FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - RJ

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PROJETO MANGUEIRA: ILUSÃO OU INCLUSÃO SOCIAL. UMA EXPERIÊNCIA EM GESTÃO SÓCIO-ESPORTIVA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA A ESCOLA

BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JOSÉ ANTÔNIO BARROS ALVES

Rio de Janeiro

T/EBAP A474p FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Projeto Mangueira: ilusão ou inclusão social. Uma experiência em gestão socio-esportiva.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR JOSÉ ANTÔNIO BARROS ALVES

APROVADA EM: àXJ it/©o PELA COMISSÃO EXAMINADORA

FERNANDO GUILHERME TENORIO - Doutor Engenharia da Produção pela Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do ■PE-UFRJ

DEBORAH MORAES ZOAIN - Doutora em Engenharia da Produção pela Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPE-UFRJ

LUIZ AL^R%'BATfèTA - Doutor em Ciências Esportes pela Universidade do Porto () A Cristiane e ao nosso filho Caio. AGRADECIMENTOS

Muitos ajudaram neste trabalho e desde já peço desculpa por algum esquecimento.

Gostaria de agradecer:

Ao Professor-Doutor Fernando Guilherme Tenório pela orientação segura e objetiva, e, principalmente, pelo apoio em todo decorrer do curso.

A Professora-Doutora Deborah Morais Zouain, hoje em dia já uma amiga e colega, pelo permanente apoio e por ter um espírito crítico e honesto, estando sempre pronta a mostrar com sinceridade, tão incomum hoje em dia, nossos defeitos, mas também nossas qualidades. Muito Obrigado.

Ao Professor-Doutor Luiz Alberto Batista, amigo de Graduação, companheiro de sonhos e pesadelos, mais que sempre se mostrou uma pessoa correta e solidário, é um prazer ter sempre sua companhia.

À minha família: Isis, Claudia, Roberto, Stella, Celinha, Marinho, Regina, Joaquim, Carlos e Marcelo, Souely, Renato e Cristina e Renata.

Aos amigos, sem os quais a vida é muito pior: Gutman, Magna e Bruno; Augusto Paulo e Bianca; César Campos e Cora e todo pessoal que estou tendo o prazer de trabalhar; Rogério; Augusto Paulo e Bianca e muitos mais.

Ao pessoal do Mestrado e FGV: Juarez, Victor, José Paulo, pessoal da secretaria, e a todos os professores,funcionários e colegas.

Ao pessoal da FGVConsulting: Carmela, Nadia e Francisco.

Aos Professores Bianor Cavalcanti, Luiz Shymura, Clóvis de Faro, pelo permanente apoio, confiança e consideração.

Aos meus alunos, que muitos colaboraram com este trabalho.

Ao pessoal da Mangueira pela recepção calorosa e simpática, principalmente o Professor Francisco de Carvalho, sempre disposto a esclarecer dúvidas e trazer novas informações.

111 RESUMO

Este estudo tem como objetivo pesquisar o papel do esporte no

processo de inclusão social na Cidade do Rio de Janeiro, através do estudo do Programa Social da Mangueira, desenvolvido desde 1987, nesta comunidade.

Este Programa usa o esporte como meio aglutinador e mobilizador de crianças e adolescentes com o intuito de desenvolver ações educacionais, de preservação da cultura local e de saúde.

A estratégia de pesquisa foi a de um estudo de caso.

O estudo conclui que este Programa vem obtendo sucesso, que o esporte é um importante fator no processo de inclusão social e que a questão da exclusão dos benefícios da cidadania no Brasil é um grave problema que vem prejudicando todoo desenvolvimento da nação, do ponto de vista econômico, social, político e ameaça a própria existência do Brasil como nação e unidade.

IV ABSTRACT

This study intends to research the process of sport in social inclusion in Rio de

Janeiro, through the study of "Programa Social da Mangueira", develloped since

1987, in this comunity.

This program shows the sport as agglutinating and mobilizating of chiidren and

adoloscents and wishes to developt educational actions to preservate local

culture and health.

The strategies of research were the study of this case.

The study concluses that this Program is becoming a success, that sport is an

important fact in the process of social inclusion and that the point of exclusion of advantages of citizenship in is a serions problem that is prejudicing ali the development of Nation from economic, politic and social point of view and exposes to danger the own existince of Brazil as Nation and unity. LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Adaptado dos Eixos Históricos da Cidadania de TURNER (1990), citado por CARVALHO (1996, pg. 338-9) 23

Figura 2 - Esquema de tipos de relações Estado - Sociedade para definição da cidadania política, segundo ALMOND & VERAS, citados por CARVALHO, 1996, pg. 338 26

3 - Figura3 - Estrutura dos projetos e sub-projetos que compõe o Projeto Social da Mangueira 43

VI INTRODUÇÃO

Em 1987, o Brasil vivia uma grande crise. Assistia-se à derrocada do Plano Cruzado, à instabilidade política do governo José Sarney,à instalação de um processo recessivo na economia. Naquele momento, somado a esta crise e depois de anos de repressão política e social patrocinada pelo regime militar, chegava-se a uma constatação: apesar do progresso industrial e econômico, o Brasil era uma das nações mais injustas do mundo, do ponto de vista social.

Este quadro de injustiça, exclusão e - por que não? - de apartação social configura a realidade brasileira. Levando-se em conta os índices de desenvolvimento nacional - por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) e o índice de Desenvolvimento Humano (IDH)1 -, pode-se constatar que a situação vem se agravandonos últimos anos. Paralelamente ao aumento do PIB, o IDH registra queda. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil ocupava em 1990, no estudo sobre o desenvolvimento humano, o 59° lugar entre os 130 países analisados; em 1993, caiu para a 70a posição e em 1999 para a 79a. Um dos países mais injustos do mundo sob o ponto de vista social, o Brasil, segundo REIS & CHEIBUB (1993: 234), lidera a lista das sociedades mais desiguais. SPOSATI (1996: 25) afirma textualmente:

A desigualdade social, econômica e política chegou a tal extremo no Brasil que está se tornando incompatível com o avanço da democracia. Este caráter de fortalecimento da desigualdade entre os brasileiros permite enxergar um fenômeno em nossa sociedade: a apartação social.

1 O IDH é calculado a partir de três componentes básicos: a longevidade, observada a partir da expectativa de vida; o conhecimento, medido pelataxa de alfabetização de adultos e pela média de anosde escolaridade; e a renda, calculada pelo PIB per capita em dólares, corrigido pelo indicador de paridade do poder decompra.

1 A injustiça social e a pobreza no Brasil são de tal maneira graves

que, mesmo as elites econômicas e políticas, quesempre consideraram

este problema de importância secundária, envergonham-se desta

situação, manifestando seu incômodo principalmente junto aos

organismos internacionais. O senador Antônio Carlos Magalhães,

presidente do Congresso Nacional, um legítimo representante dessas

elites, em carta dirigida ao secretário-geral da Organizaçãodas Nações

Unidas (ONU), Kofi Annan, fez a seguinte consideração:

O Brasil de hoje não é um país pobre, mas é ainda um país quetem muitos pobres (...); já se disse, com razão, que ainda somos, acima de tudo, um país injusto, visto que escandalosamente injusta é a nossa desigualdade em termos de distribuição de renda.2

Os processos de injustiça social fazem parte da história do Brasil.

Eles passam pela subjugação dos indígenas, pela escravatura, pela

opressão política das classes trabalhadoras. Nos últimos 20 anos, em

razão da profunda crise econômica que se abateu sobre o Brasil e da

incapacidade de o Estado promover e gerenciar políticas sociais voltadas

para o atendimento das necessidades básicas da população, esse

processo de pauperização e de desigualdade social agravou-se a tal

ponto que acabou por gerar o fenômeno da exclusão social, não apenas

como figura retórica, mas como reflexo de uma realidade objetiva,

conseqüência da manutenção de um modelo de desenvolvimento econômico que mantém a maioria da população do país à margem dos

benefícios sociais.

A exclusão social é um fenômeno coletivo, de grupo, de extrato social. Exclusão é negação, não participação, não possibilidade de acesso, não pertencimento. Exclusão, segundo AURÉLIO (1996), é o ato

2 Jornal do Brasil (8/10/1999, p.4). pelo qual alguém é privado de determinadas funções. Em síntese, exclusão social, como afirma SPOSATI (1996: 13), é "a impossibilidade de

[o indivíduo] poder partilhar da sociedade e leva à vivência da privação, da recusa, do abandono e da expulsão, inclusive com violência, de uma parcela da população".

Da afirmação de Sposati é possível inferir que os excluídos são aqueles impedidos de participar da vida social. São aqueles a quem não se dá o direito de pertencer à sociedade. Portanto, o fenômeno de exclusão social impossibilita esses grupos de criar uma identificação com a sociedade. Vários empreendimentos vêm sendo realizados no Brasil no sentido de banir, o mais rapidamente possível, o fenômeno da exclusão social. Essas ações renovadoras no campo das políticas sociais (TENÓRIO, 1997:7) acontecem através da implementação de políticas, ações, programas, projetos de iniciativa governamental ou não, que visam criar condições para o surgimento de um processo de inclusão social.

Nenhuma estratégia pode ser abandonada ou deixada de lado na elaboração dessas ações públicas. O esporte deve ser incluído exatamente neste contexto. Fenômeno social da institucionalização do jogo (HELAL 1990: 25-29), um dos mais antigos fatos da cultura, considerado até pré-cultural, o jogo é uma atividade natural, instintiva e inerente ao ser humano (HUIZINGA 1996: 4-31). E o esporte, como descendente direto do jogo, assume algumas dessas características. Elas conferem ao esporte uma imensa força social, facilmente comprovada pela observação da atração que as atividades esportivas despertam nas crianças, na paixão das torcidas e no imenso espaço que ocupa na mídia.

A força social do esporte, infelizmente, tem sido utilizada no Brasil como meio de propaganda política e como fator de alienação e manipulação da população. Pouco tem sido utilizado em ações sociais que objetivem o desenvolvimento da cidadania, embora já existam neste campo algumas experiências e iniciativas que merecem atenção.

Pretende-se nesta pesquisa estudar uma dessas experiências: o Projeto

Mangueira.

Iniciativa da comunidade do morro da Mangueira, no Rio de Janeiro

- mais precisamente de uma das mais populares organizações comunitárias da cidade, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação

Primeira de Mangueira -,este projeto foi criado em 1987 com o intuito de

"mobilizar órgãos públicos e empresas privadas para a realização de um trabalho conjunto voltado para o resgate da cidadania" (PROJETO

SOCIAL DA MANGUEIRA, 1987: 3). Lançando mão da capacidade mobilizadora e catalisadora do esporte como sua principal estratégia, o projeto tem como público-alvo as crianças e os adolescentes da comunidade, buscando atendê-las em várias frentes (saúde, educação para o trabalho, educação formal etc).

A escolha do Projeto Mangueira deve ser explicada pela sua caracterização como uma ação pública de iniciativa comunitária, que, contando com a colaboração do setor público e da iniciativa privada, procura atingir seus objetivos utilizando-se do esporte como meiode ação.

Este projeto serviu debase a uma pesquisa, cujo relatório final é o presente texto. O objetivo central da pesquisa consistiu em analisar o papel do esporte no processo de inclusão social nos grandes centros urbanos brasileiros, tendo como objeto concreto a descrição e a análise do Projeto Mangueira e de seus resultados.

A partir de um caso concreto, procurou-se entender, em primeiro lugar, como e se o esporte é um instrumento útil na formação de cidadãos.

Também foram levantados os impactos que o Projeto Mangueira vem produzindo em sua comunidade e na cidade do Rio de Janeiro. As respostas aqui obtidas poderão servir de subsídios a gestores públicos, governamentais ou não, na elaboração e administração de projetos sociais, no planejamento de políticas públicas e na criação de programas e projetos que utilizem o esporte como meio de ação.

Quanto à relevância do estudo, afirmar que a exclusão social constitui um problema emergencial do Brasil contemporâneo é quase uma redundância. Mesmo sob uma análise preocupada apenas com questões econômicas, a manutenção de imensa parcela da população excluída dos processos sociais, políticos, culturais e econômicos representa um custo proibitivo para qualquer nação. Cabe lembrar as palavras de SPOSATI

(1996: 25) de que o aprofundamento do fenômeno da exclusão social é perigoso, a ponto de ameaçar a estabilidade política da nação. Estese muitos outros fatores, que poderiam ser listados, demonstram que estudos que procurem caminhos para o estancamento do fenômeno da exclusão social e que apontem direções a serem seguidas na reversão desta situação são nãoapenas relevantes e como também urgentes.

Este trabalho se propõe a estudar um desses caminhos: o esporte.

Fenômeno social de grande popularidade da segundametade do século

XX (TUBINO, 1992: 7), o esporte tem mostrado ser um grande catalisador de manifestações da sociedade. Ele possibilita aos participantes, atletas ou assistentes, partilhar de uma sensação de pertencer a um conjunto maior, a um grupo social, onde todos são realmente iguais, cujas regras têm validade universal, que permite a qualquer um a vitória. Portanto, a utilização do esporte no processo de inclusão social é uma possibilidade que deve ser profundamente analisada.

Finalmente, este trabalho poderá servir de parâmetro a outros estudos a serem realizados em outras comunidades ou cidades, mesmo concentrando seus esforços no estudo do Projeto Mangueira.

Em relação à sua organização interna, vale informar que o presente estudo, além desta introdução, é constituído por três capítulos e as conclusões. O Capítulo 1 trata da metodologia utilizada na pesquisa, descrevendo o modelo do estudo, o instrumento de coleta de dados e o processo de análise destesdados. O Capítulo 2, que trata do referencial teórico do trabalho, é composto por quatro partes: a que aborda a questão da exclusão social e seus referenciais brasileiros; a que enfocao tema da cidadania e seus pressupostos; a que discute o esporte como fenômeno, suas bases filosóficas e sociais, traçando ainda um breve histórico no

Brasil; e, finalmente, a que debate o papel social do esporte. O Projeto

Mangueira, seus objetivos, estratégias e resultados são descritos e analisados no capítulo 4. Após as conclusões, que colocam em cena algumas afirmações para discussão, e da bibliografia, o trabalho se encerra com dois conjuntos de anexos: o primeiro, a reprodução integral do Projeto Mangueira, e o segundo, composto por cartas, declarações, ofícios e matérias jornalísticas sobreo programa social da Mangueira. CAPITULO 1 - METODOLOGIA

1.1 - Modelo do estudo

Conforme taxionomia proposta por VERGARA (1997), quanto aos fins, este trabalho consiste num estudo exploratório, englobando características de um trabalho descritivo. Quanto aos meios, nele foram utilizadas as metodologias de levantamentos bibliográfico, documental, de campo e de estudo de caso.

