UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

DANIELLE RODRIGUES DA SILVA

A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES ENTRE AS DEPUTADAS FEDERAIS BRASILEIRAS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2014)

Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Ciência Política, Departamento de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do

Paraná, como parte das exigências para a

obtenção do título de Mestre em Ciência Política. Orientadora: Prof.ª Dra. Luciana Fernandes Veiga.

Curitiba, agosto de 2014.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES ENTRE AS DEPUTADAS FEDERAIS BRASILEIRAS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2014)

Autora: Danielle Rodrigues da Silva

Orientadora: Prof.ª Dra. Luciana Fernandes Veiga

Banca:

Prof. Dra. Maria Luzia Miranda Álvares (UFPA).

Prof. Dr. Nelson Rosário (UFPR).

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A todas as mulheres do mundo.

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RESUMO

As eleições para a Câmara Federal brasileira, em 2010, apresentaram um percentual de 19% de candidatas ao cargo de deputada federal e 9,2% de eleitas, isto é, 45 mulheres em um universo de 513 parlamentares. Esta pesquisa observou a trajetória sócio-política e a produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres das deputadas federais atuantes na 54ª legislatura (2011-2014), no intuito de verificar as relações existentes entre capital político e representação política de mulheres. Procurou-se, para tanto, articular o conceito de representação política de mulheres à proposta formulada por Young (2006) de perspectivas, ideias ou opiniões e interesses. Sobre a incorporação das questões de gênero na política, embora a institucionalização do discurso de gênero, uma tendência global, tenha sido aplicada no contexto brasileiro nos diferentes níveis de poder, seja federal, estadual ou municipal, através, por exemplo, da Lei de Cotas, Lei Maria da Penha e criação de Secretarias da Mulher, a presença de mulheres na política ainda é pequena e quiçá também seja a sua representação política entre as deputadas federais. Ou seja, o campo político está se reconfigurando para incorporar a perspectiva de que a presença de mulheres é sim importante no processo político, seja esta presença já homogeneizada através do habitus do campo político ou voltada para a representação das diferenças, tomadas na pluralidade e segmentação dos grupos de mulheres. Quanto à produção legislativa sobre questões de gênero e direitos das mulheres entre as deputadas federais atuantes na 54ª legislatura, embora inferior a 7% da sua produção legislativa total, considerando os projetos de lei apresentados no período de janeiro de 2011 a julho de 2013, é possível considerar que, ainda que a hipótese preliminar sugerisse que tais produções adviriam de parlamentares localizadas mais à esquerda e centro-esquerda e com vínculos associativos com associações feministas e/ou de mulheres, diferenças ideológicas e associativas não implicam necessariamente na ausência de produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres, mas sim em uma diferença nas temáticas. A partir da análise das ementas dos projetos de lei sobre gênero e direitos das mulheres, foi possível constatar que na produção daquelas deputadas federais pertencentes ao bloco ideológico de esquerda e centro-esquerda prevaleceram temas relacionados a gênero, trabalho, e saúde e entre as parlamentares pertencentes ao bloco ideológico de direita e centro-direita, destacaram-se as temáticas sobre gênero, reforma política e violência doméstica. Palavras-chaves: representação política, mulheres, deputadas federais, Câmara Federal.

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ABSTRACT In the Brazilian Chamber of Deputies Elections held in 2010, 9.2% of the 19% of women candidates were elected into office. The election results revealed that, among the 513 parliamentarians, 45 women were elected. This research examines the socio- political history and legislative output on gender and women's rights of the current federal deputies in the 54th legislature (2011-2014). The study intends to examine the relationship between political capital and the political representation of women. The concept of political representation of women was articulated to the proposal made by Young (2006) perspectives, ideas or opinions and interests. The inclusion of gender issues and legislations, though the mainstreaming of gender discourse, is a consequence of a global trend cognizant of feminist orientations which has materialized in the various levels of government -- federal, state, or local – in Brazilian politics. Examples of these are the Quota Law, Maria da Penha Law and creation of Departments of Women. Despite these milestones, the acknowledgement of the role of women in politics remains insignificant, particularly in the context of political representation as federal deputies. The field is dynamically changing, incorporating the perspective that women's participation as an important component in any political process through habitus. It has also considered women’s representation in different preoccupations and acknowledged the plurality of women’s groups. The legislations that focus on gender issues and women's rights in the 54th Legislature only comprise less than 7% of the total legislative output, based on the bills that were examined from January 2011 to July 2013. This study hypothesizes that the enactment of legislations related to feminism and women’s rights is connected the ideological leanings of parliamentarians. Ideological positions can be located in a left-to-right scale. Differences in ideological positions do not necessarily result to a stalemate or the absence of legislative output related to gender and women's rights. Rather, varied legislations are produced, albeit located within the thems on women and gender. Through an analysis of the bills concerning gender and women's rights, the study revealed that parliamentarians belonging to ideological bloc of left and center-left have produced legislations related to gender, labor, and health. On the other hand, parliamentarians belonging to ideological bloc of right and center-right issues, pursued legislations related to gender issues, political reform and those which address domestic violence.

