Abdias Nascimento

Total Page:16

File Type:pdf, Size:1020Kb

Abdias Nascimento Repertório, Salvador, nº 17, p.190-194, 2011.2 ABDIAS NASCIMENTO: UMA UTOPIA POSSÍVEL Um artista cuja história revela um agente produtor de sentidos que desloca e desinterioriza o sujeito frente ao espelho do seu tempo. Ângelo Flávio1 Artista de múltiplos talentos, ator, diretor, dra- Nascido na Cidade de Franca, interior de São maturgo, artista plástico e ensaísta, Abdias Nasci- Paulo, no dia 14 de março de 1914, Abdias Nasci- mento (1914-2011) foi senador, secretário de es- mento, filho do sapateiro senhor José Ferreira do tado, Professor Emérito da Universidade de NY Nascimento e da cozinheira dona Georgina Fer- e Doutor Honoris Causa pelas Universidades de reira do Nascimento (D. Josina), veio ao mundo Brasília, Rio de Janeiro e Federal da Bahia. Dedicou em uma época tumultuada, como ele mesmo dizia: toda a sua existência à luta anti-racista no mundo. “Havia ainda o rescaldo das lutas abolicionistas, e a grande Homem de postura cívica e cidadã na participação massa de africanos escravizados não tinha tido tempo de da vida político-cultural do que temos hoje como tomar pé de suas próprias vidas”2. Brasil. A cultura brasileira e, especificamente a Aos 16 anos, em 1930, mente a idade e alista-se afro-brasileira no contínuo processo de afirmação no exército para sair da cidade de Franca rumo à da sua identidade frente à cultura globalizada deve Capital de São Paulo. Na Revolução de 1932, passa a este homem honrarias incontestes pelo poder de a frequentar as reuniões da frente negra, “foi nesse ter questionado o imperativo das representações principio de militância orgânica que pude começar a sentir simbólicas da nação brasileira canonizado no ideá- e a entender o orgulho coletivo, porque o orgulho individual, rio do colonizador macho-branco-europeu. 2 SEMOG, Elé. Abdias Nascimento: o griô e as muralhas. p. 1 Ator e bacharel em direção teatral. 190 30. Repertório, Salvador, nº 17, p.190-194, 2011.2 que também é necessário, eu já tinha”3 lembrava-se. Na prática, o conceito intrinsecamente político da afirmação e do mesma década lutou contra a ditadura no seio do resgate da cultura-africana brasileira, com a atuação política Estado Novo, organizou o Congresso Afro-campi- ostensiva”5, relata Elisa Larkin, sua esposa. neiro e viajou para o Peru, com o grupo de poetas O TEN não se restringia somente ao palco, mas e artistas a Santa Rosa Hermandad. Por esta oca- se propunha a “trabalhar pela valorização do negro no sião, ficou chocado, ao ver o ator Hugo D’Evieri Brasil através da educação, da cultura e da arte”, como pintado de negro na peça O Imperador Jones de Eu- definia Abdias, promovendo, assim, mecanismos gene O’Neill e, diante disso, retorna ao Brasil, com de interferências político-sociais, que partiam des- o propósito de criação de um Teatro Negro. de o ‘Curso de Alfabetização e Iniciação Cultural’ Fundou o Teatro Experimental do Negro às ações como o Concurso da Rainha das Mulatas (TEN) em 1944, juntamente com Lea Garcia, Ruth e Bonecas de Pixe nas décadas de 40 e 50, a Con- de Souza, Aguinaldo de Oliveira, Claudiano Filho, venção Nacional do Negro (1945) na qual lança Mercedes Batista, Solano Trindade, Arlinda