PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Este documento foi elaborado para o Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe no âmbito do Programa N° REG/001/04: “Conservation et utilisation rationnelle des ecosystèmes forestiers d’Afrique Centrale IV” (ECOFAC IV), financiado pela União Europeia.

As opções e as conclusões apresentadas neste documento reflectem a visão pessoal dos Autores e podem não coincidir com o ponto de vista das Instituições da RDSTP, da UE, ou da Agencia de Serviços contratante (BRLi).

Elaborado por: Carlos Albuquerque, Biólogo, Consultor para o planeamento de áreas protegidas do Programa ECOFAC IV Dario Cesarini, Biólogo, Consultor para o planeamento de áreas protegidas do Programa ECOFAC IV

Participaram na definição e revisão do documento:

Colaboração permanente Danilo Barbero, Engenheiro Florestal, Assistente Técnico do Programa ECOFAC IV - São Tomé e Príncipe Victor Bonfim, Biólogo, Director do Serviço de Conservação da Natureza e Saneamento do Meio Ambiente, DG Ambiente da RDSTP Salvador Sousa Pontes, Engenheiro Florestal, Assessor da Direcção-geral do Ambiente Aurélio Jesus Rita, Engenheiro Florestal, Direcção de Florestas da RDSTP Daniel Ramos, Técnico Agrícola, Director do Parque Natural do Príncipe Faustino de Oliveira, Botânico Apoio institucional da RDSTP José Cassandra, Presidente do Governo Regional do Príncipe Arlindo de Ceita Carvalho, Engenheiro Geógrafo, Director-Geral, Direcção-geral do Ambiente da RDSTP Sabino Carvalho, Engenheiro Florestal, Director da Direcção de Florestas da RDSTP Especialistas contactados/convidados Tariq Stevart, Botânico (Flora e Vegetação) Fábio Olmos, Ornitólogo (Avifauna, Áreas Sensíveis) Nuno de Santos Loureiro, PhD Universidade do Algarve (Tartarugas Marinhas, Projecto SADA) Carlos Guerra, Arquitecto (Ordenamento do Território, Planeamento de Áreas Protegidas) Mariana Bastos Carvalho, Bióloga (Fauna, Caça) Martim Melo, Ornitólogo (Avifauna, Áreas Sensíveis)

Parcerias Alberto Oliveira e Talia Prado, consultores, equipa do Plano de Desenvolvimento Regional da Região Autónoma do Príncipe, PNUD e Governo da RAP Lavinia Chiara Tagliabue, Arquitecta, Consultora convidada, Docente do Politécnico de Milão

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Fotografias - Todas as fotografias utilizadas neste documento foram tiradas pelos autores, pelos elementos do staff do Programa ECOFAC IV, pelos colaboradores da Campanha de Consulta Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas, ou por autores desconhecidos.

Este documento é disponibilizado por:

Direcção-geral do Ambiente Avenida Kwuan Nkruma Sao Tomé Tel : + 239 22 52 71 www.gabinete-ambiente-stp.org

Programa ECOFAC IV Av. 12 de Julho – Largo das Alfândegas Sao Tome Tel : + 239 22 52 71

Parque Natural do Príncipe Contacto provisório: Avenida Kwuan Nkruma Tel : + 239 22 52 71 www.gabinete-ambiente-stp.org

Capa: João Dias Pai e João Dias Filho, vista de S. Joaquim (Oeste)

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Acrónimos e abreviaturas

AIA Avaliação do Impacto Ambiental CBD Convenção sobre a Biodiversidade CITES Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies em Perigo DGA Direcção-geral do Ambiente ECOFAC Programa Regional de conservação e valorização dos ECOssistemas Florestais da Africa Central EIA Estudo do Impacto Ambiental ENPAB Estratégia Nacional e o Plano de Acção da Biodiversiade GGCG Goulf of Guinea Conservation Group (Grupo para a Conservação do Golfo de Guiné) GIS Geographical Information Systems GPS Global Posítion System (Sistema de Posicionamento Global) IUCN World Conservation Union (União Internacional para a Conservação da Natureza) PDF Plano de Desenvolvimento Florestal PdG Plano de Gestão PdM Plano de Manejo PDR Plano de Desenvolvimento Regional do Príncipe PNADD Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável PNOST Parque Nacional Obô de S. Tomé PNP Parque Natural do Príncipe PNUA Programa das Nações Unidas para o Ambiente (ver UNEP) PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ver UNDP) RAP Região Autónoma do Príncipe RAPAC Rede das Áreas Protegidas da África Central RDSTP República Democrática de São Tomé e Príncipe RNEB Relatório Nacional do Estado da Biodiversidade (no âmbito da CBD) SIG Sistema de Informação Geográfica (Ver GIS) SWOT Análise de cenários para planeamento estratégico: Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) UNDP United Nations Development Programme UNEP United Nations Environmental Programme UNESCO United Nations Educational, Scientífic and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) WCMC World Conservation Monitoring Centre (Programa de parceria liderado pela UNEP) WCPA World Commission on Protected Areas (Comissão Mundial para as Áreas Protegidas) WDPA World DataBase on Protected Areas (Base de Dados Mundial sobre as Áreas Protegidas) WWF Worldwide Found for Nature (Fundo Mundial para a Natureza)

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

ÍNDICE

RESUMO ...... 1

PARTE I – O CAMINHO PARA O PLANO DE MANEJO ...... 3 I.1. Introdução ...... 3 I.2. Metodologia ...... 3 I.3. Campanha de Consulta e Discussão Pública para o Planeamento do Parque Natural do Príncipe...... 5 I.3.1 Envolvimento da Administração Regional do Príncipe ...... 6 I.3.2 Consulta Pública nas comunidades locais...... 8 I.4 Articulação com o Plano de Desenvolvimento Regional do Príncipe...... 12 I.5 O caminho para o Plano de Manejo – Conclusão...... 13

PARTE II - ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA ...... 14 II.1 Enquadramento...... 14 II.2 Informações gerais e localização ...... 17 II.3 Estatuto e limites...... 18 II.4 Infra-estruturas do PNP ...... 19 II.5 Ambiente Natural ...... 19 II.5.1 Ambiente fisico...... 19 II.5.2 Ecossistemas terrestres ...... 20 II.5.3 Ecossistemas marinhos costeiros ...... 21 II.5.4 Vegetação ...... 21 II.5.5 Fauna...... 26 II.6 Meio socioeconómico ...... 36 II.6.1 População e demografia...... 36 II.6.2 Infra-estruturas e transportes ...... 37 II.6.3 Organização social e territorial...... 39 II.6.4 Principais sistemas de produção ...... 42 II.6.5 Caça ...... 47 II.6.6 Pesca ...... 48 II.6.7 Outras actividades produtivas...... 48 II.6.8 Turismo...... 49 II.6.9 Projecto de Zona Franca na Baia das Agulhas ...... 52 II.6.10 Outros Programas desenvolvidos na Região no passado recente...... 53 II.6.11 Síntese dos resultados do diagnóstico participativo nas comunidades ...... 53 II.6.12 Síntese dos resultados do diagnóstico participativo com os funcionários da Administração Regional ...... 56 II.7 Avaliação patrimonial do PNP...... 59 II.7.1 Valor de conservação ...... 59 II.7.2 Valores relacionados com benefícios directos para a população...... 60

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PARTE III – ABORDAGEM ESTRATÉGICA...... 63 III.1 As Áreas Protegidas de S. Tomé e Príncipe no contexto internacional...... 63 III.1.1 As Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe e seu zonamento...... 63 III.1.2 Zonamento proposto nos documentos de plano anteriores (1994, 1999) ...... 64 III.2. Zonamento do PNP ...... 65 III.3 Ilhas Tinhosas e ilhéu Boné de Jóquei ...... 70 III.4 Áreas de Aptidão Turística ...... 70

PARTE IV - ABORDAGEM PROSPECTIVA...... 71 IV.1 Missão, Visão e Objectivos...... 71 IV.1.1 Missão ...... 71 IV.1.2 Objectivos ...... 72 IV.2 Constrangimentos ...... 74 IV.2.1 Diagnóstico SWOT...... 74 IV.2.2 Quadro institucional e jurídico...... 77 IV.2.3 Processo de desenvolvimento na zona periférica...... 78 IV.2.4 Conservação da biodiversidade...... 79 IV.2.5 Carta das principais ameaças à Biodiversidade e Conservação da Natureza no Príncipe ...... 83 IV.3 Meios de acção ...... 85 IV.3.1 Desenvolvimento do turismo ...... 85 IV.3.2 Parcerias público-privadas...... 88 IV.4 Estrutura geral do PNP...... 88 IV.5 Síntese ...... 90

ANNEXES ...... 91 Anexo I – Espécies endémicas do Golfo da Guiné presentes no território do PNP, e/ou na sua Zona Tampão ...... 93 Anexo II – Espécies de plantas incluídas na Lista Vermelha da IUCN e presentes no território do PNP, ou na sua Zona Tampão ...... 95 Anexo III – Espécies introduzidas, e/ou cultivadas, na Ilha do Príncipe ...... 97 Anexo IV – Espécies medicinais de São Tomé e Príncipe ...... 99 Anexo V – Espécies de mamíferos incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP, e/ou na sua Zona Tampão...... 101 Anexo VI – Espécies de aves incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP ...... 103 Anexo VII – Espécies de tartarugas marinhas incluídas na Lista Vermelha da IUCN nidificantes no PNP e/ou na sua Zona Tampão ...... 105 Anexo VIII – Espécies de anfíbios incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP, ou na sua Zona Tampão ...... 107 Anexo IX – Lista das espécies da Fauna e Flora do PNP incluídas na CITES...... 109 Anexo X – dados adicionais sobre a campanha de consulta e Discussão Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP...... 111 Anexo XI – Ficha do encontro com os funcionários do Governo Regional do Príncipe no âmbito da Campanha de Consulta e Discussão Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP ...... 113 Anexo XII – Fichas dos encontros com as comunidades do Príncipe no âmbito da Campanha de Consulta e Discussão Pública para o planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP ...... 121 Anexo XIII - Conceitos de Área Protegida...... 131 Anexo XIV – Bibliografia...... 139

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Resumo

O Parque Natural Obô do Príncipe foi criado pela Lei n.º 7/2006, de 13 de Junho, decorrente da necessidade de identificar, delimitar e gerir os territórios fundamentais vocacionados para a conservação dos habitats da fauna e flora selvagens e da diversidade biológica que caracteriza o património nacional santomense, que é também um relevante património da humanidade.

A criação simultânea dos Parques Naturais Obô nas Ilhas de S. Tomé e do Príncipe veio responder aos imperativos nacionais de estabelecimento de um Sistema Nacional de Áreas Protegidas, preconizado pela Lei de Bases do Ambiente (Lei 10/1999) e detalhado pela Lei da Conservação da Fauna, Flora e das Áreas Protegidas (Lei 11/1999).

Novos diplomas, nos diferentes sectores do Estado, foram introduzindo conexamente na arquitectura jurídica nacional os desígnios da protecção do ambiente e da conservação dos recursos naturais como um eixo do desenvolvimento sustentável.

Os compromissos internacionais assumidos pelo Estado, as parcerias e os diversos programas de cooperação e apoio internacional têm sido igualmente um manancial de informação e compilação dos valores do património natural santomense.

Se em todos estes trabalhos é estabelecida uma caracterização suficiente da Biodiversidade de S. Tomé e Príncipe, não é menos verdade que os grandes objectivos para a conservação e sustentabilidade dos recursos biológicos passam por um correcto manejo e eficaz gestão dos espaços protegidos que viram a sua publicação tornar-se uma realidade pelas Leis 6 e 7 de 2006, criando os Parques Naturais Obô de S. Tomé e do Príncipe.

O Governo, na sequência deste investimento no reconhecimento e preservação dos recursos naturais, e num quadro de grande envolvimento intersectorial e interinstitucional e com parcerias internacionais, promoveu a implementação do desígnio de dotar as Áreas Protegidas entretanto criadas dos necessários Planos de Manejo e subsequentes Planos de Gestão.

Objectivos da missão:

Elaboração do Plano de Manejo Elaboração do Plano de Gestão Definição de um quadro orgânico para os serviços do Parque Natural Propostas ou contributos para um regulamento interno do Parque Natural

E, supletivamente,

Propostas de alteração pontual/simplificada de legislação conexa Propostas de novos diplomas legais para efectivação e conclusão do quadro legislativo associado aos Parques Naturais Proposta de novas classificações de áreas protegidas ou novas tipologias.

1 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

O Plano de Manejo, instrumento fundamental para a viabilidade desta Área Protegida, tem como objectivos:

9 Assegurar, à luz da experiência e dos conhecimentos adquiridos sobre o património natural da área, uma eficaz adequação do Plano de Manejo aos objectivos que levaram à criação do Parque Natural do Príncipe; 9 Corresponder aos imperativos de conservação dos habitats naturais, da fauna e flora selvagens protegidos nos termos dos compromissos nacionais e internacionais; 9 Equacionar as utilizações actuais do solo face aos valores em presença e à necessária avaliação das potencialidades de ocupação do solo ou utilização dos recursos naturais, nomeadamente por operações de natureza turística ou florestal; 9 Identificar e definir os limites das classes e categorias de espaço, com base nos estudos já efectuados; 9 Definir as disposições relativas às áreas da Zona Tampão, no contexto da avaliação dos valores sociais, económicos e ambientais em presença, no sentido de conter a desflorestação e ordenar a presença humana; 9 Por análise comparativa, e tendo presente os resultados da Consulta Pública bem como as orientações programáticas do Governo Regional, equacionar a classificação de toda a região Autónoma; 9 Clarificar as competências na gestão do interior do Parque; 9 Clarificar as normas constantes da Lei de criação do Parque, evitando dúvidas de interpretação que conduzam à sua deficiente aplicação.

Tendo em conta ainda a natural integração deste Parque em sistemas internacionais, como a RAPAC, Património Mundial da UNESCO (em estudo), Reservas da Biosfera (Programa Man and Biosphere – UNESCO, para potencial adesão), entre outros, e os sistemas de classificação e categorias de manejo de Áreas Protegidas internacionalmente reconhecidas propostas pela União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN, o Parque Natural do Príncipe, mercê do seu valiosíssimo património natural, riqueza de endemismos e valor intrínseco no quadro da mitigação dos efeitos das alterações climáticas tem todas as características para se constituir como uma área de referência na Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

O n.º 1 do artigo 17.º da Lei 11/1999 - Lei da Conservação da Fauna, Flora e das Áreas Protegidas, ao diferenciar os tipos de Áreas Protegidas, estabeleceu a primeira classificação do Parque Obô de S. Tomé como Parque Natural. A sua designação, em tudo semelhante ao Parque Obô do Príncipe, demonstrou não assegurar convenientemente a individualização e o imediato reconhecimento de cada uma destas Áreas Protegidas, o que importa clarificar por via do presente Plano de Manejo.

Constatou-se, num aprofundado trabalho efectuado na Região Autónoma, contactando com um significativo e representativo contingente de habitantes locais e seus responsáveis políticos, que a designação Obô não encontrava a pretendida identificação nos naturais do Príncipe, não existindo tal vocábulo nas diferentes línguas aí faladas.

Deste modo, e ainda no âmbito da Consulta Pública, foram os autores confrontados com a proposta de designar esta Área Protegida como Parque Natural do Príncipe.

A aplicação dos critérios e parâmetros, internacionalmente consagrados nos principais fóruns dedicados às Áreas Protegidas, na classificação do Parque Natural e sua área envolvente permitem, no âmbito dos artigos atrás citados, estender a Zona Tampão à totalidade da Ilha, assumindo-se a Região Autónoma potencialmente como Área Protegida.

A fundamentação para esta nova designação poderá ser encontrada na PARTE III – ABORDAGEM ESTRATÉGICA, página 71 e seguintes, e pretende constituir, à luz das terminologias internacionais, a justa “promoção” desta Área Protegida no quadro dos principais santuários de biodiversidade mundiais.

2 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Parte I – O caminho para o Plano de Manejo

I.1. Introdução

A Conservação da Natureza e da Biodiversidade é um tema que entrou definitivamente para o quotidiano de todos nós, com a sua consagração na Cimeira da Terra ou Conferência do Rio, em 1992. Deixou de ser apenas um tema de cientistas, uma ocupação de biólogos, uma bandeira de associações ambientalistas ou um complemento de produtos turísticos: a Cimeira da Terra trouxe para a agenda política o reconhecimento do papel dos recursos biológicos no modelo do Desenvolvimento Sustentável. O futuro da Terra assenta, assim, no equilíbrio entre os pilares económico, social e ambiental.

S.Tomé e Príncipe acompanha, desde essa época, o envolvimento internacional nestas causas, reflectindo-se nos vários compromissos internacionais que tem ratificado e mesmo transposto para o direito interno. É neste capítulo que se enquadra a defesa dos seus recursos biológicos e se pretende promover, também, a sua gestão responsável e sustentável. Tendo subscrito a Convenção para a Diversidade Biológica logo em 1992 (ratificada pela Assembleia Nacional em Maio de 1998), a visão de S. Tomé e Príncipe, estabelecida no seu Primeiro Relatório Nacional da Biodiversidade- RNEB, assume as dificuldades nestes desígnios mas não enjeita a via do Desenvolvimento Sustentável:

(…) Como outros países insulares, São Tomé e Príncipe enfrenta vários desafios na busca do seu desenvolvimento de modo sustentável: pequena extensão territorial, isolamento, susceptibilidade a desastres naturais e limitada capacidade e meios para lograr a sustentabilidade. O País reconhece contudo que o uso sustentável e a conservação da sua biodiversidade estão intimamente relacionados com o seu desenvolvimento. (…)

Como corolário dos três grandes dossiers debatidos nessa Cimeira, as Convenções da Biodiversidade, das Alterações Climáticas e da Desertificação, a União Europeia lançou em 1992 o Programa ECOFAC, com o objectivo de contribuir para a conservação e utilização racional dos ecossistemas florestais e da biodiversidade da África Central. Este programa caracteriza-se por promover a abordagem regional, traduzida no apoio à criação da Rede de Áreas Protegidas da África Central (RAPAC), induzindo uma extensão a outras zonas protegidas da sub-região da experiência ECOFAC.

I.2. Metodologia

A metodologia utilizada pretendeu estudar/assegurar:

¾ 1-uniformização metodológica para os diferentes espaços (S. Tomé, Príncipe). ¾ 2-simplificação processual. ¾ 3-racionalização de meios. ¾ 4-utilização ponderada de elementos existentes em estudos anteriores e noutros instrumentos de planeamento e gestão. ¾ 5-articulação intersectorial. ¾ 6-clarificação dos objectivos das Leis das Florestas, CONFFAP e AIA e as competências de gestão dos Parques. ¾ 7-integração entre critérios de ordenamento e de gestão. ¾ 8-optimização da participação do público no processo de elaboração dos Planos de Manejo. ¾ 9-maximização do recurso a Sistemas de Informação Geográfica. ¾ 10-compatibilização com estatutos de classificação e metodologias internacionais (ECOFAC, RAPAC, IUCN, WWF).

3 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Foi definido um conjunto de normas, através de faseamentos progressivos e cruzamento de informação visando integrar a informação existente, a sua actualização, um trabalho junto das comunidades e ainda, criar e dar conteúdo às questões primordiais de conservação da natureza.

A Equipa-Base para o Plano de Manejo e Plano de Gestão integrou: Equipa de consultores ECOFAC Director do Parque Representante da Direcção do Ambiente Representante da Direcção de Florestas

E teve ainda a participação/contributo de: Representantes de Associações Locais Representantes de Entidades oficiais com competências relevantes para os objectivos de manejo e gestão do Parque Natural do Príncipe

A proposta compreendeu 3 fases: Caracterização – Equipa-Base Diagnóstico – Equipa-Base, Associação MontePico, Comunidades Locais Ordenamento – Participação Pública, Equipa de Missão

Caracterização Compreende o conjunto de análises e articulações com outros normativos nacionais e internacionais, com destaque para a caracterização ambiental produzida em fases anteriores do Projecto ECOFAC, dos Relatórios Nacionais do Estado da Biodiversidade e da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade, obtendo-se os princípios e regras orientadoras, o levantamento, estudo e síntese das características biológicas, geológicas e paisagísticas mais relevantes e a análise dos aspectos sócio-económicos relevantes.

Destacam-se os contributos de: ENPNB RNEB ECOFAC Estudos de especialistas (incluindo desta equipa)

Diagnóstico Identificação das problemáticas e suas soluções, junto das Comunidades Locais Articulação com outras iniciativas com intervenção nestas áreas temáticas, destacando-se a preparação do Plano de Desenvolvimento Regional/PDR do Príncipe Identificação dos espaços a potenciar e a equacionar, decorrentes da análise dos trabalhos coligidos e analisados pela equipa Sobreposição destes com os valores naturais relevantes e/ou excepcionais anteriormente apurados. Resultado: definição de áreas de conflito, áreas a condicionar e áreas a potenciar.

Para cada uma das áreas definidas em diagnóstico, são atribuídos níveis classificativos em função dos estatutos e dos regimes de protecção existentes, estabelecendo-se Áreas de Protecção (e Gestão), de onde resulta a Planta Síntese de Manejo.

Nesta fase foram iniciados: ¾ Relatório ¾ Regulamento ¾ Esboço de Zonamento.

4 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Ordenamento ou Manejo Esta fase visou a realização de um conjunto documental simples e perceptível, que sobre uma matriz de classificação territorial, baseada em critérios de salvaguarda do património natural e da diversidade biológica, estabeleça um conjunto de orientações, direccionadas para os subsequentes planos de gestão, tomando por base: ¾ ameaças a suster, ¾ potencialidades a incentivar, ¾ compatibilidades a monitorizar.

I.3. Campanha de Consulta e Discussão Pública para o Planeamento do Parque Natural do Príncipe

Todo o trabalho de planeamento que levou à definição do Plano de Manejo do PNP foi concebido tendo em conta a necessidade, claramente identificada pelo Programa ECOFAC, pela Direcção- geral do Ambiente, assim como pelos outros parceiros institucionais da RDSTP, de ter um documento de ligação entre o ordenamento do território e as estratégias de desenvolvimento das comunidades que moram nos arredores do Parque Natural. Esta secção pretende fornecer a resposta técnica fundamental a esta prioridade estratégica.

Um dos objectivos gerais deste PdM é o de favorecer a redução das ameaças mais relevantes para a saúde da biodiversidade e para a eficácia das estratégias de conservação, através da correcta identificação, definição e implementação de acções dirigidas ao desenvolvimento socioeconómico das comunidades locais. Portanto, o PdM tem de ser concebido como guia fundamental para atingir os objectivos mencionados. Neste sentido, a seguir a uma análise detalhada dos dados recolhidos através das discussões da Campanha de Consulta Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas da República Democrática de São Tomé e Príncipe na Ilha de São Tomé (a seguir “Consulta Pública”), foram estabelecidas de forma sistemática as estratégias e as acções que se estimam ter potencialmente os maiores impactos positivos em termos de desenvolvimento económico e ao mesmo tempo os menores custos ambientais. A visão estratégica que está atrás desta metodologia de trabalho é que sejam os sujeitos envolvidos nas acções previstas pelo PdM, quer a nível local, quer a nível nacional, a garantir, no seu interesse, uma boa implementação das actividades; sobretudo após do fim do Programa ECOFAC, quando acabarão os recursos técnicos e financeiros adicionais devido ao financiamento da UE. Isto é, a metodologia adoptada para a elaboração do Plano de Manejo foi a Metodologia Participativa. Citando o Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável da RDSTP (PNADD, 1998): “Na sua acepção mais global, a metodologia de diagnóstico participativo encerra essencialmente uma visão global e integrada da participação das comunidades na resolução dos seus problemas específicos. Na sua essência, a metodologia de diagnóstico participativo é um envolvimento directo da comunidade na identificação, compreensão, planeamento e busca contínua e evolutiva da resolução de problemas que a afectam, permitindo, assim mudanças de comportamento e introdução de inovações.”

A seguir é apresentado o conjunto de actividades executadas no âmbito da Consulta Pública (maiores detalhes nos Anexos XI e XII). São apresentados também os resultados sobressalientes dos debates públicos, a análise das informações e das contribuições recebidas seja a nível de Governo Regional, seja a nível das comunidades locais. No Anexo XI, apresentam-se de forma mais detalhada os objectivos, as estratégias gerais e um conjunto de propostas de acção com alvo no desenvolvimento socioeconómico sustentável que surgiram na reunião com os funcionários da Administração Regional e Local do Príncipe. De forma similar, no Anexo XII, é fornecida uma ficha informativa sintética sobre cada comunidade que mora nos arredores do PNP e que foi atingida no âmbito da Consulta Pública. Em cada ficha indicam-se dados sobre os participantes à reunião, as características gerais da estrutura social e produtiva da comunidade, assim como o seu relacionamento com o território e os recursos do PNP. As fichas descrevem também as informações chave que surgiram da discussão e as possíveis estratégias de acção propostas para solucionar os problemas que afectam a comunidade e as suas causas principais.

5 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

A Consulta Pública na Ilha do Príncipe desenvolveu-se no período entre Agosto e Outubro de 2008, e constituiu-se nos seguintes encontros:

A nível de Governo Regional: Ö um encontro de presentação da equipa/trabalho de planeamento e de discussão preliminar; Ö um encontro de trabalho e discussão com os representantes e os funcionários da administração local; Ö um encontro de restituição e discussão publica final.

A nível de comunidades locais: Ö 4 reuniões com um igual numero de comunidades:

Quadro 1: Comunidades locais envolvidas na Consulta Pública.

Encontro Data Comunidade

1 15 de Setembro Porto Real 2 16 de Setembro Bela Vista 3 17 de Setembro Terreiro Velho 4 18 de Setembro S. Joaquim

Na Ilha do Príncipe a Consulta Pública foi implementada em todos os encontros por uma “task force” constituída pelos seguintes elementos:

Consultores e técnicos do Programa ECOFAC Director do PNP Um técnico da Direcção-geral do Ambiente O Ponto Focal do Ambiente para Príncipe

I.3.1 Envolvimento da Administração Regional do Príncipe

Metodologia adoptada no encontro de trabalho com os funcionários da Administração Local

O encontro de discussão pública teve como tema fundamental o seguinte: Problemáticas relacionadas com os usos insustentáveis e/ou conflituantes dos recursos naturais do Parque Natural do Príncipe e suas possíveis soluções

Por além da equipa de planeamento, os actores convidados a participar no encontro, foram os seguintes:

Eleitos Funcionários e técnicos da administração local Ponto focal do Ambiente Responsável local da Direcção das Florestas Os representantes das ONG relevantes a nível local

Os objectivos dos encontros de trabalho podem ser sinteticamente definidos desta forma:

Melhorar os conhecimentos dos eleitos e dos funcionários da administração local sobre o Parque Natural do Príncipe, sobre os assuntos inerentes a sua gestão e sobre os objectivos que se quer cumprir através do processo de planeamento; Validar os conhecimentos sobre as principais problemáticas inerentes os usos insustentáveis ou conflituais dos recursos naturais do território do Parque;

6 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Discutir as problemáticas e os usos dos recursos do PNP, assim como o possível zonamento do seu território e da Zona Tampão, para tentar de encontrar as formas potenciais de harmonização e integração entre o zonamento e os usos correntes pela população local; Ter indicações sobre as potenciais soluções para as problemáticas individualizadas Analisar as possíveis e necessárias sinergias entre os funcionários do Parque e da administração local

Quanto aos resultados esperados podem ser sinteticamente definidos desta forma:

Os funcionários conhecem melhor a realidade do PNP, assim como o processo de planeamento em que estão envolvidos; Um diagrama de fluxo das principais problemáticas inerentes ao uso insustentável dos recursos naturais do território do Parque; Localização geográfica (quando possível) de cada uma das ameaças sobre os recursos naturais e uma indicação sobre a sua expressão e o seu nível de iminência; Individualização dos objectivos a cumprir relativamente às problemáticas; Individualização das possíveis intervenções para atingir os objectivos estabelecidos; Os funcionários reconhecem o seu próprio papel para atingir estes objectivos.

Como primeira etapa do diagnóstico executou-se uma clássica chuva de ideias, com a participação de todos os presentes, com objectivo de indicar as problemáticas ambientais existentes na ilha (com enfoque nas problemáticas deslocadas no interior do PNP e da sua Zona Tampão). Obteve-se desta forma um quadro geral que foi utilizado como base de arranque da discussão efectiva dos assuntos. Para cada problemática ambiental foram recolhidas informações sobre a difusão/concentração da mesma. Uma vez estabelecido o conjunto actualizado das problemáticas presentes, o grupo escolheu uma problemática considerada como prioritária em função do tema preestabelecido (“Problemáticas relacionadas com os usos insustentáveis e/ou conflituantes dos recursos naturais do Parque Natural do Príncipe e suas possíveis soluções”) e procedeu-se à sua discussão segundo os objectivos gerais estabelecidos. Cada vez que “exauria- se” a discussão sobre uma problemática escolhida, procedeu-se à escolha duma problemática a seguir e abriu-se uma discussão ulterior. As conclusões concordadas cuja chegaram os participantes em termos de definição de problemáticas, das suas prioridades e das estratégias para enfrenta-las (segundo o esquema: problema-objectivo-actividade-resultado), foram escritas e fixadas num quadro geral, através de cartões colorados. Desta forma, todos os participantes tiveram “continuamente” a frente dos seus olhos todos os assuntos maiores discutidos e a participação resultava facilitada.

A nível de administração local houve uma reunião de trabalho assim como descrito anteriormente. Na Tabela 1 são apresentados alguns dados de síntese nacionais inerentes a esta componente da Consulta Pública.

Tabela 1: Dados e informações gerais de resumo sobre as reuniões da Consulta Pública com as administrações locais da República Democrática de São Tomé e Príncipe que abrangem uma parte dos territórios dos Parques Naturais.

Príncipe Total nacional

Data do encontro da Consulta Pública 19/09/08 11-25/09/08 N° total de comunidades interessadas 4 31 Participação na reunião do Presidente da Região Autónoma Não 40% N° de eleitos que participaram na reunião 1 11 Responsáveis do Estado (deputados, dirigentes, etc.) 6 8 N° de funcionários públicos que participaram na reunião 7 52 N° total de participantes na reunião 16 95 (19 média) Percentagem (%) de mulheres entre os participantes na reunião 0,0 22,1 N° de ONG representadas 3 9

7 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Como aconteceu nas reuniões comunitárias, foi pedido aos participantes nos debates públicos, no fim de cada encontro, de exprimir a sua opinião sobre o cumprimento dos objectivos do encontro, os resultados atingidos e o seu parecer sobre a discussão. Os resultados desta avaliação são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Percentagem (%) de participantes nas reuniões com as Autarquias por cada categoria de avaliação.

Categorias de avaliação Príncipe Media nacional

Percentagem (%) de satisfeitos 66,7 86,1 Percentagem (%) de neutrais 33,3 13,9 Percentagem (%) de 0,0 0,0 insatisfeitos

I.3.2 Consulta Pública nas comunidades locais

Metodologia de trabalho adoptada nos encontros com as comunidades

O tema fundamental dos encontros de discussão pública nas comunidades foi o seguinte: Problemáticas da comunidade e sua mitigação: o papel do Parque Natural do Príncipe

Foram convidados a participar nos encontros, em cada comunidade, conjuntos representativos de usuários de bens e serviços fornecidos pelo território do PNP. Entres os grupos alvos de residentes e usuários podem ser mencionados: representantes das associações locais pessoas reconhecidas como referencia na comunidade caçadores usuários de produtos da floresta trabalhadores na extracção de inertes carvoeiros operadores de motoserra vinhateiros artesãos proprietários de actividades económicas professores dos ensinos básicos pescadores

Geralmente convidaram-se 20-25 pessoas pertencentes aos grupos alvos, mas as reuniões eram “abertas”, no sentido que qualquer cidadão que queria participar na discussão, desde o princípio, podia fazer isso simplesmente identificando-se.

Os objectivos dos encontros podem ser sinteticamente definidos desta forma: Levar a mensagem do que é o Parque Natural, de que pretende fazer e de como pode contribuir para melhorar a qualidade de vida dos residentes da Zona Tampão; i. Identificar as principais problemáticas inerentes a comunidade; ii. Ter indicações sobre as relações de uso da comunidade com o território do Parque; iii. Discutir as problemáticas e os usos dos recursos do Parque, assim como o possível zonamento do seu território e da Zona Tampão, para tentar de encontrar as formas potenciais de harmonização e integração entre o zonamento e os usos correntes pela população local; iv. Ter indicações sobre as possíveis soluções, relacionadas com a exploração sustentável dos recursos naturais e as possíveis áreas de intervenção do PNP, para as problemáticas individualizadas.

8 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Consequentemente, os resultados esperados podem ser sinteticamente definidos desta forma:

Os residentes que conhecem melhor o que é o Parque Natural do Príncipe, assim como o processo de planeamento em que estão envolvidos; Validação duma lista das principais problemáticas reconhecidas pela maioria dos elementos da comunidade com indicações relativas às suas distribuições no território, às suas expressões e aos seus níveis de iminência; Individualização dos objectivos a cumprir relativamente às problemáticas; Individualização (quando possível) das potenciais intervenções para atingir os objectivos estabelecidos.

Uma vez estabelecido, no âmbito da reunião, o conjunto actualizado das problemáticas presentes em cada sítio/comunidade, o grupo escolhia uma problemática considerada como mais prioritária em função do tema preestabelecido (Problemáticas da comunidade e sua mitigação: o papel do Parque Natural do Príncipe) e, juntamente com os técnicos da equipa de planeamento, procedia- se à sua discussão segundo os objectivos gerais estabelecidos. Cada vez que exauria-se a discussão sobre uma problemática escolhida, procedia-se à escolha duma problemática a seguir e abria-se uma discussão ulterior. Conseguia-se discutir de forma suficientemente “completa” entre 2 e 4 assuntos/problemáticas em cada discussão. As conclusões concordadas em que chegavam os participantes em termos de definição de problemáticas, das suas prioridades e das estratégias para enfrenta-las (segundo o esquema: problema-objectivo-actividade-resultado), vinham escritas e fixadas num quadro geral, através de cartões colorados. Desta forma, todos os participantes tinham “continuamente” o controle de todos os assuntos maiores discutidos e a participação resultava facilitada.

Participação da população

Quanto à participação da população na Consulta Pública, nas Tabelas 3, 4 e 5 apresentam-se alguns dados de síntese sobre esta participação.

Tabela 3: N° total de participantes nas reuniões por Distrito (e % de participantes por Distrito vs o total dos participantes na Consulta Publica). Distritos

Cantagalo 45 (7,1%) Caué 89 (14,1%) Lembá 91 (14,4%) Lobata 80 (12,7%) Mé-Zochi 184 (29,2%) Príncipe 141 (22,4%) Total 630 (100%)

Tabela 4: N° médio de participantes por reunião em cada Distrito. Distritos n°

Cantagalo 45,0 Caué 44,5 Lembá 30,3 Lobata 26,7 Mé-Zochi 30,7 Príncipe 35,3 Total 33,2

9 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Na Tabela 5 avalia-se a fracção de população que participou nas reuniões de Consulta Pública, no total dos habitantes da Zonas Tampão dos Parques por cada Distrito. Evidencia-se que o de Príncipe é a unidade administrativa em que houve a maior participação das pessoas nas reuniões comunitárias. Quase uma terça parte dos habitantes das comunidades-alvo participou nos encontros. Excluindo os menores, isso significa que mais de 2/3 da população adulta das comunidades-alvo participou nos encontros da Consulta Publica. Praticamente se pode assumir que cada família que mora no interior da Zona Tampão do PNP teve um seu representante nos encontros.

Tabela 5: Percentagem (%) de população da Zona Tampão que participou nas reuniões comunitárias de cada Distrito.

Distritos %

Cantagalo 20,2 Caué 4,6 Lembá 3,2 Lobata 9,8 Mé-Zochi 11,9 Príncipe 28,1 Total 8,0

Particularmente significativa foi também a participação das mulheres nos encontros. Cerca de 1/3 dos participantes à Campanha Pública a nível nacional foram mulheres (Tabela6). Mais uma vez, o Príncipe distinguiu-se para a qualidade do seu dado, sendo o segundo “Distrito” para % de participação das mulheres (41,1% dos participantes nas reuniões).

Tabela 6: Percentagem (%) de mulheres entre os participantes às reuniões por Distrito.

Distritos %

Cantagalo 46,7 Caué 25,8 Lembá 36,3 Lobata 12,5 Mé-Zochi 36,9 Príncipe 41,1 Total 33,8

A participação de Associações e ONG locais era um dos objectivos prefixados para a Consulta Pública. De forma geral, para a ilha do Príncipe o objectivo pode-se considerar atingido, enquanto participaram nas discussões os representantes de 9 Associações locais (Tabela 7). Apesar dos constrangimentos que limitam o desenvolvimento das actividades e da organização eficiente das associações locais do Príncipe, cada associação teve a possibilidade de se exprimir num contexto público e oficial e apresentar as suas propostas e as suas visões para o desenvolvimento local.

10 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Tabela 7: N° de associações que estavam representadas nas reuniões por cada Distrito.

Distritos nº

Cantagalo 2 Caué 10 Lembá 6 Lobata 4 Mé-Zochi 18 Príncipe 9 Total 52

Para adicionar alguns dados “qualitativos” a estas “frequências de participação”, foi pedido aos participantes nos debates públicos, no fim de cada encontro, de exprimir a sua opinião de forma sintética sobre o cumprimento dos objectivos do encontro, os resultados atingidos e o seu parecer geral sobre a discussão executada. Os resultados desta avaliação são apresentados na Tabela 8.

Tabela 8: Percentagem (%) de participantes nas reuniões comunitárias por cada categoria de avaliação.

Categorias de avaliação STP São Tomé Príncipe

% média de “satisfeitos” por reunião 91,2 89,9 96,1 % média de “neutrais” por reunião 7,7 8,7 3,9 % média de “insatisfeitos” por reunião 1,1 1,4 0,0

Na tentativa de dar uma estrutura transparente e “democrática” ao processo de planeamento, no fim de cada encontro e a cada comunidade, foi pedido de eleger um (nalgum caso dois) representante para a discussão final dos PdM e PdG (Tabela 9). Estes representantes participaram de forma massiva na discussão final. Pode-se considerar a implementação desta metodologia como valor adicional da Consulta Pública aqui apresentada.

Tabela 9: N° de representantes escolhidos pelas comunidades como seus representantes para as discussões públicas finais

Príncipe Total nacional

N° de pessoas 17 61

11 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

I.4 Articulação com o Plano de Desenvolvimento Regional do Príncipe

O Governo da Região Autónoma do Príncipe, em parceria com o UNDP (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) lançou o Plano de Desenvolvimento Regional – PDR da Região Autónoma para o período 2009-2013.

A Proposta do PDR encontra-se já publicada, com divulgação on-line (e.g. diário digital Téla Nón, http://www.telanon.info).

Versando níveis distintos da hierarquia dos planos, cumpria às equipas articular as disposições relativas a cada Instrumento de Planeamento e Gestão Territorial, o que se poderá constatar nos documentos já elaborados, apontando a proposta do PDR:

(…) seriam facilitadas as decisões relativas aos outros programas, que são, de acordo com as Opções Estratégicas (…), os cinco seguintes Programas de Intervenção: • PROURB tem como finalidade as intervenções ao nível urbano • PRORUR tem como finalidade as intervenções ao nível rural • PROCULTUR tem como finalidade intervenções de carácter sociocultural • PROMAR tem como finalidade as intervenções no domínio do mar e das pescas • PROTUR tem como finalidade perspectivar e organizar o sector do turismo”

Um bom exemplo de como se produz a articulação de programas/projectos de tipo vertical com o PDR é o PNP. Decorrente de políticas pré definidas cruza-se em termos Zonas Plano com a Zona Sul e em termos de Programas directamente com o PRORUR e com o PROTUR podendo estes ser-lhe complementar.

Assim, dado que os trabalhos conducentes aos Planos (PDR e Planos do Parque Natural) coincidiram temporalmente, foi possível uma frutuosa troca de impressões e informação entre as equipas.

Com relevância para o presente Plano de Gestão, destacam-se as seguintes conclusões da Proposta do PDR:

Relativamente ao território e à sua ocupação constata-se que cerca de metade da ilha (a sul) está praticamente desabitada não se desenvolvendo aí actividades visíveis para além da pesca. Com efeito, toda a vida social e económica se desenrola a partir do seu centro geográfico até ao limite norte. Este facto determina até que na prática, quando se fala em “sul” se esteja a referir o sul da parte norte da ilha ou seja o seu centro.

Primeiramente, pela sua beleza, e o seu endemismo e interesse científico, toda a ilha do Príncipe deveria ser declarada pelo GRAP uma área protegida. Essa medida poderá facilitar e atrair empreendimentos e investimentos ambientalmente duráveis e além disso seria uma maneira incontornável de protecção dos poucos recursos e do fascínio da ilha.

Investimentos externos privados tal como os projectados pelo grupo Africa’s Eden (e.g., a gestão do PNP, em parceria com a Direcção do Ambiente e a ECOFAC), devem ser bem- vindos já que de momento não existem nem capacidade nem recursos de implementação pelo Estado, seja este central ou regional.

12 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Para além do quadro legislativo regendo ou não o ambiente, os últimos anos têm tido visto actividades conexas implementadas por instituições nacionais e multilaterais, nomeadamente estudos sobre temas tais como “Plano Regional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável” (RDSTP, ca. 1997), “Alternativas e Potencialidades Económicas” (Banco Mundial, ca. 2000), “Primeiro Relatório Nacional sobre a Biodiversidade” (RDSTP e o GEF/PNUD, ca. 2004), etc. Também, a ECOFAC, na sua Fase IV, tem desempenhado, junto à Direcção do Ambiente, esforços continuados para fazer efectivo a criação dos Parques Naturais do Obô de S. Tomé e do Príncipe e, proximamente ficará finalizado o seu “Plano do Monitorização e Gestão dos Parques Naturais do Obô”. A ONG MARAPA e a rede científica do Grupo de Conservação do Golfo da Guiné têm igualmente contribuído para a protecção do ambiente marinho, das espécies em perigo de extinção, de promover a investigação zoológica e botânica, etc.

Estas recomendações, discutidas com a equipa do PDR e com os responsáveis do Governo Regional, irão formatar fichas de actividade no Plano de Gestão do Parque Natural do Príncipe (PdGPNP).

I.5 O caminho para o Plano de Manejo – Conclusão

Do exposto, e como ponto de partida para este primeiro Plano de Manejo do Parque Natural do Príncipe, podem-se destacar as seguintes ideias base, que condicionarão o Plano:

A reduzida dimensão do território pode potenciar os sucessos ou os insucessos de qualquer iniciativa, O nível de desenvolvimento económico e social é bastante reduzido, O Parque alberga extraordinários valores naturais, Face ao quadro de constrangimentos humanos, económicos e logísticos, o modelo de parceria público-privada constitui-se como uma solução com elevadas expectativas de sucesso, Há já potenciais interessados na adesão a este modelo, com relevo para o grupo SCD/Africa’s Eden, O Parque não sofre, na actualidade, significativos índices de perturbação ou pressão, Os valores naturais de relevância internacional não se confinam à área classificada como Parque Natural, Toda a Ilha pode ser objecto de classificação como Área Protegida.

13 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Parte II - Abordagem descritiva e analítica

II.1 Enquadramento

São Tomé e Príncipe é um país-arquipélago, constituído por duas ilhas principais e pequenos ilhéus, que surgiram de uma actividade vulcânica relativamente antiga (cerca de 3 milhões de anos), sem sinais de qualquer ocorrência desta natureza nos últimos 30 milhões de anos.

Não terá tido nunca contacto directo com o continente Africano e, conjuntamente com partes do sistema florestal mais ocidental da África Central, não foi sujeita aos fenómenos mais marcantes das glaciações do Plistocénico. Estas condições determinam uma marcada diferenciação relativamente à Fauna e Flora do continente Africano.

O marcado relevo destas ilhas potencia a existência de múltiplos habitats, ricos em endemismos, numa fisionomia global marcada pela floresta tropical, albergando um notável património natural, como se sintetiza no quadro seguinte:

Riqueza de Espécies e Endemismos dentre os Grupos de Organismos em São Tomé e Príncipe Ilhas Número de Espécies Endemismo (%) São Tomé 10 30 Mamíferos Príncipe 5 20 São Tomé 9 55 Morcegos Príncipe 4 50 São Tomé 49 57 Aves Príncipe 35 54 Répteis Total no País 16 44 São Tomé 6 100 Anfíbios Príncipe 3 100 São Tomé 47 38 Borboletas Príncipe 42 21 São Tomé 39 77 Moluscos Príncipe 32 78 Plantas Superiores Total no País 895 15 (Fonte: ENPAB 2002; World Bank 2003).

Estas avaliações, em termos de património natural, são também um resultado da Cimeira da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Nesse contexto, a União Europeia lançou em 1992 o Programa ECOFAC, com o objectivo de contribuir para a conservação e utilização racional dos ecossistemas florestais e da biodiversidade da África Central. Acompanhando estes desenvolvimentos, com o apoio de Organizações internacionais e mecanismos financeiros a elas associados, foi possível incrementar o desenvolvendo, em São Tomé e Príncipe, de uma visão de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Missões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), da FAO, iniciativas de cooperação de diversas instituições académicas estrangeiras e, principalmente, do Programa ECOFAC, contribuíram para um grande esforço no levantamento e reconhecimento dos valores naturais de São Tomé e Príncipe.

14 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Paralelamente a este esforço, com produção de numerosos relatórios temáticos e sectoriais, foi ganhando consistência a necessidade de delimitação de áreas orientadas para um primado da Conservação da Natureza e da Biodiversidade nacionais, ancoradas no sistema nacional de protecção dos recursos florestais.

Esta génese de uma política de Conservação da Natureza a partir do aparelho administrativo das Florestas nacionais é, no entanto, um aspecto que repete a experiência da maioria dos países. E que nesta região da África Central foi proporcionado pela natureza do Programa ECOFAC, que se caracteriza actualmente por promover a abordagem regional, traduzida no apoio à criação da Rede de Áreas Protegidas da África Central (RAPAC), induzindo uma extensão a outras zonas protegidas da sub-região da experiência ECOFAC.

Em 1992, a realidade santomense, no que se refere à Conservação da Natureza e da Biodiversidade, não admitia ou permitia a criação à época de uma estrutura administrativa independente orientada para estas competências e actuações. É desta forma que o desenvolvimento destas políticas, na arquitectura do Estado santomense, se fez sob a alçada do sector florestal. Apenas na actual década se individualiza na Direcção-geral do Ambiente a condução dos processos de criação das Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe, embora com actores maioritariamente recrutados ou oriundos da tutela das Florestas. Refira-se ainda que estes actores da Conservação da Natureza e alguns elementos que permanecem na área das Florestas receberam formação e integraram algumas das diversas missões do Programa ECOFAC, ao longo das suas 4 fases.

Desta forma, pode considerar-se que há uma significativa percentagem dos recursos humanos da administração pública e do meio académico de São Tomé e Príncipe que, ao longo de 16 anos, puderam beneficiar do apoio do Programa ECOFAC na aquisição dos conceitos, princípios e objectivos da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Esta formação em alguns casos foi bastante detalhada, abrangendo guardas florestais (cybertracker, etc.), eco-guias, técnicos e também pessoal da administração.

Contudo, e dado que não se encontrava em pleno funcionamento o Parque Natural, tratou-se de formação genérica, não adaptada às realidades do terreno e à perspectiva nacional, com os seus problemas e constrangimentos, numa perspectiva de actuação para a gestão de Áreas Protegidas. Deste modo, e tendo ainda presentes os problemas da “dupla insularidade” da região Autónoma do Príncipe, será difícil mobilizar rapidamente pessoal com background relevante para uma expectativa de sucesso no funcionamento do Parque Obô desde o seu arranque.

Uma solução que se deverá procurar passa pelo estabelecimento de parcerias público-privadas, cujo enquadramento e viabilização se pretende com a publicação deste Plano de Manejo.

