Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I VOLUME

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009

A FOTOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: alguns aspectos em relação à Imigração Italiana

ARTIGO FINAL

NRE –

IMBITUVA/2011

Governo do Estado do Paraná Secretaria de Estado da Educação do Paraná Núcleo Regional de Ponta Grossa Universidade Estadual de Ponta Grossa Programa de Desenvolvimento Educacional

ARTIGO CIENTÍFICO

Autoria Cleusi Teresinha Bobato Stadler

Orientação Roberto Edgar Lamb História/UEPG

IMBITUVA/PR 2011 A FOTOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: alguns aspectos em relação à Imigração Italiana.

Cleusi Teresinha Bobato Stadler1 Roberto Edgar Lamb2

“O fragmento da realidade gravado na fotografia representa a perpetuação de um momento, em outras palavras, da memória...” (Boris Kossoy)

Resumo

O presente artigo procura contemplar a produção do saber histórico em sala de aula, destacando a participação do aluno como sujeito do processo educativo. Ele é resultado da implementação de um projeto de pesquisa e uma unidade didática desenvolvida com alunos da 7ª série do Colégio Alcides Munhoz da cidade de Imbituva-Pr. O trabalho utiliza a fotografia como fonte histórica principal e fundamenta-a com outros documentos escritos e fontes orais. Evidencia-se o aspecto histórico das imagens imbituvenses, identificando nelas suas representações. Através da análise da fotografia como metodologia de ensino no conteúdo Imigração Italiana, e sua utilização como fonte documental no espaço escolar, o objetivo principal foi refletir sobre a utilização da imagem fotográfica na recuperação da memória familiar e local. Como a escola é o elo responsável pela reelaboração do saber socialmente construído, os alunos trabalharam com a interpretação de fotografias da cidade para depois partir para a análise específica sobre suas famílias, destacando os simbolismos e representações que acompanham o registro fotográfico e a relação das suas famílias com a História local. Desta forma comprovamos que através do trabalho com os alunos na análise de fotografias, podemos, sim, priorizar a história local, a memória e a identidade de uma cidade.

Palavras-chave: Fotografia; Memória; História Local; Imigração; Ensino de História.

1Professora PDE 2009. Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (1990). Especialização em Metodologia do Ensino de História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (1998). Publicações: “Imbituva – uma cidade dos Campos Gerais” (2003) e “Memórias de Imbituva – História e Fotografia” (2010). Professora do Colégio Estadual Alcides Munhoz – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Imbituva/Pr. E-mai: [email protected]. 2 Orientador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, (1988). Mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba (1993). Doutorado em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, São Paulo (2003). 1 INTRODUÇÃO

O Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) veio de encontro à expectativa de muitos professores em melhorar seus conhecimentos, sua prática pedagógica, bem como, através de estudos e reflexões, trazer-nos enriquecimento intelectual e cultural. Essa oportunidade nos despertou o interesse pelo ensino de História, sob, um aspecto renovado, através de novas metodologias e práticas didáticas da história.

O estudo de História e as metodologias utilizadas nas aulas, muitas vezes, estão longe de se adaptarem às mudanças e transformações do mundo tecnológico globalizado. Não conseguem levar os alunos a se perceberem como construtores de sua história, nem fazer a relação entre a mesma e a realidade presente e a construção da história local, causando a falta de interesse dos alunos na disciplina.

Constantemente ouvia-se dos alunos que “Imbituva é uma cidade sem memória”, pois a mesma não possui nenhum centro de resgate histórico, nem edificações, manifestações populares, hábitos e tradições que resistiram à ação modernizadora do progresso. Assim sendo, depois de encontrado tais problemas, se tornou necessário construir um processo de ensino capaz de propor alternativas metodológicas viáveis para despertar o interesse pela disciplina de História e pelo resgate da memória histórica de sua cidade. Os professores precisam encontrar meios de levar os alunos a perceberem que são também construtores da história, da memória e dos acontecimentos concretos de sua comunidade local. Também compreenderem suas realidades, agindo nos seus meios como sujeitos ativos do processo histórico. Em busca de uma relação teoria/prática e da relação entre educação e sociedade, o projeto se preocupou em resgatar a memória familiar dos alunos e da localidade formada pelos imigrantes italianos, através da fotografia, visto que no mundo contemporâneo, muitos jovens não conhecem e não valorizam as memórias de suas famílias e de sua cidade. Portanto este artigo vem refletir sobre os métodos de utilização da imagem fotográfica na recuperação da memória familiar e local. Repensar a sua utilização como fonte documental e como documento utilizado no espaço escolar. Ele é consequência da reflexão sobre uma experiência de trabalho, a implementação de um projeto de pesquisa com o tema Conjugação entre ensino e fotografia - utilização da fotografia em sala de aula, como proposta alternativa de ensino-aprendizagem, através do tema imigração italiana aplicado com 40 alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, no Colégio Estadual “Alcides Munhoz”, cidade de Imbituva/Pr. De acordo com as Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica (2008, p.78), explorar a fotografia na prática pedagógica faz parte da diversificação de novas metodologias de ensino. A fotografia sendo uma das fontes que possibilita compreender as construções históricas, por meio de outros valores, interesses, problemas, técnicas e olhares, também contribui para o melhor entendimento das formas por meio das quais, no passado, as pessoas representaram sua história e sua historicidade e se apropriaram da memória cultivada individual e coletivamente. Para a compreensão das imagens e do trabalho com fotografias faz-se necessário contextualizar o processo imigracional italiano, pois temos uma grande dificuldade de acesso a materiais bibliográficos, pesquisas e abordagens sobre a Imigração Italiana nos Campos Gerais, mais especificamente na cidade de Imbituva. Segundo STADLER (2005, p. 4), “Imbituva possui um reduzido número, ou quase nada, de pesquisas escritas a respeito de sua formação como cidade”. Verificando essa dificuldade de ter acesso as fontes escritas para o desenvolvimento desta proposta de trabalho, sentiu-se a necessidade de recuperar as histórias que envolveriam as fotografias familiares de imigrantes italianos, em tempos e espaços diferentes, pois a Imigração Italiana foi predominante na formação e desenvolvimento do então município recém formado. A escolha da temática que trata das relações entre memória, fotografia e identidade social no contexto da Imigração Italiana em Imbituva, deu-se pela leitura das Diretrizes Curriculares para o ensino da História, ao verificar-se a valorização da História Local e Regional, ou seja, o estudo da História do Paraná (PARANÁ, 2008, p.64). Ao optar pelas contribuições das correntes da Nova História Cultural e Nova Esquerda Inglesa como referencial teórico objetivou-se propiciar aos alunos a formação da consciência histórica. Para que esse objetivo fosse alcançado, o projeto foi desenvolvido sob a utilização de métodos inovadores de produção do conhecimento histórico, incluindo-se aí a abordagem de diferentes sujeitos com suas diversas experiências históricas, numa perspectiva de diversidade, problematização em relação ao passado e superação da ideia de História como verdade absoluta. O referencial teórico utilizado para abordar o tema fotografia se fundamenta principalmente em Bóris Kossoy e Ana Maria Mauad e para o resgate do tema Imigração Italiana os estudos realizados pelos autores Susete Moletta, Antônio Sérgio Palú Filho e Cleusi T. B. Stadler, sobre a Imigração Italiana em Imbituva. Neste artigo apresentamos o uso do documento - fotografia, como uma possibilidade de estudo e valorização de outras fontes de pesquisa e de análise da imigração italiana.

1.1 A Fotografia como “Lugar de Memória” na História Local

A fotografia é uma das imagens mais ricas em detalhes. Ela surge em 1826, como invento, mas é na década de 1860 que passa a ter uma grande aceitação como possibilidade inovadora de informação e conhecimento. Porém, no decorrer do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX, um grupo significativo de historiadores se recusou a lançar mão da fotografia como fonte de pesquisa histórica, muito embora os diferentes setores da sociedade e de outras áreas científicas tenham valorizado e utilizado esse tipo de imagem desde o seu surgimento. Segundo Boris KOSSOY (2001, p. 30), houve alguns preconceitos quanto à utilização da fotografia como fonte histórica ou instrumento de pesquisa. As duas razões fundamentais são: a) Predomínio da tradição escrita; herança do livro escrito como meio de conhecimento científico; b) Dificuldade em analisar e interpretar a informação visual. Com a “Revolução Documental” das últimas décadas do século XX, a fotografia passou a ser tratada de forma diferenciada, como uma forma de texto e “documento”- insubstituível, cujo potencial deve ser explorado. Segundo José Luiz MEURER e Désirée Motta ROTH, "Desde muito cedo somos expostos à leitura dos mais variados tipos de textos, encontrados em livros, revistas jornais ou nas ruas, como avisos, fotografias, cartazes informativos e outros". (2002, p. 177).

“As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para a decifração de seus conteúdos e, por consequência, da realidade que os originou.” (KOSSOY, 2001, p.32). A mudança na forma de olhar as fotografias veio acompanhada da necessidade de recuperar as histórias que as envolviam em tempos e espaços diversos. Dessa forma, a fotografia se constitui em importante fonte, para se registrar a expressão das vontades, das aspirações, das realizações, ou seja, da história de cada povo. São as fotos que ajudam a contar a vida das pessoas, das famílias e o próprio desenvolvimento da cultura ou das transformações que o homem e o tempo impõem sobre o ambiente. De acordo com Ana Maria MAUAD (2000, p. 132), “a história da fotografia é a história de imagens humanas... as fotografias se cruzam com as lembranças...”. Isto quer dizer que as fotografias podem ser uma mensagem daquilo que o passado quis deixar de legado para as gerações futuras. Elas não congelam momentos vividos, mas interpretam e dialogam com o tempo vivido, traduzindo-o numa linguagem de imagens. Essa imagem visual é caracterizada pela forma como é representado o espaço. E nas trajetórias familiares, encontramos o espaço das vivências. As vivências representadas nas fotografias podem ser: cotidiano, lazer, conversas, brincadeiras, chegada do trabalho, encontros descontraídos com crianças, ambientes domésticos, casamentos, batizados, festas, bailes, passeios em parques, praias e outros locais.

