UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA

CIDADE: POROSIDADE, PROPOSIÇÃO E PRÁTICA. CARTOGRAFIA DE POTENCIALIDADES CRIATIVAS E SOCIALMENTE INOVADORAS NO CENTRO EXPANDIDO DE SÃO PAULO

São Paulo 2020 i

ELISABETE BARBOSA CASTANHEIRA

CIDADE: POROSIDADE, PROPOSIÇÃO E PRÁTICA. CARTOGRAFIA DE POTENCIALIDADES CRIATIVAS E SOCIALMENTE INOVADORAS NO CENTRO EXPANDIDO DE SÃO PAULO

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do grau de doutora em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Professor Doutor Carlos Leite de Souza

São Paulo 2020 ii

C346c Castanheira, Elisabete Barbosa. Cidade: porosidade, proposiçăo e prática: cartografia de potencia- lidades criativas e socialmente inovadoras no centro expandido de São Paulo / Elisabete Barbosa Castanheira. 318 f. : il. ; 30 cm

Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020. Orientador: Carlos Leite de Souza. Bibliografia: f. 210-216.

1. Urbanismo. 2. Inovaçăo Social. 3. São Paulo. 4. Apropriaçăo (urbanismo). 5. Criatividade. I. Souza, Carlos Leite de. II. Título.

CDD 711 Bibliotecária responsável: Paola Damato CRB-8/6271

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Para Papai, com todo o meu amor.

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AGRADECIMENTO

Muito tenho a agradecer!

O primeiro e maior agradecimento é para Papai e Mamãe. Mesmo não estando mais aqui sei que estão felizes por mais esta etapa concluída. Ao Papai, muito especialmente (que se foi no percurso do presente trabalho), o meu eterno agradecimento e amor.

Agradeço também ao Tatá, meu filho amado, pela interlocução cada vez mais lúcida e melódica.

Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e, deste grupo, agradeço muito especialmente ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Leite, pela generosidade e pela troca.

À Profª Eunice Helena S. Abascal, ex-Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o meu mais profundo reconhecimento.

Ao Mackenzie agradeço o apoio financeiro por meio da bolsa concedida (Bolsa Mackenzie – Modalidade Isenção Integral).

Aos queridos amigos da UNISOL que mais do que sonhar, ousam concretizar caminhos para uma nova economia, mais justa e solidária: a Economia Solidária, o meu muito obrigada. Ao Design Possível, na pessoa de Ivo Pons, que me apresentou a esse novo universo e me permitiu fazer parte dele, um muitíssimo obrigada, extensivo às queridas Julia Asche e Natália Toledo. Um enorme agradecimento a@s querid@s: Isadora Candian, Leonardo Pinho, Vicente Armonia, Celiane Rodrigues, Tays Ulisses e Jaqueline. Um especialíssimo muito obrigada à equipe do projeto Economia Solidária como Estratégia de Desenvolvimento na pessoa da sua queridíssima coordenadora, Alice Naomi Takahashi Nishikiori, por todo o carinho e apoio num momento tão sensível da minha vida. vii

O meu agradecimento aos colegas de docência, nas instituições Estácio e UNISA, muito especialmente, aos meus coordenadores queridos, Nathalia Mara Lorenzetti Lima, Paulo Eduardo Borzani Gonçalves e Olga Maria Lodi Rizzini, um carinhoso e expressivo muito obrigada.

À Associação Brasileira de Promoção do Design e Inovação Objeto Brasil, na pessoa de sua diretora, Joice Joppert Leal, um enorme agradecimento pelo apoio geral e irrestrito.

O agradecimento também é transatlântico. Zézinha, Natália, Carlos, o meu mais profundo reconhecimento e agradecimento por tudo, sempre.

À Ivone, querida amiga, um especial agradecimento pela valiosa contribuição e disponibilidade. À querida Sofia pela ajuda especial e derradeira.

Aos amigos do Mackenzie, Fê, Carol, Andraci e Rodrigo, um enorme agradecimento pelo companheirismo nessa empreitada!

E, por fim, cabe um especialíssimo muito obrigada aos coletivos Associação Parque Minhocão, Cidade Ativa, Coletivo Bijari, Formiga-me, Horta das Corujas, Mão na Praça, Microtopia, Ocupe & Abrace e (Se)Cura Humana que, tão gentilmente, participaram desta pesquisa. Mais do que agradecer a paciência no preenchimento do questionário, agradeço por compartilharem o arrojo de empreender uma cidade melhor.

Muito, muito, muito obrigada.

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O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade

Poema Sujo Ferreira Gullar

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RESUMO

A percepção da cidade como espaço possível de ser apropriado e transformado, em microescala, a partir da iniciativa do cidadão que, articulado em rede, amplia o alcance de sua potência individual transformando-a em coletiva, constitui uma das muitas possibilidades de análise do espaço urbano contemporâneo. Nesta perspectiva, o presente trabalho apresenta um mapeamento de ações de base no centro paulistano. Em uma leitura que busca aporte no referencial teórico do pensamento sobre o direito à cidade, nas reflexões acerca das manifestações de junho de 2013 e no conceito de inovação social busca-se discutir a motivação, o processo e o produto vinculados ao surgimento de inúmeras iniciativas coletivas de apropriação urbana. A partir de um levantamento de coletivos, instalados no centro expandido de São Paulo, que materializam transformações na cidade, foi estabelecido um mapeamento possível e, posteriormente, levantados dados complementares a partir de questionários online. Organizadas entre pares e articuladas em rede (e pela rede) as iniciativas procuram promover a reflexão sobre o espaço urbano, sobre o protagonismo do cidadão, sobre a proatividade coletiva que efetiva a inovação social e, por consequência, a transformação do espaço urbano em microescala. O marco da ocupação da cidade em junho de 2013 deixa entrever, por meio do posterior surgimento de um conjunto de ações socialmente inovadoras, a construção de uma postura distinta na relação cidadão/cidade.

Palavras-chave: Inovação, Inovação Social, Urbanismo Tático, Apropriação Urbana, Design Urbano.

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ABSTRACT

The city can be perceived as a place that is susceptible to both appropriation and transformation. Looking through the microscale, that starts with the citizen’s own initiative. Articulated between its own connections, the city broadens the reach of its individual potential, inviting the matter to be handled collectively. When it comes to analyzing the urban contemporary space, this interpretation constitutes one of many other possible tracks of thought. Within this perspective, this current article presents an action map based on São Paulo’s city center. The following interpretation and its theoretical references are anchored on the realms of city access rights, reflections upon the June 2013 manifestations and the concept of social innovation. It aims to discuss motivation and the process/products leading to the outbreak of numerous collective initiatives for urban appropriation. A survey was conducted, in the expanded city center, to find the collectives that accomplish concrete transformations for the city’s sake. A map was also made for, posteriorly, filling it in with complementary data obtained through online questionnaires. Organized in pairs, articulated between their connections (and by their connections), the initiatives aim to promote a reflection upon the urban space, tackling the citizen’s protagonism into it. It also tackles collective proactivity which effectivates social innovation, consequently transforming the urban space in microscale. What the June 2013 city occupation hints at, taking into consideration the posterior outbreak of socially innovative actions, is building a new, distinct citizen/city standard.

Keywords: Innovation, Social Innovation, Tactical Urbanism, Urban Appropriation, Urban Design.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 | Manifestações Junho 2013 ...... 2 Figura 2 | Projeto Olha o Degrau ...... 3 Figura 3 | Projeto Boa Praça ...... 3 Figura 4 | MASP...... 8 Figura 5 | MST ...... 53 Figura 6 | Divulgação Manifestações de Junho/ 2013 ...... 54 Figura 7 | Marca Movimento Passe Livre ...... 55 Figura 8 | Conexão 2P2 ...... 59 Figura 9 | Manifestações Junho/2013 ...... 61 Figura 10 | A liberdade guiando o povo...... 67 Figura 11 | Linha do Temp | Movimentos Sociais ...... 70 Figura 12 | Hacker Citizen ...... 76 Figura 13 | Hacker Citizen ...... 77 Figura 14 | Hacker Citizen | Palette Rails ...... 77 Figura 15| Evolução da Inovação Social ...... 85 Figura 16 | Marca A Batata Precisa de Você ...... 93 Figura 17 | Largo de /1900 ...... 94 Figura 18 | Largo de Pinheiros/1900 ...... 95 Figura 19 | Largo de Pinheiros/1980 ...... 95 Figura 20 | Largo de Pinheiros/2011 ...... 96 Figura 21 | Largo de Pinheiros/ Junho de 2013 ...... 97 Figura 22 | Largo de Pinheiros/2014 ...... 97 Figura 23 | Largo de Pinheiros/2014 ...... 99 Figura 24 | Marca ARRUA Coletivo ...... 100 Figura 25| Atividade Paralela | Coletivo Arrua ...... 102 Figura 26 | Atividade Paralela | Coletivo Arrua ...... 102 Figura 27 | Marca Parque Minhocão ...... 103 Figura 28 | Elevado João Goulart | São Silvestre ...... 104 Figura 29 | Elevado João Goulart | Fins de Semana ...... 104 Figura 30 | Elevado João Goulart ...... 105 Figura 31 | Elevado João Goulart ...... 105 Figura 32 | Divulgação Baixo Centro ...... 106 Figura 33 | Divulgação Baixo Centro ...... 109 Figura 34 | Evento Baixo Centro ...... 109 Figura 35 | Evento Baixo Centro ...... 110 Figura 36 | Marca Casa da Lapa ...... 110 Figura 37 | Evento Casa da Lapa ...... 111 Figura 38 | Divulgação Casa da Lapa ...... 112 Figura 39 | Ação Casa da Lapa ...... 112 Figura 40 | Marca CicloCidade ...... 113 Figura 41 | Divulgação CicloCidade ...... 114 Figura 42 | Divulgação CicloCidade ...... 114 Figura 43 | Marca Cidade Ativa ...... 115 Figura 44 | Cidade Ativa ...... 115 Figura 45 | Projeto Olha o Degrau ...... 116 xii

Figura 46 | Projeto Olha o Degrau ...... 117 Figura 47 | Marca Cidade a Pé ...... 118 Figura 48 | Divulgação Cidade a Pé ...... 120 Figura 49 | Divulgação Cidade a Pé ...... 120 Figura 50 | Marca Corrida Amiga ...... 121 Figura 51 | Divulgação Corrida Amiga...... 121 Figura 52 | Divulgação Corrida Amiga...... 122 Figura 53 | Divulgação Corrida Amiga...... 122 Figura 54 | Divulgação Corrida Amiga...... 123 Figura 55 | Marca BIJARI ...... 123 Figura 56 | Carros Verdes ...... 124 Figura 57 | Carros Verdes ...... 125 Figura 58 | Praças (Im)Possíveis ...... 125 Figura 59 | Intervenções Gráficas ...... 126 Figura 60 | Marca Formiga-me ...... 126 Figura 61 | Evento Formiga-me ...... 127 Figura 62 | Divulgação do Florestas de Bolso ...... 127 Figura 63 | Intervenção ...... 128 Figura 64 | Intervenção ...... 129 Figura 65 | Intervenção ...... 129 Figura 66 | Intervenção ...... 130 Figura 67 | Sinalização Horta das Corujas ...... 130 Figura 68 | Página Grupo dos Hortelões Facebook ...... 131 Figura 69 | Córrego das Corujas ...... 132 Figura 70 | Horta das Corujas ...... 135 Figura 71 | Horta das Corujas ...... 135 Figura 72 | Marca Horta das Flores...... 136 Figura 73 | Horta das Flores ...... 137 Figura 74 | Horta das Flores ...... 138 Figura 75 | Horta das Flores ...... 138 Figura 76 | Marca Mão na Praça ...... 139 Figura 77 | Intervenção ...... 140 Figura 78 | Marca Matilha Cultural ...... 140 Figura 79 | Intervenção ...... 141 Figura 80 | Intervenção ...... 142 Figura 81 | Evento ...... 143 Figura 82 | Divulgação Microtopia ...... 144 Figura 83 | Manifesto ...... 145 Figura 84 | Evento ...... 145 Figura 85 | Marca Movimento Boa Praça ...... 146 Figura 86 | Depoimento ...... 147 Figura 87 | Pic Nic ...... 147 Figura 88 | Marco Ocupe & Abrace | Coletivo Praça das Nascente ...... 148 Figura 89 | Praça Homero Silva | Antes ...... 149 Figura 90 | Praça Homero Silva | Depois ...... 149 Figura 91 | Atividades Movimento Ocupe e Abrace ...... 150 Figura 92 | Mapa Afetivo ...... 150 Figura 93 | Atividades ...... 151 xiii

Figura 94 | Marca Parque Augusta ...... 151 Figura 95 | Residência de Flávio Uchoa ...... 152 Figura 96 | Colégio Des Oiseaux ...... 152 Figura 97 | Abraço no Parque Augusta ...... 154 Figura 98 | Ocupação do Parque Augusta ...... 154 Figura 99 | Ocupação do Parque Augusta ...... 155 Figura 100 | Placa Implantação do Parque Augusta ...... 156 Figura 101 | Localização do Parque Augusta ...... 157 Figura 102 | Projeto do Parque Augusta...... 157 Figura 103 | Piquenique do Parque Augusta ...... 158 Figura 104 | Marca Pimp My Carroça ...... 159 Figura 105 | 1º Pimp My Carroça ...... 160 Figura 106 | Pimp My Carroça ...... 161 Figura 107 | Projeção (Se)Cura Humana ...... 161 Figura 108 | Parque Aquático Móvel – Parque Augusta ...... 162 Figura 109 | TV Secura ...... 163 Figura 110 | Questionário Aplicado ...... 169 Figura 111 | Questionário | Universo Respondente ...... 172 Figura 112 | Pesquisa Como Anda ...... 201 Figura 113 | Pesquisa Como Anda ...... 201

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 | LInha do Tempo | Manifestações Junho/2013 ...... 57 Tabela 2 | Comparativo | Os 3 marcos das Manifestações de Junho/2013 ...... 60 Tabela 3 | Lista de Benefícios Projeto Horta das Corujas | Cláudia Visoni ...... 133 Tabela 4 | Levantamento Geral de Coletivos | Centro Expandido ...... 194 Tabela 5 | Levantamento Geral de Coletivos | Ano de Constituição ...... 194 Tabela 6 | Levantamento do Universo de Respondentes | Coletivos Centro Expandido ...... 195 Tabela 7 | Levantamento do Universo de Respondentes | Ano de Constituição ...... 195

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráficos 1 | Questionário | Gráfico | Atuação do Coletivo ...... 174 Gráficos 2 | Questionário | Gráfico | Área de Atuação do Coletivo ...... 175 Gráficos 3 | Questionário | Gráfico | Percepção | Aumento de ações similares ...... 184

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1| Mapa do Centro Expandido | São Paulo ...... 166 Mapa 2 | Mapa de localização dos coletivos elencados...... 191 Mapa 3 | Mapeamento de Coletivos Não Participantes na Pesquisa ...... 192 Mapa 4 | Mapeamento de Coletivos Participantes na Pesquisa ...... 193

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 1 MOTIVAÇÃO ...... 4 A PESQUISA ...... 5 CAPÍTULO 1 | O CONTINENTE ...... 9 1.1. A CIDADE | O CONTINENTE ...... 10 1.2. A CIDADE | A POROSIDADE ...... 13 1.3. A CIDADE | O DIREITO ...... 28 1.4. A CIDADE | A URBANIDADE ...... 38 CAPÍTULO 2 | A CONTINGÊNCIA ...... 50 2.1. A CIDADE | A CONTINGÊNCIA ...... 51 2.2. A CONTINGÊNCIA | JUNHO/2013 | AS MANIFESTAÇÕES ...... 52 2.3. A CONTINGÊNCIA | JUNHO/2013 | OS MANIFESTANTES ...... 64 CAPÍTULO 3 | O CONTEÚDO ...... 73 3.1. A CIDADE | O CONTEÚDO ...... 74 3.2. A CIDADE | O INCONTIDO ...... 75 3.2.1. A Inovação ...... 78 3.2.2. Da Inovação Social | Conceito ...... 81 3.2.3. Da Inovação Social | Evolução ...... 83 3.2.4. Da Inovação Social | Contexto ...... 86 3.2.5. Dos Coletivos ...... 90 3.2.5.1. A BATATA PRECISA DE VOCÊ ...... 93 3.2.5.2. ARRUA COLETIVO...... 100 3.2.5.3. ASSOCIAÇÃO PARQUE MINHOCÃO ...... 103 3.2.5.4. BAIXO CENTRO ...... 106 3.2.5.5. CASA DA LAPA ...... 110 3.2.5.6. CICLOCIDADE ...... 113 3.2.5.7. CIDADE ATIVA ...... 115 3.2.5.8. CIDADE A PÉ ...... 118 3.2.5.9. CORRIDA AMIGA ...... 121 3.2.5.10. COLETIVO BIJARI ...... 123 3.2.5.11. FORMIGA-ME ...... 126 3.2.5.12. FLORESTAS DE BOLSO ...... 127 xviii

3.2.5.13. HORTA DAS CORUJAS ...... 130 3.2.5.14. HORTA DAS FLORES ...... 136 3.2.5.15. MÃO NA PRAÇA ...... 139 3.2.5.16. MATILHA CULTURAL ...... 140 3.2.5.17. MICROTOPIA ...... 144 3.2.5.18. MOVIMENTO BOA PRAÇA ...... 146 3.2.5.19. OCUPE E ABRACE ...... 148 3.2.5.20. PARQUE AUGUSTA: COLETIVO ALIADOS DO PARQUE AUGUSTA e ORGANISMO PARQUE AUGUSTA ...... 151 3.2.5.21. PIMP MY CARROÇA ...... 159 3.2.5.22. (SE)CURA HUMANA ...... 161 CAPÍTULO 4 | A PESQUISA ...... 164 4.1. A PESQUISA ...... 165 4.1.1. Indagações indutoras ...... 165 4.1.2. Âmbito ...... 165 4.1.3. Universo ...... 166 4.2. O MÉTODO ...... 168 4.3. A COLETA DE DADOS ...... 172 4.4. A ANÁLISE DE DADOS ...... 189 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 203 REFERÊNCIAS ...... 210 ANEXOS ...... 217 APÊNDICES ...... 221

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INTRODUÇÃO

Junho de 2013 começou com o anúncio do aumento da tarifa de transporte público em São Paulo. São vinte centavos, apenas.

Estes que, para Gohn (2013), são os novíssimos sujeitos, se apropriaram da cidade para externar a insatisfação.

E externaram.

O descontentamento foi declarado em 7 grandes manifestações, sendo que a mais expressiva, e última, mobilizou um contingente superior a 1 milhão de pessoas em mais de 130 cidades. As reivindicações que, inicialmente, pareciam estar circunscritas ao debate sobre o direito de ir e vir, amplificaram questionamentos, sobretudo, em face dos grandes investimentos feitos para abrigar dois eventos de visibilidade internacional, a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Para Castells (2013) movimentos sociais como a Primavera Árabe, o Occupy (EUA) ou ainda os Indignados (Espanha), que aconteceram entre 2010 e 2011 e tinham como denominador comum o questionamento acerca das distinções sociais e econômicas, estão alinhados aos movimentos de junho de 2013, em São Paulo, não só pelo fato de terem sido articulados por meio das redes sociais, mas, também, pela ausência de liderança, pela autonomia, pela predominância do pensamento coletivo e ainda pela massiva presença no espaço urbano.

A configuração do movimento é jovem (muito provavelmente pelo fato de terem a sua articulação de origem nas redes sociais) e para o autor, o objetivo centra-se na procura de uma nova democracia e, embora muitos desses movimentos não estejam mais "vigentes" a busca da construção de novos objetivos, valores e perspectivas consolidou um legado para a compreensão da complexidade contemporânea (Castells, 2013). 2

As manifestações paulistanas desaceleram, o governo recua na decisão sobre o aumento das tarifas e dois grandes grupos ganham visibilidade, os Black Blocks e o MPL – Movimento Passe Livre.

Figura 1 | Manifestações Junho 2013

Fonte: Outra Palavras Disponível em: < https://outraspalavras.net/sem-categoria/mpl-e-o-eterno-2013/> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Em paralelo é notável, na cidade de São Paulo, o surgimento de coletivos, muitos.

Embora a palavra “coletivo” possa, de imediato, remeter à ideia de arte e cultura, o coletivo de que trata a presente pesquisa recebe a denominação de coletivo urbano. Não prescinde do caráter artístico e cultural. Pelo contrário. Mas tem uma perspectiva mais abrangente, articulada e transversal. Essa retomada do espaço urbano paulistano, por meio de iniciativas colaborativas, visa a coletividade e repensa a relação continente- conteúdo em face das contingências contemporâneas. A questão da escala é uma recorrência nas referidas iniciativas. Ao contrário da monumentalidade que se esperaria de uma cidade com a dimensão de São Paulo, as pequenas intervenções tratam de uma necessidade percebida no contexto e com recursos locais. Esta dimensão, um tanto cirúrgica, faz conviver empreendimentos quase totalmente desconhecidos dos meios de comunicação (como o Mão na Praça) com outros, cuja 3

visibilidade faz extrapolar a fronteira nacional, como é o caso do projeto A Batata Precisa de Você. No âmbito urbano paulistano (e não só), a menção da palavra apropriação remete à ação de tomar algo cuja propriedade é pertença de outrem, portanto, iniciativa indevida. A definição Aureliana para o termo menciona acomodação, aplicação, atribuição além do fato de significar se "tornar ou ser adequado ou conveniente a" alguém. A derivação da ação de apropriar (tornar próprio) contempla também, segundo consta do dicionário Aurélio, a qualidade daquilo que é peculiar, um sinal característico. A presente pesquisa trabalha o termo apropriação a partir desta noção, por meio de iniciativas a partir da base, onde habitantes da cidade tomam para si a responsabilidade de concretizar ações urbanas em benefício da coletividade.

Figura 2 | Projeto Olha o Degrau

Fonte: UOL Urban Taste Disponível em: Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Figura 3 | Projeto Boa Praça

Fonte: Criança e Natureza Disponível em: < https://criancaenatureza.org.br/noticias/uma-praca-para-chamar-de-sua/> Acesso em: 01 de novembro de 2019. 4

MOTIVAÇÃO

Uma urbanidade fruto da experimentação, dos processos colaborativos e que procura construir o inclusivo em detrimento do exclusivo norteou a pesquisa desenvolvida no mestrado e que contemplava um paralelo entre: A polivalência de algumas estruturas urbanas híbridas, similarmente presentes nas cidades de Paris, Nova York e São Paulo (respectivamente: o Promenade Plantée, o High Line e o Elevado Costa e Silva, também conhecido como Minhocão), para pontuar a micro escala da inovação não tecnológica no âmbito da cidade, as práticas criativas que hibridizam, ressignificam e inventam territórios: uma economia criativa na escala urbana (CASTANHEIRA, 2015 p.122).

Para a realização do referido trabalho a investigação percorreu um trajeto que teve início no conceito da criatividade, passando pelo conceito da economia criativa para então se ater nas manifestações de microplanejamento urbano (que podem ou não ter desdobramentos de monta como é o caso do HighLine, em Nova York, por exemplo).

Na continuidade, com vistas ao doutorado, novas leituras do conceito de economia criativa surgiram, nomeadamente de lideranças culturais do perímetro alargado da cidade de São Paulo e que definiam esta prática, cuja base é o patrimônio imaterial, como uma descoberta recente da classe privilegiada dos grandes centros das cidades. Segundo essas lideranças, que não se reveem nesta conceituação (tida como contemporânea), há muito que a “dita economia criativa” habita a periferia na construção de uma identidade cultural e social, mas, sobretudo, na busca de soluções para as lacunas não preenchidas pelas instâncias governamentais.

O amplo espectro de tais ações, que tanto pode contemplar a realização de uma festa junina, como a instalação de um equipamento social básico ou ainda o beneficiamento de determinada área para um entorno onde inexiste uma praça, por exemplo, pode constituir o que se conhece como apropriação urbana. Por outro lado, Como consequência das transformações que aconteceram no mundo nas últimas décadas e que acabaram por influenciar as mudanças de focos nos movimentos sociais em geral e na América Latina, em particular, permitindo- nos afirmar que os movimentos sociais não mais se limitam à política, à religião ou às demandas socioeconômicas e trabalhistas. Desta maneira, os movimentos sociais locais por reconhecimento, indenitários e culturais, 5

ganharam destaque ao lado de movimentos sociais globais. (ZIGLIO, 2015 p. 24)

A partir do surgimento de inúmeras iniciativas da sociedade civil (e a visibilidade de seus desdobramentos), no âmbito do centro expandido de São Paulo, com o objetivo de apropriação de espaços da cidade e da realização de ações e beneficiamentos coletivos, surgem questionamentos: ▪ Existe de fato uma movimentação crescente ou apenas uma maior visibilidade dessas iniciativas? ▪ É possível traçar um painel onde esteja presente um denominador comum, no âmbito das movimentações sociais de apropriação urbana que a cidade de São Paulo tem abrigado nos tempos mais recentes? ▪ Os acontecimentos de junho de 2013 podem ser considerados a gênese deste novo olhar urbano?

A PESQUISA

Neste contexto, a hipótese primária da presente tese centra-se no fato de que as manifestações de 2013 (em São Paulo) desencadearam uma percepção distinta da relação cidadão-cidade, o que converge para o conceito da liberdade de escolha e da responsabilização em Sartre (1967), alterando a partir daí, significativamente, os processos de apropriação urbana.

Em função da profundidade da discussão e da adesão alcançada, as manifestações de 2013 constituem um marco social para São Paulo por terem mobilizado os "praticantes ordinários" de Certeau (1982) ao mesmo tempo em que intensificaram o caráter político (Arendt, 2000) presente na relação que se estabelece (ou deveria ser estabelecida) com a cidade.

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A tese está estruturada em 3 parâmetros, que constituem os seus 3 primeiros capítulos: o Continente, a Contingência e o Conteúdo.

No primeiro parâmetro, o Continente, trabalha-se a ideia de recipiente, de contentor, de espaço delimitado. Aqui, onde segundo Ascher (2010), o público e o privado devem empreender formas de efetivação urbana tendo em conta os objetivos coletivos, se faz necessário a enunciação de novas regulamentações e novos formatos projetuais que contemplem a pluralidade social contemporânea. O capítulo, por sua vez, aborda a cidade e a porosidade, a cidade e o direito além da cidade e a urbanidade. Embora se possa entender que a analogia entre cidade e porosidade, seja elaborada em função da materialidade das edificações ali presentes, em Benjamin (2012) está relacionada com a propriedade de urdimento presente na cidade. E esta cidade é pertença de quem? Em Harvey (2013), o direito à cidade é o direito à transformação o que não prescinde da perspectiva de uma forma superior dos direitos em Lefebvre (2016), que o define como o direito à liberdade. A liberdade de construção de uma cidade desejada encerra o conceito de urbanidade. Este que, pode ser definido como o espaço de convivência ideal, em sua materialização se confronta com a ordem imaginada de Harari (2019) seja pela materialidade, seja pelo sistema de regras, seja pelo indivíduo.

O segundo parâmetro aborda a Contingência, enquanto conceito da psicologia experimental que, na qualidade de fenômeno, pode determinar a alteração de um comportamento estabelecido. A Contingência que, pode estar associada a eventos ambientais e comportamentais, sempre na forma condicional (Todorov, 1991), demanda, invariavelmente, a articulação de uma estratégia como resposta. As manifestações que marcaram 2013, no Brasil, se materializaram como decorrência natural de um processo que emergiu no início da presente década, e que buscaram discutir e, sobretudo, externar, a grande insatisfação diante de um quadro de severa incongruência social, econômica e ambiental.

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Já o terceiro parâmetro trata do rol de iniciativas que, em face da Contingência (os eventos de Junho de 2013), movimentaram o Conteúdo (os cidadãos), alterando o Continente (a cidade de São Paulo). São iniciativas de base, articuladas a partir de diagnósticos, prognósticos e intervenções coletivas que efetivam um tipo de inovação, a social Esta que, para Manzini (2008) só se concretiza ante a alteração comportamental diante de situações que demandam soluções para o coletivo e onde haja, efetivamente, a interrupção dos sistemas estabelecidos, pactua uma ruptura capaz de reorganizar formas, objetivos e princípios. Aqui é abordada a maneira através da qual a porosidade do continente/conteúdo absorveu e trabalhou a Contingência, apresentando novas propostas que se materializaram de forma atípica.

Para entender o universo de trabalho, primeiramente, a pesquisa se debruçou sobre o conjunto de iniciativas similares que atua na borda da cidade e cujo levantamento preliminar listou mais de 60 coletivos (APÊNDICE A).

Posteriormente, a pesquisa buscou delimitar os coletivos que atuam no centro expandido da cidade de São Paulo, procurando entender motivações, áreas de atuação, temáticas desenvolvidas, desdobramentos, surgimento, percepções sobre as respectivas atividades, entre outras considerações. (APÊNDICE B).

O quarto capítulo apresenta a pesquisa elaborada, bem como os dados obtidos e a respectiva leitura. Ainda que a opção pelo método cartográfico de pesquisa esteja, em certo sentido, em oposição à recolha sistemática de dados, em função de estar vinculado ao processo e às manifestações daí decorrentes, se optou por uma abordagem híbrida, capaz de congregar a percepção qualitativa dos eventos do método cartográfico e a recolha quantitativa de dados por meio de pesquisa sistematizada (APÊNDICE C).

Por fim, apresentam-se as considerações. 8

Sem pretender constituir um levantamento censitário, absoluto, até porque a pesquisa trata de coletivos cujas ações efetivem alterações materiais na cidade, a pesquisa listou mais de 20 coletivos cujo âmago de ação efetiva centra-se nas práticas de base, por meio de formatos colaborativos e com objetivos coletivos.

Relevante ainda referir a utopia do desejo de uma urbanidade calcada na visão do pretérito. As transformações se sucedem alterando contextos, conceitos e ideais. Nesta perspectiva, a urbanidade desejada na contemporaneidade, só é factível se considerado o contexto atual, com todas as incongruências, os paradoxos e os temores que lhe são inerentes. Seja qual for a dimensão ou estratégia adotadas, os movimentos urbanos marcam a cidade e o cidadão transformando o urbano e a urbanidade.

Figura 4 | MASP

Fonte: Elaborado pela autora 9

CAPÍTULO 1 | O CONTINENTE

PARÂMETRO 1 | O CONTINENTE 1.1. A CIDADE | O CONTINENTE 1.2. A CIDADE | A POROSIDADE 1.3. A CIDADE | O DIREITO 1.4. A CIDADE | A URBANIDADE

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1.1. A CIDADE | O CONTINENTE

Dei a volta ao continente Sem sair deste lugar Interroguei toda a gente Como o cego ou o demente Cuja sina é perguntar Balada José Saramago

Do Latim Continente Adj. Que tem a virtude da continência; moderado; casto; s.m. grande extensão de terra sem interrupção de continuidade; aquilo que contém alguma coisa; terra firme; velho ___: Europa, Ásia e África; novo ___: América; novíssimo ___: Oceania.

O parâmetro 1, o Continente, diz respeito ao espaço onde ocorre o conjunto de ações objeto da presente pesquisa. No âmbito da geografia, Continente diz respeito à parte continental de um país. Torna- se oportuno o resgate etimológico da palavra continente: oriunda do latim continere, cujos sentidos podem ser “abarcar”, “manter unido”, tem na raiz do seu sufixo tenere menção de “guardar” ou “segurar”. Continente insinua, portanto, “aquilo que guarda”, “que contém alguma coisa”. Para além da forma, ele se revela recheado de “conteúdos” (BOTELHO, 2012 s/p)

Diametralmente oposta está a ilha, uma porção limitada que, circundada de mar, constitui uma área restrita e delimitada. Surge assim a primeira incongruência na tentativa de construção de conceitos ou definições. Neste caso o Continente assume o viés de um contentor que, por sua limitação espacial circunscreve a área, objeto de estudo desta pesquisa. Este parâmetro encerra um paradoxo na medida em que é, ao mesmo tempo, continente e ilha. 11

O continente, enquanto conceito, também é pertença do campo da psicologia e tem em Bion (1978) uma das vozes de relevância que, por meio da relação entre continente e conteúdo, procura apreender a díade pensamento-mente, como conteúdo e continente, respectivamente.

Bion (1978 apud Zimerman, 2007) partiu do conceito de Melanie Klein, a noção de identificação projetiva1, para chegar à conclusão “que para todo um conteúdo projetado deve haver um continente receptor”, ou seja, todo o conteúdo pressupõe um continente. Esse termo, por sua vez, de acordo com a sua etimologia latina (Continere = conter), designa uma condição pela qual a mãe consegue, não só acolher e permitir que as cargas projetivas do filho penetrem dentro dela, como ainda alude a outras funções que processam o destino dessas projeções. Muitos autores preferem a utilização do termo Contido, no lugar de Continente, enquanto muitos outros os usam de forma sinônima (ZIMERMAN, 2007 p. 74).

Embora o contido esteja, por condição, no interior do continente, os conceitos se distinguem, pois, o “continente” apresenta o atributo da disponibilidade, mas, não necessariamente, da integração, ou seja, o “continente” pode “conter”, mas, sem que haja interação. Por outro lado, o “contido”, para Zimerman (2007), pressupõe o caráter de assimilação2.

Continente e conteúdo interagem enquanto forma e essência, o que é visível e o que é invisível.

Na perspectiva de Bion (1978 apud Zimerman, 2007) o binômio continente-conteúdo configura-se como conceituação em desenvolvimento, cuja premissa poderá ser reiterada, reconfigurada ou, ainda, ampliada, segundo a perspectiva de cada estudioso.

1A identificação projetiva pode ser compreendida como uma fantasia inconsciente entre analista e analisando, tendo um caráter mais agressivo e expulsivo, portanto defensivo, ou um caráter mais comunicativo, sendo que os mecanismos de cisão e projeção, em intensidades diversas, estão sempre implicados (RIBEIRO, 2016 p. 15) 2 Assim, reservo a expressão ‘continente’ para uma condição de disponibilidade para receber um “conteúdo”, que consiste numa carga projetiva - de necessidades, angústias, desejos, demandas, um terror sem nome, objetos bizarros, etc. - que está à espera de ser contido. Deste modo, o termo “contido” sugere que já houve uma incorporação de algo que foi projetado (pela criança, ou paciente) e que, agora, está contido (pelo paciente, ou analista), de forma sadia ou patológica (ZIMERMAN, 2007 p. 74).

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Utilizando-se da referida prerrogativa Zimerman (2007) deriva o conceito de subcontinente, numa “geo-analogia”, que tem como característica o fato de comportar distintas zonas que ofertam distintas combinações.

Outra característica do continente está relacionada à sua capacidade de armazenamento, ou seja, a auto-continência. Tal atributo, por sua vez, está diretamente relacionado ao limiar, àquilo que impõe limite. No fundo, o conteúdo. O continente pode receber o que vem do outro, claro, mas, a sua capacidade de conter deve, também, contemplar a carga que lhe é inerente, a sua própria carga que, segundo Zimerman (2007) estaria relacionado ao conceito de capacidade negativa de Bion (1970).

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1.2. A CIDADE | A POROSIDADE

Porosidade diz daquilo que é, por natureza, poroso, ou seja, apresenta certa quantidade de poros por meio dos quais as substâncias transitam e/ou ficam armazenadas. Nesta perspectiva, a porosidade mensura todo o espaço disponível em determinados materiais e, por consequência, a respectiva capacidade de armazenamento dos fluídos estabelecendo uma proporção entre a dimensão total e a dimensão dos poros, que pode ser expressa em termos percentuais ou decimais (Berryman e Wang, 2000).

Os vazios, ou seja, o contingente de poros, podem ainda, em termos estruturais totais, estar instalados de forma isolada ou em rede. No primeiro caso, quando os poros não se comunicam entre si está equacionada a denominada porosidade absoluta ou total. Já no segundo, para o mesmo autor, apresenta-se a porosidade efetiva, e que contempla a relação entre a rede de poros e o volume total do meio, ou seja, onde acontece, efetivamente a troca e, por consequência, o trânsito dos fluídos (Medeiros, 2015).

A diminuição do teor de porosidade pode acontecer como resultado de dois processos: o preenchimento dos poros derivado das propriedades dos materiais circulantes, que se considera como natural, e outro, de natureza mecânica, denominado compactação: que, em presença de condicionantes externas, faz com que os poros entrem em colapso (Azevedo, 2005).

Em termos estruturais, alguns materiais, podem se apresentar heterogêneos, ou seja, apresentam um alicerce, formado por unidades menores (grãos), e por poros, espaços vazios constituídos por fraturas e microfissuras, segundo Azevedo (2005). Para o mesmo autor, “quando um carregamento é aplicado à rocha, os espaços vazios, por apresentarem maior compressibilidade, deformam-se primeiro do que os grãos, alterando as trajetórias de fluxo e, consequentemente, as propriedades de fluxo do meio” (AZEVEDO, 2005 p. 24).

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O autor refere ainda que as distintas instâncias, alicerce e poros, constituem igualmente distintas porosidades: a matriz e a de fissuras/fraturas. A primeira, a matriz, ocupa as porções limitadas de depósito.

De fundamental importância para a geologia, química, engenharias, entre tantas outras áreas, a porosidade guarda estreita relação com outro conceito, a permeabilidade, que diz da capacidade de trânsito dos fluídos em determinados materiais, sem que para tanto, haja alterações estruturais internas.

E é justamente esse atributo, a permeabilidade, que é encontrada no segundo tipo de porosidade, a de fissuras/fraturas. Embora resulte num preenchimento menos volumoso que a porosidade matriz, a porosidade de fissuras/fraturas, como o próprio nome revela se distribui de forma capilar e, apresenta em seu trajeto alta permeabilidade.

Ainda que convergentes, as duas propriedades, porosidade e permeabilidade, estão relacionadas, mas, não são vinculantes, podendo ou não acontecer em simultâneo. Determinado elemento pode ser permeável e, por consequência, poroso, mas, nem todo o material poroso é permeável.

Esta condição tem conexão com a forma de instalação dos poros, anteriormente mencionada, interligados ou sem conexão, cuja característica de isolamento está diretamente relacionada com a incapacidade de contribuir para o efetivo escoamento, como refere Martins (2006), distanciando a porosidade efetiva da porosidade real. Os distintos materiais e meios possibilitam porosidades e permeabilidades distintas.

Características como forma, granulometria (que sintetiza especificidades materiais, mais concretamente os diâmetros dos materiais que compõem o solo) ou ainda, a forma como as partículas se organizam, em termos espaciais, segundo Medeiros (2015), são condicionantes que respondem pela porosidade dos meios. 15

Os tamanhos dos poros também, por razões óbvias, respondem pela forma de escoamento e podem ser classificados, em termos crescentes, como macroporos, mesoporos, microporos e ultramicroporos.

Segundo Wang e Park (2002 apud Azevedo, 2005), a permeabilidade está diretamente relacionada à duas escalas. A microscópica, que contempla características como dimensão, forma e a constituição em rede, e a macroscópica, que diz respeito à possibilidade de abertura de microfraturas e as respectivas especificidades e forma de distribuição.

O empacotamento é a forma como o material se acomoda em determinados espaços. Tal comportamento gera um Fator de Empacotamento (FE) capaz de identificar a proporcionalidade de ocupação, segundo Medeiros (2015).

Este, que se constitui como critério de análise no campo da geologia, entre outros, é, em Benjamin (2012), característica igualmente presente no aglomerado urbano.

Carlos (2015), a partir da analogia de Benjamin (2012), refere que a arquitetura, a ação e o movimento estabelecem relação. Desta maneira, as formas construídas empreendem a noção do cotidiano urbano, expresso pelo conjunto de pontos de referências locais, por meio dos quais o sujeito interage com o espaço citadino. Ninguém se orienta pela numeração das casas. São lojas, fontes e igrejas que dão os pontos de referência. Nem sempre fáceis. Pois, a igreja napolitana3, em geral, não se ostenta num espaço gigantesco visto à distância com transeptos, coros e cúpulas. Fica escondida, encaixada; frequentemente as altas cúpulas são visíveis apenas de poucos lugares, e mesmo assim não é fácil achar o caminho até elas; impossível distinguir o volume da igreja do volume das construções profanas vizinhas. (BENJAMIN, 2012 p. 150).

É a percepção de uma paisagem, não a bucólica ou natural, mas a construída. É a relação formal que se materializa, por meio da paisagem humana, histórica e social (Carlos, 2015).

3 Nota da autora: O autor empreendeu uma viagem à Nápoles, entre outras, a partir da qual, tece a leitura da cidade pela lente da porosidade. 16

A percepção da urbe, por meio de seus elementos compositivos, móveis e fixos, é apreendida de forma fragmentada em contextos e condições distintas, como refere Lynch (2011). O modelo de leitura urbana proposto pelo autor leva em conta o binômio estático/dinâmico, grande paradoxo que a cidade guarda. Se por um lado se apresenta como estática, ante a materialidade das edificações, por outro, a cidade é dinâmica diante da constante alteração da paisagem e dos detalhes que a constituem o que, por consequência, estaria diretamente relacionado ao atributo da legibilidade.

Na construção da escrita, a tipográfica, a legibilidade também é critério de análise, além da leiturabilidade. O primeiro diz da capacidade que o leitor tem em reconhecer cada uma das letras, enquanto arranjo formal. Já a segunda está relacionada com a facilidade de apreender o conjunto, ou seja, a articulação entre os caracteres e que permite a construção das palavras e, por derivação, as frases.

Tanto na escrita quanto na percepção urbana a leiturabilidade remete à facilidade de reconhecimento e, por conseguinte, à organização, dotando assim, tanto a prática da leitura tipográfica quanto da leitura urbana, do elemento identificador permitindo a apreensão dos respectivos conteúdos.

O aspecto da legibilidade, no âmbito do método de leitura da paisagem urbana é, para Lynch (2011), condição sine qua non, pois, diz da facilidade no reconhecimento da cidade, enquanto aspecto formal, o que contribui para a localização do indivíduo no espaço e facilita o seu deslocamento.

Em Benjamin (2012), a trama resultante da tessitura urbana guarda a qualidade do que é inacabado, de um movimento contínuo e incessante de construção e, portanto, sempre em busca da concretização, mas, nunca alcançando a respectiva finalização. Nesta perspectiva, ao se tratar do espaço urbano, a ideia de definitivo inexiste. Construção e ação se entrelaçam uma à outra em pátios, arcadas e escadas. Em todos os lugares se preservam espaço capazes de se tornar cenários de novas e inéditas constelações de eventos. Evita-se o definitivo, o gravado. Nenhuma situação aparece, como é destinada para todo o sempre; nenhuma forma declara o seu ‘desta maneira e não da outra’. Aqui é assim que se 17

materializa a arquitetura, essa componente mais concisa da rítmica da sociedade (BENJAMIN, 2012 p. 150).

O caráter dinâmico de que se reveste a cidade é, para Carlos (2015), uma das muitas dimensões de análise. Resultante que é do desenvolvimento das forças produtivas, o dinamismo urbano produz um processo contínuo de alterações, das mais variadas, que acabam também por alterar o espaço e os intervenientes. A autora referencia Balzac e a “constituição incessante do novo” para pautar o aspecto histórico que a constitui, mas, por outro lado, não a resume, pois, sem a personalidade do habitante e os vínculos construídos não se sedimenta o lugar. “A cidade é um modo de viver, pensar, mas, também de sentir. O modo de vida urbano produz ideias, comportamentos, valores, conhecimentos, formas de lazer, e também uma cultura” (CARLOS, 2015 p. 26). Da quebra dessa virtuosidade deriva o questionamento “da normatização da cidade e da vida urbana” que a consolida como “campo privilegiado de lutas de classe e movimentos sociais de toda a espécie” (CARLOS, 2015 p. 26).

O dinamismo remete ao tempo que, embora intangível, é o grande mediador contemporâneo. Se por um lado organiza, por outro subjuga. É o homem contemporâneo no âmbito de seu paradoxo temporal. A pressa no deslocamento pressupõe uma urgência em se alcançar uma meta. Neste caso, um ponto geográfico. Uma trajetória entre dois pontos. Convenciona-se assim a coexistência entre infinitos fluxos de forma anônima e solitária, mas, também, notável e coletiva. Este que se configura como um paradoxo é o que Carlos (2015) denomina de “multidão amorfa”.

A relação estabelecida com o tempo, mediada que é pela máquina, na contemporaneidade, diz de uma conexão empreendida sob o signo do conflito e da contradição, como refere Carlos (2015). A rapidez que transmuta a cidade é a mesma que opera a transformação, por consequência, do seu habitante. As temporalidades entranhadas no urbano imprimem ritmos específicos dotando a intangibilidade desta relação de novos ritmos e novas percepções. A ferocidade que, para Aguiar (2012), parece engolir os tempos individuais é a resultante da gradativa sequência de “trocas” que imprime o aumento das demandas transformando em vertiginoso, os “múltiplos 18

ritmos temporais que viabilizam o urbano como heterotemporalidade” (AGUIAR, 2012 p. 40).

A forma urbana se manifesta enquanto reprodução do capital, impondo um tempo e um ritmo. São as muitas componentes que constituem o continente que é a cidade. As componentes do tempo, do ritmo, da cor, da tecnologia, da máquina, entre tantos outros. A componente do tempo se reflete na dependência temporal contemporânea e, como esta, determina o ritmo, a cadência urbana.

É esta confluência transformadora entre espaço e tempo que, além de acelerar os fluxos, se apresenta como vetor de desconstrução, em Carlos (2015). Não está e nem estará acabado.

A ideia daquilo que é passível de ser revogado, pode, numa abordagem preliminar ser entendido como o que é instável, que não apresenta equilíbrio. Mas, a partir da construção conceitual de Benjamin (2012), sob a ótica da porosidade, é possível empreender duas leituras, entre outras: a ideia de simultaneidade e de improvisação.

Simultaneidade, enquanto comparativo, a partir da convivência dos vazios que consolidam a porosidade, estaria relacionada com as concretizações individuais que, contaminadas pelo conjunto, constituem a vida comunitária. O coletivo, composto e expresso pelas muitas frações unitárias, diz do indivíduo enquanto integrante da sociedade e da coexistência entre unidade e conjunto, entre uno e coletivo.

Já a ideia de improvisação se revela, quando relacionada ao conceito de porosidade, quando as condições alteram os perfis dos poros, alterando por consequência, a forma como os fluídos transitam; por outro lado, quando relacionada ao urbano, fala da flexibilidade em se empreender novas práticas obtendo, por consequência, novos resultados e produtos, reforçando a ideia daquilo que é dinâmico, moldável e indefinido.

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Tal característica estaria ainda relacionada à possibilidade de hibridização na utilização das edificações guardando, igualmente, um quê de teatralidade urbana por meio das muitas cenas cotidianas que o cidadão assiste, ao mesmo tempo em que integra e empreende, diariamente. Esta perspectiva converge para Lynch (2011) e sua ideia de que o habitante, mais do que mero observador, é parte integrante do espetáculo contido no espaço urbano.

A inexatidão espacial encontra aporte em Cacciari (2009) e no conceito de cidade- território, que, para o autor, revela o caráter de indefinição, mas, também de homogeneização espacial que responde a um difuso conjunto de demandas que não estabelece vínculo com o coletivo, mas, antes, o sobrepõe. É a pósmetrópole que ultrapassa o binômio centro-periferia e, subjugada pelo fator velocidade, impossibilita a construção da estabilidade, da memória, da permanência.

A fluidez de sua estruturação está na origem do “desenraizamento” e, consequentemente, da temporalidade que faz o território contemporâneo desafiar qualquer formato convencional de vida comunitária.