Sera- o seu Manifesto à Nação Brasileira propondo a cri- fim, Haroldo Costa entre outros, mas antes havia minalização do preconceito racial no país para ser fundado o Teatro do Sentenciado na Carandiru, encaminhado para a Constituinte de 1946, a Con- penitenciária de São Paulo, “lá nós construíamos o Pal- ferencia Nacional do Negro (1949), o I Congresso co, fazíamos o Vestuário. Éramos só homens e fazíamos as do Negro Brasileiro (1950), Competição Plástica vestimentas de mulheres, tinha até uma Carmem Miranda Cristo Negro (1955), a Semana do Negro (1955) e que também fazia um Lampião4”, recordando as pe- a Edição da Revista Quilombo, em 1961, entre ou- ças teatrais durante a ocasião em que fora preso tras atividades. “O TEN nunca foi só um grupo de por infração disciplinar no exército: “Foi uma reação Teatro, era uma verdadeira frente de luta”6, revela. extraordinária a receptividade, a reação dos presos, todos A partir do Golpe de 1964, a censura impediu ali sentadinhos assistindo ao teatro...”, conclui. Levou a continuidade das atividades do TEN e, com a re- quase três anos preso, até que o Supremo Tribunal pressão política, as estratégias de ação da entidade Federal, tardiamente, soltou-o por não encontrar ficaram restritas. Em 1968, com a intensa repres- provas, e por entender que Abdias não poderia são instituída pelo AI-5, foi obrigado a deixar o permanecer em uma penitenciária uma vez que país acusado de fazer ligação entre o movimento fora julgado por um tribunal militar. negro e os grupos de esquerda. “Bom, o concreto nosso é a estréia. Queremos estrear O exílio dá inicio a outra fase na vida de Abdias, no Teatro Municipal”, dizia Abdias, juntamente com agora, em uma luta internacional organizada e Pan- uma comissão, ao presidente Getúlio Vargas em africanista. Suas contribuições sempre propuseram 1945. Havia para o grupo uma espécie de simbo- uma discussão sobre os modelos sócio-racial- ibe- lismo adentrar num espaço onde os negros não ro-latino. Recebido nos EUA, pelo Sr Bobby Sale, entravam nem como artistas e nem como platéia, presidente dos Panteras Negras, Abdias também apenas como faxineiros. “E ele, para a minha surpre- manteve contato direto com o poeta Amiri Baraka sa, não só apoiou a ideia, como mandou que se reservasse a e Stokely Carmichael, criador conceitual do Black data que eu escolhesse para a estréia do Teatro Negro”. As- Power. Para ele, a militância pró-causa negra eram sim, no dia 8 de maio de 1945 - momento em que as mesmas, a diferença se dava pela liberdade de o mundo vivia a tensão da segunda guerra mundial expressão conquistada nos Estados Unidos para com as forças nazistas – o TEN estreava o seu pri- lutar sem “a mordaça da democracia racial de esquerda ou meiro espetáculo no Teatro Municipal, do Rio de de direita no Brasil”. Janeiro. A experiência desenvolvida com o TEN, aqui “O Teatro Experimental do Negro foi o primeiro ele- no Brasil, rendeu-lhe o convite como professor mento do movimento afro-brasileiro a ligar, na teoria e na 5 NASCIMNETO, Elisa Larkin. Pan-africanismo na Améri- 3 Idem. p. 78. ca do sul. Rio de Janeiro: Editora Vozes/Ipeafro. 4 Ibidem. p.116. 