Ao longo de sua história, a fotografia se aperfeiçoou em termos técnicos, ampliando seu uso através da crescente industrialização do material fotográfico, da simplificação das máquinas e do barateamento dos custos. Ao longo do século XX, o ato fotográfico foi se tornando uma necessidade para o registro de grandes e pequenos acontecimentos e para cada um deles as opções técnicas e estéticas variam. As fotografias de família também sofreram a influência dos tempos, quer nos resultados técnicos obtidos, quer na ampliação dos temas e lugares que poderiam ser fotografados. Assim, as variações de opções técnicas apresentadas entre uma coleção familiar e outra podem ser interpretadas como um dos índices de pertencimento social do grupo registrado. (MAUAD, 2000, p. 123).

Ao analisarmos uma coleção de fotografias iremos perceber que o tema central das fotos comumente são as pessoas, pessoas organizadas em grupos, duplas ou individualmente. Poucas priorizam a paisagem ou objetos, geralmente acompanhadas de pessoas.

...as fotografias de grupos se caracterizam por um padrão que concede às representações coletivas os significados de estabilidade, união e harmonia. Atributos que o grupo familiar reunia na composição da imagem de família ideal. A tradicional fotografia de família, com todos os seus integrantes reunidos, a dupla ou o grupo de amigos, o casal e ainda adultos acompanhados de crianças são variações em torno deste espaço coletivo. (MAUAD, 2000, p. 132).

Ao se valorizar o uso da fotografia para um melhor conhecimento e esclarecimento sobre a história das pessoas, no caso das fotos familiares e da sociedade como um todo, procura-se relacionar a utilização da fotografia com a memória, com a história oral e através dos referenciais que temos a este respeito, produzir um conhecimento histórico sobre as mesmas. Toda fotografia é um resgate do passado, uma informação visual para a melhor compreensão do passado em seus vários aspectos, uma fonte histórica aberta a múltiplas interpretações. Ela nos traz informações visuais de um fragmento de determinado fato, selecionado e organizado na sua forma e ideologia. A fotografia mesmo estando atrelada ao estudo dos acontecimentos do passado passa a ser um testemunho do presente, ou seja, divulga os feitos dos homens públicos e o cotidiano dos homens e mulheres de diferentes classes sociais. Para o historiador, a fotografia pode ser considerada um documento histórico que permite investigar como era a vida das pessoas de uma determinada época. Segundo BORGES (2008, p 112), “(...) as imagens nos revelam as maneiras de sentir e pensar de um grupo social, elas nos mostram como a memória coletiva vai sendo construída, criando laços de pertencimento mútuo e unindo os membros de uma mesma coletividade.” Temos que estar atentos para o fato de que a fotografia não se confunde com a realidade registrada, mas parte dessa realidade, aquilo que o fotógrafo pretendia registrar. Como escreveu KOSSOY (2001, p. 36), “ela é uma representação do real” e também uma possibilidade de construir a realidade, a partir da investigação que fizermos sobre o significado dela como imagem fotográfica e os condicionamentos em que foi produzida. Segundo Ana Maria MAUAD (2000), a fotografia traduz valores, idéias, tradições e comportamentos. Produz identidade. Através do registro de uma câmera, podemos ter a expressão cultural dos povos, seus costumes, habitação, monumentos, mitos e religiões, fatos sociais e políticos. Quando se utiliza o conjunto iconográfico para investigar a imigração, torna-se importante analisar sob qual perspectiva foi pensada determinada imagem. Nessa ótica, explica SILVA: “Conhecer um pouco e previamente a história da comunidade ou grupo em estudo mostra-se imprescindível para viabilizar a utilização das fotografias durante a pesquisa (...)” (SILVA, 2000, p.142). Dentro deste contexto, o trabalho se realizou com destaque para os aspectos da economia e trabalho, vida cotidiana, política, religiosidade e cultura dos Imigrantes Italianos na região dos Campos Gerais, mais especificamente em Imbituva. As fotografias estão em toda parte, nos incitam a curiosidade, mostrando diferentes momentos e situações da vida, em geral. Uma importante fonte histórica que traz elementos da cultura material, costumes, relações sociais e de poder, entre outros. A fotografia nos traz recortes de momentos passados, possibilitando a investigação, o levantamento de informações, quais os elementos representados por ela e o contexto nas quais elas estão inseridas. No decorrer da vida guardamos muitos documentos como papéis, fotografias, cartas, bilhetes, etc., que acabam revelando os ritos, os hábitos e costumes de indivíduos comuns. Partindo deste contexto, uma das fontes históricas muito interessantes para trabalhar em sala de aula são os documentos guardados na casa do próprio aluno. Os conteúdos trabalhados a partir das experiências do aluno são muito importantes porque rompem com o ensino considerado tradicional, que é aquele no qual se ensinam os grandes acontecimentos e os grandes heróis, uma história que está afastada do cotidiano dos estudantes. Trabalhar com fotografias dos ancestrais é uma forma de levar o aluno a estabelecer vínculos com a família, recriar laços com a mesma e descobrir sua própria história, reviver memórias. A “memória” vem do latim “memoris” e é a faculdade de lembrar e conservar estados de consciência passados e tudo quanto a eles está relacionado. “Memórias”, são narrações históricas, escritas por testemunhas presenciais. São marcas deixadas pela atividade dos seres humanos. Dentre os vários estudos sobre a memória, os de Jacques LE GOFF e Maurice HALBWACHS contribuíram muito para a compreensão do conceito de Memória e suas relações com o contexto social. Para eles, as memórias podem ser individuais, sociais ou coletivas. Cada um carrega as suas lembranças, mas está o tempo todo interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições. A memória pessoal está diretamente relacionada às memórias dos que o cercam.

... nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distingam de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. (HALBWACHS, 1990, p.26).

Portanto, narrar as nossas memórias e de um grupo específico (Imigrantes Italianos) não é algo fácil, muito pelo contrário, requer esforços e dedicação, afinal, memória é trabalho constante no sentido de reviver, refazer, reconstruir, com ideias e imagens, as experiências do passado. Para fazer essa reconstrução do passado, o grupo familiar é uma referência fundamental, pois é objeto e espaço para recordações. HALBWACHS (1990) e ALBERTI (2006) destacam que é o grupo familiar, geralmente os avós, elementos que evocam lembranças, mas, além disso, são também a própria lembrança. “A memória familiar é uma construção coletiva, uma corrente de pensamento contínuo (...) que retém do passado somente o que está vivo ou capaz de viver na consciência do grupo que a mantém.” (HALBWACHS,1990, p.81-82). A memória das famílias dos alunos, ou do grupo social que o cercam, os costumes e tradições passadas de geração para geração, na vida cotidiana, é que fará os mesmos sentir-se parte da história, vivenciando a relação dos momentos históricos e a vida concreta de seus antepassados. Memória e identidade estão intimamente ligadas à história oral. Por meio de entrevistas com pessoas de suas famílias ou de sua cidade, depoimentos e narrativas das famílias dos alunos, propicia-se a possibilidade oferecida pela História Oral de um resgate do cotidiano das pessoas, de um relacionamento maior entre jovens e idosos, valorizando-se os traços culturais locais. Por isso, realizar o estudo da história dos imigrantes italianos em Imbituva, pela história oral e pela fotografia, permitiu identificar as experiências particulares e coletivas dos membros desses grupos, compreendendo o passado através das interpretações que os sujeitos fazem no presente.

A fotografia permitiu que quase toda gente – não só os mais abastados – pudesse se transformar num objeto-imagem, ou numa série sucessiva de imagens que mantém presentes momentos sucessivos da vida, ou ter presente a memória. No caso das fotos de família, a tentativa é aprender a ler o conteúdo manifesto e o conteúdo latente das fotografias e descobrir meios de transmitir essa aprendizagem. (LEITE, 2001, p.75). A fotografia caracterizada como lembrança, provoca no olhar de quem observa uma síntese de sua memória pessoal, ou seja, revive gestos, atos e sentimentos. As pessoas se envolvem afetivamente com os conteúdos das fotografias. Essas são capazes de levar-lhes a recordar o passado numa fração de segundos, trazendo-lhes à memória os acontecimentos vividos em épocas e lugares diferentes. Segundo KOURY (2008, p.103), “a fotografia, portanto, é uma das formas modernas que melhor encarna certo prolongamento das artes da memória”. Através da fotografia reconstruímos nossas trajetórias de vida: o batismo, a primeira comunhão, os pais e irmãos, os vizinhos, os amores e os olhares, os casamentos, as reuniões e realizações, os lugares visitados, as paisagens, os filhos, os parentes mais chegados, os novos amigos. Dificilmente nos desligamos emocionalmente dessas fotografias. Portanto, a fotografia nos transporta da recordação da memória para o real. Ela propicia relações múltiplas: realidade e representações; passado e presente; sujeitos e observadores. Assim, percebemos as fotos como produto social, ou seja, viabilizam o passado e a identidade das relações sociais dos indivíduos. O grande desafio como educadores e professores de História é fazer com que o aluno aprenda a valorizar o patrimônio histórico de sua cidade para entender sua região e seu estado. Para que isso aconteça é necessário um processo de mudança em que o aluno seja estimulado a adquirir uma consciência histórica, através das fotografias, estabelecendo uma relação entre as realidades do passado com as do presente, fortalecendo assim sua capacidade de análise. Trabalhar com fotografias dos ancestrais é uma forma de levar o aluno a estabelecer vínculos com a família, recriar laços com a mesma e descobrir sua própria história.

