Metropolis Um Filme De Fritz Lang 1927
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CICLO INTEGRADO DE CINEMA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC DOC TAGV / FEUC INTEGRAÇÃO MUNDIAL, DESINTEGRAÇÃO NACIONAL: A CRISE NOS MERCADOS DE TRABALHO METROPOLIS UM FILME DE FRITZ LANG 1927 CICLO INTEGRADO DE CINEMA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC DOC TAGV / FEUC INTEGRAÇÃO MUNDIAL, DESINTEGRAÇÃO NACIONAL: A CRISE NOS MERCADOS DE TRABALHO http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/2007_2008.htm SESSÃO 14 (SESSÃO DE ENCERRAMENto) METROPOLIS: UMA ANTEVISÃO DA EUROPA ACTUAL? METROPOLIS (1927) UM FILME DE FRITZ LANG DEBate COM: JEAN-MICHEL MEURICE (CINeasta) MANUEL PORTELA (FLUC) JOSÉ ANTÓNIO BANDEIRINHA (PRÓ-REItoR UC) TeatRO ACADÉMICO DE GIL VICENTE 2 DE JULHO DE 2008 METROPOLIS: UMA ANTEVISÃO DA EUROPA ACTUAL? 1. METROPOLIS: A VISÃO DE ALGUNS cineastas 05 1.1. METROPOLIS, Visto POR FRITZ Lang 05 1.2. METROPOLIS, Visto POR Bunuel 08 1.3. METROPOLIS, Visto POR JOÃO BÉNARD DA Costa 11 1.4. Relatos DE UMA REALIZAÇÃo 15 2. LANG, METROPOLIS E A DIMENSÃO POLÍtica 17 2.1. METROPOLIS: UM FILME INTEMPoral 17 2.2. A LEITURA POLÍTICA DE UMA cena 30 3. METROPOLIS: ALGUMAS RECENSÕes 31 3.1. METROPOLIS, DE FRITZ Lang 31 3.2. METROPOLIS, SINOPse 35 3.3. METROPOLIS: O FILME MAIS INOVADOR DESDE A INVENÇÃO DO CINEMa 39 3.4. METROPOLIS: ALGUMAS BRECHas 41 3.5. COMENTÁRIOS DO LE MONDE SOBRE METROPOLIS 43 4. A FUGA DE Lang 48 5. METROPOLIS: UMA LEITURA DE SÍntese 50 CICLO INTEGRADO DE CINEMA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC DOC TAGV / FEUC INTEGRAÇÃO MUNDIAL, DESINTEGRAÇÃO NACIONAL: A CRISE NOS MERCADOS DE TRABALHO PROGRAMA 2007 - 2008 60 © Metropolis, 1927. METROPOLIS: UMA ANTEVISÃO DA EUROPA ACTUAL? 1. METROPOLIS: A VISÃO DE ALGUNS cineastas 1.1. METROPOLIS, Visto POR FRITZ LANG Entrevista a Fritz Lang De passagem por Paris por ocasião duma retrospectiva da sua obra organizada pela Cinemateca, Fritz Lang concedeu-nos a presente entrevista impacientemente esperada. Uma posição crítica Começámos por lhe perguntar qual o período da sua obra de que mais gosta. É muito difícil. Não se trata, para mim, de uma desculpa. Não sei sequer o que é que devo responder. Será que prefiro os filmes americanos ou os filmes alemães? Não me cabe a mim dizê-lo, sabem-no. Acredita-se sempre que o filme que se está a realizar será o melhor, naturalmente. Somos apenas homens e não deuses. Mesmo que não se ignore que será menos importante, até pela própria realização, que um qualquer anterior e, contudo, continua- se a procurar fazer dele a sua melhor obra. É verdade. Assim, no interior de diferentes períodos, quer alemães quer americanos, com o distanciamento que o tempo permite não existem alguns filmes de que gosta mais? 5 Sim. Naturalmente. Escutem. Quando realizo super-produções, interesso-me actualmente pelas emoções das pessoas, pelas reacções do público. É o que se passou na Alemanha com M. O Vampiro de Dusseldorf. Porque num filme de aventuras ou num filme policial, tal como o Dr. Mabuse ou Os Espiões só há a pura sensação, o desenvolvimento dos caracteres não existe. Mas, em M. O Vampiro de Dusseldor. eu começava qualquer coisa de muito novo para mim, e que continuei em Fúria. M. O Vampiro de Dusseldor e Fúria são, creio eu, os filmes que prefiro. Acontece o mesmo com outros, que eu realizei nos Estados Unidos, tais como Almas Perversas, Um Retrato de Mulher, While the City Sleeps. Trata-se de filmes todos eles baseados numa crítica social. Naturalmente, prefiro assim, porque creio que a crítica é qualquer coisa de fundamental para um realizador. De todo o meu coração O que é quer dizer exactamente com crítica social, a de um sistema ou de uma civilização? Não se podem distinguir. É a crítica do nosso “meio”, das nossas leis, das nossas convenções. Vou confessar-vos um projecto. Eu devo rodar um filme em que me empenhei por inteiro, em que coloquei todo o meu coração. É um filme que quer mostrar o homem de hoje, tal qual ele é: este esqueceu o sentido profundo da vida, só trabalha para objectivos, para o dinheiro, sem que se enriqueça humanamente, mas somente para obter vantagens materiais. E, porque esquece o sentido da vida, está já morto. Ele tem medo do amor, quer somente ir para a cama, quer somente sexo e não quer ter responsabilidades. Só o interessa a satisfação do seu desejo. Este filme, creio que é importante que eu o realize agora. O filme While the City Sleeps que mostra a concorrência desenfreada de quatro homens no interior de um jornal é o começo. A minha personagem, recusa a satisfação pessoal de ser um homem. Porque 6 cada um, actualmente procura uma posição, o poder, uma situação, o dinheiro, mas nunca qualquer coisa de íntimo, de afectivo. Vejam: é muito difícil dizer: eu gosto disto, eu não gosto daquilo. Quando se começa um filme, talvez se ignore mesmo o