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O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa”

Holocaust and the Internet: “ – the alternative encyclopedia”

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de1

Resumo: Desde a expansão da internet comercial, em meados dos anos 1990, diversos grupos e movimentos de extrema-direita têm utilizado cada vez mais a internet como meio de construção e propagação de conteúdos negacionistas, isto é, que negam a existência do Holocausto – parcial ou integralmente. Visando contribuir para uma melhor compreensão dos possíveis usos da internet pelos “negacionistas” e dos discursos por eles publicados, o presente artigo se debruça sobre um projeto de origem sueca, mas com alcance internacional, chamado “Metapédia – a enciclopédia alternativa”, composto por verbetes de conteúdonegacionistas e não-negacionistas. Conforme veremos, essa característica, ao lado de peculiaridades da base tecnológica que lhe dá forma (Media Wiki), faz da Metapédia um modelo singular na difusão do negacionismo, ainda que seu conteúdo não apresente qualquer originalidade. Palavras-chave: Negacionismo, Internet, Metapédia, Holocausto. Abstract: Since the commercial internet expansion in the mid-1990s, several far 1, Doutor em Historia Social (PPGHIS/UFRJ). Professor do departamento de História da UFF. Fundador e editor da rede social Café História (http://cafehistoria.ning.com).

Recebido em: 13/03/2016 Aprovado em: 20/05/2016 6

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” uma fraudejudaica para justificaraopressão dopovo palestino. extermínio emmassadejudeusduranteaSegundaGuerraMundial fora ummitoou do Irã,,deudiversas entrevistas àimprensa sugerindoqueo da negaçãodoHolocausto emmeadosdadécadade2000, quandooentãopresidente capazes defazer algoassim”. (KRAUSE-VILMAR, 2000, p.97). não queriam,emvistadohorror doscrimes,acreditar queseres humanostenhamsido nos algunscompromissos permanentes,umavez quemuitaspessoasnãopodiamou como ponderaDietfridKrause-Vilmar, “amonstruosidadedoscrimesnazistasimpõe- esfera públicae,sobretudo, para justificarointeresse daquelesquesedebruçamsobre oscampos damemória, que um dia será capaz disso – o negacionismonãoécapazdeeclipsarahistoriografia–edáqualquerprova de – vem desafiando tal lógica e se consolidando como um fenômeno internacional. Se parcial outotaldoHolocausto numerosos emúltiplososmeiosdeinformação. Nos últimosanos,contudo,anegação e testemunhadosdahistória,possasernegado,especialmentehoje,quandosão o Holocausto, quetambéméumdoscrimesmaisbemdocumentados,estudados artigo pretende analisarsomenteumadesuasmuitas manifestações. querer darcontadapresença doabundanteconteúdonegacionistanainternet,este anonimato naMetapédia eoutrascaracterísticasrelevantes desteprojeto. Longe de e última parte do artigo, meu propósito é abordar algumas questões referentes ao e pressupostos daAnálisedeDiscurso(AD) devertente francesa.Por fim,naquarta discurso negacionista em verbetes da seus aspectostecnológicos.Naterceira parte,buscodiscutircomoseapresenta o sua agendapolítica.Nasegunda,apresento aMetapédia aoleitor, dandoênfaseaos negacionismo: quando surge, quais sãoseusprincipais autores, vertentes equal a primeira parte,buscodiscutir, aindaquebrevemente, aemergênciadofenômeno do Keywords: ,Internet,Metapedia, Holocaust. Wiki), makes Metapedia anuniquecasefor historiansinterested inthiskindofsubject. feature, plusthepeculiaritiesofitsweb-basedfar rightuniverse. platform This (Media denial entries;however, thiscontentismixed withentriesaboutothersubjectsofthe called “Metapedia - the alternative encyclopedia”. Metapedia has a lot of Holocaust groups,this article focuses onaSwedish project, albeit with aninternational reach, denial content.To contributetoabetterunderstandingoftheInternetusageby these right groups and movementshave beenincreasingly utilizingittospread Holocaust from theUS”, o tema. Uma delas a norte-americana mínio dosjudeus.Em2009, Mahmoud Ahmadinejad concedeuváriasentrevistas nasquaisfalousobre desambiguizá-la, procurou demonstrarqueopresidente iranianonegava, defato,aexistência doexter 2. Aretórica deAhmadinejadsempre foi propositalmente ambígua.Porém, boapartedaimprensa, ao O queéo É possível suporqueograndepúblicosedeparou Pode parecer inconcebível queumcrimedeproporções gigantescascomo Este artigoédivididoemquatro partessequenciaisecomplementares. Na 22 set.2009. Disponível em:http://www.newsweek.com/ahmadinejad-offers-buy-uranium negacionismo dos rituaisconstitutivos dosmitospolíticos.Além disso, – conhecidopeloshistoriadores como“negacionismo” Newsweek. Cf: Newsweek, “Ahmadinejad offers to buy uranium tem, aomenos,obtidovisibilidadepúblicasuficiente FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. Metapédia. Para isso, vou me valer de conceitos pela primeiravez comaideia 2 Onegacionismo, no - 7

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” vários livros em defesa deantigos nazistas. fascista francêsMaurice Bardèche (1907-1998). Apartirde1947, Bardèche publica tão vigorosa como naFrança.Ahistoriadora cita, porexemplo, ocasodoproeminente Lipstadt sublinha que em nenhum outro lugar essa prática vai semanifestar de forma o escopoeaintensidadedasatrocidades nazistas.Quantoaolocaldesurgimento, nos anos1940, noimediatopós-guerra,comoumesforço dadireita paraminimizar entanto, émuitomaisantigo.DeborahLipstadtlocalizaoiníciodofenômeno ainda washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2005/12/14/AR2005121402403.html. Acesso: 2mai.2016. President CallsHolocaust ‘Myth’ inLatestAssault on ”, 15dez.2015.Disponível em:http://www. Washingtondo extermínio dos judeusporpartedeIsrael e de grupos sionistas.Cf:The Post, “Iran’s mentira nosentidoplenoou seoempregou otemo“mito” parasereferir aumsuposto“abusopolítico” sublinhava queoHolocausto era um“mito”. Porém, nãodeixou claro seconsiderava oHolocausto uma -us-79391 Acesso:2maio2016.Em2005,Ahmadinejadtambémdeudeclaraçõesaimprensa nasquais pesquisadores estãocontinuamentedescobrindonovos documentos,lançandonovas quanto aofatodequetodahistóriaestáfadada inexoravelmente àeterna revisão. Os uma estratégiadiscursivadeposicionamento.A comunidadeacadêmicanãotemdúvidas parte dosnegacionistas.(MILMAN, 2000, p.124) em detrimentodeoutro termo,“revisionista”, comoseautoproclamam atualmente boa direita. ÉFaurisson aindaquemsugere queotermo“negacionista” sejadeixadodelado Reino UnidoeAlemanha.Estabelecevínculoscomgruposneonazistasdeextrema- se tornarcadavez maispopular. DaFrança,eleseexpande paraosEstadosUnidos, qual negava aexistência dessascâmaras.ApartirdeFaurisson, onegacionismovai no um meiouniversitário expressivo – de literaturanaUniversidade deLyon. Faurisson –oprimeiro negacionistaoriundode voltar paraumdeseusprincipaisdiscípulos, (1929-), entãoprofessor negacionismo, emumasegundafase,iniciadanadécadade1970, asatençõesvãose de concentração.(Idem, p.51). especialmente aquelasquedavam contadocomportamentodosguardas doscampos Rassinier defende que os sobreviventes do Holocausto exageraram em suas histórias, or Holocausto naEuropa True atéosanos1960. Autordelivros comoThe EichmannTrial de outros sobreviventes –,Rassinier seria o principalrepresentante da negação do para relativizar oshorrores doscamposdeconcentraçãoeosrelatos dememórias fizeram questãoderessaltar, comoseacondiçãodeex-interno lhedesse licençamoral concentração deBuchenwald –fatoquetantoRassinierquantoseusseguidores sempre (1906-1967). Ex-comunista e,ironicamente, antigoprisioneiro políticodocampode do negacionismo.Essaposiçãomaiscaberiaaumoutro francês,oescritorPaul Rassinier negacionistas. (LIPSTADT, 1994, pp.49-50). aliadas. Parte doqueBardèche afirmouemsuaobraérepetido aindahojepormuitos que overdadeiro crimedeguerra,nofundo,foi apolíticadebombardeio dasforças os camposdeconcentraçãosãofraudes,quealemãesapenasseguiramordens e foram osresponsáveis porcomeçaraguerra,sustentaque partedasevidências sobre

