Óleo Essencial De Tagetes Minuta Como Fitoterápico No Controle Dos
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Capítulo Óleo essencial de Tagetes minuta como fitoterápico 13 no controle dos carrapatos Jacqueline Cavalcante Barros Marcos Valério Garcia Renato Andreotti INTRODUÇÃO Os primeiros registros da utilização de plantas com uso medicinal datam do antigo Egito em papiros que se referem a mais de quinhentas plantas medicinais (Barata, 2005). Nesse contexto lembramos que o Brasil apresenta uma biodiversidade vegetal enorme, ultrapassando 50.000 espécies, porém apenas 1% foi estudada química e/ou farmacologi- camente, sendo que, pelo menos, trezentas plantas medicinais já fazem parte do arsenal terapêutico popular brasileiro (Barata, 2005). Os produtos vegetais estão representados por centenas de princípios ativos que pertencem às seguintes cinco classes químicas: carboidratos, lipídios, compostos nitro- genados (aminoácidos, peptídios, proteínas, 17 glicosídios cianogênicos e alcaloides), terpenoides e os fenilpropanoides. Muitos desses compostos apresentam uma ativida- de biológica, como por exemplo, ações tranquilizantes, analgésicas, antiinflamatórias, citotóxicas, anticoncepcionais, antimicrobianas, antivirais, fungicidas, inseticidas, repe- lentes de artrópodes, entre outras (DI STASI, 2002; WANZALA; OGOMA, 2013; Gakuubi et al., 2016). Estes produtos são utilizados para as mais diversas finalidades, tanto na terapêutica clínica, como na indústria de cosméticos e de alimentos (Carvalho et al., 2007). ÓLEOS ESSENCIAIS COMO FITOTERÁPICOS Muitas das espécies vegetais são fontes de substâncias químicas com propriedades pesticidas. Isso porque tais plantas sintetizam metabólitos secundários com atividade para defesa contra microorganismos, insetos fitófagos e herbívoros. 170 Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos Compostos fitoterápicos são obtidos a partir de recursos renováveis apresentam de- senvolvimento mais lento da resistência pela presença de vários agentes com diferentes mecanismos de ação, degradam mais rápidamente, não rovocam efeito em organismos não alvos e apresentam baixa toxicidade para animais e seres humanos, como também baixa contaminação ambiental e dos alimentos (Balandrin et al., 1985; Chagas et al., 2002; Olivo et al., 2008, 2009; Borges et al., 2011). Pela sua natureza volátil, os extratos vegetais apresentam um risco muito menor de contaminação ambiental, porque se dissipam no ar. Neste contexto, o uso destes fitoterá- picos representa uma alternativa viável que há anos vem sendo estudada no controle de várias espécies de carrapatos. O principal desafio para o desenvolvimento de acaricidas alternativos está na dificulda- de de transposição da eficácia obtida in vitro para o campo, e isso se deve, em parte, pela dificuldade em se estabilizar os diversos compostos químicos presentes no extrato (Evans, 1996) e pela alta volatilidade de produtos naturais, que apresentam baixa persistência no meio ambiente (Mulla; Su, 1999). Há dificuldades para preparar formulações apropriadas, que podem estar relaciona- das à variabilidade na composição química de plantas de uma mesma espécie, devido a fatores diversos, que ainda precisam ser solucionados (Borges et al., 2011). Uma das características dos compostos orgânicos naturais é a persistência limitada nas condições de campo. Temperatura, luz ultravioleta, PH, chuvas e outros fatores am- bientais podem influenciar