Esta pesquisa é exploratória em razão de que aqui procurou-se entender as dimensões sociais que o esporte pode assumir como agente catalisador de ações sociais que visem a inclusão social, assunto pouco explorado por estudos no Brasil, principalmente em relação à gestão de projetos de iniciativa do terceiro setor. É descritiva pela necessidade de se compreender a estrutura e o funcionamento do Projeto Mangueira. Apesar de sua fama e de haver recebido prêmios internacionais ( da Unesco e da

BBC, entre outras entidades), este projeto - seja por sua proposta metodológica, seja por seu modelo de gestão - não foi ainda objeto de estudos. Neste particular, o presente trabalho torna-se assim inédito. A pesquisa bibliográfica3 teve como objetivo levantar a fundamentação teórica relativa a temas envolvidos no estudo, principalmente na discussão sobre o fenômeno da exclusão social e suas relações com a cidadania, bem como na questão do esporte como meio de desenvolvimento social.

A pesquisa documental levantou o material (relatórios, publicações, comunicados, entre outros) sobre as ações do Projeto Mangueira, com o objetivo de possibilitar sua descrição e análise. Foram também

JVale ressaltar que muitos dos títulos incluídos na bibliografia desta dissertação, apesar de não terem sido mencionados ao longo dos capítulos, foram extremamente úteis paraa concepção e organização do texto. consultadas reportagens jornalísticas sobreo projeto, que serviram para

identificar a visão pública sobre o mesmo.

Além dessas fontes, foram reunidas várias declarações oficiais de

autoridades e de representantes de órgãos públicos relativas ao projeto e

a seus resultados, reproduzidas na íntegra nos anexos deste trabalho. A

pesquisa de campo, realizada após os levantamentos bibliográfico e

documental, complementou as informações relativas às atividades desenvolvidas pelo Projeto Mangueira.

1.2 - Seleção dos sujeitos

A pesquisa de campo deste estudo tem por objetivo esclarecer

dúvidas sobre a realidade das ações do Projeto Mangueira. Além disto,

procurou-se obter informações pormenorizadas sobre a estrutura e os

processos de gestão do projeto. Para atingir este objetivo, selecionou-se,

para as entrevistas e/ou depoimentos, membros dos três segmentosque estão relacionados a este projeto: sua direção e coordenação; seus

beneficiários diretos ou indiretos (as crianças e adolescentes atendidos e suas famílias) e os seus colaboradores e conselheiros. Junto à direção e coordenação levantou-se as origens do projeto, o porquê da opção de

utilizar o esporte como meiode aglutinação desta atividade, sua estrutura, os processos decisórios, entre outros itens. Dos beneficiários procurou-se saber quais foram as vantagens e desvantagens que a comunidade acabou tendo com o projeto. Dos colaboradores e conselheiros, por sua posição social e política, procurou-se saber como o Projeto Mangueira é visto na sociedadee como vêem seus resultados. 1.3 - Coleta dedados

As informações e dados necessários ao desenvolvimento do projeto

de pesquisa foram coletados através dos seguintes procedimentos:

• na pesquisa bibliográfica - foram coletadas informações que compuseram o referencial teórico do assunto em livros, revistas especializadas, teses e dissertações, anais de encontros ou congressos,

na Internet, em jornais e revistas, dicionários e na legislação vigente sobre o tema. Procurou-se, através desta pesquisa, os dados e informações

necessários ao entendimento do fenômeno da exclusão social e do esporte como meio de inclusão social;

• na pesquisa documental - foram realizados levantamentos e análises de documentos internos não publicados, tais como os planos,

programas, projetos, relatórios e outros documentos relativos ao Projeto

Mangueira. Com este meio de pesquisa procurou-se identificar, descrever e analisar como estas ações foram planejadas e qual foi sua realidade no campo de ação; e

• na pesquisa de campo - procurou-se, nesta fase do estudo, esclarecer dúvidas surgidas nas pesquisas bibliográfica e documental; utilizou-se os seguintes instrumentos: entrevista semi-estruturada e depoimentos. Optou-se pela entrevista semi-estruturada, em razão de este tipo de instrumento de avaliação permitir uma maior flexibilidade no desenvolvimento das entrevistas e na obtenção de informações. Essas entrevistas foram realizadasjunto à direção e à coordenação do projeto, de maneira bem informal, como uma conversa. Não aconteceram gravações e as anotações eram restritas a informações numéricas ou realizadas no fim do encontro.

As questões levantadas com as entrevistas foram as seguintes, distribuídas em tipos: 1. sobre a criação do projeto

- quando o projeto foi criado?

- qual era a situação da comunidade na época?

- por que foi criado?

- tem-se um projeto ou vários projetos?

- conte um pouco da sua história.

2. sobre objetivos e metas

- qual o público-alvo do projeto?

- quais são seus objetivos e metas?

- eles já semodificaram?

3. sobre custos e fontes de recursos

- quanto custa o projeto (por ano ou mês)?

- quem financia?

- quem financiou a estrutura física?

- quem financiou ou financia ajuda ou quer influenciar na gestão do projeto?

- quem controla o orçamento e sua utilização? as empresas ou

órgãos participam?

- existe algum incentivo fiscal ou direto para empresas participarem deste projeto ou de outro qualquer nesta área?

4. sobre o gerenciamento

- qual é a estrutura do projeto?

- existe um conselho diretor com a participação dos financiadores?

- quantos funcionários? quais são as suas funções?

10 5. sobre os produtos, efeitos e impactos do projeto

- quantos já passaram pelo projeto?

- quantos são atendidos atualmente?

- onde estão os quepassaram?

- quais os resultados mais significativos?

- quais os resultados mais negativos?

- como a comunidade reagiu inicialmente? e agora?

- e o pessoal da Escola de Samba? o projeto ficou mais conhecido que eles?

6. sobre a reprodução do projeto

- este projeto pode ser reproduzido com sucesso em outro local?

- já existem experiências assim? onde? com que resultados?

7. questões gerais

- este projeto não é um programa?

- por que o esporte é tão importanteneste projeto?

- a Mangueira tem amanhã? e o Brasil?

Os depoimentos foram a fórmula encontrada para se obter dos participantes do projeto e das autoridades as suas opiniões sobreo projeto e seus resultados. Procurava-se saber dos participantes como o projeto ajudava em suas vidas e das autoridades qual a importância do projeto paraa sociedade brasileira.

Na aplicação destas técnicas agiu-se de forma diferenciada. No casodas entrevistas, realizadas anteriormente aos depoimentos, não era levantado nenhum tipo de hipótese inicial sobre o sucesso ou sobre os resultados do projeto. Como todos os entrevistados estavam envolvidos

li na condução desse empreendimento, os resultados eram a todo tempo repetidos e estes procuravam mostrar o sucesso do projeto.

As perguntas eram feitas e esclarecidas principalmente sobre dados objetivos (questões dos itens 1, 2, 3, 4 e 5). Nas outras questões, de natureza opinativa, não era realizado nenhum tipo de intervenção por parte do entrevistador. Nos depoimentos, partia-se de um texto inicial sobre os resultados de sucesso do projeto e procurava-se sabera opinião dos depoentes sobre aquelaafirmação ou hipótese. Houve completa liberdade de opinião dos depoentes sobre a hipótese levantada - "O

Projeto Mangueira é um sucesso, com resultados significativos para a comunidade mangueirense, melhorando a vida da comunidade, principalmente das crianças e dos jovens" - , sem qualquer intervenção posterior do entrevistador.

1.4 - Tratamento e análise de dados

Na análise e interpretação das informações obtidas na pesquisa de campo, em razão da organização deste através de entrevistas semi- estruturadas e depoimentos e, principalmente, da forma como estas técnicas foram aplicadas, de maneira quase informal e sem fatores que pudessem de alguma forma constranger ou inibir os entrevistados ou depoentes (gravações ou anotações das opiniões dadas), procurou-se registrar o centro ou núcleo das idéias expressas por cada um dos entrevistados e/ou depoentes. Procurou-se, a partir destas informações, complementar a compreensão do Projeto Mangueira, da sua estrutura, do seu funcionamento e deseus resultados. Procurou-se entender também como a comunidade vê o projeto e como participa de seus resultados.

12 1.5 - Limitações do método

Trata-se de uma pesquisa exploratória de caso, que vem a ser um estudo de caso, método que apresenta algumas limitações. A crítica mais contundente a este método é a de não permitir generalizações, já que trabalha com amostras vindas de uma só fonte. Mas o estudo de caso apresenta também vantagens, principalmente a possibilidade de um maior aprofundamento e detalhamento do estudo, simplicidade e maiores facilidades na coleta e análise dos dados, entre outros.

Embora reconhecendo não ser possível generalizar os resultados específicos a que se chegou no presente estudo, podem ser tecidas observações de validade geral para a questão central da pesquisa - o esporte como agente no processo de inclusão social. Da mesma forma, podem ser colocadas, a partir desse estudo, conclusões mais genéricas sobre outro tema fundamental na pesquisa - a questão da cidadania e da exclusão social no Brasil.

13 CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 - Exclusãoe inclusão social

A questão da exclusão social vem sendo tratada por economistas,

cientistas sociais, antropólogos e outros estudiosos. Esta multiplicidade de

enfoques tem levado à elaboração de muitos conceitos e, ao mesmo

tempo, a uma certa confusão conceituai sobreo tema, a ponto de

FLEURY (1998: 10) referir-se à existência de "um grande vazio do ponto

de vista teórico" a respeito da questão. A autora afirma que a exclusão

social é um conceito político, usado de forma estratégica para chamar a

atenção para as condições de pobreza e iniqüidade profundas existentes

na América Latina.

NASCIMENTO (1993: 108) procura definir o que é exclusão social

no Brasil, recuperando o processo de desigualdades vivenciado pelo povo

brasileiro ao longo de sua história. De acordo com o seu enfoque, a

exclusão é exatamente a nova questão social do país, resultado do

agravamento das iniqüidades sociais. Para este autor, a temática sofreu

duas profundas modificações nos últimos 40 anos. A primeira ocorreu nos

anos 1970, quando a desigualdade social, até então considerada um

problema a ser superado pelo desenvolvimento do país, foi substituída,

em razão dos intensos processos de migração interna ocorridos na época,

pela problematização da pobreza. A segunda modificação, que teve lugar

nos anos 1980 e correlacionou pobreza e exclusão social, decorreu de

dois fatores: a explosão da violência urbana e a sensação da

impossibilidade de ascensão social por parcela significativa da população.

BUARQUE (1993) chama este processo de "apartação social", definindo-o

como a separação de pessoas e grupos sociais do convívio da sociedade.

Assim, apartação exclusão são sinônimos do mesmo fenômeno social.

14 O processo de exclusão ou de apartação não traduz-se apenas numa desigualdade econômica e social entre pessoas ou grupos, mas sim consiste num processo que impõe diferenças entre eles. (BUARQUE,

1993: 11). Este processo atesta o agravamento das diferenças entre os ricos e pobres observado em escala mundial em razão do modelo de desenvolvimento adotado em quase todos os países. Tendo como ponto de partida a automação industrial do final do século XIX, este modelo, ao invés de gerar abundância dos produtos fundamentais ao bem-estar de todos, criou novos produtos, voltados para o consumo da elite, ansiosa por novidades. Essa situação, claramente excludente, impossibilitou o atendimento das necessidades da sociedade como um todo e criou a chamada sociedade de consumo4.

Portanto, a origem do processo de exclusão social deve ser localizada no modelo de desenvolvimento adotado pelos governos, voltado prioritariamente para as demandas de consumo das elites e não para o atendimento das necessidades da população em geral. Desse modo, todos aqueles que não são consumidores estão fora da sociedade, estão excluídos. Isso corrobora a opinião de SPOSATI (1996: 13). Para ela, a exclusão social é um fenômeno coletivo, isto é, atinge uma coletividade, um grupo social, um bairro, um determinado conjunto de trabalhadores ou mesmo toda uma classe social. É assim que este fenômeno deve ser considerado, pois, mesmo afetando pessoas direta e individualmente, age sobre as relações econômicas, sociais, culturais e políticas que permeiam a vida em sociedade.

Segundo Sposati, existem seis formas diferentes de exclusão: a estrutural, a absoluta, a relativa, a da possibilidade de diferenciação, a da representação e a integrativa.

4Embora BUARQUE (1993: 29-30) constitua a principal referência desse parágrafo, o aproveitamento mais completo de suas idéias só ocorreu depois que foram debatidas nas aulas da cadeira de Teorias das

15 A exclusão estrutural está relacionada com a questão do emprego e do desemprego originada nas estruturas do mercado, ao passo que a exclusão absoluta remete à pobreza absoluta, à miséria, características presentes no Brasil. Enquanto a exclusão relativa atinge aqueles que estão nas camadas mais baixas da população, mas que conseguiram sair da pobreza absoluta, a exclusão da possibilidade de diferenciação afeta os diferentes, seja por raça, gênero, opção sexual, religiosa, entre outros fatores. A exclusão de representação revela o grau de possibilidade de ação de todos os grupos sociais junto à sociedade, aos outros grupos sociais e ao Estado. E, por último, o tipo que a autora considera o mais perverso - a exclusão integrativa -, na qual grupos participam da lógica de acumulação debens e riquezas, mas não usufruem de suas benesses.

Ampliando o conceito, FLEURY (1998:17) assim define exclusão social como:

Um processo cultural que implica o estabelecimento de uma norma que interdita a inclusão dos indivíduos, grupos e populações em uma comunidade sócio-política. Assim sendo, os grupos excluídos estão, em geral, impedidos de participar das relações econômicas predominantes - o mercado, como produtores e/ou consumidores - e das relações políticas vigentes - os direitos da cidadania.

