aquisições de caráter cereais. Em cidades como Atenas, o poder civil quanto nas de caráter militar. Especifi- público determinava aos comerciantes a camente no âmbito militar, os importadores obrigação de carregar trigo nas viagens de de produtos de defesa têm exigido algum retorno, o que caracteriza uma forma de tipo de compensação visando, principal- compensação comercial (WEBER, 1968). mente, a obter uma tecnologia ou uma Outro exemplo, citado pelo mesmo inovação tecnológica de interesse nacional autor, refere-se ao ano de 1440, quando o e a promover alguns setores da indústria governo inglês, sofrendo com a forte es- de defesa. cassez de recursos monetários, estabeleceu Por se tratar de uma ferramenta bastante uma política, com base em uma teoria que empregada nas relações internacionais, atribui o empobrecimento de um país ao apesar de sua utilização no Brasil ainda elevado valor das importações, obrigando ser muito incipiente, este trabalho pretende os comerciantes estrangeiros a adquirirem apresentar um breve panorama da prática produtos ingleses com os recursos obtidos de offset no mundo e no Brasil, enfatizan- na venda de suas mercadorias naquele país, do seu emprego no Ministério da Defesa caracterizando, assim, uma compensação (MD), e mais especialmente na Marinha comercial. do Brasil (MB), de modo a contribuir para Cruz (2005) afirma que, após o término a disseminação dos seus conceitos e o da Segunda Guerra Mundial, a prática de fomento de sua utilização ante a gama de offset foi utilizada como forma de conso- potenciais benefícios que decorrem do seu lidação da área de influência dos Estados adequado uso. Unidos da América (EUA) sobre os países Após esta breve introdução, o artigo da Europa Ocidental, opondo-se, assim, apresenta uma fundamentação teórica, ao poder estratégico dos países do Leste destinada a elencar o histórico das práticas Europeu, por meio do fortalecimento de de compensação, o panorama mundial e sua indústria de defesa. brasileiro do uso dessa ferramenta e, por Todavia, no início da década de 50, ante fim, alguns conceitos necessários ao devido a considerável evolução e o incremento entendimento do assunto. A metodologia das operações de offset, o Governo dos aqui empregada é explicitada antes de se EUA aprovou o Defense Production Act,

174 RMB4oT/2013 Marinha do Brasil e as Práticas de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica

com a finalidade de controlar os pedidos Conference, realizada na cidade de Boca de exportação de materiais de defesa das Raton/Flórida, entre os dias 19 e 22 de empresas norte-americanas, mantendo, maio de 2013: assim, o controle sobre essas operações Na Suíça, atualmente, a prática de offset (IVO, 2004). se baseia na Offset Policy of the National Segundo Filho (2006), a partir dos anos Armament Director, de 15 de dezembro de 70 os Acordos de Compensação, que esta- 2009, atualizada em 1o de julho de 2010, belecem as operações de offset, passaram que objetiva produzir um volume sustentá- a ser utilizados também em transações vel e efetivo de negócios e know-how e/ou comerciais relacionadas a setores não mi- transferência de tecnologia em favor da sua litares, mas sempre focando na absorção indústria de defesa, visando a desenvolver de tecnologia. relações econômicas futuras com outros Com o término da Guerra Fria e a con- países. Essa nova política busca aumentar sequente redução das despesas no setor o volume de exportação e promover a de defesa, a partir da década de 90 as em- competitividade internacional da indústria presas e os governos passaram a negociar daquele país, além de reduzir os custos compensações cada vez maiores e mais dos exportadores para cumprimento dos complexas, envolvendo offsets diretos e offsets solicitados. O offset produz grandes indiretos (CRUZ, 2005). benefícios econômicos e contribui para a Ivo (2004) relata que, nesse mesmo manutenção da sua base industrial de alta período, grande parte dos países em desen- tecnologia (LARSSON, 2013). volvimento sofreu com a crise do petróleo A política de cooperação industrial e da balança de pagamentos, sendo esses (offset) da Noruega está prevista no White países instados a buscar alternativas para Paper no 38 (2006-2007) como uma ferra- o pagamento de suas importações e para o menta estratégica. Os objetivos dessa polí- desenvolvimento e a implantação de novas tica são: o acesso a mercados internacionais tecnologias, visando à substituição gradual para a indústria norueguesa de defesa, a dos objetos importados. cooperação internacional de armamentos Diante desse cenário, a indústria e o (no nível governamental e industrial) e a governo dos EUA intensificaram as res- manutenção de uma sustentável compe- trições com relação às exigências de offset tência norueguesa dentro de importantes nas negociações de grande vulto, tendo em áreas de tecnologia (SMEDSRØD, 2013). vista o seu elevado potencial exportador e Na Malásia, a Treasury Directive Letter, a existência de uma indústria, em geral, de 18 de março de 2011, é o documento detentora de tecnologias de ponta. oficial que estabelece a política e as diretri- zes de offset, que é tratado como requisito Offset no Mundo mandatório em todas as aquisições gover- namentais. O objetivo desse documento é Como citado anteriormente, a prática gerar um resultado líquido positivo oriundo de offset nos países pós-guerra é uma dos investimentos realizados para promo- realidade que avançou sobre os demais ver o relacionamento estratégico interna- países do continente europeu e asiático. A cional, a maximização do uso do conteúdo seguir, destacam-se alguns exemplos que local, a sustentabilidade da indústria do foram apresentados na Global Offset and país e da tecnologia para o crescimento Countertrade Association (Goca) Spring econômico (SAFARI, 2013).

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A prática de offset na Coreia do Sul nacionalização, o que corresponde a uma baseia-se nas seguintes diretivas: Defense operação de offset. Acquisition Program Act, artigo 26 (DAP Act), Decreto do DAP Act, Regulamen- Offset no Brasil tação de Administração do Programa de Aquisição de Defesa e Diretrizes do Pro- O offset ainda é pouco conhecido e uti- grama de Offset. Os objetivos das transa- lizado no Brasil, o que não permitiu a sua ções de offset sul-coreanas são a aquisição devida exploração, ao contrário de outros de tecnologia de defesa, a exportação de países do mundo, sobretudo aqueles mais produtos de defesa e a garantia das prin- diretamente envolvidos na Segunda Guerra cipais capacidades de manutenção militar Mundial, que já possuem larga experiência (PARK, 2013). no emprego dessa ferramenta (IVO, 2004). Taborda (2001) esclarece que os Acor- Segundo Neto (2007), as Forças Ar- dos de Compensação realizados na Europa, madas brasileiras foram as primeiras ins- especialmente na Suíça, indicam que esses tituições a negociarem compensações em negócios representam excelentes oportu- seus contratos de importação. A MB, por nidades para que instituições formais se exemplo, adquiriu submarinos italianos an- consolidem e para que o fluxo de informa- tes da Segunda Guerra Mundial, utilizando ção atue como estímulo à capacidade de o café brasileiro como moeda de troca, o absorção tecnológica e de aprendizagem que poderia ser considerada uma operação das empresas. Entretanto, esses resultados de offset. só foram observados após um período No início dos anos 50, a Força Aérea Bra- longo de maturação e de persistência em sileira adquiriu, junto à Inglaterra, aeronaves políticas de offset que beneficiassem a Gloster Meteor que foram trocadas por indústria local. valor equivalente em algodão. Para Modesti Por fim, cabe ressaltar a política norte- (2004), essa pode ser considerada a primeira americana atual sobre offset. Segundo o operação de compensação no Brasil. governo dos EUA, o offset é economi- O Exército Brasileiro, por sua vez, no fi- camente ineficiente e gera distorções no nal da década de 80, quando da implantação mercado. Desta maneira, proibiu qualquer da aviação de asas rotativas na Força, incluiu agência do governo de encorajar, apoiar no edital de licitação cláusula que obrigava diretamente ou comprometer empresas dos os possíveis fornecedores a realizarem com- EUA em qualquer acordo de compensação pensações no valor de 100% da aquisição a relacionado com exportação de produtos ou ser executada (CHAGAS, 2004). serviços de defesa para governos estran- Segundo Ivo (2004), apesar de a primei- geiros (BUREAU OF INDUSTRY AND ra transação de offset ter ocorrido há muitos SECURITY, 2013). anos, não é possível afirmar que o Brasil Todavia, conforme salienta Ivo (2004), possua experiência no assunto, visto que existem contrapontos a esse posicionamen- deixou de solicitá-lo em várias situações to. O Buy American Act, por exemplo, é factíveis no decorrer desses anos, especial- um mecanismo legal existente nos EUA mente com países que estariam dispostos a que permite ao governo, em determinadas estabelecer algumas compensações, dada a compras, exigir que parte do produto a ser prática vigente a partir dos anos 50. adquirido seja produzida no país, instituin- Somente na década de 80, com o De- do assim um determinado percentual de creto no 86.010, de 15 de maio de 1981,

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foi adotada a primeira ação governamental nal de Defesa (END), reforçou a impor- brasileira com vistas a estabelecer a exi- tância do offset para o País ao citar, como gência de compensações em benefício da vulnerabilidade da estrutura de defesa do indústria aeronáutica e de aviação civil, Brasil, a inexistência de cláusulas de com- por ocasião da importação de aeronaves, pensação em alguns contratos de importa- motores e equipamentos aplicáveis nesse ção de produtos de defesa, bem como a falta setor (BRASIL, 1981). de participação efetiva da indústria nacional Assim, o primeiro acordo de offset fir- em programas de compensação. Além mado na área civil deu-se por ocasião da disso, a END definiu que o planejamento compra dos satélites Brasilsat I e II entre a de aquisição de equipamentos das Forças Embratel e a empresa canadense Spahr. O Armadas deveria contemplar a exigência de contrato de US$ 175 milhões previa, como compensações (BRASIL, 2008). operação de compensação, a transferência Com a promulgação da Lei no 12.349, de tecnologia necessária à implementação de 15 de dezembro de 2010, regulamenta- do programa Brasilsat (MODESTI, 2011). da pelo Decreto no 7.546, de 2 de agosto No final de 2002, o Ministério da de 2011, o emprego das compensações Defesa aprovou a Política e as Diretrizes passou a ser factível nas compras públicas de Compensação Comercial, Industrial e reguladas pela Lei de Licitações (Lei no Tecnológica por intermédio da Portaria no 8.666, de 21 de junho de 1993), uma vez 764/MD, de 27 de dezembro de 2002. O que alterou o § 11 do Art. 3o da referida lei, art. 8o dessa portaria estabelece: conforme a seguir:

As negociações de contratos de importa- Os editais de licitação para a contratação ção de produtos de defesa realizadas por de bens, serviços e obras poderão, me- qualquer uma das Forças Armadas, com diante prévia justificativa da autoridade valor líquido – FOB – acima de US$ 5 competente, exigir que o contratado milhões, ou valor equivalente em outra promova, em favor de órgão ou entidade moeda, seja em única compra ou cumu- integrante da administração pública ou lativamente com um mesmo fornecedor, daqueles por ela indicados a partir de num período de até doze meses, devem processo isonômico, medidas de com- incluir, necessariamente, um Acordo de pensação comercial, industrial, tecno- Compensação, desde que amparadas por lógica ou acesso a condições vantajosas dispositivos legais vigentes (BRASIL, de financiamento, cumulativamente ou 2002, p. 4). não, na forma estabelecida pelo Poder Executivo Federal (grifo nosso) (BRA- É possível afirmar que, com a Portaria SIL, 1993). no 764/MD, de 2002, o “Ministério da De- fesa assumiu a coordenação estratégica das A partir da Lei no 12.598, de 22 de compensações em benefício da indústria março de 2012, o offset ganhou mais força nacional, preferencialmente a indústria de no âmbito do Ministério da Defesa. A lei, defesa, a partir das aquisições de sistemas que estabelece normas especiais para as e equipamentos efetuadas pelas Forças aquisições da área de defesa, disciplina Armadas” (IVO, 2004, p. 56). em seu art. 4o que os editais e contratos Em 2008, o Decreto no 6.703, de 18 de de importação de produtos ou sistemas de dezembro, que aprova a Estratégia Nacio- defesa disporão de regras definidas pelo

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MD quanto a acordos de compensação. ços diretamente relacionados com o objeto Além disso, o § 2o desse mesmo artigo dos contratos de importação”, enquanto os define que somente o Ministro da Defesa offsets indiretos referem-se às compensa- pode dispensar o acordo de compensação, ções que “envolvem bens e serviços não desde que seja comprovada a impossibili- diretamente relacionados com o objeto dade de solicitar a respectiva compensação dos contratos de importação” (BRASIL, e caracterizada a urgência ou relevância da 2002, p. 14). importação (BRASIL, 2012). Segundo Ivo (2004), existe uma terceira Por fim, a legislação brasileira mais classificação denominada compensação recente sobre offset é o Decreto no 7.970, não relacionada, que se refere àquela de 28 de março de 2013, que cria a Comis- compensação que envolve bens e serviços são Mista da Indústria de Defesa (CMID) não relacionados nem com o objeto do para assessorar o ministro da Defesa, entre contrato nem com o setor responsável pela outros assuntos, a respeito das políticas e importação, mas com outros setores da orientações sobre processos de importação, economia do país. aí incluídas as Compensações Comerciais, Independente da classificação emprega- Industriais e Tecnológicas, de que trata o da, o offset é formalizado por um Acordo art. 4o da Lei no 12.598, de 22 de março de de Compensação que gera “o compromisso 2012 (BRASIL, 2013). e as obrigações do fornecedor estrangeiro para compensar as importações realizadas Offset – Algumas definições pelas Forças Armadas” (BRASIL, 2002, p. 13). Esse Acordo de Compensação é O conceito de Compensação Comercial, firmado mediante uma cláusula específica Industrial e Tecnológica varia bastante de no contrato comercial, um contrato especí- país para país. No Brasil, o conceito mais fico deoffset ou um Termo de Cooperação recente foi trazido pelo Decreto no 7.546, Comercial, Industrial e Tecnológica. de 2 de agosto de 2011: “Qualquer prática Quanto às modalidades de operações compensatória estabelecida como condição de offset, que se referem à maneira como para o fortalecimento da produção de bens, o Acordo de Compensação será executado, do desenvolvimento tecnológico ou da pres- as mais usuais são: coprodução, produção tação de serviços, com a intenção de gerar sob licença, produção subcontratada, benefícios de natureza industrial, tecnoló- investimento financeiro em capacitação gica ou comercial” (BRASIL, 2011, p. 1). industrial e tecnológica, transferência de Menezes (1995) salienta que o benefício tecnologia, obtenção de materiais e meios de natureza industrial busca a cooperação auxiliares de instrução, treinamento de técnica entre as partes. O benefício de recursos humanos, contrapartida comercial natureza tecnológica, por sua vez, visa à e contrapartida industrial (BRASIL, 2011). transferência da tecnologia de interesse do Finalmente, é importante conhecer as importador. Por fim, o benefício de natu- definições de produtos de defesa e sistemas reza comercial contribui para o equilíbrio de defesa constantes na Lei no 12.598, de da balança comercial. 22 de março de 2012: A partir dessa definição, cabe apresen- Produto de Defesa (Prode) – “Todo bem, tar a classificação do offset em direto ou serviço, obra ou informação, inclusive ar- indireto. Os offsets diretos referem-se às mamentos, munições, meios de transporte e compensações que “envolvem bens e servi- de comunicações, fardamentos e materiais

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de uso individual e coletivo, utilizados Por fim, Marconi e Lakatos (2010) citam nas atividades finalísticas de defesa.” Não que os métodos de pesquisa podem ser divi- estão incluídos neste conceito os itens de didos em de abordagem e de procedimentos. uso administrativo. Quanto à abordagem, trata-se de uma pes- Sistema de Defesa (SD) – “Conjunto quisa qualitativa, focada no entendimento inter-relacionado ou interativo de Prode da dinâmica que está presente em uma única que atenda a uma finalidade específica” configuração (Eisenhardt, 1989). Quanto ao (BRASIL, 2012). procedimento, trata-se de um estudo de caso, uma vez que se refere a uma investigação Metodologia empírica que desenvolve uma pesquisa naturalística, em que o pesquisador não tem Segundo Vergara (2003), uma pesquisa qualquer controle sobre eventos e variáveis, pode ser caracterizada quanto aos fins e visando a absorver ao máximo os fatos de métodos. Quanto aos fins, ela pode ser uma determinada situação, para descrever, exploratória, descritiva, explicativa, me- compreender e interpretar a complexidade todológica, aplicada e intervencionista. do caso concreto (Martins e Theóphilo, Quanto aos meios, pode ser classificada 2009). como de campo, de laboratório, docu- mental, bibliográfica, experimental, ex A legalização do offset na post facto, participante, pesquisa-ação ou Marinha do Brasil estudo de caso. Quanto aos fins, o presente artigo pode Somente no início do século XXI a ser definido como exploratório e descritivo, MB considerou o emprego do offset como visto que pretende descrever a prática de entendido nos dias atuais. offset no mundo e no Brasil e, em especial, A partir de um estudo conduzido no na Marinha do Brasil, sendo assim caracte- ano de 2000 pelo Estado-Maior da Armada rizado também como um estudo explorató- (EMA), concluiu-se que a negociação de rio, uma vez que visa a proporcionar maior compensações em contratos de impor- familiaridade com o problema, de modo a tação era adequada, pois se coadunava torná-lo mais explícito (GIL, 2010). com as prioridades do Governo Federal, Quanto aos meios, trata-se de uma agregando benefícios para a Força, e exe- pesquisa bibliográfica, já que por meio quível, uma vez que envolvia a aquisição de uma revisão foi possível construir de equipamentos de alto valor agregado, uma fundamentação teórica necessária além de convergir para os interesses da área ao entendimento do estudo em questão. econômica do governo, já que contribuía Segundo Martins e Theóphilo (2009, p. para atenuar o déficit da balança comercial. 54), a pesquisa bibliográfica “busca co- Em decorrência desse estudo, as seguintes nhecer, analisar e explicar contribuições medidas foram adotadas: sobre determinado assunto, tema ou pro- a) elaboração de uma política de offset blema”. Além disso, a pesquisa também é para a Marinha do Brasil (Portaria no 286/ classificada como documental, em virtude MB, de 12 de novembro de 2001); da utilização de documentos internos da b) inclusão, nas normas internas da Marinha do Brasil como fonte de dados, Força, da obrigatoriedade de negociação de informações e evidências, que subsidiaram Acordos de Compensação nas aquisições o presente artigo. de material no exterior; e

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c) determinação à Empresa Gerencial de de 2010, que cria o Conselho de Compensa- Projetos Navais (Emgepron) de se capacitar ção, em observância ao contido no art. 7o da para prestar assessoria às Organizações Portaria no 764/MD, de 27 de dezembro de Militares. 2002, que disciplina que “os comandos das Com o advento da Portaria no 764/MD, Forças Armadas devem definir um órgão de 27 de dezembro de 2002, a política de coordenador das atividades relacionadas offset da Marinha do Brasil foi revogada, à Compensação Comercial, Industrial e passando a Força a observar as diretrizes Tecnológica” (BRASIL, 2002, p. 4). Ao constantes daquele diploma legal. Conselho de Compensação compete, entre A Estratégia Nacional de Defesa (END) outras atribuições, prestar assessoramento reforçou a necessidade de planejamento e na estratégica de negociação dos Acordos emprego das Compensações Comerciais, de Compensação, propor as compensações Industriais e Tecnológicas nas aquisições e acompanhar a sua execução. Além disso, das três Forças. Especificamente para a foi incluído um capítulo no Manual de Lo- MB, o Decreto no 6.703, de 18 de dezem- gística de Material (EMA-420) destinado bro de 2008, definiu como prioridades, por às Compensações Comerciais, Industriais meio do offset, o projeto e a fabricação de e Tecnológicas. submarinos convencionais que permitam a c) Secretaria-Geral da Marinha (SGM) evolução para o projeto e a fabricação, no – Incluído o Capítulo 14, que trata especifi- País, de submarinos com propulsão nuclear, camente sobre os acordos de compensação, de meios de superfície e aéreos priorizados nas Normas sobre Licitações, Acordos e na END (BRASIL, 2008). Atos Administrativos (SGM-102). Além A partir desse novo contexto legal, disso, cabe à SGM, entre outras atribui- várias ações foram realizadas em diversos ções, supervisionar a implementação das níveis no âmbito da Marinha do Brasil: diretrizes estabelecidas pelo Comandante a) Comando da Marinha (CM) – Emi- da Marinha por meio da Portaria no 59, tida a Portaria no 59, de 18 de fevereiro de de 18 de fevereiro de 2010, e consolidar e 2010, que aprova as diretrizes relacionadas apresentar ao Conselho de Compensação à Compensação Comercial, Industrial e os resultados da implementação dessas Tecnológica a serem seguidas pelas Or- diretrizes e dos Acordos de Compensação ganizações Militares da Força, visando a e os eventuais óbices para a sua execução. atingir os seguintes objetivos: promoção do crescimento dos setores de interesse da Os casos de offset na Força e da Base Industrial de Defesa (BID); Marinha do Brasil ampliação da indústria destinada a atender o setor naval; fomento e fortalecimento dos Na década 70, a Marinha do Brasil setores de interesse da MB; capacitação, de- adquiriu seis fragatas inglesas da classe Ni- senvolvimento e especialização do pessoal terói. O projeto dessas fragatas contribuiu da MB; criação de empregos de alto nível para que a MB construísse as corvetas clas- no mercado tecnológico de interesse da se Inhaúma. Com isso, é possível afirmar Força; obtenção de recursos externos para que a aquisição dessas fragatas gerou um beneficiar a MB e a BID; e incremento da clássico exemplo de offset para a Força, a nacionalização dos itens de interesse da BID. transferência de tecnologia, que não seria b) Estado-Maior da Armada (EMA) – o primeiro, considerando-se a operação de Emitida a Portaria no 180, de 10 de agosto troca de café realizada com os italianos

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por ocasião da aquisição dos submarinos que contribuem para o desenvolvimento do daquele país. setor de defesa e dos demais setores corre- Tendo em vista o conceito de offset lacionados da economia nacional. atualmente em vigor, a MB firmou, até o momento, 19 acordos de compensação, Considerações Finais gerenciados por quatro Órgãos de Direção Setorial (ODS), a saber: Secretaria-Geral As Compensações Comerciais, Indus- da Marinha (1), Comando de Operações triais e Tecnológicas, ou simplesmente off- Navais (3), Comando-Geral do Corpo de set, quando inseridas em políticas nacionais Fuzileiros Navais (3) e Diretoria-Geral do e geridas adequadamente, são capazes de Material da Marinha (DGMM) (12). carrear oportunidades de desenvolvimento, O maior Acordo de Compensação já como se observa na experiência de muitos assinado pela MB, até os dias atuais, que países, sobretudo naqueles do continente também é o maior já firmado pelo País, europeu. relaciona-se ao Programa de Desenvol- A Constituição Federal de 1988 ampara vimento de Submarinos (Prosub), pelo o desenvolvimento das atividades de offset, qual será projetado e construído o pri- em seus artigos 218 e 219, ao estabelecer meiro submarino nuclear da Força. Esse que o “Estado promoverá e incentivará o acordo foi firmado em setembro de 2009 desenvolvimento científico, a pesquisa e a pela DGMM, junto à empresa francesa capacitação tecnológicas” e que “o mercado Direction des Constructions Navales et interno integra o patrimônio nacional e será Services (DCNS), e é composto por 21 incentivado de modo a viabilizar o desen- operações de compensação, tanto diretas volvimento cultural e socioeconômico, quanto indiretas, com valor superior a 4 o bem-estar da população e a autonomia bilhões de euros. tecnológica do País” (BRASIL, 1988, p. O Acordo de Compensação mais recente 98-99). da Força foi firmado em dezembro de 2011, No Brasil, o Ministério da Defesa alcan- também pela DGMM, por ocasião da aqui- çou surpreendente avanço no estabelecimen- sição de três navios-patrulha oceânicos de to de Acordos de Compensação a partir das 1.800 toneladas da empresa inglesa BAE importações de produtos de alta tecnologia Systems. realizadas pelas Forças Armadas. No caso Ressalta-se, ainda, que os Acordos de da Marinha do Brasil, apesar da pouca Compensação do Comando de Operações experiência com o offset, vale ressaltar a as- Navais já tiveram suas operações de offset sinatura do maior Acordo de Compensação concluídas satisfatoriamente. Tais opera- já firmado pelo País, que contribuirá para o ções beneficiaram Organizações Militares pleno desenvolvimento da indústria de defe- da MB nas áreas de treinamento de pessoal sa nacional e demais setores correlacionados e de transferência de tecnologia. da economia brasileira. Por fim, é importante salientar que os É importante frisar que um contrato Acordos de Compensação firmados pela de compensação efetivo e bem negociado MB buscam gerar benefícios para a Força representará muito para o País em termos nas áreas de tecnologia, fabricação de de valor agregado, que se observa com materiais ou equipamentos, nacionaliza- a absorção de tecnologias, a criação de ção, treinamento de pessoal, exportação e empregos, o aporte de divisas e os efeitos incentivos à Indústria de Defesa brasileira, multiplicadores de longo prazo.

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Todavia, considerando a recente pos- pela contratada. Assim, a contratante não sibilidade de exigência de medidas de será responsabilizada pela inexecução Compensação Comercial, Industrial e contratual, ante uma possível incapacidade Tecnológica nas licitações públicas, existe da empresa escolhida, muito menos sofrerá ainda a necessidade de uma regulamentação quaisquer possíveis questionamentos jurí- federal que defina a maneira de utilizar o dicos por parte de outras empresas que se offset nas importações realizadas pelos considerem preteridas do referido processo. diversos setores da economia. A ausência Finalmente, seja na Marinha do Brasil, de orientações estratégicas contribui para a no Ministério da Defesa ou nos demais perda de oportunidades de desenvolvimen- setores da economia brasileira, espera-se to para o País. que os gestores públicos compreendam os Cabe, ainda, uma observação importante reais benefícios e utilizem cada vez mais o para o sucesso dos Acordos de Compensa- offset como ferramenta efetiva para o de- ção: a não definição, pelo contratante, da(s) senvolvimento do País como um todo, não empresa(s) para recebimento dos benefí- apenas como uma simples compensação cios oriundos desse acordo. A capacidade do exportador pela aquisição de produtos técnica dessas empresas deve ser avaliada ou serviços.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Acordo; Administração governamental; Política de defesa; Trans- parência de tecnologia; Política nacional;

Referências

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LEANDRO APARECIDO ROSSETTO ALVES1 Segundo-Tenente (RM2-T)

SUMÁRIO

Introdução: em que mundo estamos? Liderança Ética Ética militar Conclusões INTRODUÇÃO: EM QUE MUNDO e do conhecimento científico. Paradigmas e ESTAMOS? referências são constantemente superados. Dessa forma, os valores morais e sociais marca do mundo atual é a globalização. tomados até então como tradicionais en- ATudo está interligado. Distâncias são tram em crise diante de tamanha pluralida- encurtadas. A facilidade ao acesso de in- de entre as culturas. Perante essa realidade, formações e produtos nunca foi tão grande, a reflexão ética não pode se dar apenas no assim como é intenso o ritmo das transfor- âmbito acadêmico das universidades. Ela mações das ações, do pensamento humano se faz imprescindível a todos nós.

1 Filósofo com Licenciatura Plena em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino/PUC-Minas. Pós-graduando em Filosofia Moderna e Contemporânea pela Faculdade São Bento do Rio de Janeiro. Autor de textos sobre ética e moral com aplicação na liderança civil e militar. É instrutor da disciplina de Filosofia no Colégio Naval e encarregado do Espaço Cultural e da Divisão de Serviços e Apoio ao Ensino do Colégio Naval. ÉTICA: A TÁTICA DA VIDA As virtudes como princípios éticos úteis para a Liderança Militar a partir do pensamento aristotélico, na obra Ética a Nicômaco

Toda instituição, seja ela a familiar, a diálogo entre líder, liderado e as situações escolar, a religiosa e até mesmo a militar, do meio social em que ambos se encontram necessita e possui uma ética. Cabe então, (OUTHWAITE e BOTTOMORE, 1996, a cada uma delas, abordar essa questão p. 426). diante dos desafios que a realidade atual Também não podemos deixar de des- apresenta para uma constatação daquilo tacar que cada tipo de liderança, seja ela que, de fato, interfere em suas estruturas política, religiosa, familiar ou social, possui organizacionais. suas características específicas. Agora, mesmo já tendo uma resposta prévia, esta LIDERANÇA ainda se torna insuficiente para as ambições do atual trabalho. Primeiro porque se trata Em todos os grupos sociais, desde a An- de definições muito amplas. Segundo por- tiguidade até os dias hodiernos, a liderança que é limitada perante o campo conceitual sempre se fez presente. Líderes sempre militar. influenciaram a construção da história da Em outras palavras, essas definições, humanidade. Faraós, profetas, sacerdotes, ainda que presentes dentro da perspectiva imperadores, reis, ministros, ditadores, pre- militar, não abrangem outros pontos espe- sidentes e cidadãos ilustres de cada época cíficos que só estão presentes nela. Cabe- são exemplos de personagens históricos nos, então, esclarecer as características e as que exerceram um papel de liderança. implicações da conceituação militar acerca Etimologicamente, liderar provém do da liderança, a fim de abrir caminho para a latim ducere, que na língua portuguesa quer sua relação com a ética e, particularmente, dizer conduzir. Há uma outra raiz que se com a ética militar. origina do inglês to lead, que pode traduzir- A Marinha do Brasil, em sua Doutrina se também como comandar, encaminhar de Liderança, presente no documento do ou encabeçar. Segundo o Dicionário Estado-Maior da Armada 137 (EMA-137), Houaiss da Língua Portuguesa, o termo define liderança como “o processo que líder é definido como atributo dado a uma consiste em influenciar pessoas no sentido pessoa tomada como guia perante outras, de que ajam, voluntariamente, em prol ou alguém que contém a capacidade de dos objetivos da Instituição” (EMA-137, atrair seguidores (MUELLER e MAYER, p. 2, 2004). 2009, p. 456). Adiante, o documento passa a apresentar Para Outhwaite e Bottomore, liderar o papel do líder perante os liderados: é “a qualidade que permite a uma pessoa comandar outras”, em um relacionamento “Valores como a honra, a dignidade, regulado pela aceitação e não pela coação. a honestidade, a lealdade e o amor à Sendo que, entre a emissão da ordem e o seu Pátria, assim como todos os outros cumprimento, é necessário compreender considerados vitais pela Marinha, os seus fatores de legitimação e exigência devem ser praticados e transmitidos de poder. permanentemente pelo líder aos seus Segundo Gibb, liderar provém de uma liderados. A tarefa de doutrinamento influência mútua entre a individualidade visa a transmitir a sua correta hierar- de cada ser e a conjuntura social em que quização, priorizando-os em relação ele está inserido. Assim, a liderança se aos valores materiais, como o dinheiro, dá por meio de um processo de contínuo o poder e a satisfação pessoal. Este é

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o maior desafio a ser enfrentado por Segundo Aristóteles, em sua obra Ética aquele que pretende exercer a liderança a Nicômaco, a ética almeja o alcance da de um grupo” (EMA 137, p. 3, 2004). felicidade. E tal finalidade é possível por meio do desenvolvimento das virtudes na ÉTICA prática de nossas ações com os demais. Dessa forma, a felicidade pode ser conside- Chegado a este ponto, encontramos um rada, ainda, como “uma atividade da alma dos principais elementos que tomaremos conforme a virtude perfeita” (ARISTÓTE- para a constituição do elo entre liderança e LES, 2008, p.36). ética militar: os valores. Os valores fazem Por isso, destacamos a importância da parte do sistema de significados no qual virtude dentro da ética aristotélica, já que, somos introduzidos desde o nosso nasci- segundo o estagirita, compreendendo a mento, e cuja finalidade é o ensinamento natureza da virtude humana podemos com- de como nos comportarmos nos relaciona- preender a natureza da felicidade humana, mentos sociais e de quais direitos e deveres que, por vez, necessita de bens interiores: temos. Eles são constituintes da consciência virtude e nobreza; e bens exteriores (a ética, que baliza nossa conduta e nossos prática das ações nobres). Em suma, o atos. Assim, adentramos de vez no tema da que constitui a felicidade são as atividades ética, que pode ser concebida como: virtuosas (ARISTÓTELES, 2008, p. 30). No Livro II da mesma obra, Aristóteles “Em geral, ciência da conduta. Existem apresenta duas espécies de virtude: a virtu- duas concepções fundamentais dessa de intelectual, que corresponde à sabedoria ciência: 1a – a que a considera como filosófica e que deve, em grande parte, sua ciência do fim para o qual a conduta dos geração e crescimento ao ensino, e requer, homens deve ser orientada e dos meios assim, experiência e tempo; e a virtude para atingir tal fim, deduzindo tanto o moral, adquirida como resultado do hábito, fim quanto os meios da natureza do no aprendizado do uso da liberdade e da homem; 2a – a que a considera como a temperança. ciência do móvel da conduta humana e Ainda segundo Aristóteles, a virtude é procura determinar tal móvel com vistas um meio-termo para o agir bem, de maneira a dirigir ou disciplinar essa conduta” nobre e louvável, de acordo com a regra (ABBAGNANO, 2007, p. 442). justa. Portanto, se para Aristóteles a ética almeja o alcance da felicidade, e a felici- O termo ética vem do grego ethos, que dade se dá por meio da prática de ações significa costumes. No latim,mos ou mores virtuosas, chegamos, então, à conclusão de também significam costumes. Todavia, que a ética fala sobre o caráter do homem para Nogueira, a ética é tomada como a e as suas virtudes: “reflexão metódica sobre os costumes”, enquanto a moral é “o conjunto de regras “Já esboçamos uma definição das vir- adquiridas por hábito”. Podemos, ainda, tudes em geral, mostrando que elas são conceber a ética “como uma referência meios e que também são disposições para os seres humanos em sociedade, de de caráter que, além disso, tendem por modo tal que a sociedade possa se tornar sua própria natureza à realização dos cada vez mais humana” (NOGUEIRA, atos pelos quais elas são produzidas” 2006, p. 69-70). (ARISTÓTELES, 2008, p. 68).

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Todavia, o debate acerca das virtudes A quarta virtude é a magnificência. O não se esgota nessas definições. No Livro homem magnificente julga com acerto, não III, Aristóteles passa a elencar e definir se expõe a perigos por motivos triviais e aquilo que ele chama de variedade de vir- percebe o que é apropriado. Também é a tudes, apontando para a classe de coisas pessoa digna de grandes coisas e que está à com as quais elas se relacionam. A primeira altura delas, o meio termo no que se refere virtude é a coragem. O homem corajoso à justeza entre a honra e a desonra. sente e age conforme os méritos das cir- A magnificência é o coroamento de to- cunstâncias, mesmo naquelas em que haja das as virtudes, pois as torna maiores e não o perigo de morte, pois ele é destemido em existe sem elas. Para Aristóteles, é difícil face de uma morte honrosa. ser magnânimo, pois, sem um caráter bom Assim, a coragem é nobre porque seu e nobre, essa virtude se torna impossível. fim também é nobre. Ela é o meio-termo Ela é própria do homem que diz a verdade, entre a confiança e o temor. Para Aristó- que não guarda rancor das ofensas e que teles, o exemplo de coragem é o cidadão não é dado a conversas fúteis. Por fim, a soldado. Quanto mais virtuoso e feliz for, magnanimidade relaciona-se com a honra tanto mais sofrerá ao enfrentar a morte, em grande escala (ARISTÓTELES, 2008, pois sabe do grande valor que a vida tem p. 86-94). e, mesmo assim, não se deixa levar pelo A quinta virtude é a calma, meio termo medo e a ela renuncia em prol da defesa da em relação à cólera. As pessoas que a têm cidade (ARISTÓTELES, 2008, p. 68-75). não são vingativas e analisam bem antes de A segunda virtude é a temperança, apontar os erros alheios. É própria daqueles própria do homem que possui o domínio que, na convivência social, não magoam os dos apetites, que devem ser poucos e mo- outros com palavras e atos. O homem que derados, e que não se opõe ao princípio se situa nesse meio-termo proporciona pra- racional da obediência e da disciplina. O zer às pessoas com as quais convive, pois homem temperante deseja as coisas que procura ser agradável sem nenhum objetivo deve desejar, da maneira e na ocasião certas ulterior (ARISTÓTELES, 2008, p. 95-98). (ARISTÓTELES, 2008, p. 76-80). A sexta virtude é a verdade, própria da A terceira virtude é a liberalidade, a pessoa de bem, que, por amor a esta virtude, capacidade de dar às pessoas certas o que é capaz de julgar com justiça. Quem a tem obter das fontes certas e não das erradas e possui bom gosto e é espirituoso, de bom de fazer o bem tendo em vista o que é no- caráter, fino e bem-educado. Considera o bre. Quem assim é age com prazer e sem lazer e o entretenimento como elementos sofrimento, pois aquilo que é conforme essa necessários à vida. A verdade é como uma virtude é agradável e isento de sofrimento. espécie de lei para si próprio (ARISTÓTE- Esse tipo de pessoa não se apega LES, 2008, p. 98-102). exageradamente aos seus bens, mas não No Livro VIII, Aristóteles apresenta os distribui às pessoas erradas, e nem no mais um tipo de virtude: a amizade, sendo momento em que não deve. Gasta ainda ela também uma disposição de caráter. A de acordo com suas posses, com quantias verdadeira amizade existe entre os homens certas e com objetos certos. É o meio bons. Depende mais de amar do que ser termo entre o dar e o obter, fazendo-os amado. Todavia, amar na medida justa, que sempre da maneira devida (ARISTÓTE- se manifesta na comunidade e entre mari- LES, 2008, p. 81-85). do e mulher, irmãos, pais e filhos. Enfim,

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toda forma de amizade verdadeira envolve IX – ser discreto em suas atitudes, associação, gera esperança, é invulnerável maneiras e em sua linguagem escrita à calúnia e se equipara a uma autêntica e falada; forma de justiça (ARISTÓTELES, 2008, XII – cumprir seus deveres de cidadão; p. 172-179). XIII – proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular; “A amizade ajuda os jovens a evitar o XIV – observar as normas da boa edu- erro; ajuda os mais velhos, amparando- cação” (SERVIÇO DE DOCUMENTA- os em suas necessidades e suprindo as ÇÃO DA MARINHA, 1998, p. 12-13). atividades que declinam com o passar dos anos; e aos que estão no vigor da Outro documento já citado anterior- idade ela estimula a prática de nobres mente e em que se menciona a ética militar ações, pois com amigos – ‘dois que é a Doutrina de Liderança da Marinha, andam juntos’ – as pessoas são mais mais conhecido como EMA-137. Em seu capazes de agir e de pensar” (ARISTÓ- segundo capítulo, podemos encontrar uma TELES, 2008, p. 172). definição mais exata, que delineia uma con- ceituação teórica capaz de estabelecer elo ÉTICA MILITAR entre ética e liderança e que se concretiza em seu terceiro capítulo. Tendo, então, visto as concepções de Ressaltamos, assim, a preocupação, o virtudes no pensamento ético aristotélico, esforço e o zelo da Marinha do Brasil em passamos a relacioná-las com a ética militar, esclarecer e transmitir a seus militares a para assim identificarmos pontos de conver- importância tanto da existência quanto da gência entre ambas no que tange ao papel prática de uma ética no agir profissional da liderança militar. O primeiro documento cotidiano em seus cargos e funções. Ve- a ser citado e em que aparece a temática da jamos, então, a definição de ética militar ética dentro do aspecto militar é o Estatuto naval dada pelo EMA-137: dos Militares, mais especificamente na Seção II, Título II, Capítulo I, Artigo 28, “O conjunto dos princípios, valores, sob a denominação Da Ética Militar. Dele costumes, tradições, normas estatutárias destacamos os seguintes preceitos: e regulamentos que regem o juízo de conduta do militar da Marinha é enten- “I – amar a verdade e a responsabilidade dido como Ética Militar Naval. Ela é um como fundamento de dignidade pessoal; atributo que induz ao atendimento das II – exercer, com autoridade, eficiência e regras de conduta compatíveis com o probidade, as funções que lhe couberem comportamento militar naval desejado, em decorrência do cargo; e dela fazem parte, entre outros, o valor e III – respeitar a dignidade da pessoa a ética militar” (ESTADO-MAIOR DA humana; ARMADA, 2004, Cap. 2, p. 2.1-2.2). V – ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos Portanto, o conceito de ética e ética subordinados; militar convergem quando ambas afirmam VIII – praticar a camaradagem e desen- ser um conjunto de regras, valores e cos- volver, permanentemente, o espírito de tumes que balizam a ação dos indivíduos. cooperação; Fica ainda notória a especificidade da ética

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militar, já que esta, além de resguardar a aperfeiçoamentos. Ressaltamos os seguin- tradição naval e o comportamento mili- tes atributos: tar naval, se direciona, em uma primeira instância, ao exercício da liderança naval. “a) bondade – demonstração de pre- Diante desse dado, urge uma questão: ocupação com o bem-estar pessoal e quem assume uma liderança naval? Ao profissional dos liderados; afirmar que “os preceitos da Ética Militar c) autoconfiança – capacidade de de- Naval constituem um poderoso instrumen- monstrar segurança e convicção de ser to para o exercício da liderança naval”, o bem-sucedido diante de dificuldades EMA-137 pressupõe o conhecimento de [...]; que todos os militares, sejam eles oficiais e) caráter – soma total dos traços de ou praças, assumirão indubitavelmente um personalidade que dão consistência ao papel de liderança. comportamento e têm por base a ética, Assim, todos os militares necessitam ser a integridade, a honestidade, o respeito preparados para a liderança, que, por sua e a confiança, sendo fator preponderante vez, deve ser exemplar. O líder se configura nas decisões e no modo de agir de qual- como o referencial de ação e pensamento. quer pessoa; Ele é o testemunho de coerência e consci- j) confiança – é a capacidade de inspirar ência moral tanto em suas ordens quanto a crença de ser apto a executar com êxito em suas decisões. É aquele que concentra a missão que lhe foi atribuída [...]; um conjunto de virtudes concernentes ao m) coragem – a coragem apresenta- seu ofício. Eis as principais características se sob duas formas: coragem física a serem cultivadas em um líder segundo o (superação do medo ao dano físico no EMA-137: cumprimento do dever) e coragem mo- ral (disposição para defender crenças e “Entre os atributos a serem desen- desafiar os outros com base em valores volvidos, destacam-se a iniciativa, o e princípios morais, admitir erros e autodomínio, a disciplina, a justiça, a mudar o próprio comportamento quando lealdade, a cooperação, a imparciali- preciso, mesmo que esse ato contrarie os dade, a autoconfiança, a coragem física próprios interesses); e moral, a capacidade de decisão, o s) espírito de cooperação – capacidade entusiasmo profissional, a estabilidade de auxiliar eficiente e desinteressada- emocional, a dedicação, a tenacidade, mente [...]; a responsabilidade e a criatividade” t) exemplo – o exemplo aos subordina- (ESTADO-MAIOR DA ARMADA, dos se materializa pelo comportamento 2004, Cap. 3, p. 1). do líder, pleno de valores inerentes à ética militar, aceitos e respeitados pelo O Anexo A do mesmo documento elen- grupo. Este comportamento deve ser ca mais uma série de atributos necessários firme, permanente e coerente; a um líder. Estes corroboram a tese de que x) imparcialidade (senso de justiça) – liderança e ética são dois elementos indis- capacidade de julgar baseando-se em sociáveis e indispensáveis para todo militar dados objetivos sem se envolver, de ao longo de sua carreira. Eles jamais podem acordo com o mérito e o desempenho deixar de ser abordados tanto no período de cada um, sem se deixar influenciar de formação quanto em especializações e pelas características pessoais e rela-

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cionamentos” (ESTADO-MAIOR DA consciência de cada um, no senso de mo- ARMADA, 2004, ANEXO A, p. 1-3). ralidade, na sua assimilação dos padrões de moral da sociedade, em determinada No Anexo B, encontramos dois itens época e cultura. tomados como atributos que uma liderança A responsabilidade moral significa direta assume: a responsabilidade legal e a um indivíduo senhor de suas ações, responsabilidade moral. Ambas postulam ao respondendo por elas perante a própria líder a dignidade e a autoridade moral. Elas consciência e de acordo com o padrão de sintetizam a tríplice relação entre liderança, moralidade existente, mesmo sem estar ética e ética militar. Possibilitam-nos ainda o obrigado a prestar contas por força de início de uma reflexão e de um debate direto lei ou regulamento” (ESTADO-MAIOR acerca dos desafios presentes e futuros tanto DA ARMADA, 2004, ANEXO B, p. 4). para a ética civil quanto para a ética militar: Vale lembrar que o intuito não é nos “Entende-se por responsabilidade a obri- atentarmos à abordagem detalhada dos dois gação de responder por certos atos, pró- tipos de responsabilidade segundo o EMA- prios ou de outrem. É inquestionável que 137. A apresentação dos mesmos se dá com sem responsabilidade não há liderança. a finalidade de esclarecer e comprovar que, Distinguem-se, nitidamente, dois tipos mesmo tendo muitos pontos específicos e de responsabilidade: a responsabilidade distintos, a ética em geral e a ética militar legal e a moral. estão em um diálogo mútuo. A sincroniza- A responsabilidade legal é a estabele- ção de ambas forma ainda, um poderoso cida por lei ou regulamento, fruto da instrumento para a liderança militar. função exercida pelo militar. A respon- Eis uma comparação entre os aspectos sabilidade moral, por sua vez, vai mais da ética aristotélica e a ética militar dentro longe, não tem limites fixados. Está na do âmbito da liderança militar:

VIRTUDES DA ÉTICA ARISTOTÉLICA ATRIBUTOS DA ÉTICA MILITAR Coragem Estatuto dos Militares, art. 28, § II EMA 137, Anexo A, atributo C, D, M, R, Y Estatuto dos Militares, art. 28, § IV, XI, Temperança XII,XIII, XIV, XVI, XVII, XIX EMA 137, Anexo A, atributo H, I, N, P Liberalidade Estatuto dos Militares, art. 28, § VII, XV, XVII EMA 137, Anexo A, atributo O, X Estatuto dos Militares, art. 28, § V, IX, X, Magnificência XVIII, XIX EMA 137, Anexo A, atributo B, E, J, Q, T, W Calma Estatuto dos Militares, art. 28, § III, VI, IX EMA 137, Anexo A, atributo A, I Verdade Estatuto dos Militares, art. 28, § I EMA 137, Anexo A, atributo F, L Amizade Estatuto dos Militares, art. 28, § VIII EMA 137, Anexo A, atributo K, S, Z

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Muito mais poderia ser discutido. No sem nenhuma tática para encarar tais con- entanto, cabe-nos apresentar e, ao mesmo dicionantes adversos. tempo, fomentar a continuidade da dis- Assim, a ética, como bem afirmamos cussão acerca do presente tema. Diante já no início deste artigo, se faz necessária. da complexidade do Precisamos reabrir o assunto e da necessi- seu debate nos mais dade de um constante Toda ação implica a diversos âmbitos e ca- debate, fica para nós existência de normas e madas sociais. Todas o desafio de jamais as instituições devem tomá-lo como encer- leis, preceitos e costumes assumir como compro- rado, determinado ou que, ao mesmo tempo, a misso interno a reflexão sem valia para nosso acerca de seus valores e existir enquanto seres balizam e a ela atribuem normas. Seus membros humanos e militares. uma responsabilidade não podem ficar aquém moral. A cada momento daquilo que os levam CONCLUSÕES à excelência humana, de nossa existência a ética tanto no seu serviço Vimos, então, que está presente, subjacente ao quanto em seu próprio toda ação implica a existir. existência de normas nosso ser Todavia, o debate e e leis, preceitos e cos- a reflexão visam a uma tumes que, ao mesmo tempo, a balizam e a conscientização e uma melhoria do agir ela atribuem uma responsabilidade moral. dos indivíduos em seus respectivos papéis A cada momento de nossa existência a ética sociais – o alcance da felicidade, segundo está presente, subjacente ao nosso ser. No Aristóteles. A promoção da dignidade da entanto, diante de uma realidade cada vez vida humana, o bem e a felicidade são mais relativista e mate- itens que toda ética, rialista, ela parece estar essencialmente, deve esquecida e vista até Na Marinha a preservação almejar e assegurar em como empecilho para a de sua cultura, sua suas estruturas. satisfação das vontades Nota-se, assim, a egocêntricas do homem tradição, seus valores e eficiência da Marinha contemporâneo. normas destaca-a como do Brasil em já possuir A negação de valo- em seus documentos res e virtudes acarreta instituição exemplar no uma discussão acerca o total vazio de signi- serviço que lhe compete: a da ética que lhe carac- ficado e sentido para defesa da Pátria teriza – a ética militar a vida de muitos. O naval. Ao estabelecer cultivo dos costumes conceitos e fundamen- e das tradições encontra seu desafio maior tos, ela proporciona naturalmente a na rapidez com que os paradigmas são que- abertura para um diálogo tanto interno brados. As culturas se deparam com uma quanto externo, facilitando, dessa forma, falta de identidade jamais vista. Enfim, o a agregação de novos conteúdos e o for- homem diante da grande batalha – que é a necimento de parâmetros úteis também sua própria existência – sente-se rendido para a sociedade.