O habitar não tem lugar lá onde se dorme e, por vezes, se come, onde se vê televisão e se diverte com o computador da casa; o lugar do habitar não é mero alojamento. Só uma cidade pode ser habitada; mas, não é possível habitar a cidade se ela não se dispuser a ser habitada, ou seja, se não “der” lugares. O lugar é o sítio onde paramos: é pausa – é análogo ao silêncio de uma partitura. Não há música sem silêncio. O território pós-metropolitano ignora o silêncio numa partitura; não nos permite parar, “recolher-nos” no habitar. Ou seja, não conhece, não pode conhecer distâncias. As distâncias são o seu inimigo. (CACCIARI, 2009 p. 67)

A pósmetróple segue “congelada em espaços fechados” constituída que é de “contentores tradicionais” aos quais novos contentores foram acrescentados, ainda que sob distintas motivações o que amplia a representatividade da “pobreza simbólica” (CACCIARI, 2009 p. 49). O encapsulamento (Castanheira, 2015) urbano diz da política higienizadora de uma cidade-cenário que, do alto do seu paradoxo existencial, por um lado remete ao que é “comunidade”, por outro remete ao que é “privado” e seguro, promovendo a coabitação entre indiferentes. 20

O indivíduo segue na certeza que habita a cidade, mas, na verdade, existe no condomínio.

Há muito que as fronteiras das cidades são meras formalidades governativas e, tal constatação, reforça a tese que, na contemporaneidade, o habitar se dá em um território amorfo, indefinido. A incerteza de uma possível vida em comunidade diz de uma cidade enquanto conjunto de distintas formas de vida urbana onde o indivíduo habita um território, desterritorializado, e caracterizado pelo geofato, ou pela geografia dos acontecimentos.

O que isto quer dizer?

Que tudo quanto ocorre no espaço pós-metropolitano, como resposta à vertiginosa transformação, configura-se como um acontecimento, um evento (Cacciari, 2009). Hoje é possível que em determinado espaço seja construído um supermercado que, em algum tempo dará lugar a outra atividade e, portanto, outro acontecimento que constrói uma sucessão de fatos, a geografia dos acontecimentos.

Assiste-se a um fenômeno que, a certo ponto, parece irreversível: esta expansão torna-se cada vez mais ocasional, cade vez menos programável e governável. Quanto mais a “rede nervosa” se dilata, mais devora o território circundante e mais o seu “espírito” parece perder-se; quanto mais ela se torna “poderosa”, menos parece ser capaz de ordenar-racionalizar a vida que nela se desenrola. (CACCIARI, 2009 p. 58)

O território não se reconhece mais na medição espacial, mas, antes em termos temporais e, dado que o espaço é inerte (Cacciari, 2009), configura-se na atualidade, apenas como um enorme obstáculo a ser vencido e muito pouco vivido.

O que se revela um grande problema, pois, de um lado, a nossa mente raciocina em termos de ubiquidade e, portanto, vive o espaço como maldição, mas, por outro, exigimos que a cidade se organize em lugares, ainda por cima, acolhedores. Habitamos em territórios cuja métrica já não é espacial; já não existe qualquer possibilidade de definir, como para a metrópole antiga, os percursos de difusão ou “delírio” segundo eixos espaciais precisos (aqui o centro, ali a periferia). O modelo de irradiação a partir do centro, segundo determinados eixos, previa que à medida que se saía do centro, ao longo de vias bem definidas, quase canais antigos, se encontravam as funções residenciais, industriais, etc. Esta lógica, típica da organização urbana e metropolitana, deixou de ter validade. As mesmas funções podem ser encontradas por todo o lado, sobretudo, se se acentuar o grande problema 21

da reutilização dos velhos espaços industriais; podem encontrar-se, então, funções riquíssimas e centrais na antiga periferia. (CACCIARI, 2009 p. 54)

A convivência entre a celeridade dos fatos, “o tempo da metrópole” (Cacciari, 2009) , e a sua espacialidade, esbarra na intransponibilidade da materialidade edificada que, num processo de autofagia, produz e consome. O ininterrupto desenrolar de acontecimentos cobra do habitante a pronta resposta ao estímulo, mas, para Cacciari, 2009, segue sendo fundamental o acolhimento das “estadias demoradas”:

Como se, por um lado, o nosso córtex cerebral tivesse desenvolvido estas formas de mobilidade impetuosa, violenta, mas, por outro, nalguma zona profunda do cérebro continuasse a existir a necessidade de casa, proteção: uma dissociação que, agora, diz respeito à nossa estrutura fisiológica. (CACCIARI, 2009 p. 58)

A intransponibilidade da materialidade edificada demanda, no âmbito do território pós- metropolitano, “lugares que exprimam e reflictam4 o tempo, o movimento” (CACCIARI, 2009 p. 59). Esta possibilidade, apontada pelo autor, está vinculada à flexibilidade requerida pela pósmetrópole e contraria, num certo sentido, o paradoxo que reside no desejo de onipresença do indivíduo e a construção, por este mesmo indivíduo, dos espaços delimitados. Polivalência, multifuncionalidade, flexibilidade de usos e interações são alguns dos atributos fundamentais para a construção de “lugares adequados à utilização, lugares correspondentes às exigências e aos problemas do próprio tempo” (CACCIARI, 2009 p. 59), ultrapassando a compartimentação e, sobretudo, a rigidez de corpos hiper-estáveis nos territórios onde se ausenta o lugar. O simbolismo do lugar só se efetiva se o denominador comum da identidade estiver presente. De outra maneira será apenas e tão somente o território pós-metropolitano.

A cidade, enquanto locus da diversidade (LEITE, 2012), se consolida como polo promotor e difusor da criatividade e da inovação. Teóricos como Giovanni Botero (1606 apud Leite, 2012 p. 74), ou Jane Jacobs, na década de 1960, ou ainda Richard Florida (2011), já no século XXI, são unânimes, embora com perspectivas distintas, quanto à relevância da

4 Foi mantida a grafia em português de Portugal, que consta da tradução da obra referenciada. 22

criatividade, como resultado da pluralidade, e sua potencialidade enquanto vetor de transformação sustentável, enquanto perspectiva econômica, social e ambiental. Reciclar o território é mais inteligente do que o substituir. Reestruturá-lo produtivamente é possível e desejável no planejamento estratégico metropolitano. Ou seja: regenerar produtivamente territórios metropolitanos existentes deve ser face da mesma moeda dos novos processos de inovação econômica e tecnológica. (LEITE, 2012 p. 13)

O cruzamento entre cidade e inovação, na contemporaneidade, procura a sua verdadeira expressão no conceito de cidades inteligentes que, ao contrário de associações preliminares, não se caracterizam, em exclusivo, por serem altamente desenvolvidas em termos físicos, tecnológicos e digitais.

A estruturação do conceito de smart cities leva em consideração “a otimização da vida urbana” aberta que é, ao que de mais relevante é ofertado, seja por meio da cidade formal ou por meio das “novas oportunidades nos territórios informais” (LEITE, 2012 p. 9)

Na origem desta efetivação, segundo o autor, é fundamental a agilidade nos serviços governativos, por meio de propostas alinhadas aos novos formatos e que atendam às demandas contemporâneas. Em termos estruturais é fundamental a “reciclagem do território” por meio da percepção e, sobretudo, efetivação das oportunidades estratégicas ofertadas pelo espaço urbano.

Assim como Munari (2002) que acredita “que o problema não se resolve por si só”, mas, que, no entanto, “contém já todos os elementos para a sua solução”, sendo “necessário conhece-los e utilizá-los no projeto da solução”, para Leite (2012), será a própria cidade a articular um rol de respostas para um futuro sustentável. Apesar de ser a maior consumidora de recursos e a maior geradora de resíduos (Leite, 2012), o que por si só seria a sua causa mortis, as cidades contrariam o vaticínio do declínio irreversível, e, em alguns casos da sentença de morte, para emergir como espaço cada vez mais promissor.

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Apesar da crescente virtualização cotidiana, o autor entende ser a qualidade dos encontros e das interações presenciais, o que mais estimula a procura urbana.

Os movimentos de apropriação urbana têm se transformado nos tempos mais recentes, muito em função das alterações de postura dos próprios habitantes. Seja em termos políticos, ecológicos, econômicos, profissionais, acadêmicos, entre outros, a transformação da perspectiva do cidadão sobre a cidade, e a forma como esta interação tem vindo a se construir, está em mutação. Embora seja certo que esta interação sempre tenha sido dinâmica, em termos históricos, e, consequentemente, sujeita aos respectivos contextos sociais, políticos e econômicos, é indiscutível haver uma nova variável na equação, a sustentabilidade, cuja amplitude faz o referido momento adquirir a força, que emerge da urgência, na disseminação e articulação para um futuro sustentável.

Em termos históricos, é possível dizer que o “século XIX foi dos impérios, o século XX, das nações, o século XXI é das cidades” (LEITE, 2012 p. 14). Para o mesmo autor o futuro está centrado nas megacidades, que, ao contrário do que se possa inferir, constituem oportunidades e não problemas de grande escala. Estas possibilidades se desenham, de forma irrefutável, sob o espectro da sustentabilidade enquanto demanda contemporânea. Não em termos teóricos ou discursivos, mas, sim, como refere Manzini (2008), enquanto descontinuidade sistêmica, ou seja, a mandatória transformação cultural, seja em termos do indivíduo, do coletivo, ou das instâncias governativas, que a concretização da sustentabilidade requer. A sustentabilidade, enquanto dimensão humana e urbana, tem se incompatibilizado com o crescimento econômico. A velocidade vertiginosa do desenvolvimento tecnológico ocorrido no século XX, acrescida da evolução de mercado e finanças, com a anuência das instâncias governativas constitui, nas palavras de Sassen (2016), a capacidade sistêmica contemporânea capaz de gerar e, sobretudo, concentrar riqueza em escala monumental reorganizando, de forma radical, o capitalismo. E, ainda, abrindo a possibilidade da obtenção de lucratividade em âmbitos impensáveis. 24

Neste contexto, econômico e, por derivação, político, o resultado social e ambiental é devastador. O fortalecimento das grandes corporações globais é inversamente proporcional ao enfraquecimento das democracias locais e, absolutamente, indiferente à questão ambiental.

A articulação ético-política que contempla os três registros ecológicos (meio ambiente, relações sociais e o da subjetividade humana), e que constitui o conceito da ecosofia em Guattari (2019), é, para o autor, a única via possível para a reorientação dos “objetivos da produção de bens materiais e imateriais” (GUATTARI, 2019 p. 9). O despojamento sofrido pelas relações, de forma geral, seja a vida doméstica, “gangrenada pelo consumo da mídia”; seja a vida familiar, engessada pela “padronização dos comportamentos” e as relações de vizinhança empobrecidas pelas dinâmicas sociais caracteriza o embate entre o interior e o exterior (Guattari, 2019. Entre o que constitui o indivíduo, enquanto essência, e o que se encontra estabelecido, enquanto pacto entre pares, e o que materializa o contexto.

A ênfase na polaridade e no arredamento social configura-se como um contexto de ruptura próprio, e propício, para o surgimento de novas problemáticas ecológicas (Guattari, 2019). Tal afirmativa, relacionada com a transversalidade do tema, a sustentabilidade, se revê na multiplicidade das consequências a curto, médio e longo prazo.

A analogia com a porosidade se, por um lado abre uma incomensurável perspectiva de possibilidades, por outro, contempla também a segregação. A não integração. A fragmentação.

Falar de cidade e segregação, na contemporaneidade, é redundância. A forma, que sempre esteve relacionada ao conteúdo e respectiva qualidade, mais do que nunca, denuncia “padrões de diferenciação social e de separação” (Caldeira, 2016). Vinculada às questões culturais, sob o espectro histórico, o regramento do espaço urbano se constitui como um conjunto de “princípios que estruturam a vida pública e indicam 25

como os grupos sociais se inter-relacionam no espaço da cidade” (CALDEIRA, 2016 p. 211).

Historicamente, o panorama segregacionista urbano apresenta três grandes marcos (Caldeira, 2016): o primeiro deles, fixado em termos temporais entre o final do século XIX e a década de 1940, e tem no aspecto formal a separação social, ou seja, a distinção de classes se faz por meio da diversidade arquitetônica ainda que haja alta concentração espacial; a segunda, entre as décadas de 1940 e 1980, reconhecida como estrutura centro-periferia, marca a distinção de classes por meio da distância; e a terceira, em desenvolvimento desde a década de 1980, faz conviver, em justaposição, realidades sociais e formais distintas, mas, estanques que são em suas condições socioeconômicas, se impermeabilizam, e fazem inexistir interações e convivências. Este último marco, os enclaves fortificados, segundo a autora, se consolida como um conjunto de espaços “atrativos” para aquele grupo de indivíduos que procura “segurança” , ao mesmo tempo em que, fragmenta o espaço urbano, desconstruindo a fluidez e, sobretudo, o “caráter do espaço público” que, por sua vez, altera o comportamento dos cidadãos e a forma como interagem com a cidade e materializam a vida pública.

A desigualdade que marca o espaço urbano e, em especial a cidade de São Paulo, traz como característica a complexidade do modelo atual da cidade. Se a “trivialidade” do padrão centro-periferia ou cidade-campo permitia uma leitura imediata da cidade e o mapeamento da distinção social, o mesmo não ocorre com a referência atual que faz, em muitos casos, conviver realidades diversas que enfatizam a segregação e os padrões de exclusividade.

A transformação urbana que o século XXI assiste, a metrópole mutante contemporânea (Leite, 2012), que resulta na desarticulação do território, faz a justaposição entre espacialidades imiscíveis, ou seja, que não se misturam, que não se integram, dado que se propõe enquanto territórios autônomos e autossuficientes, cuja ausência de integração, se propaga como atributo. 26

A fragmentação espacial resulta da desestruturação formal. “A cidade perde seus limites, eixos, simetria” (LEITE, 2012 p. 51). A escala, juntamente com a fragmentação, constituiu um estorvo perceptivo na relação estabelecida com a cidade o que impede a leitura espacial e a localização, por meio dos mapas mentais em Lynch (2011), daquele que transita.

Desta desconstrução do espaço, entre outros, surgem os enclaves fortificados, a “propriedade privada para uso coletivo” (CALDEIRA, 2016) que, intransigente na maneira como vem consolidando padrões comportamentais e parâmetros dos modos de vida, valoriza o que é exclusivo em detrimento do que é público. O compartilhamento, palavra que integra o léxico da “nova economia”, é aqui usado no âmbito do que é restrito, privado e para uma minoria seleta. Os enclaves fortificados conferem status. A construção de símbolos de status é um processo que elabora diferenças sociais e cria meios para a afirmação de distância e desigualdades sociais. Os enclaves são literais na sua criação de separação. São claramente demarcados por todos os tipos de barreiras físicas e artifícios de distanciamento e sua presença no espaço da cidade é uma evidente afirmação de diferenciação social. Eles oferecem uma nova maneira de estabelecer fronteiras entre grupos sociais, criando novas hierarquias entre eles e, portanto, organizando explicitamente as diferenças como desigualdade. O uso de meios literais de separação é complementado por uma elaboração simbólica que transforma enclausuramento, isolamento, restrição e vigilância em símbolos de status. (CALDEIRA, 2016 p. 259)

Por outro lado, em oposição aos novos objetos de desejo, neste caso, arquitetônicos, surge a resistência de grupos que seguem acreditando, e mais do que isso, desejam, o “velho estilo de vida oferecido pela cidade” (Caldeira, 2016).

À primeira vista, os enclaves fortificados marcam a sua presença pela proposta, por aquilo que ofertam, cuja materialização se dá por meio de formas características que alteram a paisagem e a configuração espacial da cidade. Numa abordagem preliminar, portanto, poderia se dizer que se trata de uma alteração formal, pois, “muros, cercas e barras falam sobre gosto, estilo e distinção” (CALDEIRA, 2016 p. 297).

No entanto, a estética dessa nova forma de habitar, traduz um novo modo de ser e estar na cidade, na vida. 27

À medida que as elites se retiram para seus enclaves a abandonam os espaços públicos para os sem-teto e os pobres, o número de espaços para encontros públicos de pessoas de diferentes grupos sociais diminui consideravelmente, As rotinas diárias daqueles que habitam espaços segregados – protegidos por muros, sistemas de vigilância e acesso restrito – são bem diferentes das rotinas anteriores em ambientes mais abertos e heterogêneos. (CALDEIRA, 2016 p. 301)

Esta nova forma de habitar incide também sobre a dinâmica urbana, seja na forma como se dão os fluxos, como se constroem os trajetos cotidianos, como se utiliza o transporte público e, ainda, como se usufrui dos espaços públicos.

Alinhada à ideia que a cidade emite e recebe mensagens (Lefebvre, 2012) e que o indivíduo é, antes de tudo, um ser sensorial, estranho seria se a percepção, por parte do cidadão, sobre a forma urbana, não tivesse sofrido nenhuma alteração, ou seja, se as respostas aos estímulos, formais, cromáticos, entre outros, permanecessem os mesmos ante tamanha transmutação (Caldeira, 2016).

A emissão e recepção de mensagens, para Lefebvre (2016), a codificação e decodificação, estão diretamente relacionadas com a compreensão ou incompreensão dos estímulos e significados, já que a cidade é “um sistema (único) de significações e de sentido, portanto, de valores” (LEFEBVRE, 2016 p. 68), ainda que fragmentado.

Mas, como integrar? Como reunir o fragmentado?

A pesquisa desenvolvida por Schröder (2016) propõe a construção de uma visão atualizada dos territórios onde a sobreposição entre urbano e rural ganha novos contornos e, consequentemente, novas possibilidades. Aqui, onde não há lugar para a dicotomia urbano-rural, este novo composto é entendido como potencialidade e, as características que lhe são próprias, como conhecimento latente. A abordagem assenta na premissa que o diagnóstico deve ser feito a partir de uma nova visão sobre a heterogeneidade dos territórios contemporâneos sem a qual é impossível extrair a sua potencialidade intrínseca seja em termos espaciais, funcionais ou simbólicos.

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1.3. A CIDADE | O DIREITO

Direito à cidade, direito e cidade, fazer jus à cidade.

Do latim, directum, direito tem o seu significado alinhado à ideia do que é reto, mas, o também pode significar dirigir, alinhar (Fiúza, 2003). O termo direito foi introduzido, com esse sentido, já na Idade Média, aproximadamente no século IV A palavra usada pelos romanos era ius. Quanto a esta, os filólogos não se entendem. Para alguns, ius vem de iussum, particípio passado do verbo iubere, que quer dizer mandar, ordenar. O radical, para eles, seria sânscrito, Yu (vínculo). Para outros, ius estaria ligado a iustum, aquilo que é justo, tendo seu radical no védico Yos, significando aquilo que é bom. As várias línguas ocidentais usam o mesmo radical - aquilo que é reto, correto -para identificar o termo direito. Em francês, droit; em alemão, Recht; em espanhol, derecho; em italiano, diritto; em russo, pravo, também significando o que é correto; em inglês, right, apesar de mais usado o termo law, do latim lex — lei. (FIÚZA, 2003 s/p)

Em termos semânticos a significação de direito é plural. Aquilo que é reto, o que está subordinado às leis, o próprio conjunto de leis ou a ciência que as estuda são sentidos possíveis de serem alinhados à palavra. Todas os significados associados trabalham a ideia do que é correto por meio de um conjunto de “normas gerais e positivas, que regulam a vida social” (RADBRUCH, 1953 apud FIÚZA, 2003). Embora estejam vinculadas ao indivíduo, as associações são feitas de maneira aberta, transversal, no sentido do indivíduo em relação ao outro, seja este outro um outro indivíduo ou a coletividade. No entanto, há ainda outro significado, e que diz do “poder” que cabe ao sujeito de pleitear aquilo que é sua pertença (Fiúza, 2003).

Falar de direito à cidade é abordar os termos que permitem a interação entre o cidadão e a cidade.

Mas, quem são os dois intervenientes? Como interagem?

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É certo que a maneira como tem se processado a transformação urbana assenta no processo de industrialização, na Revolução Industrial. Quando os objetos trocaram a assinatura artesanal de suas unicidades pelo anonimato da produção seriada, o mundo ficou, para sempre, transformado. Tanto em termos econômicos, sociais, geográficos, urbanos. Tudo foi alterado.

Indutor, para usar a expressão de Lefebvre (2016), é um só: a industrialização. Induzidos, para utilizar outra expressão do autor, são muitos, entre os quais, se colocam todos os aspectos urbanos (crescimento, planejamento, desenvolvimento, entre outros), além da “da crescente importância dos lazeres e das questões relativas à cultura” (Lefebvre, 2016)

Temos à nossa frente um duplo processo ou, preferencialmente, um processo com dois aspectos: industrialização e urbanização, crescimento e desenvolvimento, produção econômica e vida social. Os dois “aspectos” desse processo, inseparáveis, têm uma unidade, e, no entanto, o processo é conflitante. Existe, historicamente, um choque violento entre a realidade urbana e realidade industrial. (LEFEBVRE, 2016 p. 16)

A cidade é todo o conjunto de relações sociais, comerciais, corporativas e governativas. Há uma ordem próxima e uma ordem distante (Lefebvre, 2016). A primeira delas resulta das relações cotidianas, diretas. Entram aqui os indivíduos e os grupos, que podendo ter maior ou menor amplitude, possuem graus de organização distintos. A segunda ordem, a distante, é aquela que abrange tudo quanto orbita no mundo institucional. Está diretamente relacionada com o poder e se rege por normativas, códigos e regulamentos.

A cidade é uma mediação entre as mediações. Contendo a ordem próxima, ela a mantém; sustenta relações de produção e de propriedade; é o local de sua reprodução. Contida na ordem distante, ela se sustenta; encarna-a, projeta-a sobre um terreno (o lugar) e sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade inscreve essa ordem, prescreve-a, escreve-a, texto num contexto mais amplo e inapreensível como tal a não ser para a meditação. (LEFEBVRE, 2016 p. 52)

Ordem imaginada.

É assim que Harari (2019) define as muitas teias de cooperação tecidas a partir do compartilhamento mútuo de crenças intangíveis. É impensável admitir que 30

agrupamentos da magnitude do Império Romano ou da antiga Mesopotâmia se tenham estruturado a partir de algo etéreo que não encontra aporte “em instintos arraigados nem em relações pessoas” (HARARI, 2019 p. 113), mas, antes, na incomensurável potência dos mitos.

A busca de uma explicação para a “ordem imaginada” faz ainda perceber que é impossível obter-se uma perspectiva aprofundada. A condição de palimpsesto, da humanidade, deixa perceber apenas o que é superficial. Palavra de ordem dúbia, relativa à superfície e, onde por este mesmo motivo, ausenta-se a profundidade, a dificuldade na percepção da “ordem imaginada” reside, segundo Harari (2019), num tripé. No primeiro apoio, ainda que “imaginada” a ordem está, de forma indelével, gravada na materialidade do mundo; o segundo apoio joga sobre o fato que a referida ordem, ainda que não seja de forma ostensiva, rege os quereres e os anseios dos indivíduos; já no terceiro, e último, apoio do tripé, o autor afirma que a ordem pressuposta é intersubjetiva. Mesmo que, por um esforço sobre-humano, eu consiga livrar meus desejos pessoais das garras da ordem imaginada, sou só uma pessoa. Para mudar a ordem imaginada preciso convencer milhões de estranhos a cooperarem comigo, pois, a ordem imaginada não é uma ordem subjetiva que só existe na minha imaginação – é, antes, uma ordem intersubjetiva, que existe na imaginação partilhada de milhares e milhões de pessoas (HARARI, 2019 p. 124).

Para reforçar a premissa, o autor faz a distinção entre o que é objetivo, subjetivo e intersubjetivo. O primeiro, o fenômeno objetivo, existe por si só, independentemente daquilo que o coletivo de indivíduos creia. O segundo, o subjetivo, está diretamente relacionado com a consciência do indivíduo. Já o terceiro, o intersubjetivo, é aquilo que está presente no coletivo das consciências subjetivas. Se um único indivíduo mudar as suas crenças, ou mesmo morrer, será de pouca importância. No entanto, se a maioria dos indivíduos na rede morrer ou mudar suas crenças, o fenômeno intersubjetivo se transformará ou desaparecerá. Fenômenos intersubjetivos não são fraudes malévolas nem charadas insignificantes. Eles existem de uma maneira diferente de fenômenos físicos como a radioatividade, mas, seu impacto no mundo ainda pode ser gigantesco. Muitas das forças mais importantes da história são intersubjetivas: leis, dinheiro, deuses, nações (HARARI, 2019 p. 125).

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A confluência entre direito e cidade esbarra, na perspectiva de Lefebvre (2016), na tecnicidade do urbanismo que, embora não seja de domínio transversal, vem cooptando interesses múltiplos. Para além da esfera técnica onde é tratado por especialistas, o tema ganha outras perspectivas e, sobretudo, outras classes de interessados constituindo o que, nas palavras do autor, poderia ser definido pelo binômio ideologia/prática.

Apesar da relevância adquirida as questões continuam sem ser entendidas em plenitude e sem obter a importância prática que o discurso reporta (Lefebvre, 2016).

O direito à cidade pode ser entendido como aquele relacionado à posse e, portanto, diretamente proporcional ao valor da propriedade, mas, por outro lado, “há ocasiões em que o ideal dos direitos humanos assume uma forma coletiva (Harvey, 2014). O direito do cidadão à cidade, nesta perspectiva, guarda estreita relação com a desigualdade social.

A concepção de uma cidade centrada no cidadão passa pela revisão da ordem urbana vigente, seja a econômica, social, política, jurídica, entra tantas outras, que inclui ainda a revisão do protagonismo do coletivo em detrimento do individual (Carlos, 2015). A autora menciona Lefebvre (2016) e a sua perspectiva acerca do que seria esse conjunto de direitos a que o autor denomina “forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e à habitação” (LEFEBVRE, 2016 apud Carlos, 2015 p. 33) e que poder-se-ia resumir no tripé: atividade produtiva, atitude participativa e entretenimento além, claro, do ócio. Esta abordagem tripartida consolidaria a cidade enquanto produto do trabalho da coletividade numa perspectiva proativa, contrariando a ideia de espaço urbano como continente de inação e passividade e, sobretudo, ratificando a leitura do cidadão como sujeito preferencial da ação. Hoje o homem está no centro da discussão do espaço, na posição de sujeito. O espaço é humano porque o homem o produz e não, simplesmente, porque nele habita. A sociedade produz o espaço a partir da contradição entre um processo de produção socializado e sua apropriação privada. Portanto, o espaço se reproduz, reproduzindo conflitos. (CARLOS, 2015 p. 34)

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“Porque nele habita” converge para a ideia que a cidade e o indivíduo são indissociáveis e, portanto, a qualidade de ambos interfere mutuamente na produção desse espaço. “O tipo de cidade que queremos não pode ser separada da questão do tipo de pessoas que queremos ser, que tipos de relações sociais buscamos, que relações com a natureza nos satisfazem mais” (HARVEY, 2013 p. 28). Esta abordagem leva em conta ainda o que se deseja como vida, como cotidiano e, contempla até a questão estética.

Em sua perspectiva individual, só há a efetivação da relação jurídica na medida em que o indivíduo, a pessoa de direito em Honneth (1997), se revê na interação com o Estado, e mediante a ligação intrínseca com os princípios morais universalistas.

Aquele que habita, o habitante, espera habitar. Mas será que as habitações trazem nelas mesmas a garantia de que aí acontece um habitar? (Heidegger, 1951)

Para Heidegger (1951) é muito claro que a finalidade de todo o construir é o habitar, ainda mais se levado em conta o fato que a palavra bauen, além de construir, também significa proteção e cultivo, este último, no sentido rural do termo: o cultivo da terra. A distinção entre o sentido da palavra construir e da palavra produzir, explicita que a primeira contempla o cuidado e o desvelo, próprios da serenidade do plantio à espera da colheita. Em oposição ao cultivo, construir diz edificar. Ambos os modos de construir – construir como cultivar, em latim, colere, cultura, e construir como edificar construções, aedificare – estão contidos no sentido próprio de bauen, isto é, no habitar. No sentido de habitar, ou seja, no sentido de ser e estar sobre a terra, construir permanece, para a experiência cotidiana do homem, aquilo que desde sempre é, como linguagem diz de forma tão bela, “habitual”. Isso esclarece porque acontece um construir por detrás dos múltiplos modos de habitar, por detrás das atividades de cultivo e edificação. Essas atividades acabam apropriando-se com exclusividade do termo bauen (construir) e com isso da própria coisa nele designada. O sentido próprio de construir, a saber, habitar, cai no esquecimento. (HEIDEGGER, 1951 s/p)

Ao apresentar a amplitude da palavra, o autor realça que o “traço fundamental do habitar” reside no ato de resguardar, em sua expressão máxima de cuidado: “ser trazido 33

à paz de um abrigo” e “permanecer pacificado na liberdade de um pertencimento” (HEIDEGGER, 1951 s/p) Na relação do homem com a terra, a que o autor denomina quadratura, os objetos, inicialmente, são somente objetos para, na sequência, em dadas circunstâncias, passarem a expressar sentidos outros. Quando isso acontece os simbolismos estão presentes e o objeto alça a condição de lugar. Desta forma o objeto propicia espaço que, derivado que é da palavra raum, remete ao “lugar arrumado, liberado para um povoado” (HEIDEGGER, 1951 s/p). Espaço é, essencialmente, o fruto de uma arrumação, de um espaçamento, o que foi deixado em seu limite. O espaçado é o que, a cada vez, se propicia e, com isso, se articula, ou seja, o que se reúne de forma integradora através de um lugar... Por isso os espaços recebem sua essência dos lugares e não do espaço. (HEIDEGGER, 1951 s/p)

Na tessitura da reflexão, Heidegger (1951) coloca ainda os seguintes questionamentos: Como o lugar se relaciona com o espaço? E por outro: qual a relação entre o homem e o espaço? Entre o corpo e o espaço?

Em Cacciari (2009), o corpo também remete ao lugar. A condição de lugar primeiro do corpo do indivíduo, por si só, encerra a necessidade que este encontro, lugar-lugar com lugar-corpo, seja empreendido em um lugar. Tal é o imbricamento desta colocação, que faz o autor se questionar acerca da resolução do lugar ante o “continuum temporal”.

O espaço, enquanto “instância da sociedade” (Santos, 2008), “contém e é contido pelas demais instâncias”. O fato de conter não encerra a amplitude conceitual, pois, para Santos (2008), não é suficiente o fato de ter como conteúdo os “objetos geográficos, naturais e artificiais” derivados que são da natureza. Há que se ter em conta, obviamente, a sociedade e as muitas interações. Assim, temos, paralelamente, de um lado um conjunto de objetos geográficos distribuídos sobre um território, sua configuração geográfica ou sua configuração espacial e a maneira como esses objetos se dão aos nossos olhos, na sua continuidade visível, isto é, a paisagem; de outro lado o que dá vida a esses objetos, seu princípio ativo, isto é, todos os processos sociais representativos de uma sociedade em um dado momento. Esses processos, resolvidos em funções, realizam-se através de formas. (SANTOS, 2008 p. 12) 34

O ato de entranhar-se diz do espaço enquanto entidade social e, justamente por esta possibilidade, deve ser analisado levando-se em conta três aspectos: o formal, o estrutural e o funcional (Santos, 2012), em simultâneo, sob pena da análise obtida ser parcial e não articulada, em sua totalidade (Lefebvre, 1961 apud Santos, 2012). “Combinar estrutura e forma ou função e forma”, apenas, “equivaleria a supor uma relação sem mediação”, no primeiro caso e, no segundo, “uma mediação sem causa motora”. (Santos, 2008). Os movimentos da totalidade social modificando as relações entre os componentes da sociedade alteram os processos, incitam a novas funções. Do mesmo modo, as formas geográficas se alteram ou mudam de valor; e o espaço se modifica para atender às transformações da sociedade. (SANTOS, 2002 p. 55)

Os objetos constroem aproximações, estabelecem relações que, por si só, contém vários lugares, que podem estar mais ou menos distantes do próprio objeto (Heidegger, 1951). Os intervalos entre os muitos possíveis lugares, dizem de distanciamentos, ou seja, espaço-entre. “É assim que proximidade e distância podem se tornar simples distanciamentos entre homens e coisas, intervalos de um espaço-entre” (HEIDEGGER, 1951 s/p).

A relação entre forma e conteúdo, que se materializa no espaço, é, na perspectiva do autor, uma relação dialética que adquire significado, justamente, no processo de corporificação e que só é apreendido por meio da realidade local, ou seja, da contextualização (Santos, 2008).

Da materialização da cidade.

Em termos urbanos, a produção do capital, embora necessite do indivíduo para a sua efetivação, prescinde da dimensão humana em detrimento da cidade enquanto locus produtivo. Ao não contemplar o sujeito, “a obra humana que parece se sobrepor ao homem” (CARLOS, 2015 p. 77), explicita a contradição que habita o cotidiano real e o cotidiano desejado.

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A ideia de concretização a partir das relações sociais estabelecidas diz do homem enquanto ser social que, ao estabelecer conexões várias, se constitui, por consequência, como a dimensão humana do espaço urbano, “enquanto ser individual e social no seu cotidiano, no seu modo de vida, de agir e de pensar” e, sobretudo, como empreende “as possibilidades de mudança” (CARLOS, 2015 p. 70). Trata-se da essência referenciada pela autora e que contempla ainda uma parcela virtual de constituição: a capacidade intelectual do sujeito.

Este que se efetiva enquanto capital intelectual humano, seja em termos individuais ou coletivos, faz transcender a ideia de espaço urbano enquanto espaço do capital, em exclusivo, para instalar uma nova condição de interação e manifestação, a política.

A condição de polaridade contida na cidade, e que Carlos (2015) denomina dominação/subordinação, propicia o conflito e, nesta perspectiva, é possível também empreender o espaço urbano enquanto espaço de buscas, reinvindicações, lutas.

A hierarquização da sociedade, no âmbito do processo de reprodução espacial, está patente no processo de apropriação pelo cidadão, que de forma privada, distingue a ocupação espacial (“a diferença entre bairros expressa isso claramente” CARLOS, 2015 p. 78).

Em Harvey (2013), o direito à cidade, tem ainda outra perspectiva. Não se limita a oportunizar o acesso ao que está consolidado, enquanto matéria, enquanto organização. É efetivamente, a obra aberta de Eco, a espera de ser alterada, transformada, adaptada, de forma a responder ao que se anseia. E nesta ótica, toma para si, imediatamente, o cariz do coletivo, tendo em conta que o esforço demandado pela mudança reside no poder que emerge da coletividade e que materializa a força que o coletivo pode exercer sobre o processo de urbanização (Harvey, 2013).

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A transformação urbana, derivada da revolução industrial, incrementou a força do coletivo. A rápida urbanização transformou o indivíduo em persona urbana ao mesmo tempo em que alterou a escala do processo de transformação. Agora a escala é global.

E se a escala foi alterada, a convivência glocal, entre o que é global e o que é local, se desequilibra, colapsando os equilíbrios instáveis e incipientes. As noções de distância, velocidade, acesso, rapidez, entre muitas outras, foram absolutamente transformadas pelo fenômeno da globalização. As distâncias foram, teoricamente, encurtadas; a velocidade foi ampliada; o acesso expandido; a rapidez tornada cada vez mais imediata e, proporcionalmente, mais fugaz.

A noção do espaço ocupado pelo indivíduo também se transmutou. A globalização incide igualmente sobre a espacialidade que abriga o habitante e faz confrontar o que é local, o que é identitário, com o que é comum ao todo, o global. Nas cidades genéricas de Koolhaas (2009) coexiste o hiperglobal e o hiperlocal, o que é de qualquer parte do mundo e o típico (Leite, 2012 p. 52).

Deve-se ter em mente, porém que, mesmo nos lugares onde os vetores da globalização estão mais presentes, o território habitado e com a vida local mantém características próprias, cria novas sinergias que se contrapõem à globalização. Vive-se, portanto, uma realidade de crise, um conflito cultural da sociedade que se apresenta na escala do território. Esses processos simultâneos – globalização e fragmentação – geram territórios contraditórios, desconexões e intervalos na mancha urbana. (LEITE, 2012 p. 50)

O fenômeno da globalização, na contemporaneidade, conduz o processo de reprodução do espaço urbano. A diminuição das distâncias e a pseudo-extinção das barreiras geográficas conforma um cenário próprio e propicio para as trocas, o estabelecimento das muitas formas intercâmbio, ou seja, de proximidade.

Paradoxalmente, o que parece aproximar, distancia em termos da reprodução do espaço urbano, enfatizando distâncias e desigualdades sociais e econômicas. O espaço, que nas palavras de Carlos (2015) é cada vez mais “mundial”, está, nesta perspectiva, cada vez mais subordinado à uma série de tomadas de decisão que, sendo globais, estão 37

distantes das realidades locais que, por não se constituírem como potências econômicas, não se pronunciam e apenas subscrevem.

Daqui resultam as expulsões em massa. A tese de Sassen (2016) assenta no fato que o “local” sucumbiu ao “global”, em função do fortalecimento corporativo. E, como resultado, acontece a expulsão em massa: seja geográfica, seja profissional, seja social. A massa de expulsos configura um território cada vez maior, mas, paradoxalmente, apesar da escala, é “tornado” invisível, porque assim convém.

Se não é visto, não existe.

Ocorre que, para a autora, essa invisibilidade, o aspecto sombrio e subterrâneo, deste imenso território, configura uma potência: “os novos espaços para a criação: de economias locais, de novas histórias e de novas formas de pertencimento” (SASSEN, 2016 p. 263)

A cidade, enquanto definição conceitual, contempla inúmeras formas e perspectivas.

É tácito que o espaço urbano é o locus da produção dado que concentra, como refere Carlos (2015), todos os meios que propiciam a efetivação de mercado. Não cabe a exaustão histórica ou descritiva. Cabe sim a percepção de que a maior parte das abordagens privilegia as premissas de materialização econômica. Trata, portanto, da reprodução urbana enquanto capital, enquanto caráter funcional.

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1.4. A CIDADE | A URBANIDADE

Urbanus. Urbano. Relativo ou pertencente à cidade. Urbanitas. Urbanidade. Qualidade do que é urbano. Civilidade. Afabilidade.

A cidade deriva da relação estabelecida entre o indivíduo e a natureza. Esta conexão, cujo domínio é pertença do sujeito, não só amplifica esta supremacia como também desenha as interpretações e os sentidos que o indivíduo é capaz de construir e que se consolidam como o repertório de leitura do seu contexto (Carlos, 2015).

Resulta também da perspectiva, por meio da qual, o sujeito constrói este vínculo, o que rege a forma como se dará o processo de entendimento e de explicitação de seu entorno.

Fruto do processo de sedentarização (imaginação e articulação) dos indivíduos que é, quando estes determinam uma nova relação com o espaço habitado a cidade passa a se consolidar por meio da articulação dos processos de reprodução e produção do espaço urbano (Rolnik, 2015).

A reprodução do espaço urbano, em termos da geografia, diz da capacidade de materialização e acumulação. Reproduzir o espaço é efetivar a vida cotidiana. Tal vínculo, diretamente relacionado à renda, ou seja, a capacidade econômica do indivíduo, decreta a sua forma de estar no espaço urbano, seja em termos da localização de sua moradia, da forma como é essa moradia e, sobretudo, onde está inserida essa moradia.

A cidade, enquanto mercado, surge, em proporção direta à aglomeração de pessoas que, por consequência, fomenta o locus que fomenta a mútua colaboração e troca, regulando demanda e produção (Rolnik, 1988).

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Em termos unitários é prover. Em termos coletivos, prever e organizar.

Em termos unitários é o processo colaborativo. Em termos coletivos, a especialização.

Em termos unitários é local, circunscrito. Em termos coletivos, a expansão e a articulação.

Em termos unitários é sobrevivência. Em termos coletivos, o mercado.

Coexistindo com a prática acumulativa está a dimensão humana que, ao contemplar o desenvolvimento do indivíduo em toda a sua transversalidade, encerra, obviamente, um paradoxo que, nas palavras de Carlos (2015), constitui um conglomerado de significações contrastantes.

Já a conceituação de produção do espaço urbano transcende a abordagem exclusiva da “concentração do processo produtivo” (CARLOS, 2015 p. 26), e, numa perspectiva de maior amplitude, contempla o: Momento histórico, não só que se refere à determinação econômica do processo (produção, distribuição, circulação e troca) mas também às determinações sociais, políticas, ideológicas, jurídicas, que se articulam na totalidade da formação econômica e social (CARLOS, 2015 p. 27).

O desenvolvimento desigual que está na origem da segregação que, por sua vez, deriva dos formatos de apropriação, acontece a partir das relações pessoais e do desenvolvimento do coletivo, da sociedade.

A consciência do conjunto, resultado dos processos sociais, se dá em determinado momento histórico apresentando como contexto a altercação entre aquilo que é bom para o fortalecimento do capital e aquilo que é bom para o coletivo. 40

Deste conflito resulta a identificação individual enquanto parte integrante daquilo que se convencionou chamar de classe e que caracteriza, justamente, a distinção entre as muitas existentes. Na luta, na possibilidade da troca, de mudanças de transformação da vida cotidiana há a identificação com o outro, criam-se laços de união e solidariedade entre as pessoas envolvidas, e com isso, a consciência do coletivo como base de qualquer movimento social. (CARLOS, 2015 p. 30).

Para Carlos (2015) é de fundamental importância o entendimento que “a classe se produz pelos homens ao viver sua própria história, as classes não existem independentemente das relações e lutas históricas”. Na perspectiva da autora o espaço enquanto unidade autônoma não existe posto que, a sua produção não prescinde daquilo que resulta do coletivo, da sociedade.

O espaço é reproduzido em decorrência daquilo que é social e histórico, daquilo que é a “forma de ocupação e/ou utilização de determinado lugar (...). A reprodução do espaço (urbano) recria constantemente as condições gerais a partir das quais se realiza o processo de reprodução do capital, da vida humana, da sociedade como um todo”. (CARLOS, 2015 p. 30).

Além de contemplar o processo de produzir e consumir, agir e pensar, ver e sentir, entre tantos outros, o espaço é dinâmico (em função de todas as construções ali consolidadas) e, além de se consubstanciar em termos do indivíduo e, posteriormente, em termos da coletividade, passa a existir fora do sujeito, enquanto produção social real (Carlos, 2015). O protagonismo do sujeito, “ser social agente da vida econômica e da produção do espaço, que tendo por base as relações sociais, realiza profundas modificações no quadro econômico-político e social” (CARLOS, 2015 p. 32). Nesta perspectiva o espaço se materializa enquanto obra do sujeito e esta obra é, ao mesmo tempo resultado e modus operandi, do próprio sujeito e, portanto, o “espaço é um produto social em ininterrupto processo de reprodução” (CARLOS, 2015 p. 32)

Além da condição política fica patente também que a cidade se constitui, em essência, enquanto construção coletiva. O coletivo, enquanto reunião de unidades, em termos 41

urbanos, fala do indivíduo e da massa. O indivíduo está relacionado com a ideia de fragmento de uma totalidade. A massa, diz de um conjunto compacto de cidadãos, permanentemente dirigidos e organizados em seus fluxos, desde o semáforo, que sistematiza o trânsito, passando pelos horários de funcionamento das instituições, entre tantos outros (Rolnik, 1988).

A regulação dos fluxos é uma constante urbana. É o que orquestra a justaposição/sobreposição das várias unidades que efetivam a cidade e que se evidencia, enquanto essência organizacional, quando estabelece a polaridade permissão/proibição.

A convivência urbana fala dos muitos indivíduos cuja coabitação faz reverter múltiplos unos em coletivo. Fala do conjunto.

Esta convivência faz coexistir o indivíduo e tantos outros distintos dele. Aquele que fora do indivíduo, espelha o próprio, seja pela similaridade, oposição, alinhamento, dissensão, entre tantas outras possibilidades, encontra aporte no conceito do Outro. “A definição de nossas identidades envolve um movimento de reapropriação: reconhecer- se através do reconhecimento das características e idiossincrasias que constituem o Outro como Outro” (AGUIAR, 2012 p.44).

É o alinhamento nos posicionamentos, ou a falta dele, que diz de uma coexistência pacífica ou tensionada. A primeira contempla a convivência entre similares onde está presente um denominador comum e um alinhamento conceitual; já na segunda, a distinção dos posicionamentos, pode fazer coexistir as diferenças ou estar na origem de conflitos e embates.

Trata-se da contraposição entre urbanidade e a tensão, como refere Aguiar (2012). A urbanidade define o espaço de convivência ideal. Já a tensão, derivada que é da distinção social, de seu sistema de classes e, consequentemente, da produção de contextos socioeconômicos que apartam e 42

distanciam, propicia a consolidação do “campo social” (Bourdieu, 1989 apud Aguiar, 2012 p. 45). Espaço que abriga o embate, o campo social em Bordieu (1989), diz de uma cidade que não se restringe ao somatório das unidades que compõem o coletivo, posto que a resultante desta interação, a interface, também influencia e caracteriza este campo de ação, o espaço urbano. Enquanto conceituação, a Teoria do Campo, desenvolvida por Bordieu (1989), refere que a distinção, e, sobretudo, a pluralidade, dos indivíduos, constitui um leque de oportunidades, denominado pelo autor de “forças” e, por meio de distintas intensidades, qualidades e posicionamentos, determinam múltiplas interfaces, com capacidade de articular estratégias de ação.

Abordar o tema do urbano e, sobretudo, a sua qualidade, em uma perspectiva preliminar, pode fazer com que se estabeleçam conexões, em exclusivo, com a infraestrutura de uma cidade. Esta perspectiva, estritamente funcionalista, diz de uma abordagem necessária, como é óbvio, mas, de forma alguma suficiente.

Conhecida como urbanidade a qualidade de vida na cidade, a par da óbvia relação com o urbano, em termos semânticos, elenca uma série atributos que definem o espaço citadino. A cidade é o equipamento, a via, o meio de transporte, o serviço, o edifício, a propriedade. É também, a forma como este conjunto é utilizado. Da intersecção entre o cidadão e tudo quanto a cidade oferta resulta uma experiência que, podendo ser positiva, negativa ou neutra, diz da qualidade da interface.

Parte desta interface, que decorre da interação, é passível de ser mensurada.

No entanto, outra parte significativa, não se tangibiliza.

É imaterial, mas, carrega em si, a potência que só os encontros, ou confrontos, podem determinar. É a forma como as relações são construídas.

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Durante um longo período, a abordagem da temática urbana era incompatível com palavras tão etéreas como afetividade, experimentação, criatividade ou coletivo.

A tecnicidade urbana, por razões óbvias, estava próxima de vocábulos mais objetivos (quiça, pragmáticos). Planejamento, plano, projeto, programa, licença, protocolo, são algumas delas. A qualidade da infraestrutura ofertada pela cidade estabelece experiências. Domínio da química, a experiência, enquanto método científico (o experimento), insere-se também no domínio da filosofia enquanto resultante do processo de interação que, neste caso é sensorial. A experiência é, portanto, uma aquisição intangível obtida por meio dos sentidos.

Vocábulo usual, também, da área da comunicação, a experiência é usada aqui enquanto vivência cotidiana urbana na perspectiva da tessitura da interação, ou seja, da interface entre cidadão e cidade.