Those Responsiblethe IncorrigibleVictors(1962) for theSecondWorld eThose War (1967), , otexto Oproblema dascâmaras degásouorumorAuschwitz, no Sobre otermo“revisionista” convém fazer umaobservação.Seuusonosinforma Para Luis Milman,seRassinierfoi onomedereferência nestaprimeirafasedo Mas seriaenganoso apontarBardèche comooprincipalnomedestaprimeirafase FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. ganhou famainternacionalem1979aopublicar, Nessas obras, oautorafirmaqueosjudeus 8

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de sensíveis nomeionegacionista: declararam guerraàAlemanha. (CASTAN, 1987, p.210). Setaistesesnãotrouxeram nada alemão” afirmandoqueascâmaras degásnãoexistiram equeforam os judeus que Castan, muitosdosquais publicadospelaRevisão, oautorprocura defender o“povo publicado em1987pelaeditoragaúchaPalloti. Neste eemoutros livros escritospor obras seintitula“Holocausto judeuoualemão–nosbastidores damentiradoséculo”, brasileiro descendentedealemães,SiegfriedEllwangerCastan.Umasuasprincipais editora dedicadaaobrasnegacionistaseantissemitas, aEditoraRevisão, fundadapelo pelo menos,osanos1980, quandosurgiu,emPorto Alegre, noRioGrandedoSul,uma relação aosdemaisgruposnegacionistas,Moraes sublinhaque necessariamente por separar o extermínio dosjudeusdahistóriadoTerceiro Reich. Em efetiva deconquistar o poder?Para setornarviável, areabilitação donazismopassa o Holocausto? Queadesãopoderiaterumpartidodessetipo? Teria elepossibilidade afinal decontas, nazismo enquantoopçãolegítimanocampopolítico-partidário.Comoseriaaceitável, é maisorganizado,prolixo einfluente, o objetivo dosnegacionistas é reabilitar o da moeda” e“umahistóriaalternativa”. textos apenasapresentarem “outra interpretação” dopassado,ouainda,um“outro lado menos doquerevisar opassado.Nãofortuitamente, osnegacionistasalegamemseus reconhecidos como historiadores, uma vez que destes não se espera nada mais, nada livres não só da carga pejorativa contida na palavra “negacionista”, mas também serem negacionistas reclamam orótulo de“revisionistas”. Aoinstituirtaltermoalmejamsever É precisamente por conta dessa dimensão epistemológica da historiografia que os mais doqueumúnicolivro sobre HistóriadoBrasilRepública ousobre aEraVitoriana. revisitada erenovada. Houvesse tratadoshistóricosinapeláveis, nãoprecisaríamos ter interpretações e levantando novos problemas. Assim, a história está sempre sendo 3. Essetipodealegaçãopode servistaprincipalmentenoslivros deDavid Irving. Luis Edmundo de Souza Moraes nos chama a atenção, no entanto, para diferenças No Brasil,onegacionismonãoéumtemacompletamente desconhecidodesde, No casodaextrema-direita, espectro políticoondeofenômeno donegacionismo haver umpartidodeorientaçãonazistahojeemdiatendovista 2011, p.4). especificidades paraosquaisoconceitotambémnão é sensível. (MORAES, em aspectosimportantes,sãocasosquenãoseconfundemeguardam de deslegitimação do Estadode . Estes, apesar de se sobreporem discurso negacionistaporpartedoanti-sionismoislâmicoemsuapolítica extrema-esquerda, comoosbordiguistas franceses (BIHR,1997),eousodo Ao ladoealémdaextrema-direita, valeaindamencionaronegacionismode motores eobjetivos muitodistintosparaoatodenegação.(MORAES,2011, p.4) trás deumamesmaatitude(negarpublicamenteoholocausto), seencontram podem edevem serseparadosanaliticamenteemfunçãodofatodeque,por escritos negacionistas e o ato de fazer uso destes argumentos e escritos prática meramenteinstrumental.Osatosdeconstruirargumentoseproduzir político homogêneo, e que negar o holocausto se trata, acima de tudo, de uma Proponho queonegacionismoéumfenômeno quenãoconstituiummovimento FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 3 9

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” tornou, nestesentido,umciberativismo. Ainternet,sublinhaoautor, gratuitamente. Conforme aponta Ricardo Figueiredo de Castro, o negacionismo se ajuda desites,blogs,fóruns eredes sociais.Tudo praticamentesemcustoseoferecido do Holocausto vão,apartir da web, alcançar um públicomuitomaisamplo com a e outros produtos impressos decurto alcance, comparca visibilidade,osnegadores beneficiar amplamentecomoboom incitação aoódiorecorrentemente aplicadaemcasosdenegação doHolocausto. cinco anosdeprisão,apenamáximaporviolaçãodaVolksverhetzung, leialemãsobre preso eextraditado para aAlemanha. Em seupaísdeorigem,foi julgadoecondenado a americanas o expulsaram do país por lhe faltar um visto válido. De volta ao Canadá, foi pôde reestabelecer osite.Doisanosdepois,noentanto,em2003,asautoridadesnorte- depois doportalserproibido noCanadá,Zündel semudouparaosEstadosUnidos,onde portal negacionistaacusadodepromover oódio.Ocasoarrastou-se por anos.Em2001, Zündel (1939-), amigodeRobert Faurisson. Zündel eraoproprietário doZundelsite, de Toronto entraramcomumaaçãojudicialcontra oalemãoradicadonoCanadá,Ernst ocorreu noCanadáem1997. Naquele ano, oCanadianJewish Congress (CJC) eaCidade Metapédia: qualquer tentativaderepressão àlivre manifestação deideias”. (CRUZ, 1997, p.228). que asociedadebrasileira,recém-saída doperíododitatorial,reagia profundamente a naquele momentopelasleisporque “encontrou campo noespaçopolíticobrasileiro, visto De acordo com NataliadosReis Cruz,aretórica deCastansónãofoi maisrechaçada que ideiasdetalnatureza penetravam maisfortemente naesfera públicabrasileira. que nãotivesse sidoditoantesporautores negacionistaseuropeus, eraaprimeiravez MENTE+O+REVISIONISTA+ERNST+ZUNDEL.html. Acesso: 14mai.2016. em: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1458372-5602,00-JUSTICA+ALEMA+CONDENA+DURA 4. OGlobo,“Justiçaalemãcondenadaduramente onegacionistaErnstZündel”,15/02/2007. Disponível conteúdo continuaram proliferando nosanos seguintes.Afacilidadedehospedagemem contra amanifestação donegacionismona internet,sitesquedisseminamessetipode – cobriaapenascasosdeódiotransmitidospor telefone. (KAHN,2004,pp.141-142). do AtodeDireitos HumanosCanadense “Caso Zündel” nãotinhaleisclarascontraincitaçãode ódionainternet.Oparágrafo 13 das leis.Seocasodemorou tantoparaserresolvido, foi porque ajustiçacanadenseno Estado. Alémdisso,apontaKahn,tambémdevemos considerara questãodavalidade se comafacilidadequeseusadministradores encontramparacontornaracensurado A. Kahnsublinhaqueaatuaçãodenegacionistas comoZündel nainternetrelaciona- A partirdosanos1990, odiscursonegacionista,dentro efora doBrasil,vaise Um dosprimeiros emaisconhecidoscasosenvolvendo negacionismonainternet Apesar dosesforços de agênciasgovernamentais e entidades judaicasnaluta negacionismoeinternet direita contemporânea. (CASTRO, 2014, p.9) mantém minimamenteligadososinúmeros ediversos pontosdaextrema- virtual deextrema-direita, istoé,umaverdadeira nebulosavirtualemquese do mundo que os oprime. Além disso, permite que se crie uma verdadeira rede visível aosmaisjovens eàquelessemesperançascomatransformação política permite que essa nova extrema-direita fascista amplifique sua voz e se torne FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. da internetcomercial. Anteslimitadosapanfletos – usadocomobasedaacusaçãocontraZündel 4 Robert - 10