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A preservação de sua cultura, sua tradição, contribuir mutuamente para uma melhoria das seus valores e normas destaca-a como insti- ações e das condições humanas na convivência tuição exemplar no serviço que lhe compete: e nas tarefas profissionais cotidianas. a defesa da Pátria. A eficácia nas operações Sem dúvida, a continuidade da discussão que lhe são confiadas e o prestígio perante favorece, ao mesmo tempo, o resgate da a sociedade brasileira importância do cultivo sinalizam o apuro e a de valores e tradições coerência do agir ético Ética: a tática da vida do institucionais e o sur- de seus militares. homem em sociedade gimento de uma nova Estabelecendo uma postura do ser humano relação entre a ética diante um mundo tão aristotélica e a ética militar naval, pudemos marcado pela perda dos referenciais de constatar que ambas possuem muitos traços valores. Tudo isso faz da ética, verdadei- em comum. Assim, concluímos que é possível ramente, a tática da vida do homem em um diálogo entre as duas éticas. Ambas podem sociedade.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ética; Disciplina; Liderança

REFERÊNCIAS

ABBAGANANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5a Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 3a Ed. São Paulo: Martin Claret, 2008. (coleção “A obra-prima de cada autor”), 2008. ESTADO-MAIOR DA ARMADA. EMA – 137 – Doutrina de Liderança da Marinha. 1a Ed. Brasília, 2004. HOUAISS, Antônio; SALLES VILLAR, Mauro; MELLO FRANCO, Francisco Manoel. Minidicio- nário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. MUELLER, Adriana; MAYER, Léia. Liderança: novos conceitos diante de uma nova realidade. Disponível em: . Acesso em 6 Jun. 2012, 19:32:45. NOGUEIRA, Edmilson. “Refletindo sobre Ética”. In_____:Pensar o humano hoje. 1a Ed. Bragança Paulista: Ed. Universitária São Francisco, 2006. OUTHWAITE, William, BOTTOMORE, Tom (Orgs.). Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. Vade-Mécum Naval – Estatuto dos Militares. 4a Ed. Rio de Janeiro, 1998.

192 RMB4oT/2013 DEFESA E DIPLOMACIA – O BRASIL E AS MISSÕES DE PAZ DA ONU*

VICTOR LUIZ MEIRELLES DE SOUZA Guarda-Marinha

SUMÁRIO

O Brasil e as missões de paz A Marinha do Brasil nas missões de paz Minustah – A Marinha atuando no Haiti Antecedentes A missão Unifil – Desafio para manter a paz através do mar Antecedentes Atuação do Brasil na Unifil Anseios do Brasil nas missões de paz Conclusão

onstituindo-se em um singular e que essas nações alcancem uma paz Cdinâmico instrumento de estabili- permanente e duradoura. zação e mantenedor de paz em áreas de A missão de paz pioneira das Nações conflito, as operações da Organização Unidas foi estabelecida em 1948, quando o das Nações Unidas (ONU) visam auxi- Conselho de Segurança autorizou a prepa- liar países que se encontram devastados ração e o envio de militares da ONU para o por conflitos, tornando-se uma impor- Oriente Médio, a fim de monitorar o Acordo tante ferramenta ao criar condições para de Armistício entre Israel e seus vizinhos

* Publicado na Revista de Villegagnon, 2012. DEFESA E DIPLOMACIA – O BRASIL E AS MISSÕES DE PAZ DA ONU

árabes. Desde então, 63 operações de paz Com o fim da Guerra Fria, o emprego das das Nações Unidas foram criadas. Com o missões de paz mudou radicalmente, devido passar do tempo, as operações de paz evolu- não somente ao novo cenário político global, íram tanto em estrutura quanto em emprego, mas também às novas formas de conflito e às atuando em diferentes panoramas políticos, transformações pelas quais o mundo estava de acordo com as dife- passando. A ONU teve rentes necessidades da de expandir seu campo área de conflito. O Brasil, imbuído em sua de atuação, alterando Criadas em meio o emprego estratégico ao contexto da Guerra política pacífica no que de suas tropas e a tarefa Fria, a princípio se limi- diz respeito a conflitos das operações de paz. tavam à manutenção de As missões “tradicio- acordos de cessar-fogo internacionais, participa nais” envolvendo so- e ao alívio de tensões de missões de paz da ONU mente tarefas militares sociais, cooperando desde a década de 1950 foram substituídas por com ajuda humanitá- operações de caráter ria local e angariando “multidimensional”, esforços para que se resolvessem os conflitos criadas para assegurar o estabelecimento de forma pacífica. Inicialmente, eram forma- de acordos de paz de grande abrangência e das por observadores militares e contingente auxiliar a estabelecer pilares para uma paz militar de leve armamento, com a função de sustentável. Hoje, as operações realizam um monitorar o cessar-fogo e os acordos de paz. grande escopo de tarefas nos mais diversos

Brasileiros participantes de missões de paz

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âmbitos, desde ajudar a constituir ou instituir os novos governos. Só a Angola, em 1995, governos legítimos, gerenciar o cumprimen- o Exército Brasileiro enviou mais de mil to dos direitos humanos, assegurar reformas homens, entre eles vários médicos, enfer- de base social, política e econômica, entre meiros e engenheiros. outras, até o desarmamento, a desmobiliza- Em 1999, militares brasileiros tiveram ção e a reintegração de ex-combatentes nos papel destacado na missão enviada ao Ti- países em conflito. mor Leste a fim de garantir a paz quando Atualmente, as operações de paz da ONU da ocasião da sua independência. Obser- são um símbolo de um mundo preocupado vadores foram mandados à região a fim em preservar e promover a paz, atuando de de assegurar a legitimidade do referendo maneira a proteger a população de regiões sobre a emancipação do país. Quando da em guerra, assessorar e influenciar as partes eclosão de guerrilhas armadas apoiadas beligerantes e trabalhar para a pacificação pelo governo da Indonésia, uma missão das áreas de tensão em todo o mundo. militar fora organizada, com participação brasileira, uma vez que nossas autoridades O BRASIL E AS MISSÕES DE PAZ já se encontravam entrosadas com as auto- ridades locais. O fato O Brasil, imbu- de o Timor também ído em sua política Atualmente, o nome do ser uma nação lusófona pacífica no que diz Brasil aparece em primeiro estreitou ainda mais a respeito a conflitos in- plano quando surge a relação dos soldados ternacionais, participa brasileiros com a popu- de missões de paz da necessidade de um agente lação e cooperou sobre- ONU desde a década forte e competente para maneira para conscien- de 1950. Entre 1957 e tizar seus habitantes 1967, o País participou comandar uma operação de que a ONU tinha da 1a Força de Emer- de pacificação em qualquer como principal e único gência das Nações lugar do mundo objetivo estabelecer a Unidas (Unef 1), com paz e a prosperidade o Batalhão Suez, que na área. O Brasil con- visava apaziguar a tensão entre egípcios duziu a missão de paz no Timor de 1999 a e israelenses na península do Sinai e nas 2006, assegurando o direito à liberdade e proximidades do Canal de Suez. Durante à democracia para aquele povo. os dez anos no Egito, o Brasil enviou mais Destaquemos ainda a atuação de nossos de seis mil soldados, exercendo o Comando observadores espalhados por várias partes Operacional da missão entre 1965 e 1966. da Ásia, Europa e América Central, além Nas décadas seguintes, atuou nos mais di- daqueles que trabalharam para a solução versos terrenos na Ásia, África e América, pacífica dos problemas fronteiriços entre com destaque para a atuação nos países Equador e Peru, que voltaram a eclodir. A lusófonos, como Moçambique e Angola. participação nas diversas missões de paz Além de cooperar para a manutenção da paz trouxe ao Brasil considerável prestígio nessas nações, o Brasil participou também internacional junto às Nações Unidas e à na reconstrução e na reestruturação das comunidade internacional. O nosso país instituições legais nacionais, constituindo hoje é referência no que diz respeito a es- um elo de cooperação e de amizade com truturar, gerenciar e comandar uma missão

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de paz, angariando respeito à nossa política crescentes entre os dois países no que dizia externa e aumentando a sua projeção no respeito a questões fronteiriças. Também cenário mundial. Atualmente, o nome do com observadores, a Marinha esteve pre- Brasil aparece em primeiro plano quando sente nas principais missões de paz da ONU surge a necessidade de um agente forte e na antiga República da Iugoslávia, em 1999, competente para comandar uma operação que contaram com a participação de 22 pa- de pacificação em qualquer lugar do mundo. íses. Ressalta-se que, naquele momento, a Uma prova disso é o fato de o País ter assu- Iugoslávia vivia um momento de crescente mido, em 2004, a Missão das Nações Unidas tensão entre as suas até então seis repúblicas para a Estabilização do Haiti (Minustah), constituintes, tendo a situação eclodido em estando à frente do contingente de várias conflito armado quando da invasão do Exér- nações, quando do período de anarquia cito sérvio à província do Kosovo. vivido por aquele país a partir da partida do Atualmente, a MB participa de duas mis- ex-presidente Jean-Bertrand Aristide. Outra sões de paz de extrema importância: a Mis- prova da importância são das Nações Unidas do Brasil nesse campo para a Estabilização do é a sua recente nome- A participação da Marinha Haiti e a Força Interina ação para comandar a é efetiva desde as primeiras das Nações Unidas no Força-Tarefa Maríti- Líbano, onde exerce ma da Força Interina missões, com o envio de o Comando da Força- das Nações Unidas observadores internacionais Tarefa Marítima. no Líbano (FTM – Unifil). ou com a participação de MINUSTAH – tropas A MARINHA A MARINHA DO ATUANDO NO BRASIL NAS HAITI MISSÕES DE PAZ Antecedentes A Marinha do Brasil (MB), no âmbito das missões de paz das Nações Unidas, No ano de 2001, a eleição presidencial tem como agente principal o Corpo de no Haiti teve como vencedor Jean-Bertrand Fuzileiros Navais (CFN). A participação Aristide, em um pleito sem grandes ícones da Marinha é efetiva desde as primeiras políticos e no qual menos de 10% da popu- missões, com o envio de observadores lação votaram. A oposição, então, se negou a internacionais ou com a participação de aceitar o resultado, criando, assim, um impas- tropas, como ocorreu em 1995, na Missão se que levaria o país a uma séria crise política. de Verificação das Nações Unidas em An- Em 2004, em meio a tensões crescentes e gola (Unavem – III). Aquela missão durou pressionado pela comunidade internacional, seis meses e empregou militares de várias principalmente pela Organização dos Estados nacionalidades, contribuindo sobremaneira Americanos (OEA) e pela Comunidade das para a experiência dos nossos combatentes. Repúblicas do Caribe (Caricom), Aristide Ainda em 1995, observadores do CFN concordou em dissolver seu gabinete ministe- participaram da Missão de Observadores rial. Ainda assim, a oposição continuava insa- Militares Equador-Peru (Momep), coope- tisfeita e promovia carreatas e protestos contra rando para o apaziguamento das tensões o governo de Porto Príncipe. A violência

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generalizada explodiu em fevereiro daquele do Brasil, por meio do CFN, participa da Mi- ano, na cidade de Gonaives, e rapidamente se nustah com o envio de soldados, suprimentos, alastrou pelo país. Em consequência, as forças materiais de construção, equipes médicas e rebeldes começaram a ocupar as principais de engenharia. Como tropa de vanguarda, os cidades do país, sem nenhuma resistência. Fuzileiros Navais realizam no Haiti um tra- Os Estados Unidos e a França culparam balho de manutenção de paz, policiando, pa- o Presidente Aristide trulhando e explorando pela crescente onda de regiões sensivelmente violência; este, por sua A Missão de Paz no Haiti violentas, guetos e co- vez, acusou a oposição munidades paupérrimas, de incitar e financiar a assume a face que as exercendo um papel não atuação dos rebeldes. operações de pacificação só de combate aos agen- No decorrer da crise, o realizadas pela ONU tes beligerantes, mas apoio político de Aristi- também humanitário e de esvaziou-se e ele re- assumiram após o fim da social. O contingente do nunciou, fugindo para a Guerra Fria, em que não só CFN complementa as República Centro-Afri- tropas do Exército Brasi- cana. Imediatamente, o o papel militar é relevante, leiro, o grosso do efetivo Conselho de Seguran- mas também o social e o brasileiro no Haiti. Os ça das Nações Unidas humanitário conflitos na capital, nas se reuniu e aprovou a principais cidades e no Resolução no 1.592, de interior são constantes, 2004, que solicitou a criação de uma força uma vez que os grupos de rebeldes e facções internacional para assegurar a paz e a ordem criminosas continuam espalhados por todo o no Haiti. Após negociações, o Brasil assumiu país. Para tornar a situação ainda mais difícil, o Comando da então recém-criada Minustah. em janeiro de 2010 um grande terremoto pra- ticamente destruiu o Haiti, ou voltou a destruir A missão aquilo que já havia sido reconstruído após as tensões de 2004. Além de reconstruir e ga- Cumprindo a determinação do Ministério rantir a pacificação, a força de paz voltou seus da Defesa e em conformidade com o capítulo trabalhos para a arrecadação de mantimentos. VII da Carta das Nações Unidas, a Marinha Uma crise de abastecimento sem preceden- tes atingiu o país após o terremoto, e o Haiti viu suas principais conexões obstruídas, armazéns, mer- cados, celeiros e fazendas destruídos e sua população desorientada. Dos nove milhões de habitantes, 70% não têm emprego e a metade é analfabeta. A Marinha cooperou para que alimentos, remédios e Soldados brasileiros em patrulha no Haiti produtos de higiene pesso-

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al chegassem ao país pelos seus navios. Os Líbano. Israel alegou à época que procurava soldados brasileiros estabelecidos na região proteger a fronteira norte do país contra distribuíram os mantimentos entre as mulhe- possíveis combatentes e guerrilheiros da res. Em um lugar onde mulheres e crianças Organização para a Libertação da Palestina gozam de pouquíssimos direitos e exercem (OLP) que se encontravam escondidos em um papel subalterno em relação aos homens, território libanês. as tropas da ONU viram a necessidade de Criada pelo Conselho de Segurança da distribuir os víveres apenas entre elas, que, ONU por meio da Resolução no 425, de após a distribuição, eram escoltadas até as 19 de março de 1978, a Unifil tinha como suas casas. Como já dito anteriormente, a objetivo ajudar o Exército libanês a se Missão de Paz no Haiti assume a face que mobilizar ao longo da fronteira com Israel as operações de pacificação realizadas pela e velar pela instauração da paz na faixa de ONU assumiram após o fim da Guerra Fria, fronteira. Ao ser criada, contava com mais em que não só o papel militar é relevante, mas de 6 mil soldados, número este que chegou também o social e o hu- a 7 mil em meados de manitário. Hoje há no 1982. Haiti empreiteiras, en- O Brasil, devido ao grande Israel só desocupou genheiros, arquitetos, sucesso angariado pela a região em maio de médicos, professores, 2000, 22 anos após a educadores, profissio- missão desempenhada no criação da força, que nais de administração, Haiti, foi indicado pela finalmente assumiu a eletricistas e bombei- missão que recebera do ros, entre outros, e mui- ONU, em 2010, para chefiar Conselho de Segurança. tos deles militares das a Força-Tarefa Marítima Infelizmente, a situa- tropas de estabilização, da Unifil ção na região continua que cooperam não só tensa, além da própria para a paz, mas também situação interna do país. para a reconstrução do país e para a dignidade Composto por diferentes grupos étnicos de de seu povo. Dessa maneira, o Brasil mantém religiões distintas, o Líbano vive sob um seu compromisso de garantir a paz na região, regime de tensão. O governo central não sempre obedecendo às diretrizes das Nações consegue resolver os anseios tanto de sua Unidas e se guiando pelos principais obje- própria base aliada quanto da oposição; os tivos da missão, que são: estabilizar o país, muçulmanos, maioria da população, pedem pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e o fim dos direitos dos cristãos e desejam um rebeldes, promover eleições livres e informa- governo fundamentalista. Além disso, há das e formar o desenvolvimento institucional ainda a presença de milícias, grupos rebel- e econômico do Haiti. des armados e organizações terroristas em território libanês. A situação tornou-se mais UNIFIL – DESAFIO PARA MANTER tênue com as recentes revoltas contra os A PAZ ATRAVÉS DO MAR governos autoritários do norte da África e do Oriente Médio, na chamada “Primavera Antecedentes Árabe”. A Síria, país fronteiriço ao Líbano, passa por um momento conturbadíssimo, A Unifil foi constituída após um ataque vivendo em meio a uma guerra civil sem israelense de grande envergadura contra o precedentes. Todos esses fatores cooperam

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para a apreensão de que uma insurgência vizinhas, estes constituindo a ameaça mais de grupos radicais da região acabe por perigosa às embarcações a serviço da ONU. eclodir, acionando um perigoso mecanismo de guerra total entre as nações da região. Atuação do Brasil na Unifil Em 2006, o Líbano ainda viveu uma guerra, que mergulhou o país numa grave O Brasil, devido ao grande sucesso anga- crise econômica e deixou deficitárias suas riado pela missão desempenhada no Haiti, foi defesas tanto em terra quanto no mar. A indicado pela ONU, em 2010, para chefiar a fim de evitar um agravamento no quadro Força-Tarefa Marítima da Unifil. Aprovada a político do país, a Unifil criou uma Força- participação da Marinha pela Câmara dos De- Tarefa Marítima (FTM) para a região, com o putados, em fevereiro de 2011 o Brasil assumiu objetivo de impedir transferências ilegais e o o Comando da FTM – Unifil, por intermédio contrabando de armas para grupos rebeldes, do Contra-Almirante Luiz Henrique Caroli. terroristas e fundamentalistas. As zonas de Esta Força-Tarefa é a primeira experi- patrulha da FTM se localizam sempre fora ência da ONU no que se refere ao emprego das 12 milhas marítimas do mar territorial de uma esquadra em uma missão de paz. libanês, dentro do qual atua exclusivamente Composta por nove navios, sendo três deles a Marinha daquele país. A FTM patrulha da Alemanha, dois de Bangladesh, um da uma área duas vezes maior que o próprio Grécia, um da Turquia e um da Indonésia, território libanês e tem de lidar com cons- além da Fragata Liberal, a FTM – Unifil tem tantes ameaças todos os dias, como navios como principal missão gerenciar e monitorar querendo furar o bloqueio imposto pela a entrada e a saída de embarcações de águas Força-Tarefa, embarcações miúdas que ten- libanesas, tráfego que gira em torno de 41 tam ludibriar os radares e caças das nações mil embarcações desde a criação da Força,

Força-Tarefa Marítima da Unifil

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sendo que mais de 1.500 delas já foram en- realizar exercícios conjuntos com a Marinha caminhadas às autoridades libanesas. daquele país e, ainda, constituir-se no navio A FTM – Unifil fornece, ainda, treinamento capitânia (flagship) da FTM – Unifil. Após de pessoal e equipamentos e exercícios conjun- oito meses, a Fragata União foi rendida por tos com a Marinha libanesa com o objetivo de sua irmã de classe, a Fragata Liberal. A Libe- reforçar as capacidades libanesas de patrulha ral, dotada dos mesmos sistemas eletrônicos naval. Além disso, a FTM assumiu as mais e de armas da União, dá continuidade ao variadas tarefas, desempenhando papel im- trabalho exercido por sua antecessora. portante nas operações de busca e salvamento Devido à peculiaridade da missão, a após naufrágios e em monitoramento de ae- cada novo exercício de que ela participa, ronaves, que abrange tanto aquelas avariadas a Marinha do Brasil é sempre exposta e que possam ter caído a novos desafios e a no mar ou ao longo da novos requisitos ope- costa libanesa como ae- As fragatas classe Niterói racionais que ainda ronaves não autorizadas não são tão comuns a voar no espaço aéreo que atuam no Líbano na área do Atlântico do Líbano. estão em elevado nível Sul, mas que já o são Dotadas de equi- de excelência, tanto no nos chamados “pon- pamentos modernos, tos quentes” do globo, principalmente após o material humano quanto como o Golfo de Áden, amplo projeto de mo- nos equipamentos, o que as Golfo Pérsico, Mar Me- dernização denomina- ridional da China, entre do Modfrag, as fragatas torna aptas a realizar sua outros. O combate a da classe Niterói foram missão ameaças assimétricas, especialmente designa- como barcos-bomba, das para atuar na Força- minas artesanais e lan- Tarefa Marítima, sendo a Fragata União chas explosivas suicidas, por exemplo, a primeira delas a se incorporar à missão. e as abordagens de inspeção e de presa Este navio desempenhou com maestria suas são algumas dessas novidades. É claro funções de patrulha naval, inspeção naval, que os navios se encontram preparados monitoramento de embarcações, controle e a tripulação adestrada para esse tipo de do tráfego marítimo e monitoramento de emprego. Guarnecidas com sua “dotação aeronaves não identificadas, além de prover de guerra”, as fragatas classe Niterói que treinamento a marinheiros e oficiais libaneses, atuam no Líbano estão em elevado nível de excelência, tanto no material humano quanto nos equipamentos, o que as torna aptas a realizar com primazia a sua missão.

ANSEIOS DO BRASIL NAS MISSÕES DE PAZ

A participação brasileira nas missões de paz tem um papel fundamental para a polí- tica externa nacional. Nosso país, com cada Fragata União em serviço na Unifil vez mais destaque no cenário internacional,

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tem a necessidade de se fazer presente políti- tudo isso para responder a novos desafios ca, econômica e militarmente no mundo e de e realidades políticas. Em face à crescente atender aos anseios da comunidade global. demanda por missões cada vez mais com- Com forte tradição pacifista, o Brasil hoje plexas e peculiares, nos últimos anos a é requerido em muitos locais para remediar ONU tem sido cobrada e desafiada como conflitos e servir de agente apaziguador em nunca antes. áreas de tensão, muito devido ao longo his- O laborar vigoroso da Organização tem tórico em defesa do diálogo e da paz. Além o intuito de fortalecer sua capacidade de disso, estando cada vez mais interessado gerenciar e dar sustentabilidade às opera- em se destacar no cenário mundial, o Brasil ções e, deste modo, contribuir para sua mais adquire uma voz mais forte e ativa nas Na- importante função: manter a segurança ções Unidas, tornando legítimo nosso pleito internacional e a paz mundial. quanto a ocupar uma cadeira permanente no O Brasil, convencido do seu papel de Conselho de Segurança da ONU. mantenedor da paz, coopera diuturnamente A participação do Brasil nas operações para que as operações de paz alcancem um de paz também coopera para o melhor ades- elevado nível de sucesso e objetivos cum- tramento e preparação de nossos soldados pridos, proporcionando que os povos do e marinheiros, ao colocá-los efetivamente globo possam viver em condições dignas de em terreno hostil e em contato com todas liberdade e democracia, sem guerra e con- as atuais técnicas inerentes ao combate. flitos, e que, sob a égide de uma grande e Não podemos deixar, ainda, de destacar o pacífica comunidade internacional, possam grande papel social e humanitário que nossos atingir o nível ideal de desenvolvimento e soldados desempenham em solo estran- bem-estar a que todos nós temos direito. geiro, que contribui para levar os ideais de liberdade e democra- cia a todas as nações oprimidas e ajuda às regiões mais carentes do globo, elevando o nome do Brasil no cenário internacional.

CONCLUSÃO

As missões de paz das Nações Unidas ainda estão em contí- nua evolução em sua percepção conceitual Soldado brasileiro e menino haitiano. A atuação brasileira nas missões de paz vai e em sua organização, muito além do papel militar

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Missão de Paz; Política Internacional; Diplomacia; Defesa; ONU;

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BIBLIOGRAFIA

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202 RMB4oT/2013 O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL*

Matheus Ronaldo Custódio Brandão Guarda-Marinha Daniel Martins Saraiva Leontsinis Guarda-Marinha

nde quer que o homem atue, é evidente um clima organizacional que propicie as Oa necessidade do trabalho em equipe melhores condições para que cada pessoa para que haja eficiência e progresso. Essa tenha rendimento máximo em um ambiente necessidade traz à tona um dos maiores que lhe seja agradável e mantenha a equipe desafios da administração, a gestão de pes- motivada, independente dos ônus e restri- soas, que com comportamentos complexos ções intrínsecos à vida militar. A relevância e interesses diversos precisam de um líder do clima organizacional está intimamente capaz de uni-las em prol de um objetivo ligada à sua influência sobre o compor- bem definido, alguém que saiba aproveitar tamento e à saúde mental dos militares, ao máximo o potencial de seus subordina- aspectos esses de suma importância para a dos. É nesse contexto que estudos recentes condução de homens empenhados e aptos têm atribuído cada vez mais importância a exercer suas funções de forma eficiente. ao conceito de clima organizacional como Dadas as considerações iniciais sobre fator relevante para o sucesso do trabalho a importância do tema deste trabalho, em equipe. desenvolveremos, a seguir, um breve Diante dessa realidade, no âmbito mili- estudo, aprofundando um pouco mais o tar, cujo trabalho é essencialmente em equi- entendimento a respeito da ligação entre o pe, encontramos o desafio de implementar clima organizacional e o comportamento, a

* Publicado na Revista de Villegagnon de 2012. Os autores, na ocasião, eram aspirantes. O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL

saúde mental e a qualidade do desempenho vos do grupo. São sutilezas como essas que profissional do pessoal da Marinha. permitem a sustentabilidade de um clima “O conceito de clima organizacional organizacional positivo nas OM e exigem representa o quadro mais amplo da in- certa sensibilidade dos chefes em geral, fluência ambiental sobre a motivação.” que devem estar atentos ao comportamen- (Chiavenato, 2004, p. 422). Diante dessa to, à saúde e ao bem-estar mental de seus definição, para compreender a relevância subordinados. do clima organizacional em nível prático, Através da ênfase que os estudiosos têm faz-se ainda necessário conceituar compor- dado ao comportamento organizacional, tamento organizacional, uma das principais podemos perceber o quanto é indispensável variáveis que devem ser levadas em conta o estudo em busca de um maior conheci- na análise do ambiente profissional, com o mento a respeito do comportamento huma- objetivo primordial de torná-lo estimulante no para que possamos analisar e entender e motivador. Segundo Chiavenato (2004, os indivíduos com os quais trabalhamos, p. 280): visando a uma otimiza- Comportamento ção do gerenciamento organizacional é o A percepção é um processo de recursos humanos estudo da dinâmica muito mais subjetivo do que e do efetivo emprego das organizações e destes. como os grupos e a priori aparenta ser; logo, E diretamente ligada indivíduos se com- o que cada ser humano ao comportamento hu- portam dentro de- percebe e como ele percebe mano está a percepção, las (...). Por ser um pois sendo o compor- sistema cooperati- são dados importantes tamento subordinado à vo racional, a or- para a compreensão do mente, e os pensamen- ganização somente tos formados através pode alcançar seus comportamento humano das percepções, uma objetivos se as pes- pessoa só passa a apre- soas que a compõem coordenarem seus sentar um tipo de comportamento após esforços a fim de alcançar algo jamais uma série de percepções, que constituem obtido individualmente. o entendimento da situação em que ela se encontra. Na prática, para que um clima favorável A percepção é de grande valia para o possa ser criado nas Organizações Militares desenvolvimento do clima organizacio- (OM) da Marinha, é preciso que o Oficial nal, uma vez que ela é diferente para cada saiba avaliar adequadamente o comporta- pessoa, pois a compreensão da experiência mento dos seus subordinados, a fim de estar perceptiva varia de indivíduo para indiví- sempre o mais atualizado possível a respei- duo de acordo com vários fatores, como há to dos anseios, conflitos e necessidades de algum tempo foi constatado pelos teóricos sua equipe. Munido de tais informações, da Gestalt e da Psicanálise, duas das prin- certamente ele terá maiores condições de cipais teorias da psicologia. A motivação criar uma aura de confiança e sinceridade pessoal, as emoções, os valores, os objeti- ao seu redor, fator importantíssimo para vos, os interesses, as expectativas e outros obter foco, entusiasmo e empenho de cada estados mentais influenciam a forma como componente da equipe em prol dos objeti- as pessoas percebem. Em suma, a percep-

204 RMB4oT/2013 O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL

ção é um processo muito mais subjetivo do físico, o mental e o social sem correlacioná- que a priori aparenta ser; logo, o que cada los devidamente”. Isso significa que o ser humano percebe e como ele percebe são conceito de saúde mental é, na realidade, dados importantes para a compreensão do mais abrangente, principalmente no que se comportamento humano. refere à influência do estado mental sobre Tendo isso em mente, o oficial de Ma- saúde do corpo, capacitação e desempenho rinha deve procurar sempre aprimorar sua profissional das pessoas. percepção dos fatos que ocorrem em seu Organizações, por definição, são orga- ambiente de trabalho, ele deve saber levar nismos vivos, visto que são compostas por em consideração não somente os fatores pessoas. Logo, o psiquismo da organização referentes ao local de trabalho, mas também será o reflexo do psiquismo de todos que aqueles referentes à vida particular de seus a compõem. Indivíduos psicologicamente subordinados. É essencial para o líder ter saudáveis geram equipes saudáveis; nesse noção, por meio do diálogo aberto e do le- caso, o clima tende a ser leve e a comuni- vantamento de informações, do que se passa cação eficiente, o que reduz o absentismo e com seus liderados. O permite o desenvolvi- chefe deve aprender a mento das relações no interpretar o porquê O desenvolvimento de uma âmbito profissional de de determinadas ati- maneira positiva. tudes do seu pessoal, percepção aguçada será, Conforme McDou- entender o que motiva algumas vezes, a única gall (1978, apud SE- ou desmotiva seu su- maneira de decifrar os GRE e FERRAZ, 1997, bordinado a apresentar p. 539), quando a vida certo tipo de conduta. fatores geradores de um psíquica de alguém O desenvolvimento de comportamento entra em desequilíbrio, uma percepção agu- seja por questões pes- çada será, algumas soais ou profissionais, vezes, a única maneira de decifrar os fatores há uma somatização, ou seja, o corpo sofre geradores de um comportamento. com a descarga emocional de algo que não Após o adequado discernimento de está bem resolvido em sua mente. Consi- como comportamento e percepção se inse- derando isso, há um considerável risco de rem no contexto do assunto clima organiza- ocorrência de enfermidades psicossomáticas cional, analisaremos como a saúde mental no ambiente de trabalho, caso não se tenha afeta as relações profissionais e aprofunda- o devido cuidado em relação à saúde mental remos o conceito de clima organizacional, do pessoal. Sobrecarga aos outros membros discutindo como desenvolvê-lo de forma da equipe, metas negligenciadas e, por fim, benéfica nas organizações militares. consideráveis prejuízos no desempenho do A definição básica de saúde mental pode setor seriam algumas das possíveis conse- ser esboçada como a expressão usada para quências indesejáveis. descrever um nível aceitável de qualidade Assim, fica evidente a grande responsa- de vida cognitiva ou emocional. Entretanto, bilidade do oficial de Marinha em zelar pela de acordo com Segre e Ferraz (1997), “a saúde mental de seus subordinados, estando definição de saúde empregada pela OMS sempre atento às suas nuances comporta- (Organização Mundial da Saúde) é con- mentais. O oficial pode fazer isso abrindo siderada ultrapassada porque distingue o espaço para o diálogo em sua área de atuação

RMB4oT/2013 205 O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL

na OM, de forma que cada um possa falar fazem parte. “Homens e mulheres desejam sobre como se sente, e, quando necessário, fazer um bom trabalho, se lhes for dado o poderá sugerir que o subordinado busque ambiente adequado, eles o farão.” (HUN- ajuda de um profissional. A qualidade do TER, 2004, p.97). clima organizacional é fundamental para a É um ledo engano pensar que existem saúde mental no ambiente de trabalho. modelos prontos que possam levar-nos Sem fugir ao seu significado inicial, à excelência em gestão de pessoal, pois pode-se dizer que clima organizacional as instituições organizacionais são tão também figura como o indicador do grau de singulares quanto cada pessoa, o que satisfação e bem-estar dos militares da Mari- inviabiliza qualquer método que tente nha em relação a diferentes aspectos da cul- mecanizar o processo de aperfeiçoamento tura organizacional da OM em que servem, do clima organizacional. As propostas de tais como a missão da instituição, o modelo mudanças visando a melhorias numa gestão de gestão, o processo de comunicação, a va- devem estar embasadas em conhecimento e lorização profissional e compreensão mais pro- a identificação com o fundos da organização trabalho. Intervir no clima em questão. Portanto, O clima organiza- organizacional significa intervir no clima or- cional, conceitualmen- rever vários fatores ganizacional significa te, está ligado à moti- rever vários fatores in- vação dos membros internos e externos que ternos e externos que de uma organização. influenciam diretamente influenciam diretamen- Quando há elevada te no funcionamento motivação entre os no funcionamento e no e no desenvolvimento participantes de uma desenvolvimento das das organizações. É equipe, o clima tende organizações claro que atuar com a ser bastante positi- uma eficaz e positiva vo, o que proporciona ingerência sobre o cli- satisfação, interesse e cooperação entre as ma organizacional é uma tarefa árdua, e os pessoas, aliando bem-estar à alta eficiência. líderes devem procurar fazê-lo com muita Todavia, quando há baixa motivação entre seriedade, coerência e bom senso, através os membros, seja por frustração ou por de uma visão adequada à realidade para, barreiras à satisfação das necessidades in- com isso, evitar erros que podem vir a cus- dividuais, provavelmente o clima organiza- tar caro no nível material e, principalmente, cional está sendo negligenciado, adquirindo no humano. um caráter negativo. Nesse caso, os efeitos Um clima organizacional saudável de- mais comuns são o desinteresse, a apatia e pende da acessibilidade dos chefes a seus a insatisfação, verdadeiros venenos para subordinados. Essa acessibilidade é típica qualquer ambiente profissional. do verdadeiro líder, o qual sabe ouvir o Aquele que verdadeiramente almeja seu liderado e está sempre atento ao seu sucesso e grandes realizações à frente de comportamento, preocupando-se com a pessoas deve conduzi-las buscando diligen- saúde e bem-estar do indivíduo e de sua temente manter um ambiente que permita família. Essa postura não passa desperce- e estimule cada uma delas a oferecer o seu bida aos subordinados, que com certeza se melhor a serviço da organização da qual empenharão mais em suas funções, sabendo

206 RMB4oT/2013 O CLIMA ORGANIZACIONAL NO MEIO MILITAR-NAVAL que o chefe está interessado não apenas em princípios importantíssimos para o exer- sua produtividade, mas também em sua cício da profissão militar-naval que, se qualidade de vida. devidamente aplicados, enriquecerão so- A abordagem dos conceitos elucidados bremaneira a forma de se conduzir homens neste artigo visa ao amadurecimento de na Marinha do Brasil.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Organização; Liderança; Chefia; Comportamento; Pricípios militares;

REFERÊNCIA

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 3a ed. Rio de Janeiro: Else- vier, 2004. HUNTER, James C. O Monge e o Executivo: Uma história sobre a essência da Liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. McDOUGALL, J. Plaidoyer pour une certaine anormalité. Apud SEGRE, M; FERRAZ, F.C. O Conceito de Saúde. In: Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 31, no 5, out. 1997. SEGRE, M; FERRAZ, F. C. O Conceito de Saúde. In: Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 31, no 5, out. 1997. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034- 89101997000600016&script=sci_arttext. Acessado em 22 set. 2011.

RMB4oT/2013 207 ARTIGOS AVULSOS

Esta seção divulga os artigos que não puderam ser publicados – na íntegra – na RMB e que passarão a fazer parte do acervo da Biblioteca da Marinha. Aqui são apresentados o título, o autor, posto, cargo ou função, número de páginas do trabalho completo, classificação para índice remissivo e o resumo do artigo.

MICROCRÉDITO: UM ESTUDO DE CASO NO PROGRAMA CREDIAMIGO DO BANCO DO NORDESTE DO BRASIL

MARCELO GOMES DA CUNHA(*) Capitão-Tenente (IM)

RODRIGO JOSÉ GUERRA LEONE(**) Professor-Doutor

Número de páginas: 17 Identificação: AV 053/13 – # 2111 – RMB o4 /2013 CIR: ; Crédito;

O microcrédito pode cumprir um papel estratégico no campo das políticas públicas de trabalho e renda, visto não como uma política compensatória, mas como elemento de

(*) Encarregado de Subseção do Grupamento de Navios Hidrográficos. Mestre em Administração – Universidade Potiguar-RN. (**) Professor do Mestrado em Administração da Universidade Potiguar-RN. Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação – Coppe-UFRJ. ARTIGOS AVULSOS

uma perspectiva mais ampla de integração de empreendimentos populares ou de pequeno porte no processo de desenvolvimento. O trabalho tem o propósito de estudar o Programa Crediamigo do Banco do Nordeste do Brasil, com enfoque na geração de emprego e renda, verificando suas características e sistemática, bem como comparando-o com outros programas de microcrédito no Brasil e na América Latina, para apontar suas vantagens. A pesquisa desenvolvida para esse fim foi de natureza essencialmente qualitativa, sendo um estudo de caso, de caráter descritivo, em que os dados foram coletados por meio da aplicação de questionário aos seis gestores das instituições de microcrédito cadastra- das no Sebrae-RN para intermediar a modalidade de crédito em estudo. Os dados foram tratados por meio de análise descritiva. Os principais resultados são: o programa facilita o acesso ao crédito a empreendedores que desenvolvem atividades relacionadas à produção; alguns paradigmas foram quebrados, tais como: os clientes que ganham pouco não pagam seus empréstimos, a baixa inadimplência demonstra o inverso e os empreendimentos são lucrativos a ponto de atrair investimentos privados.

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A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes: VA Dilmar de Vasconcellos Rosa  02/12/1923 † 28/05/2013 CA (MD) Moacyr Mirabeau de Carvalho Soares  30/12/1917 † 28/06/2013 CA (MD) José Marcos Cordeiro  04/04/1942 † 28/02/2013 CMG Geraldo Luiz Miranda de Barros  18/06/1936 † 29/09/2013 CMG João Luiz Farias de Menezes  23/06/1935 † 07/09/2013 CMG Helcio José Moreira  21/02/1940 † 25/06/2013 CMG Flávio Ainsworth Barcala  30/08/1943 † 09/11/2013 CMG Augusto Cesar da Nobrega Machado  06/04/1943 † 11/11/2013 CF (T) Mario Eugênio Faustino Alves  25/06/1947 † 18/09/2013 CC (T) Antônio de Vasconcelos Fragoso  12/09/1940 † 28/09/2013 CT Carlos Roberto Continentino Ribeiro  12/03/1940 † 16/10/2013 1o SG Armando Andrade Silveira Paula  24/01/1936 † 16/10/2013

Complemento da matéria do Necrológio publicado no 3o trimestre de 2013, pág. 210.

VICE-ALMIRANTE DILMAR DE VASCONCELLOS ROSA

Em 31 de março de 1942, apresentavam- de formatura. Era o primeiro passo que co- se na Escola Naval 73 jovens cheios de meçavam a dar na longa estrada que lhes era alegria e sonhos com o futuro que imagina- apresentada. Veio a viagem de instrução a vam. A eles vieram se incorporar mais 21 bordo do “Cisne Branco”, Navio-Escola Sal- outros jovens, totalizando 94. Era a turma danha da Gama, com duração de seis meses, EN-42 que se formava, e nela se encontrava visitando Canadá, Cuba e Estados Unidos. Dilmar de Vasconcellos Rosa, natural de Promovido a segundo-tenente, Dilmar Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, de Vasconcellos Rosa embarcou no En- nascido em 2 de dezembro de 1923. couraçado Minas Gerais por seis meses Em junho daquele ano, os jovens presta- e, posteriormente, no Contratorpedeiro de ram juramento e, dessa forma, tornaram-se Escolta Bracuí, de onde desembarcou para aspirantes. No final de 1943, 24 colegas cursar Máquinas, tendo, ao final do curso, eram declarados guardas-marinha do Corpo sido indicado para um estágio na Marinha de Intendentes Navais. Os anos se passaram americana por seis meses. e, em 9 de janeiro de 1946, os remanescen- De regresso ao Brasil, foi designado para tes da EN-42, agora reduzidos a 66, foram servir no Contratorpedeiro Ajuricaba, que declarados guardas-marinha, em cerimônia se encontrava em fase final de construção NECROLÓGIO

no Arsenal de Marinha. Desembarcando do rinha (Cenimar) e, posteriormente, ser seu Ajuricaba, seguiu para os Estados Unidos chefe de Gabinete. a fim de embarcar no ContratorpedeiroPa - Em 1979, já como almirante, voltou raíba, que estava sendo transferido para a a Salvador para comandar o 2o Distrito Marinha brasileira. Em 1960, comandou a Naval, regressando em 1983 para o Rio Corveta Ipiranga. Como capitão de fragata, de Janeiro, a fim de assumir a Diretoria de cursou na Escola de Guerra Naval (Curso Obras Civis da Marinha, onde, brilhante- Fundamental), onde eu tive a oportunidade mente, encerrou sua carreira naval. de servir com ele e sentar-me a seu lado, Durante sua permanência na Marinha, recebendo “cutucadas” sempre que eu foi agraciado com a Medalha da Ordem do fechava os olhos. Ao término do curso, foi Mérito Naval no grau de Grande Oficial, a designado para o Estado-Maior da Armada. Medalha da Ordem do Mérito Militar no Como capitão de mar e guerra, foi nome- grau de Grande Oficial, a Medalha do Mé- ado capitão dos portos de Bahia e Sergipe. rito Aeronáutico no grau de Comendador Em 1971, foi indicado para adido naval no e a Medalha do Mérito Tamandaré, entre Panamá e Zona do Canal. Ao regressar, em outras. Extremoso pai de família, era tam- 1973, foi nomeado comandante do Cruza- bém um excelente companheiro. dor Tamandaré. Em 1974, foi convidado pelo Ministro Henning para chefiar, em Sidney Hélio Melecchi Brasília, o Centro de Informações da Ma- Capitão de Mar e Guerra (Refo)

Nascido no Rio de Janeiro, filho de Julio Mirabeau de Azevedo e de Edith de Carvalho Soares. Promoções: a primeiro- tenente em 22/09/1944; a capitão-tenente em 28/05/1946; a capitão de corveta em 30/01/1954; a capitão de fragata em 30/01/1959; a capitão de mar e guerra em 18/08/1965 e a contra-almirante em 09/08/1966. Foi transferido para a reserva em 09/08/1966. Comissões: Diretoria de Saúde Naval; Quartel do Corpo de Fuzileiros Navais; Comando da Força Naval do Sul; Corveta Jaceguai; Força Naval do Nordeste; Tênder Belmonte; Navio-Apoio Duque de Caxias; Contratorpedeiro Rio Grande do Sul; Flotilha de Caça-Submarinos; Centro de Instrução Almirante Wandenkolk; Escola MOACYR MIRABEAU DE Naval; Colégio Naval; Assistência Médico- CARVALHO SOARES Social da Armada; Comando das Forças de Contra-Almirante (MD) Alto-Mar; Cruzador Tamandaré; Hospital

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Central da Marinha; Comissão Naval Bra- Mérito Militar – Comendador; Ordem do sileira em Washington. Rio Branco; Medalha da Vitória; Medalha Em reconhecimento aos seus serviços, Militar e Passador de Ouro – 3o Decênio; recebeu inúmeras referências elogiosas Medalha de Serviço de Guerra; Medalha e as seguintes condecorações: Medalha Mérito Tamandaré; Medalha Comemorati- de Serviço de Guerra com 2 estrelas; va do Nascimento do Barão do Rio Branco; Medalha da Força Naval do Sul; Ordem Medalha Comemorativa do 1o Congresso do Mérito Naval – Cavaleiro; Ordem do Nacional de Hospitais.