Bonsiepe (1997), discorrendo sobre a atividade projetiva voltada, em exclusivo, à forma, propõe um diagrama tripartido e que contempla: o domínio do usuário, o domínio da tarefa a ser executada e o domínio da ferramenta, por meio da qual, o usuário efetiva a sua ação. Para o autor, somente em face do acoplamento dos três domínios é possível atingir o objetivo, a efetiva ação. A resultante do acoplamento recebe o nome da interface. Temos que levar em conta que interface não é uma "coisa", mas o espaço no qual se estrutura a interação entre corpo, ferramenta (objeto ou signo) e objetivo da ação. É exatamente este o domínio central do design. A interface revela o caráter da ferramenta dos objetos e o conteúdo comunicativo das informações. A interface transforma objetos em produtos. A interface transforma sinais em informação interpretável. A interface transforma simples presença física (Vorhandenheit) em disponibilidade (Zuhandenheit) (BONSIEPE, 1997 p. 12)

Para o autor, cuja área de atuação e reflexão é o design, este não se limita à tangibilidade de produtos e artefatos. A perspectiva tradicional de sua interpretação como forma, função ou estilo há muito que não diz de sua real extensão: "o domínio da ação efetiva" 44

(BONSIEPE, 1997 p. 16). E acrescenta ainda, buscando aporte em Maturana (1990) e no seu conceito de acoplamento estrutural, que o âmbito desta efetividade é o corpo, onde as ferramentas (sejam materiais ou imateriais) deverão ser acopladas afim de que a efetiva interação possa acontecer. Quando há um acoplamento estrutural, o processo comunicativo de um sistema aparece no outro não apenas como uma perturbação, mas também como uma ferramenta auxiliar de funcionamento das operações; seu significado, no entanto, vai ser construído apenas dentro do próprio sistema em que foi realizado o processo comunicativo, de forma independente do significado que tinha naquele sistema original. Pelo acoplamento estrutural um sistema "empresta" de um outro sistema, que é visto como parte do ambiente daquele primeiro, as estruturas necessárias para realizar as suas operações. (NEVES, 2005 p. 55)

Há uma relação de ludicidade nesta interação que, em Luckesi (2006), traduziria a plenitude de determinada experiência. Na classificação aristotélica do homem há aquele que produz, o Homo Faber; aquele que aprende, o Homo Sapiens; e aquele que cria, no sentido da criatividade, o Homo Ludens. Embora, enquanto conceito, esteja intimamente vinculado ao jogo, o lúdico representa, também, tudo quanto seja prazeroso no desenvolvimento de uma ação, uma atividade, na interação com os objetos, com o outro.

A experiência prazerosa que está na origem da ludicidade resulta da interação entre pares.

Esse encontro cotidiano e plural é, na perspectiva de Calliari (2016), a “essência da civilidade” (CALLIARI, 2016 p. 46). Para o autor tudo quanto é arregimentado para que os indivíduos coexistam, ainda que se desconheçam, de forma minimamente indulgente, é o que rege um sistema de normas a que se denomina civilidade. O autor se vale de Freud para explicitar que esta convivência contempla conflitos cotidianos que estariam assentes na ideia que o primeiro deles é o interno, ou seja, o embate do indivíduo com o seu próprio instinto. Ora, se a própria convivência com outros homens é uma ameaça à felicidade individual, por que então vivemos em sociedade? Para Freud, o “homem civilizado trocou um tanto de felicidade por um tanto de segurança”. Ou seja, a liberdade da vida solitária é teórica; ela tornou-se inexequível diante da ameaças e provações que o homem experimentou ao longo da sua história. (CALLIARI, 2016 p. 47) 45

A par da sombria perspectiva freudiana, a convivência entre distintos atores, a pluralidade, induziu o reenquadramento do binômio eu/outro. A construção do eu, em Freud (1923), contempla o outro, pois, é a partir dessa interação que o contorno do eu se materializa. A par do impulso sexual e do narcisismo, a transmutação conceitual do eu se consolida como decorrente do contexto, da realidade, da presença do outro, para quem o “eu” desenvolve respostas e, portanto, comportamentos.

A constituição do espaço público passa pela justaposição entre distintas abrangências: a escala mínima, da convivência entre os integrantes de um agrupamento de indivíduos que moram próximos uns dos outros, os vizinhos; passando pela escala mediana que amplia esse espectro de convivência, como os locais de trabalho e estudos, por exemplo; até a escala máxima que faz conviver indivíduos que não se conhecem, mas, que apresentam entre si um denominador comum: seja uma manifestação política, por exemplo, ou uma reunião na praça para assistir a um show, entre tantas possibilidades. Todas essas escalas de interação, todos esses fenômenos, resultam em aspectos simbólicos que induzem e, sobretudo, consolidam a identidade, aquilo que identifica, que faz a singularidade dos lugares. A transformação histórica do simbólico urbano é, para Calliari (2016), o que determina as muitas cidades surgidas ao longo do desenvolvimento humano, mas, sobretudo, faz perceber o grau de relevância a elas atribuído seja por meio da convivência que propicia, dos encontros que promove ou das manifestações que faz eclodir. O panorama da alteração urbana traçado pelo autor dá a conhecer as muitas cidades seja por meio de certa ambiguidade espacial, no Egito e na Mesopotâmia; passando pela monumentalidade dos espaços nas civilizações mesoamericanas; pela condição grega tripartida do urbano – o público, o privado e o sagrado; pela justaposição entre o público e o privado, no império árabe; pelo o confinamento medieval e pelo protagonismo adquirido pela forma, na renascença; pela materialização do poder nas cidades coloniais e barrocas; pela incisão industrial e automotiva na cidade moderna; até, finalmente, chegar à cidade contemporânea e as muitas camadas que consolidam a sua complexidade.

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O espaço público é feito da convivência, que pode ser positiva ou negativa. A positiva é a urbanidade. A negativa, o conflito. “Se o conflito é inevitável na história desta cidade, São Paulo, - entre ricos e pobres, incluídos e excluídos -, talvez estejamos a ponto de ver um novo conflito nascendo: entre uma aspiração e uma cidade construída”. (CALLIARI, 2016 p. 25)

Espaço público é espaço, no sentido da espacialidade ocupada, e é público, no sentido, daquilo que é publicado, mas, a extensão de seu significado é pluridimensional, como refere Calliari (2016), cuja abordagem apresenta ainda, além do aspecto físico da cidade, os enfoques jurídico e político. A dimensão jurídica, faz referência ao sentido da posse, portanto da propriedade e do capital. E, por fim, o enfoque político, contempla o sentido da polis e da organização, fundamental para a convivência em sociedade, mas, também, o aspecto organizativo em termos funcionais.

Para Lefebvre (2016), o indivíduo, a par das necessidades cotidianas, produtos e bens materiais consumíveis, se constitui também, por meio da atividade criadora, da realização da obra. E acrescenta a necessidade, igualmente relevante, da informação, do simbolismo, do imaginário, das atividades lúdicas.

A dicotomia negócio e ócio, na perspectiva de Cacciari (2009), configura um dos muitos paradoxos contidos na cidade e que surge da aspiração do cidadão, ao mesmo tempo, deseja a cidade enquanto lugar de encontro, acolhimento e, sobretudo, de concretização do coletivo, e, por outro lado, enxerga na cidade, a possibilidade de efetivação do negotia, dos negócios. Na Grécia antiga o trabalho era considerado um fator de degradação da liberdade individual. É preciso lembrar que labor (do latim labore) significa fadiga, como refere Gomes (s/d) e deriva do esforço demandado pelo cultivo agrícola. Também do latim, a palavra trabalho, propriamente dita, está associada a um instrumento de tortura, o 47

tripalium, também utilizado no preparo da terra para o plantio, como refere a mesma autora. Por outro lado, o ócio, um presente dos deuses, se mostrava como a única forma possível para atingir a elevação espiritual, fundamental ao desenvolvimento do intelecto.

Vem deste contexto a polaridade entre trabalho e ócio. Entre negócio e ócio.

Posteriormente, na Idade Média e Renascimento, a moradia servia tanto para morar quanto para trabalhar, não havendo, portanto, uma divisão entre o espaço laboral e residencial o que se refletia também, em termos sociais. A sociedade, ao se transformar em industrial, deixa claro a divisão entre trabalho e lazer (Thomas, 1964 apud Dias, 2018). Para muitos povos, inclusive, há apenas uma palavra para definir trabalho e lazer. Porém, para o mesmo autor, esta intersecção entre trabalho e não trabalho está presente desde as sociedades primitivas. Com a Revolução Industrial fica especificado a divisão entre atividade laboral e não laboral, organizando assim, do ponto de vista social, o tempo e a vida do trabalhador assalariado. Para Munné (1980 apud AQUINO, 2007) o tempo social contempla o tempo psicobiológico, o socioeconômico e o sociocultural. O primeiro está relacionado com as necessidades elementares, o segundo está diretamente ligado com o cumprimento das atividades cotidianas, incluindo a obtenção de recursos, e a terceira, com aspectos de sociabilidade. Paulatinamente, a sociedade industrial vai sendo transformada em sociedade de serviços, fruto que é, da sociedade do conhecimento. O período Pós-Revolução Industrial foi marcado por uma profunda referência ao trabalho, tanto na estruturação social como na produção do sujeito moderno. Com a crise da sociedade centrada no trabalho, alguns valores e categorias são resgatados e demandam uma nova caracterização. O domínio do trabalho na estruturação social passa a ser questionado e surgem ideias que colocam o tempo livre, o ócio e o lazer no papel de elementos estruturantes do novo contexto social. (AQUINO, 2007 p. 479)

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A cidade, enquanto repositório de objetos que, por sua vez, determinam distintas interfaces, se materializa por seu aspecto qualitativo e quantitativo. Para Carlos (2015) fica explícito o processo de avaliação do indivíduo em função da qualidade e da quantidade de seus objetos, de suas posses. É a heterogeneidade urbana enquanto produto da desigualdade e hierarquização social, segundo Carlos (2015), refletida que é na forma distinta de apropriação urbana. Portanto, a cidade aparece como produto apropriado diferencialmente pelos cidadãos. Essa apropriação se refere às formas mais amplas da vida na cidade; e nesse contexto se coloca a cidade como palco privilegiado das lutas de classe, pois o motor do processo é determinado pelo conflito decorrente das contradições inerentes às diferentes necessidades e pontos de vista de uma sociedade de classes. Como consequência surgem os movimentos sociais urbanos pelo direito à cidade no seu sentido pleno – o habitar e tudo que isso implica, não se restringindo apenas à luta por equipamentos urbanos. (CARLOS, 2015 p. 23)

Num dado momento “a obra do homem parece se sobrepor ao próprio homem e as formas concretas visíveis escondem o seu real significado: a de obra sem sujeito” (CARLOS, 2015 p. 12). Para a autora este paradoxo fica explícito quando se pensa na construção de catedrais e da cidade contemporânea: enquanto a primeira, assim que se materializa, torna-se pertença de Deus, a segunda está diretamente relacionada à produção de capital.

Em oposição ao que é anônimo surge a cidade enquanto “palco de grandes acontecimentos” (CARLOS, 2015 p. 13) e do que é imediato.

Aqui onde o ganho de velocidade é exponencial e a troca de informações, vertiginosa, torna a convivência entre múltiplos fluxos, descomunal.

Tudo isto tecendo, de forma imperceptível, um mapa preciso e articulado, de perfis e existências. O controle deixa de ser físico para ser intangível, virtual, e, certamente, avassaladoramente abrangente.

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Ainda que descentralizado, este controle que, procura proteger, também reprime e domina. É a narrativa urbana que, permeada pelas restrições de materiais e processos construtivos, ao longo da história, é também, calcada no desenvolvimento social e econômico construído pelo homem.

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CAPÍTULO 2 | A CONTINGÊNCIA

PARÂMETRO 2 | A CONTINGÊNCIA 2.1. A CIDADE | A CONTINGÊNCIA 2.2. A CONTINGÊNCIA | 06/2013 | AS MANIFESTAÇÕES 2.3. A CONTINGÊNCIA | 06/2013 | OS MANIFESTANTES

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2.1. A CIDADE | A CONTINGÊNCIA

Do latim Contingenci s.f. qualidade de contingente; eventualidade; possibilidade; imprevisível, incerteza.

Em termos semânticos, a palavra contingência está relacionada com a probabilidade de algo acontecer ou não. Em termos filosóficos, a contingência se materializa sob a condicionante da eventualidade.

No âmbito da psicologia experimental a contingência pode levar à alteração de um determinado comportamento. É a resposta construída ante uma situação inesperada.

No sentido mais básico, a contingência é estabelecida em caráter de dependência, ou seja, decorre de eventos extrínsecos à sua própria condição e, em termos comportamentais, refere a maneira através da qual um evento pode interferir em outro evento, causando modificações de comportamento.

A contingência não existe enquanto fenômeno único.

A sua resultante está relacionada com a possibilidade de ocorrência da contingência, mas, nada se mostra absoluto, ou afirmativo, mas, sempre condicionante. Tudo é relativo. Tudo depende.

Em termos urbanos, a contingência está relacionada com as ações a serem efetivadas em face de situações emergenciais. Está, obviamente, relacionado com o que altera, de forma inesperada, a dinâmica urbana e como deve ser elaborada a pronta resposta.

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2.2. A CONTINGÊNCIA | JUNHO/2013 | AS MANIFESTAÇÕES

A contingência sobre a qual a presente pesquisa se debruça tem denominações distintas, mas, objetivos análogos: o direito ao transporte público e o direito de ir e vir.

Em síntese, o direito à cidade, ao espaço urbano.

A noção de que o espaço público é pertença daquele que habita a cidade, o cidadão, é percepção que tem vindo a ser resgatada nos tempos mais recentes em São Paulo. Como desdobramento desta apreensão, em processo de recuperação, resulta a responsabilização de uma construção cidadã a par do binômio pertença- responsabilização, que traduz a liberdade de escolha em Sartre (1967).

Mesclam-se objetivos, atores e formas de atuação num processo que mescla reivindicação e acomodação de novas convivências. A gênese dos movimentos reivindicatórios, nos tempos mais recentes, centra-se em protagonistas de uma natureza mais aguerrida como o MST5 ou, mais recentemente o MPL6.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, tem como pauta a luta contra a concentração latifundiária cujas raízes remontam ao período da colonização portuguesa e que, aliada à prática da monocultura que regulamentou e consolidou o modelo da grande propriedade rural, formalizou as bases para a desigualdade social e territorial que hoje se conhece7.

A amplitude do movimento, que se estendeu à 24 estados no Brasil, ganhou maior visibilidade ainda na sequência do incêndio que atingiu o antigo prédio da Polícia Federal, no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo, em 1 de maio de 2018.

5 MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Surgido em 1984 – Fonte: Disponível em: 6 MPL – Movimento Passe Livre – Surgido em 2005 – Fonte: Disponível em: < https://saopaulo.mpl.org.br/> 7 MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Fonte: Disponível em: < http://www.mst.org.br/nossa-historia/inicio> Acesso: 12 mai. 2017

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Figura 5 | MST

Fonte: Medium | Autor: Sebastião Salgado Disponível em Acesso em: 11 de novembro de 2019.

Consenso não há, mas, o MST segue buscando a Reforma Agrária8 para cerca de 350 mil famílias (e mais) que se encontram em assentamentos articulados e administrados pelo movimento. Para além das pautas de Reforma Agrária e Direito à Moradia, do MST, surge também a busca pelo direito à deslocação, o direito básico de ir e vir, reivindicado pelo MPL – Movimento Passe Livre. Em junho de 2013 a contingência que deflagrou uma série das manifestações na cidade de São Paulo (e não só) foi, supostamente, o aumento da tarifa do transporte público em R$ 0,20. O transporte urbano foi manchete em 18 de maio de 2013, com o tema do Bilhete Único Mensal, uma proposta da prefeitura de São Paulo para viagens ilimitadas no período de 30 dias. Técnicos pronunciaram-se sobre os ganhos da medida, dentro de uma lógica econômica. (GOHN, 2014 p. 20)

8 MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – Fonte: Disponível em: Acesso: 12 mai. 2017 54

Movimentos vinculados ao tema do transporte no Brasil são reivindicações antigas e pulverizadas em termos nacionais. Cidades como Belo Horizonte, Salvador, Pará, Goiás, Maranhão, Porto Alegre, entre tantas outras, pautaram o direito ao transporte, discutindo a necessidade de melhorias, denunciando superfaturamento, solicitando ampliação de redes e, claro, reivindicando a diminuição das tarifas, entre outras agendas.

Figura 6 | Divulgação Manifestações de Junho/ 2013

Fonte: Pragmatismo Político Disponível em: < https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/nao-e-sobre-20-centavos-estupido.html> Acesso em: 11 de novembro de 2019.

Embora a onda contestatória tenha sido vinculada, de imediato, ao caráter econômico do evento, desde logo ficou explícito que a complexidade da pauta havia sido subestimada pelas instâncias governativas em face da crença que seria impossível perturbar “a ordem de um país que parecia viver uma espécie de vertigem benfazeja de prosperidade e paz” (ROLNIK, 2013 p. 8)

Denominada por alguns veículos de comunicação como “trovão”, os Protestos de 2013, também conhecidos como Manifestações de Junho de 2013 ou Jornadas de Junho ou, 55

ainda, Manifestações dos 20 centavos, estão mais próximas de um “terremoto” (Rolnik, 2013) na medida em que fizeram eclodir uma série de questões pendentes qual encontro de placas tectônicas à procura da justaposição que as falhas geológicas permitem.

A face mais visível do movimento de resistência foi o MPL - Movimento Passe Livre (ao qual Singer, 2013, denomina artífice e fio condutor ideológico da primeira etapa da movimentação e) para quem, está explícito o alargamento do objetivo: a briga contra as tarifas de transporte são um modo de lutar contra o capitalismo, o sistema que se rege pela "lógica da mercadoria".

Figura 7 | Marca Movimento Passe Livre

Fonte: Movimento Passe Livre Disponível em: Acesso em: 11 de novembro de 2019.

A lógica do mercado de transportes, na atualidade, e na perspectiva do movimento, exclui a população do desenho que organiza a sua própria dinâmica. Completamente alheio ao processo cotidiano de utilização de transportes públicos, o sistema além de restringir a mobilidade, interdita a cidade, por meio de catracas pulverizadas que organizam, controlam e, sobretudo, excluem (MPL, 2013). E, nessa lógica onde “a população é objeto em vez de sujeito” é que surge o MPL, um “movimento social de transportes autônomo, horizontal e apartidário” (MPL, 2013 p. 15). 56

A análise crua das manifestações ocorridas em junho de 2013, feita pelo movimento, descortina a possibilidade de uma outra forma de ver e pensar a organização da cidade, pois, “não se pode usar métodos autocráticos para atingir fins democráticos” (DEWEY, 2008 p. 17 apud Franco, 2008) O movimento empreendido, bem como toda a sua repercussão, não foi um evento fugaz. A bem da verdade, não teve início ou fim, ou seja, não começou em Salvador e terminou em São Paulo. Junho de 2013 foi, apenas e tão somente, um evento que integra uma trajetória muito maior, a do direito à cidade, do direito de ir e vir, e do qual emergiram inúmeras experiências sociais autônomas.

A reivindicação ao direito de mobilidade fez descobrir uma pauta muito mais abrangente e significativa se pensada sob o prisma da representatividade do processo higienizador deflagrado na cidade com o objetivo de abrigar os mega eventos esportivos. Os avultados investimentos para a materialização da infraestrutura de grandes eventos, como a Copa das Confederações (2013) e a Copa do Mundo (2014), em contraste com baixa qualidade dos serviços ofertados pelo estado, além da “persistência dos índices de desigualdade social, inflação, denúncias de corrupção”, entre outros, são, na perspectiva de Gohn (2014), argumentos suficientes para a adesão alcançada.

É preciso igualmente, entender “a influência do contexto internacional, especialmente os movimentos Occupy em várias partes do mundo, os Indignados na Europa (especialmente Espanha, Portugal e Grécia) e a Primavera Árabe” (GOHN, 2014 p. 21/22).

A tomada de consciência de que ante a presença do mais ínfimo objeto, o movimento contínuo da engrenagem cede lugar ao travamento, faz compreender a cidade como objetivo, mas, também como método, para a sua apropriação (Maior, 2013 apud Maricato, 2013) e que, nas palavras do MPL retoma a ideia que: A cidade é usada como arma para a sua própria retomada: sabendo que o bloqueio de um mero cruzamento compromete toda a circulação, a população lança contra si mesma o sistema de transporte caótico das metrópoles que prioriza o transporte individual e às deixa à beira de um 57

colapso. Nesse processo, as pessoas assumem coletivamente as rédeas da organização do seu próprio cotidiano (MPL, 2013 p. 16).

Tabela 1 | LInha do Tempo | Manifestações Junho/2013

Fonte: Gohn, 2013 | Elaborada pela autora

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O conjunto de 7 grandes manifestações aconteceu em um período de 14 dias. A intensa frequência acrescida da enorme agilidade na articulação do primeiro ato, levando-se em consideração que aconteceu no dia 6 de junho como resposta ao aumento de tarifas decretado em 2 de junho, revela o óbvio: toda a articulação foi feita de forma digital e a capilaridade resultante mobilizou e, sobretudo, modificou, ao longo do processo, a forma como os protestos passaram a ser encarados.

Mas, revela outra coisa também. O poder da rede.

Esta que, em Castells (1999), se revela como a forma de articulação da sociedade contemporânea resulta também em novos processos, novas formas de disseminar e, consequentemente, obtendo novos resultados geradores de hábitos transformados.

A ideia de disseminar tem, na biologia, a associação ao rizoma, cuja horizontalidade na distribuição dos fluídos e, em contraposição à estabilidade da raiz, se estabelece como uma potencialidade indefinida, livre, capaz de articular de forma multidirecional e, ao mesmo tempo, aleatória, sem uma estruturação previamente definida. O desenho empreendido pelo rizoma não define um contorno, mas, antes múltiplos caminhos lineares. Em Deleuze e Guattari (2000), o rizoma assume o papel de uma resistência plural (política, estética e ética) e, aberto que é à experimentação, se retroalimentam através dos múltiplos encontros.

A noção de rede trabalha com a ideia da articulação de pontos, nós, entroncamentos de recepção e difusão de dados. É o princípio da internet como hoje é conhecida, o sistema P2P, do inglês Peer to Peer. A estruturação de computadores em formato P2P (Figura 8) trabalha a partir da descentralização no fluxo de informações, ou seja, o circuito contabiliza servidores, gênese do ciclo de transmissão, mas, se apoia nos pares para a circulação de dados. De maneira muito simplista, é possível dizer que, a descentralização na construção da rede provê maior disponibilidade na obtenção dos dados, ainda que os pares possam ter heterogeneidade em suas constituições. 59

Figura 8 | Conexão 2P2

Fonte: Bradutch Disponível em: < https://www.bradutch.com/wp-content/uploads/2018/09/connection-structure-3d-animation-abstract- background_4wjcnoung__F0011.png

A ideia da articulação em rede não é recente, mas, ao ter alçado o patamar digital, foi potencializada de forma exponencial. Para Castells (1999) este vigor está, em sua origem, a serviço do capital e da globalização. Em junho de 2013, no Brasil, esteve também a serviço do coletivo.

Para Singer (2013), o conjunto de atos contestatórios pode ser dividido em 3 momentos: o primeiro tinha como objetivo a efetivação do protesto em resposta a majoração do valor das passagens; o segundo, considerado o mais representativo de todos, teve uma pauta multifacetada dada a adesão de variados perfis políticos; e o terceiro e último, consolidou a fragmentação do movimento, em resposta a uma lista diversificada de reivindicações, encaminhando a movimentação para o seu encerramento.

Embora para Gohn (2014), também tenha havido 3 marcos, a autora disseca o desenvolvimento das Manifestações de Junho de 2013 considerando, como parte primeira, a desqualificação e o descaso que o movimento obteve da mídia e das instâncias governativas, respectivamente. O segundo momento, por sua vez, contempla o impacto e a escala adquirida pela iniciativa o que, na perspectiva da autora, fez com 60

que a opinião popular se alterasse. O terceiro marco contempla a vitória da demanda inicial, quando o governo retrai e mantém a tarifa. Gripp (2013 apud Gohn, 2014 p. 24) apresenta também o movimento dividido em 3 atos, a saber: A primeira teve foco na tarifa e reuniu majoritariamente estudantes. A segunda – com forte apoio popular e mais efêmera – arrastou multidões contra a baixa qualidade dos serviços públicos, a corrupção, a polícia e tudo mais. Por fim, restaram as “manifestações” mais radicais, já sem apoio da maioria da população, marcadas pela quebradeira dos adeptos da tática Black Block (GRIPP, 201 apud GOHN, 2014 p. 24).

Tabela 2 | Comparativo | Os 3 marcos das Manifestações de Junho/2013 JUNHO/2013 1º Momento 2º Momento 3º Momento

Singer (2013) protesto em pauta multifacetada dada a fragmentação do resposta a majoração do adesão de variados perfis movimento valor das passagens políticos

Gripp (2013) protesto em contra o pauta plural e forte manifestações radicais aumento do valor das adesão sem apoio passagens

Gohn (2014) desqualificação da grande impacto e escala vitória da demanda mídia adquirida inicial

Fonte: Gohn, 2013 | Elaborada pela autora

O comparativo entre os e autores deixa algumas perspectivas que, embora possam parecer díspares, se mostram complementares. No primeiro momento, tanto para Singer (2013) quanto para Gripp (2013) fica claro a pauta principal, o aumento do valor das passagens, mas, Gohn (2014) levanta a indiferença com que a mídia tratou a gênese das manifestações e, sobretudo, o desinteresse das instâncias governativas.

O cenário social e político, até então estável (Chauí, 2013; Rolnik, 2013), não fazia supor o quadro de insatisfação expresso pelo rol de manifestações ocorridas, mas, a expansão desenfreada no uso do automóvel individual, da construção civil (que por sua vez contribuiu para enfatizar a segregação imobiliária) além das condições do transporte público delimitaram um tripé que domina sem, no entanto, ser responsável pelo espaço urbano. 61

Já no segundo momento, os dois primeiros autores concordam com o tom plural adquirido pela pauta reivindicatória e os dois últimos destacam o impacto adquirido pelo movimento. Singer (2013) refere o grau de heterogeneidade do bloco de manifestações. O amplo espectro de posicionamentos políticos fez convergir, segundo o autor, desde o ecossocialismo até impulsos fascistas, passando por diversas gradações de reformismo e liberalismo. Na análise do momento intermediário, Gohn (2013) destaca ainda, a transformação da opinião pública em face do crescimento das reivindicações. No terceiro, e último momento, os autores, respectivamente, apontam distintos destaques: a desestruturação do movimento, o radicalismo adquirido e, finalmente, a vitória empreendida.

Figura 9 | Manifestações Junho/2013

Fonte: Pragmatismo político Disponível em: < https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/resumo-dos-protestos-pelo-brasil.html> Acesso: 22 out. 2019

Junho de 2013, na perspectiva de Chauí (2013), é o legítimo herdeiro dos movimentos sociais ocorridos nas décadas de 1970 e 1980 e que foram basilares na consolidação da democracia no país. A herança contemplaria ainda a horizontalidade na construção do movimento cuja ausência na figura de liderança caracteriza o comportamento emergente de Johnson (2001). 62

A transversalidade dos movimentos de junho de 2013 é diretamente proporcional ao depauperamento de modelo de representatividade vigente e, ao contrário do que se possa pensar, a ausência de liderança fortalece a iniciativa na medida em que, ao invés de haver apenas um líder, há vários. Todo mundo é o seu próprio líder. Há a construção em rede que se auto fortalece. (Castells, 2013).

Da perspectiva externa, é possível estabelecer um vínculo com os movimentos Occupy, Indignados e a Primavera Árabe, como referido anteriormente, não apenas pelo alinhamento conceitual, mas, também, pela dinâmica de articulação.

O papel determinante das novas tecnologias de informação na disseminação dos ideais do movimento seria como que uma senha de modernidade em contraposição a um Estado antiquado estabelecido (Singer, 2013). Nesta perspectiva, a virtualização do debate político, por meio das redes sociais, não efetiva apenas uma mudança cotidiana na forma de comunicar ou difundir a informação, materializa uma alteração cultural que se, por um lado democratiza o acesso, por outro, pode fragilizar os processos críticos e analíticos. Inegável é a sobreposição aos meios de comunicação clássicos, o que faz aluir a supremacia destes canais em face da construção em rede. A potência adquirida pelo conjunto de manifestações tem a sua origem nas redes sociais o que, se por um lado desmonta a hegemonia dos meios de comunicação por outro, dota o acontecimento de atributos que, muitas vezes, descaracterizam a essência e a motivação (Chauí, 2013).

O fato de ter a denominação de um evento, nas redes sociais, retira a historicidade do acontecimento tornando-o pontual. Não há passado ou futuro. Apenas uma ocorrência.

O movimento assumiu ainda uma configuração paradoxal: homogênea (na medida em que se revela como sendo resultado de uma articulação "da juventude") e heterogênea

(dado que o mesmo não ocorre do ponto de vista econômico, social e político).

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Os atos de junho de 2013 foram manifestamente políticos, na medida em que ao se posicionarem contra o estabelecido, os manifestantes contestaram as esferas municipais, estaduais e federais (Chauí, 2013). E ao final, foram bem-sucedidos. Malgrado eles próprios e malgrado as suas afirmações explícitas contra a política, na perspectiva da autora, os manifestantes realizaram um evento político, não apenas pela contestação materializada em termos municipais, estaduais e federais, mas, sobretudo, por terem alcançado o objetivo inicial, a manutenção do valor da passagem de ônibus.

A dimensão política da cidade encerra uma relação de poder e dominação sobre o coletivo e, quando a apropriação do espaço urbano transcende o exercício de sua função cotidiana, a de prover a circulação, para “assumir o seu caráter civitas”, na íntegra (ROLNIK, 1988 p. 26), a dimensão política se efetiva.

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2.3. A CONTINGÊNCIA | JUNHO/2013 | OS MANIFESTANTES

Embora a relação com a cidade, num primeiro momento, possa ser entendida como de contemplação, ante a dimensão e a monumentalidade, há outras formas possíveis de empreender esta interação: a da passividade e da atividade.

Na economia, o passivo está diretamente relacionado com distintas maneiras de dispender recursos e, nesta perspectiva, não gera renda ou autonomia. Pelo contrário: se estabelece como despesa e compromete eventuais receitas obtidas. Já o ativo é tudo quanto, adquirido ou concebido, se torna fonte rentável promovendo a autonomia daquele a quem o ativo pertence.

Na escala urbana, guardadas as devidas proporções, o indivíduo passivo não se percebe enquanto proprietário uma vez que seus recursos estão comprometidos o que não permite qualquer autonomia. Nesta perspectiva estabelece um vínculo de indiferença já que está diante da impossibilidade de mudança ou de alteração de qualquer cenário.

Já o cidadão estaria relacionado com a possibilidade de construção e autonomia.

Mais do que mero espectador, é protagonista. Define pautas, grafa posicionamentos e, sobretudo, firma os próprios direitos. O cidadão, quando ativo, na construção de uma urbanidade desejada, converge para o conceito de usuário-partícipe de Grossmann (2011) que, a partir de um conjunto de proposições inovadoras apontadas no âmbito dos espaços expositivos, admite ser possível "destacar o papel central do visitante/usuário/partícipe/atuante na modelagem de seus espaços, propondo assim uma outra ritualização, um outro mis em scènce, bem como novas formas de fruição e recepção da arte, mais complexas e integradas à realidade, à vida". (Grossmann, 2011 p. 220).

Qualquer que seja a relação estabelecida com a cidade, seja ativa ou passiva, em termos da pro atividade do habitante, há sempre um vínculo indelével, o de ser cidadão. E, “ser 65

habitante da cidade significa participar de alguma forma da vida pública, mesmo que em muitos casos esta participação seja apenas a submissão a regras e regulamento” (ROLNIK, 1988 p. 23)

Como figura central de um processo de apropriação urbana, o usuário aqui é entendido como mediador de um processo coletivo, e não agente único e principal das iniciativas. O seu modus operandi, que privilegia o conjunto e não o unitário, encontra aporte em Barthes (2004) para quem "não há nunca uma pessoa encarregada da narrativa, mas um mediador, châmane ou recitador, de que podemos em rigor admirar a prestação» (quer dizer, o domínio do código narrativo), mas nunca o «gênio»". (BARTHES, 2004 p. 01).

Nesta perspectiva, assim que a obra é escrita, ganha materialidade, a voz do autor ausenta-se. O que emerge é a forma da escrita, a linguagem por meio da qual, o texto se torna inteligível.

Está ainda alinhado à algumas das muitas questões levantadas no texto "O que é um Autor?", que trata da obra e da lacuna deixada pela ausência do autor, uma vez que para Foucault (1969), é dado como certo a sua privação ante a feitura da obra. Se assim for, cabe rastrear o vácuo proveniente dessa ausência e entender este novo contexto feito de fissuras, novas funções e novas possibilidades.

A obra não sendo mais pertença do autor passa a ser do outro, dos outros, do coletivo.

E é daí que emerge a sua força. Enquanto pertença do autor, a sua unicidade não tem dimensão se comparada com a possibilidade que o rebatimento no outro e os respectivos desdobramentos representam como potência.

No âmbito urbano, se pode fazer a mesma leitura.

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A força só emerge quando as ações individuais são articuladas em rede, onde é possível encontrar a complementaridade de forças de uma construção em grupo, constituído e, sobretudo, capaz de ativar a potência. São os coletivos. (CASTANHEIRA, 2019 s/p)

O coletivo, na contemporaneidade, não é mais associado, em exclusivo, ao agrupamento artístico. O coletivo urbano se constitui como ponto de convergência de ideias e, sobretudo, ideais, numa perspectiva ampla, multidimensional, proativa, reflexiva e praticante.

Os muitos indivíduos que constituem o coletivo, também podem ser associados às categorias de massa e povo. E ainda de multidão.

A sociedade de massa, objeto de extensa e intensa pesquisa no âmbito das teorias da comunicação, seja em Adorno (2002), Horkmeier (2002), Morin (1997) ou Guattari (1990), diz do agrupamento cujo integrante participa da produção, distribuição e consumo de serviços ou bens, e se pauta por padrões genéricos de comportamento fruto dos processos de comunicação massivos que promovem comportamentos, ideais e objetivos.

A massa, enquanto conceito, está associado ao que é disforme, tendo em vista não ser possível identificar as unidades. Por outro lado, se identifica pelo posicionamento pré- estipulado que apresenta. Não no sentido do que é uníssono ou alinhado em termos conceituais, mas, antes, do que é indiferente, em termos essenciais. O conceito está relacionado com um volume de indivíduos que pode ser manobrado, a massa de manobra, ou seja, levado a trilhar trajetos não escolhidos conscientemente, tendo em vista não estar de posse dos significados das próprias escolhas e, sobretudo, das respectivas consequências. Massa, enquanto unidade de medida, está vinculada ao capital.

O povo é, de origem, representado como unidade, constituindo um corpo social e, frequentemente, entendido como “força social irracional e passiva, violenta e perigosa 67

que, justamente por isto, é facilmente manipulável”. (NEGRI, 2004 p. 39). Conceituado por Hegel e Hobbes (enquanto Estado) e, ainda, por Rousseau (enquanto soberania), a noção de povo esteve associada à desordem e ao enfrentamento, assente na ideia de “transcendência do soberano” (NEGRI, 2004).

Figura 10 | A liberdade guiando o povo

Fonte: Pintura de Eugene Delacroix Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo#/media/Ficheiro:Eug%C3%A8ne_Delacroix_- _Le_28_Juillet._La_Libert%C3%A9_guidant_le_peuple.jpg> Acesso: 12 dez. 2019.

Já o conceito de multidão, em Negri (2004), pode ser analisado sob três aspectos: o da multiplicidade, o da classe e o da potência.

No primeiro, a multidão é entendida como, de fato, um conjunto de indivíduos. Embora possa parecer óbvio, ao definir o conceito desta forma, fica clara a distinção de massa, pois, na multidão é possível identificar a distinções, as singularidades dos muitos indivíduos. Ainda que a sobreposição dos dois conceitos, massa e multidão, possa intuir uma homogeneização dos posicionamentos, das ideias e dos ideais, há um 68

entendimento contemporâneo que faz conviver opostos, ou seja, “abstraindo, por um lado, a multiplicidade das singularidades, unificando-a transcendentalmente no conceito de povo, e dissolvendo, por outro lado, o conjunto de singularidades (que constitui a multidão), para formar uma massa de indivíduos”. (NEGRI, 2004 p. 36)

No segundo aspecto, o conjunto de indivíduos constitui uma classe social. Não se trata da classe operária, em exclusivo, mas, da reunião de todas as classes. Se postularmos a multidão como um conceito de classe, precisamos redefinir a noção de exploração como exploração da cooperação: cooperação não de indivíduos, mas de singularidades, exploração do conjunto de singularidades, das redes que compõem o conjunto e do conjunto que abarca estas redes e assim por diante. Note-se que a "moderna" concepção de exploração (como descrita por Marx) é adequada à ideia de produção em que os atores são os indivíduos. É somente porque existem indivíduos que atuam que o trabalho pode ser medido pela lei do valor. (NEGRI, 2004 p. 37)

O terceiro aspecto, centra-se na relação intrínseca entre multidão e potência e está relacionado, por sua vez, com 3 vetores de força: a dissolução da disciplina social (fruto das lutas de classe); a imaterialidade na produção (fruto do conhecimento e da capacidade técnica e relacionado com o conceito de Intelecto Geral de Karl Marx,) e, por fim, a liberdade e o prazer. (Negri, 2004).

É impossível analisar a potência, dissociada da cooperação que, por sua vez, está intimamente relacionada ao conceito de democracia (Negri, 2004). A par da ideia que o comportamento associado “é uma característica universal de todas as existências” a democracia, enquanto conceito, não pode ser traduzida como elemento que se sobrepõe a “outros princípios de vida associada. Ela é a ideia da própria vida em comunidade. É um ideal no único sentido inteligível de um ideal.” (DEWEY, 2008 p. 55 apud Franco, 2008).

A gênese da conceituação de multidão, em oposição aos conceitos de massa e povo, está em Espinosa (1988 apud Negri, 2001), ainda que de forma transmutada, e assenta na premissa do corpo enquanto agente altamente potente e inapto para a individuação, 69

imprimindo assim, fundamental importância para a expressão da força do todo e das singularidades ali contidas. A reunião de indivíduos em grupos reivindicatórios não é acontecimento original. Derivado da Revolução Industrial, para se falar de uma maneira muito simplista, os agrupamentos que se guiam por pautas sociais e políticas se firmaram ao longo do século XX e, no século XXI, mudaram. Tantos os agrupamentos como os seus integrantes.

Gohn (2013) distingue 3 diferentes momentos, nos quais habitam 3 formas de articulação coletiva também distintas. Ao longo do século XX estiveram em atividade os movimentos sociais e os novos movimentos sociais. Já no século XXI, emergem os novíssimos sujeitos.

Os movimentos sociais, de si, apresentam estrutura hierarquizada, são capazes de congregar a partir de relações de pertença e, os integrantes, são denominados militantes na medida em protocolam filiação e se organizam em termos de apoio e participação. Entram nesta categoria, os sindicatos, os partidos políticos, os movimentos rurais, entre outros.

Os novos movimentos sociais, por sua vez, embora tenham o atributo da novidade na designação, guardam muita similaridade com os seus antecessores. A ideia de distanciamento de um movimento pautado na força sindical assenta, principalmente, na identidade cultural como eixo estrutural, e estruturante, e em cuja pauta encontram- se temas como: gênero, ambiente, consumo, etnia, entre tantos outros.

Tanto os movimentos sociais quanto os novos movimentos sociais foram, obviamente, influenciados e alterados pelos novos formatos de comunicação. A era digital trouxe a velocidade, a fluidez, certamente, mas, também, o desafio de uma nova forma de estar e, sobretudo, comunicar, de forma eficiente e eficaz, levando-se em conta, inclusive, os aspectos geracionais (diretamente relacionados com os integrantes dos movimentos e os aspectos de familiaridade com a forma de digital de comunicar bem como as redes sociais). 70

Já os novíssimos sujeitos, além do fato de terem em seu contingente, uma parcela considerável de nativos digitais, se caracterizam pela complexidade, diversidade e, sobretudo, pela forma de engajamento.

A complexidade, relacionada que está com a ideia de múltiplas camadas, faz deste indivíduo uma personalidade multifacetada, tanto em seus interesses quanto em sua escala de valoração. A diversidade está na multiplicidade dos interesses e nos posicionamentos adquiridos e nas pautas reivindicadas. Já a forma de engajamento, para usar um termo da comunicação contemporânea, está diretamente relacionada com o surgimento desta nova classe reivindicatória. Ao contrário dos movimentos e dos novos movimentos sociais, as articulações e adesões operam de forma compartimentada, ou seja, pode se dar por ação ou por temática, mas, não mais pela permanência estável, por convergência irrestrita de ideais.

Nesta perspectiva, os novíssimos sujeitos recebem a denominação de ativistas e os integrantes dos movimentos sociais e dos novos movimentos sociais recebem a denominação de militantes.

Figura 11 | Linha do Temp | Movimentos Sociais

Fonte: Gohn, 2013 | Elaborada pela autora 71

O processo de ocupação é, obviamente, organizado pelo cidadão. Se pensada em termos da metrópole, a iniciativa comporta uma escala diminuta e uma visibilidade igualmente restrita. Para Franco (2013 apud Rosa, 2013), na cidade, há a coexistência daquilo que é macro e daquilo que é micro, em termos da dimensão das iniciativas. Muitas são as denominações: iniciativas bottom up (em contraposição às iniciativas top down), apropriação, ocupação, intervenção, urbanismo tático, urbanismo de base e, certamente, outras. O fato é que: O âmbito da iniciativa é local, o desdobramento circunscrito e se concretiza como iniciativa espontânea, fruto de uma observação minuciosa e articulada: são as iniciativas Bottom Up que podem (ou não adquirir um comportamento notável). Não é o uno que adquire a condição de coletivo, mas sim, alça outra dimensão. Esta prática, que reconhece a necessidade (ou a oportunidade) e é elaborada segundo a especificidade do locus, reforça a identidade e o contexto em que se apresenta. Trabalha o uno como condição do complexo. (CASTANHEIRA, 2015 p. 39)

A par da configuração dos distintos atores há que se refletir sobre quais são e como se dão as formas de ocupação. A visibilidade adquirida pelos movimentos de ocupação, na década de 1960, no âmbito da contracultura, procura o enfrentamento dos modelos e valores vigentes. O movimento squatter – nome dado ao movimento em países de língua inglesa – vai além da questão da moradia, lidando com novas formas de gestão e socialização como alternativas às relações socioeconômicas forjadas no capitalismo. É importante notar que a palavra utilizada é diferente da que designa os movimentos de ocupação de praças e ruas a partir da crise de 2008 na Europa e nos Estados Unidos: occupy, o que mostra diferenciação entre os dois movimentos. Porém, os movimentos occupy (conhecido como 15M na Espanha) e squatter estão ligados, sendo diversas as manifestações de apoio mútuo, como o caso do 15M e diversos okupas. (CAMINHA, 2016 p.36)

A classificação empreendida por Prujit (2013 apud Caminha, 2016) destaca 5 maneiras que não mutuamente excludentes, ou seja, podem ocorrer em paralelo: Ocupação por privação, ocupação com estratégia de habitação alternativa, ocupação empresarial, ocupação conservacionista e ocupação política. A primeira, ocupação por privação (do inglês deprivation-based squatting), contempla a busca da satisfação da necessidade básica de moradia. A segunda forma de ocupação, (do inglês squatting as an alternative housing strategy), busca a melhoria da qualidade 72

de vida. A terceira ocupação, (do inglês entrepreneurial squatting), apesar da denominação, está relacionada com a oferta de cultura e lazer. A quarta forma, (do inglês conservational squatting), busca frear os processos de gentrificação. Para falar da última vale, previamente, uma ressalva. Para o autor, embora todas as ocupações tenham conotação política, a última, (do inglês political squatting), se faz representar pela referida denominação não por materializar uma meta: Mas, antes como meio para se atender a determinada demanda que procura fazer frente às instâncias governativas, às práticas de mercado, entre outros. De forma sintética busca se posicionar contra aquilo que está estabelecido como prática e contra o qual um grupo de indivíduos se posiciona. (CASTANHEIRA, 2019 s/p)

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CAPÍTULO 3 | O CONTEÚDO

PARÂMETRO 3 | O CONTEÚDO 3.1. A CIDADE | O CONTEÚDO 3.2. A CIDADE | O INCONTIDO

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3.1. A CIDADE | O CONTEÚDO

Do latim Contenetu s.m. o que está contido em alguma coisa; teor (Ling.) significado; um dos planos da língua por oposição à forma; (fig.) tema; adj. Contido.

O que está contido no conteúdo é aquilo que ocupa, na íntegra ou parcialmente, o espaço disponível, o continente. Já a qualidade do que está contido diz do seu teor, do seu significado, do seu sentido. A interação entre continente e conteúdo diz de uma relação que se materializa por meio da forma. Esta, que é a configuração do visível (Arnheim, 1980), indissociável que é do que está contido, do conteúdo, se apresenta, na psicologia, de três modos diferentes: A parasitária, na qual o conteúdo projectado é tão explosivo e malévolo que o continente destrói ambos, passando a alimentarem-se de mentiras que funcionam como uma barreira contra a verdade; a comensal, onde continente e conteúdo convivem sem grandes atritos, desenvolvendo-se a capacidade de inventar formas de linguagem que posteriormente contribuirão para o desenvolvimento emocional, e a simbiótica na qual, tal como numa relação amorosa, continente e conteúdo se harmonizam e beneficiam mutuamente da relação (Zimerman, 2007) 75

3.2. A CIDADE | O INCONTIDO

Embora à primeira vista possa não parecer, há convergência, e muita, entre eventos tão distintos quanto uma festa junina no Elevado João Goulart, uma horta em uma praça do bairro da Pompéia e a construção de mobiliário urbano no Largo da Batata, em Pinheiros, São Paulo.

E por que?

Primeiramente pelo fato de terem como espaço de manifestação a cidade de São Paulo (no chamado centro expandido) e estarem a, aproximadamente, 10 km do da cidade (a Praça da Sé); em segundo, por terem tido certa visibilidade dos meios de comunicação e por terem despertado o interesse da vizinhança (e não só); em terceiro, por serem fruto de iniciativas de base, ou seja, de habitantes da cidade que, por iniciativa própria, materializaram de forma coletiva e colaborativa ações diversas.

As denominações podem ser muitas: intervenção, apropriação, urbanismo tático, urbanismo de base, inovação social. Na perspectiva de Dorne (2016) caberia a palavra Hack. Para o autor, embora o vocábulo possa remeter a um lugar comum, o hacker digital, o fato é que pode também contemplar uma ideia bem mais abrangente: Um hacker é alguém suficientemente engenhoso para repensar os objetivos iniciais de objetos, ao desviar os usos previstos/esperados e usá-los de uma forma não prevista.

A partir desta analogia Dorne (2016) estruturou 50 maneiras, por meio das quais, é possível hackear a cidade. O manual de “hackeamento” estabelece categorias que passam pelos sistemas de vigilância, os processos de compartilhamento, as intervenções culturais, a própria natureza no cenário urbano e, deixa antever ser o objeto principal do seu manifesto o sistema de vigilância urbana, cada vez mais ostensivo.

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Figura 12 | Hacker Citizen

Fonte: Pop Up Urbain Disponível em: Acesso em: 19 ago. 2018.

