Uma Releitura De Lavoura Arcaica, De Raduan Nassar
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
UNB – Universidade de Brasília IL – Instituto de Letras TEL – Departamento de Teoria Literária e Literaturas Programa de Pós-Graduação em Literatura Exegese dos contrários: uma releitura de Lavoura Arcaica , de Raduan Nassar Leonardo Gonçalves de Menezes Orientadora: Professora Dra. Deane Maria Fonsêca de Castro e Costa Brasília, 2009 Leonardo Gonçalves de Menezes Exegese dos contrários: uma releitura de Lavoura Arcaica , de Raduan Nassar Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Literatura Brasileira à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília. Orientadora: Professora Doutora Deane Maria Fonsêca de Castro e Costa Universidade de Brasília Instituto de Letras 2009 Universidade de Brasília Instituto de Letras MENEZES, Leonardo Gonçalves de. Exegese dos contrários: uma releitura de Lavoura Arcaica , de Raduan Nassar. Dissertação de mestrado em Literatura, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, em 21 de agosto de 2009. Comissão Julgadora Dissertação para obtenção do grau de Mestre _________________________________________________________________________ Presidente e Orientadora Professora Doutora Deane Maria Fonsêca de Castro e Costa __________________________________________________________________ Examinadora Professora Doutora Germana Henriques Pereira de Sousa __________________________________________________________________ Examinador Professor Doutor André Matias Nepomuceno __________________________________________________________________ Examinadora Professora Ana Laura dos Reis Corrêa (Suplente) Agosto de 2009 AGRADECIMENTOS Ao grupo de pesquisa Literatura e Modernidade periférica, nas pessoas dos professores Hermenegildo Bastos, Germana Henriques, André Nepomuceno, Alexandre Pilati, Bernard Hess, Bel Brunacci e Ana Laura, que me conduziu à pesquisa sob uma perspectiva materialista dialética e teve generosidade de me incentivar mesmo quando ainda pouco me conhecia. Aos companheiros e companheiras Eiliko Flores - pelas longas e frutíferas discussões dia e noite - Maria Antônia, Daniele Rosa, Fabiano Vale, Elisabeth Hess, Antonio Cézar, Ana Daniela, Gustavo Arnt, Tatiana Rossela, Rafael Villas Bôas e muitos outros que sempre estiveram abertos a conhecer melhor e aprender com o trabalho dos outros colegas. À professora Deane, pela orientação. Sem essas pessoas, meu trabalho jamais seria fruto de um processo coletivo; a perspectiva de compartilhar a produção do conhecimento sempre foi uma das premissas básicas do nosso grupo. Aos amigos da vida Ciro Marcondes, Suélem Jobim, César Furtado, Leonardo Tavares, Fernanda Barreto e Fabiana Motta, pelo carinho e companhia, nas horas mais difíceis e nas melhores; A Maria Mello, luz perene e chama ardente, sempre. A Leon, meu filho, pela força que sempre representou para que eu melhorasse como homem e pai, A minha mãe, Lia Menezes, pelo exemplo de desapego e doação incondicionais, pelo amor à vida, à música e à poesia. Devo tudo a ela. Obrigado [se] são precisamente os homens que transformam as circunstâncias [...] o próprio educador precisa ser educado. Marx e Engels – A Ideologia Alemã RESUMO Lavoura Arcaica , obra maior do escritor paulista Raduan Nassar, é um romance que dialoga, de modo crítico, com a produção literária dos anos setenta, trazendo em suas linhas tão prosaicas quando poéticas uma forma de posicionamento literário frente às diversas correntes narrativas que caracterizaram a década. Seu resgate do intimismo confronta o realismo feroz predominante no período, com um narrador em primeira pessoa extremamente subjetivo, distante do referencial. A obra contém em sua estrutura elementos radicalmente contrários, como a parábola bíblica (reinterpretada) e a discussão sobre o trágico. Esses elementos, reunidos, permitem a revelação dos mecanismos de dominação subjacentes ao discurso da ordem e da racionalidade, por meio da ironia trágica. A funcionalidade da narrativa da parábola entra em conflito com a irracionalidade do trágico e seu sentido de predeterminação do destino, o que se aproxima, por sua vez, do fatalismo corânico do maktub. Essa paráfrase de gêneros contraditórios mostra como os discursos do pai e do filho, radicalmente opostos no romance, acabam por construir uma visão da totalidade, na qual os contrários se equilibram para que se alcance uma reflexão sobre o questionamento da autoridade patriarcal, das regras sociais de repressão e faz ver também que a arte é o terreno propício para se representar a luta humana contra o cerceamento contínuo do capital e de seu modelo de dominação pelo trabalho, ainda que, na pós-modernidade, tal relação se coloque como condição imprescindível