ARTIGO Terræ Geologia da região de Atibaia e possíveis causas das inundações de 2009 e 2010

Geology of the Atibaia region and possible causes of floods of 2009 and 2010 floods

Rafaela Santeiro de Campos1, Celso Dal Ré Carneiro2

1-Graduanda em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de , Campinas, SP. E-mail:[email protected] 2- Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. E-mail: cedrec@ige unicamp.br

Manuscrito: Abstract: Urbanization, associated with a demographic disorganization, has increased Recebido: 30/07/2015 the problem of flooding in urban areas, just affecting many people. Research is needed Corrigido: 02/09/2015 to characterize the phenomena and to determine their causes. This can also avoid or Aceito: 30/09/2015 minimize the negative consequences. This research aimed to characterize the geology, relief, vegetation, soils, climate, hydrological patterns and demography of the munici- Citation: Campos R.S.de, Carneiro C.D.R. pality of Atibaia. A literature review and a compilation of data in a semi-detailed scale 2013. Geologia da região de Atibaia e has made it possible to identify and to assess the possible causes of floods which possíveis causas das inundações de 2009 have occurred there in 2009 and 2010. The compilation of geological and hydrological e 2010. Terræ, 10(1-2):21-35. maps in a GIS environment helps to characterize the area, and have also subsidized . the interpretation of the 2009-2010 flooding episodes at Atibaia. This wide range of studies for regional characterization can support understanding of the phenomena and Keywords: Floods, relief, geology, hydrog- the implementation of initiatives to minimize the effects of urban flooding. raphy, Atibaia.

A análise do modelo demográfico adotado pelo INTRODUÇÃO município foi feita de maneira a detectar proble- Nos anos de 2009 e 2010, Atibaia foi um dos mas que possam ter sido responsáveis por alagar municípios paulistas atingidos por grandes enchen- dezenas de bairros e correlacioná-los a possíveis tes, que causaram imensos danos aos moradores e causas das enchentes dos anos de 2009 e 2010. O obrigando prefeituras municipais a adotar medidas acervo cartográfico reunido permitiu desenvolver emergenciais. Na cidade, as inundações foram uma base de dados em ambiente de Sistemas de anômalas, até mesmo se considerarmos áreas que Informações Georreferenciadas (SIG). já tinham sido anteriormente alagadas. A pesquisa resultou da curiosidade gerada a partir dos acon- Objetivos tecimentos, buscando descrever a área, a partir da A pesquisa teve o objetivo de compilar infor- compilação de dados e informações geológicas, mações geológicas do município de Atibaia, como geomorfológicas, hidrográficas, pedológicas, cli- parte de uma síntese dos fatores que controlam a matológicas e demográficas da região. A síntese dos dinâmica fluvial da região. Com base em mapas, dados permitiria caracterizar a área do município buscou-se compreender as possíveis causas das e compreender as causas das enchentes ocorridas enchentes ocorridas em 2009 e 2010 na cidade e em 2009 e 2010. relacioná-las com as unidades litológicas e a geo- O entendimento da geologia regional foi um morfologia, bem como a outros fatores relevantes. dos principais enfoques do projeto. As unidades geológicas do território são constituídas princi- Objetivos Específicos palmente por rochas ígneas e metamórficas, com muitas falhas, e escassa cobertura sedimentar O levantamento geológico da região e o levan- (Monteiro-da-Costa 2005). tamento das possíveis causas das inundações anô-

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malas de 2009 e 2010 procuraram atender a alguns viável para o mapeamento proposto. Os mapas apre- objetivos específicos: sentados nesta pesquisa foram elabor dos por meio de um shapefile do limite municipal de Atibaia, ao • Caracterizar a geologia e evolução tectônica da qual foram adicionadas, as informações necessárias. área, processos e fenômenos associados; O mapa geológico do Estado de publicado • Reunir e sintetizar dados geomorfológicos, cli- em 2010 pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) máticos, pedológicos e hidrográficos, buscando constituiu a base de produção dos mapas litológico completar a caracterização geológica da região; e hidrográfico do município de Atibaia, adotando-se o sistema de coordenadas e datum WGS 1984. Os • Analisar o modelo demográfico adotado em mapas tornaram possível atualizar o acervo cartográ- Atibaia, detectando problemas que possam ter fico do município na escala 1:50.000. sido responsáveis por alagar dezenas de bairros A compreensão do fenômeno das enchentes nos anos em questão; nos anos de 2009 e 2010 exigiu a recuperação de obras que abordam o tema especificamente para • Descobrir e descrever as possíveis causas das Atibaia. Elaborou-se uma análise multidisciplinar enchentes que afligiram a cidade em 2009 e do ocorrido no município de forma a compreender 2010, buscando caracterizá-las; o lamentável acontecimento, assim como elencar as possíveis causas das enchentes. • Produzir mapas litológico, geomorfológico, hidrográfico e pedológico, em semidetalhe, Resultados obtidos em escala 1:50.000;

• Capacitar e aprofundar conhecimentos da Caracterização da área estudante de graduação sobre tratamento de dados ambiente SIG.

Materiais e Métodos A pesquisa foi dividida em cinco etapas: (1) Síntese geral de informações geológicas da área; (2) Síntese geral de dados geomorfológicos, hidrográfi- cos e pedológicos; (3) Síntese geral de dados clima- tológicos e demográficos; (4) Elaboração de mapas em ambiente SIG, em escala de semi-detalhe, 1:50 000; (5) Pesquisa de informações que pudessem auxiliar a compreensão das causas das inundações de 2009 e 2010 no município. Para apoiar as etapas de desenvolvimento da pesquisa, a pesquisa bibliográfica permitiu reunir Figura 1. Localização de Atibaia no Estado de São Paulo e comparar interpretações de cada autor. Foram criadas sínteses geológicas e de outros temas abor- O município de Atibaia situa-se no eixo entre dados no projeto, de modo a realizar um estudo grandes centros como São Paulo, Campinas, São completo da região, sendo utilizadas as informações José dos Campos e o Sul do estado de . pertinentes para a finalidade proposta. Algumas Localizada na porção centro-sudeste do Estado de relações vieram sendo estabelecidas, de modo a São Paulo, situa-se a NNE da capital paulista (Fig. auxiliar o entendimento do contexto geológico em 1). O acesso à área se faz pelas rodovias Anhangüera que se insere a cidade de Atibaia. (SP-340), dos (SP-348) e D. Pedro I O desafio de dominar as técnicas de geoprocessa- (SP-065). mento em ArcGIS não é trivial; o acervo cartográfico O marco zero da cidade, a Igreja Matriz de disponível em instituições como IBGE, CPRM, IPT, São João Batista, encontra-se no centro do núcleo Embrapa, entre outros, nem sempre é completo e urbano do município, a 46º32’29’’ de longitude