A premissa de Dorne (2016) é a apropriação urbana por meio de um hackeamento dito simples. Há propostas tão românticas quanto a instalação de abrigos para pássaros, quanto intervenções inclusivas cuja proposta é instalar pequenas rampas de forma a diminuir a presença dos obstáculos urbanos até planos engenhosos para burlar os algoritmos de reconhecimento facial dos sistemas de vigilância urbana por meio de uma camiseta com vários rostos anônimos impressos em sua superfície.

Há também propostas de usos distintos de objetos e equipamentos como a instalação de uma minibiblioteca nos espaços de telefones públicos ou a utilização de trilhos de trem, instalados nas vias públicas, para a prática de um novo esporte: La palette sur rails (Palete sobre trilhos).

É a inovação em escala diminuta. É muito provável que não haja novidade na proposta de Dorne (2016), mas, antes, algo completamente irrefreado. É o que se encontra em estado latente e, portanto, em modo pausado, mas, em condições ideais, surge. Não se contém. É o contido que não se controla. É o incontido.

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Figura 13 | Hacker Citizen

Fonte: Up Inspirer Disponível em: < https://www.up-inspirer.fr/33217-guide-hacker-ville > Acesso em: 19 ago. 2018.

Figura 14 | Hacker Citizen | Palette Rails

Fonte: Koreus Fonte: Disponível em: < https://www.koreus.com/video/palette-rails-tramway.html> Acesso em: 19 ago. 2018.

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3.2.1. A Inovação

A inovação, que permeia a existência humana, propiciou o desenvolvimento de soluções e a criação de vasto repertório técnico cujo resultado é uma experiência coletiva, sempre cumulativa, voltada para as necessidades materiais. Cada geração herdou a experiência das anteriores (Rosa, 2013).

Este pensamento vai de encontro a visão contemporânea de Kupfer (apud Haddad, 2010) quando afirma que a viabilidade de novos produtos é alcançada por meio da sistematização, seja ela assimilada (fruto da própria experiência) ou adquirida (fruto da difusão). Para esse autor, o processo de Inovação contempla 3 fases: i. Invenção Em um primeiro estágio há a criação de algo que ainda não existia; ii. Inovação Em um segundo momento, há o aprimoramento com base em necessidades constatadas; iii. Imitação/Difusão Quando o produto, já teoricamente consolidado, passa a ser imitado.

Desde a construção de conhecimento na civilização grega; atravessando a profunda e abrangente ressignificação dos aspectos sociais, econômicos, filosóficos, artísticos, religiosos, técnicos, entre outros, no Renascimento; passando pelo pioneirismo inglês no que toca ao desenvolvimento dos meios produtivos ocorrido ao longo do século XVIII que culminou com a Revolução Industrial, e de forma vagarosa, no século seguinte, expandiu-se pelo mundo, como refere Hobsbawm (2009); chegamos à Economia da Inovação, no pós guerra. A Revolução Informacional que emerge a partir da metade do século XX (Lojkine, 2002), a capilaridade na difusão da informação por meio digitais e o valor da intangibilidade das ideias que instaura a criatividade como ativo econômico, marcam a transição entre o século XX e o XXI. 79

A inquietação acerca do tema faz com que, no início da década de 60 do século passado, a OCDE – Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento - tenha realizado na “Villa Falconnieri de Frascati, na Itália” uma reunião, cujo conteúdo está na origem da coleção de “manuais metodológicos da OCDE, conhecida como Família Frascati” e que contempla o Manual de Frascati, que trata de I&D – Investigação e Desenvolvimento; o Manual de Oslo que trata de Inovação e o Manual de Camberra que trata de Recursos Humanos. Na sequência de sua difusão, a coleção consolidou um padrão no desenvolvimento de pesquisas sobre as respectivas áreas.

O Manual de Oslo foi pensado, como referido no prefácio da publicação: Como orientação para coleta de dados sobre Inovação Tecnológica e foi elaborado no início da década de 1990 em cooperação com o Nordic Industrial Fund – Fundo Industrial Nórdico – em resposta às recomendações feitas pelo National experts on Science and Technology – NESTI – Grupo de Especialistas Nacionais em Ciência e Tecnologia – da OCDE – Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento. (OCDE, 2004, p. 12)

Na terceira edição do Manual de Oslo, o conceito de Inovação apresenta a seguinte classificação: produto, processo, marketing e organização. Segundo o manual:

Inovações de produto e de processo são conceitos familiares no setor privado, e foram o único foco das edições prévias no Manual, onde a inovação organizacional foi tratada em anexo e as inovações de marketing não apareceram. As inovações de marketing e organizacionais são discutidas extensivamente nesta edição do Manual. Esses conceitos são familiares para empresas de alguns países e foram incluídos em algumas pesquisas sobre inovação, embora suas definições não estejam geralmente tão bem estabelecidas como as de inovação de produto e de processo. As definições desses novos tipos de inovação para o uso em pesquisas estão ainda em desenvolvimento, em grande medida no mesmo processo por que passaram as inovações de produto e de processo na primeira edição do Manual de Oslo. (OCDE, 2005, p. 55)

A Inovação de Produto, bens ou serviços, é considerada pelo manual como a mais importante, e de forma resumida, diz sobre um “serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos”. (OCDE, 2005, p. 57). A Inovação de Processo, como o próprio nome refere, está relacionada ao melhoramento dos modos produtivos. (OCDE, 2005, p. 58). A Inovação Organizacional 80

se refere a novos métodos de articulação dentro do ambiente de trabalho. (OCDE, 2005, p. 61). A última das Inovações da escala do Manual de Oslo, Marketing, contempla em seu escopo o incremento de produtos “quer seja em sua embalagem, no seu posicionamento, em sua promoção ou na fixação de preços”. (OCDE, 2005, p. 59). Imediatamente na sequência desta descrição, o manual refere que este tipo de Inovação, de forma específica, é voltado para melhor atender “as necessidades dos consumidores, abrindo novos mercados, ou reposicionando o produto de uma empresa no mercado, com o objetivo de aumentar as vendas”. (OCDE, 2005, p. 59). São certamente incompatíveis os atributos deste tipo de Inovação: o desenvolvimento de produtos ou serviços que atendam o consumidor, evidentemente, não tem como premissa reposicionar o produto ou aumentar as vendas. Isto será certamente, consequência, de bons projetos, dentro de necessidades reais e pressupostos sustentáveis.

De notar que a segunda edição do Manual de Oslo tem no subtítulo Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica, a descrição de um viés claramente tecnológico – entenda-se aqui, digital. Nesta mesma edição, o conceito de Inovação Não-Tecnológica é inserido no anexo da publicação, onde além da definição, apresenta também dados mensuráveis e menciona a ausência de estudos que avaliem este tipo de Inovação. As duas primeiras edições usaram a definição de inovação tecnológica de produto e de processo (TPP). Isso refletiu um foco em desenvolvimentos tecnológicos de novos produtos e de novas técnicas de produção pelas empresas e sua difusão para outras firmas. Uma discussão sobre inovação não-tecnológica foi incluída no anexo. (OCDE, 2005, p. 16)

Já no terceiro volume, o subtítulo passa a ser: Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação, não especificando a natureza tecnológica, podendo representar um sinal que há uma alteração de percurso para um entendimento mais amplo do conceito de Inovação.

O que não vem representado nos estudos é a inovação social.

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Para Sevcenko (2009) a particularidade do século XX está centrada na contundente alteração tecnológica, com desdobramentos significativos nas mais variadas dimensões, que autor chama de “surto de transformações constantes”. Este é o panorama em que fica mais evidente a sobreposição do conceito de inovação e de tecnologia digital como sinônimos (Hobsbawm, 2009). Um conceito pode conter o outro, mas, certamente não se resume ao próprio.

3.2.2. Da Inovação Social | Conceito

A palavra social quando vinculada ao vocábulo inovação, historicamente, pode remeter à ideia de solidariedade no sentido de assistencialismo. Filantropia também pode ser uma aproximação. Mais recentemente, negócios de impacto social, também costuma ser uma designação que se avizinha do conceito.

Enquanto ideia principal, e sob o enfoque de Owen e Proudhon (apud Pires, 2015), a inovação social traduz um desejo intrínseco de mudança baseada que é na reciprocidade.

Nessa perspectiva, há também a ideia associada que, apesar da denominação inovação, a bem da verdade, o tema e, sobretudo, a prática, são antigos, alinhado à ideia que “a democracia como um modo de vida pessoal e individual não envolve algo fundamentalmente novo. Mas, quando aplicada, confere novo sentido prático a velhas ideias” (DEWEY, 2008 p. 138 apud Franco, 2008).

Resultado da concretização de mudanças, por meio do modo como os indivíduos ou comunidades agem para resolver os seus problemas (Manzini, 2008), a inovação social, enquanto conceito contemporâneo, tem o início de sua tessitura na década de 1990, na esteira das transformações do fim de século que reconfiguraram o mercado, ampliando para global, a escala das relações.

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Esta que só se efetiva em formato colaborativo, com objetivos coletivos e em cenário de busca da sustentabilidade como premissa social passa, de forma imprescindível, por uma descontinuidade sistêmica. Enquanto não houver uma verdadeira desconstrução do modelo vigente não há lugar para uma real mudança.

A descontinuidade sistêmica, ou seja, a mudança das práticas de produção e consumo instaladas, demanda uma transformação social em distintas escalas: seja na macro ou na micro dimensão e, acima de tudo, calcada no conceito base da sustentabilidade.

Esta transformação social, a inovação social, além de efetivar mudanças no modo como os indivíduos ou comunidades agem para resolver os seus problemas também se caracteriza por detectar e fomentar novas oportunidades. (Landry, 2006,: EMUDE, 2006 apud Manzini, 2008). A referida transmutação é um processo de aprendizagem, em termos sociais, regido pela criatividade aplicada e pelas especificidades: A transição rumo a sustentabilidade, especificamente a modos de vida sustentáveis, será um processo de aprendizagem social largamente difuso no qual as mais diversificadas formas de criatividade, conhecimento e capacidades organizacionais deverão ser valorizadas do modo mais aberto e flexível possível. (MANZINI, 2008 p. 61)

O referido processo de aprendizagem social apresenta uma especificidade construtiva: só é possível com a efetiva participação das iniciativas circunscritas, locais. Aqui a questão da escala emerge, enquanto reação possível, ou seja, constitui uma resistência de minorias sociais, na maior parte das vezes, que de outro modo desapareceriam ante o comportamento vigente. “Podem ser vistos como experimentos sociais de futuros possíveis: laboratórios multilocalizados e difusos, onde diferentes movimentos rumo à sustentabilidade são ensaiados”. (MANZINI, 2008 p. 61) O denominador comum é a expressão de mudanças radicais na escala local, materializadas que são, pela valorização dos saberes e fazeres locais, numa perspectiva disruptiva, colaborativa e sustentável.

Integrante que é do tripé (ambiental, econômica e social) da sustentabilidade, a inovação social pauta as suas práticas pela ação colaborativa e equânime. Todos fazem o que é bom para todos. 83

Outra qualidade intrínseca da inovação social é a relação interpessoal. É claro que viver em sociedade pressupõe o relacionamento entre os indivíduos. Ocorre que, no âmbito da inovação social a qualidade relacional é condição sine qua non para a sua efetividade.

É uma relação entre pares, onde existe uma convergência em termos de objetivos sociais, um alinhamento de visão de vida e, sobretudo, está baseada na autenticidade e na confiança mútua. O produto da inovação social é o reforço do tecido local por meio de ideias inovadoras. Em se tratando de inovação social, as ideias inovadoras constituem um rearranjo do que já existe. Considerando que a capacidade de reorganizar elementos já existentes em novas e significativas combinações é uma das possíveis definições de criatividade, tais grupos podem ser definidos como comunidades criativas: pessoas que, de forma colaborativa, inventam, aprimoram e gerenciam soluções inovadoras para novos modos de vida. (MERONI, 2007 apud MANZINI, 2008 p. 64)

3.2.3. Da Inovação Social | Evolução

Os projetos de inovação social são a expressão de minorias, efetivados por meio de grupos afins que apresentam forte motivação e são efetivos na busca de resultados. Estes agrupamentos de teor criativo empreendem soluções de base, trilhando percursos conceituais distintos do que seria de se esperar, independentemente de acontecer ou não uma mudança geral de sistema (seja na economia, nas instituições, nas vastas infraestruturas). (MANZINI, 2008 p. 64). A necessidade é detectada e, de imediato, há uma reação. A simplicidade das soluções se faz por meio da complexidade da síntese e da estratégica redefinição dos elementos existentes.

A síntese, em Newton (1979), resulta da análise. Quando os experimentos científicos são realizados, há que se formular o que dali foi observado como resultado. “A síntese consiste em assumir as causas descobertas e estabelecidas como princípios, e por elas explicar os fenômenos que procedem delas, e provar as explicações”. (NEWTON, 1979 p. 24) 84

Daí claro, a sua complexidade e sofisticação.

A inovação social, enquanto prática, tem forte relação com os valores identitários e o resgate da memória. Tal perspectiva pode parecer paradoxal, se levado em conta que o conceito da inovação, numa abordagem preliminar, não contemplaria um olhar retrospectivo, mas, é justamente a leitura do conhecimento intrínseco, sob um novo viés, aquilo que caracteriza este tipo de inovação. As comunidades criativas se formam a partir de novas demandas em uma abordagem nova diante das oportunidades disponíveis e: Se manifestam a partir de diferentes combinações de três elementos básicos: a existência (ou ao menos a memória) das tradições; a possibilidade de utilizar (de uma forma apropriada) uma série de produtos, serviços e infraestruturas; a existência de condições sociais e políticas favoráveis (ou pelo menos capazes de aceitar) o desenvolvimento de uma criatividade difusa. (MERONI, 2007 apud MANZINI, 2008 p. 65)

O caráter experimental, e até exploratório, de detecção e resolução de problemas também caracterizam as comunidades criativas. O formato transversal de interação e ação, bem como as particularidades locais, consolidam um contexto complexo e propício à descoberta.

Em termos evolutivos, as comunidades criativas, se bem-sucedidas, tornam-se empreendimentos sociais difusos (Manzini, 2008), sendo que este aperfeiçoamento se consolida quando há, ao mesmo tempo, resultados específicos e qualidade social. A auto-organização está presente e os intervenientes são ao mesmo tempo promotores e beneficiados. Há um posicionamento ativo por parte dos envolvidos na resolução de problemas próprios. Em síntese, há a produção de sociabilidade.

O empreendimento social difuso é um dos dois tipos de empreendimento social existentes. O difuso trata de questões cotidianas enquanto o segundo trata de: Problemas sociais críticos (tais como interação com grupos sociais marginalizados ou assistência a doenças graves) a especificidade dos empreendimentos sociais difusos repousa em estender o conceito de “social” a uma ampla arena onde os indivíduos se encontram para enfrentarem juntos 85

as dificuldades comuns da vida cotidiana, bem como as novas demandas de bem-estar que destas emergem. (MANZINI, 2008 p. 68)

Os resultados positivos apresentados pelos empreendimentos sociais difusos, denominados por Manzini (2008) de organizações colaborativas, representam o estágio seguinte, em termos evolutivos. Podem se desdobrar, por sua vez, em novos tipos de serviços sociais (serviços colaborativos), microempreendimentos (empreendimentos colaborativos) e rede de pessoas ativas (cidadãos colaborativos). No primeiro, os “usuários finais estão ativamente envolvidos, assumindo o papel de co designers e co produtores de serviços”; no segundo, há a implantação de novos “modelos de atividades locais, por estabelecer relações diretas com usuários e consumidores”, e, finalmente, no terceiro, como o próprio refere, diz respeito a grupos de cidadãos que se articulam, não só na resolução de problemas, mas, também, na descoberta de novas potencialidades.

Figura 15| Evolução da Inovação Social

Fonte: Manzini, 2008 | Elaborado pela autora

A inovação social, enquanto dinâmica, apresenta uma posição contestadora tendo em vista que o seu: Modelo organizacional desafia os modos tradicionais de pensar, indo além das convencionais polaridades sobre as quais os modernos modelos organizacionais dominantes foram construídos: privado/público; consumidor/produtor; local/global; necessidade/desejo. (MANZINI, 2008 p. 72)

O alinhamento entre os interesses individuais, coletivos e ambientais, que pode em um primeiro momento se mostrar contraditória, é o que dota a equação de grande complexidade. 86

Tanto as comunidades criativas quanto os empreendimentos sociais difusos são, potencialmente, indutores da economia do conhecimento (MANZINI, 2008 p. 69), e que, por consequência, em termos produtivos, faz com que seja sejam reconhecidos no quadro desta nova economia.

3.2.4. Da Inovação Social | Contexto

O hackativista, na perspectiva de Dorne (2016), tem autonomia para propor de ações de “hackeamento” no âmbito que a sua mobilidade permitir, pois, a cidade é sua pertença. A premissa do autor para o conceito do “hacker citizen” faz remeter à questão geográfica, da localização, do espaço de ação. O onde.

A historicidade urbana narra a construção de uma relação modificada pelo meio que, por sua vez, também foi alterada pela própria interação. E, nesta perspectiva, intimamente relacionada que está com aspectos da sustentabilidade, a produção do espaço urbano estabeleceu vínculos e ajustes. Primeiramente, em modo passivo, o indivíduo se utiliza do meio como forma, exclusivamente, de sobrevivência. Posteriormente, já em modo ativo, o sujeito passa a produzir e, ainda que com objetivos de subsistência, a interação consubstancia a etapa “revolução agrícola” (Carlos, 2015) do processo sociocultural, cuja transição entre passividade e atividade faz com que o indivíduo altere a relação estabelecida com o meio e, desta forma, ambos são alterados: meio e indivíduo.

Esta ideia poderia parecer, à primeira vista, tangenciar o argumento contemporâneo da diminuição das distâncias e da supressão das barreiras geográficas em virtude da proximidade virtual. Mas, o atributo mobilidade, enquanto condição urbana, está diretamente relacionada à facilidade de deslocamento no âmbito da cidade, independentemente dos modais de transporte utilizados. Resultante que é da interface com a cidade e a infraestrutura ofertada, a mobilidade está, também, relacionada com 87

a forma como o espaço urbano está organizado e distribuído (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).

Em Harvey (1628 apud Sennet, 2012), no entanto, a ideia de mobilidade está, antes de tudo, relacionada ao Homo Economicus, cuja profunda especialização profissional o qualificaria para um livre trânsito no mercado, em função da valoração da mão de obra e das especificidades do campo de atuação. Se por um lado, em dado momento, a qualificação profissional dota o ser humano do movimento autônomo, por outro, o livre trânsito o deixa impossibilitado de estabelecer uma relação sensível seja com o local, seja com as pessoas. Hoje, como o desejo da livre locomoção triunfou sobre os clamores sensoriais do espaço através do qual o corpo se move, o indivíduo moderno sofre uma espécie de crise táctil: deslocar-se ajuda a dessensibilizar o corpo. Esse princípio geral vem sendo aplicado a cidades entregues às exigências do tráfego e ao movimento acelerado de pessoas, cidades cheias de espaços neutros, cidades que sucumbiram à força maior da circulação. (SENNET, 2016 p. 262)

Neste contexto, o corpo transitou da promessa de “unificado com o ambiente” (Harvey, 1628, apud Sennet, 2012), no início de tudo, para, no âmbito da grande metrópole contemporânea, abrigar “estrangeiros desenraizados”. O autor não preconiza o lado sombrio desta transformação. Antes, tenta refletir: Se em uma cidade multicultural, e contra todas as peculiaridades da história, há alguma chance de existirem pontos de contato, mais do que trincheiras recuadas, entre povos racial, étnica e sexualmente diferentes. Podemos escapar à sorte dos cristãos venezianos e judeus? Pode a diversidade urbana refrear as forças do individualismo? Estas questões começam na carne. (SENNET, 2016 p. 264)

O urbano, enquanto espaço de ação, assenta no processo de transformação da cidade a que a experiência corporal esteve sujeita ao longo da história e não apenas em termos físicos, mas, sobretudo, na reflexão acerca do processo de desrespeito ao qual o corpo humano tem sido submetido e que, para Sennet (2016), compreende ainda um paradoxo. A privação sensorial a que aparentemente estamos condenados pelos projetos arquitetônicos dos mais modernos edifícios; a passividade, a monotonia e o cerceamento táctil que aflige o ambiente urbano. Essa carência dos sentidos tornou-se ainda mais nítida nos tempos modernos, em 88

que tanto se privilegiam as sensações do corpo e a liberdade dos movimentos. (SENNET, 2016 p. 13)

Embora à primeira vista pudesse se pensar em um desfasamento do ofício da Arquitetura e Urbanismo na relação do corpo humano com o espaço construído, o fato é que, para o autor, o adormecimento sensorial está diretamente relacionado com o apassivamento. O corpo se torna passivo quando exposto ao excesso de experiências de dor, violência, medo, entre outras, enfatizado que é, sobretudo, por três fatores: a velocidade, a facilidade e a comunicação digital (Sennet, 2016).

O primeiro fator, a velocidade, faz com que, se por um lado, é possível viajar com uma rapidez impensada pelos nossos antepassados, por outro, isso faz também com que cheguemos onde não se pensava ser possível. Nesta perspectiva, o espaço se torna apenas um não lugar, um espaço de passagem, ou ainda, um conjunto de pontos de referência que nos localiza em termos das trajetórias cotidianas. Daí resulta uma relação insípida, pouco atrativa, que dota os espaços de qualidades meramente funcionais. O corpo passivo perambula, quase, automatizado pela rotina diária. O cotidiano repetitivo se instala como agente amortecedor de emoções. A condição física do corpo em deslocamento reforça essa sensação de desconexão com o espaço. Em alta velocidade, é difícil prestar atenção na paisagem. (...) Navegar pela geografia da sociedade moderna requer muito pouco esforço físico e, por isso, quase nenhuma vinculação com que está ao seu redor. (SENNET, 2016 p. 16)

O segundo fator mencionado é a facilidade. A materialização do que é obtido sem dificuldade, na ótica do autor, é diretamente proporcional ao processo de desvinculação daquilo que nos rodeia. Quanto mais fácil, menos atenção é investida. Constitui a “Experiência Narcótica” onde o corpo se move de maneira passiva, anestesiado no espaço, para destinos estabelecidos em uma geografia urbana e fragmentada. (SENNET, 2016)

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Tanto a materialização de um caminho de escoamento, onde não há lugar para a apreciação local, quanto a efetivação da imunidade ao confronto com o “que quer que seja sem desconforto” (SENNET, 2016 p. 17), ou constrangimento, representa a “liberdade da resistência”, onde o corpo segue alimentando o medo do contato, da interação, do convívio. “As comunidades fechadas, com portões que as protegem” constituem objetivos e modelos de vida a serem atingidos. (SENNET, 2016 p. 18)

Já o terceiro fator, a comunicação digital, está diretamente relacionado com o conceito de inovação social. Segundo estudo da Young Foundation (2006 apud Manzini, 2008), tais eventos tendem a ocorrer quando há o surgimento, e a proliferação, de novas tecnologias ou de problemas particularmente urgentes ou difusos.

A emergência mais recente, tanto de um contingente veloz de novas tecnologias quanto de um rol de problemas sociais, econômicos e ambientais a serem ultrapassados, configura o que na perspectiva da entidade fazia prever, em 2006, a manifestação de uma nova onda de inovação social e que, este ciclo consubstanciaria um guia de relevância para a transição rumo à sustentabilidade. (Manzini, 2008 p. 62).

A relevância desta conectividade centra-se, sobretudo, no ambiente propício à articulação em rede que as novas tecnologias facilitam e que a inovação social demanda. Embora seja verdade que o uso das tecnologias de informação e de comunicação como facilitadores de novas formas de organização esteja ainda apenas no começo, algumas invenções desenvolvidas pelas comunidades criativas são já muito avançadas. Em outras palavras, situam-se na vanguarda dos processos de inovação sistêmica socialmente conduzidos, onde tecnologias comuns existentes são utilizadas para criar sistemas e organizações totalmente novos. (MANZINI, 2008 p. 67)

A construção em rede dota a sociedade de uma nova configuração. Para Castells (1999), “esta nova morfologia social” além de ser modificada também modifica. É o ativismo digital, conhecido como ciberativismo, onde a comunicação por internet é utilizada de forma a articular grupos de indivíduos, com alinhamento de motivações para atingir objetivos comuns. 90

A difusão no compartilhamento da informação, por sua vez, também um dos pilares na delimitação do conceito de inovação social, reforça a ideia de Manzini (2008) acerca da configuração rígida dos produtos resultantes da Era do Conhecimento que, ao contrário das soluções das comunidades criativas flexibilizam caminhos ampliando possibilidades de atuação e resultados. De fato, pesquisas realizadas até agora mostram que as comunidades criativas emergem principalmente em contextos de rápida mudança, caracterizados pelo conhecimento difuso, com um alto nível de conectividade (o que significa a possibilidade de interagir com outras pessoas, associações, firmas e instituições) e certo grau de tolerância (em relação aos modos não convencionais de ser e fazer). Em outras palavras, tendem a emergir em contextos onde a economia do conhecimento é mais desenvolvido. (MANZINI, 2008 p. 69)

Em oposição a um cenário de paralisia sensorial há um corpo atuante. Atento ao entorno, ao cotidiano e, sobretudo, ao que está pendente de modificação.

3.2.5. Dos Coletivos

O crescimento populacional é inversamente proporcional aos valores personalizados (MOLES, 1981) o que resulta, em termos sociais, na hiper valoração da posse, ou nas palavras do autor, na promoção do objeto.

Lefebvre define a vida cotidiana como aquilo que permanece quando se abstrai ou extrai do vivido todas as atividades especializadas e determinadas no sentido social do termo. A cotidianidade introduz a dimensão sociológica na vivência imediata, logo pela transformação dos objetos em bens que geram desejos, função dos portadores de signos e reveladores sociais, oposição do privado e do público e o artificial em oposição ao natural. Estas oposições propõem, portanto, um sistema dimensional, descrevendo os fenômenos do ambiente. (MOLES, 1981 p. 12)

Os objetos condensam, potencialmente, a capacidade de eliminar as características naturais promovendo a artificialização do meio ambiente, não apenas em termos da produção industrial cotidiana e do desenvolvimento do seu papel de mediação entre o homem e o mundo, mas, sobretudo, pelo sistema de signos que a eles são atribuídos e que materializam mensagens sociais, econômicas, entre tantas (Moles, 1981). 91

O paradoxo entre a carga de significado atribuída aos objetos e o anonimato de sua produção industrial, em termos contemporâneos, pode ainda extrapolar as boas práticas sustentáveis e sociais além de promover a distância social, debilitando a importância da presença do homem, ao mesmo tempo em que a posse para a precarizar as relações e as interações.

Diante do crescente "encapsulamento" das atividades cotidianas (de moradia/prédios- clube, de compras e de lazer/shopping centers, entre outras), que em Jacques (2005) recebe a denominação de espetacularização da cidade, surge um crescente movimento na cidade de São Paulo que procura resgatar a identidade e as iniciativas locais que constituem a dinâmica em pequena escala, como componentes do processo de produção da cidadania.

São agrupamentos de pessoas que apresentam convergências sociais e que se manifestam de forma coletiva e em rede.

A ideia de coletivo diz de algo que, ainda que se apresente como singular, representa aquilo que é plural, que faz conviver muitos unos para a construção de um todo de multiplicidade. A seguir apresentam-se as iniciativas urbanas coletivas e colaborativas, de base, possíveis de serem mapeadas, instaladas na área do centro expandido da cidade de São Paulo. O mapeamento da presente pesquisa centrou-se no universo abaixo elencado por se tratar de um contingente de iniciativas que estão inseridas no centro expandido da cidade de São Paulo e por materializarem ações que marcam o cotidiano urbano, seja por meio de intervenções locais estáveis (como uma horta, uma praça, por exemplo) ou por meio de intervenções locais efêmeras (como uma instalação, por exemplo).

3.2.5.1. A Batata Precisa de Você 3.2.5.2. ARRUA Coletivo 3.2.5.3. Associação Parque do Minhocão 3.2.5.4. Baixo Centro 3.2.5.5. Casa da Lapa 92

3.2.5.6. Ciclocidade 3.2.5.7. Cidade Ativa 3.2.5.8. Cidade a Pé 3.2.5.9. Corrida Amiga 3.2.5.10. Coletivo Bijari 3.2.5.11. Formiga-me 3.2.5.12. Florestas de Bolso 3.2.5.13. Horta das Corujas 3.2.5.14. Horta das Flores 3.2.5.15. Mão na Praça 3.2.5.16. Matilha Cultural 3.2.5.17. Microtopia 3.2.5.18. Movimento Boa Praça 3.2.5.19. Ocupe e Abrace 3.2.5.20. Parque Augusta | Aliados do Parque Augusta e Organismo Parque Augusta 3.2.5.22. Pimp My Carroça 3.2.5.23. Se(cura) Urbana

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3.2.5.1. A BATATA PRECISA DE VOCÊ9

Figura 16 | Marca A Batata Precisa de Você

Fonte: Facebook A Batata Precisa de Você Disponível em < https://www.facebook.com/abatataprecisadevoce/> Acesso: 22 ago. 2018.

A Batata Precisa de Você é um movimento que surgiu em 2014 como resposta à insatisfação de um grupo de usuários com a configuração do Larga da Batata, em Pinheiros, resultante da Operação Faria Lima10. Tendo como objetivo inicial promover a reflexão e, sobretudo, o fortalecimento da relação com o Largo, o coletivo definiu como estratégia inicial a ativação do local por meio da realização de inúmeras atividades, todas às sextas-feiras, no final da tarde. Nossos objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. É um exercício de democracia em escala local, um movimento de cidadania e concretização social e urbana. Uma maneira que as pessoas têm de se manifestar, de maneira inteligente e propositiva, por melhorias imediatas nas suas condições. A Batata Precisa de Você se propõe a ter um canal aberto de diálogo com os gestores públicos e debater os processos de uma gestão compartilhada entre cidadãos, associações e poder público. (A BATATA PRECISA DE VOCÊ, 2014)

9 http://largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/ 10 Formulada em 1997, na gestão do então prefeito Paulo Maluf, a Operação Urbana Faria Lima foi formatada para padronizar a área da Nova Faria Lima e do Mercado de Pinheiros até o Rio Pinheiros, incluindo o Largo da Batata, no padrão da Faria Lima, avenida sede de instituições corporativas e financeiras. Essa obra durou mais de 10 anos e o Largo foi aberto para utilização, em 2013. Fonte: A Batata Precisa de Você. Disponível em: < http://largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/>. Acesso em: 18 ago. 2018. 94

Depois de mais de uma centena de eventos, ao longo do ano seguinte, foi possível constatar, nas palavras do coletivo, o poder da ação coletiva.

O bairro de Pinheiros, em São Paulo, uma vila indígena transformada em núcleo urbano11, teve no seu largo, a configuração ideal para a instalação do Mercado dos Caipiras, nos idos de 1910. Cerca de uma década depois, o local começaria a ser conhecido como o largo da Batata, em virtude de reunir os produtores da Cooperativa Agrícola de Cotia para a venda dos tubérculos. O Mercado dos Caipiras, já sexagenário, na década de 1970, ganha casa própria, o Mercado de Pinheiros, e deixa o Largo da Batata. O largo, no entanto, continua de Pinheiros e da Batata. Abriga agora uma quantidade incomensurável de transporte coletivo e fluxo automóvel e de pedestre.

Figura 17 | Largo de Pinheiros/1900

Fonte: SP City Disponível em: Acesso em: 29 de novembro de 2016.

11 http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/08/1327964-depois-de-11-anos-largo-da-batata-fica-pronto-em-dezembro.shtml

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Figura 18 | Largo de Pinheiros/1900

Fonte: Acervo Raul Goldschmidt Disponível em: Acesso em: 29 de novembro de 2016.

Figura 19 | Largo de Pinheiros/1980

Fonte: Diário do Transporte Disponível em: < https://diariodotransporte.com.br/2012/11/05/largo-da-batata-deve-ganhar-terminal-de-onibus-ate- dezembro/> Acesso em: 29 de novembro de 2016. 96

A posição privilegiada faz do largo um ponto de articulação viária, cuja ampliação é prevista em 1995, na Operação Faria Lima12 que tem, entre outros objetivos, a melhoria da qualidade de vida dos moradores e da paisagem urbana. O período de dez que durou a obra gerou uma expectativa não correspondida na entrega do produto. O projeto contemplou o alargamento das avenidas e a delimitação de uma enorme área vizinha a uma igreja, uma estação de metrô e ao comércio que resistiu à desapropriação e ao interlúdio da operação urbana. A requalificação, no entanto, resultou em profusão de pavimentação e ausência de qualquer mobiliário urbano ou vegetação. A imensa área (notadamente vocacionada para a implantação de uma praça), antes ocupada por intensa atividade comercial, materializa agora, a aridez de um lugar de passagem. Quase um não-lugar. (CASTANHEIRA, 2015, p. 35)

Figura 20 | Largo de Pinheiros/2011

Fonte: SkyCraperCity Fonte: Disponível em: < http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=106249558> Acesso em: 29 de novembro de 2016.

Em 2013, a nudez do largo foi providencial para que os movimentos sociais pudessem exteriorizar a insatisfação em relação ao momento político vivido no Brasil. As

12 A Operação Urbana Consorciada Faria Lima (Lei 11.732/1995) compreende 650 hectares e está situada na região sudoeste do município de São Paulo. Tem por objetivos principais reorganizar os fluxos de tráfego particular e coletivo ao implantar o prolongamento da avenida Faria Lima interligando-a às avenidas Pedroso de Moraes e Hélio Pelegrino até alcançar a avenida República do Líbano, além de construir terminal multimodal junto a estações da CPTM e Metrô. Também são objetivos importantes da Operação promover a reurbanização do Largo da Batata e urbanizar as favelas em seu perímetro, ou entorno imediato. Sua adequação ao Estatuto da Cidade resultou na Lei 13.769/04. Fonte: Disponível em: Acesso: 04 de novembro de 2014.

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manifestações invadiram muitas ruas de São Paulo e o Largo da Batata cumpriu a sua função de Ágora13 ao dar espaço para a expressão política do habitante da cidade.

Figura 21 | Largo de Pinheiros/ Junho de 2013

Fonte: Disponível em: < https://vrimb.wordpress.com/2018/10/10/manifestacoes-populares-e-redes-sociais/> Acesso em: 29 de novembro de 2016.

Figura 22 | Largo de Pinheiros/2014

Fonte: Visible Disponível em: < https://www.visibleproject.org/blog/project/a-batata-precisa-de-voce-the-potato-square-needs-so-paulo- brazil/> Acesso em: 07 de novembro de 2016.

13 Se a rua, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquitecturas significativas...... A praça reúne a ênfase do desenho urbano como espaço colectivo de significação importante. Este é um dos seus atributos principais e que a distingue dos outros vazios da estrutura das cidades. (LAMAS, 2004, p.102)

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Pouco tempo depois, diante da passividade do poder público em exterminar a esterilidade do local, emerge o movimento A Batata Precisa de Você. Com o objetivo ativar o largo, o movimento começou por promover uma ocupação regular às sextas- feiras, no final da tarde, onde fosse possível refletir o que se pretendia para aquele espaço.

Nossos objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje tão árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. É um exercício de democracia em escala local. Um movimento de cidadania e concretização social e urbanística. Uma maneira que as pessoas têm de lutar, de maneira inteligente e positiva, por melhorias imediatas nas suas condições. A Batata Precisa de Você é um dos projetos do Instituto A Cidade Precisa de Você, sem fins lucrativos, é um coletivo de pessoas interessadas em promover a melhora e a ativação dos espaços públicos urbanos. Ao articular os vários atores de territórios da cidade – comunidade local, movimentos civis organizados, terceiro setor, empresas e poder público – promove a responsabilidade cívica sobre o uso, os cuidados e a gestão do espaço público. (A BATATA PRECISA DE VOCÊ, 2014)

A premissa de uma ocupação mínima, sem estruturas pré-concebidas ou elaboradas, reside no interesse do coletivo em propor ações reflexivas, numa perspectiva Jacobsiana14 de reunião, de encontro, de diversidade, a partir da qual, era suposto emergir um conteúdo transversal e direcionado à necessidade percebida. O movimento, uma manifestação cidadã propositiva, se pauta por ser uma intervenção minimamente invasiva em termos de equipamentos ou acessórios. A ideia, segundo a organização, é ocupar o Largo com o que se tem à mão. O acessível torna-se o necessário e, exonera qualquer tipo de megaestruturas ou superproduções. (CASTANHEIRA, 2015, p. 36)

A ideia de uma intervenção diminuta, em termos de recursos materiais, tem como premissa projetual a gambiarra15, que embora em Portugal, de onde se deduza o vocábulo tenha a sua origem, seja um artefato com finalidades específicas, no Brasil, adquiriu um sentido bastante mais abrangente que configura, inclusive, uma "atitude

14 Relativo a Jane Jacobs.

15 A origem etimológica de gambiarra é descrita como duvidosa ou mesmo obscura, mas acredita-se que se relacione à palavra gâmbia, uma derivação do latim camba ou gamba (perna). Neste sentido, outro termo relacionado à mesma raiz é gambeta - procedimento manhoso, astucioso, pouco decente. Aparentemente, é próximo a este sentido que o termo gambiarra tem sido usado com mais freqüência no Brasil. (BOUFLEUR, 2006, p.34)

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de improvisação, criatividade, solução alternativa, conserto improvisado", como refere Boufleur (2006 p. 35)

O local, cuja resiliência foi colocada à prova, não só em virtude dos 11 anos que duraram as obras, mas, também, por ter descaracterizado por completo o espaço e ainda ter negado as expectativas do usuário, se vê agora tomado por tensões ante a inércia das instâncias governamentais e de sua conduta nula. Assim, dos projetos de gambiarra, a Batata Precisa de Você passou a mobilizar um contingente considerável, por meio das redes sociais, promovendo a formação de novas atividades que incluíram um concurso de mobiliário urbano (e a respectiva instalação do projeto no local) além de uma série de eventos que, em certo sentido, resgatam a cultura brasileira e paulistana, como bailes, festas juninas, entre outros, e, em sentido estrito, a convivência e a interação tendo a cidade por cenário.

Figura 23 | Largo de Pinheiros/2014

Fonte: Youtube Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Z_elknSnGHo> Acesso em: 01 de dezembro de 2016.

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3.2.5.2. ARRUA COLETIVO

Figura 24 | Marca ARRUA Coletivo

Fonte: Youtube Disponível em: Acesso: 22 ago. 2018.

QUEM É ARRUA? Quem somos: _um coletivo que debate o direito à cidade _um coletivo que intervém na cidade e nas redes _um grupo de pessoas com afinidades políticas e afetivas _mais um ponto na rede O Coletivo Arrua tem por objetivo “reinventar a cidade como espaço democrático” assente nos pilares da mobilidade, lazer e cultura. É fruto da iniciativa de um grupo de amigos para quem a cidade só pode ser, efetivamente, democrática se atender aos “interesses da população que nela habita”.

Na pauta da iniciativa está patente a questão da reflexão crítica, da cidadania ativa e dos formatos colaborativos de forma a construir o coletivo. O coletivo Arrua ocupa as ruas, praças e atua nas redes sociais digitais para recuperar a dimensão publica da cidade de forma distribuída e coletiva. Buscamos colaborar para estabelecer outra cultura política em conjunto com uma série de novos atores que estão reinventando as formas de fazer política e com arte e criatividade ocupam a cidade de São Paulo. Somos mais um grupo de pessoas que acredita que a cidade deve ser de domínio público, não dominada por interesses privados e mercantis. Uma cidade para as pessoas, que promove o encontro, onde pode-se amar e ser feliz. (GUIA DA SEMANA DE SP, 2014)

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Para o coletivo só é possível ter uma participação ativa na construção da cidadania a partir de um posicionamento crítico que, por sua vez, é fruto da interação e da troca entre os indivíduos.

O debate da questão urbana, que passa de forma intensa pelo viés político, caracteriza o Arrua que congrega pessoas com distintas formações, mas, com um objetivo comum: promover a “resistência à cidade proibida”. Tem como pautas derivadas desta premissa maior: a mobilidade, a diversidade, a promoção da cultura e a diversão porque, segundo o coletivo, “se não for divertido não é revolucionário”.

Entendido como pilar de fundamental importância na construção em rede, a internet também é pauta do Arrua. Não apenas com o objetivo de articular cidadãos alinhados aos objetivos do coletivo, mas, também, como possibilidade de disseminação de um pensamento contemporâneo de cidade e convivência, o coletivo entende que a internet é um agente facilitador do diálogo também com iniciativas congêneres o que fortalece a tessitura de uma nova urbanidade. Nesta perspectiva teve como matéria de reflexão e discussão no âmbito das ações promovidas, o Marco Civil da Internet16, que regulamente a utilização da rede no que tange aos direitos e deveres dos usuários, dos prestadores e dos provedores. Sempre na perspectiva da confluência entre o digital e o presencial: O coletivo Arrua ocupa as ruas, praças e atua nas redes sociais digitais para recuperar a dimensão publica da cidade de forma distribuída e coletiva. Buscamos colaborar para estabelecer outra cultura política em conjunto com uma série de novos atores que estão reinventando as formas de fazer política e com arte e criatividade ocupam a cidade de São Paulo. Somos mais um grupo de pessoas que acredita que a cidade deve ser de domínio público, não dominada por interesses privados e mercantis. Uma cidade para as pessoas, que promove o encontro. (GUIA DA SEMANA, 2014)17

16 Lei 12.965, de 23 de abril de 2014, estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria. Disponível em:< https://cgi.br/lei-do-marco-civil-da-internet-no-brasil/> Acesso em: 17 ago. 2018.

17 Fonte: Conheça o Coletivo ARRUA. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2018. 102

Figura 25| Atividade Paralela | Coletivo Arrua

Fonte: Encontro Estadual dos Arquitetos e Urbanistas (EEAU) Disponível em: < https://www.eeau.arq.br/atividades-paralelas> Acesso em: 9 ago. 2018.

Figura 26 | Atividade Paralela | Coletivo Arrua

Fonte: ARRUA Disponível em Acesso em: 9 ago. 2018.

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3.2.5.3. ASSOCIAÇÃO PARQUE MINHOCÃO18

Figura 27 | Marca Parque Minhocão

Fonte: Superbacana Disponível em Acesso: 20 ago. 2018.

A Associação Parque Minhocão é uma organização sem fins lucrativos, instalada em um apartamento fronteiriço ao elevado, e que tem por objetivo “apoiar e oficializar a implementação do Parque Minhocão ao longo dos 2,8 km do Elevado Presidente João Goulart, priorizando a qualidade de vida dos moradores vizinhos ao Minhocão” (ASSOCIAÇÃO PARQUE MINHOCÃO, 2015).

Longe de consenso, o grupo entende que a estrutura deve ter a circulação de veículos cessada e deve ser transformada em parque linear. Instituída em 2014 a associação obteve resultados expressivos como a ampliação do horário de utilização (que encerra o elevado para os carros das 20 horas até às 6 horas do dia seguinte além do horário integral aos sábados), por força da Lei 16.833, de 7 de fevereiro de 2018, proposta pelos vereadores Police Neto – PSD, Eduardo Matarazzo Suplicy – PT, George Hato – PMDB, Goulart – PSD, Nabil Bonduki – PT, Ricardo Young – REDE, Sâmia Bonfim – PSOL e Toninho Vespoli – PSOL. A flexibilização de uso do Minhocão tem início em 1976, quando o seu uso passa a ser interditado para veículos no período noturno. Na gestão da então Prefeita Luíza Erundina, no ano de 1989, fica estabelecido o fechamento do viaduto entre 21h30 e 6h30 de segunda a domingo. (CASTANHEIRA, 2015 p. 82)

18 https://www.facebook.com/pg/parqueminhocao/about/?ref=page_internal 104

Figura 28 | Elevado João Goulart | São Silvestre

Fonte: Arquitetura Moderna Disponível em: < http://arqmodernablog.blogspot.com.br/2011/12/minhocao-em-sao-paulo-e-high-line-park.html > Acesso em: 1 ago. 2017. Figura 29 | Elevado João Goulart | Fins de Semana

Fonte: Guia de Semana Disponível em: Acesso em: 23 de outubro de 2017.

Além desta dilatação do horário de utilização, a entidade trabalha na elaboração a criação do Conselho Gestor do Parque Minhocão, junto da prefeitura de São Paulo; a Associação dos Moradores da Praça Roosevelt acaba de se tornar parceira e, há pouco tempo, foi instalada uma base da Guarda Civil Metropolitana na rampa que dá acesso ao elevado pela Praça Marechal. Assumidamente inspirado no projeto High Line, o Parque do Minhocão, no entanto, apresenta uma diferença fundamental do seu modelo: o primeiro estava abandonado enquanto o segundo se consolidou como uma artéria importante na estrutura viária da cidade de São Paulo. Esta é outra premissa do coletivo: a instalação do Parque Minhocão não deve demandar a construção de vias alternativas de forma a suprir o déficit de escoamento viário resultante da 105

impossibilidade de uso do elevado pelos automóveis. Na perspectiva da associação, a cidade deverá absorver, de forma natural, este rearranjo do tráfego. O elevado, desde a década de 1970, abriga inúmeras iniciativas de lazer e cultura, subvertendo o uso previsto. A salubridade da ocupação pedestre reverberou e teve desdobramentos: o Minhocão fez parte do percurso da corrida de São Silvestre entre 1980 e 2010. Além disto, é cenário frequente de skatistas e ciclistas. (CASTANHEIRA, 2015 p. 92)

Figura 30 | Elevado João Goulart

Fonte: Info Money Disponível em: Acesso: 15 jul. 2018. Figura 31 | Elevado João Goulart

Fonte: Bugre Disponível em: Acesso em: 23 de outubro de 2017. 106

Variadíssimos são os eventos que tiveram lugar no viaduto: desde desdobramentos da Bienal de Arquitetura de São Paulo, passando por intervenções artísticas individuais, até a promoção de festas juninas e encontros gastronômicos, entre tantos.

Além da utilização dos espaços do elevado, das suas pistas que durante a semana são ocupadas por automóveis, a edificação tem sido também utilizada enquanto estrutura construtiva. Nos pilares da edificação foi empreendida por Flávio Motta e Marcello Nitschee, pouco tempo depois da sua inauguração, uma intervenção artística e desde então, os suportes urbanos tem se prestado a todo o tipo de manifestação artística.

3.2.5.4. BAIXO CENTRO

Figura 32 | Divulgação Baixo Centro

Fonte: Atelier Artístico do Rio Disponível em Acesso: 15 ago. 2018.

As ruas são para dançar! Queremos fazer um festival de rua colaborativo, horizontal, independente e autogestionado no BaixoCentro de SP.

Criado em 2012, o Festival Baixo Centro, nasce como uma iniciativa civil e transversal para a elaboração de uma agenda cultural de ocupação da cidade de São Paulo. Tendo como mote a reflexão acerca da pertença e das potencialidades da cidade, o movimento em suas premissas conceituais quer promover um novo sentido de espaço público para uma nova interação cidadão-cidade. O Baixo Centro é um festival de rua colaborativo, horizontal, independente e autogestionado realizado por uma rede aberta de produtores interessados em ressignificar esta região da capital de São Paulo em torno do Minhocão, que compreende os bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elíseos, Barra Funda e Luz. Com o mote “as ruas são pra dançar”, busca estimular a apropriação do espaço público pelo público a quem, de fato, pertence, 107

motivando uma maior interação das pessoas com seus locais de passagem, trabalho ou moradia cotidianos19. (BAIXO CENTRO, 2014)

A promoção anual de um evento, o festival, tinha como objetivo articular uma mostra multilinguagens onde o espaço urbano fosse um cenário de interação e não apenas de fundo. O festival pautou a sua efetivação sobre modelos contemporâneos de cooperação: a gestão horizontal e o financiamento coletivo. As premissas de origem do coletivo aliavam uma nova leitura da cidade, enquanto espaço coletivo de apropriação, à uma proposta decisória ancorada em valores coletivos e onde seja possível definir um denominador comum.