Os recursos naturais do País são percepcionados, pela maioria da população, como sendo inesgotáveis e como algo que está disponível para complemento dos seus rendimentos. Mesmo nos casos em que é perceptível a ilegalidade ou irregularidade da apropriação destes recursos, a ausência de capacidade de fiscalização ou de medidas de prevenção ou dissuasão não têm impedido o aumento de delapidação de importantes recursos naturais nacionais. Esta visão, que importa alterar, já introduziu significativos impactos negativos, com particular destaque para os efeitos da colheita e captura de espécies ameaçadas e protegias, para comercialização ou consumo e no abate ilegal de áreas florestais.

Mesmo ao nível das políticas governamentais, a resolução de problemas mais prementes afastou as questões ambientais da agenda imediata no passado, pretendendo-se que este Plano de Manejo se constitua como o ponto de inversão desta posição, uma vez que se tornará clara a interligação entre o uso sustentável, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento económico e social.

É um dado adquirido que desde 1992, com pequenos hiatos, o Estado santomense tem contado com apoios internacionais, com destaque para o programa ECOFAC (nas fases I, II e II), num formato de implementação não orientado para os resultados. Desta forma, apenas 14 anos volvidos da Conferência do Rio e do arranque do Programa ECOFAC se assiste à criação, pelas Leis 6 e 7 de 2006, respectivamente dos Parques Naturais Obô de São Tomé e do Príncipe. E a fase IV

15 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

deste Programa inicia-se sem que estes tenham assegurado os recursos humanos, técnicos e financeiros ou os instrumentos legais (Plano de Manejo e Plano de Gestão) para o seu cabal funcionamento.

A complexa arquitectura jurídica da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ou da Fauna, Flora e Áreas Protegidas) não tem acompanhado a desejada e progressiva autonomização deste sector face à tutela da Agricultura e Florestas. Os diplomas produzidos não reflectem o significativo volume de informação produzido nem asseguram a capacidade para enfrentar os problemas decorrentes do aumento significativo das actividades lesivas do património natural, nomeadamente a desflorestação e a extracção de inertes. Por outro lado, o quadro legal não permite ainda potenciar, em favor das Áreas Protegidas, as oportunidades proporcionadas pelos novos paradigmas do ecoturismo ou mesmo pela definição e aplicação de medidas de minimização e compensação de projectos e intervenções de média e grande escala. A transversalidade dos aspectos ambientais e, em particular, da preservação e promoção do Património Natural ainda se encontra a um nível incipiente na desejada articulação intersectorial ao nível das políticas governamentais e da organização do sector público em São Tomé e Príncipe, pese embora as medidas já tomadas como a criação de pontos focais do Ambiente em diversas áreas da administração pública central e local.

A fase IV do Programa ECOFAC, reforçada financeiramente, apresenta-se actualmente orientada para objectivos e focada no apoio institucional. Pretende-se alterar um paradigma de constante elaboração de estudos, em missões orientadas para aquisição de informação. Assume-se actualmente que o nível de conhecimento é suficiente para a tomada de decisões e iniciativas concretas no terreno, incentivando a apropriação dos resultados por parte das autoridades e estendendo a participação a toda a população no grande objectivo de criação, conservação e promoção das Áreas Protegidas em São Tomé.

O cenário descrito não admite, no entanto, qualquer atitude pessimista, ou juízo de valor negativo. A avaliação das políticas seguidas pela Direcção-geral do Ambiente, em particular pela Direcção de Conservação, Saneamento e Qualidade do Ambiente, apoiadas pela componente STP de ECOFAC IV, permite confirmar: O envolvimento das entidades competentes da Administração de São Tomé e Príncipe no processo de elaboração dos Planos de Manejo e de Gestão dos Parques Naturais, A divulgação e estabelecimento consolidado da figura dos Directores dos Parques, O envolvimento político do Governo da RDSTP (central) e das autarquias (regional e local) no seguimento deste processo, A consciencialização de que STP tem uma oportunidade de ser elegível para os apoios do novo formato do Programa ECOFAC ao cumprir as etapas descritas no quadro acima apresentado, Apenas pela integração, nos níveis de protecção do Plano de Manejo do Parque Natural do Príncipe, dos imperativos de conservação dos habitats naturais, da fauna e flora selvagens associados às convenções internacionais ratificadas ou assumidas por São Tomé e Príncipe, tornará o País elegível para novas parcerias internacionais, O envolvimento da sociedade civil – ONG, empresários, comunidades - tanto na elaboração dos Planos como na apresentação de sugestões, soluções e contributos para uma Gestão sustentável financeiramente dos Parques.

Por outro lado, há uma expectativa de que, com o cumprimento dos objectivos atrás descritos, é possível que um reforço do apoio inicial no quadro ECOFAC IV os Parques Naturais possam demonstrar uma gestão que, a médio prazo, os tornará minimamente independentes de grandes financiamentos externos, cumprindo o objectivo “STP tem Áreas Protegidas que promovem a Conservação da Natureza, num quadro de sustentabilidade financeira assente em gestão participada e promotora do desenvolvimento económico e social”.

O conhecimento da Biodiversidade de S. Tomé e Príncipe, marcadamente incrementado com o suporte e contributo de programas de apoio internacionais, em que se destaca o Programa ECOFAC, traduz-se num considerável volume de informação bibliográfica, com considerável detalhe e em que as mais modernas tecnologias têm sido aplicadas para uma caracterização dos valores naturais existentes no País.

É neste enquadramento que, desde 1992, se assistiu à publicação dos relatórios temáticos ECOFAC, das monografias para integração na Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade

16 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

(2002), do Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável e dos Relatórios Nacionais do Estado Geral da Biodiversidade de S. Tomé e Príncipe.

Estes documentos constituem uma referência obrigatória no conhecimento do Património Natural da República Democrática de S. Tomé e Príncipe. Apresentam uma exaustiva caracterização ambiental, estando neles vertidos praticamente todos os trabalhos de caracterizaçõa efectuados a nível nacional e por especialistas internacionais.

Contudo, dificuldades logísticas associadas à gestão no terreno dos resultados das diferentes missões nacionais e internacionais levaram a que alguns trabalhos e levantamentos se tenham extraviado, e há ainda algumas áreas de estudo insuficientemente estudadas, designadamente sobre organismos invertebrados. Por outro lado, qualquer trabalho actual de síntese corre o risco de se tornar uma extensa lista de citações bibliográficas, repetindo conteúdos temáticos já amplamente estabelecidos nos Planos e Relatórios atrás referidos.

Desta forma, o presente Relatório apenas referirá as informações genéricas de base para o enquadramento geral do ambiente natural de S. Tomé, dando-se como reproduzidas as caracterizações efectuadas nos citados documentos oficiais.

II.2 Informações gerais e localização

S. Tomé e Príncipe, com cerca de 1001 km2 (sendo 859 km² para a ilha de São Tomé e 142 km² para a ilha do Príncipe). Tem uma população que pouco ultrapassa os 150.000 habitantes. A população concentra-se na capital, S. Tomé, tendo a Ilha do Príncipe cerca de 6000 habitantes. Situado no golfo da Guiné, dista em média entre 200 e 380 km da costa ocidental da África (Figura 1). A ilha do Príncipe situa-se aproximadamente a 160 Km ao Norte da ilha de São Tomé e a 220 km do continente Africano. De forma rectangular (17 X 8 Km), compõe-se ainda ao norte do Ilhéu Bombom e ao sul do Ilhéu Caroço ou Boné de Jóquei assim como um conjunto de pequenos ilhéus a volta da ilha, formando administrativamente a Região Autónoma do Príncipe. O ponto mais ao Norte da Ilha é o Precipício, à latitude Norte de 1º 41´ 26,18” e o ponto mais ao Sul é o Pico Negro, à latitude Sul de 1º 32´ 09,71”. À Leste fica a Ponta Capitão à longitude Leste de 7º 27` 42,12” e a Oeste, o Focinho de Cão, à longitude Oeste de 7º 20`17,46”.

País de forte relevo orográfico, a Região Autónoma do Príncipe tem como ponto mais elevado o Pico do Príncipe, com 948 m acima do mar. O clima é tropical húmido, com duas estações, a quente e chuvosa, que dura cerca de 9 meses, e a gravana, relativamente mais seca, que dura de meados de Junho a meados de Setembro. A temperatura média anual é de 26ºC. A pluviosidade média anual oscila entre os 2.000 e os 5.000 mm.

Fig. 1: Localização do Archipelago de São Tomé e Príncipe no Gulfo de Guiné.

17 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.3 Estatuto e limites

A Lei 7/2006 criou o Parque Natural «Obô» do Príncipe, para proteger os ecossistemas representativos (8.500 ha) da Ilha do Príncipe (florestal, costeiro e marinho).

A Região Autónoma do Príncipe apresenta, como Áreas Protegidas: um Parque Natural incidindo em duas zonas geograficamente distintas (o terço Sul da Ilha e a Floresta de Azeitona), a Zona Tampão, não incluída no Parque, mas passível de extensão à totalidade remanescente da Ilha (sensivelmente os dois terços setentrionais).

O Parque do Príncipe é desabitado, não possui assentamentos humanos permanentes, pelo relevo, elevada pluviosidade, dificuldade de acessos e inaptidão dos solos para actividades agrícolas na sua generalidade. São estes factores que, de um modo geral, têm assegurado a ausência de grandes impactos negativos por acção humana, embora se torne premente a gestão destes espaços dado o incremento de actividades depletivas do seu património natural, como a caça não ordenada, o abate desordenado e ilegal de árvores e, sobretudo, a colheita ou captura de espécies ameaçadas e protegidas, como os papagaios e as tartarugas marinhas.

Fig. 2: Localização do PNP e sua Zona Tampão no interior da Ilha do Principe.

18 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.4 Infra-estruturas do PNP

A ausência de qualquer infra-estrutura do Parque Natural é o principal factor condicionante do sucesso deste projecto.

É claramente a principal aposta de realização a curto prazo, uma vez que a consignação de uma Sede será determinante para uma eficaz entrada em funcionamento do PNP e uma eficiente prestação dos serviços que lhe estão associados.

Este problema está, contudo, em vias de resolução, tendo sido disponibilizada, por acordo entre o Governo Regional e a DGA, com apoio do Programa ECOFAC, uma Sede para o PNP.

II.5 Ambiente Natural

II.5.1 Ambiente fisico

O ambiente natural da Ilha do Príncipe, como já descrito no PNADD (1998) ou no seu congénere Plano Regional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável - Reg. Autónoma do Príncipe, pode sintetizar-se por:

Relevo:

O relevo da ilha do Príncipe é em termos gerais, menos pronunciado do que o da ilha de São Tomé. Do ponto de vista geomorfológico a ilha pode ser dividida em duas regiões:

A região Norte, que apresenta uma plataforma de altitude situada entre os 120 - 180 metros e um relevo pouco pronunciado, com pequenas elevações pequenas e declives que dão para o mar, sendo o Precipício o maior.

A região Sul é mais acidentada e está representada pelo Pico mais alto do Príncipe (948 m). Este Pico encontra-se inserido numa Cadeia de Serranias de Leste para Oeste que começa no Morro do Este e no Pico de Mencorne e desce para Oeste ao Carriote e mais adiante para a Mesa, já quase separada da formação montanhosa. Esta serrania dilata-se um pouco para o norte com os Picos Papagaio, João Dias Pai e João Dias Filho.

Geologia:

Predominam basaltos densos e compactos com fenocristais de augite e olivina no Norte aos quais intercalam-se alguns jazigos de laterite e tufos de traquite. A zona Sul é denominada por fenólitos de textura porfírica. Não existem terrenos sedimentares, mas em substituição existem afloramentos de calcário do Mioceno e calcário cristalino, principalmente a Este.

Solo:

No Príncipe abundam os solos paraferralíticos vermelho, principalmente na zona Sul da Ilha. Os fersialíticos tropicais são de reduzida quantidade, existindo principalmente no Norte onde apresentam concrecções ferruginosas e carapaças lateríticas. Todavia a pedregosidade é grande e a laterilização é fraca.

Hidrografia:

A rede hidrográfica da ilha do Príncipe é muito rica e abundante. Os rios constituem bacias hidrográficas geralmente curtas mas de leitos importantes. Os principais rios são:

19 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

O Rio Papagaio que nasce na parte meridional da ilha, no declive setentrional das montanhas situadas entre os Picos do Príncipe (948 m) e Mencorne (937 m). A sua bacia é assimétrica, predominando vários afluentes na sua margem esquerda dos quais o maior é o rio Buanga. O vale é profundo e entre a nascente e o curso médio tem a forma de “V”. O leito é na sua maior parte rochoso e com quedas de água. No curso inferior, o leito na sua maior parte é constituído por calhaus. A bacia é coberta por vegetação arbórea e no seu curso inferior uma parte considerável é ocupada por plantações agrícolas.

O Rio Bibi, nasce nas costas do Sudoeste do Pico do Príncipe e estende-se na direcção Sudeste. A bacia, no curso superior e média é simétrica. O leito é rochoso na sua maior parte e por vezes formado por calhaus.

O Rio Banzú, nasce nas costas setentrionais do Pico do Príncipe. A sua bacia estende-se na direcção Noroeste. Tem um vale profundo em forma de “V”. O leito é rochoso e existem quedas de água.

Clima:

Relativamente ao clima, a Região Autónoma do Príncipe, apresenta 3 zonas climáticas, a saber: Zona Super-húmida, caracterizada pelo nulo ou reduzido deficit de água, situa-se em todo o Sul da ilha; Zona Húmida com moderada deficiência de água de Junho a Agosto e com temperaturas relativamente baixas e situa-se na orla Central do Príncipe; Zona Sub-húmida, apresenta deficiências de água, podendo o clima da zona subhúmida apresentar uma quantidade moderada de água no trimestre de Março e Maio e localizam-se na parte Norte do Príncipe.

II.5.2 Ecossistemas terrestres

O PNP é parte da eco-região da Floresta Mista de Planura de São Tomé, Príncipe e Annobón, assim como classificada pelo WWF (Afrotropic, 0127 ou AT0127), pertencente ao grupo de eco-regiões da Floresta Mista de Latifolhas da África Tropical ou Subtropical.

A ilha do Príncipe caracteriza-se por uma variedade de ecossistemas, nomeadamente: ecossistemas naturais (florestas primarias, mangais, águas interiores e marinhas) e ecossistemas modificados (florestas secundárias, antigas plantações e florestas de sombra). Príncipe não tem nenhuma pradaria no seu extremo norte, como seria de esperar por analogia com São Tomé (Jones et al., 1991).

II.5.2.1 Ecossistemas florestais

A floresta do Príncipe faz parte da floresta densa Áfricana que se concentra essencialmente na zona guineo-congolesa, que por sua vez é parte das florestas densas tropicais húmidas que cobrem cerca de 7% da superfície do planeta e hospedam pelo menos 50% de seres vivos.

A parte maior da área actual do PNP coincide de forma geral com a Floresta Húmida Primária. Esta resulta constituída por formações lenhosas com flores, brenhas, matagais e matos, ocupando uma área de aproximadamente 4.500 ha (PNADD-Príncipe, 1998).

20 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Por outro lado, algumas áreas marginais do Parque e parte maior da sua Zona Tampão, caracterizam-se pela prevalência de uma outra tipologia florestal: a Floresta Secundária “Capoeira”. Trata-se duma formação florestal, originariamente de floresta primária, que foi reconvertida para fins agrícolas que, tendo sido abandonada, se encontra em fase de regeneração. Este fenómeno de reconversão natural do território agrícola em “capoeiras” acentuou-se a partir de 1975, quando São Tomé e Príncipe alcançou a sua independência, devido ao progressivo abandono das áreas marginais das plantações. Plantações que tinham sido abandonadas no momento da independência transformaram-se em áreas de floresta secundária densa e alta. Estas áreas apresentam uma composição florística caracterizada principalmente por espécies exóticas, cultivadas e espécies pioneiras com crescimento rápido que se naturalizaram na ilha após da sua introdução.

Minoritária é a cobertura da Floresta de Sombra, que limita-se a algumas áreas da Zona tampão (nos arredores de Terreiro Velho) que se encontra fundamentalmente relacionada com as plantações de cacau (Theobroma cacao) e de banana (Musa spp.) e é composta por espécies introduzidas e para às espécies espontâneas que foram poupadas da devastação da floresta original. Esta formação tem como objectivo fundamental o de proporcionar sombra às plantas cultivadas. Estudos específicos mostraram como a prática de manter uma cobertura arbórea nas plantações, ajuda a manter altos níveis de biodiversidade florestal nos países produtores de cacau (Rice & Greenberg 2000). Entre as espécies presentes na floresta de sombra podem-se citar árvores de valor comercial como: Artocarpus comunis (fruta-pão), Cederela odorata (cedrela), Ficus sidifolia (pau-figo), Milicia excelsa (amoreira) e Pentaclethra macrophylla (moandim).

II.5.3 Ecossistemas marinhos costeiros

O sector ocidental e meridional do PNP inclui parte do ecossistema costeiro que se compõe fundamentalmente por praias, costas rochosas, estuários e litorais alagados, onde predominam diversas formas de vida que constituem a riqueza dessa biodiversidade. Para este ecossistema, não existem pesquisas com particular destaque para a fauna. Os dados aprofundados e actualizados relativamente a determinadas espécies são insuficientes.

Contudo, a reconhecida sensibilidade e vulnerabilidade deste tipo de sistemas, aliado ao papel de interface com as zonas mais valorizadas no PNP, determinaram que uma faixa de largura de 500 metros fosse abrangida pela zona ecológica, resultando na sua classificação como integrando o Parque Natural.

II.5.4 Vegetação

II.5.4.1 Vegetação autóctone original e actual

As primeiras investigações bastante completas e homogéneas realizadas sobre a vegetação do Príncipe foram levadas a cabo nos anos de 1932 e 1933, pelo investigador Exell (1944; 1956; 1973). Outros estudos e análises sobre a vegetação dos ecossistemas florestas foram realizados pelo investigador Monod, que visitou a ilha em 1956 (Monod, 1960), menores em comparação com São Tomé foram as contribuições de outros botânicos (Espírito Santo e White). Em anos mais recentes, sobretudo no quadro do programa ECOFAC, foram executados um conjunto de estudos que enriqueceram de forma consistente os conhecimentos sobre a flora e vegetação do Príncipe, tendo como objectivo principal dos estudos o território do PNP (Le Joly, 1995; Stevart, 1998; Joffroy, 2000; Stevart & Oliveira, 2001, são alguns exemplos).

Excluindo algumas pequenas zonas de mangais e de dunas de areia na costa, a vegetação autóctone original do Príncipe caracterizava-se pela existência de uma cobertura vegetal de flora húmida, que de forma geral pode ser considerada pertencente à região da floresta húmida de baixa altitude de São Tomé segundo a classificação de Exell (1944, 1956). Possivelmente, no Príncipe havia uma menor riqueza natural em espécies florestais e, devido ao seu reduzido tamanho, no período de máximo desenvolvimento das plantações, essa tinha de ter um aproveitamento dos seus recursos mais acentuado do que acontecia para a floresta de São Tomé.

21 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Por esta razão a sua estrutura actual está relativamente mais enfraquecida em comparação de aquela da ilha maior (Exell, 1944; Jones et al., 1991).

Em Exell (1944) encontra-se a informação que quase toda a vegetação primária da ilha foi destruída no âmbito duma campanha de erradicação da doença do sono em 1906. Jones & Tye (2006) contrariam esta possibilidade, afirmando que os meios humanos utilizados para a campanha de controlo foram demasiado limitados para permitir um tal resultado.

Da análise da bibliografia disponível, as tipologias vegetacionais de origem natural que compõem a estrutura vegetal do PNP podem ser resumidas na forma seguinte:

Região de Floresta Húmida de Baixa Altitude - Esta região florestal originariamente ocupava toda a área da ilha, desde o nível do mar até aos 948m de altitude.

Entre as árvores endémicas da ilha citam-se: Rinorea insularis, Ouratea nutans, Casearia mannii, Croton stelluliferus e Erythrococca columnaris. A floresta do Príncipe caracteriza-se também para o grande número de diferentes espécies de Euphorbiaceae, com cinco endémicas, de Rubiaceae e de Orchidaceae. As espécies pertencentes às famílias Asteraceae e Fabaceae são menos numerosas.

Actualmente as áreas restantes desta vegetação encontram-se sobretudo concentradas no território do PNP, no sul da ilha. Na parte de Zona Tampão confinante com estas áreas, esta região florestal foi substituída em grande parte por coqueiros no litoral e por cacaueiros mais no interior. Hoje a porção central e setentrional da ilha é uma região prevalentemente cultivada, ou “secundarizada”, somente nalgumas pequenas áreas permanece una vegetação bastante aparecida aquela original (es. Morro Iola) (T. Stevart pers. comm.) Embora perto do topo do Pico do Príncipe, a floresta assume um carácter mais “de montanha”, as altitudes atingidas pelos relevos do Príncipe, não permitem um pleno desenvolvimento de Floresta Mista de Montanha, de forma parecida ao que acontece em S. Tomé. Jeoffroy (1995) nota como a vegetação de Morro de Leste (cerca de 700m de altitude), seja particularmente símile aquela de Pico Calvário em São Tomé que está a cerca de 1.400-1.500m de altitude. O mesmo autor atribui ao clima oceânico mais acentuado da ilha do Príncipe, a diminuição de altitude em que podem ser encontradas tipologias vegetacionais que em São Tomé se encontram regularmente a cotas mais elevadas.

Mangal - As poucas áreas de mangal do Príncipe concentram-se no limite sudeste da ilha e do PNP, entre Praia Grande e Praia Seca, e em Praia Lapa na Baia das Agulhas (ENPAB-Florestal, 2002). São todas pouco desenvolvidas.

Os Mangais são geralmente influenciados das contínuas oscilações de salinidade provocadas pela intensa evaporação e das chuvas tropicais e têm uma função importante na protecção dos peixes nas primeiras fases do seu desenvolvimento e no controlo da erosão costeira. As espécies dominantes são: Rhizophora mangle (Rhizophoraceae) e Avicennia germians (Avicenniaceae). O mangal é um ecossistema extremamente delicado, que merece atenções específicas para a sua conservação.

A figura seguinte (Fig. 3) apresenta os principais biótopos ou ecossistemas do Príncipe, resultando dos trabalhos e levantamentos efectuados nas várias fases do Programa ECOFAC, sobre os dados do Coberto Vegetal de 1958. Os dados SIG foram recuperados pelos autores, e adaptados para se constituírem na base cartográfica-SIG de desenvolvimentos posteriores da caracterização do património natural de S. Tomé e Príncipe. A ocupação do território demonstra o elevado grau de cobertura pelas formações mais interessantes e de maior valor conservacionista.

22 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Fig. 3: Carta do uso do solo da Ilha do Principe.

23 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.5.4.2 Biodiversidade vegetal

Em São Tomé e Príncipe a vegetação clímax predominante é do tipo tropical húmido, sempre verde e muito heterogénea. No estado actual dos avanços alcançados no conhecimento da flora e da vegetação do País, o número estimado de plantas existentes no arquipélago é de 1.260, das quais: 148 são endémicas, 933 são plantas indígenas e 297 são introduzidas e/ou cultivadas (Anexos I, II e III) (RNEB, 2003).

Os dados específicos sobre a ilha do Príncipe mudam em função dos diferentes autores, do nível de actualização dos seus trabalhos e do nível da área geográfica relacionada com o endemismo considerado (da ilha, do País, do Golfo de Guiné). Joffroy (2000) indica para Príncipe a presença de 44 espécies endémicas do País, o RNEB (2003) de 50 espécies. Diversamente a ENPAB-Florestal (2002) indica um género endémico e 32 espécies endémicas, num total de 450 espécies pertencentes à sua flora (11% de endemismo). Sempre no mesmo documento encontra-se a informação que dos 24 taxa endémicos da ilha do Príncipe, 8 espécies pertencem à família das orquidáceas.

Considerando somente as Angiospérmicas, a Ilha do Príncipe hospeda 40 espécies endémicas (Anexo I).

Os pteridófitos estão distribuídos em 28 famílias, com 81 espécies (GGCG, 2006) e apresentam 6 espécies endémicas (Figueiredo, 2002) (Tabela 10).

Tabela 10: Inventário dos pteridófitos endémicos do Príncipe. STP – Espécie endémica de São Tomé e Príncipe P - Espécie endémica do Príncipe

Nome científico Família Endemismo

Trioplophyllum principis Aspidiaceae P Trioplophyllum fraternum elongatum Aspidiaceae P Asplenium eurysorum Aspleniaceae STP Cyathea camerooniana currori Cyatheaceae P Selaginella mannii Selaginellaceae STP Selaginella monodii Selaginellaceae P Fonte: Figueiredo, 2002

O interesse da estrutura da vegetação da ilha, não consta somente da sua diversidade. Por exemplo, Grammitis nigrocincta ocorre apenas no Príncipe e em Madagáscar. O dado é singular. É possível que outrora esta espécie tivesse uma distribuição contínua no continente Áfricano e que a disjunção que hoje se verifica se deva à extinção das populações continentais (fenómeno análogo a o que se observa em outras ilhas para espécies do género Dracaena). Algumas plantas com este tipo de distribuição disjunta representam vestígios de uma vegetação antiga, agora extinta em parte da sua área original, mas sobrevivente em zonas que mantiveram as condições propícias ao seu desenvolvimento. Estas zonas, têm grande interesse em termos científicos, pois podem contribuir para o conhecimento da história da vegetação em África (GGCG, 2006).

O grupo das Briófitas caracteriza-se para a presença dos géneros Marchantia, Anthoceros e Polytrichium e consta de 14 espécies, cuja uma endémica (O'Shea, 1999). As hepáticas têm 29 espécies, cuja una endémica (Wigginton & Grolle, 1996).

Os conhecimentos inerentes a diversidade sistemática do grupo dos fungos e cogumelos são muito limitados, devido ao escasso número de estudos específicos executados. De momento são conhecidas para Príncipe 180 espécies, cujo 75 foram classificadas na última década (California Academy of Sciences - Gulf of Guinea Expedition Web Site, 2008). Em relação aos Cogumelos, parecem existir sobretudo nas zonas húmidas e sombrosas das ilhas espécies pertencentes aos géneros Lentinus, Termitomyces e Cantharellus. O género Usnea é o mais comum para os líquenes.

24 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Os agricultores deparam com dificuldades no controlo de doenças e pragas causadas pelos seguintes fungos: • Colletotrichum lindemuthianum que causa Antracnose que afecta os feijoeiros; • Carbunculo do Milho que afecta o Milho (Zea maïs); • Uromyces apendicolatus que provoca ferrugem no feijoeiro. Estes dados são bastante fragmentários o que torna necessário aprofundar-se mais para o conhecimento da verdadeira realidade fungina no País.

Os autores avaliam que 9 das espécies incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008) pertençam à flora do PNP (Anexo II). Todas estas espécies são classificadas como “Vulneráveis” (Tabela 11). Adicionalmente, os especialistas da IUCN consideram ulteriores cinco espécies, pertencentes à flora do PNP, na condição de pré-ameaça (Near threatened).

Considerando exclusivamente as espécies endémicas do País, incluídas na flora do PNP, a Lista Vermelha da IUCN inclui 6 espécies, enquanto 3 ficam na condição de pré-ameaça (Tabela 11).

Tabela 11: Espécies de plantas pertencentes à flora do PNP, incluídas na Lista Vermelha da IUCN.

Tipologia Vulneráveis Próximas à ameaça

Todas as espécies 9 5 Espécies endémicas de São Tomé e Príncipe 6 3 Fonte: IUCN, 2008

297 espécies foram introduzidas no País voluntariamente, ou não, pelo homem e a maioria dessas são actualmente cultivadas (Anexo III). Estas espécies estão distribuídas em 87 famílias, sendo as Fabáceas, as Solánaceas, as Poáceas, as Malváceas, as Myrtáceas, as mais ricas de espécies (RNEB, 2003).

II.5.4.3 Plantas medicinais

Juste (1994a) individuou 55 espécies de plantas utilizadas na medicina tradicional. Curiosamente a maioria destas espécies foram introduzidas e só uma minoria são nativas da ilha de São Tomé. Os autores, depois de uma pesquisa bibliográfica, propõem uma lista de 71 espécies vegetais utilizadas no País no âmbito da medicina tradicional.

Um conhecimento mais aprofundado das Plantas com valor medicinal de S. Tomé e Príncipe é o objecto do Projecto Pagué, de iniciativa de jovens investigadores de Ciências Farmacêuticas, coordenados por Maria do Céu Madureira, reconhecida especialista de Etnofarmacologia, e que culminou recentemente na edição de uma compilação de 50 monografias de Plantas Medicinais de S. Tomé e Príncipe (Madureira et al, 2008). Este projecto alia, de forma interessante, a metodologia técnica e científica mais actual ao saber tradicional, permitindo recuperar, confirmar e perpetuar ancestrais conhecimentos do valor medicinal da Flora são-tomense.

Refira-se, por indicação de um trabalho de Oliveira (2002), que houve uma missão do Departamento de Farmacognosia, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e do Centro de Malária e outras doenças Tropicais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Nova Lisboa que fez estudos etnobotânicos nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Não foi encontrada traça deste trabalho de estudo na bibliografia disponibilizada aos consultores da missão de planeamento pela Direcção-geral do Ambiente.

25 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.5.5 Fauna

Quanto à fauna do PNP, o primeiro aspecto a salientar-se é que os níveis de endemismo são relevantes e interessantes em todos os grupos; especialmente se considerados em proporção com o tamanho limitado do PNP e da ilha de Príncipe. Este facto é evidentemente a consequência da natureza insular do território e da separação da ilha relativamente ao continente Áfricano.

II.5.5.1 Mamíferos

De acordo com as bases de dados do Smithsonian National Museum of Natural History (2005) e do Museum of Zoology da University of Michigan (2006) em São Tomé e Príncipe há 11 espécies nativas de mamíferos terrestres, 6 espécies introduzidas e 8 espécies domésticas. Dutton (1994) afirma que algumas das espécies das últimas duas tipologias podem representar uma ameaça para a fauna nativa das ilhas, nomeadamente: porcos, cabras, bovinos, ovelhas, mas sobretudo gatos e cães. Das outras duas espécies citadas pelo Dutton, nomeadamente cavalos e burros, a primeira praticamente desapareceu (sobrevive um só individuo nas ilhas) e a segunda é reduzida a um número mínimo de animais (< de 5).

Parece que quando as ilhas foram descobertas pela primeira vez, não havia populações de mamíferos de tamanho maior e todas as espécies actualmente presentes foram importadas, ou introduzidas, em diferentes períodos (Exell 1956). Hoje, o território do PNP alberga populações estáveis de espécies de mamíferos introduzidas.

Uma das espécies mais conhecidas e comuns é o primata Cercopithecus mona que possui populações distribuídas por todo o País. Olmos & Turshak (2007) notam que a referida espécie é muito comum em qualquer lado da ilha. Os mesmos autores notam também a presença comum de vestígios de alimentação do porco-do-mato nos territórios de planície da ilha, embora os habitantes da ilha acreditam que não haja mais indivíduos na ilha, ou que sejam muito raros (D. Ramos, pers. comm.). Possivelmente esse convencimento é causado pela distribuição destes animais longe das áreas mais antropizadas. Em Oliveira (2002), constata-se que em Maio de 1999 houve uma missão sobre a biologia e a etologia de Cercopithecus mona, cujo objectivo era de determinar a densidade, a dimensão das populações de macacos nas duas ilhas, o impacto agrícola, a morfologia, o comportamento social e os modos de utilização do habitat para fazer recomendações na óptica de possíveis intervenções de gestão das suas populações. Infelizmente não foi possível recuperar uma cópia do relatório final, ou de outras informações, inerentes o referido estudo.

Na ilha há também populações de gatos, de ratos (Rattus rattus e R. norvegicus), ratos domésticos (Mus musculus) (Bocage, 1903; 1904; Frade, 1958) e de carnívoros como a civeta Áfricana Civettictis civetta e a grande doninha de raça ibérica Mustela nivalis numidica, ambas introduzidas provavelmente para combater os roedores nas áreas agrícolas (Bocage, 1903; Frade, 1958).

A fauna autóctone de mamíferos da ilha de São Tomé constituía-se somente para espécies de morcegos e de insectívoros. Actualmente o território do PNP alberga as populações duma subespécie endémica de musaranho Crocidura poensis (Heim de Balsac & Hutterer, 1982; Dutton & Haft, 1996) e de quatro espécies de morcegos nomeadamente: os morcegos frugivoros Eidolon helvum e Rousettus aegyptiacus princeps (subespécie endémica do Príncipe) e os morcegos insectívoros Hipposideros ruber e uma espécie do género Pipistrellus endémica do Príncipe ainda não classificada (Juste & Ibañez, 1994). Como para outros grupos de vertebrados terrestres (aves), também para os morcegos é considerável o nível de endemismo (50%). Não há actualmente no Príncipe espécies de mamíferos incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008). Uma espécie é considerada como “Próxima à ameaça” (Eidolon helvum). Embora esta espécie não tenha problemas maiores para a sua conservação a nível internacional, merece relevo e atenção a colónia de 10-14.000 indivíduos que se encontra perto de Praia da Nova, na costa sudeste do PNP (Dallimer et al., 2002). Os autores não identificam, de momento, nenhum risco maior para a conservação desta espécie na ilha, devido sobretudo à sua alta densidade de indivíduos por km2, fomentada pelo abandono das plantações, que disponibiliza uma importante fonte para a sua alimentação.

26 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.5.5.2 Aves

De toda a fauna do Príncipe, o das aves é sem dúvida o grupo animal cuja ecologia e estado de conservação são os melhores conhecidos. No século XIX começaram recolhas de dados de forma cada vez mais científica e continua no Arquipélago. Este primeiro período de estudo caracterizou-se por algumas expedições de recolha de exemplares amostra financiadas pelo Governo Britânico (Allen & Thomson, 1848), pelos Museus Alemães de Hamburgo, Bremen e Szczecin (hoje Polónia) (Hartlaub, 1849; 1857; Dohrn, 1866; Keulemans, 1866), pelo museu de Lisboa (Bocage, 1867; 1904) e pelo museu de Génova na Itália (estes últimos executados pelo Fea) (Salvadori, 1903). Este período, a carácter mais “pioneiro”, concluiu-se no principio do século XX com as relevantes colecções de Alexander (comissionadas pelo British Museum) (Bannerman, 1914) e Correia (1928-29) que trabalhava para o American Museum of Natural History de Nova Iorque (Amandon, 1953). Após de um período de 20 anos sem iniciativas de estudo sobre a avifauna, a partir de 1950, começou um segundo ciclo de estudos e pesquisas caracterizadas para standards científicos mais evoluídos. Naquele ano uma equipa da Oxford University publicou uma primeira ampla recolha de conhecimentos sobre a avifauna endémica do País (Snow, 1950). Nos anos seguintes, até a década dos setenta, outros ornitólogos executaram missões de estudo, nomeadamente: Frade (1958), Frade & Santos (1977) e De Naurois (1975; 1983). Após De Naurois em 1973, somente em 1987 e 1988 houve mais duas expedições do International Council for Bird Preservation (Burlison & Jones, 1988; Jones & Tye, 1988). Seguiram expedições da East Anglia University em 1990 (Atkinson et al., 1991), de Sargeant (1994) e da Universidade das Açores, que trabalhou sobretudo na avifauna marinha das ilhas Tinhosas (Monteiro et al., 1997). A maioria das expedições ornitológicas na ilha do Príncipe nos anos ’90 e primeiros anos deste século, desenvolveram-se sobretudo no âmbito do Programa ECOFAC através dos trabalhos de Baillie, Gascogine, Dallimer, Melo, Covas, Olmos e outros ornitólogos.

Os dados e as informações apresentadas nesta secção querem ser um resumo sintético e geral do conjunto dos estudos citados. Quer-se aqui destacar os conhecimentos cruciais para a definição das estratégias de conservação deste grupo de vertebrados no território considerado. Estes conhecimentos são também os que os futuros gestores do PNP devem conhecer para uma correcta tomada de decisões na gestão diária do território e dos seus recursos em termos de populações aviarias.

A importância das florestas de São Tomé e Príncipe para a conservação da biodiversidade das aves no contexto internacional foi claramente sublinhada para o trabalho de Collar & Stuart (1985). Analisando de forma comparativa a riqueza em termos de espécies de aves endémicas e sua vulnerabilidade, bem 75 florestas do continente Áfricano, os referidos autores classificaram as florestas pluviais do Arquipélago como as segundas mais importantes entre as consideradas.

São Tomé e Príncipe possui também cinco IBAs (Important Bird Areas) no sistema de classificação adoptado pela BirdLife International (BirdLife International, 2008). Uma IBA encontra-se no interior do território da ilha e uma outra administrativamente pertencente ao Governo Regional do Príncipe, nomeadamente:

9 Floresta do Príncipe 9 Ilhas Tinhosas

Na Tabela 12 reportam-se algumas informações sobre estas duas áreas.

Tabela 12: As características das IBAs do Príncipe. Nota: as ilhas Tinhosas são importantes sobretudo pela dimensão das colónias, mais que para a presença de espécies particularmente protegidas Espécies Espécies Área Total de IBAs Altitude (m) globalmente exclusivas (ha) espécies ameaçadas do sítio Floresta do Príncipe 5.000 0 – 948 m 28 4 7 spp + 7 ssp Ilhas Tinhosas 23 0 – 65 m 5 + (2?) - - Fonte: BirdLife International, 2008.

27 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

O número de aves endémicas terrestres de São Tomé e Príncipe varia entre 21 e 28 segundo o tratamento sistemático dos diferentes autores (Dallimer et al., 2002; Olmos & Turshak, 2007). Este número de endemismos é parecido ao equivalente índice para o Arquipélago das Galapagos (22 espécies), que é oito vezes maior que São Tomé e Príncipe e é mais do dobro do mesmo índice para as Seychelles (11 espécies), que são de dimensão ligeiramente inferior a São Tomé e Príncipe (Olmos & Turshak, 2007).

O Príncipe alberga um género mono-específico (Horizorhinus) e de 33 espécies que nidificam na ilha (excluindo as aves marinhas), seis são endémicas do Príncipe e cinco são espécies endémicas compartilhadas com S. Tomé (uma destas cinco espécies é presente também em Annobón) (Jones & Tye, 2006). Adicionalmente, o conjunto de endemismos acrescenta-se por sete subespécies da ilha ou do País.

Quadro 2: Espécies de aves endémicas do Golfo de Guiné presentes no Príncipe. P – Príncipe, ST - São Tomé, A – Annobón, B – Bioko * - nível de endemismo inerente à sub-especie

Nome científico Endémismo

ESPÉCIES

Columba malherbii STPA Zoonavena thomensis STP Turdus olivaceofuscu xanthorhynchus P* Horizorhinus dohrni P Anabathmis hartlaubii P Zosterops ficedulinus ficedulinus P* Speirops leucophaeus P Dicrurus modestus P Lamprotornis ornatus P Ploceus princeps P Serinus rufobrunneus rufobrunneus P*

SUB-ESPÉCIES

Bostrychia olivacea rothschildi P Treron calva virescens P Columba larvata principalis P Chrysococcyx cupreus insularum STPA Apus affinis bannermani STPB Halcyon malimbica dryas P Corythornis leucogaster nais P Adaptado de Jones & Tye, 2006

Como antecipado, nos últimos anos aumentou muito o interesse por parte de cientistas no estudo da avifauna do Príncipe. Alguns destes estudos concentraram-se na definição dos mecanismos e na reconstrução da sua especiação nas ilhas do Golfo de Guiné (Melo, 2004). Embora estes estudos sejam de grande interesse e possivelmente levarão nos próximos anos a uma revisão sistemática geral, ou pelo menos de alguns taxa da avifauna do Golfo de Guiné, para este documento de plano escolheu-se de ter como referência sistemática o amplo trabalho sobre as aves de São Tomé, Príncipe e Annobón de Jones & Tye (2006), sobretudo devido ao seu carácter orgânico, que permite de considera-lo como um ponto da situação relativamente recente.

Apesar desta escolha dos autores, pretende-se aqui apresentar dois elementos sobre a avifauna do Príncipe que, provavelmente, no próximo futuro aumentarão o seu valor absoluto em termos de conservação: 9 A presença na ilha duma espécie do género Otus ainda não classificada (Melo & Dallimer, 2008); 9 A reclassificação a espécie da subespécie local Turdus olivaceofuscu xanthorhynchus (Melo & Dallimer, 2008).

28 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

A riqueza da avifauna em termos de endemismos levou BirdLife International a incluir Príncipe entre as 200 mais importantes EBAs (Endemic Bird Areas) a nível mundial (BirdLife International, 2003). No âmbito do trabalho identificou-se a EBA-083 “Ilha de Príncipe” (140km²) como de prioridade “Urgente”. A justificação desta escolha baseia-se sobretudo no número extremamente elevado de populações de espécies consideradas a distribuição restrita que o território da ilha suporta: 11, sendo uma classificada como “Vulnerável” e duas como “Próximas à ameaça” (Anexo VI).

De forma geral, as espécies endémicas presentes no Príncipe, parecem ter uma adaptação melhor à floresta secundária e às florestas de sombra do que se verifica para as espécies endémicas de S. Tomé (Martim Melo pers. comm.). Embora disso, as florestas primárias, também no Príncipe, albergam prevalentemente populações de espécies, ou subespécies endémicas, enquanto nas plantações prevalecem as espécies não endémicas (Tabela 13).

Tabela 13: Número de espécies/subespécies endémicas do Príncipe e de espécies não endémicas nidificantes, encontradas nos diferentes habitats da ilha. Floresta Floresta Aguas Tipologias Plantações primaria secundaria interiores Espécies endémicas 11 7 7 0 Subespécies endémicas 7 7 6 1 Não endémicas 2 2 10 5 Total 20 16 23 6 Adaptado de Jones & Tye, 2006

Recentes estudos, através da técnica de distance sampling, mostraram como a maioria das espécies endémicas do País têm densidades de população maiores em comparação com as espécies filogeneticamente e ecologicamente próximas que vivem no continente (Dallimer et al., 2007). Embora este fenómeno no Príncipe não seja evidente como em S. Tomé, pode ser justificado através da teoria de excess density compensation (MacArthur et al. 1972), que afirma que a densidade dum determinado taxon será maior numa ilha em comparação com as densidades nos habitats continentais. Uma possível explicação complementar pode ser fornecida através da Teoria da Pobreza Ecológica de Lack (Lack, 1976; Peet and Atkinson, 1994). Devido à maior simplicidade que caracteriza a estrutura das comunidades, a especialização alimentar nas ilhas é geralmente menor. Desta forma, as espécies endémicas das ilhas têm nichas ecológicas mais amplas que permitem às populações de suster densidades mais altas que os taxa equivalentes nos habitats continentais. As espécies que tentam novas colonizações do território nestas condições de ocupação encontram muitas dificuldades, até não conseguir ocupar um seu nicho ecológico. Este mecanismo volta-se a fomentar a pertinência da Teoria de excess density compensation (Dallimer et al., 2002).

De acordo com Jones & Tye (2006), as espécies e subespécies de aves endémicas do Príncipe podem ser agrupadas, em função da sua adaptabilidade às mudanças ambientais relacionadas com as actividades humanas, em três diferentes conjuntos (Quadro 3). A maior parte das espécies são comuns e amplamente distribuídas na ilha. Estas espécies adaptaram-se às mudanças antropicas do ambiente e de momento não são afectadas por ameaças específicas (grupo A, Quadro 3). Um segundo grupo abrange as espécies que parecem de momento conseguir se adaptar suficientemente bem às mudanças ambientais introduzidas pelos homens. Infelizmente, para estas espécies não se conhecem os limites desta adaptabilidade e há duvida que estes limites de “resiliência específica” sejam já atingidos (grupo B, Quadro 3). O terceiro grupo inclui as espécies que utilizam de forma quase exclusiva a floresta primária (onde a maioria das suas populações concentram-se) e só de forma marginal, ou extremamente marginal, as florestas secundárias, as plantações e as outras áreas agrícolas (grupo C, no Quadro 3).

29 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Quadro 3: Adaptabilidade das espécies/subespécies de aves endémicas do Príncipe às mudanças de habitats induzidas pelos homens. Ver o sentido das letras A, B e C no texto.

A B C

Treron calva virescens Turdus olivaceofuscu xanthorhynchus Bostrychia olivacea rothschildi Columba malherbii Zosterops ficedulinus ficedulinus Columba larvata principalis Speirops leucophaeus Chrysococcyx cupreus insularum Dicrurus modestus Apus affinis bannermani Serinus rufobrunneus rufobrunneus Zoonavena thomensis Halcyon malimbica dryas Corythornis leucogaster nais Horizorhinus dohrni Anabathmis hartlaubii Lamprotornis ornatus Ploceus princeps Adaptado de Jones & Tye, 2006

Quanto às aves marinhas na Tabela 14 apresentam-se os dados de sobre as colónias das diferentes espécies no Príncipe e nos ilhéus aos seus arredores. Nenhuma delas é no interior do PNP.

Tabela 14: Número de casais presentes nas colónias de aves marinhas no Príncipe e nos ilhéus aos seus arredores. Phaeton Sula Sterna Sítios Anous stolidus A. minutus lepturus leucogaster fuscata Ilhéu Mosteiros 5-10 5-10 Escarpas de Praia Banana 5-10 Ilhéu Pedra da Galé 5-10 ? ? Ponto das Mamas ? Ilhéu Boné Jóquei 30-60 70-140 Ilhas Tinhosas 1-2 1.500 - 3.000 ca. 110.000 10.000 - 20.000 4.000 - 8.000 Fontes: de Naurois (1973); Monteiro et al. (1997).

Uma das espécies de aves que nidificam no Príncipe (Zosterops ficedulinus) é classificada como “Vulnerável” na Lista Vermelha da IUCN (2008); mais três espécies são classificadas na categoria Near Threatened (Próximo à ameaça) (Anexo VI).

Cerca de 90% do Príncipe é coberto por floresta (primária e secundaria), portanto muitas das espécies a distribuição restringida são comuns. Apesar disso, a destruição/modificação de habitat permanece o mais importante perigo para as espécies endémicas, sobretudo considerando o tamanho extremamente reduzido da ilha, qualquer redução na dimensão de habitat utilizáveis poderia comprometer a capacidade de algumas espécies de manter populações viáveis (Peet and Atkinson 1994).

II.5.5.3 Répteis

Excluindo as tartarugas marinhas, Príncipe alberga treze espécies de répteis terrestres (Quadro 4) (GGCG, 2006). Praticamente todas as espécies têm uma sobreposição parcial, ou total, entre a sua área de distribuição e o território do PNP/Zona Tampão.

Três espécies são endémicas do Príncipe e seis são endémicas compartidas com São Tomé (uma destas espécies encontra-se também em Annobón) (Quadro 4).

30 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Quadro 4: Lista das espécies de répteis do Príncipe. ST – São Tomé, P – Príncipe, A – Annobón

Nome científico Família Endemismo

Hemidactylus mabouia Geckonidae Hemidactylus greeffi Geckonidae STP Hemidactylus longicephalus Geckonidae Lygodactylus thomensis Geckonidae STPA Leptosiaphos Áfricana Scincidae STP Mabuya maculilabris Scincidae Mabuya blanlingii Scincidae Feylinia polylepis Anelytropidae P Rhinotyphlops feae Typhlophidae STP Rhinotyphlops newtoni Typhlophidae STP Typhlops elegans Typhlophidae P Boaedon lineatus bedriage Colubridae STP Gastropyxis principis Colubridae P Fonte: GGCG, 2006

Uma menção destacada, para o grande valor carismático e para a importância em termos de conservação, merecem as tartarugas marinhas, cujas espécies abaixo descriminadas habitam nas águas marinhas do País e utilizam também as praias do PNP e da sua Zona Tampão para a reprodução.

Estas espécies são: Eretmochelys imbricata - mais conhecida no País como “tartaruga sada”. É das mais cobiçadas devido ao alto valor da sua carapaça no fabrico do artesanato. As praias mais utilizadas por esta espécie são Praia das Burras, Seca, Boi e Portinho. Dermochelys coriacea - conhecida vulgarmente como “tartaruga ambulância”, é das mais raras nas águas do País. Lepydochelys olivacea - mais conhecida por “tartaruga bastarda” ou “tatô”, é a predominante nas águas de S. Tomé, um pouco mais rara nas águas do Príncipe (conhece-se a desova só em Praia Grande). A sua carapaça não é utilizada, mas os seus ovos são muito apreciados pela população. Chelonia mydas - mais conhecida por “tartaruga mão branca”. Os seus ovos e a carne são muito apreciados. Bastante comum no Príncipe em todo o ano. As praias mais utilizadas por esta espécie são Praia Grande, Burras, Boi e Sundy. Caretta caretta - mais conhecida por “tartaruga cabeça grande”, mas para esta espécie não há registos recentes de nidificação no Arquipélago.

