UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

Biologia reprodutiva e polinização de orquídeas nativas do estado de São

Paulo: Encyclia patens Hook., Phymatidium delicatulum Lindl. e

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay.

Paulo Roberto de Medeiros Cabral

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, como

parte das exigências para obtenção do título de

Mestre em Ciências, Área: Entomologia.

Ribeirão Preto-SP

2014

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

Biologia reprodutiva e polinização de orquídeas nativas do estado de São

Paulo: Encyclia patens Hook., Phymatidium delicatulum Lindl. e

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay.

Paulo Roberto de Medeiros Cabral

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, como

parte das exigências para obtenção do título de

Mestre em Ciências, Área: Entomologia.

Orientador: Prof. Dr. Emerson Ricardo Pansarin

Ribeirão Preto-SP

2014

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.

Cabral, Paulo Roberto de Medeiros

Biologia reprodutiva e polinização de orquídeas nativas do estado de São Paulo: Encyclia patens Hook., Phymatidium delicatulum Lindl. e Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay.. Ribeirão Preto, 2014. 116p. Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP. Área de concentração: Entomologia.

Orientador: Emerson Ricardo Pansarin

1. Fragrância floral. 2. Flores nectaríferas. 3. Autocompatibilidade. 4. Óleo comestível. 5. Protandria.

Paulo Roberto de Medeiros Cabral

Biologia reprodutiva e polinização de orquídeas nativas do estado de São

Paulo: Encyclia patens Hook., Phymatidium delicatulum Lindl. e

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay.

Prof. Dr. Fábio Santos do Nascimento Universidade de São Paulo-USP.

Profª. Drª. Helena Maura Torezan Silingardi Universidade federal de Uberlândia.

Prof. Dr. Emerson Ricardo Pansarin Universidade de São Paulo-USP (Orientador)

Ribeirão Preto-SP

2014

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito-por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia.

Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas

Agradecimentos

Agradeço imensamente às instituições que financiaram este trabalho: CNPq, pela bolsa de mestrado e o PROAP pelo auxílio a mim concedido. E às instituições ambientais que permitiram a realização dos trabalhos de campo: Secretaria do Meio

Ambiente do Estado de São Paulo, Administraçaõ da Reserva biológica Serra do Japi por me receber, oferecendo hospedagem e Parque Estadual de Vassununga.

Ao Prof. Dr. Emerson Ricardo Pansarin, que com dedicação e paciência me orientou durante o desenvolvimento deste projeto.

À Dra. Ludmila Mickeliunas Pansarin, pelo auxílio ao longo dessa pesquisa e pela contribuição na minha formação.

Ao Prof. Dr. Leonardo Gobbo, por nos receber no seu laboratório nas realizações das nossas análises de fragrância. Agradeço também a sua aluna Maria Elvira por fazer as análises de fragrância e identificação dos compostos.

Ao Prof. Dr. Eduardo Andrade Botelho de Almeida. Também ao Dr. Sidnei Matheus por nos ajudar com a identificação das abelhas.

À Renta e à Vera pelapaciência, competência, carinho e instruções que nos deixa seguros e queridos.

Aos amigos do laboratório Carol, Bruno, Bruno (Tolima), Evelyn, Luciano e João.

À minha família, em especial a minha mãe, Maria, que foi e continua sendo minha maior força e segurança.

À minha noiva Ana Paula, que foi muito importante para meu equilíbrio na finalização do trabalho, sempre paciente nos momentos difíceis e me fazendo feliz.

À minha sogra, Neide, pelos bons momentos e conselhos.

Aos meus grandes amigos Eduardo e Paulo pelas boas discussões cientificas.

Ao amigo Bruno, pelas discussões científicas, quanto pela amizade e companheirismo.

A todos os docentes e funcionários do Departamento de Biologia da FFCLRP, em especial àqueles que compõem o Programa de Pós-Graduação em Entomologia

Sumário

Lista de figuras...... 8

Lista de Tabelas...... 10

Resumo...... 12

Abstract...... 15

Introdução geral...... 17

Referêcnias bibliográficas...... 21

CAPÍTULO 1: Biologia reprodutiva de Encyclia patens Hook. (:

Orchidaceae)...... 24

Resumo...... 26

Abstract...... 27

Introdução...... 28

Material e Métodos...... 30

Resultados...... 35

Discussão...... 42

Conclusão...... 46

Referências bibliográficas...... 47

CAPÍTULO 2: Autocompatibilidade e polinização por abelhas Tapinotaspidini no gênero com oferta de óleo, Phymatidium Lindl. (:

Oncidiinae)...... 54

Resumo...... 55

Abstract...... 56

Introdução...... 57

Material e Métodos...... 59

Resultados...... 62

Discussão...... 66

Conclusão...... 69

Referências bibliográficas...... 70

CAPÍTULO 3: Biologia reprodutiva, polinização e protandria em Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay (Orchidaceae: )...... 77

Resumo...... 78

Abstract...... 79

Introdução...... 80

Material e Métodos...... 82

Resultados...... 87

Discussão...... 97

Conclusão...... 100

Referências bibliográficas...... 103

Considerações finais...... 109

Anexos...... 112

Lista de figuras

CAPÍTULO 1: Biologia reprodutiva de Encyclia patens Hook. (Laeliinae: Orchidaceae).

FIGURA 1: Compostos voláteis detectados na fragrância floral de Encyclia

patens...... 37

FIGURA 2. A, Corte longitudinal da região do cunículo. B, Corte transversas

região do cunículo com reagente de Fehling. C, Corte transversal do cunículo

com vermelho de Rutênio. D, Vespa Polybia ignobilis. E, Mosca

Syrphidae...... 39

CAPÍTULO 2: Autocompatibilidade e polinização por abelhas Tapinotaspidini no gênero com oferta de óleo, Phymatidium Lindl. (Orchidaceae: ).

FIGURA1. A, Inflorescência. B, Abelha Trigonopedia Moure 1941 coletando

óleo no labelo...... 65

CAPÍTULO 3: Biologia reprodutiva, polinização e protandria em Mesadenella cuspidata

(Lindl.) Garay (Orchidaceae: Spiranthinae).

FIGURA 1: Compostos voláteis detectados na fragrância floral de Mesadenella

cuspidata...... 90

FIGURA 2: Protandria em Mesadenella cuspidata. Flores em vista lateral, frontal

e cortes longitudinais em diferentes fases sexuais. A-C, Fase masculina. B-D,

Fase feminina. E, Corte lateral na fase masculina. F, Corte lateral na fase

feminina...... 92

8

FIGURA 3: A, Glândula de néctar. B, Corte transversal das glândulas de néctar.

C, Abelha Osiris Smith 1854. D, Abelha Augochlorella tredecim Vachal 1911. E,

Abelha Rhathymus friese Ducke 1907. F, Abelha operária da tribo Meliponini pilhando néctar...... 94

9

Lista de Tabelas

CAPÍTULO 1: Biologia reprodutiva de Encyclia patens Hook. (Laeliinae: Orchidaceae).

TABELA 1: Variação, Média (푋 ) e desvio padrão (DP) das estruturas florais de

Encyclia patens na população de estudo...... 38

TABELA 2: Resultados sobre o sistema reprodutivo de Encyclia patens:

porcentagem de frutos desenvolvidos nos tratamentos manuais de polinização;

quantidade de frutos desenvolvidos em polinização aberta no ano de 2013 e

2014; porcentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamentos

de polinização cruzada e autopolinização...... 41

CAPÍTULO 2: Autocompatibilidade e polinização por abelhas Tapinotaspidini no gênero com oferta de óleo, Phymatidium Lindl. (Orchidaceae: Oncidiinae).

TABELA 1. Resultados obtidos nos testes sobre o sistema reprodutivo de

Phymatidium delicatulum: porcentagem de frutos oriundos dos tratamentos

manuais; quantidade de frutos desenvolvidos em condições naturais;

portecentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamentos

manuais...... 64

CAPÍTULO 3: Biologia reprodutiva, polinização e protandria em Mesadenella cuspidata

(Lindl.) Garay (Orchidaceae: Spiranthinae).

TABELA 1: Variação, Média (푋 ) e desvio padrão (DP) das estruturas florais de

Mesadenella cuspidata na população...... 91

10

TABELA 2: Resultados alcançado sobre o sistema reprodutivo de Mesadenella cuspidata; porcentagem de frutos formados nos tratamentos manuais; quantidade de frutos desenvolvidos em polinização aberta no ano de 2013 e 2014; porcentagem de sementes potencialmente viáveis oriundas dos frutos desenvolvidos nos tratamentos de manuais...... 9

11

Resumo

A família Orchidaceae A. Juss. pertence a ordem e é considerada uma das maiores famílias de plantas com flores. Com distribuição cosmopolita, sua maior diversidade e abundâcia são observadas nas florestas tropicais e subtropicais úmidas. No

Brasil, estima-se que ocorram cerca de 2.449 espécies que podem ser encontradas em todos os seus biomas. Entretanto, a Mata Atlântica é considerada a mais rica em números de espécies. Encyclia patens Hook., é uma espécie epífita endêmica do Brasil e apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo no nordeste, sudeste e sul do país. A sua biologia reprodutiva foi estudada no município de São Simão, no noroeste do estado de São Paulo. A espécie produz inflorescências paniculiforme apicais e flores nectaríferas que exalam uma fragrância adocicada composta por 10 substâncias. Suas flores, que apresentam coloração verde e púrpura, abrem nos meses de junho a agosto e, quando intactas, permanecem abertas por até 21 dias. O néctar produzido por elas é secretado em uma cavidade nectarífera chamada de cunículo. Contudo, não foram observados os polinizadores de Encyclia patens.

Apenas vespas sociais da espécie Polybia ignobilis Haliday 1836 e também moscas da família Syrphidae foram observados como visitantes florais. Encyclia patens é autocompatível. Entretanto, não autógama e dependente de um polinizador, uma vez que os frutos formados foram exclusivamente dos tramentos de autopolinização manual (100%) e polinização cruzada (93,3%). A taxa de sementes potencialmente viáveis dos frutos provenientes destes tratamentos foi de 57,93% para autopolinização manual e 82,52% para polinização cruzada. Em condições naturais, a população estudada apresentou uma taxa de frutificação de 0,28%. Phymatidium delicatulum Lindl. é uma espécies com hábito epifito endêmica do Brasil que ocorre no nordeste, sudeste e sul do país. Os estudos sobre a sua biologia reprodutiva foi desenvolvidos na Reserva Biológica Serra do Japi, no município de

Jundiaí, estado de São Paulo. Phymatidium delicatulum corresponde a plantas muito

12 pequenas (ca. 5 cm), desprovidas de pseudobulbos. Suas inflorescências são racemosas e podem produzir até 17 flores que se abrem no verão, de dezembro a fevereiro e apresentam coloração predominantemente branca com calosidades verdes sobre o labelo, onde se localizam o elaióforos. O óleo produzido por elas é coletado por abelhas Tapinotaspidini

(Tetrapedia amplitarsis Friese 1899 e Trigonopedia sp. Moure 1941), que atuam como seus polinizadores. Phymatidium delicatulum é uma espécie autocompatível e não autógama. Nos tratamentos manuais de autopolinização suas flores resultaram em 31,9% de frutos que apresentaram 57,93% de sementes potencialmente viáveis. Enquanto que nos tratamentos de polinização cruzada 54% das flores resultaram em frutos com uma porcentagem de 82,52% de sementes potencialmente viáveis. Em condições naturais a taxa de frutificação de

Phymatidium delicatulum foi de 10,7%. Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay apresenta hábito terrícola. Essa espécie ocorre nas regiões sul e sudeste, ocorrendo também no centro- oeste do Brasil. Os estudos sobre a sua biologia reprodutiva e polinização foram realizados na Reserva Biológica Serra do Japi, no município de Jundiaí, e no Parque Estadual de

Vassununga, no município de Santa Rita do Passa Quatro, ambos no estado de São Paulo.

Mesadenella cuspidata apresenta uma inflorescência racemosa apical com flores espiraladamente dispostas. Suas flores que são protândricas apresestam coloração branca e exalam uma fragrância adocicada composta por 16 voláteis diferentes. Além disso, elas apresetam um nectário em forma de bojo formado pela união das sépalas laterais e o labelo que armazena 푋 = 1,43 ± 0,87 de néctar com uma concentração de 푋 = 39,50% ± 5,98. O néctar produzido pelas suas flores é coletado por abelhas Augochlorella tredecim Vachal

191, Osiris sp. Smith 1854 e Rhathymus friese Ducke 1907. A espécie é autocompatível e não é autógama. As flores que foram submetidas à autopolinização manual resultaram em

66,6% de frutos e as que foram submetidas ao tratamento de polinização cruzada resultaram em 86,6%. A taxa de sementes potencialmente viáveis em frutos provenientes destes

13 tratamentos foi de 78,7% em autopolinização manual e 70,9% nos frutos de polinização cruzada. Em condições naturais, no ano de 2013 as flores resultaram em 74,1% de frutos e em 2014 a taxa de frutificação foi de 62,4%.

Palavras-chave: fragrância floral, flores nectaríferas, autocompatibilidade, óleo comestível, protandria

14

Abstract

The family Orchidaceae A. Juss. currently belongs to the order Asparagales and is considered one of the largest families among the flowering . With cosmopolitan distribution, its greater diversity and abundance are observed along tropical rainforest and subtropical forests. In Brazil, it is estimated are recorded ca. 2.449 species. Encyclia patens

Hook., is an endemic to Brazil, occurring in the northeastern, southeastern and southern regions. The study on its reproductive biology was conducted in municipality of São Simão in the northwestern of state of São Paulo. Encyclia patens produce a paniculate inflorescence, which produces nectariferous flowers that emit a sweet fragrance composed of 10 different volatile compounds. Its flowes are green and purple. The flowering period occur from June to August and each flower lasts up to 21 days. The nectar produced is secreted in a nectar chamber called cuniculus. Does not were observed the pollinators of Encyclia patens. Only social wasps (Polybia ignobilis Haliday 1836) and Syrphidae flies were recorded as floral visitors. Encyclia patens is self-compatible. However, it is a pollinator-dependent species.

Fruits were formed exclusively in self-polination (100%) and cross-pollination (93.3%) treatments. The tax of potentially viable seeds from fruits of these treatments was 57.93% in manual self-pollinations and 82.52% in manual cross-pollinations. Under natural conditions, the studied population the fruit set was 0.28%. Phymatidium delicatulum Lindl., occurs in the northeast, southeast and south of Brazil. Its reproductive biology was studied in the

Biological Reserve of Serra do Japi, in Jundiaí, state of São Paulo. Phymatidium delicatulum produces racemose inflorescences with up to 17 flowers that open in the summer, from

December to February. The flowers are white with a green callus on the lip, where by the elaiophores.The oil produced by its flowers is collected by Tapinotaspidini bees of the specie

Tetrapedia amplitarsis Friese 1899 and bees of the Trigonopedia Moure 1941. The species is self-compatible and not autogamous. In the treatment of manual self-pollination

15 resulted in 31.9% of fruit set and presented 57.93% of potentially viable seeds. In cross- pollinations 54% of flowers set fruits, with a percentage of 82.52% of potentially viable seeds. Under natural conditions the fructification tax of Phymatidium delicatulum was

10.7%. Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay occur in south, southeastern and central western Brazil. The reproductive biology and pollination of this species were studied in the

Biological Reserve of Serra do Japi, in the municipality of Jundiaí and Parque Estadual de

Vassunga, in the municipality of Santa Rita do Passa Quatro. Mesadenella cuspidata possesses an apical with flowers arranged in spiral. Its flowers are protandrous, have white coloration and emit a sweet fragrance composed of 16 different substances. Moreover, they a nectary-shaped bunt forms by the union of the lateral and the lip that produces

푋 = 1.43 ± 0.87 nectar with a concentration of 푋 = 39.50% ± 5.98. The nectar produced by the flowers is collected by bees Augochlorella tredecim Vachal 1911, Osiris sp. Smith 1854 and

Rhathymus friese Ducke 1907. Mesadenella cuspidate is self-compatible and not autogamous. The manual self-pollinations resulted in 66.6% of fruits and the cross- pollination resulted in 86.6% of fruit set. The tax of potentially viable seeds from the fruits of these treatments was 78.7% in manual self-pollination and 70.9% in cross-pollination. Under natural conditions, the fruit set was 74.1% of fruit in 2013 flowering period and in 2014 the tax of fruit set was 62.4%.

Key-words: floral fragrance, nectariferous flowers, self-compatibility, edible oil, protandry

16

Introdução geral

A família Orchidaceae A. Juss. pertence a ordem Asparagales (Stevens 2001) e é considerada uma das maiores famílias de plantas com flores, compreendendo cerca de 24.000 espécies distribuidas em 800 gêneros (Dressler1995).

As orquídeas apresentam distribuição cosmopolita. No entanto, sua maior diversidade e abundâcia são observadas nas florestas tropicais e subtropicais úmidas (Dressler 2005). No

Brasil, estima-se que ocorram aproximadamente 2.449 espécies em 240 gêneros, que podem ser encontradas em todos os biomas (Barros et al. 2014). Todavia, a Mata Atlântica é considerada a mais rica em números de espécies (Pabst & Dungs 1975).

A maior parte das espécies em Orchidaceae apresenta hábito epífito (Dressler 1993).

Entretanto, na família é comum encontrar espécies que vivem sobre rochas (rupícolas), no solo (terrícolas) e em locais alagados (palustres). Além disso, há também espécies que não apresentam clorofila e vivem associadas a fungos micorrízicos (mico-heterotróficas).

Além da diversidade de hábitos, as orquídeas apresentam diferentes estratégias relacionadas, basicamente, com a obtenção e reserva de água e nutrientes como caules intumescidos formando pseudobulbos, folhas carnosas, raízes dotadas de velame e o próprio crescimento em touceiras que permite o acúmulo de matéria orgânica, são algumas destas estratégias. Por outro lado, ao contrário dos órgãos vegetativos que podem apresentar grande diversidade estrutural, suas flores são relativamente uniformes quanto ao número e arranjo de suas partes. Geralmente, elas são zigomorfas e constituídas de três sépalas e três pétalas, sendo uma das pétalas diferenciada em uma estrutura denominada labelo. Os órgãos reprodutivos são fundidos em uma única estrutura, a coluna. A coluna apresenta uma ou mais raramente duas ou três anteras e uma região estigmática, formada pela fusão dos três lobos do estigma (Dressler 1981).

