Imbituva/Pr) Entre Fotos E Fatos: 1906-1940
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A AVENIDA 7 DE SETEMBRO (IMBITUVA/PR) ENTRE FOTOS E FATOS: 1906-1940 CLEUSI TERESINHA BOBATO STADLER Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História (História e Regiões) da UNICENTRO ANCELMO SCHÖRNER Doutor em História. Professor do Departamento de História e do Programa de Pós- Graduação em História (História e Regiões) da UNICENTRO, Campus de Irati/Pr. “Toda fotografia tem atrás de si uma história; é este o enigma que procuramos desvendar”. (Bóris Kossoy). 1. INTRODUÇÃO Este artigo ressalta a importância da fotografia para a construção da história. Ele 1 resultou da discussão sobre alguns enfoques de estudos e de um trabalho final a ser apresentado na disciplina Tópicos Especiais em História e Fotografia, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu - Mestrado em História – PPGH, da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Irati. A principal preocupação deste estudo é a discussão sobre a necessidade de interpretação da fotografia enquanto fonte histórica. É preciso, como diz BLOCH (2001) em sua obra Apologia da História, “ler nas entrelinhas”, saber fazer as perguntas certas e desconfiar das respostas, ou seja, fazer uma crítica ao documento, no caso, a fotografia. A fotografia, até o início do século XIX não era valorizada enquanto documento histórico, os historiadores se recusavam a lançar mão da fotografia como fonte de pesquisa histórica. Ela era utilizada apenas como ilustração, como duplicação do real dos acontecimentos do passado. Mas em meados do século XIX a fotografia trouxe novas possibilidades de produção de informação e conhecimento, servindo como instrumento de apoio à pesquisa e como forma de expressão artística (KOSSOY, 2001). No final do século XIX transformações nas relações sociais e no pensamento filosófico trazem a fotografia como uma nova perspectiva, uma nova multiplicidade de olhares, possuindo características que ajudam a desnaturalizar, compreender e interpretar os processos históricos. BORGES (2005, p.31) afirma, “inicia-se um processo que, em médio prazo, contribuiria para criar as condições teóricas que levariam a uma mudança do conceito de documento histórico que, por sua vez, acabaria incorporando a fotografia no rol de fontes de pesquisa histórica”. A partir deste momento a fotografia passa a ser tratada como um documento visual passível de interpretação. E como um documento histórico possibilita compreender os processos históricos, por meio de outros valores, interesses, problemas, técnicas e olhares, também contribui para melhor entendimento das formas por meio das quais as pessoas representaram sua história e sua historicidade e se apropriaram da memória cultivada individual e coletivamente. Dessa forma, o principal objetivo deste artigo é analisar as principais transformações ocorridas na Avenida 7 de setembro, principal via de acesso à cidade de Imbituva pela fotografia e pelo Código de Posturas da Câmara Municipal de 1900, permitindo compreender o passado através das interpretações que os sujeitos fazem no 2 presente. Na delimitação temporal, optou-se pelos anos de 1906/1912, data das primeiras fotografias e década de 1930/40 que faz relação com a terceira fotografia. O Código de Postura é do ano de 1900, Código este considerado um dos mais antigos Códigos de Posturas da Região Centro-Sul do Paraná. A partir desses objetivos, buscamos utilizar a fotografia como fonte documental para destacar sua importância na construção da história, procurando contextualizar historicamente a fotografia com os documentos escritos, neste estudo, com o Código de Posturas do Município. 2. A TRAJETÓRIA DA FOTOGRAFIA Toda fotografia tem atrás de si uma história. Uma fotografia ao ser produzida, passa pela intenção de seu autor, o ato de seu registro e os caminhos percorridos por ela até tornar-se um documento histórico. Através dos escritos de vários autores e cientistas, sabemos que a fotografia é um estudo verificado desde o século V antes de Cristo, quando os primeiros pensadores passaram a desenvolver estudos sobre a câmara escura. Esses estudos passaram pelo século IV a.C. quando Aristóteles já observava que quanto maior fosse o orifício da câmara, mais nítida era a imagem, passou pela Idade Média até que em 1826 surge a primeira imagem fotográfica, produzida por Joseph Niépce. A partir daí, essa invenção vai trazer uma mudança significativa na maneira de obter as imagens daquilo que observamos. A descoberta da fotografia no Brasil em 1833, pelo francês Hercules Florence, a utilização da primeira vez do termo photographie, seguindo para a descoberta das cartas-de-visite, até o surgimento da primeira câmara Kodak, a fotografia foi