Com esta conceituação, a autora conclui um debate no qual foram feitas várias considerações a partir de outras definições sobre este tema. Partindo de conceito emitido em um documento do Banco Mundial5 deque exclusão é "um processo através do qual indivíduos ou grupos são inteiramente ou parcialmente excluídos da participação econômica, social ou política na sua sociedade", Fleury salienta os três fatores que

Organizações, ministradas pelo professor Fernando Tenório, do Programa de Mestrado da EBAP-FGV. 5BAIN, Katherine & HICKS, Norman. "The Struggle Against Povert Toward the Turn of the Millennium". Washington: Banco Mundial, 21-22 de abril, 1998: 6.

16 fundamentam os vários conceitos de exclusão social: carência, falta de acesso e vulnerabilidade.

Os conceitos que tratam a exclusão social como uma carência procuram mostrar este fenômeno como conseqüência de uma ausência de atributos que, se existissem, permitiriam a estas pessoas ou grupos inserir-se no mercado e na sociedade. Entre os exemplos mais comuns de atributos excludentes podem ser citadas a falta de escolaridade, a falta de habilidades profissionais e a falta de saúde.

Um outro tipo de definição de exclusão social trata a questão sob a

ótica de que a dificuldade ou ausência de acesso a bens e serviços da sociedade define e/ou determina a exclusão de pessoas ou grupos. Vale dizer, pessoas e grupos são excluídos da sociedade por falta de acesso ao crédito, à moradia, à educação, à saúde, às atividades esportivas, à cultura, à alimentação saudável.

Os conceitos que partem da questão da vulnerabilidade consideram que certos grupos sociais são excluídos por suas características intrínsecas, que os diferenciam dos grupos predominantes da sociedade.

Negros, mulheres, jovens, idosos, deficientes físicos ou mentais, trabalhadores informais e todo e qualquer grupo é excluído da sociedade e do mercado pela simples razão de ser diferente. Não se pode deixar de observar que este é o princípio do processo de exclusão social e, principalmente, da apartação social, vista como separação daqueles que são diferentes da elite social, conforme mencionado por BUARQUE

(1993).

Os conceitos que partem desses fatores colocam a exclusão social como a possibilidade ou não de indivíduos participarem das relações econômicas da sociedade. Dito de outra forma, este fenômeno é conceituado como a capacidadeou a incapacidade individual de participar

17 como produtor debens ou serviços e/ou consumidor da vida econômica da sociedade.

Fica claro que tal redução conceituai não é condizente com a realidade. A exclusão social não é apenas um fenômeno econômico e pessoal. Seu conceito é bem mais amplo. Fleury, no mesmo trabalho já citado aqui, amplia-o, chegando, como vimos anteriormente, a considerar a exclusão como um processo cultural. Corroborando esse ponto de vista e aprofundando-o, Sposati afirma que a exclusão não é um fenômeno individual, mas sim de grupo social.

Não se pretende negar aqui a fundamentação da exclusão como um processo econômico, mas destacar a existência de processos de exclusão baseados em fatores políticos, nos quais a negação da cidadania pelo impedimento dos direitos políticos é fator preponderante: os excluídos não pertencem à comunidade de direitos, sendo portanto excluídos de outras relações, inclusive as econômicas.

A conseqüência ou aprofundamento desta situação é a criação de normas legais que institucionalizem a diferença e a exclusão. Tem-se então a apartação legal de grupos sociais. Os maiores exemplos sãoo nazismo em relação aos judeus, aos ciganos e a outros grupos; a legislação do apartheid da África do Sul, a legislação de segregação racial dos estados do sul dos EUA, entre outros (FLEURY, 1998: 10-18;

BUARQUE, 1993: 14-17). Dentro dessa mesma perspectiva pode-se ainda citar REIS (1995: 38):

Se a desigualdade é um fenômeno sócio-econômico, a exclusão é sobretudo um fenômeno cultural e social, um fenômeno da civilização. Trata-se de um processo histórico através do qual uma cultura, por via de um discurso de verdade, cria o interdito e o rejeita.

Portanto, a exclusão social é um fenômeno que vai além da questão econômica. Trata-se também de uma questão política, social e cultural. Os

18 excluídos são os não-cidadãos, são aqueles que não podem, muitas vezes legalmente, participar da sociedade e de suas relações.

Fundamentalmente, devemos observar que a "exclusão social moderna" (NASCIMENTO, 1993: 109) é conseqüência de fatores que dificultam a obtenção da condição de cidadão por todos os que fazem parte da sociedade. E esse processo vem se agravando rapidamente no

Brasil.

Para este trabalho, a definição de exclusão social a ser considerada leva a discussão para além dos aspectos econômicos e volta-se, principalmente, para a negação dos direitos da cidadania no âmbito da sociedade. Portanto, para se entender quem são os excluídos, deve-se ter a clara noção do que é cidadania e quais são as suas bases e os seus direitos.

2.2 - Cidadania

Assim como a exclusão social, o conceito de cidadania vem sendo objeto da atenção de vários autores e de várias áreas de conhecimento ao longo do tempo. Cidadania, segundo AURÉLIO (1996: 403), é a

"qualidade ou estado de cidadão"; e cidadão é o "indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este".

Esta definição segue a trilha clássica aberta por MARSHALL (1963), a partir da qual pode-se inferir a existência de três partes, elementos ou dimensões da cidadania: a civil, a política e a social. MARSHALL (1963:

63-64) observa que estes tipos de dimensões da cidadania foram sendo conquistados lentamente pelo povo inglês, objeto de sua pesquisa.

Estarei fazendo o papel de um sociólogo típico se começar dizendo que pretendo dividir o conceito de cidadania em três partes. Mas a análise é, neste caso, mais ditada pela história doque pela lógica. Chamarei estas três

19 partes, ou elementos, de civil, política e social. O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual - liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à propriedade e a concluir contratos válidos e o direito à justiça. Este último difere dos outros porque é o direito de defender e afirmar todos os direitos em termos de igualdade com os outros e pelo devido encaminhamento processual. Isto nos mostra que as instituições mais intimamente associadas com os direitos civis são os tribunais de Justiça. Por elemento político se deve entender o direito de participar no exercício do poder político, como um membro de um organismo investido da autoridade política ou como eleitor dos membros de tal organismo. As instituições correspondentes são o parlamento e conselhos do governo local. O elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições mais intimamente ligadas com ele são o sistema educacional e os serviços sociais.

A dimensão civil, composta pelos direitos à liberdade individual, começou a se fazer respeitar na Inglaterra a partir do século XVIII, em razão de dois fatores: as batalhas judiciais por direitos individuais começaram a ser vencidas pelos cidadãos, inclusive contra a Coroa inglesa e por motivos econômicos, pois neste momento foi garantido o acesso de todos a todas as profissões, rompendo o monopólio das corporações de ofício

A dimensão política emergiuna Inglaterra no século XIX, significando a extensão do direito de votar e de ser votado a todos, sem distinção de sexo, classe, idade ou qualquer outro fator. Este processo não terminou no século XIX. A luta pela universalização dos direitos políticos ainda hoje subsiste em várias partes do mundo (MARSHALL,

1963:69-73).

A dimensão social tem relação com o direito de toda a comunidade participar das vantagens do bem-estar econômico, assegurando a todos o acesso a padrões de vida que prevaleçam na sociedade. É o direito de pertencer, é a inclusão social, processo que em muitas partes do mundo, inclusive no Brasil, é extremamente incipiente. Embora tenha sido alvo de

20

BIBLIOTECA MARIO HENRIQUE SWONStK FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS muitas críticas, o esquema de interpretação da questão da cidadania elaborado por Marshall serviu de ponto de partida para a evolução do conceito e a construção de outras tipologias da cidadania.

Em termos de conceituação de cidadania, este trabalho adota aquela explicitada por TENÓRIO (1998 [1], 19), quando fala da "cidadania deliberativa" de Habermas:

Esta concepção de cidadania (...) é entendida como uma ação política deliberativa, na qual o indivíduo deve participar de um procedimento democrático, decidindo, nas diferentesinstâncias de uma sociedadee em diferentes papéis, seu destino social como pessoa, quer como eleitor, quer como trabalhador ou como consumidor, ou seja, sua autodeterminação não se dásob a lógica do mercado, mas da democracia social: igualdade política e decisória.

Este conceito ampliaa questão da cidadania para alémde uma simples questão de possuir ou não direitos. Portanto, a cidadania não é uma benesse do Estado para com o cidadão, mas sim a conseqüência de um processo de conquista, através da participação e da cooperação entre as pessoas e osgrupos sociais. A cidadania, segundo Tenório, inclui a participação da população nas decisões que dizem respeito à comunidade, devendo ser garantida às pessoas participação ativa nos processos decisórios em todas as instâncias comunitárias relacionadas com o dia-a-dia de cada cidadão. Esta participação se dá no trabalho

(empresa), no bairro, na escola do filho, no clube esportivo, enfim em todos os lugares freqüentados ou que de alguma forma influenciam a vida da pessoa.

Adotado este conceito de cidadania, torna-se necessário o exame da questão no Brasil. Para realizar esta análise, foi necessário recorrer às tipologias de cidadania. A primeira tipologia utilizada é a de TURNER

(1990, apud CARVALHO, 1996: 338-339). Com base numa análise histórica, Turner observa a direção do movimento de conquista dos

21 direitos da cidadania (se ocorreu de baixo para cima ou de cima para baixo, isto é, se foi uma conquista da populaçãoou uma cessão do Estado e/ou das elites) e se este processo aconteceu na esfera pública ou privada. A segunda tipologia adotada é a elaborada por ALMOND &

VERAS (1965, apud CARVALHO, 1996: 338-339), na qual, a partir da cultura política, são construídos tipos de relação entre a sociedade

(população) e o Estado/elites (sistema político). E, finalmente, uma terceira tipologia é baseada nos modelos normativos de democracia de Habermas (apud TENÓRIO, 1998: 17-19), na qual, partindo de conceitos de ação política, são construídas conceituações para cidadania liberal, republicana e deliberativa.

A tipologia de Turner, concebida a partir das diferentes historiografias nacionais, possui dois eixos analíticos. O eixo vertical indica a direção do movimento que a gerou, de baixo para cima ou de cima para baixo. Nessa perspectiva, um processo de luta por direitos civis ou políticos constitui um movimento de baixo (população)para cima (elites políticas e/ou econômicas e o Estado). Nesta situação, os direitos são conquistados pela maioria em relação à minoria. No sentido oposto, o

Estado e as elites dominantes cedem direitos civis e políticos à população, através de um processo lento, gradual e altamente controlado. Os direitos sociais neste caso tornam-se benesses, usadas como paliativo em momentos conturbados do ponto de vista social e político.

O eixo horizontal tem a ver com o fórum no qual ocorre o embate pelos direitos da cidadania. Se na esfera pública, os direitos são conquistados ou cedidos pelo Estado; se na esfera privada, a disputa pelos direitos dá-se pela afirmação de direitos de grupos sociaisfrente a outros grupos.

A junção dos dois eixos constrói uma figura, que,por sua vez, define quatro tipos diferentes de cidadania:

22 23 Figura 1

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1 2

i

-> 4

Eixo Dicotômico Público-Privado

Figura 1 - Adaptado dos Eixos Históricos da Cidadania de TURNER

(1990), apud CARVALHO (1996, pg. 338-9).

O tipo 1 é uma cidadania conquistada de baixo para cima e dentro do espaço público. Normalmente, neste caso, a cidadania é conseqüência de um processo revolucionário e transforma um Estado em nação

(CARVALHO, 1996: 338). A tomada do poder pelas forças populares é a geradora deste tipo de cidadania. O exemplo francês é citado como o mais significativo deste caso.

No tipo 2 - no qual a cidadania também é conquistada de baixo para cima, mas no espaço privado -, remete ao exemplo norte-americano. Nos

Estados Unidos, a cidadania foi conquistada através do relacionamento de organizações e associações de pessoas de defesa de interesses comuns.

Este processo foi lento e os grupos mais fortes (econômica, política e/ou socialmente) impuseram suas condições e suas idéias. NeleoEstado tem

24 uma participação menor. A Constituição do país ilustra bem essa situação,

uma vez que possibilita a introdução de modificações profundas no dia-a-

dia da nação, sem a necessidade alterar seu texto, isentando o Estado de

muitas intervenções.

O caso mais famoso é o da escravatura, que, no século XIX, existia

em alguns estados dos EUA e não mais em outros e que foi abolida

nacionalmente sem modificações no texto constitucional. O processo de

luta em prol dos direitos civis pelos antigos escravos durou mais de um

século e, nos estados do sul, a conquista definitiva destes direitos só começou a se consolidar nosanos 60-70 do século XX.

Um processo de universalização da cidadania ocorrido no espaço

público e de cima para baixo, com cessão, e não conquista, de direitos da cidadania pelo Estado à população compõe o tipo 3 do esquema de

Turner. Neste caso, parcelas da população vão recebendo do Estado uma série de direitos (civis, políticos e sociais), de forma lenta e negociada. O caso inglês é o mais típico, principalmente observando o processo descrito por Marshall, em seu estudo já citado aqui. O cidadão inglês é súdito da Coroa, devendo-lhe obediência e dela recebendo seus direitos.

O cidadão como soldado da sociedade é o símbolo do tipo 4, no qual a cidadania é cedida no espaço privado. O cidadão tem deveres e deve ser leal para com a sociedade ou com os grupos aos quais pertence.

Um Estado formado a partir de uma nação ou de várias é o exemplo típico deste caso. Por isso o caso alemão é citado.

ALMOND & VERAS (apud CARVALHO, 1996: 338) criaram uma tipologia sobre culturas políticas que serve de referência para uma tipologia de cidadania, quanto à sua dimensão política. Eles consideram a existência de três tipos de relação entre a população e o Estado: a paroquial, a súdita e a participativa.

25 Na paroquial, o sistema político não representa a vontade da população, sendo esta totalmente alienada do processo político. Na súdita, o sistema político tem a função de informar à população as decisões político-administrativas, mas impede sua participação neste processo decisório. Na participativa, as pessoas não só percebem, participam, em maior ou menor grau, do processo decisório, como são membros ativos do sistema.

Carvalho observa que estes tipos não existem de forma pura na sociedade. Na realidade, existem situações nas quais tende-se para um tipo ou outro em um grau maior ou menor, o que parece sugerir um esquema de continuum triangular, em que os tipos puros encontram-se nas vértices do triângulo e as relações entre Estado e a sociedade no seu interior.

26 Figura 2

Figura 2 - Esquema de tipos de relações Estado - sociedade para definição da cidadania política, segundo ALMOND & VERAS, citados

por CARVALHO, 1996, pg. 338.