17

Na maioria das espécies, os grãos de pólen são reunidos em duas ou mais polínias, e estas, em conjunto com o viscídio (e estipe em alguns gêneros), que é a extremidade adesiva responsável pela fixação ao polinizador, constituem o polinário. O polinário, por sua vez, é separado do estigma por uma região denominada rostelo que tende a evitar a ocorrência de autopolinização espontânea de suas flores (Dressler 1993).

Apesar de apresentar uma disposição estrutural uniforme, as flores das orquídeas possuem uma grande variação em detalhes estruturais, na forma e no tamanho dos componentes básicos, levando ao surgimento de estruturas muito complexas em algumas espécies (van der Pijl & Dodson 1966). Tal complexidade pode ser atribuída à importante relação entre as orquídeas e seus polinizadores, o que resulta em grande especialização e diversidade de sua morfologia floral (Dressler 1981, van der Pijl & Dodson 1966, Fay &

Chase 2009), podendo existir co-evolução entre determinadas espécies e seus polinizadores

(Pabst & Dungs 1975). Sendo assim, havendo mudanças significativas nas estruturas florais, nas características químicas ou fenotípicas das plantas, de modo recíproco podem ser catalisados pelos seus polinizadores ou vice-versa (van der Pijl & Dodson 1966).

As orquídeas apresentam um número consideravelmente abundante de polinizadores não especializados que são raramente eficientes no sucesso da polinização de muitas espécies

(Herrera 1989). A especialização floral para polinizadores específicos e a limitação na diversidade dos polinizadores é interpretada como propiciador na redução do custo de energia da planta no sucesso da transferência de pólen entre indivíduos (Tremblay 1992).

Cerca de um terço das espécies das orquídeas não oferecem nenhum recurso aos seus polinizadores e a polinização ocorre por engano (Ackerman 1986). Além disso, algumas espécies são aptas a se reproduzirem sem o auxílio de veteros bióticos e se autopolinizam espontâneamente (e.g. Catling 1980, 1990, Catling & Catling 1991, Pansarin et al. 2008,

18

Aguiar et al. 2012). Considerando-se que em Orchidaceae a maioria das espécies é autocompatível (van der Pijl & Dodson 1966, Dressler 1981).

Por outro lado, entre as espécies com recursos, o néctar é a principal recompensa oferecida aos polinizadores. No entanto, o polén, o pseudopólen, os óleos florais, as fragrâncias, as ceras (van der Pijl & Dodson 1966, Dressler 1993) e as substâncias viscosas semelhantes a resinas também são comumente encotradas (Davies et al. 2003).

Essa grande variedade de recursos presentes nas orquídeas podem ser atribuídas à diversidade de glândulas florais como os nectários (Catling 1983, 1987, Singer & Sazima

1999, Pansarin et al. 2012, Cabral & Pansarin 2014), os elaióforos (Vogel 1974, Buchmann

1987, Mickeliunas et al. 2006, Pansarin & Pansarin 2011), os osmóforos (Pansarin & Amaral

2009, Pansarin et al. 2013) entre outras estruturas produtoras de recursos que podem ser encotradas nas suas flores (van der Pjil & Dodson 1966).

O néctar, no entanto, é um composto explorado por vários grupos de animais como abelhas, vespas, moscas, borboletas, mariposas e aves como beija-flores e olho-branco (van der Pijl & Dodson 1966, Catling 1987, Dressler 1993, Singer & Cocucci 1999, Singer &

Sazima 1999, 2000, Singer 2002, Micheneau et al. 2008). Entre os Hymenoptera, as abelhas principalmente, são consideradas o grupo mais importante de polinizadores das orquídeas, sendo responsável pela polinização de cerca de 60% de todas as espécies (van der Pijl &

Dodson 1966).

Ainda assim, menos freqüentes, porém não menos importantes outros animais também podem atuar como polinizadores das orquídeas. Em Grobya amherstiae Lindl., por exemplo, uma espécie nativa ocorrente no interior do estado de São Paulo, besouros foram observados polinizado suas flores (Mickeliunas et al. 2006). Além disso, em uma espécie do gênero Angraecum sp. (Angraeciinae), as flores são polinizadas por grilos (Micheneau et al.

19

2010). E na espécie Cymbidium serratum Schltr., o único registro de mamíferos, tendo ratos selvagens como visitantes florais (Wang et al. 2008).

20

Referências bibliográficas

Ackerman, J.D. 1986. Mechanisms and evolution of food-deceptive pollination systems in

orchids. 1: 108-113

Aguiar, J.M.R.B.V. Pansarin L.M. Ackerman J.D. & Pansarin E.R. 2012. Biotic versus

abiotic pollination in Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. (Orchidaceae).

Species Biology. 27: 86-95.

Barros, F.D.E. Vinhos F. Rodrigues V.T. Barbarena F.F.V.A. Fraga C.N. Pessoa E.M. &

Foster W. 2014. Orchidaceae in Lista de Espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico

do Rio de Janeiro. (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB11992).

Buchmann, S.L. 1987. The ecology of oil flowers and their bees. Annual Review of Ecology

and Systematics. 18: 343-396.

Cabral, P.R.M. & Pansarin E.R. 2014. Biologia reprodutiva de Campylocentrum micranthum

(Lindl.) Rolfe (Orchidaceae, Angraecinae). Submetido para publicação. Universidade

de São Paulo, Ribeirão Preto-SP.

Catling, P.M. 1983. Pollination of Northeastern North American Spiranthes (Orchidaceae).

Canadian Journal of Botany. 61: 1080-1093.

Catling, P.M. 1987. Notes on the breeding systems of Saccoila lanceolata (Aublet) Garay

(Orchidaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden. 74: 58-68.

Catling, P.M. & Catling V.R. 1991. A synopsis of breeding systems and pollination in North

American orchids. Lindleyana. 6: 187-210.

21

Davies, K.L. Turner M.P. & Gregg A. 2003. A typical pseudopollen forming hairs in

Maxillaria Ruiz & Pav. (Orchidaceae). Botanical Journal of the Linnean Society.

143: 151-158.

Dressler, R.L. 1981. The Orchids: Natural History and Classification. Harvard University

Press, Harvard, USA. 332p.

Dressler, R.L. 1993. Phylogeny and Classification of the Orchid Family. Timber Press,

Portland, Oregon. USA. 314p.

Dressler, R.L. 2005. How many orchid species? Selbyana. 26: 155-158.

Garay, L.A. 1960. On the origin of the Orchidaceae. Botanical Museum Leafly Harvard.

University. 19: 57-96.

Herrera, C. 1989. Pollinator abundance, morphology, and flower visitation rate: analysis of

the “quantity” component in plant-pollinator system. Oecologia. 80: 241-148.

Mickeliunas, L. Pansarin E.R. & Sazima M. 2006. Biologia floral, melitofilia e influência de

besouros Curculionidae no sucesso reprodutivo de Grobya amherstiae Lindl.

(Orchidaceae: Cyrtopodiinae). Revista Brasileira de Botânica. 29: 251-258.

Micheneau, C. Fournel J. Humeau L. & Pailler T. 2008. Orchid-bird interactions: a case

study from Angraecum (Vandeae, Angraecinae) and Zosterops (white-eyes,

Zosteropidae) on Reunion Island. Botany. 86: 1143-1151.

Micheneau, C. Fournel J. Warren B.H. Hugel S. Gauvin-Bialecki A. Pailler T. Strasberg D.

& Chase M.W. 2010. Orthoptera, a new order of pollinator. Annals of Botany. 105:

355-364.

Pabst, G.F.J. & Dungs F. 1975. Orchidaceae Brasilienses, v. 1. Kurt Schmersow, Hildesheim.

22

Pansarin, L.M. Pansarin E.R. & Sazima M. 2008. Reproductive biology of Cyrtopodium

polyphyllum (Orchidaceae): a Cyrtopodiinae pollinated by deceit. Plant Biology. 10:

650-659.

Pansarin, L.M. & Pansarin E.R. 2013. Reproductive biology of tridactylum

(Orchidaceae: ): a reward producing species and its deceptive flowers.

Plant Systematics and Evolution. DOI 10.1007/s00606-013-0884-9.

Renner, S.S. 2006. Rewardless flowers in the angiosperms and the role of insect cognition in

their evolution. In Waser N.M. Orleton J. (eds) Plant-Pollinator Interactions from

Specialization to Generalization, 1 st edn. The University of Chicago Press. Chicago.

pp. 123-144.

Singer, R.B. 2002. The pollination biology of Sauroglossum elatum Lindl. (Orchidaceae:

Spiranthinae): moth-pollination and protandry in neotropical Spiranthinae. Botanical

Journal of the Linnean Society. 138: 9-16.

Singer, R.B. & Cocucci A.A. 1999. Pollination mechanism in southern Brazilian orchids

which are exclusively or mainly pollinated by halictid bees. Plant Systematic and

Evolution. 217: 101-117.

Singer, R.B. & Sazima M. 1999. The pollination mechanism in the „Pelexia alliance‟

(Orchidaceae: Spiranthinae). Botanical Journal of the Linnean Society. 131: 249-262.

Singer, R.B. & Sazima M. 2000. The pollination of Stenorrhynchos lanceolatus (Aublet)

L.C. Rich. (Orchidaceae: Spiranthinae) by hummingbirds in southeastern Brazil.

Plant Systematics and Evolution. 223: 221-227.

Tremblay, R.L. 1992. Trends in pollination ecology of the Orchidaceae: evolution and

systematics. Canadian Journal Botany. 70: 642-650.

23

Van der Pijl, L. & Dodson C.H. 1966. Orchid flowers: their pollination and evolution.

Florida: University of Miami Press.

Vogel, S. 1974. Ölblumen und ölsammelnde Bienen. Tropical und Subtropical Pflanzenwelt.

7: 285-547.

Vogel, S. & Cocucci A. 1995. Pollination of Basitemon (Scrophulariaceae) by oil-collecting

bees in Argentina. Flora. 190: 353-363.

Wang, Y. Zhang Y. Ma X. & Dong L. 2008. The unique mouse-pollination in an orchid species.

Nature Precedings. hdl:10101/npre.1824.1.

24

Capitulo 1

Biologia reprodutiva de Encyclia patens Hook. (Laeliinae: Orchidaceae).

25

Resumo

Encyclia patens Hook., é uma espécie endêmica do Brasil que apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo nas regiões nordeste, sudeste e sul do país. Os estudos sobre a sua biologia reprodutiva foram realizados no município de São Simão, no noroeste do estado de São Paulo. Essa espécie é epífita e produz inflorescências paniculiforme apicais e flores nectaríferas que exalam uma fragrância adocicada composta por 10 substâncias. Suas flores de coloração verde e púrpura se abrem nos meses de junho a agosto e, quando intactas, permanecem abertas por até 21 dias. O néctar produzido por elas é secretado em uma cavidade nectarífera, chamada cunículo. Não foram observados os polinizadores de Encyclia patens. Apenas vespas sociais da espécie Polybia ignobilis Haliday 1836 e também moscas da família Syrphidae foram observados como visitantes florais. Encyclia patens é autocompativel. Entretanto, não autógama e dependente de um polinizador, uma vez que os frutos formados foram exclusivamente dos tramentos de autopolinização manual (100%) e polinização cruzada (93,3%). A taxa de sementes potencialmente viáveis dos frutos provenientes destes tratamentos foi de 57,93% para autopolinização manual e 82,52% para polinização cruzada. Em condições naturais, a população estudada apresentou uma taxa de frutificação de 0,28%.

Palavras-chave: Laeliinae, biologia floral, autocompatibilidade, fragrância floral, néctar.

26

Abstract

Encyclia patens Hook., is endemic to Brazil, occurring in the Northeastern,

Southeastern and Southern regions. The study on its reproductive biology was conducted in municipality of São Simão in the northwestern of state of São Paulo. This specie is epiphytic with paniculate apical inflorescence, which produces nectariferous flowers and that emits sweet fragrance composed of 10 different volatile compounds. The flowers are green and purple. The flowering period occur from June to August and each flower up to 21 days. The nectar produced is accumulated in a nectar chamber called cuniculus. Does not were observed the pollinators of Encyclia patens. Only social wasps (Polybia ignobilis Haliday

1836) and Syrphidae flies were recorded as floral visitors. Although the pollinators have not been observed, Encyclia patens is self-compatible. However, it is a pollinator-dependent species, since fruits were formed exclusively in self-polinition (100%) and cross-pollination

(93.3%) treatments. The tax of potentially viable seeds from fruits of these treatments was

57.93% in manual self-pollination and 82.52% in manual cross-pollination. In natural conditions, the studied population the fruit set was 0.28%.

Key-words: Laeliinae, floral biology, self-compatibility, floral fragrance, nectar.

27

Introdução

A família Orchidaceae apresenta alguns dos mais intrigantes e complexos mecanisnos de polinização conhecidos, sendo as suas flores polinizadas por diversos grupos de insetos como Diptera, Lepidoptera, Coleoptera e Hymenoptera (van der Pijl & Dodson 1966,

Dressler 1981).

Entre as orquídeas, várias espécies atraem os insetos para as suas flores com a produção de fragrâncias florais que apresentam um papel importante na polinização. Tais compostos atuam como sinalizadores para os insetos que visitam suas flores em busca de algum recurso (van der Pijl & Dodson 1966, Singer 2002, Stökl et al. 2007, Humeneau et al.

2011).

Suas flores produzem uma série de recursos como óleos florais, ceras, substâncias viscosas semelhantes a resinas e o néctar, composto considerado a principal recompensa oferecida aos seus polinizadores (van der Pijl & Dodson 1966, Davies et al. 2003). Tal composto pode ser produzido em estruturas secretoras como nectários florais (Cabral &

Pansarin,dados não publicados), nectários extraflorais (Leitão et al. 2014), glândulas nectaríferas (Pansarin 2003), ou ainda em cunículos, um tipo de nectário comum encontrado em espécies da subtribo Laeliinae (Dressler 1993, Pridgeon et al. 1999).

Laeliinae é uma subtribo restrita a região Neotropical que compreende cerca de 1.500 espécies distribuídas em 43 gêneros (Dressler 1993). O grupo constitui um dos melhores exemplos de radiação adaptativa entre as orquideas, sendo encontrados todos os principais grupos de polinizadores observados na família (van der Pijl & Dodson 1966, Dressler 1981).

Apesar dos dados serem escassos, a maioria dos gêneros da subtribo é polinizado por

Hymenoptera. No entanto, em Epidendrum, que é considerado o maior gênero do grupo, os polinizadores são principalmente os Lepidoptera (van der Pijl & Dodson 1966).

28

O gênero Encyclia Hook. é neotropical e apresenta aproximadamente 120 espécies distribuídas pelos Estados Unidos, México, Brasil e Argentina (van den Berg et al., 2005).

Encyclia patens Hook. que é uma dessas espécies, apresenta ampla distribuição geográfica no

Brasil, ocorrendo desde o Rio Grande do Sul até o Pernambuco (Pansarin & Pansarin, 2010).

Contudo, não existem estudos envolvendo a sua biologia reprodutiva e polinização. Somente vespas foram observadas visitando suas flores. Além disso, foi documentada baixa desenvolvimento de frutos em condições naturais (Pansarin & Pansarin, 2010).

O presente trabalho teve como objetivos estudar a biologia reprodutiva de

Encyclia patens. Para isso foram desenvolvidas análises sobre os aspectos de sua fenologia, morfologia floral, análise química das fragrâncias florais, observações sobre seus polinizadores e mecanismos de polinização, bem como quantificação do desenvolvimento de frutos em condições naturais.

29

Material e Métodos

Área de estudo

Os estudos com Encyclia patens foram desenvolvidos no município de São Simão

(aproximadamente 21°29‟S e 47°36‟O), no estado de São Paulo. Essa região é caracterizada por altitudes que variam entre 620 e 700 m e temperaturas médias mensais que variam entre

17,6 °C no mês mais frio (julho) e 23,5 °C no mês mais quente (fevereiro). A precipitação média anual é de aproximadamente 1478 mm. De acordo com a classificação de Köppen

(1948), o clima da região enquadra-se na categoria Cwa, ou seja, temperado, macrotérmico moderadamente chuvoso e com inverno seco não rigoroso (Pires Neto et al. 2005).

Estudos sobre a Fenologia

As observações sobre a fenologia de Encyclia patens foram realizadas sobre 4 indivíduos no município de São Simão interior do estado de São Paulo. Para cada indivíduo foi observado desenvolvimento de inflorescências, botões florais e flores, o período de antese, a longevidade floral e a deiscência dos frutos. As observações foram realizadas em oito expedições na população de estudo entre o mês de maio de 2012 a setembro de 2013 e entre abril e julho de 2014. As visitas ao campo foram intensificadas no período de floração para estudo da biologia floral e observações dos polinizadores.

Análise química dos compostos voláteis

Para a realização da análise de headspace com microextração em fase sólida (HS-

SPME) dos voláteis florais algumas flores foram colocadas separadamente em um frasco de

30 vidro de 20 ml e submetidos a uma temperatura constante de 35ºC por 60 minutos. Nesse período, a fibra de sílica fundida coberta com 10µm de polidimetilsiloxano (PDMS) (Supelco

Inc., Bellefont, PA) foi inserida no frasco e exposta ao headspace floral.