No período Junho-Setembro os indivíduos dos dois sexos aproximam-se das costas da ilha. Na época a seguir (sobretudo Outubro-Janeiro) concentra-se a maioria das deposições, até o mês de Abril. De toda forma, é possível encontrar tartarugas marinhas nas águas à volta da ilha, em qualquer momento do ano.

Praticamente as primeiras quatro espécies antes citadas se adaptam bem a todas as praias da ilha, em diferentes substratos, incluindo praias perto de Santo António, embora pareça haver uma diminuição das nidificações nas praias do norte da ilha devida ao distúrbio constante dos carburadores (Juste, 1994). De forma geral, as praias mais utilizadas para a desova são:

9 Praia Grande (entre Ponta Café e ribeira Bibi); 9 Praia S. Tomé, provavelmente a mais utilizada; 9 Praia Formiga; 9 Praia Rei; 9 Praia Boi; 9 Baia das Agulhas; 9 Praia Mocotò; 9 Praia Ribeira Izé; 9 Praia das Burras;

31 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

9 Praia Macaco; 9 Praia Grande (mais perto de Santo António). As últimas cinco são as praias mais utilizadas para executar as capturas ilegais.

Na Figura podem-se encontrar os números inerentes as campanhas de marcação e de incubação dos ovos executadas no âmbito do Projecto ECOFAC/Tatô nos anos entre 1998 e 2001. Os sítios incluídos na estatística são 10, dois destes locados no Príncipe.

10 133 332

1017

427

C. caretta D. coriacea E. imbricata C. mydas L. olivacea

Figura 4: Indivíduos de tartarugas marinhas marcados por cada espécie no âmbito das actividades do Projecto ECOFAC/Tatô nos anos entre 1998 e 2001

Nos três anos de implementação do referido projecto (1998-2001), o sítio de Praia Grande no Príncipe foi o segundo a nível nacional por número de ninhos de tartarugas recenseados (437). Na estação de reprodução 2000/2001, o mesmo sitio foi o mais utilizado em absoluto no País com 148 ninhos, 18.813 ovas incubadas e 12.759 jovens liberados (Jean-François, 2001). Em três anos, somente nos dois sítios do Príncipe foram liberados, pelo Projecto ECOFAC/Tatò, quase 50.000 jovens de tartarugas marinhas previamente incubados.

Para ulteriores detalhes sobre as ultimas recolhas de dados no terreno, preconiza-se o acompanhamento do Programa SADA (http://tartarugasstomeprincipe.wordpress.com/) e as parcerias com a ONG nacional MARAPA.

Todas as espécies que desovam nas praias do Príncipe estão incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008) (Anexo VII) e no Anexo I da CITES (2008) (Anexo IX).

Nada se sabe quanto à presença de tartarugas de água doce no Príncipe. Um estudo específico sobre o assunto, poderia ser de grande interesse.

II.5.5.4 Anfíbios

Três espécies estão reconhecidas para a ilha do Príncipe (Loumont, 1992; Nussbaum & Pfrender, 1998; Jones & Tye, 2006; GGCG, 2006). Uma é endémica do Príncipe; trata-se de Leptopelis palmatus, a maior espécie de anuro arbóreo conhecida para África. As outras duas espécies são endémicas, compartilhadas com S. Tomé, nomeadamente: Phyrnobatrachus dispar e Hyperolius molleri (anteriormente classificada no género Nesionixalus) (Drewes & Wilkinson, 2004). Uma quarta espécie precedentemente considerada endémica da ilha (Phyrnobatrachus feae) é actualmente reconduzida a Phyrnobatrachus dispar.

A compreensão da forma de dispersão destas espécies de anfíbios permanece sem solução, enquanto se trata de animais intolerantes à água salgada e que portanto não poderiam ter colonizado a ilha através duma passagem nas águas oceânicas. Leptopelis palmatus é sem duvida a espécie mais interessante do ponto de vista de conservação, sendo classificada com “Vulnerável” na Lista Vermelha da IUCN (2008)(Anexo VIII).

32 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.5.5.5 Peixes

Os estudos de identificação dos peixes marinhos comerciais realizados pelo projecto de “Avaliação dos Recursos Haliêuticos”, entre os anos 1993 à 1996, identificaram cerca de 105 espécies para as águas de STP; destas, 88 tinham valor comercial. As famílias Carangidae, Serranidae, Sparidae, Scmobridae com 11, 9, 8, e 7 espécies utilizadas, são as mais pescadas (ENPAB-Ecossistemas Marinhos e Costeiros, 2002).

Afonso et al. (1999) definiram em 185 o numero de espécies de peixes marinhos costeiros de São Tomé e Príncipe, distribuídas em 67 famílias. 156 destas espécies são consideradas de interesse comercial. Um estudo mais recente (Wirtz et al., 2007) aumentou a 244 este numero, cujo 28 espécies endémicas do Golfo de Guiné (12% de taxa de endemismo).

Tanto Príncipe como São Tomé encontram-se no ponto de convergência da corrente subequatorial de Benguela e da corrente quente do Golfo da Guiné o que provoca uma corrente equatorial em direcção oeste. Este fenómeno està na origem de um movimento de subida das águas profundas em direcção da superfície, que é denominado “upwelling”. Este fenómeno facilita o desenvolvimento de espécies de águas profundas e de grandes dimensões. Por isso, Príncipe é particularmente rico em espécies pelágicas, tais como o Peixe Andala (Istyophorus albicans). Outras espécies muito pescadas no País são o Peixe Fumo (Acanthocybium solandri), o Pargo (Pagrus caeruleostictus), o bonito (Caranx crysos), o maxipombo (Hemiramphus balao) e o voador (Cypselurus melanurus) (PNADD-Regional, 1998).

II.5.5.6 Artrópodes

A necessidade de estudos sobre a fauna invertebrada da ilha do Príncipe, é mais evidente que para qualquer outro grupo animal o vegetal.

Entre as informações fragmentarias sobre os artrópodes do Príncipe conhece-se a presença de: ; 42 espécies de lepidópteros (borboletas), com uma taxa de endemismo de 21% (RNEB, 2003). ; 8 espécies de Neuroptera (Penny, 2005); ; Una espécie endémica de caranguejo de água doce do género Potamonautes (Cumberlidge et al., 2002).

A Lista Vermelha da IUCN considera somente a Libelinha do Príncipe, Trithemis nigra, classificada como “Em Perigo Critico”. Em 1995 Gascogine realizou uma Lista Vermelha de espécies animais ameaçadas de São Tomé e Príncipe. Para as espécies/subespécies de artrópodes que encontram-se no Príncipe, a lista consta de: ; Trithemis nigra (com status “Indeterminado”); ; o escaravelho do Príncipe, Pachnoda canui (“Indeterminado”); ; as borboletas endémicas Graphium leonidas santamarthae (“Em Perigo”) e Pseudacraea gamae (“Indeterminado”).

Para um panorama mais aprofundado sobre o conhecimento actual deste grupo animal na Ilha, ver o web site do GGCG.

II.5.5.7 Moluscos

Em relação aos moluscos a ilha do Príncipe consta de 32 espécies com uma taxa de endemismo 78% (RNEB, 2003). A larga maioria destas espécies pertence também à fauna do PNP.

A espécie mais representativa deste grupo animal é sem dúvida o búzio endémico gigante Archachatina bicarinata, localmente chamado “búzio preto”, ou “búzio de terra”. A sua fama é devida ao uso alimentar (muito apreciado) que a população local faz das suas carnes. Já através do inquerido de 1994, Juste (1994a) evidenciou como, a nível nacional, entre todas as espécies animais “aproveitadas” pela população, a espécie cuja população mais percebia-se em fase de diminuição dos efectivos era A. bicarinata. De facto, sobretudo nos últimos vinte anos, evidenciou-

33 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

se a contínua contracção da sua população. Aliás, a espécie está classificada na Lista Vermelha da IUCN (2008) com status “Vulnerável”. Os autores tomaram conhecimento, por Oliveira (2002), que em 1996 houve uma missão de estudo sobre esta espécie. Infelizmente, no âmbito da missão de preparação deste plano, não foi possível recuperar algum documento técnico relacionado com a referida missão.

É de se destacar também que a IUCN (2008) listou um conjunto importante de espécies, cerca de 25, que não estão classificadas de forma definida numa categoria de ameaça por falta de informações sobre as suas populações. Para a ilha do Príncipe, Gascogine (1995) classificou na Lista Vermelha de espécies animais ameaçadas de São Tomé e Príncipe, por além de A. bicarinata (“Vulnerável”), também Neritina manoeli (“Em Perigo”, trata-se de um arqueogasteropode de água doce). A estas duas espécies presentes no interior da ilha, o autor adicionou 17 espécies marinhas presentes com populações no litoral incluído no território do PNP (todas classificadas como “Vulneráveis”).

Uma lista das espécies de moluscos terrestres, de água doce e marinhos conhecidos para a Ilha do Príncipe é apresentada no Quadro 5.

Quadro 5: Lista das espécies de moluscos do Príncipe. Nome científico Descrição Buccinum sp. Búzio-do-mar Vénus spp. Amêijoa Ostrea spp. Ostra Crassostrea Ostra Lithodomus Canivete Octupus sp. Polvo Sepia sp. Choco Ommastrephes sp. Lula Ommastrephes sp. Calamares Neretina afra Caramuso Neretina manoeli Molusco de água doce Teinostoma Molusco marinho fernandense Teinostoma funiculatum Molusco marinho Paradoxa thomensis Molusco marinho Paradoxa confirmata Molusco marinho Marginella gemma Molusco marinho Volvarina insulana Molusco marinho Granulina parilis Molusco marinho Cysticus gutta Molusco marinho Cysticus josephyinae Molusco marinho Gibberula módica Molusco marinho Gibberula cucullata Molusco marinho Gibberula puntilun Molusco marinho Muricopsis principensis Molusco marinho Scaevatula Molusco marinho pellisserpentis Scaevatula amancioi Molusco marinho Agathothoma finalis Molusco marinho Archachatina Molusco terrestre (Búzio bicarinata d’Obô) Fonte: RNEB, 2003

II.5.5.8 Outros invertebrados

Na ilha do Príncipe, existem populações de corais da espécie Montastrea cavernosa guineensis, mas também colónias ramificadas e laminares do género Echinogorgia típicos dos substratos rochosos (RNEB, 2003). Os conhecimentos sobre este grupo taxonómico são ainda muito limitados. Planárias, tais como Platelmintas turbelários, foram observadas no Rio Papagaio (ENPAB, 2002).

34 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.5.5.9 Perda de biodiversidade animal

O risco de perda de biodiversidade na ilha do Príncipe parece concreto. O PNP representa o território prevalente da maioria das espécies incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008). Na Tabela 15 propõe-se uma análise da evolução da classificação pela IUCN do nível de ameaça para as espécies animais terrestres que se reproduzem no território do Parque, ou na sua Zona Tampão. Através desta análise constata-se um progressivo pejorar da situação geral das espécies ameaçadas no período entre 1988 e 2000, enquanto houve uma estabilização do nível de ameaça na última década.

Tabela 15: Número de espécies animais incluídas nas diferentes categorias de ameaça na Lista Vermelha da IUCN, desde 1988. O “Índice de Ameaça Global” (IAG) calcula-se atribuindo um peso específico diferente às espécies incluídas nas diferentes categorias de ameaça, segundo o seguinte critério: espécie “Em perigo critico”=4, espécie “Em Perigo”=2, espécie “Vulnerável”=1 e somando os valores de todas as espécies assim obtidos, por cada ano.

Ameaça 1988 1994 1996 2000 2004 2006 2008

Em Perigo Critico 0 0 2 3 3 3 3 Em Perigo 4 4 3 2 2 2 1 Vulnerável (ou Ameaçado) 2 2 3 3 3 3 4 Total das espécies na lista 6 6 8 8 8 8 8 IAG 10 10 17 21 21 21 19 Fonte: IUCN, 2008

Estas variações na classificação da IUCN, nem sempre dependem de mudanças reais no estado de conservação das espécies. Aliás, podem depender da realização de estudos mais aprofundados que mostram que a situação de conservação das populações de algumas espécies não é grave como estimava-se, ou contrariamente, espécies já ameaçadas, mas não estudadas, passam rapidamente a não constar na lista, a níveis de ameaça muito altos. De qualquer forma, o índice proposto, não pode ser considerado como um instrumento “matematicamente certo” para avaliar o estado de conservação das espécies mais ameaçadas a nível do Parque, mas com certeza é um bom indicador geral do estado de conservação das mesmas espécies, que, no longo prazo pode ser utilizado como ferramenta de avaliação do sucesso das acções de conservação tomadas pelo órgão gestor do PNP e as Agencias de conservação do País.

35 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6 Meio socioeconómico

II.6.1 População e demografia

A população do País é estimada em cerca de 206.000 habitantes (CIA, 2008), enquanto a população residente na ilha do Príncipe representa cerca de 4% da população total. Os dados demográficos oficiais para Príncipe (INESTP, 2006) indicam para 2001, 5.966 pessoas residentes, cujo 3.087 homens e 2.879 mulheres. Na Tabela 16 apresentam-se os dados históricos da população da Região Autónoma do Príncipe em comparação com a população total do País. Os dados evidenciam como o máximo em termos populacionais, em escala nacional, foi atingido nos anos ’50, na altura de máxima expansão das plantações de cacau. O progressivo declino deste sistema agrário, teve como inevitável consequência, um paralelo declínio da população em termos comparativos com a ilha maior, onde o tamanho da população permite uma maior diversificação dos sectores económicos e a consequente maior diversificação das possibilidades de emprego.

Tabela 16: Dados históricos de população para a ilha do Príncipe % da população Ano Habitantes nacional 1940 3.124 5,2% 1950 4.402 7,3% 1960 4.544 7,1% 1970 4.593 6,2% 1981 5.255 5,4% 1991 5.471 4,7% 2001 5.966 4,3% Fonte: Web Site do Governo Regional da Ilha do Príncipe - www.principe.pt

A avaliação mais actualizada disponível da população do Príncipe é a do PDRP (2008) que indica um total de cerca 7.000 habitantes. Este dado possivelmente sobrestima um pouco o valor real.

A população é eminentemente jovem, aliás como no resto do País. Os habitantes constituem-se em cerca de 66,8%, entre 0 e 24 anos de idade, estando então 20,3% entre 25 e 49 anos, enquanto 12,9% da população tem 50 ou mais anos (INESTP, 2006).

A taxa de natalidade e aquela de mortalidade infantil são particularmente altas, por causa de hábitos e padrões de vida e das condições precárias onde a população vive. O isolamento da ilha gera também a dificuldade de acesso regular para a população a bens e serviços básicos e/ou de assistência.

As características da população da ilha individuadas por Juste (1994) são: Ö população multirracial como resultado das migrações desde diferentes pontos do continente (Angola, Moçambique e sobretudo Cabo Verde); Ö distribuição da população em roças e dependências. Como em São Tomé a população reflecte a antiga organização da ilha em propriedades de uso agrícola destinadas a exportação, embora este padrão de deslocação da população houve, e continua a haver, importantes mudanças (cf. capítulo anterior e PDRP, 2008); Ö concentração da população no norte da ilha. Depois da independência as roças foram interessadas por um processo de abandono mas marcado que em São Tomé; a concentração da população é situada na parte norte da ilha, assim que já em 1982 47% da população encontrava-se concentrada em um raio de 1 km desde a capital e mas de 95% em um raio de somente 5 km.

Na tabela 17 mostra-se a evolução recente do número de habitantes das comunidades da Zona Tampão do PNP. Segundo o ultimo recenseamento geral do País (INESTP, 2006), em 2001 a população residente nas comunidades no interior da Zona Tampão do PNP era de 502 habitantes.

36 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Tabela 17: Números de habitantes das comunidades da zona tampão do PNP em diferentes anos. * - Projecção

Comunidades 1994 2001 2008*

Bela Vista - 84 96 Porto Real 414 239 272 S. Joaquim 114 110 125 Terreiro Velho - 69 79 Total - 502 572 Fontes: Juste, 1994; INESTP, 2006.

Os dados de subdivisão da população em faixas etárias da comunidade de Porto Real (Muniz & Neto, 2008), podem ser considerados como uma boa aproximação da situação geral nas comunidades que residem na Zona Tampão do PNP (Tabela 18).

Tabela 18: Perfil etário da população amostra na comunidade de Porto Real.

0-15 anos 15-60 anos + de 60 anos

% de população 30,4 62,2 7,4 Fonte: Muniz & Neto, 2008.

II.6.2 Infra-estruturas e transportes

Na Zona Tampão, assim como foi delineada no passado (Juste, 1994; Grepin, 1999), são presentes 4 comunidades: Bela Vista, Porto Real, S. Joaquim, Terreiro Velho, mais alguns pequenos núcleos habitacionais constituídos por poucas famílias. As aldeias são geralmente fornecidas duma estrada de acesso (em condições de manutenção variáveis, ver tabela 19) e nalguns casos pequenos serviços comerciais.

Tabela 19: Condições da estrada de acesso nas comunidades do PNP

Comunidade Acesso em 1994 Acesso em 2008

Bela Vista Boa Má condição S. Joaquim Medíocre Boa Terreiro Velho Boa Medíocre Fontes: Juste, 1994; Consulta Publica, 2008.

As infra-estruturas sócias encontram-se em avançado estado de degradação, as condições de saneamento do meio são péssimas e é comum a falta de um sistema de abastecimento de água nas aldeias. As construções como as habitações, os postos de saúde, as creches, as escolas, encontram-se muito degradadas.

Recuperam-se algumas informações contidas no Diagnostico Socioeconómico do Meio Rural em São Tomé e Príncipe (Muniz & Neto, 2008) que tem uma interessante recolha de dados sobre algumas comunidades amostra. No referido estudo foram entrevistados os habitantes de comunidades rurais para realizar um padrão da situação geral a nível nacional. Devido ao interesse específico dos dados, uma parte dos resultados do referido diagnóstico são apresentados neste documento, embora a amostra de comunidades considerada por Muniz &

37 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Neto, tenha uma coincidência somente parcial com as comunidades residentes na Zona Tampão do PNP (trata-se da comunidade de Porto Real).

Considerando o assunto das habitações resulta, por exemplo, que em Porto Real uma percentual de 26,8% dos agricultores entrevistados é proprietário da sua moradia e a mesma percentual de habitações é construída em alvenaria, a restante parte é de madeira (Muniz & Neto, 2008).

Os problemas das infra-estruturas como água, energia e transporte são difundidos a nível nacional, mas se possível na Região Autónoma de Príncipe o nível de acesso a estes serviços é ainda menos adequado. As condições de moradia têm uma completa carência de serviços, faltam de energia eléctrica, instalações sanitárias e rede de telefonia. A maior parte dos habitantes entrevistados em Porto Real por Muniz & Neto (2008) não tem acesso a instalações sanitárias adequadas (68,3%), nem tem acesso à rede de telefone (89,3%). Um pouco diferente é a situação do acesso à energia eléctrica, porque Porto Real está ligada à rede pública de electricidade e portanto 46,3% dos agregados familiares da amostra confirmaram ter acesso a este serviço. Mas é necessário sublinhar que Porto Real é a única comunidade locada na Zona Tampão do PNP a ser ligada a rede pública de energia eléctrica.

Em relação ao acesso à água para consumo doméstico, segundo os dados de Muniz & Neto (2008), a distribuição é equitativa entre os agricultores que tem acesso a água proveniente de rede de distribuição e aqueles que utilizam-se de água proveniente de captações superficiais, na comunidade de Porto Real 58,5% dos agregados amostra utiliza sistemas de captação superficial, enquanto 41,5% utiliza a rede de distribuição.

As telecomunicações no Príncipe são fornecidas pela Companhia São-tomense de Telecomunicações (CST SARL). Os serviços prestados não resultam ao nível de eficiência daqueles em S. Tomé (correio electrónico, INTERNET).

Na mesma capital de Santo António, cerca de 2.000 habitantes, a água, abastecida pela EMAE, é de má qualidade devido a falta de protecção do depósito, o estado obsoleto da canalização e a falta de tratamento de higienização. Apesar de ser paga esta água não esta igualmente em boas condições; há também água gratuita, que chega das antigas empresas estatais e que abastece uma dezena de localidades mas também este recurso não é seguramente em boas condições higiénicas.

Entre as comunidades que moram na Zona Tampão do Parque resulta que 75% das comunidade tem escola primária, na comunidade ou perto de si; 75% das comunidades tem um posto de saúde, activo ou em construção; 50% das comunidades tem também a creche e um centro recreativo. Uma só das comunidades tem pequenas lojas de comércio. A comunidade de Bela Vista não tem nenhuma destas infra-estruturas. Terreiro Velho tem uma velha fábrica para a produção de farinha de mandioca que a comunidade quer tornar em sistema produtivo eficiente.

A conexão das ilhas via mar é um problema de grande tamanho e difícil solução. Há uma ligação com barco que todavia não é um meio muito seguro, são utilizadas antigas embarcações de pesca adaptadas ao tráfego de mercadorias e pessoas ou embarcações mais grandes e estruturalmente inadequadas. Os preços também dos produtos transportados vão a ser mais altos que em São Tomé por causa do transporte. Mas a coisa mais grave o perigo que o transporto em estas embarcações representa para a população que a causa dos preços altos do avião tem que utilizar estes barcos não adaptas para a viagem com consequências que podem ser trágicas (a última tragédia se verificou no Setembro 2008, na altura de execução da missão no terreno para a preparação deste documento). Por além disso, o porto do Príncipe não tem a necessária eficiência e equipamento para poder ser utilizado como efectivo interface entre o transporte marítimo e a ilha. A obsolescência do porto é uma das barreiras que não permitem a instalação de um transporte marítimo adequado para os habitantes da ilha (PDRP, 2008).

Entre Príncipe e S. Tomé, há também conexões de avião, duas ou três vezes por semana, embora as condições do aeroporto e dos equipamentos não respeitem as normas de segurança mínima.

38 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Em 2008, as ligações aéreas entre as duas ilhas estavam a ser asseguradas por aeronaves de uma empresa privada afecta um empresário que explora o sector turístico em São Tomé e na Região Autónoma do Príncipe.

Uma concessão para os trabalhos de requalificação do sistema de transporte aéreo é da Société de Consérvation et Développement/SCD (BV), que tem interesses e actividades turísticas nas ilhas de São Tomé e do Príncipe, e que se apresenta como o principal parceiro privado para a viabilização do Parque Natural, como aliàs apontamos no primeiro Plano de Gestão para esta Área Protegida.

Os trabalhos de requalificação têm como objectivo a reparação da pista e do aerogare, a ampliação da pista até 1.450 metros, para permitir as operações com aviões de 30 passageiros (o avião antes utilizado era um Embraer 110 de 18 lugares da companhia aérea SCD) e para dotar a pista de iluminação mediante sistema de alimentação solar.

Os trabalhos teriam que começar em Agosto 2008 (Panapress, 2008), mas na data indicada, os mesmos ainda não se tinham iniciado.

O transporte interno na ilha do Príncipe é assegurado por estradas que, devido à elevada pluviosidade, deficiente qualidade de execução e falta de manutenção, estão muito deterioradas (especialmente na cidade de Santo António, na direcção de Porto Real e nas localidades mais afastadas da cidade). O sector dos transportes terrestres está pouco desenvolvido; caracteriza-se por carrinhas e pequenas navetes, que asseguram ligações relativamente regulares entre a cidade de S. António, o aeroporto, Sundy, Picão e Porto Real. Os trabalhos para asfaltar as estradas permitiram condições de circulação razoáveis fora da cidade; as pistas de terra batida não sempre estão em boas condições. Um exemplo absolutamente positivo é o da estrada de conexão entre Santo António a S. Joaquim.

A carência geral de infra-estruturas provoca também algumas dificuldades ligadas à agricultura como por exemplo o grande problema do transporte.

No Anexo XII apresentam-se informações de detalhe sobre as infra-estruturas de cada comunidade visitada pela Equipa de Planeamento no âmbito da Consulta Pública.

II.6.3 Organização social e territorial

Os autores querem citar o Plano de Desenvolvimento Regional do Príncipe (PDRP, 2008) sublinhando a condição de extrema complexidade que caracterizou e caracteriza também hoje em dia a história do Príncipe, que é a sua “situação de dupla insularidade”. Um dos assuntos chave desta situação, bem descrito pelo PDRP (2008), é o da descentralização imperfeita: a desconcentração de responsabilidades sem a entrega do poder na prática. Sempre segundo a análise do PDRP, sobretudo nas áreas rurais “não existem formalidades que assegurem a propriedade pessoal da terra, o abastecimento de energia, de água potável, estradas, postos de saúde, escolas e outros elementos de base” e “Portanto, a população do Príncipe pode ser maioritariamente considerada como urbana de gostos e necessidades.”

Este contexto cria inevitavelmente constrangimentos e problemáticas, que ultrapassam em grande parte a escala de planificação deste documento. Apesar e ao mesmo tempo desfrutando estas considerações, o conjunto de medidas propostas através dos documentos de plano do PNP (PdM e PdG) orienta-se na procura de soluções locais a estas problemáticas de tamanho maior. Como resposta, um dos objectivos fundamentais das politicas actuadas pelo PNP, é o de gerar as receitas para o seu próprio sustento e de se constituir como um instrumento fundamental para o desenvolvimento local.

39 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.3.1 Os diferentes grupos sociais no quadro histórico

Desde 1470/1471, anos da sua descoberta, durante cinco séculos, as ilhas do arquipélago ficaram submetidas à colonização portuguesa. Originariamente o seu povoamento foi feito com os judeus da coroa portuguesa degredados e com a população trazida da costa Áfricana. Considerados como os primeiros habitantes, os portugueses desde sempre ocuparam o mais alto escalão na hierarquia da estrutura social de São Tomé e Príncipe devido ao monopólio de poderes sobre a população e sobre a exploração da terra.

Com a introdução da cana-de-açúcar e a instalação de engenhos pelos portugueses deu-se início a contratação forçada de mãos de obra. Entre os séculos XVI e XIX, os dois grupos mais relevantes eram, por um lado, os moradores livres e, por outro, os escravos. O preenchimento, pelos brancos, do mais elevado nível da hierarquia civil, eclesiástica e militar, conferia-lhes o controlo do aparelho político e, consequentemente, do sistema económico. Os mestiços também ocupavam cargos de importância, embora inferiores aos dos brancos. No último escalão dos moradores livres estavam os negros alforriados, cuja principal ascendência remontava ao século XVI. Os escravos constituíam o grupo mais flutuante, constantemente renovado e sem quaisquer direitos. A estratificação e a mobilidade sociais dependiam pois de parâmetros raciais, psico-culturais, políticos e económicos. Tendo sido introduzida pelos roceiros uma economia baseada na exportação dos produtos agrícolas, esta veio dar lugar não somente à franja da população constituída pelos roceiros e os seus trabalhadores, mas também a uma estrutura de comércio colonial actuando no plano interno e externo em articulação com as necessidades de produção, consumo, exportação e importação nas roças. Com este tipo de economia, as ilhas tornaram-se economicamente relativamente ricas.

Novos libertos da escravatura de 1875, chamados foros, distinguiram-se dos outros grupos sociais pelo facto de se negarem ao trabalho da terra através da coerção e de terem abandonado definitivamente a área das grandes plantações agrícolas preferindo viver na sua periferia, nos arredores de Santo António e ocupando-se das mais variadas profissões liberais. Foi assim contratada mão-de-obra das outras colónias portuguesas. Esta mão-de-obra importada teve apenas como espaço as roças onde prestava serviço aos patrões. A hermeticidade desse espaço, as obrigações contratuais, punham-nos à mercê desses patrões que os mantinham sem quaisquer contactos exteriores, num contexto já de forte isolamento. Terminando o contrato, uns optavam por regressar aos países de origem, outros ficavam definitivamente. Porém, mesmo quando libertos da opressão roceira, esses trabalhadores não encontravam terra para se instalar, fora do espaço das roças, tornando-se esta de novo o único lugar que lhes oferecia maior segurança. Os seus filhos nascidos nas ilhas chamaram-se tongas (PNADD, 1998).

Devido ao limitado tamanho da Ilha e da sua população, no Príncipe, a actual percentagem de habitantes de origem Cabo-Verdiana, ou de outras colónias portuguesas da África, é superior aquela que registra-se em S. Tomé. Embora disso, o grupo populacional que tradicionalmente caracteriza a estrutura socio-económica da região é o dos Minuié (filhos da Ilha), também conhecidos por Monkós. Em 1994, no âmbito do seu inquérito da população residente na Zona Tampão do Parque, Juste (1994) avaliou que duas das comunidades que o autor considerou internas à Zona Tampão (Terreiro Velho e Bela Vista) tinham população a maioria de origem Cabo-verdiana, enquanto a comunidade de S. Joaquim era a maioria de Forros (diversamente do presente trabalho, Justa não considerou a comunidade de Porto Real como pertencente à Zona Tampão do PNP). A situação não mudou, embora cada ano mais, as populações de Terreiro Velho e Bela Vista podem ser consideradas como constituídas por Tongas, em vez que Cabo-verdianos.

Após a independência e com a nacionalização dos principais meios de produção na sequência da ausência dos seus proprietários (roceiros) e a transformação dos mesmos em empresas estatais surgiu na sociedade são-tomense uma nova classe dominante, a dos burocratas das empresas estatais. Fundamentalmente, os “padrões” colonos portugueses foram substituídos por os administradores públicos. Portanto, o período entre 1975 e 1990 caracterizou-se para a presença da administração do estado em todos os níveis da organização da sociedade, incluindo os da sociedade civil.

40 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Com o advento da democracia surgiu uma nova relação estrutural do poder. A liberalização abriu novos horizontes socioeconómicos, mas sendo um processo começado há menos de vinte anos, a classe impedidora é, de forma geral, ainda pouco conhecedora dos novos mercados e oportunidades. Escassos são também os capitais nacionais disponíveis para investir nos sectores de produção e serviços. Mais rápido foi o crescimento no sector das ONG, também se muito caminho deve ser executado em termos de profissionalização.

No âmbito do território do PNP, o período após da independência caracterizou-se para um progressivo abandono das dependências mais afastadas de Santo António e que tinham as condições de vida mais difíceis (Correia, Neves Ferreira, Infante de Henrique, etc.). A maioria destas comunidades encontrava-se ou nas áreas periféricas do Parque (sobretudo nos sectores este e noroeste), ou na Zona Tampão. Última nesta sequência foi a Roça de Porto Real, que embora seja ainda morada, perdeu a sua estrutura organizativa de empresa de Estado e viu uma parte importante dos seus habitantes confluir na vizinha cidade de Santo António.

II.6.3.2 Estrutura e evolução social

No Príncipe predominam no seio da população residente os pequenos agricultores, os assalariados agrícolas, os agentes da Administração Pública, os estudantes, os elementos ligados ao sector informal e, evidentemente, também as domésticas, muitas das quais respondem cumulativamente à condição de palayês, na medida em que comercializam géneros mesmo à porta de casa, como no mercado e/ou de forma ambulante. Pela sua relativa importância e papel social, ainda que muito menor, são de se referir também o grupo dos pescadores e, como grupos mais residuais, o dos indivíduos ligados ao médio e pequeno comércio, o dos pequenos produtores artesanais e o dos candongueiros (PNADD-Regional, 1998). Cabe salientar que, como consequência do programa nacional de distribuição e privatização de terras anteriormente concentradas sob a gestão do Estado, verificou-se, sobretudo nos anos ’90 uma redução substancial no número de assalariados agrícolas, que foram passando desse modo à condição de pequenos agricultores.

Parece haver na ilha uma certa propensão para iniciativas de carácter associativo ou de grupo, tanto para fins económicos, como socioprofissionais, ou culturais. Duma forma geral, os trabalhadores por conta doutrem estão ligados a Sindicatos da respectiva área ou sector, do mesmo modo que existem também Associações de Pequenos agricultores, de Pescadores, assim como Associações de Mulheres, de jovens e outras de fins humanitários, culturais ou de promoção ao desenvolvimento regional. Destacam-se ainda outras organizações em jeito de confraria ou irmandade, geralmente orientadas para fins de carácter religioso ou cultural.

II.6.3.3 Papel das mulheres na conservação do ambiente da ilha

A problemática ambiental em Príncipe, além de constituir por si, uma preocupação mais ou menos recente, não constitui preocupação principal das mulheres por uma razão, que se considera muito simples: o nível de degradação dos padrões de qualidade de vida, nomeadamente o baixo rendimento, a pobreza, a sub e má nutrição, as doenças, a fome, o desemprego e outros males, fazem com que o dia-a-dia das mulheres esteja direccionado no combate pela sua sobrevivência pessoal e da sua família, relegando para o segundo plano, tudo quanto não se enquadre pelo menos directamente nesta luta.

Jogando o papel de mãe, produtora ou fornecedora de alimentos, lenha e água, as mulheres ocupam o centro do processo de consumo de recursos da família. Uma parte significativa das suas actividades tem influência directa com o ambiente; elas são as principais responsáveis, pela recolha de lenha para combustível, daí a sua relação permanente e directa com as florestas, busca de água para o abastecimento familiar, remoção dos lixos nos quintais entre outros. Neste sentido qualquer estratégia que visa proteger o ambiente e preparar um desenvolvimento nacional sustentado não terá êxito se acções concretas com vista a melhorar a situação da mulher não forem tomadas em conta.

41 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.4 Principais sistemas de produção

A estrutura económica de São Tomé e Príncipe está actualmente muito dependente da produção agrícola. A agricultura ainda é a principal actividade económica do País e o cacau, o principal produto de exportação. Dos 19,8 mil milhões de dobras das exportações, em 2000, mais de 18 mil milhões provêm do sector agrícola. Nesse mesmo ano, o sector agro-florestal contribuiu com 21,8% do PIB (ENPAB, 2003), mas em 2007 esta percentagem baixou-se ao 14,9% (CIA, 2008). Este último dado exprime claramente as dificuldades produtivas e de comercialização que a agricultura são-tomense está a viver nesta fase. Sendo a Zona Tampão do PNP sobreposta com uma componente das plantações e albergando uma porção relevante da população rural da ilha, a agricultura e as actividades conexas, representam a base fundamental da estrutura económica to território alvo da analise nesta secção.

II.6.4.1 Agricultura

Antes de analisar em detalhe este sector produtivo, é necessário sublinhar a complexidade da situação corrente na ilha. Segundo o PDRP (2008): “no Príncipe não é possível encontrar nenhuma unidade agrícola produtiva digna desse nome tanto do ponto de vista produtivo como do ponto de vista da sua organização. Actualmente não se encontra nem o camponês nem o assalariado rural permanente até porque a maioria das roças não labora ou se labora não o faz segundo um esquema organizado em termos produtivos.” E ainda: “A actividade no espaço rural é fundamentalmente recolectora.” Enfim: “porque a terra e o mar são efectivamente generosos não se verificam sinais exteriores de pobreza generalizada conforme sugerem alguns relatórios e documentos oficiais que apontam para mais de 60% a população a viver abaixo do limiar da pobreza, além disso, de um modo geral, as pessoas não se reconhecem como verdadeiramente pobres.” Os autores, concordam de forma geral com estas considerações, embora seja necessário notar que a agricultura, qualquer seja a sua estrutura organizativa, é ainda a principal actividade económica do Príncipe.

A estrutura fundiária assenta-se na existência de uma grande empresa estatal, Sundy, cobrindo uma área de cerca de 861 ha, assim como cerca de trinta médias empresas com um total de mais de 1.000 ha. Fazem ainda parte da referida estrutura, as pequenas parcelas, distribuídas no quadro da privatização agrícola, e glebas que, em conjunto ocupam, também essas, uma área de mais de 1.000ha (PNADD-Regional, 1998). Os principais sistemas agrários presentes são: o sistema agro-florestal e o sistema de culturas anuais. No sistema agro-florestal destacam-se: coqueiral, coqueiral em consociação com o cacauzal, cacauzal, cacauzal em consociação com bananal e com matabala. As Infra-estruturas agrícolas da região encontram-se em muito mau estado de conservação.

O cacaueiro foi introduzido no Príncipe em 1822 (primeiro sitio na África) e distribui-se por toda a zona compreendida entre os 100 e 500 metros de altitude, havendo inclusive plantações situadas quase ao nível do mar. As plantações de coqueiro distribuem-se desde o nível do mar até uma altitude de cerca 150 metros e concentram-se em toda a parte norte da Ilha correspondente à Zona de Floresta de Sombreamento, em toda a faixa costeira oriental e em toda a zona sul na periferia da Zona de Floresta Primária. Na Ilha do Príncipe, tanto na Zona de Sombreamento como na Zona de Floresta Secundaria existem várias plantações de café ibérica, muitas das quais abandonadas e marcando os vestígios de plantações que outrora constituíram um dos sustentáculos da agricultura da Ilha. As poucas cultivações de cana-de- açúcar concentram-se na parte norte da ilha.

Baseando-se nos dados recolhidos no âmbito da Consulta Pública (para os detalhes ver Anexos X, XI e XII) os produtos cultivados mais comuns na Zona Tampão do PNP são: cacau, café, banana, fruta-pão, milho, mandioca, cana-de-açúcar, coco, matabala, frutas, batata-doce. A principal actividade agrícola na Zona Tampão permanece a produção do cacau que, desde os finais dos anos ‘70 tem baixado de rendimento, devido sobretudo à queda dos preços no mercado internacional e à deterioração das infra-estruturas produtivas. No período de máxima expansão, as plantações ocupavam mais de 50% da superfície da ilha. É de se destacar, também a existência de uma área de palmar em S. Joaquim.

42 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

A alteração da estrutura fundiária, com a diminuição do tamanho e do número das grandes empresas estatais agro-pecuárias e o aparecimento de grande número de médias empresas privadas e pequenas explorações familiares, necessitando de fortes apoios técnicos e financeiros constitui, sem dúvida, a espinha dorsal das mudanças operadas no sistema agrário nacional. A realização dos principais objectivos do Projecto de Privatização Agrícola e Desenvolvimento de Pequenas Propriedades (PPADPP), tais como diversificação e aumento da produção e redução da pobreza sem ameaçar o equilíbrio ambiental tem provocado e continuará a provocar alterações significativas no sistema agrário de São Tomé e Príncipe (PNADD, 1998). Numa análise de escala nacional, executada no âmbito do Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável (PNADD, 1998), foram identificados os impactos maiores, seja positivos, seja negativos, consequentes a reforma fundiária dos anos noventa. Esta análise pode ser resumida como de seguida:

Impactos positivos:

9 Aumento progressivo da produção e da produtividade das culturas alimentares; 9 Aumento do rendimento médio das famílias dos agricultores; 9 Aumento progressivo do número de pessoas que se dedicam à produção pecuária; 9 Diminuição da utilização dos produtos fitossanitários nas parcelas que se dedicam à produção de cacau, café e outras culturas de rendimento para exportação; 9 Activação de cadeias de distribuição dos produtos ao detalhe, com realização de valor acrescentado, com que se sustentam também famílias que não vivem directamente do trabalho nos campos.

De forma geral, no caso do Príncipe, estes impactos foram menos evidentes que para S. Tomé (especialmente o ultimo listado é praticamente nulo).

Impactos negativos:

9 O desbravamento de terras em fase de re-naturalização em floresta secundária. Cerca de 30% das parcelas distribuídas no âmbito do processo encontravam-se no estado de “capoeirização” (Ministério dos Assuntos Económicos, 1995, in PNADD, 1998); 9 Má utilização dos produtos fitossanitários, derivada da falta de formação dos pequenos agricultores, com consequente contaminação do meio ambiente e riscos para a saúde pública pelo não respeito dos intervalos de segurança entre a aplicação dos produtos e a colheita; 9 O abate indiscriminado ou a forte pressão sobre as árvores existentes nas parcelas distribuídas. Após a distribuição das terras, 77,3% dos agricultores inquiridos (PNADD, 1998) pretendiam proceder ao abate de árvores. A justificação para procederem ao abate das árvores tem a ver fundamentalmente com a obtenção de materiais para a construção de habitações (69,7%) e em segundo lugar para a obtenção de rendimentos necessários ao investimento nas suas parcelas (19,7%).

Também no caso dos impactos negativos, em Príncipe, estes foram menos acentuados que em S. Tomé. Isso é devido sobretudo ao relativo menor tamanho do mercado e da procura de madeira num lado, assim como deve-se ao custo mais alto e à menor disponibilidade dos fotoquímicos, no outro. Face a estes dados, parece evidente que a maioria dos impactos positivos da Reforma Fundiária são de carácter socioeconómico, enquanto os impactos negativos são sobretudo de âmbito ambiental. Mais uma vez, os custos sociais do desenvolvimento económico foram, em parte, descarregados a detrimento do património ambiental.

Geralmente, os pequenos agricultores do Príncipe estão organizados em Associações, constituídas pelo conjunto dos beneficiários de terras de uma comunidade ou ex-dependência privatizada. Por sua vez, as Associações reúnem-se em Uniões de Pequenos Agricultores constituídas pelos agricultores de um determinado distrito. As Uniões das Associações constituíram a nível nacional a Federação Nacional dos Pequenos Agricultores (FENAPA). De facto, esta estrutura organizativa é quase exclusivamente no papel. As Associações nasceram sobretudo sob o incentivo de vantagens relacionados com programas de desenvolvimento agrícola externos às comunidades (PAPAFPA, ZATONA-ADIL, etc.), mais que como iniciativas internas de associativismo. Na grande maioria dos casos, uma vez terminados os incentivos específicos, as associações voltam num estado de “letargo” funcional, não desenvolvem algum

43 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE papel no processo de construção do futuro das comunidades, salvo retomar a sua função “utilitarista” no momento que se apresentasse a ocasião de desfrutar novas oportunidades de apoio às actividades produtivas, ou sociais.

Quanto às necessidades de suporte técnico, segundo Muniz & Neto (2008), os produtores locais entrevistados apontaram:

¾ plantação e sombreamento do cacau; ¾ como fazer o desbravamento; ¾ como fazer o tratamento fitossanitário; ¾ como realizar o replantação e o reflorestação; ¾ como preparar o solo para o plantação; ¾ como trabalhar com diversas culturas; ¾ como administrar a propriedade e cada parcela; ¾ como decidir o que plantar; ¾ quais as orientações para obter maior rentabilidade do cultivo; ¾ como fazer viveiros e como obter inovações para introduzir no cultivo; ¾ como processar os produtos.

Algumas destas necessidades de suporte técnico podem parecer extremamente básicas para um profissional da agricultura, ma é preciso sublinhar que a maioria dos pequenos produtores são trabalhadores independentes dos terrenos que cultivam desde somente 8-15 anos. Este limite intrínseco da Reforma Fundiária foi apontado desde o princípio da intervenção pelo Banco Mundial (Joiris & De Laveleye, 1998), mas nenhuma medida específica de atenuação foi tomada.

Em fim, o PDRP (2008) identifica a “questão fundiária” como problemática de origem nacional fundamental “por resolver decorrendo daí grandes hesitações para o investimento privado”.

II.6.4.2 Pecuária

No Príncipe a pecuária é essencialmente praticada pelas pequenas explorações familiares e por algumas médias empresas. Pratica-se a criação de aves, bovinos e pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) em regime extensivo, de suínos em estábulos e regime extensivo.

Os bovinos da “raça local” do arquipélago, são animais rústicos, adaptados aos pastos e às condições de manejo e higiene precárias. Pensa-se que os bovinos a revelar-se mais resistentes às condições ecológicas e de sistema de exploração local sejam aqueles que foram objecto de vários cruzamentos entre as raças importadas durante o período colonial. A produção de galinhas é comum e pode-se encontrar praticamente em todas as propriedades agrárias da ilha.

Também no caso da pecuária os criadores manifestam a necessidade de apoio a diferentes níveis. Segundo o diagnostico de Muniz & Neto (2008), os criadores entrevistados apontaram sobretudo sobre a necessidade de ter suporto em termos de tratamento veterinário/sanitário, sobre o fornecimento de competências técnicas e informações sobre a produção animal, em relação à construção de instalações e a necessidade de orientações sobre a construção de cercas, de estábulos, de pocilgas e de aviários.

No âmbito do Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável (PNADD, 1998), identificaram-se os constrangimentos maiores do sistema produtivo pecuário do País. Este trabalho de diagnóstico foi reavaliado pela missão de planeamento do PNP e pode ser considerado ainda valido, portanto trata-se, nomeadamente:

9 fragilidade do sistema de controlo sanitário, originado pela falta de meios para deslocações das equipas técnicas de inspecção aos postos fronteiriços, aos criadores e aos matadouros; 9 carência de cereais e componentes proteicas para ração; 9 ausência de um sistema de crédito ao sector.

44 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.4.3 Aproveitamentos florestais

Os recursos lenhosos do Príncipe são utilizados fundamentalmente como fonte de energia, para a construção de casas, de mobiliário e, em menor expressão, para o fabrico de utensílios, de peças de artesanato e ainda como postes e estacas. As formações secundárias e das florestas de sombra representam no total nacional cerca de 50.500 ha (50 % do território do País). Uma parte importante destas florestas está incluída nas áreas tampão e, de forma mais reduzidas, também no interior dos parques naturais. Trata-se de zonas que podem e devem efectivamente ter uma gestão florestal e agro-florestal. São estas áreas que devem assegurar o fornecimento dos recursos florestais necessários para as populações e ainda, numa situação de gestão durável, permitir a produção de excedentes que contribuam para a criação de riqueza nacional a médio e longo prazo.

Tabela 20: Área de floresta natural, ou semi-natural, por tipo de formação no Príncipe. Floresta Floresta Total Área primária secundária florestas ha 4.554 3.750 8.304 Fonte: BDPA, 1985; Jones et al., 1990; Interforest, 1990.

Segundo Salgueiro & Carvalho (2002), considerando os inventários florestais nacionais de 1989 e de 1999, foi possível estimar a variação da superfície ocupada pelas diferentes formações. Para a ilha do Príncipe não foi observada qualquer alteração entre os dois períodos. Os resultados referem-se apenas aos recursos lenhosos existentes fora das florestas primárias e dos limites do Parque, por estas formações não terem como vocação (e portanto como objectivos de ordenamento) a produção e a exploração lenhosa. Referem-se portanto apenas aos recursos existentes nas florestas secundárias, nas florestas de sombra e nas zonas agrícolas, representando cerca de 8.300 ha.

Constata-se uma maior importância das florestas de sombra em São Tomé e uma predominância das florestas secundárias no Príncipe resultado de um mais acentuado abandono das plantações, provocado provavelmente pela predominância de solos pouco férteis nesta ilha, acrescido pelo seu isolamento e pela dificuldade no escoamento das suas produções. No entanto a maior diferença situa-se ao nível das superfícies ocupadas com culturas alimentares e com palmares e coqueirais, manifestamente menor no Príncipe, onde a densidade populacional é bastante inferior à de São Tomé.

Sempre segundo Salgueiro & Carvalho (2002), da análise do volume de madeira das espécies comerciais recenseada no âmbito dos dois inventários nacionais, na ilha do Príncipe registar-se- ia um decréscimo bastante acentuado dos seus recursos com uma diminuição de 181.000 m3. No entanto, para os referidos autores, este valor parece demasiado excessivo e põem-se bastantes reservas relativamente à qualidade dos dados obtidos no inventário desta ilha, pois a sua recolha em 1999 não teria decorrido de forma conveniente. Segundo as informações fornecidas localmente, pelos responsáveis do sector e outras pessoas, não haveria nenhuma razão para esta forte diminuição e a única explicação seria de facto a realização do inventário de forma deficiente. A confirmarem-se os resultados obtidos, a situação seria extremamente grave com o desaparecimento de cerca de 40 % do volume total de madeira entre 1989 e 1999 e de mais de 65 % do volume comercial das espécies de valor madeireiro. A conclusão a que chegaram os autores foi de proceder a uma repetição das parcelas de inventário e ao conhecimento da verdadeira situação.