22 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 oeste e 23º06’50’’ de latitude sul ; possui 126.603 bissolos, sendo predominantes os dois primeiros, habitantes e área territorial total de 478,517 km² embora haja também, na área, Gleissolos que não (IBGE 2013). O município possui altitude média são representados em mapa em função da escala. em torno de 800 m, fazendo limite a norte com Diversas classificações climáticas foram feitas Bragança Paulista, a sul com , ao longo dos anos. Segundo o Relatório Técnico e Mairiporã, a Leste com Piracaia Preliminar da Cetesb (1999), que se baseia na e Bom Jesus dos Perdões e a oeste com Jarinu e classificação de Köppen, o município possui um Campo Limpo Paulista (Fig. 2). Dista cerca de 65 clima temperado brando, com inverno seco e km de São Paulo, a metrópole regional, assim como verão quente na zona média da bacia do rio Atibaia. de Campinas, o centro sub-metropolitano; dista 25 Segundo Silva (2000), que também se baseia nessa km de Bragança Paulista, o centro sub-regional. classificação, as temperaturas relativamente eleva- Na divisão do relevo do estado de São Paulo das são registradas durante todo o ano, com média (Almeida 1964), Atibaia insere-se na província anual de 19,7° C, variando entre 15,9° C em junho geomorfológica do Planalto Atlântico, em áreas de e 22,3° C em fevereiro, sem estação seca definida. domínio cristalino proterozoico; de acordo com Ab’ A média de precipitação acumulada varia de 36,6 Saber (1967), situa-se no domínio morfoclimático mm em junho a 260,8 mm em janeiro, com um e fitogeográfico Mares de Morros. A rede hidro- total anual de 1509,5 mm. gráfica municipal pertence à Bacia Hidrográfica Ao longo dos anos, houve em Atibaia signifi- do Rio Atibaia, a principal bacia que drena área de cativo aumento populacional, principalmente da estudo, uma sub-bacia da Bacia Hidrográfica do década de 1950 até os dias atuais. A população do Rio (Irrigart 2007). O Rio Atibaia possui município é de 126.603 habitantes, sendo 115.229 cerca de 180 km de extensão, sua bacia possui cerca concentrados na zona urbana e 11.374 na zona de 2.760 km² e drena cerca de 1,1% da área total do rural, com uma densidade demográfica de 264,61 Estado (Silva 2000). habitantes por km² e uma taxa de urbanização de Com base na compilação de dados, foram ela- 91% (IBGE 2013). borados mapas semi-detalhados em ambiente SIG, A questão das enchentes representou um na escala 1:50.000, de modo a ilustrar cartografi- grande desafio, pois sendo esse enfoque muito camente as informações geológicas e hidrográficas atual, o tema não foi intensamente abordado em da área. obras sobre Atibaia ou foram representados de A pedologia foi caracterizada a partir do Mapa forma incompleta. De acordo com Collaço & Pedológico do Estado de São Paulo, em escala 1: Mello-Théry (2012), baseando-se em análises da 500.000 (Oliveira, Camargo et al. 1999). A obra prefeitura, de engenheiros e técnicos relacionados destaca na região de Atibaia três tipos principais ao tema das enchentes e moradores atingidos pelo de solos: os Latossolos, os Argissolos e os Cam- lamentável acontecimento, elencaram-se algumas das possíveis causas das inundações no intervalo temporal em foco: falta de manutenção da calha do rio Atibaia pelos órgãos responsáveis; não abertura das comportas da represa situada no bairro da Usi- na; ocupação irregular das áreas de várzea do rio; intensas chuvas nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro dos anos citados, entre outras.

Geologia A região estudada está localizada na porção centro-oeste do Estado de São Paulo, área de emba- samento cristalino. Possui substrato composto predominantemente por rochas metamórficas e ígneas intrusivas, sendo elas gnaisses quartzosos e micáceos, granitos, xistos, quartzitos, metare- nitos, milonitos, pegmatitos e anfibolitos (Mon- Figura 2. Mapa de situação de Atibaia em relação a teiro-da-Costa 2005). Os granitos são de idade municípios vizinhos

