Meridianos Lusófonos. Prémio Camões (2008-2016)
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i i i i i i i i i i i i 2 i i i i i i i i Meridianos Lusófonos Prémio Camões (2008-2016) i i i i i i i i Meridianos Lusófonos. Prémio Camões (2008-2016) Ficha Técnica Título: Organização: Petar Petrov Paginação: Luís da Cunha Pinheiro Edição: Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Lisboa, Março de 2018 ISBN – 978-989-8916-18-1 Esta publicação foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do Projecto «UID/ELT/00077/2013» Esta é uma obra em acesso aberto, distribuída sob a Licença Internacional Crea- tive Commons Atribuição-Não Comercial 4.0 (CC BY NC 4.0) i i i i i i i i Petar(organização) Petrov Meridianos Lusófonos Prémio Camões (2008-2016) CLEPUL 2018 i i i i i i i i i i i i i i i i Índice Nota do organizador............................5 Rita Olivieri-Godet O engenho e a arte de João Ubaldo Ribeiro...........Mater Mundi7 Filinto Elísio ArménioNão é estranho Vieira – Cabo Verde, Literatura-Mundo & 29 Alva Martínez Teixeiro – A experiência do instante na escrita de Ferreira Gullar................................ 45 Annabela Rita Manuel António Pina, Prémio Camões 2011.......... 67 Rita Patrício Dalton Trevisan........................... 83 Petar Petrov O pós-modernismo e o projecto literário de Mia Couto.... 103 Maria Aparecida Ribeiro O tempo reencontrado: a infância nas memórias e na poesia de Alberto da Costa e Silva....................... 119 Paulo Nóbrega Serra A Obra Narrativa de Hélia Correia................ 139 Sabrina Sedlmayer Raduan Nassar: o autor como gesto............... 163 3 i i i i i i i i i i i i i i i i Nota do Organizador Petar Petrov Meridianos Lusófonos. Prémio Camões (1989-2007).O presente volume vem na sequência de outro, publicado pela Roma Editora em 2008, com o título Dando continuação ao projecto, a colectânea de ensaios que agora se apresenta foi concebida no sentido de fornecer estudos de deter- minadas obras que receberam o Prémio Camões no período compreendido entre 2008 e 2016. Trata-se do mais importante galardão dedicado às Literaturas de Língua Portuguesa, instituído em 1989, com o objectivo de premiar anualmente um autor que, pela qualidade da sua produção artística, tenha contribuído para o enriquecimento do património literá- rio e cultural em Língua Portuguesa. Assim, no seu conjunto, os estudos incidem sobre diferentes géneros do artefacto artístico verbal, cultivados por escritores portugueses (2), brasileiros (5) e africanos (2), com des- taque para a ficção narrativa (romance, conto e novela), poesia, ensaio e biografia. A importância da presente publicação deve-se também às metodologias adoptadas pelos colaboradores que aceitaram participar no projecto, investigadores e professores universitários de reconhecido mé- rito, bem como jovens doutores com potencial crítico. A este propósito, re- cordo a consideração da Professora Maria Lúcia Lepecki, na apresentação do volume de 2008, que se aplica perfeitamente à actual colectânea: «os artigos deste livro têm uma acentuada componente teórico-especulativa, pelo que interessam não apenas a quem se ocupe dos específicos autores aqui tratados mas, também, aos que desejem um diálogo inteligente e i i i i i i i i 6 Petar Petrov motivador sobre as muitas questões subjacentes ao estudo de diferentes modalidades do discurso verbal». Amadora, Março de 2018 www.clepul.eu i i i i i i i i Prémio Camões 2008: João Ubaldo Ribeiro (Brasil) O engenho e a arte de João Ubaldo Ribeiro 1 Rita Olivieri-Godet João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em 23 de janeiro de 1941, em Itaparica, ilha situada na região do Recôncavo baiano, na casa de seu avô materno, na Rua do Canal, número 1, endereço que continuou a ser frequentado pelo autor e sua família, durante as férias de janeiro, até 2014, ano em que falece, em 18 de julho, na cidade do Rio de Ja- neiro. Escritor consagrado pelo reconhecimento de sua obra no Brasil e no exterior, como demonstram asEstado inúmeras de S. traduções Paulo de seus livros em vários países, iniciou sua carreira comoViva jornalista, o povo brasileiro função que voltou a exercer enquanto colunista do . Autor de uma das obras-primas da literatura brasileira, Prêmio Camões(1984), incur- sionou por vários gêneros literários: romances, contos, crônicas, literatura infanto-juvenil e ensaio. Em 2008, recebeu o , a mais im-2 portante e prestigiosa premiação para os autores de língua portuguesa . 1 Construções identitárias na obra de JoãoEste Ubaldo artigo Ribeiro retoma, de maneira sintética, aspectosViva da obra o povo ubaldiana brasileiro amplamentea ficção desenvolvidosde uma nação porplural nós em publicações anteriores: (HUCITEC/ABL/EDUEFS, 2009); : Institut Universitaire(E de REALIZAÇÕES,France. 