negativamente na persistência e na eficácia de princípios ativos fitoterápicos. Assim, formulações com aditivos que prolonguem sua ação e aumentem o contato com o parasita poderiam aumentar a ação acaricida. A limitação de vida média curta, quando comparado com os pesticidas sintéticos, pode requerer concentração mais elevada e aplicação mais frequente quando são utilizados no ambiente. As necessidades visando à aplicação comercial destes pesticidas incluem dispo- nibilidade de quantidade suficiente, padronização e aprovação pelos órgãos competentes. Na Tabela 1, são mostrados alguns dos principais resultados de pesquisa sobre es- pécies de plantas testadas, a parte utilizada, as substâncias encontradas e sua concen- tração e o instar do carrapato submetido aos testes. Foram aqui considerados somente os trabalhos que obtiveram resultados mostrando efeito de 50% de mortalidade ou mais. Nesses resultados agrupados podem ser percebidas as diferentes abordagens quanto à forma de apresentação dos resultados em relação às suas bases químicas, concentra- ções e os efeitos encontrados nos ínstares utilizados, como também à espécie de carra- pato em questão. A toxicidade de uma planta contra artrópodes não a qualifica necessariamente como um pesticida. Vários aspectos devem ser levados em consideração, tais como: forma de extração e conservação dos extratos, eficácia em baixas concentrações, ausência de toxicidade para mamíferos e outros animais, fácil obtenção, manipulação e aplicação, e viabilidade econômica (Viegas Junior, 2003). Já existem avaliações do uso de mais de 55 espécies de plantas pertencentes a 26 fa- mílias, contra o Rhipicephalus (Boophilus) microplus, mas apenas alguns princípios ativos foram identificados e comprovados com função acaricida (Borges et al., 2011). As pesquisas com extratos de plantas, com o propósito de identificar novos princípios ativos capazes de controlar os carrapatos, constituem uma alternativa promissora (Garcia et al., 2012; Andreotti et al., 2013; Wanzala et al., 2018). Óleo essencialde Tabela 1. Relação das plantas utilizadas como fitoterápicos contra carrapatos em ensaios com efeito de mortalidade acima de 50%. Origem da Solução ou Nome da Planta amostra Base química [ ] ou % Instar Mortalidade Autor eugenol puro 5.0 μl/ml L 95% Monteiro et al., 2012 minuta Tagetes Azadirachta indica 8% T 92% Srivastava et al., 2008 Azadirachta indica folhas frescas extrato etanóico 50% T 74,3 % Santos et al., 2012 comofitoterápiconocontroledoscarrapatos A. squamosa fruto extrato aquoso 1500 ppm L 100 a 92% Madhumitha et al., 2012 Acorus calamus T 100% Kumar et al., 2000 Allium sativum d diallyl trisulfide, diallyl 20% T 100% Martinez-velazquez et al., 2011 disulfide, methyl allyl trisulfide Annona cornifolia Raiz Acetogeninas T 50 a 100% Catto et al., 2009 Annona dioica Raiz acetogeninas T 50 a 100% Catto et al., 2009 Annona muricata Sementes Extrato etanóico 2% T 100% Broglio-Micheletti et al., 2009 Annona squamosa Semente T 70,8% Magadum et al., 2009 Annona squamosa Semente T 100% Kalakumar et al., 2000 Araucaria columnaris madeira Sesquiterpenos: 1,62%, L 50% Lebouvier et al., 2013. Azadirachta indica Azadirachtin 2% T 65,6 Broglio-Micheletti et al., 2009; 2010 Azadirachta indica Azadirachtin T 96.5 Kumar et al., 2000 C. angustifolia Partes aéreas 2,5 μL/mL L 100% Apel et al., 2009 Capítulo 13 Capítulo C. citratus 1 a 100% T 32 a 100 % Santos; Vogel, 2012 C. incana Partes aéreas 