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de (258). eslovaco (935); 13)checo(671); 14) norueguês(603); 15)holandês(413); 17) dinamarquês (2.639); 8) romeno (2.402); 9) francês(1.891); 10) português(1.664); 11)grego (1.005); 12) 3) inglês(13.225); 4) sueco(10.318); 5)espanhol(9.549); 6)estoniano(3.068); 7)croata esse rankingéorganizadodaseguinteforma:1) húngaro (147.684);2) alemão(58.510); – éadécimaemnúmero deverbetes. SegundoacontagemautomáticadaMedia Wiki, 17 línguas. A Metapédia em língua portuguesa – queserá nosso foco daqui em diante internet. No momentoemqueesteartigoéescrito,oportalencontra-sedisponível em duas sãotãoparecidas quepoderiamfacilmenteconfundirumexperiente usuáriode editou ouproduziu umartigoparaWikipédiasaberáfazer omesmonaMetapédia. A interface gráficaeseguemquaseosmesmosprocedimentos depublicação.Quemjá da 2011, pp.76-85). direita, casodo CiudadLibertad deOpinión,BuenosAires, naArgentina(MAYNARD, Texas, mas possui conexões com diversos outros sites, especialmente de extrema- mundo. A diversos tutoriaisnainterneteoconteúdopodeserhospedadoemqualquerlugardo A montagem é intuitiva, não requer conhecimentos profundos de programação, há lançar mãodoMedia Wikiparaconstruirsuaprópria enciclopédiacolaborativaonline. várias línguaseemváriospaíses,aMetapédia temas soboprismadeextrema-direita. negacionista, masquenãoselimitaaonegacionismo,abordando umaamplagamade a “Metapédia –aenciclopédiaalternativa”, quereúne diversos verbetes deteor esse fenômeno. É neste contexto que devemos compreender o nosso caso de estudo, servidores de paísesondealegislaçãoémaispermissivatemfacilitadosobremaneira 7. Alexa: http://www.alexa.com/siteinfo/wikipedia.org. Acesso:11demai.2016. 6. Metapédia: http://www.metapedia.org. Acesso:12mar. 2016. 5. Metapédia: http://www.metapedia.org. Acesso:12mar. 2016 a maiorenciclopédiadomundo). Wiki, umsoftware abertoegratuito,escritoemPHP, basedafamosaWikipédia(hoje, informa, uma“enciclopédia alternativa”. SuaestruturaéconstruídacombasenaMidia situa aMetapédia dentro deumcenárioexpansão doantissemitismonaweb: prestígio daWikipédia. considerar a possibilidade e até mesmo a intenção da Metapédia se valer, por tabela, do ao longodosúltimos15anoscomasuaestrutura denavegação. Neste sentido,podemos nesta enciclopédia,alémdaenormefacilidade queelaoferece edafamiliaridade criada internet. de acessosapáginasvirtuais,Alexa, aWikipédiaésétimapáginamaisacessadada pessoas aacessamtodososdiasembuscadeinformação. Segundoositedemedição notabiliza por ser uma das principais ferramentas de pesquisa da internet. Milhões de mais de35milhõesartigosemcentenaslínguas,aWikipédia,lançada2001,se língua. Metapédia émuitoparecida comadaWikipédia.Ambasusammesmafonte, amesma 6 Uma vez queéconstruídanaplataforma Media Wiki,aarquitetura denavegação Em umoriginalestudosobre osnovos fascismosnaEuropa, RasmusFleischer A semelhançavisualentre aMetapédia eaWikipédiaébastanterelevante. Com Cadalínguapossuioseupróprio site.Porém, osartigossãodiferentes emcada 7 Tal sucesso está relacionado diretamente aconfiança que as pessoas depositam Metapédia, por sua vez, é registrada na cidade norte-americana de Dallas, 5 FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. Qualquerpessoa,empresa ouorganizaçãopode Criada em2006,naSuécia,masdisponível em pretende ser, comoopróprio nome 11

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” potencialidades dessa“nova” internet: internet colaborativa.Luís Mauro SáMartino nosajudaacompreender alógicaeas Metapédia, nestesentido,estáintima e literalmenteconectadacom as tendênciasda os consumidores também podem criar e editar conteúdos online. (Cf. SPYER, 2007). A meados dosanos2000vem designandoummodelodeweb fundadonacolaboração, fóruns, blogs,redes sociaiseaplicativos. Comachamada“Internet2.0”, termoquedesde dos tradicionaispanfletos,manifestos, livros eartigos,difundem-selistasdee-mail, direita. Coma internettudomuda.Adisseminaçãodoconteúdoévirtual.Agora,além vendias, porsuavez, emlivrariasfrequentadas, viaderegra, porradicaisdeextrema- porém, em pequeno número e suas tiragens não ultrapassavam centenas de cópias, a eles.Emtermosdedistribuição,aseditorascumpriamumafunçãoimportante.Eram, a suaprodução erapreciso estaremcontatodireto comosautores oupessoasligadas se reservam o direito de recrutar pessoas, no sistemaeseraprovado pelosadministradores. Osresponsáveis pelosite também do projeto –criandooueditandoverbetes –ousuáriodeve apenascriarumperfil 8. Metapédia, “GettingStarted”:http://www.metapedia.org/gettingstarted.php. Acesso:12mar. 2016. Administrator (podempatrulhareapagar modificações,alémdebloquearusuários e Há três níveis deusuáriosnaMedia Wiki: Na Era pré-internet, o negacionismo era um movimento limitado. Para ter acesso O poderdecolaboraçãoétalvez oprincipalatrativo daMetapédia. Para participar potencial demobilizaçãonascomunidades.(MARTINO, 2015,p.47) espaço necessariamenteaptoàaçãopolítica,masdelevar emconsideraçãoo temas. Nãosetrata,desaída,considerarascomunidades virtuaiscomoum esperar algum tipo de mobilização em defesa desse núcleo compartilhado de virtuais organizam-se em torno de interesses comuns, é possível igualmente econômico. Háumimediatoreflexo político.Namedidaemqueascomunidades de conhecimentosemnecessariamenteatrelá-lo aalgumtipodepoder virtuais oferece apossibilidade desepensaremalternativasdistribuição Nesse sentido,acirculação deinformações gratuitasnascomunidades mercadoria preciosa na sociedade contemporânea, à disposição do coletivo. participantes contribuamcominformações paradeixaroconhecimento,uma um princípioéticonaeconomiadascomunidadesvirtuais.Éesperadoqueos dádiva (gifteconomy). Essa reciprocidade, como denomina o autor, é quase consumo e no lucro. Não por acaso, ele denomina isso de “economia da de interaçãohumanadiferentes daeconômicapautadanaprodução, no Rheingold, natroca enocompartilhamento,oferecendo possibilidades a circulação de bensnascomunidadesvirtuaisestápautada,segundo[Howard] make insinuationsabouta Jewish . (FLEISCHER, 2013,p.63) not statingtoomuchinwords butinsteadusingthehyperlinked wikiformat to “multi-fascism”. Metapedia tendstopromote anti-Semitisminacautiousway, Making itavitalmediumfor disseminationoftheideologylabeledhere as and awikisite(Metapedia). Today there exist adozen editionsofMetapedia. created ablogportal(Motpol.nu),politics. They aweb community(Nordisk.nu) a more ‘positive’ image Nordiska Förbundet made a coordinated effort touse the Internet to propagate with avastlydifferent ideologicalcharacter. Activistsfrom theSwedish group In 2007, anothernetwork begantocrystallize withinEurope’s radicalrightbut FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. of preferencialmente “escritores confiáveis”. neo fascist, Normal user(criam eeditamartigos); and nationalrevolutionary 8