MÉDICO, ARTISTA, GUERREIRO COM ALMA POÉTICA

Encantado pelo mar, vislumbres dos no cumprimento de todos os detalhes que comboios em formação nas proximidades o imediato lhe recomendasse. A presença da Barra do Rio de Janeiro deram-lhe a cer- do Mirabeau, em qualquer ocasião, em teza da necessidade de a eles se incorporar. qualquer grupo, sempre somava. A perplexidade dos que o receberam como voluntário, ainda jovem, primeiro- tenente, para embarcar só fez aumentar seu entusiasmo e calar mais alto o espírito de aventura. Positivamente, estavam diante de um caso pouco comum. Designaram-no para ingressar na Força Naval do Sul (FNS), na Corveta Jaceguai. A FNS tinha, basicamente, por mis- sões integrar os comboios entre o Rio de Janeiro e os portos do Sul, participar do patrulhamento de áreas marítimas e efetuar apoio às Ilhas Oceânicas. Era constituída por unidades heterogêneas, tecnicamente ultrapassadas, desconfortáveis o quanto se possa imaginar. Nesses navios, entretanto, vigorava aceso, muito bem aceso, o espírito patriótico de homens desejosos de bem servir à sua Pátria. E entre esses, por um ato de vontade, lá se encontrava o franzino Dr. Mirabeau, encarregado da Divisão de Saú- Dr. Mirabeau junto da calha de de e também da de Pessoal. Espírito alegre, bombas de profundidade com um jeito todo seu, comunicativo, com um timbre de voz inconfundível, incansável

Corveta Jaceguai

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Os comboios se sucediam, as expectati- que tem por propósito, em circunstâncias vas e ansiedades sempre presentes. O casco excepcionalmente graves e em caráter me- afundado do submarino alemão U-513, ramente consultivo, assessorá-lo. “Lobo Solitário”, recentemente encontrado O ponto crítico da manobra pretendida é a 85 milhas a nordeste do litoral de Santa a inversão de rumo para correr com o tempo Catarina pela família Suchrumann, com- antes de o navio ser tragado pela quarta prova a espreita do inimigo. vaga. Em todos os meus tempos de Ma- Vale, por sua notoriedade, aqui fazer uma rinha, nunca soube de alguém que tivesse pequena digressão histórica. O U-513 era passado por essa experiência, tão intensa- comandado por Karl Friedrich Guggenberg, mente vivida pela tripulação da Jaceguai, um jovem de 28 anos, herói de guerra, que marcando-a para sempre, e sempre com as recebeu do próprio Hitler a Cruz de Ferro, mais eloquentes narrativas, o Dr. Mirabeau por haver afundado o Navio-Aeródromo Ark nos historiava. Tão traumáticos foram os Royal, participante da caçada ao encouraça- momentos que a guarnição, ao chegar ao do alemão Bismark e contribuído com seus porto, agradeceu ao Senhor, beijando o solo aviões torpedeiros para afundá-lo. das terras uruguaias. O U-513 foi atacado por uma aeronave O Dr. Mirabeau, dizem-nos os que com americana, sediada em Santa Catarina. Os ele conviveram na guerra, foi um médico sete tripulantes, que se encontravam no proficiente e muito especial. Gostava de convés por ocasião do ataque, inclusive o sua profissão, mas também tinha um certo comandante, salvaram-se e foram conduzi- fascínio pelo mar, por um convés que ba- dos como prisioneiros de guerra aos EUA. lançasse ao sabor das ondas.2 As campanhas antissubmarinos, na Aos seus companheiros de guerra, dei- maior parte das vezes, são extremamente xou o pensamento de que mais gostava: monótonas. Há, entretanto, momentos de “... Homenagem de respeito a todos aqueles inesperada e extrema gravidade. Foi o caso que perderam suas vidas durante a Segunda ocorrido em 26 de abril de 1945, quando Guerra Mundial e que tiveram por túmulo as a Jaceguai passou a enfrentar vento muito profundezas do oceano, por lápide a superfície forte e mar de vagalhões de nordeste, o que imensa do mar e do céu, o brilho das estrelas a a obrigou a capear1 nas proximidades do refletir o fulgor das suas glórias.” Cabo Polônio. O mau tempo se manteve Ao Dr. Moacyr Mirabeau foram outor- até o navio atingir um ponto ao sul da foz gadas as seguintes comendas pelos serviços do Arroio Chuí, quando desfez a capa para prestados em operações de guerra no mar: correr com o tempo. Embarcou muita água – Ordem do Mérito Naval; nos paióis de proa, onde se localizava o de – Medalha de Serviços de Guerra com mantimentos. duas estrelas; e Essa perigosa situação, pegar um ciclone – Medalha da Força Naval do Sul. tropical, ventos 9 na escala Beaufort e mar Terminada a guerra no Teatro de Opera- de grandes vagas de NE, fez com que o co- ções da Europa, novas preocupações, novos mandante reunisse o Conselho de Oficiais, planos, novas comissões, bem mais tranquilas,

1 Adoção de um rumo por um navio que enfrenta severas condições de tempo, de modo a manter o vento e o mar entrando por uma das bochechas. Desfazer a capa é assunção de um rumo de modo a pegar mar de popa, passando a correr com o tempo, situação mais confortável e menos perigosa. 2 Entrevistas com os Almirantes Helio Leoncio Martins, Estanislau Façanha Sobrinho e Luiz Carlos de Freitas.

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passaram a prevalecer. Serviu em organizações Segue amparada pelo entusiasmo sem o hospitalares e participou, como representante qual nada de grande poderás realizar. da Marinha, de alguns conclaves e visitas a Relembra as ilusões que te acompanha- instituições médicas no estrangeiro. ram sempre presentes nas recordações. Na Escola Naval, onde o conheci, o Se tristeza e a ansiedade baterem na conceituado e entusiasmado Dr. Mirabeau tua porta, enfrenta com ânimo esta dura exercia as funções de chefe do Departamen- realidade, sem renunciares às tuas emoções. to de Saúde. Numa ocasião, a piscina não Revive sempre as lembranças passadas, estava merecendo a devida atenção. O Dr. pois isto faz bem ao nosso coração. Mirabeau tomou-se de amores por ela e a pôs E quando nos teus sonhos os momentos que impecável – límpida, azulada como aquele desejarias que não terminassem jamais se tor- azul dos nossos mares. Translúcida a ponto narem presentes, guarda com todo carinho as de se encontrar no fundo uma medalhinha recordações das quais nunca possas esquecer. santa, perdida por um aspirante desconsolado, Quando teu pensamento e tua alma julgando-a extraviada para sempre. O Dr. estiverem cansados no prosseguir da tua Mirabeau, com orgulho, gostava de recordar, jornada, não desanimes. mesmo passados muitos anos, este fato a nós, Para continuar a caminhada, segura na que mais assiduamente frequentávamos a mão de Deus e vai. Com este ponto de apoio piscina por integrarmos a equipe de natação. poderás compreender melhor o significado Sua atuação na guerra também foi reco- das palavras do Cristo: nhecida pela Marinha ao ser designado para ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’. a Viagem de Ouro por ocasião do recebi- E, durante o tempo em que permanece- mento do já lendário Cruzador Tamandaré. res na Estrada da Vida, continua cumprindo À sua mulher, Senhora Ignez, deixa o tua Missão.” respeito, o apoio, o carinho e o amor dos Aos seus contemporâneos de Marinha, 66 anos de uma feliz união. notadamente os Ex-combatentes/veteranos Nada mais eloquente e representativo de e seus colegas médicos, que o admiravam, sua veia poética do que o poema “Estrada a lembrança de sua modesta e valorosa da Vida”, que deixou para seus filhos Maria personalidade. da Gloria, Maria Teresa, Maria de Lourdes A mim, seu amigo e admirador, a e Dr. Aloysio. sensação de insubstituível perda. Não mais poderei desfrutar das agradáveis e ESTRADA DA VIDA infindáveis conversações, profissionais ou não, que tanto valorizavam, com excelsa Pequeno texto escrito por meu querido grandeza, sua maneira de caminhar pela Pai, Moacyr Mirabeau de Carvalho Soares, Estrada da Vida. médico, poeta, artista e sonhador, que partiu O Lord, sem dúvidas, reconhecerá seus desta vida e sempre estará em meu coração. méritos e o acolherá dentre os melhores. Maria de Lourdes Bitencourt Soares 10 de setembro de 2013 “Segue teu rumo pela Estrada da Vida, sem desistir de prosseguir nos caminhos, Odyr Marques Buarque de Gusmão que terás que percorrer. Contra-Almirante (Refo)

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em 20/10/1970; a capitão-tenente em 20/10/1972; a capitão de corveta em 30/04/1978; a capitão de fragata em 30/04/1983; a capitão de mar e guerra em 31/08/1988; a contra-almirante em 31/03/1996. Foi transferido para a reserva em 20/04/2000. Em sua carreira exerceu três direções: Hospital Naval de Natal; Policlínica Na- val Nossa Senhora da Glória, e Centro de Perícias Médicas da Marinha. Comissões: Centro de Armas da Mari- nha, Cruzador Ligeiro Tamandaré; Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; Diretoria de Saúde da Marinha; Hospital Naval Marcí- lio Dias; Diretoria de Saúde da Marinha; Comando de Operações Navais. JOSÉ MARCOS CORDEIRO Em reconhecimento aos seus serviços, Contra-Almirante (MD) recebeu inúmeras referências elogiosas e as seguintes condecorações: Ordem do Nascido em Minas Gerais, filho de Jair Mérito Naval – Cavaleiro; Medalha Militar Nunes Cordeiro e de Maria Guimarães e Passador Platina – 2o Decênio; Medalha Cordeiro. Promoções: a primeiro-tenente do Mérito Tamandaré.

RMB4oT/2013 215 DOAÇÕES À DPHDM JUNHO A DEZEMBRO DE 2013

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Vice-Almirante (Refo-EN) Renato Vilhena de Araújo Tenente Carlos de Araújo Neto TTC Nascimento Sra. Luigina de Vito Puglia Sra. Domitíla Noronha Pereira Sr. Jaime Roberto Costa Camara Municipal de Lisboa Ministério Público do Estado de Minas Gerais Marinha do Ecuador Ministério das Relações Exteriores Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (SOBENA) Arquivo Nacional Biblioteca Nacional Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA) Biblioteca do Exército Editora (BIBLIEX) Fundação Cultural Exército Brasileiro (FUNCEB) Museu Aeroespacial International Maritime Organization (IMO) Instituto Militar de Engenharia (IME) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Escola de Guerra Naval Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átila Monteiro Aché (CIAMA) Escola de Guerra Naval (EGN) Museu Histórico Nacional (MHN) Centro de Informação em Transporte Aquaviário – Editora ANTAQ Editora Quebra-Mar Editora Sete Edições Ltda Nastari Editores Atelier Carlos Vergara Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga Ltda Fundação Alexandre Gusmão (FUNAG) Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Editora Record DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

ARGENTINA Las Fuerzas Navales Argentinas – História de la Flota de Mar – 1995 La Época de Roca 1889-1910 – 2003 El Combate Perpetuo – 2004 El Armamentismo Naval Argentino En La Era Del Desarme – 2002 El Poder Naval y El Entorno Geopolítico 1890-1945 – 2004 Documentos para la História Argentina Tomo VI Comércio de Indias – Comercio Libre 1778-1791 – 1915 El Consulado de Buenos Aires y Sus Proyecciones em La Historia Del Rio de La Plata Tomo I El Consulado de Buenos Aires y Sus Proyecciones em La Historia Del Rio de La Plata Tomo II Nueva Historia de la Nación Argentina Tomo VI – 2013

EQUADOR Contra-Almirante Napoleón Cabezas Montalvo Recuerdo de su vida – (Livro/2013)

ESPANHA Revista de História Naval – (Livro/2012) Suplemento Revista de História Naval – v. 31, no 121, 2013 Separata da Revista de História Naval – no 121, 2013

INGLATERRA International Maritime Dangerous Goods Code – IMDG Code – (Livro/2012, vol. 1/2)

PORTUGAL Cadernos do Arquivo Municipal – (Periódico no 2)

BRASIL Livros: A Marinha de Guerra do Brasil na Colonia e no Império – 1965 Canal do Panamá – Efeitos da Expansão nos Portos do Brasil – 2012 Instituições em Crise – 1997 A Marinha Mercante na Segunda Guerra – 1993 Navegando pelo Sol – 1986 O Vôo do Falcão Cinza – 2003 Eduardo de Martino – Da ufficiale di Marina a Puittore di Corte – 2012 Estradas do Brasil para o Mundo SOBENA 50 anos: A Evolução da Indústria Naval – 2012 Moluscos Límnicos – Invasores no Brasil Biologia/Prevenção e Controle – 2012 O Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty – História e Revitalização – 2013 Capitão Amador – Navegação Segura em Cruzeiros de Alto Mar – 2013 Arquivos do Brasil Memória do Mundo – 2012 Museu Aeroespacial 40 anos – 2013

RMB4oT/2013 217 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

Guerras e Batalhas Brasileiras – 2009 A França nos Trópicos – 2009 Festas e Batuques do Brasil – 2009 Imagens de uma Nação – 2009 Manual de Registro de Obras Intelectuais – 1997 O Imperialismo Sedutor – 2000 Convenções Internacionais do Direito Autoral – 1997 Por Mares Nunca Dantes Navegados – 2004 A Construção do Brasil na Literatura de Viagem dos Séculos XVI, XVII e XVIII – 2012 Era dos Extremos o Breve Século XX 1914 – 1991 – 1995 Passagens e Abrigos Reconstruções Históricas: a Aduana, o Porto e a Cidade (Século XVI-XIX) – 2008 Faces da Moeda – 2009 Damião de Góis um Humanista na Torre do Tombo – 2002 Impresso no Brasil 1808-1930 Destaque da História Gráfica no Acervo da Biblioteca Nacional – 2009 A Fortaleza 1880-1950 – 2009 Bahia Roteiro Náutico – 2008 Porto de Itajaí – 2013 A Colonização do Sudeste a Prevalência Italiana – 2012 Comarcas Fluminenses Interior – 2009 O Judiciário Fluminense e suas Comarcas Capital – 2008 O Judiciário Fluminense Período Republicano – 2007 Tribunais do Rio de Janeiro da Relação 1752 ao Tribunal de Justiça 2002, 250 anos – 2002 Liberdade – 2012 1982 1822 Chatô: O Rei do Brasil Diálogos Impossíveis As Esganadas Os Espiões Getúlio: 1822-1930 Os Invictos Mariguella Menina que Roubava Livros Morte Súbita Paris é uma Festa Raízes do Brasil Silêncio das Montanhas Sobre Meninos e Lobos A Sombra e o Vento Steve Jobs: A Biografia O Som e a Fúria de Vale Tudo O Velho e o Mar O Xangô de Baker Street

218 RMB4oT/2013 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

Um Militar sem Rosto – 2011 A Guerra e a Formação dos Estados Nacionais Contemporâneos Quem Manipulava os Povos Indigenas contra o Desenvolvimento do Brasil – 2013 O Amazonas: Breve Resposta à Memória do Tenente da Armada Americana-Inglesa F. Maury sobre as Vantagens da Livre Navegação do Amazonas – 2013 Cadernos do CHDD – v. 12, no 22, primeiro semestre, 2013, (periódico) Uma Trajetória de Vida – A Saga de um Imigrante Português – 2008 No Meu Tempo – 1942 História da Guerra entre a Tríplica Aliança e o Paraguai – v. 4, 2012 A Diplomacia do Interesse Nacional – A Política externa do Governo Médice – 2013 U-507 – O Submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial – 2013 Frei Orlando o capelão que não voltou – 2013 A arte de ser chefe – 2012 Comandar – 2013 Querido Haiti uma missão de paz – 2013 Tecnologia e Defesa – v. 30, no 134 Folha Militar – v. 3, no 36 Museu Histórico Nacional – 2013 História da Argentina – 1969 O Giramundo – 2003 Fronteiras da Amazônia uma guerra silenciosa – 2000 Memórias de um marinheiro – 2007 Atlântico a história de um oceano – 2013 Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico/UFMG – v. XX, Tomo 1 – 2011 Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico/UFMG – v. XX, Tomo 2 – 2011 Coleção Barão do Rio Branco – Introdução às obras do Barão do Rio Branco – 2012 I – Questões de limites – República Argentina – 2012 II – Questões de limites – Guiana Inglesa – 2012 III – Questões de limites – Guiana Francesa – 1a Memória – 2012 IV – Questões de limites – Guiana Francesa – 2a Memória – 2012 V – Questões de limites – Exposições de Motivos – 2012 VI – A e B Efemérides Brasileiras – 2012 VII – Biografias – 2012 VIII – Estudos Históricos – 2012 IX – Discursos – 2012 X – Artigos de Imprensa – 2012

Jornais, Revistas e Folheto: Agro Valor – v. 8, no 90, ago/2013 (jornal) JMPMG – Revista do Ministério Público do Estado de Minas Gerais – jul/2013 Portos e Navios – no 55, v. 632, set/2013; v. 55, no 633; v. 55, no 634/nov. 2013 Revista de História da Biblioteca Nacional – v. 8, no 91. abr/2013 CNT Transporte Atual – v. 19, no 216 Meridiani – Quebec – Periódico O Alexandrino – 2012

RMB4oT/2013 219 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

Revista da Cultura – v. 10, no 16, abr/2010 A Defesa Nacional – v. 100, no 821, 1o sem/2013; Per. v. 97, no 819, jan/fev/mar/abr 2012 Revista Militar de Ciência e Tecnologia – v. 29, 4o trim/2012; v. 29, 2o trim/2012 Revista do Exército Brasileiro – no 149, 1o sem/2013 Revista da Escola de Guerra Naval – v. 18, no 2, dez/2012; v. 19, no 1 Pinacoteca do Estado a História de um Museu (folheto) O Periscópio – v. 48, no 66 – 2013 (periódico) Revista Educação Física – v. 12, no 49

220 RMB4oT/2013 ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela Revista Marítima Brasileira. Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos a grafia então utilizada.

DOLOROSO ACONTECIMENTO (RMB, out./1913, p. 423-435)

Na madrugada do dia 3 do mez de outu- refletiu-se no coração de toda a classe como bro, nas proximidades da ilha de S. Sebastião, uma nota de pungentissima amargura. a algumas milhas do ponto onde se achava Em meio das tristes oras de abatimento concentrada a esquadra em manobras, ocor- em que se viu abysmada a alma da pátria reu um doloroso desastre que tanto veiu aca- pelo desapparecimento dessas esperançosas brunhar e enlutar nossa marinha de guerra, vergônteas de seu valor militar, só mesmo o com a morte resultante de jovens e esperan- linitivo dessa, póde-se dizer, manifestação çosos guardas-marinha, bem como de um offi- unânime de pesar mundial, podia fazer mi- cial, 1o tenente Eleuterio do Canto, ajudante norar em nossa mente essa agrura cruciante de ordens do Sr. Almirante Baptista Franco, que tanto desconforto nos trouxe, ao ava- chefe do Estado Maior da Armada. liarmos, nos primeiros instantes, a extensão Essa lutuosa occurrencia, cuja noticia dessa desdita nacional. echoou dolorosamente em todos os pontos A Revista Maritima Brazileira pensa do paiz e mesmo em grande parte do mundo, interpretar sinceramente a dor profunda ACONTECEU HÁ CEM ANOS que vae pelo coração da classe da marinha podia entrar em acção. Esta achava-se ao nacional, ante o doloroso transe de ver de- largo, circumdando a ilha. sapparecer no pélago profundo do oceano O sr. tenente Eleuterio do Canto, aju- essas victimas do dever, tão pranteadas e dante de ordens do sr. chefe do estado-maior tão saudosas, encerrando estas linhas com da Armada, foi incumbido de avisar a divi- a expressão de suas mais intimas e sinceras são atacante das ordens que acabavam de condolências ás famílias dos mortos queri- ser expedidas. dos, em primeiro logar, e á toda a nação, O rebocador Guarany manobrava pelas por ultimo. proximidades dos navios da divisão de de- Passemos a relatar o terrível desastre, fesa, com os guardas-marinha a postos ac- de accordo com as noticias publicadas na tivos, á espera sempre de sensações novas, imprensa e outras informações que nos foi que attrahissem a sua curiosidade de jovens possível obter. e crentes militares. São occurrencias a que a fatalidade ar- O tenente Eleuterio do Canto passou-se rasta frequentemente todos que se dedicam á para o Guarany e communicou ao sr. tenente árdua profissão marítima. Aurelio Falcão as ordens que recebera. Im- Não há, portanto, logar para recrimina- mediatamente o Guarany deixou o canal e ções: devemos lastimar tão somente o lu- poz-se ao largo, ao encontro da divisão do tuoso acontecimento e chorar com a pátria contra-almirante Altino Corrêa. entristecida a perda das preciosas vidas dos Ao chegar ao lado opposto ao canal da nossos dignos camaradas e devotados mari- ilha de São Sebastião, a 10 milhas do pharol nheiros. da Ponta do Boi, o Guarany começou a es- Conforme se sabia, na madrugada de 3 preitar, a ver se conseguia approximar-se da devia ferir-se, em aguas da ilha de S. Sebas- capitanea da divisão Altino. Havia cerração tião, um combate naval simulado, ficando e o mar estava um tanto bravio. uma divisão, capitaneada por um de nossos O sr. tenente Falcão não quiz prosse- grandes couraçados, o Minas Geraes, defen- guir. Pelo que o seu colega Canto ponde- dendo a Ilha do ataque de outra divisão, rou que as horas passavam e havia neces- tambem capitaneada por um dreadnought, sidade de transmitir a ordem que recebera o S. Paulo. de seu chefe. A divisão capitaneada pelo Minas Gera- O Guarany prosseguiu em sua rota. es achava-se fundeada no canal da ilha de Avistou dois vultos de navio, que se avis- S. Sebastião, sob o commando do capitão taram e que se julgam terem sido destroyers. de mar e guerra Ramos Fontes, emquanto a Do Guarany fallou-se aos navios, mas sem atacante, commandada pelo sr. contra-almi- resposta. O rebocador prosseguiu. Eram rante Altino Corrêa, manobrava, aguardan- mais de duas horas da madrugada. Poucos do ordens para o ataque. minutos depois, junto ao Guarany, appare- De madrugada o sr. almirante Baptista cia terceiro vulto. Franco, chefe do estado-maior da Armada Perguntaram quem era e não obtiveram e commandante da esquadra em evoluções, resposta. Depois de muita insistencia, houve mandou participar á divisão atacante que resposta de ser um navio mercante.

222 RMB4oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

O Guarany parou então as machinas, O tenente Falcão conseguiu amparar depois de desviar-se do vulto, que era o pa- dois naufragos, que em seguida se agarraram quete do Lloyd, o Borborema. Este, segundo a uma taboa. dizem, descreveu quasi um semi-circulo, e foi Dos 42 homens que se achavam a bordo tão infeliz que se chocou violentamente com do Guarany, os navios da esquadra puderam o Guarany a meia-nau, e de tal maneira que colher apenas 18, não havendo noticia dos ainda prendeu, por segundos, o rebocador em outros. sua prôa sinistra. Como dissemos, o choque do Borborema Fez-se o panico a bordo do rebocador. foi de tal ordem que o rebocador ainda ficou O sr. tenente Aurelio Falcão, commandan- preso em sua prôa. Nessa ocasião, dois ma- te da turma, embora rinheiros da guarnição o perigo fosse enorme, do Guarany consegui- não perdeu a calma, Dos 42 homens que se achavam a ram passar-se para o ordenando que todos bordo do Guarany, os navios da paquete. se atirassem nagua. esquadra puderam colher apenas O sr. almirante A guarnição preci- Alexandrino de Alen- pitou-se nagua. 18, não havendo noticia dos outros car, ministro da ma- (...) rinha, determinou que Dentro de dois minutos, tempo em que as pela Capitania do Porto desta Capital aguas tragaram completamente o Guarany, fosse aberto inquerito para apurar o caso, começou a luta dos naufragos com os vaga- e desse inquerito, procedido com todo o lhões do mar alto. criterio e dedicação pelo capitão de cor- A pedaços de madeira que sobrenadavam veta Octavio Teixeira, ajudante da capi- agarraram-se alguns, que procuravam auxi- tania do porto do Rio de Janeiro, resultou liar-se mutuamente, cedendo a extremidade a casualidade do facto, não se podendo de uma taboa ou de pau, a que se agarraram, attribuir o grande desastre á impericia de aos companheiros de infortunio. E nessa si- qualquer dos commandantes dos dois na- tuação horrivel lutaram uns cincoenta mi- vios abalroados. nutos, quando chegaram os socorros. (...)

ORGANISAÇÃO DO SERVIÇO RADIOTELEGRAPHICO NA MARINHA (RMB, out./1913, p. 456-467) Capitão de corveta M.C. Gouvea Coutinho

A radiotelegraphia é uma das mais mara- e isso por dois motivos: um é que em nada vilhosas descobertas do seculo e incontesta- lucraria a Marinha com mais uma exposi- velmente a mais sorprehendente applicação ção sobre radiotelegraphia, outro porque eu da electricidade; mas eu não desejo fazer só repetiria, com muito menos clareza, por agora a sua apologia, nem tão pouco dis- faltar-me a devida competencia, as sabias li- correr sobre a technica dessa nova sciencia, ções dos provectos mestres Monier, Menier,

RMB4oT/2013 223 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Fournier, Ferrier, Walbreuz, Tissot e mui- ondas electrico-magneticas de alto poten- tos outros. Quero apenas mostrar as idéas cial, as minhas palavras poderão ser trans- geraes sobre a sua organisação na Marinha. formadas pelos meus distinctos camaradas Do mesmo modo que as correntes electri- em outras luminosas e brilhantes, que irra- cas de baixa tensão se transformam em cor- diarão, mais tarde, em um regulamento com- rentes de alta tensão; do mesmo modo que as pleto para telegraphia sem fio na Marinha. ondas de baixo-potencial se transformam em (...)

A HYGIENE NAVAL BRAZILEIRA (RMB, out./1913, p. 481-496) Dr. José Ribal Cadaval

Sendo o livro que se acha em confecção – As regras geraes são as mesmas; a es- Hygiene Militar Brazileira – e que aguarda pecialização está, tão somente, no que diz o auxilio do governo para ser publicado, a respeito a individualidade do marujo brazi- primeira obra escripta em vernaculo, sobre leiro, modificado sem duvida, pela heredita- a sciencia bazica, que constitue uma das pe- riedade, pelo atavismo, pela condição social, dras angulares de uma boa marinha de guer- pelo meio, pela educação e por mil outros ra, é curial e, até certo ponto, necessario, que factores cauzaes. eu explique porque addicionei o qualificati- É uma tarefa difficil esta, para que car- vo nacional, que imprime de certo a obra, um regue sozinho o obscuro autor da – Hygiene cunho todo particular, uma feição positiva- Naval Brazileira – com toda esta enorme mente patricia, e esta sciencia internacional, responsabilidade, tão falho de energias e que se chama – Hygiene naval brazileira? de attributos de illustração como se sente; E, será admissivel que cada paiz, cada apesar porém, do “ardua vallatur duvis, nação tenha a sua Hygiene naval indigena? sapientia scrupis” espero levar por deante Que se aconselhe differentemente ao mari- o patriotico tentamen de dar á marinha de nheiro patricio, tão somente as regras geraes, guerra um expositor didactico nacional da estabelecidas em Hygiene naval; que se lhes nossa Hygiene naval, justamente agora que faça ver e acreditar, que aquillo que se refere se pretende reorganisar os serviços da mari- aos interesses da sua condição particular, é nha de guerra. diverso do estabelecido para o resto da gran- Tendo eu apresentado na transacta ad- de familia maritima mundial? ministração do actual ministro da Marinha, Não, de certo. Se denominei e especializei e publicado em livro, o meu projecto de remo- a Hygiene naval do nosso paiz, foi, está bem delação do archaico regulamento de saude visto, no que se refere a usos e costumes in- naval, ainda vigente, nesta época de gran- dividuaes que dizem respeito aos nossos cli- des conquistas scientificas, entre outras mo- mas, innatos no brazileiro, como é no inglez, dificações e enovações apresentadas, eu me no francez, no allemão, no japonez, em cada refiro a formação da classe de – candidatos um dos seus paizes. e medicos navaes – (doutores em medicina) e

224 RMB4oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS extincção da classe de internos de saude na- vantagens que resultariam desta intelligente val (estudantes de medicina). Concebe-se fa- modificação. cilmente do que deixo exposto, as positivas (...)

REVISTA DE REVISTAS

OUTUBRO – 1913 mar-se á toda velocidade, na altura de pelo menos 500 metros. Lançaram balas de aço ATAQUE DOS AEROPLANOS AOS alastradas representando bombas. COURAÇADOS. – A A Gazeta de Francfort Os arbitros tomaram logar na casamata menciona detalhes sobre experiencias de lan- do couraçado. çamento de granadas pelos aeroplanos con- Doze aeroplanos atacaram e lançaram tra o velho couraçado “Bayern” ancorado na bombas, porém duas somente tocaram o navio, bahia de Kiel. a vante e em logar onde o perigo seria minimo. Os aeroplanos eram pilotados por officia- Algumas bombas cahiram a mais de 200 me- es de marinha e paisanos, deviam approxi- tros do navio e o tiro em geral foi muito mau.

MISCELLANEA

NAVIOS ABANDONADOS – Em cada mento da navegação, sempre se acham naves procella que atormenta as aguas do Atlanti- abandonadas, vagando ao capricho das cor- co septentrional, muitos navios (escreve W. rentes e constituindo uma perpetua ameaça Allingham no Chamber’s Journal) são aban- á segurança do trafego maritimo. donados pela equipa- Em nenhuma zona gem. Em regra, trata-se Na zona do oceano Atlantico, em maritima do univer- de velhas embarcações so ha tantos navios de madeira, em que a que mais intenso é o movimento da abandonados quanto furia das ondas revol- navegação, sempre se acham naves na parte do Atlantico tas abre profundas bre- abandonadas, vagando ao capricho comprehendida entre chas nos flancos, sem a Europa e a America que as bombas de bor- das correntes e constituindo uma septentrional. do consigam expellir a perpetua ameaça á segurança do De 1887 a 1891 fo- agua invasora. trafego maritimo ram avistadas 957 car- Desalentada, a equi- cassas sem equipagem, pagem perscruta o horizonte á procura de um na região que se estende do quinquagesimo navio salvador, e, quando descobre algum, segundo grao de longitude a oéste de Gre- deixa ao seu destino a embarcação em perigo. enwich até á costa oriental da America. Succede assim que na zona do oceano No Atlantico septentrional vagam sem- Atlantico, em que mais intenso é o movi- pre, em média, vinte naves abandonadas. Os

RMB4oT/2013 225 ACONTECEU HÁ CEM ANOS capitães dos vapores que encontraram no seu PARA SALVAR OS NAUFRAGOS. – trajecto esses destroços tomam nota do seu Desde a catastrophe do Titanic tornou-se aspecto e da posição geographica. As infor- deveras febril a procura de meios de salva- mações assim obtidas são endereçadas ao es- ção, collectivos ou individuaes. A dizer a criptorio hydrographico de Washington, que verdade, era sobretudo preciso pensar nos as publica no seu boletim hebdomadario. Do meios collectivos, porque, no que diz respei- mesmo serviço occupa-se tambem o Ministe- to aos meios individuaes, o problema está rio do Commercio (Board of Trade) inglez. O já quasi perfeitamente resolvido pelo cinto British Meteorologica Officie e a Deutche de salvação. Seewarte assignalam a situação dos navios Um official da marinha americana acaba encontrados, nos mappas nauticos do Atlan- de inventar um colchão de salvação, que não tico septentrional, que mensalmente publicam. é pneumatico, mas sim cheio de uma subs- Em geral as embarcações abandonadas tancia ainda desconhecida. pela equipagem poucos dias após desappare- Em tempo normal serve para os leitos de cem nas profundidades do oceano. Algumas bordo: em caso de naufragio, deita-se ao mar vezes, porém, permanecem á vista durante este colchão que possue braçadeiras, ás qua- semanas ou mezes inteiros, e fazem então, ar- es as pessoas se podem agarrar. rastadas pelas vagas, longuissimos percursos. Provam as experiencias que fluctua per- (...) feitamente. Em 1894, um vapor norueguense rebocou Para a salvação collectiva apresentou-se até Nova York a barca austriaca Vila, encon- no concurso Pollok um projecto que merece trada no meio do Atlantico. A Vila trazia um séria consideração. Propõe-se a construir carregamento de ossos que provinham, segun- um navio no qual toda a parte superior seja do se disse, dos campos de batalha do Egypto. formada de elementos que não façam corpo Da equipagem nunca se teve a menor noticia. com o resto e possa ser separada no momento Um mysterio impenetravel se associa ao opportuno. nome do brigue Maria Celeste, que deixara Mesmo si o navio tiver soffrido uma ava- a America no rumo de Gibraltar. Durante ria grave e ameace ir ao fundo, desprega-se a muito tempo não houve informação algu- superstructura , sobre a qual se refugiam os ma a seu respeito; mas, um dia, foi visto passageiros, e quando a parte baixa do navio nas vizinhanças do estreito. Não continha se afunda, a outra permanece na superficie ninguem. Tudo estava em ordem. Não se do mar e fluctua como uma jangada. percebeu nenhum vestigio de desgraça. Um É claro que, si o mar estiver muito bravo, relogio de bolso pendurado á parede do ca- esta jangada não tardará em seguir o resto marote do commandante estava ainda em do navio, mas si o mar estiver sereno dará movimento. Ao deixar a America do Nor- tempo a que chegue socorro. te, o navio tinha a bordo, além do capitão Por causa dos mastros e das chaminés, e dos marinheiros, duas mulheres, a esposa será difficil obter uma jangada unica que se e a filha do commandante. Nunca se soube não poderia despregar inteiramente da parte e jamais se saberá o destino das pessoas que inferior do navio, mas seria possível dividir a viajavam no brigue Maria Celeste. superstructura em umas poucas de jangadas.

226 RMB4oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

NOTICIARIO MARITIMO

OUTUBRO – 1913 Infelizmente o naufragio do Guarany, que tantas maguas trouxe a todos os cora- MARINHA NACIONAL ções patrioticos, impediu que aquella solem- nidade se revestisse de maior realce, deixan- A BANDEIRA DO COURAÇADO do por isso de se effectuar os varios festejos “S. PAULO”. – No dia 10 de outubro rea- populares preparados para aquelle dia. lisou-se em Santos a cerimonia da entrega A bandeira de combate do S. Paulo foi solemne da bandeira nacional, que gentis bordada pelas alumnas da Escola Normal patricias da Paulicéa confeccionaram para da capital do Estado de São Paulo, sob a ser offertada ao poderoso navio que traz o direcção da professora Rosina Nogueira nome do prospero e rico Estado da Federa- Soares. ção brazileira. O desenho da bandeira foi executado Essa bandeira deveria ter sido en- pelo lente cathedratico professor José tregue em 1910, mas o movimento Feliciano, coadjuvado pelo dr. de rebeldia das guarnições de Ramos de Azevedo, lente da alguns navios da esquadra, Escola Polytechnica. no porto do Rio de Janeiro, A faixa branca é de finis- motivou o seu adiamento, sima seda, medindo 22 centi- de forma que sómente agora metros de largura por 1m96 houve opportunidade para de comprimento. Ao longo de a realisação da sympathica e seus lados corre um fio de seda patriotica cerimonia, cabendo a azul, disfarçando a costura com honra de presidil-a com sua presen- o globo ceruleo. ça o sr. almirante ministro da Marinha. As letras do distico “Ordem e Progres- so” foram todas bordadas a seda verde e som- breadas a ouro crespo fosco, crespo brilhante e brilhante liso, como si todas surgissem doura- das pelo aureo fundo, pelo campo rhombiforme. Cada letra tem 198 milimetros de altura e 3 centimetros de largura total, cabendo 18 milimetros para o bordado verde e 12 mili- metros para o sombreado de ouro. Para que a bandeira não apresentas- se avesso, foi necessario que se bordassem duas faixas, assim como dois globos, os quaes foram superpostos um ao outro. (...)

N.R. – Arca que, há cem anos, conserva a Bandeira Nacional. A senhorita Hilca de Souza Lima, alu- Hoje esta magnífica peça está exposta no Museu Naval mna da Escola Normal, pronunciou na oc-

RMB4oT/2013 227 ACONTECEU HÁ CEM ANOS casião da entrega da bandeira, com muita bordavamos, que recamavamos de estrellas, expressão o seguinte discurso: um sonho, um sonho bom nos embalava. “Exm. Sr. almirante Alexandrino de Era um pedaço de alma da patria, senão Alencar, srs. Commandantes e officiaes do toda a patria que de nossas mãos ia sahindo. couraçado S. Paulo. Bafejado no nosso melhor affecto, que não (...) queriamos nem queremos que venha um dia Não espereis, pois, de mim um discurso. tremular, ainda que gloriosamente nas apothe- Eu me desobrigo, e gostosamente o faço, de óses de uma victoria sangrenta; não queriamos um dever. Ha quatro annos, quando eu e mui- nem queremos que vos vejais, valorosos mari- tas das collegas, que me acompanharam nesta nheiros, na dura contingencia de derramar á solemnidade, entrámos de bordar e recamar a sombra della o vosso generoso sangue. bandeira que, dentro de alguns instantes, se Queriamos e queremos que seja ella o sym- desdobrará no mastro bolo da paz; queriamos deste couraçado, ao e queremos que á sua sopro dos ventos pa- Não sirva jamais essa bandeira, sombra vos sintais trios, puzemos de par que hoje vos entregamos, de conscios, sim, do vosso com o nosso esforço acirrar odios fratricidas, senão de valor, do proeminente toda a nossa alma pa- despertar o sacratissimo amor da papel que representais tricia nesse trabalho. E em nossa vida collec- podeis convencer-vos patria, porque foi ella com esse tiva, mas confiantes, de que o que mais nos amor tecida e bordada mas tranquillos. afoitava, o que mais Não sirva jamais concorria para que esse trabalho se fosse afei- essa bandeira, que hoje vos entregamos, de çoando, a pouco e pouco, numa obra mais ou acirrar odios fratricidas, senão de despertar o menos perfeita, era o sentimento que nos do- sacratissimo amor da patria, porque foi ella minava e nos encorajava, sentimento purissi- com esse amor tecida e bordada. mo que ia de nossos corações para as dobras São esses os nossos desejos, desejos de do panno e vinha das dobras do panno para quem tambem como vós, dentro de pouco os nossos corações. tempo, em campo de acção diverso, ha de en- Á medida que as peças dessa bandeira se sinar aos pequeninos todas as virtudes, civi- apromptavam, fortalecia-se o sentimento cas e moraes que nascem e medram á sombra que nos animava e que outro não era, exm. do ‘Estandarte que a luz do sol encerra as senhor, senão o patriotismo. promessas divinas da esperança’. Sabiamos que, mais cedo ou mais tarde, Acceitai-a, pois, sr. almirante, e vós, ma- o fructo de nossos esforços e de nossos cari- rinheiros do S. Paulo, hoje, amanhã, depois, nhos passariam de nossas debeis mãos para todas as vezes que içardes essa bandeira, as mãos robustas dos defensores de nossa pa- como symbolo de paz ou mesmo, si tal o tria, dos mantenedores da nossa integridade destino quizer, como symbolo de guerra, no territorial, dos defensores dos nossos brios; mastro deste couraçado, lembrai-vos de nós; mas, de permeio a esta presciencia dos fins a lembrai-vos de que quando ella se desdobrar que se destinava o pensão que teciamos, que ás virações marinhas para saudar a força do

228 RMB4oT/2013 ACONTECEU HÁ CEM ANOS direito ou o direito da força, nossas almas, Para não dar a lista completa dessas pro- nossos corações vibrarão unisonos comvosco, moções, que seria longa, diremos apenas que porque nós, as almas e os corações, passamos no posto de capitão de mar e guerra o official para as dobras deste pavilhão, que desde o mais velho conta 45 annos de idade e o mais topo da Parnahyba, soffregamente beijado moço 37; e no de capitão de fragata o mais no ardor de um combate pelo almirante Bar- velho tem 36 annos e o mais moço 31. roso até hoje vem coberto de glorias; nunca Em taes idades, o official está nas me- se humilhou, nunca se humilhará. lhores condições de prestar efficazmente E agora, minhas collegas, que está ter- os serviços que lhes são exigidos, conser- minada a nossa missão, eu vos peço que me vando ainda, com virilidade e robustez, acompanheis num viva á Marinha Nacio- o estimulo necessario ao desempenho de nal, tão digna e superiormente representada suas funcções. nesta solemnidade! Viva a Marinha Nacional! DEZEMBRO – 1913 Viva o sr. almirante Alexandrino de Alencar, ministro da Marinha!” MARINHA NACIONAL S. ex. o sr. almirante ministro da Mari- nha, visivelmente emocionado, beijou a mão JUSTA HOMENAGEM – O sr. almi- da intelligente oradora. rante Alexandrino de Alencar, ministro da Marinha, desejando perpetuar a memoria dos MARINHAS ESTRANGEIRAS officiaes que, em 1910, succumbiram em seus postos na defesa da ordem e da disciplina, por INGLATERRA occasião do motim das guarnições de alguns navios, resolveu mandar construir um monu- ULTIMAS PROMOÇÕES E IDADE mento na ilha das Enxadas, séde da Escola DOS PROMOVIDOS – As ultimas pro- Naval, no qual as figuras do saudoso com- moções, feitas em meiados deste anno no mandante Baptista das Neves e valentes offi- quadro dos officiaes da Armada, chamam ciaes Mario Alves, José Claudio, Lahmeyer, a attenção, principalmente, quanto ás que Carneiro da Cunha e Salles de Carvalho sejam se referem aos postos de capitães de mar e conhecidas e veneradas pelas novas gerações guerra e capitães de fragata, pelas idades de officiaes que naquelle estabelecimento de dos officiaes recem-promovidos. ensino se prepararem para o serviço militar.

NECROLOGIA

ALMIRANTE JOAQUIM MARQUES Apesar de esperado a toda hora o lutuoso BAPTISTA DE LEÃO – Victimado por desenlace, em vista de telegrammas anterio- cruel e pertinaz enfermidade que de ha muito res sobre o seu estado precario de saude, a lhe vinha minando as fontes da vida, finou-se noticia de sua morte veio repercutir doloro- em Paris a 4 de novembro corrente o sr. almi- samente, quer no seio da Marinha, de que rante Joaquim Marques Baptista de Leão. foi um dos mais conspicuos representantes,

RMB4oT/2013 229 ACONTECEU HÁ CEM ANOS quer no da sociedade civil, em que tambem de exhalar o ultimo alento, e a que tão era geralmente estimado. longa serie de indefessos serviços prestou Velho lobo do mar, do tempo em que esta com a maior dedicação durante cerca de simples expressão representava em sua con- cincoenta annos, dos quaes muitos passa- cisa singeleza o maior elogio que se podia dos em constantes viagens. fazer do valor de um official de marinha; Como confirmação immediata do que militar brioso e valente, como o mostrou na acima dizemos nestas breves e desataviadas campanha do Para- linhas, não nos parece guay, onde tomou par- demasiado reproduzir te saliente em diversas Velho lobo do mar, do tempo aqui os seus principaes operações de guerra, em que esta simples expressão traços biographicos, não dentre as quaes se des- representava em sua concisa obstante já terem sido taca a legendaria pas- singeleza o maior elogio que elles publicados nesta sagem de Humaytá; Revista em seu numero caracter altivo e a um se podia fazer do valor de um de novembro de 1910. tempo despretencioso, official de marinha Esses traços, a que fa- sabendo alliar ás exi- zemos hoje pequenos gencias da disciplina uma grande lhanesa e accrescentamentos e ligeiras correcções, são os affabilidade de trato, desapparece no mun- que damos a seguir. do o illustre extincto deixando-nos de sua O almirante Joaquim Marques Bap- vida publica uma brilhante fé de officio. tista de Leão nasceu no Rio de Janeiro Logo que do seu fallecimento teve a 6 de janeiro de 1847, sendo filho le- sciencia, providenciou o governo para que gitimo de Joaquim Marques Baptista de a expensas da nação fosse o seu corpo em- Leão e de D. Luiza Leopoldina Ferreira balsamado e reconduzido á Patria, de que Marques. tão longe morreu sem lograr revel-a antes (...)