Inerente à produção de madeira comercial, nos inventários florestais, foram medidas as árvores de 106 espécies diferentes. Para o cálculo do volume das espécies com valor comercial foram consideradas as árvores de 10 espécies cotadas no País como produtoras de madeira com maior qualidade, a saber: Amoreira (Milícia excelsa), Cedrela (Cedrela odorata), Jaqueira (Artocarpus integrifolia), Viro branco (Scytopetalum klaineanum), Viro preto (Cleistanthus libericus), Tabaque (Cordia platythyirsa), Marapião (Zanthoxylum gilletii), Azeitona (Manilkara multinervis), Gôgo (Carapa procera) e Acácia (Albizzia falcata = Acacia mollucanna) (Interforest, 1990; Salgueiro & Carvalho 2002). Relativamente à repartição geográfica dos recursos lenhosos, a ilha do Príncipe possui menos recursos por unidade de superfície que a ilha de São Tomé, quer em espécies comerciais, quer no total de madeira.

45 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Quanto ao consumo de lenha para uso doméstico, os autores do Plano Nacional de Desenvolvimento Florestal (Salgueiro & Carvalho, 2002) foram explícitos: “não nos parece que a produção e a utilização de lenha deva constituir um objectivo prioritário da gestão e da intervenção florestal em São Tomé e Príncipe, pelo que não faremos qualquer proposta neste sentido para o quinquénio a que se refere este plano.”

Diversamente, sempre segundo o Salgueiro & Carvalho (2002) o desenvolvimento de actividades de carbonização é uma das situações mais graves de destruição de ecossistemas florestais em curso. Actualmente o fabrico de carvão constitui principalmente um complemento de rendimento de algumas famílias, cuja actividade principal é normalmente a pesca ou a agricultura, mas a procura de carvão para os consumos da cidade é em fase de crescida e é sempre mais comum encontrar, jovens sobretudo, que podem-se definir carvoeiros profissionais.

O abate das árvores para a produção de carvão era feito tradicionalmente de forma selectiva, utilizando apenas as árvores de muandi (Pentaclethra macrophylla) com pequenos diâmetros que facilitavam o abate, o seccionamento e o transporte. Actualmente esta exploração selectiva está a transformar-se numa exploração irracional e desequilibrada. Estima-se em 52 o número de espécies arbóreas utilizadas, a nível nacional, para a produção de lenha como combustível (Oliveira, 2002). As áreas mais exploradas por os carvoeiros na ilha são: Aeroporto, Azeitona, Gaspar, Mato Mutindi, Paciência, Ponta do Sol, Praia Inhame, Santa Rita, Selée, St. Christo. O único centro de consumação na ilha é Santo António, apesar que há uma quantidade de sacos de carvão que viajam via barco para São Tomé com uma certa regularidade. Esta produção parece constituir, na fase actual, a maior ameaça à sustentabilidade de alguns ecossistemas da ilha. Não pelas quantidades de madeira envolvidas na sua fabricação (manifestamente inferiores ao consumo de lenha), mas pelos seguintes factores:

¾ Falta de critérios relacionados com o desfrute sustentável do recurso lenhoso ¾ Fragilidade e raridade dos ecossistemas em que está a ser desenvolvida; ¾ Abate indiscriminado e quase contínuo de manchas de arvoredo; ¾ Concentração da actividade em zonas reduzidas do território; ¾ Número crescente de produtores e pela sua indiferenciação, que torna cada vez mais difícil a fiscalização e o controle da actividade e infrutíferas quaisquer tentativas de melhorar as técnicas utilizadas.

Uma tendência positiva na evolução dos recursos florestais em São Tomé e Príncipe foi introduzida com a produção de cacau biológico, que é muito difícil de ser produzido sem uma sombra eficaz. Estas tendências terão como principais impactos, a nível das formações florestais, uma melhoria qualitativa das florestas de sombra e talvez uma diminuição da superfície ocupada pelas formações secundárias, sem no entanto provocarem grandes alterações quantitativas sobre a distribuição registada em 1999. O aumento do interesse dos agricultores pelas culturas de sombra provocará um aumento das suas capacidades e portanto um interesse no aperfeiçoamento e na profissionalização que cremos será benéfico a todos os níveis, nomeadamente na gestão das árvores e do capital lenhoso. No entanto constatam-se carências importantes ao nível da vulgarização que necessariamente terá que evoluir rapidamente para poder apoiar os produtores devidamente. É o caso nomeadamente do apoio à escolha, à difusão e à plantação das árvores de sombra, que não cessa de aparecer nos objectivos dos diversos programas mas que tem sido conduzido de forma bastante esporádica e extremamente deficitária (Salgueiro & Carvalho, 2002).

Na altura da distribuição da terra pela Reforma Fundiária, uma parte da superfície da ilha do Príncipe, foi classificada como floresta e passou sob gestão da Direcção de Florestas. Tratava-se normalmente de terrenos marginais, bastante encapoeirados, em que a actividade agrícola terá sido abandonada há vários anos. Na ilha de S. Tomé, infelizmente, nos quinze anos e mais que transcorreram do principio da Reforma Fundiária, houve um importante ocupação e destruição de zonas de floresta secundária não distribuídas (portanto sob gestão da DF) para o aproveitamento dos recursos madeireiros e/ou para a instalação de culturas agrícolas alimentares. Este tipo de invasão está a ser cada ano mais comum também no Príncipe, onde nalgumas áreas (ex. floresta de Azeitona e outras áreas do interior da ilha), em períodos recentes, está a atingir níveis preocupantes (A. Rita, pers. comm.). É necessário que a DF fiscalize estas situações, não tendo neste momento qualquer actuação nesse sentido.

46 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

No Príncipe, quanto ao controle pela DF no interior do PNP e sua Zona Tampão, a situação não é crítica como em S. Tomé. Embora os meios de que dispõe a DF sejam comummente reduzidos, para ambas as ilhas (na Região Autónoma do Príncipe existe um responsável do sector florestal e 1 auxiliar), felizmente, os níveis das pressões direccionadas ao território do Parque no Príncipe são consistentemente inferiores. De momento, as infracções são concentradas nalgumas áreas relativamente limitadas.

II.6.5 Caça

No âmbito das visitas no terreno relacionadas com a missão de planeamento, os autores observaram dois jovens voltar de um caminho florestal com espingarda e um macaco abatido, resultado de algumas horas de caça. Por além destas observações ocasionais, não há para o território do Príncipe algum estudo, ou documento de referência, que possa complementar de forma mais ampla as informações recolhidas através da Consulta Publica.

A caça e captura da fauna florestal constituem uma parte importante da vivência das comunidades rurais na ilha do Príncipe. Os seus objectivos fundamentais são o de complementar a alimentação dos caçadores e familiares e, de forma muito menor, o de comercializar os animais para obter um pequeno redito. No Príncipe, é possível supor uma situação, um pouco diferente da descrita para S. Tomé por Carvalho (2008), que constata que, por além do consumo de subsistência de animais selvagens nas áreas rurais, há também uma procura nas cidades por parte de “indivíduos de classes económicas mais elevadas e com suficiente poder de compra”. É verosímil que a maioria da carne de animais selvagens caçados no Príncipe, seja consumida pelos caçadores e os seus conjuntos. É também verdade que os residentes inqueridos sobre o assunto, afirmaram que não é difícil encontrar no mercado de Santo António a carne de animais selvagens, sobretudo de macaco e de tartaruga. Estas carnes não são consideradas primícias, sendo (perigosamente) entre as mais económicas.

As espécies mais caçadas são mamíferos introduzidos como o macaco (Cercopithecus mona) e a lagaia (Civettictis civetta) que devido ao seu hábito de animal solitário é mais difícil de capturar. Raramente os caçadores abatem porcos do mato (Sus scrofa domesticus). Pareceu rara também a caça de mamíferos nativos como o morcego frugivoro Eidolon helvum. Menos preocupante que em S. Tomé é a caça de aves para a alimentação. Provavelmente isso é devido à ausência de espécies de maiores dimensões, mais interessantes para orientar o esforço de caça.

Os autores concordam com Carvalho (2008) quando constata que os mamíferos introduzidos têm um importante valor nutritivo e económico para as populações, e a sua caça tem igualmente um efeito de controlo que beneficia as espécies endémicas, o que releva a importância de gerir as populações destes animais de forma sustentável.

A colecta do “búzio de terra” é mais uma forma de exploração de recursos “proteicos” selvagens pela população local. Tradicionalmente a espécie explorada é Archachatina bicarinata, que é endémica do País. Como que as populações deste molusco são sempre mais em diminuição, possivelmente devido à sua exploração crescente, recentemente esta colecta virou-se para outras espécies introduzidas nos últimos 20-30 anos, nomeadamente A. marginata (“búzio do mato”) que provavelmente são também competidores ecológicos de A. bicarinata. Actualmente o “búzio-do-mato” é sem dúvida o alimento fonte de proteínas mais consumido nas comunidades de S. Tomé. No Príncipe a situação é provavelmente aparecida. Comum é a presença nas ruas de Santo António de senhoras e menores que vendem pequenas espetadas de búzio. Preocupa que, somente em 1994, Juste notava que A. marginata ainda não tinha sido introduzida na ilha e que “capturas de mais de 200 animais (n.d.a.: de A. bicarinata) num só dia” eram ainda frequentes. Baseando-se nas informações recebidas pelos residentes no âmbito da Consulta Publica de 2008, hoje é bem mais difícil capturar indivíduos de A. bicarinata e a sua distribuição parece muito mais limitada ao território do PNP.

47 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.6 Pesca

Segundo o PNADD-Regional (1998), as potencialidades da Região Autónoma do Príncipe, em termos de recursos haliêuticos, é de 9000t (7000t pelágicos e 2000t demersais). É de salientar que o potencial nacional é de 12000t, portanto Príncipe possui 75% dos recursos nacionais.

Por causa da falta de meios técnicos e infra-estruturas pratica-se somente a pesca artesanal, à linha e/ou à rede, em pequenas embarcações movidas à remo e ou velas e à motor fora de bordo de fraca potência. Em 1996 existiam no Príncipe 104 embarcações, pertencendo a sua maioria aos próprios pescadores, sendo 62 movidas a remo e 42 a motor fora-de-bordo. Por causa do tipo de embarcação utilizado, o pescado é capturado junto à costa insular e as espécies mais frequentes são o bonito, o pargo, o cherne e o badejo.

Em 1998, no âmbito do PNADD-Regional, estimava-se que esta actividade económica empregava aproximadamente 120 pessoas (5 % da população activa empregada no sector primário). Em 2008, no âmbito do PDRP, estima-se que o número de pescadores seja na ordem dos 400 (cerca de 15% da população activa empregada no sector primário). A razão principal deste aumento deve provavelmente encontrar-se no enfraquecimento da estrutura do sistema produtivo agrícola baseado nos assalariados. De qualquer forma é um dado de estremo interesse que merece ser avaliado e interpretado pelas Autoridades locais.

Considerando a riqueza das águas do Príncipe em termos potenciais de pescado e o actual nível de aproveitamento deste recurso (poço mais que algumas dezenas de pescadores artesanais), estas águas têm ainda um grande potencial a ser desfrutado. Politicas sectoriais de desenvolvimento seriam potencialmente muito positivas para o desenvolvimento da economia da ilha. O papel do PNP neste sentido seria o de proteger o território marinho incluído no interior do Parque das actividades de pesca. A instituição, através do PNP, dum território marinho onde a reprodução de um número importante de espécies pescadas seja assegurada sem distúrbio, voltara-se imediatamente como vantagem para os mesmos pescadores, por além de representar a garantia da sustentabilidade das suas actividades e dos seus reditos.

II.6.7 Outras actividades produtivas

Citando o PDRP (2008): “Poucas actividades de tipo industrial há, e as que existem estão concentradas sobretudo no sector da construção civil e madeiras e também na produção de bebidas. Mas não se trata de verdadeiras empresas em regra. A Câmara de Comércio, Agricultura, Indústria e Serviços identifica cerca de 70 empresas para todos os sectores mas só reconhece, como empresários, apenas uma dúzia. O sector comercial tem dinâmica mas não está também estruturado.”

Em 1998, o PNADD-Regional identificava o parque industrial do Príncipe como composto pelos seguintes ramos: industria alimentar (produção de refrigerantes e panificação), transformação da madeira, sector energético e por alguma produção artesanal de móveis e bebidas. De facto, nos últimos dez anos, não houve na ilha variações maiores no âmbito dos sistemas produtivos secundário e terciário.

Existem várias quitandas localizadas principalmente na cidade de S. António e arredores que praticam o comércio informal relacionado com a venda de produtos alimentares e bebidas também adquiridos na cidade de S. Tomé. A maior parte das trocas comerciais é feita durante todo o ano, com a ilha de S. Tomé, que abastece a maior parte do mercado regional em termos de alimentos, vestuário, equipamentos agrícolas, etc., todos importados do exterior, e é também para lá que se dirige a maior parte da produção da Região (peixe seco, banana, limão, copra e cacau).

48 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.8 Turismo

Em São Tomé e Príncipe, os representantes do Estado têm, oficialmente e desde 2000, manifestado preocupação com a preservação ambiental, entendendo-se a promoção do turismo ecológico como medida estratégica complementar (Brito, 2004). As principais potencialidades turísticas do arquipélago são inerentes aos recursos naturais e paisagísticos, tais como o clima, a natureza e a biodiversidade. O turismo ecológico que tem como objectivos principais a preservação ambiental e a valorização cultural, é de recente constituição em STP e caracteriza-se por acções pontuais, enquadradas em micro projectos, ou prosseguidas no âmbito de programas sectoriais. Neste quadro, o território do PNP é o alvo central para implementar, a nível nacional (Brito, 2004): ¾ a promoção turística dos recursos ambientais, para atingir… ¾ a melhoria das condições de vida das comunidades locais, com incentivo para a mudança dos hábitos e das praticas, a partir de programas alargados de educação geral e de formação especifica e temática direccionados às populações.

Parece evidente que os pontos focais onde concentrar o turismo, na ilha do Príncipe, devem ser natureza, beleza e riqueza biológica, sociocultural, histórica (até de arqueologia industrial) e de investigação científica.

Os autores portanto concordam plenamente com o PDRP (2008) em sublinhar que a estratégia básica a desenvolver seria claramente “a conservação do status quo físico da ilha” e que à volta disso, deveriam ser construídas e implementadas todas as políticas e as acções com alvo no desenvolvimento do turismo avaliadas como compatíveis com tal conservação “física” da ilha. No Príncipe, também as praias apresentam grandes potencialidades turísticas pela sua qualidade de águas e de paisagem destacando-se as Praias, das Burras, Banana, Magarida e Boi, assim como o ilhéu Bombom.

O sector do turismo da Região Autónoma do Príncipe ainda é embrionário, existindo apenas cinco unidades hoteleiras, que empregam cerca de 60 pessoas e têm uma capacidade instalada de 53 quartos assim distribuídos:

Bom Bom Island Resort - complexo turístico de luxo gerido por capitais estrangeiros (Africa’s Eden), situado no ilhéu Bom Bom e na parte norte da ilha do Príncipe. O resort possui 25 quartos/bungalows, restaurante-bar, piscina e algumas outras instalações. A principal atracção deste complexo é a prática de pesca à linha e submarina. Pensão Residencial Palhota - de nível médio, localizada no centro da cidade de S. António, é constituída por 13 quartos climatizados com casa de banho privativa e TV. Pensões Arca de Noé e Romar - de nível básico, que empregam 12 pessoas e têm no total quinze quartos ventilados sem casas de banho privativa. uma pequena actividade de hospedagem, com dois quartos, junto à localidade de Iola (Casa do João), também gerida por um empresário estrangeiro.

Por além destas actividades em função, futuramente começarão funcionar mais duas estruturas de recepção turística, nomeadamente: Praia Macaco, na costa norte da ilha; “Maria Correia", localizado na parte Sudoeste da Ilha confrontando-se com a zona do Parque, actividade de carácter agro-turístico.

A região não tem uma rede de restaurantes. Existem dois, um encontra-se instalado no Complexo Turístico Bom Bom Island Resort e o outro na cidade de S. António, mas infelizmente encontra-se inoperante, o Restaurante Bar Passô. Há algumas casas de pasto, entre estas a mais frequentada e activa é a da Pensão Romar.

Os autores não conseguiram obter dados de afluência específica de turistas no Príncipe. O número de turistas que entraram no País anualmente entre 2001 e 2006 estão resumidos na tabela 21. Deve-se considerar que para a forma de recolha das presenças turísticas, os dados apresentados na tabela 20 representam provavelmente uma ligeira sobre-estimação dos fluxos turísticos reais (Danilo Barbero, pers. comm.).

49 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Infelizmente, só uma pequena parte de turistas que chegam em S. Tomé vai visitar também a ilha do Príncipe. A causa disso é sobretudo que os voos de ligação inter-ilhas estão disponíveis somente duas, ou três vezes por semana, possuem uma carrega de passageiros limitada e devem ser reservados de forma antecipada, geralmente de algumas semanas. A complicar a situação contribuem também outros factores como por exemplo a falta de serviços turísticos “avançados” a preços acessíveis para a maioria dos turistas. Por isso, só uma parte dos 12.000 turistas (provavelmente inferior a 10%) que anualmente chegam no País se torna em incremento do recurso económico para a Região Autónoma de Príncipe.

Tabela 21: Entrada de estrangeiros nas fronteiras, segundo o País de Nacionalidade, 2001-2006

País de Nacionalidade 2001 2002 2003 2004 2005 2006

África de Sul - - 120 104 182 192 Alemanha 146 1.003 189 119 433 467 Angola 667 651 938 683 873 999 Bélgica - 121 102 116 190 114 Brasil - - 269 298 155 248 Cabo Verde 224 189 233 242 442 432 Camarões - 150 136 145 845 220 Espanha 153 297 367 386 510 395 E.U.A. 1.239 251 369 412 327 277 França 1.106 1.066 1.058 1.132 1.578 1.186 Gabão 223 396 300 315 495 351 Guiné Equatorial 146 140 143 126 106 89 Itália - 142 117 105 112 99 Inglaterra 160 170 235 104 180 169 Nigéria 270 412 680 461 787 468 Portugal 2.673 2.630 4.674 4.841 7.028 5.138 Outros 453 1.571 109 987 1.503 1.422 TOTAL 7.460 9.189 10.039 10.576 15.746 12.266 Fonte: Direcção do Turismo e Hotelaria.

Infelizmente, não há dados fiáveis de afluência de turistas ao PNP.

No âmbito da Consulta Pública, foram recolhidos dados para individuar as potencialidades em termos de turismo “ecológico” ou “rural” dos sítios visitados.

Embora a avaliação de ECOFAC de 2003, aconselhou de parar no âmbito do mesmo projecto todas as actividades de promoção turística e de desenvolvimento das infra-estruturas turísticas, a ideia de base, aqui apresentada, é que em futuro alguns destes sítios, ou comunidades, poderiam ser lugares idóneos ao desenvolvimento de actividades de ecoturismo em base comunitária.

A Tabela 22 apresenta a avaliação, num ranking de 0 a 3 (3 valor mais positivo), para cada um dos seguintes parâmetros:

¾ atracções turísticas especificas no sitio; ¾ possibilidade de excursionismo; ¾ possibilidade de turismo balnear; ¾ possibilidade de birdwatching; ¾ vontade exprimida pela população de hospedar actividades turísticas; ¾ organização da comunidade em associações activas; ¾ qualidade da ligação com a capital do Distrito; ¾ disponibilidade de corrente eléctrica; ¾ disponibilidade de água para uso domestico; ¾ distância de outras actividades de eco-turismo ou turismo.

50 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

A cada parâmetro escolhido, foi atribuído um peso específico próprio (entre 1 e 5). Da somatória dos valores dos parâmetros para cada sítio, obteve-se um “Índice de aptidão ecoturística” (IAT) com visão numa ligação forte com a realidade comunitária. Os critérios foram avaliados por especialistas, pelos autores e nalguns caso avaliados com base nas informações fornecidas pelas comunidades. Na tabela são apresentados também os resultados conseguidos no âmbito da mesma avaliação executada para as comunidades da Zona Tampão do PNOST em S. Tomé.

Optou-se por adicionar estes dados, para dar uma ideia do potencial IAT de cada sítio do Príncipe também em âmbito nacional. (nota: para ter a possibilidade de pleno confronto entre os sítios das duas ilhas seria necessário de adicionar também um critério para a avaliação dos fluxos turísticos em cada ilha – fluxo claramente mais reduzido no Príncipe.)

Tabela 22: Valor IAT para as aldeias da Zona Tampão dos parques naturais da RDSTP. Em azul claro as comunidades da Zona Tampão do PNP. Comunidade Distrito IAT São Joaquim Príncipe 81 Morro Peixe Lobata 71 Monte Café Mé-Zochi 71 Bom Sucesso Mé-Zochi 68 Terreiro Velho Príncipe 65 Porto Real Príncipe 63 Malanza Caué 55 Nova Moca Mé-Zochi 54 Generosa Lembá 53 Roça de Praia das Conchas Lobata 52 Novo Destino Mé-Zochi 51 Água das Belas Mé-Zochi 50 São José Mé-Zochi 49 Claudino Faro Cantagalo 49 Terra Batata Mé-Zochi 47 Santa Catarina Lembá 46 Ponta Figo Lembá 46 Porto Alegre Caué 45 Mulundo Lembá 45 São Carlos Mé-Zochi 45 Santa Jeni Lembá 44 Plancas I Lobata 44 Plancas II Lobata 44 Santa Clotilde Caué 43 Bemposta Mé-Zochi 43 Ribeira Peixe Caué 42 Ponta Furada Lembá 42 Bela Vista Príncipe 39 Dona Augusta Caué 38 Bombaim Mé-Zochi 36 Roça Nova Mé-Zochi 35 Pouso Alto Lobata 30

A Tabela 22 mostra como, segundo esta forma de avaliação, o sítio com a maior aptidão ecoturística entre as quatro comunidades da Zona Tampão é o de S. Joaquim. Sendo a comunidade localizada num lugar que é o início de eleição para as excursões nas áreas mais fascinantes do PNP e ao mesmo tempo a única comunidade da ilha que expressou a ideia de aproveitar o turismo como recurso para a melhoria das suas condições de vida.

51 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.9 Projecto de Zona Franca na Baia das Agulhas

Paira ainda na sociedade do Príncipe um forte desconhecimento, e desconfiança, relativamente ao Projecto de Zona Franca na Baía das Agulhas. Uma leitura é proporcionada pela proposta do Plano de Desenvolvimento Regional recentemente apresentada:

Embora a imagem possa parecer exagerada, é de facto em potência muito real, já que tudo aponta para a vulnerabilidade da ilha; a forma desarticulada do Estado e do Governo Regional ao legislar em nada ajuda. Por exemplo, no mesmo ano – 1998 – em que o Estado se tornou signatário do Convénio do Rio-92 sobre a biodiversidade/CBD, promulga um antigo Decreto-Lei - - 61/95 -- onde é identificada a Baía das Agulhas no Príncipe como uma das novas zonas francas nacionais, e no mesmo ano, é aprovado o concessionamento desta Baía para a criação dessa mesma zona franca.

O Memorando de Entendimento do Convénio entre a West Áfrican Development Corporation (Pty.) Ltd. (WADCO) e o GRAP para a concessão da Baía das Agulhas da Zona Franca no Príncipe (assinado em Maio de 1997 pelas partes), foi deliberado e aprovado, em 1998, pela Assembleia Nacional. Com a sua aprovação, a posse de grande parte dos terrenos e das instalações das antigas Empresas Estatais de Azeitona e Sundy – um terço (45 km2) da superfície total dos 140 km2 da ilha – passa à WADCO durante 50 anos, ou seja, efectivamente duas gerações. Em nenhum documento disponível sobre o negociado com a WADCO aparece um montante global estimado do investimento pela mesma.

É difícil imaginar como a extensa biodiversidade da ilha no respeito pelo CBD poderá sobreviver se esta área (que ocupa também uma extensão significativa do Parque Natural do Obô do Príncipe/PNP), se tornar numa área de cimento além de experimentação agrícola, conforme está planificado; em ambos os casos é preciso o abate extenso de árvores e portanto a destruição de uma biodiversidade mundialmente reconhecida como excepcional. Igualmente, a mudança climática subsequente pode ter, numa ilha tão pequena, efeitos directos e indirectos de curto, médio e longo prazo não negligenciáveis. Portanto, as perspectivas e promessas económicas e sociais contidas neste tipo de proposta ficam sem interesse real para os principenses, e apenas, talvez, para alguns beneficiários directos.

Mais do que os efeitos negativos temidos pelas populações e pela actual conjuntura sócio- política, aponta-se em sede deste Plano de Manejo a ausência de planeamento e compatibilização de objectivos na proposta da Zona Franca da Baía das Agulhas que se crê já sem viabilidade.

Os objectivos gerais daquele projecto, dotar o Príncipe de atractividade turística, capacidade de alojamento e valências turísticas poderá, com sucesso, atingir-se pela definição e exploração de Áreas de Aptidão Turística devidamente integradas com os propósitos de classificação global da Ilha como Área Protegida, e integrando no seu planeamento os mecanismos necessários para o envolvimento do tecido social, económico, cultural e ambiental da população da Região Autónoma.

O modelo proposto para a referida Zona Franca, que não lograria qualquer sucesso numa Avaliação do Impacto Ambiental minimamente estruturada, revela-se, na actualidade, inviável e incompatível com os compromissos políticos Regionais, Nacionais e Internacionais da república Democrática de S. Tomé e Príncipe.

52 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.6.10 Outros Programas desenvolvidos na Região no passado recente

Dentre as acções empreendidas nos últimos quinze anos, com o apoio dos parceiros internacionais e com objectivo o desenvolvimento socioeconómico da população residente na área considerada, destacam-se: Conservação e Utilização Racional dos Ecossistemas Florestais d’África Central (ECOFAC), financiado pela União Europeia. 1992. Como referido, é no âmbito deste projecto que se enquadra a preparação deste documento. Plano de Desenvolvimento Regional, por parceria entre o Governo Regional do Príncipe e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/UNDP, 2008 Projecto de Assessoria da Política Agrária e Florestal (APOFA-GTZ), financiado pelo Estado Alemão. Plano Nacional do Ambiente para o Desenvolvimento Durável (PNADD, 1998), financiado pelo PNUD. 1998. Programa Nacional de Apoio e Promoção da Agricultura Familiar (PNAPAF), financiado pelo FIDA. 1995. Projecto de Luta Contra Pobreza pelo Desenvolvimento Rural, financiado pelo PNUD. 1993. Projecto De Privatização Agrícola E Desenvolvimento Da Pequena Propriedade (PPADPP), financiado pelo Banco Mundial. 1992.

II.6.11 Síntese dos resultados do diagnóstico participativo nas comunidades

Como referido, um dos objectivos cruciais do trabalho de Consulta Pública foi o de “ter indicações sobre as relações de uso da comunidade com o território do Parque” (Albuquerque & Cesarini, 2008). Portanto, foram recolhidas informações inerentes os usos dos recursos naturais mais comuns no território (Erreur ! Source du renvoi introuvable.23).

Nas tabelas desta secção os autores deliberadamente escolheram apresentar também dados inerentes ao total das comunidades das Zonas Tampão dos parques naturais da RDSTP. A escolha foi motivada pela vontade de comparar a nível nacional os dados das comunidades do Príncipe e entender de forma mais rigorosa a sua especificidade no contexto nacional.

Tabela 23: Percentagem (%) de reuniões em que cada tipologia de aproveitamento dos territórios dos Parques Naturais foi assinalada. PNP - % de comunidades da Zona Tampão do Parque Natural do Príncipe STP – % no total das comunidades das zonas tampão dos dois Parques Naturais Tipologia de aproveitamento PNP STP Corte de madeira para construção 100 63,2 Caça de macacos, porcos de mato e aves 50,0 73,7 Corte de madeira para queima de carvão 50,0 26,3 Caça de tartarugas 50,0 26,3 Pesca costeira 50,0 26,3 Recolha de materiais vegetais para a preparação de medicamentos 0,0 26,3 Extracção de vinho de palma 0,0 10,5 Corte de madeira para realizar tutores para plantas de cultivos 0,0 10,5 Extracção de areia 0,0 10,5 Turismo relacionado com a observação de atracões do património natural 0,0 10,5 Extracção de búzio 0,0 5,3 Extracção de coral 0,0 5,3 Pesca nos rios 0,0 5,3

Foram individualizadas a nível local 20 problemáticas ambientais, ou socioeconómicas, ou ambas (44 a nível nacional). As problemáticas foram agrupadas por sua vez em seis “macro- problemas” de referência (Tabelas 24 e 25 e Tabela 26). Fichas específicas para cada encontro com as informações sobre os participantes, as características das comunidades envolvidas e as indicações saídas da discussão, são apresentadas no Anexo XII.

53 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Tabela 24: Percentagem (%) de reuniões em que cada problemática ambiental e suas causas foram assinaladas. STP – % no total das comunidades das zonas tampão dos dois Parques Naturais PNP - % de comunidades da Zona Tampão do Parque Natural do Príncipe Âmbito das problemáticas ambientais Problemáticas PNP STP Macro-problema A: 50,0 84,2 Diminuição dos recursos naturais explorados Diminuição das madeiras utilizadas para construção 25,0 63,1 Diminuição do produto da caça 0,0 36,8 Diminuição das madeiras utilizadas para carvão 25,0 21,1 Diminuição/caça das tartarugas 25,0 10,5 Diminuição do produto da pesca 0,0 10,5 Baixo rendimento das palmeiras 0,0 10,5 Danos ambientais provocados pelos incêndios 0,0 5,3 Diminuição da areia para construção 0,0 5,3 Erosão do solo devido a má utilização da terra 0,0 5,3 Macro-problema B: 100,0 57,9 Degradação das condições gerais da aldeia Má qualidade da água 50,0 42,1 Más condições higiénicas do assentamento 75,0 31,6 Mau saneamento do meio devido ao lixo 25,0 10,5 Degradação das habitações 50,0 10,5 Acesso limitado à energia 50,0 10,5 Mau saneamento do meio devido aos animais criados soltos 25,0 10,5 Dificuldade no conseguir areia para construção 0,0 5,3

Tabela 25: Percentagem (%) de reuniões em que cada problemática socioeconómica e suas causas foram assinaladas. STP – % no total das comunidades das zonas tampão dos dois Parques Naturais PNP - % de comunidades da Zona Tampão do Parque Natural do Príncipe Âmbito das problemáticas socioeconómicas Problemáticas/Causas PNP STP Macro-problema C: 100,0 100,0 Baixo rendimento dos cultivos Roubo de animais e produtos agrícolas 50,0 73,7 Fraco conhecimento agro-técnico 0,0 36,8 Danificação da produção por animais criados soltos 50,0 31,6 Má utilização da terra distribuída pela Reforma Fundiária 75,0 26,3 Aumento das pragas nas culturas 0,0 21,1 Água para a irrigação insuficiente para as potencialidades produtivas do sítio 0,0 21,1 Produtos pouco rentáveis e/ou dificuldade na transformação das produções 25,0 21,1 agrícolas em produtos mais rentáveis no mercado Escassez de ferramentas agrícolas no mercado 25,0 15,8 Danificação da produção por animais selvagens 25,0 15,8 Destruição parcial da produção devido ao mau tempo 0,0 10,5 Saturação do mercado agrícola 25,0 10,5 Moradores sem parcela de terra 0,0 5,3 Escassez de produtos fitossanitários no mercado 0,0 5,3 Escassez de sementes no mercado 0,0 5,3 Enfraquecimento do terreno 0,0 5,3 Abandono da produção do café 0,0 5,3 Diminuição das árvores de fruta 0,0 5,3 Difícil acesso ao crédito agrícola 0,0 5,3 Incerteza no direito da posse da terra 0,0 5,3 Dificuldade de conservação dos produtos 0,0 5,3 Macro-problema D: 0,0 10,5 Baixo rendimento das outras actividades produtivas tradicionais Escassez de materiais de pesca no mercado 0,0 10,5 Macro-problema E: 50,0 68,4 Dificuldade de comercialização dos produtos agrícolas

54 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Âmbito das problemáticas socioeconómicas Problemáticas/Causas PNP STP Dificuldade no escoar a produção agrícola 25,0 42,1 Via de acesso em mau estado 25,0 26,3 Transporto dos produtos inadequado para as necessidades 0,0 5,3 Incapacidade de ter acesso aos mercados potenciais que ampliariam a procura 0,0 5,3 dos produtos locais (sobretudo café) Macro-problema F: 50,0 21,1 Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura O turismo tem carácter estaçoal (reformulação de: Dificilmente os turistas 0,0 5,3 chegam em Morro Peixe fora da época de desova das tartarugas) Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento 25,0 15,8 relacionadas com turismo Poucas diferentes fontes de rendimento alternativas à agricultura 25,0 5,3 Tabela 26: Percentagem (%) de reuniões em que cada problemática e suas causas foram escolhidas como as mais prioritárias para a comunidade e consequentemente debatidas publicamente. Âmbito das problemáticas ambientais Problemáticas PNP STP Macro-problema A: 25,0 47,4 Diminuição dos recursos naturais explorados Diminuição das madeiras utilizadas para construção 25,0 36,8 Diminuição das madeiras utilizadas para carvão 25,0 15,8 Diminuição/caça das tartarugas 25,0 10,5 Danos ambientais provocados pelos incêndios 0,0 5,3 Baixo rendimento das palmeiras 0,0 5,3 Macro-problema B: 75,0 42,1 Degradação das condições gerais da aldeia Má qualidade da água 25,0 31,6 Más condições higiénicas do assentamento 50,0 10,5 Mau saneamento do meio devido ao lixo 0,0 5,3 Mau saneamento devido aos animais criados soltos 25,0 5,3 Âmbito das problemáticas socioeconómicas Problemáticas/Causas PNP STP Macro-problema C: 50,0 63,2 Baixo rendimento dos cultivos Roubo de animais e produtos agrícolas 25,0 26,3 Água para a irrigação insuficiente para as potencialidades produtivas 0,0 15,8 do sítio Fraco conhecimento agro-técnico 0,0 10,5 Dificuldade na transformação das produções agrícolas em produtos 25,0 10,5 mais rentáveis no mercado Danificação da produção por animais criados soltos 25,0 10,5 Má utilização da terra distribuída pela Reforma Fundiária 0,0 5,3 Difícil acesso ao crédito agrícola 0,0 5,3 Incerteza no direito da posse da terra 0,0 5,3 Moradores sem parcela de terra 0,0 5,3 Escassez de sementes no mercado 0,0 5,3 Macro-problema E: 0,0 26,3 Dificuldade de comercialização dos produtos agrícolas Dificuldade no escoar a produção agrícola 0,0 15,8 Via de acesso em mau estado 0,0 10,5 Transporto dos produtos inadequado para as necessidades 0,0 5,3 Incapacidade de ter acesso aos mercados potenciais que ampliariam a 0,0 5,3 procura dos produtos locais (sobretudo café) Macro-problema F: 50,0 21,1 Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento 25,0 15,8 relacionadas com turismo O turismo tem carácter sazonal (reformulação de: Dificilmente os turistas 0,0 5,3 chegam em Morro Peixe fora da época de desova das tartarugas) Desconhecimento das línguas estrangeiras 0,0 5,3 Poucas diferentes fontes de rendimento 25,0 5,3

55 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Segundo a lógica metodológica comum, as indicações-chave surgidas dos encontros de Consulta Publica foram avaliadas e utilizadas no âmbito da definição dos objectivos de gestão indicados neste Plano de Manejo e das acções de gestão apresentadas no Plano de Gestão do PNP para 2009.

Apesar disso, algumas considerações gerais para definir o contexto do PNP podem ser resumidas na forma seguinte: De forma geral, a menor percepção de perda dos recursos naturais em comparação com as comunidades da Zona Tampão do PNOST, é provavelmente motivada para um efectivo menor aproveitamento destes recursos; De forma geral, em Príncipe há maior percepção da degradação das condições das aldeias que em S. Tomé. Também neste caso é possível que esta tendência seja bem motivada pelas condições de maior degrado dalgumas infra-estruturas das aldeias do Príncipe. Em campo socio-económico o problema mais percebido é o da Má utilização da terra distribuída pela Reforma Fundiária. 75% das comunidades lamentam este fenómeno. Os outros problemas mormente percebidos em campo agronómico resultam: Roubo de animais e produtos agrícolas e Danificação da produção por animais criados soltos com dois comunidades que apontara-los. Os dois macro-problemas percebidos comummente pelas comunidades são a Degradação das condições gerais da aldeia e Baixo rendimento dos cultivos (ambos manifestados por 100% das comunidades).

II.6.12 Síntese dos resultados do diagnóstico participativo com os funcionários da Administração Regional

A ficha específica do encontro com os funcionários das Administrações do Príncipe, que inclui informações sobre os participantes, as características da Região Autónoma e as indicações saídas da discussão, são apresentadas no Anexo XI. Na Tabela 27, apresentam-se os dados de síntese da Consulta Publica nos Distritos a nível nacional (incluindo a Região Autónoma do Príncipe).

Tabela 27: Percentagem (%) de reuniões em que cada problemática e suas causas foram assinaladas e indicação das autarquias onde estas foram identificadas. Âmbito ambiental

Problemas maiores individualizados Caué Lembá Lobata Mé-Zochi Príncipe Total (%) Perda de biodiversidade 100 Erosão do solo 80 Má qualidade da água potável 60 Mudança climática 60 Redução da qualidade do solo 40 Diminuição da qualidade das florestas 20 Diminuição de recursos hídricos 20 Fragmentação do habitat 20 Perda de equilíbrio da cadeia biológica 20 Poluição 20 Redução do pescado 20 Âmbito socioeconómico (com influencia no âmbito ambiental)

Problemas maiores individualizados Caué Lembá Lobata Mé-Zochi Príncipe Total (%)

Baixos rendimentos familiares 100 Baixo rendimento dos cultivos 40 Baixa produção agrícola 20 Baixo salário dos funcionários do estado 20 Poucas oportunidades alternativas de 20 rendimento

56 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Âmbito ambiental

Causas individualizadas Caué Lembá Lobata Mé-Zochi Príncipe Total (%)

Abate ilegal de árvores para a extracção de 100 madeira de construção Caça de espécies ameaçadas e protegidas 80 Utilização descontrolada de lenha para 80 produção de carvão Incêndios florestais 60 Aproveitamento irracional do recurso 40 madeira Caça em áreas onde não é permitida 40 Extracção de areia 40 Técnicas de pesca destrutiva (granadas) 40 Uso incorrecto de pesticidas 40 Abate de árvores ilegal devido ao aproveitamento não conforme às 20 autorizações Apanha de tartarugas e seus ovos 20 Comércio ilegal de espécies protegidas 20 Desconhecimento dos recursos em termos de 20 biodiversidade Destruição das colónias de abelhas 20 Envolvimento dos funcionários na corrupção 20 Espécies animais que danificam os cultivos 20 Espécies invasoras 20 Extracção de areia vulcânica 20 Extracção de ilegal de coral 20 Extracção de pedra 20 Insuficiente deslocação no terreno pelos 20 funcionários locais Morte das palmeiras devido a má técnica de 20 exploração Os decisores têm envolvimento no abate 20 ilegal de árvores Perda de fertilidade do solo 20 Pratica inadequada de extracção de cascas 20 da madeira Uso incorrecto das praias 20 Âmbito socioeconómico (com influência no âmbito ambiental)

Causas individualizadas Caué Lembá Lobata Mé-Zochi Príncipe Total (%)

A população não sabe como aproveitar o 20 turismo como fonte de rendimento Abandono da terra 20 Dificuldade de comercialização dos 20 produtos agrícolas Fraco conhecimento agro-técnico 20 Captação e canalizações incompletas 20 O turismo rural não está desenvolvido 20 Os agricultores não têm acesso ao crédito 20 agrícola Queima de resíduos hospitalares 20 Subaproveitamento das actividades turísticas 20

57 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Segundo a lógica metodológica comum, as indicações chave surgidas do encontro de Consulta Publica foram avaliadas e utilizadas no âmbito da definição dos objectivos de gestão indicados neste Plano e das acções de gestão apresentadas no Plano de Gestão do PNP complementar a este documento.

Apesar disso, algumas considerações gerais efectuadas pelo contexto nacional (Albuquerque et al., 2009) resultam validas também para o Príncipe: A perda de biodiversidade entre os problemas ambientais e os baixos rendimentos familiares para os problemas socioeconómicos, são os dois elementos de referência também para Príncipe. A confirma dos resultados do diagnóstico comunitário, também no caso da administração Local, o abate ilegal de árvores para a extracção de madeira de construção foi apontado como uma das maiores causas de problemas ambientais no território. No caso do Príncipe o dado agrava-se porque lamente-se também a ocorrência no território de utilização descontrolada de lenha para produção de carvão. Embora para Príncipe os processos de degradação da floresta são muitos mais lentos que em S. Tomé. Registando uma sincronia com o diagnostico nas comunidades, a caça de espécies ameaçadas e protegidas e caça em áreas onde não é permitida foram indicadas como problemáticas ambientais relevantes. Problemáticas específicas para o contexto local, evidenciadas no encontro do Príncipe, foram: a nível socioeconómico a Diminuição da qualidade das florestas o Baixo salário dos funcionários do estado (!) e as Poucas oportunidades de formas alternativas de rendimento; a nível ambiental o Comércio ilegal de espécies protegidas, Espécies animais que danificam os cultivos e Espécies invasoras.

Confrontando os dados apresentados com este diagnóstico para 2008, com os dados apresentados pelo PNADD-Regional de 1998, é triste constatar que após de 10 anos, as problemáticas/constrangimentos ambientais da região são praticamente as mesmas:

9 Pobreza 9 Isolamento 9 Falta de recursos financeiros 9 Ausência de regulamentos para protecção das espécies ameaçadas 9 Falta de água potável 9 Falta de saneamento do meio 9 Falta de articulação entre o Poder Central e o Poder Regional

58 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

II.7 Avaliação patrimonial do PNP

A avaliação do património dum Parque, tem como objectivo de determinar o “valor” do mesmo referenciando-o a critérios standard, portanto replicáveis de um sítio ao outro (Brugière, 2007). Esta avaliação baseia-se nas propriedades fundamentais do sítio, que são relativamente independentes das políticas de gestão, enquanto elementos base e constitutivos da razão de ser da área protegida. Uma tal avaliação permitirá:

Ressaltar os elementos mais importantes do PNP; Identificar as especificidades sobressalientes do PNP.

Estes valores são directamente relacionados com os objectivos de longo prazo do Plano de Manejo, constituindo praticamente a sua base de estruturação, enquanto tais objectivos serão fixados de forma a manter, ou aumentar quando possível, o valor patrimonial (Brugière, 2007).

Ao longo da história de Príncipe, a sua população tem estado sempre intimamente ligada aos recursos biológicos da ilha, através a agricultura, a pesca, a medicina, a recreação, o turismo e as manifestações culturais. A seguir propõe-se uma definição das tipologias de valores que caracterizam não só a biodiversidade do Parque em termos de conservação, mas também o seu valor “instrumental” para à sociedade são-tomense.

II.7.1 Valor de conservação

A presença de um conjunto de endemismos único – O PNP alberga um conjunto único de espécies e subespécies endémicas das ilhas do Golfo de Guiné (Anexos I, II, V, VI, VII, VIII, IX), nomeadamente: Mais de 50 espécies vegetais; Uma espécie e duas subespécies de mamíferos; 11 espécies e 7 subespécies de aves; 9 espécies e uma subespécie de repteis; 3 espécies de anfíbios; Dezenas de espécies de invertebrados.

Estes números poderiam parecer não particularmente importantes, por exemplo através dum confronto com o PNO de S. Tomé, mas se se considerar que são relativos a um território total da ilha de cerca de 142 km², e que a maioria dos endemismos tem no território do PNP, cerca de 40 km², o núcleo central da sua distribuição, entende-se claramente a valoração em termos de biodiversidade dum território assim tão pequeno.

A presença de espécies ameaçadas a nível global – O PNP alberga um conjunto importante de espécies ameaçadas a nível internacional. Somente considerando as espécies incluídas na Lista Vermelha da IUCN (2008), contam-se: Nove espécies vegetais (Anexo II); Uma espécie de aves (Anexo VI); Quatro espécies de tartarugas marinhas (Anexo VII); Uma espécie de anfíbios (Anexo VIII); Duas espécies de invertebrados.

Três das espécies citadas são classificadas como “Em Perigo Critico” e uma como “Em Perigo”, que são as duas categorias cujo pertencem as espécies mais ameaçadas. As restantes 13 espécies são classificadas como “Vulneráveis”. Em fim, podem-se citar algumas dezenas de espécies classificadas em categorias de “pré-ameaça”, ou em fase de classificação. O território do PNP alberga a maioria dos efectivos populacionais de todas estas espécies.

59 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Importância dos ecossistemas florestais do Príncipe na regulação dos equilíbrios do ambiente num contexto de pequena ilha oceânica - Os ecossistemas florestais têm um papel muito importante para manter os equilíbrios do ambiente natural e humano: permitem regular o clima ao nível local e mundial (regime das chuvas, direcção e velocidade dos ventos, humidade relativa do ar e insolação), podem funcionar como sumidouros do dióxido de carbono, reduzem a erosão e perda de solo, protegem as bacias hidrográficas fornecendo grandes reservas de água doce, asseguram o enriquecimento e a conservação do solo, asseguram a polinização das espécies vegetais, etc. Os “serviços ambientais ou da natureza” no seu conjunto têm um valor imenso, de difícil estimação, que nem sempre é considerado nas escolhas de gestão do território, sobretudo na planificação de curto e médio prazo. O território do PNP representa o coração e o “capital activo” destes “serviços da natureza” para a ilha do Príncipe.

II.7.2 Valores relacionados com benefícios directos para a população

Produtos florestais lenhosos - Embora exista um Plano nacional de desenvolvimento florestal (Salgueiro & Carvalho, 2002), este Plano nunca foi implementado no terreno e até ao presente, os produtos lenhosos são explorados na ausência de qualquer regulação, sem o suporte de um plano anual de corte, tornando-se a exploração informal cada vez mais dominante. Os recursos madeireiros são ainda um pequeno tesouro para Príncipe e merecem a máxima atenção pelas Autoridades locais e os Serviços do estado competentes. O território do PNP pode ser considerado como a área da ilha destinada a conservação integral dos recursos madeireiros e vegetais. Politicas de aproveitamento sustentável poderão ser implementadas na restante parte do território, incluindo a Zona Tampão do PNP. Neste ultimo caso, seria ideal (ler “indispensável”) a concertação das intervenções entre Administração do PNP, DF e Administração Local (concertação ainda mais importante no caso de aprovação oficial deste Plano, que prevê a extensão da Zona Tampão do PNP a toda a ilha do Príncipe).

Valor energético dos produtos florestais – No Príncipe a madeira é utilizada como combustível, tanto nos serviços domésticos, como nas indústrias de secagem de cacau e na panificação. No meio rural a colheita de lenha é executada sobretudo pelas mulheres, diversamente, a queima de carvão é executada para um pequeno grupo de profissionais especializados, o dos carvoeiros.

Os recursos naturais no sector da alimentação - Os principais produtos alimentares de origem vegetal que provem da floresta são: os frutos e as amêndoas, os tubérculos, as folhas, os legumes, os cogumelos e as seivas (vinho de palma). Nas plantações recém-abandonadas (floresta secundária nova), colhe-se a banana prata (Musa paradisíaca sapientum), a matabala (tubérculo de Xanthosoma sagitifolium) e a fruta- pão (fruto de Artocarpus communis), que praticamente fazem parte da base alimentar tradicional dos habitantes do Príncipe. Entre os frutos os mais consumidos e procurados são: a manga (Mangifera indica), o safú (Dacryoides edulis), a cajamanga (Pseudopondias dulcis), a jaca (Artocarpus heterophyllus), a fruta-pão (A. altilis), o abacate (Persea americana), o Rubus rosifolius, a goiaba (Psidiun guyava), fruto leitoso de ûntue (Chrysophyllum albida), frutos de Tristema (Tristema mauritianum), zimbrão (Ziziphus mauritianum) cola de macaco (Trichilia grandifolia), cacau macaco (Landolphia dawei), tamarineira (Tamarindus indica), framboesa/morango (Rubus rosifolius). Frutos como o sapo-sapo (Annona squamosa), a anona (A. reticulata), a pitanga (Eugenia uniflora), a alfarroba (Ceratonia siliqua), o comichama (Eugenia brasiliensis), são menos utilizados, talvez por serem menos abundantes. A este grupo junta-se ainda o izaquente (fruto de Treculia Áfricana), com o qual se prepara o prato do mesmo nome. Podem-se citar também nozes como: coqueiro (Coco nucifera), a cola (Cola acuminata) cujas nozes são consumidas crus, o ossame (Afromomum danielii), cujos frutos são utilizados na confecção de pratos tradicionais e zêlo su zon maia (Erygium foetidum) cujas folhas têm valor alimentar (Oliveira, 2002).