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CARVALHO, Bruno Leal Pastor de Oliveira Santos. 7.Crimes soviéticos naSegundaGuerraMundial; 8.Monarquia; 9. AdolfHitlere10.Bruno 2.Segunda GuerraMundial;3.Cruz Celta;4.Lambda; 5.Olavo deCarvalho;6.Bolchevismo; milhões devisualizações.Sãoasdezpáginasmaisvistasnestaversão: 1.Página Principal; Na versão emlínguaportuguesa,sabemos,porexemplo, queelatotalizamaisdedois acessos nainternet. calculados paralheconferir autoridade. Todos esseselementos–somadosaenorme semelhança comaWikipédia–parecem ela seapresenta comoumaenciclopédianosentidoiluminista:lugardeconhecimento. não apelaparanenhumtipodelinguagemvisualmenteagressiva. Para todososefeitos, diretas com símbolos neonazistas e antissemitas. Sua interface é limpa, estruturada e redes sociais, aMetapédia émaisorganizadaerejeita, numprimeiro plano,associações se deplataformas negacionistasconvencionais, sobretudo fóruns ecomunidadesde na lógicadecomunidade,aMetapédia éagregadora, familiareconvidativa. Diferindo- pelos “Portais” quecadaversão daMetapédia possui.Um“portal”éumasubpágina, percebida nãosóatravés dosverbetes compilados noparágrafo anterior, mastambém uma certoimagináriopolíticoeculturaldaextrema-direita. Essaconstataçãopodeser está naposição83.659 destalista sueca) ocupaaposição82.746 nainternetnorte-americana os EstadosUnidos,aspáginassãobemequiparadas. Enquanto aMetapédia (de origem a internetpossuiatualmentepoucomaisdeumbilhãowebsites. 8.Liste jüdischerPersönlichkeiten; 9.Hooton-Plan; 10.Deutschfeindlichkeit. Deutschen; 4.Die Bilderberger; 5.Juden; 6.Hilfe: Übersicht; 7.Gaskammertemperatur; lidos: 1.Hauptseite; 2.; 3.Liste der von Ausländern in Deutschland getöteten milhões devisualizações.Nela, vamosencontrarentre osseguintesverbetes mais 17. Metapedia, “Statistik”:http://de.metapedia.org/wiki/Spezial:Statistik. Acesso:12mar. 2016. 16. Metapedia, “Statistics”:http://en.metapedia.org/wiki/Special:Statistics. Acesso: 12 mar. 2016. 15. Metapédia, “Estatísticas”:http://pt.metapedia.org/wiki/Especial:Estatisicas. Acesso:12mar. 2016. 14. Alexa, “IHR”:http://www.alexa.com/siteinfo/ihr.org. Acesso:12mar. 2016. 13. InternetLive Stats: http://www.internetlivestats.com/total-number-of-websites. Acesso:12mar. 2016. 12. Alexa, “IHR”:http://www.alexa.com/siteinfo/ihr.org. Acesso:12mar. 2016. 11. InternetLive Stats:http://www.internetlivestats.com/total-number-of-websites. Acesso:12mar. 2016. 10. Alexa, “Metapedia”: http://www.alexa.com/siteinfo/metapedia.org. Acesso:12mar. 2016. 9. Metapédia: “SecurityPolicy”: http://www.metapedia.org/securitypolicy.php. Acesso:12mar. 2016. IPs) eBureaucrat (podemmudarosníveis depermissãooutros usuários). 10.Jews. 6.Race andcrime;7.Cultural Marxism; 8.ElinKrantz; 9.Race andphysical attractiveness; Party; 4.American Freedom Party; 5.List ofranks,titles,andtermstheKu KluxKlan; as seguintes dez páginas mais vistas: 1.Main Page; 2.Britain Firsts; 3.British National no mundo–ocupaaposição282.912mesmoranking. norte-americana, fundadaem1978,umadasprincipaisreferências emnegacionismo a páginadoInstitutefor HistoricalReview (IHR) Metapédia entre opúblico negacionistatambémésignificativa.Deacordo como Alexa, Alguns dadosdeacessodamaioriadaspáginasMetapédia sãopúblicos. Segundo orankingAlexa, aMetapédia ocupaaposição67.664 emnúmero de Além dasuafacecolaborativa,porserumaplataforma multilinguística,baseada Como se pode inferir, a Metapédia está associada a temas que fazem parte de 16 Umoutro exemplo paracomparaçãoéaversão alemã,queultrapassa69 15 A versão em inglês, que soma maisde 35 milhões de visualizações, tem 10 Éumaposiçãoexpressiva, especialmenteseconsiderarmosque 14 FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. . – principal organização negacionista 12 13 Eseconsiderarmosapenas , apáginadoIHR(americana) 11 Aimportânciada 17 9 13

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” Bethania SampaioCorrea Mariani, nada mais é do que a língua em movimento, a língua produzindo sentido. De acordo com por umaideologiaeatravessadas porsentidos.Odiscurso,apartir destepressuposto, não éoseusujeitoenunciador. Aspalavras, produto deummeio,sãosempre marcadas acrescentar, partedoprincípiodequeaspalavras nãosãoneutras,assimcomotambém trabalhar aanálisedediscurso” oferecendo lugarainterpretação”. Énesteespaço,concluiPêcheux, “que pretende determinada)como uma série (léxico-sintaticamente de pontos de deriva possíveis, “todo enunciado,todasequênciadeenunciadosé,pois,linguisticamentedescritível com Michel Pêcheux, principal nome desta vertente metodológica interdisciplinar, conteúdo, vamosnosampararnatradiçãofrancesadaAnálisedeDiscurso.Deacordo do queéaMetapédia, comumatodasassuasversões: direito deinformar “o queexiste”. Tal posicionamento pode serobservadonadefinição língua eahistória.Desteesforço éamalgamadaumapseudo-históriaquesereserva o manifestação –équeelefeito unicamentedeummovimento ideológicoenvolvendo a esse discursonãoquerevidenciar deforma alguma–masquedeixaevidente acada sua função combater toda produção discursiva que não vem desse não-lugar. O que língua. Essenegacionismoinforma queoseudiscursonascedaneutralidadeeé justamente essadinâmicaqueelaboraalinguagem:faztábularasa dahistóriae 18. Metapedia, “Portais”: http://pt.metapedia.org/wiki/Categoria:Portais. Acesso:12mar. 2016. Metapédia: Revolução Conservadora. Segunda GuerraMundial,Terceiro Reich, Terceira Via,Tradição Indo-Europeia e Português, Nova Direita, Música Alternativa, Nacionalismo no Mundo, Revisionismo, Ocidentais, Marxismo, Portal Comunitário,NacionalismoBrasileiro, Nacionalismo alfabética sãoeles:BiologiaSocial,ConceitosPolíticos, Fascismo Italiano, Intelectuais temática. NaMetapédia emlínguaportuguesaencontramos17portais.Emordem uma maneiradeorganizarartigosecategoriasquedizem respeito aumadeterminada Para analisar oconteúdonegacionistadaMetapédia, oumelhor, umapartedeste O negacionismodaextrema-direita, incluindoodaMetapédia, querapagar análisedeumdiscursonegacionista se, queficamdefora -enciclopédiasoficiais [Grifo meu]. A Metapédia tem a suaatençãoemassuntosque nãosãogeralmenteabordados em–entenda- ‘enciclopédia’. O nometemumduplosignificado simbólico: aMetapédia centra que significa‘exterior’ ou‘paraalémde’; e‘enkykliospaideia’ quesignifica A palavra ‘Metapédia’ éresultante dedoisconceitosdogrego clássico:‘meta’ Uma enciclopédiaeletrônica sobre cultura,arte,ciência,filosofiaepolítica. são processos inseparáveis. (MARIANI,1996,p.31) história, por sua vez, sóexiste como tal porque faz sentido. Língua e história ossentidossóseproduzem porque sãohistóricos, e a linguagem/história; das “coisas” é resultado da suaconstituição no âmbito da própria relação serviria apenasparadesignarouinformar oque“existe”, masa existência não épossível conceberalinguagemcomoum sistemacomunicativo que 18 (PÊCHEUX, 1998,P.53). AAnálisedoDiscurso,podemos FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 14

