Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I VOLUME O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 A FOTOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: alguns aspectos em relação à Imigração Italiana ARTIGO FINAL NRE – PONTA GROSSA IMBITUVA/2011 Governo do Estado do Paraná Secretaria de Estado da Educação do Paraná Núcleo Regional de Ponta Grossa Universidade Estadual de Ponta Grossa Programa de Desenvolvimento Educacional ARTIGO CIENTÍFICO Autoria Cleusi Teresinha Bobato Stadler Orientação Roberto Edgar Lamb História/UEPG IMBITUVA/PR 2011 A FOTOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: alguns aspectos em relação à Imigração Italiana. Cleusi Teresinha Bobato Stadler1 Roberto Edgar Lamb2 “O fragmento da realidade gravado na fotografia representa a perpetuação de um momento, em outras palavras, da memória...” (Boris Kossoy) Resumo O presente artigo procura contemplar a produção do saber histórico em sala de aula, destacando a participação do aluno como sujeito do processo educativo. Ele é resultado da implementação de um projeto de pesquisa e uma unidade didática desenvolvida com alunos da 7ª série do Colégio Alcides Munhoz da cidade de Imbituva-Pr. O trabalho utiliza a fotografia como fonte histórica principal e fundamenta-a com outros documentos escritos e fontes orais. Evidencia-se o aspecto histórico das imagens imbituvenses, identificando nelas suas representações. Através da análise da fotografia como metodologia de ensino no conteúdo Imigração Italiana, e sua utilização como fonte documental no espaço escolar, o objetivo principal foi refletir sobre a utilização da imagem fotográfica na recuperação da memória familiar e local. Como a escola é o elo responsável pela reelaboração do saber socialmente construído, os alunos trabalharam com a interpretação de fotografias da cidade para depois partir para a análise específica sobre suas famílias, destacando os simbolismos e representações que acompanham o registro fotográfico e a relação das suas famílias com a História local. Desta forma comprovamos que através do trabalho com os alunos na análise de fotografias, podemos, sim, priorizar a história local, a memória e a identidade de uma cidade. Palavras-chave: Fotografia; Memória; História Local; Imigração; Ensino de História. 1Professora PDE 2009. Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (1990). Especialização em Metodologia do Ensino de História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (1998). Publicações: “Imbituva – uma cidade dos Campos Gerais” (2003) e “Memórias de Imbituva – História e Fotografia” (2010). Professora do Colégio Estadual Alcides Munhoz – Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Imbituva/Pr. E-mai: [email protected]. 2 Orientador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba (1988). Mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, Curitiba (1993). Doutorado em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, São Paulo (2003). 1 INTRODUÇÃO O Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) veio de encontro à expectativa de muitos professores em melhorar seus conhecimentos, sua prática pedagógica, bem como, através de estudos e reflexões, trazer-nos enriquecimento intelectual e cultural. Essa oportunidade nos despertou o interesse pelo ensino de História, sob, um aspecto renovado, através de novas metodologias e práticas didáticas da história. O estudo de História e as metodologias utilizadas nas aulas, muitas vezes, estão longe de se adaptarem às mudanças e transformações do mundo tecnológico globalizado. Não conseguem levar os alunos a se perceberem como construtores de sua história, nem fazer a relação entre a mesma e a realidade presente e a construção da história local, causando a falta de interesse dos alunos na disciplina. Constantemente ouvia-se dos alunos que “Imbituva é uma cidade sem memória”, pois a mesma não possui nenhum centro de resgate histórico, nem edificações, manifestações populares, hábitos e tradições que resistiram à ação modernizadora do progresso. Assim sendo, depois de encontrado tais problemas, se tornou necessário construir um processo de ensino capaz de propor alternativas metodológicas viáveis para despertar o interesse pela disciplina de História e pelo resgate da memória histórica de sua cidade. Os professores precisam encontrar meios de levar os alunos a perceberem que são também construtores da história, da memória e dos acontecimentos concretos de sua comunidade local. Também compreenderem suas realidades, agindo nos seus meios como sujeitos ativos do processo histórico. Em busca de uma relação teoria/prática e da relação entre educação e sociedade, o projeto se preocupou em resgatar a memória familiar dos alunos e da