230 RMB4oT/2013 REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela Biblioteca da Marinha. As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 – Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO COMEMORAÇÃO As comemorações dos 150 anos do Museu de Marinha (232)

ATIVIDADES MARINHEIRAS MERGULHO Novas tendências para o mergulho comercial no Brasil (232)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) CONSTRUÇÃO NAVAL O destróier da classe Tipo 45 Daring – Como problemas de gerenciamento de projeto resultaram em menos navios (233)

FORÇAS ARMADAS OPERAÇÃO Sniper: Arma da atualidade (234)

PODER MARÍTIMO NAVEGAÇÃO Futuro canal entre Atlântico e Pacífico (235)

PSICOSSOCIAL LANÇAMENTO DE LIVRO O Amazonas. Breve resposta à Memória do Tenente da Armada americana-inglesa F. Maury sobre as vantagens da livre navegação do Amazonas (236)

RELAÇÕES INTERNACIONAIS DIPLOMACIA Cadernos do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD) (237)

VALORES EXEMPLO O Pai das Marinhas nucleares (239) REVISTA DE REVISTAS

As comemorações dos 150 anos do Museu de Marinha (Revista de Marinha, Portugal, setembro/outubro 2013, p. 11)

Neste artigo, a Revista de Marinha obras, um Arquivo de Imagens com 120 mil cumprimentou o Museu de Marinha de seu peças e um Arquivo de Desenhos e Planos país pela passagem de seus 150 anos em 22 que agrupa mais de 1.500 documentos de julho último e noticiou as festividades relativos a antigos navios portugueses, realizadas alusivas à efeméride. além de oficinas de modelismo naval. Ele Fundado pelo Rei D. Luís, monarca promove também inúmeras iniciativas de dotado de sensibilidade cultural e artística investigação histórico-científicas e exe- segundo a revista, e que foi oficial da Ar- cuta programas de atividades didáticas e mada até sua ascensão ao trono, o Museu culturais. preserva e divulga a memória e o patrimô- Com a presença de grande público, foi nio marítimo de Portugal. realizado concerto ao ar livre pela Banda O Museu é visitado anualmente por da Armada próximo ao Mosteiro dos Jerô- cerca de 150 mil pessoas e é um dos mais nimos e inaugurada a exposição temporária importantes museus portugueses, de acor- “Museu de Marinha – 150 anos”, dentre do com o artigo. Possui área de exposição outros eventos. Ainda no âmbito das co- permanente de 16.050 m2, onde apresenta memorações, ocorreram várias iniciativas 6 mil peças museológicas. Tem, ainda, de natureza cultural e o Congresso Interna- um Centro de Documentação com 14.500 cional de Museus Marítimos.

Novas tendências para o mergulho comercial no Brasil Capitão-Tenente (AA) Alex Pinto Rubem* (O Periscópio, Ano XLVIII – No 66, 2013, p. 18-21)

Para o autor, a intensificação das ativi- Brasil – pela Lei da Segurança do Tráfego dades de exploração de petróleo promoveu Aquaviário (Lesta) de 1997, até a 1a Revi- destaque para suas atividades subsidiárias, são da Normam-15/DPC. que passaram a acompanhar o mesmo ritmo de desenvolvimento. É esse o caso do mergulho comercial, considerado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) “o segundo trabalho mais perigoso, perdendo apenas para a atividade espacial”. Ao longo do texto, o autor descreve a evolução da atividade no Brasil, desde o reconhecimento dos mergulhadores profissionais como aquaviários e o estabe- lecimento, nesse contexto, das atribuições da Autoridade Marítima – a Marinha do Mergulho em usina

* Formado em Educação Física. É mergulhador e, atualmente, serve na Diretoria de Portos e Costas (DPC).

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Essa revisão foi fruto de longo período aceitação pelos participantes do workshop de estudo que envolveu visitas a usinas promovido pelo Sindicato das Empresas de hidrelétricas e unidades offshore; debates Mergulho (Siemasa), onde foi apresentada com representantes do Ministério do Tra- à comunidade subaquática, após sua entra- balho e Emprego (MTE), das empresas de da em vigor, em outubro de 2011. mergulho, dos mergulhadores profissionais Ainda há muito que progredir, ressalta e dos órgãos certificadores; e a experiência Alex, no que diz respeito às operações de adquirida em perícias realizadas em aciden- mergulho em rios, barragens e usinas hi- tes ocorridos com mergulhadores. Segundo drelétricas, universo ainda bem distante da o autor, a norma revista obteve plena realidade encontrada em operações offshore.

O destróier da classe Tipo 45 Daring – Como problemas de gerenciamento de projeto resultaram em menos navios1 Ben Lombardi* e David Rudd** (Naval War College Review, Verão 2013, Volume 66, número 3, p. 99-115)

Neste artigo de 17 páginas, os autores Porém, dos 12 requeridos pela SDR de examinam as dificuldades surgidas no pro- 1998, seis foram cancelados. grama do Reino Unido para obter destróie- Os destróieres da classe Daring deslo- res Tipo 45 da classe Daring, um dos mais cam 8 mil toneladas. Sua velocidade máxi- importantes programas para capacitação ma é de 28 nós. São armados com o sistema da Marinha britânica (RN). Ele representa de míssil Sea Viper, que se espera ser a um grande avanço na capacidade de a RN espinha dorsal de defesa aérea da RN nas monitorar o espaço aéreo na vizinhança duas próximas décadas. O radar Sampson, de seus grupos-tarefa e de rastrear e des- coração desse sistema, é capaz de monitorar truir ameaças aéreas. A Strategic Defence cerca de mil objetos do tamanho de uma Review (SDR) de 1998 requeria 12 desses bola de beisebol, a uma distância de 400 navios, no estado da arte, configurados para quilômetros. Mísseis Aster 15 e Aster 30, guerra antiaérea. Eles substituiriam os do disparados de lançador vertical para 48 mís- Tipo 42, que entraram em serviço em 1978. seis, engajam alvos aéreos a média e longa O Programa Daring foi divulgado seis distâncias. O Sea Viper foi projetado para meses após o Reino Unido retirar-se do defesa contra múltiplos mísseis manobrá- projeto anglo-franco-italiano Horizon, veis, até mesmo supersônicos. Um canhão optando por um programa próprio. A de 4,5 polegadas e várias armas de calibre construção do primeiro navio da classe, o menor constituem o armamento secundário. Daring, começou em 2003. Atualmente a Contrastando com navios aliados do seu RN tem cinco destróieres dessa classe, e tipo, os Daring poderão embarcar um heli- o sexto deverá entrar em serviço em 2014. cóptero Chinook grande, de transporte. Para

1 N. R.: Resumo/análise feita, a pedido da RMB, pelo VA (Refo-EN) Elcio de Sá Freitas. * Analista estratégico no Defence Research and Development Canada’s Center for Operational Research and Analysis (DRDC Cora), em Ottawa, e associado ao Directorate of Maritime Strategy. É PhD em Relações Internacionais pela Queen’s University. ** Analista estratégico no DRDC Cora e associado à equipe de análise estratégica do gabinete do Associate Deputy Minister. Possui mestrado em Relações Internacionais pela Dalhouse University.

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guerra litorânea, poderão estender o escudo de obtenção numa época de restrições em de proteção antiaérea sobre uma força anfí- orçamentos de defesa. Os atrasos teriam bia em terra ou transportar 80 componentes resultado de riscos próprios a um programa de forças especiais. É possível que todos os complexo e de falhas em sua administração seis navios venham a ter um CIWS Phalanx, e gerência, só identificadas e corrigidas mas não dispõem de míssil antinavio nem após alguns anos. E o aumento incontido de tubos de lançamento de torpedos. Têm de custos, depois controlado, decorreu de um sonar montado na proa, mas ações de atrasos e falhas na condução do programa. perseguição e ataque a submarinos ficam As maiores preocupações ainda exis- inteiramente a cargo do helicóptero em- tentes parecem residir na atual inexistên- barcado Merlin ou Lynx. Diferentemente cia de fundos para prover as capacidades de alguns navios de defesa aérea já em visadas com as providências de not fitted serviço ou em construção, os Daring não out but provided for durante o projeto e a têm capacidade de disparar mísseis contra construção. Entre essas, destaca-se a de os alvos terrestres distantes da costa. Algumas navios ainda não disporem do sistema CEC dessas capacidades ainda não obtidas pode- (Cooperative Engagement Capability), que rão ser instaladas futuramente, adotado o os habilitaria a participar do Programa NEC procedimento de not fitted out but provided (Network Enabled Capability) da Marinha for2 no projeto e na construção, e desde que dos EUA. A operação em rede de um grupo haja os necessários fundos. de navios destina-se a multiplicar a capaci- O programa de obtenção dos Daring dade de combate de cada um deles. Com a suscitou questionamentos e exames em capacidade individual assim multiplicada, mais de um foro governamental, bem como espera-se poder reduzir o número de navios declarações de altos escalões do Ministério necessários, e esta foi uma das razões para da Defesa Britânico (MOD), que se con- diminuir o número de destróieres Daring. centraram na redução do número de navios Os obstáculos e as possíveis falhas na a obter, no aumento incontido de custos, concepção e condução do Programa Daring, nos atrasos do programa e nas consequên- mencionados pelos autores, parecem ter muito cias para a estratégia nacional. Segundo os em comum com os do Programa Astute, com autores, a redução do número de unidades ele parcialmente simultâneo, minuciosamente decorreu de reavaliações estratégicas e analisado em trabalho da Rand Corporation esperados avanços tecnológicos, mas prin- e comentado em artigo da Revista Marítima cipalmente do incontido aumento de custos Brasileira, do 2o trimestre de 2013.

Sniper: arma da atualidade Capitão-Tenente Pedro Salgado Dibo* (O Periscópio, Ano XLVIII – No 66, 2013, p. 26-29)

Utilizados em combate desde a Revolu- destacaram pela precisão de seus tiros. Sua ção Americana, os snipers eram soldados denominação, segundo o autor, teve origem que operavam na Índia britânica e que se em meados de 1770 e faz alusão àqueles

2 N. R.: não instalado, mas pronto para. * Realizou o curso de Aperfeiçoamento de Mergulhador de Combate e serve, atualmente, no Grupamento de Mergulhadores de Combate (Grumec) como encarregado de Divisão.

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que conseguiam caçar pássaros muito ágeis dos de inteligência. Eles podem também e de difícil abate, de nome snipe. ser empregados em apoio de fogo para Neste artigo, o autor apresenta atuali- uma equipe de assalto e resgate de reféns, dades sobre essa atividade no Brasil, em neutralizando o elemento hostil sem expor especial na Marinha, e aborda as várias o pessoal a risco. Outra tendência que o formas de seu empre- autor cita é a utilização go como parte de tro- de armamento antima- pas convencionais, de terial de precisão em- equipes de operações barcado em aeronaves especiais, em ações de asa rotativa, o que contraterrorismo e an- aumenta a mobilidade tipirataria e em ações e permite maior apro- urbanas policiais. ximação ao alvo, mi- “O sniper é um fa- nimizando erros. tor de força para as No âmbito do Gru- tropas amigas, pois mec, Dibo cita que sua presença no teatro os snipers são em- de operações reduz pregados dentro das a velocidade de pro- equipes de operações gressão do oponente, especiais (EqOpEsp) causa terror e baixa o e no Grupo Especial moral da tropa inimiga Visão do sniper apoiando um de Retomada e Resga- com seus disparos si- destacamento de abordagem te (Gerr/MEC) como lenciosos e precisos”, elementos de apoio de afirma o Tenente Dibo. fogo. Nessas equipes, eles podem operar a As principais tarefas dos snipers são: partir de plataformas navais, aeronavais e eliminar pessoal e caçadores inimigos, terrestres, contribuindo “sobremaneira para neutralizar meios materiais e coletar da- a execução das tarefas do Poder Naval”.

Futuro canal entre Atlântico e Pacífico (Revista de Marinha, Portugal, setembro/outubro 2013, p. 16)

Segundo este artigo, a Nicarágua projeta Nicarágua retomou o seu projeto e o refez a construção de um novo canal entre os para permitir a passagem de navios de 250 oceanos Atlântico e Pacífico. O projeto em mil toneladas. avaliação está orçado em 40 bilhões de dóla- Essa iniciativa da Nicarágua está ba- res e foi aprovado pelo Parlamento do país. seada em previsões existentes de que o De acordo com a notícia, o projeto existe comércio marítimo entre a Ásia e a Europa desde 1825, mas foi abandonado em detri- duplicará na próxima década. Segundo o mento do que foi executado posteriormente artigo, um grupo chinês pretende construir no Panamá, inaugurado em 1914. Em 2004, uma ferrovia ao longo do canal, com duas com a intenção do Panamá de alargar o seu zonas francas, nos portos de entrada e saída canal, ampliando as eclusas, o governo da e nos respectivos aeroportos.

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O Amazonas. Breve resposta à Memória do Tenente da Armada Americana-Inglesa F. Maury sobre as Vantagens da Livre Navegação do Amazonas Dr. João Baptista de Castro Moraes Antas* (Reedição do original de 1854 – Centro de História e Documentação Diplomática [CHDD] da Fundação Alexandre de Gusmão)

Neste suplemento lançado pelo CHDD, Mercantil, em que solicita a publicação de é reeditado livro cujo autor, o Coronel sua argumentação: João Baptista de Castro Moraes Antas, “Sr. redator do Correio Mercantil – refuta, por meio de seus conhecimentos Acaba V. Mce de publicar no seu jornal da região e da população amazônica, as a memória escrita pelo tenente da armada proposições do Te- americana F. Maury, nente F. Maury, que, na qual descreve as em 1853, publicara vantagens que podem seu livro Exploration resultar da livre nave- of the Valley of the gação do Amazonas, Amazon, que discorria revelando ao mesmo sobre as maravilhas tempo as vistas po- do Amazonas e pro- líticas e comerciais, pugnava pela abertura senão do governo do rio à navegação americano, ao menos internacional. de alguns cidadãos A reedição dessa dessa república. A lei- obra de domínio públi- tura atenta desse im- co, já esgotada, e “sem portante trabalho, em apelo comercial que que são empregadas permita vislumbrar as forças de um estilo uma edição comercial romântico e a sedução nos próximos anos”, que produz a expecta- busca oferecer a pes- tiva de se adquirir fácil quisadores e estudio- e rapidamente rique- sos, segundo Maurício zas incalculáveis, não E. Cortes Costa, dire- pode deixar de sugerir tor do CHDD, os argumentos, um a um, ao coração brasileiro o mais vivo desejo de pelos quais Moraes Antas descarta as propo- antepor a razão à imaginação, de mostrar sições de Maury. O texto foi atualizado para aos americanos do norte e aos cidadãos das a ortografia em vigor buscando-se manter a repúblicas vizinhas o que há de inexato, de semelhança possível com o original, tanto especioso, de ilusório e de pouco razoável na diagramação como nas fontes usadas. na sobredita memória. Reproduz-se aqui a carta enviada à épo- Em minha opinião, seria preciso – toma- ca por Moraes Antas ao redator do Correio da a memória do Sr. Maury na mais séria * Apesar de na época terem ocorrido especulações sobre a autoria, Sacramento Blake, em seu Diccionario Bi- bliographico Brazileiro, confirma a lavra de Moraes Antas e cita Innocêncio da Silva, autor doDiccionario Bibliographico Portuguez, para corroborar esta informação.

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consideração – analisar cada uma de suas ração de rios, ocasião de apresentar alguns proposições capitais, entrar na discussão trabalhos e, nunca, o meu desejo de ser útil do direito que se pode ter para impor-se a meu país, de corresponder à confiança do à força a felicidade ao Peru, à Bolívia e governo imperial e de adquirir a estima de ao Brasil; seria preciso chamar a atenção meus concidadãos me deixou pintar belezas do mundo civilizado para esse sistema onde não havia, nem inculcar facilidades de conquista por absorção, que começa a onde achei dificuldades. Infelizmente o caracterizar alguns espíritos nos Estados sr. Maury, versado na lição dos escritos Unidos do norte. Esta tarefa é superior de viajantes que a respeito do Brasil têm aos recursos de minha fraca inteligência. sido tão injustos, e mesmo ingratos, quan- Mas como ao lado da sedução do estilo to exagerados e inexatos, diz em diversos elegante e pitoresco empregado na redação capítulos cousas inteiramente falsas, em da memória se encontram inexatidões de inteira contradição com o que se acha por que tenho conhecimento; como o Tenente mim escrito em peças oficiais, que existem Maury, possuído de um pensamento, a seu na secretaria do império e na presidência ver patriótico, não só acolheu sem critério de Goiás. Tal é a força que, vencendo a informações exageradas como até deixou resistência oposta por minha justa timidez, de opor madura reflexão a considerações decidiu-me a empreender a redação de uma suas e alheias, que o levaram a apregoar breve resposta ao escrito do sr. Maury. como fáceis os próximos resultados que Ora, como V. Mce. publicou no seu jor- só se poderão conseguir à custa de grandes nal esse impactante trabalho, tomo a liber- esforços e perseverança, posso – debaixo dade de pedir-lhe que ofereça a seus leitores deste ponto de vista – fazer alguma cousa, o ligeiro contraste que lhe anteponho. apontando muitos enganos, muitos erros Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 1853. (em matéria de geografia e de estatística Dr. João Baptista de Castro Moraes Antas. brasileira), restabelecendo a verdade de P.S.: À proporção que avançava na reda- muitos fatos e opondo alguns reparos ao ção do meu pequeno trabalho, apareceram que me parece mais digno disso. diversos artigos em resposta à memória do Estive por três anos na província de sr. Tenente Maury. Esta circunstância me Mato Grosso, com que largamente se ocupa teria feito desistir da empresa a que me o sr. Maury; não é para mim desconhecido dedicara nas poucas horas que me deixa o o seu solo, nem o são as suas produções exercício de um emprego laborioso, se não e riquezas. Estive outro tanto tempo na tivesse refletido que esses artigos, escritos província de Goiás, de que também se por hábeis penas, nem prejudicam o plano ocupa o escritor norte-americano. Tive, no de minha resposta, nem enfraquecem os desempenho de uma expedição de explo- argumentos de que me sirvo.”

Cadernos do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD) (Cadernos do CHDD – Fundação Alexandre de Gusmão, Ano 12, número 22, primeiro semestre 2013)

Neste número do Cadernos do CHDD cas, trocadas pouco após a proclamação da são transcritas correspondências diplomáti- independência do Brasil, que evidenciam

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a essencialidade do reconhecimento do Na leitura dos documentos oficiais troca- novo império pelo mundo civilizado. São dos, pode-se esclarecer detalhes porventura também apresentados, em continuação desconhecidos ou obscuros da história do à série do número anterior, os ofícios da Brasil. Como ilustração da sensibilidade legação do Brasil em Berlim no período dos assuntos tratados, transcreve-se pequeno entre 1936 e 1938, descrevendo a espiral trecho de ofício originado em Gênova por do aparelhamento do Estado pelo nazismo. Vicente Antônio da Costa, datado de 25 de dezembro de 1825: Santa Sé: A primeira missão brasileira “...certo dos desejos que dominam (1824-1826) V. Sa. de se prestar à justa causa que o meu O Imperador Pe- augusto soberano o dro I enviou represen- Imperador do Brasil tantes à Europa com o mantém, o convida a propósito de iniciar os ajustar e promover a trâmites de reconhe- remessa de 300 ma- cimento da indepen- rinheiros experientes dência junto às casas genoveses para a Mari- reais. Além disso, o nha Imperial – tenho de secretário da missão, participar a V. Sa. que Vicente Antônio da s. exa. me recomendou Costa, desincumbe-se mui expressamente: de outra tarefa, qual primo, que nas diligên- seja guarnecer a frota cias que se houvessem imperial brasileira de de fazer nesta expedi- marinheiros experien- ção não mencionasse tes, assunto delicado, por forma alguma o já que os italianos sagrado nome de S. M. estão impedidos de o Imperador, nem o do empregar-se em Ma- seu ministério; e que rinhas estrangeiras. este negócio fosse soli- “As marchas e contramarchas dos negócios citado como assunto puramente mercantil. se mostram difíceis e levam o secretário Secundo: que se fosse possível ajustar os a justificar minuciosamente suas ações”, 300 marinheiros de uma vez e expedi-los tema de vários dos ofícios transcritos neste a título de colonos em um navio fretado Cadernos do CHDD. por V. Sa. até o fim de fevereiro futuro...”. A presença dos representantes do Brasil causa desconforto à Santa Sé e à comunida- A Alemanha: Correspondência de de diplomática em Roma devido à oposição Berlim (1936-1938) de Portugal e aos abalos já promovidos pelos movimentos separatistas nas colônias No conjunto de documentos relativos americanas. O acesso dos emissários do Im- ao período antecedente à Segunda Guerra pério do Brasil ao Papa é também obstruído Mundial, o remetente é José Joaquim de pelo embaixador da coroa portuguesa, o Lima e Silva Moniz de Aragão, chefe da Conde de Funchal. missão na Alemanha. Esses textos servem

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de testemunho da transformação do país No entanto, o embaixador, com o passar no pós-Grande Guerra (Primeira Guerra do tempo, percebe que esse processo está Mundial). O pano de fundo desses escritos voltado principalmente para a indústria é a repulsa ao comunismo bolchevique, que bélica. Por isso, nos escritos, aparecem “ronda o mundo e as mentes de seus líderes, suas preocupações legítimas de observador e a Guerra Civil Espanhola é o tabuleiro, imparcial: a criação da máquina de guerra, onde todos são jogadores”. a denúncia do Tratado de Versalhes, as Naturalmente, a seleção dos ofícios sucessivas instâncias da legislação racista transcritos recaiu naqueles de natureza e a pressão imposta aos judeus, as interfe- política, nos quais constam a profundidade rências do Partido Nacional Socialista no e a contextualização adequadas ao maior Estado e a desfiguração das instituições, tempo dedicado a esses assuntos pelos com progressiva usurpação de seus objeti- chefes de missões. vos. E também são abordadas a construção Assim, nos primeiros documentos de estradas, fortalezas, aeroportos, navios elaborados pelo Embaixador Moniz de e submarinos e a produção de aviões e de Aragão, ao recém assumir o cargo, aparece um sem-número de veículos terrestres, em como tônica a admiração pelo trabalho de sua maioria para fins bélicos. Nada escapa reconstrução do país, pela recuperação à observação do signatário dos ofícios. do pleno emprego, pela restauração da Foram ministros das Relações Exterio- autoestima do povo alemão e pela vitória res na época e recebiam os ofícios do em- sobre a inflação que destruíra a economia, baixador: José Carlos de Macedo Soares, após a devastação promovida pela Primeira Mário de Pimentel Brandão e, por último, Guerra Mundial. Oswaldo Aranha.

O Pai das Marinhas nucleares Capitão de Corveta (T) Robinson Farinazzo Casal* (O Periscópio, Ano XLVIII – No 66, 2013, p. 46-50)

Este texto apresenta um histórico da vida colegas por seu passado de imigrante muito e das realizações de Hyman George Ricko- pobre e judeu. Segundo Robinson, essa fase ver, que, nascido polonês e pobre, veio a teria marcado profundamente Rickover, por se tornar um ícone na Marinha dos Estados ter ele percebido a necessidade de apresen- Unidos da América (EUA), sendo conside- tar sempre conduta impecável e uma vida rado “O pai da Marinha nuclear” e chegando imaculada para não alimentar críticas. ao mais alto posto de sua hierarquia. Formado, serviu como oficial de máqui- Para o autor, Rickover “é um exemplo nas em navios nos quais impressionava seus de trabalho duro, determinação, compe- comandantes por sua dedicação e eficiência. tência, profundo amor e senso de respon- Aperfeiçoou-se em engenharia elétrica e es- sabilidade para com o país que o acolheu”. tagiou na Universidade de Columbia. Poste- Superou o dificílimo exame de seleção para riormente, serviu nos submarinos S-9 e S-48 ingressar na Academia Naval de Annapolis e comandou um navio-varredor. Durante a e o desprezo e as discriminações de seus Segunda Guerra Mundial, serviu no Depar-

* Serve na Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha (DSAM).

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tamento Elétrico da Diretoria de Navios, onde foi agraciado com a Legião do Mé- rito e angariou “vasta experiência na admi- nistração de grandes projetos, na seleção de pessoal e no trato com a indústria civil”. A partir de 1946, voluntariou-se para trabalhar no projeto de reatores para pro-

pulsão de navios e, O Homem...... e o mito cumulativamente com o cargo de coordenador do Projeto de Rea- resistir a altas temperaturas, pressão esma- tores para a Marinha, foi comissionado na gadora e radiação; não havia rede de vapor Divisão de Reatores Atômicos da Comissão adequada a essas variações; e materiais de Energia Nuclear – seus superiores que- raros como zircônio e hafnium deveriam riam nesses empreendimentos pessoa com ser obtidos e usinados por técnicas ainda determinação para levar ao fim a construção inexistentes. “Acharam o homem certo de um submarino com propulsão nuclear. para solucionar essas equações, e o resto O autor elenca também algumas das é história: vieram o USS Nautilus, depois imensas dificuldades em termos de en- os submarinos com mísseis balísticos e, genharia com que o projeto da propulsão por fim, os gigantescos porta-aviões com nuclear se defrontava naquela época, anos dezenas de jatos a bordo e, na sua proa, a 1950: um reator nuclear “tinha quase o lenda Hyman Rickover”, afirma Robinson. tamanho de um quarteirão” e deveria ser O autor finaliza o artigo ressaltando o diminuído para caber dentro de um sub- legado de ensinamentos e exemplos deixa- marino; não havia dados de avaliação e do pelo almirante, válidos para quaisquer certificação para os materiais que deveriam Marinhas que pretendam empreender gran- des projetos. Para Robinson, “não basta a disponibilidade de orçamentos, ou a mera capacitação profissional: faz-se necessário um profundo comprometimento, elevado espírito público e uma obstinação inaba- lável para finalizar um trabalho perfeito”. “Se um homem aguerrido como Ri- ckover tivesse sido substituído no cargo nalgum momento por um oficial de men- talidade burocrática interessado apenas em fazer carreira, os EUA talvez tivessem, ao menos no fundo do mar, perdido a Guerra Lápide do “Pai da Marinha nuclear” Fria para a URSS”, sumariza o autor.

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Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesqui- sadores visualizarem peculiaridades da Marinha. Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com fotografias.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO ATIVAÇÃO Centro de Instrução e Adestramento Almirante Newton Braga é ativado (245) BATIMENTO DE QUILHA Batimento da Quilha do NPqHo Vital de Oliveira (247) CASA Entrega de residências em Porto Velho (247) COMEMORAÇÃO 90o Aniversário da Diretoria do Pessoal Militar da Marinha (248) Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro – 250 anos (249) Ciama comemora seu cinquentenário (253) Dia do Marinheiro (254) Dia do Marinheiro no Espaço Cultural da Marinha (257) Dia do Servidor Público (258) Esquadra – 191 anos (259) Plano Diretor da Marinha completa 50 anos (260) Rede de Bibliotecas Integradas da Marinha completa dez anos (260) CRIAÇÃO Criação da Coordenadoria do Navio-Aeródromo (261) HOMENAGEM Petrobras recebe homenagem por contribuição à Indústria Naval (262) INAUGURAÇÃO Comandante da Marinha reinaugura instalações do HNSa (262) NOTICIÁRIO MARÍTIMO

LANÇAMENTO AO MAR Transpetro lança Navio Gaseiro Oscar Niemeyer (263) POSSE Assunção de cargos por almirantes (263) PRÊMIO BNVC recebe prêmio de excelência (263) Pesquisador do IEAPM recebe Prêmio Petrobras de Tecnologia (264) Portonave vence prêmio internacional (265) PROGRAMA Programa Suboficial-Mor na FragataIndependência (265) PROMOÇÃO Promoção de almirante (266) SOLENIDADE DepCMRJ recebe Chata Martim Pescador (266) TRANSFERÊNCIA DE SETOR Transferência para o Setor Operativo e chegada à sede do NPaOc Araguari (267) VISITAÇÃO CON visita o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais no Haiti (269)

APOIO CONSTRUÇÃO NAVAL AMRJ entrega a quarta EDVM (269) Duas lanchas entregues ao Exército (270) Entrega da EDVM Cotunduba (271) Produto ZF será empregado em barcos-escola na Amazônia (271) Revitalização e modernização do AMRJ (272) UFSC é a primeira universidade brasileira a construir veleiro para pesquisa oceanográfica (272) ESTAÇÃO NAVAL MB recebe parte de terreno da antiga Siderama em Manaus (273)

ÁREAS ANTÁRTICA NPo Almirante Maximiano e NApOc Ary Rongel suspendem para a Antártica (274)

ATIVIDADES MARINHEIRAS BUSCA E SALVAMENTO Fragata Rademaker resgata tripulantes do pesqueiro Força Maior VI (275) HU-4 realiza missão conjunta para busca de avião acidentado (276) NPa Gravataí socorre tripulante de pesqueiro (276) NPa Macau presta socorro no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (277) HIDROGRAFIA NHo Garnier Sampaio e AvHoFlu Rio Xingu realizam levantamento hidrográfico na Amazônia (277) PRECAUÇÃO DE SEGURANÇA MB apoia Exame Nacional do Ensino Médio (278) SINALIZAÇÃO NÁUTICA MB e DNIT assinam Termo de Cooperação do Rio Amazonas (278)

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) PESQUISA NHo Cruzeiro do Sul realiza Comissão PNBoia III-Protrindade V (279)

CONGRESSOS CONFERÊNCIA I Conferência Interamericana de Logística (279) IV Conferência Nacional do Meio Ambiente (280) Conferência Estadual sobre Lixo Marinho em Paranaguá (281) CONGRESSO X Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional (282) FEIRA Infraportos 2013 (282) São Paulo Boat Show 2013 (283) SEMINÁRIO “Manifestações Populares: A questão do uso gradual da força” (284) II Seminário de História da Guerra da Tríplice Aliança (285) Seminário “O futuro amazônico: hidrovias 2014 a 2031” (285) SIMPÓSIO II Simpósio de Guerra de Minas (286) X Omarsat reforça desenvolvimento da Oceanografia (287) Simpósio de Segurança do Navegador Amador (288)

EDUCAÇÃO CURSO Capitania Fluvial de Tabatinga forma aquaviários (288) Curso Especial de Negociação de Contratos Internacionais e Acordos de Compensação (289) Curso Expedito de Gestão de Bens Culturais (289) Delegacia Fluvial de Cuiabá promove curso para aquaviários em Santo Antonio de Leveger (290) ESCOLA DE GUERRA NAVAL Capes homologa Programa de Pós-Graduação da EGN (290) ESPORTE Resultados esportivos (291) FORMAÇÃO SEP assina acordo com Porto de Antuérpia (291)

FORÇAS ARMADAS EXERCÍCIO MILITAR Exercício Emergência Angra 2013 (292) MARINHA DE CABO VERDE MB fornece uniformes para a Guarda Costeira de Cabo Verde (294) OPERAÇÃO Formosa 2013 - O maior exercício da FFE (294) MB participa intensamente da Operação Laçador de 2013 (295) OPERAÇÃO RIBEIRINHA Estágio de Qualificação Técnica Especial em Operações na Amazônia (297)

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PATRULHA NAVAL Navios-Patrulha realizam ação de presença no Lago Grande do Curuai (297) VEÍCULO Novos veículos para o Corpo de Fuzileiros Navais (298)

MEIO AMBIENTE POLUIÇÃO Plano Nacional de Contingência (299)

PODER MARÍTIMO AGÊNCIA Agência Fluvial de Parintins realiza curso de aquaviário em Nhamundá (299) APRESAMENTO NPa Macau apoia apresamento de embarcação irregular (300) POLÍCIA MARÍTIMA MB e Prefeitura de Bertioga assinam convênio para fiscalização de embarcações (300) PIRATARIA Pirataria por gangues fortemente armadas cresce na costa da Nigéria (301) PORTO BTP inaugura seu terminal em Santos (302) TRÁFEGO MARÍTIMO Neurotech firma parceria com GSTS para monitoramento marítimo (303) TRANSPORTE CPAOR acompanha testes para comboio de grãos (304) Fiesc: cabotagem cresce 20% ao ano (305) Novos catamarã e biblioteca na travessia Santos/Guarujá (305)

PSICOSSOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL Guia Rápido da Pensão Militar (306) N-SAIPM, Voluntárias Cisne Branco e Senac firmam parceria em Manaus (307) COMUNICAÇÃO SOCIAL 8o DN recebe o Programa Autoridade Mirim (307) MB lança aplicativo para smartphones e tablets (308) LANÇAMENTO DE LIVRO Atlântico – a história de um oceano (309) Projeto Albatroz lança livro e vídeo sobre aves marinhas (310) LITERATURA Conhecendo a história pela Marinha (310)

VALORES PATRONO Patronos na Marinha do Brasil (318) PUBLICIDADE Frase institucional para a Marinha do Brasil (319)

VIAGENS VIAGEM Adidos navais estrangeiros realizam viagem de observação ao Nordeste (320)

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CENTRO DE INSTRUÇÃO E ADESTRAMENTO ALMIRANTE NEWTON BRAGA É ATIVADO

Foi realizada, em 24 de setembro últi- civis, nas áreas de conhecimento que lhe mo, a Cerimônia de Ativação do Centro são afetas, de forma a atender aos anseios de Instrução e Adestramento Almirante da Marinha do Brasil. Em decorrência, Newton Braga (CIANB), no complexo da por ocasião do período da reestruturação Base de Abastecimento da Marinha no Rio organizacional do Setor SGM, nasceu, em de Janeiro (BAMRJ), presidida pelo Chefe 2010, o Centro de Adestramento Almirante do Estado-Maior da Armada, Almirante Newton Braga. de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes. O O nome atribuído à OM foi uma justa CIANB foi criado pela Portaria no 367, homenagem ao Almirante Newton Braga de 9 de julho de 2013, do Comandante da de Faria, ilustre chefe naval, que ingressou Marinha, que determinou a expansão das na Escola Naval em 1940 e foi promovi- atividades do até então Centro do ao posto de almirante de de Adestramento Almirante esquadra em 1979. Ao longo Newton Braga (CAANB) e a da sua brilhante carreira, se alteração de sua denominação. destacou por ter participado Participaram da cerimônia em Operações de Guerra o secretário-geral da Marinha, no Atlântico Sul, durante a Almirante de Esquadra Airton Segunda Guerra Mundial, e Teixeira Pinho Filho; o Almi- pela atuação como secretário- rante de Esquadra (RM1) João geral da Marinha, cargo que Afonso Prado Maia de Faria; desempenhou de maneira ino- o diretor de Administração da vadora em importantes áreas Marinha, Contra-Almirante inerentes aos setores de apoio (IM) Hugo Cavalcante No- logístico e gestão administra- gueira; e o diretor do CIANB, tiva. Suas qualidades pessoais Capitão de Mar e Guerra (IM) e profissionais marcantes fo- Marco Antonio Castro Vieira. ram a firme liderança, a vasta O Almirante Airton expediu a seguinte cultura, que aplicava em suas tarefas, mas Ordem do Dia alusiva ao assunto: que, em função do seu temperamento, não “A gestão eficaz dos recursos públicos costumava ostentar, e o carinho no trato e a condução eficiente da logística são dos pares e subordinados, além de inegável tarefas nobres, desafiadoras e em constan- amor à Marinha. te evolução. A Intendência da Marinha, A inspiração no valoroso Almirante importante parcela do nosso Poder Naval, Newton Braga contagiou a jovem OM. procura executar tais atribuições com a Nos primeiros três anos de existência, máxima qualidade e competência. Assim, foram ministrados cursos e adestramen- na permanente busca pelo aprimoramento, tos, presenciais e a distância, expeditos a Secretaria-Geral da Marinha (SGM) iden- e especiais, a mais de 8 mil alunos. De tificou a necessidade de concentrar, em uma maneira silenciosa, incansável e eficaz, o mesma organização, toda a formação e ins- CAANB comprovou, de maneira inequívo- trução do seu pessoal, militares e servidores ca, o acerto da Alta Administração Naval.

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Salas adequadas, planejamento integrado tação. Ao Capitão de Mar e Guerra (IM) e organização contribuíram para motivar Castro Vieira, a quem coube a honra de ser ainda mais instrutores e alunos, além de o último titular do CAANB e o primeiro do proporcionar às Diretorias Especializadas CIANB, agradeço a dedicação e o pessoal ampliarem a divulgação e a participação empenho na preparação das instalações, vi- nos adestramentos de seus interesses. Desse sando ao acolhimento dos cursos de carreira modo, os bons resultados alcançados trou- já a partir de 2014. Juntamente com a sua xeram à tona um antigo anseio do Corpo de tripulação, fica o compromisso de seguir o Intendentes da Marinha: voltar a gerenciar exemplo do seu patrono e prestar sempre os cursos de carreira específicos do Corpo. ‘o melhor serviço à Marinha’. Ao comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, cumpre-me louvar a decisão de criar este estabelecimento de ensino e ampliar suas atribuições, de forma a capacitar adequada- mente os homens e mulheres que conduzi- rão a Intendência da Marinha, contribuindo para o cumprimento da missão da Força. Gostaria também de enaltecer o empenho dos meus antecessores, em especial dos Almirantes de Esquadra Marcos Martins Cerimônia de Ativação do CIANB Torres, João Afonso Prado Maia de Faria e Eduardo Monteiro Lopes e do Vice- Com a confiança do Almirantado con- Almirante (IM) Indalecio Castilho Villa quistada, o reconhecimento foi formalizado Alvarez, que contribuíram sobremaneira por meio da Portaria no 367, de 9 de julho de para tornar o CIANB uma realidade. 2013, pela qual o comandante da Marinha Ao Centro de Instrução e Adestramento determinou a expansão das atividades do Almirante Newton Braga e a todos que por Centro de Adestramento e a alteração da aqui passarem, seja como instrutores, alu- sua denominação para Centro de Instrução nos ou seus administradores, auguro-lhes os e Adestramento Almirante Newton Braga. sinceros votos de pleno sucesso. A Marinha Com isso, significativa parcela da capaci- do Brasil deposita total confiança no êxito tação profissional dos oficiais intendentes da nova singradura que ora se inicia. passará a ser ministrada nesta OM, na qual a Intendência poderá acompanhar e adequar a evolução das disciplinas afetas, conforme as melhores e mais modernas técnicas e co- nhecimentos desenvolvidos nas instituições de ensino do País. Nesse momento, aproveito a oportuni- dade para parabenizar o primeiro diretor do CAANB, o Comandante Rogério Cirilo, um dos maiores entusiastas da existência deste Centro, cujas crença e persistência foram fundamentais para a sua implan- Projeção do novo prédio do CIANB

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Bons ventos e mares tranquilos!” do Centro ficará pronta, com o término da Para os anos de 2014 e 2015, já está reforma do prédio do antigo Depósito de programada a realização de cursos de Fardamento da Marinha no Rio de Janeiro, aperfeiçoamento do Corpo de Intendentes que será iniciada em 2014. no CIANB. Em 2016, mais uma instalação (Fontes: SGM e www.mar.mil.br)

BATIMENTO DA QUILHA DO NPqHo VITAL DE OLIVEIRA

Foi realizada em 18 de outubro último, nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação; no Estaleiro Guangzhou Hantong Shipbuil- a Petrobras; e a Vale S/A. ding and Shipping Company, em Xinhui O Vital de Oliveira será empregado, (República Popular da China) a Cerimônia prioritariamente, no monitoramento e na de Batimento da Quilha do Navio de Pes- caracterização física, química, biológica, quisa Hidroceanográfico (NPqHo) Vital geológica e ambiental de áreas marítimas, de Oliveira. O evento foi marcado pelo para a futura exploração de recursos na- ato simbólico de “martelar” a quilha, que turais. O navio tem como características representa o “nascimento” da embarcação. básicas de projeto: comprimento total de 78 metros; boca de 20 m; calado de 4,8 m; deslocamento de 3.500 toneladas; velocidade máxima mantida de 12 nós; velocidade econômica de cruzeiro de 10 nós e autonomia de 60 dias. (Fontes: www.mar.mil.br e Bono no 758, de 18/10/2013)

Batimento da Quilha do NPqHo Vital de Oliveira

A obtenção do NPqHo decorre da ne- cessidade de o Brasil implementar Planos Setoriais que visem obter o conhecimento científico e as potencialidades existentes na “Amazônia Azul”. Sua aquisição é fruto de parceria entre a Marinha do Brasil; o Mi- Silhueta do navio

ENTREGA DE RESIDÊNCIAS EM PORTO VELHO

A Marinha do Brasil entregou, em 23 Fluvial de Porto Velho (DelPVelho), no de agosto último, a Vila Naval Almirante Estado de Rondônia. Foram entregues três Tamandaré para os militares da Delegacia casas para oficiais e 18 apartamentos para

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praças, construídos pela empresa Mamoré Construções e Meio Ambiente Ltda, em um terreno de 2.510m2 doado pela Força Aérea Brasileira. O empreendimento foi executado com recursos do Projeto Calha Norte e pro- porcionará melhor estrutura de moradia e conforto aos militares da DelPVelho. (Fonte: www.mar.mil.br)

90o ANIVERSÁRIO DA DIRETORIA DO PESSOAL MILITAR DA MARINHA

A Diretoria do Pessoal Militar da de junho de 1968. Esse dispositivo legal Marinha (DPMM) comemorou, em 5 de inseriu a DPMM no Setor de Apoio, su- dezembro último, 90 anos de existência. bordinada à Diretoria-Geral do Pessoal da Na ocasião, o diretor daquela Organização Marinha (DGPM), bem como estabeleceu Militar (OM), Vice Almirante Afrânio de a sua finalidade: planejar, dirigir, coordenar Paiva Moreira Junior, expediu a seguinte e controlar as atividades relacionadas com Ordem do Dia. o pessoal militar da Marinha. “Hoje, quinto dia do mês de dezembro Desta forma, ao longo destes 90 anos, do ano da graça de dois mil e treze, co- a DPMM vem aprimorando de forma memoramos o nonagésimo aniversário da continuada os diversos processos relativos nossa querida Diretoria do Pessoal Militar ao Pessoal Militar, buscando manter-se da Marinha. atualizada nas técnicas gerenciais pratica- Sua criação foi resultado da reorga- das nesta complexa e sensível área que é a nização administrativa introduzida pelo gestão de recursos humanos. governo do Presidente Arthur Bernardes no Neste contexto, esta Diretoria Especia- então Ministério da Marinha, cujas altera- lizada tem conduzido o projeto-piloto para ções tiveram suas bases estabelecidas pelo a implementação da Gestão de Pessoas por Decreto no 16.237, de 5 de dezembro de Competência (GPC), inicialmente no âmbi- 1923. Inicialmente denominada Diretoria to do Comando da Força de Submarinos e do Pessoal da Marinha, substituiu a Ins- que, posteriormente, será estendido a toda pectoria de Marinha, ficando diretamente instituição, a critério da Alta Administração subordinada ao Ministro da Marinha, como Naval. Este projeto tem como propósito a órgão de administração e consulta e tendo a otimização do emprego de seu pessoal nas seu cargo todas as questões de pessoal que diversas atividades que lhe são afetas. competiam às várias Inspetorias, ao Corpo No que diz respeito à nova sistemática de Marinheiros Nacionais, ao Batalhão de avaliação de oficiais (Modfao), ela teve Naval e à Justiça Militar. a sua fase experimental encerrada em 30 A denominação atual é decorrente da de setembro, com resultados satisfató- Estrutura Básica do Ministério da Marinha, rios, levando a DGPM a determinar a sua estabelecida por meio do Decreto no 62.860, implementação de forma definitiva e a

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divulgação para toda a Marinha do Brasil tificação da Marinha, pelo belo trabalho (MB). Assim, a Modfao já está em vigor e que vêm realizando, permitindo que a MB em dezembro ocorrerá a última avaliação assuma um papel de destaque no serviço pela atual FAO e sua posterior desativação. público federal, em suas áreas de atuação. Quanto aos sistemas corporativos que Nesta oportunidade em que celebramos estão sendo desenvolvidos pelo nosso pes- mais um aniversário, não poderíamos dei- soal e que se encontram em fase final, po- xar de registrar o nosso preito de gratidão demos citar a Declaração de Dependentes e reconhecimento às tripulações passadas Eletrônica, que reduzirá significativamente e aos insignes chefes navais, nossos ex- o tempo de tramitação deste documento, diretores, pelos exemplos e pelo nobre e o Módulo de Geração automatizada das legado aqui deixado. folhas da Caderneta-Registro (SisCR), Finalmente, é com justificado orgulho que proporcionará maior confiabilidade e satisfação que expresso o meu respeito nos dados de carreira, transcritos para a e minha admiração à minha tripulação, caderneta-registro dos militares. militares e servidores civis, homens e mu- Releva mencionar, ainda, outra ativida- lheres, pela dedicação e pelo entusiasmo e de de suma importância para a nossa Força, esmero na desafiante, porém gratificante, que se relaciona à administração dos assun- tarefa de bem administrar o patrimônio tos referentes às obrigações, aos deveres, que nos é mais caro e concito-os, mais aos direitos e às prerrogativas dos militares. uma vez, a manter o elevado senso de Nesse segmento, a Diretoria do Pessoal comprometimento institucional e, honrando possui uma estrutura jurídica competente nossos antecessores, dar prosseguimento ao e pronta a assessorar as Organizações trabalho de excelência que é característico Militares em suas necessidades diversas. desta Diretoria. Não por último, apresento, com grande Parabéns DPMM! satisfação, os meus agradecimentos às Viva a Marinha!” OM subordinadas, Serviço de Inativos e (Fonte: Bono Especial no 872, de Pensionistas da Marinha e Serviço de Iden- 5/12/2013)

Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro – 250 Anos

O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro nome de Arsenal do Rio de Janeiro e tinha (AMRJ) comemorou, em 10 de dezembro como missão a manutenção dos navios da passado, 250 anos de sua fundação. O seu Esquadra Real Portuguesa, responsáveis diretor, Contra-Almirante (EN) Mario pelo controle e a defesa da nova capital da Ferreira Botelho, expediu a ordem do dia colônia, transferida de Salvador para o Rio a seguir parcialmente transcrita: de Janeiro. Já no ano seguinte, em 1764, “O Arsenal de Marinha do Rio de o Arsenal enfrenta o seu primeiro grande Janeiro foi fundado em 1763, pelo então desafio, a construção da Nau São Sebas- Vice-Rei D. Antônio Álvares da Cunha, tião, um projeto ambicioso para a época, o Conde da Cunha, às margens da Baía contando com 70 metros de comprimento, de Guanabara, no sopé do Mosteiro de 1.400 toneladas e 64 canhões. Apesar do São Bento, área onde hoje se encontra o sucesso obtido com o projeto, a constru- Comando do 1o Distrito Naval, recebeu o ção naval entra em declínio e o Arsenal

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passa por um longo período sem construir para a navegação a vapor, fazendo-lhe navios, dedicando-se, exclusivamente, aos sentir de imediato as consequências dessa trabalhos de manutenção. imensa e profunda defasagem tecnológica. Com a transferência da Família Real Porém, a situação é amenizada com a con- Portuguesa para o Rio de Janeiro, em tratação de técnicos estrangeiros e com o 1808, a cidade se tornou não só a capital envio de brasileiros para se especializarem do Império Português, como também a na Europa, como Napoleão Level, Carlos principal base de sua esquadra. A partir de Braconnot, Trajano Augusto de Carvalho então, o Arsenal recebe uma nova desig- e João Cândido Brasil, entre outros. As nação, passando a se chamar Arsenal Real instalações industriais do Arsenal passaram da Marinha. Inicia-se, então, seu primeiro por um processo de modernização, com a período de ampliação, com a construção construção das oficinas de fundição, forja de novas oficinas e a inclusão de pessoal e máquinas. O conjunto dessas ações pos- especializado, vindo com a Corte Por- sibilitou um grande salto tecnológico dando tuguesa. Ainda assim, nenhum projeto vida ao Arsenal e à arte da construção naval de vulto na área da construção naval foi brasileira, permitindo que a partir de 1843 desenvolvido. Essa situação só se altera fosse iniciada a construção do primeiro com a Proclamação da Independência do navio com máquinas a vapor, a Barca Brasil, em 1822, quando o Arsenal passa a Thetis. Após quase duas décadas da entrega receber investimentos para a manutenção desse navio, consolida-se a necessidade da dos meios existentes e a construção de construção de outro dique seco na Ilha, e novas embarcações que seriam usadas no assim, a partir de 1861, foram iniciadas as fortalecimento da recém-criada Esquadra obras do Dique Santa Cruz. brasileira, que necessitava ser atuante e Com a deflagração da Guerra do Para- operativa, para manter a unidade nacional. guai em 1864, fez-se necessário incremen- A partir daí, o Arsenal passa a se chamar tar e fortalecer os trabalhos desenvolvidos Arsenal Imperial da Marinha e empreende no Arsenal, principalmente na área da a construção da Corveta Campista, em construção naval, passando este a trabalhar 1824. As crescentes demandas pós-inde- diuturnamente, na manutenção e na edifica- pendência criaram a necessidade de novos ção de nossos navios de guerra, que eram espaços e propiciaram o início da expan- entregues em curtos períodos de tempo, são do Arsenal, para a Ilha das Cobras, como o Encouraçado Tamandaré, que teve projeto desenvolvido durante os 125 anos seu processo construtivo terminado em seguintes, encerrando-se em 1948, com apenas cinco meses. a transferência total de suas instalações Com o fim da guerra, cessaram os industriais. No decorrer desse processo, recursos destinados à construção naval, em 1824, foi iniciada a construção do conduzindo o Arsenal a mais uma fase primeiro dique seco na Ilha das Cobras, de grandes dificuldades que perdurou até batizado inicialmente de Dique Imperial, o final do Império, atingindo seu ápice atualmente, Dique Almirante Jardim. nos primeiros anos após a Proclamação Ainda no decorrer desse período de da República. Mesmo assim, em 1890, expansão, o Arsenal é atingido pelas foi lançado ao mar o primeiro navio de inovações tecnológicas decorrentes da combate totalmente brasileiro, o Cruzador Revolução Industrial, principalmente no Tamandaré, com 4.500 toneladas, dez ca- que tange à passagem da navegação a vela nhões de 150 mm, dois de 120 mm e dez

250 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO outras peças menores, oito metralhadoras e do Rio de Janeiro passa a funcionar inte- cinco tubos lança-torpedos. É considerado gralmente na Ilha das Cobras. o maior navio de guerra já construído no As novas instalações do AMRJ foram Brasil e até o ano de 1961 o maior navio determinantes para a retomada da constru- nacional. Seu nome de batismo foi esco- ção de navios de guerra no Brasil, tendo lhido em homenagem ao Vice-Almirante como marco a construção do Monitor Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Fluvial Parnaíba, projetado pela Marinha Tamandaré, que ocupou o cargo de diretor sob a liderança do Almirante Júlio Régis do Arsenal no período de 24 de agosto de Bittencourt, cuja Cerimônia de Batimento 1854 a 25 de maio de 1857. de Quilha ocorreu em 1936, prestigiada pe- A passagem do século XIX para o século las ilustres presenças do Presidente Getúlio XX não encontra o Arsenal em condições Vargas e de sua Primeira-Dama Darcy Var- melhores do que as de uma década antes, gas, madrinha da embarcação. Cabe des- suas instalações industriais remanescentes tacar que o Parnaíba, atualmente com 77 do século anterior tornavam-se obsoletas e anos de idade, continua no serviço ativo da degradadas, bem como havia uma sensível Marinha, sendo nosso mais antigo navio de perda de capacitação técnica em função da guerra em operação, demonstrando assim, descontinuidade dos projetos de construção de forma inequívoca, a capacitação técnica naval e da aquisição de embarcações pron- e a qualidade dos trabalhos realizados pelo tas no exterior. AMRJ. Em seguida foram construídos A partir da década de 1920, foram dis- os navios-mineiros varredores Classe C, ponibilizados recursos para a implementa- Carioca, Cananeia, Camocim, Cabedelo, ção da construção do Arsenal de Marinha Caravelas e Camaquã, entregues ao Setor da Ilha das Cobras (Amic), sendo cons- Operativo em 1938 e 1939. truídos mais de 2.000 metros de cais em A entrada do Brasil na Segunda Guerra torno da ilha, o “Molhe”, que ligou a Ilha Mundial, em 1942, fez com que o Arse- das Cobras à Ilha Fiscal, prédios adminis- nal vivesse um novo período de apogeu, trativos, imensos galpões destinados às consolidando sua hegemonia na área da oficinas de construção naval, carpintaria, construção de navios de guerra, com o máquinas, forja, fundição e eletricidade, desenvolvimento de projetos ousados e as carreiras de Construção Naval, a Ponte inovadores, como os contratorpedeiros Arnaldo Luz e a aquisição, no exterior, Classe M, Marcílio Dias, Mariz e Barros e de modernos guindastes elétricos. Todos Greenhalgh, entregues entre 1940 e 1941. componentes da atual infraestrutura de Cabe ressaltar que a construção desses nosso Arsenal. navios representou um grande desafio, pois Aliada às facilidades industriais mo- seus cascos foram edificados com a utili- dernas e atualizadas à época, a conclusão zação de solda elétrica, em lugar dos tra- das obras de nosso terceiro dique seco, dicionais rebites. Outro importante projeto batizado de Almirante Régis Bittencourt, desenvolvido foi o dos contratorpedeiros transformou o Arsenal de Marinha no maior Classe A, Amazonas, Araguaia, Araguari, complexo industrial da América Latina, Ajuricaba, Acre e Apa, entre 1943 e 1946, título somente suplantado em 1946, quan- ressaltando-se que parte desses navios do da criação da Companhia Siderúrgica atuaram ostensivamente durante a guerra, Nacional. A partir de 1948, já com sua cumprindo inúmeras missões de patrulha- denominação atual, o Arsenal de Marinha mento e escolta de comboios.