A análise dos compostos voláteis florais foi processada usando um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massa QP 2010 Shimadzu. Um detector de espectrometria com fonte de ionização por elétrons (EI-MS) foi operado sob a temperatura da fonte a 250ºC, uma corrente de emissão de 60 µA e uma energia de ionização de 70 e V. O tempo global de corrida foi registrado em modo de varredura completo (40-500 m/z de variação de massa) e uma proporção de leitura de 0.30 scan s-1. Os compostos foram dissolvidos termicamente da fibra SPME no injetor por 2 minutos a 250ºC, com modo de injeção em splitless. Esses compostos foram separados em uma coluna capilar DB-5MS (J &

W Agilent) de 30 m x 0,24 mm, sendo a espessura do filme de 0,25µm, com He (79,7 kPa) como gás de arraste e fluxo de 1,3 ml min-1. A temperatura do GC se iniciou a 60ºC, e aumentou linearmente 30ºC por minuto até atingir 240ºC, durante 60 minutos.

Os dados de cromatografia foram analisados com o software GC-MS Solution e os compostos voláteis foram identificados com a biblioteca NIST 62, Wiley 7 e FFNSC 1.3, por comparação dos espectros de MS. Além disso, os índices de retenção de Kováts (KI) de cada composto foram calculados de acordo com a fórmula de Kováts (Robards et al. 1994). As

áreas de cada pico das cromatogramas foram integradas para determinar a abundância relativa de cada composto.

Estudos sobre morfologia floral

Para realização dos estudos sobre a morfologia floral de Encyclia patens, 30 flores frescas foram coletadas em indivíduos coletados previamente na população de estudo e

31 mantidas em cultivo no Orquidário LBMBP da FFCLRP-USP. Suas estruturas foram medidas e analisadas sob um microscópio estereoscópico binocular utilizando um paquímetro de precisão. Foram observadas a forma, a simetria, o tamanho e o formato das peças florais, como pétalas, sépalas, labelo, coluna, antera e polinário. O material testemunho de Encyclia patens foi depositado no Orquidário do Laboratório de Biologia Molecular e Biossistemática de Plantas-LBMBP, FFCLRP-USP Universidade de São Paulo (http://splink.cria. org.br/manager/detail?setlang=pt&resource=LBMBP).

Análises histoquímicas das regiões produtoras de recursos

Para a realização dos testes, cortes a mão livre foram obtidos a partir de flores frescas coletadas em indivíduos mantidos em cultivo no orquidário LBMBP. Os testes histoquímicos foram realizados para detectar substâncias pécticas com solução aquosa de vermelho de

Rutênio 0,02% (Jensen 1962) e teste para açucares redutores com reagente de Fehling (Purvis et al.1964).

Visitantes florais e mecanismo de polinização

As observações focais sobre os visitantes florais foram realizados em condições naturais nos períodos de floração no ano de 2013 e 2014. Em 2013, as observações foram realizadas entre os dias 26 de junho e 9 de julho nos períodos de 08:00-17:00h. Em 2014, as observações foram realizadas entre os dias 26 de junho e 16 de julho. Todavia, devido as adivesidades climáticas como fortes ventos, dias nublados e com chuvas que pudessem impossibilitar as observações por todo o período, elas foram realizadas no período entre

08:00-13:00h. Foram realizadas um total de 132 horas de observações. Durante as

32 observações, dois indivíduos com flores intactas foram marcadas no final de cada dia e checadas na manhã seguinte para verificar a possível ocorrência de polinização noturna.

Sistema reprodutivo

Para investigar o sistema reprodutivo de Encyclia patens foram utilizados cinco indivíduos que foram coletados e mantidos em cultivo no orquidário LBMBP. Todos os indivíduos foram submetidos a três diferentes tratamentos que são: autopolinização manual

(n=30 flores), emasculação (n=30 flores) e polinização cruzada (n=30 flores). Além disso, 30 flores foram utilizadas para a realização das observações sobre a presença de autopolinização espontânea.

Taxa de frutificação em condições naturais

As informações sobre a taxa de frutificação em condições naturais foram obtidas no município de São Simão em setembro de 2013 e 2014. Foram utilizados 30 indivíduos da população de estudo, contando-se o número flores produzidas e a quantidade de frutos desenvolvidos.

Análise da viabilidade das sementes

Para a análise sobre a viabilidade das sementes, todos os frutos formados a partir dos tratamentos manuais foram amostrados. Uma amostra de 200 sementes por frutos foi analisada sob um microscópio de luz. As sementes foram classificadas em viáveis e não viáveis de acordo com o desenvolvimento dos embriões, sendo consideradas não viáveis as

33 sementes sem embriões ou com embriões rudimentares (Pansarin et al. 2008). As sementes foral coletadas quando os frutos estavam deiscentes.

34

Resultados

Encyclia patens é uma espécie com hábito epífito e folhas lineares com inflorescências paniculadas apicais que podem produzir até 40 flores. Suas flores que exalam uma fragrância adocicada se abrem no inverno, nos meses de junho a julho. Tal fragrância é composta por dez substâncias voláteis distintas. O volátil mais abundante é o β-α-trans- bergamoteno que nas análises químicas apresentou uma porcentagem de área relativa de

27%, depois o composto trans-ocimeno com 25.32%, seguido pelo trans-cariofileno com

18.1 %, o α-farneseno com 12.6%, o linalol com 7.26%, o germacreno D com 1.52%, o acetato fenetilico com 1.37%, o β-cis-ocimeno com 1.35%, o α-bisaboleno com 0.87% e por

último, o menos abundante isolongifolene com uma porcentagem de área relativa de 0.9%

(Fig. 1).

As flores de Encyclia patens são pediceladas, ressupinadas de coloração predominantemente verde e púrpura e se abrem logo pela manhã. Cada flor pode durar cerca de 21 dias. Suas sépalas dorsais medem 푋 = 1,62 ± 0,06 x 0,54 ± 0,04 são oblanceoladas, levemente curvadas para frente, apresenta ápice apiculado e margem lisa; as sépalas laterais medem 푋 = 1,61 ± 0,05 x 0,59 ± 0,04, são oblanceoladas, levemente falcadas e com ápice apiculado; as pétalas medem 푋 = 1,57 ± 0,07 x 0,60 ± 0,05 são falcadas e atenuadas; o labelo

é 3-lobado mede 푋 = 1,46 ± 0,06 x 0,89 ± 0,07 e apresenta coloração amarelo-esverdeado com linhas púrpuras longitudinais (guias de néctar), margem ondulada; os lobos laterais são de coloração branco-esverdeada com linhas púrpuras na base e envolvem a coluna (푋 = 0,75±

0,05 x 0,89 ± 0,07) que é sigmóide e apresenta aurículas no ápice; o polinário mede ca. 0.1 cm e é formado por 4 polínias discóides de consistência cartilaginosa; a antera mede ca. 0,2 cm é oval e de coloração amarela (Tabela 1).

35

As flores de Encyclia patens produzem uma pequena quantidade de néctar que fica acumulado por um dia após a antese da flor no interior do cunículo que apresenta a epiderme recoberta por papilas (Fig. A). A partir dos testes histoquímicos com o reagente de Fehling notou-se a presença de açucares redutores no protoplasto das células (Fig. 2B). Além disso, através dos testes histoquímicos com vermelho de Rutênio verificou-se a presença de substâncias pécticas nas células epidérmicas (Fig. 2C).

Não foram observados os polinizadores de Encyclia patens. Vespas sociais da espécie

Polybia ignobilis Haliday 1836 (Fig. 2D) e também moscas da família Syrphidae (Fig. 2E) foram observadas atuando apenas como visitantes florais. A vespa Polybia ignobilis visitou somente uma flor pousando sobre o labelo e abandonando a flor logo em seguida. A mosca

Syrphidae visitou rapidamente a flor pousando sobre o labelo. Em todas as visitas os insetos não tocaram as estruturas reprodutivas das flores.

Encyclia patens é uma espécie autocompatível. Todavia, depende de um polinizador para a transferência de pólen. Não houve a formação de frutos em flores emasculadas e nas flores submetidas à autopolinização espontânea. O desenvolvimento de frutos foi exclusivamente de flores submetidas à polinização cruzada (93,3%) e autopolinização manual (100%). A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes destes tratamentos foi de 57,93% em autopolinização manual e 82,52% nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada. Em condições naturais, a população estudada apresentou uma taxa de frutificação de 0,28% (Tabela 2).

36

α-bisaboleno isolongifolene β-cis-ocimeno acetato fenetilico germacreno D linalol α-farneseno

Compostos voláteis Compostos trans-cariofileno β-trans-ocimeno α-trans-bergamoteno

0 5 10 15 20 25 30 Abundância relativa

Figura 1: Abundância relativa dos compostos voláteis detectados na fragrância floral de

Encyclia patens, no município de São Simão-SP.

37

Tabela 1: Variação, Média (푋 ) e desvio padrão (DP) das estruturas florais de Encyclia patens na população de estudo, município de São Simão-SP.

Estruturas Comprimento (cm) 푿 DP Largura (cm) 푿 DP Variação Variação

Pétalas 1,5-1,7 1,57 0,07 0,5-0,7 0,60 0,05 Labelo 1,3-1,6 1,46 0,06 0,8-1,0 0,89 0,07 Sépalas 1,5-1,7 1,61 0,05 0,5-0,7 0,59 0,04 Sépala dorsal 1,5-1,7 1,62 0,06 0,5-0,6 0,54 0,04 Coluna 0,7-0,8 0,75 0,05 0,8-1,0 0,89 0,07 Antera 0,2 - - - - - Polinário 0,1 - - - - -

38

FIGURA 2: Encyclia patens Hook. (Orchidaceae: Laeliinae). A, Corte longitudinal da região do cunículo com néctar. B, Corte transversal da região do cunículo com reagente de Fehling

(precipitado castanho escuro) (aumeto=100x). C, Corte transversal da região do cunículo

39 com reagente vermelho de Rutênio (aumento=100x). D, Vespa Polybia ignobilis visitante das flores de E.patens. E, Mosca Syrphidae visitante das flores.

40

Tabela 2: Resultados obtidos nos testes sobre o sistema reprodutivo de Encyclia patens. porcentagem de frutos desenvolvidos nos tratamentos manuais de polinização cruzada, autopolinização manual e em polinização aberta na população no anos anos de 2013 e 2014; porcentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamentos manuais de polinização cruzada e autopolinização.

Tratamentos Flores Frutos Sementes

Autopolinização manual 30 30 (100%) 4908 (81,8%)

Polinização cruzada 30 28 (93,3%) 4420 (73,6%)

Emasculação 30 - -

Polinização aberta (2013) 350 1 (0,28%) -

Polinização aberta (2014) - - *

41

Discussão

Encyclia patens, é uma espécie epífita endêmica do Brasil que apresenta flores fragrantes que exalam um forte cheiro adocicado. Tal fragrância, por análise GC-MS, apresentou ser composta por10 substâncias distintas que são: β-α-trans-bergamoteno como o mais rico, depois otrans-ocimeno, otrans-cariofileno, o α-farneseno, o linalol, ogermacreno

D, o acetato fenetilico, o β-cis-ocimeno, oα-bisabolenoe por último, o menos abundante isolongifolene. Esses compostos são líquidos aromáticos que podem estar presentes em flores, folhas, sementes, ervas, madeira, frutos e raízes de várias espécies de plantas, podendo ter em sua constituição misturas muito complexas como terpenóides que podem conter até

100 ou mais compostos orgânicos. Na maioria dos casos, os óleos essências podem apresetar monotepenos, sesquiterpenos e com menor freqüência os diterpenos. No qual, seus constituintes podem estar envolvidos em múltiplas funções orgânicas, como alcoóis, cetonas

éteres, ésteres aldeídos. No entanto, atuando como fitoalexinas, os terpenos apresentam diversas funções nas plantas, podendo agir como repelentes de insetos, agente na defesa contra herbívoro, entre outros (Burt et al. 2004) ou atração de polinizadores (Dodson 1969).

Na maioria das espécies de plantas com flores, a reprodução sexuada é mediada pela interação entre os órgãos reprodutores das flores e o inseto ou animal polinizador que transfere o pólen ou polínia como ocorre nas flores de muitas especies de orquídeas (e.g.

Pansarin 2003, Pansarin & Amaral 2008, Pansarin & Pansarin 2013). Os polinizadores são geralmente atraídos pelas combinações de cores e fragrâncias florais, associadas a algum tipo de recompensa alimentar como à própria fragrância, às resinas, os lipídios, o pólen e o néctar

(e.g. Curry et al. 1991, Davies et al. 2003, Mickeliunas et al. 2006, Pansarin & Pansarin

2013).

42

As flores de Encyclia patens produzem néctar, composto que é secretado no interior de um nectário do tipo cunículo. Os testes histoquímicos com reagente de Fehling que evidenciaram a presença de açucares redutores e com o reagente vermelho de rutênio vereficando-se a presença de substâncias pécticas nas células epidérmicas do cunículo. O cunículo, em Laeliinae, está presente também em outras espécies do grupo, como por exemplo, em Pseudolaelia corcovadensis Porto & Brade (Borba & Braga 2001), em

Brassavola flagellaris Barb. Rodr. (Stpiczyńska et al. 2010) e em algumas espécies do gênero Epidendrum (e.g. Pansarin 2003, Pansarin & Amaral 2008, Almeida & Figueiredo

2003, Fuhro et al. 2010, Pinheiro & Cozzolino 2013).

Suas flores apresentam antese diurna e permanecem abertas por um período relativamente longo, característica, que de acordo com Endress (1998), pode ser observada em espécies que recebem poucas visitas ou visitas imprecisas e pode estar relacionada com compensação por espécies raramente polinizadas como ocorre em outras espécies no interior do estado de São Paulo (e.g. Mickeliunas et al. 2006, Pansarin & Pansarin 2011).

Não foram registrados os polinizadores de Encyclia patens e sim vespas sociais da espécie Polybia ignobilis e uma espécie de moscas da família Syrphidae apenas visitando as suas flores. No entanto, vespas já haviam sido doumentadas visitando suas flores anterirormente por Pansarin & Pansarin (2010). Segundo Dodson (1967), as vespas são responsáveis pela polinização de 3% das espécies de orquídeas. Portanto, as vespas foram observadas visitando flores de outras espécies de orquídeas, como Caladenia, na Austrália

(Stoutamire 1983) e Prostechea vespa (Sw.) W. E. (Higgins) no Brasil (Clemente et al.

2012).

Os Diptera são considerados o segundo mais importante grupo de polinizadores das orquídeas (van der Pijl& Dodson 1966, Christensen 1994). No entanto, várias espécies têm

43 sido documentas como sendo polinizadas por moscas (e.g. Borba & Semir 1998, Singer &

Cocucci 1999, Borba & Semir 2001). Além disso, entre elas, há espécies que são polinizadas por esses insetos que visitam as suas flores em busca de néctar (e.g. Kunth 1909, Gilbert

1958, Bernhardt & Burns-Balogh 1986), como por exemplo observado na espécie

Epidendrum tridactylum Lindl., no qual quatro famílias de díptera foram documentadas visitando as suas flores, entre as quais uma espécie de Syrphidae (Ornidia obesa Fabricius) atua como polinizador (Pansarin & Pansarin 2013). Todavia, existem espécies como observado em utriculata (Sw.) Lindl. por Pansarin (2008), que são polinizadas atraindo os Syrphidae por engano, similar ao sistema observado no gênero Thelymitra, no qual suas flores se abrem no mesmo período em que outras espécies florescem, mimetizando seus estames (e.g. Bernhardt & Burns-Balogh 1986, Dafni & Calder 1987, Burns-Balogh &

Berchard 1988).

A espécie Encyclia patens é autocompativel, porém dependente de um polinizador biótico para transferência de pólen, uma vez que não houve desenvolvimento de frutos nos tratamentos de emasculação e nas flores submetidas ao teste de autopolinização espontânea.

A autocompatibilidade é comum entre as orquídeas e o desenvolvimento de frutos provenientes de autogamia é geralmente evitada por barreiras mecânicas ou etológicas eficientes da própria flor (van der Pijl & Dodson 1966, Catling & Catling 1991, Borba &

Semir 1999).

Considerando que as flores de Encyclia patens produzem néctar como recurso para seus polinizadores, o número de frutos originados em condições naturais são considerados extremamente baixos quando comparados com outras espécies que ocorrem na mesma área de estudo e que também produzem néctar como por exemplo Campylocentrum micranthum

(Cabral & Pansarin, dados não publicados) ou quando comparadas com algumas outras

44 espécies da subtribo Laeliinae que ocorrem no interior do estado como Epidendrum tridactylumLindl. (Pansarin & Pansarin 2013).

O desenvolvimento de sementes potencimalmente viáveis nos frutos provenientes dos tratamentos manuais realizados em Encyclia patens, no entanto, foi considerávelmente alto.

Valores aproximados foram observdos em Phymatidium delicatulum e Mesadenella cuspidata. Contudo, em outras espécies estudadas no estado de São Paulo, os resultados observados são diferentes. Em espécies do gênero Eulophia R.Br., Lindl., Laelia

Lindl., Pleurothallis e Pseudolaelia Porto & Brade são considerdos relativamente baixos

(Lock & Profita 1975, Stort & Martins 1980, Stort & Galdino 1984, Borba et al. 2001, Borba

& Braga 2003).

45

Conclusão

A espécie Encyclia patens é epífita. Suas flores são ressupinadas e de coloração verde e púrpura. Cada flor dura até 21 dias. A espécie floresce no inverno nos meses de junho a agosto. Suas flores exalam uma fragrância adocicada composta por dez voláteis diferentes.

Além disso, suas flores produzem uma pequena quantidade de néctar que fica exposto somente no primeiro dia após a antese. Não foram observados os polinizadores de Encyclia patens. Entretanto, vespas sociais da espécie Polybia ignobilis e moscas da família Syrphidae foram observadas sobre as suas flores, porém não atuando como seus polinizadores. A espécie é autocompativel. Todavia, dependente de um polinizador para transferência de pólen. Frutos foram formados apenas nos tratamentos de polinização cruzada e autopolinização manual. A taxa de semente potencialmente viáveis nos frutos provinientes destes tratamentos foi consideravelmente alta. Em condições naturais, a população estudada apresentou uma taxa de frutificação baixa.

46

Referencias bibliográficas

Almeida, A.M. & Figueiredo R.A. 2003. Ants visit nectaries of Epidendrum denticulatum

(Orchidacceae) in a Brazilian rainforest: effects on hervivory and pollination.