6 SEMOG, Elé. Abdias Nascimneto: o griô e as muralhas. p. 128 191 Repertório, Salvador, nº 17, p.190-194, 2011.2 visitante na Yale School of Drama e a Wesleyan PRÊMIOS E ORDEM DO MÉRITO10 University, em Middletown, Connecticut. A Uni- versidade do Estado de Nova York, em Búfalo, Em 2001, o Centro Schomburg de Pesquisa convidou-o como professor associado, no Depar- das Culturas Negras, Biblioteca Pública Municipal tamento de Estudos Porto-Riquenhos e, após dois de Nova York em Harlem, entrega-lhe o Prêmio anos, foi promovido a professor catedrático. Tam- da Herança Africana Mundial. Recebe o prêmio bém foi professor no Departamento de Línguas UNESCO na categoria “Direitos Humanos e Cul- e Literaturas Africanas da Universidade Obafemi tura” (2001) e o Prêmio Comemorativo da ONU Awolowo, Ilé-Ifé, Nigéria (1976-77). por Serviços Relevantes em Direitos Humanos A contínua denúncia sobre o racismo no Brasil (2003). feita por Abdias fora do país gerava certo senti- No Ano Internacional de Celebração da Luta mento de ira e constrangimento para os dirigentes contra a Escravidão e de sua Abolição (2004), a brasileiros, “na ânsia de tornar invisíveis, inverossímeis e UNESCO cria o prêmio único Toussaint Louver- extemporâneos as denúncias sobre o cotidiano de opressão, ture para reconhecer dois intelectuais ativistas, Ab- pobreza e exclusão impostas aos afro-brasileiros por séculos dias Nascimento e Aimé Cesaire, que dedicaram a fio, empenhou-se de todas as formas a tentativa de calar o suas vidas à luta contra o racismo e a discriminação professor Abdias Nascimento”7, depõe seu biográfo e racial. amigo Elé Semog. Em 2006, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Eleito vice-presidente do II Congresso de Cul- Lula da Silva, condecora Abdias Nascimento com tura Negra das Américas, no Panamá (1980), che- a Ordem do Rio Branco no grau de Comendador. gou ao Brasil em 1981 com a missão de organizá- Em 2007, o Ministério da Cultura lhe outorga a lo. Fundou o IPEAFRO – Instituto de Pesquisas Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural; em 2009 e Estudos Afro-Brasileiros (1982), exerceu seu recebe do Ministério do Trabalho a Grã Cruz da primeiro mandato como Deputado Federal (1983- Ordem do Mérito do Trabalho. Todos os três são 1986) e Senador (1997-2000), voltando-se para as as mais altas honrarias do Governo Federado do causas anti-racistas. Em 1999, assumiu a nova Se- Brasil em suas respectivas áreas. cretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Go- O Conselho Nacional de Prevenção da Discri- verno do Estado do Rio de Janeiro. minação, do Governo Federal do México, outorga- “Eu tinha um contato direto com a pobreza, morando lhe prêmio em reconhecimento à sua contribuição na pobre Penha daquela época, mas foi o Abdias que me destacada à prevenção da discriminação racial na ensinou a compreender as causas daquela pobreza.8” Au- América Latina (2008). gusto Boal . É Doutor Honoris Causa pela Universidade do Abdias do Nascimento se despediu do Ayê rumo Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal da ao Órum no dia 24 de maio deste ano de 2011. Bahia; Universidade de Brasília; Universidade do Aqui deixou um exemplo de vida dedicada à eman- Estado da Bahia; Universidade Obafemi Awolowo, cipação de um país em desenvolvimento, uma obra Ilé-Ifé, Nigéria.