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Com o fim da Segunda Guerra, tal destinado à exportação. Em seguida vie- como ocorreu após a Guerra do Paraguai, ram o Navio-Escola Brasil e as corvetas os recursos destinados à construção naval classe Inhaúma e Barroso, todos oriundos foram, novamente, reduzidos. Aliada a esse de projetos nacionais desenvolvidos pela cenário adverso, a compra de navios usados Diretoria de Engenharia Naval. da Marinha norte-americana conduziu o De forma concomitante, inicia-se o pro- Arsenal de Marinha a um novo período de jeto mais desafiador já enfrentado por esta dificuldades contemporizado pela decisão organização: a construção de submarinos de continuar construindo embarcações convencionais. Foi selecionado o projeto menores, tais como batelões, rebocadores, do submarino IKL-209-1400, de origem barcas de água e de óleo, entre outras. alemã. Para dar início a esse programa, a No transcorrer das três décadas que Marinha enviou engenheiros e técnicos do se seguiram, enfatiza-se a conclusão dos Arsenal para a Alemanha com a finalidade seguintes projetos: navios-hidrográficos de acompanhar a construção do Submarino Argus, Orion e Taurus, em 1957 e 1958, Tupi, de forma a absorver conhecimento construídos em seções e com superestrutura técnico e iniciar o processo de transferência de alumínio; entrega da barca Boa Viagem, de tecnologia, permitindo assim, a cons- em 1962, projetada pelo próprio Arsenal e trução dos submarinos Tamoio, Timbira e destinada ao transporte de veículos entre Tapajó, e, mais recentemente, do Subma- as cidades do Rio de Janeiro e Niterói; rino Tikuna, entregue ao setor operativo da navios-patrulha costeira, Piratini, Pirajá, Marinha em 2006. Pampeiro, Parati, Penedo e Poti, em 1970 É relevante frisar a importância da Esco- e 1971, e os navios-patrulha fluviaisPedro la Técnica do Arsenal de Marinha do Rio de Teixeira e Raposo Tavares, em 1972. Es- Janeiro (Etam) em formação e capacitação ses projetos fizeram com que o Arsenal se de nossa mão de obra, bem como na preser- mantivesse ativo, preservando a tecnologia vação e no desenvolvimento da tecnologia de construção naval adquirida. aplicada à construção e ao reparo naval A partir do final da década de 1970 e ao longo dos séculos XX e XXI. Criada início da década de 1980, a construção das em 1923, a Etam teve suas atividades fragatas Independência e União propor- interrompidas a partir de 1992, tendo sido cionou um grande salto tecnológico, com reativada em 2002 em decorrência de um a modernização das oficinas, o aprimora- convênio assinado com o Ministério da mento gerencial e a aplicação de novas Educação. Atualmente, nossa Escola forma tecnologias de construção naval. técnicos em Estruturas Navais, Mecânica, No decorrer da década de 1980, parale- Eletricidade e Eletrotécnica, contribuindo lamente, foram entregues diversas embar- para a qualificação de pessoal voltado para cações de menor porte, tais como: as barcas a Indústria Naval. de passageiro Boa Viagem e Urca em 1981, As atuais restrições orçamentárias ainda em operação entre as cidades do Rio têm colocado à prova mais uma vez de Janeiro e Niterói; o Navio-Balizador esta centenária organização, fazendo-a Comandante Varella, em 1982; e os navios buscar soluções alternativas, adaptadas de assistência hospitalar Oswaldo Cruz e à realidade do cenário atual, de forma Carlos Chagas, em 1984. No ano seguin- a preservar as competências existentes te, o Arsenal construiu o Navio-Patrulha nesta casa. Nesse contexto, inúmeros Itaipu, primeiro navio de guerra brasileiro desafios têm sido superados pelo Arsenal,

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ao longo dos últimos anos, nas áreas de de uma ponte rolante com capacidade de construção e reparo naval, dentre eles até 20 toneladas; as obras de instalação destaco: a primeira docagem do Navio do Anel Hidrossanitário do Complexo Aeródromo São Paulo; a recuperação Naval da Ilha das Cobras, que permitirá das Caixas de Engrenagens Redutoras o descarte do esgoto sanitário de acordo da Fragata Constituição; a realização do com a legislação ambiental vigente; a re- primeiro Período de Manutenção Geral cuperação da Cantaria do Dique Almirante (PMG) de um submarino no interior de Régis; a modernização do Rancho Geral uma oficina, já realizado no hemisfério do AMRJ; a recuperação do sistema de sul, com as operações de load-in e load- ar comprimido com o reparo das redes out dos submarinos Timbira e Tapajó; e dos compressores; a modernização das a manobra de encalhe e desencalhe do bancadas de testes de motores diesel e de Dique Flutuante Almirante Schieck, na equipamentos pneumáticos, entre outras Carreira II do AMRJ, para a realização de obras de recuperação. um grande reparo estrutural; a realização Ao completarmos duzentos e cinquenta do segundo PMG, com corte de casco, do anos de existência, deixo registrada a capa- Submarino Tupi, ora em andamento; a cidade desta Instituição em vencer desafios prontificação do Período de Manutenção e preservar o conhecimento adquirido, dos navios polares Almirante Maximiano construindo e reparando meios navais. e Ary Rongel; a prontificação das fragatas Portanto, agradeço e reverencio a de- Liberal e Constituição para as operações dicação, o empenho e o trabalho de todos Unifil no Líbano; e a construção de cinco que ajudaram a escrever a história desta Embarcações de Desembarque de Viatu- Organização Militar. Militares da ativa e ras e Materiais (EDVM), utilizando uma da reserva, servidores civis, empregados nova metodologia de projeto integrado da Emgepron, profissionais da Femar e ao estaleiro com o emprego do software das empresas subcontratadas, exorto-os Foran, entre muitos outros feitos aqui a continuar o trabalho desenvolvido por realizados. nossos antecessores. Meu reconhecimento No que tange à sua infraestrutura, a vocês, que representam o principal pilar destaca-se a conclusão da modernização desta Organização e que fazem parte deste do Dique Santa Cruz, que recebeu uma momento, no qual comemoramos nossos cobertura retrátil para permitir a reali- dois séculos e meio de existência...”. zação de serviços, independentemente (Fontes: Bono no 883 e Ordem do Dia das condições climáticas, e a instalação no 6, de 10/12/2013)

CIAMA COMEMORA SEU CINQUENTENÁRIO

O Centro de Instrução e Adestramento Fernandes dos Santos, acompanhado pelo Almirante Áttila Monteiro Aché (Ciama), diretor de Ensino da Marinha, Vice-Almi- localizado em Niterói (RJ), completou, em rante Leonardo Puntel, e pelo comandante 23 de outubro último, 50 anos de existência. da Força de Submarinos, Contra-Almirante O evento foi celebrado com cerimônia mili- Marcos Sampaio Olsen. tar presidida pelo comandante em chefe da Na ocasião, o comandante do Ciama, Esquadra, Vice-Almirante Sergio Roberto Capitão de Mar e Guerra Thadeu Marcos

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Orosco Coelho Lobo, ressaltou a im- portância do Centro no âmbito da Força de Submarinos: “O Ciama compreende todas as atividades da Força, formando, adestrando, inspecionando, fomentando pesquisa e discussão acadêmica e pro- pondo doutrina”. Durante a cerimônia, foram entregues prêmios aos instrutores-padrão, com o propósito de distinguir aqueles que, durante o ano letivo, se destacaram no desempenho Autoridades durante a cerimônia alusiva ao da atividade de ensino. aniversário de 50 anos do Ciama (Fonte: www.mar.mil.br)

DIA DO MARINHEIRO

Foi comemorado, em 13 de dezembro uma Força Naval cada vez mais moderna e último, o Dia do Marinheiro. A presidenta bem preparada, com capacidade operativa da República, Dilma Rousseff, e o Coman- compatível com a importância que nosso dante da Marinha, Almirante de Esquadra país tem hoje no cenário internacional. Julio Soares de Moura Neto, assim se O Programa de Desenvolvimento de pronunciaram sobre a data: Submarinos alcançou, em 2013, notáveis marcos, como a inauguração da Unidade MENSAGEM DA PRESIDENTA DA de Fabricação de Estruturas Metálicas, REPÚBLICA em Itaguaí, no Rio de Janeiro, que já está fabricando as estruturas do primeiro “Nesta data em que se comemora o Dia submarino da nova frota convencional do Marinheiro, rendemos também uma brasileira; a chegada, da França, das seções justa homenagem ao Patrono da Marinha, 3 e 4 desse submarino; e o início da cons- Almirante Joaquim Marques Lisboa, o trução do segundo deles na Nuclep. Todo Marquês de Tamandaré, exemplo de de- esse avanço na construção dos submarinos terminação, perseverança e amor ao País. convencionais nos habilita cada vez mais à Espelhando-se em Tamandaré, a Mari- consecução do nosso projeto do submarino nha vem cumprindo sua missão constitu- com propulsão nuclear. cional com profissionalismo e dedicação. Em 2013, entraram em operação os Acompanhei, ao longo deste ano, os exce- navios-patrulha oceânicos Apa e Araguari, lentes resultados alcançados por essa Força de 1.800 toneladas, que se somam ao navio composta por abnegados profissionais, que Amazonas, transferido em 2012. Demos se destacam diariamente no desempenho de também continuidade à construção de mais suas atribuições. cinco navios-patrulha de 500 toneladas, de O Programa Nuclear da Marinha é um um total de 27 planejados. Fortalecemos, exemplo dessa dedicação. Ele tem im- com isso, a nossa capacidade de vigilância portância estratégica para a Marinha e o e de proteção das nossas extensas águas ju- Brasil, pois sua execução contribuirá para risdicionais, a chamada ‘Amazônia Azul’.

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Cabe ressaltar a participação da nossa Temos dado ao mundo fortes demons- Marinha na Missão de Estabilização das trações de nossas potencialidades. Somos Nações Unidas no Haiti (Minustah) e no cada vez mais respeitados pela comunidade Comando da Força-Tarefa Marítima da internacional e vocês, marinheiros, fuzi- Força Interina das Nações Unidas no Líba- leiros navais e servidores civis, homens e no (Unifil), enaltecendo o importante papel mulheres, da ativa e da reserva, são parte desempenhado pelo País como garantidor importante dessa história. da paz mundial. Recebam, neste dia 13 de dezembro, o A decisiva participação da Marinha agradecimento, a admiração e o respeito da no cotidiano de brasileiros e brasileiras presidenta da República e de toda a Nação.” também é digna de nota. Em especial, a assistência às populações ribeirinhas do ORDEM DO DIA DO COMANDANTE Norte e do Centro-Oeste, por meio dos DA MARINHA navios de assistência hospitalar, carinhosa- “Um verdadeiro mente chamados pela líder é reconhecido população ribeirinha quando a sua simples de ‘Navios da Espe- presença serve de es- rança’, que realizam tímulo para os seus atendimentos médicos subordinados sobre- e odontológicos às pujarem os desafios e comunidades carentes se superarem na busca em regiões de difícil do objetivo comum acesso. e, também, quando o Registro, ainda, legado de seus valores com admiração, no transforma-se em um âmbito do Programa modelo para as gera- Antártico Brasileiro, o ções que o sucederem. esforço empreendido E é essa percepção para a reconstrução que permite identificar da Estação Antártica o Almirante Joaquim Comandante Ferraz, Marques Lisboa, Mar- iniciada neste ano de quês de Tamandaré, 2013 e que prossegui- nosso Patrono e herói rá no ano que vem. O da Pátria, como um Brasil recuperará, em breve, sua estação de exemplo a ser seguido, cabendo-nos pre- pesquisa na Antártida. servar permanentemente a sua memória e Estamos construindo uma Força Na- rememorar os seus feitos, anualmente, por val moderna, condizente com a estatura ocasião de seu aniversário de nascimento, político-estratégica do Brasil no concerto 13 de dezembro, data que foi instituída, das nações e consoante com a ampliação pelo Aviso Ministerial de 4 de setembro de das nossas reservas marítimas de petróleo 1925, como o Dia do Marinheiro. e gás e o início da exploração da camada do Tamandaré viveu de 1807 a 1897, um pré-sal, que tantos benefícios sociais trará período importante na formação do País, para o nosso povo. pontilhado de crises políticas e revolu-

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ções que poderiam ter fracionado o nosso ços marítimos, devendo ser enfatizado território. Foi um dos personagens que que em breve estaremos explorando a participaram, como protagonista, de muitos província do pré-sal, cuja significância episódios marcantes da história do Brasil, pôde ser comprovada pelo recente lei- tendo contribuído para a preservação do lão do Campo de Libra, com reservas que viria a ser a nossa maior herança: estimadas em 12 bilhões de barris. Além constituirmos uma Nação detentora de disso, através de nossas águas, foram grande área geográfica, rica em recursos transportadas, em 2012, mercadorias no naturais e habitada por um povo unido em valor de 442 bilhões de dólares, corres- torno de um modo semelhante de ser e de pondendo a aproximadamente 95% do um idioma comum. nosso comércio exterior. Iniciou a sua longa carreira tomando Nesse contexto, e sob a orientação das parte na campanha pela consolidação da diretrizes emanadas da Estratégia Nacio- independência; mostrou a sua coragem na nal de Defesa, sobressaem as importantes Guerra da Cisplatina e nas insurreições do iniciativas em andamento, que têm o aval período regencial; recebeu o primeiro co- do Ministério da Defesa, cuja consecução mando de um navio, a Escuna Constança, trará, além da necessária capacitação da aos 18 anos de idade; salvou vidas no mar, Força Naval, um grande incentivo às em- resgatando cerca de 150 passageiros e tri- presas da Base Industrial de Defesa, com a pulantes do navio inglês Ocean Monarch, decorrente geração de empregos e absorção nas proximidades de Liverpool; comandou de novas tecnologias. a Força Naval Brasileira em Operações no Sob o enfoque da ‘Construção do Rio da Prata, durante a Guerra da Tríplice Núcleo do Poder Naval’, é digno de nota Aliança; participou com bravura de vários o cumprimento de relevantes etapas do combates; e portou-se como um cavalheiro Programa Nuclear da Marinha e do Pro- nas vitórias. grama de Desenvolvimento de Submarinos Dedicou toda a sua vida à Marinha, (Prosub), bem como a inclusão desses em- onde permaneceu por quase 67 anos, preendimentos no Programa de Aceleração tornando-se um modelo de desprendimen- do Crescimento (PAC). to, esforço e dedicação ao serviço, tendo Cabe também sublinhar os avanços sido um homem simples, justo, leal e obtidos em relação à obtenção de navios- honesto, que se considerava, como consta patrulha de 500 e de 1.800 toneladas; à em sua carta-testamento, apenas um ‘velho retomada da construção das corvetas classe marinheiro’. Barroso; e à continuidade das tratativas Ao recordarmos as suas virtudes, das com vistas à aprovação dos Programas de quais tanto nos orgulhamos, cabe nave- Obtenção de Meios de Superfície (Prosu- gar no tempo até os dias de hoje e fazer per), de Navios-Aeródromos (Pronae) e de uma reflexão sobre a importância e a Navios Anfíbios (Pronanf). dimensão das nossas responsabilidades, No setor de ‘Monitoramento e Con- relativas à contribuição para a garantia da trole’, destaco a conclusão da Fase de soberania e para a proteção das riquezas e Conceituação e o início da Fase de Con- das potencialidades da ‘Amazônia Azul’, tratação do Sistema de Gerenciamento da ressaltando que cerca de 92% do petróleo Amazônia Azul (SisGAAz), com duração e de 70% do gás natural produzidos no prevista até 2015; e, no de ‘Ciência e Brasil são extraídos a partir de 764 po- Tecnologia’, a construção, em andamento,

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do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico glórias do passado, as oportunidades do Vital de Oliveira. presente e os desafios do futuro. Marinheiros, fuzileiros navais e servi- Aos agraciados com a Medalha Mérito dores civis! Tamandaré, cujas cerimônias de imposição Nesta data solene, ao relembrarmos as estão sendo realizadas em todos os distritos atitudes e os exemplos de honra, correção e navais e nas representações no exterior, patriotismo do nosso Patrono, que frutifica- expresso os meus sinceros agradecimen- ram por meio da preservação dos princípios tos pelos relevantes serviços prestados, basilares da hierarquia e da disciplina, além apresento os meus cumprimentos pela da ética e da competência profissional de condecoração que irão receber e exorto-os muitas gerações, o que permitiu assentar os a continuarem o importante trabalho de alicerces de uma Força forte e respeitada, conscientização da sociedade quanto à im- concito-os a renovarem a crença em nossa portância da Marinha, cujas tarefas atuam instituição e o entusiasmo pela carreira como irrigadoras de recursos na economia, abraçada, continuando a envidar o máximo e da ‘Amazônia Azul’, como um espaço esforço no seu aprimoramento, perseguindo propulsor do desenvolvimento nacional. obstinadamente o cumprimento da elevada Parabéns a todos!” missão a nós confiada e atuando como os (Fontes: Bonos Especias nos 892 e 893, elos de uma amarra secular, unindo as de 12/12/2013)

DIA DO MARINHEIRO NO ESPAÇO CULTURAL DA MARINHA

Várias atividades culturais e recreativas integraram a comemoração do Dia do Ma- rinheiro no Espaço Cultural da Marinha, na cidade do Rio de Janeiro, em 14 de dezembro último. Para marcar a data (ce- lebrada no dia 13 de dezembro), a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) promoveu no local atividades e exposições de diversas OM da Marinha e atrações extras que fizeram referência às festas de final de ano. Com entrada franca, o evento contou com as seguintes atrações: exposições iti- nerantes “Tamandaré” e “Amazônia Azul”, com exibição de filme; exposição de mate- rial e de viaturas militares; apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais; exibição de cães amestrados; show de mágica; oficinas de arte; contação de histórias; recreação e chegada de Papai Noel.

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DIA DO SERVIDOR PÚBLICO

Foi realizada no dia 30 de outubro “No dia 28 de outubro, ao comemorar- último, pela Diretoria do Pessoal Civil da mos o Dia do Servidor Público, rendemos Marinha, a cerimônia alusiva ao Dia do uma justa e devida homenagem aos homens Servidor Público, data comemorada em 28 e mulheres que, com zelo, dedicação e do mesmo mês. A solenidade aconteceu no comprometimento, desempenham suas Salão do Comando do 7o Distrito Naval, em atividades nos diversos órgãos governa- Brasília, e foi presidida pelo comandante mentais, contribuindo decisivamente para da Marinha, Almirante de Esquadra Julio o desenvolvimento do País. Soares de Moura Neto. A Marinha do Brasil, orgulhosamente, O evento contou com a presença do tem o privilégio de contar, em seu efetivo, diretor-geral do Pessoal da Marinha, Al- com esses bravos e valorosos ‘marinheiros mirante de Esquadra Elis Treidler Öberg; sem farda’, assim chamados de forma cari- do secretário de Ciência, Tecnologia e Ino- nhosa por assimilarem voluntariamente os vação da Marinha, Almirante de Esquadra costumes e as tradições navais, conscientes Wilson Barbosa Guerra; do secretário- da importância de suas funções para a busca geral do Ministério da Defesa, Ari Matos constante de uma Força moderna, equili- Cardoso; e de diversas outras autoridades brada e balanceada. Irmanados ao pessoal civis e militares. militar, esses abnegados e entusiasmados Na ocasião, receberam a Medalha-Prêmio profissionais realizam relevantes atividades de Ouro o secretário de Pessoal, Ensino, nas mais complexas e diversificadas áreas, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa, tais como na construção, manutenção e Almirante de Esquadra Julio Saboya de Arau- reparos de meios; na ciência, tecnologia e jo Jorge; e o servidor civil Adamastor Duarte inovação; na saúde; na educação e na gestão Costa. Já com o Prêmio Mestre Antônio da administrativa, entre outras. Silva, foram agraciados os servidores civis Os valores e princípios que norteiam os Elson de Oliveira, José Paiva da Silva, Maria nossos servidores civis têm, como gênese, Virgínia de Jesus Monteiro, Robson Bastos o legado do insigne mestre carpinteiro An- da Silva, Jorge Fumio Utida e Yone Melo tônio da Silva, que, ao construir o primeiro Ribeiro Pedro. Já o Prêmio Mérito Funcional navio genuinamente brasileiro, a Nau São foi concedido aos servidores Marlene Amaro Sebastião, demonstrou de maneira ímpar da Costa e Luiz Carlos Gonçalves Cardoso. Os prêmios represen- tam o reconhecimento da Marinha do Brasil pela conduta exem- plar e pelos relevantes serviços prestados à Força. O comandante da Marinha expediu a seguinte Ordem do Dia alusiva à data: Agraciados e autoridades durante a solenidade

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todo o seu profissionalismo, sua tenacidade dores civis pelo esforço e pela contribuição e seu amor à Pátria, herança esta transmi- dispensados à nossa instituição. tida a todos aqueles que, incansavelmente, Recebam, dessa forma, o profundo buscam, mesmo diante de adversidades, o reconhecimento de todos os marinheiros cumprimento da sua missão. e fuzileiros navais pelo belo trabalho que Ao dirigir os meus cumprimentos aos realizam em prol da Marinha e do Brasil. agraciados com os prêmios Medalha- Parabéns e sejam muito felizes! Bravo Prêmio de Ouro, Mestre Antônio da Silva Zulu!” e Mérito Funcional, expresso os mais (Fonte: Bono Especial no 774, de sinceros agradecimentos a todos os servi- 29/10/2013 e www.mar.mil.br)

ESQUADRA – 191 ANOS

A Esquadra brasileira comemorou, em 10 ticipou também das campanhas do Império, de novembro último, 191 anos de existência. com destaque para a Guerra do Paraguai, e Em 10 de novembro de 1822, ano da Inde- nas duas guerras mundiais, sempre em prol pendência do Brasil, da manutenção da in- o Pavilhão Nacional tegridade do território foi içado pela primei- nacional. ra vez em um navio Desde os seus pri- de guerra brasileiro, a mórdios, a Esquadra Nau Martim de Frei- está intrinsecamente tas, posteriormente relacionada à história rebatizada de Nau D. da formação do Estado Pedro I, o primeiro brasileiro. Nesse con- navio capitânia. texto, ela busca a exce- Nascia, assim, a lência na tecnologia de Esquadra do Brasil, criada para combater as seus meios navais e recursos de combate. forças navais portuguesas que se opunham Paralelamente, investe na preparação do pes- à independência do País. Atuando de forma soal, de modo a atender aos anseios de uma decisiva na consolidação da soberania, par- nação soberana em contínuo desenvolvi- mento. A Esquadra é a espinha dorsal do Poder Naval, empregando os seus meios subordina- dos na proteção de tão importante patrimônio da Nação brasileira, a “Amazônia Azul”. (Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Comando em Chefe Desfile Naval da Esquadra)

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PLANO DIRETOR DA MARINHA COMPLETA 50 ANOS

Em solenidade realizada na Escola de Guerra Naval, na cidade do Rio de Janeiro, em 25 de setembro último, a Secretaria-Geral da Ma- rinha (SGM) promoveu as comemorações alusivas ao 50o Aniversário do Plano Diretor da Marinha. Criado em 1963, na gestão do Al- mirante de Esquadra Sylvio Motta, então ministro da Execução do Hino Nacional nas comemorações dos 50 anos do Plano Diretor da Marinha Marinha, o Plano Diretor passou por diversas reformulações, ao Da programação, constou a exibição mesmo tempo em que procurou manter sua do filme institucional Memória do Plano essência original, ao permitir a realização Diretor, que apresentou a evolução histó- de planejamento, execução e controle dos rica desse instrumento de Planejamento, objetivos da Marinha ao longo de meio Execução e Controle da Administração século de existência. Naval desde sua criação até os dias atuais. A abertura oficial do evento comemo- Também foram apresentadas breves pales- rativo foi feita pelo comandante da Mari- tras sobre o tema, proferidas pela secretária nha, Almirante de Esquadra Julio Soares de Orçamento Federal; pelo presidente da de Moura Neto. Estiveram presentes o Embraer Defesa & Segurança, Luiz Carlos secretário-geral da Marinha, Almirante Aguiar; e pelo Professor Doutor Armando de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho; Moreira da Cunha, da Escola Brasileira o ex-Ministro da Marinha Almirante de de Administração Pública e de Empresas Esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira; (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas. o ex-comandante da Marinha Almirante de Na ocasião, foi prestada homenagem in Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho; memoriam ao idealizador do Plano Diretor, o secretário-geral do Ministério da Defesa, o ex-ministro da Marinha Almirante de Ari Matos Cardoso; a secretária do Orça- Esquadra Sylvio Borges de Souza Motta, mento Federal, Célia Corrêa; membros do que foi representado por seus familiares. Almirantado; e oficiais generais, oficiais, (Fonte: Diretoria de Gestão Orçamen- praças e civis da Marinha do Brasil. tária da Marinha)

REDE DE BIBLIOTECAS INTEGRADAS DA MARINHA COMPLETA DEZ ANOS

A Rede de Bibliotecas Integradas da Mari- data, foi realizado um encontro de bibliotecas na nha (Rede BIM) completou, em 24 de outubro Diretoria do Patrimônio Histórico e Documen- último, dez anos de existência. Para celebrar a tação da Marinha (DPHDM), no Rio de Janeiro.

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Na ocasião, foram apre- sentadas as boas práticas das seguintes bibliotecas perten- centes à Rede BIM: Diretoria de Sistemas de Armas da Ma- rinha, Escola de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina, Centro de Análises de Sistemas Navais, Biblioteca da Marinha, Tribunal Marítimo e Escola de Guerra Naval. O evento também contou com palestras sobre os temas “Panorama da Rede BIM”, “Estudo de Caso Rede O diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, Vice- BIM” “Conservação e Restau- Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt, recebe ração” e “Periódico Científico bibliotecários militares e civis para a comemoração de Defesa”. Foram realizadas, ainda, apresentações das empresas Minha bibliotecas existentes na Marinha em uma Biblioteca e Metalpox. única base de dados. O sistema utiliza-se de Ainda como parte da comemoração, foi um gerenciador de bibliotecas, proporcio- realizada uma visita guiada à Biblioteca da nando consulta única, com maior rapidez Marinha, onde os participantes conheceram em pesquisas, padronização no processa- o Salão de Leitura Almirante Max Justo mento técnico e eficiência no atendimento Guedes e participaram de congraçamento aos usuários. A gerência e a coordenação da pelos dez anos da Rede. Rede BIM são da competência da DPHDM, A Rede BIM permite a integração e com execução pela Biblioteca da Marinha. o intercâmbio de livros do acervo de 43 (Fonte: DPHDM)

CRIAÇÃO DA COORDENADORIA DO NAVIO-AERÓDROMO

Como parte da estrutura administrativa – avaliar os resultados da execução das da Diretoria-Geral do Material da Mari- atividades de manutenção, utilizando-os nha, foi criada pela Portaria no 636, de 27 como subsídios ao aperfeiçoamento do de novembro de 2013, do Comandante processo; e da Marinha, a Coordenadoria do Navio- – contribuir para o aprimoramento Aeródromo (C-NAe). do sistema de apoio ao meio, de modo A Coordenadoria tem as seguintes a permitir que os recursos necessários atribuições: ao apoio logístico estejam disponí- – gerenciar o Empreendimento Modular veis durante os ciclos de atividades do Período de Modernização (PMM) do do meio. Navio-Aeródromo (NAe) São Paulo; Foi designado para exercer as funções – coordenar o PMM do NAe São Paulo; de coordenador o Contra-Almirante (RM1) – coordenar a manutenção durante o José Moraes Sinval Reis. restante da vida útil do navio; (Fonte: Bono no 871, de 5/12/2013)

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PETROBRAS RECEBE HOMENAGEM POR CONTRIBUIÇÃO À INDÚSTRIA NAVAL

A Petrobras foi homenageada, em 9 de histórico da indústria naval brasileira e dezembro último, na terceira edição do Prê- falou das perspectivas do setor: “Somente mio Naval de Qualidade e Sustentabilidade em Libra, localizada no pré-sal da Bacia de (PNQS), pela contribuição à indústria naval Santos, temos de 8 a 12 bilhões de barris do País. A cerimônia de premiação ocorreu de petróleo (recuperáveis) e estimamos no Jockey Club, no Rio de Janeiro. precisar de 12 a 18 plataformas de grande A diretora-geral da Agência Nacional de porte e de 60 a 90 barcos de apoio”. Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Fonte: Gerência de Imprensa da (ANP), Magda Chambriard, traçou breve Petrobras)

COMANDANTE DA MARINHA REINAUGURA INSTALAÇÕES DO HNSa

Foi realizada, em 12 de junho último, Sanitária (Anvisa) e a modernização e a cerimônia de reinauguração do Am- ampliação de suas instalações, resultado bulatório e da Ala A do Hospital Naval alcançado com a reforma estrutural da de Salvador (HNSa), presidida pelo Unidade de Internação, que contemplou comandante da Marinha, Almirante de novo arranjo para o mobiliário dos quar- Esquadra Julio Soa- tos, redimensiona- res de Moura Neto. mento dos banheiros, O evento contou adoção de elementos com a participação de apoio para por- do comandante de tadores de neces- Operações Navais, sidades especiais, Almirante de Esqua- aumento do número dra Luiz Fernando de leitos, ampliação Palmer Fonseca; do da área de serviço e comandante do 2 o da rede de gases e Distrito Naval, Vice- substituição da pavi- Almirante Antônio mentação, do forro e Fernando Monteiro Reinauguração das instalações do HNSa do revestimento das Dias; e do diretor do paredes. HNSa, Capitão de Mar e Guerra (Md) Com a nova configuração, a Unidade Cláudio Luís da Silva Fraga, além de de Internação Ala A passou a dispor de militares da área do Comando do 2o 34 leitos, para atendimento de militares da Distrito Naval (Salvador-BA). ativa, inativos e dependentes a partir de 12 A revitalização da Ala A teve como anos, nas clínicas médica, geral, cirúrgica propósito a adequação do setor às nor- e ginecológica. mas da Agência Nacional de Vigilância (Fonte: www.mar.mil.br)

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TRANSPETRO LANÇA NAVIO GASEIRO OSCAR NIEMEYER

Foi lançado ao mar, em 4 de dezem- mil metros cúbicos de gás liquefeito de bro último, o Navio Gaseiro Oscar Nie- petróleo (GLP). meyer, primeiro do tipo construído no O Promef já entregou cinco navios à Rio de Janeiro. O Transpetro: os de evento aconteceu Produtos Celso Fur- nas instalações do tado, Sérgio Buar- Estaleiro Caneco, que de Holanda e na cidade do Rio Rômulo Almeida; e de Janeiro. os Suezmax João Com investi- Cândido e Zumbi mento de R$ 115 dos Palmares. Ou- milhões, o Oscar tros três estão em Niemeyer é o pri- fase de acabamento: meiro de uma en- José Alencar (de comenda de oito Navio Gaseiro Oscar Niemeyer Produtos), Anita navios gaseiros Garibaldi (Pana- contratados junto ao Estaleiro Vard max) e Dragão do Mar (Suezmax). Há ainda Promar, por meio do Programa de Mo- mais 12 em fase de construção. Além desses, dernização da Frota (Promef) da Trans- três comboios hidroviários estão sendo cons- petro. O navio tem 117,63 metros de truídos, segundo a Transpetro. comprimento, 34 m de altura, 19,2 m de (Fontes: Agência Gerência de Imprensa largura e capacidade para transportar sete da Petrobras e g1.globo.com)

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Contra-Almirante Márcio Magno de dante do 4o Distrito Naval, em 9 de dezembro; Farias Franco e Silva, chefe do Estado- – Almirante de Esquadra Ademir Sobrinho, Maior da Esquadra, em 28 de novembro; chefe de Logística do Estado-Maior Conjunto – Vice-Almirante Edlander Santos, coman- das Forças Armadas, em 17 de dezembro.

BNVC RECEBE PRÊMIO DE EXCELÊNCIA

A Base Naval de Val-de-Cães (BNVC) ações para incentivo e pesquisa da qualida- recebeu, em 18 de novembro último, o Prê- de de vida das empresas e do ser humano mio de Excelência e Qualidade Brasil 2013, no meio ambiente e na sociedade em geral. outorgado pela Associação Brasileira de O Prêmio Excelência e Qualidade é Liderança-Braslíder. A Braslíder tem por concedido a personalidades, organizações, finalidade apoiar, promover e desenvolver empresários e autoridades civis e milita-

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res de grande relevância para o País. A BNVC, representando a Marinha do Brasil e as Forças Armadas, foi agraciada com o referido prêmio pela sua experiência em construção de lanchas de até 5 toneladas, sendo citadas as lanchas escolares e sociais encomendadas pelo Ministério da Edu- cação e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, respectivamente. As embarcações são destinadas a projetos sociais para atendimento à população em áreas de difícil acesso. A cerimônia de premiação ocorreu no Círculo Militar em São Paulo, e a BNVC foi representada pelo seu comandante, Capitão de Mar e Guerra Atila Martins Thomazelli, e o chefe do Departamento Industrial, Capitão de Fragata Luiz Ronaldo da Cunha Teles. (Fonte: Bono no 871, de 5/12/2013) Prêmio de Excelência e Qualidade Brasil 2013

PESQUISADOR DO IEAPM RECEBE PRÊMIO PETROBRAS DE TECNOLOGIA

O encarregado do Grupo de Oceano- biocida isento de metais e sintetizado a grafia Química e Geoquímica Ambiental partir de matéria-prima natural, nacional do Instituto de Estudos do Mar Almirante e de baixo custo, um subproduto do refino Paulo Moreira (IEAPM), Capitão de Fra- de óleo de soja. gata (EN) William Romão Batista, recebeu, A pesquisa do militar já resultou em em 13 de setembro último, o Prêmio Petro- três patentes depositadas pelo IEAPM bras de Tecnologia Engenheiro Antônio e pela UFRJ (duas no Brasil e uma nos Seabra Moggi (6a edição), por sua tese de doutorado defendida, em abril de 2012, pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o tema: Tecnologia de Logística e de Trans- porte de Petróleo, Gás e Derivados. Em sua tese, sob a orientação dos professores doutores Cláudio Cerqueira Lopes e Rosangela Sabbatini, da UFRJ, o CF William Romão apresentou como proposta inovadora a utilização, em tintas marítimas anti-incrustantes, de um agente CF William Romão, do IEAPM

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Estados Unidos da América). Cabe agora nível. Segundo o pesquisador, ainda será formalizar parcerias com indústrias inte- necessária a realização de uma avaliação ressadas em refinar os resultados e investir ecotoxicológica e de persistência no meio em testes adicionais necessários para se ambiente marinho. ob­ter um produto comercialmente dispo- (Fonte: www.mar.mil.br)

PORTONAVE VENCE PRÊMIO INTERNACIONAL

A Portonave, coligada da Triunfo Par- para atender às necessidades de escoamento ticipações e Investimentos, que adminis- de produção das regiões Sul, Sudeste e tra o Terminal Portuário de Navegantes, Centro-Oeste, além de suprir a demanda em Santa Catarina, venceu a premiação dos países que compõem o Mercosul. De Lloyd’s List Global Awards 2013 como janeiro a agosto deste ano, a movimentação Operador Portuário do Ano. O resultado foi da Portonave foi recorde e atingiu 468,5 mil anunciado em 1o de outubro, em Londres, TEUs (Twenty Equivalent Unit – unidade Inglaterra. de medida equivalente a um contêiner de Essa é a primeira vez que uma compa- 20 pés). nhia brasileira recebe o prêmio, concedido Com 900 metros lineares de cais e três pela publicação britânica Lloyd’s List, es- berços de atracação, o terminal recebe pecializada em indústria marítima. Entre embarcações modernas e de grande porte. os critérios para a escolha do vencedor, Possui cinco guindastes portuários, sendo estão eficiência operacional, segurança seis portêineres e dois MHCs, 18 transtêine- e iniciativas sustentáveis. Além da Por- res, que são guindastes móveis sobre pneus, tonave, eram finalistas: APM Terminals e seis empilhadeiras de grande porte. Com (Holanda), Krishnapatnam Port Company retroárea pavimentada de 270 mil metros (Índia) e Port of Tyne (Inglaterra). Em quadrados e estacionamento para 150 cami- duas edições anteriores, a Portonave já nhões, o terminal portuário possui também havia sido finalista, mas somente neste ano uma câmara frigorífica administrada pela conquistou o título. Iceport, subsidiária integral da Portonave. Localizado no complexo portuário de A câmara é automatizada e tem capacidade Itajaí (SC), o segundo maior em movimen- estática de armazenagem de 16 mil posições tação de contêineres do País, o Terminal pallets. Portuário de Navegantes foi inaugurado em (Fonte: Assessoria de Imprensa da outubro de 2007. O projeto foi concebido Triunfo)

PROGRAMA SUBOFICIAL-MOR NA FRAGATA INDEPENDÊNCIA

A Fragata Independência foi o navio da Marinha (DGPM) para analisar a aplicabili- Marinha escolhido para integrar o projeto dade do programa Command Master Chief, piloto do Programa Suboficial-Mor, uma da Marinha dos Estados Unidos à Marinha do iniciativa da Diretoria-Geral do Pessoal da Brasil. O propósito é contar com um militar

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da guarnição com forte liderança sobre as ção de seu nome. Aprovado nessa etapa, o praças e que tenha um canal direto com o Suboficial Reinaldo iniciou o curso especial comandante, via imediato, a fim de tratar das de preparação para suboficial-mor, no qual questões relativas a moral, bem-estar, satisfa- aprimorou conhecimentos nas áreas de lide- ção profissional, carreira, disciplina e apoio rança, carreira de praças, gestão de recursos familiar das praças. humanos e práticas de Em face do pionei- gestão. Além disso, rismo da iniciativa, teve a oportunidade foram escolhidas so- de visitar e conhecer mente quatro Organi- as facilidades da assis- zações Militares em tência integrada para a toda a Marinha para Família Naval. implementação do O Programa Su- projeto, entre as quais boficial-Mor terá a a Independência, duração de dois anos e onde assumiu o cargo será permanentemente o Suboficial Sinalei- acompanhado por uma ro Antônio Reinaldo SO Reinaldo assume como suboficial-mor comissão de imple- Ferreira Nascimento. mentação e avaliação, O militar, que serve no navio há mais de composta por representantes dos diversos sete anos contínuos, foi submetido a provas setores que participaram dos estudos. escritas e exames psicológicos para ratifica- (Fonte: www.mar.mil.br)

PROMOÇÃO DE ALMIRANTE

Foi promovido ao posto de Almirante de 2013, o Vice-Almirante Ademir Sobrinho. Esquadra, por Decreto Presidencial, contan- (Fonte: Bono Especial no 845, de do antiguidade a partir de 25 de novembro de 25/11/2013)

DepCMRJ RECEBE CHATA MARTIM PESCADOR

Foi realizada em 29 de novembro A Martim Pescador é a quarta embar- último a Cerimônia de Entrega da Chata cação do gênero contratada pela Diretoria para Transporte de Óleo Combustível de Engenharia Naval (DEN) junto ao Es- (CTOC) Martim Pescador para o Sistema taleiro B3 Boat Indústria de Embarcações de Abastecimento da Marinha (SAbM). O Ltda. Construída em Salvador (BA), com evento, presidido pelo diretor de Engenha- base em requisitos técnicos de projetos ria Naval, Vice-Almirante (EN) Francisco e de desempenho elaborados pela DEN, Roberto Portella Deiana, aconteceu no essa nova embarcação, que possui casco Cais Administrativo do Depósito de Com- duplo, em atendimento às normas am- bustíveis da Marinha no Rio de Janeiro bientais, transporta até 400 mil litros de (DepCMRJ). combustível e possui comprimento de 36