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cambro-ordoviciana ou mais antigos e as rochas O complexo , datado do Paleo-Mesoprotero- metamórficas, que apresentam vários graus de zoico, compreende associações dobradas nas quais metamorfismo, são proterozoicas. A sedimenta- predominam rochas como xistos e metarenitos, ção terciária teria se iniciado no Mioceno, sendo intercalações de quartzitos, anfibolitos e algumas que esses sedimentos teriam ocupado depressões rochas gnáissicas. nas proximidades de Atibaia (Carneiro 2001). No Apresentam-se ainda granitoides do fácies pós-Mioceno, um soerguimento teria isolado parte Cantareira que compreendem granitos e granitói- da região, havendo, em paralelo, uma sedimenta- des associados a corpos polidiapíricos com predo- ção pliocênica (Fúlfaro et al. 1985). As pequenas minância de termos porfiríticos com granulações manchas sedimentares compreendem rochas rela- variadas e ainda gnaisses e migmatitos diversos, cionadas a coberturas cenozoicas indiferenciadas predominantemente estromatíticos, incluindo correlatas à Formação São Paulo: são sedimentos granulitos, leptinitos e migmatitos de estrutura pouco consolidados incluindo argilas, siltes e are- complexa (remigmatizados), com intercalações nitos finos argilosos com raros e pequenos níveis subordinadas de xistos feldspáticos, quartzitos, de cascalho. mármores dolomíticos e rochas calcossilicáticas A região está contida na Província Estrutural (Carneiro 2001). Mantiqueira (Almeida et al. 1977), dentro do Sis- O Complexo Amparo é delimitado a sul pelas tema de Dobramentos Sudeste (Hasui, Almeida, falhas de Itu, Jundiuvira e Camanducaia, a norte Brito-Neves 1978), que foi consolidado entre o pela Falha de Jacutinga e é recoberto a oeste pelos final do Proterozoico e o Cambro-Ordoviciano sedimentos da Bacia do Paraná (Almeida, Hasui, (Carneiro 2001). As unidades litoestratigráficas Brito-Neves et al. 1981). De acordo com Almeida presentes na região de Atibaia, compreendem o et al. (1981), são encontrados conjuntos litológi- Complexo Itapira, Complexo Amparo e o Grupo cos com gnaisses a biotita, hornblenda e granada São Roque. O Complexo Itapira pode ser conside- e grau variável de migmatização, associados a rado uma cobertura do Complexo Amparo; exibe migmatitos de estruturas diversas, com intercala- grau metamórfico menos acentuado. Ambas as ções de quartzitos, xistos, anfibolitos, gonditos e unidades datam do Paleoproterozoico. O Com- metaultrabasitos, além de rochas calcossilicatadas. plexo Amparo é composto sobretudo por rochas Almeida et al. (1978 apud Wernick 1981) sugerem gnáissicas (Carneiro 2001). três fases de metamorfismo no Complexo: as duas Na região, existem também extensas falhas primeiras estão associadas a temperaturas médias transcorrentes cuja origem está relacionada ao a elevadas e a terceira a temperaturas baixas. As arrefecimento do calor e mudança no regime de rochas do Complexo Itapira apresentam-se como esforços do final do Ciclo Brasiliano. No muni- associações dobradas na quais predominam xistos cípio, além das zonas de cisalhamento transcor- e metarenitos, com intercalações de quartzitos, rente, também são encontradas falhas normais ou anfibolitos e alguns gnaisses. Tais unidades ocorrem inversas, sendo que algumas apresentam sinais de predominantemente ao longo das bacias Jundiaí- reativação moderna (Carneiro 2001). Um con- -Jundiazinho e Atibaia. Campos Neto et al. (1983) junto de falhas, a propósito, determina o traçado distinguiram na sequência vulcano-sedimentar E-W do rio Atibaia ao norte da cidade, ou seja, o rochas cálcio-silicáticas e quartzitos, subjacentes a rio encontra-se “encaixado” nesses falhamentos uma sequência de metapsamitos rítmicos por sua (Monteiro-da-Costa 2005). Dessa forma, os corpos vez cobertos por metapelitos. rochosos encontrados nessa região são controlados O Grupo São Roque é composto por metasse- por grandes falhas e zonas de cisalhamento, como dimentos identificados a oeste e norte da cidade de Camanducaia, Extrema, entre outras, apresentando São Paulo. É limitado a norte pelas falhas de Itu e as direções E-W a NE. (Carneiro 2001). Jundiuvira, a sul pela Falha de Taxaquara e a leste- Os locais onde se encontram os corpos graní- -nordeste pela cunha formada no encontro da Falha ticos estão situados nas bordas ocidental e oriental de Monteiro Lobato com a de Jundiuvira, sendo do município; os maciços fazem parte de zonas formado por xistos, filitos, quartzitos e um substra- elevadas como áreas junto a serra de Itapetinga, to gnáissico-migmatítico (Almeida et al. 1981). Os conhecida popularmente como Pedra Grande. As metapelitos incluem um conjunto de filitos, quart- rochas afloram com frequência mas em geral se zo filitos grafitosos em sucessão rítmica, incluindo encontram em estágio de adiantada decomposição. subordinamente metassiltitos, quartzo-mica xistos

24 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 e quartzitos, além de xistos a biotita e/ou muscovita, litológico em forma de siglas. Estão presentes as clorita xistos e quartzo xistos com intercalações de unidades Grupo Serra do Itaberaba (MP2si), de ida- metassiltitos, filitos, metagrauvacas, além de rochas de mesoproterozoica, que é constituído por grande calcossilicatas, rochas carbonáticas, metabasitos variedade de rochas metamórficas como xistos e variados, metadioritos e quartzo dioritos gnáissicos. rochas metapelíticas; Complexo Granítico Socor- O Grupo São Roque, por sua vez, apresenta típico ro, Suíte Bragança Paulista (NP3s_gamma_1lbp), vulcanismo toleítico, com metamorfismo de médio de idade neoproterozoica, constituído por rochas a forte grau (Carneiro 2001). As rochas desse grupo ígneas plutônicas, como granodiorito e monzonito; encontram-se cortadas por intrusões graníticas que Complexo Granítico Socorro, Suíte Salmão (NP3s_ geralmente soerguem grandes massas de rochas de gamma_1lsm), de idade neoproterozoica, constitu- fácies anfibolito em suas zonas periféricas. O con- ída por rochas graníticas porfiríticas; Granito Jarinu junto é atravessado por falhamentos transcorrentes. (NP3s_gamma_1ja), de idade neoproterozoica, Há ainda depósitos argilosos resultantes de meca- constituído por corpos graníticos de biotita granito; nismos de alternância entre diferentes paleoclimas: Granito Portão (NP3s_gamma_1po), de idade neo- climas áridos e semiáridos com estações chuvosas proterozoica, constituído basicamente por corpos bem marcadas. Isto teria acontecido, de acordo com graníticos; Granito Atibaia (NP3s_gamma_3Aat), os mesmos autores, no Plioceno e terminado no de idade neoproterozoica, composto por corpos Pleistoceno, intercalado por períodos mais secos graníticos e sienograníticos; Complexo Varginha- que foram responsáveis pela plainação lateral das -Guaxupé, unidade paragnáissica migmatítica supe- calhas dos rios e deposição fluvial (Carvalho & rior (NPvm), de idade neoproterozoica, constituída Rotta 1974). por uma grande variedade do rochas metamórficas O mapa geológico elaborado em ambiente SIG e ígneas, entre elas, anfibolitos, paragnaisses, biotita (Fig. 3) ilustra as unidades litológicas e a rede hidro- gnaisses e xistos; Complexo Varginha-Guaxupé, gráfica de Atibaia. Foi baseado no Mapa Geológico unidade ortognáissica migmatítica intermediária do Estado de São Paulo (CPRM 2010). (NPvog), de idade neoproterozoica, composta por De acordo com a legenda (Fig. 3), os rios da rochas metamórficas e ígneas, sendo elas anfibo- cidade são o Rio Atibaia e seus afluentes e o Rio litos, migmatitos, anatexitos e gnaisses; Depósitos Jundiaí, a sudoeste. Alguns lagos situam-se ao longo Aluvionares (Q2a), de idade cenozoica, composto do curso principal do Rio Atibaia. por depósitos sedimentares inconsolidados de As unidades litológicas indicadas no mapa areia, cascalho, silte e argila; e Coberturas detríticas CPRM estão representadas na legenda do mapa indiferenciadas (Qdi), de idade cenozoica, com- posto por depósitos sedimentares incon- solidados de areia, cascalho e argila.