Fomentar o modelo de gestão transversal numa iniciativa com a dimensão que o primeiro Festival do Baixo Centro adquiriu (com mais de 120 atrações) representou um enorme desafio. Para além da autogestão e da independência, havia, desde o embrião, os conceitos de horizontalidade e colaborativismo, inspirados na cultura hacker e nas redes, mas isso podia gerar muitas vezes uma discussão extenuante até que todos estivessem confortáveis com a proposta final. Nunca houve a ideia de se utilizar a votação como processo decisório, a escolha sempre foi valer- se do consenso. Para isso, a disponibilidade para o outro é fundamental. Todos tinham o direito de falar, mas também tinham que ouvir. Enquanto o argumento contra uma proposta não fosse diluído pelas diferentes argumentações, a discussão continuava e podia ser bem comprida e exaustiva. (SILVA, 2016 p. 220)

A representatividade alcançada pelo festival fez com que o número de propostas artísticas crescesse exponencialmente e, segundo Silva (2016), em meio a emergência de um método transversal e uma proposta aberta, resultou em um ruído na comunicação e na forma como passaram a entender a iniciativa. Para a autora, numa certa perspectiva, é possível dizer que mais do que fomentar a presença artística dos coletivos, o festival inseriu nas respectivas pautas a discussão acerca da cidade enquanto território a ser descoberto e ocupado.

19Baixo Centro – Quem Somos – Disponível em: Acesso em: 09 de novembro de 2014. 108

A busca de recursos para a realização do primeiro festival coincidiu com o surgimento da plataforma de crowdfunding Catarse que, aliado uma prévia, e bem-sucedida, experiência de um dos integrantes do coletivo, fez com que esta via de angariação de fundos fosse utilizada.

Para Silva (2016) o financiamento coletivo está, em essência, relacionado à construção em rede na medida em que demanda a devida articulação desta estrutura para a efetivação que se procura. Nessa perspectiva, este tipo de arranjo financeiro, estaria muito mais alinhado aos princípios de um “festival de pessoas para pessoas” onde não houvesse necessidade de se estabelecer diálogo “com o poder público vigente naquele momento em São Paulo” (SILVA, 2016 p. 219).

A mesma autora refere ainda a multifuncionalidade do crowdfunding, pois, se por um lado articula os recursos financeiros necessários, por outro: Pode incrementar novas redes e criar novas camadas na comunicação da sua proposta e do festival. O financiamento coletivo não só ajuda a ter o dinheiro para execução das atividades, mas também a ter maior divulgação em rede, ativação na mídia e consequentemente mais público. (SILVA, 2016 p. 219)

Além do processo de financiamento coletivo reforçar a construção em rede, fomentando o engajamento nas redes sociais das entidades promotoras, há também um fomento da visibilidade orgânica dos envolvidos. O contexto de aparecimento da iniciativa, segundo Silva (2016), é bastante sintomático daquilo que posteriormente surgiria na cidade: uma série de iniciativas de apropriação urbana. Para a autora, o rol de proibições do governo Kassab, que compreende a Lei da Cidade Limpa, a proibição do carnaval de rua, a utilização do skate na Praça Roosevelt, além de cerca de outras 70 proibições, delimitou um contexto onde “havia pressão por mudança, por novas políticas de ocupação dos espaços públicos, por uma cidade mais aberta e mais moderna” (SILVA, 2016 p. 212).

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Figura 33 | Divulgação Baixo Centro

Fonte: Archdaily Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-39695/comeca-hoje-1-edicao-do-festival-baixocentro-sao-paulo- sp/39695_39700> Acesso em: 23 mai. 2018.

Figura 34 | Evento Baixo Centro

Fonte: Oba Oba Disponível em: < https://www.obaoba.com.br/comportamento/noticia/conheca-5-coletivos-para-voce-acompanhar-em-2016> Acesso em: 23 mai. 2018.

A estreita relação entre a iniciativa e o Minhocão foi evidente desde o início o que contribuiu para a delimitação geográfica de sua atuação. Mais do que uma curadoria, o festival elaborava uma cuidadoria que, segundo Silva (2016), foi um conceito original surgido como premissa da iniciativa. Note-se bem que nem se utilizava a palavra produzir, pois, se curar significa escolher e criar conceito, de forma bem genérica, produzir significaria organizar as atividades, fazer a execução do projeto, e nenhuma das duas possibilidades eram as desejadas pelo grupo. Segundo Lucas, alguém falou a palavra cuidadoria. “Ela falou e ficou. Foi um momento raro de consenso total 110

de um grupo aberto”. Um festival que se quer horizontalizado, independente, autogestionado e gratuito não entraria em sintonia com as lógicas vigentes. A proposta era realmente subverter a lógica de relação entre artistas e o espaço público, mas também entre artistas e organizadores de festivais; o artista passava a ser proponente e estar numa posição muito mais ativa dentro do jogo geral da ação cultural. Ele podia escolher o tempo, a hora e, em alguns casos, o local de apresentação. Tudo era conversado e discutido de modo a ser facilitado pelos cuidadores que só se comunicavam por e-mail com seus artistas e que, muitas vezes, só os conheciam no momento da execução da ação (SILVA, 2016 p. 216).

Figura 35 | Evento Baixo Centro

Fonte: Hypeness Disponível em: < https://www.hypeness.com.br/2015/05/conheca-o-coletivo-paulistano-que-tem-o-lema-de-que-as-ruas-sao- para-dancar/> Acesso em: 23 mai. 2018.

3.2.5.5. CASA DA LAPA

Figura 36 | Marca Casa da Lapa

Fonte: Estado da Cultura Disponível em: < http://estadodacultura.sp.gov.br/espaco/6744/> Acesso: 15 ago. 2018.

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Figura 37 | Evento Casa da Lapa

Fonte: Casa da Lapa Disponível em: < http://casadalapa.blogspot.com/> Acesso em: 27 mai. 2018.

Coletivo, produtora de filmes e residências artísticas e muito mais, a Casa da Lapa é formado por vários artistas e já tem uma trajetória de mais de 12 anos na promoção da cultura. Com o intuito de acentuar as práticas colaborativas nas vizinhanças, o coletivo já realizou diversos eventos que exaltavam essas práticas.

Projetos como Casa Rodante e Vidas em Obras, realizados na região da Cracolândia, são resultado

Do trabalho do coletivo para produzir vizinhanças e acentuar práticas colaborativas desafiando a territorialização da identidade convencional com uma compreensão plural, inclusiva e polifônica. Desde o início, o coletivo persegue a criação de obras que misturem essas linguagens artísticas e que experimentem conceitos e ações, sem hierarquização das relações e do convívio coletivo. (CASADALAPA, 2016)

A multidisciplinaridade pontua as ações do coletivo como é o caso do projeto Casa Rodante. Além de artistas a equipe conta com psicólogos numa construção inter-áreas de aproximação e estabelecimento de contato com a população de dependentes químicos da região da Luz. A redução de danos é promovida por meio da interação entre a arte e o espaço público, entre a construção do senso de comunidade e de humanidade.

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Figura 38 | Divulgação Casa da Lapa

Fonte: Casa da Lapa Disponível em: < http://casadalapa.blogspot.com/> Acesso em: 27 mai. 2018.

Figura 39 | Ação Casa da Lapa

Fonte: Casa da Lapa Disponível em: < http://casadalapa.blogspot.com/> Acesso em: 27 mai. 2018.

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3.2.5.6. CICLOCIDADE

Figura 40 | Marca CicloCidade

Fonte: Facebook Disponível em: Acesso: 23 ago. 2018.

Estabelecida no formato de uma Associação dos Ciclistas, a Ciclocidade luta, sem intenções de fins lucrativos, pela construção de uma cidade mais eco-amigável promovendo o uso da bicicleta. Fundada em 2009, a associação surge quando a necessidade de melhoria das condições do ciclista é gritante.

Ciclocidade é uma associação sem fins lucrativos, que tem como missão contribuir para a construção de uma cidade mais sustentável, baseada na igualdade de acesso a direitos, promovendo a mobilidade e o uso da bicicleta como instrumento de transformação. (CICLO CIDADE, 2009)

A associação traz uma pauta que procura não só discutir, em termos das políticas públicas, o espaço da bicicleta em um contexto urbano totalmente voltado para o automóvel, como também, disseminar a cultura da bicicleta e a possibilidade de convivência entre diferentes modos e escalas de meios de transporte.

Trabalhamos pela construção de políticas públicas e iniciativas que atendam a mobilidade por bicicletas. Realizamos atividades e projetos que buscam fortalecer e propagar a cultura da bicicleta em todas as esferas da sociedade. Queremos que todos que circulam nas ruas tenham o direito à vida, segurança e conforto em seus deslocamentos. Defendemos atenção e benefícios crescentes para os ciclistas e para todos os cidadãos que utilizam alternativas inteligentes de locomoção. A bicicleta pode ser uma alternativa de locomoção para muitas pessoas ou para muitas situações do cotidiano, amplificando as possibilidades de mobilidade urbana e melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. (CICLO CIDADE, 2009)

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Figura 41 | Divulgação CicloCidade

Fonte: Cidade a Pé Disponível em: < https://cidadeape.org/2016/08/10/cidadeape-e-ciclocidade-lancam-plataforma-mobilidadeativa-org-br-nesta- segunda-feira/> Acesso em: 27 mai. 2018.

Figura 42 | Divulgação CicloCidade

Fonte: Vai de Bike Disponível em: < http://vadebike.org/2015/05/curso-formacao-em-ciclomobilidade-ciclocidade-sao-paulo/> Acesso em: 27 mai. 2018.

115

3.2.5.7. CIDADE ATIVA20

Figura 43 | Marca Cidade Ativa

Fonte: Facebook Disponível em: < https://www.facebook.com/cidade.ativa.cidade/> Acesso: 28 ago. 2018.

O coletivo Cidade Ativa é uma organização que tem como premissa a criação de “cidades mais inclusivas, resilientes e saudáveis”. Trabalha a partir do tripé: [Re]Conhecer, [Co]Criar e [In]Formar onde, entende ser de fundamental importância o reconhecimento local (seja quantitativo, qualitativo e, sobretudo, no que diz respeito aos usuários); o engajamento e a elaboração em termos coletivos e participativos; e ainda, a formação de um usuário ativo e consciente. O projeto Olha o Degrau deriva da percepção negativa que os usuários têm em relação às escadarias da cidade. Além de focos de insegurança, as escadas são entendidas exclusivamente como conectores urbanos, o que, para o coletivo, deixa de lado um enorme potencial que vai muito além do mero trânsito pedestre.

Figura 44 | Cidade Ativa

Fonte: Cidade Ativa | Quem Somos Disponível em: < https://cidadeativa.org/> Acesso: 18 jul. 2018.

20 https://cidadeativa.org/#blog 116

Figura 45 | Projeto Olha o Degrau

Fonte: SP Ape Disponível em: Acesso: 18 jul. 2018.

Resgatar o espaço, enquanto peça da rede de mobilidade urbana e enquanto possibilidade de lazer e convívio, está na origem da iniciativa que teve como ação piloto a intervenção na escada da Rua Alves Guimarães (entre as Ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde), no bairro de Pinheiros, entre 2014 e 2015. É em um contexto de parcos recursos e, sob o desafio da renovação de espaços urbanos para a coletividades, que o coletivo desenvolveu um método próprio de levantamento e desenho de soluções, sempre na perspectiva do engajamento e do formato coletivo. “Um dos resultados da iniciativa é a disseminação dos métodos aprendidos e refinados ao longo das ações desenvolvidas nas diversas escadarias da cidade, permitindo que projetos futuros possam ser liderados por qualquer cidadão ou cidadã em qualquer comunidade” (Cidade Ativa, 2015).

Apesar das escadarias estarem espalhadas em toda a cidade, interligando bairros importantes e ruas principais, não havia, quando a iniciativa foi lançada, um trabalho significativo disponível sobre esse tema, nem mesmo um banco de dados confiável com localização das escadarias e suas características. Portanto, um primeiro passo importante para o projeto foi o de proporcionar acesso a essa informação. Para isso, foi desenvolvida uma ferramenta de mapeamento colaborativo. Esse mapa, online e interativo, permite que qualquer indivíduo possa indicar onde estão as escadarias que conhece e fornecer informações sobre suas condições. (CIDADE ATIVA, 2015)

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Figura 46 | Projeto Olha o Degrau

Fonte: Aprendiz UOL Disponível em: < http://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/08/18/escadarias-de-sao-paulo-serao-mapeadas-na-plataforma-olhe-o- degrau/> Acesso em: 29 mai. 2018.

A replicação do modelo tem acontecido em diversas localidades da cidade de São Paulo, como Jardim Ângela, Ermelino Matarazzo, Jardim Nakamura, entre outros. A perspectiva é sempre que a intervenção seja viabilizada pelos moradores do entorno e utilizadores. O engajamento da comunidade escolar e artistas locais também é de fundamental importância para que a iniciativa seja bem-sucedida.

Apesar das particularidades de cada iniciativa, há uma estratégia comum entre elas: todas ocuparam espaços públicos como um ponto de encontro para mobilização e engajamento com a comunidade local e como objeto para transformação física, reforçando o uso desses lugares também para incentivar a mobilidade a pé e por bicicleta. Além disso, a ocupação do espaço público - seja para atividades de permanência ou para garantir o ir e vir com maior segurança - também ajudou a fomentar a ideia de que todos os cidadãos são responsáveis pela zeladoria e manutenção dos espaços da cidade. (ARCHDAILY, 2018)21

21 https://www.archdaily.com.br/br/899266/o-espaco-publico-como-objeto-de-transformacao-social 118

3.2.5.8. CIDADE A PÉ

Figura 47 | Marca Cidade a Pé

Fonte: Cidade a Pé Disponível em: < https://cidadeape.org/> Acesso: 23 ago. 2018.

Criada em 2015, a Cidade a Pé - Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo, se dedica a lutar por todos que se deslocam na cidade, buscando a melhoria das condições de segurança e acessibilidade. Pode-se considerar como sendo um porta voz para todos os pedestres perante o poder público, formada apenas por voluntários.

A Cidadeapé – Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo é uma organização da sociedade civil dedicada a contribuir para uma cidade mais humana, segura e acessível para todos os que se deslocam por ela – em especial quando usam seus próprios pés, ou cadeira de rodas, para se locomover. (CIDADE A PÉ, 2015)

A Cidade a Pé surge como resposta à desimportância que o pedestre adquiriu ante o avanço do automóvel enquanto expressão de uma cidade planejada apenas para o fluxo viário. O pensamento em torno daquilo que é mais básico em termos do direito do cidadão, o de ir e vir, tem ganhado visibilidade nos tempos mais recentes e a questão da caminhabilidade se tornado recorrente quando a pauta é a mobilidade. A questão ganha amplitude não apenas porque discute a qualidade dos espaços destinados ao caminhar, seja por prazer, seja por opção ou por inexistência de meios de transporte alternativos, mas, sobretudo, quando se leva em conta a mobilidade reduzida de uma parcela considerável da população urbana.

Da formação da associação resultou o conjunto de Princípios da Mobilidade a Pé e que se pauta pelas seguintes premissas:

1- Segurança absoluta para quem anda a pé 2- Calçadas caminháveis para todos 119

3- Valorização da mobilidade a pé como meio de deslocamento na cidade 4- Sinalização específica para a mobilidade a pé 5- Travessias e espaços de compartilhamento da via com prioridade total às pessoas se deslocando a pé 6- Estabelecer e consolidar a rede de mobilidade a pé (CIDADE A PÉ, 2015)

Em 2016, na iminência das eleições municipais, a Cidade a Pé e a Ciclo Cidade uniram forças para elaborar um grupo de trabalho que pudesse acompanhar, em detalhe, o posicionamento dos distintos programas políticos e, em que medida, contemplavam as necessidades do pedestre.

Na ocasião foi construída uma carta de compromissos com a mobilidade ativa, a qual candidatos a vereadores eram convidados a assinar, indicando comprometimento com a agenda proposta. Diversos candidatos, de 10 partidos diferentes, assinaram, alguns dos quais foram eleitos. Mas queremos que vereadores/as atuantes continuem engajados/as com a mudança de paradigmas no que diz respeito a agenda da mobilidade, em especial a defesa das diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, garantindo que políticas públicas e leis municipais priorizem os modos ativos de deslocamento e o transporte coletivo. Assim, a carta de compromissos continua a ser apresentada a nossos representantes municipais e convidamos vereadores a conhecer nossas propostas e aderirem a essas políticas. (MOBILIDADE ATIVA, 2016)

Deste monitoramento, que teve apoio da Global Road Safety Partnership22, nasceu a Mobilidade Ativa, uma plataforma cuja atividade assenta em 3 pilares: a questão da legislação, da fiscalização e o impacto das ocorrências de trânsito no sistema de saúde.

O Painel da Mobilidade Ativa deriva desta iniciativa e contempla um estudo realizado por meio de pesquisa e levantamento de dados públicos - por meio do Lei de Acesso à Informação ou de bancos de dados abertos (Mobilidade Ativa, 2018), para o enfrentamento desta, que na perspectiva da associação é, uma epidemia contemporânea e que demanda entendimento em profundidade para o desenho de estratégias eficazes.

22 A Global Road Safety Partnership é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para a redução da mortalidade e das lesões decorrentes dos acidentes de trânsito. https://www.grsproadsafety.org/ 120

Figura 48 | Divulgação Cidade a Pé

Fonte: Cidade a Pé Disponível em: < https://cidadeape.org/category/formacoes-em-mobilidade-a-pe/> Acesso: 18 jul. 2018.

Agora, com a proximidade das eleições de 2018, a associação amplia a construção em rede e passa a integrar a “Rede Paulista de Entidades e Associações de Mobilidade Urbana”23, que tem por objetivo promover o tema da Mobilidade Urbana nas eleições estaduais em São Paulo (CIDADE A PÉ, 2018).

Nesse sentido, foi criada a “Carta Compromisso com a Mobilidade Urbana Sustentável para São Paulo“ (ANEXO A), que reúne propostas para melhorar as condições da mobilidade ativa e coletiva no estado de São Paulo, em consonância com a Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/12). A carta foi enviada à maioria dos comitês de candidaturas ao governo do estado, oferecendo a possibilidade de apresentá-la presencialmente a suas equipes. Até o final da campanha eleitoral, buscaremos a adesão dessas candidaturas à carta compromisso. O mesmo será feito em relação às candidaturas ao Legislativo. (CIDADE A PÉ, 2018)

Figura 49 | Divulgação Cidade a Pé

Fonte: Cidade a Pé Disponível em: < https://cidadeape.org/category/formacoes-em-mobilidade-a-pe/> Acesso: 18 jul. 2018.

23 A Rede Paulista de Entidades e Associações de Mobilidade Urbana é formada pelas seguintes organizações: Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo (Cidadeapé), Coletivo Ciclistas de SJC, Coletivo de Ciclistas de Campinas (COCICAM), Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana (COMMU), Instituto Aromeiazero, Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), BiciMogi e SampaPé!. 121

3.2.5.9. CORRIDA AMIGA

Figura 50 | Marca Corrida Amiga

Fonte: Prosas Disponível em: Acesso: 23 ago. 2018.

A Corrida Amiga é uma organização que também trata da questão da caminhabilidade em São Paulo. Procura incentivar as pessoas a práticas sustentáveis e saudáveis, promovendo o transporte a pé. O impacto na saúde está diretamente relacionado com a melhoria da mobilidade urbana. Transforma-se o cidadão, transforma-se o cotidiano, transforma-se o espaço público. O combate ao sedentarismo conecta pessoas, promove relações saudáveis com as pessoas e com o espaço público.

Somos uma organização que inspira as pessoas a trocarem o carro pelo tênis. Encantados pela liberdade e autonomia que o transporte a pé proporciona acreditamos que isso transforma a relação com você mesmo, com as pessoas e com a cidade. A Corrida Amiga aproxima pessoas (de 0 a 100 anos), incentivando-as a utilizar os pés como meio de locomoção, angariando benefícios múltiplos, como otimização do tempo, melhorias na saúde, economia financeira e contribuição ao meio ambiente (CORRIDA AMIGA, 2018).

Figura 51 | Divulgação Corrida Amiga

Fonte: Rádio Disponível em: < http://radioprimusfm.com/noticia/279718/exposicao-no-metrosp-destaca-o-transporte-a-pe> Acesso: 18 jul. 2018. 122

Inspirada na rede Bike Anjo,24 a Corrida Amiga surgiu com o propósito de se estabelecer em rede, por meio do voluntariado e com o objetivo de compartilhar informações para uma atividade pedonal mais segura. A prática da mobilidade ativa, segundo a associação, prima por disseminar a cultura do deslocamento a pé ao mesmo tempo em que procura promover cidades mais acessíveis e caminháveis.

Transformação do cotidiano do cidadão, a partir da perspectiva da mobilidade ativa; - Clareza e lucidez sobre a percepção da necessidade de espaços urbanos mais acessíveis e caminháveis; - Conexão de pessoas; - Relações humanas saudáveis; - Políticas Públicas de mobilidade a pé que garantam o direito de ir e vir das pessoas; - Promoção de saúde e qualidade e vida; - Otimização de tempo aos que elegem o deslocamento a pé; - Engajamento de voluntários que promovam a mobilidade a pé. (CORRIDA AMIGA, 2018). Figura 52 | Divulgação Corrida Amiga

Fonte: Corrida Amiga Disponível em: < http://corridaamiga.org/en/home/> Acesso: 18 jul. 2018. Figura 53 | Divulgação Corrida Amiga

Fonte: Corrida Amiga Disponível em: < http://corridaamiga.org/en/home/> Acesso: 18 jul. 2018.

24 Bike Anjo é uma rede de ciclistas apaixonad@s pela bicicleta que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse veículo nas cidades. Acreditamos que a bicicleta é uma ferramenta de transformação social e quanto mais gente, melhor serão nossas cidades. Disponível em: < http://bikeanjo.org/about/sobre-nos/> Acesso em: 18 ago. 2018. 123

Figura 54 | Divulgação Corrida Amiga

Fonte: Corrida Amiga Disponível em: < http://corridaamiga.org/en/home/> Acesso: 18 jul. 2018.

3.2.5.10. COLETIVO BIJARI

Figura 55 | Marca BIJARI

Fonte: BIJARI Disponível em Acesso: 29 ago. 2018.

O Bijari é um coletivo multidisciplinar que, desde 2001, procura refletir a questão do espaço urbano enquanto continente de múltiplas expressões e linguagens artísticas.

Somos um centro de criação em artes visuais e multimídia. Nosso trabalho deriva de uma pesquisa constante situada na convergência entre arte, design e tecnologia, permitindo imprimir novos olhares e significados à comunicação em diferentes plataformas de atuação. Para esta missão reunimos um grupo multidisciplinar de profissionais, composto por artistas, arquitetos, cenógrafos, designers, diretores de vídeo e planejadores. Utilizamos a potência gerada por esta equipe para construir experiências estéticas que transforme a relação entre pessoas, espaço e sociedade (BIJARI, 2018).

O olhar atento do grupo procura refletir sobre a cidade enquanto espaço passível e possível de intervenções e interações. São as “fendas” que o urbano oferta e com as quais é possível construir microurbanidades.

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Figura 56 | Carros Verdes

Fonte: Choque Cultural Disponível em: < http://www.choquecultural.com.br/pt/2016/01/21/natureza-urbana-do-coletivo-bijari/> Acesso: 18 jul. 2018.

O projeto Carros Verdes, que preenche as carcaças de carros abandonados na cidade com plantas naturais, surgiu quase por um acaso quando o grupo se apercebeu que um veículo abandonado próximo ao atelier poderia receber o excesso de plantas que disputava espaço com os materiais de trabalho.

Se o projeto Carros Verdes procura discutir/resgatar o verde da cidade o projeto Praças (Im)possíveis faz uma reflexão acerca da cidade enquanto espaço de convívio ou de falta dele. O projeto surge como um dispositivo de ativação do espaço ao criar novas formas de convivência na cidade, convertendo temporariamente vazios urbanos em uma praça. A ideia é que qualquer pequeno espaço da cidade possa ter um banco, vegetação e uma sombra. Esses elementos são conectados na figura das bicicletas adaptadas que se transformam em pequenas praças articuláveis entre si. (ZUPI, 2014)

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Figura 57 | Carros Verdes

Fonte: Choque Cultural Disponível em: < http://www.choquecultural.com.br/pt/2016/01/21/natureza-urbana-do-coletivo-bijari/> Acesso: 18 jul. 2018.

Figura 58 | Praças (Im)Possíveis

Fonte: ZUPI Disponível em: < https://zupi.co/bijari-bicicletas-transformam-se-em-pracas-publicas/> Acesso: 18 jul. 2018.

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Figura 59 | Intervenções Gráficas

Fonte: Revista Trip Disponível em: < https://revistatrip.uol.com.br/trip/coletivo-de-arte-urbana-bijari-celebra-20-anos-com-exposicao-retrospectiva-e- inauguracao-de-galeria> Acesso: 18 jul. 2018.

3.2.5.11. FORMIGA-ME

Figura 60 | Marca Formiga-me

Fonte: Formiga-me Disponível em < https://formiga.me/entenda-o-formiga-me/> Acesso: 11 nov. 2019.

O núcleo duro do coletivo é formado por duas jornalistas e um designer, a Carmen Guerreiro, a Fernanda Carpegiani e o Luciano Arnold, respectivamente.

O Formiga-me se apresenta por meio de duas frentes de trabalho: a elaboração de conteúdo e a “produção” de ações. A primeira frente, diretamente proporcional à predominância jornalística da iniciativa, tem por objetivo dar visibilidade para as ações de apropriação que pulverizam a cidade de São Paulo tentando estabelecer pontes entre os promotores da ação e o público interessado na dinâmica urbana. 127

A segunda frente que, apresenta uma “pegada prática e limites zero”, deixa clara a disponibilidade para a efetivação de ações de base na cidade, sejam elas a elaboração de oficinas, diagnósticos, mobilizações locais, articulação, entre outras. A atuação também é híbrida em termos do conjunto de ações empreendidas, podendo ser derivado de um financiamento coletivo, de uma prestação de serviços ou ainda por meio de iniciativa própria, como é o caso do Guia Mulheres na Cidade, um mapeamento que pretende sistematizar as ações e locais voltados para as mulheres no âmbito da cidade de São Paulo.

Figura 61 | Evento Formiga-me

Fonte: Facebook Disponível em: < https://www.facebook.com/Formiga.me/photos/a.910076102418533/1160627214030086/?type=3&theater> Acesso: 23 out. 2019.

3.2.5.12. FLORESTAS DE BOLSO

Figura 62 | Divulgação do Florestas de Bolso

Fonte: Esssas Outras Disponível em Acesso: 23 ago. 2018. 128

Florestas de Bolso é uma iniciativa de base com objetivo de contribuir para o aumento de áreas verdes na cidade. De formato colaborativo o projeto: É uma técnica desenvolvida pelo botânico Ricardo Cardim que concentra grande biodiversidade e massa arbórea numa pequena área, e é uma solução ambiental importante para a cidade, pois combate ilhas de calor, umidifica e purifica o ar, preserva espécies vegetais nativas ameaçadas de extinção, resgata a biodiversidade local e fornece abrigo para polinizadores e pássaros. Além disso, transformará um espaço que atualmente é árido num local agradável para a população frequentar. (FLORESTAS DE BOLSO, 2017)

Os atributos do projeto centram-se na questão da escala e da sustentabilidade. O Florestas de Bolso é pensado para espaços reduzidos podendo ser implementado em áreas a partir de 15 m². Espaços urbanos residuais estão assim capacitados a abrigar novos usos promovendo a construção de uma rede de microbenefícios no âmbito da cidade. A iniciativa que teve início com o financiamento coletivo dos próprios participantes para a compra das primeiras mudas, em pouquíssimo tempo, arregimentou parcerias das esferas governativa, corporativa e cidadã (de outros coletivos que se juntaram à iniciativa).

Figura 63 | Intervenção

Fonte: Instituto Eco Ação Disponível em: < http://institutoecoacao.blogspot.com.br/2016/03/sao-paulo-vai-ganhar-sua-primeira.html > Acesso: 18 mai. 2018. 129

Figura 64 | Intervenção

Fonte: Instituto Eco Ação Disponível em: < http://institutoecoacao.blogspot.com.br/2016/03/sao-paulo-vai-ganhar-sua-primeira.html > Acesso: 18 mai. 2018.

Figura 65 | Intervenção

Fonte: Instituto Eco Ação Disponível em: < http://institutoecoacao.blogspot.com.br/2016/03/sao-paulo-vai-ganhar-sua-primeira.html > Acesso: 18 mai. 2018.

Já o segundo atributo parte da expertise de Ricardo Cardim (idealizador do projeto) na procura do resgate da biodiversidade local (o que facilita e contribui para o sucesso do plantio) ao mesmo tempo em que procura, segundo o botânico, reconectar a população ao patrimônio nativo, suas formas, texturas, história e sabores, resgatando a biodiversidade original no cotidiano.

Já foram realizadas mais de 10 Florestas de Bolso em áreas públicas da cidade de São Paulo na forma de mutirão voluntário, com cidadãos amigos do verde plantando Mata Atlântica, participando pessoas de todas as idades e regiões da metrópole nos finais de semana. Antes do plantio costumamos apresentar uma palestra com diferentes temas envolvendo cidades, áreas verdes, meio ambiente. Também participam diferentes grupos e movimentos com oficinas 130

interativas. Florestas de Bolso como a do Parque Cândido Portinari / Villa Lobos chegaram a ter mais de 500 voluntários em um único dia e 700 árvores plantadas, sem nenhum custo aos cofres públicos. (FLORESTAS DE BOLSO, 2017)

Figura 66 | Intervenção

Fonte: Meio Ambiente Disponível em: < http://jmeioambiente.blogspot.com/2016/03/sao-paulo-vai-ganhar-sua-primeira.html> Acesso: 18 mai. 2018.

3.2.5.13. HORTA DAS CORUJAS

Figura 67 | Sinalização Horta das Corujas

Fonte: Horta das Corujas Disponível em Acesso: 23 jul.2018.

A Horta das Corujas está instalada na zona oeste de São Paulo, mais precisamente no bairro da Vila Beatriz, na Praça Ibarruru, e surgiu, em 2012, no ambiente virtual. As jornalistas Tatiana Achcar e Claudia Visoni, que também se interessam pela agroecologia, promoveram, em julho de 2011, uma oficina sobre o tema, com foco no ambiente urbano, ou seja, agricultura urbana. Como forma de manter o contato entre os participantes foi montado um grupo no Facebook batizado de Hortelões Urbanos.

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Figura 68 | Página Grupo dos Hortelões Facebook

Fonte: Facebook Disponível em: < https://www.facebook.com/groups/horteloes/> Acesso: 18 dez. 2018.

De forma absolutamente inesperada o grupo cresceu, bateu a meta dos 1.200 participantes e foi neste contexto que se percebeu uma coincidência geográfica: muitos hortelões, como são chamados os participantes do grupo, moravam nas imediações da Praça da Coruja e manifestaram o desejo de ali criar uma horta comunitária. A respectiva autorização foi obtida junto da subprefeitura de Pinheiros por intermédio do CADES – Pinheiros – Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Cultura. Os dois órgãos municipais apoiam a iniciativa, assim como, a Secretaria do Verde e o Centro de Controle de Zoonoses.

Hoje, com mais de 80 mil participantes de todo o Brasil, o grupo dos Hortelões Urbanos segue fomentando a troca de experiências, o compartilhamento de informações, o esclarecimento de dúvidas seja no quintal ou na praça perto de casa. O próprio grupo entende que:

1. Ajuda pessoas a começar a cultivar alimentos em casa; 2. Cria oportunidades para trocas de experiências sobre plantio doméstico; 3. Facilita a criação de hortas comunitárias; 4. Realiza eventos de trocas de sementes e mudas.

O espaço onde está a Horta das Corujas, por sua localização, em uma baixada, não se mostrava capaz de absorver o volume de água resultante de chuvas intensas, inundando 132

o espaço. Em 2010, inserida no Programa Córrego Limpo, a praça recebeu novo sistema de drenagem que consiste no escoamento da água da chuva por biovaletas de piso drenante que, na sequência é filtrada pelas raízes das plantas e pedras, sendo, posteriormente, reconduzida ao córrego, com menos intensidade.

A ideia de praça ecológica foi adaptada de um projeto semelhante executado na cidade de Seattle, nos Estados Unidos. O projeto paisagístico da Praça das Corujas foi premiado com a Menção Honrosa pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em 2008. As biovaletas poderiam ser construídas até mesmo nos canteiros de rua para impedir os constantes alagamentos da cidade", explica Elza. Paralelamente ao novo sistema de drenagem, a Prefeitura construiu o passeio de caminhada com piso intertravado drenante, caminhos com pedrisco, decks de madeira certificada, implantação de paisagismo com plantio de grama esmeralda e construiu um parquinho com brinquedos e piso de areia. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2010 s/p)

Figura 69 | Córrego das Corujas

Fonte: Instituto de Engenharia Disponível em: Acesso: 18 dez. 2018.

A Horta das Corujas se auto define como uma “horta comunitária experimental” e tem como objetivo propiciar um espaço para o convívio social e para o fomento da educação ambiental. O projeto entende ainda que a dinâmica das atividades ali desenvolvidas além de estimular o uso do espaço público, exercita distintas formas de convivência além de, no voluntariado, compartilhar informações acerca do cultivo, onde os participantes aprendem e ensinam a plantar. 133

A iniciativa recuperou uma das nascentes do Córrego das Corujas, que fica ao lado da praça, o que fornece água para o cultivo dos 800 m² da horta. É este tipo de resultado que Visoni (2013) refere quando compara soluções urbanas que envolvem recursos excessivos e outras que demandam recursos mínimos ou, mesmo nenhum, apenas a utilização do que já se tem a mão. Na prática a jornalista compara o custo-benefício de iniciativas expressivas, seja em termos do investimento público ou dos impactos gerados, em face dos problemas resolvidos. Em sua perspectiva iniciativas com a Horta das Corujas, se espalhadas pela cidade, podem trazer excelentes resultados tangíveis, com pouquíssimo investimento financeiro, e intangíveis, como interação, convívio e prazer.

Por fim, a empreendedora hortifrutícola compartilha que, no início do projeto, enxergava um único ganho na iniciativa, mas, ao longo do seu desenvolvimento conseguiu perceber um horizonte muito mais alargado de benefícios.

Tabela 3 | Lista de Benefícios Projeto Horta das Corujas | Cláudia Visoni n. benefício

1 Menos pressão sobre osCada pé de alface produzido no quintal ou na horta da esquina dispensa espaço no campo, recursos naturais transporte e embalagem. Na verdade, no caso da hortaliça-símbolo da salada, até o método de colheita muda: você só retira da planta as folhas que vai consumir naquele momento e ela continua produzindo por mais alguns meses. É urgente que as populações urbanas reduzam a demanda sobre os recursos naturais, pois as cidades hoje ocupam 2% da superfície terrestre, mas consomem 75% dos recursos.

2 Combate às ilhas de calor Áreas pavimentadas irradiam 50% a mais de calor do que superfícies com vegetação. Em São Paulo, a geógrafa Magda Lombardo constatou que a temperatura pode variar até 12 graus entre um bairro e outro. Não por acaso, a Serra da Cantareira e a região de Parelheiros são as mais frescas da cidade: é onde a vegetação se concentra.

3 Permeabilização Enchentes e enxurradas violentas são em parte resultado do excesso de pavimentação na do solo cidade. E simples de grama, onde o solo fica compactado, não absorvem tanta água quanto canteiros fofinhos das hortas.

4 Umidificação do ar As plantas contribuem para reter água no solo e manter a umidade atmosférica em dias sem chuva.

5 Refúgio Nas hortas comunitárias recuperamos espécies comestíveis que se tornaram raras (como de biodiversidade caruru, ora-pro-nobis, bertalha), plantamos variedades crioulas (as plantas “vira-lata” que têm maior variedade genética e por isso são mais resistentes às condições climáticas adversas) e atraímos uma rica microfauna, especialmente polinizadores como abelhas de diversas espécies, que estão em risco de extinção provavelmente pelo uso de agrotóxicos nas zonas rurais. Sou voluntária da Horta do Ciclista e testemunha de que as borboletas, joaninhas e abelhas aparecem em plena Avenida Paulista quando plantamos flores e hortaliças.

6 Redução da produção de Os alimentos produzidos localmente não só dispensam embalagens (que correspondem à lixo maior parte do lixo seco produzido) como absorvem grande quantidade de resíduo orgânico na fabricação de adubo e até materiais de difícil descarte como restos de madeira, que são usados na delimitação de canteiros.

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7 Adaptação às mudanças A emissão descontrolada de gases do efeito estufa está tornando o clima mais instável e climáticas imprevisível, o que é péssimo para a produção de alimentos. A agricultura urbana tem sido considerada uma importante alternativa para a segurança alimentar e existem estudos indicando que cerca de 40% dos alimentos podem ser produzidos dentro das cidades. Para saber mais veja http://conectarcomunicacao.com.br/blog/96-comida-de-amanh/

8 Conservação de espaços Para explicar vou contar uma historinha: em 12 de outubro de 2012, quando fizemos o públicos primeiro mutirão na Horta do Ciclista (http://pt.wikiversity.org/wiki/Horta_do_Ciclista) encontramos no local muito lixo, cacos de vidro e até fezes e seringa usada. A partir do momento que começamos a cuidar daquele canteiro, a população passou a respeitar. Não houve depredação nem mesmo durante as grandes festas e manifestações que têm acontecido na Avenida Paulista.

9 Redução da criminalidade Uma horta necessita de cuidados diários e se torna um local muito visitado. Famílias com crianças pequenas gostam de frequentá-las, assim como velhinhos, grupos de estudantes e um monte de gente bem-intencionada em busca de um canto pacífico na urbe. O clima comunitário naturalmente afasta quem está pretendendo cometer atos ilícitos. No Brasil ainda não há estimativas sobre isso, mas nos Estados Unidos vários estudos já foram feitos, alguns deles citados nesse artigo http://www.motherjones.com/media/2012/07/chicago- food-desert-urban-farming.

10 Vida local Um dos problemas das grandes cidades, particularmente de São Paulo, é o excesso de deslocamentos numa malha viária sobrecarregada. A agricultura — seja ela praticada como forma de lazer, trabalho comunitário ou profissão — fixa as pessoas no território diminuindo a demanda por transporte.

11 Contenção da mancha Se há incentivo para a produção agrícola nas franjas das cidades e a atividade se combina urbana com turismo rural, diminui a pressão para desmatar e lotear. Mas esse benefício a população e os agricultores não conseguem manter sem o apoio do poder público.

12 Renascimento da vida As hortas promovem a integração entre pessoas de diferentes idades, origens e estilos de comunitária vida. Assim como os cachorros, são mediadores sociais muito eficientes. Não falta assunto quando há tanta coisa a admirar, tanta tarefa a compartilhar, tanta dica e receita a trocar.

13 Lazer gratuito Plantar custa praticamente nada. É divertido, um bom pretexto para juntar os amigos e fazer um lanche comunitário e ainda dá para levar umas verduras para casa sem pagar.

14 Mais saúde Agricultura é exercício e cada pessoa regula a intensidade. Do tai-chi-chuan contemplativo de joaninhas ao aero-power-enxadão, tem ginástica para todos os gostos. Além disso, mexer com a terra é terapia preventiva e curativa de depressão, ansiedade, adicção, sedentarismo, obesidade, entre outros problemas, sobretudo mentais. E nesse item tem até pesquisa brasileira para comprovar. A autora é Silvana Ribeiro, da Faculdade de Saúde Pública da USP: http://www5.usp.br/29818/agricultura-urbana-agroecologica-auxilia- promocao-da-saude-revela-pesquida-da-fsp/. Tem também o documentário “Saindo da Caixinha”. Sim, cuidar de uma horta pode substituir medicamentos psiquiátricos barra- pesada. https://www.youtube.com/watch?v=brrrX8biFJE.

15 Educação ambiental na Ver de perto o desenvolvimento das plantas, da germinação à decomposição, é muito prática melhor e mais eficaz do que aprender sobre os ciclos da natureza numa sala de aula ou num livro. Além de uma universidade viva de botânica, as hortas são excelentes locais para estudar o ciclo da água e a microfauna, entre muitos outros temas.

16 Educação nutricional Como na TV não passa anúncio de brócolis e abobrinha e o “estilo de vida moderno” afastou muitas famílias dos alimentos na forma natural, existem crianças hoje em dia nunca viram um pimentão ou uma cenoura. Para ter uma ideia dos riscos da alimentação industrializada para as próximas gerações, sugiro assistir o documentário Muito Além do Peso (http://www.muitoalemdopeso.com.br/). Para ver como a agricultura urbana pode inverter esse jogo, sugiro ler American Grown (de Michelle Obama) e Edible Schoolyard (de Alice Waters). Ou simplesmente dar uma voltinha na horta comunitária mais perto de você.

17 Promoção da segurança Nossos antepassados sabiam conseguir comida sem ter que comprar. Praticamente toda alimentar a humanidade era composta de camponeses. Esses conhecimentos foram sendo desprezados nas últimas décadas e, diante da perspectiva de crise econômica e ambiental, reavivá-los pode ser muito útil. Se você não gosta de conversa apocalíptica, favor voltar ao item anterior: segurança alimentar não é só ter o que comer, é também saber escolher os alimentos corretamente.

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18 Integração Quem planta comida, mesmo que seja em três vasos no quintal, se torna curioso a respeito agricultor/consumidor da origem dos alimentos que consome. E se sente irmanado aos agricultores: quer saber mais, tem vontade de visitar e apoiar os produtores, busca alimentos cultivados de forma mais justa e sem uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Junto com as hortas urbanas que surgem nos bairros de classe média de São Paulo estão nascendo muitas conexões e até amizades com agricultores próximos da metrópole. Um ciclo virtuoso e nutritivo de cuidados mútuos.

19 Valorização de saberes eValorizar quem traz consigo saberes desprezados pela sociedade de consumo, como a fazeres ciência e a arte de cultivar alimentos para subsistência. Essa turma — que inclui muitos idosxs, pobres, mulheres e analfabetxs das letras — é que está nos alfabetizando na lida com as plantas comestíveis. 20 Reconstruir pontes entre asNesse momento de opiniões polarizadas e conflitos ideológicos, a agricultura urbana nos pessoas faz lembrar que todos nos alimentamos, que todos estamos ligados à terra e somos irmãos perante a natureza.

Fonte: Visone, 2013 Disponível em: Acesso: 18 dez. 2018.

Figura 70 | Horta das Corujas

Fonte: Horta das Corujas Disponível em: Acesso: 18 dez. 2018. Figura 71 | Horta das Corujas

Fonte: áreas Verdes das Cidades Disponível em: < https://www.areasverdesdascidades.com.br/2017/09/praca-das-corujas-praca-dolores-ibaburri-vila-madalena- sp.html> Acesso: 18 dez. 2018. 136

3.2.5.14. HORTA DAS FLORES

Figura 72 | Marca Horta das Flores

Fonte: Facebook Disponível em Acesso: 24 mai. 2019.

Situada na Praça Alfredo di Cunto, na Móoca, a Horta das Flores é um dos projetos de agricultura e produção urbana de alimentos de extrema relevância, não só pela proposta do projeto, mas, sobretudo, pelo fato de estar instalada em um dos bairros que apresenta um dos menores índices de cobertura verde/habitante da cidade, segundo o ECOAGRI25.

Com uma área de 7.000 m², o projeto teve início em 2004, quando um grupo se mobilizou para transformar o terreno em plantio, em horta, em alimento. Posteriormente, a atividade se estendeu ao ensino, abrigando cursos de jardinagem e agricultura e, manteve ainda, um viveiro de plantas.

Quando os cursos deixaram de ser realizados, a prefeitura viu no terreno uma oportunidade de venda para a concretização de creches. Diante desta possibilidade, apesar dos objetivos serem de interesse direto da vizinhança, a praça viu emergir uma articulação do entorno, não só no sentido de mantê-la, mas, sobretudo, empreender a sua ativação enquanto espaço agrícola.

25 O ECOAGRI é uma comunidade direcionada a pessoas que desejam plantar com respeito ao meio ambiente. Nosso objetivo é promover esta atividade, fornecendo de forma gratuita ferramentas avançadas da Tecnologia da Informação para divulgação de projetos, pessoas, equipamentos, métodos, experiências e muito mais, entre todas as pessoas, de uma forma mais ampla e integral. http://www.ecoagri.com.br/quem-somos/ 137

Figura 73 | Horta das Flores

Fonte: Revista do Tatuapé Disponível em: < http://revistadotatuape.com.br/2016/11/07/agricultura-na-cidade/> Acesso: 18 dez. 2018.

Depois de um período superior a dez anos, nova articulação ocorreu, desta vez de grupos ligados à produção urbana de alimentos e, com o objetivo de fomentar uma prática local, incipiente, que escondia um enorme potencial de produção e engajamento: uma horta comunitária. Hoje a iniciativa, que também atende pelo nome de Praça ou Viveiro das Flores, se constitui como um verdadeiro polo de agricultura urbana: cultivo agroecológico, agrofloresta, ervanário, orquidário, estufa, composteira e um sistema de captação de água da chuva estão sob cuidado e supervisão de um grupo de cidadãos que mantém uma agenda de mutirões que acontece todo o primeiro domingo de cada mês. As atividades desenvolvidas não se concentram apenas no espaço da praça. O viveiro tem uma produção de mudas de árvores que se destina ao plantio no âmbito da cidade. A Horta das Flores, para além do desenvolvimento de atividades de educação ambiental, promove também por meio de parcerias, ações com pessoas em situação de 138

vulnerabilidade social, não apenas em termos assistenciais, mas, sobretudo, enquanto prática de formação, capacitação e inserção social.

Figura 74 | Horta das Flores

Fonte: Allevents Disponível em: < https://allevents.in/s%C3%A3o%20paulo/mutir%C3%A3o-na-horta-das-flores/1221457304554801> Acesso: 18 dez. 2018.

A prática resultante da iniciativa traz o fomento da convivência entre vizinhos, do trabalho colaborativo, numa perspectiva feita pelo coletivo para o coletivo, tendo como resultado, um ganho em termos sociais, ambientais, econômicos e paisagísticos.

Figura 75 | Horta das Flores

Fonte: ECOAGRI Disponível em: < http://www.ecoagri.com.br/projeto/mutirao-comunitario-urbano-na-horta-das-flores/> Acesso: 18 dez. 2018. 139

3.2.5.15. MÃO NA PRAÇA

Figura 76 | Marca Mão na Praça

Fonte: Facebook Disponível em Acesso: 24 ago. 2018.