Keywords: political representation, women, federal deputies, Chamber of deputies, .

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LISTA DE SIGLAS

CAPADR - Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. CCTCI - Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. CCJC - Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania CCULT – Comissão de Cultura CDC – Comissão de Defesa do Consumidor CDEIC - Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. CDU – Comissão de Desenvolvimento Urbano CDHM - Comissão de Direitos Humanos e Minorias CE – Comissão de Educação CESPO – Comissão do Esporte CFT – Comissão de Finanças e Tributação CFFC - Comissão de Fiscalização Financeira e Controle CINDRA - Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia. CLP – Comissão de Legislação Participativa CMADS - Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável CME - Comissão de Minas e Energia CREDN - Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional CSPCCO - Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado CSSF - Comissão de Seguridade Social e Família CTASP - Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. CTUR – Comissão de Turismo CVT – Comissão de Viação e Transportes DEM - Democratas PCdoB - Partido Comunista do Brasil PDT - Partido Democrático Trabalhista PRP - Partido Republicano Progressista PROS - Partido Republicano da Ordem Social PR - Partido da República PSDC - Partido Social Democrata Cristão PTdoB - Partido Trabalhista do Brasil PTB - Partido Trabalhista Brasileiro PP - Partido Progressista PMN - Partido da Mobilização Nacional

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PSOL - Partido Socialismo e Liberdade PPS - Partido Popular Socialista PV - Partido Verde PRB - Partido Republicano Brasileiro PSC - Partido Social Cristão PTB - Partido Trabalhista Brasileiro PSDC - Partido Social Democrata Cristão PSB - Partido Socialista Brasileiro PR - Partido da República PRP - Partido Republicano Progressista PSD - Partido Social Democrático PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro PT - Partido dos Trabalhadores SD - Solidariedade

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Candidatas e eleitas por UF ...... 79

Tabela 2: Candidatas e eleitas por partido político ...... 80

Tabela 3: Candidatas e eleitas por partido político ...... 33

Tabela 4: Áreas de formação acadêmica...... 40

Tabela 5: Áreas de formação acadêmica por sexo ...... 40

Tabela 6: Ocupação por áreas afins ...... 76

Tabela 7: Ocupação por áreas afins ...... 77

Tabela 8: Cargos públicos 1 ...... 78

Tabela 9: Cargos públicos 2 ...... 78

Tabela 10: Cargos partidários ...... 42

Tabela 11: Associações ...... 44

Tabela 12: Apresentação de Projetos de Gênero ...... 48

Tabela 13: Ideologia e Capital Familiar ...... 48

Tabela 14: Percentual de Deputadas nas Comissões Permanentes ...... 50

Tabela 15: Projetos de Lei relacionados às temáticas de gênero ...... 51

Tabela 16: Deputadas federais e percentuais de projetos de gênero ...... 56

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SUMÁRIO

1. Introdução...... 10

2. Aspectos históricos da representação política de mulheres no Congresso Nacional Brasileiro...... 14

3. A representação de mulheres e a representação política: abordagens teóricas...... 22

3.1 A representação política em aspectos gerais: contribuição dos teóricos clássicos às reflexões sobre representação de mulheres 24 3.2 - A Representação política de mulheres e as reflexões teóricas feministas 26 3.3 - A representação política de mulheres: perspectivas, ideias e interesses 28

4. Perfil e trajetória política das deputadas federais brasileiras na 54ª Legislatura (2011-2014)...... 33

4.1 - Aspectos gerais da 54ª Legislatura...... 34 4.2 – Escolaridade...... 39 4.3 – Ocupação...... 40 4.4 - Cargos partidários...... 42 4.5 – Associativismo...... 43

5. A atuação parlamentar das deputadas federais (2011-2013): participação nas Comissões Permanentes e Cargos de poder, apresentação de projetos de lei e projetos de gênero...... 46

5.1 – Trajetória política e produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres...... 47 5.2- A presença de Deputadas nas Comissões Permanentes...... 50 5.3 - Projetos de lei sobre gênero e direito das mulheres...... 51 5.4 - Trajetórias e apresentação de projetos de gênero...... 55 6. Considerações Finais...... 67