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de considera umahistória“distorcida”: do de conhecimentoquesepretende neutra,científica,paraalémdoEstado.Umtrecho e mentirosa. Daíanoçãode“metapolítica” usadapelaMetapédia , istoé,umaproposta Holocausto como também que tal conhecimento corresponde a uma história manipulada não só que há um “discurso oficial” hegemônico na produção do conhecimento sobre o uma “alternativa” auma“perspectivahistóricaoficial”. iniciativas negacionistastradicionaisdeextrema-direita. AMetapédiase definecomo é adversário einstrumentodecombate–écentralparaaMetapédia: “revisionista”, desmontara“históriaoficial”. Neste sentido,opoderdalinguagem–que historiografia: é o mote principal, por exemplo, de um dos textos apócrifos mais conhecidos pela as massas dehomens e mulheres em quase todos os aspectos da realidade social. Este onipresentes, ardilosos, quasesempre judaicos,responsáveis porludibriarealienar da extrema-direita que acredita na influência de grupos financeiros poderosos, nova. Elapodedeve servistacomopartedeumamitologiaconspiratóriamaisampla 21. Metapedia, “Mission”: http://www.metapedia.org/mission.php. Acesso:12mar. 2016. 20. Metapedia, “Mission”: http://www.metapedia.org/mission.php. Acesso:12mar. 2016. 19. Metapedia: http://pt.metapedia.org/wiki. Acesso:12mar. 2016. Mission Statmentdoprojeto deixa bemclaro asuaintençãodecombateraquiloque A estratégiaadotadapelositenãosediferencia, portanto,dasprincipais A referência à“Escola deFrankfurt”nãoéfortuita. Estemovimento intelectuale A noçãodeumahistóriacontrolada eescritapor homenspoderosos nãoé Os Protocolos dosSábiosdeSião(GINZBURG, 1990). Caberiaaovulgo League, SouthernPoverty Law Center, SimonWiesenthalCenter, andsuch. on strongly biasedandhostile“researchers” like Searchlight, Anti- general publicaswell asfor academics,whountil now have beendependent present amore balancedandfairimageofthepro-European strugglefor the as asearchable reference. Furthermore Metapedia gives ustheopportunityto to expand theirknowledge onvariousimportant subjects,andalsofunctions resource for pro-European activists.Metapedia makes iteasyfor ourcadres [grifo meu]. Anotherimportant purposeof Metapedia is tobecomeaweb meu], anditistherefore important thatwe startre-conquering ourlanguages and thelike. clearlyillustratesthepower oflanguageandwords This [grifo pathological by inventing and popularizing concepts such as “” previously naturalandsoundvaluesattitudes making themseem are good examples in this regard, and have been very successful in stigmatizing shape people’s worldvie/w. Frankfurt Schoolandtheirideologicalheirs The possibilitytoinfluencethelanguage[grifo meu]The isvitalifyou wantto opponents’ successfulculturalstruggle. their originalmeaning–whichcanberegarded asaresult ofourpolitical in thesemoderntimes,where many conceptshave beendistortedandlost ismore importantthaneverevery metapoliticaland culturalstruggle.This interpretations of various phenomena and historical events is a vital part of Being abletopresent one’s own definitionsofconceptsaswell as a perspectivahistóricaoficiais[Grifo meu]. uma finalidademetapolítica,comointuitodeinfluenciardebate,aculturae FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 20 Esse tipodeenunciadosugere

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O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” denominar queesseconjuntodeenunciados produz odesenho deumaformação na verdade, “inverídicas”. Suas evidências são “falseadas” e “produzidas”. Podemos texto, ascâmarasdegás,umdossímbolosdaSoluçãoFinalquestão judaica,seriam, oficial” equeamissãodo“revisionismo histórico” édesmascará-lo. Deacordo como 12 mar. 2016 23. Metapedia, “Revisionismo histórico”: http://pt.metapedia.org/wiki/Revisionismo_histórico. Acesso: 12 mar. 2016 22. Metapedia, “Revisionismo histórico”: http://pt.metapedia.org/wiki/Revisionismo_histórico. Acesso: “frankfurtianos” équemmanipulamasmassasenãoofascismo. TRINTA, 2003,p.119). OqueaMetapédia faz,noentanto,éinverter alógica:osautores de pessoas,promovendo umafalsaconsciênciadosfatosdoreal.” (POLISTCHUK; Frankfurt, “os meios de comunicaçãoajudaramadoutrinaremanipularmilhares sublinham IlanaPolistchuk eAluizio Ramos Trinta, paraospensadores daEscolade Alguns deseusprincipaisteóricoseramjudeusrefugiados donazismo.Conforme dos anos 1940, a partir da experiência do fascismo e de sua relação com as massas. Unidos, foi umateoriacríticadacomunicação, de orientaçãomarxista, surgida dofinal acadêmico altamentediverso, nascidonaAlemanhaedepoisirradiadoparaosEstados do Holocausto: no texto, ficaclaro que o artigo refere-se não ao método histórico, mas à contestação senão umpermanenteestadodereescrita dopassado.Porém, àmedidaqueseavança contas, comojávimosnaprimeirapartedesteartigo, “revisionismo” histórico” como“o estudoeareinterpretação dahistória”. da vários deseusverbetes. Éocasodoverbete “revisionismo histórico”. Segundodados combater aquiloqueconsideraumahistóriadosvencedores. si umlugarlegítimodeprodução desentidos,umlugarquelhepermitacompetire p.42) No casodaMetapédia, seuMissionStatementnadamaisfazdoquepleitearpara regidas, em uma sociedade como a nossa, por relações de poder”. (ORLANDI, 2005 do nada:assenta-senomodocomoasrelações sociaisseinscrevem nahistóriaesão faz necessariamentepartedofuncionamentodalinguagem.Eleéeficaz.nãobrota como constitutivos deuma“formação imaginária”. SegundoEniOrlandi,“o imaginário Media Wiki,esseverbete foi acessado2.666 vezes. Seutexto define“revisionismo

Segundo a Análise de Discurso, podemos entender esses enunciados da O queencontramosnestestextos editorialistasdaMetapédia vãoserepetir em No trecho acima,aMetapédia é pura ideologia. O verbete quer se apresentar como história. Afinal de assim contraditarasdifamações meu] dedocumentosquepudessemmostraraHistóriasoboutro prismae reveste-se degrandedificuldade,devido àdestruiçãoefalsificação[grifo meu] artificialmenteatravés detorturas.Empreender orevisionismo histórico meu], tendoassupostasprovas sidofalseadas [grifo meu]produzidas ou [grifo comprovadamente porsuainviabilidade técnicanaforma propagada [grifo alegadamente através decâmarasgás,sãoinverídicas minorias. Atualmentejáselogrou provar queasacusaçõesdeextermínio, socialista a práticaplanejadadoextermínio emmassade judeuseoutras expressão usadaparaatribuiraos camposdeconcentraçãodoregime nacional- O revisionismo históricotambémdesmascara FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. estabelece queoHolocausto éproduto da“história 23 . a historiografianãoéoutracoisa 22 Neste sentido,aexpressão [grifo meu] o“Holocausto”, Metapédia [grifo meu] 16

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de Terceiro Reich e nemoseusofrimento. a sualinhaderaciocínio:onacional-socialismonãonegaperseguiçãoaosjudeuspelo número deseismilhõesjudeusmortoséequivocada. Deste modo, aMetapédia fecha quando jánãohavia governo alemãoparacontestá-las;estatísticasmostramqueo confiáveis; as acusações de genocídio não foram levantadas até a derrota da Alemanha, a existência dascâmarasdegáshomicidaseosrelatos dastestemunhasnãosão daqueles quemorriamdefome oudeepidemias;nãoexiste documentaçãoqueconfirme número tãograndedecadáveres, sendoutilizadostãosomenteparaeliminaroscorpos para oassassinatoemmassa;oscrematórios tinhamcapacidadeincompatível comum campos não possuíam câmaras de gás homicidas ou quaisquer métodos sofisticado existiu nenhumaorganizaçãoalemãparaexecutar o“alegadoplanodeextermínio”; os nenhuma ordem ouplanonazista determinando o extermínio físico dos judeus;não retórica, enumera aquiloque“os revisionistas doHolocausto” propagam: nãoexistiu risível. Reconhecendo o óbvio, a afastam denarrativasradicaisqueaampladocumentaçãodoTerceiro Reich tornaria fazer isso,procuram transmitir umaideiadeponderação,aomesmotempoem perseguições sofridasporoutros grupos. 25. Segundo o autor do verbete/artigo, porém, essa perseguição em nada se diferenciaria das demais 12 mar. 2016 24. Metapedia, “Revisionismo histórico”: http://pt.metapedia.org/wiki/Revisionismo_histórico. Acesso: os camposdeconcentração,fornos crematórios ouamortedemuitosjudeus. não negamaperseguiçãojudaicaduranteoTerceiro Reich, asdeportações,osguetos, em outros discursos negacionistas. Em primeiro lugar, sublinha que os “revisionistas” “revisionismo histórico” daMetapédia fazumduplo-movimento jábastanteconhecido sempre sãodeterminados ideologicamente”. (ORLANDI, 2005,p.43) histórica dada–determinaoquepodeedeve serdito(...).Dessemodo,ossentidos ideológica dada–ouseja,apartirdeumaposiçãoemconjunturasócio- Segundo Orlandi,“aformação discursivasedefinecomoaquiloquenumaformação “formação discursiva” foi ressignificado pelatradiçãofrancesadaAnálisedeDiscurso. discursiva dafalsificação.Tomado deempréstimo deMichelFoucault, oconceitode da Metapédia. Éocaso,porexemplo, doverbete “Holocausto”, assimdefinido: e industrialporpartedoTerceiro Reich quelevou aoextermínio dosjudeus. Holocausto: aexistência eaexecução deumplanosistemático,burocrático, intencional Para tentar convencer oleitordequeHolocausto nãoexiste, averbete A formação discursivadafalsificaçãopodeservistaemváriosoutros verbetes na infraestruturadaAlemanha. (...)No pós-guerra,os sionistas, através de da exaustão causadapelaguerraeaosinúmeros bombardeamentos aliados como a tifo e aimpossibilidadedeentregar mantimentosemdecorrência concentração principalmentenosúltimosmesesdeguerra, devido àdoenças números difíceisdecalcular, infelizmente acaboumorrendo noscamposde problema judeu.Naverdade, umagrandequantidadedejudeus,emboraem dos campos deconcentraçãoalemãesedachamada Solução Finalao meu] Holocausto surgiu dosembustesfactos[grifo meu] emtorno outras minoriasétnicas,religiosas epolíticas.Ahistóriadosuposto [grifo socialista de cometerumsupostogenocídiointencionalcontraopovo judeue a Segunda GuerraMundial,qualacusou[grifo meu] oregime nacional- maior deguerra[grifo meu] contra Alemanha durante eapós Denominou-se Holocausto, tambémconhecidocomo Shoah,aoquefoi a verbete passa, então, para uma segunda parte de sua FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 25 Porém, elenegaaquiloquefazdoHolocausto o que se 24 Ao 17