Outra iniciativa de âmbito cirúrgico, se pensada em termos da dimensão de São Paulo, é a intervenção na Praça José Afonso de Almeida, na , zona oeste da cidade. Situada no encontro das ruas Simpatia e Aspicuelta, a área manteve a função de depósito do lixo de poda de áreas vizinhas (além de entulho) durante bastante tempo, quase como um enclave face a degradação e pouco cuidado se comparada ao seu entorno e, tendo como agravante o fato de apresentar uma diminuta área destinada à calçada, nas laterais da área triangular que a praça ocupa. Em 2013 houve uma movimentação (que integrou a programação do Design Weekend26) e que propunha uma participação da comunidade na destinação do espaço e no formato de concretização. Porém, em 2011, a população já havia articulado alguns mutirões com o objetivo de limpar o espaço e pensar coletivamente a viabilização da área como área destinada ao lazer. A iniciativa foi promovida não por um morador, mas, por uma pessoa que trabalhava nas proximidades e que empreendeu o Mão na Praça cujo objetivo é: Revitalizar áreas verdes "esquecidas" ou destruídas da cidade, através de plantios coletivos em mutirões e restauro do local, buscando soluções criativas e reaproveitando materiais como pneus, pallets e recicláveis. Além das ações que já realizamos e que podemos vir a realizar, torcemos para que você mesmo inicie a sua ação de mudança na praça aí do seu bairro! Lance sementes, busque parceiros, organize um pic-nic, feiras de troca, faça apresentações musicais na praça! (MÃO NA PRAÇA, 2016)

26 O Design Weekend é um festival urbano que tem o objetivo de promover a cultura do design e suas conexões com arquitetura, arte, decoração, urbanismo, inclusão social, negócios e inovação tecnológica. São diversos eventos independentes, simultâneos e integrados por um programa oficial. O DW! compreende palestras em instituições educacionais, visitas guiadas em galerias e ateliês, exposições, instalações, intervenções artísticas e urbanas, circuitos temáticos, concursos, festas e lançamentos de produtos em lojas e showrooms. Disponível em: < http://www.designweekend.com.br/sobre> Acesso: 1 mar. 2018.

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Figura 77 | Intervenção

Fonte: Vila Mundo Disponível em: < http://vilamundo.org.br/2011/08/ajude-a-revitalizar-a-praca-jose-afonso-de-almeida/ > Acesso: 8 mai. 2018.

O Mão na Praça entende a soma do unitário como concretização do coletivo e, além de acreditar na postura crítica do cidadão, entende ser fundamental a sua participação enquanto agente de transformação local ou não teria como mote: Faça parte do Movimento, SEJA o Movimento27. De inspiração europeia, o projeto se espelha no Guerrilla Gardening, cuja a ação ultrapassa a questão urbana enquanto construção de espaços de convivência e lazer para se instalar no âmbito da discussão das mudanças climáticas28 e respectivos desdobramentos. Praticar a jardinagem sem pedir permissão fez com o movimento alterasse, significativamente, espaços minúsculos e esquecidos na cidade de Londres desde 2004 onde, o exercício da "jardinagem" em locais supostamente abandonados, é considerado ilegal.

3.2.5.16. MATILHA CULTURAL

Figura 78 | Marca Matilha Cultural

27 Disponível em: < https://www.facebook.com/pg/movimentomaonapraca/about/?ref=page_internal> Acesso: 02 mar. 2017. 28Disponível em: < http://www.telegraph.co.uk/lifestyle/5154388/The-secret-life-of-the-guerilla-gardener.html> Acesso: 02 mar. 2017. 141

Fonte: Sobreviva em São Paulo Disponível em Acesso: 23 ago. 2018.

O Espaço Matilha Cultural ocupa, desde 2009, um espaço de 3 andares no centro da cidade de São Paulo. O Matilha nasce, como prolongamento natural, de uma produtora de filmes e um escopo múltiplo de questões contemporâneas: “Questões socioambientais, incluindo proteção animal, a defesa dos direitos humanos e a promoção da cena artística independente. Esses vetores de atuação levaram a Matilha por caminhos intensos, autênticos e surpreendentes nestes 8 anos de atuação”. (MATILHA CULTURAL, 2017).

Figura 79 | Intervenção

Fonte: Oba Oba Disponível em: < https://www.obaoba.com.br/comportamento/noticia/centros-e-instituicoes-culturais-em-sao-paulo> Acesso: 8 mai. 2018.

Entendido como um centro difusor de ideias, mais do que um centro cultural, o Matilha pauta a sua atuação pela decisão coletiva e pela multiplicidade de linguagens: 142

exposições, eventos musicais, feiras de adoção, sessões de cinema, lançamentos de livros e outros produtos, oficinas com artistas, eventos nas ruas, cursos, entre outros. Com forte viés ambiental, o coletivo se debruça igualmente sobre os direitos humanos e a produção artística emergente.

Mais do que um centro cultural, é também um centro de convergência de ideias e ações em prol do bem comum. Com informação, engajamento e cultura, a Matilha contribui para a construção de uma sociedade mais consciente, ativa, criativa e mais LIVRE. 1 - Fortalecimento da cena independente nacional 2 - Fomentar práticas e o pensamento sustentável, incluindo a proteção animal. A conscientização sobre o meio-ambiente com um olhar atento sobre nosso contexto sócio-político-ambiental são posturas cruciais em todas as nossas atividades. 3 - Relacionamento Cultural Internacional: realizar projetos que favoreçam a troca cultural entre nações visando uma relação globalizada saudável e com a qualificação da nossa economia da cultura. Levando nossa produção para fora e recebendo a boa produção independente de fora. 4 - Um espaço comprometido com as novas tendências fundamentalmente contestadoras da produção artística de São Paulo e mundial. 5 - Estimular a curiosidade e busca do conhecimento 6 - Dignidade para todos. (MATILHA CULTURAL, 2017)

Figura 80 | Intervenção

Fonte: Matilha Cultural Disponível em: < https://vimeo.com/matilhacultural> Acesso: 8 mai. 2018.

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Figura 81 | Evento

Fonte: We Better Together Disponível em: < http://webettertogether.blogspot.com/2014/07/matilha-cultural-e-igreja-nossa-senhora.html> Acesso: 8 mai. 2018.

O engajamento político passa também pela reflexão acerca do espaço público

A Matilha acredita na mobilização social como ferramenta para transformação de injustiças e atua, nesse sentido, também em espaços públicos da cidade, além da programação que acontece na sede. Já em 2009, começando com as ações chamadas de Vaga Viva, movimento global em que se tomam espaços que normalmente servem para carros estacionarem, com outras atividades e informações. Matilha encabeçou em 2010 e 2011, projeto de arborização da região do entorno da Matilha, conseguindo, após buscar apoio da população e poder público, plantar cerca de 300 arvores na região central. Desde 2011, anualmente, ajuda a realizar ação na região da Luz, em projeto chamado "Um dia sem Pedra", ativando dia de ações culturais e informativas para comunidade que vive na região. Em 2012, Matilha participou da ação Amor Sim, Russomano Não! e Existe Amor em Sp. Em 2013, realizou junto com outros coletivos a proposta de festival na rua, o Anhangabaú da Felizcidade. A partir de 2014, passou a participar de eventos oficiais da cidade, como SP na RUA e . Matilha esteve presente também em mobilizações por direito à cidade, como o movimento pelo Parque Augusta, ampliando depois para rede novos parques. Além de ativar campanhas, a Matilha abre seus espaços para reuniões de movimentos. (MATILHA CULTURAL, 2017)

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3.2.5.17. MICROTOPIA

Figura 82 | Divulgação Microtopia

Fonte: Arquitetura Contemporâneas Disponível em Acesso: 23 ago. 2018.

O Microtopia se auto denomina como uma organização de urbanismo tático e tecnologias nas áreas de design social, educação, meio ambiente e comércio justo. O âmbito inicial de ação estava circunscrito ao Parque da Aclimação e sua revitalização por meio da efetivação de 4 ações derivadas: o Viveiro Aclimação, a Escola Comunitária, a Parque Editora e o Centro Paulista de Design.

Posteriormente o coletivo amplia o seu âmbito de ação no raio de 1km a partir do lago do parque sempre pautado nos seguintes objetivos: A - Pesquisar, planejar e implementar projetos para a gestão de micros espaços públicos degradados ou subutilizados. B - Gerar possibilidades de trabalho, profissionalização, políticas e procedimentos amigáveis ao desenvolvimento local e arborizar todo o perímetro do raio de 1km de atuação. C - Ativar o comércio e serviços de editoração e arte, potencializar a produção de insumos para o paisagismo e implantar a escola comunitária. D - Inspirar e capacitar comunidades na realização de seus projetos de autonomia e melhorias salutares ao micro espaço.

Com a proposta de privatização dos parques da cidade, por parte da atual gestão municipal, o Microtpia elaborou um projeto, de gestão comunitária, do Parque da Aclimação, assente em 4 pilares: o jurídico, o operacional, o arquitetônico e o econômico/gestão. Na indefinição, por parte da prefeitura, de continuidade da referida 145

proposta, o Microtopia segue o rol de atividades explorando lacunas, promovendo autonomia e novas formas de interação e aprendizado.

Figura 83 | Manifesto

Fonte: Arquiteturas Contemporâneas Disponível em: < https://arquiteturascontemporaneas.wordpress.com/2017/11/29/microtopia/> Acesso: 8 mai. 2018.

Figura 84 | Evento

Fonte: Arquitetura Contemporâneas Disponível em: < https://arquiteturascontemporaneas.wordpress.com/2017/11/29/microtopia/> Acesso: 8 mai. 2018.

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3.2.5.18. MOVIMENTO BOA PRAÇA

Figura 85 | Marca Movimento Boa Praça

Fonte: Criança e Natureza Disponível em Acesso: 23 ago. 2018.

O Movimento Boa Praça busca promover a interação entre vizinhos no sentido mais amplo que a palavra comunidade pode abarcar. A revitalização de um espaço, de uma praça, que comporte tal ação é “apenas um detalhe” neste objetivo maior.

O Movimento Boa Praça é uma iniciativa de pessoas que querem viver em uma cidade mais humana. Nossa intenção é mobilizar cidadãos, empresas, governos e instituições para ocupar, criar e revitalizar espaços públicos, em especial as praças da cidade, devolvendo a eles o seu propósito inicial: o de locais de convívio, lazer, debate e inclusão. Desde 2008, realizamos diversas atividades e projetos, como piqueniques comunitários, revitalizações, palestras, cursos, ações educativas, instalação de mobiliário, consultorias e planejamento de ações de voluntariado. (MOVIMENTO BOA PRAÇA, 2018)

A Boa Praça nasceu do desejo de uma criança. Alice, filha de Cecília, que mora próximo da Praça François Berlanger, no Sumarézinho, em São Paulo, desejou que a sua festa de aniversário fosse ali, ao ar livre. Como o espaço estava sem manutenção, Alice concordou em trocar os presentes que ganharia pela recuperação da praça e assim teve início uma empreitada coletiva e colaborativa que resultou em um espaço de vizinhos para vizinhos. Para além de uma interação entre a vizinhança, que de outra maneira talvez nunca viesse a acontecer, o grupo que se engajou na reorganização entendeu:

Que uma única ação não bastaria. Se as coisas continuassem como estavam, em mais 4 anos o parquinho teria de ser revitalizado novamente. Viram que de nada adiantava ter uma praça bonita se ninguém a frequentava, ninguém cuidava dela. Decidiram quebrar aquele círculo vicioso de “a praça está 147

detonada porque ninguém vai, ou ninguém vai porque ela está detonada?” ocupando o lugar. E começaram a promover, todo último domingo do mês, um piquenique comunitário. Nesses encontros, as pessoas poderiam se divertir e deixar a praça melhor que antes. No primeiro piquenique, outra moradora, chamada Carolina, mãe da Ana, também de 4 anos, conheceu essa história. Elas moravam ali perto, em frente a outra praça descuidada, e estavam justamente conversando com vizinhos e com a escola em frente para pensar em como melhorar a praça. Foi assim, juntando forças, que a história começou de novo e o Movimento Boa Praça surgiu. E a gente espera que ela ainda se repita, por muitas e muitas vezes, em todas as praças da nossa cidade! (MOVIMENTO BOA PRAÇA, 2018)

Figura 86 | Depoimento

Fonte: Criança e Natureza Disponível em: Acesso: 8 mai. 2018. Figura 87 | Pic Nic

Fonte: Blog Cecília Lotufo Disponível em: < http://cecilialotufo.blogspot.com/> Acesso: 8 mai. 2018.

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3.2.5.19. OCUPE E ABRACE

Figura 88 | Marco Ocupe & Abrace | Coletivo Praça das Nascente

Fonte: Change Disponível em Acesso: 24 ago. 2018

A Praça da Nascente, no bairro da Pompéia, de origem Praça Homero Silva, possui 12 mil m² de área que deveriam abrigar uma praça, ou de outra maneira não figuraria a descrição do equipamento urbano em seu nome. No entanto, ao contrário do que seria esperado, durante muito tempo armazenou lixo, mato e alguma violência, até que em 2013, três eventos deram origem ao Coletivo Ocupe & Abrace - Praça da Nascente: a realização de uma horta comunitária, o bloco de carnaval da Água Preta e um crowdfunding, intitulado a Pompéia Que se Quer (uma iniciativa de construção coletiva do plano de bairro da Pompéia que ante a especulação imobiliária vê a sua pacata constituição de pequenas moradias dar lugar a um monumental conjunto de torres de alto padrão com todos os problemas daí decorrentes em termos de infraestrutura urbana).

Tendo como objetivo promover a convivência e a interação com a natureza, o coletivo entende ser fundamental o estabelecimento de uma ligação afetiva com o espaço urbano onde seja possível recriar o sentido de comunidade ao redor de um objetivo comum materializado em um espaço desfrutado por todos (OCUPE E ABRACE, 2014). Para o efeito foi criado um mapa afetivo onde os integrantes do coletivo e demais interessados na revitalização do espaço pudessem expressar a sua relação com o espaço e as intenções para o local. O local foi rebatizado de Praça da Nascente tendo em vista concentrar 8 nascentes do Rio Água Preta que deságuam no Rio Tietê, um dos mais importantes da cidade. 149

Figura 89 | Praça Homero Silva | Antes

Fonte: R7 Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

Figura 90 | Praça Homero Silva | Depois

Fonte: R7 Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

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O processo de resgate do espaço urbano foi feito por um mutirão de moradores que aderiram à iniciativa e que começaram por limpar a praça, criando espaços de convivência e lazer além de promover a preservação das nascentes e da biodiversidade. Depois de restaurada a vitalidade, o local tem sido ocupado por meio de intensa programação cultural que congrega adultos e crianças, mas, tem despertado também o interesse imobiliário. Já está em curso um projeto que contempla um conjunto de torres de alto padrão a ser construído próximo da Praça da Nascente, anteriormente degradada.

Figura 91 | Atividades Movimento Ocupe e Abrace

Fonte: Ocupe & Abrace - Coletivo Praça da Nascente Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

Figura 92 | Mapa Afetivo

Fonte: Ocupe & Abrace - Coletivo Praça da Nascente Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 20176.

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Figura 93 | Atividades

Fonte: Ocupe & Abrace - Coletivo Praça da Nascente Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

3.2.5.20. PARQUE AUGUSTA: COLETIVO ALIADOS DO PARQUE AUGUSTA e ORGANISMO PARQUE AUGUSTA

Figura 94 | Marca Parque Augusta

Fonte: Revista OPA Disponível em Acesso: 5 out. 2019.

O Parque Augusta, enquanto desejo do cidadão, e embora ainda nem tenha sido materializado, já descreveu longa trajetória. Localizado (quase) no centro de São Paulo o terreno que atende pelo nome de Parque Augusta possui área superior a 24.000 m² e está delimitado pelas ruas Marquês de Paranaguá, Augusta e Caio Prado, no bairro de Cerqueira César, no distrito da Consolação. Muito antes de figurar na agenda que luta pela sua transformação em parque, o terreno abrigou a residência de Flávio Uchoa cujo projeto foi de autoria do arquiteto e professor Victor Dubugras. 152

Figura 95 | Residência de Flávio Uchoa

Fonte: | Acervo Benedito Lima de Toledo Disponível em: Acesso em: 01 de dezembro de 2019.

Posteriormente, e até o final da década de 1960, a Vila Uchoa foi transformada em colégio para as filhas da alta sociedade paulistana, o Des Oiseaux, e, na sequência abrigou outro colégio, o Equipe, até 1974, quando foi demolido.

Figura 96 | Colégio Des Oiseaux

Fonte: Acervo Benedito Lima de Toledo Disponível em: < https://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/edison-veiga/cronologia-do-terreno-do-parque-augusta-1902-2015/> Acesso em: 01 de dezembro de 2019.

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Finda a utilização do espaço para fins educativos, tem início uma longa e tumultuada trajetória, sempre contrapondo interesses coletivos e interesses de mercado.

Ainda na década de 1970 há a primeira manifestação no sentido de propor a demolição da edificação e a construção de um parque público. Logo a seguir, na mesma década, os proprietários anunciam a construção de um empreendimento hoteleiro o que não veio a se concretizar. Ainda na década de 1970 o palacete é demolido e o terreno vendido para a Teijin do Brasil. Posteriormente, na transição para a década de 1980, o espaço chega a abrigar eventos culturais. Nos anos 1990, o espaço é transformado em estacionamento e, em 1996, é comprado pelo empresário Armando Conde.

As duas primeiras décadas dos anos 2000 foram intensas: em 2002 foi lançado o plano diretor da cidade de São Paulo que contempla a transformação da área em Parque Augusta; em 2004 acontece o tombamento pelo CONPRESP que, em 2006, rejeita a construção de um supermercado no local; em 2006 é apresentado um projeto de lei que prevê a criação do Parque Augusta. No ano de 2008 o então prefeito, Gilberto Kassab, declara a área como de utilidade pública e, no mesmo ano, o CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo autoriza a construção de um conjunto de 3 edifícios. Em 2010 acontece a primeira grande manifestação em torno da pauta do parque e, no ano seguinte, a câmara municipal autoriza a criação do parque. Em 2012 é desenhada uma parceria público-privada para a efetivação do parque. No ano seguinte, caduca o decreto de 2008 e o, então, Prefeito Fernando Haddad firma a lei que cria o parque. Em 2014, novo plano diretor é aprovado e contempla a possibilidade de se obter financiamento privado para a criação de equipamentos públicos. No mesmo ano, as então, proprietárias do terreno, duas construtoras, se movimentam no sentido de ali construir um conjunto de torres. Em 2015 o espaço é ocupado por, cerca, de 300 ativistas que, ao longo de dois meses, procuram pressionar as instâncias governativas municipais no sentido de adquirir o terreno e, assim, poder transformá-lo em parque.

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Figura 97 | Abraço no Parque Augusta

Fonte: Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Folhapress/ Disponível em: < https://vejasp.abril.com.br/cidades/manifestantes-abracaco-parque-augusta/> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Figura 98 | Ocupação do Parque Augusta

Fonte: André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress/ Disponível em: < https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2015-03-04/ativistas-protestam-contra-reintegracao-de-posse-do- parque-augusta-em-sp.html> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

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Figura 99 | Ocupação do Parque Augusta

Fonte: André Lucas Almeida/Futura Press/Folhapress/ Disponível em: < https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2015-03-04/ativistas-protestam-contra-reintegracao-de-posse-do- parque-augusta-em-sp.html> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

No mesmo ano, por iniciativa das proprietárias do terreno, é aprovado, pelo CONPRESP, um novo projeto e a reintegração de posse é efetivada. Em 2016, o Ministério Público define que as construtoras devolvam a área e indenizem a prefeitura por danos morais coletivos. No mesmo ano, o, então, candidato à prefeitura de São Paulo, João Doria, refere que a prefeitura não irá investir verba pública na construção do parque. No ano seguinte o, já, prefeito João Doria, anuncia uma permuta: o terreno seria cedido e, como compensação, as empreiteiras construiriam o parque. No segundo semestre de 2017 é anunciado o referido acordo.

Em 2018 surge um novo desenha para a parceria de efetivação do parque, empreendida pelas construtoras e pela prefeitura e o Ministério Público oficializam o acordo. Os coletivos se articulam e, junto da prefeitura, solicitam a abertura do espaço à população e, em paralelo, demandam que a concepção do parque possa ser um processo participativo. 2019 é o ano que se efetiva a escritura do terreno e em que se dá início (outubro) a obra que materializará parque. Em atendimento à Lei Municipal 15.941/2013 que cria o Parque Municipal Augusta, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) preparou o 156

Estudo Preliminar, onde ficaram especificados os futuros equipamentos a serem implantados no espaço. O projeto já tem as aprovações da Comissão Permanente de Acessibilidade (CPA) e do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), além de já ter sido apresentado aos movimentos em prol do parque, ainda em 2017. A viabilização do Parque Augusta integra um conjunto de iniciativas para requalificação da região central, o que inclui também a implantação gradual do Parque Minhocão, a requalificação do Vale do Anhangabaú, o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Setor Central, a área dos calçadões do triângulo histórico, revitalização do Largo do Arouche e Praça Roosevelt, além da concessão da cobertura do Martinelli à iniciativa privada, com programa de curadoria, loja e restaurante. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2019)

Excetuando-se o espaço onde funcionaram os colégios, a restante área apresenta densa vegetação remanescente da Mata Atlântica onde, com o projeto do novo parque, ficarão instalados: um playground; uma área para a prática de ginástica; um espaço para a prática de slackline além de um cachorródromo, com área de 450 m².

Figura 100 | Placa Implantação do Parque Augusta

Fonte: Marcelo Oliveira/UOL/ Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/10/23/comecam-as-obras-para-implantacao-do- parque-augusta-em-sao-paulo.htm> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

O parque contará inda com três bicicletários e toda a infraestrutura básica (lixeiras, bebedouros e sanitários). O acesso será feito por dois portões instalados na e o terceiro, na Rua Caio Prado, que será o principal. O projeto prevê ainda a recuperação da área externa, nomeadamente as calçadas e o reforço dos muros, além da instalação de vagas para pessoas portadoras de deficiência. 157

Figura 101 | Localização do Parque Augusta

Fonte: Blog da Paisagem Disponível em: < https://blogdapaisagem.wordpress.com/2015/08/17/o-parque-augusta-e-a-falta-de-um-projeto-inteligente/> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Figura 102 | Projeto do Parque Augusta

Fonte: Governo do Estado de São Paulo Disponível em: < http://www.capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-de-sao-paulo-assina-escritura-do-terreno-do-futuro-parque- augusta> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

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A movimentação civil em torno da materialização do Parque Augusta se deu, e continua a dar, por meio de algumas entidades que se articularam como reação ao mercado imobiliário. Entre estes movimentos estão a SAMMORC - Sociedade dos Amigos, Moradores, Comércio e Serviços de Cerqueira Cesar e dois coletivos, sobretudo: os Aliados do Parque Augusta e o OPA - Organismo Parque Augusta. A trajetória dos dois coletivos se confunde com o propósito de um parque no lugar de um conjunto de torres. Os Aliados do Parque Augusta organizaram manifestações e eventos com o objetivo de defender a criação do parque. Em 2006, o grupo conseguiu coletar 15 mil assinaturas, em uma ação conjunta com a Samorcc. Com essa tática, obteve apoio político para apresentar na Câmara Municipal um projeto de lei5 para a criação do parque. No entanto, o mesmo não foi levado para votação naquele momento. (MARINO, 2018 p. 177)

2011 foi o ano em que o asfalto da Rua Augusta viu acontecer um piquenique que, mais do que iguarias, pretendia oferecer a reflexão sobre o destino a ser dado ao terreno onde se desejava houvesse, a curto prazo, um parque. A ideia era a ocupação, literal, da faixa da rua Augusta, em frente ao terreno, para que a estranheza da utilização do espaço pudesse chamar atenção para a causa e, assim, angariar adesão.

Figura 103 | Piquenique do Parque Augusta

Fonte: Paulistando Disponível em: < https://www.paulistando.com.br/2013/06/picnic-na-rua-augusta.html> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Em 2013, a causa ganhou novo reforço. Surge o OPA - Organismo Parque Augusta que, em suas redes sociais, deixa muito claro que a concretização do equipamento público Parque Augusta é o que move o grupo. Desta forma procura congregar forças por meio da articulação de grupos, entidades e indivíduos que tenham a mesma finalidade. 159

Reforçam ainda o caráter apartidário da iniciativa e o formato articulador das ações, arte e cultura, reiterando ainda que a iniciativa é centrada no usuário: “Parque Augusta existe quando você existe”.

Segundo Marino (2018), o Organismo Parque Augusta, tem como referencial primeiro a movimentação ocorrida na Turquia, em torno do Parque Taksim Gezi que, em 2013, correu o risco de dar lugar a um shopping center. Por força da articulação empreendida pelos cidadãos, as instâncias governativas recuaram e mantiveram o parque. Este formato híbrido de apropriação fez convergir ações culturais e dinâmicas de comportamento ante confrontos com autoridades. Durante o ano de 2014, o movimento Organismo Parque Augusta continuou a organizar eventos e assembleias no terreno, mas em menor escala. Foi em janeiro de 2015, em uma tentativa de resistência, que os ativistas abriram as portas que permaneceram fechadas desde dezembro de 2013 e ocuparam a área em protesto de vigília. Entre outras coisas, acusavam os proprietários de crime ambiental e ressaltaram que a área estava ilegalmente fechada. A ocupação de 2015 teve um caráter cultural, no formato do festival, ganhou o nome de “Verão Parque Augusta” e contou com uma programação de diversas atividades e apresentações artísticas. O objetivo da ocupação foi tornar visível a causa e consolidar a ideia de parque na imaginação coletiva da cidade. (MARINO, 2018 p. 179)

3.2.5.21. PIMP MY CARROÇA

Figura 104 | Marca Pimp My Carroça

Fonte: Pimp My carroça Disponível em Acesso: 20 ago. 2018.

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O Pimp My Carroça é um movimento de intervenção nos meios de transportes usados pelas pessoas que recolhem material reciclável, os catadores de rua. Concebido pelo artista gráfico, grafiteiro e ativista Mundano, o Pimp My Carroça teve a sua primeira edição em 2012 e, desde então, mais de 700 artistas e mais de 1500 voluntários interviram em, aproximadamente, 850 carroças. O evento é anual e, enquanto o meio de transporte é submetido a um reforço em sua estrutura, se for o caso, e a uma intervenção gráfica, os catadores recebem assistência médica e social. Para Mundano, o Pimp May Carroça tem por objetivo valorizar o papel desempenhado pela coleta de material reciclável. A invisibilidade dessa ação diária, na recolha de papelão, metais e plásticos, contribui para o sustento de, aproximadamente, 1 milhão de catadores em todo o Brasil. A contribuição desse contingente para a reciclagem do lixo urbano e, sobretudo, para a disseminação da cultura da sustentabilidade, é muito pouco valorizada e apresenta enormes riscos na prática cotidiana. O projeto já apresentou desdobramentos significativos: a ação de intervenção começou também a atuar nas próprias cooperativas, de forma a contribuir para a organização dos espaços de trabalho. O segundo, é o Cataki, um aplicativo que pretende facilitar a comunicação entre quem tem material para reciclar e o catador. Por meio de um mapeamento de trabalhadores da coleta de materiais recicláveis o aplicativo conecta oferta e catadores, agilizando assim o papel de agente ambiental desempenhado por estes profissionais.

Figura 105 | 1º Pimp My Carroça

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Fonte: Folha de São Paulo Disponível em: Acesso em: 01 dez. 2017. Figura 106 | Pimp My Carroça

Fonte: Folha de São Paulo Disponível em: Acesso em: 01 dez. 2017.

3.2.5.22. (SE)CURA HUMANA

Figura 107 | Projeção (Se)Cura Humana

Fonte: (Se)Cura Humana Disponível em: < http://securahumana.com/projecao-guerrilhal> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

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O (Se)cura Humana se define como um “movimento de guerrilhas urbanas e aquáticas”.

O site da iniciativa mostra uma profusão de eventos, em variadas linguagens. Vídeos, instalações, performances, manifestos, palestras. São muitas e distintas formas de expressar o desejo de uma outra cidade, de uma outra forma de interação. Transversal a (quase) todos os eventos está a palavra política que, certamente, deriva dos muitos desejos para a cidade. Num primeiro momento, a abordagem performática, deixa transparecer uma certa utopia, algo irrealizável que congrega sonho e criatividade. Mas, uma análise um pouco mais aprofundada remete, de imediato, ao que é, efetivamente, político. Para uma cidade que há pouco tempo sofreu uma crise hídrica, as construções de “lagos no meio do concreto, instalação de parques aquáticos com piscinas nas calçadas ou ativação de bicas com água de nascente que se perdem na cidade” promovem, efetivamente, uma reflexão sobre o que tem sido feito e, sobretudo, o que cada indivíduo tem realizado, para a preservação desse bem essencial, a água.

Figura 108 | Parque Aquático Móvel – Parque Augusta

Fonte: (Se)Cura Humana Disponível em: < http://securahumana.com/Parque-Aquatico-Movel-no-Parque-Augusta> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

Para os dois integrantes do coletivo, as atividades desenvolvidas fazem contrapor o “legal e o ilegal, no limiar do que seria essencial pra vida humana, mas que se perdeu”. E esse é, o parece ser, a busca do (Se)cura Humana. O nome, embora não tenha sido 163

possível aferir, remete ainda à cura, substantivo feminino, que diz respeito à recuperação da saúde. O Se, que além de indicar indeterminação, reciprocidade, e ênfase, também pode exprimir a ideia reflexividade, ou seja, daquilo que se reproduz por reflexão, remete à ideia da auto cura, do regenerar-se a si próprio e que, em se tratando de algo tão fundamental como a água, está repleto de sentido. Para, Flávio Barollo, engenheiro e ator, e Wellington Tibério, professor de geografia, músico e muitas outras coisas, o (Se)cura Humana tem, na palavra secura, o mote conceitual para o que se pretende seja o fomento à reflexão da interação entre o indivíduo e a cidade.

Refletindo a secura do humano em diversos níveis, ativando novas (ou velhas) formas de lida da sociedade com o meio, atritando conceitos e padrões, e provocando o olhar em busca de uma heterotopia, segundo o conceito de Foucault, onde as ações que estão fora do que a sociedade aceita e impõe como conduta se tornam reais, e não utópicas. (SeCura Humana, 2019)

Figura 109 | TV Secura

Fonte: (Se)Cura Humana Disponível em: < http://securahumana.com/TV-Secura> Acesso em: 01 de novembro de 2019.

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CAPÍTULO 4 | A PESQUISA

4.1. A PESQUISA 4.2. O MÉTODO 4.3. A COLETA DE DADOS 4.4. A ANÁLISE DE DADOS

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4.1. A PESQUISA

4.1.1. Indagações indutoras

A presente pesquisa centra-se no rol de iniciativas, de apropriação e transformação urbana, empreendidas por grupos de indivíduos, por meio de articulação de uma rede de cooperação, para atingir objetivos coletivos. Algumas questões (motivaram e) nortearam este percurso: ▪ Existe de fato uma movimentação crescente ou apenas uma maior visibilidade dessas iniciativas? ▪ É possível traçar um painel onde esteja presente um denominador comum, no âmbito das movimentações sociais de apropriação urbana que a cidade de São Paulo tem abrigado nos tempos mais recentes? ▪ Os acontecimentos de julho de 2013 podem ser considerados a gênese parcial deste novo olhar urbano?

4.1.2. Âmbito

Tendo em vista que o interesse central da pesquisa está vinculado ao surgimento de iniciativas de inovação social no núcleo central da cidade de São Paulo, foi delimitada como área de interesse o chamado centro expandido. Com 150 quilômetros quadrados de área, a região que, também corresponde ao perímetro de rodízio municipal de veículos: O Centro Expandido da cidade de São Paulo é uma área da cidade localizada ao redor do centro histórico, e delimitada pelo chamado minianel viário, composto pelas marginais Tietê e Pinheiros, mais as avenidas Salim Farah Maluf, Afonso d'Escragnolle Taunay, Bandeirantes, Juntas Provisórias, Presidente Tancredo Neves, Luís Inácio de Anhaia Melo e o Complexo Viário Maria Maluf. Esta região da cidade concentra a maior parte dos serviços, empregos e equipamentos culturais e de lazer da cidade, assim como a população de maior renda, salvo exceções. Dentro desta área, vigora desde 1997 uma restrição municipal à circulação de automóveis em função do número final das placas. Conhecida popularmente como "rodízio", esta restrição recebe formalmente o nome de Operação Horário de Pico. Desde 2007, as placas de ruas desta região são identificadas por uma tarja horizontal na cor cinza. (CET – COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO, 2018)29

29https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?ll=-23.56894967405638%2C-46.660593500000004&hl=pt- BR&msa=0&ie=UTF8&mid=1Xg6ACUNSiuS0IOr7p7t9c6IvLx4&z=12 166

Mapa 1| Mapa do Centro Expandido | São Paulo

Fonte: CET Disponível em: < https://cadespinheiros.files.wordpress.com/2014/02/1920004_238242983022116_62749102_n.jpg> Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

4.1.3. Universo

Foram elencados 23 coletivos que se encontram instalados no âmbito do centro expandido da cidade de São Paulo e que foram convidados a participar da pesquisa preliminar.

1. A Batata Precisa de Você 2. ARRUA Coletivo 3. Associação Parque do Minhocão 4. Baixo Centro 5. Casa da Lapa 6. Ciclocidade 7. Cidade Ativa 167

8. Cidade a Pé 9. Corrida Amiga 10. Coletivo Bijari 11. Florestas de Bolso 12. Formiga-me 13. Horta das Cotrujas 14. Horta das Flores 15. Mão na Praça 16. Matilha Cultural 17. Microtopia 18. Movimento Boa Praça 19. Ocupe e Abrace 20. Parque Augusta: Coletivo Aliados do Parque Augusta 21. Parque Augusta: Organismo Parque Augusta 22. Pimp My Carroça 23. (Se)Cura Humana

Como critério de participação os coletivos deveriam ter: ▪ A sua área de instalação (ou de origem) no centro expandido da cidade de São Paulo; ▪ Empreendidos e efetivado, no sentido de materializar, ações de inovação social na mesma área de instalação (ou de origem) e/ou outras áreas sob demanda e que resultem alterações físicas no âmbito da cidade;

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4.2. O MÉTODO

Foi elaborado e aplicado um questionário híbrido com 26 questões (abertas, de múltipla escolha e sim/não).

Estruturalmente o questionário foi dividido em 6 grandes áreas:

▪ Identificação A introdução, além da identificação do coletivo, pede que seja indicado o ano de surgimento do grupo, âmbito (cultural, urbana, entre outros) em que os projetos são desenvolvidos, área geográfica de instalação da base do grupo e área geográfica de atuação.

▪ Premissas de Origem e Objetivos A parte de Premissas de Origem e Objetivos solicita que, em poucas palavras, seja explicitada a ideia que esteve na origem do coletivo, quais os objetivos traçados e se o coletivo entende que tais metas foram ou estão em vias de serem alcançadas.

▪ Ações e Desdobramentos Foi solicitado que os coletivos compartilhassem os projetos desenvolvidos e/ou em desenvolvimento e, também, eventuais desdobramentos em curso ou em fase de desenvolvimento.

▪ Métodos Este extrato do questionário aborda o método de pesquisa, a elaboração e o desenvolvimento das ações bem como procura saber se os coletivos entendem que tais opções metodológicas têm sido adequadas.

▪ Percepção Esta parte do questionário tem como objetivo entender a perspectiva dos 169

coletivos acerca das iniciativas colaborativas similares àquelas que os próprios realizam e se existe a percepção do aumento dessas práticas. Em caso afirmativo, pede-se que mencionem quais seriam as motivações.

▪ Informações Adicionais Na parte final do questionário foi deixado um espaço para que os coletivos pudessem inserir informações que julgassem relevantes e que, por qualquer motivo, não tivessem sido contempladas no conjunto de perguntas.

Para o efeito foi utilizada a plataforma de formulários eletrônicos Google Forms que, além de armazenar os questionários respondidos também gerencia os resultados apresentando o conteúdo de forma individual e global.

Figura 110 | Questionário Aplicado

170

171

Fonte: Google Forms | Elaborado pela autora

172

4.3. A COLETA DE DADOS

UNIVERSO RESPONDENTE Dos 23 coletivos elencados, a pesquisa obteve a resposta de 9 deles, perfazendo 39% de respondentes.

Figura 111 | Questionário | Universo Respondente

Fonte: Google Forms | Elaborado pela autora

São eles: ▪ Associação Parque Minhocão ▪ Cidade Ativa ▪ Coletivo Bijari ▪ Formiga-me ▪ Horta das Corujas ▪ Mão na Praça ▪ Microtopia ▪ Ocupe & Abrace ▪ (Se)Cura Humana

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IDENTIFICAÇÃO

Ano de Instituição 4 dos 9 coletivos foram formados antes de 2013. Os restantes foram formados em 2013 (1), 2014 (1), 2015 (2) e 2016 (1). Deste universo 33% está formalizado como ONG ou OSCIP30.

Área de Atuação O questionário contempla uma pergunta sobre as áreas de atuação dos agrupamentos com as seguintes opções:

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo) B. Ativismo C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva) D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais) E. Desenvolvimento Social F. Educação G. Mídia H. Produção Urbana de Alimentos I. Resgate da Memória Local J. Urbanismo K. Outros

30 ONG – Organização Não Governamental OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público 174

Gráficos 1 | Questionário | Gráfico | Atuação do Coletivo

Fonte: Google Forms | Elaborado pela autora

Deste contingente 44,4% referem que as atividades desenvolvidas são de Apropriação Urbana; 33,3% de Outros; 11,1% de Urbanismo; 11,1% de Produção Urbana de Alimentos.

Áreas Geográfica de Atuação Em termos da área geográfica de atuação, 44,4% dos coletivos também atua na área de instalação; 44,4% atuam, em exclusivo, e 11,1% não atuam. O universo de coletivos pesquisado está concentrado nos seguintes bairros/áreas:

▪ Aclimação ▪ Barra Funda ▪ Consolação ▪ Lapa ▪ Móoca ▪ Perdizes/Pompéia/Sumaré ▪ Pinheiros

175

Gráficos 2 | Questionário | Gráfico | Área de Atuação do Coletivo

Fonte: Google Forms | Elaborado pela autora

PREMISSAS DE ORIGEM E OBJETIVOS

Os coletivos definem assim as respectivas premissas de origem e os objetivos traçados inicialmente.

▪ Associação Parque Minhocão Origem: Garantir o uso do Minhocão como área de lazer, esporte, arte e convívio. Objetivos: Expandir o horário para as pessoas e oficializar o espaço como Parque Municipal

▪ Cidade Ativa Origem: Promover cidades mais ativas. Objetivos: Promover o conceito active design; desenvolver projetos que seguissem metodologia. Hoje a atuação é mais ampla.

▪ Coletivo Bijari Origem: Coletivo de criação de artes visuais e multimídia que tem como objeto de interesse as narrativas, discursos, poéticas e conflitos que moldam e dão vida à paisagem urbana. A reflexão crítica sobre a produção simbólica dos espaços 176

nas cidades é expressa em trabalhos na fronteira entre arte, política e vida cotidiana com o objetivo de deixar à mostra as fissuras sociais. Objetivos: Fazer projetos de arte e design de forma autoral e sustentáveis.

▪ Formiga-me Origem: Mapear, conectar e divulgar as iniciativas dos coletivos e cidadãos comuns. Transformar a cidade e se apropriar dos espaços públicos (hortas urbanas, tapar buracos, enfeitar árvores e postes etc.) Objetivos: Produzir reportagens sobre as iniciativas e se estabelecer como referência no tema.

▪ Horta das Corujas Origem: Construção de urbanidades e participação popular. Objetivos: Educação ambiental, educação nutricional, atividades comunitárias, reconexão com a natureza, regeneração ambiental.

▪ Mão na Praça Origem: Revitalizar uma praça Objetivos: Revitalizar uma praça: plantio de mudas de ornamentais e árvores, e arte urbana

▪ Microtopia Origem: Criar uma horta comunitária. Objetivos: Melhoria do espaço público

▪ Ocupe & Abrace Origem: Ocupar de forma amorosa um espaço amplo e verde do bairro, trazendo de volta a sua origem: um espaço de lazer na cidade e de reconexão com a natureza. Começamos fazendo festivais na praça - um dia de atividades culturais e sustentáveis, com música, oficinas com apoio de artistas e outros coletivos, sendo um a cada estação do ano. E aos poucos fomos fazendo também 177

mudanças estruturais (plantas, pintar muro, abrir as nascentes, colocar cacimba, horta, etc). Objetivos: Queríamos incentivar as pessoas a usarem o espaço novamente que estava deixado de lado. A ideia sempre foi ser um dos atores a atuar na praça, e desde o início tivemos muito apoio de outros coletivos, organizações e também cobramos uma atuação mais presente da Subprefeitura da Lapa (da qual a Praça faz parte).

▪ (Se)Cura Humana Origem: Materializar utopias em busca de uma nova cidade para todos, integrando meio ambiente com a sociedade. Objetivos: Dar visibilidade às águas que existem em São Paulo.

88,8% do universo respondente entende que os objetivos propostos inicialmente já foram alcançados e 11,1% foram alcançados em parte. E explicam:

▪ Associação Parque Minhocão Conseguimos através do vereador Police Neto aprovar a Lei 16833 de 7 de fevereiro de 2018 que criou o Parque Minhocão e ampliou os horários para as pessoas (fechamento para os carros às 20 horas, sábado integral).

▪ Cidade Ativa O coletivo se absteve de responder.

▪ Coletivo Bijari Uma combinação entre o fazer artístico e o fazer comercial que financia o coletivo. Seria impossível sobreviver apenas fazendo projetos de arte política e ativismo no Brasil.

▪ Formiga-me 178

Porque em duas pessoas, com trabalho basicamente voluntário, é muito difícil produzir reportagens suficientes. Elas são trabalhosas, tomam tempo para produzir, e não tivemos tanto retorno em visibilidade. A balança não se equilibrou, então mudamos o foco.

▪ Horta das Corujas O coletivo se absteve de responder.

▪ Mão na Praça Realizamos 5 ações.

▪ Microtopia Houve grande adesão da comunidade.

▪ Ocupe & Abrace As pessoas começaram a usar a praça da nascente para diversos motivos. Inicialmente a partir das nossas sugestões, e hoje naturalmente as pessoas estão lá -com suas crianças no parquinho, curtindo o lago, plantando ou simplesmente curtindo a praça.

▪ (Se)Cura Humana Devido aos trabalhos realizados: Parque Aquático Móvel, Lagos de concreto e Rio Paralelo Tamanduateí.

AÇÕES E DESDOBRAMENTOS Em termos dos projetos desenvolvidos pelos coletivos, bem como os desdobramentos em curso ou em fase de desenvolvimento, os coletivos forneceram as seguintes informações:

▪ Associação Parque Minhocão 179

Ações: Até agora foi o marco legal. Estamos trabalhando para a prefeitura criar o Conselho Gestor do Parque Minhocão. Obtivemos em 8/8/2018 a instalação de uma base da GCM sobre a rampa de acesso na Praça Marechal. Desdobramentos: A recém-criada Associação dos Moradores da Praça Roosevelt é parceira.

▪ Cidade Ativa Ações: Olhe o Degrau; Como Anda. Desdobramentos: O Olhe o Degrau está indo para sua 5a ação.

▪ Coletivo Bijari Ações: Carro Verde, natureza Urbana, Praças (im)possíveis Desdobramentos: Sim os carros verdes foram replicados em várias cidades.

▪ Formiga-me Ações: Guia Mulheres na Cidade. Desdobramentos: Não.

▪ Horta das Corujas Ações: Cuidar da horta. Desdobramentos: Sim, inicialmente começamos com um grupo fechado de coletivos para mapear as iniciativas, depois abrimos para dezenas de voluntárias. Hoje há mulheres de outras cidades pedindo que seja levado para lá.

▪ Mão na Praça Ações: Praça na Vila Madalena. Desdobramentos: Sim, em uma pequena praça na av. Pacaembu.

▪ Microtopia Ações: Sala de Aula Pública Desdobramentos: Não foi especificado. 180

▪ Ocupe & Abrace Ações: Agora estamos com uma ação no Ministério Público para evitar que seja construído um empreendimento no perímetro da praça. Esse é o nosso maior foco da ação, porque já ouvimos diversos especialistas que dizem que duas torres de 22 andares, afetará diretamente as nascentes da praça. Provavelmente a água será jogada para sarjeta, e o ecossistema acostumado com essa quantidade atual de água, será afetada com a diminuição do fluxo. Além disso, fazemos mutirões para manutenção do lago e acompanhamento da qualidade da água pelo SOS Mata Atlântida. Fazemos algumas intervenções ocasionais, como receber criança de escolas para conhecer a praça, participação em eventos (como será o caso da Virada Sustentável, etc). Organização dos Festivais. Desdobramentos: Sim, já participações de ações e mutirões promovidos por outros espaços que querem abrir as nascentes, como foi o caso do Iquiririm, entre outros. Além disso, participamos de eventos como Virada Sustentável, Cocidade, Path, TEDx e algumas iniciativas do SESC, levando a nossa experiência para outros espaços. Além disso, servimos de exemplos e apoio para outras iniciativas como Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Largo da Batata, etc.

▪ Se(Cura) Humana Ações: Parque Aquático Móvel, Lagos de Concreto e Rio Paralelo Tamanduateí. Desdobramentos: Sim, já participações de ações e mutirões promovidos por outros espaços que querem abrir as nascentes, como foi o caso do Iquiririm, entre outros. Além disso, participamos de eventos como Virada Sustentável, Cocidade, Path, TEDx e algumas iniciativas do SESC, levando a nossa experiência pra outros espaços. Além disso, servimos de exemplos e apoio para outras iniciativas como Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Largo da Batata, etc.

MÉTODO DE DESENVOLVIMENTO O método de pesquisa, elaboração e desenvolvimento das ações é de interesse para a presente pesquisa e desta forma foi perguntado aos coletivos sobre as práticas de 181

efetivação bem como a adequação destes métodos e respectivos resultados metodológicos.

▪ Associação Parque Minhocão Método: Não desperdiçamos nenhuma oportunidade de avançar, mesmo pouco e lentamente com apoio e orientação de um Vereador atuante. Adequação: Adequação total. Por que tivemos resultados positivos. Resultado: Foi até mais rápido que o esperado.

▪ Cidade Ativa Método: O "Olhe o Degrau" é desenvolvido a partir de pesquisa (levantamento de dados em campo, que incluem informações sobre o ambiente e comportamento das pessoas; inclui olhar técnico e também opinião de usuários através de entrevistas); oficinas colaborativas (no local de intervenção, ativando espaço temporariamente e convidando usuários e stakeholders a darem opinião sobre espaço); desenvolvimento de análises; projeto (pactuado com stakeholders, incluindo gestão pública); execução de melhorias (em forma de mutirão e engajando atores locais, como mão de obra contratada ou voluntária); medição do sucesso (coleta de dados para avaliar processo e estratégias de projeto). Adequação: Adequação parcial. Verificamos que cada contexto pede adaptações ao processo inicialmente desenhado. Resultado: Positivo. Resultado varia de acordo com o contexto (nível de engajamento, pós ocupação)

▪ Coletivo Bijari Método: As ações são advindas da identificação de urgências na cidade, na sociedade, nos nossos corpos. Á partir dessas urgências elaboramos intervenções. Adequação: Os métodos são aplicados e revistos, e isso é uma constante. 182

Resultados: Os resultados sempre contêm uma parte que funciona como esperado e outra que nos conta os próximos passos, seja para melhorar erros ou para avançar no que por acaso foi melhor que o esperado

▪ Formiga-me Método: Primeiro estamos fazendo o levantamento de iniciativas de mulheres para mulheres em SP (criamos uma série de critérios), depois vamos visitar e escrever sobre elas com ajuda das voluntárias, nós do coletivo vamos editar, padronizar e complementar, vamos passar para a equipe de arte e revisão, e estamos buscando parcerias para impressão. Adequação: Sim, porque tem dado certo para o projeto. Resultados: Não temos resultados desse projeto ainda, pois está em processo. Mas podemos dizer que ficamos surpresas com a quantidade de pessoas disposta a ajudar como voluntárias. Abrangência é sempre um desafio, pois as redes sociais restringem o alcance a uma bolha, e não temos recursos para impulsionar posts.