266 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO metros e boca mol- dada de 10 metros. A incorporação da CTOC Martim Pesca- dor ao SAbM possibi- litará o incremento da capacidade operativa do DepCMRJ nas fai- nas de abastecimento de combustível aos CTOC Martim Pescador meios navais, com maior rapidez, segurança operacional e (Fontes: Bonos nos 858 e 864, de 29/11 preservação do meio ambiente. e 3/12/2013)

TRANSFERÊNCIA PARA O SETOR OPERATIVO E CHEGADA À SEDE DO NPaOc ARAGUARI

O Comando do 3o Distrito Naval 24, realizou diversos exercícios operativos. (Com3oDN), localizado em Natal (RN), Construído no Estaleiro de Scotsto- recebeu, em 25 de outubro último, o Navio- wn, da BAE Systems, e finalizado em Patrulha Oceânico (NPaOc) Araguari, que Portsmouth, no Reino Unido, o NPaOc irá incrementar a segurança e a proteção das Araguari é o terceiro navio da classe Ama- riquezas das águas da região. zonas incorporado à Marinha do Brasil. A recepção ao Os outros da mesma navio ocorreu na classe – o Amazonas Base Naval de Natal e o Apa – já estão em (BNN), com a realiza- operação no Brasil. A ção de Parada Naval, principal caracterís- da qual participaram tica desses meios é a os Navios-Patrulha flexibilidade, possibi- Macau, Grajaú, Graú- litando seu emprego na e Guaíba. Puderam em diversas tarefas, assistir ao evento as tais como: operações pessoas que estavam NPaOc Araguari de patrulha naval, as- nas proximidades da sistência humanitária, Praia da Redinha, Zona Norte de Natal. busca e salvamento, fiscalização, repressão O NPaOc Araguari foi transferido para o a atividades ilícitas e prevenção contra a Setor Operativo em 9 de outubro, no Arse- poluição hídrica. nal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), Suas principais características são: passando a ficar subordinado ao Com3oDN 90,5 metros de comprimento total; 83 m e, mais especificamente, ao Comando do de comprimento entre perpendiculares; Grupamento de Patrulha Naval do Nor- boca máxima de 13,5 m; calado de 4,5 deste. Antes de chegar a Natal, o navio, m; deslocamento carregado de 2.170 to- que desatracou do porto de Recife no dia neladas; velocidade máxima com 2 MCP

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de 25 nós; 5.500 milhas náuticas de raio Reino Unido, realizou um intenso programa de ação a 12 nós; autonomia de 35 dias; de treinamento, antes de iniciar sua viagem capacidade de tropa embarcada de 51 de aproximadamente um mês e meio de militares; armamento de um canhão de trânsito pelas costas da Europa e África. O 30 mm e duas metralhadoras de 25 mm; NPaOc Araguari chegou ao Rio de Janeiro sistema de propulsão de dois motores no dia 18 de setembro, tendo feito escalas MAN 16V28/33D 7.350 HP; geração de nos portos de Lisboa (Portugal), Mindelo energia por três geradores Caterpillar de (Cabo Verde), Lagos (Nigéria), Douala 550 kW; um gerador Caterpillar de 200 (Camarões) e Malabo (Guiné Equatorial), kW; tripulação de onze oficiais, 21 subo- além de ter fundeado nas proximidades ficiais/sargentos e 48 cabos/marinheiros; e do porto de São Tomé (São Tomé e Prín- capacidade de transporte de carga de seis cipe). Durante a sua comissão, participou contêineres de 15 toneladas. de eventos protocolares e pôde interagir Na cerimônia no AMRJ, foi lida a com as Marinhas dos países africanos seguinte Ordem do Dia do diretor-geral visitados, realizando exercícios conjuntos, do Material da Marinha, Almirante como, por exemplo, treinamento de ações de Esquadra Luiz Guilherme Sá de antipirataria. Gusmão: Neste momento em que o NPaOc Ara- “Os três navios-patrulha oceânicos guari é transferido ao Comando de Ope- da classe Amazonas – Amazonas, Apa e rações Navais, registro os meus sinceros Araguari – agregam significativo valor ao agradecimentos e meu reconhecimento a nosso Poder Naval, com a intensificação da todos aqueles que direta e indiretamente presença na Amazônia Azul, na execução colaboraram para a realização de mais este de ações de Patrulha e Inspeção Naval, vol- feito para a Marinha do Brasil. tadas à segurança do tráfego aquaviário, à Transmito o Bravo Zulu às Diretorias prevenção da poluição hídrica e ao aumento de Engenharia Naval, de Abastecimento, da capacidade de Busca e Salvamento de Sistemas de Armas, de Aeronáutica, (SAR), bem como na capacidade de opera- de Comunicações e Tecnologia da Infor- ções de retomada e resgate de plataformas mação; à Coordenadoria do Programa de petrolíferas, coroando a acertada decisão Reaparelhamento da Marinha, à Comissão de aquisição desses meios pela Alta Ad- Naval Brasileira na Europa e ao Adido de ministração Naval. Defesa e Naval na Inglaterra, na Suécia e O Navio-Patrulha Oceânico Araguari na Noruega. se junta aos Navios-Patrulha Oceânicos Ao Araguari desejo bons ventos e mares Amazonas e Apa, que receberam nomes tranquilos, com a bênção de Nosso Senhor de importantes rios brasileiros. O NPaOc dos Navegantes a todos seus tripulantes!” Araguari foi batizado com este nome em Por ocasião de sua chegada ao Brasil, o homenagem ao rio do mesmo nome no NPaOc Araguari havia recebido, em 27 de Pará e a outro que atravessa a região do setembro, a visita do comandante da Mari- Triângulo Mineiro, no estado de Minas nha, Almirante de Esquadra Julio Soares de Gerais. Teve seu batimento de quilha em Moura Neto, que percorreu as instalações 25 de setembro de 2009 e foi lançado ao de bordo acompanhado de uma comitiva mar em 16 de julho de 2010. de onze oficiais-generais. Incorporado à Marinha do Brasil no dia (Fontes: Bonos nos 727 e 728, de 21 de junho de 2013, em Portsmouth, no 9/10/2013, e www.mar.mil.br)

268 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CON VISITA O GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS NO HAITI

O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais no Haiti (GptOpFuzNav-Haiti) recebeu, de 15 a 18 de outubro último, a visita do Comandante de Operações Na- vais (CON), Almirante de Esquadra Luiz Fernando Palmer Fonseca, acompanhado pelo comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra, Vice-Almirante (FN) Washing- ton Gomes da Luz Filho. Os almirantes ficaram na Base de Fuzileiros Navais no Haiti Acadêmica Rachel de Queiroz, da Marinha do Brasil. AE Palmer impõe a Medalha das Nações Unidas cimento do ambiente operacional da Área de Responsabilidade do GptOpFuzNav. Também foi visitado o Ponto Forte Fábrica de Gelo, guarnecido permanentemente por um pelotão do Grupamento. Durante esse período, o CON cumpriu, ainda, a seguinte agenda: recepção pelo force commander, General de Divisão Edson Leal Pujol; visita à representante especial do secretário-geral das Nações Recepção ao Comandante de Operações Navais Unidas no Haiti, Sandra Honoré; visita ao Batalhão Brasileiro de Força de Paz A visita teve como propósitos a apresen- e presidência da cerimônia de entrega de tação ao Comandante de Operações Navais medalhas das Nações Unidas aos solda- das tarefas executadas pelos militares da MB dos-marinheiros do GptOpFuzNav-18o na Missão das Nações Unidas para a Estabi- Contingente Haiti. lização no Haiti e a realização de reconhe- (Fonte: www.mar.mil.br)

AMRJ ENTREGA A QUARTA EDVM

O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro entre navio e terra, e também em operações (AMRJ) entregou ao Setor Operativo, em com Mergulhadores de Combate, recolhi- 26 de agosto último, a quarta Embarcação mento de náufragos, reparo de outras em- de Desembarque de Viaturas e Materiais barcações e no apoio a navios em operações (EDVM), a Comandatuba. As EDVM, de salvamento. utilizadas pelas Forças Anfíbias, são trans- O projeto de detalhamento de constru- portadas em navios-doca e empregadas na ção dessas embarcações foi elaborado pelo transferência de tropas e equipamentos AMRJ em parceria com o Centro de Proje-

RMB4oT/2013 269 NOTICIÁRIO MARÍTIMO tos de Navios e desenvolvido integralmente vamente, a primeira EDVM, Caieiras, e a no Sistema Foran, ferramenta tecnológica segunda, Cagarras. A terceira embarcação, utilizada pela Marinha do Brasil para a ela- Cataguazes, foi entregue em maio deste boração de projetos ano, e a prontificação de construção naval. da quinta embarcação, Na Ordem do Dia Cotunduba, está previs- alusiva à ocasião, o ta também para 2013. diretor do Arsenal de Além das EDVM, Marinha do Rio de o Arsenal de Mari- Janeiro, Contra-Almi- nha do Rio de Janeiro rante (EN) Mario Fer- dará prosseguimento reira Botelho, ressal- à construção das Em- tou a determinação da barcações de Desem- equipe envolvida na barque de Carga Geral obra, destacando que a Cerimônia de entrega da quarta EDVM (EDCG), com previsão entrega das EDVM re- de batimento de quilha, presenta mais uma conquista da construção ainda este ano, de duas a três embarcações, naval militar no AMRJ. O Arsenal entregou, atualmente em fase de construção. em março e dezembro de 2012, respecti- (Fonte: www.mar.mil.br)

DUAS Lanchas ENTREGUES AO Exército

Foi realizada, em 6 de dezembro último, doutrinário particulares das Forças Arma- na Estação Naval do Rio Negro, em Manaus das brasileiras, provenientes de experiên- (AM), a Cerimônia de Recebimento e Entrega cias no teatro de operações da região e de ao Exército Brasileiro (EB) de duas Lanchas- tecnologias utilizadas no Brasil. Coube à Patrulha de Rio (LPR). O diretor-geral do Diretoria de Engenharia Naval (DEN) a Material da Marinha, Almirante de Esquadra responsabilidade técnica por estabelecer Luiz Guilherme Sá de Gusmão, expediu a os requisitos de aquisição desejados, a seguinte Ordem do Dia alusiva ao assunto: fiscalização da construção e a avaliação “Duas primeiras LPR de uma série de técnica das embarcações. quatro unidades adquiridas em decorrência A obtenção foi possível com um esforço de contrato firmado, em 26 de dezembro conjunto e integrado da Marinha do Brasil de 2012, entre a empresa Corporación de (MB) e do Exército Brasileiro (EB), à luz Ciencia y Tecnologia para El Desarrollo de diretrizes emanadas pelo Ministério de La Industria Naval Marítima e Fluvial da Defesa, evidenciando a intenção de (Cotecmar)-Colômbia e a Marinha do consolidar a parceria Brasil/Colômbia, Brasil, representada juridicamente pela fortalecendo a base industrial de defesa Comissão Naval Brasileira em Washing- sul-americana, em consonância com o ton, foram projetadas e construídas em acordo sobre cooperação em matéria de Cartagena das Índias (Colômbia), com base Defesa firmado pelos Ministros de Defesa em embarcações semelhantes empregadas do Brasil e da Colômbia. na Marinha da Colômbia. A este projeto As LPR são lanchas de combate para foram agregados conceitos de emprego operação nas bacias fluviais da região

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amazônica e do Pantanal, devendo aten- e rastreamento. Preparadas para o combate der de forma conveniente aos objetivos direto, estas embarcações são blindadas e de patrulhamento, base de apoio de fogo, estão equipadas com quatro estações de transporte de pequenas frações de tropa tiro dotadas de metralhadoras 0,50 pole- e operações anfíbias, com grande mo- gadas e 7,62mm. bilidade e alcance. Estas características Como diretor-geral do Material da vão ao encontro de diretrizes estratégi- Marinha, registro os meus sinceros agra- cas previstas na Estratégia Nacional de decimentos e meu reconhecimento a todos Defesa (END), especialmente no tocante que contribuíram para o êxito deste em- ao trinômio monitoramento, mobilidade preendimento e, ao entregar ao EB as duas e presença, fortalecendo os conceitos de primeiras LPR brasileiras, expresso meus vigilância das fronteiras e águas jurisdicio- votos de mares tranquilos e sucesso na sua nais brasileiras. Construídas em compos- nobre e importante missão. tos de fibra de vidro, as embarcações são Bons Ventos!” dotadas de modernos sistemas propulsores (Fonte: Bono no 876 e Bono Especial no (hidrojatos) e equipamentos de navegação 877, de 6 de dezembro de 2013)

ENTREGA DA EDVM COTUNDUBA

Foi realizada, em 5 de dezembro último, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, a Cerimônia de Entrega da Embarcação de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM) Cotunduba ao Setor Operativo. A Cotunduba, quinta e última dessa série, representa mais uma etapa do processo de retomada da construção naval militar no AMRJ. A embarcação tem 21,81 m de com- primento, 6,39 m de boca moldada, EDVM Cotunduba calado carregado de 1,4 m e capacidade porte de até 80 homens e 32 toneladas para transportar 72 toneladas de carga, de carga. podendo ser também aplicada no trans- (Fonte: Bono no 869, de 4/12/2013)

PRODUTO ZF SERÁ EMPREGADO EM BARCOS-ESCOLA NA AMAZÔNIA

O combate ao analfabetismo na região a serem usadas em barcos de comunidades amazônica ganhou um importante aliado. A rurais e ribeirinhas na Amazônia, onde o ZF Propulsão Marítima vendeu para o Esta- único meio de transporte é o fluvial. leiro B3 (de Salvador-BA) 200 reversores As embarcações serão utilizadas no para um projeto que totaliza 700 unidades transporte aquaviário de alunos e pro-

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fessores. Hoje, além da precariedade das aplicações de trabalho contínuo, pode ser embarcações, elas são poucas e levam horas utilizado em motores diesel com potência para concluírem o trajeto até a escola. A de até 144 hp. O ZF 45-1 será aplicado em melhoria no transporte fluvial na Amazônia duas versões de embarcações de transpor- contribuirá para diminuir o índice de anal- te de passageiros, sendo um modelo de 8 fabetismo (que em alguns municípios atin- metros de comprimento (para transportar ge mais de 30% da população) e a grande 29 alunos), e o outro com 12 metros de evasão escolar (motivada pela dificuldade comprimento (para 49 alunos). de chegar até a escola). As entregas dos reversores começaram Os reversores fornecidos são do modelo em junho deste ano, e com o ritmo de envio ZF 45-1, com relação de redução 3:1. O de aproximadamente 30 reversores ao mês, a equipamento é produzido com carcaça de previsão é de que todas as 700 unidades enco- ferro fundido e possui embreagem mul- mendadas sejam entregues até o final de 2014. tidisco de acionamento hidráulico. Nas (Fonte: MM Editorial)

REVITALIZAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DO AMRJ

O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) con- cluiu a modernização do Dique Santa Cruz. Com a obra, foram instaladas uma cobertura retrá- til para permitir a realização de serviços independente das condições climáticas e uma ponte rolante com capacidade para manobra de pesos até 20 toneladas. Com isso, a Marinha do Brasil passa a dispor de faci- lidades industriais como as Dique Santa Cruz existentes nas instalações dos mais modernos estaleiros do mundo. Para ceiros obtidos de serviços realizados para conclusão desta obra de infraestrutura clientes extra-Marinha. industrial, o Arsenal usou recursos finan- (Fonte: www.mar.mil.br)

UFSC É A PRIMEIRA UNIVERSIDADE BRASILEIRA A CONSTRUIR VELEIRO PARA PESQUISA OCEANOGRÁFICA

A Universidade Federal de Santa Catari- e professores do curso de Engenharia Me- na (UFSC) deverá concluir, até setembro de cânica. A UFSC é a primeira universidade 2014, a construção de um veleiro por alunos brasileira a executar um trabalho deste tipo.

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A embarcação está sendo construída esse fim no país. O veleiro catarinense rece- em um estaleiro improvisado no Sapiens beu recursos de R$ 1,5 milhão da Agência Parque, em Florianópolis (SC), e, quando Brasileira de Inovação (Finep). estiver pronta, poderá se deslocar até os Quando estiver pronto para ir ao mar, o polos com pesquisadores do curso de Oce- veleiro também deve preencher uma grande anografia. O veleiro, lacuna e diminuir os denominado de Eco gastos da universidade. (Expedição Científica A UFSC gasta R$ 3 mil Oceanográfica), é o com aluguel de em- único no Brasil que barcações apenas para vai possibilitar uma o ensino de discipli- estrutura completa nas da Oceanografia. para experimentos e Como são realizadas coleta de material em cerca de 20 saídas para expedições. o mar no semestre, o Com isso, o curso Veleiro com casco em alumínio e interior em fibra investimento anual é de Oceanografia da de vidro – Foto: Cristiano Estrela/Agência RBS de mais de R$ 120 mil. UFSC, com apenas O curso de Oceano- cinco anos de existência, será o terceiro do grafia da UFSC já fechou parcerias: alunos Brasil a ter um barco para ensino, pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e extensão. Apenas a Universidade de São e da Universidade do Sul de Santa Catarina Paulo (USP) e a Universidade Federal do (Unisul) poderão usar o veleiro. Rio Grande (Furg) têm embarcações para (Fonte: diariocatarinense.clicrbs.com.br)

MB RECEBE PARTE DE TERRENO DA ANTIGA SIDERAMA EM MANAUS

O comandante do 9o Distrito Naval Participaram da cerimônia de assinatura (Manaus-AM), Vice-Almirante Domingos representantes da SPU-AM, titulares das Savio Almeida Nogueira, e o Superinten- Organizações Militares subordinadas ao dente do Patrimônio da União no Amazo- Comando do 9o DN e representações. nas (SMPU-AM), Silas Garcia Aquino de (Fonte: www.mar.mil.br) Souza, assinaram, em 12 de agosto último, o Termo de Entrega de parte do terreno da antiga Companhia Siderúrgica da Amazô- nia (Siderama) para a Marinha do Brasil. O terreno está localizado nas proximi- dades da Vila Buriti, no Distrito Industrial de Manaus, e será usado para ampliação do Complexo da Estação Naval do Rio Negro. A outra parte do terreno está destinada ao projeto de implantação do novo porto público do Polo Industrial de Manaus. Assinatura do Termo de Entrega

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NPo ALMIRANTE MAXIMIANO E NApOc ARY RONGEL SUSPENDEM PARA A ANTÁRTICA

O Navio Polar (NPo) Almirante Ma- ximiano e o Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) Ary Rongel suspenderam da Base Naval do Rio de Janei- ro (BNRJ), localizada na Ilha de Mocanguê (RJ), em 6 de outubro último, com destino como plataforma ou, por meio deles, ao Continente Antártico, para participar da estabelecem diversos acampamentos XXXII Operação Antártica (Operantar). O na região. retorno dos navios está previsto para 17 de O NApOc Ary Rongel, incorporado à abril de 2014. Marinha em 1994, está preparado para na- Durante a Operantar XXXII, os na- vegar em regiões polares e pode operar em vios passarão nos portos de Rio Grande campos de gelo fragmentado. Possui dois (RS), Buenos Aires e Ushuaia (Argen- laboratórios para apoio a pesquisa e dois tina), Punta Arenas helicópteros orgânicos (Chile) e Montevidéu UH-13 do 1o Esqua- (Uruguai). Parentes e drão de Helicópteros amigos estiveram na de Emprego Geral BNRJ para se despe- (HU-1) que serão utili- dir das tripulações. zados para transportar A missão dos na- carga e passageiros. vios será dar apoio Sob o comando do Ca- logístico aos Módu- pitão de Mar e Guerra los Antárticos Emer- Sergio Lucas da Silva, genciais (MAE) da o navio está na sua 20a Estação Antártica comissão austral. Comandante Ferraz Por possuir diver- (EACF) e às pesquisas de universidades sos equipamentos e instalações que poten- brasileiras, realizando coletas de amos- cializam as pesquisas, o NPo Almirante tras de água e solo marinho, estudo das Maximiano, conhecido carinhosamente aves, pesquisas geológicas nas ilhas do como “Tio Max”, incorporado à Marinha arquipélago das Shetland do Sul e da em 2009, está sob o comando do Capitão de península antártica, além de observações Mar e Guerra José Benoni Valente Carnei- meteorológicas e do comportamento ro. Entre seus equipamentos, destacam-se das massas de água na região, que tanto um guincho oceanográfico (capaz de reco- influenciam o clima do planeta. As ati- lher amostras de água em profundidades de vidades científicas envolvem profissio- até 8 mil metros) e um guincho geológico nais de diversas instituições de ensino e (capaz de coletar amostras do assoalho pesquisa do País, que utilizam os navios marinho em profundidades de até 10 mil

274 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO metros), cinco laboratórios, uma estação meteorológica, sistema de posicionamento dinâmico (que permite ao navio manter-se parado em determinada latitude e longi- tude), ecobatímetro multifeixe (permite elaborar imagem 3D do fundo do mar), um perfilador de corrente marinha, um perfi- lador de sedimentos do subsolo e quatro embarcações infláveis. O navio está na sua quinta missão à Antártica. (Fonte: www.mar.mil.br)

FRAGATA RADEMAKER RESGATA TRIPULANTES DO PESQUEIRO FORÇA MAIOR VI

A Fragata Rademaker resgatou, em não estarem favoráveis, com ondas de 14 de outubro último, a tripulação do 1,5 a 2 metros e ventos com rajadas de Barco Pesqueiro Força Maior VI, que até 30 nós, o que dificultou a retirada dos se encontrava ancorado havia três dias a tripulantes da embarcação. A operação de cerca de 100 milhas náuticas a nordeste salvamento durou cerca de três horas e, à de Salinópolis (PA). Ao receber o pedido medida que iam sendo levados para bordo de socorro, a Rademaker regressava da da Rademaker, os pescadores do Força comissão internacional Unitas, da qual Maior VI eram atendidos pela equipe participara, na Colômbia, com outras médica do navio. 13 nações, e se encontrava a sete milhas (Fontes: Comando em Chefe da Esquadra náuticas do barco pesqueiro, rumando e www.naval.com.br) imediatamente ao seu encontro.

Momento do resgate dos tripulantes do Barco Pesqueiro Força Maior VI

O barco estava em situação crítica, devido ao mau funcionamento do motor, agravada pela constante entrada de água a bordo. O resgate foi bem-sucedido, Os seis tripulantes sãos e salvos a bordo da apesar de as condições de mar e vento Fragata Rademaker

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HU-4 REALIZA MISSÃO CONJUNTA PARA BUSCA DE AVIÃO ACIDENTADO

O 4o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-4) transportou, em 20 de outubro último, um perito criminal da Polícia Civil de Corumbá (MS) até o local da queda da aeronave monomotor EMB-711, prefixo PT-NKO, que caiu na região da Fazenda Santa Gertrudes (MS), local de difícil acesso terrestre. O trabalho conjunto da Marinha do Bra- sil, da Força Aérea Brasileira (Para-Sar) e da Polícia Civil contribuiu sobremaneira para a liberação rápida dos corpos das vítimas do acidente e o início das investigações. Aeronave UH-12 Esquilo que (Fonte: www.mar.mil.br) transportou o perito criminal

NPa GRAVATAÍ SOCORRE TRIPULANTE DE PESQUEIRO

O Navio-Patrulha (NPa) Gravataí, do de Madri (MRCC Madrid) ao Serviço de Grupamento de Patrulha Naval do Leste, Busca e Salvamento Marítimo da Mari- subordinado ao Comando do 2o Distrito Na- nha do Brasil (Salvamar Leste), operado val (Com2oDN), sediado em Salvador (BA), na sede do Com2oDN. A mensagem de realizou, na noite de 13 outubro, a evacuação socorro informava que um tripulante de de um tripulante enfermo do navio pesqueiro nacionalidade senegalesa apresentava de bandeira inglesa Argos Pereira, a cerca quadro de isquemia nos dedos das mãos. de 250 km do litoral sul da Bahia. No mesmo dia, o Gravataí desatracou da O pedido de socorro médico do pes- Base Naval de Aratu levando a bordo dois queiro foi retransmitido pelo Centro de oficiais médicos do Hospital Naval de Sal- Coordenação de Salvamento Marítimo vador. Após ser retirado do pesqueiro, o tri- pulante foi medicado e posto em observação na enfermaria do na- vio, durante o trajeto até a Baía de Todos os Santos (BA). Depois, foi transferido para o Hospital Aliança, localizado na capital baiana. (Fonte: www.mar. Navio-Patrulha Gravataí mil.br)

276 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NPA MACAU PRESTA SOCORRO NO ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

O Navio-Patrulha (Npa) Macau prestou pélago ocorreu no período noturno, quando socorro, em 23 de setembro último, a um o médico e o enfermeiro de bordo prestaram tripulante da embarcação Transmar III, que os primeiros socorros ao tripulante. Poste- faz parte da frota que riormente, o acidenta- apoia os pesquisado- do foi removido para res no Arquipélago de o navio e levado para São Pedro e São Paulo Natal (RN). (ASPSP). O tripulante O NPa Macau atra- havia sofrido um corte cou na Base Naval de profundo na perna. Natal na tarde de 26 O Macau estava de setembro. O pes- regressando da comis- O pescador acidentado da embarcação Transmar III cador foi transferido são de Apoio Logístico à Estação Científica para o Hospital Naval de Natal, onde foi ASPSP quando foi acionado para prestar medicado. socorro à embarcação. A chegada ao Arqui- (Fonte: www.mar.mil.br)

NHo GARNIER SAMPAIO E AvHoFlu RIO XINGU REALIZAM LEVANTAMENTO HIDROGRÁFICO NA AMAZÔNIA

O Navio Hidroceanográfico Garnier de grande importância estratégica e eco- Sampaio e o Aviso Hidroceanográfico Flu- nômica para o País. Os dados coletados vial Rio Xingu realizaram, de 22 de julho a deverão contribuir significativamente para 19 de setembro, levantamento hidrográfico a melhoria na segurança da navegação. no Rio Amazonas, entre as cidades de San- Nesse contexto, em virtude da dinâmica tarém (PA) e Itacoatiara (AM). dos rios, destaca-se a atualização precisa Como parte integrante do Plano de Atu- dos canais de navegação por onde trafegam alização Cartográfica da Bacia Amazônica os diversos navios mercantes e demais (PACBA), durante os 60 dias da Comissão embarcações da região. Hidrográfica III foi levantada uma extensão Com este levantamento, foi pratica- de cerca de 450 milhas náuticas em trechos mente encerrado o levantamento do Rio Amazonas, desde a foz até Manaus, res- tando apenas um pequeno trecho próximo a Macapá (AP). Por meio do trabalho realizado pelos navios, a Marinha do Bra- sil produzirá novas cartas náuticas, que terão formatos diferentes das produzidas atualmente, visando facilitar ainda mais o uso das vias navegáveis da região pela comunidade marítima. NHo Garnier Sampaio e AvHoFlu Rio Xingu (Fonte: www.mar.mil.br)

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MB APOIA EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO

Aproximadamente 170 militares da Ma- Os militares atuaram na segurança e rinha do Brasil (MB) da área do Comando no transporte dos malotes nos municípios do 9o Distrito Naval, localizado na Ama- de Anamã, Anori, Codajás, Coari, Tefé, zônia Ocidental, par- São Paulo de Olivença, ticiparam do processo Santo Antônio do Içá, de segurança e entrega Tonantins, Barreirinha, das provas do Exame Boa Vista do Ramos, Nacional do Ensino Nhamundá, Urucará e Médio (Enem), ocor- Urucurituba, todos no rido nos dias 26 e 27 estado do Amazonas. de outubro último. O Enem foi apli- Na Amazônia Oci- cado para mais de 7,1 dental, a MB empre- milhões de candidatos gou os Navios-Pa- residentes em 1.161 trulha Fluvial Pedro cidades em todo o País Militares fizeram a segurança dos malotes de Teixeira e Rondônia provas do Enem e contou com o apoio e lanchas da Capi- das Forças Armadas, tania Fluvial de Tabatinga, da Agência da Polícia Militar, da Polícia Federal, da Po- Fluvial de Parintins e da Agência Fluvial lícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal. de Itacoatiara. (Fonte: www.mar.mil.br)

MB E DNIT ASSINAM TERMO DE COOPERAÇÃO DO RIO AMAZONAS

Foi assinado, em 21 de outubro último, no trecho citado. Serão repassados à MB o Termo de Cooperação do Rio Amazo- recursos na ordem de R$ 3,1 milhões. nas, entre a Marinha do Brasil (MB) e o O documento foi assinado pelo coman- Departamento Nacional de Infraestrutura dante do 4o Distrito Naval (Belém-PA), Vice- de Transportes (DNIT). A cerimônia de assinatura ocorreu no Estado-Maior da Armada (EMA), em Brasília, e foi presidida pelo vice-chefe do EMA, Vice-Almirante Glauco Castilho Dall’Antonia. Por meio do Termo de Cooperação, fi- cou acertada a execução do Levantamento Hidrográfico do Rio Amazonas entre as cidades de Manaus e Itacoatiara (AM). O acordo prevê, ainda, a atualização de docu- mentos cartográficos e o planejamento para Assinatura do Termo de a implantação de sinais e o balizamento Cooperação do Rio Amazonas

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Almirante Ademir Sobrinho; pelo diretor de pelo diretor-geral do DNIT, General de Di- Hidrografia e Navegação, Vice-Almirante visão (R1) Jorge Ernesto Pinto Fraxe. Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior; e (Fonte: www.mar.mil.br)

NHo CRUZEIRO DO SUL REALIZA COMISSÃO PNBoia III-PROTRINDADE V O Navio Hidroceanográfico (NHo) A comissão também serviu ao apoio do Cruzeiro do Sul realizou, entre 17 de julho Programa Nacional de Boias (PNBoia), e 21 de agosto, a Comissão Protrindade V. efetuando coleta de dados meteoceano- A missão teve como propósito o apoio às gráficos e meteorológicos na região do atividades desenvolvidas no âmbito do Pro- Oceano Atlântico compreendida entre grama de Pesquisas Científicas da Ilha da Espírito Santo e Alagoas. Essa operação Trindade – Protrindade, na área adjacente contempla o Plano de Coleta de Dados à cadeia de montanhas submarinas Vitória- Oceanográficos da Diretoria de Hidro- Trindade, Ilhas da Trindade e Martin Vaz, grafia e Navegação, a fim de obter dados com o embarque de pesquisadores de físico-químicos destinados à produção de diversas instituições de ensino. informações ambientais, enriquecendo, assim, o Banco Na- cional de Dados Oce- anográficos (BNDO). O navio esteve, ainda, por duas ocasi- ões atracado no porto de Vitória, entre 1o e 5 e de 16 a 19 de agosto do mesmo mês. (Fonte: www.mar. Navio HidroceanográficoCruzeiro do Sul e a Ilha da Trindade mil.br)

I CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE LOGÍSTICA

Foi realizada de 21 a 25 de outubro últi- Trabalho do biênio 2013-2014 da JID, no mo, no Centro de Convenções da Associação que concerne ao apoio de esforços logís- do Exército dos Estados Unidos da América ticos necessários ao desenvolvimento de (Aeusa) e na Casa do Soldado (sede da Junta atividades combinadas ou multinacionais, Interamericana de Defesa – JID), ambos em em assistência humanitária, desastres na- Washington (EUA), a I Conferência Intera- turais, busca e salvamento, operações de mericana de Logística (I CILog). paz, desminagem humanitária e em outras A I CILog ensejou o cumprimento tarefas que possam ocorrer dentro desse ce- de mandato da Organização dos Estados nário, com o propósito de facilitar e agilizar Americanos (OEA), previsto no Plano de a interoperabilidade das forças militares.

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A JID procurou, com a Conferência, levar à reflexão um tema que está na “ordem do dia” das Forças de Defesa e Segurança de todo o mundo, seja pelo seu emprego em um contexto subsidiário, seja em um contexto de “primeira respos- ta”. Com as valiosas informações disponi- bilizadas, a JID busca prestar à OEA e aos seus estados mem- bros assessoramento Autoridades participantes da I CILog técnico, consultivo e educativo em assuntos relacionados a temas República Dominicana, Trinidad e Toba- militares e de defesa no hemisfério, a fim go, e Uruguai; de chefes de delegações, de contribuir para o cumprimento da Carta delegados e representantes de estados daquela organização. membros e de países observadores da JID; O evento contou com as presenças de de representante da Rede Naval Intera- embaixadores representantes de países mericana de Telecomunicações (RNIT); na OEA; de dirigentes da JID; de repre- e de expositores, que compartilharam sentantes dos ministérios da Defesa de suas experiências logísticas, descrevendo Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, problemas encontrados, soluções adotadas Canadá, Chile, Colômbia, Espanha, Es- e lições aprendidas. tados Unidos da América, México, Peru, (Fonte: www.mar.mil.br)

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Com o lema “Vamos cuidar do Bra- bientais; Geração de Trabalho, Emprego sil”, foi realizada de 24 a 27 de outubro e Renda; e Educação Ambiental. último, em Brasília, a IV Conferência A CNMA expôs preocupações, dividiu Nacional do Meio Ambiente (CNMA), responsabilidades e apresentou reivindica- promovida pelo Ministério do Meio ções e sugestões para aprimorar a política Ambiente (MMA). A quarta edição do ambiental do País. Após meses de uma evento teve o propósito de contribuir para mobilização que reuniu mais de 200 mil a implementação da Política Nacional de pessoas em mais de 65% dos municípios Resíduos Sólidos, com foco nos seguintes brasileiros nos 26 estados e no Distrito Fe- eixos temáticos: Produção e Consumo deral, os delegados presentes à Conferência Sustentáveis; Redução dos Impactos Am- escolheram, ao final do evento, as ações

280 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO prioritárias para auxiliar na implementação que os municípios e Distrito Federal te- da Política Nacional de Resíduos Sólidos. nham condição para que as cooperativas/ A metodologia proposta para a 4a associações de catadores de materiais CNMA definiu a priorização de 15 ações recicláveis executem o trabalho de coleta em cada eixo temático, ou seja, 60 ações seletiva, triagem e educação ambiental nas foram priorizadas num total de 160 escolhi- regiões de sua localização, com a devida das em grupos de trabalho que aconteceram remuneração pelo poder público, dispo- nos dias 25 e 26 de agosto. A proposta mais nibilizando espaços físicos para as suas votada foi do eixo Geração de Trabalho, instalações e seus ecopontos”. Emprego e Renda. Com 562 votos, a ação (Fonte: www.conferenciameioambiente. propõe “garantir recursos financeiros para gov.br)

CONFERÊNCIA ESTADUAL SOBRE LIXO MARINHO EM PARANAGUÁ

Debater ações efetivas para solucio- atribuições da Marinha nesse cenário, nar o problema do lixo marinho e suas atuando como agente fiscalizador de consequências para o turismo ecológico, ações que envolvam a poluição hídrica. para a pesca e para a saúde humana foi o Outro ponto destacado foi a importância propósito da Primeira Conferência Livre da preservação da “Amazônia Azul”, onde do Meio Ambiente sobre Lixo Mari- se concentra grande parte das riquezas nho, promovida pela minerais e naturais Secretaria do Meio do País. Ambiente e Recursos Na conferência, o Hídricos em 20 de oceanógrafo Paulo agosto último, em Fernando Garreta Ha- Paranaguá (PR). rkot, mestre em Saúde Na conferência, Pública e Epidemiolo- foram abordados tam- gia e coordenador do bém temas como a Projeto Lixo Marinho situação do lixo no em Santos, disse que litoral paranaense, o 80% do lixo encon- lixo marinho encon- Conferência na Catedral Metropolitana de trado no mar são ge- trado na pesca ar- Paranaguá rados pelas pessoas tesanal, o efeito do nas cidades. “Apenas lixo marinho nas espécies ameaçadas e a 20% deste são oriundos de navios e de responsabilidade sobre o lixo dos navios atividades pesqueiras e petrolíferas. O lixo mercantes. Este último foi apresentado que hoje está nas ruas amanhã pode estar pela Assessora Jurídica da Capitania dos no mar”, destacou. Portos do Paraná. O evento reuniu cerca de 400 pessoas, Durante a apresentação, foi amplamen- entre elas moradores dos sete municípios do te abordada a questão da poluição marinha, litoral paranaense e de 15 ilhas da região. com enfoque nos navios mercantes e nas Participaram da conferência os represen-

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tantes das seguintes instituições: Instituto Na oportunidade, foram apresentadas Parceiros do Mar (incluindo integrantes do propostas para coleta e destinação do lixo Projeto Surf Seguro); Centro de Estudos urbano e marinho. As propostas aprova- do Mar da Universidade Federal do Paraná das foram cadastradas em um sistema do (UFPR); Instituto Ambiental do Paraná Ministério do Meio Ambiente e enviadas (IAP); Faculdade Estadual de Filosofia, diretamente à 4a Conferência Nacional de Ciências e Letras de Paranaguá (Fafipar); Meio Ambiente, realizada de 24 a 27 de Instituto Mar Brasil; Marinha do Brasil; outubro, em Brasília, e que teve como tema escolas e universidades, além de comuni- a Política Nacional de Resíduos Sólidos. dades do litoral. (Fonte: www.mar.mil.br)

X CONGRESSO ACADÊMICO SOBRE DEFESA NACIONAL

A Escola Naval (EN), localizada na cidade do Rio de Ja- neiro, foi sede, en- tre os dias 2 e 7 de setembro último, do X Congresso Acadê- mico sobre Defesa Nacional (CADN). O evento é uma ativida- Participantes do X CADN de de cunho educacio- nal e cultural promovida pelo Ministério Durante o congresso, foram proferidas da Defesa, por intermédio da Secretaria de palestras por destacadas autoridades civis e Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto. militares, como o ministro da Defesa, Celso O CADN recebeu congressistas de Amorim; o assessor especial para Assuntos instituições brasileiras de ensino superior de Defesa, Ministro Rodrigo Baena Soa- civis e militares, que debateram sobre res; o chefe de Logística do Ministério da problemas relevantes para o País, prin- Defesa, General Adriano Pereira Júnior; cipalmente de interesse da Defesa. Eles e o Almirante de Esquadra (FN) Álvaro participaram também de diversas ativida- Augusto Dias Monteiro, dentre outras. des socioculturais. (Fonte: www.mar.mil.br)

INFRAPORTOS 2013

Direcionada à área de infraestrutura Portos e Terminais. O evento reuniu cerca portuária e de terminais, foi realizada de de 60 empresas dedicadas a desenvolver 22 a 24 de outubro último, em Santos (SP), soluções em equipamentos e serviços para a primeira edição da InfraPortos South a atividade portuária em geral. America – Feira e Conferência Internacio- No pavilhão de exposições, os visitantes nal sobre Tecnologia e Equipamentos para da feira tiveram a oportunidade de conhecer

282 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO o que empresas de vários países do mundo combinada com velocidades elevadas. Esse apresentam em equipamentos portuários; sistema substitui a medição manual e visual movimentação de cargas; empilhadeiras; de carga da embarcação, por arqueamento. terminal tractors; tecnologias de arma- Já a Oceânica, juntamente com sua zenagem e de infraestrutura portuária e parceira holandesa Marin, apresentou um movimentação interna; software e sistemas; modelo simplificado de seu Núcleo de sistema de monitoramento; segurança e Simulações Náuticas – Nautilus – , que controle; e treinamento, além de apoio fica localizado em São Paulo. Na feira, portuário. os visitantes puderam A Toledo do Bra- testar o simulador pela sil, uma das empre- primeira vez. O último sas participantes do dia da InfraPortos foi evento, apresentou dedicado à consolida- novidades na área de ção de networking e pesagens, com siste- negócios. ma de identificação Em paralelo à feira, dos veículos por meio de imagens dos ca- organizada pela UBM Brazil, foram reali- minhões ou contêineres, tudo interligado à zadas as Conferências InfraPortos, com os balança. A Balança Integradora permite ao seguintes temas: Infraestrutura, Construção e cliente fazer o controle do fluxo interno em Investimentos; Meio Ambiente e Legislação; movimento no carregamento de navios, por Eficiência Portuária; Nova Lei, Portos Secos exemplo. Dessa forma, é possível calcular e Concessões; e Segurança e Automação. a média de carga por hora e a quantidade (Fontes: Central de Imprensa Toledo, total carregada e se obter mais exatidão, oceanicabr.com e www.infraportos.com.br)

SÃO PAULO BOAT SHOW 2013

Foi realizada, de 17 a 22 de outubro iate do evento foi o Intermarine 75, com 23,5 último, no Transamérica Expo Center, na metros de comprimento e capacidade para capital paulista, a 16a edição do São Paulo 25 pessoas, com quatro cabines, incluindo Boat Show, mostrando o que o Brasil e o uma suíte máster com ducha. De acordo com mundo produzem de melhor em termos de informações dos organizadores do evento, barcos, motores e equipamentos. O evento os modelos mais vendidos no mercado expôs 230 embarcações, desde as mais nacional, porém, são os menores, abaixo de modestas até as mais luxuosas, entre iates, 24 pés, que variam de R$ 30 mil a R$ 150 veleiros, lanchas, jets, infláveis e caiaques. mil, e um terço das vendas são financiadas. Cerca de 40 mil pessoas visitaram o salão O maior salão náutico indoor da Améri- náutico, movimentando mais de R$ 200 ca Latina também trouxe novidades para os milhões em negócios. apreciadores de eletrônicos. A Raymarine Algumas das embarcações expostas no promoveu o lançamento mundial de seu São Paulo Boat Show chegaram ao preço sofisticado piloto automático com sensor de R$ 12 milhões, segundo estimativa de de nove eixos desenvolvido com tecnologia especialistas no mercado náutico. O maior da Nasa. Ele conduz com extrema precisão

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e segurança um barco a motor ou a vela em tica o processo de exploração de petróleo qualquer condição de mar. Com o sensor em águas profundas, mostrando também a de núcleo EV inteligente, o piloto automá- importância de valorizar a vida marinha, tico evolui e se adapta com peixes, baleias, às características de tartarugas, golfinhos rumo da embarcação e corais. A “viagem” sem quaisquer ajustes seguiu atravessando do usuário. a camada do pós-sal, Outra atração mos- do sal e finalmente trada no salão foi uma chegando ao petró- cabine que simula um leo do pré-sal, a cerca mergulho de subma- de 7 mil metros de rino até o pré-sal, profundidade. Além disponibilizada pela da exposição institu- Petrobras, patrocina- cional, que fez parte dora do evento pelo da campanha dos 60 terceiro ano consecu- anos da Petrobras, a tivo. O ambiente, com companhia também dez lugares e todo divulgou as marcas de fechado, teve duas seus produtos voltados telas embutidas nas ao segmento náutico. paredes simulando es- ( F o n - cotilhas. Os participantes puderam assistir tes: economia.terra.com.br, ali a uma animação de aproximadamente www.engajecomunicacao.com e cinco minutos, que exibiu de forma didá- www.agenciapetrobras.com.br)

“MANIFESTAÇÕES POPULARES: A QUESTÃO DO USO GRADUAL DA FORÇA”

O Comando-Geral do Corpo de Fuzi- (Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas leiros Navais (CGCFN) promoveu, em Gerais e Distrito Federal) e de empresas 5 e 6 de dezembro último, no Centro de fabricantes de tecnologias menos letais, Instrução Almirante Sylvio de Camargo, além de acadêmicos, jornalistas e outros na cidade do Rio de Janeiro, o seminário especialistas no assunto. “Manifestações Populares: A questão do Os participantes apresentaram experiên- uso gradual da força”. cias adquiridas nas manifestações ocorridas O evento contou com a participação em 2013 e debateram aspectos relacionados de representantes de Organizações Mili- à capacitação de pessoal, organização e tares da Marinha do Brasil; do Exército doutrina de forças de controle de tumultos Brasileiro; do Ministério Público; da e distúrbios, bem como o emprego de ar- Gendarmerie Française; do Corpo de mamentos, munições e novas tecnologias Fuzileiros Navais dos Estados Unidos da menos letais em ações de Garantia da Lei e América; de diversas Polícias Militares da Ordem e de Segurança Pública.

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Foram os seguintes os painéis apresenta- trole de tumultos e distúrbios”, “Tecnologias dos: “Manifestações no Brasil e no mundo”, menos letais” e “Experiências recentes e lições “O uso gradual da força para o controle de tu- aprendidas em controle de manifestações”. multos e distúrbios”, “Organização para o con- (Fonte: Bono no 851, de 27/11/2013)

II SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA

Foi realizado em 25 e 26 de setembro Em seguida, o General de Brigada Sérgio último, no Espaço Cultural Laguna, na Roberto Dentino Morgado, do IGHMB, cidade do Rio de Janeiro, o II Seminário proferiu a conferência “A Guerra do Pa- de História da Guerra da Tríplice Aliança. raguai e a construção da identidade bra- O evento foi promovido pelo Exército Bra- sileira”. Ainda no primeiro dia do evento, sileiro (EB), pela Diretoria de Patrimônio foram realizadas três mesas-redondas, Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx) com os temas “Justiça e Saúde”, “Dou- e pelo Centro de Estudos e Pesquisas de trina e Tecnologia” e “O recrutamento História Militar do Exército (CEPHiMEx), para a guerra”. com o apoio do Instituto de Geografia e No segundo dia, as mesas-rendondas História Militar do Brasil (IGHMB), da foram: “A cultura da cidadania no século Diretoria do Patrimônio Histórico e Do- XIX”, “A Campanha da Cordilheira” e cumentação da Marinha (DPHDM) e do “As Operações Fluviais/Encouraçados”. Instituto Meira Matos (IMM). A conferência, com o tema “As consequ- Durante o Seminário, aconteceram ências econômicas da Guerra da Tríplice conferências e debates com temas rela- Aliança”, foi apresentada pela Professora cionados ao conflito que envolveu, de um Doutora Adriana Patrícia Ronco, do Centro lado, o Brasil, a Argentina e o Uruguai, Universitário Augusto Motta (Unisuam). O e, de outro, o Paraguai, entre os anos de diretor do Patrimônio Histórico e Cultural 1864 e 1870. A abertura do evento ficou do Exército, General de Brigada Marcio a cargo do chefe do CEPHiMEx, General Roland Heise, encerrou o evento. de Brigada Marcio Tadeu Bettega Bergo. (Fonte: www.naval.com.br)

SEMINÁRIO “O FUTURO AMAZÔNICO: HIDROVIAS 2014 A 2031”

Foi realizado em Manaus (AM), em 21 Ministério dos Transportes, e com apoio e 22 de novembro último, o seminário “O da Marinha do Brasil (MB). futuro amazônico: hidrovias 2014 a 2031”, O evento abordou assuntos relativos ao promovido pelo Departamento Nacional de sistema hidroviário da região amazônica, com Infraestrutura de Transportes (DNIT) e pela o propósito de contribuir com propostas para o Administração das Hidrovias da Amazônia desenvolvimento de um futuro promissor para Ocidental (Ahimoc), órgão vinculado ao a região, por meio da utilização das hidrovias.