60 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Uma componente fundamental das proteínas na dieta da população da Zona Tampão do PNP é fornecida pelos animais selvagens como: macaco (Cercopithecus mona), lagaia (Civettictis civetta), os morcegos (guembú) (Eidolon helvum), os moluscos terrestres (búzio de obô - Archachatina bicarinata e o búzio vermelho - Archachatina sp.) e algumas espécies de aves. As populações de algumas destas espécies são ameaçadas de desaparecer do País e do Mundo (é o caso de Archachatina bicarinata), então não podem ser consideradas como um recurso alimentar, mas a maioria das espécies listadas, são comuns, ou até invasoras, e representam um importante elemento adicional na alimentação da população local.

Valor da biodiversidade na medicina tradicional - O sistema nacional de saúde de São Tomé e Príncipe enfrenta as dificuldades que são comuns de todos os Países em via de desenvolvimento. Os medicamentos ocidentais são caros, ou muitas vezes inexistentes no mercado local; o posto de saúde da ilha tem falta de equipamentos. Perante esta situação, a grande parte da população rural continue a utilizar e a confiar na medicina tradicional, usando remédios provenientes de plantas que são baratos, facilmente acessíveis e que através de um longo período de tempo comprovaram ser seguros e eficazes na cura de algumas das doenças de maior incidência na região (paludismo, diarreias/disenterias, doenças de pele, feridas, icterícia/hepatite, asma, gripes, diabetes). Na medicina tradicional tomam parte os chamados terapeutas tradicionais (curandeiros) que utilizam centenas de espécies de plantas e de receitas tradicionais. Segundo Lopes Roseira (1984), a flora de São Tomé e Príncipe é rica em plantas medicinais. Oliveira (2002) inventariou 350 espécies medicinais espontâneas (cujas 33 espécies são arbóreas), distribuídas em 28 géneros e 23 famílias. No anexo IV, apresenta-se uma lista exaustiva das espécies utilizadas no campo medicinal no País. Infelizmente, os progressos no conhecimento, na salvaguarda, na monitorização e na conservação de plantas de uso medicinal, tem sido pouco significativo. Também a sua distribuição no interior da ilha e do PNP é poço conhecida. Certo é que muitas espécies crescem espontâneas em varias áreas do arquipélago e muitas delas poderiam ser cultivadas para a extracção de princípios activos presentes nas partes aéreas (casca, folhas, frutos e flores) ou nas partes subterrâneas (raízes, rizomas) (Oliveira, 2002).

Utilização ornamental das plantas e dos animais selvagens domesticados - A maior parte das espécies vegetais ornamentais foram introduzidas nas ilhas provenientes doutros países ou continentes, mas actualmente a maioria dessas encontra-se no estado sub-espontâneo e são mais ou menos naturalizadas. São Tomé e Príncipe possui a mais rica flora de orquídeas da África (Carsten Bruhl, 1993), mas há também outras plantas da flora do Príncipe com valor ornamental que pertencem às florestas do PNP. Quanto aos animais, algumas espécies de pássaros são objecto de comércio ilegal.

Valor de outros produtos florestais - A multiplicidade de usos dos produtos naturais demonstra a importância destes recursos no País:

Ö tintas como o caoutchouc extraído de Landolphia dawei, ou as extraídas do pau sangue (Harungana madagascariensis), do pau amarelo (Symphonia globulifera), de Indogofera tinctoria, do cele-alé (Leea tinctoria), do pau cadeira (Funtumia Áfricana), da borracherira (Hevea brasiliensis); Ö produtos cosméticos como os óleos extraídos do pau óleo (Santiria trimera), do pau amarelo; e as substancias aromáticas das orquídeas e do ilang-ilang (Cananga odorata); Ö aromas tais como: a canela (Cinnamomum zeilanicum), a baunilha, (Vanilla spp.), o açafrão (Curcuma domestica), a pimenta (Piper guineensis), o ossame (Aframomum danielli); Ö materiais para a confecção de produtos artesanais como a madeira para fabricação de talheres, esculturas e pirogas, principalmente obtida da cedrela (Cedrela odorata), da ocá (Ceiba pentandra), do bambu (Bambusa vulgaris), do gôgô (Carapa procera), da amoreira (Milicia excelsa); Ö materiais fibrosos como as folhas de palmeira (Elaeis guineesis) e de coqueiro (Cocus nucifera), para fabrico de cestos, sacas, vassouras, entre outros produtos; fibras e casco do coco para fabrico de diversos objectos (pulseiras, anéis, copos, brincos, cinzeiros, tapetes, etc.); folhas de úlua (Borassus aeaethiopum) que fornece material para fabrico de sacas de diversas formas; a "corda" de bananeira (Musa spp.) é usada para confecção de quadros (Oliveira, 2002).

61 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

A biodiversidade do PNP como factor de atractividade do turismo no Príncipe – Como referido, o PNP possui um património endémico único em termos de biodiversidade. Este elemento é a base fundamental de qualquer tentativa de desenvolvimento de actividades turísticas no interior da Ilha. O PNP possui itinerários turísticos através dos quais, os turistas tomam e poderão tomar sempre melhor conhecimento da riqueza da flora e da fauna endémica, assim como dos outros elementos paisagísticos de interesse como os picos imponentes (Papagaio, Príncipe, João Dias Pai e Filho, Os dois Irmãos, Mesa, etc.) as antigas roças com os vestígios das plantações históricas (Sundy, Infante D. Henrique, Belo Monte, etc.). Importante é também a riqueza da biodiversidade marinha que conta com tartarugas, delfins, baleias e pesca desportiva. Alias, mais uma atracção turística relacionada com a biodiversidade é representada para os centros de desova das tartarugas marinhas. Infelizmente, esta actividade económica, de grandes potencialidades, está actualmente subutilizada, não dispondo ainda o País de oferta organizada e de infra-estruturas e serviços adequados.

O valor cultural acrescentado devido à biodiversidade - É impossível dissociar o património cultural dos habitantes do Príncipe, da riqueza natural da ilha. Esta consideração é ainda mais verdadeira num contexto pequeno como o do Príncipe, onde o Parque, e consequentemente a floresta natural, ocupam mais da terceira parte do território e são constantemente presentes com a sua imponência ao lado e na visual das pessoas que vivem na ilha (Pico Papagaio por exemplo). Para além de ser relacionadas com valores económicos (arte, artesanato, turismo, etc.) estes elementos de unicidade cultural possuem também valores intrínsecos reconhecidos, que multiplicam e valorizam a “diversidade humana”.

Valor científico e educativo possibilitado pela biodiversidade - Provavelmente existem espécies selvagens que possuem características genéticas que uma vez descobertas poderiam resultar importantes para criar variedades de plantas cultivadas mais resistentes às doenças, encontrar princípios activos úteis nas aplicações médicas, etc. Se estes conhecimentos são ainda limitados em campo botânico, a situação é ainda mais complicada em campo zoológico, onde a maioria da fauna invertebrada não está classificada, ou é desconhecida quanto às suas funções ecológicas. O aprofundamento deste valor potencial poderá ser de grande interesse ao longo e médio prazo.

62 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PARTE III – ABORDAGEM ESTRATÉGICA

III.1 As Áreas Protegidas de S. Tomé e Príncipe no contexto internacional

III.1.1 As Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe e seu zonamento

A criação simultânea dos Parques Naturais Obô nas Ilhas de São Tomé e do Príncipe veio responder aos imperativos nacionais de estabelecimento de um Sistema Nacional de Áreas Protegidas, preconizado pela Lei de Bases do Ambiente (Lei 10/1999) e detalhado pela Lei da Conservação da Fauna, Flora e das Áreas Protegidas (Lei 11/1999).

O n.º 1 do artigo 17.º da Lei da Conservação da Fauna, Flora e das Áreas Protegidas, diferencia os tipos de Áreas Protegidas nacionais.

À luz do exposto, e perspectivando o reconhecimento internacional destas Áreas Protegidas, fazendo sobressair a riqueza de biodiversidade e endemismos que albergam e visam conservar, no Anexo XIII procede-se à adequação das áreas de conservação santomenses face aos parâmetros amplamente aplicados da iniciativa da IUCN, das suas Comissões e Programas (WCPA, WDPA).

Neste Anexo XIII é abordada em detalhe a concepção e sustentação do formato que se pretende adoptar para o quadro das Áreas Protegidas da RDSTP, em harmonia com os sistemas internacionalmente aceites e vigentes, e que certamente valorizará e permitirá realçar o relevante valor do País no contexto internacional.

O sistema de zonamento previsto nas Leis de criação dos Parques estabelece a Zona de Protecção (Parque propriamente dito), com duas zonas distintas: • Zona de Preservação Integral – constituída pelas zonas centrais, primitivas ou intangíveis, que funcionam como reservas naturais dentro dos Parques; • Zona de Exploração Controlada – áreas que admitem um uso moderado e auto- sustentado da fauna e flora (…) podendo ser dedicados ao eco-turismo e a formas de desenvolvimento económico não-agrícolas.

Estabelece ainda, adjacentes aos Parques mas exteriores a eles, Zonas Tampão que se estendem, para além dos limites dos Parques, numa faixa de largura entre os 250 metros e os 10 quilómetros.

No Parque Natural do Príncipe, a Zona de Preservação Integral ocupa sensivelmente o terço Sul da Ilha, sendo na actualidade pouco ou nada demandada a não ser por visitação esporádica e não controlada. Uma mancha florestal, na parte Noroeste da Ilha (Floresta de Azeitona) foi também classificada como Zona Ecológica, exibindo contudo uma maior pressão por exploração não controlada de recursos florestais, ameaçando as ricas comunidades avifaunísticas nela ocorrentes.

A Zona Tampão deste Parque, prevista pelos Planos anteriores ao presente documento, envolve e assegura um corredor de amortecimento muito limitado. No entanto, à excepção das características urbanas de Sto. António e da infraestrutura aeroportuária, pode considerar-se que a totalidade da Ilha não incluída no Parque Natural apresenta as características de Zona Tampão, o que foi determinante para suportar científica e tecnicamente a proposta de classificação total da Ilha do Príncipe.

63 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Como apresentado detalhadamente no Anexo XIII, a classificação da totalidade da Ilha do Príncipe enquadra-se na Categoria VI proposta pela IUCN, sendo o terço Sul já classificado um Parque Natural de Categoria IV, uma vez que, segundo aqueles critérios, seria discutível que a sua reduzida dimensão permitisse a classificação segundo a Categoria II – Parque Nacional.

Refira-se ainda que o conjunto de Áreas Protegidas da RDSTP foi assumido como o Parque Nacional de Obô na Lista de Sítios Piloto propostos para a Rede de Áreas Protegidas de África Central, RAPAC (Sítio n.º 31 – PNO), pelo que se torna necessário, junto desta Rede, apresentar formalmente as novas tipologias resultantes da elaboração e publicação dos Planos de Manejo, devendo ser assim a Área Protegida classificada pela Lei 7/2006 inscrita na RAPAC como o Parque Natural do Príncipe.

III.1.2 Zonamento proposto nos documentos de plano anteriores (1994, 1999)

O caminho que trouxe aos limites actuais do PNP, começou no princípio dos anos ’90 com o trabalho do Programa ECOFAC. Juste (1994) distinguiu no interior da “Zona Ecológica” duas zonas distintas: uma Zona de Protecção Total; uma Zona Tampão.

Sempre segundo Juste (1994), o limite da zona de protecção foi estabelecido em coincidência com o que foi o limite superior da zona de exploração agrícola na altura da sua máxima expansão. As bases para as escolhas de zonamento foram o trabalho de inventariação florestal executado pela InterForest AB (1990) e a cartografia da época colonial. Os três critérios fundamentais na definição dos limites da Zona de protecção, reconhecida doze anos depois como território do PNP, foram:

Maximizar a protecção dos ecossistemas naturais da ilha, incluindo nos seus limites a sua maior expressão territorial; Escolher limites não equívocos; Evitar a inclusão de assentamentos humanos.

A opção de Juste, em 1994, de excluir a Zona Tampão do território do Parque é discutível, face aos parâmetros e critérios de gestão de Áreas Protegidas. A fácil constatação que hoje o zonamento proposto para o PNP através deste documento resulta caracterizado pela prevalência de zonas vocacionadas para a protecção/conservação, justifica-se sobretudo porque na altura foram excluídas do Parque as áreas que poderiam, na sua periferia, mas ainda nele integradas, assumir níveis de protecção mais flexíveis, e desempenhando um papel fundamental de amortecimento de impactos negativos.

Curiosamente, este autor no seu trabalho de 1994, incluiu na Zona Tampão a Floresta de Azeitona. Actualmente, e segundo a Lei de criação do PNP (Lei 7/2006), esta mancha florestal integra a Zona Ecológica, constituindo-se assim como território de Parque Natural.

Pese embora a Zona Tampão indicada (não vinculativamente) na Lei de criação do PNP venha a receber propostas de gestão por via do Plano de Gestão para 2009/2010, não estando classificada e tutelada pelo primado da Conservação da Natureza, dependerá da eficácia da desejada coordenação interinstitucional e intersectorial para assegurar os seus objectivos.

No documento de “apoio à gestão” de 1994 Juste não especificou, ou aconselhou de forma explícita, definições de uso para as áreas definidas. Grepin no seu Plano de Manejo de 1999, retomou sem variações substanciais a proposta de zonamento de Juste (1994).

64 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

III.2. Zonamento do PNP

III.2.1 Zona Ecológica

O zonamento consiste basicamente em dividir o território em diversas zonas que terão usos diferenciados. De acordo com os objectivos do plano e com a análise territorial, o diagnóstico do estado de conservação dos recursos, e a avaliação dos usos e aproveitamentos, deve-se estabelecer o grau de vocação das diferentes unidades territoriais, face aos diferentes usos. Em certa medida, a proposta de zonamento constitui a projecção espacial dos objectivos previamente definidos e a base territorial sobre a qual serão materializadas as determinações normativas do Plano. Enfim, com o zonamento procura-se maximizar o uso do espaço, de acordo com as suas potencialidades, recorrendo-se a estratégias que eliminem ou minimizem os aspectos negativos e potenciem os positivos, numa perspectiva do desenvolvimento sustentável dos recursos naturais (Carvalho & Cesarini, 2008).O Zonamento escolhido pelos autores e aplicado aos Planos de Manejo pode sintetizar-se no quadro seguinte:

Zona de Preservação Integral

Categoria Características Actividades permitidas

Ö Flora e Vegetação de valor Ö Investigação e divulgação Zona de Protecção excepcional – endemismos científica Integral de Tipo I Ö Avifauna de valor excepcional Ö Monitorização dos ecossistemas – endemismos Ö Flora e Fauna - Valor Muito Elevado ou Excepcional (média Ö Estudos biológicos e ecológicos sensibilidade) intensivos Ö Amostras de floresta primária, Ö Excursionismo controlado Zona de Protecção ou floresta secundária em (caminhos, n.º de pessoas, Integral de Tipo II evolução época do ano, guias do Parque) Ö Áreas de potencial presença Ö Construção de pequenas de valores naturais, carecendo estruturas, amovíveis, de apoio à de mais estudos (aves, peixes, visitação outros grupos biológicos)

Zona de Exploração Controlada

Categoria Características Actividades permitidas

Alguns dos ecossistemas que Ö Aproveitamento controlado de foram ou actualmente são espécies medicinais utilizados pelas comunidades em Ö Animação Ambiental, actividades conflituantes com a Zona de Protecção excursionismo com guias defesa da Biodiversidade, mas Parcial de Tipo I credenciados ou autorizados cuja recuperação é fundamental pelo Parque para os objectivos de gestão das Ö Construção de pequenas Áreas mais importantes do estruturas de apoio à visitação Parque. Ö Construção de pequenas infra- estruturas de apoio à visitação Alguns dos ecossistemas que ou outras actividades permitidas actualmente são utilizados no Parque - Turismo como factor sustentadamente pelas de recuperação e dignificação Zona de Protecção comunidades, mas com relevante do Património (Roças) Parcial de Tipo II interesse para a Conservação da Ö Actividades agrícolas, florestais Natureza, Biodiversidade e e pecuárias em regime Paisagem. extensivo, aprovadas pelo Conselho de Gestão Ö Actividades locais tradicionais

65 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Pode considerar-se, pelo exposto, que se estabelecem correspondências muito próximas da seguinte forma:

Zona Ecológica Principal – Abrange, nas áreas de Protecção Total de Tipo I e II, zonas de gestão relacionada com a Categoria I a (algumas manchas de Florestas ricas em endemismos), aonde a presença humana se tem restringido, na sua maioria, a expedições de carácter científico ou de pesquisa, ou com a Categoria Ib, que aconselha um alto regime de protecção. A restante extensão da Zona Ecológica principal enquadra-se na Categoria II.

A ausência de acessos tem defendido a maior parte da floresta primária. Grandes manchas de floresta de altitude e de neblinas mantiveram-se incólumes durante o período colonial e as intervenções agrícolas e silvícolas então efectuadas.

Esta área, pelos acessos limitados e riqueza de habitats no seu interior, tem condições para o desenvolvimento de actividades de ar-livre, ecoturismo e birdwatching, num quadro de manejo adequado, que serão fundamentais para a sua viabilidade logística e financeira.

Na zona da Praia de S. Tomé configura-se a possibilidade de ser implantado, em regime não permanente, um conjunto de estruturas de alojamento temporário para visitantes, em complemento aos alojamentos instalados fora do Parque Natural.

A ocupação desta zona da Praia de S. Tomé pode constituir, como já proposto, objecto de concessão por uma entidade privada, havendo neste quadro lugar a contrapartidas que assegurem a viabilidade da Missão e Objectivos deste Parque Natural, incluindo complementos financeiros, logísticos e apoio à elaboração de estudos de caracterização e monitorização da Biodiversidade.

Zona Ecológica da Floresta de Azeitona – Incidindo sobre formações florestais, ricas em avifauna, mas com um relevante papel a desempenhar em termos de Educação Ambiental, para além do seu valor em termos de visitação, enquadram esta zona na Categoria VI, embora as manchas de maior valor determinem a necessidade de uma gestão e acompanhamento com prioridade à conservação de espécies e habitats, anulando os efeitos de desflorestação por abate ilegal. A utilização actual e prevista desta área, no entanto, não conduz à classificação na Categoria IV.

Delimita áreas de floresta secundária, suportando uma rica comunidade de avifauna. De fácil acesso, pode albergar percursos interpretativos e acções de educação ambiental. É um território facilmente valorizável para a prática de birdwatching, e desenvolvimento de áreas de negócio associadas.

Pela sua proximidade à capital da Ilha, aos principais centros turísticos (Bom-Bom e Casa do João), torna-se um destino facilitado para o ecoturismo.

O seu perímetro não corresponde a aspectos geomorfológicos ou estruturas físicas no terreno, pelo que a sua vigilância e fiscalização não se encontram garantidas.

O abate ilegal e a caça, colheita ou captura de espécies ameaçadas e protegidas são também um factor de empobrecimento ecológico e de degradação dos habitats a proteger.

Na figura da página seguinte encontra-se um resumo do Zonamento proposto, sendo clara a articulação com a Lei n.º 7/2006.

Assim, tem-se: 1 -Zona de Preservação Integral, abrangendo as categorias Zona de Protecção Total de tipo I e Zona de Protecção Total de tipo II

2 - Zona de Exploração Controlada, abrangendo as categorias Zona de Protecção Parcial de tipo I e Zona de Protecção Parcial de tipo II

66 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

67 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

III.2.2 Zona Tampão

Distintamente do que foi observado pelos autores no caso do PNOST - que aquela Zona Tampão resulta concebida e desenhada de forma relativamente funcional aos objectivos de conservação e desenvolvimento local, embora com alguns limites - para o actual desenho da Zona Tampão do PNP, não se pode afirmar a mesma consideração.

De facto, a Zona Tampão actualmente limita-se a uma faixa de território medianamente larga entre 500m e 2km, contígua a todo o limite setentrional do PNP. Esta área parte da costa oeste perto da velha dependência de Francisco Mantero, e desenvolvendo-se como antes referido, termina na linha de costa oriental da ilha, incluindo a sua porção entre a linha de Água de Ponte Grande e Rio Chibala.

A Zona Tampão, pelos seus objectivos e gestão propostos, identifica-se naturalmente com a Categoria VI da IUCN, privilegiando claramente a integração harmoniosa das comunidades humanas no meio natural, amortecendo os impactos da acção do Homem nos ecossistemas do Parque Natural e promovendo actividades económicas sustentáveis, no quadro do Desenvolvimento Durável. Esta classificação pode, em rigor, ser assumida para a totalidade da Ilha não abrangida pelo Parque, face ao modelo de desenvolvimento seguido pelo Governo central e pelo Governo Regional.

O elemento que ressalta na análise da sua estrutura, é a evidente intenção dos técnicos que delinearam os seus limites de não incluir nenhuma pequena aldeia, ou dependência, que sejam ainda povoadas. As velhas dependências de São Joaquim, Bela Vista, Terreiro Velho e a velha roça de Porto Real/Bela Vista (as aldeias povoadas locadas mais perto do território do PNP), estão todas posicionadas imediatamente fora dos limites actuais da Zona Tampão. A organização da Consulta Publica de 2008 foi desenvolvida considerando estas quatro como as comunidades-alvo da recolha de dados e informações; de outra forma não teria havido nenhuma comunidade na Zona Tampão!

Se se concorda com o primeiro dos dois conceitos gerais em que a Zona Tampão é aquela porção de território contigua, mas externa a uma Área Protegida, onde:

1. vive a maioria das pessoas/comunidades que estão directamente relacionadas com os diferentes usos do território da Área Protegida e o aproveitamento dos seus recursos; 2. se constata a presença de recursos naturais que podem ser exploradas de forma sustentável para obter a protecção dos recursos deslocados no interior da Área Protegida;

…então parece evidente que, num contexto como o do Príncipe, onde as pessoas moram no limite (Terreiro Velho), ou a poucas centenas de metros do limite do Parque, e além disso, os recursos naturais estão disseminados em qualquer lado da ilha, não faz muito sentido excluir da Zona Tampão estes povoamentos, porque de facto a Zona Tampão está normalmente concebida para os incluir. Por fim, segundo a visão dos autores, a Zona Tampão deve representar a porção de território contígua ao Parque, de referência para a entidade que o gere, para implementar as suas estratégias e politicas de conservação e desenvolvimento, fora do território do Parque.

Baseando-se no diagnóstico ambiental e socioeconómico executado através da missão de planeamento e de forma consequente às considerações definidas, e em consonância com as orientações expressas nos capítulos antecedentes deste Plano, justifica-se que o grau de liberdade de delimitação da Zona Tampão conferido na Lei 7/2006 resulte na extensão desta Zona Tampão do PNP a todo o território da ilha do Príncipe.

As motivações preeminentes da proposta podem ser assim resumidas: Ö a extensão territorial da ilha do Príncipe é tão limitada, que também os membros das comunidades locadas mais longe do território do PNP (Sundy, Belo Monte, etc.) se podem considerar como possíveis usufrutuários directos dos recursos do PNP (por exemplo qualquer pescador que more nas aldeias do norte da ilha pode desenvolver as suas actividades na área marinha costeira do sul que está incluída no Parque);

68 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Ö a difusão em toda a ilha de recursos naturais exploráveis, vegetais e animais, mereceria uma abordagem global para a sua gestão que se apoie nas competências e nas capacidades técnicas de uma Entidade especializada na gestão dos recursos naturais.

Portanto, a proposta do presente Plano de Manejo, é que todo o território da ilha do Príncipe não incluído no PNP e ainda uma faixa costeira de largura equivalente àquela já presente nas costas do PNP, seja considerado, a partir da aprovação oficial deste documento por parte das Autoridades Nacionais e Regionais competentes, como Zona Tampão do PNP mesmo.

Esta medida técnico-regulamentar, será o primeiro passo na direcção, já manifestada pelas Autoridades Regionais, de voltar a totalidade (ou a quase totalidade, excluindo segundo os critérios mencionados a Cidade de Sto. António e a infra-estrutura aeroportuária) a território do PNP.

69 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

III.3 Ilhas Tinhosas e ilhéu Boné de Jóquei

Como já referido neste documento, as comunidades avifaunísticas que ocorrem nestas ilhas albergando espécies endémicas e ameaçadas, tornam estes habitats elegíveis para futuros procedimentos de classificação como Áreas Protegidas de STP.

A preocupação para estes sítios não é exclusiva do mundo científico. Pareceu claro através da Campanha de Consulta Publica de 2008, que os naturais da ilha, população local, bem como as Instituições Regionais, já se apropriaram destas considerações e querem adiantar as etapas futuras na direcção da sua conservação.

No que concerne ao ilhéu Boné de Jóquei e às águas envolventes, parece possível e desejável a sua inclusão no território do PNP, classificando-o como Zona de Protecção Integral de Tipo I. Para esta inclusão não é suficiente a proposta através deste Plano e da sua aprovação oficial, mas é necessária uma intervenção a nível de legislação pelas Autoridades competentes.

Quanto às Ilhas Tinhosas, pelos critérios da IUCN, são tacitamente reconhecíveis como Áreas de Categoria I, podendo assumir-se, no quadro nacional, como Reserva Integral. Assim, e à semelhança do proposto para o Parque Nacional de Obô de S. Tomé, será criada uma nova categoria (Reserva Integral) de Área Protegida no quadro legal santomense.

Embora qualquer intervenção “directa” no dossier das Ilhas Tinhosas extravase o mandato deste Plano, os autores do mesmo querem expôr as suas preocupações para a conservação dum sítio de tão grande valor natural.

Parece indispensável, no curto prazo, proceder-se à sua classificação, tal como já foi proposto no referido Relatório Nacional do Estado da Biodiversidade de STP.

III.4 Áreas de Aptidão Turística

No Anexo “XIII – Conceitos de Área Protegida”, aborda-se a possibilidade de, sobre um Zonamento já definido, ser necessário proceder a acções, intervenções ou mecanismos de adaptação a situações que determinem um especial cuidado e rigor na aplicação de medidas de Conservação da Natureza, por forma a garantir a compatibilidade com os objectivos globais do Parque. É o caso, neste Parque Natural, das Áreas de Aptidão Turística, potenciais fontes de sustentabilidade financeira e económica do parque Natural, mas que importa acautelar quanto aos efeitos da sua materialização. Para o interior do Parque Natural do Príncipe, apenas se admitirá como Área de Aptidão Turística:

Um sector limitado da Praia de S. Tomé, para acampamento ligeiro temporário, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP.

A zona de Francisco Mantero/Maria Correia, Baía das Agulhas, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP, após Avaliação do Impacte Ambiental segundo o previsto na legislação, ou para intervenções ligeiras de novas valências turísticas, ou adaptações de infra-estruturas pré-existentes, após aprovação pela Direcção do PNP, ouvido o Conselho de Gestão.

A zona de Infante D. Henrique, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP, após Avaliação do Impacte Ambiental segundo o previsto na legislação, ou para intervenções ligeiras de novas valências turísticas, ou adaptações de infra-estruturas pré-existentes, após aprovação pela Direcção do PNP, ouvido o Conselho de Gestão.

70 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PARTE IV - ABORDAGEM PROSPECTIVA

IV.1 Missão, Visão e Objectivos

Apresentam-se a seguir os objectivos de longo e médio prazo identificados no âmbito da articulação «Missão – Objectivos de longo prazo – Objectivos de curto prazo». As actividades relacionadas a estes objectivos são listadas e definidas no Plano de Gestão do PNP. Cada objectivo de médio prazo está associado a um objectivo de longo prazo e é geralmente (mas não obrigatoriamente) correlacionado com um ou mais constrangimentos.

A integração de S. Tomé e Príncipe no espaço da África Central, a diversos níveis, determina uma orientação estratégica do desenvolvimento das suas políticas neste contexto regional, como plataforma para um mais abrangente contexto internacional.

É assim que, na via para o desejado amplo reconhecimento internacional, importa assegurar uma plena integração regional, segundo os conceitos, estratégias e planeamento, em sistemas similares a nível social, económico e, sobretudo, ambiental. É uma consequência do “Pensar Global, Agir Local”. É também a razão pela qual os grandes projectos de apoio internacional nos sectores do Património Natural (Conservação ou Produção) têm sido definidos segundo o espaço alargado da região oeste centro-africana, como é o caso do ECOFAC ou da Rede de Áreas Protegidas centro-africanas, RAPAC.

A eficiência de procedimentos é maximizada pela uniformização de critérios a adoptar, o que se constitui naturalmente como um objectivo metodológico nas intervenções do Programa ECOFAC. Acresce ainda que as quase duas décadas de vigência deste Programa lhe conferem um background considerável na definição de novos rumos para as Áreas Protegidas da África Central, designadamente as Florestas de Protecção.

Desta forma, e para esta sistematização, a metodologia utilizada pelos autores adaptou-se aos exemplos de sucesso já verificados no espaço de actuação do ECOFAC, integrando ainda as disposições específicas para adequação à realidade santomense. A definição dos Objectivos Gerais e Objectivos Específicos para o Parque Natural do Príncipe, apresentados no Regulamento, são a sistematização dos parâmetros agora apresentados, e que decorrem da metodologia já testada com sucesso em outros casos do espaço ECOFAC (Brugière, 2007).

IV.1.1 Missão

A Missão genérica da Conservação da Fauna e Flora selvagens e da Diversidade Biológica, como entendida na legislação santomense (Lei 11/1999), é: ¾ A salvaguarda da diversidade biológica como um património nacional e da Humanidade ¾ A promoção da sua utilização social e económica durável.

A via para concretização da Missão global é “através do estabelecimento de listas de espécies a ser conservadas e da classificação de áreas do território nacional vocacionadas para a conservação dos seus habitats e da diversidade biológica”. Daqui se infere a Missão específica do Parque, a Conservação dos seus Habitats e da Diversidade Biológica, como meio de concretizar a Missão nacional (onde se enquadra), nos espaços em que a Conservação da natureza assume o seu primado.

Neste contexto, e como referido, reportando à metodologia objecto de sistematização no quadro da RAPAC, distinguem-se, na Missão, cinco vectores:

¾ Assegurar a salvaguarda da biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas naturais ¾ Permitir a realização de actividades recreativas, de educação ambiental e de formação

71 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

¾ Facilitar o desenvolvimento de pesquisas científicas no domínio das ciências naturais e humanas ¾ Melhorar as condições económicas e sociais das populações no respeito das culturas locais ¾ Integrar o PNP na rede política, administrativa e social da região Autónoma

IV.1.2 Objectivos

Os objectivos gerais do Parque Natural do Príncipe deverão abranger os seguintes aspectos:

Assegurar a protecção e a promoção dos valores naturais, paisagísticos e culturais, em especial nas áreas consideradas prioritárias para a conservação da natureza; Enquadrar as actividades humanas através de uma gestão racional dos recursos naturais, com vista a promover simultaneamente o desenvolvimento económico e a melhoria da qualidade de vida das populações residentes nas áreas envolventes, de forma sustentada; Corrigir os processos que poderão conduzir à degradação dos valores naturais em presença, criando condições para a sua manutenção e valorização; Reduzir e eliminar a colheita, captura e comercialização das espécies ameaçadas ou protegidas; Assegurar a participação activa na gestão do Parque Natural do Príncipe de todas as entidades públicas e privadas, em estreita colaboração com as populações residentes; Definir modelos e regras de ocupação do território na Zona Tampão, por via do Plano de Gestão, de forma a garantir a salvaguarda, a defesa e a qualidade dos recursos naturais, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável; Promover a conservação e a valorização dos elementos naturais, desenvolvendo acções tendentes à salvaguarda da fauna, da flora, nomeadamente a endémica, e da vegetação, principalmente terrestre climácica, bem como do património geológico e paisagístico; Promover a gestão e valorização dos recursos naturais, possibilitando a manutenção dos sistemas ecológicos essenciais e os suportes de vida, garantindo a sua utilização sustentável, a preservação da biodiversidade e a recuperação dos recursos depauperados ou sobre-explorados; Salvaguardar e valorizar o património cultural, histórico e tradicional, designadamente a utilização etnofarmacológica da Flora; Contribuir para a ordenação e disciplina das actividades agro-florestais, recreativas e turísticas, de forma a evitar a degradação dos valores naturais, semi-naturais e paisagísticos, estéticos e culturais, possibilitando o exercício de actividades compatíveis, nomeadamente o turismo de natureza Acrescentar valor à Região Autónoma do Príncipe como destino turístico de elevada qualidade e reconhecimento internacional.

Recorrendo à metodologia que, no âmbito do Programa ECOFAC, se pretende que venha a ser generalizada, apresenta-se a síntese da Missão, Objectivos de Longo Prazo e de Médio Prazo, que irão formatar os Planos de Gestão subsequentes ao presente Plano de Manejo.

A título indicativo, estabelece-se que, sendo a Missão um compromisso intergeracional e civilizacional, os “macro-objectivos” se orientam para o longo-prazo, estando os objectivos de médio prazo associados ao Plano de Manejo, num horizonte temporal desejavelmente de cinco anos. Os objectivos ou metas de curto prazo estabelecem-se no âmbito do planeamento anual, no quadro dos Planos de Gestão.

Deste modo, o Plano de Manejo abrange o período de 2009 a 2014 (devendo proceder-se à sua revisão a partir dessa data), enquanto que a entrada em funcionamento do Parque deve ser acompanhada pelo primeiro Plano de Gestão que se pretende que:

Indique os projectos, as acções e as intervenções para o arranque do PNP, Proponha os projectos, as acções e as intervenções para a gestão da Zona Tampão, Contenha as linhas orientadoras para os Planos de Gestão subsequentes, no horizonte temporal do Plano de Manejo.

72 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Missão Objectivo de longo prazo Objectivo de meio prazo (5 anos)

Verificar a eficácia e eficiência das acções de protecção e conservação Assegurar a conservação das Favorecer mecanismos de conservação ex situ espécies animais e vegetais do PNOST Proteger as áreas de reprodução de espécies endémicas e/ou ameaçadas Assegurar a Proteger as populações de tartarugas marinhas biodiversidade e o Reduzir os impactes negativos das actividades funcionamento dos Garantir a integridade dos dos carvoeiros na parte norte da Ilha ecossistemas ecossistemas do PNOST e os naturais Estender a protecção às áreas de vegetação equilíbrios naturais na sua autóctone no Norte da ilha do Príncipe área tampão Preservar os ecossistemas marinhos costeiros

Integrar as actividades de Obter o reconhecimento e a classificação do conservação num contexto PNP no âmbito de programas internacionais regional e internacional Integração do PNP no âmbito do RAPAC Desenvolvimento duma consciência ambiental Permitir o conhecimento do Parque e das suas Permitir a realização baseada no património do actividades à população local de actividades PNP recreativas, de educação ambiental Assegurar uma transferência e de formação de competências em matéria Instaurar parcerias com as instituições de de gestão de Áreas formação nacionais e internacionais Protegidas Melhorar o conhecimento do património do PNP Facilitar o Dispor dum nível de desenvolvimento de Basear as operações de gestão dos conhecimento satisfatório pesquisas científicas ecossistemas do PNP e da sua zona tampão num sobre a biodiversidade e o no domínio das melhor conhecimento dos factores ecológicos e funcionamento dos ciências naturais e das inteirações Homem-Ambiente ecossistemas humanas Instaurar parcerias com instituições regionais e internacionais de pesquisa e conservação Criar sinergias com outros projectos e sujeitos intervenientes no âmbito da conservação dos recursos naturais na do Príncipe Valorizar a produção biológica do cacau e de Promover um processo de outros produtos agrícolas de exportação desenvolvimento local num Valorizar os produtos locais frente ao potencial contexto de sana gestão mercado turístico ambiental Favorecer a exploração durável dos recursos Melhorar as naturais a benefício das populações locais condições Favorecer o aumento dos rendimentos das económicas e actividades agrícolas através de práticas de sociais das baixo impacte ambiental populações no respeito das culturas Melhorar a fruição do território para o turismo de locais excursionismo Valorizar turisticamente o Criar sinergias com o sector privado implicado património cultural da zona na gestão do turismo tampão do PNP Melhorar o conhecimento e a publicitação das possibilidades de visita do PNP a nível nacional e internacional

Melhorar as condições Melhorar os sistemas de abastecimento de água básicas de vida nas aldeias Melhorar o saneamento do meio Integrar o PNP na Envolver o Poder Local nas políticas de gestão e rede política, Assegurar uma boa conservação dos territórios naturais administrativa e coordenação social da região interinstitucional Autónoma Coordenação interinstitucional

73 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.2 Constrangimentos

IV.2.1 Diagnóstico SWOT

Neste capítulo estabelece-se um diagnóstico das Áreas Protegidas da República Democrática de São Tomé e Príncipe. Este diagnóstico integrou uma das fases da Missão “Redacção dos Planos de Manejo e de Gestão do Parque Natural Obô de São Tomé e do Parque Natural Obô do Príncipe”, de acordo com a metodologia utilizada pelos autores.

O desenvolvimento da metodologia de elaboração proposta para os Planos de Manejo compreendeu 3 fases:

Caracterização – incidindo sobre a extensa bibliografia já produzida Diagnóstico – análise SWOT da situação das Áreas Protegidas em STP Ordenamento – com produção dos Planos de Manejo e Planos de Gestão dos Parques Naturais

A análise SWOT, um sistema de avaliação e diagnóstico bastante difundido, assenta na apreciação dos factores externos – oportunidades e ameaças – e nas características intrínsecas (nacionais) das Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe – as suas forças e debilidades.

Durante a estadia no País, os consultores identificaram, para a fase de diagnóstico, um conjunto de objectivos intermédios, visando complementar a formatação do zonamento a propor:

Identificação das problemáticas e suas soluções, junto das Comunidades Locais Identificação dos espaços a potenciar e a equacionar, decorrentes da análise dos trabalhos coligidos e analisados pela equipa Sobreposição destes com os valores naturais relevantes e/ou excepcionais anteriormente apurados.

O percurso definido para o sistema de Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe, num quadro diagnóstico da sua implementação, pode sintetizar-se na tabela das páginas seguintes.

74 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PARÂMETROS META CONSTRANGIMENTOS PONTOS FORTES RESULTADO E SEGUIMENTO – INDICADORES

Dois (2) Principais elementos do Património São Tomé e Príncipe integra a Parques Insuficiente designação de Natural protegidos por Lei RAPAC com área piloto (Site n.º 31 - Naturais Áreas com interesse Aumento da consciencialização Parque Nacional de Obô). criados, pela conservacionista, sobretudo colectiva da defesa da Natureza As Áreas Protegidas de São Tomé e Lei 11/1999 ecossistemas litorais e Âncoras de Ecoturismo Príncipe poderão integrar Criação de (CONFFAP): marinhos; Oportunidades de novas áreas de organizações internacionais e Áreas Categoria (Parque Natural) negócio beneficiar de novos apoios, Protegidas Lei 6/2006 – não reflecte o real valor, à Credibilidade internacional de São investimentos e acções de Parque Nat. escala internacional Tomé, com reflexos imediatos nos capacitação (este ponto é também Obô São Tomé Designação suscita benchmarking mais conhecidos um Ponto Forte de Diagnóstico) Lei 7/2006 – confusão entre os dois Maior objectividade na aplicação de Receitas provenientes de medidas Parque Nat. Parques investimentos de carácter ambiental compensatórias de AIA são Obô Príncipe (liability and redress) aplicadas nas Áreas Protegidas Nomeação pela tutela da Pela participação intensa da fase de Agricultura e Florestas Acompanhamento da missão discussão pública dos Planos de Competências criadas pela “Planos de Manejo e de Gestão”. Direcção Manejo e contacto extenso com as Já designados tutela do Ambiente Formação contínua junto da DGA e dos Parques comunidades, estenderam o Sem formação específica ECOFAC para capacitação reconhecimento do seu papel pelo em gestão de Áreas (capacity building). público Protegidas Programas como o ECOFAC têm Quadro de funcionários do Estado e apoiado os funcionários públicos Com a Inexistência de recursos parcerias público-privadas com logística e financeiramente: aprovação dos humanos, logísticos e ONG e entidades empresariais do Quadro dos introduziram uma cultura de Planos de financeiros para criar um sector ecoturístico e Parques implementação das diversas Manejo quadro mínimo eficaz dentro desenvolvimento rural. actuações do estado em parceria da tutela do Ambiente Apoio do Programa ECOFAC IV e com entidades externas (ONG, outros. entidades internacionais)

75 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

PARÂMETROS META CONSTRANGIMENTOS PONTOS FORTES RESULTADO E SEGUIMENTO – INDICADORES

Ausência parcial ou total de: Legislação de Taxas Legislação de coimas e Legislação Com a São diplomas legais simples, que sanções conexa e aprovação dos poderão traduzir-se em despachos Serão produzidas as peças legais Legislação de protecção de outros Planos de do Ministro da tutela do Ambiente necessárias ao funcionamento dos algumas espécies (p. ex. instrumento Manejo ou Decretos do Governo. Parques. tartarugas) s Nomeação do CONFFAP Nomeação dos Conselhos de Gestão dos Parques O primeiro Plano de Manejo dos Parques deverá ser aprovado ainda sem a Publicação do apreciação do CONFFAP ou Bibliografia de 16 anos de recolha de respectivo dos Conselhos de Gestão, informação do Programa ECOFAC Decreto pelo Zonamento e Regulamento do evitando aumentar o atraso Levantamentos efectuados por Plano de Governo (vide Parque Natural, para 5 anos. na entrada em outros especialistas e organizações Manejo n.º 1 do art.º Deverá ser aprovado pelo Governo funcionamento. Estas Actuação das Associações Monte 14.º da Lei de STP, de acordo com o artigo apreciações deverão ter Pico e MARAPA 6/2006) lugar apenas no 2.º Plano de Consolidação do papel da DGA

Gestão. Não tem aplicabilidade directa nas Zonas Tampão. Num quadro de parcerias público- privadas, e com um formato adequado do Fundo Especial dos Decorre do Plano de Manejo, plano Fortemente dependente do Plano de Até final de Parques, as Áreas Protegidas de actividades anual, elegível para apoio de ECOFAC e/ou das Gestão 2008 poderão ser viáveis com os recursos reforço do financiamento pelo parcerias a estabelecer assim gerados projecto ECOFAC IV. Terá aplicabilidade directa nas Zonas Tampão.

76 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.2.2 Quadro institucional e jurídico

O actual quadro institucional e jurídico, como referido anteriormente e detalhado neste capítulo, traduz a juventude da Conservação da Natureza e da Biodiversidade em S. Tomé e Príncipe. Espelhando uma realidade comum a vários outros Países, a génese da abordagem à protecção e conservação dos recursos naturais em STP verificou-se no sector das Florestas. Apenas recentemente se procurou recentrar esta área temática no também recente sector político dedicado ao Ambiente.

Tratando-se de matéria própria da organização do Estado Santomense, considera-se no entanto ser de recomendar a inclusão da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, particularmente o sistema de Áreas Protegidas, sob a tutela exclusiva do Ambiente, sem prejuízo da necessária coordenação intersectorial na definição de políticas, programas e planos de intervenção do Estado.

Tendo ainda presente a actual realidade nacional, seria desejável individualizar um sector próprio para a condução dos processos inerentes às Áreas Protegidas, sob a orientação tutelar da actual Direcção de Conservação, Saneamento e Qualidade do Ambiente, de quem dependeriam então, na orgânica da administração pública santomense, as direcções dos Parques actuais, bem como as áreas protegidas a criar.

O Parque Natural do Príncipe encontra-se sob a coordenação (proposta) do Conselho de Conservação da Fauna, Flora e das Áreas Protegidas (CONFFAP), que apenas funcionaria, segundo a legislação (Lei 11/1999) a partir do primeiro ano cumprido de entrada em funcionamento do Parque.

Contudo, esta organização poderá ser revista em função da experiência adquirida e, sobretudo, da reorganização tutelar das Áreas Protegidas, que se pretende fixar sob a coordenação directa da tutela do Ambiente.

A Direcção-geral do Ambiente poderá assim reformatar-se, compreendendo a Direcção de Saneamento e Qualidade do Ambiente e a Direcção de Biodiversidade e Áreas Protegidas, visto que não se considera justificar a necessidade de um Serviço Nacional de Parques ou um Instituto de Áreas Protegidas autónomo, na conjuntura actual. Note-se no entanto que a definição de uma unidade orgânica equivalente à actual Direcção de Conservação, Saneamento e Qualidade do Ambiente confere às Áreas Protegidas a capacidade de relacionamento interinstitucional ao nível necessário para uma eficaz coordenação de políticas, planos e programas.

Neste ponto, o titular desta Direcção deverá, no quadro da sua representação ao nível intersectorial, e por via do já consagrado na legislação de Impacto Ambiental (Decreto n.º 37/1999), assegurar a prévia avaliação ambiental de planos, programas e projectos com incidências no património natural, bem como a necessária internalização das medidas de minimização e compensação, taxas e outros mecanismos financeiros a reverter para as Áreas Protegidas.

Os Órgãos de Gestão do Parque são o Director e o Conselho de Gestão. Nomeado que está o Director, deve ser estabelecida e publicada a composição do Conselho de Gestão (Art.º 20.º da Lei 11/1999 e Art.º 13.º da Lei 7/2006). O carácter pioneiro do presente Plano de Gestão do PNP, face ainda à ausência de criação formal do Conselho de Gestão, justifica a sua aprovação e implementação sem a prévia validação daquele Conselho, evitando uma delonga que poderia condicionar o sucesso do arranque do Parque Natural.

A composição do Conselho de Gestão, num elenco mínimo de cinco personalidades (Art.º 29.º da Lei 11/1999) irá integrar a representação das autarquias locais e das comunidades residentes nas Zonas Tampão, o que permite integrar os conceitos conservacionistas e a valorização do Parque com os objectivos políticos, económicos, sociais e ambientais das Zonas Tampão, afinal uma das linhas fundamentais desta Área Protegida: a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável dos territórios envolventes do Parque.

A orgânica do PNP, liderada pelo Director e dele dependente exclusivamente em termos funcionais e hierárquicos, compreenderá a divisão por sectores, a desenvolver em sede do primeiro Plano de Gestão.

O Director, ou quem designar, deverão manter um contacto regular e próximo com os principais parceiros sociais, para além do funcionamento institucional do Conselho de Gestão. A estreita relação funcional com o Governo Regional, e com os sectores das Florestas e Turismo da administração

77 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE central, e a necessária articulação com as forças da ordem determinam a criação de canais privilegiados de contacto e actuação conjunta sempre que necessário. Desta forma, deverão ser designados, e apoiados com formação específica, interlocutores desses sectores, com mandatos dessas tutelas ou com a capacidade de decisão suficiente para apoio imediato ao Parque.

Este é o modelo proposto para o funcionamento do Parque Natural do Príncipe, e que permitirá, sem dúvida, a sua viabilidade enquanto instituição formal e oficial. No entanto, e face aos constrangimentos conhecidos e já referidos, no ponto seguinte descreve-se a adaptação dos recursos actualmente disponíveis a este modelo, constituindo a identificação actual do staff e parte do equipamento disponíveis.

IV.2.3 Processo de desenvolvimento na zona periférica

Escassa disponibilidade e má qualidade da água – Como evidenciado pelo diagnóstico socioeconómico executado, o assunto “qualidade da água” é considerado importante para a maioria das comunidades no interior da Zona Tampão do PNP. Particularmente degradado é o sistema de abastecimento, com abduções que perdem cerca de 60% de água transportada (PNADD, 1998). Também é extremamente preocupante a questão relacionada com a qualidade da água consumida pela população. Segundo o Plano Director de Água e Saneamento (PNADD, 1998), os dados das análises às diversas amostras de água recolhidas nas diferentes captações e fontes de distribuição revelaram que grande parte de água consumida pela população estava contaminada na fonte por resíduos humanos, resíduos perigosos e pesticidas tóxicos usados pelas famílias na luta contra os mosquitos. Muitas doenças transmitidas pela água que afectam a população devem-se à má qualidade de água porque apenas 20% da população do País tem acesso à água potável (PNADD, 1998). Se nos considerássemos somente as comunidades da Zona Tampão do PNP, provavelmente esta percentagem seria bem menor. Além dos efeitos sobre a saúde, os custos económicos e ambientais da falta de disponibilidade e da má qualidade de água são consideráveis. Necessário se torna que medidas sejam tomadas de forma a dotar as populações de água em quantidade e qualidade suficiente criando, para o efeito, mecanismos para a protecção das fontes, das áreas de captação, construindo e pondo em funcionamento as estações de tratamento de água. Estas intervenções poderiam trazer amplos benefícios à população com um consequente alívio de custos socioeconómicos cuja mesma população poderia beneficiar no curto, meio e longo prazo.