▪ Horta das Corujas Método: Tudo espontâneo e registrado no grupo do facebook (Horta das Corujas). Adequação: Não respondeu. Resultados: Não respondeu.

▪ Microtopia Método: Urbanismo tático, por meio de iniciativas bottom-up para construir o urbanismo de base. Adequação: Adequação total. Obtenção de êxitos aos objetivos traçados. Resultados: A técnica e a tática trouxeram o esperado, mais uma vez comprovando a eficácia do modelo aplicado.

183

▪ Ocupe & Abrace Método: Nossa metodologia é "faz-fazendo". Somos um grupo de pessoas propositivas, que acredita em apoiar ideias que fazem sentido dentro dessas duas temáticas: culturais e sustentáveis. Acreditamos no diálogo, na construção colaborativa e na ideia de testar ideias na ação. Adequação: Criamos um novo paradigma, de fazer junto. Não queremos ser os donos da praça, mas acreditamos que podemos facilitar essa relação entre as pessoas e o espaço, incluindo a própria prefeitura. Queremos todos fazendo sua parte. Resultado: Tenho uma apresentação que posso compartilhar com alguns números. Nossa missão principal foi alcançada: as pessoas estão usando a praça.

▪ Mão na Praça Método: Inicialmente encontro entre amigos, depois eventos abertos. Adequação: Obtivemos boa participação dos moradores locais. Resultados: Não respondeu

▪ Se(Cura) Humana Método: Identificamos um fato absurdo na cidade, e propomos uma reinvenção de uso. No caso das águas de nascente e rebaixamento de lençol freático que se perdem, buscamos criar artifícios de ocupação dessas águas pelas pessoas. Adequação: Porque promoveu a integração da comunidade com as obras. Resultados: Alguns promoveram uma maior quantidade de pessoas, e resposta inesperada. Além da viralização dos nossos vídeos produzidos, alcançando milhares de pessoas.

PERCEPÇÃO O penúltimo lote de perguntas do questionário centrou-se na perspectiva dos coletivos sobre as iniciativas colaborativas no âmbito urbano. Para o efeito foi perguntado se 184

tinham a percepção do aumento dessas práticas, se poderiam citar projetos de outros coletivos e, nas respectivas perspectivas, quais seriam as motivações.

A totalidade dos respondentes até o momento concorda com a visão de que há, de fato, um aumento das iniciativas locais, de base, de apropriação urbana.

Gráficos 3 | Questionário | Gráfico | Percepção | Aumento de ações similares

Fonte: Google Forms | Elaborado pela autora

▪ Associação Parque Minhocão Percepção/Exemplos: Vários grupos têm surgido e as mídias socais gratuitas e WhatsApp facilita muito esse trabalho. Motivação: Cidadania, baixa/lenta resposta do poder público, mais a tecnologia.

▪ Cidade Ativa Percepção/Exemplos: Ver pesquisa Como Anda, que mostra grande número de iniciativas voltadas para o tema da mobilidade a pé surgindo a partir de 2013. No nosso relatório elaboramos algumas hipóteses Motivação: Ver relatório do Como Anda: política nacional; gestão anterior de SP (Haddad) deu abertura para participação; investimento em espaços públicos e mobilidade ativa; repercussão de movimento internacional

▪ Coletivo Bijari 185

Percepção/Exemplos/Motivação: As iniciativas colaborativas têm aumentado em todos âmbitos, as mídias sociais ajudam bastante nesse papel. No nosso caso que pensamos o espaço da cidade vemos uma mudança de paradigma no qual o Espaço público não é mais tema de polícia como a 20 anos atrás, as pessoas se apropriam e querem utiliza-lo.

▪ Formiga-me Percepção/Exemplos: A cidade tem sido reivindicada cada vez mais como plataforma dos ativismos por conta do crescimento desses movimentos organizados da sociedade civil. O surgimento da Minha Sampa lá atrás já era um indicativo, e hoje há diversas outras, cada uma no seu nicho (nas bikes, como Bike Anjas, Giro Preto; no feminismo com feiras como do Meu Clitóris Minhas regras; hortas urbanas mil, como Horta das Corujas, Batatas Jardineiras, estímulo ao caminhar com o Sampapé, movimento de requalificação de praças como o da Praça da Nascente... enfim são inúmeros)

Motivação: O governo Haddad deu um bom incentivo para elas. Acho que o poder público deve incentivar e trabalhar junto (em vez de desfazer o trabalho feito, como acontece) por meio de políticas públicas e editais. Pode inclusive atrelas esses trabalhos às escolas públicas, criando uma forma de multiplicar e educar para a cidadania. Há iniciativas privadas nesse sentido também, como da Red Bull, mas são pontuais.

▪ Horta das Corujas Não respondeu.

▪ Microtopia Percepção/Exemplos: Na última gestão, a cidade de São Paulo experimentou a elasticização de modelos de gestão e ocupação em espaços públicos. Podemos destacar o carnaval e festas de rua como a "pilantragi". Motivação: Políticas públicas. 186

▪ Mão na Praça Percepção/Exemplos: Sim; Motivação: Apropriação da cidade e insatisfação com o abandono da cidade.

▪ Ocupe & Abrace Percepção/Exemplos: Com certeza, desde que iniciamos muitos grupos se formaram - Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Iquiririm, Existe água SP, Secura Urbana, Batata que se quer... sem contar muitas empresas e coletivos, como Hey Sampa, Formiga.me, Cidade Ativa, Praças.com, Cocidade, etc. Que são grupos que de alguma forma apoiam que essas outras ações aconteçam tb. Até o carnaval de rua, e o seu crescimento nos últimos anos, mostra o interesse das pessoas em ocuparem mais os espaços. Motivação: Por que está ficando mais claro que é possível se tornar um agente empreendedor e produtor de cidade. Muita gente se inspira nessas ações e em outras para começar a fazer e construir a cidade que deseja morar. Normalmente essas ações começam de desejos individuais, mas vão ampliando porque impactam outras pessoas que se sentem parte disso.

▪ (Se)Cura Humana Percepção/Exemplos: Porque as pessoas estão cada vez mais percebendo os absurdos e bizarrices provenientes da criação desse modelo de cidade que inventamos. Suas contradições, hipocrisias, descaso, etc. E isso vem afetando diretamente a vida das pessoas.

Motivação: As pessoas querem uma qualidade de vida melhor na cidade em que habitam. E só a iniciativa popular, bairrista, para mobilizar as estruturas.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS 187

Para encerrar a participação preliminar dos coletivos foi dado espaço para que pudessem acrescentar informações que julgassem pertinentes ou que, porventura, não tenham sido contempladas nas questões anteriores.

▪ Associação Parque Minhocão Não respondeu.

▪ Cidade Ativa Não respondeu.

▪ Coletivo Bijari Não respondeu.

▪ Formiga-me Nosso site: www.formiga.me

▪ Horta das Corujas Não respondeu.

▪ Mão na Praça Não respondeu.

▪ Microtopia A nova gestão, João Dória e Bruno Covas, enterraram e sufocaram todas as iniciativas bottom-up na cidade de São Paulo.

▪ Ocupe & Abrace Temos algumas publicações e dissertações que já usaram a praça como estudo de caso. Você pode achar mais informações por lá. Aqui tem a minha (Carla), mas há outras que podemos passar posteriormente. Preciso reuni-las. http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/UNISINOS/4055/1/CarlaFederi 188

zzi.pdf. Mas o maior aprendizado é que as pessoas que não estão diretamente ligadas ao esforço do coletivo, elas precisam ser sensibilizadas. O maior desafio é transformar as pessoas de consumidoras do espaço - que esperam as coisas prontas, com cara de revista, críticas aos problemas, para se tornarem colaboradoras das ideias.

▪ (Se)Cura Humana Precisamos reinventar esse modelo de cidade em São Paulo.

189

4.4. A ANÁLISE DE DADOS

O levantamento realizado para esta pesquisa se ateve, por força das circunstâncias, às iniciativas com suficiente visibilidade para serem encontradas por meio de pesquisas digitais. Em muitos casos, por não apresentarem relevância digital, torna-se difícil localizar estas ações, seja na internet de forma geral ou redes sociais.

Universo Total O universo de pesquisa apresentou um trabalho suplementar no que diz respeito ao levantamento de informações e canais de contato dos coletivos dado que, por serem iniciativas voluntárias e, muitas vezes sem formalização ou base específica de trabalho, torna-se difícil estabelecer contato ou obter feedbacks. É possível depreender que a ausência de respostas, em alguns casos, possa estar relacionada com a falta de apoio para demandas desta natureza.

Desta forma entende-se que o levantamento não se constitui um mapeamento absoluto.

Pesquisa A pesquisa contemplou um questionário online e, de antemão, já se sabia que uma enquete com 26 perguntas seria demasiado extensa, mas, para contemplar as áreas de interesse da pesquisa, se fez necessário manter este número. Este pode outro fator que contribuiu para que a adesão de respostas fosse diminuta.

Universo Levantado e Universo Respondente

Do universo total de 23 coletivos, 9 compõem o universo respondente e se encontram localizados nos mapas que seguem (total e respondentes).

Áreas Geográficas: Instalação e Atuação 190

Em se tratando do universo total, os coletivos têm área geográfica de instalação nos seguintes bairros:

▪ Aclimação - 1 coletivo ▪ Barra Funda – 3 coletivos ▪ Consolação - 5 coletivos ▪ Lapa - 1 coletivo ▪ Móoca – 1 coletivo ▪ Perdizes/Pompeia/Sumaré - 4 coletivos ▪ Pinheiros - 8 coletivos

Do levantamento geral, a maior incidência encontrada de coletivos é no bairro de Pinheiros.

Em relação aos respondentes, apresentam-se os seguintes bairros:

▪ Aclimação/1 coletivo ▪ Barra Funda/ 2 coletivos de um total de 3 ▪ Perdizes/Pompeia/Sumaré /3 coletivos de um total de 4 ▪ Pinheiros/3 coletivos de um total de 8

Do universo de respondentes, a maior incidência de coletivos é encontrada em Pinheiros e também nas áreas dos bairros de Perdizes, Pompéia e Sumaré.

191

Mapa 2 | Mapa de localização dos coletivos elencados.

Fonte: Elaborado pela autora

192

Mapa 3 | Mapeamento de Coletivos Não Participantes na Pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora

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Mapa 4 | Mapeamento de Coletivos Participantes na Pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora

194

Ano de Instituição Do levantamento geral de coletivos, no centro expandido de São Paulo, a grande maioria surgiu nos anos 2000 tendo apenas um deles, o Coletivo Bijari, sido constituído na década de 1990. Do total levantado de coletivos 57% surgiu após 2013 (inclusive).

Tabela 4 | Levantamento Geral de Coletivos | Centro Expandido COLETIVOS ANO DE CONSTITUIÇÃO 1 A Batata Precisa de Você 2013 2 ARRUA Coletivo 2012 3 Associação Parque Minhocão 2013 4 Baixo Centro (Festival) 2011 5 Casa da Lapa 2005 6 Ciclocidade 2009 7 Cidade Ativa 2014 8 Cidadeapé – Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo 2015 9 Corrida Amiga 2014 10 Coletivo Bijari 1997 11 Florestas de Bolso s/d 12 Formiga-me 2015 13 Hortas das Corujas 2012 14 Horta das Flores 2014 15 Mão na Praça 2013 16 Matilha Cultural 2009 17 Microtopia 2016 18 Movimento Boa Praça 2008 19 Ocupe e Abrace 2013 20 Aliados do Parque Augusta 2013 21 Organismo Parque Augusta 2013 22 Pimp My Carroça 2007 23 Se(Cura) Humana 2015 Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 5 | Levantamento Geral de Coletivos | Ano de Constituição NÚMERO DE COLETIVOS ANO DE CONSTITUIÇÃO 1 2016 3 2015 3 2014 6 2013 2 2012 1 2011 2 2009 1 2008 1 2007 1 2005 1 1997 1 s/d Fonte: Elaborado pela autora

195

Do universo de coletivos que participaram na pesquisa, 8 nos anos 2000 tendo apenas o Coletivo Bijari surgido na década de 1990. Do total de respondentes 77% surgiu após 2013 (inclusive).

Tabela 6 | Levantamento do Universo de Respondentes | Coletivos Centro Expandido COLETIVOS ANO DE CONSTITUIÇÃO 1 Associação Parque Minhocão 2013 2 Cidade Ativa 2014 3 Coletivo Bijari 1997 4 Formiga-me 2015 5 Hortas das Corujas 2012 6 Mão na Praça 2013 7 Microtopia 2016 8 Ocupe e Abrace 2013 9 Se(Cura) Humana 2015 Fonte: Elaborado pela autora

Tabela 7 | Levantamento do Universo de Respondentes | Ano de Constituição NÚMERO DE COLETIVOS ANO DE CONSTITUIÇÃO 1 2016 2 2015 1 2014 3 2013 1 2012 1 1997 Fonte: Elaborado pela autora

Do Âmbito de Atuação O âmbito de ação definido pelos coletivos está assim distribuído: ▪ Apropriação Urbana/44,4% ▪ Urbanismo/11,1% ▪ Produção Urbana de Alimentos/11,1% ▪ Outros/33,3% Âmbitos híbridos = Artístico/Ativismo/Apropriação Urbana/Mídia + Design /16,6% Âmbitos híbridos = Ocupação Cultural e Sustentável da Praça da Nascente /16,6%

O maior contingente refere que as ações desenvolvidas pelo coletivo têm como característica pertenceram ao grupo da Apropriação Urbana. Urbanismo também é 196

mencionado bem como Ativismo. Pelo menos uma nova área de atuação surgiu: a Ocupação Cultural, muito em função de alguns coletivos do universo respondente, principalmente, aqueles de âmbito específico (como o Mão na Praça, Movimento Boa Praça e Ocupe a Abrace) que posteriormente à revitalização das praças, passaram a promover eventos onde as atividades culturais foram incorporadas, para além, claro, da característica específica dos Coletivos Bijari e (Se)Cura Humana cujas atividades principais centram-se na intervenção artística.

DAS PREMISSAS DE ORIGEM

De forma geral é possível afirmar, no âmbito do universo respondente, que os coletivos apresentam como premissa de origem objetos específicos. A Associação Parque Minhocão, por exemplo, nasceu com o objetivo de promover e, sobretudo garantir, o uso do Elevado João Goulart, o Minhocão, enquanto espaço de convívio e lazer, por meio do alargamento do horário de uso e da materialização do espaço como parque municipal. O Cidade Ativa emerge com a proposta clara, expressa na própria designação, a partir de um método de trabalho de mesma designação, o Design Ativo (Active Design). O método31, desenvolvido pela prefeitura de Nova York, entende o urbanismo como ferramental propositivo de atividades físicas para a incorporação de hábitos mais saudáveis no cotidiano.

Já o Bijari e o Cidade Ativa apresentam propostas amplas. O primeiro, com forte viés artístico, pauta a criação no contraste/consonância com o ambiente urbano. Procura por este meio refletir e provocar a discussão acerca da ocupação do espaço público e sua pertença, expressos “em trabalhos na fronteira entre arte, política e vida cotidiana com o objetivo de deixar à mostra as fissuras sociais”.

31 Active Design – Fonte: “Active Design Guidelines” Disponível em: < https://centerforactivedesign.org/dl/guidelines.pdf>. Acesso: 01 set. 2018. 197

O Formiga-me nasce com o propósito cartográfico de elencar iniciativas de apropriação urbana e, em paralelo, estabelecer a conexão com os cidadãos, com o objetivo de promover a transformação da cidade.

A Horta das Corujas surge com o propósito, nominal, de criar uma horta comunitária, prática, aliás, que tem se consolidado como prática recorrente na cidade. Iniciativas como a Horta do Ciclista (situada na Avenida Paulista, no cruzamento com a Avenida Consolação); a Horta da Saúde (instalada próximo à estação Saúde do Metrô); Jardim do Rock (horta implantada no terraço da Galeria do Rock); entre outras., mostram esse interesse crescente.

O Mão na Praça surgiu igualmente com a finalidade específica de recuperar e ativar uma praça no bairro da Pompéia/Perdizes promovendo igualmente atividades de jardinagem.

O coletivo Microtopia também nasceu com um foco muito específico: atuar e ativar o Parque da Aclimação prospectando e investindo em formas colaborativas de materializar as potencialidades locais. O Ocupe & Abrace também é resultado de uma demanda específica: recuperar a Praça Homero Silva, também no bairro da Pompéia/Perdizes, que em função da falta de manutenção começou a representar um risco à segurança e à saúde do perímetro imediato. Houve uma articulação da vizinhança para o resgate do local não apenas enquanto espaço de lazer, mas, sobretudo, enquanto oportunidade de resgate da memória e da preservação das 8 nascentes do Rio Água Preta.

Por fim, o (Se)Cura Humana, tem na construção de uma visão utópica o intento de uma cidade inclusiva e que seja pertença de todos.

DOS OBJETIVOS E DOS PROJETOS

198

Dos 9 coletivos 2, o Cidade Ativa e a Horta das Corujas, se abstiveram de responder à questão relativa ao alcance das metas (ou parte delas), sendo que o primeiro menciona o projeto Olha o Degrau que, em sua quinta edição, vem replicando o modelo desenvolvido e os resultados.

O restante considera que todos os objetivos propostos foram (ou estão sendo) alcançados e elencam exemplos.

O fato de ter havido a criação do Parque Minhocão e a ampliação dos horários para os utilizadores (fechamento para os carros as 20 horas, sábado integral), por meio da Lei 16.833, de 7 de fevereiro de 2018, proposta pelo vereador Police Neto32 é, na perspectiva da Associação Parque Minhocão, o alcance de uma meta importante para a entidade.

O Bijari considera que empreender projetos de intervenção urbana capazes de se autofinanciarem é uma meta alcançada já que, na perspectiva do coletivo é “impossível sobreviver apenas fazendo projetos de arte política e ativismo no Brasil”.

Tendo em vista que o trabalho é voluntário e que há uma enorme complexidade na pesquisa e produção das matérias o Formiga-me entende que os objetivos foram alcançados parcialmente. Desta forma, o enfoque foi alterado para um formato simplificado, em termos de produção, mas, efetivo, na medida em que segue promovendo a conexão entre os produtores e os interessados em inovação urbana.

O Mão na Praça, após realizar 5 ações, acredita que a meta inicial foi superada dado que o objetivo primeiro se centrava apenas em recuperar a praça para os usuários.

O coletivo Microtopia entende como alcance de meta o fato de o projeto ter tido obtido uma grande adesão.

32 LEI Nº 16.833, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2018 - Projeto de Lei nº 10/14, dos Vereadores José Police Neto – PSD, Eduardo Matarazzo Suplicy – PT, George Hato – PMDB, Goulart – PSD, Nabil Bonduki – PT, Ricardo Young – REDE, Sâmia Bonfim – PSOL e Toninho Vespoli – PSOL. 199

Na perspectiva do Ocupe & Abrace alterar o cenário de um equipamento, praticamente abandonado pelo poder público, para um local movimentado que é utilizado pelas pessoas para lazer, para cultura, para plantar ou somente para estar, é meta atingida.

O (Se)Cura Humana entende que a materialização de projetos como o Parque Aquático Móvel, o Lagos de Concreto e o Rio Paralelo Tamanduateí, que discutem a utilização da água e dos recursos naturais, constitui meta alcançada.

MÉTODO DE DESENVOLVIMENTO

O processo de desenvolvimento é de grande interesse para a presente pesquisa. O universo respondente compartilhou as mais diversas perspectivas do método de trabalho.

A Associação Parque do Minhocão entende que este processo só se efetiva quando todas as oportunidades, por mínimas que sejam, são aproveitadas e inseridas ao conjunto maior do projeto.

Para o coletivo Cidade Ativa a pesquisa e a co-criação, por meio de oficinas colaborativas, integram o ferramental de desenvolvimento. Entender o contexto, flexibilizar a estruturada pensada e inicialmente e, sobretudo, avaliar resultados, também integram parcialmente o método aplicado.

O Bijari relata que as propostas nascem das “urgências” urbanas e que os métodos pensados, e aplicados, são revistos de forma recorrente e, quase como se parafraseasse Munari, “os resultados sempre contêm uma parte que funciona como esperado e outra que nos conta os próximos passos”.

O método adotado pelo Formiga-me é um levantamento quantitativo, segundo critérios pré-estabelecidos para posterior elaboração de conteúdo. 200

A Microtopia entende que o fato de ser uma ação de base traz o DNA da assertividade já que os atores estão inseridos e familiarizados com o contexto.

O Mão na Praça refere o formato colaborativo e o Ocupe & Abrace denomina o método desenvolvido como “faz-fazendo”, fruto de ações propositivas, de construção em rede, colaborativa e participativa. É o “paradigma do fazer junto” de “forma amorosa” e afetiva. Converge para Brown (2010 p. V), para quem o Design Thinking, enquanto abordagem, coloca as ferramentas processuais “nas mãos de pessoas que talvez nunca tenham pensado em si mesmas como Designers”. Na perspectiva do autor, uma das grandes características deste método, não se limita apenas a apontar o holofote da solução projetual para o ser humano, mas, sim trazê-lo para o centro da dinâmica de desenvolvimento, incluindo a sua ótica de usuário como parte integrante da equipe de profissionais. Brown (2010) entende que: Não se trata de uma proposta apenas centrada no ser humano; ela é profundamente humana pela própria natureza. O Design Thinking se baseia na nossa capacidade de ser intuitivos, reconhecer padrões, desenvolver ideias que tenham um significado emocional além de funcional, nos expressar em mídias além das palavras ou símbolos. (BROWN, 2010 p. VI) O (Se)Cura identifica como método a estratégia adotada para enfrentar o descaso identificado na utilização da água no âmbito urbano. É, num certo sentido, um método reativo que se propõe a ser reflexivo.

PERCEPÇÃO A percepção do universo respondente é que, de fato, está em desenvolvimento uma onda de iniciativas coletivas e colaborativas tendo a cidade como espaço de ação.

Vários são os grupos que mencionam o fator tecnologia (entenda-se Redes Sociais/Whats App/similares) como agentes facilitadores no processo de comunicação/articulação dos atores e referem ainda, como exemplo desta nova urbanidade construída, o crescimento exponencial de blocos e do carnaval de rua que a cidade de São Paulo tem abrigado nos tempos mais recentes. 201

Alguns coletivos mencionaram também que, a pró atividade de base em relação ao urbano, pode ainda “ser uma reposta” ao descrédito político que se vivencia na atualidade. Em 2016, os coletivos Cidade Ativa e Corrida Amiga, juntamente com o Instituto Clima e Sociedade, elaboraram uma pesquisa para mapear as iniciativas que discutem e trabalham com o tema da mobilidade a pé.

Figura 112 | Pesquisa Como Anda

Fonte: Relatório Como Anda Disponível em: < http://comoanda.org.br/wp-content/uploads/2017/04/170221_ComoAnda_Relat%C3%B3rioFinal_R01-1.pdf> Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 113 | Pesquisa Como Anda

Fonte: Relatório Como Anda Disponível em: < http://comoanda.org.br/wp-content/uploads/2017/04/170221_ComoAnda_Relat%C3%B3rioFinal_R01-1.pdf> Acesso em: 18 ago. 2018.

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Os dados compilados até o momento estão reunidos no relatório Como Anda33 que, logo na introdução, menciona o ano de 2013 como início de um conjunto de ações voltadas para a cidade.

O Bijari refere que, também percebe não só o aumento destas iniciativas, mas, sobretudo da sua abordagem, pois, hoje a apropriação do espaço urbano “não é mais tema de polícia como 20 anos atrás, hoje as pessoas se apropriam e querem utiliza-lo” e o (Se)Cura Humana, muito alinhado ao Bijari, refere que ao materializar ações de apropriação o coletivo afirma ser possível que o indivíduo também seja um ator/empreendedor urbano.

O Formiga-me entende que o indivíduo está num processo de perceber que o modelo urbano criado por ele próprio é insustentável e, portanto, há que ser alterado. O coletivo Horta das Corujas chama atenção para o fato que o processo de transformação social faz com que o indivíduo perceba novas nuances e perspectivas. Apesar do bom desenvolvimento do projeto o posicionamento do coletivo se alterou. No início do projeto havia a percepção que os processos de apropriação significavam um processo capitaneado pelo coletivo. Hoje, depois de 7 anos de vida do projeto, há a noção que sem alteração estrutural não há lugar para a transformação.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS Para finalizar, o questionário abriu espaço para as falas dos coletivos. A maioria não contribuiu, mas, duas participações são relevantes: a primeira, do Microtopia, refere que a atual gestão municipal não fomentou a proliferação das iniciativas de base e, o Ocupe e Abrace referiu que há ainda um grande obstáculo a ser ultrapassado: a disseminação da cultura de que a responsabilidade é de todos e, por fim, o (Se)Cura Humana afirma ser imprescindível a reinvenção de um novo modelo de cidade.

33 Relatório Como Anda. Disponível em: < http://comoanda.org.br/wp- content/uploads/2017/04/170221_ComoAnda_Relat%C3%B3rioFinal_R01-1.pdf> Acesso em: 18 ago. 2018. 203

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tratar do urbano implica, entre outras coisas, refletir sobre o público e o privado enquanto justaposições de uma construção e convivência que materializa a cidade. O espaço público em Arendt (2000) é constituído pela aparência, pela visibilidade e se relaciona com o mundo enquanto artefato ou produto humano, por meio da palavra e da ação resultantes que são da pluralidade da condição humana.

A tessitura do presente trabalho foi concebida a partir de 3 critérios: o continente, a contingência e o conteúdo.

No continente, que se assume como a cidade, se percebe, apesar da materialidade das edificações e tudo quanto conforma a cidade, um infindável rol de possibilidades de efetivação da urbanidade que, em Benjamim (2012), recebe a denominação de porosidade. São as muitas possibilidades passíveis de serem empreendidas por meio do direito à cidade, constituindo as urbanidades desejadas. O entendimento de que a possibilidade de apropriação do espaço urbano, na perspectiva de construção de uma urbanidade desejada, está além do direito de ir e vir, faz vislumbrar a cidade não apenas como palco, mas, sobretudo, como objeto de intervenção. Nesta dinâmica, mais do que se apropriar do que está disponível, o indivíduo exerce o seu direito à cidade por meio da construção e/ou alteração do que falta, do que lhe apraz, do que o faz feliz.

A crescente tendência, como refere Costa (2010), para a consideração do Outro no contexto dos novos formatos de convivência encontra no pós-estruturalismo o substrato daquilo que é essencial. Aqui, onde o protagonismo do sujeito dilui-se (Barthes e Foucault apud Costa, 2010), toma corpo uma outra composição, orgânica e multifacetada, cujo entrelaçamento estrutura e consolida múltiplos saberes. As figuras constitutivas desta imensa rede transmutam uma posição central, de domínio, por uma de mediação. 204

Falar de cidade, enquanto encontro, é axiomático. Torna-se menos óbvio sob a perspectiva do que é cênico. “O espaço é o lugar do encontro e o produto do próprio encontro; a cidade ganha teatralidade e não existe dissociada da gente que lhe dá conteúdo e determina a sua natureza” (CARLOS, 2015 p. 73), o que não refuta o paradoxo contido na cidade e que se materializa na contraposição entre sujeito e mercado.

Na concepção de cidade, a urbanidade, enquanto conceito, pode constituir, numa abordagem preliminar, a ideia exclusiva da tangibilidade das edificações nela contidas. Mas a urbanidade enquanto desejo daquele que habita a cidade é, também, o etéreo das relações empreendidas e a forma como o indivíduo interage com a cidade.

No desenvolvimento do segundo critério, e à luz da psicologia experimental, foi incorporada a ideia de que em face de certa contingência, um estado instalado pode ser alterado e replicar desdobramentos. Para a presente pesquisa, a contingência que alterou o que se supunha em estado de equilíbrio foi o rol de manifestações conhecidas como Manifestações de Junho de 2013.

O mote de tais manifestações, em resposta ao aumento da tarifa de transportes públicos, tenta deixar claro que não tem motivação exclusivamente econômica. É o culminar de uma série de fatos que o desagrado não quer calar. Movimentos como o Passe Livre ou Black Blocs, entre outros, se articulam e tomam as ruas das cidades com o objetivo de protocolar o descontentamento que, na perspectiva dos manifestantes, é geral e legítimo. A pauta de reivindicações se amplia. As manifestações persistem e o braço de ferro faz as instâncias superiores recuarem ante a intensidade da força que se viu nas ruas. O contexto em que se dão os referidos movimentos é do fechamento da cidade sobre si mesma, com a construção de lugares cada vez mais herméticos, assépticos e exclusivos.

Ao contrário de Chauí (2013), que considera mito a menção ao fato que junho de 2013 foi o turning point para os jovens de classe média saírem da "bolha" do condomínio e 205

do shopping center e ocuparem as ruas, a presente pesquisa entende que a partir deste momento, como que revigorada e saída de um transe urbano, São Paulo vê uma crescente movimentação de ocupações urbanas como se o assenhoramento da cidade se fizesse urgente e inevitável.

Nesta perspectiva, a noção de que o espaço público é pertença daquele que habita a cidade, o cidadão, passa a ser resgatada nos tempos recentes em São Paulo, por meio do surgimento de inúmeras iniciativas, em cuja base se encontra o indivíduo, articulado de modo virtual, em rede, formando redes de interesses afins, materializadas que foram em vários coletivos instalados no centro expandido e não só. Como desdobramento desta apreensão, em processo de recuperação, resulta a responsabilização de uma construção cidadã. A par deste binômio pertença- responsabilização, que traduz a liberdade de escolha em Sartre (1967), mesclam-se objetivos, atores e formas de atuação num processo de acomodação de novas convivências.

Já o terceiro critério, o conteúdo, trata das iniciativas que, fruto da inovação urbana, são empreendidas (e percebidas) no sentido da construção coletiva, contrastando com as perspectivas unitárias e os objetivos individuais.

O espaço que abriga e, sobretudo, fomenta esta inovação, enquanto resposta à complexidade contemporânea, por vezes não materializa o resultado esperado dado não apresentar a necessária articulação com demais aspectos contemporâneos. A premissa deste sentido integrativo, em Manzini (2008), assenta na necessidade de alteração do que está estabelecido, ou seja, na interrupção das dinâmicas atuais.

Como referido em estudo realizado em 2006, a Young Foundation (2006 apud Manzini, 2008) afirma que em cenário de surgimento (e proliferação) de novas tecnologias ou de problemas particularmente urgentes ou difusos há a tendência para surgir um dos tipos de inovação, a de base.

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Mais de uma década depois de publicado o estudo, e levando-se com conta a atual conjuntura social e política do Brasil, e por extensão a de São Paulo, que para a presente pesquisa tem como marco os acontecimentos de junho de 2013, aliados ao hiperdesenvolvimento das novas tecnologias e do uso das redes sociais como instrumento de comunicação, o que se percebe na cidade de São Paulo (e não só) é uma proliferação de iniciativas deste tipo de inovação, a inovação social.

O formato em rede, aquele onde o processo colaborativo multiplica exponencialmente as possibilidades, acontece de forma transversal, não reconhecendo hierarquia ou estrutura rígida. Está presente a desconstrução dos modelos pré-estabelecidos e, também, a presença do autor. A fragmentação desse modus operandi transforma o usuário passivo em partícipe. A partir deste momento o usuário toma para si a responsabilidade de mediar o processo coletivo não havendo, portanto, nessa estrutura contemporânea a figura do agente único e principal das iniciativas (Barthes, 2004).

Embora o arco de tempo, entre junho de 2013 e a atualidade, em termos históricos, seja curtíssimo, foi possível obter um panorama parcial das práticas, objeto do presente trabalho.

Muito alinhado à premissa conceitual do método cartográfico de Deleuze e Guattari (2000), que privilegia os processos qualitativos em detrimento dos apuramentos quantitativos, a pesquisa pôde, por seu cronograma de desenvolvimento, ter a percepção do surgimento, das dinâmicas e da visibilidade adquirida pelas iniciativas. A premissa de abordagem do método cartográfico, que assenta na disponibilidade integral da “experimentação ancorada no real”, em formato flexível, levando-se em conta o desenvolvimento e a multiplicidade das variáveis, permitiu elaborar um panorama conceitual e metodológico das práticas.

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Por outro lado, optou-se igualmente pela realização de pesquisa sistematizada, por meio de questionário online, que permitisse obter dados suplementares para aferir os resultados e desdobramentos, entre outros.

Da leitura empreendida foi possível concluir que o método de trabalho dos coletivos, em sua maioria, privilegia a construção coletiva e participativa nas definições e no desenvolvimento levando em consideração o contexto e as necessidades inerentes aos espaços, objetos das ações. O design thinking é uma das ferramentas inerentes a estes processos em função de sua premissa conceitual que contempla o reconhecimento de padrões e o desenvolvimento de ideias para construir sentidos mais do que fazer sentido. Em Brown (2010), o design thinking não se limita a apontar o holofote da solução projetual para o ser humano, mas trazê-lo para o centro da dinâmica de desenvolvimento, incluindo a sua ótica, de usuário, como voz ativa na concepção da solução.

Como resultado das ações foi possível identificar a ativação de vazios e/ou espaços esvaziados de funções coletivas, por meio da articulação de cidadãos afins, promovendo ainda a prática do voluntariado, não na perspectiva do assistencialismo, mas sob a ótica da conformação de uma convivência que busca o alinhamento, a discussão, o processo e a busca de resultados com objetivos comuns e coletivos. O placemaking também surge como processo de trabalho nas referidas ações, na medida em que busca revigorar os espaços públicos, fortalecer a interação entre as pessoas por meio da ludicidade presente nas atividades desenvolvidas (artísticas, econômicas, sociais, sustentáveis).

A pesquisa deixou entrever um crescimento de iniciativas de produção urbana de alimentos, com o surgimento de hortas comunitárias, não apenas em terrenos e espaços dos bairros, mas em equipamentos como a horta instalada na laje da Galeria do Rock, no centro de São Paulo, o Jardim do Rock, surgida em 2016, e a horta do CCSP Centro Cultural São Paulo, surgida em 2013, como desdobramento do Grupo de Facebook Hortelões Urbanos, para citar apenas algumas. 208

Converge para Schröder (2018) a premissa de uma dinâmica rural-urbana distinta que sobrepõe as duas dimensões, formando um híbrido, ou seja, um novo produto, que demanda novas formas de atuação e, como consequência, trará novas espacialidades e formas de futuro.

Em termos do método cartográfico de pesquisa, é possível comprovar a hipótese da presente tese, ou seja, que as manifestações de 2013 (em São Paulo) desencadearam uma percepção distinta da relação cidadão-cidade, convergindo para o conceito da liberdade de escolha e da responsabilização em Sartre (1967), alterando a partir daí, significativamente, os processos de apropriação urbana.

Para o universo respondente está em curso uma alteração da forma de interação entre o indivíduo e a cidade. A percepção é que o processo de mudança está em desenvolvimento seja pela facilitação do meio digital, nomeadamente, das redes sociais, seja pelo descontentamento em face da representação política ou pela percepção que os modelos urbanos instalados não se mostram compatíveis com a sustentabilidade em sua amplitude social, econômica e ambiental. O resultado quantitativo, derivado da pesquisa, mostra que do grupo de coletivos elencados, 57% surgiram a partir de 2013 e, no âmbito do universo respondente, esta cifra sobe para 77%.

O levantamento realizado para a pesquisa se ateve, por força das circunstâncias, às iniciativas com suficiente visibilidade para serem encontradas por meio de pesquisas digitais. Em muitos casos foi difícil localizar estas ações na internet, de forma geral. ou por meio de redes sociais e, ainda, estabelecer contato ou obter feedbacks.

Por fim, é relevante mencionar que a discussão do direito à cidade não trata da nostalgia, como se fosse um resgate à uma vivência anterior. É factual a transformação das cidades, a transformação das pessoas, e, em decorrência disto, das necessidades surgidas. Resgatar uma convivência descontextualizada seria utópico. Irrealizável. Este direito não pode, e nem deve, ser entendido como um “retorno às cidades tradicionais” (HARVEY, 2013 p. 28). 209

Deve, antes, ser a formulação de uma nova possibilidade, alinhada com o conceito do Direito Achado na Rua (Lyra Filho, 1993 apud Sousa Júnior, 2016) que busca fazer a leitura dos acontecimentos, dos novos espaços sociais daí resultantes e da efetivação da justiça à luz dos direitos humanos.

Deve também fomentar as possibilidades que emergem da porosidade inerente ao espaço urbano, entendendo contextos e as especificidades que a pluralidade oferta. As proposições, frutos que são de uma nova leitura da cidade, consubstanciam a interação contemporânea entre conteúdo e continente, cidadão e cidade, por meio do entendimento do direito à cidade como acesso ao que ali está ofertado, mas, também, ao que ali é possível empreender de forma coletiva e para o coletivo. As práticas, que se multiplicam, em formatos, desenhos e objetivos, numa composição híbrida que grafa o urbano, alteram paisagens, ativam espaços e promovem conexões.

A busca da urbanidade desejada não contempla apenas o que é tangível, ou seja, a cidade. É também, e sobretudo, o que é intangível. O que move os indivíduos.

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217

ANEXOS

ANEXO A CARTA COMPROMISSO COM A MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL PARA SÃO PAULO

Seguindo as diretrizes das propostas e prioridades da Política Nacional de Mobilidade Urbana, assumo, com as cidadãs e os cidadãos paulistas, caso seja eleita(o) para o Governo do Estado de São Paulo, o compromisso de trabalhar para cumprir os compromissos a seguir, ao longo de minha gestão:

A – Fortalecer a Participação Social 1) Criar Conselhos Participativos Metropolitanos de Mobilidade, de forma que cada figura integrante conte com um conselho; 2) Criar um Conselho Participativo Estadual de Mobilidade; 3) Implantar projetos de transparência e participação na Secretaria de Transportes Metropolitanos, com vistas a ampliar o debate público sobre os projetos metroferroviários, de transporte por ônibus, bicicleta ou para pedestres;

B – Valorizar e incentivar a mobilidade por bicicleta 4) Auxiliar técnica e financeiramente os municípios na elaboração de planos integrados de ciclovias para regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; 5) Adequação e sinalização de rodovias para tráfego de bicicletas, com enfoque nos trechos urbanos conforme Artigos 57 e 58 do CTB, em linha com o Plano Cicloviário do Estado de São Paulo Lei Estadual 10.095/98, promovendo também o cicloturismo; 6) Promover integração do uso da bicicleta com os transportes coletivos da gestão estadual pela implantação e ampliação dos bicicletários nos equipamentos de transporte, em linha com o Plano Cicloviário do Estado de São Paulo Lei Estadual 10.095/98, com destaque para o incentivo ao uso da bicicleta por estudantes;

C – Valorizar e incentivar a mobilidade a pé 218

7) Assessorar os municípios em projetos visando a melhoria da condição da mobilidade a pé nas cidades, melhorando calçadas e travessias; 8) Elaborar plano para melhoria das condições da mobilidade a pé em rodovias estaduais, no perímetro urbano ou com fluxo de pedestres, com foco para regiões metropolitanas e aglomerações urbanas e integrado ao transporte coletivo;

D – Reduzir as mortes no trânsito no estado 9) Elaborar planos de segurança viária para rodovias estaduais, principalmente em trechos metropolitanos e aglomerações urbanas, com implantação de dispositivos de acalmamento de tráfego para reduzir a dependência de passarelas e redução uniforme dos limites de velocidade máxima, em conjunto com o reforço de operações de fiscalização de condutores de veículos nos horários e locais com maior ocorrência de acidentes e atropelamentos; 10) Elaborar programa de assessoria a municípios, especialmente os pequenos e médios que não possuem a municipalização da gestão de transporte, para planos de segurança viária;

E – Qualificar e expandir o sistema de transporte sobre trilhos 11) Concluir a modernização da malha do Trem Metropolitano da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM, conforme previsões existentes, com vistas à redução do intervalo entre os trens, reconstrução das antigas estações, adição de estações previstas e implantação de acessibilidade, conforme TAC homologado com o MP; 12) Reavaliar e efetivar os projetos estagnados para continuidade à expansão da malha da Cia. do Metropolitano de São Paulo – Metrô, com vistas à conclusão das linhas já iniciadas e também a modernização das estações existentes; 13) Avaliar e rediscutir a Câmara de Compensação instaurada nos processos de concessão, que subfinancia as empresas metroferroviárias estatais sob responsabilidade da Secretaria dos Transportes Metropolitanos; 14) Avançar e concluir o planejamento de uma rede regional de trens, priorizando o que já foi planejado pela STM; F – Tornar mais eficiente e atrativa a mobilidade por ônibus 219

15) Implantar faixas exclusivas de ônibus nas áreas urbanas das rodovias estaduais; 16) Concluir a concessão dos serviços intermunicipais de ônibus de forma a garantir uniformidade no padrão de atendimento da EMTU; 17) Avançar no planejamento de uma gestão e articulação entre as redes metropolitanas de ônibus nas regiões metropolitanas do estado, buscando unificação do planejamento, evitar sobreposições, e buscando integração tarifária, inclusive com os trilhos, e, no longo prazo, integração completa das redes; 18) Alterar o marco regulatório para que os atuais serviços intermunicipais sob responsabilidade da Artesp passem para a responsabilidade da EMTU, e para que a EMTU passe a atuar também nas aglomerações urbanas;

G – Garantir mais recursos para a Mobilidade Coletiva e Ativa 19) Manejar os recursos de modo a priorizar investimentos em modos coletivos e ativos, em detrimento da rede rodoviária do estado, a qual já recebe investimentos há mais tempo, e está mais consolidada; 20) Criar fundo de mobilidade que possa financiar o transporte público, com fontes de recursos definidos como multas de trânsito, inspeção veicular e outros impostos estaduais, visando apoiar políticas para modicidade tarifária de transporte público e investimentos em infraestrutura para mobilidade ativa e coletiva;

H – Promover a sustentabilidade ambiental 21) Instituir a Inspeção Veicular Obrigatória em todo o estado, visando controlar a emissão de poluentes, cumprindo o prazo estabelecido de 31 de dezembro de 2019 pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran); 22) Estabelecer um cronograma para gradual substituição das frotas de veículos automotores operados ou pertencentes ao governo do estado, sua administração direta, indireta, autarquias, empresas públicas e concessionárias, por matrizes energéticas menos poluentes, incluindo, mas não limitado a, ônibus, carros oficiais, microônibus, vans, viaturas, caminhões de lixo, ambulâncias etc;

I – Avançar no debate sobre a Autoridade Metropolitana de Mobilidade 220

23) Avançar no debate sobre a criação de uma Autoridade Metropolitana de Mobilidade Urbana dentro da discussão do PDUI, com debate sobre a integração entre as operações, fundos para financiamento da mobilidade urbana, política tarifária, metas, governança da autoridade e participação social.

221

APÊNDICES

APÊNDICE A Levantamento final | Exterior ao Eixo Expandido de São Paulo

COLETIVOS ATUAÇÃO ENDEREÇO 1 Academia Periférica de CULTURAL http://academiaperifericadelet Letras ras.blogspot.com.br/

2 AEUSP - Associação de EDUCAÇÃO S/Endereço Educadores da USP

3 Agência de Redes para Juventude 4 Agência Popular de Cultura Solano Trindade 5 Alma Preta MÍDIA http://www.almapreta.com/

6 AMO - Associação CULTURAL https://www.facebook.com/pg Mulheres de Odun /associacaomulheresdeodun/a bout/ + https://comunicaamo.wordpre ss.com/ 7 Associação Cultural e Educacional Movimento Hip Hop Revolucionario – MH2R 8 Associação Franciscana DESENVOLVIMENTO de Defesa de SOCIAL Direitos e Formação Popular 9 Banco Comunitário FINANCEIRO http://bancocomunitariosampa União Sampaio io.blogspot.com.br/ 10 Bloco do Beco CULTURAL https://www.blocodobeco.org/ + blank URBANO 11 Blog NegroBelchior MÍDIA + http://negrobelchior.cartacapit CULTURAL al.com.br/ 12 Brechoteca - Biblioteca CULTURAL http://brechoteca.blogspot.co Popular (Biblioteca) m.br/p/quem-somos.html

13 Brincantes Periféricos 14 CAP - Coletivos Culturais CULTURAL https://www.facebook.com/col de Cidade Ademar e (Intervenções?) etivosculturaiscidadeademarep Pedreira edreira/

15 Casa no Meio do Mundo CULTURAL https://www.facebook.com/cas + anomeiodomundo/ URBANO 16 Catorze de Maio ATIVISMO http://catorzedemaio.blogspot. com.br/ 222

17 Caxueras - Espaço RESGATE DA MEMÓRIA https://www.facebook.com/pg Cultural Cohab Raposo LOCAL /Centro-de-Mem%C3%B3ria- Tavares (Memória e COHAB-Raposo-Tavares- Ação Cultural Cohab 523314904393735/about/?ref= Raposo Tavares) page_internal

18 Centro de Inovação Popular 19 Cine da Quebrada CULTURAL https://www.facebook.com/Cin eDQuebrada/ 20 Coletiva Trajetórias ATIVISMO https://www.facebook.com/tra Feministas de Teatro jetoriasfeministas/ das Oprimidas + http://trajetoriasfeministas.blo gspot.com.br/ 21 Coletivo ArteFato CULTURAL https://www.facebook.com/col (Intervenções?) etivoartefato/

22 Coletivo Brincantes URBANO http://brincantesurbanos.wixsit Urbanos e.com/portfolio

23 Coletivo Perifatividade CULTURAL https://perifatividade.com/ (Intervenções?)

24 Coletivo Salve Kebrada RESGATE DA MEMÓRIA https://www.facebook.com/sal LOCAL vekebrada/ (Intervenções?)

25 Comitê SP da Campanha EDUCAÇÃO http://campanha.org.br/ Nacional pelo Direito à Educação

26 Comunidade Cultural CULTURAL https://www.facebook.com/qui Quilombaque (Intervenções?) lombaque/

27 Comunidade Portelinha CULTURAL https://www.facebook.com/pg & Viela 18 - Família (Intervenções?) /comunidadeportelinhaviela18/ Unida, Esmaga Boicote! about/?ref=page_internal

28 Desenrola E Não Me MÍDIA http://desenrolaenaomenrola.c Enrola om.br/

29 EIA, Experiencia https://www.facebook.com/ex Imersiva Ambiental perienciaimersivaambiental/po sts/649792951786478 30 Espaço Comunidade CULTURAL http://www.espacocomunidad e.com.br/ 31 Espaço de Formação ATIVISMO https://www.facebook.com/pg Assessoria e /ESPA%C3%87O- Documentação FORMA%C3%87%C3%83O- ASSESSORIA-E- DOCUMENTA%C3%87%C3%83 O-270421536315297/about/ + https://www.espaco.org.br/ 223

32 Favela do Moinho ATIVISMO https://www.facebook.com/m Resiste + oinhoresiste URBANO 33 Felizs - Feira Literária da CULTURAL http://www.felizs.com.br/musi Zona Sul + c/ URBANO 34 Forro da Quebrada CULTURAL https://www.facebook.com/pg (Intervenções?) /ForroDaQuebrada/about/?ref =page_internal + http://www.forrodaquebrada.c om.br/ Gelatéca URBANO https://www.facebook.com/pg /Gelateca/about/?ref=page_int ernal 35 Grupo OPNI (1977) CULTURAL http://grupoopni.com.br/site/ São Matheus + e-mail: URBANO [email protected] m e-mail: [email protected] m Telefone: 55 11 2011-5884 De segunda a sexta, das 11h às 16h https://www.facebook.com/pg /grupoopni/about/?ref=page_i nternal 36 Igor Gasparini, T.F.Style CULTURAL http://tfstyle.com.br/personnel Cia de Dança + /igor-gasparini/ URBANO + 37 Imargem CULTURAL http://imargem.art.br/#s-o- + imargem URBANO + https://www.facebook.com/Im argem/ 38 Instituto Haphirma de CULTURAL https://www.facebook.com/pg Comunicação, Cultura, + /haphirma/about/?ref=page_in Cidadania e Educação MÍDIA ternal Social + DESENVOLVIMENTO SOCIAL (Intervenções?) 39 Instituto Reação, Arte e CULTURAL https://institutoreacao.wordpr Cultura. + ess.com/institucional/ URBANO 40 Mães de Maio ATIVISMO https://www.facebook.com/ma es.demaio/ 41 Marginaliaria (2010) CULTURAL [email protected] São Miguel Paulista https://www.facebook.com/pg /foradoeixo/about/?ref=page_i nternal 42 MH2O Hip-Hop CULTURAL http://www.direitosdacrianca.g Organizado + ov.br/em-pauta/hip-hop-e-

224

DESENVOLVIMENTO usado-como-forma-de-discutir- SOCIAL cultura-e-violencia

43 MOSH A Posse CULTURAL https://www.facebook.com/M OSHposse/ 44 Movimento Ocuparte CULTURAL https://www.facebook.com/pg + /MovimentoOcuparte/about/?r URBANO ef=page_internal 45 Periferia em Movimento MÍDIA http://periferiaemmovimento.c om.br/quem-somos/ 46 Praçarau URBANO http://www.31bienal.org.br/pt /events/1433 + http://g1.globo.com/sao- paulo/parceiro- sp/noticia/2014/04/praca-vira- espaco-para-saraus-na-zona- sul-de-sp.html 47 Projeto Comunidade CULTURAL http://www.sambadomonte.co Samba do Monte m.br/2011/07/como- comecou.html 48 Projeto Hip-Hop no CULTURAL https://www.facebook.com/Hi Monte pHopNoMonte/?ref=nf

49 Projeto Moinho Vivo NÃO EXISTE MAIS

50 Quebrada de Coco EVENTO ESPORÁDICO 51 Quilombação ATIVISMO https://quilombacao.wordpress .com/quem-somos/ 52 Rede Cultural Oeste CULTURAL https://www.facebook.com/pg /redeculturaloeste/about/?ref= page_internal 53 Rede de Educação EDUCAÇÃO http://recid.redelivre.org.br/co Cidadã + mo-nos-organizamos-2/ ATIVISMO 54 Rede Usina Geradora CULTURAL Origem:Campinas https://www.facebook.com/pg /UsinaGeradora/about/?ref=pa ge_internal 55 Reviravoltas Máfia CULTURAL https://twitter.com/rmafia

56 Role_De_Bike EVENTO https://www.facebook.com/Ro ESPORÁDICO ledBike/ 57 Rua de Fazer CULTURAL http://ruadefazer.blogspot.com + .br/p/o-projeto.html URBANO Objetivo Rua de Fazer terá como objetivo a realização de atividades em ruas de lazer no distrito do lajeado, com o intuito de valorizar as praticas culturais nas ruas usando como instrumento de registro as 225

linguagens audiovisuais e escritas, como foto, vídeo e elaboração de fanzines.