Brazilian Journal of Biology. 63: 551-558.

Barros, F.D.E. Vinhos F. Rodrigues V.T. Barbarena F.F.V.A. Fraga C.N. Pessoa E.M.&

Foster W. 2013. Orchidaceae in Lista de Espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico

do Rio de Janeiro. (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB11992).

Bernhardt, P. & Burns-Balogh P. 1986. Observations of the floral biology of Prasophyllum

fragranceatum (Orchidaceae: Spiranthoideae). Plant Systematic and Evolution. 153:

65-76.

Borba, E.L. & Semir J. 1998. Wind-assisted fly pollination in three Bulbophyllum

(Orchidaceae) species occurring in the Brazilian campos rupestres. Lindleyana. 13:

203-218.

Borba, E.L. Shepherd G.J. & Semir J. 1999. Reproductive systems and crossing potential in

three species of Bulbophyllum (Orchidaceae) occurring in Brazilian “campo rupestre”

vegetation. Plant Systematics and Evolution. 217: 205-214.

Borba, E.L. Shepherd G.J. & Semir J. 2001. Self-incompatibility, inbreeding depression and

crossing potential in five Pleurothallis (Orchidaceae) species. Annals of Botany. 88:

89-99.

Burns-Balogh P. & Benhardt P. 1998. Floral evolution and phylogeny in the tribe

Thelymitreae (Orchidaceae: Neotropical). Plant Systematics and Evolution. 159: 19-

47.

47

Cabral, P.R.M. & Pansarin E.R. 2014. Biologia reprodutiva de Campylocentrum micranthum

(Lindl.) Rolfe (Orchidaceae, Angraecinae). Submetido para publicação. Universidade

de São Paulo, Ribeirão Preto-SP.

Catling, P.M. & Catling V.R. 1991. A synopsis of breeding systems and pollination in North

American orchids. Lindleyana. 6: 187-210.

Clemente, A.M. Lange D. Del-Claro K. Prezoto F. Campos N.R. & Barbosa B.C. 2012.

Flower-visiting social wasps and plants interaction: network pattern and

environmental complexity. Psyche.10p.

Christensen, D.E. 1994. Fly pollination in the Orchidaceae, in Arditti J (ed) Orchid Biology:

Reviews and Perspectives VI. John Wiley & Sons, New York, pp. 415-454.

Curry, K.J. Mc Dowell L.M. Judd W. & Sern W.L. 1991. Osmophores, floral features, and

systematics of Stanhopea (Orchidaceae). American Journal of Botany. 78: 610-623.

Dafni, A. & Calder D.M. 1987. Pollination by deceit and floral mimesis in Thelymitra

antennifera (Orchidaeae), Plant Systematic and Evolution. 158: 11-22.

Damon, A. & Salas-Roblero P. 2007. A Survey of pollination in remnant orchid populations

in Soconusco, Chiapas, Mexico. Tropical Ecology. 1: 1-14.

Davies, K.L. Turner M.P. & Gregg A. 2003. Lipoidal labellar secretions in Maxillaria Ruiz

& Pav. (Orchidaceae). Annals of Botany. 91: 439-446.

Burt, S. 2004. Essential oils: their antibacterial properties and potential applications in foods-

a review. International Journal of Food Microciology. 94: 223-53.

Dobson, H.E.m. 1994. Floral volatile in insect biology. In: Bernays E.A. insect-plant

interactions. Vol.V, CRC Press. Boca Raton.

48

Dodson, C.H. 1962. The importance of pollination in the evolution of the orchids of tropical

America. American Orchid Society Bulletin. 31: 525-534, 641-649, 731-735.

Dodson, C.H. Dressler R. L. Hills H.G. Adans R.M. Williams N.H. 1969. Biologically active

compounds in orchids fragrances. Science. pp. 164-1243.

Dressler, R.L. 1981. The Orchids: Natural History and Classification. Harvard University

Press. Harvard, USA. 332p.

Dressler, R.L. 1993. Phylogeny and Classification of the Orchid Family. Timber Press,

Portland, Oregon. USA. 314p.

Endress, P.K. 1998. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers.Cambridge

University Press.Cambridge.

Fuhro, D. de Araújo A.M. & Irgang B.E. 2010. Are there evidences of a complex mimicry

system among Asclepias curassavica (Apocynaceae), Epidendrum fulgens

(Orchidaceae), and Lantana camara (Verbenaceae) in Southern Brazil? Revista

brasileira de Botânica. 33: 589-598.

Gilbert, P.A 1958. Dendrobium linguiforme Sw. American Orchid Society Bulletin. 27: 472-

475.

Humeneau, L. Micheneau C. Jaquemyn H. Gauvin-Bialecki A. Fournel J. &Pailler J. 2011.

Sapromyophyly in the native orchid Bulbophyllum variegatum on region (Mascarene

Archipelago, Indian Ocean). Journal of Tropical Ecology. 27: 591-599.

Janzen, D.H. Devries P. Glasdstone D.E. HigginsM.L. & Lewinsohn T.M. 1980. Self-and

cross-pollinationof Encyclia cordigera (Orchidaceae) in Santa Rosa National Park,

Costa Rica. Biotropica. 12: 72-74.

49

Jensen, W.A. 1962. Botanical histochemistry: principles and pratice. San Francisco, W.H.

Freeman 2 & Co.

Jersáková, J. Johnson S.D. & Kindlmann P. 2006. Mechanisms and evolution of deceptive

pollination in orchids. Bological Reviews. 81: 219-235.

Johnson, S.D. Peter C.L. & Agren J. 2004. The effects of nectar addition on pollen removal

and geitonogamy in the nonrewarding orchid Anacamptis morio. London.

Proceedings Royal Society. 271 (B): 803-809.

Knuth, P. 1909. Handabook of flowers pollination I-III. Claredon Press. Oxford.

Köppen, W. 1948. Climatologia. México: Editora Fondo de Cultura Económica. 207p.

Leitão, C.A.E. Dolder M.A.H Cortelazzo A.L. 2014. Anatomy and histochemistry of the

nectaries of venusta (Lindl.) Rchb. f. (Orchidaceae). Floral-Morphology,

Distibution, Functional Ecology of Plants. 209 (5): 233-243.

Mickeliunas, L. Pansarin E.R. & Sazima M. 2006. Biologia floral, melitofilia e influência de

besouros Curculionidae no sucesso reprodutivo de Grobya amherstiae Lindl.

(Orchidaceae: Cyrtopodiinae). Revista Brasileira de Botânica. 29: 251-258.

Pansarin, E.R. 2003. Biologia reprodutiva e polinização em Epidendrum paniculatum Ruíz &

Pavón(Orchidaceae). Revista Brasileira de Botânica. 26: 203-211.

Pansarin, E.R. 2008. Reproductive biology and pollination of Govenia utriculata: a syrphid

fly orchid pollinated through a pollen deceptive mechanism. Plant Species Biology.

23: 90-96.

50

Pansarin, E.R. & Amaral M.C.E. 2008. Reproductive biology and pollination mechanisms of

Epidendrum secundum (Orchidaceae). Floral variation: a consequence of natural

hybridization? Plant Biology. 10: 211-219.

Pansarin, L.M. Pansarin E.R. & Sazima M. 2008. Reproductive biology of Cyrtopodium

polyphyllum (Orchidaceae): a Cyrtopodiinae pollinated by deceit. Plant Biology. 10:

650-659.

Pansarin, E.R. Bittrich V. & Amaral M.C.E. 2006. At day break reproductive biology and

isolating mechanisms of Cirrhaea dependens (Orchidaceae). Plant Biology

(Stuttgart). 8: 494-502.

Pansarin, E.R. & Pansarin L.M. 2010. The family Orchidaceae in the Serra do Japi, state of

São Paulo, Brazil. Springer. New York, USA.

Pansarin, E.M. & Pansarin L.M. 2011. Reproductive biology of pumilum: an

orchid pollinated by oil-collecting bees. Plant Biology. 13: 576-581.

Pansarin, L.M. & Pansarin E.R. 2013. Reproductive biology of Epidendrum tridactylum

(Orchidaceae: Epidendroideae): a reward producing species and its deceptive flowers.

Plant Systematics and Evolution. DOI 10.1007/s00606-013-0884-9.

Pinheiro, F. & Cozzolino S. 2013. Epidendrum (Orchidaceae) as a model system for

ecological and evolutionary studies in the Neotropics. Taxon. 62: 77-88.

Pires Neto, A.G. Rocha H.R. Cooper M. & Shida C.N. 2005. Caracterização física do

Cerrado Pé-de-Gigante e uso das terras na região: 1 Fisiografia da região. In: V.R.

Pivello & E.M. Varanda (Eds.). O cerrado do Pé-de-Gigante: Ecologia e

Conservação-Parque Estadual de Vassununga. Imprensa Oficial do Estado de São

Paulo, Secretaria do Meio Ambiente (SMA), São Paulo. pp. 15-28.

51

Pridgeon, A.M. Cribb P.J. Chase M.W. & Rasmussen F.N. 1999. Genera

Orchidacearum.Oxford University Press, Oxford.

Purvis, M.J. Collier D.C. & Walls D. 1964. Laboratory techniques in botany. London,

Butterwoths.

Robards, K. Haddad P.R. & Jackson P.E. 1994. Principles and Practice of modern

Chromatographic methods. Academic Press. New York.

Singer, R.B. & Cocucci A.A. 1999. Pollination mechanism in southern Brazilian orchids

which are exclusively or mainly pollinated by halictid bees. Plant Systematic and

Evolution. 217: 101-117.

Singer, R.B. 2002. The pollination biology of Sauroglossum elatum Lindl. (Orchidaceae:

Spiranthinae): moth pollination and protandry in neotropical Spiranthinae. Botanical

Journal of the Linnean Society. 138: 9-16.

Smithson, A. 2002. The consequences of rewardlessness in orchids: reward-supplementation

experiments with Anacamptis morio (Orchidaceae) American Journal of Botany. 89:

1579-1587.

Stern, W.L. Curry K.J. & Whitten W.M. 1986. Staining fragrance glands in orchid flowers.

Bulletin of the Torrey Botanical Club. 113: 288-297.

Stökl, J. Twele R. Erdmann D.H. France W. &Aysse M. 2007. Comporison of the flower

scent of the sexually deceptive orchid Ophrys iricolor and famele sex pheromone of

its pollinator Andreana morio. Chemoecology. 17: 231-233.

Stoutamire, W.P. 1983. Wasp-pollinated species of Caladenia (Orchidaceae) in south-

western Autralia. Australian Journal of Botany. 31(4): 383-394.

52

Stpiczyńska, M. Davies K. & Kamińska1 M. 2010. Structure of the cuniculus nectary in

Brassavola flagellaris Barb. Rodr, (Laeliinae Benth., Orchidaceae). Acta

Agrobotanica. 63(1): 3-10.

Torretta, J.P. Gomiz N.E. Aliscioni S.S. & Bello M.E. 2011. Biologia reprodutiva de Gomesa

bifólia (Orchidaceae, , Oncidiinae). Darwiniana. 49: 16-24.

Tremblay, R.L. Ackerman J.D. Zimmerman J.K. & Calvo R.N. 2005. Variation in sexual

reproduction in orchids and its evolutionary consequences: a spasmodic journey to

diversification. Biological Journal of Linnean Society. 84: 1-54.

Van den Berg, C. Fernández-Concha G.C. Pridgeon A.M. 2005. Encyclia. pp. 232 236. In:

Pridgeon, A.M.; Cribb, P.J.; Chase, M.W. & Rasmussen, F.N. (eds.). Genera

orchidacearum, Epidendroideae (part one). vol. 4. Oxford University Press.

Van der Pijl, L. & Dodson C.H. 1966. Orchid flowers: their pollination and evolution.

Florida: University of Miami Press.

Williams, N.H. & Dodson C.H. 1975. Seletive attraction of male euglossine bees to orchid

floral fragrances and its importance in long distance pollen flow. Evolution. 28: 84-

95.

53

Capítulo 2

Autocompatibilidade e polinização por abelhas coletoras de óleo em

Phymatidium Lindl. (Orchidaceae: Oncidiinae).

54

Resumo

A polinização por abelhas coletoras de óleo tem sido registrada em varios grupos de orquídeas não relacionados, sugerindo evolução convergente na oferta de óleos comestíveis como recurso floral dentro da família Orchidaceae. A oferta de óleos comestíveis foi registrada em Oncidiinae, incluindo Phymatidium. No entanto, nada se sabe sobre a biologia da polinização do gênero. Os estudos sobre a biologia reprodutiva de uma espécie de

Phymatidium (P. delicatulum) foram realizadas em uma reserva natural da região sudeste do

Brasil. Phymatidium delicatulum é uma erva epífita com pequenas flores brancas que se abrem no verão. Suas flores fragrantes oferecem óleos comestíveis que são produzidos por elaióforos do labelo. O óleo produzido pelas suas flores é coletado por abelhas

Tapinotaspidini da espécie Tetrapedia amplitarsis Friese 1899 e abelhas do gênero

Trigonopedia Moure 1941, que atuam como seus polinizadores. Phymatidium delicatulum é autocompatível e dependente de um polinizador. Como ocorre em muitas orquídeas da

America do Sul, a taxa de frutificação em condições naturais é baixa devido à escassez de visitas das abelhas nas flores. A taxa de sementes potencialmente viáveis em frutos originados dos tratamentos de polinização manual foi consideravelmente baixa.

Palavras chave: sistema reprodutivo, óleos comestíveis, Epidendroideae, biologia da polinização, biologia reprodutivo

55

Abstract

Pollination by oil-collecting bees has been recorded in several unrelated orchid groups, suggesting convergent evolution in the offering of edible oils as a floral resource within Orchidaceae. The offering of edible oils has been recorded in

Oncidiinae, including the Brazilian Phymatidium. However, nothing is known obout the pollination biology of this endemic genus. The studies on reproductive biology of a species of Phymatidium, namely P. delicatulum, were conducted in a natural reserve of

Southeastern Brazil. Phymatidium delicatulum is an epiphyte herb with small white flowers that bloom in summer. Their fragrant flowers offer edible oils that are produced by labellar elaiophores. The oil is collected by Tapinotaspidini bees that pollinate its flowers during the oil collection. Phymatidium delicatulum is self-compatible and pollinator-dependent. As occur in many South American orchids, the fruit set in natural conditions is low due frequency as a consequence of scarcity of bee visitation on flowers. The rate of seed viable potentially in fruits originated in the manual pollination treatments was considerably low.

Key words: breeding system, edible oils, Epidendroideae, pollination biology, reproductive biology

56

Introdução

A produção de óleos florais como recurso tem sido observado em várias famílias de

Monocotiledôneas como Iridaceae, Orchidaceae, Commelinaceae, Cyperaceae e

Dicotiledôneas como Cucurbitaceae, Primulaceae, Krameriaceae, Malpighiaceae,

Scrophulariaceae, Solanaceae e Convolvulaceae (Vogel & Cocucci 1995, Melo &

Gaglianone 2005).

Os óleos florais são compostos produzidos e secretados por glândulas conhecidas como elaióforos, estruturas que de acordo com a classificação de Vogel (1974) podem ser de dois tipos: epitelial ou tricomático.

Na família Orchidaceae, os elaióforos podem ocorrer em ambas às formas e podem ser encontrados em diferentes partes de suas flores como, por exemplo, sobre pétalas espécies

(e.g. Toscano de Brito 2001), sobre os calos do labelo (e.g. Buchmann 1987, Toscano de

Bruto 2001, Stpiczyńska et al. 2007), sobre o labelo (e.g. Pauw 2006) e sobre a coluna (e.g.

Mickeliunas et al. 2006).

A presença dessas estruturas tem sido observada em várias espécies de diferentes gêneros, incluindo Gomesa R.Br., Lockhartia Hook., Oncidium SW., Ornithocephalus

Hook., Trichocentrum Poepp. & Endl. e Phymatidium Lindl. (Veja Singer & Cocucci 1999,

Flach et al. 2004, Reis et al. 2000, 2006, Stpiczyńska et al. 2007 e Stpiczyńska & Davies

2008).

Os óleos florais são coletados por abelhas de diversos gêneros, como Tetrapedia Klung

1810, Paratetrapedia Moure 1941 e Centris Fabricius 1804, que visitam suas flores, e atuam como polinizadores dessas orquídeas (e.g. Buchmann 1987, Singer & Cocucci 1999, Toscano de Brito 2001, Van der Cingel 2001, Mickeliunas et al. 2006, Pansarin & Pansarin 2010,

Renner & Schaefer 2010, Torretta et al. 2011). Em Oncidium, por exemplo, algumas

57 espécies que produzem esta substância como recurso são polinizadas por abelhas do gênero

Centris, Paratetrapedia e Tetrapedia (e.g. Singer & Cocucci 1999, Silveira 2002, Van der

Cingel 2001, Toscano de Brito 2001).

Em relação ao sistema reprodutivo, a autocompatibilidade é comum entre as orquídeas e a autogamia geralmente é evitada por barreiras de pré-polinização (van der Pijl & Dodson

1966, Dressler 1981, 1993, Borba & Semir 1999). Não obstante, a auto-incompatibilidade é tipicamente uma característica comum na subtribe Oncidiinae e tem sido observada em espécies do gênero Oncidium, Rodriguezia Ruiz & Pav., Gomesa, Trichocentrum (e.g.

Tremblay et al. 2005, Singer et al. 2006, Carvalho & Machado 2006, Alcátara et al. 2006,

Parra-Tabla et al. 2000 e Pansarin & Pansarin 2010).

O gênero Phymatidium compreende 10 espécies distribuídas pelo nordeste, sudeste e sul do Brasil (Barros et al. 2014). Nada é conhecido sobre o sistema reprodutivo e biologia da polinização de espécies deste gênero. Portanto, o principal objetivo deste estudo é investigar a biologia reprodutiva de Phymatidium delicatlum Lindl., uma espécie nativa endêmica do Brasil (Barros et al. 2014). Para isso, foram analisandos os aspectos de seu sistema reprodutivo, sua fenologia e morfologia floral, o comportamento dos polinizadores, os mecanismos de polinização e o sucesso no desenvolvimento de frutos da espécie em condições naturais.