Falta de recursos financeiros e outros constrangimentos dos sectores produtivos – Como referido anteriormente, a economia do Príncipe é baseada no sector primário, onde a agricultura ocupa o papel principal. A agricultura que é feita na base da monocultura de exportação (do cacau) e que era praticada anteriormente no sistema de plantações agrícolas, teve a tendência a ser modificada, nos últimos quinze anos, para um sistema de pequenas parcelas, após o processo de distribuição das terras agrícolas. Este processo não tem sido adequadamente acompanhado por um sistema de apoio técnico-financeiro aos novos agricultores que, desprovidos de experiência técnica no domínio agrícola e descapitalizados, tendem a recorrer aos recursos florestais das parcelas para a satisfação das suas necessidades de financiamento (PNADD, 1998). A falta de estabilidade política e da autoridade do Estado, com consequente falta de fiscalização nas parcelas agrícolas distribuídas à população, complicam e não ajudam a solucionar este feedback destrutivo. A dificuldade de acesso às matérias-primas necessárias para a produção, a pequenez do mercado de consumo local e a dificuldade de transporte para o escoamento dos produtos finais para o mercado externo, constituem constrangimentos adicionais para a activação de mecanismos económico-produtivos virtuosos. É evidente que neste contexto encontrar formas alternativas de rendimento a detrimento do ambiente (eg. abates e caça ilegais) é um mecanismo social quase automático.

Degradação do nível socio-económico dos assalariados agrícolas – A importante empresa agrícola do Estado de Porto Real e as suas “dependências” tinham uma sobreposição com a Zona Tampão do PNP. Há alguns anos que esta empresa do Estado serrou, criando um buraco nas possibilidades de emprego da população local. Áreas de propriedade do Estado na ilha (incluindo parte do território da empresa de Porto Real) passaram para uma gestão privada (medias empresas), algumas vezes sob o controlo de capital estrangeiro, como no caso de Terreiro Velho. O sistema de produção latifundiária, com produção da monocultura do cacau e café para exportação foi mantido na maioria dos casos. Estas empresas mantêm-nos em condições socioeconómicas difíceis, com baixos salários e condições de saúde e de

78 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE habitação muito precárias. O nível de rendimento desses trabalhadores é tão baixo que eles se encontram no limite da pobreza absoluta. Esta situação constitui uma fonte de conflitos entre trabalhadores e direcção das empresas, por além de fomentar uma baixa produção agrícola, que reverte-se no permanecer dos salários a níveis extremamente baixos (PNADD, 1998).

Falta de capacidade escoamento e/ou de transformação dos excedentes agrícolas – Esta é a razão principal da perda de importantes quantidades de frutos como caramboleira (Averrhoa carambola), mangueira (Mangifera indica), jaqueira (Artocarpus heterophyllus), maracujá (Passiflora quadrangularis), framboesa (Rubus rosifolius), tangerineira (Citrus sppl), laranjeira (Citrus auratium), goiabeira (Psidium gujava), comochama (Eugenia brasiliensis), cajamangueira (Spondias cytherea) e pitangueira (Eugenia uniflora) durante os períodos de abundância.

Perda de eficiência do sistema de educação e falta de assuntos ambientais no curriculum escolar – O sistema nacional de educação encontra-se numa crise cada vez mais acentuada, devido, entre outras razões, aos fracos recursos postos à sua disposição pelo Estado. A falta de uma verdadeira política de formação e capacitação dos professores, sobretudo no sector dos assuntos ambientais, associada aos fracos recursos destinados ao sector e aos baixos salários praticados, tem levado a uma diminuição progressiva do nível académico e educacional dos alunos, o que se repercute na atitude da sociedade em relação ao ambiente (PNADD, 1998).

Fracas instituições de ensino superior no País – São Tomé e Príncipe é um dos países mais pequenos do mundo com menos de 200.000 habitantes, é normal que haja limitadas possibilidades de formação universitária a nível nacional. A formação técnica e universitária, no estrangeiro, permanece complicada para obvias razões económicas.

Perda de produtividade agrícola relacionada com as espécies introduzidas - Os macacos, particularmente, naturalizaram-se nas ilhas do arquipélago devido à sua ampla adaptabilidade ecológica conquistando diversos habitats da floresta primária e secundária. Por serem animais quase exclusivamente frugívoros, têm um impacte importante também sobre as plantações e os cultivos, nutrindo-se de cascas, folhas e raízes de árvores. No Príncipe os efectivos populacionais de Cercopithecus mona recebem uma importante pressão de caça a escopo alimentar; mas embora disso, os macacos são extremamente comuns e, diversamente do que está a acontecer em São Tomé onde as populações parecem ser numa fase de contracção em termos de densidade e distribuição, as suas populações parecem ser cada dia mais abundantes. O problema não parece ser particularmente grave no interior da Zona Tampão do PNP, porque no âmbito da Consulta Publica de 2008, somente uma comunidade identificou como problemática a perda de produto agrícola devido aos animais selvagens, mas não escolheu-a como problemática prioritária para ser debatida.

IV.2.4 Conservação da biodiversidade

Abates descontrolados – A exploração florestal descontrolada para a produção de madeira e carvão em algumas zonas da ilha representa um factor de perda e degradação dos ecossistemas naturais, e infelizmente o fenómeno acentuou o seu cômputo negativo nos últimos anos. Algumas espécies endémicas da região tais como o Dicrurus modestus (Rabo-Peixe), o Serinus rufobrunneus (chota café) Speirops leucophaeus (Tchiliquito) o Polispiza rufobrunnea (Pardal) Ploceus princeps (Melro), Turdus olivaceofuscus (Tordo) poderão ver a sua população bastante ameaçada se medidas especiais não forem tomadas contra o desnatamento a ser feito para a abertura de estrada, construção de zonas habitacionais, etc. A fauna aquática, assim como os anfíbios e os répteis endémicos da região estarão também ameaçados pela mesma causa. Em 1994, Juste avaliou as utilizações florestais como “tradicionalmente reduzidas” e que “a intensidade de exploração não constituía uma seria ameaça para a conservação da zona”. Considerações parecidas foram aplicadas pelo mesmo autor também às actividades de exploração da floresta pelos carvoeiros. Comparando estes dados com os recolhidos no âmbito Consulta Pública de 2008 e com análises executadas por outros autores (Salgueiro & Carvalho, 2002), parece que o fenómeno esteja em fase de progressivo incremento embora a sua intensidade não atinja ainda níveis preocupantes. As áreas mais interessadas por este fenómeno são indicadas na Carta de Ameaças e concentram-se na metade setentrional da ilha (portanto fora dos actuais limites do PNP e da sua Zona Tampão). Neste caso o controle do território será um papel fundamental do staff do PNP.

79 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Uso inadequado de produtos químicos e tóxicos – No Príncipe, as componentes potencialmente mais perigosas desta corrente de resíduos incluem os resíduos hospitalares e certos produtos agro-químicos (PNADD, 1998), mas o problema ambiental deve-se fundamentalmente à utilização inadequada de pesticidas. O ENPAB (2003) individua as seguintes causas directas de poluição dos rios e ribeiras (as mesmas podem ser indicadas para o contexto do PNP): Lavagem dos utensílios contendo restos de produtos químicos utilizados na agricultura; Lavagem de mosquiteiros impregnados com produtos químicos nos rios e ribeiras; Falta de conhecimento, quanto ao correcto manuseamento de produtos químicos na agricultura; Combate ao paludismo. Os efeitos nefastos deste uso incorrecto são: Perda dos recursos biológicos aquáticos; Poluição dos lençóis freáticos com produtos tóxicos, com consequências negativas sobre a saúde humana e a biodiversidade. De Naurois já em 1984 substanciou uma correlação entre o incremento do uso dos pesticidas nos primeiros anos ’70 e a diminuição dalgumas espécies de aves insectívoras, no Príncipe nomeadamente, Zosterops ficedulinos.

Alguns produtos químicos usados no País foram já proibidos noutras partes do mundo por razões ambientais. Infelizmente, o nível de consciência da população sobre a perigosidade destes químicos é muito baixo.

Caça e comércio de animais – Nesta secção serão discutidos os efeitos negativos da caça para a conservação dos recursos naturais e o alcance dos objectivos de gestão.

Infelizmente, a despeito da sua protecção legal, algumas espécies ameaçadas são mesmo caçadas pela população local. Embora os caçadores têm como objectivo primário animais de escasso valor de conservação como o macaco e o porco de mato, eles não perdem ocasião para caçar espécies de aves protegidas. Fortuitamente, o preço dos cartuchos é muito elevado para a economia local. Este elemento portanto funciona como factor de limitação da actividade, não sendo rentável caçar animais pequenos com arma de fogo. Por outro lado, não é bem conhecida a quantidade de residentes que caçam aves com pressão de ar, necessitando dum investimento muito pequeno. De momento, a perda de efectivos populacionais das espécies mais ameaçadas devido a procura de caça, parece ainda bastante reduzida.

Mais preocupante é o assunto da caça e comércio de animais, nomeadamente do Papagaio Cinzento do Príncipe (Psittacus erithacus), animal que representa a ilha no seu logótipo oficial. Desde 1995 esta espécie foi incluída em Anexo II da CITES, entre as espécies cuja extinção é provável, em caso que não seja limitado o seu comércio. Embora a sua população parece ser ainda abundante no Príncipe, sobretudo na área do PNP, a sua população foi e é sujeita a uma forte pressão devida as capturas efectuadas pelos homens. Os caçadores mais idosos afirmam de desenvolver esta actividade desde quase 40 anos (Fahlman, 2002).

Juste (1996) recenseou 10 pessoas que tinham como actividade exclusiva a captura e venda de papagaios. As autoridades locais na altura estimaram que cerca de 30 pessoas dedicavam-se, pelo menos de forma parcial, a esta actividade. Os colectores trabalham geralmente em pequenos grupos de 2-3 pessoas e organizam campanhas de caça de 5-15 dias na floresta, 3-4 vezes por ano. Nas campanhas são capturados geralmente entre 5 e 30 jovens, que significa 30-90 indivíduos por caçador, para um total de 600-1.000 jovens de papagaio extractos cada ano da população da ilha (até 1.500 indivíduos nos anos mais favoráveis para a biologia deste animal) (Juste, 1996). As estimativas de Harrison & Steele (1989) são ainda maiores (3.000 jovens por ano), enquanto Melo (1998) avalia em 430-550 jovens e 200-300 (ou mais) adultos o nível anual de exploração desta espécie na ilha. A estação mais propícia para as capturas dos jovens é entre Novembro e Março, enquanto para os adultos a estação melhor para a captura é Junho-Agosto. Geralmente os caçadores formam acampamentos na costa meridional da ilha depois de ter chegado lá, ou com pirogas via mar, ou atravessando as áreas florestais do PNP. Geralmente os acampamentos são locados em Praia São Tomé, Praia Carà, Ribeira Porco, Praia Seca. O comportamento ecológico da espécie (por exemplo que cada casais nidifica todos os anos na mesma cavidade das arvores), não facilita a sua conservação face as capturas. Os papagaios capturados são vendidos geralmente a intermediários (geralmente são-tomenses), mais raramente directamente aos turistas no Príncipe, algumas vezes deslocando-se com os animais para São Tomé. Actualmente os animais são vendidos mormente a empresários de S. Tomé em visita a Príncipe (Fahlman, 2002). Para maiores detalhes sobre esta actividade ver Juste (1996).

80 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

Um indício preocupante é fornecido por Dallimer & King (2007), que através dum estudo específico, mostraram claramente como há maiores probabilidades de encontrar Psittacus erithacus longe das estradas (a mesma coisa foi registada para as outras quatro espécies de aves mais ameaçadas). Elemento ainda mais preocupante é fornecido para Jones et al., 1991, que afirmam que a extinção de Agapornis pullaria no Príncipe, pode ser relacionada com este tipo de exploração. Baseando-se nas informações qualitativas recolhidas através da Consulta Publica de 2008, parece que a entidade do fenómeno seja diminuída na última década, devido sobretudo aos maiores controlos sobre o comércio de animais protegidos pelas convenções, a nível internacional. Sendo um pouco diminuída a procura, seria consequentemente diminuída a pressão de captura sobre as populações desta espécie. Sendo que estas considerações baseiam-se em conhecimentos não científicos, podem não ser completamente confiáveis. Olmos & Turshak (2007) acreditam também numa diminuição do comércio relacionada com a redução do tráfego de barcos no porto de S. António.

A nível institucional, o controle (e a efectiva eficácia do controle) parece um assunto em que o Governo Regional tem um papel muito importante. Uma intensa colaboração com os responsáveis do PNP, parece fundamental para conseguir algum sucesso na contenção do fenómeno.

Embora as ilhas Tinhosas não sejam parte do território do PNP, merece também uma menção o problema da exploração dos ninhos das colónias de aves marinhas que lá residem. Como já evidencia o seu nome, que refere-se à presença de guano que caracteriza as suas superfícies, as duas pequenas ilhas, albergam importantes colónias de aves marinhas; em termos quantitativos, as mais importantes do Golfo de Guine. No sítio encontram-se: 9 2.000 casais de Slua leucogaster em cada ilha (Juste, 1994); 9 milhares de casais de Anous stolidus (Juste, 1994); 9 mais de 5.000 casais de Anous minutus e Sterna fuscata (Urban et al., 1986); 9 presença de Sula dactylatra, Sterna anaethetus e Oceanodroma castro(Brown et al., 1982; Gascogine, 1995); Os pescadores (seja do Príncipe que de São Tomé) que visitam as suas águas ricas de peixes, acostumaram-se a colectar ovos e jovens dos ninhos (particularmente na Tinhosa Grande, que és mais acessível) com o objectivo de procurar-se a comida diária. Infelizmente, sobretudo algumas barcas provenientes de São Tomé, aproveitam de forma mais sistemática deste “recurso” e voltam para a ilha maior com bolsas cheias de jovens que vendem no mercado local (Christy, 1995). As ameaças sobre estas colónias parecem graves e incumbentes.

Captura de tartarugas - A mais forte pressão exercitada sobre as populações de tartarugas marinhas na ilha do Príncipe é sem dúvida a dos pescadores. Para eles a captura de um individuo é uma aposta económica considerável. Provavelmente trata-se duma actividade antiga na ilha, que nas últimas décadas ultrapassou o limite da sua sustentabilidade (Juste, 1994). É preciso dizer que baseando-se nas informações recolhidas no âmbito da missão de planeamento de 2008, a situação em mérito a caça ilegal de tartarugas no Príncipe parece muito grave. Possivelmente, no Príncipe são capturadas mais tartarugas que em S. Tomé (Juste, 1994). Todas as praias locadas mais perto dos assentamentos (S. António, Sundi, Évora, etc.) são controladas cada noite pelos residentes, enquanto as outras praias são controladas de forma menos constante. Juste (1994) estimava entre 100 e 150 o número de indivíduos adultos de Eretmochelys imbricata capturadas e abatidas em cada ano; isso sem considerar os jovens capturados (numero ainda mais alto) e as outras espécies que nidificam na ilha.

Recentes investigações e estudos mostraram a existência de um discreto número de tartarugueiros mergulhadores profissionais, responsáveis por 800-1.000 capturas por ano e somente a saturação do mercado local regula a pressão de pesca (Loureiro, pers. comm.). Os mesmos estudos, mostram dados terrivelmente preocupantes sobre o provável colapso das populações do Príncipe: em menos de uma geração para E. imbricata, em uma geração para Lepydochelys olivacea e Dermochelys coriácea em dois gerações no caso de Chelonia mydas.

Considerando que as tartarugas marinhas nidificam em algumas praias no interior do território do PNP e da sua Zona Tampão (Fig. 5) parece inevitável e recomendável que os documentos de planeamento do Parque incluam estratégias e medidas para a mitigação desta grande problemática ambiental.

Acampamentos temporários para exploração de recursos na costa meridional do PNP – Na linha de costa no interior do PNP, há algumas famílias de pescadores/caçadores que realizam acampamentos

81 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE temporais nas praias acessíveis por canoa perto das fontes de água potável (Lapa, Correia e S. Tomé são entre as praias mais utilizadas). As cabanas são construídas com folhas de palmeiras e geralmente não resistem mais de um ano. O fenómeno parece em fase de acrescimento. Os usuários fazem exploração de recursos naturais sem algum controle e voltam para as zonas onde residem com as pirogas carregadas dos frutos da sua actividade (incluindo tartarugas e papagaios).

Os potenciais impactos destes usuários sobre as populações de tartarugas são preocupantes, mas também os outros impactos sobre a fauna endémica mereceriam um melhor conhecimento.

Espécies de predadores introduzidas – Com certeza as espécies de predadores introduzidas na ilha tiveram um impacte negativo sobre as populações de aves endémicas que evoluíram na sua ausência. Como que a maioria dos mamíferos predadores chegaram na ilha há centenas de anos, é possível levantar a hipótese que se houve impactos maiores, até o desaparecimento de espécies, estes sejam de facto terminados e que as populações das espécies de aves que sobreviveram à chegada dos predadores, já atingiram com estes um equilíbrio ecológico que provavelmente consentirá também a sua sobrevivência futura. Mas estas são somente hipóteses de momento não verificáveis e por esta razão, não têm um valor científico.

No inquérito de 1994, Juste (1994a) mostrou como as espécies introduzidas que a população mais achava em fase de acrescimento dos efectivos, a nível nacional, eram os ratos (Rattus spp.) e o macaco (Cercopithecus mona).

Espécies introduzidas invasoras – Um factor ecológico típico das ilhas oceânicas é o da presença abundante e negativa de espécies invasoras. Príncipe não faz excepção por isso, embora de forma geral, o fenómeno seja menos acentuado que em S. Tomé, ou em outras ilhas oceânicas (eg. Cabo Verde).

Actualmente, o fenómeno mais preocupante de mudança dos habitats originais devido às espécies invasoras em S. Tomé, o da expansão da população de quina (Cinchona ledgeriana e C. pubescens), parece não interessar a ilha do Príncipe. Neste sentido é importante que seja activada uma forma de monitorização, de forma de não incorrer nos mesmos problemas ecológicos que verificam-se na ilha maior do arquipélago. Processos ecológicos menos preocupantes, mas que merecem de qualquer forma atenção, são os que envolvem outras espécies consideráveis invasoras, ou colonizadoras como a palma de óleo Elaeis guineensis, o bambu (Bambusa vulgaris), o girassol (Tithonia diversifolia), o maracujá (Passiflora spp.), Leucaena leucocephala, Mimosa polydacthyla, Folha malícia (M. pudica), Desmanthus virgatus, Adenanthera pavonina; enquanto espécies tais como, Pistia stratiotes (Alface-d’água), Acanthus montanus (Cundu-muala-vé), Tithonia diversifolia (Falso-girassol), podem constituir bloqueios para as sucessões vegetais ( ENPAB, 2002; RNEB, 2003).

Um registo tanto recente, quanto preocupante, é o da espécie invasiva de coral Carijoa riisei (Wirtz, 2005), encontrado para a primeira vez no sector oriental do Oceano Atlântico mesmo nas águas costeiras do Príncipe. Esta espécie que encontra-se comummente nas águas das costas brasileiras e Caraíbas, já fez muitos danos ecológicos no arquipélago do Hawai, onde entrou em competição com a espécie nativa de coral negro. Não está certo que a introdução foi devida a factores humanos (transporte naval, etc.).

Erosão costeira - O fenómeno da erosão costeira no Príncipe apresentou-se particularmente grave à equipa de planeamento em nalgumas praias (eg. Praia Évora) visitadas no âmbito da missão no terreno. Uma das causas que origina o aumento da erosão na zona costeira deve-se fundamentalmente à prática de extracção, de forma desordenada e irracional, de areia para construção. De momento não há registos de envolvimento de áreas costeiras do PNP em este uso incompatível, mas é fundamental que permaneça alto o nível de atenção sobre o assunto por parte do staff do PNP.

Falta geral de conhecimento sobre a biodiversidade e os ecossistemas – As informações sobre a maioria dos taxa animais e vegetais são extremamente reduzidos. Analisando a situação em termos de ecossistemas, para alguns deles a situação parece ainda mais complicada (por exemplo muito poço se sabe dos recursos biológicos das águas interiores). A adopção de políticas de gestão sustentável do Parque e dos seus recursos, tendente à sua valorização e promoção, parece complicada por um contexto de grave desconhecimento como o actual.

82 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.2.5 Carta das principais ameaças à Biodiversidade e Conservação da Natureza no Príncipe

A Carta de Ameaças foi elaborada com base na bibliografia consultada (cf. Anexo XIV do Relatório), na articulação com a equipa que desenvolveu a proposta de PDR (Arq. A- Oliveira e Dr.ª T. Prado), na diversa bibliografia disponível do Programa ECOFAC, nos resultados da fase de Discussão Pública do PdMPNP e na observação dos autores, sintetizando este sub-capítulo.

Uma nota especial é devida ao Professor Nuno dos Santos Loureiro, que gentilmente cedeu aos autores diversa informação relativa às tartarugas marinhas de S. Tomé e Príncipe, nomeadamente o seu último artigo científico ainda não publicado, e aceitou rever e apresentar sugestões para este tema.

Pressão Localizaçao Intensidade

Abate ilegal Porto Real Maior Abate ilegal Sundy Maior Abate ilegal Floresta de Azeitona Menor Abate ilegal Terreiro Velho Menor Caça de aves marinhas protegidas Ilhas Tinhosas Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Grande (de Paciência) Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Ribeira Izé Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Mocotó Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Sundy Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Boi Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Macaco Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Praia Grande (Infante) Menor Caça de tartarugas e apanha de ovos Ao largo da costa Norte Maior Caça de tartarugas e apanha de ovos Ao largo da costa Este Maior Capturas de papagaios para comércio São Joaquim Capturas de papagaios para comércio Santo Cristo Capturas de papagaios para comércio Terreiro Velho Capturas de papagaios para comércio Azeitona Capturas de papagaios para comércio Cascaderia Produção descontrolada de carvão Sundy Maior Produção descontrolada de carvão Porto Real Maior Produção descontrolada de carvão Ponta do Sol Maior Produção descontrolada de carvão Aeroporto Maior Produção descontrolada de carvão Santo Cristo Menor

A figura da página seguinte constitui uma cópia reduzida da Carta das Ameaças à Biodiversidade, em 2008/2009, pelo que se reveste de particular importância quer para o planeamento das acções e intervenções da gestão das Áreas Classificadas, como ainda poderá orientar as políticas globais de actuação pelos diferentes sectores do Estado e do Governo Regional, bem como das entidades privadas que se pretendam associar a estas iniciativas.

As ameaças são assinaladas, na Carta, pelos respectivos símbolos ou imagens. A escala não reflecte a real magnitude ou intensidade das ameaças e tem como Base Cartográfica: Levantamento Aerofotogramétrico. 1962. Projecção Mercator (UTM) - Elipsóide Internacional (Hayford).

83 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

84 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.3 Meios de acção

IV.3.1 Desenvolvimento do turismo

IV.3.1.1 O Turismo como factor de viabilização do projecto PNP

A nível do território, os sítios de maior potencialidade para o desenvolvimento do eco-turismo do PNP e sua Zona Tampão apresentam as seguintes limitações:

Reduzida acção dos mecanismos de atracção ao País como destino turístico; Reduzida informação das potencialidades do produto Ecoturismo ou Turismo de Natureza Insuficientes estruturas de recepção (poucos voos internacionais), alojamento e vias de acesso ao Parque; Ausência de alojamentos orientados para o ecoturismo, com serviços associados; Os caminhos agrícolas e/ou de pé posto estão em mau estado, ou são intransitáveis; É quase inexistente uma correcta sinalização ao longo dos caminhos, sítios e outros; A maioria dos potenciais sítios naturais carece de infra-estruturas de informação ambiental (letreiros, painéis, etc.); ¾ Não existe uma inventariação, hierarquização e publicação dos recursos; ¾ Baixo nível de formação do capital humano para a prestação de serviços.

Uma indicação interessante surgiu também no âmbito do diagnóstico participativo. 13,3% das comunidades individuou no “desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com turismo” uma problemática local. Ainda mais interessante é que em todas estas comunidades este problema foi indicado e discutido como prioritário.

O Parque, numa abordagem comparada com outras Áreas Protegidas a nível internacional, apresenta duas características marcantes:

Ausência de factores de perturbação e/ou degradação de magnitude elevada (dificuldades de acesso, orografia acentuada, conjuntura socioeconómica do País) Reduzida demanda por visitantes

É um facto que o sector do Turismo em S. Tomé e Príncipe se encontra em processo de desenvolvimento, havendo fortes apostas no aumento de capacidade turística.

Ora as Áreas Protegidas, oferecendo novos produtos, poderão diversificar essa oferta, potenciando o valor de S. Tomé e Príncipe como destino de eleição, abarcando nichos que poucos lugares no mundo podem proporcionar.

E é com o retorno desta oferta, designadamente por parcerias com operadores turísticos e/ou com a remuneração dos serviços prestados pelas Áreas Protegidas, que estas encontrarão a via da sua sustentabilidade enquanto sistemas de gestão do bem comum nacional, com reflexos globais.

O turismo poderá, a curto-médio prazo, assegurar a sustentabilidade financeira do Parque Natural do Principe, tornando a Conservação da Natureza e Biodiversidade menos susceptível às contingências dos financiamentos internacionais, por via de projectos de apoio ou de cooperação.

IV.3.1.2 Visitação no PNP

Deverá ser elaborado um Programa Nacional de Ecoturismo, aplicável às Áreas Protegidas, com o objectivo de promover os valores e o seu potencial económico, numa perspectiva de desenvolvimento sustentado. Procura-se, neste âmbito, uma especialização da actividade turística, sob a denominação de «ecoturismo ou turismo de natureza», que determine a criação de produtos

85 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE turísticos adequados às características particulares dos Parques, tendo em conta ainda a sua capacidade de carga.

O termo Capacidade de Carga é definido em ecologia como “o número de organismos de uma espécie, podendo ser seres humanos, animais ou plantas, que uma determinada área ou ecossistema pode suportar sem que ocorram alterações irreversíveis na sua capacidade de suporte” (Eblen & Eblen, 1994, in Albuquerque et al., 2007).

Adaptado à gestão das actividades de natureza, este conceito poderá, à partida, assumir dois significados (Albuquerque et al., 2007):

1. Poderá considerar-se que a capacidade de carga é o máximo número de praticantes de uma determinada actividade de ar-livre que poderá utilizar simultaneamente um determinado local. Note-se que esta interpretação poderá ser pertinente para a gestão de recintos desportivos, mas não poderá ser a única a considerar para a gestão de Áreas Protegidas. De facto, a gestão de áreas protegidas tem como objectivo garantir a manutenção das condições naturais que suportam as várias actividades humanas, incluindo o usufruto da paisagem e dos ecossistemas. Por este motivo, as limitações ao uso do território deverão ser aferidas por critérios de conservação da natureza. Assim, não fará sentido avaliar só o número máximo de caminhantes que podem transitar num determinado trilho ou caminho, sem que se tenha previamente avaliado o impacte da construção das necessárias infraestruturas e, no caso de já existirem, o impacto da sua utilização. 2. Alternativamente, poderá considerar-se capacidade de carga como o número de visitantes que poderá utilizar uma determinada área sem provocar alterações irreversíveis nos ecossistemas, garantindo-se, não apenas a continuidade da capacidade de albergar essas actividades, mas também todos os outros tipos de utilização. Esta definição parece ser aquela que melhor se adequará ao espírito da gestão proposta para S. Tomé.

No entanto, uma proposta técnica a elaborar para o PNP deverá utilizar uma metodologia mista que não integre em exclusivo o conceito de Capacidade de Carga. Esta opção justifica-se porque não existe conhecimento técnico suficiente para avaliar, com rigor, a Capacidade de Carga para a generalidade dos locais;

De entre os motivos que impedem a avaliação da Capacidade de Carga salienta-se:

1. A reduzida experiência de condicionamento de actividades de ar-livre;

2. Não existem estudos orientados sobre a resiliência dos vários ecossistemas afectados;

3. Não existe ainda o conhecimento aprofundado sobre a contribuição relativa das actividades humanas de intensidade mais recente (abate de árvores, plantação para vinho de palma, caça furtiva) para a degradação dos ecossistemas do Parque;

4. Em muitos casos, não existe qualquer avaliação quantitativa, minimamente fiável, do número de entradas e permanências no PNP (visitantes, caçadores, acampamentos temporários de pescadores e recoletores da costa ou nos Ilhéus), pelo que não é possível relacionar a intensidade de utilização dos vários ecossistemas com a sua taxa de degradação.

Neste enquadramento a metodologia consistiu em identificar situações que gerassem impactos graves (de magnitude elevada) no património natural, visando evitá-las. Simultaneamente, foram identificados locais onde a prática gera impactos de baixa magnitude, tentando-se canalizar a prática de desportos de natureza para esses locais.

A metodologia de avaliação de impactos implica a avaliação de cinco aspectos, caracterizando as modalidades de visitação e permanência, de forma a identificar as suas componentes que constituem acções geradoras de impactos: 1. Identificação das acções geradoras de impactos e dos impactos associados à prática de actividades de ar livre, desportos de natureza, excursionismo, permanência em acampamentos;

2. Caracterização do património natural, identificando os aspectos da ecologia das espécies que determinam a magnitude (ou intensidade) da sua resposta aos impactos gerados pela presença humana não relacionada com a gestão do Parque;

86 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

3. Identificação do património sensível aos impactos gerados pelas referidas actividades, efectuada pelo cruzamento da informação obtida nas alíneas anteriores;

4. Avaliação da importância dos elementos patrimoniais, no âmbito da conservação da natureza;

5. Avaliar a magnitude dos impactos, por cruzamento dos dados de identificação do património sensível, com a avaliação da importância dos vários elementos patrimoniais, conforme é sintetizado no quadro seguinte.

Sensibilidade aos impactos Avaliação da magnitude de impactos Baixa Elevada

Magnitude baixa. Magnitude baixa. Baixa Actividade a permitir Actividade a permitir Valor do património natural afectado Magnitude baixa. Magnitude elevada. Elevada Actividade a permitir Actividade a não permitir

IV.3.1.3 Identificação das acções geradoras de impactos

Num primeiro nível de análise, a visitação pode comportar a necessidade de algumas intervenções capazes de influenciar as biocenoses. No seguinte esquema, sintetizam-se estas acções, os impactos associados e as actividades de desporto de natureza que incluem as acções descritas.

Caracterização das acções geradoras de impactos

Acção Impacte associado Actividades

Presença de Todas, com diferentes Perturbação directa. pessoas graus de intensidade. Colheita ou Afectação das biocenoses, risco de Todas, se realizadas sem abate de afectação de populações de espécies acompanhamento e espécies protegidas, risco de extinção controlo protegidas Invasão de infestantes e exóticas, Introdução de Todas, se realizadas sem afectação das espécies e comunidades espécies não acompanhamento e autóctones, perda de espécies, redução autóctones controlo do valor biológico do Parque Trânsito de Pisoteio e erosão do solo em locais Todas, com diferentes pessoas declivosos. graus de intensidade. Deposição de Alterações edáficas. Contaminação de Todas detritos. águas subterrâneas. Escalada, desportos de Instalação de Degradação dos habitats natureza, pedestrianismo, equipamentos caça furtiva.

87 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.3.2 Parcerias público-privadas

Para a fase de arranque, e dadas as dificuldades orçamentais e logísticas, deverão ser promovidas parcerias com outras entidades, públicas ou privadas, para a co-gestão de espaços e actividades no PNP. Desta forma, admite-se o estabelecimento, mediante protocolos ou acordos, da consignação dos sectores dos serviços do Parque a entidades terceiras.

Esta abordagem já foi efectuada durante as fases de contacto com as autoridades competentes, com as comunidades e discutida na fase de Consulta Pública e foi, como referido na Parte I, Capítulo I.4, também mencionada no PDR do Príncipe como uma solução de viabilidade para o Parque Natural.

A confirmação institucional foi conferida pela posição favorável de S. Ex.ª o Presidente do Governo Regional à prossecução dos contactos com entidades privadas.

É assim, com o enquadramento atrás referido, que se iniciaram contactos com o maior operador turístico da Ilha do Príncipe, o grupo Sociéte de Conservation et Développement (SCD) ou a sua companhia-irmã Africa’s Eden, no sentido de, com a aprovação dos documentos estruturantes do Parque Natural do Príncipe (Planos de Manejo e de Gestão), se contratualizar mediante protocolo, a gestão conjunta deste Parque.

Neste modelo, tendo sempre presente o escrupuloso cumprimento da Missão, Objectivos e regulamentação establecidos por este Plano de Manejo, poderá ser concessionada a Gestão de parte dos domínios do Parque Natural à SCD (ou Africa’s Eden), mediante uma renda a estabelecer e contrapartidas que poderão incluir apoio logístico, de equipamento e formação, a beneficiar os quadros do PNP que não sejam directamente contratados por aquela entidade empresarial.

O desenvolvimento deste quadro de parceria formata também a proposta de orgânica do Parque Natural do Príncipe, como a seguir se apresenta.

IV.4 Estrutura geral do PNP

A fase de elaboração dos Planos de Manejo e de Gestão permitiu, ao longo dos trabalhos, estabilizar uma proposta de recursos humanos mínima para o arranque e funcionamento do Parque.

A organização administrativa do PNP encontra-se numa fase ainda inicial, sem possibilidade de auto- regulação ou auto-correcção dada a inexistência de experiência anterior no País. Desta forma, este capítulo reveste-se de um formato propositivo, podendo as suas opções ser corrigidas ou adaptadas de acordo com a experiência acumulada durante a sua implementação.

De todo o modo, a viabilização do Parque e sobretudo a eficácia nos primeiros estádios da sua efectiva implementação determinam a necessidade de interditar todo este território a qualquer pessoa que não possua autorização de entrada ou permanência.

Para esse efeito:

Deverá ser iniciada a formação do(s) guarda(s) a disponibilizar pelo apoio do Programa ECOFAC (podendo assumir também a função de Guias) Deverão ser estabelecidos protocolos com as forças da ordem e autoridades para a efectiva protecção dos seus domínios territoriais Deverá ser estabelecida uma taxação para entrada e permanência nos espaços, devidamente preparados e/ou assinalados, do Parque.

Estas são condições para sedimentar a noção de espaço confinado e protegido, dedicado a uma causa do bem comum.

Os serviços do Parque são fortemente condicionados pela disponibilidade de recursos humanos, técnicos, materiais e financeiros, pelo que a viabilidade deste projecto dependerá fortemente do empenho das instituições nacionais e regionais e, sobretudo, da capacidade de estabelecimento das parcerias público-privadas sugeridas neste Plano de Manejo.

88 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

No Plano de Gestão será então desenvolvida a proposta de organigrama que poderá assegurar o cumprimento dos objectivos fixados para o PNP (Fig. 6):

Fig. 6: Esquema da estrutura geral do PNOST

As escolhas de planeamento inerentes os meios humanos e o equipamento necessários para a implementação das actividades do PNOST, serão establecidas cada ano consoante a disponibilidade dos recursos financeiros. As informações inerentes serão portanto incluídas nos PdGs anuais do PNP.

89 PLANO DE MANEJO DO PARQUE NATURAL DO PRÍNCIPE

IV.5 Síntese

Sobre o Zonamento inicial proposto por Javier Juste em 1994, e reiterado por Grépin em 1999, e tendo presente a Lei 7/2006, de criação do Parque Natural Obô do Príncipe, elaborou-se o ordenamento desta Área Protegida, segundo uma metodologia adoptada e apresentada pelos autores.

Ao zonamento agora apresentado subjazem níveis de protecção em função dos valores naturais e da sua sensibilidade e necessidade de conservação. Os níveis de protecção determinam as intervenções e actividades a proibir, condicionar ou autorizar, constituindo então o Regulamento do Plano de Manejo do Parque.

É apresentada uma proposta para a orgânica dos serviços do Parque. Tendo em conta as dificuldades económicas e logísticas que condicionam a actuação do Estado, é desejável a promoção de parcerias para a gestão destes espaços. Estes aspectos serão desenvolvidos no primeiro Plano de Gestão (2009/2010) a elaborar para o Parque Natural.

A difícil acessibilidade ao Parque e a pouca demanda dos seus recursos tornam esta Área Protegida um caso ímpar de potencial sucesso na preservação da Biodiversidade.

Quase duas décadas de levantamentos e estudos dão um razoável nível de conhecimento da Biodiversidade santomense, faltando o legítimo e merecido reconhecimento internacional como um dos mais valiosos santuários de Natureza do mundo.

Com este reconhecimento, é necessária a publicitação da sua designação actual, Parque Natural do Príncipe.

E, ainda com o reconhecimento internacional, haverá que programar e estruturar a capacidade de suporte para a exploração de nichos de visitação que não constituindo “turismo de massas”, são seguramente uma via de captação de utilizadores dos espaços protegidos com elevados níveis de consciência ambiental (que se tem vindo a generalizar) e relativamente independentes das flutuações das conjunturas sociais e económicas mundiais.

O aumento, controlado e ordenado, da visitação e fruição dos espaços consignados no Parque, por via deste Plano de Manejo e Planos anuais de Gestão, trará, certamente, a garantia da sustentabilidade financeira do seu financiamento, tornando-o menos dependente da garantia de programas e projectos de cooperação internacionais.

90

Annexes

91

Anexo I – Espécies endémicas do Golfo da Guiné presentes no território do PNP, e/ou na sua Zona Tampão

D - Distribuição geográfica, E – Endémica, S - São Tomé, P – Príncipe, A – Annobón, B – Bioko

Nome científico Família Nome vernáculo OR D Observações

Tabernaemontana stenosiphon Apocynaceae Ex ESP Polycias quintasii Araliaceae Guêguê fasso, Vela Ex ESP Árvore Impatiens manteroana Balsaminaceae Ex EP Begónia fusialata principensis Begoniaceae EP Begónia loranthoides loranthoides Begoniaceae ESP Ehretia scrobiculata Boraginaceae Ex EP Palisota pedicellata Commelinaceae Ex ESPA Erva vivaz, alta 2 m; fl. brancas Hypolytrum grande Cyperaceae Ex ESP Espécie herbácea Dichapetalum becageanum Dichapetalaceae Melambò J ESP Mapania ferrugínea Cyperaceae EX, LS ESP Erva vivaz, alt 50 cm Árvore, cerca de 30 m; pouco ramificado; fl: Croton stellulifer Euphorbiaceae Cubango, Cobango EX, Fi ESP elípticas Discoclaoxylon occidentale Euphorbiaceae Quina nº 2 Ex, Fi ESP Árvore Erythrococca columnares Euphorbiaceae Ex EP Árvore Grossera elongata Euphorbiaceae Ex EP Arbusto ou pequena árvore, fr. Avermelhados na Maesobotrya glabrata Euphorbiaceae Ex EP maturidade Phyllathus physocarpus Euphorbiaceae Ex EP Árvore Casearia mannii Flacourtiaceae ESP Calvoa grandifolia Melastomataceae Ex ESP Erva alta 1 m; fl. rosáceas Calvoa sinuata Melastomataceae EP Campylospermum vogelii molleri Ochnaceae Pau dumo Ex ESP Arbusto fl. amarelas Ouratea nutans Ochnaceae Ex EP Angraecum doratophyllum Orchidaceae L ESP Brachycorythis basifoliata Orchidaceae L ESP Bulbophyllum mediocre Orchidaceae L ESP Chamaeangis vagans Orchidaceae L EP Diaphanthe papagayi Orchidaceae L EP Orestias stelidostachia Orchidaceae L ESP Polystachya albescens principensis Orchidaceae L EP Polystachya setifera Orchidaceae L EP Trydactyle sp. B Orchidaceae L EP

93

Bertiera pedicellata Rubiaceae Ex ESP Arbusto 30 m; fl. terminais, brancas Craterispermum montanum Rubiaceae Macambrará Ex, Fi ESPA Árvore de 6 m, fl: branco-esverdeadas Ecpoma cauliflorum Rubiaceae J ESP Lasianthus africanus Rubiaceae Ex ESP Árvore, fl coriáceas, flores lilazes, Mussaenda tenuiflora principensis Rubiaceae Ex EP Liana de flores amareladas Psychotria molleri Rubiaceae Pau duno J ESP Psychotria principensis Rubiaceae Café silvestre Ex EP Pequena árvore Arbusto de 6 m. Fl e fr na base do tronco; fl Chytranthus mannii Sapindaceae Pessegueiro Ex ESP branco-cremes Chrysophylllum calophylllum Sapotaceae Ex EP Árvore Chrysophylllum henriquensii Sapotaceae Ex EP Árvore Dicranolepis thomensis Thymelaeaceae J ESP Peddiea thomensis Thymelaeaceae J ESP Celtis pratlii Ulmaceae Quaco branco Ex ESPA Árvore Pilea manniana Urticaceae J ESP Rinorea insularis Violaceae Ex EP Fontes: Ex Exell (1973) ES Espírito Santo (?) Fi Figueiredo (1994, 1995) IF Inst. Floret (1990) Li Liberato (1973) SI Lains & Silva (1958) Wh White (1984) L Lejoly (1995) J Joffroy (2000) RNEB Relatório Nacional do Estado Geral da Biodiversidade de São Tomé e Príncipe (2003)

94

Anexo II – Espécies de plantas incluídas na Lista Vermelha da IUCN e presentes no território do PNP, ou na sua Zona Tampão

Categoria e Trend da população e ameaças Nome científico Família Ano Distribuição e habitat critério conhecidas Vulnerável Endémica do Príncipe. Conhecida uma Grossera elongata Euphorbiaceae 1998 Não há informações recentes D1+2 população importante perto de Neves Ferrieira. Conhecida também para São Tomé e o Camarões. Vulnerável Mapania ferruginea Cyperaceae 2004 No Príncipe encontra-se nas áreas mais altas dos B2ab(iii) relevos (mais de 700m). Em diminuição, mas os dados são Conhecida por STP, Camarões, Bioko, Ghana e Anthocleista Vulnerável insuficientes para ter uma boa Loganiaceae 2004 Nigéria. Encontra-se na floresta de sub- montanha microphylla A3c: B2ab(iii) estimação das populações. O corte (800–1.000m) para madeira é a maior ameaça. Vulnerável Conhecida por STP, Camarões e Nigéria. No Príncipe Em diminuição. O corte para madeira é Allophylus bullatus Sapindaceae 2004 A2c enconta-se nas áreas mais altas dos relevos. a maior ameaça. Erythrococca Vulnerável Endémica do Príncipe onde foi recolhida só uma Euphorbiaceae 1998 Não há dados recentes. columnaris D1+2 vez, na costa (1 arvore). Vulnerável Amplo range altitudinal, mais comum na floresta Embora sejam observados frutos, não há Croton stellulifer Euphorbiaceae 1998 B1+2c, D2 secundária. evidências de regeneração. Aproveitamento excessivo da casca Craterispermum Vulnerável Endémica do Paìs. Comom na floresta primária de Rubiaceae 1998 (ingrediente para bebidas fortificantes e montanum B1+2c, D2 altitude. afrodisíacas) Vulnerável Endémica do Príncipe. Foi recolhida só duas vezes Ehretia scrobiculata Boraginaceae 1998 Não há dados recentes D2 na costa. Endémica do Príncipe. Foi recolhida só duas vezes e Vulnerável Casearia mannii Flacourtiaceae 1998 não são disponíveis informações exactas das D2 localidades. Próximo à Endémica de STP, onde é presente em todas as Homalium henriquesii Flacourtiaceae 1998 A regeneração parece ser boa ameaça áreas de altitude. Próximo à Mais comum entre os cultivos e as plantações Hernandia beninensis Hernandiaceae 1998 ameaça abandonadas Por além do Príncipe encontra-se em Angola, Congo, RDC, Costa de Marfil, Ghana, Guinea, Próximo à Nigéria, Senegal, Sierra Leone, Sudan e Uganda. Regeneração demasiado lenta para facear Irvingia gabonensis Irvingiaceae 1998 ameaça Encontra-se na floresta de chuva, também na a taixa de aproveitamento humano. floresta galeria e semi- decidua. Comum também perto das aldeias. Próximo à Conhecida por STP (3 colectas), Camarões e Bioko. O Peperomia thomeana Piperaceae 2000 ameaça habitat preferido é a floresta de montanha. Próximo à Recolha dos frutos para o consumo e Chytranthus mannii Sapindaceae 1998 Endémica de STP ameaça comercialização Fonte: IUCN, 2008

95

Anexo III – Espécies introduzidas, e/ou cultivadas, na Ilha do Príncipe

Nome científico Família Nome vernáculo OR D Notas

Grathophyllum pictum Acanthaceae Ex STP Ornamental Anacardium occidentale Anacardiaceae Cajueiro ES STP Fruto Mangifera indica Anacardiaceae Mangueira Ex STP Fruto Spondias cytherea Anacardiaceae Cajamangueira ES STP Fruto Spondias mombin Anacardiaceae Guêgue Ex STP Fruto Annona muricata Annonaceae Sapo sapo ES STP Fruto Annona reticulata Annonaceae Fruta conde ES STP Fruto Asimina triloba Annonaceae Ex P Fruto Eryngiun foetidum Apiaceae Selo-sun-zon-maia Ex, ES STP Aromática Ervatamia divaricata Apocynaceae Ex P Ornamental Caladium bicolor Araceae Ex STP Ornamental Colocasia exculenta Araceae Si, Ex STP Tubérculos Xanthosoma saittifolium Araceae Matabala SI, Ex STP Tubérculos Cocos nucifera Arecaceae Coqueiro Ex STP Industrial Acanthospermum hispidum Asteraceae Mosquito dia Ex, ES STP Ornamental Impatiens balsamina Balsaminaceae Balsamina EX, Si STP Ornamental Ananas comosus Bromeliaceae Ananás Ex STP Fruto Caesalpinia pulcherrima Caesalpinaceae Ex STP Ornamental Cassia occidentalis Caesalpinaceae Maioba Ex STP Ornamental Cassia sophera Caesalpinaceae Maioba beni ES STP Ornamental Tamarindus indica Caesalpinaceae Tamanha ES STP Frutos Canna indica Cannaceae Fia salaconta Ex STP Ornamental Carica papaya Caricaceae Mamoeiro ES STP Alimentar Chenopodium ambrosioides Chenopodiaceae Matluço ES STP Aromática Amendoeiro da Terminalia catappa Combretaceae Ex STP Ornamental Índia Rhoeo spathacea Commelinaceae Ex STP Ornamental Zebrina pendula Commelinaceae Ex STP Ornamental Ipomoea alba Convolulaceae Ex STP Ornamental Ipomoea hederifolia Convolulaceae Ex STP Ornamental Bryophyllum pinnatum Crassulaceae Fia damina Ex STP Verdura Dioscorea cayanensis Dioscoreaceae Inhame branco Ex STP Tubérculos Jatropha multifida Euphorbiaceae Glom-congo ES STP Folha Manohot glaziovii Euphorbiaceae Ex STP Tubérculos Ricinus communis Euphorbiaceae Ricino, Mamona Si, Ex STP Industrial Cajanus cajan Fabaceae Fezom congo ES STP Legume Erytrina variegata Fabaceae Eritrina Si, Li STP Ornamental Neomarica caerulea Iridaceae Ex STP Ornamental Cinnamomum zeylanicum Lauraceae Canela Ex STP Aromática Lawsonia inermis Lythraceae Ex P Ornamental Abelmoschus esculentus Malvaceae Quiabo, Iquiabo Ex, ES STP Verdura Hibiscus mutabilis Malvaceae Ex STP Ornamental Hibicuscus rosa-sinensis Malvaceae Ex STP Ornamental Malvastrum Malvaceae Ex STP Ornamental coromandelianum Maranta arundinacea Marantaceae Ex STP Ornamental Melia azedarach Meliaceae Lilas do Cabo Ex STP Industrial