2014). ProfessoraUbaldo: titular ficção, de literatura confissão, brasileira disfarce da e Université retrato Rennes 2 e Membro Sénior do 2 Em (2016), Juva Batella revisita com criatividade a biografia e o universo do escritor. i i i i i i i i 8Polifonia da obra ubaldiana Rita Olivieri-Godet A obra de João Ubaldo Ribeiro surge no contexto da segunda metade do século XX, em pleno período da ditadura militar. Insere-se na vertente da figuração do nacional, paradigma predominante na produção literária brasileira até o final da década de 1980, expondo as relações de força que determinam a construção de projetos identitários diversos e antagônicos. Pertence a uma linhagem da literatura brasileira que interroga a formação histórica da nação, questionando os referentes culturais e identitários que embasaram os discursos de sua construção ao longo do tempo. A elabo- ração da obra apoia-se na complexa imbricação entre história e memória, de maneira a contemplar suas múltiplas versões e silêncios. Refuta, dessa forma, a visão autoritária e unívoca da identidade nacional, elaborada pe- las classes hegemônicas, afastando-se de uma figuração homogênea dos traços culturais, a fim de privilegiar uma representação plural e conflitante do processo de formação da nação. Para elaborar seu universo ficcional e explorar a problemática identitária, João Ubaldo Ribeiro opta por in- corporar múltiplas visões da nação brasileira, adotando uma perspectiva de confronto ideológico que o conduz a englobar diferentes discursos e desvendar os interesses que lhes são subjacentes. Entre os vários discursos que o autor incorpora para compor sua obra polifônica, o literário ocupa um lugar privilegiado, tornando patente a con- vivência do escritor com a tradição literária brasileira e universal. João Ubaldo revela que, aos doze anos, já tinha lido vários clássicos «dos quais nunca3 me esqueço e a maior parte dos quais faz parte íntima da minha vida» . Essa «memória de livros» é uma característica determinante da escrita ubaldiana. Os leitores familiarizados com sua obra reconhecem a intertextualidade como um dos traços característicos de seu estilo. Da citação à paródia, João Ubaldo Ribeiro utiliza todos os recursos para fa- zer com que seu texto fale por intermédio de uma outra fala da qual ele se apropria. Há paródia, humor, dessacralização de determinadas tradi- ções, mas também reconhecimento e cumplicidadeUm Brasileiro para com em outras. Berlim Jorge Amado3 chamou-o de «Rabelais tropical» por causa dessa sua tendência João Ubaldo Ribeiro, «Memória de Livros». In: , Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995, p. 152. www.clepul.eu i i i i i i i i O engenho e a arte de João Ubaldo Ribeiro 9 a subverter o discurso pela ironia e a ver com um olhar crítico, mas com muito humor, os usos e costumes da sociedade. Mas se o riso rabelaisia- no e carnavalesco é uma constante em sua obra, as formas épicas e os tons dramáticos e líricos estão também4 presentes, o que atesta a riqueza e a diversidade estilística do autor . A essas qualidades seria preciso, ainda, acrescentar o domínio narrativo com que tece suas histórias, desde a publicação de seu primeiro romance. A inscrição da sociabilidade na obra polifônica ubaldiana incorpora vários registros estilísticos e explora tanto o filão da mais fina tradi- ção paródico-carnavalesca da literatura brasileira, quanto a sua vertente épica.Vencecavalo Assim e é o que Outro a tendência Povo carnavalizante,Já Podeis da que Pátria associa Filhos a crítica e Outras so- cialHistórias ao burlesco, na obra ubaldiana éUm encontrada Brasileiro em em contos, Berlim reunidos em Você me Mata, Mãe Gentil (1974), (1991), e nas crônicas de (1995) e Setembro Não Tem Sentido (2004), entre outras narrativas. Sua produ- çãoSargento romanesca Getúlio manifesta a mesmaVila Real versatilidade estilística:Viva a ironia o Povo de Brasileiro (1968) dá lugar ao estilo dramático e épico de (1971) e (1979). A partir de (1984), o autor faz coexistir o registro épico e dramático com a perspectiva paródica para comporO Tempo sua e o obra Vento romanesca. CompartilhaGalvez, com outros o Imperador grandes do nomes Acre do romance brasileiro, como EricoTocaia Verissimo Grande na trilogia (1949-1951-1952), Márcio Souza na obra (1976), ou Jorge Amado em (1984), a tendência a refletir sobre o destino da nação a partir de uma representação centrada nos aspectos sócio-históricos e antropológicos de suas respectivas regiões. A inserção da obra no para- digma de figuração doDiário nacional do Farol exprime-se também pela incorporação de uma atualidade política e social candente que corresponde ao contexto da4 ditadura militar ( , 2002), às questões relacionadas com Reproduzo o comentário de Vinícius Jatobá que sintetiza perfeitamente as fa- cetas plurais de João Ubaldo Ribeiro: «Do hermético e cerrado ao leve e legí- vel e divertido; do sério pensador político ao politiqueiro de botequim; do existen- cial e etéreo ao profano e carnal; o prosador exigente dos romances, o escritor re- laxado das crônicas». Vinícius Jatobá, «Livros de João Ubaldo Ribeiro», disponível em: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0„OI3899366-EI12510,00.html.