1.2 A Imigração Italiana no Paraná e Imbituva

A Itália por ser formada por formas de relevo acidentadas (montanhas e colinas) e poucas regiões cultiváveis, já tinha em sua tradição ser um país imigratório, portanto, não era desconhecido o fenômeno da imigração naquele país. Segundo PALÚ FILHO e MOLETTA (2009, p.47), quando a Itália foi unificada (1859 a 1870), a maior parte de seu território tinha economia baseada na atividade agrícola e uma pequena parcela de sua península possuía características mais industrializadas. País agrícola, com 26 milhões de habitantes, a Itália tinha escassez de terras cultiváveis. A expansão dos princípios capitalistas, com a mercantilização da propriedade rural e a alta carga de impostos incidentes sobre a terra, tornaram-se impeditivos à manutenção de pequenas propriedades e, consequentemente, um obstáculo à sobrevivência de camponeses pobres nas áreas rurais. Nesse contexto, deu-se o estímulo à imigração.

Toda a Europa foi atingida pelo crescimento demográfico experimentado entre 1815 e 1914, fazendo com que, nesse período, a população do velho continente saltasse de 180 para 450 milhões de habitantes. O aumento refletiu na incapacidade de absorção e aproveitamento de trabalhadores, pela economia do país. Assim, muitos partiram, deixando a Europa rumo às Américas: religiosos, estudiosos, professores, arquitetos, pintores, exploradores, cientistas, técnicos, carpinteiros, ferreiros, agricultores e muitos outros. (MOLETTA, 2007, p.31).

Grande parte dos 40 milhões de pessoas que partiram da Europa (alemães, italianos, poloneses, ucranianos, russos, espanhóis e outros) não o fez por aventura ou turismo, mas por necessidade de fugir da miséria, principalmente nas classes menos favorecidas, as mais duramente atingidas. A emigração se mostrava como solução para a crise de desemprego que assolava os países em finais do século XIX. Da Itália, partiram, desde o inicio da emigração no século XIX, até a primeira metade do século XX, mais de 27 milhões de italianos para diversos países no mundo. A partir de 1875 observou-se uma grande mobilidade de imigrantes italianos em direção ao Brasil. Essa migração cresceu em 1888 com a abolição da escravatura, quando se intensificaram programas políticos de incentivo à mão-de- obra estrangeira no Brasil, para a substituição da mão-de-obra escrava nas lavouras de café em São Paulo e para a colonização das terras do Sul do país. Quase todos os imigrantes italianos que entraram no Brasil na segunda metade do século XIX, embarcaram no porto de Gênova e desembarcaram na Ilha das Flores, baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Nessa ilha eram realizados os registros exigidos pelo sistema político e também uma série de exames médicos. Aos que passassem por essas normas necessárias, o tempo de permanência na Ilha era geralmente de dois a quatro dias. No ato do registro de desembarque os imigrantes deviam informar o nome e sobrenome, a procedência, o nome do navio, idade, sexo, naturalidade, religião, profissão, data de chegada e no mesmo instante era-lhes informado para qual província deveriam dirigir-se para a sua fixação, temporária ou permanente. O ponto de partida para o estabelecimento de imigrantes europeus no Brasil foi o decreto de 25 de novembro de 1808, de D. João VI, que permitiu aos estrangeiros o acesso à propriedade da terra. As primeiras colônias de imigrantes alemães, os quais se estabelecem no Sul do Brasil, datam de 1824, no Rio Grande do Sul. Porém, a intensificação, só vai acontecer na década de 1870, quando imigrantes europeus de outras nacionalidades, como espanhóis, portugueses, russos-alemães, poloneses, e principalmente italianos entram no país. Porém, o grande fluxo de imigrantes para o Brasil ocorreu entre 1888 e 1910, coincidindo, portanto com a abolição da escravatura e a implantação do regime republicano. Entre os anos de 1880 e 1900, quase um milhão de imigrantes, dentre eles muitos italianos, vieram para o Brasil. Além dos que se instalaram em áreas rurais, alguns se tornaram pequenos empresários, contribuindo para a industrialização e comércio da região onde moravam.

O Governo Imperial estava convencido de que precisava “branquear” a população, trazendo mais mão-de-obra européia para a agricultura, gente para colonizar as terras do sul, e pessoas para substituírem os escravos, já que a partir de 1871, a Lei do Ventre Livre tornou libertos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir de então. (MOLETTA, 2007, p.37).

O governo imperial contratava agentes de imigração para fazer a propaganda das vantagens da migração para o Brasil e da oportunidade de adquirirem suas próprias terras, trabalhando nas colônias já pré-estabelecidas no sul do Brasil. Dessa forma, a possibilidade de aquisição de terras atraiu para o Brasil um grande número de pessoas. Essas colônias eram divididas em lotes, os quais seriam entregues um para cada família.

Os lotes rurais seriam pagos em cinco prestações anuais, incluindo- se aí os juros do empréstimo para a formação da primeira lavoura. [...] Os colonos tinham, além disso, o direito de trabalhar como assalariados três vezes por semana, durante os primeiros seis meses, em obras públicas: construção de estradas, limpeza de rios etc. Era uma forma de obter dinheiro. (ALVIM, 1999, p. 388).

Os imigrantes vieram para o Brasil trabalhar nas lavouras de café de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nestas regiões tornaram-se, em sua maioria, trabalhadores assalariados. No Sul da Província Paranaense, através da compra de terras, formaram suas colônias e dedicaram-se à agricultura, extração da erva-mate e da madeira. Os primeiros italianos a se instalarem em solo brasileiro no ano de 1875, se dirigiram para o Sul do Brasil. Aos italianos restaram as terras mais inférteis ao longo das serras sulistas, pois as melhores terras já se encontravam ocupadas, sobretudo por imigrantes alemães. Nessas regiões, o italiano se agrupou em colônias agrícolas, muitas vezes compostas exclusivamente por italianos. As primeiras colônias criadas pelo governo foram na Serra gaúcha, no Rio Grande do Sul, nas atuais cidades de Garibaldi e Bento Gonçalves. Os italianos se espalharam por várias partes do Rio Grande do Sul, e muitas outras colônias foram criadas por particulares, que vendiam as terras aos italianos. Nessas terras, os imigrantes italianos começaram a cultivar uvas e a produzir vinhos. Atualmente, essas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil. Também em 1875, foram fundadas as primeiras colônias italianas de Santa Catarina, como Criciúma e Urussanga, assim como outras no Paraná. Nas colônias do Sul do Brasil, os imigrantes italianos puderam se agrupar no seu próprio grupo étnico, onde podiam falar seus dialetos de origem e manter sua cultura e tradições. A imigração italiana para o Brasil meridional foi muito importante para o desenvolvimento econômico, assim como para a cultura e formação étnica da população. Embora tenha sido a região Sul a pioneira na imigração italiana, no final do século XIX, foi a Região Sudeste aquela que recebeu a maioria dos imigrantes. Isto se deve ao processo de expansão das lavouras de café em São Paulo. Com o fim do tráfico negreiro e o sucesso da colonização italiana no Sul, o Governo Paulista passa a incentivar a imigração italiana com destino aos cafezais. Os imigrantes que se dirigiram para a região sul do Brasil, entre 1870 a 1920, na sua maioria eram da região do Vêneto e de suas províncias Belluno, Treviso, Vicenza, Verona, Padova, Veneza e Rovigoonde, o eixo de sua produção eram os cereais e os vinhedos.

Aos poucos, o território paranaense foi sendo ocupado por estrangeiros de diferentes origens. Portugueses, espanhóis, ingleses e seus descendentes e também africanos – cuja presença em nosso território não dependeu de sua vontade. Mas, em meados do século XIX, o fluxo imigratório foi maior e mais diversificado, ou seja, os imigrantes procediam das mais diferentes regiões da Europa para o Paraná. (STECA, 2008, p. 25).

Somente a partir do ano de 1875 o Paraná recebeu um número significativo de imigrantes italianos. Muitos desses imigrantes foram instalados, inicialmente na Colônia Alexandra criada em 1875, no litoral. Porém, a colônia não teve sucesso, sendo que muitas reclamações chegavam à capital, Curitiba. Muitos imigrantes queriam até mesmo retornar à Itália, pois pensavam terem sido enganados pelas falsas promessas das propagandas. O objetivo da vinda desses imigrantes para o Paraná era a colonização e a formação de lavouras de subsistência para o abastecimento dos centros populosos. O objetivo do governo provincial era o estabelecimento de uma população de agricultores no vasto espaço entre os Campos Gerais, o Vale do Iguaçu e . Buscava-se fortalecer a cultura do mate, o comércio da madeira e do gado – os principais produtos da economia da província.