Geomorfologia A divisão geo- morfológica do Estado de São Pau- lo consiste de cinco principais provín- cias geomorfológi- cas (Fig. 4): Planície Costeira, Planalto Atlântico, Depressão Periférica, Cuestas Basálticas e Planalto Ocidental (Ponçano, Carneiro, Bistrichi Figura 3. Mapa litológico e hidrográfico do município de Atibaia et al. 1981). Na divi-

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são proposta por Almeida (1964), o município de falhas ocorridas desde o Cretáceo até o Neógeno Atibaia está situado no domínio cristalino protero- (Monteiro-da-Costa 2005), lapidadas por processos zoico, inserido na província geomorfológica do Pla- mais recentes. Grande parte da área possui relevo de nalto Atlântico do estado de São Paulo. O Planalto colinas mamelonares, com altitudes entre 800 m e Atlântico é constituído principalmente por rochas 1000 m e declividades médias; nas proximidades das cristalinas pré-cambrianas e cambro-ordovicianas, várzeas do rio Atibaia e seus afluentes encontram-se cortadas por intrusões máficas e rochas alcalinas colinas mais baixas, com cotas inferiores a 800 m mesozoico-terciárias, parcialmente recobertas por (Carvalho & Rotta 1974). As colinas são suaves, pou- algumas coberturas sedimentares, como as bacias de co convexas ou com vertentes retilíneas, por vezes São Paulo e Taubaté. O domínio morfoclimático e assimétricas, enquanto suas vertentes possuem baixa fitogeográfico é o de Mares de Morros (Ab’Sáber declividade ou até mesmo vertentes mais íngremes 1967). (Monteiro-da-Costa 2005). No perímetro urbano encontram-se colinas suaves, sendo que algumas delas apresentam vertente retilínea e a vertente oposta escarpada.

Hidrografia A principal bacia hidrográfica do município é a do Rio Atibaia, que pode ser considerada uma sub-bacia da bacia hidrográfica do Rio Piracicaba, que se insere, por sua vez, nas Bacias PCJ (Bacia do rio Piracicaba, rio e rio Jundiaí), todos afluentes do Rio Tietê (Irrigart 2007). Os municí- pios pertencentes à Bacia do rio Atibaia são: Ame- Figura 4. Províncias Geomorfológicas do Estado de São Paulo. Fonte: Mapa Geomorfológico do Estado de ricana, Atibaia, Bragança Paulista, Camanducaia, São Paulo (IPT 1981) Campinas, Campo Limpo Paulista, Cosmópolis, Extrema, , Jaguariúna, Jarinu, Joanópolis, Atibaia apresenta relevo montanhoso, com gran- Jundiaí, Louveira, Morungaba, Nazaré Paulista, des diferenças altimétricas, composto, principalmen- , Paulínia, Piracaia, e Vinhe- te por gnaisses e granitos, com altitudes entre 1.000 do (Irrigart 2007) (Fig. 5). m e 1.400 m, sendo que a saliência da Pedra Grande O Rio Atibaia possui cerca de 180 km de exten- alcança 1.421 m e declives superiores a 60%. A gran- são e desnível aproximado de 450 m. Percorre o de diferença altimétrica deve-se a soerguimentos e município em dois eixos principais: E-W e SE-NW,

Figura 5. Localização das bacias hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Fonte: PERH 2005.

26 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 segundo direções determinadas pelas estruturas de água retirada dos cursos d’água (Irrigart 2007). e pelo relevo regional. A bacia possui cerca de A área total da bacia em km² e a área que ela ocupa 2.760 km², drenando cerca de 1,1% da área total no Sistema Cantareira em km² e em porcentagem do Estado. A hidrografia do Rio Atibaia apresenta encontram-se na tabela a seguir: na margem esquerda os afluentes: Ribeirão Laranja Azeda, Ribeirão Itapetinga, Ribeirão dos Porcos, Tabela 1. Área ocupada pela bacia hidrográfica do Rio Atibaia. Fonte: Irrigart (2007) Ribeirão do Taboão, Ribeirão Folha Larga, Ribeirão Caetetuba e Ribeirão Campo Largo; na margem Área total Área no Sistema Cantareira direita: Rio Cachoeira, Rio dos Amarais, Ribeirão km² km² % das Pedras e Ribeirão do Mato dentro (Silva 2000). 2.868,74 715 57 Inclui cinco sub-bacias: do ribeirão da Laranja Azeda; de um córrego sem nome na zona rural de Pequenos movimentos tectônicos podem Guaxinduva; de um córrego sem nome na zona causar modificações no perfil do rio e ao longo de rural do Marmeleiro; de um córrego sem nome nos centenas de anos podem provocar consideráveis bairros da Loanda e Ressaca; do ribeirão Itapetinga alterações na declividade do vale e alterar o padrão na zona rural de Itapetinga, possuindo os afluentes da rede de drenagem e a morfologia dos canais, do córrego dos Pintos e o da Figueira; do ribeirão como alargamentos e estreitamentos anômalos. Os do Onofre (ou do Taboão) nos bairros do Portão e movimentos podem gerar mudanças que se refle- Rosário, que possui os afluentes ribeirão dos Pintos tem no padrão de sedimentação e nas característi- e ribeirão dos Porcos (Monteiro-da-Costa 2005). cas granulométricas dos sedimentos aluvionares. O rio Atibaia é formado pela confluência dos Como possíveis resultados dos processos, podem- rios Cachoeira e Atibaínha na cidade de Bom Jesus -se observar, ao longo do curso do rio Atibaia, dos Perdões. A bacia está situada, em grande parte, pequenos e até grandes degraus (Pires Neto 1996). em terrenos cristalinos da Serra da Mantiqueira Silva (2000) destaca ainda que uma das maiores ocidental, atingindo também algumas partes mais preocupações das administrações municipais recen- baixas dos terrenos da bacia sedimentar do Paraná. tes diz respeito à redução dos impactos hídricos, Possui larga planície aluvionar, com aproximada- principalmente no que se refere ao assoreamento mente 1 km de largura e exibe curso parcialmente dos principais cursos d’água e à manutenção da meandrante (Monteiro-da-Costa 2005). qualidade das águas para consumo humano. No interior das calhas dos principais rios da região, desenvolve-se um relevo de colinas mame- lonares com altitudes entre 800 e 1.000m, que foi Pedologia entalhado até a altitude de cerca de 700 m pela rede Para uma completa compilação pedológica, de drenagem atual (Queiroz Neto 1975). Almeida foram consultadas diversas obras. O Mapa Pedo- (1964) destaca o paralelismo entre as bacias dos lógico do Estado de São Paulo, em escala 1:500.000 rios Atibaia, Jaguari, Camanducaia e do Peixe, que (Oliveira et al. 1999) destaca, no município em se encontram embutidas em relevo montanhoso, questão, três tipos principais de solos: os Latossolos, salientando também as amplas calhas que ora se os Argissolos e os Cambissolos, com predominân- alargam e ora se estreitam e seus cursos que correm cia dos dois primeiros, embora haja também, na de leste para oeste. Quanto à intensa ação erosiva no área, Gleissolos, que não foram representados em entalhe do rio Atibaia, Almeida (1964) aponta como função da escala. Queiroz Neto (1975) caracteriza causa a grande incidência de falhas transcorrentes, os solos de Atibaia, menciona o trabalho de Car- de rejeitos horizontais. O processo poderia produzir valho & Rotta (1974) e de Carvalho et al. (1975), degraus pequenos ou até mesmo grandes no seu cur- observando a relação entre os tipos de solos que se so, que podem ser observados ao longo do rio Atibaia. formam de acordo com os materiais de origem e a A vazão média do rio é de 21,7 m³/s (Cetesb evolução da paisagem. 1999), regularizada pelo sistema Cantareira, tran- Os Latossolos estariam confinados nas áreas ferindo cerca de 30m³/s para a bacia do Alto Tietê, mais altas e, portanto, menos alterados; o Latos- responsável pelo abastecimento da região metro- solo Vermelho Amarelo é muito frequente no politana de São Paulo. município, constituído por argilas transformadas A Bacia do rio Atibaia é a bacia com maior volu- em um solo de coloração alaranjada. Argissolo me de água captada das bacias PCJ, com 9,53 m³/s Vermelho Amarelo desenvolve-se nos colúvios,