Na tipologia de Turner de baixo para cima, o cidadão participante é ativo e conquistador de seus direitos. O cidadão súdito é não ativo e recebe direitos do Estado, de cima para baixo. As pessoas que vivem numa sociedade de relações paroquiais são não-cidadãos, recebem favores e não direitos (CARVALHO, 1996: 339).

A terceira tipologia aqui usada, a de Jürgen Habermas, é explicitada por TENÓRIO (RAP, 32(5): 7-23, set/out, 1998) 6. Nela são observados três tipos de conceitos de cidadania: a liberal, a republicana e a deliberativa. De acordo com o primeiro tipo, o conceito de cidadão é

6Todas ascitações do texto de Tenório foram retiradas de HABERMAS, Jürgen, "Três modelos normativos de democracia". In: Lua Nova - Revista de Cultura e Política. São Paulo, Centro de Estudos de Cultura Contemporânea. (36):39-53, 1995.

27 definido em função dos direitos subjetivos que ele tem diante do Estado e

dos demais cidadãos em prol de seus interesses privados dentro dos

limites legalmente estabelecidos. Sob o segundo conceito, o cidadão não

é aquele que usa a liberdade só para o desempenho como pessoa

privada, mas sim tem na participação uma prática comum cujo exercício é o que permite aos cidadãos se converterem no que querem ser - atores

políticos responsáveis por uma "comunidade de pessoas livres e iguais"-, já que se espera dos cidadãos muito mais do que meramente se orientarem por seus interesses privados.

A esta análise comparativa, Habermas acrescenta uma outra maneira conclusiva do significado de cidadão - o modelo da deliberação. A cidadania deliberativa é assim definida por Tenório (1998, 19):

Esta concepção de cidadania (...) é entendida como uma ação política deliberativa, na qual todo indivíduo deve participar de um procedimento democrático, decidindo, nas diferentes instâncias de uma sociedade e em diferentes papéis, seu destino social como pessoa, quer como eleitor, quer como trabalhador ou como consumidor, ou seja, sua autodeterminação não se dá sob a lógica do mercado, mas da democracia social: igualdade política e decísória.

Habermas refere-se, portanto, a três cidadanias. Na liberal, os cidadãos estão em busca da garantia de seus interesses privados e pessoais, que prevalecem sobre os coletivos, dentro dos limites da lei, enquanto na republicana os cidadãos buscam ter uma atuação política mais efetiva em prol da comunidade. Já na cidadania deliberativa, a busca do diálogo e da solução dos problemas da comunidade pela participação de todos nos processos decisórios é a sua características mais marcantes.

A partir destas três tipologias e das categorias metodológicas por elas definidas pode-se proceder a uma análise das condições da cidadania no Brasil. Cabe destacar que esta análise não tem a pretensão

28 de ser, de forma alguma, exaustiva e definitiva, pois leva em consideração

apenas os limites deste trabalho e as suasbases teóricas.

De qualquer modo, pode-se afirmar que, no Brasil, de acordo com a

tipologia de Turner e em virtude da ausência de organizações civis fortes

e de um processo revolucionário popular, o caminho trilhado na questão

da conquista dos direitos da cidadania é o da cessão destes direitos, pelo

Estado e pelas elites, à população. Vale dizer, no eixo vertical da tipologia

de Turner tem-se um processo de cessão dos direitos da cidadania de

cima (Estado e elites) para baixo (população). No eixo horizontal, a

tradição brasileira de um Estado forte e a sua relação com a sociedade só

permitem que este processo aconteça no espaço público.

Vale observar que esta análise leva ao tipo 3 de cidadania na

tipologia de Turner, na qual o melhor exemplo é a Alemanha. Existem,

contudo, muitas diferenças no processo da formação das cidadanias

brasileira e alemã. Enquanto na Alemanha o cidadão é um soldado do

Estado, no Brasil o Estado atua em relação à sociedade favorecendo a

alguns grupos privilegiados. Para a maioria excluída dos privilégios, o

aparelho estatal deve atender às suas necessidades pessoais e não as da

coletividade. Como afirma CARVALHO (1996: 339), "o Estado coopta

seletivamente os cidadãos e, de outro, os cidadãos buscam o Estado para

o atendimento de seus interesses."

Segundo à tipologia de Almond e Veras, observa-se no Brasil uma

cidadania tipo súdita com tendência à paroquial. Dito de outra maneira, existe no país uma cidadania inativa e grande parte da populaçãoé

mantida excluída dos direitos da cidadania, sendo assim não-cidadãos.

Isso pode ser explicado pelo processo de formação da cidadania no

Brasil, que ocorreu pela cessão de direitos pelo Estado e pelas elites à

população, num processo de cima para baixo, produzindo uma

29 desmobilização desta mesma população e completando um círculo vicioso.

Já de acordo com a tipologia de Habermas, a cidadania brasileira pode ser enquadrada como liberal, pois a relação entre cidadãos e Estado tem como fator principal a busca devantagens dos interesses privados de cada um.

A junção destas três tipologias para a análise da cidadania brasileira produz um quadro no qual se tem uma cidadania "cedida pelo Estado à população", em um processo de cima para baixo (Turner), que gera uma relação Estado-sociedade, conforme a definição de Almond e Veras, do tipo súdita, com tendências a uma relação do tipo paroquial (cidadãos inativos, muitas vezes não cidadãos). Aqueles que são escolhidos cidadãos têm uma visão liberal (Habermas) desta cidadania e mantêm com o Estado uma relação em que buscam obter vantagens pessoais e defender seus interesses privados.

Obviamente, a comparação entre a realidade e a referência teórica aqui explicitada leva a algumas reflexões, sobretudo em razão das inúmeras coincidências7. De qualquer modo, o quadro real de negação da cidadaniacoloca pelo menos duas questões fundamentais: é possível reverter estasituação no Brasil? quais podem ser os caminhos para isso ser alcançado? TENÓRIO (1998: 206) aponta-nos algumas possibilidades:

Qual a possibilidade de alterar este quadro de anticidadania? Pensadores como Claus Offe, Guerreiro Ramos, Guy Debord, Herbert Marcuse, Hilary Wainwright, Jürgen Habermas, Max Horkheimer, Robert Kurs e Viviane Forrester apontam a necessidade de formação de uma consciência crítica sobre a realidade sócio-econômica; o engajamento em formas associativas de questionamento das condições existentes, nas quais se procure vivenciar um conjunto de valores alternativos à lógica de mercado; a desmistificação do saber relacionado à gestão, através da crítica de seus pressupostos e do esforço para adotar uma prática de gestão participativa.

7Estas reflexões serão explicitadas na conclusão deste trabalho.

30 Estes parâmetros são considerados nesse estudo principalmente porque a mobilização paraa participação no conjunto de atividades oferecidas aos integrantes da comunidade mangueirense pelo Projeto

Mangueira dar-se-á pelo esporte, não como fator de competição, isto é, mantendo-se a visão mercadológica, mas tendo o esporte como um fator de educação e de valorização social de seus praticantes. Para a compreensão do papel do esporteneste processo é necessário deixar claro o que entendemos por esporte e qual é seu papel social.

2.3 - Esporte - em busca de uma definição

O termo "esporte" é uma contração de "sair do porto" ou "desportar- se", expressões usadas pelos marinheiros europeus no século XIV, quando se envolviam com passatempos em que as habilidades físicas eram fundamentais (TUBINO, 1994). Hoje em dia, o significado deste termo é muito diferente. O esporte moderno, assim denominado para diferenciar-se das manifestações esportivas da antigüidade, vem da

Inglaterra do século XIX e tem na figura de Thomas Arnold, diretor do

Colégio Rugby entre 1828 e 1842, o seu primeiro grande teórico. Este educador, fortemente influenciado pelas idéias de Charles Darwin, considerava que o esporte deveria ser utilizado na seleção dos melhores e dos mais capazes (TUBINO, 1992).

Analisandoo esporte moderno, BENTO (1991:14) observa que na atualidade o esporte possui várias "facetas, contornos e sentidos", devendo ser, por isso mesmo, entendido como uma atividade plural. Temos, portanto, não mais um esporte, mas vários esportes. É o desporto plural que surge como domínio tecnológico, como atividade profissional, como comércio e negócio, como artigo de consumo, como indústria de entretenimento, como empreendimento de saúde, como campo e fator de socialização, educação e formação.

31 Para chegar a esta condição de atividade plural, o fenômeno esportivo sofreu profundas transformações em suas características ao longo dos dois últimos séculos. O esporte moderno, do início do século

XIX até a década de 30 do século XX (1936), possuía características bastante claras: o associativismo, o fair-play e a clássica dicotomia amadorismo X profissionalismo.

O associativismo, característica fundamental da atividade esportiva, possibilita ao esporte atender a uma das maiores e mais permanentes das necessidades humanas: o contato social. Pereira, citado por TUBINO

(1992), observa que o associativismo presente nas atividadesesportivas é uma vitória sobre a alienação esportiva e social das pessoas. Este processo de associação entre as pessoas é conseqüência natural da necessidade de se mobilizar recursos e esforços para a viabilização destas atividades. O fair-play está diretamente ligado à restauração do movimento olímpico, constituindo a referência fundamental da ética esportiva (TUBINO, 1992).

A dicotomia amadorismo X profissionalismo marcou profundamente o esporte até os anos 1980, quando o profissionalismo disfarçado e a farsa do amadorismo foram definitivamente afastados do cenário esportivo mundial. É interessante observar que a palavra "amador" tem sua origem no termo inglês gentleman amateur, que distinguia, no século XIX, os estudantes de origem nobre de outros estudantes em escolas inglesas, tais como Oxford e Cambridge. Portanto, este termo servia para diferenciar inicialmente os jogadores nobres e abastados dos demais jogadores (MCINTOSH, 1975: 219).

O ano de 1936 significou um dos momentos mais marcantes e transformadores para o esporte. Nesse ano, mais especificamente durante os Jogos Olímpicos de Berlim, o esporte passou a servir claramente a objetivos políticos e à propaganda de ideologias. Hitler utilizou-se da

32 Olimpíada para demonstrar a força de seu regime, a recuperação da

Alemanha e a pseuda-supremacia da raça ariana (TUBINO, 1992). Apesar de as potências vencedorasda 2a Guerra Mundial propagarem a versão do fracasso desta estratégia, em razão das vitórias do atleta negro norte- americano Jesse Owens, a força do regime hitlerista, a capacidade organizativa do povo alemão e, principalmente, a força do esporte como agente aglutinador e divulgador dos sistemas políticos foram observadas e aprendidas por todos os países, principalmente pelas grandes potências emergentes da 2a Grande Guerra, os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Seguindo o exemplo nazista, EUA e URSS montaram, paralelamente às suas máquinas de guerra, grandes estruturas esportivas utilizadas permanentemente na divulgação das vantagens de seus regimes.

O processo de aproveitamento político do esporte ocasionou, nos anos 1960, uma profunda revisão conceituai no entendimento do que seria esporte, marcada por três conjuntos de ações: as manifestações dos intelectuais da área contra o excessivo aproveitamento do esporte como arma política e as distorções causadas à atividade esportiva por esses processos8; a publicação dos Documentos esportivos filosóficos internacionais9 e o surgimento do movimento internacional "Esportes para todos"10, sob os auspícios da Unesco (TUBINO: 1992).

Entendido anteriormente apenas como a atividade praticada por atletas, sob o comando de organizações particulares e possuidor de leis

Estes protestos dirigiam-se contra uma visão do fenômeno esportivo que considerava como esporte apenas as competições formais. São autores destacados deste processo Carzola Prieto, Noronho Feio e Manuel Sérgio, entre outros (TUBINO, 1992: 11). Os documentos mais conhecidos são o Manifesto Mundial do Esporte, de 1964, e a Carta Internacional de Educação Física e Desportos, de 1978, ambos editados pela Unesco (TUBINO - 1993, 12). 10No Brasil, o movimento "Esporte para Todos" ficou conhecido principalmente pela campanha publicitária intitulada "MEXA-SE".

33 próprias e imutáveis, o esporte evoluiu conceitualmente para o envolvimento de todas as possibilidades da atividade motora humana que objetivem o lazer, o prazer, a satisfação, entre outros aspectos sociais e psicológicos.

Atualmente o esporte é um dos temas mais discutidos nos estudos referentes à sociedade, seja em razão do aumento de tempo de lazer, conseqüência talvez dos avanços tecnológicos, seja das mudanças na organização de produção, seja ainda das conquistas sociais dos trabalhadores, ou, em síntese, em razão de sua transformação no fenômeno social de massas mais marcante deste fim de século.

2.4 - O esporte como fenômeno social

O esporte como fenômeno social é apresentado a todos na infância, assim como a língua e a religião. Em muitas sociedades, não gostar de esporte, principalmente do "esporte nacional", é uma atitude incomum e muitas vezes excludente para com o indivíduo. No Brasil é estranho ouvir um homem falar que não torce por nenhuma equipe de futebol.

O entendimento do esporte como fenômeno social do mundo moderno dá-se como um fato social construído, que existe fora das consciências individuais, que se torna imperativo à vida das pessoas, influenciando costumes e hábitos (HELAL, 1990). Sua importância social pode ser observada pelo espaço de mídia reservado ao acompanhamento destas atividades, inclusive com a existência de jornais, revistas e canais de TV a cabo totalmente dedicados ao esporte. Gozando de grande apelo popular, o esporte já é considerado um dos mais importantes fenômenos sociais do final do século XX (TUBINO, 1992) e, por essa razão, vem sendo objeto de vários estudos.

Destes estudos cabe destacar três, que enfocam a atividade esportiva como fenômeno social. COTTA (1981) observa as

34 características e funções sociais do esporte moderno. Segundo este autor,

o esporte do ponto de vista social é um meio de socialização; favorece a

atividade coletiva e o desenvolvimento da consciência comunitária; uma

atividade de prazer, para quem participa ou para quem observa; um meio

de coesão social, favorecendo a identidade ou representando

simbolicamente o corpo esportivo da nação e exerce um papel

compensatório contra o excesso de industrialização da sociedade

humana, em razão do prazer que a atividade esportiva proporciona.

Um segundo estudo a ser contemplado é o de PRIETO (1979). Nele o autor procura fundamentar a relevância social do esporte na sociedade contemporânea, determinada por um conjunto de fatores: a dupla

perspectiva da atividade esportiva, seja como fenômeno social universal ou como instrumento de equilíbrio social; o consumismo esportivo; os espetáculos esportivos; os valores que o esporte leva à sociedade; o

impacto social do associativismo esportivo; e a difusão do esporte pelos

meios de comunicação.

