Terra Arrasada: Imaginação E Política No Cinema Da Era Lula
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA CHRISTIAN TADEU GILIOTI TERRA ARRASADA: IMAGINAÇÃO E POLÍTICA NO CINEMA DA ERA LULA Versão Corrigida São Paulo 2018 1 CHRISTIAN TADEU GILIOTI Terra arrasada: imaginação e política no cinema da era Lula Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Filosofia, sob a orientação do Professor Doutor Paulo Eduardo Arantes. Versão Corrigida São Paulo 2018 2 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Gilioti, Christian Tadeu G474t Terra arrasada: imaginação e política no cinema da era Lula / Christian Tadeu Gilioti ; orientador Paulo Eduardo Arantes. - São Paulo, 2018. 262 f. Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de Filosofia. Área de concentração: Filosofia. 1. cinema nacional. 2. ideologia. 3. imaginação. 4. lulismo. 5. luta de classes. I. Arantes, Paulo Eduardo, orient. II. Título. 3 4 Banca examinadora Prof. Dr. Paulo Eduardo Arantes (Orientador) Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) Prof. Livre Docente Ismail Norberto Xavier Universidade de São Paulo (ECA-USP) Prof. Dr. Anderson Gonçalves da Silva Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) Prof. Dr. Adilson Inácio Mendes Universidade Anhembi Morumbi (UAM) 5 Nota de agradecimento Agradeço ao professor Paulo Arantes pela orientação e por todo o apoio. À professora Otília Arantes e ao professor Franklin Leopoldo e Silva pela atenção e pela disponibilidade em ajudar nas questões burocráticas que se apresentaram durante a pesquisa. Aos professores Ismail Xavier, Anderson Gonçalves e Adilson Mendes pelo tratamento honesto, generoso e crítico em relação ao trabalho, assim como pelas sugestões durante o percurso e a defesa. Aos camaradas Arthur Vonk, Cássio Lacerda, Daniel Lago Monteiro, Lúcia Skromov e Vinícius Pastorelli pela interlocução teórica e prática, pelo companheirismo e pela ajuda efetiva – imprescindíveis. À Poliana Pertence pelos anos compartilhados, pela força e por todo o incentivo – sem os quais este estudo não floresceria nem resistiria. Aos companheiros de “república” Alexandre de Oliveira Marques e Shigueru Watanabe Jr., pela amizade e pelos animados “laboratórios de ideias”. A todos que contribuíram para a formulação do ponto de vista defendido, das mais diversas maneiras: os professores Alex Calheiros, Edu Teruki, Gilberto Tedeia, Ivone Daré Rabello, José Pasta, Silvio Rosa e Rubens Machado Júnior; os camaradas Adirley Queirós, Bruno Carvalho, César Takemoto, Douglas Anfra, Fernando Frias, Fernando Vidal, Francis Vogner, Gustavo Assano, Givanildo Manoel, José Cesar de Magalhães Jr., Julio Miranda, Leonardo Masaro, Ludmila Costhek, Maíra Lacerda, Nicolau Bruno, Paulo Yacha, Patrícia Kruger, Rafael Pereira, Silvio Carneiro, Silva Viana, Tatiana Maranhão e Thiago Mendonça – além de muitos que não foram citados e integraram ou ainda integram o Seminário das Quartas, o Grupo História da Experimentação, o Cordão da Mentira e o Zagaia. Aos meus pais – Iraci e Vagner – e irmãos – Jr. e William – pelo trabalho e pelo amor. 6 À Marcela. 7 RESUMO GILIOTI, Christian Tadeu. Terra arrasada: imaginação e política no cinema da era Lula. 2018. 000 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, 2018. Resumo: Este estudo se propõe a investigar o processo social brasileiro recente, em diferentes dimensões, a partir da seleção e análise de alguns filmes nacionais produzidos a partir dos anos 2000. Levando-se em conta as transformações da conjuntura nacional durante o que se convencionou chamar de “era Lula”, a opção pela crítica de cinema com base materialista é uma tentativa de captar algumas dessas movimentações e, além disso, dar continuidade à tradição de investigação dos sentidos de nossa produção cinematográfica consolidada após sua fase de Retomada. Vistos em conjunto, os filmes não apenas permitem a visualização, em panorama geral, da situação de boa parte das classes sociais no Brasil, como também são capazes de figurar algumas projeções do imaginário nacional. Do ponto de vista estritamente estético, a configuração formal dos gêneros cinematográficos, reconhecida em perspectiva histórica, será confrontada com o estilo de cada uma das obras, garantindo assim a reflexão acerca das imbricações entre a lógica da obra de arte e a lógica da sociedade. Palavras-chave: cinema nacional; ideologia; imaginação; lulismo; luta de classes. ABSTRACT GILIOTI, Christian Tadeu. Waste Land: imagination and politics in movies from Lula’s era. 2018. 