para se alcançar a plena liberdade. Palavras-chave: Intimismo; Anos 70; Tragédia. ABSTRACT Lavoura Arcaica , most important work of the brazilian writer Raduan Nassar, is a romance that puts into dialogue, in a critical sense, the brazilian literary production from the seventies, bringing, in both prosaic and poetic lines, a literary way of standing in front of the many narrative models that constitute this decade. With an extremely subjective, as well as distant from objective writing, first-person narrator, the romance’s rescue of intimism faces the harsh realism that prevails on the period. This work reunites in its structure some very contradictory literary approachs, like the reinterpreted biblic parabole and a discussion about the tragic itself. These elements, together, allow us to have a new possibility of revelation to the domination mechanisms inherent to the speech of order and rationality, through the use of tragic irony. The functionality of the parabole’s narrative stands against the irrationality of the tragic itself and its sense of destiny’s predetermination, which approaches the Koran’s fatalism: maktub. This paraphrase reuniting separate genres shows how the speeches of the father and the son, radically opposite in the romance, end up constructing a vision of totality. In this sense, the contrary instances reach balance so that it becomes possible to find a mature thought on the patriarchal’s authority questioning and the social rules of repression. Thus, it is possible to see that art is a proper ground to represent the human stand against the Capital’s continuous impriosionment and its model of oppression through work, although, in the post-modern era, this relation puts itself as an undeniable condition to find absolute freedom. Key-words: Intimism; Seventies decade; Tragedy. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 Capítulo 1 – Sistema Literário e anos setenta 20 1.1 Lavoura Arcaica : “quebra” na narrativa da década 22 1.2 Romances à deriva? 27 1.3 A obra de Raduan Nassar – da objetividade à interiorização 33 1.4 Lavoura Arcaica e o intimismo brasileiro: algumas aproximações 36 Capítulo 2 – Entre a tragédia e a parábola: o romance como problematização transcultural 45 2.1 Transculturação como processo local x universal 46 2.1.1 Breve discussão sobre regionalismo 49 2.1.2 O destino numa terra com muitas fronteiras 54 2.2 Forma como problema – a fusão de gêneros 57 2.2.1 Relato bíblico e tragédia 58 2.2.2 A questão da culpa 67 Capítulo 3 – Narradores entre dois tempos 73 3.1 André: narrador em primeira pessoa e o subjetivismo 76 3.1.1 O espaço 81 3.1.2 O tempo 84 3.2 Iohána: o discurso da ordem e a ironia trágica 91 3.3 A Contradição de narrar numa era inenarrável 102 Considerações finais 108 Referências 120 INTRODUÇÃO O trabalho com Lavoura Arcaica foi, antes de tudo, uma homenagem à beleza deste romance, considerado tanto pela crítica como pelo público em geral uma verdadeira obra-prima. O teor trágico e o caráter lírico da prosa contaminam de pronto a leitura, aguçada pela atração do tema-tabu, o incesto, e pelo confronto constante entre pai e filho, entre tradição e novo, entre arcaico e moderno. A dialética dessas oposições, encerrada no confronto de discursos, expande seus significados, tendo em vista não apenas a arguta reapropriação da parábola do filho pródigo feita por Raduan Nassar, mas a configuração histórica da sociedade brasileira no momento de concepção da obra. O grande questionamento do romance reside na discussão da autoridade. O pai, Iohána, é a representação maior desta autoridade. Seu discurso apolíneo e racionalista coloca-o na posição de defensor dos valores da família e do trabalho. Quem se embate contra essa ordem, professada para manter a ordem familiar, é o filho, André, narrador insurrecto, volúvel, dionisíaco, representante do moderno e do fragmentado. Ao discurso da ordem opõe-se o discurso da desordem, como negação ou sugestão de outra ordem, não submetida à ditadura da “razão”. André, enquanto narrador, busca confrontar o arbítrio que coíbe qualquer escolha, que não dá voz àqueles que sentam “ao lado esquerdo da mesa”. A representação contida na obra, se lida alegoricamente, apontará, por um lado, para a matriz do romance, a estrutura da parábola, já carregada desse tipo de leitura, e, por outro, para as marcas do processo histórico no qual encontra-se o artista e o intelectual que a produziu. No entanto, outras questões são colocadas à obra, exigindo do crítico um esforço de compreensão que ajudará na discussão sobre o romance e o restante da obra de Nassar, além de trazer à tona algumas observações sobre a narrativa do período. O trabalho aqui exposto não poderá prescindir da relação problemática entre obra e realidade