O estímulo à imigração na Província do Paraná aconteceu desde cedo, já com o primeiro presidente da Província, Dr. Zacarias de Goes e Vasconcelos (...). Para os imigrantes que vinham para a Província do Paraná a porta de entrada era o porto D. Pedro II, em Paranaguá. Nesta localidade os imigrantes mais uma vez passavam por um registro, semelhante ao praticado na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro. Após feito esse novo registro os imigrantes eram encaminhados para hospedarias existentes tanto em Paranaguá, como em Antonina e . Foi no território de Morretes, situado a cerca de cinqüenta quilômetros de Paranaguá, ao pé da Serra do Mar, que os imigrantes italianos formaram os primeiros centros coloniais. Este local apresentava um solo muito fértil e água em abundância, por isso foi escolhido pelo governo para a implantação de colônias. Apesar dessas condições favoráveis muitos dos primeiros colonos não se adaptaram a alta temperatura e a umidade, de modo que sentiram a necessidade de emigrar para o planalto. A princípio os imigrantes passaram a transpor a Serra do Mar com suas carroças pela estrada da Graciosa que começava em Antonina, mais tarde (1881-1885) com a construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba, que passava por Morretes, os imigrantes eram facilmente transportados para o planalto curitibano. Dessa forma muitos emigraram para o planalto e fundaram as primeiras colônias perto da capital. (MACHIOSKI, 2008, p.5-6).

Em 1877 foi criada a Colônia Nova Itália no município de Morretes. A colônia tinha o intuito de abrigar os imigrantes da antiga Colônia Alexandra e também aqueles que ainda chegariam nos próximos anos. Do mesmo modo que a Colônia Alexandra, a Colônia Nova Itália não prosperou, deixando seus moradores sem alimentação, sem vestuário e acometidos de muitas doenças comuns ao clima do litoral. Muitos imigrantes deixaram a Colônia Nova Itália por conta própria e seguiam em direção ao planalto de Curitiba. Eles se fixaram em novas colônias nos arredores de Curitiba, dando origem a algumas colônias como Colombo, Santa Felicidade, Colônia Dantas (atual bairro Água Verde), Timbituva (Campo Largo), São José dos . Embora criadas no mesmo momento, as colônias estabeleceram formas de organização social condizentes com cada grupo que nelas se estabeleceu e com a interação que esses grupos fizeram com a população brasileira. Algumas colônias mantiveram a cultura de seu país de origem por mais tempo, enquanto outras sofreram mais rapidamente um processo de integração com a população paranaense. Inúmeros pedidos foram feitos em diversas colônias do Paraná, solicitando melhorias para a produção agrícola. Os produtos cultivados nos lotes dos colonos eram comercializados na capital, Curitiba. A prática do comércio concretizava os objetivos dos moradores dessas regiões que conseguiam vender seus produtos com facilidade na capital, trazendo recursos e estabilidade financeira à colônia. Segundo MIMESSE e MASCHIO (2006, p.17-19), a década de 1890 foi marcada por um grande desenvolvimento econômico nas colônias próximas a Curitiba, pois foram instaladas algumas fábricas e alguns estabelecimentos comerciais, como o moinho de fubá, a ferraria, a serraria, o primeiro forno de calcário e a primeira olaria. A população destas colônias dividia-se entre o trabalho e a religiosidade. As atividades religiosas estavam muito ligadas ao cotidiano dos moradores. As primeiras décadas do século XX foram marcadas por muitas transformações econômicas, sociais e culturais na região. Embora vindos da mesma região da Itália, a trajetória dos diferentes grupos de imigrantes foi marcada por significativas diferenças. As autoridades paranaenses acreditavam na vantagem de estimular a colonização européia e como as melhores terras em volta da capital já estavam ocupadas, o governo com o intuito de acelerar a imigração, iniciou a colonização em regiões mais afastadas, sobretudo nos municípios de Palmeira, Ponta Grossa, Santo Antônio de Imbituva, São Mateus do Sul, Rio Azul, Mallet, Irati, Cândido de Abreu, União da Vitória, Prudentópolis. É neste contexto que destacamos a imigração italiana com a instalação de famílias na Colônia de Bella Vista3, interior da então Freguesia de Santo Antônio de Imbituva, em 1896. Eles chegaram, adquiriram terras

3 Colônia Bella Vista é a grafia original que os primeiros colonos italianos utilizavam. Hoje se utiliza Bela Vista, grafia mais simplificada. e iniciaram a fundação de pequenos núcleos. Vieram famílias de imigrantes italianos como os Bobato, Moleta, Marconato, Menon, Pontarolo, que nas regiões mais interioranas de Imbituva formaram núcleos, como por exemplo, Ribeira, Colônia Bella Vista, Boa Vista, entre outras. Nos locais onde os imigrantes se instalaram, a terra era muito fértil. Como as culturas eram semelhantes às da Europa, cultivaram cereais, verduras, vinho, entre outros. De suas colônias localizadas no interior (Bella Vista, Ribeira, Boa Vista), dirigiam-se à cidade (Imbituva) para a venda do excedente de sua produção e de outros produtos como manteiga, queijo, doces, ovos, entre outros. As outras duas atividades principais desenvolvidas por esses imigrantes foram o cultivo da erva- mate e a extração da madeira, atividades estas que permanecem até hoje na região como fundamentais para o desenvolvimento de nosso município. A imigração italiana na região Sul e no Paraná, trouxe com certeza, mudanças importantíssimas para a sociedade. Podemos destacar a desagregação da sociedade tradicional4, a implantação da pequena propriedade, a figura do colono e a mão-de-obra livre. Além disso, também, o surgimento de uma classe média rural e urbana, com suas tradições, costumes e heranças culturais.

A Colônia Bella Vista: colônia pioneira da Imigração Italiana em Imbituva

Segundo MOLETTA (2007), Giacinto Moletta e sua mulher, Maria Gabardo, constituíram uma das famílias pioneiras da Colônia Bella Vista no município de Imbituva, no Paraná. A motivação para o deslocamento a esta localidade era a companhia de muitos outros italianos e a possibilidade de possuírem uma área enorme para plantio. A chegada desses italianos ocorreu em 1896. A família Bobbato, que posteriormente também se fixou na Colônia Bella Vista, se destaca com a entrada de Marziale Bobbato no ano de 1887 no Estado do Paraná. Essa família morou inicialmente na Colônia Alfredo Chaves, atual município de Colombo. Anos antes, em 1878, haviam desembarcado também em terras brasileiras Giuseppe Alessi, sua mulher Maria e os filhos Luiza, Domenico e Antonio.

4 Transformações que ocorreram na estrutura social e econômica do Paraná no fim do século XIX. Essas transformações contrastam a concentração urbana com a dispersão de proprietários rurais, em busca de outro tipo de atividade e formação da sociedade, como por exemplo, a interação dos imigrantes europeus com a sociedade agrária tradicional. A primeira moradia da família foi a Colônia de Timbituva, próxima a Rondinha, no município de Campo Largo. Marziale e Giuseppe, insatisfeitos com o local onde residiam, partiram para o interior em busca de outras terras. Marziale Bobbato e Gíuseppe Alessi encontraram uma área de aproximadamente 1.800 alqueires e distante uns 15 km do núcleo urbano de Imbituva para a implantação da nova colônia. O motivo de terem se deslocado para a região de Imbituva, pode ser a informação obtida no LV87, p. 360, inscrição de número 225 do Livro de Registro de Terras, a qual remete a uma compra de terras por João Bobbato, irmão de Marziale:

João Bobbato, residente na Ribeira, compra com cultura affetivo [sic] e morada habitual há mais de dois anos, situado no lugar denominado Ribeira. O terreno em seu todo deve ter quarenta alqueires mais ou menos, sendo parte cultivada, plantação de milho, feijão, fumo, criação de animais e mais benfeitorias. 2-9-1895. Comprou em 1893 no dia 29 de agosto. Villa de Santo Antonio de Imbituva. Vendedor Generozo Teixeira da Cruz. João Bobbato pagou 1 conto e oitocentos mil reis referente a 6% de "SIZA". Cento e oito mil réis, pagamento feito em 7-8-1893. (MOLETTA, 2007, p.143).

Quando as primeiras famílias ali se estabeleceram foram construídos provisoriamente, como nas demais colônias, ranchos pequenos, cobertos com folhas de xaxim e palmeira. A primeira grande tarefa dos colonos foi o início do desmatamento de pinheiros centenários. O diâmetro das araucárias era tão grande que para abraçá-los, eram necessárias cinco pessoas. A derrubada dos pinheiros era difícil pela improvisação das ferramentas. Após derrubá-los o mais trabalhoso era colocá-los em carroças para o transporte. Limpar a área para o cultivo das primeiras culturas foi uma tarefa que causou muito desgaste e tempo aos colonos. Feita a estrutura básica na colônia foi possível iniciar o processo de recebimento de inúmeras famílias, ora mencionadas em ordem alfabética: Affornalli, Beraldo, Benanto, Bressan, Binni, DaI Santo, Dalla Rosa, Fabbris, Fabbri, Gatto, Gasparello, Guilherme, Marconato, Moletta, Montani, Menon, Scorsin, Sturaro e Zampieri, entre outras, todas da região vêneta, no norte da Itália. A colônia foi batizada com o nome de Colônia Italiana Bella Vista. Sucessivamente foram chegando à colônia outras famílias e, em 1900, o número delas era de aproximadamente 40 famílias, estimando-se um total de 150 habitantes. Os colonos relatam que a terra era fértil, adequada para a plantação de arroz, batata doce, batata inglesa, cebola, centeio, feijão, fumo, melancia, milho, trigo e uva. A rotina era como nas demais colônias, de muito trabalho e pouca diversão. Para suprir as dificuldades e necessidades do convívio em uma organização, foi realizada uma reunião para discutir a possibilidade da criação de uma sociedade, a qual se ocuparia da compra de um terreno para a construção da capela e do cemitério. Os detalhes foram acertados entre os colonos, e um dos sócios, sensibilizado com a situação, prontificou-se a doar uma área de terras que serviu para a construção do cemitério, da casa mortuária e da futura capela. Dessa forma, em 20 de fevereiro de 1901 foi fundada a Casa Mortuária da Colônia Italiana Bella Vista. Tinha como tarefa arrecadar fundos para a compra do terreno e a construção do cemitério, da capela e da casa funerária ou mortuária. Previa ainda que os recursos servissem para cobrir as despesas com os sepultamentos e a manutenção do campo santo. Bella Vista foi fundada por pessoas que não tinham encontrado oportunidades nas colônias existentes nos arredores de Curitiba. Pouco a pouco a nova geração vai deixando o local e ramifica-se em direção a Prudentópolis, Ivaí, Ipiranga, lrati e tantas outras cidades. A falta de escola impediu o desenvolvimento de muitos, e por um longo período a regra básica foi "quem sabe ensina quem não sabe". Atualmente a cidade de Imbituva possui muitos descendentes dessa colônia, os quais prosperaram lentamente com as limitações impostas pela falta de apoio e oportunidades.

2. EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA – FOTOGRAFIA E MEMÓRIA LOCAL

Foi escolhida para a implementação do Projeto uma turma de 7ª Série do Colégio Estadual Alcides Munhoz. Adolescentes com idade entre 12 e 13 anos que em sua maioria são descendentes e/ou moradores da Colônia Bella Vista, interior de Imbituva. A aplicação do Projeto e da Unidade Didática iniciou-se em 30/08/2010, com 40 alunos e desenvolveu-se ao longo dos meses de setembro, outubro, novembro, com término no dia 29/11/2010. De início os alunos foram orientados quanto ao desenvolvimento das atividades que iriam realizar e que se daria por unidades, sendo estas: Unidade I: A FOTOGRAFIA COMO “LUGAR DE MEMÓRIA” NA HISTÓRIA LOCAL - Interpretando Fotografias; Unidade II: AS FOTOGRAFIAS COMO DESENCADEADORAS DA MEMÓRIA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA – O Brasil dos Imigrantes; Unidade III: MEMÓRIA E HISTÓRIA LOCAL - A COLÔNIA BELLA VISTA: colônia pioneira da Imigração Italiana em Imbituva; Unidade IV: MEMÓRIA E CULTURA DE IMIGRANTES ITALIANOS – Descobrindo as Heranças Culturais. De acordo com o material didático era necessário inicialmente responder algumas questões referentes ao trabalho com fotografias para saberem como utilizá- las. Os alunos interpretaram os textos sobre fotografia5, observaram máquinas antigas de fotografar (de acervo da professora), bem como completaram um quadro sobre a “História da Fotografia” e suas técnicas de obtenção. A principal atividade foi à interpretação de duas fotografias da História Local, utilizando-se de um roteiro e alguns passos sugeridos por Boris Kossoy, estudioso do uso da fotografia, para sistematizar as informações colhidas pelos alunos. O resultado desta atividade já traz de início uma resposta positiva ao projeto, pois os mesmos aprenderam a identificar na fotografia: a quem pertencia, data e o local, tema central, paisagem retratada, que tipo de ambiente e que outros elementos (detalhes) podiam se observar e destacar na fotografia. Também puderam conhecer a fotografia mais antiga de sua cidade e trabalhar com seus dados.

Foto 16 Foto 27

5 Textos: O que é fotografia, adaptado de Rosi Teixeira – PDE 2008. O uso da fotografia, adaptado de Nanci Edilani Correa – PDE 2008. A fotografia impressiona a arte, texto adaptado do Livro Didático Projeto Araribá – 7ª Série – Editora Moderna – p.155. Técnica da Fotografia: procedimentos para se chegar à fotografia, Texto adaptado do site: http://viagem.hsw.uol.com.br/cameras- fotograficas.htm. 6 Foto 1: Avenida 7 de setembro em 10 de outubro de 1906. Acervo: Édison Pupo. Após a análise das fotografias, com os dados coletados, os alunos produziram um texto escrito, identificando: a época e local das fotografias; o tema central da fotografia; o estilo de roupas e acessórios usados na época; as idéias e mensagens significativas reveladas na fotografia; valores e costumes; aspectos relacionados à história local. Podemos observar estes dados, através de um texto produzido pelo aluno – João Eronildo Stadler8.

“No início do século XX, Imbituva ainda era uma cidade em formação, pois existiam poucas casas e pessoa. As estradas eram de terra lamacenta, tinha muita vegetação. Se locomoviam com cavalos e carroças. As casas eram de madeira, já existia energia elétrica em 1922. Seguiam os costumes deixados pelos seus antepassados, os quais foram passando de geração a geração. A cidade era calma e tranqüila. [...]

Os alunos começaram a ter contato direto com a história de sua cidade. Alguns se interessaram enquanto outros se mostraram pouco interessados em buscar as “fotografias e a História” de suas famílias, mas após assistirem ao filme “Narradores de Javé” e trabalharem questões relacionadas a importância de se resgatar a história de um povoado, de uma cidade, com as fontes que possuem, sejam elas orais, escritas ou materiais, começaram a entrevistar suas famílias e trazer as fotografias que possuíam para a posterior análise e interpretação das mesmas. Para eles, foi uma atividade diferente, pois nunca tinham trabalho com o resgate da história local, através da fotografia de suas famílias. Muitos até questionaram-se se sua família era realmente importante para o município, de acordo com a fala de um aluno “... mas minha família não faz parte das famílias formadoras do município”, como se na História fossem importantes apenas àquelas que se destacaram na realização de um fato. Desta forma foi necessário despertar no aluno o interesse por buscar acervo fotográfico em suas famílias, pedindo a eles que trouxessem para a sala de aula, a fotografia mais antiga que tivessem de seus antepassados de origem imigrante (das etnias que tivessem dado origem a sua família) e junto com ela a maior quantidade possível de informações, para depois, das fotos selecionadas pelo professor e das resgatadas pelos alunos, realizar uma

7 Foto 2:Casamento realizado na Igreja Católica da cidade de Imbituva/Pr, em 1922. Acervo: Édison Pupo. 8 João Eronildo Stadler, aluno da 7ª Série A do Colégio Estadual Alcides Munhoz, no ano de 2010. Texto produzido no dia 21/09/2010. análise e interpretação das mesmas, destacando: qual o tema da fotografia; que representação do real podemos retirar dela a partir do olhar e prováveis intenções de seu autor; de que maneira o fato representado na foto contribui para a compreensão do tema Imigração Italiana; como identificar nas fotografias selecionadas elementos da história/local, tais como: a vida familiar, a religiosidade, trabalho e cultura dos imigrantes italianos. A partir da análise de fotos particulares que todos nós temos, o aluno poderá reconhecer sua família, os laços afetivos, sociais, econômicos e políticos e entender que a família está inserida dentro da história, e como tal ele é um agente histórico, e sua ação neste processo é decisiva principalmente para sua vida, enquanto cidadão. A próxima etapa foi organizar entrevistas com membros de suas famílias, que chamamos de “Momento de Memória”. Entrevistaram seus avôs ou a pessoa mais idosa da família para colher os seguintes dados: Onde eles e os pais deles nasceram; a origem dos sobrenomes de sua família; as relações que eles têm com a história local; como era a vida cotidiana no passado (vestuário, alimentação, moradia, costumes, trabalho), na cidade; e se a pessoa entrevistada possuía fotos, lembranças, cartas ou documentos antigos sobre a cidade. Aprenderam a escutar as pessoas entrevistadas e a registrar esses dados. Na prática aprenderam o que na teoria defende THOMPSON (1992), “é preciso ter disposição para ficar calado e escutar. Quem não consegue parar de falar e discordar do informante irá obter informações que são inúteis e enganosas”. Desta forma, identificaram mais concretamente as famílias pertencentes ao grupo dos imigrantes italianos e quais os outros grupos que também fizeram parte da formação do município. Destacamos que a entrevista é um recurso importante para construir uma história oral e, como se trabalhou com as memórias das famílias, através da fotografia, esta é imprescindível, pois conforme THOMPSON (1992, p.25): “Os historiadores orais podem escolher exatamente a quem entrevistar e a respeito do que perguntar. A entrevista propiciará, também, um meio de descobrir documentos escritos e fotografias que, de outro modo, não teriam sido localizados”. Em suas entrevistas e na transcrição dos dados pelos alunos, estes descobriram não só a origem de suas famílias imigrantes, mas também, as memórias da infância, da juventude, costumes, tradições, vivenciados por seus avós ou parentes próximos, como podemos verificar no depoimento dos pais do aluno David P. Zampier:

“Nascemos no interior de Imbituva, localidade de Ribeira dos Leão. O sobrenome de nossas famílias é de origem italiana. Nossos trisavôs vieram da Itália e se instalaram na Colônia Bella Vista, próximo a Ribeira. Foram nossos avós que ajudaram a construir a Colônia da Ribeira que era como um braço da Bella Vista, pois quem foi morar lá, eram todos parentes das famílias Bobbato, Mulleta, Pontarolo, Zampier, Menon, Alessi e outras. Nossos avós tinham vida simples e sofrida, sem luxo e mordomias, viviam os costumes deixados pelos seus pais e avós, que foram passando de geração em geração. As mulheres costumavam usar vestidos compridos e lenço amarrado na cabeça. Tomavam chimarrão reunidos com a família, rezavam o terço todas as noites. Trabalhavam muito, tirando erva-mate, quebrando milho, arrancando feijão e outros produtos. Se alimentavam de broa de milho, macarrão caseiro, quirera, café torrado, polenta, verduras e legumes que eles plantavam. As mulheres faziam manteiga, queijo, para vender na cidade, junto com ovos caipiras. Os homens faziam o vinho da uva que colhiam nos parreirais. As casas eram de madeira, cobertas com tábuas e tinham sóton, onde geralmente dormiam as crianças.” 9

Com as entrevistas e a elaboração de seus textos, os alunos perceberam que poderiam resgatar as vivências das famílias italianas e também de outras famílias da comunidade que não eram apenas descendentes de italianos, mas também de alemães, poloneses e portugueses. Muitos ficaram entusiasmados em saber qual era a origem dos sobrenomes que não eram de origem italiana, mas de alemães, poloneses e portugueses. Desta forma se propôs a coleta de dados para a sistematização das atividades em caderno próprio para registro das etapas, unidades e atividades do projeto. Pensar os documentos selecionados, envolver os alunos com a prática da pesquisa, identificar e relacionar os dados documentais ao cotidiano e à realidade do aluno são ações que permitem ao professor transpor em sua intervenção as barreiras que separam a realidade concreta e perceptível ao aluno e o conhecimento histórico dos livros e que muitas vezes caracteriza os procedimentos tradicionais do ensino de história. Desta forma, os alunos passaram a analisar as imagens, fotografias, para entenderem a Imigração Italiana através da história de suas famílias. Ao mesmo tempo estudando as diferentes etnias que se dirigiram para o Paraná, os alunos que não eram descendentes de italianos também perceberam a importância de suas origens para sua história familiar e para a formação do Município, como no caso dos alemães e poloneses. Começaram a se identificar a qual grupo de imigrantes eram descendentes e como chegaram até o Brasil e a Vila

9 Informação fornecida por José Claudinei Zampier, em entrevista realizada no dia 14/09/2010. de Santo Antônio de Imbituva. Muitos trouxeram de casa o relato sobre as dificuldades passadas pelos seus antepassados na vinda para a nossa Província, o Paraná, como adquiriram suas terras ou formaram sua colônia. Uma atividade bastante significativa neste momento, junto à professora de Geografia, foi à confecção de mapas da Europa e da Província do Paraná, o trajeto realizado por estas famílias de imigrantes da Itália e da Alemanha até Imbituva. E depois a confecção de textos, junto à professora de Língua Portuguesa, da mobilidade e das dificuldades pelas quais os imigrantes passaram ao decidirem morar em outro país e em nossa cidade.

Foto 3 Foto 4 10 Através dos textos produzidos pelos alunos, percebe-se que os mesmos adquiriram uma compreensão maior dos trajetos desenvolvidos pelos imigrantes, bem como as dificuldades passadas por eles nas viagens e na adaptação de vida no Brasil. Observamos isso no texto da aluna Camila Sandeski11.

Eu e meus pais nascemos em Barreiro, interior de Imbituva. Lá é uma comunidade que se formou da Colônia Bella Vista. Eu nasci em 1997, meu pai em 1967 e minha mãe em 1968. Meus bisavôs são de origem italiana, só minha avó materna é de origem polonesa. Então sou de origem italiana e polonesa [...] Meus avós me contaram que seus pais e avós, sofreram muito nestas viagens para o Brasil. Tinham que deixar tudo na sua terra natal, embarcar em navios apertados onde ficavam todos amontoados, passavam fome, frio e quando chovia ficavam todos molhados e pegavam até doenças. [...]

A partir deste momento o Projeto tornou-se extremamente gratificante para os alunos e para a professora, pois os mesmos já se sentiam fazendo parte da História

10 Fotografias dos mapas produzidos pelos alunos sobre o trajeto realizado pelas famílias de imigrantes da Itália até Imbituva. Destaque para a marcação da cidade de Imbituva, no mapa como colônia de imigrantes italianos. Fotos da autora. 11 Camila Sandeski, aluna da 7ª série A do Colégio Estadual Alcides Munhoz, no ano de 2010. Texto produzido no dia 25/10/2010. dos imigrantes fossem eles os italianos da Colônia Bella Vista, ou os alemães e poloneses que se fixaram na região urbana de Imbituva. No trabalho que desenvolvemos com alunos, nem todos participam das atividades de forma igual, e nesse projeto não foi muito diferente, pois aqueles que não pertenciam às famílias de origem italiana, alemã e polonesa e que se deslocaram para a cidade há pouco tempo, não puderam realizar algumas ações do projeto, e por motivos particulares não quiseram responder as entrevistas, talvez pelo fato de seus pais não terem dados para repassar a seus filhos. Alguns alunos que não faziam parte do grupo imigrante italiano no início sentiram dificuldades, mas após trabalharmos e destacarmos os outros grupos imigratórios que também contribuíram para a formação da cidade, os mesmos sentiram-se incentivados a procurar a origem de suas famílias e como seus antepassados chegaram até Imbituva. No desenvolvimento da Unidade III – Memória e História Local, os alunos se aprofundaram mais no conhecimento da História de seu Município, através de slides12, de textos de livros sobre a cidade, de maneira mais detalhada através da análise de fotografias trazidas por eles próprios e pela professora. Nesta atividade os alunos identificaram as mudanças e permanências do espaço/tempo, as rupturas e permanências históricas a partir da fotografia da cidade e dos imigrantes italianos. Os textos, imagens e documentos apresentados aos alunos, constituem-se em múltiplos recursos de análise e mostram aos alunos os percursos que a comunidade local traçou em uma longa história. Familiarizar o aluno com esses processos históricos, indicar os procedimentos possíveis para se conseguir resgatar a história local, dão novamente ao estudo da história essa dimensão de proximidade entre história e cotidiano, que é tão importante ao processo de ensino. Partindo para uma atividade mais direta e prática com os alunos, fomos visitar a colônia Bella Vista e seus patrimônios históricos. A educação patrimonial hoje é muito valorizada no processo de aprendizagem, pois situa o aluno diante dos registros materiais e imateriais de um grupo de uma sociedade. Nesse sentido, esta visita teve um sentido prático, pois estava mais próxima da realidade dos alunos.

12 Slides baseados nos livros “Imbituva: uma cidade dos Campos Gerais” e “Memórias de Imbituva”, publicados pela autora deste artigo. Os alunos também puderam manusear, conhecer e estudar a história do município por estes livros. Foi à atividade que proporcionou mais interatividade entre os alunos. Visitaram a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída como marco de formação da Colônia Bella Vista.

Fotos 513 Foto 614 Os alunos que não conheciam a Colônia ficaram admirados por conhecerem patrimônio histórico tão rico em detalhes. Alguns que moram nas regiões próximas a colônia, mas que ainda não tinham entrado na igreja chegaram a observar, como na fala da aluna Camila Sandeski: “Nossa professora, eu moro tão perto, minha família é descendente de imigrantes, e eu não conhecia essa igreja. Como ela é linda e cheia de detalhes [...]”. Percebe-se o quanto o aluno não valoriza o patrimônio que tem próximo de si mesmo. Neste local, os alunos puderam perceber elementos materiais e culturais, podendo compará-los com o estudado em sala de aula.

Foto7 Foto 815

13 Pedra fundamental da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Foto da autora. 14Painel com o Resgate Histórico das famílias formadoras da Colônia Bella Vista. Está no interior da Igreja. Foto da autora. 15Foto 7 e 8: Igreja Nossa Senhora do Carmo – Colônia Bella Vista. Dia 25/10/2010. Fotos da autora. Fotos 9 Foto 10 Foto 1116 Depois de observar tantos detalhes com as pinturas, a construção, os inscritos em italiano no altar, o órgão existente na parte superior, as fotos do resgate histórico, a placa de fundação, estes ficaram mais curiosos pela história da colônia e principalmente quando visitaram uma casa com objetos antigos originais dos imigrantes que vieram da Itália, pertencente a Sra. Valdete17. Fizeram suas comparações com os objetos atuais e com as fotografias antigas e atuais, enriquecendo ainda mais seus conhecimentos.

Valdete Nelzi Mehret. Neta de um italiano que veio para o Brasil em 1898. Vieram mais ou menos sete pessoas com ele: Angelo, Abraão, Regina, Maria, Antônia, Angela e Ana. Os italianos desta família vieram porque não tinham mais o que comer e não tinham mais agasalhos para vestir. E eles gostaram porque aqui no Brasil tinha mais fartura e mais terras. Eles plantavam uva, feijão, batata-doce e o principal era raditi18 com polenta. As casas eram bem compridas, iguais a um paiolão19. Os móveis eles faziam de madeira, cobertas e travesseiros de pena de ganso ou de galinha, a iluminação era só o lampião a querosene, roupas eram de saco de algodão e o fogão era de tijolo. Os transportes eram a pé e a cavalo. Eles moravam na serra da Colônia Bella Vista e trabalhavam com tração animal. Nas festas traziam pão, vinho e carne. Os vinhos eles tomavam em uma vasilha chamada crespa. Eles faziam bailes em famílias com o gaiteiro Germano Mehret, na casa do Sr. Luiz Scorsim, que eram católicos. Eles só sabiam assinar o nome, a brincadeira era carpi com a enxada. Se eles fizessem algo errado, sem querer eles apanham de seus pais. Eles dançavam xote, valsa, suingue. Famílias que vieram da Itália: Marconato, Zampier, Alessi, Dala-Rosa, Fabri, Montanni, Bobbato, Gatto, Beraldo, Menon, Bresan,Guilherme, Mületta, Mussolin, Dal-Santo, Gasparello, Binni, Pontarolo e outras. 20

16 Fotos 9,10,11: Fotos do interior da igreja Nossa Senhora do Carmo. O altar e suas pinturas no teto. Fotos da autora. 1713. A Srª Valdete mora nesta casa que foi de seus pais e avós italianos, conservando os móveis antigos que guarda com muito carinho. Como não tem ajuda de ninguém, estão se deteriorando. Imbituva não possui Museu para sua conservação e cuidado. 18 Um vegetal, planta meio amarga, que era cozida para comer com polenta e molho. 19 Um barracão chamado de paió. 20 Texto produzido pelas alunas Letícia, Jéssica e Werica, após a entrevista com a Sra. Valdete, no dia 30/10/2010.