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frequentemente sobre stone lines. Em áreas mais como úmido sem época seca. Bernardes (1951, acidentadas, como na Serra da Itapetinga, predo- apud Carvalho et al. 1975) classifica o clima de minam Neossolos Litólicos e Cambissolos; nas Atibaia como como tropical de altitude, com encostas com maior declividade os Argissolos; nas verões chuvosos, invernos relativamente secos encostas mais suavizes os Latossolos e, nas várzeas, e temperaturas amenas no verão em função da os Gleissolos. Muitas das características marcantes altitude. Segundo o Relatório Técnico Preliminar dos solos foram alteradas ao longo do tempo pelo da Cetesb (1999), a cidade possui clima tempe- uso e ocupação (Monteiro-da-Costa 2005). rado brando, com inverno seco e verão quente na zona média da bacia do rio Atibaia, segundo a Vegetação classificação de Koppen. Na zona de cabeceira, nas sub bacias do Atibainha e do Cachoeira, o clima A vegetação nativa da região de Atibaia encon- também é temperado brando, porém chuvoso e tra-se degradada pela ocupação humana, sendo com verão fresco. representada pela floresta latifoliada tropical e Silva (2000) baseia a caracterização climática manchas de cerrado (Oliveira, Morales, Fúlfaro et na classificação de Koppen, ou seja, um clima do al. 1985). O cerrado apresenta cobertura arbustiva, tipo temperado, com temperaturas relativamente leguminosa barbatimão (Stryphnodendron barbati- elevadas durante todo o ano, com média anual de mão Mart.), baba-de-bode (Aristida pallens Cav.) e 19,7° C, variando entre 15,9° C em junho e 22,3° árvores tortuosas (Monteiro-da-Costa 2005). Na C em fevereiro, sem estação seca definida (a média Serra de Itapetinga, encontra-se vegetação densa de precipitação acumulada varia de 36,6mm em por reflorestamento (Oliveira et al. 1985), por junho a 260,8mm em janeiro) e com total anual de matas secundárias e manchas de vegetação primi- 1509,5mm. Monteiro (1969) identifica um com- tiva (Monteiro-da-Costa 2005). De acordo com portamento rítmico das chuvas frontais no sudeste o mesmo autor, em meio a vegetação de floresta brasileiro que difere do caráter monçônico que em latifoliada tropical ou cerrado, são encontradas algumas vezes lhes é atribuído, relacionando-o ao pequenos grupos de araucárias e até mesmo alguns dinamismo atmosférico, com imensas variações de exemplares da vegetação de caatinga. pluviosidade de ano para ano e produzindo perío- A vegetação na cidade se distribui em manchas dos maiores ou menores de seca. devido à urbanização e se intercala com matas de As oscilações do tempo e das precipitações na galeria e capões de floresta latifoliada tropical, zona da Mantiqueira podem depender dos ciclos predominando, porém, em áreas mais colinosas das frentes polares, que comandam as relações de (Monteiro-da-Costa 2005). A classificação é con- massas de ar, ainda que sejam fortemente afetadas troversa, uma vez que, de acordo com Carvalho, pelas massas tropicais e pelo aspecto orográfico, Lepsch, Oliveira et al. (1975), a floresta original da onde as vertentes a leste recebem maior precipita- área é classificada como floresta tropical de planalto, ção (Monteiro 2000). devido à disseminação de araucárias. Entretanto, De acordo com os dados obtidos da estação da autores como Romariz (1996) classificam tal vege- Cooperativa Sul-Brasil, a temperatura média no tação como floresta latifoliada. verão é de 21,8° C e de 17,1° C no inverno, sen- A figura 6 mostra o mapa florestal de Ati- do a máxima de 37,6° C e a mínima de 5,0° C. A baia segundo o Sistema de Informações Florestais umidade relativa média varia de 69% em setembro do Estado de São Paulo (Sifesp 2013): ilustra as a 79% em fevereiro, com média anual de 74%. A coberturas vegetais predominantes e quantifica as precipitação vai de 22 mm em julho a 238 mm em áreas correspondentes a cada tipo de cobertura, em janeiro, com total anual de 1.348 mm (Carvalho et hectares e em porcentagem. al. 1975). O balanço hídrico construído por Car- valho et al. (1975, que citam Thornthwaite 1948), Climatologia mostra um déficit hídrico apenas no mês de setem- Diversos autores classificaram o clima de bro, no final do período de estiagem que se inicia Atibaia ao longo do tempo. Silva (1949), baseou em abril, sendo os meses mais secos junho, julho e sua classificação climática de acordo com Set- agosto. De dezembro a fevereiro há um excedente zer, ou seja, um clima mesotérmico sem estação hídrico da ordem de 444 mm. seca distinta, com verão quente a norte e fresco Houve aumento significativo nas precipita- a sul. Regionalmente, Setzer classificara o clima ções médias anuais entre 1965 e 1994 (série de

28 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 Figura 6. Mapa Florestal do município de Atibaia. Fonte: SIFESP: Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo 30 anos) em relação ao período anteriormente 1.400 mm, sendo que os valores mais altos ocor- estudado. Dados desse período obtidos no ponto rem na faixa norte do município, enquanto os E3-074, mostram precipitação média acumula- mais baixos ocorrem na área restante (SIGRH da mensal de 39 mm em agosto e 267 mm em 2000). É importante considerar a influência cli- janeiro, com total médio anual de 1.532 mm. mática da Serra de Itapetinga, que possui picos a A precipitação média anual varia entre 1.300 e 1.200 m de altitude (Silva 2000).