58

Material e Métodos

Área de estudo

Os estudos sobre a biologia de Phymatidium delicatulum foram conduzidos na

Reserva Biológica Serra do Japi, no município de Jundiaí, estado de São Paulo, sudeste do

Brasil (aproximadamente 23º15´S e 46º58´W). A Serra do Japi é principalmente coberta de floresta semidecidual mesofítica. A região é caracterizada por elevações de 700 a 1.300 m e temperatura média anual de 15.7 ºC a 19.2ºC (Pinto 1992). A sazonalidade é bem marcada, com estação seca no inverno, de abril a setembro, e uma estação chuvosa, de outubro a março.

Estudos sobre a fenologia

As observações sobre a fenologia foram realizadas em 15 indivíduos. Para cada indivíduo foram observados o desenvolvimento das inflorescências, botões e flores, o período de antese, a longevidade floral e deiscência dos frutos. Estas análises foram realizadas durante cinco expedições na população de estudo, entre janeiro de 2013 e abril de

2014.

Estudos sobre morfologia floral

Para os estudos sobre a morfologia floral foram analisadas 30 flores frescas. Suas estruturas foram observadas em um microscópio estereoscópico binocular e medidas com paquímetro.

59

Visitantes florais e mecanismo de polinização

As observações para registros sobre o comportamento, a frequência de visitas, os mecanismos de polinização e a captura dos polinizadores para posterior identificação foram realizados nos períodos de floração de 2013 e 2014. No período de floração de 2013 as observações foram realizadas entre 23-26 de janeiro e 19-22 de fevereiro. Em 2014 as observações foram realizadas entre 20-23 de janeiro. O período diário de observações foi de

07:00 às 16:00 h, totalizando 83 horas. Durante o período de observações, dois indivíduos foram marcados, monitorados do início ao fim de cada dia, e checados na manhã seguinte, antes das 07:00 h, para verificar a possível ocorrência de polinização noturna.

O comportamento dos polinizadores nas flores foi documentado utilizando uma câmera fotográfica Nikon D-SLR D80 e uma lente Micro Nikkor 55 mm f2.8. Os detalhes dos polinizadores foram fotografados com câmera digital acoplada a um microscópio estereoscópico Leica StereoZoom S8 APO. Os insetos foram coletados utilizando uma rede entomológica, identificado e depositados como vouchers na „„Coleção Camargo‟‟ (RPSP) do

Departamento de Biologia, FFCLRP-USP, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto,

Brasil.

Sistema reprodutivo

O sistema reprodutivo de Phymatidium delicatulum foi analisado baseando-se em três tratamentos experimentais: autopolinização manual (n=47 flores), polinização cruzada (n=37 flores) e emasculação (n=30 flores, teste para apomixia). Além disso, foram realizadas observações sobre autopolinização espontânea (n=30 flores). Os tratamentos de autopolinização manual foram realizados em três indivíduos, utilizando cinco inflorescências, sendo polinizadas até nove flores, totalizando 47 flores. Nos tratamentos de

60 emasculação e nas análises sobre autopolinização espontânea foram utilizados dois indivíduos, sendo um para emasculação e o outro para autopolinização espontânea. Em cada indivíduo, cinco inflorescências foram utilizadas, sendo usadas seis flores em cada, totalizando 30 flores. Nos tratamentos manuais de polinização cruzada dois indivíduos foram utilizados, destes, oito inflorescências, sendo polinizadas até 6 flores em cada, totalizando 37 flores. Os tratamentos para investigar o sistema reprodutivo de Phymatidium delicatulum e as observações sobre autopolinização espontânea foram realizados em indivíduos previamente coletados na população de estudo entre os meses de janeiro e abril de 2013 e mantidos cultivados em vasos no Orquidário LBMBP (Laboratório de Biologia Molecular e

Biossistemática de Plantas), FFCLRP-USP, Universidade de São Paulo

(http://splink.cria.org.br/manager/detail?setlang=pt&resource=LBMBP).

Taxa de frutificação em condições naturais

As informações sobre a taxa de frutificação em condições naturais foram obtidas na

Serra do Japi, no município de Jundiaí-SP, em abril de 2013. Para obter essas informações foram utilizados 15 indivíduos da população, sendo usadas 30 inflorescências, contando-se o número de flores produzidas e o número de frutos desenvolvidos durante a estação.

Análise da viabilidade das sementes

As análises da viabilidade das sementes foram obtidas a partir de frutos deiscentes desenvolvidos através dos tratamentos manuais de polinização. Foi utilizada uma amostra de

200 sementes por fruto e examinadas em um microscópio de luz. As sementes com embrião rudimentar ou sem embrião foram consideradas não viáveis (Pansarin et al. 2008).

61

Resultados

Nas florestas da Serra do Japi, Phymatidium delicatulum ocorre como epífita. Trata-se de plantas muito pequenas com até 5 cm que não desenvolvem pseudobulbos. Suas folhas medem 1.0-2,5 cm compr. são lineares e irregularmente dispostas sobre um curto caule, apresenta margem lisa e ápice agudo.

As inflorescências são racemosas e podem produzir até17 flores. As primeiras flores começam a se abrir no verão, no final de dezembro, com alguns poucos indivíduos florescendo até o final de fevereiro. O processo de antese ocorre ao longo de todo o dia, com a abertura de 2-3 flores/dia que permanecem abertas por até15 dias. As flores são pediceladas, ressupinadas e apresentam coloração predominantemente branca com calosidades verdes sobre o labelo (Fig. 1A) e exalam fragrância adocicada. Suas pétalas medem 3,0-3,5 x 1,0-1,2 mm são livres, linear-lanceoladas a ablongo-lonceoladas; as sépalas são de tamanho igual ao das pétalas, são livres entre si, linear-lanceoladas a ablongo- lonceoladas; o labelo é 3-lobado mede 4,2-4,5 x 3,0-3,5 mm, apresentam calos glandulares na superfície adaxial, margem levemente erosa e ápice agudo; o ginostêmio mede 2,0-2,2 x

1,0-1,3 mm, apresenta aurículas no ápice (aurículas densamente papilosas) e uma cavidade estigmática basal; o rostelo é curto; a antera é amarela e mede 2,0-2,2 x 1,0-1,3 mm; o polinário é formado por quatro polínias ovais (ca. 1,0 mm diâm.) e um viscídio elíptico. Os frutos são globulares, estriados e são deiscentes no outono, de março a abril.

As flores de Phymatidium delicatulum foram visitadas e polinizadas por abelhas

Tapinotaspidini (Tetrapedia amplitarsis Friese 1899 e Trigonopedia Moure 1941 (Fig. 1B)), que coletam o óleo produzido pelos calos glandulares do labelo. As visitas dos polinizadores

às flores foram pouco frequentes e ocorreram em intervalos irregulares entre 07:00 e 14:00h, e somente em dias ensolarados. As visitas têm início com as abelhas pousando sobre uma

62 inflorescência. Em seguida, dirigindo-se a uma flor e posicionando-se sobre os calos glandulares do labelo a abelha fricciona os tarsos das pernas medianas sobre os calos para coletar o óleo. Neste momento, a parte frontal da cabeça da abelha entra em contato com o viscídio do polinário, o qual é removido. A polinização ocorre assim que a abelha carregado um polinário visita uma flor, e no processo de coleta de óleo ele é depositado no estigma. As abelhas geralmente visitam de uma a duas flores em cada inflorescência, permanecendo de

20 a 50 segundos. Através da conferencia das flores marcadas, nenhuma visitação noturna foi notificada.

A espécie Phymatidium delicatulum mostrou-se autocompatível e não autógama, uma vez que os frutos formados são exclusivamente dos tratamentos manuais de autopolinização

(31,9%) e polinização cruzada (54%). As flores submetidas à autopolinização espontânea não desenvolveram frutos. Em condições naturais a taxa de frutificação foi de 10,7%. A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes dos tratamentos de autopolinização manual foi de 57,93% e nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada foi 82,52% (Tabela 1).

63

Tabela 1. Resultados obtidos nos testes sobre o sistema reprodutivo de Phymatidium delicatulum: porcentagem de frutos formados em cada tratamento manual, em autopolinização espontânea e em condições naturais (polinização aberta); portecentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamento manuais de polinização cruzada e autopolinização.

Tratamentos Flores Frutos Sementes

Polinização cruzada 37 20 (54%) 3301 (82,52%)

Autopolinização manual 47 15 (31,9%) 1738 (57,93%)

Emasculação 30 - -

Polinização aberta 327 35 (10,7%) -

64

Figura 1. Phymatidium delicatulum (Orchidaceae: Oncidiinae). A, Inflorescência. B, Uma do gênero Trigonopedia Moure 1941 coletando óleo em uma flor.

65

Discussão

As flores Phymatidium delicatulum são fragrantes e permanecem abertas por um período relativamente longo de 15 dias. Tais características têm sido observadas em flores de outras espécies de Oncidiinae como em Grobya amherstiae Lindl., Trichocentrum pumilum

Lindl., e Gomesa bifolia (Sims) M.W. Chase & N.H. Willians (Mickeliunas et al. 2006,

Pansarin & Pansarin 2011, Torreta et al. 2011). De acordo com Endress (1998), essa características podem estar relacionadas com compensação por espécies raramente polinizadas ou espécies que recebem visitas imprecisas dos seus polinizadores.

Os calos glandulares presentes na superfície do labelo em suas flores é, de acordo com Reis et al. (2006) elaióforo do tipo tricomático. Os elaióforos do tipo tricomático estão presentes também sobre o labelo de Phymatidium falcifolium Lindl. (Toscano de Brito 2007), e em espécies do gênero Ornithocephalus Hook. e Zygostates Lindl. (Toscano de Brito

2001). Entretanto, estas estruturas podem ainda ocorrer sobre a coluna ou outras partes das flores de algumas espécies, conforme documentado em Z. grandiflora (Lindl.) Mansf., Z. lunata Lindl. e O. gladiatus Hook. por Pacek et al. (2012).

O óleo produzido e secretado pelas flores de Phymatidium delicatulum é coletado por abelhas da tribo Tapinotaspidini, que são os únicos polinizadores desta espécie na área de estudo. Abelhas Tapinotaspidini são conhecidas como polinizadores de várias outras espécies de orquídeas que oferecem óleo como recurso. Na espécie Grobya amherstiae, por exemplo, abelhas Paratetrapedia fervida Smith 1879 foram documentadas como polinizadores, e em

Trichocentrum pumilum os polinizadores foram Lophopedia nigrispinis Vachal 1909, além da espécie Tetrapedia diversipes Klung 1810 (Mickeliunas et al. 2006, Pansarin & Pansarin

2011). Abelhas do gênero Paratetrapedia também foram documentadas visitando as flores de algumas espécies de Oncidium (Buchmann 1987, Singer & Cocucci 1999). Além disso,

66 abelhas da espécie Paratetrapedia testacea Smith 1854 foram observadas como polinizadores de Ornithocephalus ciliatus Lindl. e O. cf. patentilobus C. Schweinf. no Peru.

E na América Central, abelhas P. calcarata Cresson 1878 foram documentadas como polinizadores de Ornithocephalus bicornis Lind. E O. powellii Schltr. no Panamá (Van der

Cingel 2001, Toscano de Brito 2001).

O comportamento, o processo de polinização e coleta de óleo observado aqui para P. delicatulum é muito similar ao documentado em outras espécies de orquídeas polinizadas por abelhas coletoras de óleo (e.g. Singer & Cocucci 1999, Mickeliunas et al. 2006, Pansarin et al. 2008, Torretta et al. 2011, Pansarin & Pansarin 2011), com exceção da espécie Grobya amherstiae, na qual o mecanismo de polinização compreende o arremesso da abelha contra a coluna devido ao processo de articulação/desarticulação do labelo (Veja Mickeliunas et al.

2006), que é similar ao documentado em espécies do gênero Pleurothallis R.Br. e

Bulbophyllum que são polinizadas por moscas (Borba & Semir 1998, Borba et al. 2001).

Nossos resultados fornecem evidências de que Phymatidium delicatulum é uma espécie autocompatível, porém dependente de um polinizador para transferência de pólen.

Não há desenvolvimento de frutos em flores emasculadas ou submetidas aos testes de autopolinização espontânea. A autocompatibilidade é pela primeira vez documantada para o gênero Phymatidium. No entanto, em Oncidiinae, apesar de baixo, o desenvolvimento de frutos originados por autopolinização manual foi observada na espécie Gomesa bifolia por

Torreta et al. (2011). Por outro lado, a autocompatibilidade não é uma característica comum entre as espécies da subtribo Oncidiinae, considerando que a auto-incompatibilidade tem sido documentada em várias outras espécies do grupo (e.g. Tremblay et al. 2005, Singer et al.

2006, Carvalho & Machado 2006, Alcátara et al. 2006, Parra-Tabla et al. 2000 e Pansarin &

Pansarin 2011).

67

O período de floração de P. delicatulum é um período em que os níveis de precipitação são muito elevados na Serra do Japi. Estas adversidades climáticas podem afetar negativamente as atividades das abelhas ás flores, refletindo no sucesso reprodutivo de algumas espécies como observado aqui para P. delicatulum e já documentado anteriormente em outras espécies de orquídeas que demonstraram baixa frutificação em condições naturais

(e.g. Mickeliunas et al. 2006, Pansarin et al. 2008, Pansarin & Pansarin 2010). Em muitas espécies alógamas o baixo desenvolvimento de frutos em condições naturais pode ser atribuído a escassez de polinizadores e, consequentemente, a baixa transferência de pólen entre os indivídividuos da população (e.g. Janzen et al. 1980, Schemske 1980, Ackerman &

Oliver 1985, Zimmerman & Aide 1989, Ackerman & Montalvo 1990, Calvo 1990).

Nos tratamentos manuais de polinização de Phymatidium delicatulum, os frutos apresentaram uma taxa de sementes potencialmente viáveis relativamente baixas. Resultados similares também foram observados em outras espécies do gênero Eulophia R. Br., Cattleya

Lindl., Laelia Lindl., Pleurothallis e Pseudolaelia Porto & Brade (Lock & Profita 1975, Stort

& Martins 1980, Stort & Galdino 1984, Borba et al. 2001, Borba & Braga 2003).

68

Conclusão

A espéciePhymatidium delicatulumsão ervas epífitas desprovidas de pseudobulbos, com folhas lineares de ápice agudo. Apresentam inflorescências racemosas e suas flores são fragrantes se abrem no verão, de dezembro a fevereiro e, quando intactas, permanecem abertas por até15 dias. Suas flores são de coloração predominantemente branca e apresentam calosidades verdes sobre o labelo, no qual se encontram os elaióforos.

Nossos estudos revelaram que dentro da subtribo Oncidiinae a espécie Phymatidium delicatlum é uma das poucas especies que apresentam autocompatíbilidade, porém não autógama dependente de um polinizador. No entanto, o óleo comestível produzido pelas suas flores é coletado por abelhas Tapinotaspidini das espécies Tetrapedia amplitarsis e

Trigonopedia sp., que são seus únicos polinizadores. As suas visitas às flores de

Phymatidium delicatulum que são pouco frequentes, ocorreram em intervalos irregulares e somente em dias ensolarados. Em condições naturais a taxa de frutificação foi considerada relativamente baixa.

Os frutos estão deiscentes no outono, de março a abril. A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes dos tratamentos de autopolinização manual foi considerada relativamente baixa e nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada regular.

69

Referências Bibliográficas.

Alcántara, S. Semir J. & Solferin V.N. 2006. Low genetic structure in an epiphytic

Orchidaceae (Oncidium hookeri) in the Atlantic rainforest of south-eastern Brazil.

Annals of Botany. 98: 1207-1213.

Ackerman, J.D. & Montalvo, A.M. 1990. Short-andlong-term limitations to fruit production

in a tropical orchid. Ecology. 71: 263-272.

Ackerman, J.D. & Oliver J.C. 1985. Reproductive biology of Oncidium variegatum: moon

phases, pollination, and fruit set. American Orchid Society Bulletin. 54: 326-329.

Barros, F.D.E. Vinhos F. Rodrigues V.T. Barbarena F.F.V.A. Fraga C.N. Pessoa E.M. &

Foster W. 2014. Orchidaceae in Lista de Espécies da flora do Brasil. Jardim Botânico

do Rio de Janeiro. (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB11992).

Borba, E.L. & Braga P.I.S. 2003. Biologia reprodutiva de Pseudolaelia corcovadensis

(Orchidaceae): melitofilia e autocompatibilidade em uma Laeliinae basal. Revista

Brasileira de Botânica. 26: 541-549.

Borba, E.L. Semir J. 1998. Wind-assisted fly pollination in three Bulbophyllum

(Orchidaceae) species occurring in the Brazilian campos rupestres. Lindleyana.

13: 203-218.

Borba, E.L. Shepherd G.J. & Semir J. 1999. Reproductive systems and crossing potential in

three species of Bulbophyllum (Orchidaceae) occurring in Brazilian “campo rupestre”

vegetation. Plant Systematics and Evolution. 217: 205-214.

70

Borba, E.L. Shepherd G.J. & Semir J. 2001. Self-incompatibility, inbreeding depression and

crossing potential in five Pleurothallis (Orchidaceae) species. Annals of Botany. 88:

89-99.

Buchmann, S.L. 1987. The ecology of oil flowers and their bees. Annual Review of Ecology

and Systematics. 18: 343-396.

Calvo, R.N. 1990. Four-year growth and reproduction of cranichoides

(Orchidaceae) in South Florida. American Journal Botany. 77: 736-741.

Carvalho, R. & Machado C.M. 2006. Rodriguezia bahiensis Rchb. f. biologia floral,

polinizadores e primeiro registro de polinização por moscas Acroceridae em

Orchidaceae. Revista Brasileira de Botânica. 29 (3): 461-470.

Dressler, R.L. 1981. The Orchids: Natural History and Classification. Harvard

University Press, Harvard, USA. 332p.

Dressler, R.L. 1993. Phylogeny and Classification of the Orchid Family. Timber Press,

Portland, Oregon. USA. 314p.