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Foram discutidos temas como plano da Marinha do Brasil nas Hidrovias da hidroviário estratégico, fatores que interfe- Amazônia Ocidental”; “Plano Cartográfico rem no transporte de cargas e passageiros para a Amazônia Ocidental”; “Empresa em hidrovias, situação atual e perspectivas Bertolinni – O futuro e o transporte de dos transportes aquaviários do Amazonas. cargas na Amazônia”; “Fatores que inter- Entre os palestrantes, esteve o co- ferem no transporte de cargas e passageiros mandante do 9o Distrito Naval (Manaus), em Hidrovias”; e “Lições aprendidas: Do Vice-Almirante Domingos Savio Almeida Madeira ao Mississipi”. Nogueira, que apresentaou tema rela- Os módulos do segundo dia foram os cionado às ações da seguintes: “Sindicato Marinha do Brasil nas dos Armadores – A hidrovias da Amazô- visão dos armadores nia Ocidental. para o futuro das hi- Os trabalhos cen- drovias do Amazo- traram-se em três nas”; “As hidrovias painéis: e o desenvolvimento – Identificação das regional”; “Estudo de principais necessi- Viabilidade Técnica dades das hidrovias, Econômica e Ambien- com sugestões de aprimoramentos. tal da Hidrovia do Madeira”; “O transporte – Ganhos econômicos com a utilização de contêineres nas Hidrovias Amazônicas”; das hidrovias. “Situação atual e perspectivas dos trans- – Desenvolvimento regional e as hidro- portes aquaviários do Amazonas”; e “A vias em cenários futuros. questão ambiental e as hidrovias”. A abertura do seminário foi feita pelo Ao final do evento, os participantes diretor-geral do DNIT, General Jorge Er- fizeram uma visita embarcada em navio nesto Pinto Fraxe. No primeiro dia, foram da Marinha do Brasil, navegando nos rios abordados os seguintes temas: “A Ahimoc e Negro e Solimões (Encontro das Águas e suas ações na Amazônia Ocidental; “Plano Orla de Manaus). Hidroviário Estratégico – PHE”; “As ações (Fontes: Comando do 9o DN e Ahimoc)

II SIMPÓSIO DE GUERRA DE MINAS

O Comando do 2o Distrito Naval O simpósio reuniu especialistas e (Com2oDN) realizou, em 22 e 23 de outu- pesquisadores civis e militares, do Brasil bro último, no Centro Militar de Conven- e do exterior, com o propósito de apre- ções e Hospedagem da Aeronáutica, em sentar novas tecnologias e equipamentos, Salvador (BA), o II Simpósio de Guerra de aprofundar conhecimentos e estimular a Minas. O evento contou com 17 palestras troca de informações entre as diversas de especialistas no assunto e com a expo- organizações militares, instituições e sição de alguns dos principais fabricantes empresas envolvidas no âmbito da guer- de tecnologias para a guerra de minas em ra de minas, cujas táticas continuam a âmbito mundial. condicionar fortemente a condução das

286 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO operações de caráter militar naval, bem da ameaça de minas as rotas marítimas como o uso do mar para a navegação de estratégicas para o País. forma geral. Por meio do Gru- O Com2oDN (Sal- po de Avaliação e vador) é a Organiza- A d e s t r a m e n t o d e ção Militar referência Guerra de Minas, em guerra de minas uma das seções de na Marinha do Brasil. seu Estado-Maior, o A ele está subordina- Com2oDN atua para da a Força de Mina- manter, ampliar e gem e Varredura, que difundir os conheci- mantém e emprega os mentos no assunto, navios-varredores da por meio de ativida- classe Aratu, espe- II Simpósio de Guerra de Minas des de pesquisa e da cialmente projetados realização de cursos para atividades de contramedidas de mi- e eventos acadêmicos. nagem, que consistem em manter livres (Fonte: www.mar.mil.br)

X OMARSAT REFORÇA DESENVOLVIMENTO DA OCEANOGRAFIA

O Instituto de Estudos do Mar Almi- conhecimento desses assuntos e o con- rante Paulo Moreira (IEAPM) realizou, sequente domínio da “Amazônia Azul”. entre os dias 15 e 18 de outubro último, a Para o coordenador do evento, Leandro décima edição do Simpósio sobre Ondas, Calado, pesquisador do IEAPM, o simpósio Marés, Engenharia reforça o acompanha- Oceânica e Oceano- mento dos trabalhos grafia por Satélite (X em andamento e am- Omarsat). O evento, plia a discussão sobre considerado um dos as modernas técnicas principais na área da e suas possibilidades oceanografia física de aplicação nos atuais brasileira, reuniu em projetos da área desen- Arraial do Cabo (RJ) volvidos no País. cerca de 200 parti- Neste ano, para a cipantes, entre cien- realização do simpósio, tistas, estudantes de Diretor do IEAPM, Contra-Almirante Oscar o IEAPM contou com pós-graduação, em- Moreira da Silva Filho, durante o evento as seguintes parcerias: presários brasileiros Ministério da Defesa, e pesquisadores estrangeiros das áreas de Diretoria de Portos e Costas, Secretaria da Oceanografia Física, Engenharia Oceânica Comissão Interministerial para os Recursos e Oceanografia por Satélite. O propósito do Mar, Conselho Nacional de Desenvolvi- foi aprofundar os debates e ampliar o mento Científico e Tecnológico, Fundação

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Femar, Salt Ambiental, Iacit Silicon Gra- alunos de pós-graduação pré-selecionados phics, Nortek, ProOceano, CSA e Okeanus. para apresentação oral, nas categorias “Pai- Na ocasião, também foi entregue o Prêmio néis” e “Apresentações Orais”. Almirante Franco aos melhores trabalhos de (Fonte: www.mar.mil.br)

SIMPÓSIO DE SEGURANÇA DO NAVEGADOR AMADOR

A Marinha do Brasil promoveu, de 3 Durante o simpósio, foram ministradas a 6 de outubro, na Escola Naval, Rio de palestras e feitos treinamentos e demons- Janeiro, a 12a edição do Simpósio de Se- trações que abordaram, entre diversos gurança do Navegador Amador. O evento assuntos, noções de primeiros socorros, foi destinado aos navegadores amadores meteorologia, equipamentos de segurança e teve o propósito de disseminar experi- e salvatagem. Foram realizadas, ainda, ências, conhecimentos e normas sobre a atividades de capacitação em motoaquática utilização de embarcações de esporte e e aplicadas provas para a habilitação de recreio, visando à segurança da navega- navegadores amadores nas categorias de ção, à salvaguarda da vida humana no mar arrais, mestre e capitão. e à prevenção contra a poluição do meio (Fonte: Centro de Comunicação Social ambiente marinho. da Marinha)

CAPITANIA FLUVIAL DE TABATINGA FORMA AQUAVIÁRIOS

A Capitania Fluvial de Tabatinga de encerramento contou com a presença de (AM), subordinada ao Comando do 9o autoridades municipais e familiares dos for- Distrito Naval (Manaus-AM), realizou, mandos, ocasião em que foram entregues em 24 de setembro último, a cerimônia os certificados de conclusão de curso para de encerramento do Curso de Formação os 28 novos aquaviários. de Aquaviários, Módulo II (CFAQ-II (Fonte: www.mar.mil.br) C/M), turma 7/2013, no município ama- zonense de Santo Antônio do Içá. O curso tem como propósito qualificar os aquaviários com as competências e habilidades exigidas para exercício das atividades como flu- viários. A cerimônia Encarregado do Ensino Profissional Marítimo, equipe de instrução e formandos

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CURSO ESPECIAL DE NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS INTERNACIONAIS E ACORDOS DE COMPENSAÇÃO

Foi realizado de 19 a 30 de agosto último, no Centro de Instrução e Ades- tramento Almiran- te Newton Braga (CIANB), na cidade do Rio de Janeiro, o Curso Especial de Negociação de Contratos Interna- Oficiais e servidores civis do Curso Especial de Negociação de Contratos cionais e Acordos de Internacionais e Acordos de Compensação Compensação. O propósito é preparar oficiais e de oficiais e servidores civis assemelha- servidores civis assemelhados para o dos de diversas Organizações Militares desempenho de funções atinentes à da Marinha do Brasil, em sua maioria negociação e ao acompanhamento de Diretorias Especializadas. contratos internacionais. Participaram (Fonte: www.mar.mil.br)

CURSO EXPEDITO DE GESTÃO DE BENS CULTURAIS

Foi realizado, de 21 a 25 de outubro NAe São Paulo, Colégio Naval, Diretoria último, sob coordenação da Diretoria do de Engenharia Naval, Comando da Força Patrimônio Histórico de Superfície, Direto- e Documentação da ria do Pessoal Militar Marinha (DPHDM), da Marinha, Batalhão nas instalações do Naval, Comando da Centro de Instrução e Força de Fuzileiros da Adestramento Almi- Esquadra e DPHDM. rante Newton Braga O C-Exp-BC tem (CIANB), na cidade como propósito capa- do Rio de Janeiro, o citar militares e civis Curso Expedito de que lidam diariamente Gestão de Bens Cul- com os bens culturais turais (C-Exp-BC). Alunos em aula prática do C-Exp-BC que compõem as salas O curso é ministrado de memória, os mu- desde 2010, mas esta foi a primeira turma seus, os centros culturais e os gabinetes depois de se tornar expedito. das OM. Participaram nove militares das se- Foram abordados, usando como base a guintes Organizações Militares (OM): SGM-501, temas de gestão; conservação,

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principalmente no que tange à prevenção técnicos e expositivos da DPHDM, quando de danos; higienização; transporte; acondi- puderam verificar os temas abordados em cionamento e exposição de objetos museo- sala de aula. lógicos. Os alunos tiveram aulas teóricas e (Fontes: DPHDM e Bono no 713, de 4 práticas e fizeram visita guiada aos espaços de outubro de 2013)

DELEGACIA FLUVIAL DE CUIABÁ PROMOVE CURSO PARA AQUAVIÁRIOS EM SANTO ANTONIO DE LEVEGER

Uma equipe de militares da Delegacia dades de ingresso na Marinha do Brasil Fluvial de Cuiabá (MT) ministrou, de e os requisitos necessários para tal. Ao 14 a 19 de outubro último, no município término das aulas teóricas e práticas, os mato-grossense de Santo Antonio de alunos foram submetidos a uma avaliação Leveger, o Curso de Formação de Aqua- com os conteúdos aprendidos durante o viários – Marinheiro curso. Os aprovados Fluvial Auxiliar de receberam um cer- Convés e de Máqui- tificado de conclu- nas (CFAQ II C/M). são, atestando que Participaram do cur- estavam habilitados a so 23 alunos da co- compor tripulação de munidade ribeirinha embarcações menores daquele município. do que 14 metros, Aproveitando a com arqueação bruta ocasião, como forma menor do que 50 e de divulgar os assun- potência propulsora tos relativos à Mari- Aula para aquaviários em Santo Antonio de Leveger menor do que 250 nha do Brasil, foi pro- kW, empregadas na ferida paralelamente uma palestra a respeito navegação interior, nas funções de ma- da importância da “Amazônia Azul”. rinheiro auxiliar fluvial de convés ou Durante o curso, os alunos foram marinheiro auxiliar de máquinas. informados sobre as diversas modali- (Fonte: www.mar.mil.br)

CAPES HOMOLOGA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA EGN

O Conselho Técnico-Científico do Ensi- de Pós-Graduação em Estudos Marítimos no Superior (CTC), órgão máximo de avalia- (PPGEM), em nível de mestrado profissional ção da Coordenação de Aperfeiçoamento de (stricto sensu) a ser ministrado na Escola Pessoal de Nível Superior do Ministério da de Guerra Naval (EGN), no Rio de Janeiro. Educação (Capes – MEC), homologou, em O novo curso passa a integrar o Sistema 16 de julho último, a criação do Programa Nacional de Pós-Graduação (SNPG), a ser

290 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO regularmente acompanhado e avaliado por I – Política e Estratégia Marítimas; II – aquela Coordenação, e é o primeiro da área Regulação do Uso do Mar e Cenarização; em todo o território nacional. e III – Ciência, Tecnologia & Inovação e Os Estudos Marítimos conformam um Poder Marítimo. campo acadêmico interdisciplinar que O PPGEM terá duração de dois anos abrange as relações políticas e sociais do letivos, sendo aberto a civis e militares. As homem com os espaços marítimos e as inscrições para o novo programa encerra- águas interiores. O Programa se estrutura ram-se em 8 de novembro. O ano letivo terá em torno da área de concentração “Se- início em 2014, ano do centenário da EGN. gurança, Defesa e Estratégia Marítima”, (Fonte: Centro de Comunicação Social contando com três linhas de pesquisa: da Marinha)

RESULTADOS ESPORTIVOS

VI ULTRAMARATONA RIO 24H – e enfermeiros, foram programadas também FUZILEIROS NAVAIS atividades para os familiares e visitantes. Realizada no Centro de Educação Fí- Foram os seguintes os principais resul- sica Almirante Adalberto Nunes (Cefan), tados da prova: em 5 e 6 de outubro, atraiu atletas de todo – 1o lugar geral – Primeiro-Sargento o Brasil e um de Portugal. A prova teve Elias Pereira de Lacerda, do Hospital das 144 inscritos na categoria individual e 18 Forças Armadas (HFA), com 214 km; inscrições na modalidade de Equipes de – 1o lugar feminino – Cabo Denise Revezamento. Paiva Lucas Campos, atleta do Programa Após cinco participações em edições Olímpico da Marinha do Brasil (Prolim), anteriores, pela primeira vez a Marinha com 191,6 km; do Brasil organizou toda a competição, in- – Equipe campeã de Revezamento Mas- cluindo a cronometragem da prova, graças culino – Equipe do Cefan, com 297,2 km; e à experiência do Cefan em sediar eventos – Equipe campeã de Revezamento esportivos de nível internacional. Além de Feminino – Equipe Pena 3, composta por uma infraestrutura que incluiu médicos, duas atletas civis, com 202,4 km. UTI móveis, fisioterapeutas, nutricionistas (Fonte: Bono no 727, de 9/10/2013)

SEP ASSINA ACORDO COM PORTO DE ANTUÉRPIA

Foi assinado em 11 de setembro último, funcionários de escritório e trabalhadores na embaixada da Bélgica, um Acordo de Co- portuários avulsos, com cursos nas áreas de operação Técnica entre a Secretaria de Portos gestão, infraestrutura e obras portuárias e (SEP) e o Centro de Treinamento do Porto de também no uso e manuseio de equipamen- Antuérpia (Apec), aquela representada pelo tos portuários. Os candidatos selecionados ministro dos Portos, Leônidas Cristino. O poderão participar dos seminários-padrão e documento tem como propósito capacitar os daqueles especialmente elaborados na cidade trabalhadores portuários brasileiros, incluindo de Antuérpia (Bélgica) e/ou no Brasil.

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Em uma primeira fase, o treinamento será A segunda fase do programa incluirá o destinado aos funcionários portuários de es- treinamento de professores brasileiros, a critório dos órgãos públicos envolvidos com serem escolhidos pela SEP, nas instalações o setor portuário (SEP, Agência Nacional de do Apec, na Antuérpia. Os profissionais Transportes Aquaviários, Docas e demais treinarão os trabalhadores portuários avul- órgãos intervenientes), além das empresas sos, principalmente com o uso de simula- privadas arrendatárias dos terminais portu- dores para movimentação de contêineres ários brasileiros. O treinamento será feito (transtêineres e portêineres). por professores belgas da Apec que virão ao Segundo a SEP, o acordo terá grande Brasil para disseminar as melhores práticas importância para fortalecer o atual rela- do setor portuário mundial. cionamento existente, além de promover e O treinamento destinado aos funcio- desenvolver maior compreensão e amizade nários de escritório será organizado por entre Brasil, Bélgica, Flandres, porto da intermédio de seminários de curto prazo, Antuérpia e a Apec. com previsão de cinco dias úteis. Os cursos (Fontes: Asssessoria de Comunicação serão conduzidos em inglês. da SEP e www.portalnaval.com.br)

EXERCÍCIO EMERGÊNCIA ANGRA 2013

Cerca de 650 militares da Marinha do interdição marítima; de apoio aéreo; de Brasil participaram, de 10 a 12 de setembro apoio terrestre; de tratamento de radio- último, do Exercício Geral do Plano de contaminados e de ação cívico-social. O Emergência da Central Nuclear Almirante exercício contou, ainda, com o apoio de um Álvaro Alberto (CNAAA), em Angra dos pelotão especializado em Defesa Química, Reis (RJ). A Força-Tarefa foi dividida nos Biológica, Nuclear e Radiológica (QBNR). seguintes grupos: de evacuação, abrigo e Durante o exercício, cerca de 35 fuzi- leiros navais do Gru- pamento de Fuzileiros Navais do Rio de Ja- neiro realizaram uma ação cívico-social no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Guignard, no Parque Mambuca- ba. Os militares com habilidade em obra, pintura, metalurgia e elétrica reformaram a quadra de esportes, o refeitório, a cozinha, banheiros, corredo- res, rampas de acesso, Simulação de evacuação por via marítima alojamentos e parte da

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área externa do Ciep. Brigada Ronaldo Pierre Cavalcanti Lund- Uma equipe de pronto emprego formada gren. Na ocasião, foi inaugurada a quadra por 32 militares, entre médicos e profis- de esportes, com homenagem da banda do sionais de saúde de diversas Organizações Ciep Guignard à Marinha do Brasil. Em se- Militares da Marinha, prestou atendimento guida, a comitiva visitou o Pelotão QBNR. à população nas dependências do Ciep. Fo- No último dia de exercícios, os militares ram realizados cerca de 180 atendimentos participaram de simulações de evacuação em clínica médica, pediatria e oftalmologia. por via aérea e marítima. Uma suposta ví- A estrutura tinha a capacidade de atender tima radiocontaminada foi transportada por 200 pacientes por dia. Além disso, dentis- uma aeronave da Marinha para o Hospital tas ensinaram preceitos básicos de higiene Naval Marcílio Dias, na cidade do Rio de bucal às crianças. Outros 15 médicos do Janeiro. Na Praia Vermelha, cerca de 50 Curso de Formação de Oficiais (CFO) voluntários, moradores da área próxima às acompanharam a ação. usinas, foram evacuados em uma embar- A Diretoria do Patrimônio Histórico cação de desembarque de carga geral. Em e Documentação da Marinha promoveu apoio aos exercícios, foram utilizados um oficina de incentivo à leitura e doação de navio de desembarque de carros de com- livros infantis no Ciep, além de montar as bate, um navio-patrulha, um rebocador de exposições itinerantes “Poder Naval” e alto-mar, três embarcações de desembarque “Amazônia Azul” na Casa Larangeiras, no de carga geral, cinco lanchas da Delegacia Centro de Angra. da Capitania dos Portos em Angra dos Reis No dia 11, o Ciep Guignard recebeu a e três aeronaves. visita do ministro chefe do Gabinete de O Exercício Emergência Angra 2013 foi Segurança Institucional da Presidência coordenado pelo Gabinete de Segurança da República (GSI), General José Elito, Institucional da Presidência da República, acompanhado do comandante do 1o Distrito órgão central do Sistema de Proteção ao Naval, Vice-Almirante Ilques Barbosa Ju- Programa Nuclear Brasileiro (Sipron). As nior, do secretário de Acompanhamento e ações foram organizadas pelo Comitê de Estudos Institucionais do GSI, Contra-Al- mirante Paulo Cesar Demby Corrêa, e de outras autoridades militares. No dia 12, visita- ram a escola, entre outras autoridades, o diretor presidente da Eletronuclear, Vi- ce-Almirante (Refo) Othon Luiz Pinheiro da Silva, e o chefe do Centro de Operações do Comando Militar do Leste, General de Aeronave da Marinha durante o exercício

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Planejamento de Resposta a Situações de de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Emergência Nuclear em Angra dos Reis. Janeiro; do Instituto Estadual do Ambiente O treinamento contou com a participação do Rio de Janeiro; da Polícia Militar do Es- de representantes da Agência Brasileira de tado do Rio de Janeiro; da Força Nacional; Inteligência; da Eletrobras Eletronuclear; e da Polícia Rodoviária Federal, além da da Comissão Nacional de Energia Nuclear; Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro da Defesa Civil Nacional, Estadual e Muni- e da Força Aérea Brasileira. cipal de Angra dos Reis e Paraty; do Corpo (Fonte: www.mar.mil.br)

MB FORNECE UNIFORMES PARA A GUARDA COSTEIRA DE CABO VERDE

Durante cerimônia comemorativa do 20o Estado-Maior das Forças Armadas, Major- aniversário da criação da Guarda Costeira General Alberto Carlos Barbosa Fernan- de Cabo Verde, realizada em 11 de outubro des; e o comandante da Guarda Costeira, na cidade de Mindelo, Ilha de São Vicente, Tenente-Coronel Anildo Emanuel da Graça foram utilizados pela Morais. Comparece- primeira vez os novos ram também militares uniformes fornecidos do Núcleo da Missão à Guarda Costeira da- Naval do Brasil em quele arquipélago pela Cabo Verde, repre- Marinha do Brasil sentando a Marinha (MB). O fornecimento do Brasil, e civis e decorre de protocolo militares estrangeiros assinado em 2012 pelo de países que mantêm comandante da Ma- representações locais. rinha, Almirante de O ministro da De- Esquadra Julio Soares Novos uniformes da Guarda Costeira de Cabo Verde fesa Nacional salientou de Moura Neto. que “a Missão Naval Estiveram presentes à cerimônia auto- representa um novo impulso à parceria estra- ridades civis e militares cabo-verdianas, tégica que está para ser construída entre os dois entre elas o primeiro-ministro, José Maria países, a partir do apoio da MB para a moder- Neves; o ministro da Defesa Nacional, nização da Guarda Costeira de Cabo Verde”. Jorge Homero Tolentino Araújo; o chefe do (Fonte: www.mar.mil.br)

FORMOSA 2013 – O MAIOR EXERCÍCIO DA FFE

A Operação Formosa 2013 – o maior no Planalto Central, mais de 2 mil militares exercício da Força de Fuzileiros da Esqua- portando seus armamentos individuais. dra (FFE) – reuniu, de 16 de outubro a 2 de Também integraram a operação aeronaves, novembro, para uma simulação de guerra carros de combate, veículos blindados de

294 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO transporte de tropas, veículos anfíbios paz, como a que ocorre no Haiti; e, princi- sobre lagartas, mísseis anticarro, mísseis palmente, operações anfíbias na defesa da superfície-ar, veículos aéreos não tripula- “Amazônia Azul”. dos (Vant), entre outros meios de combate. No dia 29 de outubro, foi conduzida A Operação Formosa é o coroamento de uma demonstração operativa, que permitiu um ciclo de exercícios que visa garantir o obter uma avaliação geral sobre o exercício adestramento e testar realizado e sobre algu- o estado de pronti- mas capacidades da dão dos Grupamentos Marinha do Brasil e, Operativos de Fuzi- mais especificamente, leiros Navais (GptO- do Corpo de Fuzileiros pFN) componentes Navais. da FFE, permitindo à Visando assegurar Marinha do Brasil res- o máximo de realismo ponder imediatamente às ações, foi utiliza- a um amplo espectro da munição real em de atividades, como: todos os armamentos apoio aos órgãos de Formosa 2013 empregados. Durante Segurança Pública do o evento, foi possível, Estado do Rio de Janeiro; assistência ainda, visitar os blindados e um hospital de humanitária, como a montagem de um campanha, bem como outros meios ope- hospital de campanha no Chile em menos rativos que se encontravam desdobrados de 48 horas, por ocasião do terremoto que no terreno. atingiu aquele país em 2010; operações de (Fonte: www.mar.mil.br)

MB PARTICIPA INTENSAMENTE DA OPERAÇÃO LAÇADOR DE 2013

A Marinha do Brasil participou intensa- do Comando de Grupamento de Patrulha mente, de 16 a 27 de setembro último, da Naval do Sul para a realização do controle de Operação Laçador, exercício de adestra- mento de militares das três Forças Armadas. Este foi o 35o exercício desse porte realizado pelo Ministério da Defesa (MD) desde 2002. O propósito foi aprimorar os treinamentos de integrantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para atuarem, de forma coorde- nada e eficaz, em conflitos convencionais. Mais de 8 mil militares estiveram en- volvidos no exercício, coordenado pelo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA). Em 18 de setembro, os Navios- Abordagem simulada de um Patrulha Benevente e Babitonga desatracaram navio pesqueiro com armamento irregular

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área marítima. Na ocasião, o Benevente fez em apoio aos segmentos mais necessitados uma abordagem ao Babitonga, que simulou da população; promover experimentações um “navio pesqueiro” suspeito de portar doutrinárias de interesse para as operações armamento de origem desconhecida. conjuntas; e sistematizar a atuação conjunta Na região do Comando do 5o Distrito Naval das três forças sob a coordenação do MD. (Com5oDN), em Rio Grande (RS), as principais As tropas realizaram Ações Diretas de manobras tiveram como foco a Estação Naval Forças Especiais, Transporte de Tropa com do Rio Grande, que simulou o porto da cidade. Pouso de Assalto, Transposição de Curso Cerca de cem fuzileiros navais do grupamento da D’Água, Controle de Localidade, Ações cidade ficaram de prontidão para qualquer tipo sobre Reserva Inimiga e Tropas de Defesa de ameaça. Em situações de Área de Retaguar- simuladas, mantiveram da, Estabelecimento atenção para o caso de os de Cabeça de Ponte Mergulhadores de Com- Aérea, Patrulha Antis- bate da Marinha (MEC) submarino, Defesa de tentarem uma infiltração Ponto Sensível com na Estação Naval. Apoio da Artilharia Foram empregados Antiaérea, Controle de na Laçador, além dos Danos e Ressuprimen- Navios-Patrulha Be- to Aéreo, entre outras. nevente e Babitonga, Em 23 de setembro, os seguintes meios do Ministro da Defesa visita o o ministro da Defesa, Com5oDN: Corveta Centro de Coordenação e Controle da Operação Celso Amorim, acom- Imperial Marinheiro e panhou, em Porto Ale- Rebocador de Alto-Mar Tritão, bem como gre, as atividades da Operação Laçador de quatro lanchas-patrulha e seis flex boats da 2013. Segundo ele, a integração entre as três Capitania dos Portos. Forças Armadas deve garantir mais segu- A Operação objetivou manter a operacio- rança para o Brasil. “Somente por meio do nalidade das tropas na Região Sul; adestrar conhecimento recíproco é possível defender os diversos Comandos e respectivas tropas o País de uma maneira mais eficaz, com em ações críticas de combate, apoio ao maior economia de meios e maior eficiência combate e apoio logístico, singulares e/ou de resultados”. Toda a técnica treinada deve conjuntas; adestrar os diversos sistemas ope- servir, segundo o ministro, para operações racionais, promovendo e sedimentando a ca- durante a Copa do Mundo de 2014. pacidade de interoperabilidade entre as For- (Fontes: www.mar.mil.br, http://www. ças; realizar Ações Cívico-Sociais (Aciso) operacoes.defesa.mil.br)

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ESTÁGIO DE QUALIFICAÇÃO TÉCNICA ESPECIAL EM OPERAÇÕES NA AMAZÔNIA

O Grupamento de Fuzileiros Navais um total de 50 alunos inscritos, 43 foram de Belém (GptFNBE) realizou, de 20 a considerados qualificados. 30 de agosto último, O EQTEspOPAOr o 2o Estágio de Qua- é focado nas atividades lificação Técnica Es- operacionais, sendo de- pecial em Operações senvolvido por meio de na Amazônia Oriental instruções práticas, das (EQTEspOPAOr). O quais podem se desta- estágio tem o pro- car: orientação terrestre pósito de qualificar e fluvial, nós e voltas, os militares recém- técnicas especiais em apresentados na Or- área de selva, patrulha, ganização Militar Estágio de Qualificação Técnica na Amazônia inspeção naval, comuni- para o planejamento cações, fundamentos das e a execução de Operações Ribeirinhas e operações ribeirinhas, higiene e primeiros so- de Apoio à Inspeção Naval no ambiente corros, motores e manobras com embarcações. operacional da Amazônia Oriental. De (Fonte: www.mar.mil.br)

NAVIOS-PATRULHA REALIZAM AÇÃO DE PRESENÇA NO LAGO GRANDE DO CURUAI

Os Navios-Patrulha (NPa) Bocaina e Foi a primeira vez que um navio-patru- Pampeiro, do Comando do Grupamento lha da classe Bracuí, que possui calado de de Patrulha Naval do 3,1m – um dos maio- Norte (ComGptPat- res meios da área do NavN), realizaram, Comando do 4o Distri- de 30 de julho a 13 to Naval (Belém-PA), de agosto, ações de pôde adentrar no Lago Patrulha Naval (Pa- Grande do Curuai, tnav), Inspeção Na- em face das pequenas val (IN) e levanta- profundidades no ca- mentos operacionais nal de acesso. no Rio Amazonas, O trabalho do na- na região do Lago vio somente foi pos- Grande do Curuai – NPa Bocaina e LAR na entrada do sível após levanta- considerado o maior Lago Grande do Curuai mentos hidrográficos lago da Amazônia, realizados, no ano localizado no Estado do Pará, distante passado, no local por um Grupo-Tarefa 34 milhas (aproximadamente 60 km) da do ComGptPatNavN e que resultaram na cidade de Santarém. confecção de um croqui de navegação.

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Aliado a isso, duas Lanchas de Ação Rápida (LAR) à frente do navio realizavam levan- tamentos por bati- metria, para que se pudesse verificar a exequibilidade da navegação. As LAR também fo- ram empregadas nas atividades de Visita do Grupo de Escoteiros de Santarém ao NPa Bocaina, Santarém IN de embarcações de transporte de passageiro, de transpor- pessoas, entre eles estudantes e um grupo te geral e regional, devido à rapidez e à de escoteiros, tiveram a oportunidade eficiência nas abordagens. de conhecer as importantes atividades De 8 a 11 de agosto, o NPa Bocaina realizadas pela Marinha do Brasil e pelo atracou, também pela primeira vez, no navio, assim como de assistir aos vídeos Cais Turístico de Santarém, sendo aber- institucionais “Como Ingressar na Mari- to à visitação pública, nos dias 9 e 10 nha” e “Amazônia Azul”. daquele mês. Na ocasião, mais de mil (Fonte: www.mar.mil.br)

NOVOS VEÍCULOS PARA O CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

O Comando do Material de Fuzileiros Navais finalizou, em 18 de outubro último, a entrega técnica de seis caminhões de transporte não espe- cializado para Orga- nizações Militares da área do Comando do 1o Distrito Naval, no Rio de Janeiro (RJ). Os veículos, com tra- Caminhões Atego 1725/42 ção 4x4, são do tipo Atego 1725/42, da Mercedes-Benz. Instrução Almirante Sylvio de Camargo, Na ocasião da entrega, foram distri- uma para o Grupamento de Fuzileiros buídas três unidades para o Centro de Navais do Rio de Janeiro e duas para o

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Centro de Instrução Almirante Milcíades tam o Plano de Aceleração do Crescimento do Portela Alves. Governo Federal, totalizando 195 unidades Os veículos, produzidos no Brasil, fazem distribuídas para a Marinha do Brasil. parte do lote de 88 unidades que complemen- (Fonte: www.mar.mil.br)

PLANO NACIONAL DE CONTINGÊNCIA

Por meio do Decreto Federal no 8.127, foi O Decreto prevê diversos prazos para editado, em 22 de outubro último, o Plano a criação de comissões e realização de Nacional de Contingência (PNC) para inci- treinamentos na área, além da ação inte- dentes de poluição por óleo em águas sob grada de diversos órgãos do Poder Execu- jurisdição nacional. O lançamento do PNC tivo, das Forças Armadas, das Agências estava previsto inicialmente na Convenção Reguladoras, do Instituto Brasileiro do Internacional Sobre Preparo, Resposta e Coo- Meio Ambiente e dos Recursos Naturais peração em Caso de Poluição por Óleo de 1990 Renováveis (Ibama) e dos estados e (ORPC/90), da qual o Brasil foi signatário. municípios. O Plano integra um sistema de resposta a Também há a previsão de criação do acidentes, composto também pelos planos de Sistema de Informações Sobre Inciden- emergência individual exigidos no curso do tes de Poluição por Óleo em Águas Sob licenciamento das empresas que atuam em Jurisdição Nacional (Sisnóleo), a ser de- águas sob jurisdição nacional e pelos Planos senvolvido e implementado pelo Ibama no de Área, regulados pelo Decreto 4.871/03, para prazo de 18 meses. abranger uma determinada área geográfica. (Fonte: RMA Comunicação e Negócios)

AGÊNCIA FLUVIAL DE PARINTINS REALIZA CURSO DE AQUAVIÁRIO EM NHAMUNDÁ

Foi realizado, de 16 a 24 de setembro úl- para as categorias de convés e máquinas, timo, pela Agência Fluvial de Parintins, su- bem como qualificá-los para exercerem bordinada à Capitania as funções embarca- Fluvial da Amazônia das, em especial para Ocidental, o Curso de o transporte escolar do Formação de Aquavi- município. ários (CFAQ-II C/M Devido à grande – Turma 4/2013) e um procura, principalmen- curso extra-Prepom te da tribo indígena (Turma 1/2013). Os Escariana e dos Ca- cursos aconteceram traeiros, que realizam a no município de Nha- travessia de Faro (PA) mundá (AM). Militares e aquaviários da tribo indígena Escariana para Nhamundá, foi O Curso de Formação de Aquaviários autorizado um Curso extra-Prepom pela teve como propósito habilitar aquaviários Diretoria de Portos e Costas (DPC).

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De um total de 60 inscritos, 59 alunos Durante esse período, foram ins- concluíram o curso, sendo que, destes, critas 32 embarcações, exibidos fil- sete eram da tribo Escariana, localizada metes navais e ministradas palestras no Alto Nhamundá. Os membros da tribo em escolas, com temas voltados para esperavam por essa oportunidade para que a segurança da navegação, para um pudessem navegar habilitados, cumprindo público de 1.565 alunos. as normas da Autoridade Marítima. (Fonte: www.mar.mil.br)

NPa MACAU APOIA APRESAMENTO DE EMBARCAÇÃO IRREGULAR

O Navio-Patrulha (NPa) Macau efetuou, dois agentes da Polícia Federal. Após o em 13 de agosto último, o apresamento da apresamento, a embarcação japonesa foi embarcação pesqueira Shoei Maru no 07, escoltada pelos Navios-Patrulha Macau de bandeira japonesa, que apresentava irre- e Goiana até a atracação na Base Naval gularidades nos seus petrechos de pesca. O de Natal. Macau, navio do Comando do Grupamento (Fonte: www.mar.mil.br) de Patrulha Naval do Nordeste (subordi- nado ao Comando do 3o Distrito Naval – Natal-RN), estava, na ocasião, realizando uma operação de Pa- trulha Naval no litoral do Recife (PE). Na operação, es- tavam embarcados no NPa Macau um fiscal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re- cursos Naturais Re- nováveis (Ibama) e Abordagem do Shoei Maru no 07

MB E PREFEITURA DE BERTIOGA ASSINAM CONVÊNIO PARA FISCALIZAÇÃO DE EMBARCAÇÕES

Foi assinado em 19 de agosto último, do Brasil e o município para fiscalização, na Prefeitura de Bertioga (SP), convênio nas praias da localidade e nas respectivas de cooperação técnica entre a Marinha áreas adjacentes, do tráfego de embar-

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cações e dos equipamentos náuticos em A fiscalização do tráfego de embar- geral que possam colocar em risco a in- cações e dos equipamentos náuticos em tegridade física dos geral visa ao cumpri- cidadãos. Estiveram mento das Normas da presentes ao ato da Autoridade Marítima assinatura o coman- (Normam) e dos Pla- dante do 8o Distrito nos de Uso e Ocupação Naval (São Paulo- do Solo, em especial o SP), Vice-Almirante Decreto no 1.883 de 21 Liseo Zampronio; o de novembro de 2012, capitão dos portos que disciplina a entra- de São Paulo, Capi- da e a saída de embar- tão de Mar e Guerra Assinatura do convênio cações marítimas e dá Marcelo Ribeiro de Souza; e o prefeito de outras providências em relação ao assunto. Bertioga, José Mauro Dedemo Orlandini. (Fonte: www.mar.mil.br)

PIRATARIA POR GANGUES FORTEMENTE ARMADAS CRESCE NA COSTA DA NIGÉRIA

Ataques piratas com sequestros de car- por gangues de piratas no Golfo da Guiné gas e tripulações de navios em trânsito pelo desde 2010. Golfo da Guiné, especialmente ao largo Os países do Golfo da Guiné são im- da costa da Nigéria, cresceram um terço portantes exportadores de commodities, em 2013. De acordo com o International como petróleo e cacau, além de metais para Maritime Bureau (IMB), que coordena os mercados mundiais. Diferentemente a luta contra crimes marítimos, piratas das perigosas águas ao largo da Somália normalmente violentos e pesadamente ar- e do Chifre da África, na costa leste do mados vêm atacando navios e tripulações continente, onde os navios navegam com ao longo da costa da Nigéria e em rios, velocidade, alguns armados e com guardas ancoradouros, portos e águas adjacentes. a bordo, nessa região os navios possuem Em muitos casos, vandalizam os navios, pouca proteção e precisam fundear para levando, inclusive, petróleo. realizar seus negócios, tornando-se alvos Segundo o IMB, a Nigéria é a principal fáceis para criminosos, o que vem fazendo localização de pirataria na região, com 29 disparar os custos com seguros. Em junho ataques a navios nos primeiros nove meses de 2013, foi noticiado que nações da África de 2013, um acréscimo em comparação Ocidental e Central acordaram em criar um aos 21 registrados no mesmo período do centro de monitoração para coordenar os ano passado. Na Costa do Marfim, ocor- esforços de combate à pirataria. reram quatro ataques em 2013 versus três A IMB divulgou também que, nos nove em 2012. Em relatório recente, a firma de primeiros meses de 2013, o Golfo da Guiné segurança dinamarquesa Risk Intelligence foi responsável por todos os sequestros de estimou que 117 mil toneladas de produtos tripulações do mundo, sendo 32 na Ni- derivados de petróleo com custo de 100 géria e dois em Togo. Nesses incidentes, milhões de dólares haviam sido roubadas os marinheiros são normalmente levados

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Localização de incidentes de pirataria no Golfo da Guiné

para terra e mantidos como reféns. Apesar Em reação ao aumento de custos dos do crescimento quantitativo no ocidente seguros para armadores e para prover africano, os números globais de ataques segurança para tripulações, Marinhas inter- piratas diminuíram ao nível mais baixo nacionais vêm adotando ações preventivas desde 2006, devido à redução dos ataques contra piratas, tais como ataques às suas ba- pelas gangues da Somália. Ocorreram 188 ses na costa da Somália. As companhias de incidentes de janeiro a setembro de 2013, navegação também vêm adotando guarda menos do que os 233 do ano passado. Os armada nos navios e outras medidas pre- sequestros de pessoas também diminuíram ventivas, entre elas a monitoração destes. para 266, comparados aos 458 no mesmo (Fonte: Jonathan Saul, Reuters, 17 de período de 2012. outubro de 2013)

BTP INAUGURA SEU TERMINAL EM SANTOS

Após seis anos de trabalho e investi- ministro dos Portos, Antônio Henrique mento, foi inaugurado, em 28 de novem- Silveira, e o diretor-presidente da BTP, bro último, o terminal da Brasil Terminal Henry Robinson. Portuário (BTP) em Santos (SP). Estiveram Com a inauguração, a BTP iniciou presentes à cerimônia de inauguração o oficialmente as operações comerciais em

302 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO seu moderno terminal multiuso na região O terminal, que está instalado em área de da Alemoa, à margem direita do Porto 490 mil m2 do Porto Organizado, tem capa- Organizado de Santos. A operação parcial cidade atual para movimentar 1,2 milhão de do terminal teve início em agosto deste TEUs anuais e previsão de movimentação de ano, após obtenção da licença ambiental, 1,4 milhão de toneladas de granéis líquidos, seguida da declaração de alfandegamento quando implementado em sua fase final. Com e da licença de operação. o terminal em operação, a BTP espera elevar O Projeto tem o know-how de duas das em cerca de 40% a capacidade de movimen- mais importantes empresas do setor por- tação atual de contêineres no porto de Santos. tuário no mundo, a Terminal Investment A BTP aguarda a conclusão dos serviços Limited (TIL) e a APM Terminals, em joint de dragagem no canal, já em curso pela venture desde 2010. Somadas, elas operam Autoridade Portuária (Codesp) e Secretaria 98 terminais em diferentes regiões. O in- de Portos (SEP), para operar em condi- vestimento realizado na BTP foi da ordem ções plenas, que permitirão incrementar de R$ 2 bilhões até 2013. significativamente a competitividade do maior porto da Améri- ca Latina. Com a nova profundidade do canal homologada a 15 me- tros, o terminal estará apto a receber em seu cais até três embarca- ções da nova geração de navios que está sendo empregada na costa brasileira, com capacidade superior a 9 mil TEUs. (Fonte: In Press Terminal da BTP Porter Novelli)

NEUROTECH FIRMA PARCERIA COM GSTS PARA MONITORAMENTO MARÍTIMO

O Simpat, sistema inteligente para O sistema terá como principais funciona- monitoramento marítimo global, será lidades alertas automáticos e estimativas de desenvolvido e comercializado por meio risco de colisão de embarcações. Além do de parceria, em modelo consórcio, entre tráfego, é possível também, com o sistema, as empresas Neurotech (especializada em identificar riscos de pesca ilegal; de danos am- soluções tecnológicas para estratégias em bientais e de tráfico ou contrabando de drogas, gestão de riscos) e a canadense GSTS, armas, seres humanos, animais e produtos. fornecedora de serviços de monitoramento O acordo prevê que a Neurotech comer- de tráfego marítimo tradicional. cialize no Brasil o recém-lançado Simpat, e

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que a GSTS explore o mercado internacio- Canadá e conta com a expertise das duas nal. A solução é destinada principalmente a empresas e do conhecimento acadêmico do portos, companhias de navegação e segura- Centro de Informática da Universidade Fe- doras de navios. Seu público-alvo também deral de Pernambuco e das Universidades inclui organismos de gerenciamento de se- de Dalhousie e de Ottawa, no Canadá. Será gurança e proteção marítima, de segurança a primeira vez que a Neurotech aplicará a ambiental e os órgãos de controle de pesca. tecnologia de Domain-Driven Data Mining O projeto entre a Neurotech e a GSTS sobre dados georreferenciados. faz parte de um programa binacional Brasil- (Fonte: EPR Comunicação Corporativa)

CPAOR ACOMPANHA TESTES PARA COMBOIO DE GRÃOS

Uma equipe da Capitania dos Portos máximo, com capacidade de transporte de da Amazônia Oriental (CPAOR), subor- 40 mil toneladas, o que corresponde a cerca dinada ao Comando do 4º Distrito Naval de 1.300 carretas de 30 toneladas cada. (Belém-PA), acompanhou, no final do A conclusão da CPAOR é que não fo- primeiro semestre deste ano, testes práticos ram observados obstáculos que impeçam de navegação e manobra para liberação do a navegação no percurso, tendo o comboio transporte de grãos com comboios de 40 passado em condições seguras nos rios mil toneladas. A solicitação para o acom- Tapajós e Amazonas, nos períodos diur- panhamento foi feita pela empresa Hermasa nos e noturnos. Na região dos estreitos, a Navegação da Amazônia, e os testes foram navegação será apenas no período diurno, realizados nos rios Tapajós e Amazonas e em virtude das inúmeras vilas e residências na Região dos Estreitos, no trecho compre- de ribeirinhos construídas muito próximas endido entre o Terminal de Miritituba e o às margens dos furos e do intenso tráfego município de Barcarena, nas proximidades de embarcações regionais e de transporte do porto de Vila do Conde, no Pará. de carga na área, havendo a necessidade A avaliação teve em vista a futura con- de uma embarcação auxiliar para orientar solidação do corredor de escoamento de o tráfego das demais embarcações. grãos por meio do Rio Tapajós, proveniente (Fonte: www.mar.mil.br) da região produtora do norte do estado do Mato Grosso, pela rodovia BR-163 com transbordo em Miritituba, distrito de Itaituba (PA), e destino às proximidades de Barcarena, onde a carga será transbordada para os navios. O comboio foi composto por um empurrador acoplado a 20 bar- caças graneleiras, organizadas em cinco colunas, com dimensões de 283,92 m de comprimento, 53,35 m de boca e 4,20 m de calado Comboio de 40 mil toneladas

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FIESC: CABOTAGEM CRESCE 20% AO ANO

Com crescimento de 20% ao ano entre Segundo a pesquisa, esse modal, ainda 2012 e 2014, a cabotagem (navegação assim, enfrenta resistências: 51,8% dos mercante entre portos de um mesmo país) empresários entrevistados afirmam que é o modal que mais rapidamente pode a cabotagem não atende aos mercados mudar a matriz de transporte brasileira. de destino dos produtos. Os demais, no A conclusão faz parte de pesquisa, sob entanto, citam desconhecimento do modal iniciativa da Federação das Indústrias de (12,5%), excesso de burocracia (19,6%), Santa Catarina (Fiesc), com empresários custos não competitivos (1,8%) e tempo catarinenses feita durante a realização de trânsito que não atende à necessidade da Câmara para Assuntos de Transporte da empresa (14,3%). e Logística da Fiesc, dentro do Plano Nas reuniões realizadas em Criciúma de Mobilidade SC. O evento aconteceu e Florianópolis, a Fiesc colheu sugestões nos dias 19 (em Criciúma) e 20 (em de usuários, empresas e instituições sobre Florianópolis) de novembro último, com problemas relacionados ao transporte de seminários para coleta de sugestões da cargas e passageiros. Foram mais de 370 comunidade. propostas, que serão agrupadas em neces- Segundo a especialista em logística sidades de investimentos, planejamento, Clara Rejane Scholles, da Pratical One, ações políticas e soluções locais. Segundo que conduziu a pesquisa, a cabotagem o presidente da Câmara para Assuntos de apresenta custos reduzidos, em especial Transporte e Logística da Fiesc, Mário para distâncias a partir de 1,5 mil quilô- Cezar de Aguiar, o Plano de Mobilidade metros e para cargas que estejam a 200 ou do órgão tem o propósito de “identificar no máximo 400 quilômetros de um porto. os gargalos do transporte e suas possíveis Ela salienta, além disso, que a cabotagem soluções, com sugestões que serão encami- é o modal que menos exige investimento nhadas aos órgãos competentes”. em infraestrutura. (Fonte: Assessoria de Imprensa da Fiesc)

NOVOS CATAMARÃ E BIBLIOTECA NA TRAVESSIA SANTOS/GUARUJÁ

A travessia de pedestres entre Gua- pedestres no Brasil, o “Mar de Letras”, rujá e Santos, em São Paulo, passou a localizada em Guarujá. O governador de contar, desde 28 de agosto último, com São Paulo, Geraldo Alckmin, participou uma nova lancha do tipo catamarã. A LS de ambas as solenidades. 02 é a segunda das quatro embarcações O novo catamarã – assim como a Me- adquiridas pela Desenvolvimento Rodo- nina da Praia (LS 01), entregue em abril viário S/A (Dersa) por meio do Plano de –– tem capacidade para 350 passageiros, Modernização das Travessias Litorâneas. é fechado e equipado com ar condicio- Na ocasião da entrega da embarcação, nado e possui poltronas com encosto de a Dersa também inaugurou a primeira cabeça e aparelhos de TV. Construída em Comboio de 40 mil toneladas biblioteca em travessias litorâneas de fibra de vidro, a LS 02 possui casco du-

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plo, o que garante navegação com maior Litorâneas, implantado em conjunto com estabilidade. o Centro de Controle Operacional das As lanchas antigas serão retiradas de Travessias (CCO) em dezembro de 2012. operação gradualmente, na medida em que O sistema monitora as balsas e as filas em as novas entrarem em operação. A tercei- tempo real, permitindo que se criem ações ra e a quarta lanchas para melhorar o aten- restantes estão em dimento ao usuário e fase de construção e o trânsito no entorno devem ser entregues da travessia. ainda este ano. A biblioteca inau- A previsão é de gurada pela Dersa que a capacidade na ocasião, chama- operacional da tra- da “Mar de Letras”, vessia de passagei- é uma iniciativa em ros entre Santos e parceria com o Pro- Guarujá aumente em Novo catamarã Santos-Guarujá jeto Ler é Saber, do cerca de 15% com o Instituto Brasil Lei- investimento, da ordem de R$ 26,8 mi- tor (IBL). É oferecida aos passageiros lhões. Uma média de 18 mil passageiros da travessia Guarujá-Santos a retirada utilizam atualmente o serviço de travessia de livros gratuitos, com um acervo de por lanchas. mais de 2 mil obras. O patrocínio é das Na ocasião, foram assinados também empresas Internacional Marítima, ABS dois convênios para o compartilhamento, Construções e Montagens, DFF Serviços entre a Dersa e as prefeituras de Guarujá Técnicos e Paranoá. Para utilizar o servi- e Santos, das informações e imagens ço, os passageiros precisam apenas fazer obtidas pelo Sistema Integrado de Mo- o cadastro gratuito. nitoramento Eletrônico das Travessias (Fonte: Assessoria de Imprensa da Dersa)

GUIA RÁPIDO DA PENSÃO MILITAR

Foi lançada recentemente a edição (SIPM), nos Postos de Atendimento Avan- atualizada do Guia Rápido da Pensão Mi- çado (PAA), nas Organizações de Apoio litar (Girapem), que tem como finalidade e Contato (Omac) e nas Organizações apresentar um roteiro simplificado das Recadastradoras (Orec). primeiras providências a serem tomadas O Girapem também está disponível na e como proceder por ocasião do óbito página do SIPM na intranet (www.sipm.mb), do militar, dando início ao processo de na opção Downloads/Manuais, e na internet habilitação à pensão. A publicação foi (www.sipm.mar.mil.br), na opção Informa- editada com a colaboração do Serviço de ções/Manuais. O conteúdo será reproduzido Assistência Social da Marinha (Sasm) e nas próximas edições no Jornal dos Inativos está disponível para leitura nos setores de e Pensionistas da Marinha (Jipe), que integra atendimento ao público na sede do Serviço a publicação Noticiário de Bordo. de Inativos e Pensionistas da Marinha (Fonte: Bono no 765, de 22/1/2013)

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N-SAIPM, VOLUNTÁRIAS CISNE BRANCO E SENAC FIRMAM PARCERIA EM MANAUS

O Núcleo de Serviço de Assistência In- (Cetam), Joésia Moreira Julião Pacheco; da tegrada ao Pessoal da Marinha (N-SAIPM) gerente da Unidade de Serviço do Serviço do Comando do 9o Distrito Naval (Manaus- Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas AM), as Voluntárias Cisne Branco – Sec- Empresas (Sebrae), Samia Cardoso; dos cional Manaus e o Serviço Nacional de titulares das Organizações Militares su- Aprendizagem Comercial (Senac) firma- bordinadas ao Distrito; e das esposas de ram, em 12 de setembro último, parceria militares que compõem as Voluntárias com o propósito de disponibilizar à Família Cisne Branco – Seccional Manaus. Naval atividades de educação profissional e ações extensivas de aperfeiçoamento profissional e social.