tendo uma aceitação bastante grande enquanto possibilidade inovadora de informação e conhecimento.1 A fotografia surgiu na década de 1830 como resultado da feliz conjugação do engenho, da técnica e da oportunidade. Niépce e Daguerre – dois nomes que se ligaram por interesses comuns, mas com objetivos diversos – são exemplos claros dessa união. Enquanto o primeiro preocupava-se com os 3 meios técnicos de fixar a imagem num suporte concreto, resultado das pesquisas ligadas à litogravura, o segundo almejava o controle que a ilusão da imagem poderia oferecer em termos de entretenimento (afinal de contas, ele era um homem do ramo das diversões) (MAUAD, 2008, p.29). Porém, no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, um grupo significativo de historiadores se recusou a lançar mão da fotografia como fonte de pesquisa histórica. Segundo Boris KOSSOY (2001, p.30), houve alguns preconceitos quanto à utilização da fotografia como fonte histórica ou instrumento de pesquisa. As duas razões fundamentais são: a) Predomínio da tradição escrita; herança do livro escrito como meio de conhecimento científico; b) Dificuldade em analisar e interpretar a informação visual. Pela historiografia metódica, a fotografia foi utilizada apenas como ilustração. Como reunião e exposição das imagens coletadas. Havia certa negação da fotografia como fonte histórica, sendo esta analisada em todas suas particularidades, mas usada 1 Dados retirados da Resenha: Pelos caminhos da fotografia de Maria Luisa Hoffmann. Doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) sob orientação do Professor Bóris Kossoy. apenas como duplicação real dos fatos do passado, sem a sua devida análise. Houve a dispensa de metodologias para extrair algo destas fotografias. A pesquisa histórica era realizada como história resgate, onde o que era narrado era a expressão da verdade dos fatos do passado. As fontes analisadas eram somente verificadas na autenticidade, procedência, veracidade, sem, contudo, se fazer uma análise mais profunda deste documento histórico. Com a “Revolução Documental” das últimas décadas do século XX, a fotografia passou a ser tratada de forma diferenciada, como uma forma de texto e documento- insubstituível, cujo potencial deve ser explorado. A fotografia passou a ser vista como perspectiva, com várias possibilidades, com multiplicidade de olhares, possuindo características que nos ajudam a desnaturalizar, compreender e interpretar processos históricos. As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para a decifração 4 de seus conteúdos e, por consequência, da realidade que os originou (KOSSOY, 2001, p.32). Em toda fotografia podemos identificar a ação do homem, o fotógrafo, que em determinado espaço e tempo opta por um assunto em especial e que, para seu devido registro, emprega os recursos oferecidos pela tecnologia. Portanto temos três elementos que constituem uma imagem fotográfica: o assunto, o fotógrafo e a tecnologia. O ato do registro, ou o processo que deu origem a uma representação fotográfica, tem seu desenrolar em um momento histórico específico (caracterizado por um determinado contexto econômico, social, político, religioso, estético etc.); essa fotografia traz em si indicações acerca de sua elaboração material (tecnologia empregada) e nos mostra um fragmento selecionado do real (o assunto registrado). (KOSSOY, 2001, p.39-40). Ao fotografarmos, estabelecemos um tema e o espaço fotográfico, fazemos o foco e definimos o objeto central. Mas tudo depende do fotógrafo e dos recursos técnicos de que dispõe. A informação visual do fato representado na imagem fotográfica nunca é posta em dúvida. Sua fidedignidade é em geral aceita a priori, devido à credibilidade da fotografia nos diferentes ramos da ciência. A fotografia é um meio de conhecimento do passado, mas não reúne em seu conteúdo o conhecimento definitivo dele. Ao ser utilizada como fonte histórica deve-se ter em mente que o assunto registrado mostra apenas um fragmento da realidade, um e só um enfoque da realidade passada: um aspecto determinado. Esse conteúdo é o resultado final de uma seleção de possibilidades de ver, optar e fixar certo aspecto da primeira realidade, cuja decisão é do fotógrafo, seja para ele próprio ou para seu contratante. As fotografias, não substituem a realidade tal como se deu no passado; congelam fragmentos desconectados de um instante da vida das pessoas, coisas, natureza, paisagens urbana e rural; sempre permitirão diferentes interpretações e contém múltiplas significações. Ao se analisar uma fotografia deve haver a conexão com as mais diversificadas 5 fontes que informam sobre o passado e à atuação do fotógrafo. Conjugando essas informações ao conhecimento do contexto econômico, político e social,