Endress, P.K. 1998. Diversity and evolutionary biology of tropical flowers. Cambridge

University Press. Cambridge.

Flach, A. Dondon R.C. Singer R.B. Koehler S. Amaral M.C.E. & Marsaioli A.J. 2004. The

chemistry of pollination in selected Brazilian Maxillariinae orchids: floral rewards

and fragrance. Journal of Chemical Ecology. 30: 1045-1056.

Janzen, D.H. Devries P. Glasdstone D.E. Higgins M.L. & Lewinsohn T.M. 1980. Self-and

cross-pollination of Encyclia cordigera (Orchidaceae) in Santa Rosa National Park,

Costa Rica. Biotropica. 12: 72-74.

71

Lock, J.M. & Profita J.C. 1975. Pollination of Eulophia cristata (Sw.) Steud. (Orchidaceae)

in Southern Ghana. Acta Botanica Neerlandica. 24: 135-138.

Melo, R.A.R & Ganglionone M.C. 2005 Femeles of Tapinotaspoides, a genus in the oil-

collecting bee tribe Tapinotaspidini, collect secretions from non-floral trichomes

(Hymenoptera, Apidae). Revista Brasileira de Entomologia. 49(1): 167-168.

Mickeliunas, L. Pansarin E.R. & Sazima M. 2006. Biologia floral, melitofilia e influência de

besouros Curculionidae no sucesso reprodutivo de Grobya amherstiae Lindl.

(Orchidaceae: Cyrtopodiinae). Revista Brasileira de Botânica. 29: 251-258.

Pacek, A. Stpiczyńska M. Davies K.L. & Szymczak G. 2012. Floral elaiophore structure in

four representatives of the Ornithocephalus clade (Orchidaceae: Oncidiinae). Annals

of Botany. 110: 809-820.

Pansarin, E.R. 2000. Biologia reprodutiva e morfologia floral de espécies de Orchidaceae em

diferentes ambientes no Estado de São Paulo. Dissertação de mestrado, Universidade

Estadual de Campinas, Campinas.

Pansarin, E.R. 2003. Biologia reprodutiva e polinização em Epidendrum paniculatum Ruíz &

Pavón (Orchidaceae). Revista Brasileira de Botânica. 26: 203-211.

Pansarin, E.R. 2008. Reproductive biology and pollination of Govenia utriculata: a syrphid

fly orchid pollinated through a pollen deceptive mechanism. Plant Species Biology.

23: 90-96.

Pansarin, E.R. & Amaral M.C.E. 2008. Reproductive biology and pollination mechanisms of

Epidendrum secundum (Orchidaceae). Floral variation: a consequence of natural

hybridization? Plant Biology. 10: 211-219.

72

Pansarin, E.R. Bittrich V.& Amaral M.C.E. 2006. At day break reproductive biology and

isolating mechanisms of Cirrhaea dependens (Orchidaceae). Plant Biology

(Stuttgart). 8: 494-502.

Pansarin, L.M. Pansarin E.R. & Sazima M. 2008. Reproductive biology of Cyrtopodium

polyphyllum (Orchidaceae): a Cyrtopodiinae pollinated by deceit. Plant Biology. 10:

650-659.

Pansarin, E.R. & Pansarin L.M. 2010. The family Orchidaceae in the Serra do Japi, state of

São Paulo, Brazil. Springer. New York, USA.

Pansarin, E.M. & Pansarin L.M. 2011. Reproductive biology of Trichocentrum pumilum: an

orchid pollinated by oil-collecting bees. Plant Biology. 13: 576-581.

Parra-Tabla, V. Vargas C.F. Magana-Rueda S. & Navarro J. 2000. Female and male

pollination success of Oncidium ascendens Lindley (Orchidaceae) in two contrasting

habitat patches: Forest vs. agricultural field. Biological Conservation. 94: 335-340.

Pauw, A. 2006. Floral syndromes accurately predict pollination by a specialized oil-

collecting bee (Rediviva peringueyi, Melittidae) in aguild of South African orchids

(Coryciinae). American Journal of Botany. 93: 917-926.

Pinto, H.S. 1992. Clima da Serra do Japi. In História natural da Serra do Japi (L.P.C.

Morellato, org.). Editora da Unicamp/Fapesp, Campinas.

Reis, M.G. Faria A.D. Bittrich V.M. Amaral C.E. & Marsaioli A.J. 2000. The chemistry of

flower rewards-Oncidium (Orchidaceae). Journal of the Brazilian Chemical

Society.11: 600-608.

73

Reis, M.G. Singer R.B. Goncalves R. & Marsaioli A.J. 2006. The chemical composition of

Phymatidium delicatulum and P. tillandsioides (Orchidaceae) floral oils. Natural

Product Communications. 1: 757-761.

Renner, S.S. & Schaefer H. 2010. The evolution and loss of oil-offering flowers: New

insights from dated phylogenies for angiosperms and bees. Philosophical

Transactions of the Royal Society. 365 (B): 423-435.

Silvera, K.I. 2002. Adaptive radiation of oil-reward compounds among Neotropical orchid

species (Oncidiinae). M. Sc diss., University of Florida.

Singer, R.B. & Cocucci A.A. 1999. Pollination mechanism in southern Brazilian orchids

which are exclusively or mainly pollinated by halictid bees. Plant Systematic

Evolution. 217: 101-117.

Singer, R.B. Marsaioli A.J. Flach A. & Reis M.G. 2006. The ecology and chemistry of

pollination in Brazilian orchids: recent advances. In: Teixeira da Silva J. (ed.)

Floriculture, Ornamental and Plant Biotechnology, Vol. 4, Isleworth, Middlesex:

Global Science Books. pp. 569-582.

Schemske, D.W. 1980. Evolution of floral display in the orchid Brassavola nodosa.

Evolution. 34:489-493.

Stort, M.N.S. & Galdino G.L. 1984. Self- and cross-pollination in some species of the genus

Laelia Lindl. (Orchidaceae). Revista Brasileira de Genética. 7: 671-676.

Stort, M.N.S. & Martins P.S. 1980. Auto-polinização e polinização cruzada em algumas

espécies do gênero Cattleya (Orchidaceae). Ciência e Cultura. 32: 1080-1084.

74

Stpiczyńska, M. Davies K.L. & Gregg A. 2007. Elaiophore diversity in three contrasting

members of Oncidiinae (Orchidaceae). Botanical Journal of Linnean Society. 155:

135-148.

Stpiczyńska, M. & Davies K. L. 2008. Elaiophore structure and oil secretion in flowers of

Oncidium trulliferum Lindl. and Ornithophora radicans (Rchb.f.) Garay & Pabst

(Oncidiinae: Orchidaceae). Annals of Botany. 101: 375-384.

Toscano de Brito, A.V.L. 2001. Systematic review of the Ornithocephalus group

(Oncidiinae: Orchidaceae) with comments on Hofmeisterella. Lindleyana. 16: 157-

217.

Toscano de Brito, A.L.V. 2007. A taxonomic revision of the genus Phymatidium

(Orchidaceae: Oncidiinae) Kew Bulletin. 62: 529-560.

Torreta, J.P. Gomiz N.E. Aliscioni S.S. & Bello M.E. 2011. Biologia reprodutiva de Gomesa

bifólia (Orchidaceae, Cymbidieae, Oncidiinae). Darwiniana. 49: 16-24.

Tremblay, R.L. Ackerman J.D. Zimmerman J.K. & Calvo R.N. 2005. Variation in sexual

reproduction in orchids and its evolutionary consequences: a spasmodic journey to

diversification. Biological Journal of Linnean Society. 84: 1-54.

Van der Cingel, N.A. 2001. An atlas of orchid pollination: America, Africa, Asia, and

Australia. Rotterdam: A. A. Balkema.

Van der Pijl, L. & Dodson C.H. 1966. Orchid flowers: their pollination and evolution.

University of Miami Press. Florida.

Vogel, S. 1974. Ölblumen und ölsammelnde Bienen. Tropical und Subtropical Pflanzenwelt.

7: 285-547.

75

Vogel, S. & Cocucci A. 1995. Pollination of Basistemon (Scrophulariaceae) by oil-

colleecting bees in Argentina. Flora. 190: 353-363.

Zimmerman, J.K. & Aide M. 1989. Patterns of fruit production in a Neotropical orchid:

pollinator vs. resource limitation. American Journal of Botany. 76: 67-73.

76

Capítulo 3

Biologia reprodutiva de Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay (Orchidaceae:

Spiranthinae): uma espécie protândrica polinizada por abelhas.

77

Resumo

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay apresenta hábito terrícola e ocorre em áreas de

Cerrado e a Mata Atlântica, das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. Os estudos sobre a sua biologia reprodutiva e polinização foram desenvolvidos na Reserva Biológica

Serra do Japi, no município de Jundiaí, e no Parque Estadual de Vassununga, no município de Santa Rita do Passa Quatro, estado de São Paulo. Mesadenella cuspidata possui inflorescência racemosa com flores espiraladamente dispostas. Suas flores, que são protândricas, apresestam coloração branca e exalam uma fragrância adocicada composta por

16 voláteis diferentes. Além disso, elas apresetam um nectário em forma de bojo formado pela união das sépalas laterais e o labelo que armazena 푋 = 1,43 ± 0,87 de néctar com uma concentração 푋 = 39,50% ± 5,98 de açúcar. O néctar produzido pelas suas flores é coletado por abelhas Augochlorella tredecim Vachal 1911, Osiris sp. Smith 1854 e Rhathymus friese

Ducke 1907 que são seus polinizadores. Mesadenella cuspidata é autocompatível, porém não autógama. As flores submetidas à autopolinização manual resultaram em 66,6% de frutos e as subemtidas a polinização cruzada resultaram em 86,6% de frutos. A taxa de sementes potencialmente dos frutos provenientes destes tratamentos foi de 78,7% em autopolinização manual e 70,9% nos frutos de polinização cruzada. Em condições naturais, no ano de 2013 as flores resultaram em 74,1% de frutos e em 2014 a taxa de frutificação foi de 62,4%.

Palavras-chave: Spiranthinae, fragrâncias florais, polinizadores, forrageamento, autocompatibilidade.

78

Abstract

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay is terrestrial and accur in areas of Cerrado and

Atlantic Forest, occurring in Southern, Southeastern, Central-western Brazil. The reproductive biology and pollination of this species were developed in the Biological

Reserve of Serra do Japi, in the municipality of Jundiaí and Parque Estadual de Vassunga, in the municipality of Santa Rita do Passa Quatro. Mesadenella cuspidata possesses an apical raceme with flowers arranged in spiral. Its flowers are protandrous, have white coloration and emit a sweet fragrance composed of 16 different substances. Moreover, they a nectary- shaped bunt forms by the union of the lateral sepals and the lip that stores 푋 = 1.43 ± 0.87 nectar with 푋 = 39.50% ± 5.98 of sugar concentration. The nectar produced by the flowers is collected by bees Augochlorella tredecim Vachal 1911, Osiris sp. Smith 1854 and

Rhathymus friese Ducke 1907 which are their pollinators. Mesadenella cuspidate is self- compatible, but not autogamous. Flower submitted to manual self-pollintion resulted in

66.6% of fruit and submitted to cross-pollintion resulted in 86.6% of fruit. The rate of potentially seed the fruit from these treatments was 78.7% in manual self-polination and

70.9% for cross-pollination fruits.

Key-words: Spiranthinae, floral fragrances, pollinators, foraging, Self-compatibility.

79

Introdução

A subtribo Spiranthinae Lindl. compreende cerca de 40 gêneros e 470 espécies distribuídas quase que exclusivamente pelas Américas (Salazar 2003). Suas flores compartilham algumas características comuns em várias espécies como polínias divisíveis, e um nectário profundo em forma de bojo, formado pela união das sépalas e a base de labelo

(Dressler 1993).

O néctar representa a principal recompensa produzida pelas flores de várias espécies desse grupo (Catling 1983, 1987, Catling & Catling 1991, Singer & Sazima 1999), e esse composto é importante para uma grande diversidade de animais como abelhas das famílias

Halictidae, Megachilidae e Apidae (e.g. Singer & Sazima 1999, 2000), mariposas da família

Noctuidae (e.g. Singer 2002), além de beija-flores das subfamílias Trochilinae e

Phaethorninae (e.g. Darwin 1877, Singer & Sazima 1999, 2000).

O gênero Mesadenella Schltr. compreende cerca de 7 espécies amplamente distribuídas pelo Brasil. No estado de São Paulo, entretanto, ocorrem somente duas espécies, que são M. atroviridis (Barb. Rodr.) Garay e M. cuspidata (Lindl.) Garay. Mesadenella cuspidata apresenta habito terrícola, habitam o Cerrado e a Mata Atlântica, ocorrendo entre as regiões sul, sudeste, centro-oeste do Brasil (Barros et al. 2014).

A biologia da espécie é pouco compreendida e trabalhos envolvendo o gênero são escassos. Todavia, em relação aos polinizadores e sistema reprodutivo da espécie, abelhas

Halictidae já haviam sido observadas visitando suas flores anteriormente por Pansarin &

Pansarin (2010). E em dados não publicados, Singer (2002), documenta que as flores de M. cuspidata são protândricas. O presente estudo teve como objetivo estudar a biologia reprodutiva de Mesadenella cuspidata, analisando a sua fenologia e sistema reprodutivo, os mecanismos de polinização e protandria, o seu sucesso no desenvolvimento de frutos em

80 condições naturais, a taxa de sementes com embriões viáveis, além de analises sobre a composição química da fragrância presente nas suas flores.

81

Material e Métodos

Área de estudos

Os estudos sobre a biologia reprodutiva de Mesadenella cuspista foram desenvolvidos na Reserva Biológica Serra do Japi, no município de Jundiaí, estado de São Paulo, cujas coordenadas geográficas são 23º15`S e 46º58`W aproximadamente; e no Parque Estadual de

Vassununga, no município de Santa Rita do Passa Quatro, estado de São Paulo, cujas coordenadas geográficas são 21°41`S e 47°34`W aproximadamente. A Reserva Biológica

Serra do japi é predominantementecoberta por florestas semidecíduas mesofíticas. A região é caracterizada por elevações que variam entre 700-1.300 m de altitude e temperaturas médias anuais de 15,7º C e 19,2ºC. A sazonalidade é bem marcada, com seca no inverno de abril a setembro e uma estação chuvosa de outubro a março. O Parque estadual de Vassununga é composto por seis glebas isoladas, que juntos totalizam 1732,14 ha. (Secretaria do Meio

Ambiente de São Paulo 1998). A cobertura vegetal predominante, com exceção da gleba Pé de Gigante (cerrado) é classificada como floresta estacional semidecidual (Veloso 1992). A região é caracterizada por altitudes com 760 metros. O clima predominante, segundo a classificação de Köppen (1948), é o Cwa, isto é, subtropical úmido, com verões quentes e chuvosos, invernos frios e secos com temperatura média de 22º C.

Estudos sobre fenologia

As observações sobre a fenologia foram realizadas sobre 10 indivíduos no município de Santa Rita do Passa Quatro interior do estado de São Paulo. Para cada indivíduo foi observado o desenvolvimento das inflorescências, botões e flores, o período de antese, a longevidade floral e a deiscência dos frutos. As observações foram realizadas durante oito expedições na população de estudo, entre janeiro de 2013 e abril de 2014.

82

Análise química dos compostos voláteis

Para a realização do headspace com microextração em fase sólida (HS-SPME) dos voláteis florais as flores foram colocadas separadamente em um frasco de vidro de 20 ml e submetidos a temperatura constante de 35ºC por 60 minutos. Durante esse período, a fibra de sílica fundida coberta com 10µm de polidimetilsiloxano (PDMS) (Supelco Inc., Bellefont,

PA) foi inserida no frasco e exposta ao headspace floral.

A análise dos compostos voláteis foi realizada usando um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massa QP 2010 Shimadzu. Um detector de espectrometria com fonte de ionização por elétrons (EI-MS) foi operado sob a temperatura da fonte a 250ºC, uma corrente de emissão de 60 µA e uma energia de ionização de 70 e V. O tempo global de corrida foi registrado em modo de varredura completo (40-500 m/z de variação de massa) e uma proporção de leitura de 0.30 scan s-1. Os compostos foram dissolvidos termicamente da fibra SPME no injetor por 2 minutos a 250ºC, com modo de injeção em splitless. Esses compostos foram separados em uma coluna capilar DB-5MS (J & W Agilent) de 30 m x 0,24 mm, sendo a espessura do filme de 0,25µm, com He (79,7 kPa) como gás de arraste e fluxo de 1,3 ml min-1. A temperatura do GC se iniciou a 60ºC, e aumentou linearmente 30ºC por minuto até atingir 240ºC, durante 60 minutos.

Os dados de cromatografia foram analisados com o software GC-MS Solution e os compostos voláteis foram identificados com a biblioteca NIST 62, Wiley 7 e FFNSC 1.3, por comparação dos espectros de MS. Além disso, os índices de retenção de Kováts (KI) de cada composto foram calculados de acordo com a fórmula de Kováts (Robards et al. 1994). As

áreas de cada pico das cromatogramas foram integradas para determinar a abundância relativa de cada composto.

83

Estudos sobre morfologia floral

Para a realização dos estudos sobre a morfologia floral, 30 flores frescas foram coletadas em seis indivíduos coletados previamente na população de estudo e mantido em cultivo em um orquidário. Suas estruturas foram medidas manualmente e analisadas sob um microscópio estereoscópico binocular utilizando um paquímetro. Foram observadas a forma, a simetria, o tamanho e o formato das peças florais, como pétalas, sépalas, labelo, coluna, antera e polinário. O material testemunho de Mesadenella cuspidata foi depositado no

Orquidário do Laboratório de Biologia Molecular e Biossistemática de Plantas LBMBP

(Laboratório de Biologia Molecular e Biossistemática de Plantas), FFCLRP USP

Universidade de São Paulo (http://splink.cria. org.br/manager/detail?setlang=pt&resource=LBMBP).