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Demografia habitantes (IBGE 2013), correspondente a uma Ao longo dos anos, Atibaia desenvolveu-se sig- redução populacional de aproximadamente 5,2% nificativamente, o que acarretou grande aumento no período. A figura 7 apresenta o crescimento populacional, principalmente da década de 1950 populacional entre os anos de 1991 a 2010, com até os dias de hoje. A tabela a seguir mostra a área base em dados do IBGE. territorial total, o número total de habitantes, assim como os habitantes das zonas urbana e rural, a densidade demográfica e a taxa de urbanização da cidade, com base em dados atuais do IBGE (2013). A situação populacional de Atibaia nos perío- dos entre 1950 a 2000 é ilustrada na tabela a seguir.

Tabela 2. Dados territoriais e demográficos de Atibaia. Fonte: IBGE 2013 Território (km²) 478,517 Total 126.603 População Urbana 115.229 Figura 7. Evolução populacional de Atibaia entre os anos Rural 11.374 de 1991 e 2010. Fonte: IBGE 2013 Densidade Demográfica 264,61 (hab/km²) O crescimento de Atibaia foi acompanhado de Taxa de Urbanização 91% desenvolvimento populacional desorganizado que gerou conflitos entre os componentes naturais e Houve evidente aceleração do crescimento da sociais existentes, deformando o sistema ambien- população a partir da década de 1960, período em tal original (Silva 2000). Até o início da década de que teve início, de acordo com o Plano Diretor da 1960, época da implantação da Rod. Fernão Dias, Estância de Atibaia 2007-2016, a transformação do toda a configuração da ocupação urbana já estava perfil do município com empreendimentos volta- definida. Posteriormente, a rodovia passou a exer- dos para o mercado metropolitano da Grande São cer papel de destaque na estruturação urbana de Paulo e Baixada Santista. No período entre 1980 alguns aglomerados urbanos. Somente a partir da e 1991, as taxas de crescimento começam a decair, década de 1970, teve início um comprometimen- o que provavelmente configura, ainda de acordo to excessivo de novas áreas com ocupação urbana, com o Plano Diretor (2006), um fenômeno de decorrente da aprovação desenfreada de inúmeros redução nas taxas de crescimento populacional no loteamentos para lazer, favorecidos pelo eixo de país como um todo. acesso representado pela rodovia. Em resumo, o O Censo 2000 indicou população total de processo de implantação indiscriminada de lotea- 133.560 habitantes; de acordo com o Instituto mentos no município teve início na década de 1950 Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, a e se estende até os dias atuais (Silva 2000). população do município em 2013 é de 126.603 Existem algumas unidades de conservação no município, inseridas na bacia do rio Atibaia, sen- Tabela 3. Evolução populacional de Atibaia entre as do elas a Área de Proteção Ambiental do Bairro da décadas de 1950 e 2000. Fonte: Plano Diretor da Usina e Área Natural Tombada da Serra de Itape- Estância de Atibaia (Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente 2006) tinga, que inclui o Parque Florestal do Itapetinga Densidade Taxa de e a área da Grota Funda. A proteção dada a essas População áreas restringiu a ocupação urbana nos últimos anos Ano Total (habitantes/ Urbanização Km²) (%) (Monteiro-da-Costa 2005). O uso do solo vem se 1950 18.452 39 39 alterando rapidamente ao longo dos últimos anos, 1960 23.051 48 39 tendo em vista a intensa urbanização. Em geral, 1970 36.839 77 55 pelos dados do SEADE, a taxa de urbanização de 1980 57.807 121 84 Atibaia cresceu de 83,8% entre 1970 e 1980 para 1991 114.410 199 88 87,04% entre 1991 e 2000, embora fique ainda bem 2000 133.560 233 87 abaixo da taxa do Estado de São Paulo (93,41% entre