O terceiro estudo, o de BENTO (1991), investiga as razões e

motivações de cada um paraa prática esportiva e as suas funções

sociais. O autor refere-se a levantamentos realizados em vários países que revelam, com pequenas alterações, os principais motivos e razões

paraa prática esportiva: a alegria e o prazer das atividades; a saúde, seja sua recuperação ou sua manutenção; a recreação; o contato pessoal e a comunicação com outras pessoas e, em último lugar, o reconhecimento

pessoal e o rendimento atlético.

Fundamentais para a compreensão do esporte como fenômeno social, estes três estudos nos oferecem elementos acerca da função e da

relevância do esporte na sociedade e das razõese motivações pessoais que levam à prática esportiva.

35 A visão do esporte como um fenômeno social plural - isto é, que abrange várias manifestações nas quais o movimento humano está presente com objetivos diversos - rompe com a visão singular do esporte como uma manifestação fechada e restrita a espaços especializados e a pessoas particularmente dotadas para performances especiais. É esse conceito plural da manifestação esportiva que norteia este trabalho.

36 CAPÍTULO 3 - O PROJETO MANGUEIRA11

3.1 - História do Projeto Mangueira

Criado em 31 de julho de 1987, o Projeto Mangueira tem origem difícil de determinar, pois vários dos depoimentos sobre como surgiram as atividades sociais que o projeto aglutinou e institucionalizou são contraditórios. Ainda assim, pode-se afirmar que anteriormente à implantação do projeto propriamente dito várias atividades foram desenvolvidas na comunidade mangueirense. Podem ser citadas as do núcleo do Programa de Iniciação Esportiva (Priesp) da Fundação Roberto

Marinho (1984); as colônias de férias da extinta Legião Brasileira de

Assistência (LBA) (1984, 1985, 1986); as atividades desenvolvidas por diversos projetos da Secretaria de Esportes e Lazer da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro (1986 em diante) e várias outras, promovidas por diferentes entidades públicas e privadas. Contudo, praticamente nenhuma delas levava em conta as necessidades e expectativas da comunidade e muito menos a sua cultura esportiva e a opinião de seus líderes. Foi essa visão que impediua continuidade desses projetos, uma vez que a comunidade não demonstrava um interesse mais efetivo por suas atividades.

Segundo o relato do professor Francisco de Carvalho, conhecido como "Chiquinho da Mangueira", diretor-geral do Projeto Social da

Mangueira, a descontinuidade das atividades voltadas para a criança através do esporte causava uma imensa preocupação nas lideranças da comunidade e na direção da escola de samba. Segundo ele, havia a nítida noção na população local e nas lideranças de que a Mangueira estava sendo utilizada como instrumento de promoção para ações e instituições

11 As informações deste capítulo foram retiradas das entrevistas, dos depoimentos e dos documentos internos e de divulgação do Projeto Mangueira, referenciados na bibliografia.

37 que, na realidade, colaboravam muito pouco com a comunidade ou, o que

é pior, apenas a exploravam.

Foi então que Carlos Alberto Dória, presidente da escola de samba em 1987, e o professor Chiquinho decidiram criar um projeto da própria

Mangueira, utilizando o espaço da quadra de ensaios da escola de forma permanente e não permitindo que iniciativas de outras entidades fossem realizadas no interior da comunidade mangueirense nas quais a direção do projeto não influísse. É interessante observar que havia na comunidade a consciência da necessidade de que acontecessem atividades voltadas às crianças e aos adolescentes dentro da escola de samba ou que a ela fossem ligadas. E isso era de certo modo facilitado pelo fato de o tráfico de drogas não utilizar nenhuma criança ou jovem que freqüentasse a escola de samba ou qualquer atividade ligada ou organizada por ela. Portanto, quanto mais numerosas e atraentes fossem as atividades, um maior número de crianças estaria livre do assédio do tráfico12.

No início, o Projeto Mangueira foi constituído por três projetos: o

Projeto Esportivo da Vila Olímpica, no espaço já existente na quadra da escola de samba; o Projeto Cultural Mangueira do Amanhã, idealizado e dirigido pela cantora Alcione, que deu origem à Escola de Samba Mirim; e o Projeto de Saúde, voltado ao atendimento médico dos participantes dos dois outros projetos.

Com o desenvolvimento do projeto esportivo (ou projeto olímpico) e o ingresso de um grande número de participantes em suas atividades, surgiu um problema decorrente das pequenas dimensões doespaço físico da quadra, que passou a ser disputado pelo Projeto Esportivo da Vila

Olímpica e pela própria escola de samba. Numa tentativa de resolver a

38 questão, o professor Chiquinho, responsável pelo projeto esportivo, e diretores da escola de samba resolveram procurar um espaço para a instalação da Vila Olímpica da Mangueira e acabaram encontrando um terreno abandonado da Rede Ferroviária Federal,localizado em frente ao morro. A área foi cedida por 30 (trinta) anos à comunidade, renováveis indefinidamente, com a condição de que a sua utilização fosse voltada para atividades esportivas e sociais e que não tivesse fins lucrativos.

Em 1988 foi criado o Círculo de Amigos do Menino Patrulheiro -

Projeto CAMP - Mangueira, voltado para educação para o trabalho e tendo como público-alvo os adolescentes da comunidade. Financiado por cerca de 170 empresas que contratam estes jovens como novos trabalhadores e/ou estagiários, o projeto conta ainda com a doação de equipamentose a participação de instrutores. Algumas empresas e instituições de ensino oferecem uma ajuda mais específica. Este é o caso da Xerox do Brasil, que aderiu ao projeto em 1988 e é responsável pelo curso de formação de operadores de máquinas reprografia, e do Colégio

Santa Mônica, que oferece cursos de datilografia e informática.

Em 1989 foram inaugurados o ginásio - construído pelo governo do estado do Rio de Janeiro, com tecnologia idêntica à dos ginásios dos

Centros Integrados de Educação Pública (ClEPs) - e o posto médico, doado pelo governo federal e mantido pela Golden Cross. Em 1991 foram construídos a pista de atletismo e o campo de futebol, com patrocínio da

Xerox do Brasil, que mantém e custeia toda a infra-estrutura e as necessidades de material e de pessoal do Projeto Olímpico da Mangueira.

Em dezembro de 1993 foi inaugurado, dentro da Vila Olímpica, o

CIEP Nação Mangueirense, que passou a responder pela implementação do projeto educacional na Mangueira. Este CIEP foi construído - e é

12 A relação escola de samba-tráfico de drogas na Mangueira é sigilosa, constituindo assunto sempre evitado nas entrevistas realizadas. Na época da criação do projetoe por muitos anos, a liderança do tráfico

39 mantido - pelo governo do estado, tornando-se a única escola pública de

1o grau do município do Rio de Janeiro sob sua responsabilidade.

Posteriormente foram criados os subprojetos da Orquestra Afro-Brasileira

(1994), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e do Centro Sócio-Cultural (1995), mantido pelaSecretaria Municipal de

Desenvolvimento Social (SMDS). Em 1997, o governo federal financiou, a fundo perdido, a instalação de grama sintética no campo de futebol e piso sintético no ginásio e na pista de atletismo.

O Projeto Social da Mangueira foi agraciado com diversos prêmios nacionais e internacionais. À guisa de exemplo, em 1993 a BBC de

Londres elegeu-o o "melhor projeto social da América Latina", e em 1997 considerou-o "modelo de desenvolvimento social para o Terceiro Mundo".

Nesse mesmo ano, a Unesco reconheceu-o como o "melhor projeto sócio- cultural dos países em desenvolvimento". O prêmio foi entregue pelo presidente dos EUA, Bill Clinton, quando visitou a comunidade.

3.2 - Objetivos, metas e justificativas do Projeto Mangueira

O Projeto Mangueira foi criado, segundo o professor Francisco de

Carvalho, em razão de três fatores:

1. a grande ociosidade observada entre as crianças e os adolescentes da comunidade (mesmo existindo várias atividades na

Mangueira, nenhuma delas mobilizava esses contingentes);

2. a falta de perspectiva de futuro detectada pelas lideranças nas crianças e nos adolescentes; e

3. o grande interesse manifestopor esses grupos por atividades esportivas que levassem à competição.

O somatório desses três fatores deixava evidente a necessidade de se promover atividades esportivas que atraíssem crianças e adolescentes,

na comunidade foi exercida por uma única pessoa, que respeitava as regras.

40 abrindo possibilidade para que eles viessem a participar de competições.

Deve-se observar que, na época da criação do projeto, havia uma grande discussão, que ainda hoje faz-se presente, dentro da área esportiva e, principalmente, entre os professores de educação física, sobre como levar o esporte e as atividades físicas para crianças. Em outras palavras, a atividade física deve ser apresentada através do esporte? Caso afirmativo, o esporte deve ser apresentada como algo em que a vitória é fundamental? Ou deve ser contemplado como uma atividade lúdica e recreativa, voltada parao desenvolvimento da pessoa? Vários autores discutem este assunto (Bento, Betti, Carvalho, Tubino, Lamartine, entre outros), prevalecendo o argumento segundo o qual, na escola e no trabalho comunitário, o esporte deveria ser abandonado em prol das atividades lúdicas e descomprometidas com a competição (DAOLIO,

1999). Essa perspectiva tornou, com o tempo, as atividades de educação física escolar e comunitária pouco atraentes para a sua clientela típica: crianças e adolescentes.

Diante disso, ficou cada vez mais visível a necessidade de promover atividades que atendessem aos anseios das crianças e dos adolescentes quanto ao movimento, ao jogo e brincadeiras, à competitividade, à melhoria das condições gerais de saúde e de desenvolvimento (atendimento médico, odontológico, alimentar, apoio social e psicológico etc), à melhoria das condições de estudo e preparação para o mercado de trabalho, à manutenção da tradição cultural da comunidade e de sua identidade, entre outros fatores. O professor Francisco de Carvalho assim expressa as preocupações da

Mangueira a esse respeito:

O que a Mangueira queria, e aqui Mangueira quer dizer suas lideranças e a diretoria da escola de samba, era evitar queperdêssemos mais uma geração nas drogas e morta em guerras do tráfico, como estava

41 acontecendo. Queríamos fazer algo e o esporte era onde todos se encontravam, mais até que no samba, pois samba na Mangueira, em razão de brigas, dividia e não unia.

O Projeto Mangueira foi criado voltado ao atendimento de crianças e adolescentes da comunidade da Mangueira na faixa de 4 a 17 anos. Esse intervalo de idades permitiu que o projeto também atendesse pessoas de fora da comunidade. É comum encontrar-se no projeto crianças moradoras em bairros de classe média baixa do entorno da Mangueira

(São Cristóvão, Vila Isabel, Maracanã, Rocha, Riachuelo etc). Por sua vez, principalmente no posto médico, são atendidas pessoas de todas as idades, sendo prioritárias as questões pertinentes à terceira idade e aos deficientes físicos e mentais.

O Projeto Mangueira tem como objetivo geral (PROGRAMA

SOCIAL DA MANGUEIRA: 1987, 6):

Mobilizar órgãos públicos e empresas privadas paraa realização de um trabalho conjunto voltado ao resgate da cidadania e à consciência do papel social que cada indivíduo tem na sociedade, através do oferecimento de atividades voltadas para a educação integral, o esporte, a saúde, a cultura e o trabalho.

Seus objetivos específicos são os seguintes:

• educar e sociabilizar através da prática das diversas modalidades esportivas oferecidas na Vila Olímpica;

• investir maciçamente no futuro de suas crianças e adolescentes, oferecendo-lhes educação de qualidade, informandoe formando-os, no

CIEP 241 Nação Mangueirense e nas outras escolas da área;

• complementar a educação de adolescentes, através da integração destes ao mercado de trabalho, oferecendo aulas de datilografia e informática, através da parceria com o Colégio Santa

Mônica, que oferece os profissionais e equipamentos;

42 • preservar a identidade cultural, preservando a cultura local;

• prestar assistência médica, odontológica e social à comunidade e adjacências, com ênfase aos vários projetos desenvolvidos pela Vila

Olímpica, em parceria com a Golden Cross.

Estes objetivos relacionam-se a diversos fatores que devem ser analisados. Toda a estratégia de funcionamento do projeto está espelhada no objetivo geral. Eles sabiam onde queriam chegar ("resgate da cidadania e a consciência do papel social que cada indivíduo tem na sociedade"), como chegar ("através do oferecimento de atividades voltadas para a educação integral, o esporte, a saúde, a cultura e o trabalho"), então criaram uma estratégia para captar e manter os recursos necessários a esta empreitada ("mobilizar órgãos públicos e empresas privadas"). Seus objetivos intermediários especificam o processo operacional do projeto para atingir o objetivo geral proposto13.

3.3 - Estrutura e funcionamento do Projeto Mangueira

O Projeto Social da Mangueira apresenta, obviamente, características de programa social, como sua própria estrutura demonstra.

Constituído, seguindo a nomenclatura utilizada seus responsáveis em diversos documentos internos, por cinco projetos e três subprojetos, sua estrutura pode ser assim desenhada:

13 A discussão sobre os resultados desta estratégia e se estes estão sendo alcançados estão na conclusão deste trabalho.

43 Figura 3

Projeto Social da Mangueira

Projeto Projeto Projeto Projeto Projeto Educação para Olímpico Educação Sócio o Trabalho Saúde Hi ilti irai

1 Orquestra Afro- Mangueir Centro Brasileira a do Sócio Oi iI+i irai

Figura 3 - Estrutura dos projetos e sub-projetos que compõe o

Projeto Social da Mangueira.

Estes projetos são comandados por uma estrutura única, na qual se tem um diretor-geral, que determina as metas, os procedimentos, e avalia o andamento de todas as ações. Cada projeto possui uma coordenação técnica e conta ainda com a um diretor-geral adjunto, responsável pela administração do campus Mangueira. Em seu conjunto, o projeto opera com cerca de 200 funcionários, entre professores, médicos, funcionários administrativos, de apoio e manutenção, que estão alocados nos diversos projetos, sendo que vários deles atuam em mais de uma atividade. A grande maioria, inclusive os professores, tem sua origem no morro da

Mangueira.