Análises Histoquímicadas regiões produtoras de recursos

Para a realização dos testes histoquímicos, secções transversais do nectário foram obtidos à mão livre de flores frescas e submersos em reagente de Fehling (Purvis et al.1964).

Volume, concentração e produção de néctar

O volume e a concentração de néctar das flores de Mesadenella cuspidata foram medidos utilizando uma seringa Hamilton de 10 µl e um refratômetro de bolso com lente

Carl Zeiss (Jena, Alemanha) (Sazima et al. 2003). Foram utilizadas 66 flores.

Visitantes florais e mecanismos de polinização

84

As observações para registros sobre o comportamento dos polinizadores, a frequência de visitas, os mecanismos de polinização e a captura dos polinizadores para posterior identificação foram realizados em 2013 e 2014. Durante o período de floração de 2013 as observações foram realizadas de 27 de janeiro a 03 de fevereiro. No período de floração de

2014 as observações foram realizadas de 05-18 de março. As observações foram realizadas no período entre 08:00 e 16:00 h, totalizando 104 horas. Durante o período de observações, dois indivíduos com flores intactas foram marcadas no final de cada dia e checadas na manhã seguinte para verificar a possível ocorrência de polinização noturna.

Para o registro dos polinizadores no campo, as fotos foram obtidas com uma câmera

Nikon D80 D-SLR acoplada a uma lente Micro-Nikkor de 55 mm f2.8. Os detalhes dos polinizadores foram fotografados com um microscópio Leica Stereozoom S8 APO acoplado a um PC empregando IM50 Software de análise de imagem. Os insetos foram coletados utilizando uma rede entomológica, identificados e posteriormente depositados como vouchers na “Coleção Camargo” (RPSP) do Departamento de Biologia da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

Sistema reprodutivo

Para a realização dos estudos sobre o sistema reprodutivode Mesadenella cuspidata, seis indivíduos foram submetidos a três tratamentos experimentais: autopolinização manual

(n=30 flores), polinização cruzada (n=30 flores) e emasculação (teste para apomixia)

(n=30flores), sendo polinizadas cinco flores para cada tipo de tratamento, de modo que cada indivíduo fosse submetido a todos os tratamentos manuais. Além disso, observações sobre autopolinização espontânea (n=30 flores) foram realizadas. Os indivíduos utilizados nos tratamentos e nas observações sobre autopolinização espontânea foram coletados na Reserva

85

Biológica Serra do Japi e mantidos em cultivo no orquidário (LBMBP), tendo em vista que a retirada de indivíduos da população do Parque Estadual de Vassununga pudesse acometer as outras análises.

Taxa de frutificação em condições naturais

As informações sobre a taxa de frutificação em condições naturais foram obtidas no

Parque Estadual de Vassununga em março de 2013. Foram amostrados 30 indivíduos da população de estudo, contando-se o número de flores produzidas e a quantidade de frutos desenvolvidos.

Análise da viabilidade das sementes

Para a análise sobre a viabilidade das sementes, frutos deiscentes foram obtidos das polinizações manuais. Uma amostra de 200 sementes por frutos foi analisada sob um microscópio de luz. As sementes foram classificadas em viáveis e não viáveis de acordo com o desenvolvimento dos embriões, sendo consideradas não viáveis as sementes sem embriões ou com embriões rudimentares (Pansarin et al. 2008).

86

Resultados

Mesadenella cuspidataéterrícola e apresenta folhas cuneiformes de coloração predominantemente verde a verde com maculas brancas, margem lisa e ápice agudo. Cada indivíduo produz uma inflorescência racemosa apical com flores espiraladamente dispostas.

As flores de Mesadenella cuspidata se abrem nos meses de favereiro a abril, entre o verão e o outono e liberam uma fragrância adocicada nas horas mais quentes do dia que é composta por 16 voláteis diferentes que são: tetradecanol como mais abundante, apresentando uma porcentagem de área relativa de 38,78%, seguido por tridecanol com área relativa de 7,33%; pentacosano com 6,62%; tridecano com 5,72%; 1-tetradecanol com 5,52%; ácido octodecanóico com 5,18%; 3,11-tetradecadien-1-ol com4,84%; tridecan-1-ol com 3,82%; cis-

11-hexadecenol com 3,28%; 5-tetradecano com 2,77%; hexadecanal com 2,25%; ácido hexodecanóico com 1,93%; 9-tetradecenol 1,69%; dodecano com 1,4%; pentadecano e por ultimo, o menos abundante11-dodecenol com 0,93% (Fig. 1).

Suas flores são pediceladas e ressupinadas de coloração predominantemente branca e amarela na parte central e permanecem abertas por um período de 15 dias. Suas pétalas (푋 =

2,08 ± 0,26 x 4,61 ± 0,44) são falcadas, inteiramente brancas, com margem lisa e ápice agudo; a sépala dorsal mede 푋 = 2,21 ± 0,28 x 5,13 ± 0,61 apresenta coloração verde, margem lisa e ápice agudo; as sépalas laterais medem 푋 = 2,61 ± 0,28 x 6,58 ± 0,76 são falcadas, apresentam coloração verde e branca com margem lisa e ápice agudo; o labelo mede 푋 = 2,88 ± 0,53 x 5,96 ± 0,60 apresenta papilas, coloração branca e amarela com margem lisa e ápice agudo; a coluna (푋 = 1,1 ± 0,20 x 3,11 ± 0,38) apresenta coloração inteiramente branca com uma projeção no ápice; a antera (푋 = 0,53 ± 0,12 x 1,41 ± 0,18) apresenta coloração marrom; o polinário (푋 =0,53 ± 0,12 x 1,73 ± 0,33) é formado por duas polínias quebradiças, estipe e viscídio com a porção adesiva dorsal (Tabela 2).

87

As sépalas laterais fundem-se ao labelo em sua base para formar um nectário em forma de bojo que armazena em média 푋 = 1,43 ± 0,87 de néctar com uma concentração média de 푋 = 39,50% ± 5,98 de açúcar. O néctar é produzido e secretado por glândulas digitiformes que estão presentes sobre as margens do labelo em sua base (fig. 2A-B). A produção de néctar foi confirmada através dos testes histoquímicos, em cortes transversais do nectário (Fig. B)

Suas flores são protândricas e a fase masculina (doadora de pólen) e a feminina

(receptora de pólen) é separada pela mecânica de abertura das flores no processo da antese.

No estádio masculino, as flores ainda no início da antese apresentam uma forma tubular com uma abertura estreita com 푋 = 0,9 ± 0,05 mm diâm., período em que as flores não podem ser polinizadas, sendo possível somente a remoção do polinário através da abertura pelas abelhas

(Fig. 1A-C-E). As flores permanecem na fase masculina por até 48 horas.

No estádio feminino as flores se encontram completamente abertas, apresentando uma abertura com 푋 =3,0 ± 0,03 mm diâm (Fig. 1B-D-F). Durante esta fase, as flores atuam como receptoras de pólen, podendo agir também como doadoras de pólen. A antese acontece durante um período de aproximadamente 72 h, até que as peças florais estejam completamente livres e o labelo com distensão completa em direção a base.

As flores de Mesadenella cuspidata foram visitadas e polinizadas por abelhas cleptoparasitas fêmeas do gênero Osiris Smith 1854 (Fig. 2C), abelhas Halictidae da espécie

Augochlorella tredecim Vachal 1911 (Fig.2D) e por abelhas clapetoparasitas fêmeas da espécie Rhathymus friese Ducke 1907 (Fig. 2E). Além disso, abelhas operárias da espécie

Plebeia droryana Friese 1900 (Meliponini) também foram observadas pilhando néctar em suas flores (Fig. 2F).

88

As abelhas iniciam suas visitas às flores de Mesadenella cupidata por volta de 09:30, se estendendo por até 14:00 h aproximadamente. As abelhas da família Halictidae visitam as flores aleatórimente. Diferentemente, as abelhas Osiris sp. e Rhathymus friese visitam as flores de forma sistêmica, apresentando um comportamento de forrageio em rota.Todas as espécies de abelhas na maioria das vezes visitaram uma ou mais raramente duas flores em um mesmo indivíduo, permanecendo nas flores de 5 a 10 segundos.

As visitas têm início com a abelha pousando sobre uma flor. Em seguida, introduz a glossa em seu interior para alcançar o nectário e acessar o néctar. Neste momento, as peças bucais das abelhas entram em contato com o viscídio do polinário, que fica aderido a superfície da estrutura, sendo removido sem a antera, que fica retida na coluna. A polinização ocorreu quando uma abelha carregando um polinário visitou uma flor no estádio feminino.

As abelhas visitam as flores somente em dias ensolarados e quentes.

A espécie Mesadenella cuspidata é autocompatível, porém não autógama dependente de um polinizador. Nos tratamentos de emasculação e nas flores submetidas à autopolinização espontânea não houve desenvolvimento de frutos. As flores submetidas à autopolinização manual resultaram em 66,6% de frutos. E em polinização cruzada as flores resultaram em 86,6% de frutos. A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes destes tratamentos foi de 78,7% em autopolinização manual e 70,9% nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada. Em condições naturais, no ano de 2013 os indivíduos em que as flores foram submetidas à polinização aberta resultaram em

74,1% de frutos e em 2014, 62,4% (Tabela 2).

89

11-dodecenol pentadecano dodecano 9-tetradecenal acido hexadecanóico hexadecanal 5-tetradecano cis-11-hexadecenal trideca-1-ol 3,11-tetradecadien-1-ol acido octodecanóico Compostos voláteis Compostos 1-tetradecanol tridecano pentacosano tridecanol tetradecanol

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Abundância relativa (%)

Figura 1: Abundância relativa dos compostos voláteis detectados na fragrância floral de

Mesadenella cuspidata, no município de São Simão, São Paulo.

90

Tabela 1: Variação, Média (푋 ) e desvio padrão (DP) das estruturas florais de Mesadenella cuspidata no Parque Estadual de Vassununga, município de Santa Rita do Passa Quatro - SP.

Estruturas Comprimento (mm) 푿 DP Largura (mm) 푿 DP Variação Variação

Pétalas 4,0-5,5 4,6 0,44 2,0-2,5 2,08 0,26 Labelo 5,0-6,5 5,96 0,60 2,0-3,5 2,88 0,53 Sépalas 6,0-7,5 6,58 0,76 2,5-3,0 2,61 0,28 Sépala dorsal 4,0-5,5 5,13 0,61 2,0-2,5 2,21 0,28 Coluna 2,0-3,5 3,11 0,38 1,0-1,5 1,1 0,20 Antera 1,0-1,5 1,41 0,18 0,5-1,5 0,53 0,12 Polinário 1,5-2,0 1,73 0,33 0,5-1,0 0,53 0,12

91

Figura 2:Protandria em flores de Mesadenella cuspidata. Vistas laterais, frontais e cortes longitudinais de flores em diferentes fases sexuais. A-C, Fase masculina (doadoras de pólen), em que a forma tubularda flor e abertura estreita evitam a polinização. B-D, Fase feminina,

(receptoras de polén), em que as flores se encontram completamente abertas expondo o

92 estigma e permitindo o acesso. E, Corte lateral da flor na fase masculina. F, Corte lateral da flor na fase feminina.

93

Figura 3: Glândula produtora de néctar , flores e polinizadores de Mesadenella cupidata. A,

Corte lateral da flor evidenciando uma glândula de néctar. B, Corte transversal das glândulas de néctar.C, Abelha do gênero Osiris polinizado. D, Abelha da família Halictidae

94 polinizando. E, Abelha daespécie Rhathymus friesepolinizando. F, Abelha operária da tribo

Meliponini pilhando nectar.

95

Tabela 2: Resultados obtidos nos testes sobre o sistema reprodutivo de Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay: porcentagem de frutos desenvolvidos nos tratamentos manuais de polinização cruzada, autopolinização manual e em polinização aberta nos anos de 2013 e

2014; porcentagem de sementes potencialmente viáveis obtidas nos tratamentos manuais de polinização cruzada e autopolinização.

Tratamentos Flores Frutos Sementes

Autopolinização manual 30 20 (66,6%) 3151 (78,7%)

Polinização cruzada 30 26 (86,6%) 3687 (70,9%)

Emasculação 30 - -

Polinização aberta (2013) 804 596 (74,1%) -

Polinização aberta (2014) 653 408 (62,4%) -

96

Discussão

Mesadenella cuspidataé uma erva terrícola com inflorescências apicais racemosas que apresentam flores dispostas de forma espiralada sobre a haste, comumente observada em outras espécies da subribo Spiranthiane (Dressler 1993). Suas flores são fragrantes e a fragrância é composta de tetradecanolcomo mais abundante, seguido por tridecanol, pentacosano, tridecano, 1-tetradecanol, ácido octodecanóico, 3,11-tetradecadien-1-ol, tridecan-1-ol, cis-11-hexadecenol, 5-tetradecano, hexadecanal, ácido hexodecanóico, 9- tetradecenol, dodecano, pentadecano e por último, o menos abundante 11-dodecenol. Nas plantas, esses terpenos apresentem diversas funções importantes, atuando como fitoalexinas, podendo agir como repelentes de insetos, agente na defesa contra herbívoros (Burt et al.

2004) ou na atração polínizadores (Dodson 1967, Knudsen 1993).

A fragrância tem um papel crucial na atração dos polinizadores às flores de muitas espécies de orquídeas (van der Pijl & Dodson 1966). No entanto, os polinizadores, geralmente, são atraídos as flores devido à combinaçães de cores e fragrâncias florais, associadas a algum tipo de recompensa alimentar como à própria fragrância, o pólen (Curry et al. 1991), às resinas(Davies et al. 2003), os lipídios (Mickeliunas et al. 2006), e o néctar

(Singer 2002).

As flores de Mesadenella cuspidata são predominantemente brancas com amarelo e compartilham algumas características comuns em várias espécies da subtribo Spiranthinae como polínias divisíveis, e um nectário profundo em forma de bojo, formado pela união das sépalas e a base de labelo (Rasmussen 1982, Dressler 1993). O néctar presente em suas flores

é secretado por duas glândulas presentes na base do labelo como observado nos testes histoquímicos, em cortes transversais do nectário. Tais estruturas são semelhantes às encontradas em espécies do gênero norte-americano Spiranthes (Catling 1983) e na espécie

97

Sauroglossum elatum (Singer 2002). Outra espécie que apresenta glândulas nectaríferas é

Cleistes macrantha (Barb. Rodr.) Schltr. Nesta espécie, entretanto, o néctar secretado fica acumulado em um espaço que é delimitado por uma elevação da base da crista do labelo

(Pansarin 2003).

As flores de Mesadenella cuspidata atraem abelhas do gênero Osiris, abelhas da espécie Augochlorella tredecim e abelhas da espécie Rhathymus friesei que as polinizam ao visitá-las em busca de néctar. Além disso, pequenas abelhas operárias da espécie Plebeia droryana são assíduos pilhandores de néctar em suas flores. Ao visitarem as flores, as abelhas recebem o polinário que fica aderido à superfície das peças bucais como observado em Erythrodes arietina (Rchb.f. & Warm.) Ames (Goodyerinae), uma espécie, que assim como Mesadenella cupidata também é polinizada por abelhas Osiris sp. (Singer & Sazima

2001a). No entanto, esse mecanismo tem sido observado em vários outros estudos envolvendo a biologia reprodutiva e os mecanismos de polinização de orquídeas da subtribo

Spiranthinae, sendo observada a fixação do polinário nas superfícies de estruturas como clípio, premento e gálea, ou ainda sobre o bico de aves como beija-flores (Catling 1987,

Catling & Catling 1991, Darwin 1904, Singer & Sazima 2001a, 2001b).

As abelhas da família Halictidae apresentam um comportamento comum observado em outras espécies, no qual suas visitas ocorrem de forma aleatória (e.g. Singer & Sazima

1999, 2001a, Pansarin 2008). Entretanto, diferentemente, as abelhas Osiris sp. e Rhathymus friese visitam as flores de forma sistêmica, apresentando um comportamento de forrageio em rota de forma que uma abelha carregando um só polinário pode polinizar várias flores de vários indivíduos próximos. A habilidade de manter a direção nas rotas de forrageio tem sido observada em varias espécies de abelhas do gênero Xylocopa (Costa et al. 2002, Jacobi et al.

2005, Pigozzo et al. 2007, Ramalho & Rosa 2010). Contudo, a movimentação direcional das abelhas pode ser compatível com a hipótese de otimização de forrageio, tendo em vista que

98 isso contribui para reduzir as chances das abelhas visitarem uma mesma flor mais de uma vez

(Waddington 1980, Pyke 1984), esse comportamento oferece grandes benefícios ecológicos para espécie Mesadenella cuspidata, uma vez que um número maior de flores podem ser visitadas e uma abelha carregando um só polinário, como observado em Pelexia oestrifera por Singer & Sazima (1999), pode depositar somente fragmentos das polínias no estigma das flores, e assim polinizar um número maior de flores aumentando o fluxo gênico entre os indivíduos da população.

Por outro lado, suas flores apresentam um mecanismo de protandria, no qual a fase masculina (doadora de pólen) e a fase feminina (receptora de pólen) são separadas pela mecânica de abertura das flores durante o processo da antese. Flores com mecanismo semelhante ao observado aqui em Mesadenella cuspidata tem sido documentado em espécies do gênero Goodyera (Ackerman 1975) e em Erytrodes arietina (Goodyerinae) (Singer &

Coccuci 2001a). No entanto, em Spiranthinae, flores protândricas tem sido observadas em espécies como Sauroglossum elatum e Brachystele unilateralis (Poir.) Schltr. (Spiranthinae)

(Singer 2002, Sanguinette & Singer 2014). Entretanto, nessas espécies a fase masculina e a fase feminina das flores são separadas pela movimentação da coluna, como observado em

Prescottia stachyodes (Sw.) Lindl. (Prescottinae) (Singer & Coccuci 2001b).

A maioria das espécies da família Orchidaceae são autocompatíveis (van der Pijl &

Dodson 1966). Na subtribo Spiranthinae, várias espécies como Pelexia oestrifera,

Sarcoglottis fasciculata, Cyclopogon congestus (Singer & Sazima 1999), Sauroglossum elatum (Singer 2002) e Brachystele unilateralis (Sanguinetti & Singer 2014) revelaram-se autocompatíveis, e dependentes de um polinizador, assim como observado aqui em

Mesadenella cuspidata.