Recommended publications
  • O QUILOMBISMO Abdias Do Nascimento Este Livro Destina-Se Ao Uso Exclusivo De Deficientes Visuais, Não Podendo Ser Copiado Ou Ut
    O QUILOMBISMO Abdias do Nascimento Este livro destina-se ao uso exclusivo de deficientes visuais, não podendo ser copiado ou utilizado com quaisquer fins lucrativos. Ignorar essa advertência significa violar a lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, que regulamenta os direitos autorais no Brasil. O QUILOMBISMO Documentos de uma militância pan-africanista Livros do mesmo autor: Sortilégio (Mistério Negro). Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro. 1960. Dramas para Negros e Prólogo para Brancos (antologia de teatro negro-brasileiro) Rio de Janeiro: Teatro Experimental do Negro. 1961. Teatro Experimental do Negro-Testemunhos. Rio de Janeiro: GRD. 1966. O Negro Revoltado. Rio de Janeiro: GRD. 1968. "Racial Democracy" in Brazil: Myth or Reality?, traduzido por Elisa Larkin Nascimento. Ibadan: Sketch Publishing Co. 1977. O Genocídio do Negro Brasileiro - Processo de um Racismo Mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1978. Sortilege (Black Mystery) traduzido por Peter Lownds. Chicago: Third World Press 1978. Mixture or Massacre? Essays in the genocide of a Black People, traduzido por Elisa Larkin Nascimento. Buffalo: Afrodiaspora. 1979. 1980, Abdias do Nascimento Direitos de publicação: Editora Vozes Ltda. Rua Frei Luís, 100 25600 Petrópolis – RJ Brasil Diagramação Beatriz Salgueiro Em memória dos 300 milhões de africanos assassinados por escravistas, invasores, opressores, racistas, estupradores, saqueadores, torturadores e supremacistas brancos; Dedico este livro aos jovens negros do Brasil e do mundo, na esperanca de que continuem a
    [Show full text]
  • II Seminário Sankofa “Descolonização E Racismo: Atualidade E Crítica” “Abdias Do Nascimento: Aspectos H
    Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano IV, Nº 8, Dezembro/2011 Dossiê – II Seminário Sankofa “Descolonização e Racismo: atualidade e crítica” “Abdias do Nascimento: Aspectos Históricos de um Militante Negro” 1 Eduardo Januário 2 1. Introdução. O objetivo desta apresentação é recordar os aspectos históricos da militância de Abdias do Nascimento, abarcando o contexto nacional e internacional. As fontes utilizadas foram dois livros publicados por Abdias: Genocídio do Negro Brasileiro e Quilombismo, documentos de uma militância Pan-africanista . A ideia é identificar por meio dos relatos escritos por ele, as relações e os diálogos raciais da década de 1970 que, por sua vez, revelam o lugar histórico 3 que condicionou suas próprias reivindicações. Afinal, as questões por ele discutidas e levantadas ainda ecoam fortemente nas pautas de reivindicações do Movimento Negro Contemporâneo –sobretudo, as políticas de ações afirmativas. 2. Aspectos históricos. As reivindicações contra o escravismo e a exploração do negro tiveram início, em escala institucional mais abrangente, no começo do século XX, com o Pan-Africanismo. Este movimento tinha como principal característica a denúncia do extermínio do povo africano e seus descendentes no mundo, propondo “a unificação do continente africano e a aliança concreta e progressiva com uma diáspora unida” 4; destacaram-se como militantes históricos, entre outros: Sylvester Willliams, W.E.B. Du Bois e Marcus Garvey. No pós-2ª. Guerra Mundial, o processo de descolonização acirrou o posicionamento anti-colonialista de militantes 1 Uma pequena parte desta comunicação foi publicada também no artigo denominado “Trajetória do Militante Negro” na edição Militantes da Revista Mouro – Dezembro /2012.
    [Show full text]
  • The Ancient Kemetic Worldview and Self-Liberation: Mdw Ntr and Seeing with Sia
    THE ANCIENT KEMETIC WORLDVIEW AND SELF-LIBERATION: MDW NTR AND SEEING WITH SIA A Thesis Submitted to the Temple University Graduate Board In Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree MASTER OF ARTS by Stephanie Joy Tisdale May 2013 Thesis Approval: Dr. Iyelli Ichile, African American Studies, Thesis Advisor © Copyright 2013 by Stephanie Joy Tisdale All Rights Reserved ii ABSTRACT As the direct descendants of the first human beings, African people are the supreme witnesses of Creation itself, and senior authorities regarding the earthly Creations. African people bear supreme witness to humanity, and the most effective methods of being human: the biology and chemistry of life, the physiological and metaphysical aspects of earthly existence, and the science of the cosmic Creations—observing all that is above and what exists there, beyond the sky. By definition humanity is African: the first human beings were African and the first defining innovations of humanity were birthed in Africa. Since history is necessarily a study of the origins of humanity, and the first humans were African, history then must initiate at the emergence of humankind, which took place in Africa. The records left and maintained by the oldest humans on earth—written, memorized, or otherwise—provide amazing clues as to the initial Creation and subsequent development of humankind. As each successive generation works to strengthen the collective memory of their own people’s past before conquer, the struggle to remember memories and to keep traditions intact becomes even more evident. As with every epic turn of events, the conquered are forced to decide if they will remain as such or not.