30 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 1991 e 2000) entre 1991 e 2000. A taxa de cresci- por enchentes, com exceção do bairro Caetetuba, mento anual foi de 2,90 em Atibaia contra 2,12 são adequadas à ocupação urbana. Em contrapon- no Estado. A duplicação da Rodovia Fernão Dias to, vários entrevistados afirmaram ser indevida a contribuiu para estimular o crescimento. ocupação dos locais, ainda que estejam em situação Parte da população reside em áreas acidentadas, regular, ou seja, tenham sido aprovadas pela prefei- situadas em vertentes que estão em livre processo tura e órgãos estaduais como Cetesb e Graprohab. de dissecação, sendo portanto sujeitas a escorre- Collaço & Mello-Théry (2012) advertem quan- gamentos. Além disso, empresas industriais ou to ao problema de tratar a questão das inundações comerciais e loteamentos residenciais ocupam áreas de forma generalista e superficial, evidenciando que de várzeas, aumentando a impermeabilização do as especifidades da cidade e dos atores envolvidos solo e a transposição de parte da água do rio Ati- no caso são de extrema importância. Os autores baia para bacias menores, criando riscos futuros de formulam hipóteses e elencam uma série de fato- inundação (Monteiro-da-Costa 2005). res que podem ter causado as enchentes nos anos Na várzea do rio Atibaia, as inundações tor- em questão: nararam-se menos frequentes após a transposição • A construção das barragens do Sistema Canta- de águas pelo sistema Cantareira para a Grande reira, ocorrido em 1965, nos rios Cachoeira e São Paulo, a partir da barragem dos rios Cachoei- Atibainha, que são formadores do rio Atibaia a ra, em Piracaia, e Atibainha, em Nazaré paulista. montante da cidade aqui referida, ocasionou a Tal fato proporcionou a ocupação mais intensa da diminuição do fluxo de água vertido para o rio. faixa de várzeas depois dos anos 1970. Houve pelo Assim, diminuiu-se a área de extravasamento, menos uma grande enchente depois dessa década, sua calha, sua profundidade e outras caracte- rísticas naturais, impedindo a ocorrência de causada por chuvas anômalas e mudanças do regi- enchentes na cidade por muito tempo, o que me de regularização dos reservatórios a montante possibilitou a ocupação de áreas de várzea; (Monteiro-da-Costa 2005) Observa-se atualmente que há ocupações nas • Falta de manutenção da calha do rio por parte áreas de várzea do rio e onde há riscos de alagamen- de órgãos como Sabesp e DAEE; tos tornaram-se muito mais frequentes, agravando • Construção da barragem da PCH de Atibaia ainda mais a impermeabilização do solo e a situação em 1930 a jusante do município para geração das enchentes e inundações no município. de energia, que pode causar refluxo de água e aumentar a área de abrangência de enchentes; A questão das enchentes • Mudança da gestão de PCH: antes gerenciada pela Prefeitura, o agente responsável pela PCH Em muitas cidades, o problema das enchentes passou a ser o Centro Empresarial de Atibaia, é repetitivo e prejudica cada vez mais as socieda- que mudou a administração da hidrelétrica. des. Inundações constituem um processo natural Passou-se a evitar a abertura de comportas da de rios e córregos. Entretanto, acabam por atingir represa, prática adotada pela antiga gestão. De e causar grandes impactos à sociedade, quando se acordo com o eng. Julio Cerqueira Cesar Neto associam à ocupação irregular, apropriação ilegal ou e com a população, essa é uma das principais até mesmo legal de áreas sujeitas a cheias, ou seja, causas das enchentes; áreas que ocupam o leito maior dos rios. • Ocupação irregular das áreas de várzea e Em Atibaia, segundo dados da secretaria muni- nas proximidades dos rios, estimulada pelo cipal de serviços, inundações são muito ocasionais, aumento da urbanização, que causou o uso pois há controle de vazão a montante do rio Atibaia; irregular do solo, e expandiu as áreas imper- Silva (2000) relaciona as enchentes a obras de enge- meabilizadas; nharia que obstruem o curso regular do rio. Ao se • Falta de critérios adequados e de fiscalização observar o fenômeno das inundações em Atibaia, por órgãos públicos, como prefeitura, Cetesb é simples associar a sua ocorrência a má gestão e Graprohab, que autorizaram e regularizaram pública, que não implementou políticas públicas muitas ocupações; de combate e prevenção (Collaço & Mello-Théry • Falta de planejamento público que levasse em 2012). Em entrevista a Flávia Mendes de Almeida conta a rede de drenagem do município, que não Collaço, a líder do movimento contra inundações consta no Plano Diretor do município, contri- no município afirma que todas as áreas atingidas buindo para aumento da área impermeabilizada;

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• Aumento da urbanização, sem observar o Além desses fatores e de acordo com as tabelas código florestal, que determina áreas verdes 4 e 5, pode-se enumerar também como uma das em cada terreno, para favorecer a infiltração e principais causas das enchentes o intenso asso- o escoamento de água; reamento do Rio Atibaia associado à intensidade • Atuação controvertida da Sabesp na adminis- pluviométrica dos verões de 2009 e 2010. Outros tração do Sistema Cantareira, que, ao final de fenômenos envolvidos podem não ter sido espe- 2009 e início de 2010, optou por não reduzir o cificados, diante da dificuldade de se elencar as volume das represas antes do período de chu- variáveis que determinam as enchentes, bem como vas intensas, o que influenciou a ocorrência e propor soluções (Collaço & Mello-Théry 2012). a dimensão das enchentes, porque aumentou Uma das formas que a prefeitura encontrou o tempo de permanência das águas em áreas alagadas; de resolver o problema foi a realocação da popu- lação em áreas de risco, todavia é grande o receio • Falha do SAISP, o sistema meteorológico que do governo com relação à remoção da população presta serviço tanto para o Sistema Cantareira das áreas atingidas. Apesar de os moradores terem quanto à prefeitura e à Defesa Civil de Atibaia. consciência de que, a qualquer anúncio de chuva há O Sistema Cantareira orientou-se pelas previ- possibilidade de alagamentos e exposição a doenças, sões de tempo do CPTEC e do Clima Tempo, sendo que nenhum desses órgãos indicara os grande parte deles prefere não deixar suas casas pois altos índices de precipitação que ocorreram temem perder seus bens. nos meses de dezembro e janeiro dos anos de Até o ano de 2010, não havia ações de planeja- 2009 e 2010. mento que impedissem que áreas de várzea fossem De acordo com o relatório diário de monitora- ocupadas, apesar da existência de legislação como a mento, disponibilizado pela Defesa Civil de Atibaia, APA do rio Atibaia e a Cota 750 de ocupação. Ape- foram elaboradas diversas tabelas (ver Tab. 4), que nas a partir de 2010/2011 que a prefeitura congelou apresentam os índices pluviométricos referentes as áreas de ocupação de várzea dos bairros atingidos aos anos de 2009 e 2010: e o DAEE iniciou um estudo com a finalidade de diagnosticar a situação do rio Atibaia para propor Tabelas 4: Índices pluviométricos, em mm, durante o ano soluções para os problemas mencionados. Inexis- de 2009 e 2010, respectivamente em Atibaia. tiram ações de planejamento para remanejar os Fonte: Defesa Civil de Atibaia 2012. moradores que se encontram em áreas de risco, 2009 Chuva Dias de Chuva sobretudo porque a maior parte dos bairros loca- Meses máxima chuva total lizados nessas áreas está em situação legal. Apenas Jan 45 17 239,4 no Bairro de Caetetuba a realocação ocorreu, pois Fev 74 14 250,5 tratava-se de ocupação ilegal; as pessoas continuam, porém, alojadas em casas improvisadas de madei- Mar 31,5 11 81,5 rite ou alumínio que foram disponibilizadas pela Abr 7,8 5 23,8 prefeitura (Collaço & Mello-Théry 2012). Mai 14,6 6 56 De acordo com o documento sobre o parecer das Jun 32 6 67,1 causas das enchentes, Giansante afirma que “Cálcu- Jul 38 10 112,6 los já efetuados mostram que é mais barato realocar a população e implantar parques lineares ao longo Ago 13 6 42,8 dos rios do que partir para soluções estruturais como Set 54,6 11 157,3 grandes canalizações. Além de mais caras, esse tipo Out 26,5 11 107,3 de solução pressupõe o aceleramento das águas para Nov 52,5 15 234,4 jusante, podendo lá provocar cheias mais elevadas. Áreas urbanas consolidadas poderiam ser protegidas Dez 49,4 22 350,84 das inundações por meio de diques, obras que não Total 438,9 134 1.723,54 são de construção e operação simples, de forma que seriam aplicadas somente em situações especificas” A Defesa Civil de Atibaia registrou, nos meses (Giansante 2011). No entanto, a realocação da popu- de janeiro e fevereiro de 2011 (período que também lação atingida é um processo complicado e muito compreende o verão de 2010/2011) uma chuva total delicado, uma vez que esses moradores recusam-se de cerca de 561 mm e 126,1 mm, respectivamente. a sair das suas casas, que afinal são regulamentadas.