97

Leucaena leucocephala Mimosaceae Leucena Si STP Forageira Mimosa polydacthyla Mimosaceae Fissopé Si STP Forageira Artocarpus altilis Moraceae Fruta pao Ex STP Alimentar Artocarpus heterophylla Moraceae Jaqueira ES STP Alimentar Castiloa elástica Moraceae Ex STP Ornamental Cecropia peltata Moraceae Ex STP Ornamental Musa paradisiaca Musaceae Bana pom ES STP Fruto Musa paradisiaca sapietum Musaceae Quitxiba ES, Ex STP Fruto Eugenia uniflora Pitangueira ES STP Fruto Psidium guajava Myrtaceae Goiabeira Ex STP Fruto Sizygium jambos Myrtaceae Pau-jambre Si STP Fruto Bougainvellaea spectabilis Nyctaginaceae Bungavila Si STP Ornamental Vanilla crenulata Orchidaceae Ex P Industrial Vanilla planifolia Orchidaceae ES STP Industrial Oxalis corymbosa Oxalidaceae Lamera Si, Ex STP Ornamental Passiflora foetida Passifloraceae Maracuja de mato ES STP Fruto Passiflora quadrangularis Passifloraceae Maracuja-grande Si STP Fruto Plantago major Plantaginaceae Ex STP Bambusa vulgaris Poaceae Ex STP Cymbopogon citratus Poaceae Capim do Gabao Ex, ES STP Aromática Saccharum officinarum Poaceae Cana-de-açucar Si, Ex STP Industrial Sorghum drummondii Poaceae Ex P Cereal Zea mays Poaceae Milho Ex, Si STP Cereal Grevillea robusta Proteaceae Grevilia Si STP Ornamental Rubus rosifolius Rosaceae Murango Si, Ex STP Fruto Coffea arabica Rubiaceae Cafezeiro arabico ES, Ex STP Industrial Coffea liberica Rubiaceae Cafeeiro liberico ES, Ex STP Industrial Ixora coccinea Rubiaceae Ex STP Ornamental Citrus aurantifolia Rutaceae Ex STP Fruto Russelia equisetiformis Scrophulariac. Ex STP Folha Capsicum frutescens Solanaceae Malagueta-tuatua Si, ES STP Folha Cestrum laevigatum Solanaceae Pau fede, Coedano Si, ES STP Folha puberulum Lycopersicum esculentum Solanaceae Ex STP Fruto cerasiforme Nicandra physaloides Solanaceae Pupupléla ES STP Fruto Physalis angulata Solanaceae Ex STP Fruto Theobroma cacao Sterculiaceae Cacueiro ES STP Industrial Curcuma dopmestica Zingiberaceae Açafrao da India Ex STP Aromática Hedychium coronarium Zingiberaceae Ex P Aromática Zingiber officinale Zingiberaceae Gigimple ES STP Aromática Fontes: Ex Exell (1973) ES Espírito Santo (?) Fi Figueiredo (1994, 1995) IF Inst. Floret (1990) Li Liberato (1973) SI Lains & Silva (1958) Wh White (1984) L Lejoly (1995)

98

Anexo IV – Espécies medicinais de São Tomé e Príncipe

Nome científico Nome vernáculo Utilização Parte utilizada

Achyranthes aspera Folha ponto Contra hemorragia Folhas Adenia cissampeloides Fissanjá Massagem, doenças venéreas Folhas Alchornea cordifolia Bengue Diarreia Folhas Allium cepa Alho Diarreia, reconstituinte Allophylus africanus Pau-três Afrodisíaco, Paludismo Casca e raízes Allophylus grandifolius Pau-três Dores da barriga Afrodisíaco Casca e raízes Anacadium occidentale Cajueiro Diarreia Casca e raízes Ananas comosus Ananás Abortos Bridelia micrantha Muindo/muindro Massagem Brindelia stenocarpa Moindro Massagem Bryophyllum pinnatum Amina Pancadas (golpes) Bryophyllum pinnatum Folha-da-mina Pancadas (golpes) Folhas Canna indica Fiá-salaconta Sarna Carica papaya Mamoeiro Afrodisíaco, contra lombriga Frutos Cassia ocidentalis Maioba Paludismo, contra sarna Casca e raízes Cedrela odorata Cedrela Paludismo Casca Centella asiatica Olhadató Dores de ouvido Cestrum laevigatum Coedano Contra a sarna Folhas Chenopodium ambrosioides Matruço Diarreia, massagem, pancada (Golpe), lombriga Folhas, caules Cinchona sp. Pau-quina Paludismo, Pancada, Aborto Casca Citrus aurantium Limão Paludismo, contra hemorragia, contra lombriga Frutos verdes Cola acuminata Coleira Problema de olhos e ouvidos Casca Commelina difusa Capim- d’água Problemas nos olhos Caules, folhas Conopharyngia pachysiphon Cata Paludismo Costus giganteus Cana Macaco Infecções renais, massagem Caules Costus giganteus Ucuêtê Reumatismo Caule Craterispermum montanum Macambrará Bebidas fortificantes, afrodisíaco Casca e raízes Croton draconopsis Pau-purga Purgante Casca Datura metel Fiá-pleto Reumatismo Folhas e flores Drymaria cordata Tichile-blanco Diarreia Folhas e caules tenros Elaeis guineensis Palmeira-de-andim Contra sarna Óleo extraído das sementes Elephantopus mollis Fiá-budo Diarreia Casca e raízes Erygium foetidum Selo-sum-zom-maia Dores de barriga Folhas, caules tenros Erytrina sp. Eritrineira Contra hemorragia Casca Fagara macrophylla Marapião Dores de dente, reumatismo Casca

99

Nome científico Nome vernáculo Utilização Parte utilizada

Ficus chlamydocarpa Figo-obata Diarreia Casca Ficus kamerunensis Mussandá Dores de olhos (conjuntivite ?), Pancada (Golpe) Casca, raízes, folhas tenras Harungana madagascariensis Pau-sangue Reconstituinte, Anemia Casca Lagenaria siceraria Chimon-coiá Reumatismo Fruto Lannea welwitschii Mucumblí Rins, Pancada Casca, raízes, folhas tenras Leea tinctoria Cele alé Leonitis nepetifolia Pinincano Dores de barriga Folhas e flores Maesa lanceolata Mutopa Via urinária Folhas e cascas Mammea africana Obata Diarreia Mangifera indica Mangueira Diarreia Raízes e casca Momordica charantia Fiá-sanzom Afrodisíaco, Aborto Folhas Musa paradisiaca Bananeira Diarreia, contra hemorragia, infecções Ocimum gratissimum Micocó Febres, Afrodisiaco Folhas Olea capensis Ipé Afrodisíaco Casca e raízes Pauridiantha floribunda Nicolau Anemia Folhas e cascas Pentaclethra macrophylla Muandí Reumatismo Casca Pepromia pellucida Fiá-alfabaca Doenças venéreas Caules, Folhas e Flores Polyscias quintasii Gueque fasso Psidium guajava Goiabeira Diarreia Raízes, cascas e folhas tenras Psychotria peduncularis Alho d’ obô Infecções Folhas Pycnanthus angolensis Pau-caixão Dores de dente, contra hemorragia Casca Rauvolfia dichotoma Cata-grande Paludismo Casca Prunus africana Mussinica Ricinus communis Mamonó Dores de ouvido Folhas Ruta chapelensis Arruda Contra lombriga Infusão de folhas Santiria trimera Pau-óleo Purgante Casca Sechium edule Pimpenela Diarreia Frutos Solanum macrocarpum Maquequé Reumatismo Steculia Acuminata Cola Irritações guineense Matchanzoche Afrodísiaco Casca e raízes Tabernaemontana stenosiphon Cata d’Obô Terminalia catappa Caroceiro Diarreia Casca Theobroma cacao Cacueiro Paludismo, contra hemorragia, aborto Trema orientalis Pau cabra Folhas Vernonia amygdalina Libo muncambú Paludismo, sarna Folhas tenras Xanthosoma sagittifolium. Matabala Dores de olho Folhas Fontes: de Oliveira, 2002; Juste, 1994a; Inventários ECOFAC.

100

Anexo V – Espécies de mamíferos incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP, e/ou na sua Zona Tampão

Categoria e Trend da Acções de Nome científico Família critério e ano Distribuição e habitat População Ameaças população conservação de avaliação É a espécie de morcego mais Amplamente distribuído caçada da Africa Central e Possui colónias de em Africa equatorial e Ocidental, sobretudo para o Identificação e Próximo a milhares, até tropical. Em consumo alimentar. protecção das colónias Eidolon helvum Pteropodidae ameaça milhões de Espécie adaptável a diminuição Localmente pode ser afectado (como a indicada em 2008 indivíduos. diferentes condições por desflorestação. Nalgumas Praia da Nova).

ambientais. áreas pode ser perseguido como praga. Fonte: IUCN, 2008

101

Anexo VI – Espécies de aves incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP

Categoria Estimação da critério e Nome científico Distribuição população Trend da população Ameaças Acções de conservação ano de total avaliação i. Pesquisas sobre o Em São Tomé a tamanho e distribuição Entre 198 e 1188 Desflorestação histórica; A subespécie ficedulinus é população sofreu duma das populações, Vulnerável indivíduos Privatização da Zosterops endémica do Príncipe onde evidente diminuição no necessidades D1 (incluindo a terra/Desbravamentos ficedulinus se encontra sobretudo no período 1970-90, mas ecológicas. 2008 população de recentes; interior da ilha. agora pode ser ii. Inclusão da espécie São Tomé) considerada estável. entre as protegidas pela legislação nacional. Capturas e comercio ilegal. Próximo à Ampla distribuição na Africa Entre 680.000 e Entre 1994 e 2003 mais de Monitorização das Psittacus erithacus ameaça Equatorial e Tropical 13.000.000 de Em diminuição 359.000 indivíduos selvagens populações 2007 indivíduos foram capturados. Perda do habitat. A subespécie Privatização da Menos de 1.000 terra/Desbravamentos Próximo à Turdus xanthorhynchus é individuos a recentes; ameaça olivaceofuscus endémica do Principe. subespécie do Espécies introduzidas (Rattus 2004 Comum na floresta primária Príncipe rattus e Cercopithecus do centro e do sul da ilha. mona). Desflorestação histórica; Próximo à Espcie endemica do Príncipe. Speirops Privatização da ameaça Comum em todos os habitats leucophoeus terra/Desbravamentos 2000 utilizados. recentes; Fonte: IUCN, 2008

103

Anexo VII – Espécies de tartarugas marinhas incluídas na Lista Vermelha da IUCN nidificantes no PNP e/ou na sua Zona Tampão

Categoria Nome científico Família Distribuição População Trend da população Ameaças e critério Estudos recentes Caça estimam para a Africa Colecta de ovos ocidental cerca de Encontra-se nas águas Degradação dos habitats Em perigo 10.400 nidificações por Dermochelys tropicais, assim como nas marinhos e de nidificação Dermochelyidae critico ano. Se estes números Desconhecido coriacea subpolares, mas nidifica Capturas acidentais A1abd forem confirmados, somente nas praias tropicais. Poluição química das águas trata-se provavelmente oceânicas da população mais Enfermidade (fibropapilloma) importante do mundo Amplamente presente nas Em diminuição águas tropicais, menos (provavelmente houve Em perigo Caça Eretmochelys comum nas águas uma diminuição total Cheloniidae critico Desconhecida Colecta de ovos imbricata subtropicais. Nidifica em mais da população de mais A2bd Comércio das placas de 70 países e é presente nas de 80% nas ultimas 3 águas de mais de 108 países. gerações) Amplamente presente nas Caça águas tropicais, menos Colecta de ovos Chelonia Em Perigo comum nas águas Cheloniidae Desconhecida Em diminuição Degradação dos habitats mydas A2bd subtropicais. Nidifica em mais marinhos e de nidificação de 80 países e é presente nas Capturas acidentais águas de mais de 140 países. Caça Presente nas águas tropicais e Colecta de ovos nalgumas águas subtropicais. Degradação dos habitats Lepidochelys Vulnerável Cheloniidae Nidifica em 60 países e é Desconhecida Em diminuição marinhos e de nidificação olivacea A2bd presente nas águas de mais Capturas acidentais de 80 países. Aquecimento global Enfermidade (fibropapilloma) Fonte: IUCN, 2008

105

Anexo VIII – Espécies de anfíbios incluídas na Lista Vermelha da IUCN presentes no território do PNP, ou na sua Zona Tampão

Categoria Nome e critério e Distribuiçã Trend da Acções de Família População Habitat Ameaças científico ano de o população conservação avaliação Presente na ilha até 700m, mas Vulneravel Endemica Especie Não há ameaças Leptopelis possivelmente até 948m. Ocupa mais Monitorização Arthroleptidae D2 do razoavelmente Estável específicas no palmatus comummente a floresta, mas pode- da populaçao. 2004 Príncipe abundante momento se encontrar também na cidade. Fonte: IUCN, 2008

107

Anexo IX – Lista das espécies da Fauna e Flora do PNP incluídas na CITES

Espécies animais

Espécie Classe Apêndice

Caretta caretta REPTILIA I Pristis pectinata ELASMOBRANCHII I Pristis pristis ELASMOBRANCHII I Chelonia mydas REPTILIA I/r Eretmochelys imbricata REPTILIA I/r Dermochelys coriacea REPTILIA I/r Lepidochelys olivacea REPTILIA I/w Cercopithecus mona MAMMALIA II Milvus migrans AVES II Hippocampus algiricus ACTINOPTERYGII II Hippocampus erectus ACTINOPTERYGII II Stichopathes occidentalis ANTHOZOA II Tanacetipathes spinescens ANTHOZOA II Siderastrea radians ANTHOZOA II Oculina arbuscula ANTHOZOA II Schizoculina fissipara ANTHOZOA II Favia fragum ANTHOZOA II Favia gravida ANTHOZOA II Montastraea annularis ANTHOZOA II Montastraea cavernosa ANTHOZOA II Phyllangia granulata ANTHOZOA II Dendrophyllia ramea ANTHOZOA II Stylaster blatteus HYDROZOA II Stylaster rosaceus HYDROZOA II Stylaster subviolaceus HYDROZOA II Psittacus erithacus AVES II/w Civettictis civetta MAMMALIA III/w Fonte: CITES, 2008

Espécies vegetais

Espécie Classe Apêndice

Brachycorythis basifoliata ORCHIDALES II Bulbophyllum intertextum ORCHIDALES II (=Bulbophyllum quintasii) Chamaeangis vagans ORCHIDALES II Cyathea welwitschii ORCHIDALES II Cyrtorchis henriquesiana ORCHIDALES II Diaphananthe papagayi ORCHIDALES II Eulophidium latifolium ORCHIDALES II Liparis gracilenta ORCHIDALES II Polystachya setifera ORCHIDALES II Fonte: CITES, 2008

109

CAMPANHA DE CONSULTA AUTARQUIAS ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

Anexo X – dados adicionais sobre a campanha de consulta e Discussão Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP

Tabela X.1: Dados e informações gerais sobre as reuniões de Consulta Pública com as comunidades das áreas tampão dos Parques Naturais da RDSTP. Período da Campanha de Consulta 25 Agosto - 24 Pública no terreno com as comunidades Setembro

N° de reuniões

Cantagalo 1 Caué 2 Lembá 3 Lobata 3 Mê-Zochi 6 Príncipe 4 Total 19 N° de comunidades com pelo menos três representantes na reunião Cantagalo 1 Caué 5 Lembá 6 Lobata 5 Mê-Zochi 11 Príncipe 4 Total 32

Tabela X.2: N° médio de participantes por comunidade (com pelo menos três representantes nas reuniões).

STP São Tomé Príncipe

N° médio de participantes por 20,0 17,5 35,3 comunidade

Tabela X.3: População (e % do total) das áreas tampão dos Parques Naturais por Distrito (INESTP, 2006).

Distritos STP São Tomé Príncipe

Cantagalo 223 (2,8%) 223 (2,8%) - Caué 1.953 (24,9%) 1.953 (24,9%) - Lembá 2.810 (35,8%) 2.810 (35,8%) - Lobata 816 (10,4%) 816 (10,4%) - Mê-Zochi 1.543 (19,7%) 1.543 (19,7%) - Príncipe 502 (6,4%) - 502 (6,4%) Total 7.847 (100%) 7.345 (93,6%) 502 (6,4%)

111

Tabela X.4: Comparação entre percentagem (%) da população total residente nas áreas tampão de cada Distrito e percentagem (%) dos participantes nas reuniões comunitárias em cada Distrito. % de população das % de participantes Distritos áreas tampão nas reuniões Cantagalo 2,8 7,1 Caué 24,9 14,1 Lembá 35,8 14,4 Lobata 10,4 12,7 Mê-Zochi 19,7 29,2 Príncipe 6,4 22,4

112 CAMPANHA DE CONSULTA AUTARQUIAS ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

Anexo XI – Ficha do encontro com os funcionários do Governo Regional do Príncipe no âmbito da Campanha de Consulta e Discussão Pública para o Planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP

FICHA DE DISCUSSÃO N° 1 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Baixo rendimento dos cultivos CAUSA Difícil acesso ao crédito agrícola POSSÍVEL SOLUÇÃO Crédito através do Ministério da Agricultura ETAPA 1 Comunidade Organização de uma Associação de produtores de Monte Café activa ETAPA 2 PNOST Apoio institucional para facilitar o acesso ao crédito do Ministério da Agricultura ETAPA 3 Min. da Agricultura Implementar as linhas de crédito para as comunidades OBJECTIVO ESPECIFICO Facilitar o acesso ao crédito agrícola OBJECTIVO Acrescentar os rendimentos dos cultivos OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 2 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Baixo rendimento dos cultivos CAUSA Difícil acesso ao crédito agrícola POSSÍVEL SOLUÇÃO Realização de um sistema de micro-crédito local gerido pela associação local ETAPA 1 Possíveis parceiros para a realização e a gestão de projectos de micro-crédito: FONG Outros parceiros MARAPA ECOFAC Santa Casa da Misericórdia/ Ossobo Eco Social ETAPA 2 Ass. local Implementar e gerir o sistema de micro-crédito. ETAPA 3 PNOST Apoio técnico na realização da actividade OBJECTIVO ESPECIFICO Facilitar o acesso ao crédito agrícola OBJECTIVO Acrescentar os rendimentos dos cultivos OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 3 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA DERIVADA Não há sítios organizados como restaurantes CAUSA DE BASE Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação em gastronomia e higiene alimentar ETAPA 1 PNOST Apoio para envolver os parceiros e encontrar os financiamentos ETAPA 2 Selecção das pessoas Ass. das Mulheres de Facilitação de um espaço para a formação Monte Café Fornecimento de produtos ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Escola Profissional Budo Budo Santa Casa da Misericórdia Outros parceiros Direcção do Turismo ADRA Ministério da Saúde OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

113

FICHA DE DISCUSSÃO N° 4 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação e organização de venda de flores ETAPA 1 Apoio para envolver os parceiros, encontrar os financiamentos e organizar a PNOST formação. ETAPA 2 Selecção das pessoas Associação local Facilitação de um espaço para a formação Fornecimento de produtos ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Aliança Francesa Outros parceiros CIAT Associação Monte Pico OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 5 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo

POSSÍVEL SOLUÇÃO Venda de café em Monte Café ETAPA 1 Apoio para envolver os parceiros, encontrar os financiamentos e organizar a PNOST formação ETAPA 2 Selecção das pessoas Associação local Facilitação de um espaço para a formação Fornecimento de produtos ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Outros parceiros Ministério da Agricultura Santa Casa da Misericórdia OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

114 CAMPANHA DE CONSULTA AUTARQUIAS ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

FICHA DE DISCUSSÃO N° 6 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação em artesanato ETAPA 1 PNOST Apoio para envolver os parceiros e encontrar os financiamentos ETAPA 2 Selecção das pessoas Associação local Facilitação de um espaço para a formação Fornecimento de matéria e ferramentas ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Teia de Arte Outros parceiros Pica Pao Direcção do Turismo Direcção da Juventude OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 7 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação para os guias locais para a visita da Roça ETAPA 1 PNOST Apoio na organização da formação. ETAPA 2 Ass. locais Selecção das pessoas, facilitação de um espaço para a formação ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Associação Monte Pico Outros parceiros Direcção do Turismo Cooperação Espanhola (Deladier, Fernandes) Pessoas locais OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

115

FICHA DE DISCUSSÃO N° 8 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura CAUSA Desconhecimento de como aproveitar das actividades de rendimento relacionadas com o turismo POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação em línguas estrangeiras ETAPA 1 PNOST Apoio no envolvimento dos parceiros ETAPA 2 Ass. locais Selecção das pessoas, facilitação de um espaço para a formação ETAPA 3 Possíveis parceiros para executar a formação: Aliança Francesa Outros parceiros Cooperação Espanhola Embaixada Americana OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com o turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

116 CAMPANHA DE CONSULTA AUTARQUIAS ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

N° PROGRESSIVO DA REUNIÃO 21 DISTRITO Príncipe COMUNIDADES NA ZONA TAMPÃO Porto Real, Bela Vista, Terreno Velho, São Joaquim DATA 19 Setembro 2008 SEDE Palácio do Governo Regional, Santo António PARTICIPANTES CONSULTOR ECOFAC Dario Cesarini ASSISTENTE Lavinia Chiara Tagliabue DIRECTOR DO PN OBÔ Daniel Ramos ECOFAC - DIRECÇÃO-GERAL DO AMBIENTE Salvador Sousa Pontes, Osório Umbelina (Ponto Focal do Ambiente) DIRECÇÃO DE FLORESTAS - PESSOAS DA/S COMUNIDADE/S 16 , dos quais (100% M 0% F) UNACOOP – Associação Pequenos Agricultores de Príncipe ONGS REPRESENTADAS Associação Djuntamo Associação Pescadores de Príncipe REPRESENTANTES DA/S COMUNIDADE/S Carlos Gomes (Secretario Regional) PARA A DISCUSSÃO FINAL Dean Martin Santana (Delegação da Direcção de Florestas) Damião Matos (Direcção-Geral Agricultura e Pesca) Joaquim A.V. Carvalho (Delegado Imigração e Fronteira) Nilo F. Viana (Director de Trabalho) Carlos Cassandra (Director da Segurança Social) José Manuel Vaz Pereira (Responsável Alfandega) Carlos Bernardo Binha (Técnico, Direcção-geral Agricultura) Veríssimo da M. Sauros (Técnico ENASA, sindacato) Sandino Ramos (Técnico da Cultura) Alberto Leal (Técnico da Hidrologia, Sindicato STE) José Miranda (Presidente UNACOOP – Associação Pequenos Agricultores de Príncipe) Salvados Tébus (Técnico EMAE, Água e electricidade) António Pinheiro (Pescador, Associação Pescadores) Francisco da Pinha da Graça (Responsável secção Costura, Associação Djuntamo) Siciliano Dos Prazeres Bom Jesus (Guia Turística, Direcção de Florestas) CARACTERIZAÇÃO DO DISTRITO CAPITAL Santo António (2.215 habitantes) SUPERFÍCIE 142 Km2 POPULAÇÃO TOTAL 5.966 habitantes (3.087 ♂; 2.879 ♀) DENSIDADE POPULACIONAL 47,4 hab/km2 ÁREA CULTIVADA 4.837 ha CLIMA A Região Autónoma do Príncipe, apresenta três zonas climáticas, a saber: Zona Super-húmida, caracterizada pelo nulo ou reduzido deficit de água, situa-se em todo o Sul da ilha e de forma geral coincide com a área do PNP; Zona Húmida com moderada deficiência de água de Junho a Agosto e com temperaturas relativamente baixas e situa-se na orla Central do Príncipe; Zonas Sub-húmida que localiza-se na parte Norte do Príncipe.

PRODUÇÕES DO DISTRITO A economia da região assenta-se no sector primário, nomeadamente na produção de copra, cacau, banana e citrinos assim como a pesca. A agricultura é sem dúvidas a principal actividade económica. Os principais sistemas agrários presentes são: sistema agro-florestal e sistema de culturas anuais. No sistema agro-florestal destacam-se: coqueiral, coqueiral em consociação com o cacauzal; cacauzal, cacauzal em consociação com bananal e com matabala; É de se destacar, também a existência de uma área de palmar em S. Joaquim.

117

INFRA-ESTRUTURAS MAIORES Infra-estruturas económicas: de forma geral a maioria das pistas rurais desta Região encontra-se em muito mau estado de conservação. Existem dez secadores, sendo nove de lousa em razoável estado e um mecânico em mau estado de conservação. O secador eléctrico encontra-se localizado na empresa Sundy e os de lousa também em Sundy, Porto Real, Belo Monte, Pingaté, Malaca, Nova Cuba, Ponta do Sol, Gaspar e Paciência. Infra-estruturas sociais: as casas, os postos de saúde, as creches, as escolas e os sistemas de abastecimento de água encontram-se na sua maioria em mau estado de conservação. ESTRUTURA EMPRESARIAL A estrutura fundiária assenta-se na existência de uma grande empresas estatal, Empresa estatal Agro-Pecuária Sundy, cobrindo uma área de 861 ha, assim como cerca de trinta médias empresas agrícolas que ocupam uma área aproximada de 1.200 ha. As principais produções destas empresas agrícolas são: a copra, o cacau, a banana, a fruta-pão, a mandioca e a matabala e, na pecuária o gado suíno. Fazem ainda parte da referida estrutura, as pequenas parcelas, distribuídas no quadro da privatização agrícola, e glebas que, em conjunto ocupam uma área de pouco mais de 1.000 ha. SÍNTESE DA DISCUSSÃO PROBLEMAS E CAUSAS DEBATIDAS NO Ver os diagramas 1 e 2 ÂMBITO DA REUNIÃO AVALIAÇÃO DA DISCUSSÃO PELOS SATISFEITOS 66,7% (8 pessoas) PARTICIPANTES DA COMUNIDADE NEUTRAIS 33,3% (4 pessoas) NÃO SATISFEITOS 0% (0 pessoas) OBSERVAÇÕES De forma geral, a abordagem de colaboração foi boa, mas a discussão foi afectada por particularismos individuais que levaram a uma importante perda de tempo. Esta perda de tempo, traduziu-se na impossibilidade de desenvolver bem a parte final da discussão devido à falta de tempo. Foi possível realizar uma boa “arvore dos problemas” (primeira parte da discussão), mas não houve tempo suficiente para uma boa discussão das soluções e das estratégias de acção (segunda parte da discussão). Devido a todo isso, a reunião de trabalho com os representantes do Governo Autónomo de Príncipe pode-se considerar, entre todas as reuniões com as Autarquias envolvidas na Consulta Pública, a reunião em que menos cumpriram-se os objectivos de trabalho prefixados.

118 CAMPANHA DE CONSULTA AUTARQUIAS ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

da administração local da administração discussão com o pessoal discussão com e suas causas individualizadas no âmbito da no âmbito e suas causas individualizadas entais no território do Distrito de do Distrito Pagué entais no território : Diagrama de fluxo das problemáticas ambi das problemáticas de fluxo : Diagrama Diagramma 1

119

alizadas no âmbito da discussão com o da no âmbito alizadas tais no território do Distrito de Pagué individu Pagué Distrito de do no território tais em resposta às causas das problemáticas ambien problemáticas das causas às resposta em : Possíveis estratégias de acção acção de Possíveis estratégias : Diagramma 2 pessoal da administração local local pessoal da administração

120 CAMPANHA DE CONSULTA COMINUDADES ILHA DO PRÍNCIPE 1 PÚBLICA

Anexo XII – Fichas dos encontros com as comunidades do Príncipe no âmbito da Campanha de Consulta e Discussão Pública para o planeamento das Áreas Protegidas da RDSTP

N° PROGRESSIVO DA REUNIÃO 17 COMUNIDADE/S Porto Real DISTRITO Região Autónoma do Príncipe DATA 15 Setembro 2008 SEDE Centro recreativo de Porto Real PARTICIPANTES CONSULTOR ECOFAC Dario Cesarini ASSISTENTE Lavinia Chiara Tagliabue DIRECTOR DO PNP Daniel Ramos DIRECÇÃO-GERAL DO AMBIENTE Salvador Sousa Pontes DIR. DE FLORESTAS - PESSOAS DA/S COMUNIDADE/S 52 dos quais 31 ♂ (59,6%) e 21 ♀ (40,4%) Associação Moradores de Porto Real Associação da Saúde Associação das Mulheres de Príncipe ONGS REPRESENTADAS ADRA ARPA Associação das Mulheres de Porto Real (Conceição Pereira Fernandes, tel: 943167) CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE POPULAÇÃO TOTAL Porto Real: 239 moradores dos quais 125 ♂ e 114 ♀ TIPOLOGIA DE POSSE DA TERRA Maioria de pequenos agricultores em consequência da privatização da terra pela Reforma Fundiária. PRESENCIA DE EMPRESAS Não PRINCIPAIS ACTIVIDADES PRODUTIVAS Agricultura (banana, mandioca, matabala), cacau, café, fruta-pão, coco, pecuária, vinho de palma, produção de carvão. INFRA-ESTRUTURAS ESPECÍFICAS Escola primária, posto de saúde em construção, creche, pequenas lojas de comércio, centro recreativo. ACTIVIDADES E USOS RELACIONADOS Corte de madeira na zona tampão para lenha, carvão e construção COM O TERRITÓRIO E OS RECURSOS DO Caça de macacos PNP PRESENCIA DE ÁREAS FLORESTAIS DO Alto Nazaré e Alto Camarão são as áreas para executar o corte de madeira com autorização. ESTADO SÍNTESE DA DISCUSSÃO PROBLEMAS E CAUSAS DEBATIDAS NO 1. Poucas diferentes fontes de rendimento 2a. Danificação da produção por animais criados soltos ÂMBITO DA REUNIÃO 2b. Roubo de animais e produtos agrícolas 2c. Mau saneamento devido aos animais criados soltos OUTROS PROBLEMAS E CAUSAS Dificuldade de comercialização por causa do mercado limitado e pequeno IDENTIFICADAS PELO DIAGNOSTICO Má utilização da terra distribuída para reforma fundiária ANTERIOR MAS DA AMP MAS NÃO As casas estão desarrumadas DEBATIDAS Escassez e má qualidade da água Acesso limitado a energia Mau saneamento do meio por causa do lixo Má condições para aproveitamento dos turistas A escola está distante da comunidade ABORDAGEM DA POPULAÇÃO, CLIMA DA O abordagem a colaboração foi bom, mas a participação real ficou reduzida DISCUSSÃO E EVENTUAIS à minoria das pessoas (cerca de 1/3 do total indicado na ficha). Este foi devido CONSTRANGIMENTOS sobretudo à conformação da sala e a falta dum número suficiente de cadeiras. AVALIAÇÃO DA DISCUSSÃO PELOS SATISFEITOS 88,9% (16 pessoas) PARTICIPANTES DA COMUNIDADE NEUTRAIS 11,1% (2 pessoas) NÃO SATISFEITOS 0% (0 pessoas)

121

FICHA DE DISCUSSÃO N° 1 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA (elemento adicionado (Dificuldade em aproveitar fontes de rendimento diferentes da agricultura) na preparação do documento) CAUSA DERIVADA Poucas diferentes fontes de rendimento CAUSA DE BASE (elemento (Poucas possibilidades de receber formação profissional) (reformulação de: adicionado na preparação do Formação sobre a criação com números limitados) documento) POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação na costura ETAPA 1 Associação das Organizar um grupo de interesse no âmbito da Associação das Mulheres do Mulheres de Porto Real Príncipe. ETAPA 2 PNP Trabalho para encontrar parceiros para realizar a formação ETAPA 3 Potenciais parceiros na execução das actividades: Governo do Príncipe Associação das Mulheres de Príncipe Outros parceiros Associação dos Jovens ADRA Associação dos Moradores Associação Djunta mó ETAPA 4 Associação das Fornecer o espaço para a formação Mulheres de Porto Real Participar a formação OBJECTIVO ESPECIFICO Encontrar novas fontes de rendimento OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 2 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares1/Insalubridade do meio rural2 PROBLEMA Baixos rendimento dos cultivos1/ Degradação das condições gerais da aldeia2 CAUSA Roubo de animais e produtos agrícolas1 Danificação da produção por animais criados soltos1 Mau saneamento devido aos animais criados soltos2 POSSÍVEL SOLUÇÃO Construir pocilga colectiva dividida ETAPA 1 Associação de Preparação do projecto para a obra. moradores de Porto Real ETAPA 2 Trabalho para encontrar parceiros para realizar pocilga colectiva PNP

ETAPA 3 Associação de Mão-de-obra e materiais brutos (pedra, madeira, etc.) para a construção moradores de Porto Real ETAPA 4 Possíveis parceiros para o apoio financeiro e a execução da obra: Direcção Geral da Pecuária Outros parceiros Governo Regional do Príncipe Grupo Gibela (empresa privada) ETAPA 5 Associação de Manutenção da pocilga e controlo dos animais. moradores de Porto Real OBJECTIVO ESPECIFICO Redução dos roubos de animais e produtos agrícolas1 Aumento da produção devido à diminuição da danificação por animais soltos1 Melhore saneamento do meio2 OBJECTIVO Acrescentar o rendimentos dos cultivos1/Melhorar as condições gerais da aldeia2 OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares1/Preservação do ambiente2

122 CAMPANHA DE CONSULTA COMUNIDADES ILHA DO PRÍNCIPE 2 PÚBLICA

N° PROGRESSIVO DA REUNIÃO 18 COMUNIDADE/S Bela Vista DISTRITO Região Autónoma do Príncipe DATA 16 Setembro 2008 SEDE Ruínas do Hospital de Bela Vista PARTICIPANTES CONSULTOR ECOFAC Dario Cesarini ASSISTENTE Lavinia Chiara Tagliabue DIRECTOR DO PNP Daniel Ramos DIRECÇÃO-GERAL DO AMBIENTE Salvador Sousa Pontes, Osório Umbelina DIR. DE FLORESTAS - PESSOAS DA/S COMUNIDADE/S 20 dos quais 11 ♂ (55%) e 9 ♀ (45%) Associação Cooperativa dos Membros de Bela Vista.(Presidente Ildo ONGS REPRESENTADAS Oliveira) Associação Ponte Barreto CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE POPULAÇÃO TOTAL Bela Vista: 84 moradores dos quais 47 ♂ e 37 ♀ TIPOLOGIA DE POSSE DA TERRA Maioria de pequenos agricultores em consequência da privatização da terra pela Reforma Fundiária. PRESENCIA DE EMPRESAS Não PRINCIPAIS ACTIVIDADES PRODUTIVAS Agricultura (banana, café, cacau), pecuária familiar.

INFRA-ESTRUTURAS ESPECIFICAS Nenhuma ACTIVIDADES E USOS RELACIONADOS Corte de madeira para lenha na zona tampão. COM O TERRITÓRIO E OS RECURSOS DO PNP PRESENCIA DE ÁREAS FLORESTAIS DO Não ESTADO SÍNTESE DA DISCUSSÃO PROBLEMAS E CAUSAS DEBATIDAS NO 1. Má condições higiénicas ÂMBITO DA REUNIÃO 2. Péssima qualidade da água na comunidade OUTROS PROBLEMAS E CAUSAS Má utilização da terra distribuída para reforma fundiária IDENTIFICADAS PELO DIAGNOSTICO Roubo de animais e produtos agrícolas ANTERIOR MAS DA AMP MAS NÃO Danificação da produção por macacos DEBATIDAS As mães devem cuidar dos filhos e tem reduzidas possibilidades de trabalhar A comunidade não pode aproveitar de conforto electrodoméstico Dificuldade de transporte dos doentes para hospital ABORDAGEM DA POPULAÇÃO, CLIMA DA Abordagem de plena colaboração, mas o número reduzido de pessoas e as DISCUSSÃO E EVENTUAIS características de forte isolamento da comunidade, não favorecem as suas CONSTRANGIMENTOS possibilidades de expressão e as pessoas tiveram a tendência de participar pouco na discussão. AVALIAÇÃO DA DISCUSSÃO PELOS SATISFEITOS 100% (16 pessoas) PARTICIPANTES DA COMUNIDADE NEUTRAIS 0% (0 pessoas) NÃO SATISFEITOS 0% (0 pessoas) OBSERVAÇÕES A comunidade apresenta-se como uma das mais pobres e em condições de vida mais degradadas de toda a campanha de consulta públicanas duas ilhas. Inevitavelmente os problemas enfrentados são relacionados com as necessidades básicas da água potável e das precárias condições higiénicas do assentamento.

123

FICHA DE DISCUSSÃO N° 1 MACRO PROBLEMA Insalubridade do meio rural PROBLEMA Degradação das condições gerais dos assentamentos CAUSA DERIVADA Má condições higiénicas do assentamento CAUSA DE BASE As pessoas fazem as suas necessidades ao ar livre Lixo deitado em qualquer lugar POSSÍVEL SOLUÇÃO Construção de latrina pública ETAPA 1 Reorganização da associação existente ou formação de uma nova associação Associação local de moradores. Elaborar uma proposta de projecto para latrinas (com apoio de um parceiro). ETAPA 2 PNP Encontrar parceiros para construção de latrinas ETAPA 3 A Associação das Mulheres de Príncipe já tem um projecto para a construção de latrinas públicas. Outros potenciais parceiros para fornecer apoio financeiro e executar a obra: Outros parceiros Alisei Governo Regional Projecto Saúde para Todos Grupo Gibela. ETAPA 4 Fornecer mão-de-obra e matéria bruta para construção da latrina. Fazer Associação local manutenção e limpeza das latrinas. OBJECTIVO ESPECIFICO Melhorar as condições higiénicas do assentamento OBJECTIVO Melhoramento das condições gerais dos assentamentos OBJECTIVO GERAL Preservação do ambiente

FICHA DE DISCUSSÃO N° 2 MACRO PROBLEMA Insalubridade do meio rural PROBLEMA Degradação das condições gerais dos assentamentos CAUSA DERIVADA Péssima qualidade da água na comunidade CAUSA DE BASE Inadequado sistema de canalização POSSÍVEL SOLUÇÃO Ligar a comunidade com a rede pública de Santo António ETAPA 1 Associação local Fazer um pedido ao Governo Regional ETAPA 2 PNP Apoiar no processo ETAPA 3 Potenciais parceiros para fornecer apoio a nível do projecto e da realização/execução: Potenciais parceiros Governo Regional EMAE Projecto Saúde para Todos ETAPA 4 Associação local Fornecer mão-de-obra nos trabalhos da canalização OBJECTIVO ESPECIFICO Melhorar a qualidade da água na comunidade OBJECTIVO Melhorar as condições gerais dos assentamentos OBJECTIVO GERAL Preservação do ambiente

124 CAMPANHA DE CONSULTA COMUNIDADES ILHA DO PRÍNCIPE 3 PÚBLICA

N° PROGRESSIVO DA REUNIÃO 19 COMUNIDADE/S Terreiro Velho DISTRITO Região Autónoma do Príncipe DATA 17 Setembro 2008 SEDE Centro recreativo de Terreiro Velho PARTICIPANTES CONSULTOR ECOFAC Dario Cesarini ASSISTENTE Lavinia Chiara Tagliabue DIRECTOR DO PNP Daniel Ramos DIRECÇÃO-GERAL DO AMBIENTE Salvador Sousa Pontes, Osório Umbelina DIR. DE FLORESTAS - PESSOAS DA/S COMUNIDADE/S 34 dos quais 23 ♂ (67,7%) e 11 ♀ (32,3%) ONGS REPRESENTADAS Associação Terreiro Velho (Moradores e pequenos agricultores) CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE POPULAÇÃO TOTAL Terreiro Velho: 69 moradores dos quais 42 ♂ e 27 ♀ TIPOLOGIA DE POSSE DA TERRA Há pequenos agricultores em consequência da privatização da terra pela Reforma Fundiária, mas também assalariados duma média empresa de produção de cacau a capital estrangeiro. PRESENCIA DE EMPRESAS Presencia de uma média empresa de propriedade estrangeira. PRINCIPAIS ACTIVIDADES PRODUTIVAS A agricultura é particularmente diversificada pelo contexto são-tomense: mandioca, banana comercial, cacau, café, vinho de palma e pecuária familiar. INFRA-ESTRUTURAS ESPECIFICAS Terreiro Velho: creche, centro recreativo; fábrica de transformação de mandioca. Nova Estrela: escola primária, posto de saúde. ACTIVIDADES E USOS RELACIONADOS Corte de madeira na zona tampão para construção e canoas COM O TERRITÓRIO E OS RECURSOS DO Pesca PNP Caça de tartarugas PRESENCIA DE ÁREAS FLORESTAIS DO Não ESTADO SÍNTESE DA DISCUSSÃO PROBLEMAS E CAUSAS DEBATIDAS NO 1. Dificuldade de transformação dos produtos agrícolas (Fabrica para produção de farinha de mandioca sem meios de transformação mecânica) ÂMBITO DA REUNIÃO 2. As condições das aldeias não são saudáveis (Degradação das casas existentes, Mau saneamento do médio por má condições higiénicas, Mau saneamento do meio devido ao lixo) OUTROS PROBLEMAS E CAUSAS Má utilização da terra distribuída pela reforma fundiária Dificuldade de escoar o produto ao mercado IDENTIFICADAS PELO DIAGNOSTICO Dificuldade de abastecimento de ferramenta agrícola no mercado de Príncipe ANTERIOR MAS DA AMP MAS NÃO Não há disponibilidade da madeira para a construção (e a produção de DEBATIDAS carvão) ABORDAGEM DA POPULAÇÃO, CLIMA DA A reunião foi boa mas só conseguiu participar activamente um número DISCUSSÃO E EVENTUAIS reduzido de pessoas. A participação das mulheres foi apenas na primeira parte CONSTRANGIMENTOS de encontro. AVALIAÇÃO DA DISCUSSÃO PELOS SATISFEITOS 95,5% (21 pessoas) PARTICIPANTES DA COMUNIDADE NEUTRAIS 4,5% (1 pessoas) NÃO SATISFEITOS 0% (0 pessoas)

125

FICHA DE DISCUSSÃO N° 1 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Baixo rendimento dos cultivos CAUSA DERIVADA Dificuldade de transformação dos produtos agrícolas CAUSA DE BASE Fábrica para produção de farinha de mandioca sem médios de transformação mecânica POSSÍVEL SOLUÇÃO Recuperação da fábrica comunitária para transformação mecânica do produto ETAPA 1 A associação dona da fábrica fornece a mão-de-obra para recuperação da Associação Terreiro fábrica. Velho A associação local com apoio de parceiros elabora uma proposta de projecto. ETAPA 2 PNP Trabalho para encontrar parceiros para a recuperação das máquinas ETAPA 3 Potenciais parceiros para o apoio financeiro e a realização da obra de reestruturação da fábrica: Governo Regional Outros parceiros Grupo Gibela Alisei ADRA OBJECTIVO ESPECIFICO Facilitar a transformação de produtos agrícolas OBJECTIVO Acrescentar o rendimento dos cultivos OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

FICHA DE DISCUSSÃO N° 2 MACRO PROBLEMA Degradação do ambiente PROBLEMA Não há disponibilidade da madeira para a construção e produção de carvão CAUSA Corte de madeira para a construção e produção de carvão POSSÍVEL SOLUÇÃO Replantação para enfrentar o corte de madeira OBJECTIVO ESPECIFICO OBJECTIVO Aumento dos recursos naturais exploradas OBJECTIVO GERAL Preservação do ambiente ANOTAÇÕES Foi levantada só uma solução ao problema do corte de madeira mas ao final não foi escolhido este problema como prioritário e não foi debatido mais especificamente. Contudo a proposta foi avaliada pelos presentes e registada no “muro”.

126 CAMPANHA DE CONSULTA COMUNIDADES ILHA DO PRÍNCIPE 3 PÚBLICA

FICHA DE DISCUSSÃO N° 3 MACRO PROBLEMA Insalubridade do meio rural PROBLEMA As condições das aldeias não são saudáveis CAUSA DERIVADA Latrina colectiva estragada CAUSA DE BASE A latrina existente não tem manutenção A latrina fica longe das casas particulares POSSÍVEL SOLUÇÃO Recuperação da fossa e colocação da pia Definir um sistema de manutenção da latrina colectiva Construção de latrinas familiares para as pessoas que moram longe da latrina colectiva ETAPA 1 Associação Terreiro Elaborar um projecto de recuperação da latrina Velho ETAPA 2 PNP Apoio para encontrar parceiros para elaborar o projecto de recuperação da latrina ETAPA 3 Potenciais parceiros para fornecer apoio financeiro e executar a obra: Governo Regional Projecto Saúde Para Todos Outros parceiros EMAE AMP ADRA ETAPA 4 Associação Terreiro Mão-de-obra na realização dos trabalhos para a latrina. Velho Manutenção da latrina. OBJECTIVO ESPECIFICO Condições da aldeia mais saudáveis

OBJECTIVO Melhorar as condições gerais dos assentamentos

OBJECTIVO GERAL Preservação do ambiente

127

N° PROGRESSIVO DA REUNIÃO 20 COMUNIDADE/S São Joaquim DISTRITO Região Autónoma do Príncipe DATA 18 Setembro 2008 SEDE Creche PARTICIPANTES CONSULTOR ECOFAC Dario Cesarini ASSISTENTE Lavinia Chiara Tagliabue DIRECTOR DO PNP Daniel Ramos DIRECÇÃO-GERAL DO AMBIENTE Salvador Sousa Pontes, Osório Umbelina DIR. DE FLORESTAS - PESSOAS DA/S COMUNIDADE/S 35 dos quais 18 ♂ (51,4% e 17 ♀ (48,6%) Associação Moradores de São Joaquim ONGS REPRESENTADAS AMP - Associação das Mulheres de Príncipe (secção de São Joaquim) Zaitona ADIL CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE POPULAÇÃO TOTAL São Joaquim: 110 moradores dos quais 59 ♂ e 51 ♀ TIPOLOGIA DE POSSE DA TERRA Privatização da terra pela reforma fundiária; média empresa de horticultura, aceite de palma, pimenta (Jaime Vieira); média empresa de pecuária e que pretende desenvolver actividades turísticas no futuro (Nestor Umbelina). PRESENCIA DE EMPRESAS Presencia de média empresa a capital nacional. PRINCIPAIS ACTIVIDADES PRODUTIVAS Horticultura, pecuária familiar, vinho de palma, aceite de palma, agricultura (banana, mata bala), cacau, pimenta, baunilha. INFRA-ESTRUTURAS ESPECIFICAS Escola primária, posto de saúde. ACTIVIDADES E USOS RELACIONADOS Corte de madeira na zona tampão para construção de casas e canoas COM O TERRITÓRIO E OS RECURSOS DO Pesca costeira PNP Caça de tartarugas Caça de macacos PRESENCIA DE ÁREAS FLORESTAIS DO Há áreas na zona tampão onde se podem executar cortes de madeira com ESTADO autorização. SÍNTESE DA DISCUSSÃO PROBLEMAS E CAUSAS DEBATIDAS NO 1. Caça de tartarugas 2. Poucas alternativas de rendimento ÂMBITO DA REUNIÃO OUTROS PROBLEMAS E CAUSAS Danificação da produção agrícola por animais criados soltos Degradação das habitações IDENTIFICADAS PELO DIAGNOSTICO Má condições higiénicas ANTERIOR MAS DA AMP MAS NÃO DEBATIDAS ABORDAGEM DA POPULAÇÃO, CLIMA DA Boa abordagem à colaboração, embora as pessoas mais participativas fossem DISCUSSÃO E EVENTUAIS só uma parte relativamente reduzida dos participantes na reunião. CONSTRANGIMENTOS AVALIAÇÃO DA DISCUSSÃO PELOS SATISFEITOS 100% (29 pessoas) PARTICIPANTES DA COMUNIDADE NEUTRAIS 0% (0 pessoas) NÃO SATISFEITOS 0% (0 pessoas)

128 CAMPANHA DE CONSULTA COMUNIDADES ILHA DO PRÍNCIPE 3 PÚBLICA

FICHA DE DISCUSSÃO N° 1 MACRO PROBLEMA Degradação do ambiente PROBLEMA Diminuição dos recursos naturais explorados CAUSA DERIVADA Caça de tartarugas CAUSA DE BASE POSSÍVEL SOLUÇÃO Actividades para a protecção das tartarugas e ovos OBJECTIVO ESPECIFICO OBJECTIVO Aumento dos recursos naturais exploradas OBJECTIVO GERAL Preservação do ambiente ANOTAÇÕES Foi levantada só esta proposta de acção para o problema da caça das tartarugas mas no final não foi escolhido este problema como prioritário. Contudo, a proposta foi aprovada pelos participantes e fixada no “muro”. A zona de São Joaquim tem acesso a uma das praias onde se verifica a desova de tartarugas. O objectivo é que os caçadores de tartarugas sejam reconvertidos em actividades de conservação como alternativa a sua ocupação actual (controlo e eco-turismo).