    [Show full text]
  • Africa’ Within the Diaspora: the Significance of the Relationship Between Haiti and Free Africans of Philadelphia Following the Haitian Revolution
    LOCATING ‘AFRICA’ WITHIN THE DIASPORA: THE SIGNIFICANCE OF THE RELATIONSHIP BETWEEN HAITI AND FREE AFRICANS OF PHILADELPHIA FOLLOWING THE HAITIAN REVOLUTION A Dissertation Submitted to the Temple University Graduate Board In Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree DOCTOR OF PHILOSOPHY by Maria Ifetayo Flannery May, 2016 Examining Committee Members: Molefi Kete Asante, Advisory Chair, Africology & African America Studies Kimani Nehusi, Africology & African American Studies Benjamin Talton, History Diane Turner, External Member, Charles L. Blockson Afro-American Collection i © Copyright 2016 by Maria Ifetayo Flannery All Rights Reserved ii ABSTRACT The purpose of this study is to produce an Africological model that lends attention to epistemological questions in African diaspora research through theoretical and culturally based analysis, ultimately to aid the historical and psychological restoration of Africans in diaspora. This work reflects the theoretical and historic stream of scholarship that centers geographic Africa as the adhesive principle of study in shaping and understanding the cultural and political ally-ship between different African diasporic communities. My aim is to illustrate what Africa represents in diaspora and how it was shaped in the conscious minds and actions of early Africans in diaspora from their own vantage point. Secondly, through a case study of the intra-diasporic relationship between Haiti and free Africans of Philadelphia following the Haitian Revolution, this work lays precedence for the expansion of an African diasporic consciousness. The significance of the intra-diasporic relationship is in the mutual recognition that Haitians and Africans in North America considered themselves a common people. Moreover, they developed an international relationship during the early 19th century to serve their mutual interest in African freedom and autonomous development despite Western expansion.
    [Show full text]
  • ENTREVISTA CARLOS MOORE: TRAVESSIAS DE UM INTELECTUAL ENGAJADO Selma Maria Batista De Oliveira1 De Entusiasta a Crít
    ENTREVISTA CARLOS MOORE: TRAVESSIAS DE UM INTELECTUAL ENGAJADO Selma Maria Batista de Oliveira1 “O carrasco mata sempre duas vezes, a segunda pelo silêncio” (Provérbio africano). De entusiasta a crítico do regime cubano, o escritor, etnólogo e cientista social Carlos Moore, descreve sua luta contra o racismo na sua autobiografia, Pichón, publicada em 2015, no Brasil. Pesquisador do tema há mais de 40 anos, vive atualmente em Salvador, e aos 74 anos mantém­se militante e engajado socialmente na luta pela valorização do povo negro. Saiu da ilha de Cuba em 1963, morou em diversos países, militou ao lado de vários intelectuais e artistas negros fundamentais à história do século XX, a exemplo de Myriam Makeba, Malcom X, Aimé Césaire, Max Roach, Maya Ange­ lou, Cheikh Anta Diop, Fela Kuti, Stokely Carmichael, Lélia Gonzáles e Abdias do Nascimento. Publicou vários livros, dentre os quais destacamos Racismo e Sociedade, uma obra fundamental para compreender as bases epistemológicas do racismo, e Fela. Esta vida puta. Na sua autobiografia, Moore apresenta suas travessias como militante, diaspórico e inte­ lectual engajado que dedica sua vida à luta contra o racismo e pela transformação social. Nesta conversa com a Revista Grau Zero, ele nos recebeu em sua residência no Bairro de Nazaré, para falar sobre a luta conta o racismo, as travessias em busca da igualdade e o papel do intelectual engajado nos territórios diaspóricos. 1 Mestranda do Programa de Mestrado em Critica Cultural, UNEB, Campus II, Alagoinhas (BA). Bolsista CAPES. Endereço eletrônico: [email protected]. Grau Zero — Revista de Crítica Cultural, v. 4, n. 1, 2016 | 239 Leitora e leitor, sintam­se à vontade para adentrar o texto.