99

Os frutos originados nos tratamentos de autopolinização manual e polinização cruzada de Mesadenella cuspidata obtiveram uma taxa consideravelmente alta de sementes potencialmente viáveis. Diferente do que ocorre em outras espécies estudadas no estado de

São Paulo (e.g. Lock & Profita 1975, Stort & Martins 1980, Stort & Galdino 1984, Borba et al. 2001, Borba & Braga 2003).

100

Conclusão

Mesadenella cuspidata são ervas terrícolas que florescem entre o verão e o outono nos meses de fevereiro a abril. Suas inflorescências racemosas apicais apresentam flores espiraladamente dispostas. Suas flores, que são de coloração predominantemente branca e amarela, exalam uma fragrância composta por 16 voláteis diferentes e quando intactas permanecem abertas por um período de 15 dias.

As flores que são nectaríferas e apresentam um polinário formado por duas polínias divisíveis, deixando somente pequenas partes no estigam das flores, quando elas são visitadas pelos polinizadores, podendo ser levado a vários indíviduos da população. Além disso, elas apresentam um mecanisno de protandria, no qual a fase masculina e a feminina é separada pela mecânica de abertura das flores. O néctar presente nas flores de Mesadenella cuspidata

é produzido e secretado por glândulas que estão presentes nas margens do labelo e fica armazenado em uma estrutura em forma de bojo formado pela união das sépalas laterais e base do labelo.

As flores de Mesadenella cuspidata foram polinizadas por abelhas Osiris sp., abelhas

Augochlorella tredecim e por abelhas Rhathymus friese que visitam as flores em busca de néctar. As abelhas Halictidae visitam as flores de modo aleatório. Enquanto as abelhas Osiris sp. e Rhathymus friese visitam as flores de forma sistêmica, apresentando um comportamento de forrageio em rota. Este comportamento oferece grandes benefícios ecológicos para espécie, tendo em vista que um número maior de flores podem ser visitadas e uma abelha carregando um polinário pode depositar somente fragmentos das polínias no estigma das flores, e assim polinizar um número maior de flores aumentando o fluxo gênico entre os indivíduos da população.

101

Mesadenella cuspidata é espécie autocompatível. No entanto, dependente de um polinizador. Os futos originados nos tratamentos manuais de autopolinização e polinização cruzada tiveram um taxa consideravelmente alta de sementes potencialmente viáveis. A taxa de frutificação em condições naturais, no ano de 2013 e 2014 são consideradas regulares para espécies que produzem néctar como recurso.

102

Referências Bibliográficas

Ackerman, J.D. 1995. An orchid flora of Puerto Rico and the Virgin island. Memoris of the

New York Botanical Garden. Vol. 73 New York.

Balogh, P. 1982. Generic redefinitions in subtribe Spiranthinae (Orchidaceae). American

Journal of Botany. 69: 1119-1132.

Barros, F. de Vinhos F. Rodrigues V.T. Barberena F.F.V.A. Fraga C.N. Pessoa E.M. Forster

W. Menini Neto L. Furtado S.G. Nardy C. Azevedo C.O. & Guimarães L.R.S. 2014.

Orchidaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de

Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB11838.

Acesso em: 23 Julho 2014.

Borba, E.L. & Braga P.I.S. 2003. Biologia reprodutiva de Pseudolaelia corcovadensis

(Orchidaceae): melitofilia e autocompatibilidade em uma Laeliinae basal. Revista

Brasileira de Botânica. 26: 541-549.

Borba, E.L. Shepherd G.J. & Semir J. 2001. Self-incompatibility, inbreeding depression and

crossing potential in five Pleurothallis (Orchidaceae) species. Annals of Botany. 88:

89-99.

Burt, S. 2004. Essential oils: their antibacterial properties and potential applications in foods-

a review. International Journal of Food Microciology. 94: 223-53.

Cabral, P.R.M. & Pansarin E.R. 2014. Biologia reprodutiva de Campylocentrum micranthum

(Lindl.) Rolfe (Orchidaceae, Angraecinae). Submetido para publicação. Universidade

de São Paulo, Ribeirão Preto-SP.

Catling, P.M. 1983. Pollination of Northeastern North American Spiranthes (Orchidaceae).

Canadian Journal of Botany. 61: 1080-1093.

103

Catling, P.M. 1987. Notes on the breeding systems of Saccoila lanceolata (Aublet) Garay

(Orchidaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden. 74: 58-68.

Catling, P.M. & Catling V.R. 1991. A synopsis of breeding systems and pollination in north

American orchids. Lindleyana. 6: 187-210.

Costa, C.B.N. Costa J.A.S. Rodarte A.T.A. & Jacobi C.M. 2002. Comportamento de

forrageio de Xylocopa (Neoxylocopa) cearensis Ducke, 1910 (Apidae) em Waltheria

cinerascens A.S.t.Hil. (Sterculiaceae) em dunas costeiras (APA do Abaeté, Salvador,

Bahia, Brasil). Sitientibus. 2: 23-28.

Curry, K.J. Mc Dowell L.M. Judd W. & Sern W.L. 1991. Osmophores, floral features, and

systematics of Stanhopea (Orchidaceae). American Journal of Botany. 78: 610-623.

Darwin, C.R. 1804. The various contrivances by which orchids are fertilized by insects, 2nd

ed. London: Murray.

Darwin, C. 1877. The various contrivances by which orchids are fertilised, 2nd edn. London:

Murray.

Davies, K.L. Turner M.P. & Gregg A. 2003. Lipoidal labellar secretions in Maxillaria Ruiz

& Pav. (Orchidaceae). Annals of Botany. 91: 439-446.

Dodson, C.H. 1967. Relationship between pollinator and orchid flower. Atas do Simpmpósio

sobre a Biota Amazônica. 5: 1-72.

Dressler, R.L. 1993. Phylogeny and Classification of the Orchid Family. Timber Press,

Portland, Oregon. USA. 314p.

Jacobi, C.M. Ramalho M. & Silva M. 2005. Pollination biology of the exotic rattleweed

Crotalaria retusa L. (Fabaceae) in NE Brazil. Biotropica. 37: 356-362.

104

Köppen, W. 1948. Climatologia. México: Editora Fondo de Cultura Económica. 207p.

Kaiser, R. 1993. The scents of orchids, olfactory and chemical investigations. Elsevier,

Roche, Basel. Amesterdan.

Knudesen, J. T. Tollsten, L. Bergeström, L. G. Floral Scents-A checklist of volatile

compound isolated by head-space techiniques. Phytochemistry. pp. 33-253.

Lock, J.M. & Profita J.C. 1975. Pollination of Eulophiacristata (Sw.) Steud. (Orchidaceae)

in Southern Ghana.Acta Botanica Neerlandica. 24: 135-138.

Mickeliunas, L. Pansarin E.R. & Sazima M. 2006. Biologia floral, melitofilia e influência de

besouros Curculionidae no sucesso reprodutivo de Grobya amherstiae Lindl.

(Orchidaceae: Cyrtopodiinae). Revista Brasileira de Botânica. 29: 251-258.

Pansarin, E.R. 2003. Biologia floral de Cleistes macrantha (Barb. Rodr.) Schltr.

(Orchidaceae: Vanilloideae: Pogoniinae). Revista Brasileira de Botânica. 26 (1): 73-

80.

Pansarin, E.R. 2008. Reproductive biology and pollination of Govenia utriculata: a syrphid

fly orchid pollinated through a pollen deceptive mechanism. Plant Species Biology.

23: 90-96.

Pabst, G.F.J. & Dungs F. 1975. Orchidaceae Brasilienses, v. 1. Kurt Schmersow, Hildesheim.

Pigozzo, C.M. Neves E.L. Jacobi C.M. & Viana B.F. 2007. Comportamento de

forrageamento de Xylocopa (Neoxylocopa) cearensis Ducke (Hymenoptera: Apidae,

Xylocopini) em uma população de Cuphea brachiata Koehne (Lythraceae).

Neotropical Entomology. 36: 652-656.

105

Pinto, H.S. 1992. Clima da Serra do Japi. In História natural da Serra do Japi (L.P.C.

Morellato, org.). Editora da Unicamp/Fapesp, Campinas.

Purvis, M.J. Collier D.C. & Walls D. 1964. Laboratory techniques in botany. London,

Butterwoths.

Pyke, G.H. 1984. Optimal foraging theory: a critical review. Annual Review Entomology. 15:

523-75.

Ramalho, M. & Rosa J.F. 2010. Ecologia da interação entre as pequenas flores de quilha de

Stylosanthes viscose Sw. (Faboideae) e as grandes abelhas Xylocopa (Neoxylocopa)

cearensis Ducke, 1910 (Apoidea: Hymenoptera), em duna tropical. Biota Neotropical.

10(3).

Rasmussen, F.N. 1982 The gynostemium of the neottioid orchids. Opera Botânica. 65: 1-95.

Robards, K. Haddad P.R. & Jackson P.E. 1994. Principles and Practice of modern

Chromatographic methods. Academic Press. New York.

Salazar, G.A. Chase M.W. Soto Arenas M.A. & Ingrouille M. 2003. Phylogenetics of

Cranichideae with emphasis on Spiranthinae (Orchidaceae, ): evidence

from plastid and nuclear DNA sequences. American Journal of Botany. 90: 777-795.

Sanguinetti, A. & Singer R.B. 2014. Invasive bees promote high reproductive success in

Andean orchids. Biological Conservation. 175: 10-20.

Sazima, M. Buzato S. & Sazima I. 2003. Dyssochroma viridiflorum (Solanaceae): a

reproductively bat-dependent epiphyte from the Atlantic Rainforest in Brazil. Annals

of Botany. 92: 725-730.

106

Singer, R.B. & Cocucci A.A. 1999. Pollination mechanism in southern Brazilian orchids

which are exclusively or mainly pollinated by halictid bees. Plant Systematic

Evolution. 217: 101-117.

Singer, R.B. & Sazima M. 1999. The pollination mechanism inthe „Pelexia alliance‟

(Orchidaceae: Spiranthinae). Botanical Journal of the Linnean Society. 131: 249-262.

Singer, R.B. & Sazima M. 2000. The pollination of Stenorrhynchos lanceolatos (Aublet)

L.C. Rich. (Orchidaceae: Spiranthinae) by hummingbirds in southeaster Brazil. Plant

Systematics and Evolution. 223: 221-227.

Singer, R. & Sazima M. 2001a. The pollination mechanism of the three sympatric Prescottia

(Orchidaceae: Prescottinae) species in southeastern Brazil. Annals of Botany. 88: 999-

1005.

Singer, R. & Sazima M. 2001b. Flower morphology and pollination mechanism in three

sympatric Goodyerinae orchids. Annals of Botany. 88: 989-997.

Singer, R.B. 2002. The pollination biology of Sauroglossum elatum Lindl. (Orchidaceae:

Spiranthinae): moth pollination and protandry in neotropical Spiranthinae. Botanical

Journal of the Linnean Society, 138: 9-16.

Stern, W.L. Curry K.J. Whitten W.M. 1986. Staining fragrance glands in orchid flowers.

Bulletin of the Torrey Botanical Club. 113: 288-297.

Stökl, J. Twele R. Erdmann D.H. France W. Aysse M. 2007. Comporison of the flower scent

of the sexually deceptive orchid Ophrys iricolor and famele sex pheromone of its

pollinator Andreana morio. Chemoecology. 17: 231-233.

107

Stort, M.N.S. & Galdino G.L. 1984. Self- and cross-pollination in some species of the genus

Laelia Lindl. (Orchidaceae). Revista Brasileira de Genética. 7: 671-676.

Stort, M.N.S. & Martins P.S. 1980. Auto-polinização e polinização cruzada em algumas

espécies do gênero Cattleya (Orchidaceae). Ciência e Cultura. 32: 1080-1084.

Van der Pijl, L. & Dodson C.H. 1966. Orchid flowers: their pollination and evolution.

Florida: University of Miami Press.

Veloso, H.P. 1992. Sistema fitogeográfico. In Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janeiro (Manuais

Técnicos em Geociências, IBGE. 1: 8-38.

Waddington, K.D. 1980. Flight patterns of foraging bees relative to density of artificial

flowers and distribution of nectar. Oecologia (Berlin). 44: 199-204.

108

Considerações finais

A espécie Encyclia patens é epífita. Suas flores que são ressupinadas apresentam coloração verde e púrpura. A espécie floresce no inverno nos meses de junho a agosto. Cada flor, quando intactas perdura por até 21 dias e exalam uma fragrância adocicada composta por dez voláteis diferentes. Além disso, suas flores produzem uma pequena quantidade de néctar que fica exposto somente nas flores do primeiro dia de antese.

Phymatidium delicatulum que também apresenta hábito epífito é desprovida de pseudobulbos, apresenta folhas lineares de ápice agudo. Suas inflorescências são racemosas e suas flores que são fragrantes se abrem no verão, de dezembro a fevereiro e, quando intactas, permanecem abertas por até15 dias. Além disso, suas flores são de coloração predominantemente branca e apresentam calosidades verdes sobre o labelo, onde se encontram os elaióforos.

A espécie Mesadenella cuspidata apresenta hábito terrícola e floresce entre o verão e o outono nos meses de fevereiro a abril. Suas inflorescências que são racemosas apicais apresentam flores espiraladamente dispostas. As Flores são nectaríferas de coloração predominantemente branca e amarela e exalam uma fragrância composta por 16 voláteis diferentes e quando intactas permanecem abertas por um período de 15 dias. Apresentam um polinário formado por duas polínias divisíveis, que podem polinizar as flores de vários indivíduos da população. Além disso suas flores são protândricas e a fase masculina e feminina é separada pela mecânica de abertura durante o período de antese. O néctar presente nas flores de Mesadenella cuspidata é produzido e secretado por glândulas que estão presentes nas margens do labelo e fica armazenado em uma estrutura em forma de bojo formado pela união das sépalas laterais e base do labelo.

109

Não foram observados os polinizadores de Encyclia patens. Somente vespas sociais da espécie Polybia ignobilis e moscas da família Syrphidae foram observadas sobre as suas flores, porém não atuando como seus polinizadores e sim como visitantes florais.

As flores de Phymatidium delicatulum foram polinizada por abelhas das espécies

Tetrapedia amplitarsis e Trigonopedia sp., que coletam o óleo produzido pelos seus elaióforos. As suas visitas às flores de Phymatidium delicatulum que são pouco freqüentes, ocorreram em intervalos irregulares e somente em dias ensolarados. No entanto, em condições naturais a taxa de frutificação foi considerada relativamente baixa.

Mesadenella cuspidata foi polinizada por abelhas Osiris sp., abelhas Augochlorella tredecim e por abelhas Rhathymus friese que visitam as flores em busca de néctar. As abelhas

Halictidae visitam as flores de modo aleatório. Enquanto as abelhas Osiris sp. e Rhathymus friese visitam as flores de forma sistêmica, apresentando um comportamento de forrageio em rota. Este comportamento oferece grandes benefícios ecológicos para espécie, tendo em vista que um número maior de flores podem ser visitadas e uma abelha carregando um polinário, pode depositar somente fragmentos das polínias no estigma das flores, e assim polinizar um número maior de flores aumentando o fluxo gênico entre os indivíduos da população.

Encyclia patens é espécie autocompativel. Todavia, dependente de um polinizador para transferência de pólen. Frutos foram formados apenas nos tratamentos de polinização cruzada e autopolinização manual. A taxa de semente potencialmente viáveis nos frutos provinientes destes tratamentos foi consideravelmente alta. Em condições naturais, a população estudada apresentou uma taxa de frutificação baixa.

Nossos estudos revelaram que em Oncidiiae, a espécie Phymatidium delicatlum é uma das poucas espécies que apresentam autocompatíbilidade, porém não sendo autógama dependendo de um polinizador para transferência de pólen. Seus frutos são globulares,

110 estriados e são deiscentes no outono, de março a abril. A taxa de sementes potencialmente viáveis nos frutos provenientes dos tratamentos de autopolinização manual foi considerada relatimante baixa e nos frutos originados dos tratamentos manuais de polinização cruzada regular.

Mesadenella cuspidata é espécie autocompatível. No entanto, dependente de um polinizador. A taxa de frutificação em condições naturais, no ano de 2013 e 2014 são consideradas regulares para espécies que produzem néctar como recurso.

111

Anexos

Compostos voláteis detectados na fragrância floral de Encyclia patens Hook.

Tempo de Retenção Índece de Kováts Compostos Abundânicia relativa (min) (%) 10,8 1038 β-cis-ocimeno 1,35

11,3 1050 β-trans-ocimeno 25,32

13,6 1099 linalol 7,26

20,5 1255 acetato fenetilico 1,37

26,5 1389 isolangifolene 0,9

27,7 1416 trans-cariofileno 18,1

28,4 1433 α-trans-bergamoteno 27

29,2 1453 α-bisaboleno 0,87

30,2 1478 germacreno D 1,52

31,3 1503 α-farneseno 12,6

112

Compostos voláteis detectados na fragrância floral de Mesadenella cuspidata(Lindl.) Garay.

Tempo de Retenção Índece de Kováts Compostos Abundânicia relativa (min) (%) 18,3 1200 dodecano 1,4

22,8 1301 tridecano 5,72

30,7 1486 5-tetradecano 2,77

31,3 1599 pentadecano 0,93

31,7 1509 tridecanol 7,33

34,2 1574 tridecan-1-ol 3,82

35,2 1597 9-tetradecenol 1,69

35,7 1612 tetradecanol 38,78

37,6 1662 11-dodecenol 0,93

38,1 1675 1-tetradecanol 5,52

38,9 1699 3,11-tetradecadien-1-ol 4,84

39,5 1713 hexadecanal 2,25

42,6 1800 cis-11-hexadecenol 3,28

47,9 1958 ácido hexodecanóico 1,93

54,2 2124 ácido octodecanóico 5,18

59,2 2500 pentacosano 6,62

113