000 f. Thesis (Doctoral). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, 2018. Abstract: This study aims at investigating the recent Brazilian social process, in its different dimensions, from a selection and analyses of some Brazilian movies released after the year 2000. Taking into account the transformations of Brazilian context in the period commonly called “Lula’s era”, the option of movie criticism, from a materialistic perspective, is an attempt to capture some of its movements and, in addition, to continue the scholarly tradition on the meanings of our film industry that has been strengthened since the age of its Renewal. Taken as a whole, the movies not only allow a view, a general panorama, of the conditions of social classes in Brazil, but they are also capable of illustrating part of national imaginary projections. From a strictly aesthetic point of view, the formal arrangement of cinematographic genres, recognized in a historical perspective, will be set against the style of each work analyzed individually, thus assuring a reflection on the interconnection between the logic of the work of art and the logic of society. Key Words: Brazilian movies; ideology; imagination; Lula’s era; struggle of classes. [email protected] 8 O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda que trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. Machado de Assis Não se pode gritar mais forte que a guerra ou a Revolução. É mais fácil sucumbir. O senso de medida na arte assemelha-se ao da realidade em política. Leon Trotsky 9 SUMÁRIO Introdução: Por que cinema na era Lula?....................................................................... 11 Prólogo: Nação Póstuma................................................................................................ 37 Capítulo 1 - Paz é Guerra............................................................................................... 69 1.1 Pai-caveira: nova mitologia “nacional” em Tropa de Elite 2........................................... 70 1.2 Efeitos “colaterais”.................................................................................................... 108 Capítulo 2 - Engajamentos da Classe........................................................................... 117 2.1 O coração dos de baixo: moral proletária em Peões e Família Bráz – Dois Tempos........................................................................................................................... 118 2.2 Sombra e luz: projeções fantasmagóricas em Quanto vale ou é por quilo?, Os Inquilinos, Trabalhar Cansa, O som ao redor e Que horas ela volta?.................................................. 130 2.3 O golpe e as cabeças: revisionismo sui generis no Jogo das Decapitações..................... 146 Capítulo 3 - Imaginação e Explosão............................................................................. 158 3.1 Intenções “subversivas”............................................................................................. 159 3.2 Estética da conspiração: o cinema emergente de Adirley Queirós.................................. 169 Epílogo: Aos que virão................................................................................................. 196 Filmes analisados............................................................................................................ 206 Filmes citados................................................................................................................. 207 Bibliografia..................................................................................................................... 210 Imagens......................................................................................................................... 219 10 Introdução POR QUE CINEMA NA ERA LULA? 11 O estudo do cinema impõe a compreensão das guerras. A Primeira Guerra Mundial, seguida pela Revolução Russa, pela Crise de 1929 e dez anos mais tarde pela eclosão da Segunda Guerra Mundial formam juntas a sequência de acontecimentos que “legitimará” nos Estados Unidos – a partir da década de 40 – revisão e aprimoramento da doutrina de segurança nacional. O intervencionismo dos serviços de inteligência na produção de cultura em larga escala se torna permanente. Entre outros efeitos, cinema industrial e perspectiva militar unem-se em torno de objetivos bastante específicos: produzir filmes capazes de “reativar