    [Show full text]
  • Mobilising for Group-Specific Norms
    LONDON SCHOOL OF ECONOMICS AND POLITICAL SCIENCE MOBILISING FOR GROUP-SPECIFIC NORMS: RESHAPING THE INTERNATIONAL PROTECTION REGIME FOR MINORITIES CORINNE LENNOX A THESIS SUBMITTED TO THE DEPARTMENT OF INTERNATIONAL RELATIONS OF THE LONDON SCHOOL OF ECONOMICS AND POLITICAL SCIENCE FOR THE DEGREE OF DOCTOR OF PHILOSOPHY LONDON, JULY 2009 Declaration I certify that the thesis I have presented for examination for the MPhil/PhD degree of the London School of Economics and Political Science is solely my own work other than where I have clearly indicated that it is the work of others (in which case the extent of any work carried out jointly by me and any other person is clearly identified in it). The copyright of this thesis rests with the author. Quotation from it is permitted, provided that full acknowledgement is made. This thesis may not be reproduced without the prior written consent of the author. I warrant that this authorization does not, to the best of my belief, infringe the rights of any third party. 2 This thesis is dedicated to the memory of: Atsuko Tanaka-Fox whose hard work and dedication made a lasting impact on the protection of minority rights globally and to Murray Osborne and Lee Sinclair-Osborne who are also dearly missed. 3 ABSTRACT This thesis examines the agency of minority groups and their international allies in reshaping the international protection regime for national, ethnic, religious and linguistic minorities to include new group-specific norms. The practices of ―norm entrepreneurship‖ by two groups, Dalits and Afro-descendants, are considered in detail and contrasted with the experiences of similar norm entrepreneurship by indigenous peoples and Roma.
    [Show full text]
  • Universidade Federal De Goiás Faculdade De Informação E Comunicação Programa De Pós-Graduação Em Comunicação Jackson D
    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO JACKSON DOUGLAS LEAL SILVA TRAJETÓRIA DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO: UMA BUSCA POR NOVOS CAMINHOS COMUNICACIONAIS GOIÂNIA 2018 TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR VERSÕES ELETRÔNICAS DE TESES E DISSERTAÇÕES NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), regulamentada pela Resolução CEPEC nº 832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico: [X] Dissertação [ ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação: Nome completo do autor: Jackson Douglas Leal Silva Título do trabalho: TRAJETÓRIA DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO: uma busca por novos caminhos comunicacionais 3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [ X ] SIM [ ] NÃO1 Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF da tese ou dissertação. ___________________________________ Assinatura do(a) autor(a)² Ciente e de acordo: _______________________________ Assinatura do(a) orientador(a)² Data: 24/04/2018 1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo.
    [Show full text]
  • The Revolution Will Be Televised: Afro-Brazilian Media Production in São Paulo, Brazil
    THE REVOLUTION WILL BE TELEVISED: AFRO-BRAZILIAN MEDIA PRODUCTION IN SÃO PAULO, BRAZIL A Dissertation Presented to the Faculty of the Graduate School of Cornell University In Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of Doctor of Philosophy by Reighan Alexandra Gillam May 2012 © 2012 Reighan Alexandra Gillam THE REVOLUTION WILL BE TELEVISED: AFRO-BRAZILIAN MEDIA PRODUCTION IN SÃO PAULO, BRAZIL Reighan Alexandra Gillam, Ph. D. Cornell University 2012 This dissertation documents the development of the TV da Gente (Our TV) television network in São Paulo, Brazil. The first network of its kind in Brazil, TV da Gente producers channeled blackness as a focal point for television production by employing Afro-Brazilians to appear on the shows as central figures and by creating content that sought to appeal to an Afro-Brazilian audience. This dissertation characterizes the racially unequal visual relations in Brazil through the ways in which Afro-Brazilians are and are not seen in public images. It foregrounds these racially unequal visual relations as sites of contestation for Afro-Brazilian media producers at TV da Gente. I track the roles of Afro-Brazilians in mainstream Brazilian visual culture to demonstrate the ways in which they remain conspicuously absent or marginally present with public representations. An examination of TV da Gente television producers’ intentions in program creation and an analysis of the programs they made shows that they privileged middle class images of Afro-Brazilians that emphasized education, professional work, and civic responsibility. I argue that the visual conditions of Afro-Brazilian images that already saturated the public sphere circumscribed the images available to TV da Gente workers for Afro-Brazilian visibility.