32 ISSN 1679-2297 TERRÆ 10,2013 Nas enchentes de 2009 e 2010, foram atingidos Conclusões os bairros: Parque das Nações, Parque dos Coquei- ros, III Centenário, Jardim Kanimar, Guaxinduva, A pesquisa partiu da premissa de que é neces- Vila Mira, CTB/Recreio Estoril, Caetetuba, Jardim sário entender que as enchentes são processos Sueli, Jardim Real Parque, Vila São José, Ressaca e naturais dos rios e córregos, mas que podem se Ponte. Segundo dados disponibilizados pela Pre- tornar verdadeiras catástrofes quando há habita- feitura de Atibaia, em 2010 foram afetadas 1.639 ções irregulares que ocupem o leito do rio ou suas pessoas (diretas e indiretamente) e os prejuízos em áreas de várzea. Assim, são necessários estudos que 2009/2010 atingiram o montante de 8 milhões; já caracterizem as enchentes para a implementação de em 2010/2011 atingiram 17 milhões, nas enchen- medidas que mitiguem os efeitos negativos. tes de 2009/2010 foram atingidos 13 bairros e em O contexto geológico regional registra a exis- 2010/2011 foram atingidos 56 bairros. tência de pequenas manchas sedimentares neo- Percebe-que analisar a problemática das gênicas, que recobrem o embasamento cristalino enchentes vai muito além de apenas elencar as suas neoproterozoico ou mais antigo. Esse fator geoló- causas, pois envolve fatores sociais, ambientais e gico revela a recorrência do fenômeno no passado econômicos que ultrapassam o limite do municí- recente e pode ter influenciado as inundações pes- pio. Para propor uma resolução de tal problema, quisadas. No entanto, pode-se citar como as princi- é necessária a influência política da prefeitura, a pais causas: a abundância pluviométrica dos verões mobilização da população, a mudança de compor- de 2009 e 2010; a falta de manutenção da calha do tamento das pessoas individual e coletivamente, a rio por órgãos responsáveis, incapaz de reduzir o melhoria da administração dos órgãos gestores dos intenso assoreamento nos últimos anos; mudanças recursos hídricos, o aperfeiçoamento da defesa civil, na administração das barragens e comportas da o cumprimento das normas, o desenvolvimento Usina Hidrelétrica do Bairro da Usina, a montante dos órgãos gestores e empresariais, a consonân- do rio e o não-esvaziamento prévio do volume das cia de interesses, a educação e a conscientização represas perante a aproximação do período de chu- ambiental da população, entre outros (Collaço & vas intensas, unidas à ocupação irregular das áreas Mello-Théry 2012). de várzea, que aumentaram a impermeabilização do solo, e dificultaram a natural absorção da água. Mesmo diante da complexidade do processo, Discussão algumas medidas podem ser tomadas para que se A presente pesquisa teve como objetivo central evitem novas enchentes ou que pelo menos se compreender a problemática das enchentes que minimizem os efeitos. A prefeitura e órgãos como afligiram o município de Atibaia nos anos de 2009 Cetesb e Graprohab podem aprovar regulamenta- e 2010 por meio de uma visão geológica da área de ção que impeça a instalação de novas residências estudo. Além da análise geológica, o projeto esten- em áreas de possível alagamento. Sugere-se ainda a deu-se também para os campos da geomorfologia, elaboração de um planejamento municipal que leve hidrografia, pedologia, climatologia e demografia, em conta o sistema de drenagem do município e de modo a aprofundar essa análise. algum tipo de controle da expansão habitacional de Além da correta apreensão dos conceitos cita- Atibaia e região, o desassoreamento do rio Atibaia, dos anteriormente sobre o município de Atibaia, o desenvolvimento de um plano de ação frente à foi realizado um mapeamento do município, em previsão de grandes chuvas. semi-detalhe, em escala 1:50 000, com enfoque litológico e hidrográfico, de acordo com a propos- Referências ta da CPRM (2010). Por meio deles, renovou-se o acervo cartográfico da área, que pode servir de Ab’Sáber A.N. 1967. Domínios Morfoclimáticos e Pro- víncias Fitogeográficas no Brasil. In: Orientação. São ferramenta para outros acadêmicos que estudem a Paulo: USP-IGEOG, nº 3. região caracterizada nessa pesquisa. Compreenden- Almeida F.F.M.de, Hasui Y., Ponçano W.L., Dantas do e relacionando todas essas compilações, unidas A.S.L., Carneiro C.D.R., Melo M.S., Bistrichi aos mapas produzidos pela bolsista, foi possível C.A. 1981. Mapa Geológico do Estado de São Pau- entender o cenário onde as inundações ocorreram, lo, escala 1:500.000, Nota Explicativa. São Paulo, facilitando o entendimento das possíveis causas IPT, Monografias 6, v. 1, 126 p. (Publ. 1.184). desses fenômenos. Almeida F.F.M. de. 1964. Fundamentos geológicos do re-

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Resumo: A expansão urbana, unida à desorganização demográfica, tornou o problema das enchentes em zonas urbanas cada vez mais presente na vida de muitas pessoas. São necessárias pesquisas que caracterizem o fenômeno e que determinem suas causas para que se possa evitar ou minimizar os efeitos. Esta pesquisa buscou caracterizar a geologia do município de Atibaia, assim como a geomorfologia, vegetação, pedologia, climatologia, hidrografia e demografia. A pesquisa bibliográfica e a compilação de informações em escala de semi-detalhe possibilitou identificar e estimar possíveis causas das inundações ocorridas em 2009 e 2010 no município. A elaboração de mapas compilados de geologia e hidrografia do município em ambiente SIG, além de ajudar a caracterizar a área, subsidia a interpretação sobre os citados episódios em Atibaia. Um amplo leque de estudos de caracterização regional como os aqui descritos pode auxiliar na compreensão do fenômeno e na implementação de medidas que minimizem efeitos de enchentes urbanas.

Palavras-chave: Enchentes, relevo, geologia, bacia hidrográfica, Atibaia.

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