Estes projetos têm um custo anual de aproximadamente R$

2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), sendo que R$

44 1.000.000,00 (um milhão de reais) são gastos no Projeto Olímpico; R$

600.000,00 (seiscentos mil reais) no Projeto Saúde; R$ 500.000,00

(quinhentos mil reais) nos projetos sócio-culturais (Orquestra Afro-

Brasileira e Mangueira do Amanhã); R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) no Projeto Educação para o Trabalho e os R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) restantes são gastos na manutenção das instalações. Os projetos

Educação e Centro Sócio-Cultural não estão contabilizados no orçamento geral, porque o primeiro é financiado diretamente pelo governo do estado e o segundo pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.

O custo financeiro do projeto foi dividido entre várias empresas. O

Projeto Olímpico é financiado inteiramente pela Xerox do Brasil. Os subprojetos Mangueira do Amanhã e Orquestra Afro-Brasileira são custeados pela Petrobras, através da BR Distribuidora. O Projeto

Educação para o Trabalho é financiado por 170 empresas que se utilizam dos jovens por ele formados, mas tem como responsáveis pela infra- estrutura a Xerox do Brasil e o Bingo Arpoador. O Projeto Saúde é uma parceria que remonta aos primeiros dias de sua implantação, firmada entre a Mangueira e a Golden Cross. Participam também desse trabalho, através de convênios, a Universidade Castelo Branco, no atendimento fisioterápico, a UERJ e a SUAM, no atendimento psicológico e de assistência social.

São também importantes parceiros a Rede Santa Mônica de Ensino, que cede bolsas de estudo aos atletas da Mangueira e organiza algumas atividades do Projeto Educação para o Trabalho; a empresa Leite de Rosas, os Correios e a Loterj, que colaboram com recursos financeiros. É importante ressaltar quenão existe nenhuma forma de incentivo fiscal para as empresas que financiam o projeto. Elas não participam dasua gestão nem da administração dos recursos alocados; a forma de controle

é apenas o relatório de prestação de contas elaborado pela direção geral,

45 não havendo auditoria formal das mesmas por parte dos parceiros. Cada um desses projetos e subprojetos tem seus objetivos, público-alvo e forma de funcionamento próprios. A seguir será feita a descrição de cada um deles.

3.3.1 - Projeto Olímpico - Vila Olímpica da Mangueira

O Projeto Olímpico da Mangueira é a ação central de todo este programa social. Criado em 1987, funcionava dentro da quadra de ensaio da escola de samba. A partir de 1989, com a construção da Vila Olímpica, experimentou notável seu crescimento.

O objetivo central deste projeto é

O desenvolvimento físico, psicossocial e recreativo dos meninos e meninas da Mangueira. Em conseqüência, estas crianças deixam de ser presa fácil do crime organizado e acabam porexercer significativa e incalculável influência na vida de toda a comunidade.

A Xerox do Brasil responde integralmente pela aquisição de materiais esportivos, alimentação, transporte, pagamentos de técnicos e professores de educação física, massagistas, fisioterapeutas, psicólogos e filiações a federações desportivas, além de manter as instalações da Vila

Olímpica e custear as viagens para competições interestaduais, nacionais e internacionais. O funcionamento é diário e dividido em três turnos, possibilitando a participação de todos. As únicas exigências feitas aos freqüentadores é a de estar estudando e ter bom desempenho escolar.

São desenvolvidas as seguintes modalidades esportivas:

• atletismo - principal e mais destacada modalidade esportiva da

Mangueira. Já produziu vários atletas que vêm representando o Brasil em

46 várias competições internacionais14. Conta com sete professores e dez técnicos especializados em cada uma das provas (corridas de velocidade, corridas de resistência, corridas de barreiras,salto em altura, salto em distância, salto com vara, arremesso de peso, lançamento de disco, lançamento de dardo e lançamento de martelo). Atende, atualmente, a cerca de 450 crianças e jovens de dez a 18 anos nos treinamentos e 300 crianças de até dezanos nas atividades de iniciação e recreação atlética.

• futebol de salão (futsal) - atividade de grande apelo junto às crianças e adolescentes. Atende a 350 crianças e conta com 10 professores de educação física, que se revezam no atendimento da iniciação esportiva e das equipes. Possui equipes que disputam os campeonatos oficiais da Federação de Futsal do Rio de Janeiro, nas categorias fraldinha (5 a 7 anos), pré-mirim (7 a 9 anos), mirim (9 a 11 anos), infantil (11 a 13 anos) e infanto (13 a 15 anos).

• futebol - mesmo não participando de competições oficiais nesta modalidade, esta atividade é desenvolvida porque possui grande apelo junto ao público-alvo do projeto. Atende, aproximadamente, a 420 crianças e adolescentes, entre as idades de 7 e 17 anos. Conta com uma equipe de cinco professores.

• basquetebol - filiada à Federação Estadual de Basquete, a

Mangueira possui equipes masculina e feminina nas categorias infantil (10 a 12 anos) e infanto (13 a 15 anos). Atende a 200 crianças e adolescentes nas equipes e na iniciação esportiva. Conta para isto com cinco professores.

• voleibol - mesmo não sendo filiada à Federação Estadual nesta modalidade esportiva, a Mangueira tem sido uma fonte de renovaçãodas

14A primeira atleta de nívelinternacional surgida na Mangueira foi Luciana Paula Mendes, medalha de prata nos 800m no Pan-Americano de 1995, em Mar dei Plata. Muitos outros a seguiram

47 equipes e clubes do Rio de Janeiro, principalmente no voleibol feminino.

Atende atualmente a 150 crianças e adolescentes na faixa etária que vai

dos oito aos 14 anos, e conta com quatro professores.

• natação - praticada na piscina semi-olímpica (dimensões 25 por

12,5 metros) do CIEP Nação Mangueirense, a natação possui grande

apelo junto às crianças, sobretudo pela motivação advinda da escolha de

um "padrinho oficial" para a modalidade na Mangueira: o atleta Fernando

Scherer, o Xuxa, nadador olímpico, campeão pan-americano e mundial.

Atende a 300 crianças e adolescentes (número limitado pelas instalações,

divididas com o CIEP). Os alunos matriculados no CIEP, que têm aulas de

natação nas atividades de educação física curricular, não podem participar

da iniciação esportiva, mas,caso se destaquem, passam a integrar as

equipes. Conta com um grupo de 10 professores.

Além desse atendimento, as crianças e os adolescentes que se

destacam em qualquer modalidade, caso sejam "ranqueados" ou

pertençam a alguma das equipes representativas do projeto, recebem

uma "bolsa escolar". Essa bolsa é um apoio financeiro, quetem de ser

utilizada na compra de material escolar, no reforço alimentar do atleta e no

transporte para treinos em outras instalações que não a Vila Olímpica.

Questionada sobre a possibilidade de o atleta e/ou de seus responsáveis

desviarem estes recursos para outros gastos e qual a punição prevista, a

direção geral do projeto revelou não ter nenhuma previsão de como agir,

pois até o fim de 1999 nada acontecera neste sentido.

3.3.2 - Projeto Educação - CIEP Nação Mangueirense

No conjunto do Projeto Social da Mangueira, o Projeto Educação,

além das funções comuns de uma escola, apresenta os seguintes

objetivos:

48 • resgatar a autovalorização do indivíduo através de seus aspectos culturais, sociais e individuais;

• valorizar a cultura local;

• proporcionar um ensino de qualidade que leve o jovem a ter senso crítico e o faça um ser ajustado à sociedade; e

• proporcionar ao jovem a oportunidade de exercer livremente a sua cidadania.

Esse projeto desenvolve-se nas instalações do CIEP Nação

Mangueirense, localizado dentro da Vila Olímpica da Mangueira. Trata-se de uma escola especial. Em primeiro lugar, por contar com turmas de 1o grau (5a à 8a séries) e de 2o grau (1a à 3a séries) e também porser mantido pelo governo do estado, tornando-se, como já foi dito, a única escola de 1o grau pública na cidade do Rio de Janeiro sob responsabilidade estadual. Além disso, e principalmente por isso, todo o processo pedagógico é discutido com a comunidade e com a direção do

Projeto Social da Mangueira. Na verdade, esse CIEP é um GP - Ginásio

Público, no qual a formação básica alia-se à formação secundária: o aluno passa o dia inteiro na unidade escolar, realizando atividades de ensino, formação profissional e lazer.

O projeto pedagógico deste CIEP é ligado à cultura da comunidade através de um projeto pedagógico chamado "Artisticamente Mangueira", no qual é desenvolvida a vocação artística dos alunos. Faz parte dessa proposta pedagógica a participação dos alunos nas oficinas de ginástica rítmica desportiva, de fabricação de instrumentos de dança, de desenho, entre outras. Em seu primeiro ano na escola, os alunos tomam parte de cinco oficinas que duram, cada uma delas, dois meses. No segundo ano, escolhem uma das atividades e aprofundam seus conhecimentos na atividade, tendo em vista uma formação profissional. Este aprendizado

49 tem garantido aos jovens formados nas oficinas oportunidade de emprego no mercadode trabalho. Ao CIEP Nação Mangueirense somam-se nove escolas públicas municipais e duas escolas de 2o grau estaduais, localizadas próximas à comunidade e com alunos originários da Mangueira. Estas escolas e seus alunos estão congregados na atividade desenvolvida pelo Núcleo de

Saúde, ligado ao Projeto Saúde, mas atuando nas instalações do CIEP e atendendo exclusivamente aos alunos matriculados nas 12 escolas. O núcleo oferece serviço de odontologia e grupos de discussão com os jovens sobre temas que dizem respeito à sua saúde (sexualidade, doenças sexuais, Aids, gravidez precoce, nutrição etc). Dessa forma, o

Projeto Educação é desenvolvido em todas essas escolas, tendo o CIEP como centro do processo e base fundamental para o alcance dos objetivos gerais e específicos como um todo. Como afirma a professora

Terezinha Labruma, diretora do CIEP Nação Mangueirense:

O GP (Ginásio Público) 241 Nação Mangueirense é um CIEP especial, não por razões arquitetônicas e nem por razões metodológicas, mas sim por estar localizado dentro do Projeto Social daMangueira e fazer parte dele. Não existe nem um outro CIEP similar em funcionamento no estado do Rio. O respeito da escola pela comunidade traz um grande respeito da comunidade pela escola. Nós somos um escola linda, limpa, asseada, ajardinada e que proporciona aos jovens que nos são confiados pela comunidade e que confiam em nós uma educação de qualidade, informando-os e formando-os. Este trabalho integrado vem trazendo grandes benefícios e criando dentro da comunidade uma conscientização da importância da escola no futuro de cada um de nós.

O Projeto Educação, em razão da sua importância, vem ocupando um grande espaço dentro do Projeto Mangueira como um todo e obtendo resultados significativos.

50 3.3.3 - Projeto Educação para o Trabalho - CAMP Mangueira

O Projeto Educação para o Trabalho - CAMP Mangueira, também chamado de Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro, é um projeto educacional que visa a complementação da educação de jovens e adolescentes através da sua integração no mercado de trabalho. Criado em 24 de agosto de 1988 por Alice de Jesus Gomes Coelho - a tia Alice, moradora da Mangueira, atleta internacional de atletismo e muito respeitada na comunidade, desde o início envolvida com o Projeto Social daMangueira -, este projeto baseia-se no Projeto Centro de Amparo do

Menino Patrulheiro, conhecido como CAMP, que existia no sul do Brasil e em São Paulo nas décadas de 1950 e 1960. Em seu depoimento emocionado e apaixonado, tia Alice explica de forma mais detalhada como se desenvolve este trabalho:

A história da criação do CAMP Mangueira, há 11 anos, se confunde com a minha história pessoal. É que só conheci este sistema de educação para o trabalho dedicado aos adolescentes depois que me tornei atleta. E, para chegar a ser atleta, muitas barreiras precisaram ser rompidas, assim como muitos desafios devem ser vencidos para que um jovem carente tenha uma profissão e seja um cidadão respeitado. Na verdade, a história da minha vida é similar à de centenas de crianças de comunidades pobres do Rio de Janeiro. Minha mãe não tinha condições de criar a mim e aos meus irmãos. Nascie cresci solta no mundo, sem perspectiva de ser alguém na vida, sem ninguém que me indicasse o caminho e me aconselhasse. Minha única alternativa, e eu não sabia disto, era me dedicar ao esporte. Eu gostava de correr e pular. E foi assim, brincando, que comecei a treinar arremesso de peso, salto em altura, em distância, e praticamente todas as provas do atletismo. O esporte acabou por me ocupar e, graçasa ele, estou viva e com saúde hoje, com 69 anos. Mas o que tem o esportea ver com a preparação de nossos adolescentes parao mercado de trabalho? A filosofia do programa social da Mangueira prega a convivência de ambos no mesmo ambiente. Esporte e trabalho são faces da mesma moeda: o desenvolvimento físico e mental dos nossos jovens. E foi como atleta, numa viagem a Buenos Aires, que tomei conhecimento da existência, no sul do Brasil, dos chamados Centros de Amparo ao Menino Patrulheiro, mais conhecidos pela sigla CAMP.

51 Em seu longo depoimento, tia Alice narra a sua história de vida e explica o Projeto CAMP, que atende a jovens e adolescentes de 14 a 18 anos incompletos, oriundos de famílias de baixa rendae que pretendem uma colocação no mercado de trabalho. Os participantes do projeto têm de estar cursando no mínimo a 5a série do 1o grau, ter referência familiar e concordância e autorização da família. A inserção destesjovens e adolescentes no mercado de trabalho dá-se por meiode um treinamento intensivo, que dura três meses, sem caráter profissionalizante. Nesta etapa não se ensina uma profissão aos participantes, mas procura-se melhorar suas condições gerais para o trabalho.

Nesse treinamento é oferecida complementação da formação escolar em português e matemática. São ensinadas técnicas de relações humanas, técnicas comerciais, direitos do trabalhador, iniciação ao trabalho, telemarketing e informática; são desenvolvidas atividades de educação física, artes e recreação (foram formadas várias equipes de animação de festas, que hoje em dia são pequenas empresas, muitas delas informais), orientação sexual, higiene e saúde. A equipe desse projeto é formada por aproximadamente 30 pessoas, entre assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, instrutores de ensino e estagiários.