que se vai exactamente fazer. Existem sempre pessoas para me explicarem o que queria fazer e eu respondo-lhes que “sabem mais do que eu próprio”. Quando assumo uma obra, procuro traduzir uma emoção. No fundo, o que critica nos seus filmes não será uma forma de alienação, no sentido em que se entende na Alemanha “Entfremdung”? Não, é o combate do indivíduo contra as circunstâncias, o eterno problema dos Gregos antigos, do combate contra os deuses, o combate de Prometeu. Do mesmo modo, hoje, combatemos as leis, lutamos contra os imperativos que não nos parecem nem justos nem bons para os nossos tempos. Talvez venham a ser necessários 30 ou 50 anos, não é ainda chegada a altura. Nós lutamos todos os dias. Isto é válido para todos os seus filmes, para O Rancho das Paixões, para While the City Sleeps? Sim, para todos os meus filmes. Mesmo para Os Niebelungos? É exacto, mas penso que o filme ficou muito grande, para se ir minuciosamente ao fundo, ao coração das pessoas. Do mesmo modo em Metropolis, esta questão já é aí claramente assinalada. Eu sou muito severo com as minhas obras. Já não se pode dizer hoje 7 que o coração é o mediador entre a mão e o cérebro. É falso, a conclusão é falsa, eu já não concordava com ela quando estava a realizar o filme. Foi-lhe então imposta? Não, não. Esta surpreende-nos, parece colada, acrescentada ao filme, parece que não faz parte dele. Eu creio que têm razão. Jean Domarchi e Jacques Rivette, “Entretien avec Fritz Lang”, Cahiers du cinéma, Paris, nº 99, Setembro de 1959. 1.2. METROPOLIS, Visto POR BUNUEL Metropolis não é um só filme.Metropolis são dois filmes colados pela barriga, mas com necessidades espirituais divergentes, de um extremo antagonismo. Aqueles que consideram o cinema como um discreto contar de histórias sentirão com Metropolis uma profunda decepção. O que aí nos é contado é trivial, enfático, pedante, de um romantismo fora de moda. Mas se, à anedota, preferirmos o fundo “plástico-fotogénico” do filme, então Metropolis preencherá todos os nossos desejos, então maravilhar- nos-á como o mais esplêndido livro de imagens que se possa compor. Este é feito de dois elementos antinómicos, detentores do mesmo sinal nas zonas da nossa sensibilidade. O primeiro deles, a que podemos chamar lirismo puro é excelente: o outro, anedótico ou humano, chega a ser irritante. Os dois, na sua simultaneidade ou na sua sucessão, constituem a última criação de Fritz Lang. Não é a primeira vez que observamos um dualismo tão desconcertante nas produções de Lang. Exemplo: no inefável poema 8 A Morte Cansada estavam intercaladas cenas desastrosas, de um mau gosto refinado. Se a Fritz Lang cabe o papel de cúmplice, é a sua esposa, a guionista Thea von Harbou, que nós denunciamos como a autora destas tentativas ecléticas de perigoso sincretismo. O filme, tal cátedra, devia ser anónimo. Pessoas de todas as classes, artistas de todas as ordens intervieram para criar esta monstruosa catedral do cinema moderno Todas as indústrias, todos os técnicos, as multidões, os actores, os guionistas; Karl Freund, o ás dos operadores alemães e, com ele, uma plêiade de colaboradores; escultores, Ruttmann, o criador do “filme” absoluto. À frente dos arquitectos está Otto Hunte e é a ele e a Ruttmann que se devem, na verdade, as “visualizações” mais conseguidas de Metropolis. O decorador, último dos vestígios deixados ao cinema pelo teatro, se é que intervém é exactamente aqui. Adivinhamo-lo verdadeiramente nos piores momentos de Metropolis, no que, bastante enfaticamente, se designa por “os jardins eternos”, de um barroquismo delirante, de um mau gosto sem precedentes. Ao decorador se substituirá, a partir de agora, e para sempre, o arquitecto. O cinema servirá de fiel intérprete aos mais audaciosos dos sonhos da arquitectura. O pêndulo em Metropolis comporta apenas 10 horas e estas são as horas do trabalho. E é a este ritmo, a dois tempos, que se desenrola a vida de toda a cidade. Os homens livres de Metropolis tiranizam os escravos, espécie de Nibelungos da cidade, que trabalham num perpétuo dia sob luz eléctrica, nas profundezas da terra. Na simples engrenagem da República, só falta apenas o coração, o sentimento capaz de unir os extremos, tão inimigos. E neste desenrolar do filme que nós vemos o filho do director de Metropolis (o coração) unir num fraternal abraço o seu pai (o cérebro) ao contramestre (o braço). Misturem estes ingredientes simbólicos a uma boa dose de cenas de terror, acrescentem um jogo de actores desmedido e teatral, agitem bem a mistura: terão obtido o argumento de Metropolis. 9 Mas, por outro lado, que entusiasmante sinfonia do movimento! Como cantam as máquinas no meio de admiráveis transparências, espécie de grinaldas criadas pelas descargas eléctricas! Todas as cristalarias do mundo, decompostas romanticamente em reflexos, chegaram-se a aninhar de acordo com os cânones modernos do cinema.