    [Show full text]
  • Africa and Its Diaspora in America Since 1900, Continuity and Change1
    African and Asian Studies A A S African and Asian Studies 7 (2008) 259-288 www.brill.nl/aas A Matter of Identity: Africa and Its Diaspora in America Since 1900, Continuity and Change1 Godfrey N. Uzoigwe, D. Phil., Oxon Professor of History, 203 Williamsburg Drive, Starkville, MS 39759, USA E-Mail: [email protected] Abstract Using Africa and its Diaspora in America as a paradigm, this article looks at the triple manifesta- tions of consciousness in the dialectic of relationships between the two groups since 1900, and notices both continuity and change that can be traced back to the 1700s. In Africa, this con- sciousness is reflected in the conflicting demands of continental Pan-Africanism or Mega-Nation- alism, Racial or Black Pan-Africanism (in a multi-racial continent), and Mezzo-nationalism of the continent’s present multi-nation states. In America it also has always had three faces (and not two as DuBois said) – American, Black-American and African. Studying these complex relationships that often contradicted one another and cut across class and ideological lines is a difficult and frustrating task. Th e article therefore suggests that a more rewarding effort is to focus attention on such issues as cultivating mutual respect, stressing common historico-cultral heritage, empha- sizing economic cooperation, and putting in place coordinated, effective political action between the groups that hopefully will lead to their solidarity and empowerment in the 21st century. Th e African Union should assume the initiative of constructing a more relevant and realistic Pan- African ideology based along the lines sketched above to achieve this goal.
    [Show full text]
  • Abdias Do Nascimento E a Crítica Da Consciência Histórica1
    RTH Página | 101 “MALÍCIA, IGNORÂNCIA OU NEGLIGÊNCIA”: ABDIAS DO NASCIMENTO E A CRÍTICA DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA1 Antonio Donizeti Fernandes2 Doutor em Ciências Sociais (UNESP-FFC) Professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) [email protected] Resumo: Nesta escrita trato das minhas experiências enquanto leitor dos escritos de Abdias do Nasci- mento. Retomo aqui, a partir de O quilombismo - documentos de uma militância pan-africanista -, às atividades desse intelectual negro e de seu ativismo nos anos de 70 e princípio dos 80. Busco dar enten- dimento ao seu pensamento, cuja concepção encontra-se intimamente atada às ideias de consciência histórica e de personalidade africana. Conceitos-chave do movimento Pan-Africanista que, por sua vez, perfazem-se vinculados às perspectivas de renascimento africano e de regeneração da África. Dedico- me, assim, a análise dos documentos 1, 3 e 7 de O quilombismo, tendo em conta a conexão de tais conceitos com a ideia de negritude para além da interiorização individual subjetivista de seus sentidos. Retomo, assim, a perspectiva de personalidade africana, personalidade negra e consciência negra como expressões de crítica ao modelo civilizatório eurorocentrista. O Quilombo, portanto, como tradução e força do espírito das instituições político-econômicas, religião, arte e cultura, mas também, comunidade em solidariedade; convivência e comunhão social. E, enquanto sua derivação e visão de mundo, o qui- lombismo como concepção de localidade e de centralidade da tradução de práticas - saberes e experiên- cias outras de grande lastro histórico. Palavras-chave: quilombismo; consciência histórica; personalidade africana; agência negra; localização. “MALICE, IGNORANCE OU NEGLIGENCE”: ABDIAS DO NASCIMENTO ET CRITIQUE DE LA CONSCIENCE HISTORIQUE Résumé: Dans cet écrit, je traite de mes expériences en tant que lecteur des écrits d’Abdias do Nascimento.