21 22 Foto 12 Foto 13

Foto 14 Foto 15 Foto 1623

Após a visita a colônia e observar os objetos da casa italiana, os alunos desenvolveram a atividade de fotógrafo e expuseram em sala de aula as fotos que tiraram dos locais visitados. Analisando as fotografias antigas da colônia, de seus moradores, da igreja e de algumas casas, eles puderam comparar com as fotografias atuais e perceber as mudanças e permanências nos elementos culturais, espaciais e até econômicos que permearam a vida dos imigrantes italianos que ali se estabeleceram. Também puderam comparar os pontos comuns e divergentes dos dados colhidos com a análise das fotografias anteriores e os relatos orais de seus avós ou parentes sobre o início desta colônia de imigrantes e a formação da cidade de Imbituva. Usando fotos “antigas” e fotos “recentes”, os alunos são capazes de compreender a transformação do espaço temporal e das sociedades, sendo assim, enquanto observador do processo histórico, ele é capaz de refletir e interagir com este processo, alcançando condições de aprendizagem e conhecimento na compreensão da sua própria história.

21 Casa de D. Valdete. Casa em estilo italiano. Foto da autora. 22 Baús de viagens dos imigrantes Italianos e um quadro de Santo Antonio, trazido da Itália para a Colônia Bella Vista, no ano de 1896. Objetos da Sra. Valdete. Fotos da autora. 23 Cama confeccionada pelos primeiros imigrantes que se estabeleceram na Colônia Bella Vista. Foto da autora. A partir da Unidade IV: Memória e Cultura dos Imigrantes Italianos, os alunos já demonstravam total interesse por conhecer os usos, costumes e tradições de seus antepassados. Após a leitura e interpretação de textos sobre as heranças culturais dos italianos, de alguns autores como Zélia Gattai, os mesmos elaboraram um roteiro de entrevista para realizar com descendentes de imigrantes (italianos, alemães ou outra etnia), bem como procurar identificar os dados colhidos nas entrevistas com as fotografias antigas e as tiradas por eles na sua atividade de fotógrafos. Esta atividade foi uma das mais participativas por parte dos alunos. Eles identificaram as formas de adaptação às novas regiões de convívio, as atividades econômicas rurais e urbanas, a religiosidade, os rituais dos casamentos, as formas de alimentação com a culinária italiana – pratos típicos adaptados a vida cotidiana dos descendentes e das famílias dos alunos, que mais tarde apresentaram na etapa final do projeto. Percebemos que outras etnias acabaram incorporando estes mesmos costumes e tradições, como veremos a seguir na entrevista feita pelo aluno Bruno Michel Neiverth.

“Meu trisavô Jacob Neiverth, avô de meu avô paterno nasceu na Rússia, no Rio Volga. Passou a morar na Alemanha e casou-se com Maria Elizabeth. Vieram fugidos da guerra para o Brasil, tiveram 8 filhos sendo um, meu bisavô Carlos Albino pai de meu avô Adair. Minha avó paterna. Seu pai também era descendente de alemão. Família Raimann, sua mãe brasileira, família Lemes. Descendência materna: meu trisavô Alberto Frederico Henrique Volf nasceu na Alemanha, participou como soldado da 1ª Guerra Mundial, teve experiências muito triste, ele sofreu muito nessa guerra, perdeu amigos. Meu avô conta que ele era um homem muito nervoso. Mais tarde ele veio fugido para o Brasil, deixou sua esposa Martha e seus dois filhos na Alemanha. Meses depois ele conseguiu dinheiro e mandou para sua família vir para o Brasil, um desses filhos é minha bisavó Martha Elze que chegou no Brasil com três anos de idade usando um pé de sapato preto e outro vermelho, porque ela na viagem de navio jogou um pé de cada sapato no mar. Anos mais tarde ela casou-se com Jacob Schneider descendente de alemão. Meu trisavô paterno veio morar no Alto do Mato Branco, de início trabalhou como lavrador, depois montou uma serraria tocada a vapor, que na época era a maior da região. Sua casa existe até hoje, de tijolo e pedra por fora e assoalho bruto por dentro. Os móveis da época eram rústicos feitos por marceneiros, os fogões eram de tijolos, o ferro de passar roupa era colocado brasas dentro deles para esquentar. As cozinhas eram de chão, os lampiões de querosene. As cobertas eram feitas de penas de ganso, assim como os travesseiros. A carne era crioula de animais que eles próprios criavam. Tudo era crioulo, o feijão, o arroz, farinha, verduras. Também toda moça tinha que aprender costurar, bordado e crochê, para fabricar seu próprio enxoval, e também para quando casar costurar roupas para ela, seu marido e seus filhos. Na época não existia roupas prontas para comprar. As pessoas mais bem de vida compravam tecido em metro para fazer roupas e as mais pobres faziam roupas de saco de algodão. O meio de transporte na época eram carroças, charretes ou a cavalo.24

24 Texto produzido pelo aluno Bruno Michel Neiverth, filho de Aloísio Neiverth e Edeni Schneider Neiverth. O texto foi produzido após entrevista realizada com seus pais e avós no dia 30/10/2010. As fotos a seguir tiradas pelos alunos confirmam alguns dos costumes e pertences dos italianos utilizados por seus descendentes até hoje.

Foto 17 Foto 18 Foto 1925

As entrevistas são atividades essencialmente interativas. Elas permitem recuperar trajetórias de vida e valorizar as experiências de outras gerações. Os alunos resgatam experiências particulares, elementos da memória familiar como: Os costumes e tradições da família que perpassam entre as gerações, a vivacidade e alegria nas reuniões familiares, o relato dos avôs ou parentes sobre tempos remotos, e fotografias e pertences pessoais que trazem as memórias dos tempos vividos nas colônias de imigrantes e nos países de origem. De acordo com LEITE (1998), “O reconhecimento das fotos de família pode funcionar como um desencadeador de lembranças múltiplas e constituir, de um lado, uma forma de resgatar um passado esquecido [...]”, ou seja, as lembranças estão no inconsciente das pessoas, esquecidas, até que algum fato ou objeto as traga de volta. Ao recordar, rever antigas fotografias guardadas em álbuns, pertences dos antepassados, as lembranças são trazidas à tona e a subjetividade é mobilizada diante da realidade passada trazida ao presente. Através das respostas dos alunos as atividades propostas, verificamos que ainda se conservam costumes e tradições vividas pelos descendentes dos imigrantes italianos.

“Os costumes que ainda hoje se conservam nas nossas famílias da colônia Bella Vista são: alimentação, reunião em família, estar em volta do fogão de lenha para conversar, assar o pão no fogão de barro, fazer o colchão de palha de milho, acolchoado de lã de carneiro, travesseiros de pena de galinha ou de ganso, casamentos com grandes festas e regadas a vinho, rezas de terço (rosário) todos os dias e principalmente o respeito nas famílias”.26

25 Um forno de tijolos utilizado para assar pão, um colchão de palha de milho e vidros de compota de verduras, legumes e doces produzidos da mesma forma como seus pais e avôs produziam. 26 Escrito pelo aluno Lucas Scheidt, da 7ª série A do Colégio Estadual Alcides Munhoz, no dia 26/10/2010. Revelar como os hábitos de uma comunidade se modificaram, ao longo de certa temporalidade, através da fotografia, culinária, rituais, religiosidade, permitiu que fossem incorporados ao projeto diferentes recursos de ensino que deram ênfase à percepção de práticas sociais da comunidade em épocas distintas. Como atividade final do Projeto, organizamos uma exposição, para visitação da comunidade escolar, contendo: um resumo do projeto e a explicação de alguns temas trabalhados – memória, fotografias antigas como fontes históricas apresentadas no projetor multimídia. Também mereceu destaque: a relevância das famílias na história do município e da colônia Bella Vista, réplicas de trajes típicos dos grupos que influenciaram a formação da cidade de Imbituva, as comidas tradicionais dos italianos incorporadas por outros grupos (o pão caseiro, a polenta, o macarrão, pizza, risoto, tomate seco, cucha e outros). Os alunos se apresentaram trajando roupa típica italiana, explicaram as fotografias reproduzidas e os trabalhos realizados. Fizeram questão de reproduzir os pratos típicos dos italianos, o traje típico de suas danças em miniaturas, trazendo toalhas de “bróia” 27 e objetos originais que alguns italianos trouxeram da Itália, como livro de orações, rosários, quadros de santos, mala de viagem. Pelo texto a seguir - produzido pela aluna Aline Boufheuer após a entrevista realizada com uma descendente de italianos - e pelas fotografias, podemos verificar como foi gratificante este projeto e de grande aprendizagem para os alunos, pois trouxe um complemento ao pequeno conhecimento que possuíam da história de sua cidade e da trajetória vivida pelos imigrantes europeus até a sua instalação no Paraná, mas especificamente nas colônias de Imbituva.