localidade formada pelos imigrantes italianos, através da fotografia, visto que no mundo contemporâneo, muitos jovens não conhecem e não valorizam as memórias de suas famílias e de sua cidade. Portanto este artigo vem refletir sobre os métodos de utilização da imagem fotográfica na recuperação da memória familiar e local. Repensar a sua utilização como fonte documental e como documento utilizado no espaço escolar. Ele é consequência da reflexão sobre uma experiência de trabalho, a implementação de um projeto de pesquisa com o tema Conjugação entre ensino e fotografia - utilização da fotografia em sala de aula, como proposta alternativa de ensino-aprendizagem, através do tema imigração italiana aplicado com 40 alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, no Colégio Estadual “Alcides Munhoz”, cidade de Imbituva/Pr. De acordo com as Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica (2008, p.78), explorar a fotografia na prática pedagógica faz parte da diversificação de novas metodologias de ensino. A fotografia sendo uma das fontes que possibilita compreender as construções históricas, por meio de outros valores, interesses, problemas, técnicas e olhares, também contribui para o melhor entendimento das formas por meio das quais, no passado, as pessoas representaram sua história e sua historicidade e se apropriaram da memória cultivada individual e coletivamente. Para a compreensão das imagens e do trabalho com fotografias faz-se necessário contextualizar o processo imigracional italiano, pois temos uma grande dificuldade de acesso a materiais bibliográficos, pesquisas e abordagens sobre a Imigração Italiana nos Campos Gerais, mais especificamente na cidade de Imbituva. Segundo STADLER (2005, p. 4), “Imbituva possui um reduzido número, ou quase nada, de pesquisas escritas a respeito de sua formação como cidade”. Verificando essa dificuldade de ter acesso as fontes escritas para o desenvolvimento desta proposta de trabalho, sentiu-se a necessidade de recuperar as histórias que envolveriam as fotografias familiares de imigrantes italianos, em tempos e espaços diferentes, pois a Imigração Italiana foi predominante na formação e desenvolvimento do então município recém formado. A escolha da temática que trata das relações entre memória, fotografia e identidade social no contexto da Imigração Italiana em Imbituva, deu-se pela leitura das Diretrizes Curriculares para o ensino da História, ao verificar-se a valorização da História Local e Regional, ou seja, o estudo da História do Paraná (PARANÁ, 2008, p.64). Ao optar pelas contribuições das correntes da Nova História Cultural e Nova Esquerda Inglesa como referencial teórico objetivou-se propiciar aos alunos a formação da consciência histórica. Para que esse objetivo fosse alcançado, o projeto foi desenvolvido sob a utilização de métodos inovadores de produção do conhecimento histórico, incluindo-se aí a abordagem de diferentes sujeitos com suas diversas experiências históricas, numa perspectiva de diversidade, problematização em relação ao passado e superação da ideia de História como verdade absoluta. O referencial teórico utilizado para abordar o tema fotografia se fundamenta principalmente em Bóris Kossoy e Ana Maria Mauad e para o resgate do tema Imigração Italiana os estudos realizados pelos autores Susete Moletta, Antônio Sérgio Palú Filho e Cleusi T. B. Stadler, sobre a Imigração Italiana em Imbituva. Neste artigo apresentamos o uso do documento - fotografia, como uma possibilidade de estudo e valorização de outras fontes de pesquisa e de análise da imigração italiana. 1.1 A Fotografia como “Lugar de Memória” na História Local A fotografia é uma das imagens mais ricas em detalhes. Ela surge em 1826, como invento, mas é na década de 1860 que passa a ter uma grande aceitação como possibilidade inovadora de informação e conhecimento. Porém, no decorrer do final do século XIX e das primeiras décadas do século XX, um grupo significativo de historiadores se recusou a lançar mão da fotografia como fonte de pesquisa histórica, muito embora os diferentes setores da sociedade e de outras áreas científicas tenham valorizado e utilizado esse tipo de imagem desde o seu surgimento. Segundo Boris KOSSOY (2001, p. 30), houve alguns preconceitos quanto à utilização da fotografia como fonte histórica ou instrumento de pesquisa. As duas razões fundamentais são: a) Predomínio da tradição escrita; herança do livro escrito como meio de conhecimento científico; b) Dificuldade em analisar e interpretar a informação visual. Com a “Revolução Documental” das últimas décadas do século XX, a fotografia passou a ser tratada de forma diferenciada, como uma forma de texto e “documento”-
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