7. Referências...... 8. Anexos...... 76

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1- INTRODUÇÃO

O Brasil tem vivido nos últimos anos um processo de institucionalização dos espaços destinados à representação política das mulheres. As eleições de 2010 representaram um grande avanço nesse aspecto para a política brasileira ao eleger a primeira mulher para Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), mas manteve a sub-representatividade de mulheres no Parlamento. Embora sejam significativas as alterações na legislação eleitoral brasileira, em 2009, no que diz respeito às chamadas cotas de gênero, a qual passou a prever a obrigatoriedade – e não apenas a reserva – do preenchimento de vagas nas eleições proporcionais por pelo menos 30% de cada sexo, assim como a destinação de 5% do fundo partidário às ações que visam à participação política e à candidatura de mulheres, as eleições para a Câmara Federal brasileira no ano de 2010 apresentaram um percentual de apenas 19% de candidatas efetivas e 9,2% de eleitas, 45 no total. Tal resultado coloca o Brasil na 119ª posição do ranking de mulheres nos parlamentos nacionais realizado pelo Inter-Parliamentary Union (IPU). Constituem-se em alguns dos consideráveis avanços institucionais brasileiros, por exemplo: a) a criação da Procuradoria Especial da Mulher (2009) e a eleição pela Bancada Feminina da Câmara Federal, através do voto direto, de uma representante mulher para este órgão (2010); b) A criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (2010); c) A representatividade conquistada pela Bancada Feminina no Colégio de Líderes da Câmara Federal, conferindo à coordenadora não apenas o direito de voz, mas também de voto; d) O fato de que das 39 pastas, secretarias e órgãos com status ministerial do governo Dilma, são em número de dez aquelas nos quais as mulheres ocupam postos de primeiro escalão, isto é, um percentual de 25,64% de representatividade. No entanto, é preciso considerar que tais avanços nos remetem à discrepância de representação, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, existente dentro de um processo de institucionalização do discurso de gênero que é global (CANAVATE, 2008). Exemplo disso é a interação do discurso internacional, institucionalizado em agências internacionais através de acordos e tratados, com os discursos nacionais e/ou regionais, relacionados aos movimentos sociais feministas e de mulheres, interação esta que reafirma a necessidade de institucionalização e definição de políticas públicas destinadas às mulheres.

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Deste modo a sub-representação de mulheres em cargos políticos também vem ganhando espaço nas análises acadêmicas brasileiras (AVELAR, 2002; ARAÚJO, 2006; SIMÕES, 2006; ÁLVARES, 2008; MIGUEL & BIROLLI, 2010; MIRANDA, 2012). Tais abordagens têm buscado explicar o déficit de participação de mulheres na política e os seus condicionantes, bem como o(s) modo(s) com o (s) qual (is) as mulheres têm desempenhado seus respectivos papeis enquanto agentes políticas. Tal literatura tem se mostrado mais focada no caráter quantitativo da representação, indicando um espaço a ser preenchido nas pesquisas que se referem à qualidade da representação política de mulheres. Sobre a representação política de mulheres, de acordo com Miguel (2008), há a inter-relação de dois processos paralelos, ou seja, a ampliação da presença de mulheres na política, foco da política de cotas, e a ampliação do espaço da agenda feminista nos debates públicos. Neste sentido, Phillips (2001) já afirmava que as cotas não ampliariam a representação política de mulheres, mas sim o número de mulheres atuando como representantes políticas, o que não significaria necessariamente o aumento de uma representação de mulheres e/ou feminista. Considera-se ainda que, conforme apontado pela literatura (COLE et al, 1998; IVERSEN e ROSENBLUTH, 2006 apud PACHÓN, PEÑA e WILLS, 2012:13), parlamentares localizadas à esquerda e centro-esquerda no espectro ideológico, tendo em vista o caráter mais inclusivo destes partidos, apresentam maior abertura para temas relacionados a gênero e direitos das mulheres e, consequentemente, possivelmente uma produção legislativa mais intensa do que entre as parlamentares de direita e centro-direita. Percebendo ainda política enquanto um lócus dinâmico no qual o pragmatismo e a racionalidade exigem que a representação política não esteja restrita a um grupo específico, o objetivo central deste trabalho foi observar a trajetória sócio-política das 47 deputadas federais em exercício na 54ª Legislatura (2011-2014) da Câmara Federal brasileira, tendo em vista as possíveis relações existentes entre capital político e produção legislativa acerca das temáticas sobre gênero e direitos das mulheres. Buscamos responder, em um primeiro momento, as seguintes questões:

a) É possível verificar a existência de diferenças nos padrões de carreira entre parlamentares homens e parlamentares mulheres, no que tange, sobretudo, ao nível de escolaridade, formação, ocupação de cargos públicos e partidários, vínculos associativos e mandatos anteriores?

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b) Qual é o espaço que a representação política de mulheres tem na atuação legislativa destas 47 deputadas federais, tendo em vista tanto suas trajetórias políticas prévias quanto suas produções legislativas relacionadas às questões de gênero e direitos das mulheres?