    [Show full text]
  • Mulheres Negras Em Durban: As Lideranças Brasileiras Na Conferência Mundial Contra O Racismo De 2001
    1 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS MULTIDISCIPLINARES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA SIBELLE DE JESUS FERREIRA Mulheres negras em Durban: as lideranças brasileiras na Conferência Mundial contra o Racismo de 2001 Brasília - DF Novembro de 2020 2 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS MULTIDISCIPLINARES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA SIBELLE DE JESUS FERREIRA Mulheres negras em Durban: as lideranças brasileiras na Conferência Mundial contra o Racismo de 2001 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania, da Universidade de Brasília, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Direitos Humanos e Cidadania, da Linha de pesquisa 3 - Direitos Humanos, História, Memória, Políticas Públicas e Cidadania. ORIENTADORA: Prof.ª. Drª. Vanessa Maria de Castro Brasília - DF Novembro de 2020 3 Sibelle de Jesus Ferreira Mulheres negras em Durban: as lideranças brasileiras na Conferência Mundial contra o Racismo de 2001 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania, da Universidade de Brasília, como requisito obrigatório para obtenção do grau de Mestre em Direitos Humanos e Cidadania, da Linha de pesquisa 3 - Direitos Humanos, História, Memória, Políticas Públicas e Cidadania. Aprovada em 30 de novembro de 2020. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________ Profa. Dra. Vanessa Maria de Castro (orientadora) ________________________________________ Profa. Dra. Renísia Cristina Garcia Filice (examinadora interna) ________________________________________ Profa. Dra. Ana Flávia Magalhães Pinto (examinadora externa) ________________________________________ Prof. Dr. Wanderson Flor do Nascimento (suplente) Brasília, 30 de novembro de 2020. 4 AGRADECIMENTOS O caminho percorrido até chegar na escrita do presente trabalho, com percalços e alegrias, conquistas e decepções, limitações e amplas reflexões, no fim se tornou para mim uma experiência de autoconhecimento.
    [Show full text]
  • Redalyc.An Afrocentric Approach to Musical Performance in the Black South Atlantic: the Candombe Drumming in Uruguay
    Trans. Revista Transcultural de Música E-ISSN: 1697-0101 [email protected] Sociedad de Etnomusicología España Ferreira, Luis An afrocentric approach to musical performance in the black south Atlantic: the candombe drumming in Uruguay Trans. Revista Transcultural de Música, núm. 11, julio, 2007, p. 0 Sociedad de Etnomusicología Barcelona, España Available in: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=82201112 How to cite Complete issue Scientific Information System More information about this article Network of Scientific Journals from Latin America, the Caribbean, Spain and Portugal Journal's homepage in redalyc.org Non-profit academic project, developed under the open access initiative An Afrocentric Approach to Musical Performance in the Black South Atlantic: The ... Página 1 de 15 Revista Transcultural de Música Transcultural Music Review #11 (2007) ISSN:1697-0101 An Afrocentric Approach to Musical Performance in the Black South Atlantic: The Candombe Drumming in Uruguay Luis Ferreira[1] Abstract The Candombe drumming by people of African descent in Uruguay is a sound case in the Southern end of the so called Black Atlantic. This paper analyzes style and interactive fluency in the body movements that generate sound and music, following the meanings attributed to each drum by noted expert drum musicians. It is argued how African cultural principles organize the musical performance suggesting that these music and dance practices may be fruitfully approached from an Afrocentered hermeneutical perspective. Further, an argument is advanced about the expressivity, philosophy and values embedded in Candombe drumming performances which responds to African cultural senses as well as encoding a local history of epic resistance and revitalization of consciousness.
    [Show full text]