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” alimenta asimesma.SegundoOrlandi,afinaldecontas, coisa comohipertextos, conectam-seentre si,formando umacadeiradesentidosque lógica doshiperlinks.Esseshiperlinks,quedevem serentendidosantesdequalquer formação discursivanaforma deumenciclopédiaonlineprofundamente marcada pela novidade daMetapédia. no entanto,éamaneiracomoessesverbetes encontram-serelacionados. Estaéa encontrar omesmotipodetediosaretórica. Oquedevemos salientarnestemomento, mais domesmo.Seriapossível percorrer diversos outros verbetes daenciclopédiae religiosa”, umahistóriacriadapelos“sionistas”nopós-guerra.Emoutraspalavras, de guerra”, “mito”, “embuste dosfatos”, “suposto”, dotadode“conotação míticae uma “historiografiaoficial”, aparecendo aAlemanhacomovítima: vez, aoverbete “Câmarasdegás”. Enovamente, vamosencontrarmenções aimagemde humanos nasmencionadascâmarasdegás”. Holocausto afirmam,comprovas contundentes,quenuncaseusouoZyklon Bemseres farsa doHolocausto”. Segundooartigo,noentanto, “os revisionistas modernosdo Segunda GuerraMundial) [grifo meu], oZyklon Bfoi usadopeloTerceiro Reich na a nos camposdeconcentraçãopara“desinfetar piolhoseevitar tifo”. Oproblema, segundo utilizados nas câmaras de gás para executar judeus, aparece como um produto utilizado “”. Aqui,oconhecidopesticidaproduzido pelasindústriasquímicasalemãs 27. Metapedia, “Zyklon B”:http://pt.metapedia.org/wiki/Zyklonb. Acesso:12 mar. 2016. 26. Metapedia, “Holocausto”: http://pt.metapedia.org/wiki/holocausto. Acesso:12mar. 2016 Metapédia, éque“segundoahistoriografiaoficial(escrita pelosvencedores da O texto classificaoHolocausto maisumavez como“farsa”, “maiorpropaganda Seguindo oscaminhosentrelaçados doshiperlinks,esteverbete nosleva, porsua É assimquesomoslevados, porexemplo, doverbete “Holocausto” paraoverbete diversos revisionistas afirmam, comprovas contundentes,aimpossibilidade disfarçadas deduchascoletivaseutilizavam opesticidaZyklon B.Porém Segundo estahistoriografiaoficial[grifo meu], ascâmarasdegásestavam executado Seis milhões de judeus durante ao qualosvencedores daguerra[grifo meu] acusaramaquelepaísdeter nacional-socialista umagigantescapropaganda deguerra[grifo meu], No final da Segunda Guerra Mundial, foi criada outros dizeres realizados, imaginadosepossíveis. (ORLANDI, 2005,p.39) começo absoluto nem ponto final para o discurso. Um dizer tem relação com estado deumprocesso discursivo maisamplo,contínuo.Nãohá,dessemodo, sustentam, assimcomoparadizeres futuros. Todo discursoévistocomoum os sentidos resultam de relações: um discurso aponta para outros que o o povo judeu,comosímboloculminantedeseusofrimento. tem adquiridoumaimportanteconotaçãomíticaereligiosa [grifo meu] para popularizou otermoHolocausto, oqualconverteu-se emumconceitoque e a SingularidadedoHolocausto. Ofalsário[grifo meu] foi quem pereceram, criando assim a influência política(GOS), multiplicaramemmuitoonúmeros dosjudeusque uma Estamos aquifalandodaorganizaçãodessesenunciadose grande propaganda [grifo meu] nospaísesondedispunhamdegrande FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 27 farsa [grifo meu] dos o chamado Holocausto [grifo meu]. contra [grifo meu] a Alemanha Seis milhões 26 gaseificados e 18

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de outro. no universo negacionista:“revisionistas ecéticos”deumlado“exterminacionistas” de Metapédia deste embuste/conspiração. No portal“Revisionismo Histórico”, umdosmaiores da é umacorrente historiográficaquevisarevelar osprincipaiselementosconstitutivos farsa criadapelaformação imagináriadeuma“históriaoficial”equeonegacionismo incessante. Omotivo dessarepetição éconvencer oleitordequeHolocausto éuma que poderíamoschamardeumconsensodiscursivo queseautolegitimapelarepetição a uma simulação, ou melhor, uma falsificação da linguagem e dos procedimentos 29. Metapedia: “Revisionismo”: http://pt.metapedia.org/wiki/Portal:Revisionismo. Acesso:12mar. 2016. 28. Metapedia, “CâmaradeGás”:http://pt.metapedia.org/wiki/Câmara_de_gás. Acesso:12mar. 2016. seu pioneiro livro sobre otema,lançadonosanos1980, Vidal-Naquet afirma: “outro lado” equeeste“outro lado” podeserencaradocomoumreal interlocutor. Em autores negacionistas.Issoseriaomesmoquereconhecer queexiste essealegado reconheceriam alegitimidadeumdooutro. Trata-se deretórica. “revisionistas” almejacriarumantagonismo,terreno comumemqueessesgrupos esteve empauta.Atentativadedividiroshistoriadores entre “exterminacionistas” e os negacionistas,nãodiscutemseoHolocausto existiu ounão.Issonunca sequer Goldhagen (1996). Oshistoriadores, noentanto,diferente doquedesejamsugerir controverso debate estequevaiseestenderatémeadosdosanos1990comapublicaçãodo mídia epeloscírculos acadêmicos,focada nacentralidadedeHitlerparaoHolocausto, 1980, setornoufamosaachamada“querela doshistoriadores alemães”, propagada pela Hitler, apenasparacitaralgunselementosrealmente caros àhistoriografia.Nos anos singularidade, opapeldoantissemitismoalemãoouaindalugarde nazistas, onível deconhecimentodapopulaçãoalemãsobre oextermínio, asuasuposta o momentoemqueextermínio físicodosjudeusfoi decididopelasaltasesferas debate sobre aexistência ounãodoHolocausto. dos historiadores, podendo,apartirdaí,lançarfalsaproposição dequeháumlegítimo 29 A dinâmicadesseshiperlinksécíclica,interminável, visandoacriaçãodaquilo Para sepassarpor“corrente historiográfica” osnegacionistasvem recorrendo Para Pierre Vidal-Naquet, ohistoriadornãodeve participardedebatescom Os historiadores divergem e muito sobre váriosaspectos do Holocausto: Umavez aceitatalideia,osnegacionistas passariam aocuparmesma arena em língua portuguesa, é realizada, por exemplo, uma separação que só existe Os carrascos voluntários deHitler,dohistoriadornorte-americanoDaniel pp.10-11.) apareceram, masnãodiscutircomos“revisionistas”. (VIDAL-NAQUET, 1987, na configuraçãodas ideologias, questionar-nos sobre oporquê ecomo anatomia deumamentira:podemosedevemos analisaroseulugarespecífico sobre os“revisionistas”; podemos analisarseustextos comofazemos a nesse nível. (...) Estabeleci uma regra para mim: podemos e devemos discutir afirma seraLua feita dequeijoRoquefort? Essespersonagensnãosituam-se não existe. Seriapossível umastrofísico dialogarcomum“pesquisador”que um respeito comum,nocaso,pelaverdade. Comos“revisionistas”, esse campo Um diálogoentre doishomens,mesmoadversários, supõeumterreno comum, gás. de usaroZyklon Bcomométododegaseificaçãonassupostascâmaras 28 FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. 19