2,5 μL/mL L 100% Apel et al., 2009 171 C. nardus Folhas frescas citronelal, geraniol 25% T 87,1 Olivo et al., 2008 172 Tabela 1. Relação das plantas utilizadas como fitoterápicos contra carrapatos em ensaios com efeito de mortalidade acima de 50%. Origem da Solução ou Nome da Planta amostra Base química [ ] ou % Instar Mortalidade Autor C. spicata Partes aéreas 5 μL.mL L 100% Apel et al., 2009 C. winterianus óleo 1.20 μL/mL L 50% Torres et al., 2012 Calea serrata Óleo total Benzopyran esquiterpenos 3.94 μL/mL L 99% Ribeiro et al., 2011 Carapa guianensis Óleo da semente 5,2 % T, L 50% Farias et al., 2012 Cedrus deodara T 65,3 Kumar et al., 2000 Corymbia citriodora 10% T 100% Olivo et al., 2013 Corymbia citriodora 3,5% T 96,4% Olivo et al., 2013 Cuminum cyminum Terpenos 20 L 100% Martinez-Velazquez et al., 2011 Chenopodium ambrosioides tintura 10% t 100% Santos et al., 2013 Cymbopogum winteranus Citronellal geraniol 6,1% T, L 50% Martins, 2006 citronellol 7,14% 100% Drimys brasiliensis sesquiterpenoids 10% T, L 100% Ribeiro et al., 2008. Duguetia furfuracea raiz acetogeninas T 50 a 100% Catto et al., 2009 Carrapatos nacadeiaprodutivadebovinos E. globulus 1,8-cineole 15% T 100% Chagas et al., 2002 E. staigeriana 12,5% T 100% Chagas et al., 2002 Eucalyptus citriodora Citronelall 17,5%, T 100% (Chagas et al., 2002 Eucalyptus globulus T 99,6 Kumar et al., 2000 Hesperozygis ringens pulegone 0.541 μL/mL L 99,9 Ribeiro et al., 2010 Hyptis crenata Partes aéreas borneol, 1,8-cineol, 2,5% T 94,4% Violante et al., 2012 p-cimene Óleo essencialde Tabela 1. Relação das plantas utilizadas como fitoterápicos contra carrapatos em ensaios com efeito de mortalidade acima de 50%. Origem da Solução ou Nome da Planta amostra Base química [ ] ou % Instar Mortalidade Autor Lippia graveolens Thymol, carvacrol, 20% a 1,25% T 90 Martinez-Velazquez et al., 2011 minuta Tagetes p-cymene, gamma-terpinene Lippia sidoides thymol 20 μL/Ml L 95% Gomes et al., 2012 comofitoterápiconocontroledoscarrapatos Lippia triplinervis Partes aéreas Carvacrol, thymol, 20 mg/mL L 95% Lage et al., 2013 p-cymene M. azedarachta Frutos Extratos hexânicos T, L 100% Borges et al., 2003 Melia azadirachtata Frutos Extrato hexânico 0,25 μL/mL T, L 100% Sousa et al., 2008 Melinis minutiflora 1,8-cineol e n-hexanal L 100% Prates et al., 1993;1998 Neen Oleo de neen 40% L 55% Garcia et al., 2012 Pimenta dioica frutos eugenol 3 mg/g T 100% Brown et al., 1998 Pimenta dioica eugenol 20% L 100% Martinez-velazquez et al., 2011 Piper aduncum Dillapiole; sesquiterpenos 0,1 mg/ml L 100% Silva et al., 2009 Pongamia glabra T 87,6 Kumar et al., 2000 Schinus molle óleo 1.34 μL/mL L 50% Torres et al., 2012 Simarouba versicolor raiz e casca acetogeninas T 50 a 100% Catto et al., 2009 Syzygium aromaticum 2,5 T 97,1 Santos et al., 2012 Capítulo 13 Capítulo Syzygium malaccensis flores Extrato etanóico 2% T 57,2% Broglio-Michelette et al., 2009 Tetradenia riparia folhas sesquiterpenes; 12,50% T, L 100% Gazim et al., 2011 monoterpeno 173 T: Teleógina; L: larva. 174 Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos Foram obtidos resultados com relação às observações de extratos do óleo essencial de Tagetes minuta Linnaeus, uma planta herbácea anual que pertence à família Asteraceae, mais conhecido como “cravo-de-defunto” (Prakasa Rao et al., 1999). Esta planta é utilizada na medicina popular e é encontrada crescendo em regiões temperadas da América do Sul (Moyo; Masika, 2009).