58 Sacolão das Artes CULTURAL https://www.facebook.com/sac olaodasartes/ + http://sacolaodasartes.blogspo t.com.br/ 59 Sarau da Ademar CULTURAL https://www.facebook.com/sar (Intervenções?) audaademar.ademar?lst=15869 59377%3A100002117344247% 3A1506134844 60 Sarau do Binho CULTURAL https://www.facebook.com/Sar (Intervenções?) auDoBinho/ + http://saraudobinho.blogspot.c om.br/ 61 Sarau do Pira com Zé Sarmento e Marcio Rodrigues

62 Sarau na Quebrada CULTURAL http://saraunaquebrada.blogsp (Intervenções?) ot.com.br/ 63 Sarau Verso em Versos CULTURAL / http://www.versoemversos.co ARTÍSTICO m.br/p/quem-somos_05.html + URBANO

64 Slam da Guihermina CULTURAL / https://www.facebook.com/pg ARTÍSTICO /slamdaguilhermina/about/?ref + =page_internal URBANO

65 Sonia Bischain, Coletivo ATIVISMO http://esperanca- Cultural Poesia na Brasa + garcia.blogspot.com.br/p/nos.h CULTURAL tml 66 Uneafro-Brasil ATIVISMO http://uneafrobrasil.org/uneafr + o-brasil/ EDUCAÇÃO 67 Verso em Versos CULTURAL / http://www.versoemversos.co ARTÍSTICO m.br/ + URBANO

226

APÊNDICE B

Levantamento | Eixo Expandido de São Paulo

COLETIVOS ANO ATUAÇÃO ENDEREÇO ELETRÔNICO ÁREA 1 A Batata Precisa de Você 2013 CULTURAL http://largodabatata.co Pinheiros + m.br/a-batata-precisa- URBANO de-voce/ https://www.facebook.c om/abatataprecisadevoc e/ 2 ARRUA Coletivo 2012 CULTURAL https://coletivoarrua.org Barra Funda + /quem-e-arrua/ URBANO https://www.facebook.c om/pg/ArruaColetivo/ab out/?ref=page_internal 3 Associação Parque 2013 CULTURAL http://minhocao.org/ Barra Funda Minhocão + https://www.facebook.c URBANO om/parqueminhocao/ 4 Baixo Centro (Festival) 2011 CULTURAL facebook.com/BaixoCent Consolação + ro URBANO 5 Casa da Lapa 2005 CULTURAL https://casadalapa.net/ Lapa + https://www.facebook.c URBANO om/pg/casadalapasp/ab out/?ref=page_internal 6 Ciclocidade 2009 SAÚDE https://www.ciclocidade Consolação + .org.br/ URBANO 7 Cidade Ativa 2014 URBANO https://cidadeativa.org/ Pinheiros https://www.facebook.c om/cidade.ativa.cidade/ 8 Cidadeapé – Associação pela2015 URBANO https://cidadeape.org/q Pinheiros Mobilidade a Pé em São uem-somos/ Paulo https://www.facebook.c om/cidadeapesp/ 9 Corrida Amiga 2014 SAÚDE http://corridaamiga.org/ Pinheiros + https://www.facebook.c URBANO om/corridaamiga/ 10 Coletivo Bijari 1997 CULTURAL http://www.bijari.com.b Pinheiros + r/ URBANO https://www.facebook.c om/bijari.design/ 11 Formiga-me 2015 CULTURAL https://formiga.me/ Perdizes/ + Pompéia/ URBANO Sumaré 12 Florestas de Bolso s/d URBANO http://www.cardimpaisa Pinheiros gismo.com.br/projetos/fl oresta-de-bolso/ 13 Hortas das Corujas 2012 AGRICULTURA https://hortadascorujas. Pinheiros URBANA wordpress.com/ (Vila Beatriz) 14 Horta das Flores 2014 AGRICULTURA https://www.facebook.c Móoca URBANA om/hortadasflores/?rf=1 02837923403340 227

15 Mão na Praça 2013 URBANO https://www.facebook.c Barra Funda om/movimentomaonapr aca 16 Matilha Cultural 2009 CULTURAL https://www.matilhacult Consolação + ural.com/ URBANO 17 Microtopia 2016 URBANO https://www.facebook.c Aclimação om/microtopia/

18 Movimento Boa Praça 2008 URBANO http://movimentoboapr Perdizes/ aca.com.br/ Pompéia/ Sumaré 19 Ocupe e Abrace 2013 CULTURAL https://www.facebook.c Perdizes/ + om/pg/PracaDaNascente Pompéia/ URBANO /about/ Sumaré 20 Aliados do Parque Augusta 2013 URBANO https://www.facebook.c Consolação om/parqueaugusta/ 22 Organismo Parque Augusta 2013 URBANO https://www.facebook.c Consolação om/pg/parqueaugustaja /about/?ref=page_intern al 22 Pimp My Carroça 2007 CULTURAL http://pimpmycarroca.c Pinheiros + om/ SOCIAL 23 Se(Cura) Humana 2015 URBANO http://www.securahuma Perdizes/ na.com/ Pompéia/ https://www.facebook.c Sumaré om/pg/securahumana/a (Vila Anglo bout/?ref=page_internal Brasileira) https://www.nexojornal. com.br/expresso/2016/1 2/27/Este-grupo-quer- transformar-as- nascentes-de- S%C3%A3o-Paulo-em- %E2%80%98cachoeiras- urbanas%E2%80%99

228

APÊNDICE C Questionário Consolidado Questionários Individuais

229

INOVAÇÃQUESTIONSO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULORESPONSES | Tática, ação,9 apropriação

9 responses

SUMMARY INDIVIDUAL Accepting responses

1) Nome do Coletivo 9 responses

Cidade Ativa

Associação Parque Minhocão

Microtopia

Bijari

mão na praça

Ocupe & Abrace

(se)cura humana

Formiga-me

Voluntários da Horta das Corujas

2) Existe desde quando? 9 responses 230 2 2 2 (22.2%) (22.2%)

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)? 9 responses

Sim Não 66.7%

33.3%

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 3 responses

2014

2013

2001

5) Como classicaria a área de atuação do coletivo? 9 responses 231 A. Artístico (Produz e replica projeto… B. Ativismo 33.3% C. Apropriação Urbana (Utilização o… 11.1% D. Cultural (Media a produção cultu…

6) Se: Outros. Qual seria a área? 5 responses

Difícil encaixar nas categorias acima elencadas: Nós trabalhamos com pesquisa, projeto (que inclui apropriação urbana), educação, mídia e ativismo.

A + B + C + G + Design

paisagismo

Ocupação Cultural e Sustentável da Praça da Nascente

A, B, C e J

7) Está instalado na cidade de São Paulo? 9 responses

Sim Não

100%

8) Se sim: Em qual bairro e zona? 9 responses 232

Sumaré

Santa Cecília

Aclimação/Centro expandido

Vila Madalena - Zona Oeste

vila madalena

Bairro Pompeia - Zona Oeste

Vila Anglo Brasileira

Não temos espaço físico e os eventos variam, mas estamos entre e Sumaré

Vila Beatriz, Zona Oeste

9) Atua no mesmo local em que está inserido? 9 responses

Sim 44.4% Não Também

11.1%

44.4%

10) Se Não ou Também: em quais bairros? 5 responses

Atuação local (São Paulo) mas também em outras cidades e a nível nacional

Cambuci

Diversos

Já atuamos apoiando outras iniciativas pela cidade, mas o foco da ação é na Praça da Nascente 233 fazemos eventos em vários locais da cidade, depende de onde chamam a gente

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo? 9 responses

Promover cidades mais ativas

Garantir o uso do Minhocão como área de lazer, esporte, arte e convívio

Construção de urbanidades e participação popular

coletivo de criação de artes visuais e multimídia que tem como objeto de interesse as narrativas, discursos, poéticas e conitos que moldam e dão vida à paisagem urbana. A reexão crítica sobre a produção simbólica dos espaços nas cidades é expressa em trabalhos na fronteira entre arte, política e vida cotidiana com o objetivo de deixar à mostra as ssuras sociais.

revitalizar uma praça

Ocupar de forma amorosa um espaço amplo e verde do bairro, trazendo de volta a sua origem: um espaço de lazer na cidade e de reconexão com a natureza. Começamos fazendo festivais na praça - um dia de atividades culturais e sustentáveis, com música, ocinas com apoio de artistas e outros coletivos, sendo um a cada estação do ano. E aos poucos fomos fazendo também mudanças estruturais (plantas, pintar muro, abrir as nascentes, colocar cacimba, horta, etc).

Materializar utopias em busca de uma nova cidade para todos, integrando meio ambiente com a sociedade.

Inicialmente, como jornalistas queríamos mapear, conectar e divulgar as iniciativas dos coletivos e cidadãos comuns para transformar a cidade e se apropriar dos espaços públicos (hortas urbanas, tapar buracos, enfeitar árvores e postes etc.)

Criar uma horta comunitária

12) Quais os objetivos traçados inicialmente? 9 responses

promover o conceito active design; desenvolver projetos que seguissem metodologia. Hoje a atuação é mais ampla

Expandir o horário para as pessoas e ocializar o espaço como Parque Municipal

melhoria do espaço público

Fazer projetos de arte e design de forma autoral e sustentáveis.

revitalizar uma praça: plantio de mudas de ornamentais e árvores, e arte urbana 234 Queríamos incentivar as pessoas a usarem o espaço novamente que estava deixado de lado. A ideia sempre foi ser um dos atores a atuar na praça, e desde o início tivemos muito apoio de outros coletivos, organizações e também cobramos uma atuação mais presente da SubPrefeitura da Lapa (da qual a Praça faz parte).

Dar visibilidade às águas que existem em São Paulo.

Produzir reportagens sobre as iniciativas e se estabelecer como referência no tema

Educação ambiental, educação nutricional, atividades comunitárias, reconexão com a natureza, regeneração ambiental

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados? 9 responses

Sim Não Em parte

11.1%

88.9%

14) Por que? 7 responses

Conseguimos através do vereador Police Neto aprovar a Lei 16833 de 7 de fevereiro de 2018 que criou o Parque Minhocão e ampliou os horários para as pessoas ( fechamento para os carros as 20 horas , sábado integral)

Grande adesão da comunidade

Uma combinação entre o fazer artístico e o fazer comercial que nancia o coletivo. Seria impossível sobreviver apenas fazendo projetos de arte política e ativismo no Brasil.

realizamos 5 ações

As pessoas começaram a usar a praça da nascente para diversos motivos. Inicialmente a partir das nossas sugestões, e hoje naturalmente as pessoas estão lá - com suas crianças no parquinho, curtindo o lago, plantando ou simplesmente curtindo a praça 235 Devido aos trabalhos realizados: Parque Aquático Móvel, Lagos de concreto e Rio Paralelo Tamanduateí.

Porque em duas pessoas, com trabalho basicamente voluntário, é muito difícil produzir reportagens sucientes. Elas são trabalhosas, tomam tempo para produzir, e não tivemos tanto retorno em visibilidade. A balança não se equilibrou, então mudamos de foco.

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo? 9 responses

Olhe o Degrau; Como Anda

Até agora foi o marco legal. Estamos trabalhando para a prefeitura criar o Conselho Gestor do Parque Minhocão. Obtivemos em 8/8/2018 a instalação de uma base da GCM sobre a rampa de acesso na Praça Marechal.

Sala de Aula Pública

Carro Verde, natureza Urbana, Praças (im)possíveis

praça na vila madalena

Agora estamos com uma ação no Ministério Público para evitar que seja construído um empreendimento no perímetro da praça. Esse é o nosso maior foco da ação, porque já ouvimos diversos especialistas que dizem que duas torres de 22 andares, afetará diretamente as nascentes da praça. Provavelmente a água será jogada pra sarjeta, e o ecossistema acostumado com essa quantidade atual de água, será afetada com a diminuição do uxo. Além disso, fazemos mutirões pra manutenção do lago e acompanhamento da qualidade da água pelo SOS Mata Atlântida. Fazemos algumas intervenções ocasionais, como receber criança de escolas para conhecer a praça, participação em eventos (como será o caso da Virada Sustentável, etc). Organização dos Festivais.

Parque Aquático Móvel, Lagos de concreto e Rio Paralelo Tamanduateí.

Guia Mulheres na Cidade (www.mulheresnacidade.com.br)

Cuidar da horta

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc) 9 responses

Sim

Sim, o Olhe o Degrau está indo para sua 5a ação. 236 A recém criada Associação dos Moradores da Praça Roosevelt é parceira.

Sim os carros verdes foram replicados em várias cidades.

sim, em uma pequena praça na av. pacaembu

Sim, já participações de ações e mutirões promovidos por outros espaços que querem abrir as nascentes, como foi o caso do Iquiririm, entre outros. Além disso, participamos de eventos como Virada Sustentável, Cocidade, Path, TEDx e algumas iniciativas do SESC, levando a nossa experiência pra outros espaços. Além disso, servimos de exemplos e apoio para outras iniciativas como Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Largo da Batata, etc.

Não.

Sim, inicialmente começamos com um grupo fechado de coletivos para mapear as iniciativas, depois abrimos para dezenas de voluntárias. Hoje há mulheres de outras cidades pedindo que seja levado para lá.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações. 9 responses

O "Olhe o Degrau" é desenvolvido a partir de pesquisa (levantamento de dados em campo, que incluem informações sobre o ambiente e comportamento das pessoas; inclui olhar técnico e também opinião de usuários através de entrevistas); o..cinas colaborativas (no local de intervenção, ativando espaço temporariamente e convidando usuários e stakeholders a darem opinião sobre espaço); desenvolvimento de análises; projeto (pactuado com stakeholders, incluindo gestão pública); execução de melhorias (em forma de mutirão e engajando atores locais, como mão de obra contratada ou voluntária); medição do sucesso (coleta de dados para avaliar processo e estratégias de projeto).

Não desperdiçamos nenhuma oportunidade de avançar , mesmo pouco e lentamente com apoio e orientação de um Vereador atuante

Urbanismo tático, por meio de iniciativas bottom-up para construir o urbanismo de base

As ações são adivindas da identicação de Urgências na cidade, na sociedade, nos nossos corpos. Á partir dessas urgências elaboramos intervenções

Inicialmente encontro entre amigos, depois eventos abertos

Nossa metodologia é "faz-fazendo". Somos um grupo de pessoas propositivas, que acredita em apoiar ideias que fazem sentido dentro dessas duas temáticas: culturais e sustentáveis. Acreditamos no diálogo, na construção colaborativa e na ideia de testar ideias na ação.

Identicamos um fato absurdo na cidade, e propomos uma reinvenção de uso. No caso das águas de nascente e rebaixamento de lençol freático que se perdem, buscamos criar artifícios de ocupação dessas águas pelas pessoas.

Primeiro estamos fazendo o levantamento de iniciativas de mulheres para mulheres em SP (criamos uma série de critérios), depois vamos visitar e escrever sobre elas com ajuda das voluntárias, nós do coletivo vamos editar, padronizar e complementar, vamos passar para a equipe de arte e revisão, e estamos buscando parcerias para impressão.

Tudo espontâneo e registrado no grupo do facebook (Horta das Corujas) 237

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados? 9 responses

Sim Não

100%

19) Por que? 8 responses

Sim em partes. Veri..camos que cada contexto pede adaptações ao processo inicialmente desenhado

Por que tivemos resultados positivos

Obtenção de êxitos aos objetivos traçados.

Os métodos são aplicados e revistos, e isso é uma constante.

obtivemos boa participação dos moradores locais

Criamos um novo paradigma, de fazer junto. Não queremos ser os donos da praça, mas acreditamos que podemos facilitar essa relação entre as pessoas e o espaço, incluindo a própria prefeitura. Queremos todos fazendo sua parte.

Porque promoveu a integração da comunidade com as obras.

Porque tem dado certo para o projeto

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto? 7 responses 7 responses 238

Sim, resultado varia de acordo com o contexto (nível de engajamento, pós ocupação)

Foi até mais rápido que o esperado.

A técnica e a tática trouxeram o esperado, mais uma vez comprovando a ecácia do modelo aplicado

Os resultados sempre contém uma parte que funciona como esperado e outra que nos conta os próximos passos, seja para melhorar erros ou para avançar no que por acaso foi melhor que o esperado

Tenho uma apresentação que posso compartilhar com alguns números. Nossa missão principal foi alcançada: as pessoas estão usando a praça.

Alguns promoveram uma maior quantidade de pessoas, e resposta inesperada. Além da viralização dos nossos vídeos produzidos, alcançando milhares de pessoas.

Não temos resultados desse projeto ainda, pois está em processo. Mas podemos dizer que camos surpresas com a quantidade de pessoas disposta a ajudar como voluntárias. Abrangência é sempre um desao, pois as redes sociais restringem o alcance a uma bolha, e não temos recursos para impulsionar posts.

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade? 9 responses

Sim Não

100%

22) Se sim: por que? 8 responses

Por que está havendo mudança ou por que estou percebendo? Acho que há mudança de percepção por alguns motivos: investimento (ainda que pouco) em melhorias no espaço público permitem que população vislumbre novas 239 maneiras de usar a cidade; movimento internacional (investimento público e privado em mobilidade e espaços públicos); iniciativas de conscientização e engajamento aumentam sensação de pertencimento. Ainda assim, tudo isso acontece para uma parcela MUITO REDUZIDA da população

A mídia fala muito nisso e acaba inuenciando as pessoas

A ciência urbana é complexa e relativamente nova. É necessário um conjunto de valores para designarmos e medirmos avanços. Tais valores que, necessariamente, perpassam por política, educação e cultura. Dessa forma podemos armar que as políticas públicas da última gestão, com promoção cultural nos espaços públicos e fomento educacional em áreas periféricas proporcionaram maiores condições ao exercício da cidadania.

Se não provocarmos as pessoas a saírem de suas zonas de conforto e pensarem de outra forma ão avançamos. Toda vez que conseguimos isso percebemos mudanças.

porque as soluções podem ser mais simples e em menor escala, com o mínimo de apoio da prefeitura

Sim, direta ou indiretamente acabamos mostrando que é possível se tornar um agente empreendedor da cidade.

Porque as pessoas estão cada vez mais percebendo os absurdos e bizarrices provenientes da criação desse modelo de cidade que inventamos. Suas contradições, hipocrisias, descaso, etc. E isso vem afetando diretamente a vida das pessoas.

Porque o viver na cidade é histórico, e por isso está em constante transformação. De toda forma, com os movimentos de negritude e feminismo, entre outros, as pessoas estão se colocando de forma diferente nos espaços públicos no centro, mas não sabemos nas periferias, onde a realidade é bem mais difícil. Isso não signica que a cidade está se transformando para ser não-excludente. No início do projeto a gente acreditava que as pessoas estavam capitaneando mudanças reais na cidade e na apropriação dos espaços, mas não acreditamos mais nisso, pois o problema é muito estrutural e exige transformações estruturais.

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo? 9 responses

Sim Não

100% 240 24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo? 8 responses

Ver pesquisa Como Anda, que mostra grande número de iniciativas voltadas para o tema da mobilidade a pé surgindo a partir de 2013. No nosso relatório elaboramos algumas hipóteses

Vários grupos tem surgido e as mídias socais gratuitas e whatsapp facilitam muito esse trabalho

Na última gestão, a cidade de São Paulo experimentou a elasticização de modelos de gestão e ocupação em espaços públicos. Podemos destacar o carnaval e festas de rua como a "pilantragi"

As iniciativas colaborativas tem aumentado em todos ambitos, as mídias socias ajudam bastante nesse papel.No nosso caso que pensamos o espaço da cidade vemos uma mudança de paradigma no qual o Espaço público não é mais tema de polícia como a 20 anos atras, as pessoas se apropriam e querem utiliza-lo.

quantidade de grupos e eventos

Com certeza, desde que iniciamos muitos grupos se formaram - Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Iquiririm, Existe água SP, Secura Urbana, Batata que se quer... sem contar muitas empresas e coletivos, como Hey Sampa, Formiga.me, Cidade Ativa, Praças.com, Cocidade, etc. Que são grupos que de alguma forma apoiam que essas outras ações aconteçam tb. Até o carnaval de rua, e o seu crescimento nos últimos anos, mostra o interesse das pessoas em ocuparem mais os espaços.

Pelo mesmo motivo anterior.

A cidade tem sido reivindicada cada vez mais como plataforma dos ativismos por conta do crescimento desses movimentos organizados da sociedade civil. O surgimento da Minha Sampa lá atrás já era um indicativo, e hoje há diversas outras, cada uma no seu nicho (nas bikes, como Bike Anjas, Giro Preto; no feminismo com feiras como do Meu Clitóris Minhas regras; hortas urbanas mil, como Horta das Corujas, Batatas Jardineiras, estímulo ao caminhar com o Sampapé, movimento de requalicação de praças como o da Praça da Nascente... enm são inúmeros)

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base? 8 responses

Ver relatório do Como Anda: política nacional; gestão anterior de SP (Haddad) deu abertura para participação; investimento em espaços públicos e mobilidade ativa; repercussão de movimento internacional

Cidadania, baixa/lenta resposta do poder público, mais a tecnologia

Políticas públicas.

Resposta acima

apropriação da cidade, e insatisfação com o abandono da cidade

Por que está cando mais claro que é possível se tornar um agente empreendedor e produtor de cidade. Muita gente se inspira nessas ações e em outras pra começar a fazer e construir a cidade que deseja morar. Normalmente essas ações começam de desejos individuais, mas vão ampliando porque impactam outras pessoas que se sentem parte disso. 241 As pessoas querem uma qualidade de vida melhor na cidade em que habitam. E só a iniciativa popular, bairrista, para mobilizar as estruturas.

O governo Haddad deu um bom incentivo para elas. Acho que o poder público deve incentivar e trabalhar junto (em vez de desfazer o trabalho feito, como acontece) por meio de políticas públicas e editais. Pode inclusive atrelas esses trabalhos às escolas públicas, criando uma forma de multiplicar e educar para a cidadania. Há iniciativas privadas nesse sentido também, como da Red Bull, mas são pontuais.

26) Gostaria de acrescentar alguma informação? 6 responses

Nao

A nova gestão, João Dória e Bruno Covas, enterraram e sufocaram todas as iniciativas bottom-up na cidade de São Paulo.

nao

Temos algumas publicações e dissertações que já usaram a praça como estudo de caso. Vc pode achar mais infos por lá. Aqui tem a minha (Carla), mas há outras que podemos passar posteriormente. Preciso reuni-las. http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/UNISINOS/4055/1/CarlaFederizzi.pdf Mas o maior aprendizado é que as pessoas que não estão diretamente ligadas ao esforço do coletivo, elas precisam ser sensibilizadas. O maior desao é transformar as pessoas de consumidoras do espaço - que esperam as coisas prontas, com cara de revista, críticas aos problemas, para se tornarem colaboradoras das ideias.

Precisamos reinventar esse modelo de cidade em São Paulo.

nosso site: www.formiga.me

Obrigada! 9 responses

May 2018 21

Aug 2018 8 14 2 15

Nov 2018 8

Nov 2019 29

Dec 2019 5 10 242 243

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Cidade Ativa

2) Existe desde quando?

2014

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização?

2014 244 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

Difícil encaixar nas categorias acima elencadas: Nós trabalhamos com pesquisa, projeto (que inclui apropriação urbana), educação, mídia e ativismo.

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 245 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Sumaré

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

Atuação local (São Paulo) mas também em outras cidades e a nível nacional

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Promover cidades mais ativas

12) Quais os objetivos traçados inicialmente? promover o conceito active design; desenvolver projetos que seguissem metodologia. Hoje a atuação é mais ampla

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 246 14) Por que?

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Olhe o Degrau; Como Anda

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim, o Olhe o Degrau está indo para sua 5a ação.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

O "Olhe o Degrau" é desenvolvido a partir de pesquisa (levantamento de dados em campo, que incluem informações sobre o ambiente e comportamento das pessoas; inclui olhar técnico e também opinião de usuários através de entrevistas); o..cinas colaborativas (no local de intervenção, ativando espaço temporariamente e convidando usuários e stakeholders a darem opinião sobre espaço); desenvolvimento de análises; projeto (pactuado com stakeholders, incluindo gestão pública); execução de melhorias (em forma de mutirão e engajando atores locais, como mão de obra contratada ou voluntária); medição do sucesso (coleta de dados para avaliar processo e estratégias de projeto).

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não 247 19) Por que?

Sim em partes. Veri..camos que cada contexto pede adaptações ao processo inicialmente desenhado

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Sim, resultado varia de acordo com o contexto (nível de engajamento, pós ocupação)

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

Por que está havendo mudança ou por que estou percebendo? Acho que há mudança de percepção por alguns motivos: investimento (ainda que pouco) em melhorias no espaço público permitem que população vislumbre novas maneiras de usar a cidade; movimento internacional (investimento público e privado em mobilidade e espaços públicos); iniciativas de conscientização e engajamento aumentam sensação de pertencimento. Ainda assim, tudo isso acontece para uma parcela MUITO REDUZIDA da população

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não 248 24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

Ver pesquisa Como Anda, que mostra grande número de iniciativas voltadas para o tema da mobilidade a pé surgindo a partir de 2013. No nosso relatório elaboramos algumas hipóteses

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

Ver relatório do Como Anda: política nacional; gestão anterior de SP (Haddad) deu abertura para participação; investimento em espaços públicos e mobilidade ativa; repercussão de movimento internacional

26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

Obrigada! MM DD YYYY

05 / 21 / 2018

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Forms 249

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Associação Parque Minhocão

2) Existe desde quando?

2012

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização?

2013 250 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 251 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Santa Cecília

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Garantir o uso do Minhocão como área de lazer, esporte, arte e convívio

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Expandir o horário para as pessoas e ocializar o espaço como Parque Municipal

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 252 14) Por que?

Conseguimos através do vereador Police Neto aprovar a Lei 16833 de 7 de fevereiro de 2018 que criou o Parque Minhocão e ampliou os horários para as pessoas ( fechamento para os carros as 20 horas , sábado integral)

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Até agora foi o marco legal. Estamos trabalhando para a prefeitura criar o Conselho Gestor do Parque Minhocão. Obtivemos em 8/8/2018 a instalação de uma base da GCM sobre a rampa de acesso na Praça Marechal.

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

A recém criada Associação dos Moradores da Praça Roosevelt é parceira.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Não desperdiçamos nenhuma oportunidade de avançar , mesmo pouco e lentamente com apoio e orientação de um Vereador atuante

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Por que tivemos resultados positivos 253 20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Foi até mais rápido que o esperado.

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

A mídia fala muito nisso e acaba inuenciando as pessoas

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

Vários grupos tem surgido e as mídias socais gratuitas e whatsapp facilitam muito esse trabalho

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

Cidadania, baixa/lenta resposta do poder público, mais a tecnologia 254 26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

Nao

Obrigada! MM DD YYYY

08 / 08 / 2018

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Forms 255

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Microtopia

2) Existe desde quando?

2016

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 256 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 257 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Aclimação/Centro expandido

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

Cambuci

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Construção de urbanidades e participação popular

12) Quais os objetivos traçados inicialmente? melhoria do espaço público

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 258 14) Por que?

Grande adesão da comunidade

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Sala de Aula Pública

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Urbanismo tático, por meio de iniciativas bottom-up para construir o urbanismo de base

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Obtenção de êxitos aos objetivos traçados.

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

A técnica e a tática trouxeram o esperado, mais uma vez comprovando a ecácia do modelo aplicado 259 21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

A ciência urbana é complexa e relativamente nova. É necessário um conjunto de valores para designarmos e medirmos avanços. Tais valores que, necessariamente, perpassam por política, educação e cultura. Dessa forma podemos armar que as políticas públicas da última gestão, com promoção cultural nos espaços públicos e fomento educacional em áreas periféricas proporcionaram maiores condições ao exercício da cidadania.

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

Na última gestão, a cidade de São Paulo experimentou a elasticização de modelos de gestão e ocupação em espaços públicos. Podemos destacar o carnaval e festas de rua como a "pilantragi"

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

Políticas públicas. 260 26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

A nova gestão, João Dória e Bruno Covas, enterraram e sufocaram todas as iniciativas bottom-up na cidade de São Paulo.

Obrigada! MM DD YYYY

11 / 08 / 2018

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Forms 261

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Bijari

2) Existe desde quando?

1997

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização?

2001 262 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

A + B + C + G + Design

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 263 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Vila Madalena - Zona Oeste

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

Diversos

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo? coletivo de criação de artes visuais e multimídia que tem como objeto de interesse as narrativas, discursos, poéticas e conitos que moldam e dão vida à paisagem urbana. A reexão crítica sobre a produção simbólica dos espaços nas cidades é expressa em trabalhos na fronteira entre arte, política e vida cotidiana com o objetivo de deixar à mostra as ssuras sociais.

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Fazer projetos de arte e design de forma autoral e sustentáveis. 264 13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other:

14) Por que?

Uma combinação entre o fazer artístico e o fazer comercial que nancia o coletivo. Seria impossível sobreviver apenas fazendo projetos de arte política e ativismo no Brasil.

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Carro Verde, natureza Urbana, Praças (im)possíveis

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim os carros verdes foram replicados em várias cidades.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

As ações são adivindas da identicação de Urgências na cidade, na sociedade, nos nossos corpos. Á partir dessas urgências elaboramos intervenções 265 18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Os métodos são aplicados e revistos, e isso é uma constante.

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Os resultados sempre contém uma parte que funciona como esperado e outra que nos conta os próximos passos, seja para melhorar erros ou para avançar no que por acaso foi melhor que o esperado

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

Se não provocarmos as pessoas a saírem de suas zonas de conforto e pensarem de outra forma ão avançamos. Toda vez que conseguimos isso percebemos mudanças. 266 23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

As iniciativas colaborativas tem aumentado em todos ambitos, as mídias socias ajudam bastante nesse papel.No nosso caso que pensamos o espaço da cidade vemos uma mudança de paradigma no qual o Espaço público não é mais tema de polícia como a 20 anos atras, as pessoas se apropriam e querem utiliza-lo.

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

Resposta acima

26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

Obrigada! MM DD YYYY

08 / 14 / 2018

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Forms 267

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo mão na praça

2) Existe desde quando?

2011

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 268 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área? paisagismo

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 269 8) Se sim: Em qual bairro e zona? vila madalena

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo? revitalizar uma praça

12) Quais os objetivos traçados inicialmente? revitalizar uma praça: plantio de mudas de ornamentais e árvores, e arte urbana

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 270 14) Por que? realizamos 5 ações

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo? praça na vila madalena

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc) sim, em uma pequena praça na av. pacaembu

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Inicialmente encontro entre amigos, depois eventos abertos

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que? obtivemos boa participação dos moradores locais

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto? 271 21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que? porque as soluções podem ser mais simples e em menor escala, com o mínimo de apoio da prefeitura

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo? quantidade de grupos e eventos

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base? apropriação da cidade, e insatisfação com o abandono da cidade

26) Gostaria de acrescentar alguma informação? nao 272 Obrigada! MM DD YYYY

/ / 08 14 2018

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Forms 273

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Ocupe & Abrace

2) Existe desde quando?

2013

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 274 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

Ocupação Cultural e Sustentável da Praça da Nascente

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 275 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Bairro Pompeia - Zona Oeste

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

Já atuamos apoiando outras iniciativas pela cidade, mas o foco da ação é na Praça da Nascente

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Ocupar de forma amorosa um espaço amplo e verde do bairro, trazendo de volta a sua origem: um espaço de lazer na cidade e de reconexão com a natureza. Começamos fazendo festivais na praça - um dia de atividades culturais e sustentáveis, com música, ocinas com apoio de artistas e outros coletivos, sendo um a cada estação do ano. E aos poucos fomos fazendo também mudanças estruturais (plantas, pintar muro, abrir as nascentes, colocar cacimba, horta, etc).

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Queríamos incentivar as pessoas a usarem o espaço novamente que estava deixado de lado. A ideia sempre foi ser um dos atores a atuar na praça, e desde o início tivemos muito apoio de outros coletivos, organizações e também cobramos uma atuação mais presente da SubPrefeitura da Lapa (da qual a Praça faz parte). 276 13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other:

14) Por que?

As pessoas começaram a usar a praça da nascente para diversos motivos. Inicialmente a partir das nossas sugestões, e hoje naturalmente as pessoas estão lá - com suas crianças no parquinho, curtindo o lago, plantando ou simplesmente curtindo a praça

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Agora estamos com uma ação no Ministério Público para evitar que seja construído um empreendimento no perímetro da praça. Esse é o nosso maior foco da ação, porque já ouvimos diversos especialistas que dizem que duas torres de 22 andares, afetará diretamente as nascentes da praça. Provavelmente a água será jogada pra sarjeta, e o ecossistema acostumado com essa quantidade atual de água, será afetada com a diminuição do uxo. Além disso, fazemos mutirões pra manutenção do lago e acompanhamento da qualidade da água pelo SOS Mata Atlântida. Fazemos algumas intervenções ocasionais, como receber criança de escolas para conhecer a praça, participação em eventos (como será o caso da Virada Sustentável, etc). Organização dos Festivais. 277 16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim, já participações de ações e mutirões promovidos por outros espaços que querem abrir as nascentes, como foi o caso do Iquiririm, entre outros. Além disso, participamos de eventos como Virada Sustentável, Cocidade, Path, TEDx e algumas iniciativas do SESC, levando a nossa experiência pra outros espaços. Além disso, servimos de exemplos e apoio para outras iniciativas como Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Largo da Batata, etc.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Nossa metodologia é "faz-fazendo". Somos um grupo de pessoas propositivas, que acredita em apoiar ideias que fazem sentido dentro dessas duas temáticas: culturais e sustentáveis. Acreditamos no diálogo, na construção colaborativa e na ideia de testar ideias na ação.

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Criamos um novo paradigma, de fazer junto. Não queremos ser os donos da praça, mas acreditamos que podemos facilitar essa relação entre as pessoas e o espaço, incluindo a própria prefeitura. Queremos todos fazendo sua parte.

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Tenho uma apresentação que posso compartilhar com alguns números. Nossa missão principal foi alcançada: as pessoas estão usando a praça. 278 21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

Sim, direta ou indiretamente acabamos mostrando que é possível se tornar um agente empreendedor da cidade.

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

Com certeza, desde que iniciamos muitos grupos se formaram - Parque Augusta, Parque dos Búfalos, Iquiririm, Existe água SP, Secura Urbana, Batata que se quer... sem contar muitas empresas e coletivos, como Hey Sampa, Formiga.me, Cidade Ativa, Praças.com, Cocidade, etc. Que são grupos que de alguma forma apoiam que essas outras ações aconteçam tb. Até o carnaval de rua, e o seu crescimento nos últimos anos, mostra o interesse das pessoas em ocuparem mais os espaços. 279 25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

Por que está cando mais claro que é possível se tornar um agente empreendedor e produtor de cidade. Muita gente se inspira nessas ações e em outras pra começar a fazer e construir a cidade que deseja morar. Normalmente essas ações começam de desejos individuais, mas vão ampliando porque impactam outras pessoas que se sentem parte disso.

26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

Temos algumas publicações e dissertações que já usaram a praça como estudo de caso. Vc pode achar mais infos por lá. Aqui tem a minha (Carla), mas há outras que podemos passar posteriormente. Preciso reuni-las. http://www.repositorio.jesuita.org.br/bitstream/UNISINOS/4055/1/CarlaFederizzi.pdf Mas o maior aprendizado é que as pessoas que não estão diretamente ligadas ao esforço do coletivo, elas precisam ser sensibilizadas. O maior desao é transformar as pessoas de consumidoras do espaço - que esperam as coisas prontas, com cara de revista, críticas aos problemas, para se tornarem colaboradoras das ideias.

Obrigada! MM DD YYYY

08 / 15 / 2018

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Forms 280

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

(se)cura humana

2) Existe desde quando?

2015

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 281 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

A, B, C e J

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 282 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Vila Anglo Brasileira

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Materializar utopias em busca de uma nova cidade para todos, integrando meio ambiente com a sociedade.

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Dar visibilidade às águas que existem em São Paulo.

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 283 14) Por que?

Devido aos trabalhos realizados: Parque Aquático Móvel, Lagos de concreto e Rio Paralelo Tamanduateí.

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Parque Aquático Móvel, Lagos de concreto e Rio Paralelo Tamanduateí.

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Não.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Identicamos um fato absurdo na cidade, e propomos uma reinvenção de uso. No caso das águas de nascente e rebaixamento de lençol freático que se perdem, buscamos criar artifícios de ocupação dessas águas pelas pessoas.

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Porque promoveu a integração da comunidade com as obras. 284 20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Alguns promoveram uma maior quantidade de pessoas, e resposta inesperada. Além da viralização dos nossos vídeos produzidos, alcançando milhares de pessoas.

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

Porque as pessoas estão cada vez mais percebendo os absurdos e bizarrices provenientes da criação desse modelo de cidade que inventamos. Suas contradições, hipocrisias, descaso, etc. E isso vem afetando diretamente a vida das pessoas.

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

Pelo mesmo motivo anterior. 285 25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

As pessoas querem uma qualidade de vida melhor na cidade em que habitam. E só a iniciativa popular, bairrista, para mobilizar as estruturas.

26) Gostaria de acrescentar alguma informação?

Precisamos reinventar esse modelo de cidade em São Paulo.

Obrigada! MM DD YYYY

11 / 29 / 2019

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Forms 286

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Formiga-me

2) Existe desde quando?

2015

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 287 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 288 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Não temos espaço físico e os eventos variam, mas estamos entre Bixiga e Sumaré

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros? fazemos eventos em vários locais da cidade, depende de onde chamam a gente

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Inicialmente, como jornalistas queríamos mapear, conectar e divulgar as iniciativas dos coletivos e cidadãos comuns para transformar a cidade e se apropriar dos espaços públicos (hortas urbanas, tapar buracos, enfeitar árvores e postes etc.)

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Produzir reportagens sobre as iniciativas e se estabelecer como referência no tema 289 13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other:

14) Por que?

Porque em duas pessoas, com trabalho basicamente voluntário, é muito difícil produzir reportagens sucientes. Elas são trabalhosas, tomam tempo para produzir, e não tivemos tanto retorno em visibilidade. A balança não se equilibrou, então mudamos de foco.

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Guia Mulheres na Cidade (www.mulheresnacidade.com.br)

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim, inicialmente começamos com um grupo fechado de coletivos para mapear as iniciativas, depois abrimos para dezenas de voluntárias. Hoje há mulheres de outras cidades pedindo que seja levado para lá.

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Primeiro estamos fazendo o levantamento de iniciativas de mulheres para mulheres em SP (criamos uma série de critérios), depois vamos visitar e escrever sobre elas com ajuda das voluntárias, nós do coletivo vamos editar, padronizar e complementar, vamos passar para a equipe de arte e revisão, e estamos buscando parcerias para impressão. 290 18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

Porque tem dado certo para o projeto

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto?

Não temos resultados desse projeto ainda, pois está em processo. Mas podemos dizer que camos surpresas com a quantidade de pessoas disposta a ajudar como voluntárias. Abrangência é sempre um desao, pois as redes sociais restringem o alcance a uma bolha, e não temos recursos para impulsionar posts.

21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

Porque o viver na cidade é histórico, e por isso está em constante transformação. De toda forma, com os movimentos de negritude e feminismo, entre outros, as pessoas estão se colocando de forma diferente nos espaços públicos no centro, mas não sabemos nas periferias, onde a realidade é bem mais difícil. Isso não signica que a cidade está se transformando para ser não-excludente. No início do projeto a gente acreditava que as pessoas estavam capitaneando mudanças reais na cidade e na apropriação dos espaços, mas não acreditamos mais nisso, pois o problema é muito estrutural e exige transformações estruturais. 291 23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

A cidade tem sido reivindicada cada vez mais como plataforma dos ativismos por conta do crescimento desses movimentos organizados da sociedade civil. O surgimento da Minha Sampa lá atrás já era um indicativo, e hoje há diversas outras, cada uma no seu nicho (nas bikes, como Bike Anjas, Giro Preto; no feminismo com feiras como do Meu Clitóris Minhas regras; hortas urbanas mil, como Horta das Corujas, Batatas Jardineiras, estímulo ao caminhar com o Sampapé, movimento de requalicação de praças como o da Praça da Nascente... enm são inúmeros)

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

O governo Haddad deu um bom incentivo para elas. Acho que o poder público deve incentivar e trabalhar junto (em vez de desfazer o trabalho feito, como acontece) por meio de políticas públicas e editais. Pode inclusive atrelas esses trabalhos às escolas públicas, criando uma forma de multiplicar e educar para a cidadania. Há iniciativas privadas nesse sentido também, como da Red Bull, mas são pontuais.

26) Gostaria de acrescentar alguma informação? nosso site: www.formiga.me

Obrigada! MM DD YYYY

12 / 05 / 2019 292 This content is neither created nor endorsed by Google.

Forms 293

INOVAÇÃO SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO | Tática, ação, apropriação

Olá, Meu nome é Elisabete Castanheira (Bebé) e sou aluna do programa de pós graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Estou pesquisando as iniciativas coletivas e colaborativas de apropriação urbana na cidade de São Paulo e, para o desenvolvimento do trabalho, é fundamental ter a perspectiva de coletivos atuantes na cidade. Por este motivo preparei o questionário abaixo. Se puder responder será ótimo! Estou à disposição para quaisquer dúvidas. Super obrigada pela ajuda. Abs. Bebé Castanheira [email protected]

1) Nome do Coletivo

Voluntários da Horta das Corujas

2) Existe desde quando?

2012

3) Está constituído formalmente (como ONG, OSCIP, etc.)?

Sim

Não

4) Se sim, em que ano aconteceu a formalização? 294 5) Como classicaria a área de atuação do coletivo?

A. Artístico (Produz e replica projetos artísticos dos integrantes/convidados do coletivo )

B. Ativismo

C. Apropriação Urbana (Utilização ou alteração de espaço público para utilização coletiva)

D. Cultural (Media a produção cultural de artistas e grupos locais)

E. Desenvolvimento Social

F. Educação

G. Mídia

H. Produção Urbana de Alimentos

I. Resgate da Memória Local

J. Urbanismo

K. Outros

6) Se: Outros. Qual seria a área?

7) Está instalado na cidade de São Paulo?

Sim

Não 295 8) Se sim: Em qual bairro e zona?

Vila Beatriz, Zona Oeste

9) Atua no mesmo local em que está inserido?

Sim

Não

Também

10) Se Não ou Também: em quais bairros?

11) Em poucas palavras, qual é a ideia que esteve na origem do coletivo?

Criar uma horta comunitária

12) Quais os objetivos traçados inicialmente?

Educação ambiental, educação nutricional, atividades comunitárias, reconexão com a natureza, regeneração ambiental

13) De forma geral é possível armar que esses objetivos têm sido alcançados?

Sim

Não

Em parte

Other: 296 14) Por que?

15) Cite, pelo menos um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo coletivo?

Cuidar da horta

16) Há desdobramento/s dessa/s iniciativa/s? (Ações que foram replicadas em outros lugares, que aumentaram o escopo inicial, etc)

Sim

17) Fale um pouco sobre o método de desenvolvimento dessas ações.

Tudo espontâneo e registrado no grupo do facebook (Horta das Corujas)

18) Depois de algum tempo de atuação é possível armar que os métodos aplicados foram os mais adequados?

Sim

Não

19) Por que?

20) E em termos de resultados? Foram diferentes dos esperados (como abrangência, quantidade, etc)? E isso foi bom ou nem tanto? 297 21) Falando agora de forma generalista: na sua perspectiva, é possível armar que está em desenvolvimento uma mudança na forma como o cidadão percebe a cidade?

Sim

Não

22) Se sim: por que?

23) É possível armar que tem havido, nos tempos mais recentes, um aumento das iniciativas colaborativas, de âmbito urbano, na cidade de São Paulo?

Sim

Não

24) Se sim: por que tem essa percepção? Pode citar algum exemplo?

25) Se sim: do seu ponto de vista, qual seria a motivação para esse aumento de iniciativas a partir da base?

26) Gostaria de acrescentar alguma informação? 298 Obrigada! MM DD YYYY

12 / 10 / 2019

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