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” nenhum dosquaisusaonomeverdadeiro. ou usaapenasoprimeiro nome.Destes,cincosomente sãoadministradores, anonimato. Sãoquasemilutilizadores, nototal.Amaioria não usaonomeverdadeiro são chamadososeditores, escritores eadministradores daMetapédia, odireito ao A não revelam seus nomes verdadeiros e nenhuma outra informação de cunho pessoal. sociais negacionistas.Emgeral,osautores eleitores nãoexibem suasfotos noperfil, evidente normatizaçãodaescrita,onegacionismoéfraudeemduplosentido: que emboraoscritériosdevalidadedoescritohistoriográficoseassentememuma do projeto naweb eassuasatualizações. chamada podemos ler apenas aquiloqueaparenta serumapista:é mencionada umaentidade frente doprojeto. Nasúltimaslinhasdotexto publicadonapáginaSecurityPolicy, “quem somos”ou“sobre oMetapédia” criador(es) da página. Embora o site seja intuitivo e organizado, inexiste uma guia 32. Metapedia, “SecurityPolicy”: http://www.metapedia.org/securitypolicy.php. .Acesso:12demar. 2016. so: 12demar. 2016. 31. Metapédia, “Lista de utilizadores”: http://pt.metapedia.org/wiki/Especial:Lista_de_utilizadores. Aces- 30. Institutefor HistoricalReview: http://www.ihr.org. Acesso:12demar. 2016. carregado de textos elinks. Historical Review . Também tempublicadolivros, artigosemantémumsiteinstitucional conferências, encontros epublicadoumjornalnoformato acadêmico,oJournal of apenas parece remeter aorganizaçõesacadêmicasverdadeiras, o IHRtemrealizado direita dos Estados Unidos e talvez um dos maiores do mundo. Além do nome, que Willi Carlos,oIHRtornou-serapidamente o maiorpolodenegacionismo de extrema- utilizada. Fundadoem1979, emTorraine, Califórnia, peloantissemitanorte-americano 2011, p.15). OcasodojácitadoIHRmostramuitoclaramentecomoestaestratégiaé do texto acadêmico. Moraes chama tal estratégia de “ilusão historiográfica” (MORAES, teóricas, lançammãodelistasbibliográficasetodotipoelementosreconhecíveis por elespróprios), fazem referências aautores, declaramestarbaseados emescolas organizadas por eles próprios, publicam esses artigos em revistas (também criadas acadêmicos. Empregam notas de rodapé, apresentam seus trabalhos em conferências Metapédia: Metapédia nãofoge àregra, sendotambémpermitidoaos“utilizadores”, como O anonimatoébastanterecorrente emsites,blogs,comunidades,fóruns eredes Essa simulação, no entanto, não passa de uma ação fraudulenta. Moraes sublinha The Prometheus FoundationThe , apontadacomoresponsável pelahospedagem anonimatoeoutrascaracterísticas (MORAES, 2011,p.15) contradigam, reivindicando ocaráterdeproposições verificáveis semsê-lo. é produzido, ancorado narecusa detodososindícioseevidências queo outro, trata-se deumpassadofalsificado, quetambémdeforma consciente mas aomesmotempoemquerompe comseusfundamentoselimites.Por notasderodapé, listabibliográfica,etc.), ao texto historiográfico(linguagem, o caráterdeescritohistoriográficosemsê-lo,apresentando formas próprias falsifica deforma conscientesuasreferências delegitimidade,reivindicando Por umlado,trata-sedeumahistoriografia falsificada, ouseja,deumtexto que 30 FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016.

que aponteasidentidadesdequemestáà 32 31

Esse anonimatovale,inclusive, parao(s) 20

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de tão controverso quantoaspróprias intençõesdoobjetoinvestigado: verbete-artigo sobre Hitler. Oresultado dainvestigação, nãoobstante,acabousendo investigação sobre aalegada“enciclopédia nazista”. Asdenúnciastinhamcomoalvo o 2009, após várias denúncias públicas, a Chancelaria de Justiça da Suécia iniciou uma disponível emváriaslínguasequeoferece, gratuitamente,conteúdonegacionista.Em de queseuanonimatoestaráassegurado.Issovaleprincipalmenteparaumprojeto experiência exitosa esingularnocampo donegacionismonaweb: – em diversos idiomas,aMetapédia –a“equivalente fascistadaWikipédia”, comochama 2015, p.198). Arnstad,assim,chamaaatençãoparaalgoquejávimosaqui:disponível que nãopodeservistasomentecombasenos números deacesso àpágina(ARNSTAD, populistas de extrema-direita, o que dá a ultranacionalista internacional, sejamseusmembros nazistas,neofascistasou Henrik Arnstadcontaumpoucodesuatrajetória: suficientes pararevelar aidentidadedoseufundador, osuecoAndersLagerström. é internacional.Naavaliação doautor, issofazdositecriadopor Lagerström uma Na internet,noentanto,nenhumindivíduoouorganizaçãopodetercerteza Arnstad sublinhaqueaMetapédia temsidoumaferramenta paraumaelite Se asdenúnciasnão serviram paratirar a Metapédia doar, pelo menos foram The ideaofafascistweb encyclopedia fitsrightintothis approach and can The academic journals,monographs, conference papers,and ‘scientific’reports.” glorifying the Naziperiod (memoirs, biographies), or, more subtly, through is “dedicated tokeeping alive Nazismas anideology, eitherthrough books Griffin hascalled“thenew sectorofinternational cultural production” which internationalizationoftheparticularmovement thusbecameapartofwhat The (ARNSTAD, 2015,p.195) rather successful career and, a couple of years later, also Nordiskaförbundet. proved tobethestarting point foras abusinessman.This bothLagerström’s replaced his skinhead clothing with a suit and tie and began presenting himself power Lagerström music,andproved tobeaneconomicsuccess.Thus in questionwasNordiskaförlaget, whichsoldNazipropaganda andwhite was infactgiven government business fundingtostarthisown business.The business administrationviathenationalpublicunemployment agencyand Lagerström. Unemployed priortothis,Lagerström received trainingin [Nordic House], Publishing andwas started in 2002 by ex-skinhead Anders movement had close ties with the publishing companyThe Nordiskaförlaget was formed by former membersofseveral Naziandfascistorganizations. In 2004theSwedish Nazimovement Nordiskaförbundet [Nordic Union] agitation, asthiscrimeisdefinedintheLaw. (ARNSTAD, 2015,p.195) of thearticleleadstoconclusionthatitdoesnotconstitutecriminalracial article hasapositive attitudetowards AdolfHitler. Ajudgmentofthecontents any sympathy for thoseviews, even ifitwould appearthattheauthorof dissociation from AdolfHitler’s anti-Semiticviews, butneitherdoesitcontain can read aboutAdolfHitler’s articledoesnotcontainany view oftheJews. The reported articlecontainsabiography ofAdolfHitler.The Inthisarticle,one FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. Metapédia, na sua opinião, uma importância 21