Se tiverem um bom aproveitamento nos cursos, os jovens e adolescentes são encaminhados às empresas associadas ao projeto

(cerca de 170) para um estágio, apoiado no Artigo 5o do Decreto

87.497/82 e regulamentado pela Lei 6.494/77, que trata da educação para o trabalho e é chamado oficialmente de estágio educacional laborativo, que se estende até o jovem completar 18 anos. Durante o estágio, ele desempenha diferentes atividades de escritório, tais como recepção, arquivamento, operação de máquinas copiadoras e execução de serviços externos.

52 O acordo entre as empresas e o projeto prevê que cada estagiário tem direito a um salário mínimo vigente como bolsa de estudo educacional laborai, auxílio-alimentação e vale-transporte ou seus equivalentes em dinheiro. Além disso, a empresa se compromete a efetuar um pagamento de 25% do salário mínimo vigente ao projeto, por cada estagiário, a título de taxa de administração e seguro, obrigatório por lei. O projeto conta com apoio da Xerox do Brasil para a montagem e manutenção desua infra- estrutura, excetuando as atividades de datilografia e informática, que tiveram seus laboratórios montados e mantidos pelo Colégio Santa

Mônica, que também paga o salário dos instrutores.

Atualmente, o projeto acolhe cerca de 800 jovens e adolescentes por ano, tendo atendido a aproximadamente 8.000 jovens desde sua criação. Esse projeto é o que conta, no conjunto do Projeto Social da

Mangueira, com a maior participação de pessoas de fora da comunidade mangueirense.

3.3.4 - Projeto Sócio-Cultural

O Projeto Sócio-Cultural da Mangueira é um conjunto, segundo a nomenclatura usada por eles, formado por três subprojetos:

1. Subprojeto Mangueira do Amanhã;

2. Subprojeto Orquestra Afro-Brasileira; e

3. Subprojeto Centro Sócio-Cultural.

Devidoàs suas características específicas, faz-se necessária uma análise em separado de cada um desses subprojetos.

3.3.4.1 -Subprojeto Mangueira do Amanhã O Grêmio Recreativo e Cultural Mangueira do Amanhã foi fundado em 15 de agosto de 1987 por Alcione Nazareth Fabre, a cantora Alcione.

53 A Mangueira do Amanhã não é apenas uma escola de samba mirim; é, na verdade, um projeto social, cujo objetivo é "socializar e integrar a criança mangueirense em nossa sociedade, resgatando e devolvendo-lhe a auto- estima, condição indispensável para a formaçãoda cidadania"

(PROGRAMA SOCIAL DA MANGUEIRA: 20).

Parao jovem mangueirense pertencer aos quadros da Mangueira do Amanhã é necessário cumprir uma série de requisitos.

Para desfilar na Mangueira do Amanhã, o componente temque estar matriculado em uma escola e ter sido aprovado no ano anterior. De três em três meses, cada um deles - atualmente são cerca de 2.800 (dois mil e oitocentos) membros - passa por uma avaliação da coordenação do projeto, que inclui a freqüência e a assiduidade do componente nos compromissos da Mangueira do Amanhã (ensaios, encontros técnicos, cursos diversos sobre o assunto, trabalhos no barracão da escola), o seu desenvolvimento técnico, a qualidade estética do trabalho de preparação do carnaval e o seu desempenho escolar. Também são levados em conta a dedicação, a vontade de evoluir, a integração com o grupo, entre outros aspectos.

Muito raramente uma criança ou adolescente é retirado do projeto.

Quando isso aconteceu, o motivo foi abandono escolar ou repetência. No primeiro caso, a família é procurada para se saber por que a criança não continua na escola; quando fez-se necessário, até ajuda financeira à família foi concedida ou conseguido emprego para mãe ou pai. No segundo caso, o jovem ou criança é mantido no projeto, envolvido em todas as atividades, mas não pode desfilar, pois desfilar é um prêmio.

O trabalho da Mangueira do Amanhã não se limita ao carnaval; ao contrário, esta é apenas uma etapa do trabalho. Durante o ano inteiro uma escola de samba é montada pelos componentes mirins com o acompanhamento, orientação e ajuda dos mais destacados elementos da

54 escola de samba principal. Isto é, toda a cultura, organização, estrutura e conhecimento de mais de 50 anos de carnaval e escola de samba é passada a estes jovens componentes, mantendo-se assim tradição e

cultura da comunidade. Todo o roteiro, organização e estrutura da escola de samba mirim obedecem aos critérios das grandes escolas de samba: apresentação do organograma de desfile, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira,

bateria, baianas, passistas, destaques e alegorias. Os mestres-salas e porta-bandeiras mirins são orientados por Dalmo José, coreógrafo especializado, responsável pelo treinamento e coreografias dos pares da escola de samba principal. Hoje em dia estes são todos originados da

Mangueira do Amanhã. A harmonia, que difere de uma escola de samba para outra, é

orientada por figuras tradicionais da escola - Delegado, por exemplo -, que

ensinam como e em que ritmo a Mangueira deve desfilar. A bateria,

composta por 150 (cento e cinqüenta) componentes, segue o ritmo do

som único, isto é, de surdo sem resposta (todos batem ao mesmo tempo),

característica principal da bateria da Mangueira, não existente em

nenhuma outra agremiação. O enredo é escolhido levando-se em

consideração o aspecto educativo e é desenvolvido como um trabalho

escolar. Os temas são sempre relacionados com a cultura popular ou a

história do Brasil.

A produção das alegorias e dos carros alegóricos é feita pelos

próprios componentes mirins no barracão da escola, na mesma oficina

onde é produzido o carnaval. Nesse processo eles aprendem corte e

costura, escultura básica, pintura, produção de alegorias, conceitos

básicos de hidráulica, eletricidade e mecânica (para os carros alegóricos),

entre outras técnicas necessárias à produção de um desfile. Esse

processo vem formando vários profissionais para a produção de desfiles

55 de escolas de samba e para outras iniciativas culturais. Os sambas são compostos pelas crianças e adolescentes, orientados pela Ala dos

Compositores da escola de samba principal. Destacam-se neste trabalho os compositores Hélio Turco e Ivo Meireles.

Além do desfile da escola mirim, o Projeto Mangueira do Amanhã tem um outro grande evento, desde seu primeiro ano de existência: o baile dos debutantes, no qual todos os jovens da comunidade (rapazes e moças) de 15 e 16 anos são homenageados. A preparação, os vestidos e os ternos são doados a cada um deles por Alcione e essa festa é sempre muito esperada na comunidade. A idade dos componentes varia dos sete aos 17 anos. Para a cantora, esses jovens representam o futuro da

Mangueira:

Além de ensinar as crianças a compor, criar alegorias, ser passistas, ritmistas e percussionistas, as ensinamos a se comportar e vestir adequadamente, manter cuidado com a higiene e cumprir horários e compromissos. Quem vai representar a Mangueira no futuro precisa saber ser gentecomprometida,e os pequenos só serão alguém na vida se cumprirem e respeitarem regras. Daí a disciplina aplicada a quem chega para estudar e trabalhar conosco. A Mangueira do Amanhã é a base da nossagrande escola.

3.3.4.2 - Subprojeto Orquestra Afro-Brasileira Criado em 1994 com apoio do BID, esse subprojeto tem a missão de:

Valorizar um bem cultural, preservando a identidade cultural e promovendo a auto-estima e a coesão social do grupo através da música. Assim estaremos contribuindo para que crianças/adolescentes atendidos vejam respeitados os seus valores culturais e se afastem de certas condições que colocam em risco a sua sobrevivência (drogas, criminalidade, etc.) (PROJETO SOCIAL DA MANGUEIRA: 18).

Alem disso, esse subprojeto tem como finalidades:

• preservar a identidade cultural da Mangueira, apoiando o trabalho da Mangueira do Amanhã, desenvolvendo uma ação de assistência social

56 não paternalista, respeitando o modo de transmissão cultural criado e elaborado pela própria comunidade;

• desenvolver uma ação cultural com crianças/adolescentes de risco; • estimular a auto-estima comunitária, através de seu grande produto cultural (samba) e das formas tradicionais de transmissão cultural;

• atender a 50 (cinqüenta) integrantes do Grêmio Recreativo e

Cultural Mangueira do Amanhã, criando a Orquestra Afro-Brasileira;

• aproveitar a experiência de notáveis da comunidade, que atuarão como animadoresna transmissão do saber cultural;

• proporcionar um espaço de apresentação que faça com que o carnaval não seja o único espaço disponível (PROGRAMA SOCIAL DA

MANGUEIRA: 18-19).

Como estratégias de ação, esse subprojeto irá, a cada 30meses, formar e aperfeiçoar 50 componentes, selecionados entre os que se destacam na bateria da Mangueira do Amanhã. Esses adolescentes e jovens terão duas horas de estudose ensaios diários de teoria e prática musical, nas seguintes atividades:

• percussão afro-brasileira;

• canto;

• instrumentos de corda dedilhada;

• instrumento de corda percutida;

• regência e composição;

• história da cultura afro-brasileira; e

• dança e coreografia.

57 A coordenação desse subprojeto está a cargo, desde a sua criação, do maestro Henrique Souza Brandão, responsável pela aprovação e, conseqüentemente, pela captação de recursos junto ao BID. De acordo com suas próprias palavras:

Sempre quis ensinar crianças que não têm acesso à musica. E foi aqui na Mangueira que encontrei o terreno e a boa vontade necessários para levar à prática a formação de uma orquestra como esta. O resultado é: cem alunos aprendendo música dentro de sua própria comunidade.

Os alunos aprendem os instrumentos de percussão que formam a base da bateria da escola de samba: caixa, repique, surdo, agogô etc.

Aprendem não só a tocar estes instrumentos, comotambém o básico de um conservatório de música. Quanto mais aprendem, mais curiosos ficam.

Isto dá espaço ao talento da comunidade, que é essencialmente musical.

Para o maestro, o projeto esta em evolução:

A orquestra resultará num conservatório de música. Sem dúvida alguma, um fato inédito no Brasil. A Mangueira já tem ensino de qualidade diferenciada e passará a ter um ensino de música clássica impensável pouco tempo atrás. As crianças poderão freqüentar um conservatório dentro da comunidade para alcançar a altura de músicos de qualidade.

3.3.4.3 - Subprojeto Centro Sócio-Cultural O subprojeto Centro Sócio-Cultural da Mangueira funciona no barracão da escola de samba, localizado na Rua Frederico Silva, n.° 85,

Praça Onze, ao lado do edifício "Balança mas não cai". Apesar de ser responsabilidade da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, esse subprojeto - que consiste num trabalho social voltado a crianças e adolescentes de rua que vivem no centro da cidade - funciona em instalações cedidas pela Mangueira. A razão da existência desse subprojeto, segundo o diretor-geral professor Chiquinho da Mangueira, é

58 porque todos devem ser responsáveis para com o problema do menor abandonado. A essa clientela são oferecidas atividades culturais (oficinas de teatro, circo, etc.) e esportivas, alimentação, são desenvolvidos hábitos

higiênicos (todos ganham escovas de dentes, tomam banho etc).

Paralelamente, são tentados processos de reintegração da

criança/adolescente à sua família, ou seu encaminhamento às entidades de atendimento permanente (casa de acolhida, repúblicas etc.) e/ou são

buscadas alternativas para alteração do quadro de abandono. Todos os

participantes são cadastrados e é feito um levantamento ou

aprofundamento da história de vida de cada um, procurando-se sempre

buscar perspectivas de saída da situação. Além das crianças, os idosos

carentes da área também são atendidos dentro dos mesmos parâmetros.

É importante frisar que esta iniciativa é a única não voltada para a

comunidade mangueirense, oferecendo recursos e espaço para o

atendimento dos mais necessitados, extrapolando os limites da própria

comunidade. Este caso constitui uma exemplo evidente de ação

comunitária, na qual o Estado é substituído em suas funções, mesmo que,

do ponto de vista prático, esta ação se traduza apenas na cessão do

espaço. Sem dúvida, em razão da atratividade que a Mangueira exerce

sobre a população carioca, seja pelo sucesso e fama da escola de samba

e/ou pelos resultados obtidos pelo projeto social, cada vez mais crianças e

adolescentes devem participar dessas atividades.

3.3.5 - Projeto Saúde

Criado em 12 de dezembro de 1987, o Projeto Saúde é resultado de

um convênio entre o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação

Primeira de Mangueira e a Golden Cross. Esta empresa financiou sua

instalação e vem mantendo este projeto, cujo objetivo central é "prestar

59 assistência médica, odontológica e social inteiramente gratuita à comunidade da Manguiera, adjacências e aos atletas" (PROJETO

SOCIAL DA MANGUEIRA: 26).

Para que essa meta fosse viabilizada, foi construído um posto médico na Vila Olímpica da Mangueira, onde são prestados serviços ambulatoriais nas especialidades de clínica médica, ginecologia, obstetrícia, pediatria, odontologia e serviço social. Além disso, são oferecidos serviços de exames laboratoriais e de doação de medicamentos, bem como realizadas palestras educativas relativas à saúde e promovidos trabalhos com grupos específicos (gestantes, hipertensos, cardíacos etc), eventose campanhas de cunho preventivo.

Esse projeto conta comuma equipe composta por 20 profissionais

(um coordenador, seis médicos, dois dentistas, dois assistentes sociais e pessoal de apoio e manutenção) e com cinco estudantes das áreas de serviço social e psicologia, originados da parceria estabelecida com a

UERJ e a SUAM. O posto médico funciona de segunda a sexta-feira, das

8h às 17h. Atualmente existem cerca de 15.000 pessoas cadastradas no posto, que atende, em média, aproximadamente 1.800 pacientes por mês.

60 CONCLUSÃO

A proposta de estudo do Projeto Mangueira levou-nos a três tipos de conclusão:

1. as que dizem respeito ao Projeto Mangueira, à sua gestão e a seus resultados;

2. as que dizem respeito ao esporte como meio de ação social; e

3. as que dizem respeito à questão da cidadania e da exclusão social no Brasil.

1. Sobre o Projeto Mangueira e sua gestão podem-se inferir as seguintes afirmações:

• esta iniciativa é erroneamente chamada de projeto, quando, na realidade, já é uma atividade tipicamente funcional ou, mais corretamente, um programa social.

