Apostila Digital Nº1 - Projeto Pixinguinha 1977 Apostila Digital Nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 2 /23
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Apostila Digital nº1 - Projeto Pixinguinha 1977 Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 2 /23 APRESENTAÇÃO O objetivo original destas Apostilas Digitais foi orientar a equipe do Portal das Artes através da história documental do Projeto Pixinguinha, cujo acervo sonoro foi digitalizado a partir de 2005, pelo Projeto Brasil Memória das Artes. Como o volume de arquivos sonoros era expressivo e o tempo para criação de conteúdos, curto, os pesquisadores de música do Portal das Artes – Bruno Tavares e Alexandre Lemos –, que também estavam envolvidos na digitalização do acervo sonoro, anos antes, criaram as Apostilas, como forma de compartilhar o conhecimento com toda a equipe e ajudar na criação dos conteúdos disponíveis na área Brasil Memória das Artes. O resultado, no entanto, ficou tão consistente que decidimos tornar as Apostilas um conteúdo também disponível para o usuário, e não apenas para consumo interno. Ficam disponíveis aos usuários quatro Apostilas Digitais relativas a 1977, 1978, 1979 e Anos 80. Assim, as Apostilas dão um panorama geral sobre a atmosfera política, cultural, organizativa do Projeto Pixinguinha, desde seu nascimento. É um bom início de caminho. Mais informações e documentos sobre esse rico período da música brasileira e esta importante ação da Funarte podem ser obtidos nas páginas do Brasil Memória das Artes e no próprio Cedoc da Funarte. Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 3 /23 APOSTILA DIGITAL Tópicos 1. Contexto histórico 2. O Projeto Pixinguinha, primeiro ano 3. Os artistas 4. A caravana na estrada 5. Balanço do primeiro ano 6. Registros sonoros 1. Contexto histórico Ditadura militar. Em abril de 1977, o governo Geisel fecha o Congresso Nacional e lança o “Pacotão de Abril” – conjunto de medidas que altera as regras eleitorais –, criando, por exemplo, a figura do “senador biônico” (como o cargo ficou conhecido na época). O objetivo da nova “criação” era impedir a repetição da vitória que o MDB havia conquistado em 1974, em eleições que ainda não incluíam os cargos de presidente, governador e prefeitos de capitais e cidades estratégicas. Os metalúrgicos do ABC Paulista iniciam greves por melhores salários, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva – então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos – e com o apoio do movimento estudantil e da esquerda católica. Paralelamente, os Estados Unidos implementam uma nova política externa, pressionando as ditaduras latino-americanas – entre elas, o Brasil – com a cartilha de defesa dos direitos humanos. A Censura, além de controlar os veículos de imprensa, mantém sob severa vigilância todas as atividades artísticas. Com isso, a música popular brasileira sofre limitações de expressão e de registro fonográfico, perdendo espaço nos meios de comunicação para a produção fonográfica estrangeira, especialmente a dos EUA. Paradoxalmente, o governo brasileiro manifesta suas tímidas intenções de diálogo com a sociedade civil e a oposição política – uma das vias de diálogo se constrói a partir do então ministro da Educação e Cultura, o general reformado Ney Braga. Os autores da MPB vivem a luta por causas da categoria, visando a moralização da arrecadação e consequente distribuição dos direitos Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 4 /23 autorais pela venda de discos (LPs e compactos em vinil) e pela execução pública de música em shows e emissoras de rádio e TV. Enquanto o recém-criado Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (o ECAD) passa a ter a atribuição exclusiva de arrecadação de direitos autorais e conexos, a vanguarda da MPB cria uma nova entidade representativa, distribuidora de direitos autorais: a Sociedade Musical Brasileira (Sombrás). Tendo como primeiro presidente o maestro Antônio Carlos Jobim, a nova entidade é dirigida, de fato, pelo poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho. Inspirado no êxito carioca da série de shows Seis e Meia (que aproveitava um horário ocioso do Teatro João Caetano, das 18h30, para reunir duas atrações em um espetáculo a preços populares), o Projeto Pixinguinha surge quando Hermínio, em nome da Sombrás, procura o Ministério da Educação e Cultura (MEC) para apresentar a ideia. O ministro Ney Braga, diretamente envolvido nas discussões subsequentes, sugere que a recém-criada Funarte se desincumba da produção e implantação do dito projeto, que, sob a direção e coordenação de Hermínio, vem à luz com o propósito de ampliar o mercado de trabalho do músico brasileiro e formar novas plateias para a música brasileira de qualidade. Filipetas do Projeto Pixinguinha Foto acervo Funarte 2. O Projeto Pixinguinha, primeiro ano Praças Em 1977, o Projeto Pixinguinha concentrou seus espetáculos no eixo Centro-Sul, com apresentações no Rio de Janeiro (onde era feita a abertura das turnês, no Teatro Dulcina), em São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. Seleção O formato dos espetáculos era inspirado, em certa medida, no do projeto Seis e Meia, onde o palco era sempre dividido por, no mínimo, dois artistas. O critério de seleção era subjetivo, levando em conta a genuinidade nacional e a qualidade do artista e das obras a serem apresentadas. Optou-se, nesta primeira etapa, por priorizar espetáculos já apresentados com êxito no projeto Seis e Meia. Destaque-se que os espetáculos contavam com diretores previamente indicados cuja responsabilidade ia desde a composição cênica até detalhes como a iluminação da apresentação. Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 5 /23 Investimento A remuneração média dos protagonistas era da ordem de dezoito mil cruzeiros, para três apresentações em cada cidade. A estrutura do projeto oferecia, além dos cachês, transporte aéreo, hospedagem e diárias como ajuda de custo. A temporada de cada dupla significava o aporte médio de meio milhão de cruzeiros, saídos dos cofres públicos. 3. Os artistas Vários estilos e movimentos foram representados no cast selecionado para a temporada de 1977. Da novíssima geração da MPB vinham Ivan Lins e Gonzaguinha, surgidos no fim da década de 60, no Movimento Artístico Universitário (MAU), ao lado de Aldir Blanc, então parceiro permanente de João Bosco – que participaria de turnê ao lado de Clementina de Jesus. Já Carlinhos Vergueiro, representante da canção paulistana, viajou ao lado de Carmem Costa, cantora de sucesso da era de ouro do rádio. As duas maiores escolas de samba do Rio de Janeiro, Mangueira e Portela, se faziam presentes através de Cartola, Zé Kéti e Nelson Cavaquinho, enquanto o então esquecido gênero samba de breque ressurgia com seus dois principais criadores, Moreira da Silva e Jorge Veiga. O samba sincopado, com Dóris Monteiro e Lúcio Alves, e o samba-canção, com Tito Madi e Marisa Gata Mansa, também estavam no roteiro. O choro, gênero que vivia fase de intensa redescoberta, tinha em Abel Ferreira, Ademilde Fonseca e Turíbio Santos três grandiosos representantes. A canção carioca contava com a autenticidade diversa de João Nogueira e Jards Macalé, comprovando uma tendência que se delineava desde os tempos dos festivais de música dos anos 60, quando compositores passaram a cantar suas próprias criações. A voz feminina tinha amplo destaque na programação através de nomes como Nana Caymmi, Alaíde Costa, Wanderléa e Beth Carvalho, que começava a se afirmar como cantora exclusivamente de samba. Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 6 /23 Todas as duplas do Projeto Pixinguinha em 1977 Abel Ferreira e Ademilde Fonseca Alaíde Costa e Turíbio Santos Beth Carvalho e Nelson Cavaquinho Carlinhos Vergueiro e Carmem Costa Cartola e João Nogueira Clementina de Jesus e João Bosco Dóris Monteiro e Lúcio Alves Gonzaguinha e Marlene Ivan Lins e Nana Caymmi Jards Macalé e Moreira da Silva Jorge Veiga e Wanderléa Marília Medalha e Zé Kéti Marisa Gata Mansa e Tito Madi a) Abel Ferreira e Ademilde Fonseca Foto acervo Funarte A história do choro se confunde com a própria história da antiga capital do país. A despeito da inexistência de precisão nas datas de seu surgimento, sabe-se que o choro já era uma realidade no Rio de Janeiro do Segundo Império através de nomes como Joaquim Calado e Viriato Figueira. Ainda no século XIX, Chiquinha Gonzaga cria um dos grandes clássicos do repertório do gênero, o famoso Corta-Jaca. O limiar do século XX coincide com o início das gravações fonográficas no Brasil e o choro se destaca por estar entre os gêneros mais gravados. É nesse ambiente que surgirão, alguns anos mais tarde, os maiores nomes da história de sua história: Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Muitos dos choros mais executados até hoje foram compostos neste período, sendo a Velha República considerada a época áurea dos chorões. O fato de ser uma música iminentemente instrumental fez o choro perder espaço para outros gêneros e sua popularidade caiu muito a partir dos anos 40. Chorinhos Apostila Digital nº1 Projeto Pixinguinha 1977 Página 7 /23 com letra foram compostos, velhos chorinhos foram letrados, mas, ainda assim, a tendência de impopularidade se manteve. É importante lembrar, contudo, que a tradicional formação do conjunto de choro, formação que se convencionou chamar de “regional” (violão, violão de sete cordas, bandolim, flauta e pandeiro), seguiu sendo a base instrumental de acompanhamento dos programas musicais de rádio, por suas versatilidade e sonoridade. Entre o final da década de 40 e o início dos anos 50, o choro conheceu mais alguns de seus mestres, nomes como Garoto, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, sendo este último autor de Brasileirinho, o choro mais famoso de todos os tempos. Relegado ao mais completo ostracismo, o choro ressurgiu com toda força na década de 70. Jovens estudantes de música de classe média, como Raphael Rabello, começaram a se interessar pelo gênero e, num tempo em que a censura travava intensa batalha contra as letras da MPB, o gênero instrumental terminou por se tornar um símbolo de brasilidade autêntica para aqueles que se opunham à brasilidade fabricada e imposta pela Ditadura Militar. É nesse ambiente de ressurreição que Abel e Ademilde formam a dupla para o Projeto Pixinguinha.