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” política” negacionismo – “uma enciclopédia eletrônica sobre cultura, arte, ciência, filosofia e (9.2%); 4) Suécia(5.7%); 5)Reino Unido(4.3%) (ARNSTAD, 2015,p.199). acesso ao Metapédia estão: 1) Estados Unidos (20.6%); 2) Hungria (15.4%); 3) Espanha reflexo desuasplataformas multilinguísticas. Entre ospaísesquemaisfornecessem se dáalgodiferente: osacessos sãoprovenientes dediversas partesdomundo,um acessos, porém, apontaArnstad,geralmentevêmdeumúnicopaís.ComaMetapédia e negacionistas.Se há muitossitesnegacionistas com mais acessosabsolutos, esses tornando cada vez mais popular entre os mais diferentes grupos de extrema-direita editora tenhafechado asportasem2010, aenciclopédiacontinuoucrescendo ese inovam emnenhumaspectoconceitualou conteudístico,essediscursoganhauma negacionismo. Se,porumlado,oteordosverbetes negacionistas daMetapédia não que constituemnossocenáriopolítico. com areabilitação dofascismoecomsoluçõesnão-democráticas paraosproblemas populares. Essesgrupos,pelocontrário,possuemumaagenda políticacomprometida alijados dopoder, mascujaintençãonãoéfortalecer ademocraciaoudarvoz àscamadas a tecnologia também pode estar a serviço de grupos de extrema-direita, igualmente grupos atéentãomarginalizadosoucolocados àmargemdoprocesso decisório.Porém, dopoder,por essepontodevista,éuminstrumentoequilíbrio deempoderamento de dos novos movimentos sociais,contraasmedidasautoritárias dos Estados.Atecnologia, vista, principalmente,aspossibilidadesdelutaspopulares edemocráticas,sobretudo construção depoder”. (CASTELLS, 2012,p.25)Castellsfazessaafirmaçãotendoem censura eaevitar aacusaçãodesitenegacionista, protegendo-se deaçõesna justiça. importante, esseperfilpermiteaMetapédia escapar, pelomenosatécertoponto,da pode ser feita deforma muito orgânica. Finalmente, em terceiro lugar, masnãomenos graças aumaramificadarede dehiperlinks.Apassagemumtipoverbete paraoutro não-negacionistas favorece oaumentodacirculação desentidosediscursosdoportal, exclusivamente negacionista.Emsegundolugar, amisturadeverbetes negacionistase negacionistas, que não conhecem esse tipo de conteúdo e que acessariam um site lugar, porque essacaracterísticalhepermiteatrairleitores quenãobuscamconteúdos tudo defundoestratégico.Ehátrês razões parapensardessa forma. Emprimeiro sites tradicionaisdedifusãoconteúdosnegacionistas.Essediferencial éantesde de enciclopédia online, colaborativa e construída em Media Wiki –emrelação aos Considerações finais nalidades nazistasefascistas eguerras.http://pt.metapedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal. Brasileiras, FrançadeVichy, Frederico III,etc.São maisde1600verbetes, muitosdosquaissobre perso- ropeia, Monarquia, CheGuevara, Crimeia,EdirMacedi, DorisDay, Estônia,França,Frente Integralista 33. Sãoalgunsoutros verbetes da Metapédia: marxismocultural,golpede 1964, Frente NacionalEu- O fatodaMetapédia nãoserumaenciclopédiadedicadaexclusivamente ao O sucessodeLagerström àfrente daMetapédia No presente artigo, vimosumautilizaçãopossível dainternetparaadifusãodo Manuel Castellsafirmaque“asredes decomunicaçãosãofonte decisivade 33 –podeseraquicompreendido comoumoutro diferencial –alémdoformato (ARNSTAD, 2015,p.196) thus bedescribedasastroke ofgeniusby Lagerström andhisassociates. FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. foi tantoqueemborasua 22

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de memory.Simon andSchuster, 2012. LIPSTADT, growing Deborah E.Denying : assault on truthand The Negacionismo erevisionismo político. Porto Alegre: EdUFRGS,p.97-114, 2000. socialismo: desafiosparaaciênciae aeducaçãopolítica.In:Neonazismo, KRAUSE-VILMAR, Dietfrid.Anegaçãodosassassinatosemmassadonacional- 2004. KAHN, Robert. Minkenberg andChristinMays. 2014. Far Right Networks inNorthern andEastern Europe, editadoporMats Deland, Michael contemporary splitoftheRadicalRight.In:KOTT, Matthew. In FLEISCHER, Rasmus. Two fascisms in contemporary Europe Companhia dasLetras: 1990. GINZBURG, Carlos. Letras: São Paulo, 1997. GOLDHAGEN, DanielJonah. Oscarrascos voluntários deHitler.Companhiadas história pública.Resgate-Revista Interdisciplinar deCultura, v. 22,n.28,p.5-12, 2015. DE CASTRO, Ricardo Figueiredo. ONegacionismo doHolocausto: pseudo-história e Dissertação deMestrado, Universidade Federal Niterói, 1997. Fluminense, CRUZ, NatáliadosReis. Negando aHistória:AEditora Revisão eoNeonazismo. era deInternet.AlianzaEditorial,2012. CASTELLS, Manuel. Redes deindignaciónyesperanza: losmovimientos socialesenla do século.SECastan,1987. CASTAN, Siegfried Ellwanger. Holocausto, judeuoualemão?:nos bastidores damentira Generic Fascism. Fascism, v. 4, n.2,p.194-208, 2015. ARNSTAD, Henrik. Ikea Fascism: Metapedia andtheInternationalization of Swedish Referências palatáveis aograndepúblico. Metapédia– de duas formas: aumentando seu alcance e tornando seus enunciados mais imaginárias ediscursivastípicasdonegacionismodeextrema-direita –encontradasna dificuldades parapermaneceroperando.Tais elementospotencializamasformações que outros são frequentemente acusadose,porisso,vem, cadavez maisencontrando pode serdifícilconsideraraMetapédia umsitenegacionista,pelomenosnãonosentido disso, nãopodemosnosesquecerdaeventual diluiçãoderiscosjudiciais,umavez que e outros, não negacionistas, mas que compõem o universo de extrema-direita. Além negacionista, alémdepossibilitarumamaiorsimbioseentre enunciadosnegacionistas (Wikipédia), opotencialenvolvimento deleitores nãofamiliarizadoscomodiscurso sites negacionistastradicionais), omimetismodelinguagensfamiliares econfiáveis e não-negacionistas,temlhepermitidoalcançarumpúblicoexpressivo (que supera a suaconstruçãopormeiodaMedia Wiki , combinadodiferentes verbetes negacionistas da internacionalização da Metapédia. Mas nóspodemos iralém disso. Conforme vimos, projeção diferente apartirdoelementotecnológico.Lagerström destacaacaracterística Holocaust denial and the law: A comparative study. PalgraveMacmillan, Mitos, emblemas, sinais – morfologia e história.São Paulo: FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016. the Tracks ofBreivik: ? Understanding the 23

O negacionismo do Holocausto na internet: o caso da “Metapédia – a enciclopédia al-ternativa” VIDAL-NAQUET, Pierre. Osassassinosdamemória. Campinas, SãoPaulo, 1988. ela. RiodeJaneiro: Zahar, 2007. SPYER, Juliano. Conectado:oqueainternetfez comvocê eoquevocê podefazer com prática dacomunicaçãosocial.EditoraCampus:RiodeJaneiro, 2003. POLISTCHUK, Ilana;TRINTA, AluízioR.Teorias dacomunicação:dopensamento ea ou acontecimento.Campinas:Pontes, 1998. PÊCHEUX, Michel.Odiscurso:estruturaouacontecimento.In: 2005. ORLANDI, Eni.Análisedodiscurso:princípioseprocedimentos.Campinas: Pontes, escrita sobre opassado.AnaisdoXXVI SimpósioNacional deHistória,2011. MORAES, Luís EdmundodeSouza.Onegacionismoeoproblema dalegitimidade UFRGS, 2000. In: MILMAN, Luis. Negacionismo: gêneseedesenvolvimento dogenocídioconceitual. Luminárias, 2011. MAYNARD, Dilton. Petrópolis: Vozes, 2014. MARTINO, Luís Mauro Sá.Teoria dasMídiasDigitais:linguagens,ambientes,redes . (1922-1989). Centro deMemória Unicamp,1998. MARIANI, Bethania. OPCBeaimprensa: oscomunistasnoimagináriodosjornais Neonazismo, Negacionismo eExtremismo Político. RioGrande doSul:Editorada Escritos sobre história e internet. Rio de Janeiro: FAPITEC/ FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº1,p.5-23, jan.-jun., 2016.