FICHA DE DISCUSSÃO N° 2 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade no aproveitar de fontes de rendimento para alem da agricultura CAUSA DERIVADA Poucas alternativas de rendimento CAUSA DE BASE A comunidade não sabe como aproveitar do turismo e não consegue explorar este potencial recurso económico POSSÍVEL SOLUÇÃO Formação em artesanato ETAPA 1 Grupo local da Ass. Fazer uma proposta de projecto para a formação. das Mulheres de Disponibilizar lugares para a formação. Príncipe, Ass. de Moradores de São Joaquim ETAPA 2 Trabalho para encontrar parceiros no financiamento e na execução da PNP formação ETAPA 3 Potenciais parceiros no financiamento e na execução da formação: Governo Regional ECOFAC RAPAC Outros parceiros DGA Associação Mulheres de Príncipe AJP Pica Pau ETAPA 4 Associação de Realizar uma pequena loja para a venda de produtos artesanais. Moradores de São Joaquim OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares

129

FICHA DE DISCUSSÃO N° 3 MACRO PROBLEMA Baixos rendimentos familiares PROBLEMA Dificuldade no aproveitar de fontes de rendimento para alem da agricultura CAUSA DERIVADA Poucas alternativas de rendimento CAUSA DE BASE A comunidade não sabe como aproveitar do turismo e não consegue explorar este potencial recurso económico POSSÍVEL SOLUÇÃO Sistema de recepção e alojamento para turistas ACÇÕES Realizar quartos idóneos para a recepção dos turistas Formação sobre a restauração e higiene alimentar Formação sobre o acolhimento e a gestão dum sitio de ecoturismo Formação em línguas estrangeiras Formação para guias de campo Publicitação da actividade de ecoturismo em São Joaquim ETAPA 1 Grupo local da Ass. Realizar uma associação de moradores representativa de toda a comunidade. das Mulheres de Melhorar as condições higiénicas da aldeia. Príncipe, Ass. de Fazer uma proposta de projecto para o sistema de alojamento e recepção dos Moradores de São turistas. Joaquim ETAPA 2 PNP Trabalho de publicidade para facilitar o acesso dos turistas ETAPA 3 Potenciais parceiros na facilitação e apoio às actividades: Governo Regional Grupo Gibela Outros parceiros ADRA ECOFAC DGA Ass. Mulheres de Príncipe OBJECTIVO ESPECIFICO Pessoas formadas para aproveitar de forma melhor das actividades de rendimento relacionadas com turismo OBJECTIVO Facilitar o aproveitamento de fontes de rendimento diferentes da agricultura OBJECTIVO GERAL Acrescentar os rendimentos familiares ANOTAÇÕES A comunidade fica numa zona “estratégica” da Zona Tampão, perto da rede de caminhos e dos sítios com paisagens mais lindos do PNP. Os turistas já visitam a aldeia e muitos deles vão fazer trekking na área do Parque. As pessoas mais activas na reunião são aqueles que fazem parte do grupo local da Ass. das Mulheres de Príncipe. Esta Associação deveria ser uma referência para qualquer acção de desenvolvimento a ser implementada na zona não directamente relacionada com agricultura.

130

Anexo XIII - Conceitos de Área Protegida

Desde o início da organização social das comunidades humanas, que, com origens diversas, se estabeleceu o conceito de áreas protegidas, de uso restrito ou acesso condicionado. A génese do conceito é sobretudo de ordem metafísica, geralmente associada a espaços de ocorrência de espécies de fauna ou flora, que pela singularidade, dimensão, valor ou perigosidade eram mitificadas, desempenhando em muitas comunidades um papel determinante na estruturação cultural e no relacionamento entre a comunidade e o meio natural. São exemplos desta situação a relação entre os valores célticos druídicos e as florestas de carvalhos, as florestas ou ilhas interditas e usadas apenas como espaços rituais, ou a deificação de espécies como os crocodilos no Antigo Egipto, o jaguar entre os Maias e o tubarão ou árvores como o poilão ou sumaúma (Ceiba pentandra), nas comunidades animistas da América Central e África Ocidental. Ainda hoje, subsistem em algumas comunidades e culturas, de forma mais ou menos difusa, esta relação com parcelas de território ou elementos naturais (Carlos Guerra, n.pub.).

O conceito de área protegida é oficialmente estabelecido apenas no final do Sec. XIX, nos Estados Unidos da América, com a criação em 1872, do Yellowstone National Park, definido como “um parque público ou espaço de lazer para o benefício e diversão das pessoas”.

A definição de área protegida geralmente adoptada é a da IUCN - International Union for Conservation of Nature, organização fundada em 1948, e que congrega actualmente cerca de 800 agências governamentais e ONGs.

Em 1994 a World Commission on Protected Areas (WCPA) da IUCN consolidou como definição de Área Protegida: “Uma área de terra e/ou mar especialmente dedicada à protecção e preservação da diversidade biológica e dos recursos naturais e culturais associados, cuja gestão é efectuada por meios legais ou outros”.

Desde então, novas perspectivas assistiram à revisão deste conceito, tanto ao nível dos objectivos das categorias de Áreas Protegidas e da sua gestão, como ainda da governação.

Actualmente, a definição de Área Protegida proposta pela IUCN-WCPA postula:

“Uma área protegida é um espaço geográfico claramente definido, reconhecido, dedicado e gerido, mediante meios legais ou outros meios efectivos, de modo a alcançar a conservação a longo prazo da natureza e dos serviços ecológicos e valores culturais associados”.

Actualmente, os objectivos de criação e gestão das Áreas Protegidas podem incluir (Guerra et al., 2001): pesquisa científica, protecção do estado selvagem, protecção de espécies e ecossistemas, manutenção de serviços ambientais, protecção de especificidades naturais e culturais, turismo, recreio e lazer, educação ambiental, uso sustentável dos recursos existentes nos ecossistemas naturais, preservação das características culturais e das tradições.

131

Um tão vasto leque de objectivos de gestão dá-nos a noção da evolução em pouco mais de 100 anos, do critério inicial aplicado em Yellowstone, de criação de um espaço público para o lazer e diversão das pessoas. Mas é sobretudo no número de áreas protegidas criadas em todo o mundo, que se aprecia a dimensão deste processo. Em 1996 o WCMC-World Conservation Monitoring Centre, entidade parceira do UNEP, validava, em todo o mundo, o registo de 30.350 áreas protegidas, correspondendo a uma área total de 13.232.275Km2, o que representa 8,83% da superfície terrestre do planeta. Foram ainda identificadas 13.915 áreas classificadas que não cumpriam os parâmetros definidos pela IUCN e 16.288 áreas classificadas com um estatuto indeterminado. Além destas, foram ainda encontrados 1.388 termos diferentes para a designação das áreas protegidas (C. Guerra, n. pub.).

Classificação, Manejo e Gestão

Dada a grande disparidade de terminologia, em 1994 a IUCN estabeleceu, e tem vindo a desenvolver, um sistema de classificação de áreas protegidas baseado em seis categorias, em função dos objectivos de gestão.

Para o processo de elaboração dos Planos de Manejo das Áreas Protegidas de São Tomé e Príncipe, designadamente as duas já criadas em 2006, e tendo em conta que o longo percurso já efectuado em termos de levantamento e tratamento da informação de base sobre os habitats e espécies santomenses foi, na sua maioria, efectuado segundo metodologias internacionalmente consagradas, importa conferir a estas Áreas o legítimo reconhecimento internacional que os dois Parques merecem.

Assim, a metodologia de elaboração dos Planos de Manejo dos Parques de São Tomé e do Príncipe adaptou, dentro do formato já estabelecido pelas Leis de criação dos Parques Obô, os critérios e parâmetros propostos pela IUCN. Ao compatibilizar os critérios de zonamento, assumiu-se também a desejada integração nos parâmetros de categorização de Áreas Protegidas da IUCN, para uma clara inclusão no WDPA (World Database on Protected Areas), onde actualmente consta de forma muito incompleta (http://www.wdpa.org/sitesheet.aspx?sitecode=28391, Parque Obô do Príncipe), e apenas com a designação de Zona Ecológica, este Parque Natural:

Site ID 28391 Site Name (ENG) Zona Ecologica (Principe) Country Sao Tome and Principe Longitude (DD) 7.38190926 Latitude (DD) 1.58243230 Designation Ecological Zone Status Recommended Current Status Not Known IUCN Category Not Known Documented Total Area (ha) 4500.00 GIS Total Area (ha) 4411.92 Site Governance Current governance of site is not known Management Effectiveness Assessed No / Information not available

As Categorias IUCN actualmente estabelecidas e suas principais características diferenciadoras são as seguintes (Dudley, 2008):

132

Categoria I a: Reserva Natural Integral - A Categoria I a refere-se às áreas estritamente protegidas, reservadas para proteger a biodiversidade e também características geológicas/geomorfológicas, onde a visitação, o uso e os impactos humanos são estritamente controlados e limitados para assegurar a protecção dos valores de conservação. Tais áreas protegidas podem servir como áreas indispensáveis de referência para a pesquisa e a monitorização científicas.

Categoria I b: Área de Vida Selvagem, Reservas Naturais - As áreas protegidas da Categoria I b são geralmente as áreas intocadas ou pouco alteradas, de grandes extensões, retendo o seu carácter e influência naturais, sem assentamentos humanos permanentes ou significativos, e que são protegidas e controladas para preservar a sua condição natural. Correspondem a algumas tipologias de Reservas Naturais com fortes restrições e levados níveis de protecção.

As áreas protegidas da Categoria I a são áreas estritamente protegidas, geralmente com visitação limitada. São frequentemente (mas nem sempre) relativamente pequenas, por contraste com a Categoria I b. Geralmente não haveria habitantes humanos na Categoria I a, mas o uso por comunidades indígenas e locais ocorre em muitas áreas protegidas I b.

A Categoria I b e áreas protegidas da Categoria II (Parques Nacionais) são frequentemente similares no tamanho e no seu objectivo de proteger ecossistemas naturais funcionais. Mas enquanto que os Parques Nacionais (II) incluem geralmente (ou planeiam incluir) o uso por visitantes, incluindo infra-estruturas de apoio, o uso por visitação de I b é mais limitado e confinado àqueles com a capacitação e equipamento para sobreviver sem qualquer apoio local.

Categoria II: Parque Nacional - As áreas protegidas da Categoria II são grandes extensões naturais ou praticamente naturais delimitadas e reservadas para proteger processos ecológicos em larga escala, bem como a conservação e manutenção num estado favorável de espécie e ecossistemas característicos da área, que fornecem também um enquadramento para actividades espirituais, científicas, educacionais, recreativas e de visitação, compatíveis cultural e ambientalmente com os objectivos de Parque Nacional.

Categoria III: Monumento Natural – Área Protegida cuja gestão é direccionada para a conservação de um valor natural específico, determinado pela sua raridade, representatividade, qualidade estética ou significado cultural. São áreas geralmente pequenas e de grande valor para visitação.

Categoria IV: Área de gestão de habitats/espécies, Parque Natural, Reserva Natural - As áreas protegidas da Categoria IV visam proteger espécies ou habitats em particular, e a gestão destas áreas reflectem esta prioridade. Muitas áreas protegidas da categoria IV necessitarão de intervenções regulares, activas para dirigir-se às exigências de espécies particulares ou para manter habitats, mas esta não é uma exigência da categoria. Correspondem a algumas tipologias de Parque Natural, de menores dimensões que os Parques Nacionais, e em que o zonamento estabelece áreas no seu interior com níveis de protecção marcadamente distintos, relegando para algumas zonas as interdições totais ou quase totais, e assumindo a presença humana de forma mais intensa que as categorias I e II, ou a Reservas Naturais de criação e gestão orientada para a preservação específica de alguns valores do património natural.

Categoria V: Áreas de Paisagem Protegida Terrestre/Marinha – Área de gestão direccionada para a conservação da paisagem e o recreio – (área de terra e/ou mar onde a interacção entre as comunidades humanas e a natureza, ao longo do tempo, geraram um território com características distintas, traduzidas nos valores estéticos, ecológicos e culturais e da diversidade biológica presentes. A preservação da integridade desta tradicional interacção é vital para a protecção, manutenção e evolução destas áreas).

Categoria VI: Área protegida com uso sustentável dos recursos naturais, Parque Natural - As áreas protegidas da categoria VI visam conservar ecossistemas e habitats, junto com valores culturais associados e sistemas de gestão tradicionais dos recursos naturais. São geralmente extensas, com a maioria da área em condições naturais, onde uma parte esteja sob a gestão sustentável de recursos naturais e onde o uso não-industrial de baixo nível dos recursos naturais compatível com a conservação da natureza é visto como um dos objectivos principais da Área Protegida. Correspondem a algumas tipologias de Parque Natural, em que a conservação da natureza e da biodiversidade tem menor intensidade que na Categoria IV.

133

Genericamente, esta classificação pode sintetizar-se na matriz proposta pelo Guia anterior da UICN, editado em 1994 (in Guerra, C. et al, 2001):

Objectivos de Gestão I a I b II III IV V VI Pesquisa científica 1 3 2 2 2 2 3

Protecção do estado selvagem 2 1 2 3 3 - 2

Protecção de espécies e de diversidade genética 1 2 1 1 1 2 1 Manutenção de serviços ambientais 2 1 1 - 1 2 1

Protecção de especificidades naturais e culturais - - 2 1 3 1 3 Turismo, recreio e lazer - 2 1 1 3 1 3

Educação ambiental - - 2 2 2 2 3

Uso sustentável dos recursos existentes nos - 3 3 - 2 2 1 ecossistemas naturais Preservação das características culturais e das - - - - - 1 2 tradições

1- Objectivo primário 2- Objectivo secundário 3- Objectivo potencialmente aplicável -- Não aplicável

Ainda tomando como base o mesmo guia, “Directrizes para Aplicação de Categorias de Manejo/Gestão às Áreas Protegidas” (Dudley, 2008), importa salientar os seguintes aspectos:

Pode uma Área Protegida conter mais do que uma categoria?

Zonas marcadamente diferentes dentro da área protegida: o zonamento é geralmente uma ferramenta de gestão dentro de uma única área protegida e não seria identificado normalmente por uma categoria separada, mas há excepções. Em algumas áreas protegidas, partes de uma única unidade de gestão são classificadas pela lei como tendo objectivos diferentes e assumindo- se quase como áreas protegidas separadas: de fato, estas “peças” são as áreas protegidas individuais que compõem juntas uma unidade maior, embora se encontrem todas sob uma única autoridade de tutela e gestão.

O que distingue as Categorias IV e VI? Área de Paisagem Protegida ou Parque Natural?

A categoria VI enfatiza a importância da conservação da natureza em áreas naturais enquanto sistemas de suporte de subsistência: diversamente, a categoria V confere prioridade ao valor das interacções a longo prazo dos povos e da natureza em condições modificadas. Na categoria VI a ênfase está no uso sustentável de produtos e de serviços ambientais (tipicamente caça, pastoreio, gestão de recursos naturais), enquanto que na categoria V a ênfase está em usos mais intensivos (agricultura, exploração florestal, turismo). A categoria VI será geralmente mais “natural” do que a categoria V.

As áreas protegidas da categoria VI visam conservar ecossistemas e habitats, bem como os valores culturais associados e sistemas de uso e gestão tradicionais dos recursos naturais. São geralmente grandes, com a maioria da área em condições naturais ou naturalizadas, onde uma proporção esteja sob a gestão sustentável ou durável dos recursos naturais e onde o uso não-industrial de baixo nível dos recursos naturais, compatível com conservação da natureza é visto como um dos objectivos principais da área. A categoria V aplica-se às áreas onde as paisagens foram transformadas em consequência das interacções a longo prazo com o Homem; as áreas da categoria VI remanescem como ecossistemas predominantemente naturais. A ênfase na categoria VI é consequentemente mais acentuada na protecção de ecossistemas naturais e de processos ecológicos, com a protecção de natureza e a promoção do uso sustentável dos recursos naturais.

134

Zonas de Protecção das Áreas Protegidas da RDSTP

O Ordenamento do Território é um processo fundamental para o Desenvolvimento Sustentável. Como resultado da ocupação humana, a maior parte dos territórios onde se encontram as actuais sociedades exibe a marca milenar de intervenções no meio biofísico que as rodeia e suporta.

O Planeamento e a Gestão do Território são disciplinas obrigatórias para assegurar a perpetuidade da capacidade de suporte do meio ambiente, conferindo ainda condições para o desenvolvimento económico e social.

De modo geral, o Ordenamento do Território traduz-se no planeamento da ocupação humana nas suas diferentes vertentes, na maximização do aproveitamento das infra-estruturas existentes e particularidades biofísicas, e ainda na salvaguarda dos recursos limitados.

A sua materialização processa-se por definição de usos do solo ou do território, regulamentando as intervenções e actividades humanas, propondo ou orientando, de acordo com as características do território e/ou com as políticas definidas, a programação do desenvolvimento pretendido.

Contudo, o Planeamento e Gestão de Áreas Protegidas constitui uma disciplina particular no Ordenamento do Território, uma vez que se assiste ao primado da Conservação da Natureza e Biodiversidade.

Assim, o Ordenamento ou Manejo de Áreas Protegidas não se foca na definição dos usos ou aptidões do solo, orientando-se para a salvaguarda e manutenção dos valores naturais a conservar. O Zonamento de Áreas Protegidas visa, então, estabelecer Níveis de Protecção adequados, como função dos valores naturais identificados, quer singulares (habitats, espécies, ocorrências geológicas, geomorfológicas ou paisagísticas), quer no seu contexto (ecossistemas, paisagens).

Os Planos de Ordenamento ou Manejo das Áreas Protegidas descrevem os valores a proteger, os aspectos da gestão preconizada, e os objectivos e estratégias detalhados para a gestão da área protegida. Segundo o quadro legal santomense, o Plano de Manejo (Lei 11/1999) é o instrumento de gestão ambiental a médio prazo que deve reunir um conjunto de mecanismos eficazes para uma eficiente gestão ecológica da área, definindo os conceitos e princípios gerais de conservação aplicáveis.

Tendo em conta as necessidades de conservação da natureza e da biodiversidade, as áreas protegidas podem ser classificadas (ou futuramente reclassificadas), no âmbito do respectivo plano de manejo, com as seguintes áreas de protecção e gestão (Guerra et al, 2001; Albuquerque, documentos internos ICN, n. pub.):

b) Áreas de protecção total, quando os objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade são incompatíveis com qualquer tipo de uso do solo, das águas e do ar;

c) Áreas de protecção parcial, complementar ou prioritárias para a conservação, quando os objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade são compatíveis com alguns usos do solo, das águas e do ar;

d) Áreas de uso sustentável dos recursos, quando os objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade dependem ou são compatíveis com alguns usos do solo, das águas e do ar – Zonas Tampão, Áreas Protegidas de âmbito local ou privado;

e) Áreas de intervenção específica, quando os objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade implicam a adopção de medidas específicas de protecção, recuperação ou reconversão – áreas alvo de programas, projectos ou planos de acção de recuperação de espécies ou habitats, ou de renaturalização.

135

Áreas de Protecção Total

As Áreas de Protecção Total são espaços non edificandi que se destinam a garantir a ausência de perturbação dos processos naturais, a preservação de exemplos de excepcional relevância ecológica num estado dinâmico e evolutivo e a conservação da integridade das jazidas de fósseis e minerais de importância excepcional e em que a presença humana só é admitida por razões de investigação científica, monitorização ambiental ou salvaguarda. Nesta categoria incluem-se as áreas em que a gestão se traduz pela ausência de intervenção, mantendo os processos naturais em estado imperturbável, designam-se Áreas de Protecção Integral. Caracteriza a maior parte do Parque Natural do Príncipe.

Áreas de Protecção Parcial

As Áreas de Protecção Parcial são espaços, também non edificandi, que têm por objectivo a conservação de valores de natureza biológica e geológica muito significativos para a conservação da biodiversidade e em que a actividade humana só é admitida, para além de razões de investigação científica, monitorização ambiental ou salvaguarda, através de usos temporários ou esporádicos do solo, da água ou do ar compatíveis com os objectivos de conservação definidos ou através da manutenção ou adaptação dos usos tradicionais do solo e outros recursos, de carácter temporário ou permanente, que são suporte dos valores naturais a proteger. Reflectem o zonamento das áreas do Parque Natural adequadas para as actividades de visitação e Turismo de Natureza, ou de exploração fortemente controlada de recursos.

Tendo presentes os objectivos de criação do Parque, estas duas tipologias são de aplicação directa, na totalidade da então designada Zona Ecológica ou (Lei 7/2006) Zona de Preservação Integral.

Áreas prioritárias para a conservação

As Áreas Prioritárias para a Conservação são espaços preferencialmente non edificandi que têm por objectivo a conservação de valores de natureza biológica e geológica relevantes para a conservação da biodiversidade e em que a actividade humana só é admitida através de usos temporários ou esporádicos do solo, da água ou do ar compatíveis com os objectivos de conservação definidos ou através da manutenção ou adaptação dos usos tradicionais do solo e outros recursos, de carácter temporário ou permanente, que são suporte dos valores naturais a proteger.

Áreas de uso sustentável dos recursos

As Áreas de Uso Sustentável dos Recursos destinam-se preferencialmente à manutenção das actividades culturais e tradicionais, nomeadamente de natureza agrícola, agro-silvo-pastoril, florestal, piscatória, ou de exploração de outros recursos, que constituam o suporte dos valores naturais a conservar. Nestas áreas devem ser implementadas medidas de gestão de uso sustentável que promovam o desenvolvimento da socioeconomia local.

Estas duas categorias ou tipologias teriam aplicabilidade nos domínios da Zona Tampão; uma vez que praticamente toda a área exterior ao Parque pode ser objecto de ordenamento e planeamento segundo estes critérios, estas categorias formatarão a proposta de classificação.

Áreas de intervenção específica

As Áreas de Intervenção Específica são espaços de elevado interesse, real ou potencial, para a conservação da natureza e da diversidade biológica que, devido às fortes pressões antrópicas a que foram sujeitos, necessitam de medidas específicas de protecção, recuperação ou reconversão.

136

As Áreas de Intervenção Específica assumem, na Região Autónoma do Príncipe, a integração paisagística, a minimização de impactes e a renaturalização dos espaços envolventes de intervenções programadas e devidamente avaliadas de empreendimentos turísticos de construção ligeira, nas Áreas de Aptidão Turística.

Após a implantação de projectos de turismo de natureza de elevada qualidade (previamente submetidos a um procedimento de Avaliação do Impacte Ambiental), e por aplicação de medidas traduzidas por Intervenção Específica, o território retomará a classificação original, com o nível de protecção estabelecido no Plano de Manejo.

Para o interior do Parque Natural do Príncipe, apenas se admitirá como Área de Aptidão Turística:

Um sector limitado da Praia de S. Tomé, para acampamento ligeiro temporário, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP.

A zona de Francisco Mantero/Maria Correia, Baía das Agulhas, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP, após Avaliação do Impacte Ambiental segundo o previsto na legislação, ou para intervenções ligeiras de novas valências turísticas, ou adaptações de infra-estruturas pré-existentes, após aprovação pela Direcção do PNP, ouvido o Conselho de Gestão.

A zona de Infante D. Henrique, a concessionar por acordo com o PNP, validado pelo Governo Regional e pela tutela do Ambiente do Governo da RDSTP, após Avaliação do Impacte Ambiental segundo o previsto na legislação, ou para intervenções ligeiras de novas valências turísticas, ou adaptações de infra-estruturas pré-existentes, após aprovação pela Direcção do PNP, ouvido o Conselho de Gestão.

Pelo facto de ser esta a fase de lançamento ou arranque efectivo dos serviços do Parque, não há um real ganho na definição, para um prazo de 5 anos, de Áreas de Intervenção Específica. Estas áreas serão estabelecidas nos subsequentes Planos de Gestão, num quadro de definição de prioridades de intervenção.

137

Anexo XIV – Bibliografia

Bibliografia fundamental consultada

Albuquerque C., Cesarini D. & Tagliabue L.C., 2009 a. Plano de Manejo do Parque Nacional Obô de São Tomé. ECOFAC IV, São Tomé, São Tomé e Príncipe, 117 pp.

Albuquerque C., Cesarini D. & Tagliabue L.C., 2009 b. Plano de Gestão do Parque Natural Obô de São Tomé. ECOFAC IV, São Tomé, São Tomé e Príncipe, 109 pp.

Albuquerque, C. et al (2004) – Plano de Ordenamento do Parque Natural de Sintra-Cascais, ICN, Lisboa

Albuquerque, C. et al (2007) – Carta de Desporto de Natureza do Parque Natural de Sintra-Cascais, ICN, Lisboa

Bonfim, F. L. B.; (2002). ENPAB - Pecuária. Monografia sobre a Pecuária, produzida por no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe

Bonfim, V. M. S.; (2002). ENPAB - Águas Interiores; Monografia sobre a os Ecossistemas das Águas Interiores, produzida por, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe

Brito, B.r., 2004. Turismo Ecológico em São Tomé e Príncipe: da Ecopedagogia à Preservação Ambiental. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, 16-18 Setembro.

Brugière, D., 2007. Plan de Gestion du Parc National de Zakouma et de sa Peripherie 2007-2011, Direction de la Conservation de la Faune et des Aires Protégées, Ministère de l’Environnement, de la Qualité de Vie et des Parcs Nationaux, Tchad, 199 pp

Carvalho, M. (2008). Utilização de Recursos Animais, Desenvolvimento Rural e Conservação da Biodiversidade em São Tomé, República Democrática de São Tomé e Príncipe. Relatório preliminar para a Fundação para a Ciência e Tecnologia. Lisboa.

Carvalho, M. (2009). Caça, comunidades rurais e conservação da biodiversidade em São Tomé e Principe. In: Brito, B.R., Alarcão, N. Marques, J. (org). Desenvolvimento Comunitário: das teorias às práticas. Turismo, Ambiente e Práticas Educativas em São Tomé e Príncipe. Gerpress Editores. 408 pp

Cesarini D., 2008. Plano de Monitorização – Parque Natural Serra Malagueta. Gestão Integrada e Participativa dos Ecossistemas nas Áreas Protegidas e Envolventes (Fase I), MAA/GEF/PNUD, Praia, Cabo Verde, 200pp.

Dallimer M., King T. 2007. Habitat preferences of the forest birds on the island of Príncipe, Gulf of Guinea. African Journal of Ecology: 46, 258-266.

Dallimer, M., 2001. Habitat use and population density of the endemic bird fauna of São Tomé, British Ecological Society, Small Ecological Project Grant 1950, Date Awarded 2001

Dudley, N. (Editor) (2008). Guidelines for Applying Protected Area Management Categories. Gland, Switzerland:IUCN. x + 86pp.

ECOFAC, 1996, Composante Sao Tomé – Forêt du Mont Pico – Rapport d’Activités 1996

139

ENPAB – Agricultura, 2002. Monografia sobre os Ecossistemas Agrícolas, produzida por Álvaro Vila Nova, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

ENPAB - Águas Interiores, 2002. Monografia sobre os Ecossistemas das Águas Interiores, produzida por Víctor Manuel do Sacramento Bonfim, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

ENPAB – Florestas, 2002. Monografia sobre os Ecossistemas Florestais produzida por Faustino da Conceição Neto de Oliveira, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade Relatório em S.Tomé e Príncipe.

ENPAB - Jurídico Institucional, 2002. Monografia sobre a Legislação e Instituições, produzida por José António da Vera Cruz Bandeira, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe

ENPAB - Marinho e Costeiro, 2002. Monografia sobre os Ecossistemas Marinhos e Costeiros, produzida por Manuel da Conceição Neto d’Alva Teixeira, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

ENPAB - Pecuária 2002. Monografia sobre a Pecuária, produzida por Filipe Luís Bandeira Bonfim, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S. Tomé e Príncipe.

ENPAB - Silvicultura, 2002. Monografia sobre a Silvicultura, produzida por Sabino Pires Carvalho, no quadro do quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

Guerra, C. Albuquerque, C. et al (n. pub), 2001. Desenvolvimento da Metodologia de Elaboração de Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas – Documento de Trabalho aplicado no Instituto da Conservação da Natureza, para os Planos de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida, Parque Natural de S. Mamede, Parque Natural do Vale do Guadiana, Parque Natural do Douro Internacional, Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, Reserva Natural do Paúl de Arzila, Paisagem Protegida do Corno do Bico, Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo. ICN, Lisboa

Guerra, C., (2005). Plano Sectorial da Rede Natura 2000 na Região Autónoma dos Açores. Cidade da Horta.

Guerra, C., (n. pub.). Proposta de Criação da Rede Regional de Áreas Protegidas dos Açores. Proposta submetida ao Governo Regional em 2005. Cidade da Horta. 36 pp.

Grépin, G., 1999. Finalisation des plans d’aménagement des parcs nationaux de Ôbo de Sao Tomé et Ôbo de Principe. SECA

Grépin, G., 1999. Proposition de plan d'aménagement (rapport final) (+/- 140 pages dont 12 couleurs). SECA

Jones, P. and Tye, A. (2006). The birds of São Tomé and Príncipe with Annobon islands of the Gulf of Guinea

Juste, B. J. 1994 a - (Mar, 1994). Etude de support à l’aménagement et la gestion de la zone écologique, Projet ECOFAC. AGRECO-CTFT Unpubl. Gland. 67 pp.

Juste, B. J., 1994 b - (Oct, 1994). Etudes d’appui à l’aménagement et à la gestion des zones écologiques de Sao Tomé et Principe, 2 ème Délimitation de la zone écologique de Principe et correction des limites de Sao Tomé, Project AGRECO-CTFT

King, T. and Martin Dallimer. 2006. Bat records from São Tomé and Príncipe, including a quantitative survey of a roost of Eidolon helvum INE (2006). São Tomé e Principe em números. INESTP, São Tomé. 18 pp.

140

Loureiro, N.S. (em pub – com. pes.). Sea Turtles in São Tomé e Príncipe. Protected by a few, predated by a lot! (comunicação pessoal do autor, 2009)

Ministério dos Recursos Naturais e Meio Ambiente, s.d.. Primeiro Relatório Nacional da Biodiversidade (Convenção sobre a Diversidade Biológica). S. Tomé

Ministério dos Recursos Naturais e Meio Ambiente, 2007. Terceiro Relatório Nacional da Biodiversidade (Convenção sobre a Diversidade Biológica). S. Tomé

OLMOS, F. ; TURSHAK, L. . Ornithological surveys and capacity-building in Angola and São Tomé e Príncipe involving the Jos Institute in Nigeria. 2007.

Rapport APOFA / GTZ, 1998. A pequena produção agrícola em São Tomé e Príncipe

Stévart T. & de Oliveira F., 2001. Guide des orchidées de São Tomé et Príncipe. ECOFAC (ed.), cellule de coordination, Libreville, Gabon, 258 p.

Vanwijnsberghe, S. (1996), Mission Carbonisation, draft, ECOFAC, São Tomé

World Bank 1993. Democratic Republic of São Tomé and Príncipe. Country Economic Memorandum and Key Elements

Referências Bibliográficas Recomendadas

AFVP. Agriculture familiale: Quelques éléments sur l’après-distribution des terres, d’un point de vue production agricole. ST 1995.

AGRO.GES / CINFORMA, 1999. Estudo Sobre as Vantagens Comparativas entre Pequenas, Medias e Grandes Empresas Agrícolas de S.Tomé e Príncipe.

Andrade, E. & Bonfim, V., 1989/90-Educação em matéria de População e para a vida Familiar –

Anónimo. Situation de la faune et de la faune sauvage en STP, RDSTP, Direcção das Florestas, Ministério da Economia.

António Salgueiro, 2001. Síntese do inventário florestal e propostas para a utilização racional dos recursos lenhosos – Programa ECOFAC III

Bandeira, J. A. V. C.; (2002). ENPAB-Jurídico Institucional; Monografia sobre a Legislação e Instituições, produzida por, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe

Bonfim, F (2001)- Contribuição para o conhecimento sobre a doença da gravana nas galinhas de forro na Ilha de São Tomé. Veterinária Técnica nº8: 1-12

Bonfim, F (2002) -Implicações dos sistemas de produção pecuários no planeamento de programas de saúde animal na R.D. de São Tomé e Príncipe. Tese de doutoramento em Ciências veterinárias. FMV- Universidade Técnica de Lisboa.

Carlos Lopes Teixeira. Projecto da criação de uma administração florestal pública em STP – Relatório de missão. Direcção Geral das Florestas, Lisboa 1988.

Carta de Politica Agrícola e de Desenvolvimento Rural, Ministério da Economia, Agosto de 1999 RDSTP.

Carvalho, S. e Vaz, H. Estudo de Vulnerabilidade e Adaptação às mudanças Climáticas – Sector de Florestas e Solos, Projecto de Comunicação Nacional STP 01 /G31, Junho de 2003.

141

Carvalho, S. Vaz, H. e Oliveira, F. (Junho de 2003), Étude sur la Situation des Ressources Génétiques Forestières de la République Démocratique de São Tomé et Príncipe. Document de travail FGR/63F FAO, Rome, Italie

Carvalho, Sabino Pires; (1995). Manual de estudo sobre a Biodiversidade em STP, Direcção de Florestas, APOFA-GTZ e ECOfAC 25 p.

Christy, P. & Clarke W., 1998, Guide des Oiseaux de Sao Tomé et Príncipe

Colson, F., Bonfim, F., Chagnaud, F. e Gomes, J. (1994)- Étude du Développement de l,Élevage a São Tomé et Príncipe. Sodeteg. Paris. Ministére de l, Agriculture et Dévelopement Rural. S.Tomé et Principe.

Comissão de Coordenação Floretal, (1991). Proposta de desenvolvimento do sector florestal. Comissão de Coordenação Florestal do Ministério da Agricultura e Pescas em São Tomé. 7 pp.

Contreiras, J., Vieira da Silva, J., Esteves Baptista, J., Rosado Dias, M.A. & Ribeiro Nunes,

Correia, J.P., 1928, The Olive Ibis of Dubus and representative on São Thomé. Amer. Mus. Novit. 84

DIRECÇÃO DA PECUÁRIA (2001) - Distribuição e densidade de animais de produção na República Democrática de São Tome e Príncipe. Projecto de Desenvolvimento de Apoio a Pecuária. Ministério de Economia. Fevereiro 2001

ECOFAC – Bilan dés activités, seconde phase (1997-2000). AGECO-BDPA-SECA-CIRAD Forêt.

ECOFAC, 1995 composante de São Tomé e Príncipe A Lista Vermelha de Animais Ameaçados

ECOFAC, Novembro 1995. Os recursos de coral em S. Tomé, um plano de acção

Environmental Strategy. Volume II. Report No. 10383-STP. Western Africa Department. The World Bank, Washington, DC.

Estratégias para o desenvolvimento da agricultura nacional no horizonte 2010 (segurança alimentar)., Ministério da Economia, Setembro 2000 RDSTP..

Excell, A.W. (1944). Catalogue of vascular of S. Tomé (with Principe and Annobon). British Museum (Natural History), London. Xi + 426 pp.

Excell, A.W. (1956). Supplement to the catalogue of vascular plants of S. Tomé (with Principe and Annobon). British Museum (Natural History), London. 58 pp.

F. M. de Carvalho Rodrigues, 1974 . S.Tomé e Príncipe sob o ponto de vista Agrícola

FAO (1992) - FAO Policies and Environnement . FAO. Rome, Italy. 1992

FAO (1999) - Perspectives de l’alimentation. Rev. Vol 4:27-30.

FAO (2002) - Livestock and Environment and Environment. Toolbox. MBRAM,CD-Rome Drive.

FAO(1993) - Valorisons la diversité de la nature. Journée Mondiale da l’alimentation. Rome. Octubre 1993

FAO, 1988. National Parks planning: a manual with annotated examples. FAO Conservation Guide 17. Rome, 105 pp.

FAO. Rapport de mission de formulation pour le secteur agricole, Roma, 1982.

Ferrão, José E. Mendes. A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses. Instituto de Investigação Cintifica Tropical. Lisboa, 1992.

142

FIDA. Programme d’Appui Participatif à l’Agriculture Familiale et à la Pêche Artisanale (PAPAFPA) – Rapport de Pré évaluation – Rapport Principal.

Figueiredo, E. (1994) Diversity and endemism of Angiosperms in the Gulf of Guinea Islands. Biodiversity and Conservation 3: 785-793.

Figueiredo, E. (1994) New records for the flora of S.Tomé and Príncipe. Garcia de Orta, Sér. Bot., 12(1-2): 125-126.

Figueiredo, E. (1995) Floresta e Endemismo em São Tomé e Príncipe. Comun. IICT, Sér. Ciências Agrárias 19: 43-49.

Figueiredo, E. 1997. Trees of S. Tomé and Príncipe.

Figueiredo, E. (1998) Pteridophytes of São Tomé and Príncipe (Gulf of Guinea). Bulletin of the Natural History Museum 28(1): 41-66

Figueiredo, E. (2000) Príncipe's rainforests under threat. Talk 21: 13

Figueiredo, E. (2001) New findings of pteridophytes from the mountain rainforests of São Tomé and Príncipe. Fern Gazette 16(4): 191-193.

Figueiredo, E. & A. Gascoigne (2001) Conservation of Pteridophytes in São Tomé e Príncipe (Gulf of Guinea). Biodiversity and Conservation 10: 45-68.

François Malaise. Mission d’expertise (1-17 Août 19997). AGRECO.1997.

Gascoigne, Angus; (1995) The red data list of thretened animals of São Tomé e Príncipe, Ecofac- Components de STP, 15 p.

Georges Grepin (1999). Proposition de Plan D’Aménagement du Parc Naturel Obô. S.Tomé e Príncipe, Rapport Final, Commission Européenne.

Helder Lains e Silva, 1958. S.Tomé e Príncipe e a Cultura do Café. Memórias da Junta de Investigações do Ultramar.

INTERFOREST AB, (1990). República Democrática de São Tomé e Príncipe- Estudo do suprimento e demanda de produtos florestais primários. São Tomé. 42 pp. e 9 ap.

INTERFOREST AB. Results of National Forest Inventory – Democratic Republic of São Tomé and Príncipe. Draft, February 1990.

INTERFOREST, (1990 a). República Democrática de São Tomé e Príncipe – Resultados do Inventario Florestal Nacional São Tomé. 19 p + 4 Ap.

J. Herbert, Veron Philipe, 1996. Étude et perspectives de la filière bois a Sao Tomé, memoire de fin d’études

J. Lejoly, G. Joffroy, T. Stevart, 2000. Synthese des Inventaires de Botanique Floristique effectués dans le cadre du Programme ECOFAC II à Sao Tome et Principe

Joffroy G. (1999/2000). Etude des Plantes endémiques de Sao Tomé et Príncipe. (Travail de fin étude)

Jones, P.J., Burlison, J.P. e Tye, A., 1991, Conservação dos Ecossistemas Florestais na república democrática de São Tomé e Príncipe

Jörg Henninger. Manejo Silvícola das Florestas de São Tomé – Proposta de um programe de acção. APOFA (Projecto de Assessoria em Matéria de Política Florestal e Agrária), GTZ/DF. São Tomé e Príncipe, Fevereiro 1995.

143

Kathleen Van Essche, 1995. Mise en place de transects en vue des inventaires de biodiversité dans la zone ecológica de Sao Tomé, Project ECOFAC

King T, Dallimer M. 2003. Habitat use, daily activity, moult and morphometrics of the birds of São Tomé and Príncipe. Bulletin African Bird Club: 10, 84-93.

Lains e Silva, H. (1958 a). São Tomé e Príncipe e a cultura do café. Memórias da Junta de Investigações do Ultramar I. Lisbon

Lains e Silva, H. (1958 b). Esboço da carta de aptidão agrícola de São Tomé e Príncipe. Garcia de Orta 6: 61-86.

Lains e Silva, H. 1959. Nomes vulgares de algumas plantas de São Tomé e Príncipe (com notas sobre a origem dos nomes e a utilidade das plantas).

Leblanc, P. (1994). Etude touristique écologique: programme de développement du tourisme écologique.

Lejoly J. (1995). Suivi des programmes d’erude de la biodiversité vegetal dans la zona ecológica de São Tomé, Groupement AGRECO-CTFT

Lejoly J. (1995). Suivi des programmes d’etude de la biodiversité vegetale dans la zona ecológica de São Tomé, Groupement AGRECO-CTFT

Lejoly J. e Oliveira F. (1998). Inventário de colheitas botânicas efectuadas em Sao Tomé e Príncipe no quadro do Programa ECOFAC

Lejoly J. Joffroy G. Stevart T. (2000). Synthése des inventaires de Botanique Floristique effectués dans le cadre du Programme Ecofac à Sao Tome et Principe, Groupement AGRECO. G.E.I.E.- SCETAGRI - SECA - CIRAD Foret en association avec Fauna et Flora International.

Liberato, M. C. e Espirito Santo, J. (1972-1982). Flora de São Tomé e Príncipe. Jardim e Museu Agrícola do Ultramar, Lisboa

Lison Hellebaut. Inventaire de 1998 des espéces ligneuses sur 30 parcelles sur l’île de São Tomé, avril 1999. ECOFAC/Université Libre de Bruxelles.

Lopes Roseira, L. (1984). Plantas úteis da flora de São Tomé e Príncipe - medicinais e industriais. 100 pp.

Louis Berger International, 1996, Etude du Plan Directeur Des Systèmes d’AEPA,

Madureira, M.do C. et al. 2008. Estudo Etnofarmacológico de Plantas Medicinais de S. Tomé e Príncipe. Ed. Ministério da Saúde de S. Tomé e Príncipe, apoio Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa.

Martin Geiger. Relatório sobre a situação actual e as perspectivas do sector florestal em São Tomé e Príncipe, Projecto APOFA/GTZ. República Democrática de São Tomé e Príncipe, São Tomé, 24/02/1997.

Matos, G. C. (1994). Mission d’expertise “ Biodiversité floristique et écologie”, rapport préliminaire, Groupement AGRECO-CTFT-STP ECOFAC

Maurício Cysne, 1997. Análise do quadro legislativo em matéria de Protecção da Fauna, Flora e áreas protegidas e proposição de Elaboração do projecto de lei quadro da fauna, flora e áreas protegidas e do projecto de Regulamento para a caça-Projecto ECOFAC

Melo M. (2006) Bird Speciation in the Gulf of Guinea. PhD Thesis. Institute of Evolutionary Biology, University of Edinburgh

Mendes Ferrão, J.E. 1979). Flora de São Tomé e Príncipe “Ácidos gordos e proteínas de algumas sementes”. Archives historiques de STP

144

MESA PNUD Capacidade 21. Plano distrital do ambiente para o desenvolvimento durável. PDADD, versão preliminar (11/1998).

Mortier, P. (1996). Curso de formação de guardas florestais e eco-guardas; relatório síntese

Myriam Cukier. Etude de l’accroissement et de la régénération des ligneux de la forêt dense de ST. ECOFAC. Travail de fin d’études et annexes, Université Libre de Bruxelles, Septembre 1997.

Nova, A. V.; (2002). ENPAB-Agricultura; Monografia sobre os Ecossistemas Agrícolas, produzida por, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

Obando, V., Garcia, R., Marin, P., Sevilla L. 2002, Estrategia Nacional de Conservación y

Ogonovszky, M. (2003). Endémisme et phytogéographie des plantes de São Tomé et Príncipe. Travail de fin d'études présenté en vue de l'obtention du grade de Bio-Ingénier en Agronomie Tropicale, Ecole Interfacultaire de Bio ingénieurs, Université Libre (ULB) de Bruxelles

Ogonovszky, M. 2003. Endémisme et phytogéographie des plantes de São Tomé et Príncipe. Travail de fin d'études présenté en vue de l'obtention du grade de Bioingénieur en Agronomie Tropicale, Ecole Interfacultaire de Bioingénieurs, Universite Libre de Bruxelles.

Oliveira, F. C N; (2002). ENPAB-Florestas; Monografia sobre os Ecossistemas Florestais produzida por, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade Relatório em S.Tomé e Príncipe.

Paulo Rodrigues, 1999. Impacto de Distribuição de Terras. Projecto APOFA / GTZ

Philipe Veron. Etude des Perspectives de la Filière Bois à ST. ECOFAC/Faculté Universitaire des Sciences Agronomiques de Gembloux, 1996.

Pires dos Santos, A., 2002, Inventário de Gases Com Efeito de Estufa – Sector 6: Resíduos

Plano distrital do ambiente para o desenvolvimento durável, Água Grande, version préliminaire MESA-PNUD-Capacité 21,

Plano Nacional do Ambiente para o Ambiente Durável - Ministério do Equipamento Social e Ambiente, 1998.

PNUD et al., (1994). Elementos de reflexão para o desenvolvimento sustentado de São Tomé e Príncipe

PNUD, 1994. Global conference on the sustainable development of small island developing states. Final declaration. Unpl. Report, 48 pp.

Recenseamento Agrícola 1990 - RDSTP, MADR / FAC..

Regulamento provisório para a Utilização das florestas RDSTP. Decreto-Lei nº52/93. Diário da República de São Tomé e Príncipe, de 14/09/94, nº13..

Ribeiro, F.M (1877)- A Provincia de S.Thome e Príncipe e suas dependências. Lisboa,1877.

Rice, R. & Greenberg, R. 2000. Cacao cultivation and the conservation of biological diversity. AMBIO, 29 (3):167-173.

Rodrigues M. de Carvalho. São Tomé e Príncipe sob o ponto de vista Agrícola.

Rossignon O., 1999, Contribution À l’Écologie des Crevettes Dulçaquicoles de Sao Tomé: Du Cadre Limnologique à l’Élevage

145

Sabino, P. C.; (2002). ENPAB-Silvicultura. Monografia sobre a Silvicultura, produzida por, no quadro do quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

Salgueiro, António. Sintese do Inventário Florestal de 1999 e Propostas para a Utilização Racional dos recursos Lenhosos. ECOFAC/AGRECO/CIRAD Forêt, Março 2001.

Sansoucy, R (1995)- Livestock- driving force for food security and sustenable development. Revue mondiale de Zootechnie 84/85 1995/3-4.

Steinfeld, H., Haan, C.,Blackburn, H. (1997) - Interactions entre l’Elevage et l,Environnement. Cooperation Française. Ministére de Coopération.

Stevart T. (1998). Etude sur les orchidées de São Tome et Principe: (Travail de fin d’étude, ULB)

Teixeira, M. C. N. d’Alva; (2002). ENPAB- Marinho e Costeiro; Monografia sobre a os Ecossistemas Marinhos e Costeiros, produzida por, no quadro do Projecto de Elaboração da Estratégia Nacional e Plano de Acção da Biodiversidade em S.Tomé e Príncipe.

Toelen Patricia. Inventaire, biodiversité, structure des peuplements et biomasse ligneuse dans les forêts d’altitude de ST. ECOFAC. Travail de fin d’études et annexes, Université Libre de Bruxelles, septembre 1995.

Toelen, P. (1995) Inventaire, biodiversité, strutcture des peuplements et biomasse ligneuse dans Iles forets d’altitude de São Tomé ( travail de fin d’étude, ULB).

Uve(2001)-Resultado de Censo pecuário. Direcção da Pecuária. Ministério de Economia. RDSTP.

Van Essche, K. (1995) Mise en place de transects en vue des inventaires de biodiversité dans lma zone ecologica de Sao Tomé (missions 29/03 – 04/05 et 12/07 17/08 1994).

Vanessa Sequeira, 1994. Medicinal Plant Report, University of East Anglia Sao Tome Expedition, Project ECOFAC

World Bank 1993. Democratic Republic of São Tomé and Principe. Country Economic Memorandum and Key Elements of an Environmental Strategy. Volume II. Report No. 10383-STP. Western Africa Department. The World Bank, Washington, DC.

World Bank 2003. African Development Indicators. The World Bank, Washington, DC.

146