VA Savio com os parceiros do projeto e as Voluntárias Cisne Branco

Os cursos serão gratuitos, com forne- cimento de material didático e emissão de certificado. As aulas serão ministradas na Unidade de Ensino Fluvial do Senac, a “Balsa Escola” do Senac na Estação Naval do Rio Negro “Balsa Escola”, que está atracada no cais da Estação Naval do Rio Negro, em Manaus. A cerimônia contou com a participa- A balsa está equipada com laboratórios que ção do comandante do 9o Distrito Naval, permitem a realização de aulas teóricas e Vice-Almirante Domingos Savio Almeida práticas nas áreas de informática, saúde, Nogueira; da diretora regional do Senac, imagem pessoal, turismo e hospitalidade. Silvana Ferreira; da diretora regional do Serão realizadas também ações extensivas, Serviço Social do Comércio (Sesc), Simone como palestras e oficinas, com o apoio do Guimarães; da diretora-presidente do Cen- Cetam, do Sesc e do Sebrae. tro de Educação Tecnológica do Amazonas (Fonte: www.mar.mil.br)

8o DN RECEBE O PROGRAMA AUTORIDADE MIRIM

O Comando do 8o Distrito Naval (São programa consiste em apresentar aos estu- Paulo-SP) recebeu, em 10 de outubro últi- dantes do 6o ano do Ensino Fundamental mo, 23 crianças do Programa Autoridade o trabalho executado pelos Três Poderes, Mirim, da cidade paulista de Barueri. O pelas Forças Armadas e Auxiliares e por

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representantes de empresas de grande porte instaladas na cidade de São Paulo. Os alunos com melhores notas concor- rem aos cargos. As eleições são condu- zidas pelos educadores, mas dispõem de campanhas para a captação de votos, zonas eleitorais e dia de votação, permitindo que todos exercitem a democracia. Para assumir simbolicamente a chefia do Departamento de Administração do Comando do 8o Dis- trito Naval, o aluno Vinicius Bezerra Fran- cisco foi escolhido como autoridade mirim Autoridades mirins com o Vice-Almirante Liseo o representando a Marinha do Brasil (MB). Zampronio, comandante do 8 DN Na oportunidade, os alunos, após par- “Os Navios da Esperança”. Em seguida, ticiparem de cerimônia militar, assistiram percorreram a sede do Distrito, vivenciando aos vídeos “Nossa Marinha”, “Amazônia as atividades da MB. Azul”, “Como ingressar na Marinha” e (Fonte: www.mar.mil.br)

MB LANÇA APLICATIVO PARA SMARTPHONES E TABLETS

A Marinha do Brasil (MB) lançou, apple.com/br/app/radio-marinha-fm/ em 5 de novembro último, seu primeiro id731673620?mt=8. A versão para aplicativo para smartphones e tablets, smartphones e tablets, com sistema ope- com o propósito de racional Android, foi facilitar aos cida- lançada no dia 28 do dãos brasileiros o mesmo mês. acesso às notícias e A Rádio Marinha, informações sobre a de caráter educativo, instituição, por meio é um veículo de co- dos seguintes recur- municação social da sos: Rádio Marinha, Marinha do Brasil Facebook oficial e criado com o propó- Twitter. A grande sito de fornecer infor- novidade do aplica- mações e músicas de tivo é a possibilitade qualidade e aprimorar de se ouvir a Rádio o conhecimento da Marinha FM em dis- sociedade brasileira positivos portáteis. sobre as atividades O aplicativo para MB lança aplicativo para smartphones e tablets da Força, além de dispositivos com ampliar a divulgação iOS (iPhone e iPad) pode ser baixado do conceito de soberania nas Águas Ju- clicando no banner da página da Mari- risdicionais Brasileiras e de conquistar nha do Brasil ou no link https://itunes. voluntários para a carreira naval.

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Atualmente, a rádio está presente em (101,1 MHz). Além do aplicativo, pode FM nas cidades de São Pedro da Aldeia-RJ ser ouvida, também, pela internet, no site (99,1 MHz), Corumbá-MS (105,9 MHz), oficial da MB – www.mar.mil.br. Manaus-AM (99,9 MHz) e Natal-RN (Fonte: www.mar.mil.br)

ATLÂNTICO – A HISTÓRIA DE UM OCEANO

Foi lançado em 22 de novembro último, “Naus e tecnologias náuticas no Atlântico no Museu Naval, na cidade do Rio de Janeiro, nos séculos XVI-XVIII” (António Manuel o livro Atlântico – a história de um oceano, da Silva Ribeiro); “O Atlântico e o co- dos historiadores Francisco Carlos Teixeira mércio negreiro” (Suely Creusa Cordeiro da Silva, Karl Shurster de Sousa Leão e Fran- de Almeida); “O Atlântico na época do cisco Eduardo Alves de Almeida (organiza- vapor: o impacto da Revolução Industrial” dores), pela Editora Civilização Brasileira. (Gian Carlo de Melo Silva); “Um oceano A obra reúne estudos de revoluções. Histó- que, da Antiguidade ria e historiografia do Clássica até o século Atlântico e de suas XXI, abordam deta- revoluções nos séculos lhadamente aspectos XVII e XVIII” (Fran- históricos, políticos e cisco Carlos Teixeira militares do Oceano da Silva); “O Atlânti- Atlântico. co: ciência e tecnologia O livro, de 546 pá- naval nos séculos XIX ginas, é dividido em e XX” (Armando de 16 capítulos, além Senna Bittencourt); de apresentação e in- “A Grande Guerra e trodução: “O Brasil o Atlântico” (Francis- em face do Atlântico: co Eduardo Alves de os novos desafios” Almeida); “O sistema (os organizadores); de alianças coletivas “Paisagens, territórios e o Atlântico – 1919- e regiões: as bases de 1939” (Karl Schurs- uma história dos gran- ter); “O Atlântico, a des espaços” (Flávia defesa hemisférica e a de Sá Pedreira); “Para Segunda Guerra Mun- além das colunas de dial” (Ricardo Pereira Hércules: o Atlântico na Antiguidade” (José Cabral); “Organização do Tratado do Atlân- Maria Gomes de Souza Neto); “O Oceano tico Norte” (Sidnei José Munhoz); “Imagens Atlântico: o outro limes de Roma” (Norma e histórias nas perspectivas transatlânticas Musco Mendes); “O renascimento do Atlân- sobre o século XX” (Renato Petrocchi); “A tico: os grandes impérios marítimos” (Luiz defesa hemisférica em crise: uma geopolítica Carlos de Carvalho Roth); “Mare clasum e do Atlântico” (Reginaldo Gomes Garcia dos mare liberum: episódios luso-neerlandeses Reis); e “O petróleo offshore no Atlântico no Atlântico Sul” (Rômulo Nascimento); Sul” (Jaqueline Lima Ximenes Melo).

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PROJETO ALBATROZ LANÇA LIVRO E VÍDEO SOBRE AVES MARINHAS

O Projeto Albatroz, que conta com pa- dos Albatrozes e Petréis (Acap), do qual o trocínio da Petrobras, lançou recentemente Brasil passou a fazer parte em 2008, com o o livro e o vídeo intitulados Albatroz, um apoio do Projeto Albatroz; a parceria com a projeto pela vida. O livro é de autoria de Petrobras, por meio do Programa Petrobras Tatiana Neves, coordenadora geral do Pro- Ambiental; e o histórico do desenvolvi- jeto. O material reúne, mento de tecnologias em imagens e relatos para mitigar a captura de pesquisadores, pes- das aves pelos barcos de cadores e parceiros, a espinhel. história desta iniciativa. “Navegando pelos O Projeto Albatroz mares da conservação”, completou, no fim de o segundo capítulo, 2013, 23 anos de ativi- aborda as características dades, realizadas com dos albatrozes e petréis, o propósito de reduzir a as ameaças que colocam captura acidental de al- muitas dessas espécies batrozes e petréis, aves em risco de extinção, marinhas ameaçadas os aspectos da pesca de de extinção. O livro, espinhel pelágico e o editado pela DBA, des- surgimento do Projeto creve, em 129 páginas, Albatroz. O terceiro ca- a história desses anos da pítulo, “Todos a Bordo”, organização. São quatro capítulos, ilustra- evidencia as ações de educação ambiental e dos por fotos de albatrozes e petréis. de mobilização social como estratégias de As apresentações couberam à Petrobras, envolvimento da sociedade nas questões à diretora presidente do Instituto Albatroz, de conservação da biodiversidade marinha. Patrícia Palumbo, e ao músico Lenine. O O livro é encerrado com capítulo dedicado primeiro capítulo, “A Rota do Albatroz”, à Rede Biomar, formada pelos Projetos conta os principais marcos da trajetória Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo, Gol- da organização, entre eles a criação do finho Rotador e Tamar, além da Petrobras Instituto Albatroz; a construção da rela- e outras entidades. ção com órgãos internacionais – como o (Fontes: Agência Petrobras e www. Acordo Internacional para a Conservação projetoalbatroz.org.br)

CONHECENDO A HISTÓRIA PELA MARINHA

A Diretoria do Patrimônio Histórico tura militar naval, tanto para quem quer e Documentação da Marinha (DPHDM) se aprofundar no estudo da História do disponibiliza para o público em geral Brasil como para quem deseja um bom obras de grande importância para a cul- passatempo.

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Apresenta-se a seguir a relação das estrangeiros e outros elementos que circu- publicações que podem ser adquiridas na lavam a bordo dos navios ou nas cercanias própria DPHDM, na Praça Barão de Ladá- dos portos. rio, s/no, Ilha das Cobras, Centro, Rio de – A Evolução do Pensamento Estratégi- Janeiro, ou por meio da Mala Postal-MB. co Naval Brasileiro, Armando A. Vidigal, Neste caso, o pedido deve ser feito pelos 137 páginas. O livro cobre o período do e-mails: [email protected] ou pensamento estratégico da Marinha desde dphdm-522@dphdoc, ou, ainda, pelo tel/ a Independência (que, para o autor, assi- fax (21) 2104-5492 ou Sistelma 8110-5492, nala o nascimento da Marinha do Brasil) e mediante envio do comprovante do depósito destaca a modernização tecnológica na área bancário no valor dos livros solicitados, em militar, o Programa de Reaparelhamento da nome do Departamento Marinha e o renascer da Cultural do Abrigo do Aviação Naval brasilei- Marinheiro – Banco ra, em 1998. Real, Agência 0915, – A Guerra da La- C/C 3003212-4, CNPJ gosta, Cláudio da Costa 72.063.654/0011-47. Braga, SDM, 2004, 196 – 11 de Setembro de páginas. Relato sobre 2001, Armando Amo- a crise externa com a rim Ferreira Vidigal, França no início da dé- 268 páginas. Uma aná- cada de 1960. lise de como as pro- – A Mala Marrom, fundas mudanças nas João Paulo Moreira relações internacionais Brandão, Edição Inde- dos Estados Unidos da pendente, 84 páginas. América, após a tragé- Recordações sobre o dia do 11 de Setembro, período em que o autor se refletiram sobre o foi aluno do Colégio e Brasil. da Escola Naval (fim – 1910 – O Fim da dos anos 50), contadas Chibata, Cláudio da de forma pitoresca. Costa Braga, Edição do Autor, 2010, 435 – A Marinha D’Outrora, Afonso Celso páginas, ilustrado. Relato dos bastidores da de Assis Figueiredo (Visconde de Ouro Revolta dos Marinheiros, na cidade do Rio Preto), SDGM, 1981, 326 páginas. O de Janeiro, na busca da abolição dos casti- mais completo livro sobre a Guerra do gos corporais sofridos pelos praças a bordo Paraguai. O autor foi ministro da Marinha dos navios de guerra da Marinha do Brasil. (1866/68). – A Bordo do Contratorpedeiro Bar- – A Marinha do Meu Tempo, Gastão Pe- bacena, João Carlos Gonçalves Caminha, nalva, SDGM, 1983, 355 páginas. Crônicas Editora Catatau, 1994, 840 páginas, ilus- autobiográficas desde a entrada de Penalva trado. Romance ambientado na 2a Guerra na Escola Naval, em 1904, até sua reforma, Mundial, tendo como personagens oficiais em 1928, no posto de capitão-tenente. e praças da Força Naval do Nordeste e da – A Marinha Pitoresca, Helio Leoncio IV Esquadra Norte-Americana, pessoal da Martins, Décio de Oliveira Guimarães e Marinha Mercante, espiões, nacionais e Augusto César da Silveira Carvalhedo,

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Clube Naval, 238 páginas, 1988, ilustrado. – As Preciosas Redicolas – Entremez Coletânea de crônicas bem-humoradas ba- representado a bordo da Nau Santa Ana- seadas em fatos reais durante a passagem Carmo-S.Jorge em 1771, Carlos Francisco dos autores pela Marinha. Moura, Instituto Luso-Brasileiro de Histó- – A Paz é Possível?, Luiz Sanctos Döring, ria do Liceu Literário Português, Rio, 2001, SDM, 1989, 143 páginas. Uma análise dos 63 páginas. O autor estuda as circunstâncias comportamentos humanos que parecem da encenação da peça (Les Précieuses contribuir para a eclosão de conflitos. Ridicules), uma comédia de Moliére, que – A Reconciliação do Brasil com o Mar, servia para divertir tripulantes e passageiros Arthur Oscar Saldanha da Gama, SDGM, a bordo de embarcações que, no século 1976, 150 páginas. Estudo, em linguagem XVIII, faziam longas e penosas viagens. leve, das origens da família Saldanha da – Aventura em Dose Dupla, Egberto B. Gama, recordando a Sperling, 278 páginas. formação histórica pe- Duas histórias de ficção: ninsular e as façanhas o achado de um perga- coloniais portuguesas. minho fenício no Rio – Abrindo estradas de Janeiro, em 1990, no mar: a hidrografia conduz o protagonista da costa brasileira no a uma aventura em 840 século XIX, Helio Le- a.C.; e o reencontro com oncio Martins, SDM, um amigo de juventude, 2006, 110 páginas, cientista, transporta o ilustrado. A história herói a uma viagem do desenvolvimento da através do tempo. Hidrografia no Brasil – Baliester. Oito no século XIX. Narra cartões postais de an- a saga de idealistas, tigos navios: Cruzador pioneiros das ativida- Barroso, Torpedeira des hidrográficas em Pedro Afonso, Navio- nossas águas jurisdi- Mercante Maranhão, cionais, apresentando os trabalhos efe- Encouraçados Minas Gerais e São Paulo, tuados por Diogo Jorge de Brito, Albin Cruzador Primeiro de Março, Navio-Esco- Reine Roussin, Louis Marius Barral, Louis la Benjamin Constant e Corveta Bertioga, François Tardy de Montravel, Vital de todos no tamanho 15 x 10 cm. Oliveira, Barthélemy Mouchez, Torres e – Brasil: 60 Anos de Operações de Alvim e Antonio Luiz von Hoonholtz, o Paz, Embaixador Paulo Roberto Campos Barão de Teffé. Apresenta, ainda, a his- Tarrisse de Fontoura, 1a edição, 2009, 306 tória da Repartição Hidrográfica até 1920 páginas. Esta homenagem aos brasileiros e da atual DHN. e brasileiras que serviram em operações – Almirante Lorde Cochrane – Uma fi- de manutenção da paz das Nações Uni- gura polêmica, Helio Leoncio Martins, 134 das retrata, numa coletânea fotográfica, páginas. Biografia do primeiro almirante da a participação brasileira desde o fim da então Esquadra Imperial, Lord Alexander Segunda Guerra Mundial. As histórias Thomas Cochrane, figura bastante polêmi- resumidas das operações de paz mostram ca. Clube Naval, 1997. aos leitores o contexto político em que se

312 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO deu a intervenção das Nações Unidas e o citações e mencionar dados necessários à papel desempenhado pelos brasileiros nos sua identificação. eventos que moldaram o mundo recente. – Conselhos aos Jovens Officiaes, – Cinco Anos na Pasta da Marinha, Ma- Henrique Aristides Guilhem, SDM, 121 ximiano Eduardo da Silva Fonseca, Edição páginas, ilustrado. O ex-ministro da ma- Independente, 1985, 303 páginas. O almi- rinha (1935/45) reúne conselhos, regras rante registra sua experiência durante os sobre etiqueta e cartas e instruções para cinco anos em que foi ministro da Marinha. manejo de embarcação sob mau tempo e – Bottas & Espora – As Façanhas de para salvamento de afogados. João Bottas, Lucas Alexandre Boiteux e – De Aspirante a Almirante – Volumes Colbert Demaria Boi- I e II, Artur Silveira da teux, 193 páginas. Nar- Mota (Barão de Jace- rativa de dois irmãos, guay), SDGM, 1984- almirantes da Armada 1985, 1.218 páginas. brasileira e entusiastas Relatos de 1858 a 1900: de nossos feitos navais, campanhas do Uruguai que pesquisaram sobre a e do Paraguai; a pri- vida de João das Bottas, meira missão brasileira heroico marinheiro que à China; Canudos; a lutou com denodo no formação da Armada mar pela Independência brasileira e outros as- do Brasil. suntos. – Calipso, Luiz – Diário da Cam- Döring, 309 páginas. panha Naval do Para- As praias, os bares e guai – 1866, Almirante as ruas do bairro de Manuel Carneiro da Ipanema, no Rio de Rocha, SDM, 1999, Janeiro, fazem parte do 356 páginas. A Guerra cenário deste divertido do Paraguai vista por romance, que surpre- um oficial de Marinha a ende o leitor com situações inesperadas a bordo de um navio de guerra em operação cada página. de combate. Abrange o período em que o – Colégio Naval – 50 anos, SDM, 2001, Almirante Tamandaré esteve à frente do 100 páginas. O livro, de autoria de Gui- conflito, de 8 de fevereiro a 31 de dezembro lherme de Andrea Frota, antigo professor de 1866. da instituição, reúne a história do Colégio – Dicionário Marítimo Brasileiro, He- Naval desde a sua fundação até os dias de rick Marques, Segunda Edição Revisada, hoje, sendo não apenas um livro de história, Clube Naval, 1996, 501 páginas. Registro mas também um álbum da “família” ao sistematizado e de rápida consulta da termi- completar 50 anos de existência. nologia geral usada na Marinha do Brasil, – Como Elaborar Citações e Notas bem como do principal acervo da que foi de Rodapé, André Figueiredo Rodrigues, usada no passado. Associação Editorial Humanitas, 2005, 74 – Direito do Seguro Marítimo (Doutrina páginas, 2a edição. Orientações para auto- e Jurisprudência), Fernando José Marques, res, acadêmicos ou não, de como elaborar Femar, 1998, 432 páginas. Uma das mais

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completas coletâneas de informações que e Giuseppe Garibaldi – e suas amantes, descrevem experiências e ensinamentos todas fidelíssimas até os últimos momentos. sobre o direito do seguro marítimo, sua – História da Construção Naval no doutrina e jurisprudência. Fornece ao Brasil, Pedro Carlos da Silva Telles, Femar, leitor uma visão abrangente dos diversos 2001, 275 páginas. Relato histórico dos problemas que decorrem da operatividade esforços, sucessos e ciclos de crescimento do contrato e o orienta para suas soluções. propiciado no ramo da engenharia naval, – Efemérides Navais, Garcez Palha, dando impulso na construção naval civil e SDM, 1983, 448 páginas. Resumo cronoló- levando o País a se colocar como um dos gico dos fatos mais importantes da História líderes mundiais nesse ramo industrial. Naval Brasileira, de 1o de janeiro de 1822 – História da Intendência da Mari- a 31 de dezembro de nha (1500-1800), Luís 1890. Cláudio Pereira Lei- – Estórias Navais vas e Levy Scavarda, Brasileiras, Helio Le- Diretoria de Intendên- oncio Martins e Antô- cia da Marinha, 1972, nio Augusto Cardoso de 437 páginas, ilustrado. Castro, SDGM, 1985, Profunda pesquisa, que 218 páginas. Casos pi- inclui fac-símiles de torescos vividos pelos manuscritos coloniais. autores na Marinha, da – História Na - Segunda Guerra Mun- val Brasileira – Pri- dial até a viagem de meiro Volume, Tomo circunavegação do Na- I, SDGM, 1975, 346 vio-Escola Almirante páginas, ilustrado. A Saldanha, em 1952/53. Marinha e o Brasil (Pe- – Fuzileiros Navais: dro Calmon); A arte de da Praia de Caiena às navegar na época dos ruas do Haiti, Almi- Grandes Descobrimen- rante Carlos Augusto tos (Luiz Mendonça de Costa, SDM, 2005, 95 Albuquerque); A nave- páginas. Trajetória do Corpo de Fuzileiros gação a vela no litoral brasileiro (João da Navais desde sua criação, no século XVIII, Gama Pimentel Barata, Carlos Francisco aos dias de hoje, com ênfase na segunda Moura e Max Justo Guedes); As primeiras metade do século XX, quando o CFN se expedições de reconhecimento da costa transformou de uma tropa de guarda e re- brasileira (Max Justo Guedes); Cristóvão presentação, mal equipada e mal armada, Jaques e as armadas guarda-costas (Ro- em um instrumento adequado para a pro- lando A. Laguarda Trías); A expedição de jeção do Poder Naval sobre terra. Sebastião Caboto (Rolando A. Laguarda – Gloriosas Amantes, Helio Leoncio Trías). Martins, BHMN, 2005, 128 páginas. Não – História Naval Brasileira – Primeiro é um livro de história, garante o autor, Volume, Tomo II, SDGM, 1975, 276 pági- mas um livro de amor. As relações entre nas, ilustrado. A viagem de Martim Afonso quatro grandes ícones da história mundial de Souza (Rolando A. Laguarda Trías); recente – Hitler, Mussolini, Solano López A França Antártica (Philippe Bonnichon

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Ferrez); Incursões de corsários e piratas 1817 (Antônio Pimentel Winz e Max Jus- na costa do Brasil (Paulo Berger, Antônio to Guedes); Ocupação da Banda Oriental Pimentel Winz e Max Justo Guedes); A (José Antônio Soares de Souza). França Equinocial (Philippe Bonnichon e – História Naval Brasileira – Terceiro Max Justo Guedes); Ações navais contra Volume, Tomo I, SDM, 2002, 436 pági- os estrangeiros na Amazônia 1616-1633 nas, ilustrado. A Evolução da Estrutura (Max Justo Guedes). Administrativa do Ministério da Marinha – História Naval Brasileira – Segundo no Império (Herick Marques Caminha); Volume, Tomo I-A, Max Justo Guedes, Organização do pessoal na Marinha Impe- SDGM, 1990, 428 páginas, ilustrado. rial (Herick Marques Caminha); A Criação As guerras holandesas no mar: do ata- da Marinha Imperial (Brian Vale); A ação que à Bahia em 1624 à da Marinha nas Guer- expedição de Hendri- ras da Independência ck Brouwer ao Chile (Brian Vale); A ação da (1643/44). Marinha na Confedera- – História Naval ção do Equador (Brian Brasileira – Segun- Vale); Campanha Naval do Volume, Tomo I-B, na Guerra Cisplatina Max Justo Guedes, (Helio Leoncio Mar- SDGM, 1993, 180 tins e Lucas Alexandre páginas, ilustrado. As Boiteux). guerras holandesas no – História Naval mar: a restauração de Brasileira – Quarto Vo- Angola e a guerra an- lume, Lauro Nogueira glo-holandesa. Furtado de Mendonça, – História Naval SDM, 2001, 186 pági- Brasileira – Segun- nas, ilustrado. Retrata do Volume, Tomo II, a Marinha Imperial de SDGM, 1979, 492 pá- 1870 a 1889, abordando ginas, ilustrado. A ex- os aspectos administra- pedição de Silva Pais e o Rio Grande de tivos, de pessoal, o material, os sinistros São Pedro (Abeillard Barreto); Segurança marítimos, comissões de destaque, os servi- da navegação nos séculos XVI-XVIII: ços de hidrografia, cartografia e navegação navios atrilhados, frotas e comboios (Max e a vida cultural, entre outros. Justo Guedes); Tentativas espanholas de – História Naval Brasileira – Quinto domínio do Sul do Brasil (Abeillard Barre- Volume, Tomo I-A, Helio Leoncio Martins, to); Opção Portuguesa: restauração do Rio SDM, 1995, 297 páginas, ilustrado. A re- Grande e entrega da Colônia do Sacramento cém-nascida República brasileira enfrenta – 1774/77 (Abeillard Barreto); Transmigra- um período de grande turbulência política, ção da família real para o Brasil (Antônio que culmina com a Revolta da Armada Marques Esparteiro, Pedro Calmon e Antô- (1893) e a Revolução Federalista. nio Luiz Porto e Albuquerque); A conquista – História Naval Brasileira – Quinto de Caiena (Luís Cláudio Pereira Leivas e Volume, Tomo 1-B, Helio Leoncio Mar- Luís Felipe de Castilhos Goycochêa); A tins, Herick Marques Caminha, Dino Willi Marinha e a Revolução Pernambucana de Cozza e Mônica Hartz Oliveira Moitrel,

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SDM, 1997, 290 páginas. A estrutura ad- – Manual de higienização e acondicio- ministrativa do Ministério da Marinha na namento do acervo museológico do SDM, República; Pessoal; Poderes combatentes; SDM e Fundação Vitae de Apoio à Cultura, A Revolta dos Marinheiros; Comissões de Educação e Promoção Social, 88 paginas, destaque; Sinistros marítimos; Participação 2006, ilustrado. Publicação inédita no da Marinha brasileira na Primeira Grande Brasil, apresenta a experiência do SDM no Guerra; Panorama dos primeiros anos da trato do seu acervo, em linguagem simples Marinha republicana. e objetiva, mostrando passo a passo todos – História Naval Brasileira – Quinto os procedimentos necessários para uma Volume, Tomo II, SDGM, 1985, 472 boa manutenção de acervos museológico páginas, ilustrado. A Marinha brasileira e mesmo particulares, como documentos, no período entre as guerras (1918-1942) pinturas, cerâmicas, roupas etc. (Álvaro de Rezende – Manual de Lide- Rocha, Helio Leoncio rança, Afonso Barbosa, Martins, Herick Mar- Julio Roberto Gonçal- ques Caminha, Antônio ves Pinto e Joy Morais, Maria Nunes de Souza, Diretoria de Ensino da José Celso de Macedo Marinha, 1996, 91 pá- Guimarães e Fernando ginas. Os autores vi- Cotta Portela); A Mari- sam ao aperfeiçoamento nha na Segunda Guerra dos recursos humanos, Mundial (Artur Oscar criando condições para Saldanha da Gama e a melhoria de seu de- Helio Leoncio Martins); sempenho como pro- O após-guerra, olhando fissionais em nossos na- para o futuro (Mario vios e estabelecimentos. Cesar Flores). – Marquês de Ta- – Ilha da Trindade, mandaré – Patrono da Ruy José Válka Alves, Marinha: seu perfil his- SDM, 1998, 140 pági- tórico. José Francisco nas. O autor apresenta de Lima. SDM, 1999, dados sobre a história 724 páginas, ilustrado. e geografia, a geologia e a geomorfologia, Documentos revelam as qualidades que a ecologia, a flora e fauna desta singular fizeram do Almirante Tamandaré um porção de um outro Brasil, tão diferente legítimo intérprete da formação moral e da massa geologicamente estável do Brasil intelectual do povo brasileiro. (Prêmio continental, o Brasil vulcânico erguido Literário Nacional – INLL-1982) sobre as profundidades atlânticas e apenas – Medalhas e Condecorações, SDGM, emergido pelos topos de suas projeções 1983, 67 páginas, ilustrado. Edição luxu- singulares como Trindade, Martin Vaz e osa, ilustrada, em papel couché, que apre- Fernando de Noronha. senta a evolução histórica das medalhas e – Luvas e Punhais, Gastão Penalva, condecorações conferidas pela Marinha do SDGM, 1982, 168 páginas. Contos e crô- Brasil desde sua criação. nicas sobre as viagens do autor pelo mundo – Memórias das campanhas contra o como oficial da Marinha. Estado Oriental do Uruguai e a República

316 RMB4oT/2013 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do Paraguai, Euzébio José Antunes, SDM, Navio Veleiro Cisne Branco, o autor ofe- 2007, 162 páginas. Secretário e ajudante de rece neste folheto conhecimentos mínimos ordens do Almirante Tamandaré quando imprescindíveis para o pessoal da Marinha este assumiu o Comando em Chefe da que vá servir a seu bordo. Força Naval em Operações no Rio da Prata, – O Brasil e a Nova Ordem Mundial, Ar- Antunes revela a sensatez do Almirante mando Amorim Ferreira Vidigal, SDGM, Tamandaré nas decisões tomadas e tam- 1991, 95 páginas, ilustrado. O fim do bém suas próprias preocupações diante da mundo bipolar, a Nova Ordem Mundial e iminente ameaça paraguaia. Edição come- o papel reservado ao Brasil neste contexto. morativa do Bicentenário de Nascimento – O Descobrimento do Brasil, Max do Almirante Tamandaré. Justo Guedes, DPHCM, 1998, 64 páginas. – Memórias de um Engenheiro Naval, A obra visa a dar aos leitores perspectivas Júlio Regis Bittencourt, náuticas da epopeia de Serviço de Documenta- Pedro Álvares Cabral. ção da Marinha, 2005, – O Tenentismo na 275 páginas. Memórias Marinha, Francisco do Almirante Júlio Re- Carlos Pereira Cascar- gis Bittencourt, desta- do, Editora Paz e Ter- cando sua imensurável ra, 2005, 825 páginas. contribuição para a MB, O livro mostra que as por meio de seu espírito rebeliões tenentistas empreendedor, colocan- não começaram com o do em funcionamento levante do Forte de Co- pleno, durante a Segun- pacabana, em julho de da Guerra Mundial, o 1922 (que deu origem Arsenal de Marinha do ao episódio dos 18 do Rio de Janeiro, que in- Forte), e sim dois me- crementou a construção ses antes, com a cons- de navios de guerra. O piração dos aviadores autor ressalta, ainda, o navais da Ilha das En- seu relacionamento har- xadas, que planejavam mônico com a família e bombardear o cortejo com os amigos. do Presidente da República. – Navigator, DPHDM. Publicação se- – O Último Baile do Império, Cláudio da mestral que tem como propósito preservar Costa Braga. Edição do Autor, 113 páginas, a memória marítima por meio de publi- ilustrado. O livro apresenta os pormenores cação de artigos científicos que versem do baile oferecido pelo governo brasileiro sobre História da Navegação, Arqueologia à oficialidade do Encouraçado chileno Subaquática, Cartografia Marítima Antiga, Almirante Cochrane em retribuição às Colonização e Defesa do Litoral, Batalhas homenagens prestadas no ano anterior ao Navais e outros temas relativos à História Navio-Escola brasileiro Almirante Bar- Marítima. roso quando de sua passagem pelo Chile: – Noções Básicas sobre Navios de Vela, a escolha do local, a presença da Família Alberto Piovesana Júnior, Femar, 2006, 52 Imperial, as roupas usadas, a decoração, o páginas, ilustrado. Primeiro imediato do jantar, a ceia, as danças e os fatos marcantes

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ocorridos nos seus bastidores, que serviram da Marinha (1921), como os inéditos de argumento para os republicanos que exercícios de tiro em alvos móveis com os tramavam a queda da Monarquia. encouraçados. – Organização e Administração do Mi- – Recomendações para o futuro coman- nistério da Marinha na República, Herick dante, Luiz Sérgio Silveira Costa, SDM, Marques Caminha, SDM e Funcep, 1989, 3a edição, 2010, 174 páginas, revisado e 514 páginas. Os principais momentos da atualizado. O autor conta aos sucessores o atuação da Marinha na República e sua evo- resultado de sua observação e experimen- lução administrativa. tação como oficial de – Panorama do Po- Marinha, abordando te- der Marítimo Brasilei- mas como: Assunção de ro, Mario Cesar Flores comando; Manobras em (coordenador), SDGM águas restritas; Mano- e Bibliex, 1972, 448 bras no mar; O tempo no páginas, ilustrado. Ofi- mar; Honras de portaló; ciais de Marinha, di- e Direito Internacional plomatas e especialistas no Mar. escrevem sobre o tema. – Reminiscências da – Pesadelo no mar, Guerra do Paraguai, Sergio Roberto Quei- Artur Silveira da Mota roz, 204 páginas. Neste (Barão de Jaceguay), romance, ambientado SDGM, 1982, 196 pá- em 1990, a corveta fic- ginas. Cenas e episódios tícia Caiçara é assom- passados no palco e nos brada pela figura mito- bastidores da guerra. lógica Hárpia, que personifica os ventos – Revista Marítima Brasileira, DPHDM. violentos, as tempestades e os fantasmas. Publicação trimestral, apresenta artigos de – Patescas e Marambaias, Gastão Pe- autores nacionais e estrangeiros sobre as- nalva, SDGM, 1981, 108 páginas. Relatos suntos históricos, técnicos e estratégicos, de episódios verídicos, recheados de amo- além de outras seções. Assinatura anual: res, aventuras, esperanças e desenganos. R$ 36,00; Avulso: R$ 9,00; Assinatura – Quatorze meses na Pasta da Marinha, permanente (desconto em folha mensal): Veiga Miranda, SDGM, 1982, 280 páginas. R$ 3,00. Relatório das realizações do ex-ministro (Fonte: DPHDM-50)

PATRONOS NA MARINHA DO BRASIL

A Diretoria do Patrimônio Histórico e Marinha, em dezembro último, a lista dos Documentação da Marinha (DPHDM), em Patronos Instituídos na Marinha do Brasil: cumprimento à alínea c do item 3 das normas 1) Patrono da Marinha do Brasil: Almi- aprovadas pela Portaria no 131, de 29 de rante Joaquim Marques de Lisboa (Marquês maio de 2009, do Estado-Maior da Armada de Tamandaré), Aviso do Ministro da Ma- (EMA), divulgou, durante a Semana da rinha no 3.322, de 4 de setembro de 1925.

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2) Demais patronos: – Patrono das Mulheres Militares da – Patrono das Bandas de Música e Marinha: Almirante de Esquadra Maxi- Marcial da Marinha: Maestro Antônio miano Eduardo da Silva Fonseca. Portaria Francisco Braga, Decreto no 62.683, de 10 do Estado-Maior da Armada no 284, de 6 de maio de 1968. de julho de 1999. – Patrono do Corpo de Saúde da Ma- – Patrono do Corpo de Intendentes da rinha: Cirurgião-Mor Joaquim Cândido Marinha: Vice-Almirante (IM) Gastão Soares de Meirelles, Decreto no 63.684, de Motta, Portaria do Estado-Maior da Arma- 25 de novembro de 1968. da no 43, de 13 de março de 2003. – Patrono da Hidrografia da Marinha: – Patrono do Corpo de Engenheiros Capitão de Fragata Manoel Antônio Vital Navais: Contra-Almirante (EN) João de Oliveira, Decreto no 77.070, de 21 de Cândido Brazil, Portaria do Estado-Maior janeiro de 1976. da Armada no 134, de 8 de julho de 2003. – Patrono do Servidor Civil da Marinha: – Patrono das Comunicações Navais: Mestre Antônio da Silva, Portaria do Ministro Vice-Almirante Tácito Reis de Moraes da Marinha no 131, de 18 de janeiro de 1980. Rego, Portaria do Estado-Maior da Armada – Patrono dos Artilheiros da Marinha: no 178, de 1o de setembro de 2008. Capitão de Mar e Guerra Henrique Antônio – Patrono do Corpo de Fuzileiros Baptista, Portaria do Ministro da Marinha Navais: Almirante Sylvio de Camargo, no 1.139, de 31 de dezembro de 1985. Portaria do Estado-Maior da Armada no – Patrono dos Quadros de Oficiais Auxi- 38, de 26 de fevereiro de 2009. liares da Marinha: Vice Almirante João do – Patrono da Ciência, Tecnologia e Prado Maia, Portaria do Ministro da Mari- Inovação (CT&I) na Marinha do Brasil: nha no 1.037, de 19 de novembro de 1986. Vice-Almirante Álvaro Alberto da Mota e – Patrono dos Maquinistas da Marinha: Silva, Portaria do Estado-Maior da Armada Vice Almirante Ary Parreiras, Portaria do no 28, de 31 de janeiro de 2011. Ministro da Marinha no 1.037, de 19 de – Patrono da Inteligência da Marinha do novembro de 1986. Brasil: Vice-Almirante Humberto Giudice – Patrono do Quadro de Capelães da Ma- Fittipaldi, Portaria do Estado-Maior da rinha: Capitão de Corveta (CN) Rodomark Armada no 179, de 18 de setembro de 2013. Fernandes de Souza – Dom Carlos O.S.B., (Fonte: Bono Especial no 895, de Portaria no 653, de 27 de julho de 1988. 12/12/2013.

FRASE INSTITUCIONAL PARA A MARINHA DO BRASIL

Fruto do elevado índice de aceitação apontado em pesquisa de opinião, no cur- so da Campanha de 11 de junho de 2013, o comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, aprovou a seguinte frase institucional para a Marinha do Brasil (MB): “Protegendo nossas riquezas, cuidando da nossa gente”. No sentido de fortalecer a marca “Marinha do Brasil” e de aproximá-la da Protegendo nossas riquezas, cuidando da nossa gente

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sociedade brasileira, a frase institucional Força, da seguinte maneira: “Marinha aprovada deverá, em todas as peças e do Brasil – Protegendo nossas riquezas, produtos de Comunicação Social, acom- cuidando da nossa gente”. panhar o distintivo da MB ou o nome da (Fonte: Bono no 668, de 18/9/2013)

ADIDOS NAVAIS ESTRANGEIROS REALIZAM VIAGEM DE OBSERVAÇÃO AO NORDESTE

A Marinha do Brasil (MB), por in- cia para a economia e o desenvolvimento termédio do Estado-Maior da Armada do Brasil nas cidades de Fortaleza (CE), (EMA), promoveu, de 7 a 16 de outubro, Natal (RN) e Salvador (BA). uma Viagem de Observação (VO) à Região Nordeste do País para os adidos navais estrangeiros acreditados no Brasil. A viagem integra programação anual de- finida pelo Ministério da Defesa para as Forças Armadas e está em consonância com o que prevê a Publicação do Estado- Maior da Armada (EMA-34 – Normas para o Relacionamento dos Adidos Navais Estrangeiros).

Adidos estrangeiros visitaram o Navio-Patrulha Guaíba Em Fortaleza, foram visitados a Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará, a Capitania dos Portos do Ceará, a Indústria Naval do Ceará e o Porto do Pecém. Em Natal, a comitiva pôde conhecer o Co- mando do 3o Distrito Naval, a Base Naval de Natal, o Comando do Grupamento de Patrulha Naval do Nordeste (com visita ao Visita ao Porto do Pecém, Navio-Patrulha Guaíba), e o Grupamento um dos mais modernos do Brasil de Fuzileiros Navais de Natal. Na capital De forma pioneira, a MB conseguiu baiana, o roteiro incluiu o Comando do 2o reunir a maior comitiva já registrada em Distrito Naval, a Base Naval de Aratu, o uma VO: 87 pessoas, sendo 28 adidos Terminal Portuário Cotegipe e a Federação navais, três adidos de outras Forças e um das Indústrias do Estado da Bahia (Senai- coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), Cimatec). além de 55 familiares. Durante a viagem, Aos familiares acompanhantes foram os militares da comitiva conheceram Or- apresentados aspectos turísticos e culturais ganizações Militares (OM) da MB, além das cidades visitadas. de órgãos e instituições civis de importân- (Fonte: www.mar.mil.br)

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