Um projeto caracteriza-se, entre outros fatores, por possuir objetivos claramente definidos, população-alvo identificada e ter começo, meio e fim, momento em que os objetivos são alcançados (CEPAL & OEA, 1995:

2; MAXIMINIANO, 1997, Capítulo 1). Já os programas sociais são definidos como um conjunto de projetos e ações permanentes que perseguem os mesmos objetivos. O que se tem na Mangueira é um conjunto de programas sociais, articulados e desenvolvidos com um mesmo objetivo. Portanto, nem as atividades que constituem o projeto podem ser chamadas de projeto.

Questionado sobre isso, o professor Francisco de Carvalho afirmou que:

A manutençãodo nome Projeto Mangueira é apenas um instrumento de marketing, pois foi com este nome que estas ações ficaram conhecidas e

61 não há porque mudar. Mas realmente temos um Programa Social na Mangueira.

• o Programa Social da Mangueira vem alcançando seus objetivos.

Levando-se em conta seu objetivo básico - o resgate da cidadania, através de atividades esportivas, educacionais, culturais, de melhoria da saúde e das suas condições de concorrer no mercado de trabalho -, este programa social tem alcançado efetivamente pleno sucesso. A Mangueira

é hexacampeã brasileira de atletismo infantil masculino e feminino, pentacampeã brasileira de atletismo juvenil masculino e feminino, tem dezenasde atletas em vários esportes. Aproximadamente 20 atletas de origem mangueirense integrarão a delegação brasileira nas Olimpíadas de

Sidney, na Austrália, em setembro deste ano.

Segundo o Instituto de Planejamento do Rio de Janeiro, a população do morro da Mangueira passou de cerca de 40.000 (quarenta mil) pessoas em 1987, no início do projeto, paracerca de 50.000

(cinqüenta mil) pessoas, em 1999. Dados fornecidos pela Secretaria

Municipal de Educação revelavam a existência de quatro escolas de 1o grau no entorno da comunidade em 1987, com uma taxa média de ocupação de 40% (quarenta por cento); a capacidade instalada era de aproximadamente 1.500 (um mil e quinhentos) alunos. Em 1999, existiam

12 (doze) escolas na área, sendo nove de 1o grau, duas de 2o grau e o

CIEP Nação Mangueirense. A capacidade instalada é de 5.500 (cinco mil e quinhentas) vagas e taxa de ocupação é de 96% (noventa e seis por cento). Em 1987 existia uma criança fora da escola para cada uma que freqüentava aulas; hoje em dia, ainda segundo a Secretaria Municipal de

Educação, o número de crianças fora da escola na comunidade mangueirense é estatisticamente desprezível, tendendo a zero.

62 Segundo o Juizado de Menores do Rio de Janeiro, desde 1989 não existem registros de crianças e adolescentes originários da Mangueira que tenham participado de qualquer ação significativa, do ponto de vista legal.

O juiz da 1a Vara de Menores do Rio de Janeiro, Liborni Siqueira, e o juiz da 1a Vara da Infância e da Juventude, Siro Darlan, afirmam isto por escrito15. Portanto, pode-se afirmar que este programa vem atingindo seus objetivos e metas, muitas vezes rapidamente, levando-se em consideração as dificuldades deste tipo de ação em qualquer lugar do mundo.

Segundo o professor Francisco de Carvalho, os resultados mais significativos são referentes à diminuição dos índices de criminalidade infantil16 e ao aumento dos índices relativos à educação na comunidade.

• O Programa Social da Mangueira é uma referência quando se trata de projeto de esportes, de cidadania, de participação de empresas em programas sociais e de parcerias nesta área.

Atualmente, existem várias ações no Brasil que têm este programa como principal referência e inspiração. As vilas olímpicas da Baixada

Fluminense, o Programa Esportivo da Zona da Mata pernambucana, implementado pelo governo Miguel Arraes, já abandonado, são alguns dos exemplos. É importante observar também o comportamento das empresas que investem em programas e projetos sociais a partir desta experiência.

Existe uma grande tendência a esse tipo de investimento e a divulgação deste trabalho é bastante discreta. O importante é a empresa participar e colaborar com a comunidade, sem estabelecer vínculos diretos, em

3 As cartas e ofícios dessasautoridades são reproduzidos nosanexos deste estudo.

63 termos de propaganda, com estes apoios. Várias empresas vêm agindo assim, entre as quais a C&A, a Petrobras e o Banco do Brasil.

Obviamente, não foi o Programa Social da Mangueira que estabeleceu esta forma de relação empresa-comunidade, mas o exemplo é muito citado.

Porém, como filantropia não é caridade, as empresas que investem nesse tipo de ação o fazem para melhorar a sua imagem junto a clientes, fornecedores, governos, e para melhorar o seu clima interno, fazendo com que seus funcionários sintam que trabalham para pessoas que querem o bem da sociedade e das pessoas em geral. Como afirma Dori Ives, presidente da Business & Community Services, empresa especializada em consultoria de filantropia nos EUA: "Fazer o bem compensa, compensa e muito. Participar da comunidade vai ser fundamental para empresas que quiserem fazer a diferença daqui para a frente"17.

• O Projeto Mangueira é irreproduzível dentro do modelo proposto e sua adaptação a outros locais deve ser feita com muito cuidado e acompanhamento.

O professor Francisco de Carvalho acredita na reprodução integral, mas vários de seus colaboradores não compartilham dessa opinião. O professor Jorge Bechara, coordenador de atletismo do programa e coordenador administrativo das vilas olímpicas da Baixada Fluminense, declarou:

Nossa experiência na Mangueira é difícil de levar para outra comunidade, pois não existe outra Mangueira. Por exemplo, na Baixada, os

I Chiquinho daMangueira é muito modesto em suas declarações quando se refere aos resultados do Programa. No caso da criminalidade infantil, por exemplo, ele fala em diminuição de índices, ao passo que as cartas dos juizes falam em índice zero. IIExame (22/4/1998: 24).

64 prefeitos e secretários intervém no projeto, as comunidades não estão organizadas e quando estão não conseguem comandar as vilas. Este fator é fundamental na Mangueira; quem manda somos nós, aqueles que fazem, usam, viveme moram lá na comunidade. Se existir um lugar assim, será muito parecido com a Mangueira, mas mesmo assim nunca igual.

Os resultados alcançados nas vilas olímpicas da Baixada reafirmam o que foi dito acima, pois apresentam um nível de freqüência baixo, os resultados esportivos são praticamente nulos e a repercussão social não é conhecida18.

2. Sobre o esporte como meio de ação social, algumas conclusões podem ser feitas:

• Programas sociais que utilizem o esporte como atividade aglutinadora encerram grandes possibilidades de êxito, em razão da força social que esta atividade temnos dias de hoje.

• O esporte é um dos mais importantes fenômenos sociais deste século e, possivelmente, do próximo.

A força social do esporte, discutida no capítulo 2 (2.3 e 2.4), mostra que esta atividade constitui um dos mais importantes fenômenos sociais do final do século XX e início do século XXI. MURAD (1996) informa que os mais importantes homens de fim de século falam ou já falaram que foram ou gostariam de ser jogadores de futebol. Ele cita o papa João

Paulo II, que foi jogador; o historiador Eric Hobsbawm, que queria ser, e outros. Perguntados sobre a experiência e por que gostariam de ser atletas, a resposta varia sempre em torno da magia que o futebol e o esporte como um todo tem. Nessa perspectiva, TUBINO (1992: 71) conclui: "O esporte (...) apresenta-se com grande fascínio para todos os

18 Relatório do ano de 1999. CIEP Nação Mangueirense [A FONTE É ESSA MESMA?]

65 atores ativos e passivos, proporcionando oportunidades únicaspara a convivência humana". • O esporte, por suas características, é um excelente meio de

inclusão na sociedade de camadas sociais desfavorecidas, inclusive

como elemento econômico e de emprego direto e indireto.

Existem poucas pesquisas nessa área e muitas das considerações feitas acerca do papel social do esporte são empíricas ou fruto de

observações pessoais. O Programa Social da Mangueira é, neste ponto,

uma enorme fonte de dados ainda não trabalhados sobre este assunto.

Não era objetivo desta pesquisa realizar tal estudo; o que foi feito foram

observações gerais sobre o tema, mas os resultados colhidos quanto ao aumento de freqüência escolar e diminuição da repetência19 são bastante

significativos neste campo. O esporte vem se revelando no mundo inteiro como uma alta fonte

de renda e emprego. Os estudos desenvolvidos nessa direção pelo

professor Istvan Kasnar, tendo como objeto exclusivamente o voleibol

brasileiro, comprovam esta tese.

• O esporte é um importante fator para a construção das

identidades de grupos sociais e das comunidades, sendo atualmente

fundamental para a idéia de nação de muitos povos.

Para discutir essa afirmação, convém voltar a DA MATTA (1996:

16), quando afirma que "o brasileiro se descobre brasileiro quando se

enrola numa bandeira na Copa do Mundo e grita Brasil,Brasil, Brasil...".

Parte integrante da cultura brasileira, o futebol é esporte que ajuda

na formação da identidade da nação. Jáse ouviu em vários lugares e

várias frases sobre o Brasil e os brasileiros, mas Neném Prancha, um

66 antigo treinador de futebol, dizia que no Brasil se troca de esposa, de casa, até de sexo, mas se você trocar de time de futebol ficará marcado para o resto de sua vida como um vira-casaca (TOUGUINHÓ, 1998).

• O esporte não é a solução para exclusão social no Brasil, mas

é uma das atividades que podem colaborar na extinção desta vergonhosa situação.

Não se prega aqui que o esporte seja solução de todos os problemas sociais do Brasil, mas sim que constitui uma poderosa arma nesse processo. A sua utilização em políticas públicas como atividade de manutenção da saúde, como meio de educação e como instrumento de mobilização social é comprovada por diversas experiências vitoriosas que tiveram lugar no país20. Estas ações melhoram a vida do brasileiro e colaboram na diminuição do quadro geral de problemas sociais graves que a nação enfrenta.

3 - Na questão da cidadania e da exclusão social, chegou-se a várias conclusões. Elas apontam para questão da garantia da cidadania e de seus direitos como o centro da consolidação do Brasil como nação democrática e justa para com os seus membros. O Brasil é único no mundo. Grande extensão territorial, língua única que se regionaliza, mas mantém sua unidade, povo trabalhador, cultura diversificada, criativa e representativa da nação. Contudo, a exclusão de uma parte significativa

I9Relatório de Jorge Bechara para a Secretaria Estadual de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro(1998). 20No Paraná foi desenvolvida uma vigorosa e bem sucedida política de esporte. Assim, atualmente, o esporte serve como atrativo para empresas se instalarem no estado (este é o caso da Rexona), gerando empregos, e ajuda a divulgar o Paraná como um lugar bom de se viver. Outro exemplo que merece registro é o da prefeitura de Vitória, responsável pela promoção de programas esportivos voltados para a manutenção da saúde da população, implementados de forma integrada àsatividades da área de saúde.

67 da população dos benefícios do progresso econômico podem

comprometer o futuro do país como unidade. Portanto:

•a exclusão é vergonhosa para o Brasil;

• a exclusão social é o maior problema brasileiro da atualidade; e

• a exclusão é nociva, perigosa, e dificulta ou impede o

desenvolvimento do Brasil, econômica, política e socialmente falando.

Vários autores (Fleury, Carvalho, Tenório, Sposati, Souza etc.) apontam para a necessidade urgente de mudanças radicais no modelo

econômico e social do Brasil, sob pena de quebrar-se a espinha dorsal da

nação.

Diante dessas considerações, pode-se afirmar também que:

• a cidadania é um processo cultural.

Ser cidadão é fazer parte de uma nação, é integrar um grupo, é ser

reconhecido como membro. Este processo é cultural. Cultural em razão de que as bases da compreensão do grupo e da sociedade são idênticas. A visão da família, dos hábitos, das pessoas, a defesa de valores comuns e

muitas outras coisas fazem parte deste processo de identidade cultural.

Portanto:

• a identidade cultural é de fundamental importância na formação da cidadania.

68 Isso leva ao processo de formação da cidadania. Nesta pesquisa fica claro que:

• a cidadania deve ser uma conquista, e não um favor.

Na Mangueira, isso aparece muito claramente. A comunidade tomou para si a responsabilidade de tornar cidadãos suas crianças e jovens. Não pediu para qualquer entidade desenvolver estratégias para que essa meta fosse atingida; ela mesma o fez. Errou, acertou, voltou a errar, mas está fazendo até hoje. Com isso, conquistoupara si e para os seus um espaço fundamental na sociedade carioca e brasileira. O mangueirense tem orgulho de pertencer à comunidade daMangueirae deixa isso claro em qualquer lugar do mundo. Alcione relatou uma história muito ilustrativa a esse respeito.

Estávamos em Nova York com um grupo de crianças e adolescentes da Mangueira; havia atletas e pequenos sambistas. Um americano, ouvindo a conversa das crianças, perguntou de onde nós éramos. Um dos meninos me perguntou o que ele queria saber; quando eu disse, ele respondeu: "Ora, da Mangueira...!!!". Então eu disse para ele que ele era brasileiro, então ali ele tinha que responder que era do Brasil. Mas ele me falou: "Primeiro eu sou da Mangueira e depois do Brasil."

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81 SUMARIO

INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO 1 - METODOLOGIA 7 1.1 - Modelo do estudo 7 1.2 - Seleção dos sujeitos 8 1.3 - Coleta de dados 9 1.4 - Tratamento e análise de dados 12 1.5- Limitações do método 13 CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO 14 2.1 - Exclusão e inclusão social 14 2.2 - Cidadania 19 2.3 - Esporte - em busca de uma definição 31 2.4 - O esporte oomo fenômeno social 34 CAPÍTULO 3 - O PROJETO MANGUEIRA 37 3.1 - História do Projeto Mangueira 37 3.2 - Objetivos, metas e justificativas do Projeto Mangueira 40 3.3 - Estrutura e funcionamento do Projeto Mangueira 43 3.3.1 - Projeto Olímpico - Vila Olímpica da Mangueira 46 3.3.2 - Projeto Educação - CIEP Nação Mangueirense 48 3.3.3 - Projeto Educação parao Trabalho - CAMP Mangueira 51 3.3.4 - Projeto Sóoio-Cultural 53 3.3.4.1 - Subprojeto Mangueira do Amanhã 53 3.3.4.2 - Subprojeto Orquestra Afro-Brasileira 56 3.3.4.3 - Subprojeto Centro Sócio-Cultural 58 3.3.5 - Projeto Saúde 59 CONCLUSÃO 61 BIBLIOGRAFIA 70

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