27 Toalha de saco de algodão, onde se faz um barrado do próprio fio do pano e um bordado especial. Artesanato produzido pelas mulheres italianas. Fazia parte do enxoval das noivas como toalha de banho. Sra. VALDIRENE DE FÁTIMA EIDAM NEIVERTH. Sua bisavó veio da Alemanha quando tinha 6 anos. Hoje já é falecida. Veio de lá por volta de 1908 e 1910. Vieram mais ou menos umas 10 pessoas de sua família. Com o objetivo de encontrar novas terras e novas oportunidades de vida longe da miséria, fome e guerra. Em 2004 completou 180 anos que os alemães vieram para o sul do Brasil. Gostaram muito do lugar, pois tinha várias terras para cultivarem seu alimento. As casas eram de barro com folhas e madeiras. Vestiam-se muito mal, pois possuíam poucas roupas. Os móveis eram bem simples. Eles consumiam tudo o que produziam e cultivavam o feijão preto, carne de porco e gado, chucrute, batata inglesa e arroz. Na iluminação era usado lampião e lamparinas a querosene. Onde eles moravam era muito mato, denso e hostil. Foi na Colônia de São Leopoldo/RS que tudo começou. Montavam a cavalo, que antes era usado no trabalho. Os moradores uns eram artesãos, outros plantavam e vendiam, marceneiros forneciam móveis e carroças além de utensílios domésticos e os carpinteiros erguiam casas e paiós. A religião formou a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), em 1900. As comemorações me igual de hoje, participavam de casamentos, festas religiosas.Nas infância brincavam em muitas crianças juntas e as brincadeiras eram muito simples: pegador, esconde-esconde e outras. A escolha para os filhos era obrigação paterna, germaneidade, por meio da língua alemã. Elas tinham clubes femininos, as músicas eram bem antigas, bandinhas animavam bailes e festas ao som de valsas, polcas [...]. A mulher alemã limpa a casa, costura, remenda, cuida da cozinha, do jardim, da horta, do pomar, ordenha a vaca, trata as aves além de ajudar o marido no trabalho da lavoura. Todos os domingos se reuniam para conversar com sua família e almoçavam macarrão com molho, carne de galinha (costumes herdados dos italianos) e saladas.29

28Relato de entrevista realizada pela aluna Aline Boufheuer, com a Sra. Teresinha Adelaide Dal Santo, descendente das famílias Alessi, Bini e Dal’Santo, famílias italianas da Colônia Bella Vista. 29 Relato de entrevista realizada pela aluna Ellén Liliane de Lima, com a Sra. Valdirene de Fátima Eidam Neiverth, de origem Alemã.

Após a exposição dos trabalhos realizou-se uma atividade síntese e de avaliação com os alunos em sala de aula, sobre a validação do projeto. Verificou-se junto a eles, se a aprendizagem foi real e concreta através do estudo com fotografias, objetos, pertences pessoais e história oral, reunidos por eles. Também se verificou com os professores de História e Equipe Pedagógica do Colégio a possibilidade do projeto ser utilizado como uma metodologia diferenciada para o ensino de História, uma possibilidade de adquirir melhor compreensão da história

30 Fotos da exposição dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos da 7ª série A, do Colégio Estadual Alcides Munhoz, no ano de 2010, no Projeto PDE: A Fotografia no Ensino de História - alguns aspectos em relação à Imigração Italiana. Fotos da autora. local/regional, com suas mudanças e permanências, de forma clara e participativa, podendo-se construir uma ação educativa em torno de referenciais da memória e da história.

2.1 Considerações finais sobre os trabalhos desenvolvidos

 O encerramento do projeto se deu com avaliação escrita feita pelos alunos, em seu caderno de atividades, destacando os pontos positivos e negativos das atividades desenvolvidas.  A interdisciplinaridade com Língua Portuguesa e Geografia contribuíram para uma melhor compreensão, por parte dos alunos, da importância dessas disciplinas na produção escrita de textos sobre a história local e as entrevistas familiares, bem como na confecção dos mapas regionais e locais.  O entrosamento de boa parte dos alunos na realização das atividades, como resultado do prazer despertado pelo tema – História Local e Fotografias, bem como suas relações com memória, identidade local, origem familiar.  Entusiasmo dos alunos ao verificar que podem desenvolver atividades como um historiador, capaz de coletar dados, analisar fontes, realizar as tarefas solicitadas e construir sua própria produção.  A percepção dos alunos no trabalho com as imagens (fotografias), como meios de fornecer informações e representações visuais do passado em seus múltiplos aspectos. Essas fotografias expostas em livros didáticos nem sempre eram muito valorizadas e analisadas pelos mesmos em sala de aula.  O projeto possibilitou uma valorização maior das várias etnias que formaram nosso Estado e suas contribuições culturais ao povo imbituvense.  Tornou-se perceptível aos alunos as mudanças do espaço/tempo, as relações de poder, mudanças sociais, culturais, as rupturas e permanências históricas a partir da fotografia de imigrantes italianos ou de outra etnia, bem como, as diferenças étnicas, registradas em fotos das famílias dos educandos.  Os alunos conseguiram estabelecer a relação entre o documento/fonte e o ensino de História, a partir da valorização do acervo fotográfico de suas próprias famílias na História Local.  Conseguiu-se com alguns alunos a formação de uma consciência preservacionista da memória histórica local, já que alguns se prontificaram a contribuir com reivindicação as autoridades locais para a criação de uma casa da memória no município, através da arrecadação de materiais históricos, mostrando com esse interesse, a busca pela sua identidade e o desenvolvimento de sua cidadania local.  Acredita-se que os pontos negativos foram apenas o pouco envolvimento da minoria dos alunos e o fato de não se envolverem completamente com o projeto, talvez por ser uma turma de 40 alunos. Numa turma de 20 alunos, o projeto seria de forma extremamente satisfatório. Também o pouco tempo para o desenvolvimento de um projeto amplo e que aos poucos foi tornando-se maior ainda, devido o interesse dos alunos com a descoberta de novos dados referentes ao tema.

3. CONCLUSÃO FINAL

Desenvolver este projeto, aplicar a Unidade Didática e finalmente escrever este artigo, nos reporta à experiência de estudar, pesquisar e ser autor de materiais para aulas de História, preocupando-nos com a aprendizagem de nossos alunos. A possibilidade de estudo da História Regional, Local e Familiar, com novos referenciais teórico-metodológicos, possibilita um ensino de história com métodos inovadores, como o uso da fotografia, onde o aluno terá a percepção de História como prática social. A investigação da história local permite pensar a História como experiência e a História como conhecimento. É uma experiência de busca e construção conjunta de conhecimento, pois como nossa cidade cultiva uma pequena memória sobre suas origens, essa experiência sugere uma variedade de fontes (fotografias, testemunhos orais, objetos, patrimônios) que podem ser registradas e exploradas por professores e alunos da educação básica. O trabalho com as fotografias da cidade e depois das famílias nas aulas de História tornou-se um método incentivador para os alunos, pois estes perceberam que as imagens fotográficas são representações do real, lembranças, memórias, significam gestos, atos e sentimentos. É através da fotografia que podemos identificar momentos insubstituíveis que constroem uma vida social, uma história local. São as fotos que credibilizam o passado e as relações sociais estabelecidas em uma sociedade. O estudo do tema Imigração foi fundamental para que os alunos se percebessem como parte da História, descobrindo suas origens e a relação de suas famílias com a História Local. A análise de fotografias familiares, as entrevistas realizadas, possibilitou aos alunos destacar a importância das fontes familiares, da memória e das narrativas produzidas por aqueles que são os guardiões das fotografias (suas famílias). Isto se dá pelo fato de que as fotografias evocam lembranças e acabam contribuindo, com suas representações, para a reconstrução do passado a partir dos elementos também do presente, possibilitando a contextualização das imagens e a construção do conhecimento. Os alunos demonstraram com seu interesse e desenvolvimento das atividades que essa metodologia de trabalhar a História é extremamente válida, pois pudemos perceber a aprendizagem real e concreta, através do estudo com fotografias, objetos, pertences pessoais e história oral, reunidos por eles próprios. Sentiram-se pertencentes a um grupo, construtores de uma sociedade, de sua própria História. Também professores de História e Equipe Pedagógica do Colégio atestaram a possibilidade do projeto ser utilizado como uma metodologia diferenciada para o ensino de História, uma possibilidade de adquirir melhor compreensão da história local/regional, com suas mudanças e permanências, de forma clara e participativa, podendo-se construir uma ação educativa em torno de referenciais da memória e da história. Esta pesquisa não se encerra aqui, percebemos que muitos alunos pretendem contribuir com a professora em reivindicações as autoridades locais, para a criação de uma casa da memória no município. Essa contribuição se dará através da arrecadação de materiais históricos e fotografias, mostrando com esse interesse, a busca pela sua identidade e o desenvolvimento de sua cidadania local. Com destaque para a Imigração Italiana que deu origem a Colônia Bella Vista, de fundamental importância para a contribuição econômica, política e cultural de nosso município atualmente, dizemos: ADDIO! GRAZIE! (Adeus! Obrigado!)

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