No tocante a estes objetivos gerais, esta pesquisa partiu de hipótese preliminar acerca da relação existente entre capital social e representação política das mulheres proposta por SACCHET (2011:115). Para esta autora, o fato das mulheres serem oriundas de ocupações e participarem de grupos cívicos mais homogêneos, em geral ligados ao cuidado, educação, bem estar da família e da comunidade, repercute na reprodução dos modelos de atuação e representação política.

Considerando que a representação política de mulheres não está apenas relacionada ao fato da parlamentar ser “mulher”, o que, tal como apontado por YOUNG (2006), trata-se de um pressuposto que busca congelar relações fluídas e múltiplas, buscamos observar nas trajetórias sócio-políticas destas parlamentares elementos capazes de apontar, ou não, a existência de interesse prévio pela representação de mulheres, observado, principalmente, a partir dos vínculos associativos com movimentos feministas e/ou de mulheres.

Deste modo a pesquisa foi estruturada a partir dos conceitos de perspectiva, ideia e interesse, formulados por Young (2006). Uma primeira hipótese, denominada aqui Hipótese 1 – das perspectivas, levou em conta que as perspectivas sociais derivariam dos diferentes posicionamentos de cada grupo no campo social, considerando, sobretudo, o valor que cada experiência, trajetória e história, em suas distintas formas, podem ter na produção social de interesses. Assim, esperamos que o tipo de trajetória percorrida pelas mulheres deputadas irá influenciar a sua produção legislativa. Espera-se, por exemplo, que mulheres com experiência em movimentos sociais e de minorias tenderão a elaborar propostas mais inclusivas, no que tange à questão de gênero, do que aquelas que não tiveram tal trajetória.

Assim uma segunda hipótese será denominada de Das ideias ou opiniões, compreendidas por Young, no caminho daquilo que Anne Phillips (2011) chamou de “política das ideias”, ou seja, os princípios, valores e prioridades que baseiam a prática política de determinado grupo, na qual ganha destaque o papel dos partidos políticos.

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Neste caso, espera-se que as deputadas de esquerda e centro esquerda com mais adesão a valores de igualdade e de inclusão das diversidades, por princípio, elaborarão mais propostas sobre a questão de gênero. Por fim, relacionada à Hipótese 3 – dos interesses, tendo em vista que Young define “interesse” como “(...) aquilo que afeta ou é importante para os horizontes de vida dos indivíduos ou para as metas das organizações.” (Young, 2006:174). Ou seja, considerando estas duas últimas hipóteses, mais importante que a identidade “mulher”, são os valores, princípios e prioridades ligados às questões de gênero e, especificamente, de direitos das mulheres, que impactam na prática política e produção legislativa destas parlamentares. É evidente que a discussão sobre representação política de mulheres suscita amplos questionamentos. Seja sobre como o sistema político pode tornar-se mais suscetível às demandas das mulheres, desde aquelas defendidas pela agenda feminista, como o direito ao aborto, ou ainda posicionamentos contrários, como os de parlamentares evangélicas, assim como o debate sobre a eficácia das políticas de cotas de gênero e a necessidade em se pensar a socialização política de mulheres. De caráter mais modesto, esta pesquisa, no entanto, manteve-se circunscrita nos aspectos quantitativos da representação política, considerando a relação entre trajetória sócio- política e produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres das nossas representantes. Deste modo, o capítulo 1, Aspectos históricos da representação política de mulheres no parlamento brasileiro, apresenta um panorama que contextualiza o modo com o qual a representação política de mulheres tem se mostrado no Congresso Nacional, especialmente na Câmara Federal, em termos históricos. Em seguida, no capítulo A representação de mulheres e a representação política: abordagens teóricas são apresentados alguns dos aspectos teóricos da representação política de mulheres que serviram de base para a pesquisa. O capítulo 3, intitulado Perfil e trajetória política das deputadas e deputados brasileiros na 54ª Legislatura, mostra alguns aspectos que diferem e similarizam o perfil político de parlamentares homens e mulheres, centrando- se nos aspectos relativos às deputadas federais. Já no quarto e último capítulo algumas variáveis como associativismo, existência de mandatos anteriores na Câmara Federal, capital familiar e cargos públicos e partidários foram relacionadas à produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres.

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2-ASPECTOS HISTÓRICOS DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES NO PARLAMENTO BRASILEIRO

É inegável a intensidade das mudanças conjunturais de ordem política, econômica e sociocultural advindas com o processo da globalização. As transformações socioculturais e políticas vividas pelo Brasil nas últimas décadas do século XX, refletidas no aumento da participação feminina no mercado de trabalho e no acesso ao ensino superior, demonstram fortes indicativos das graduais mudanças no processo de socialização e de participação política das mulheres. Se na década de 1970 apenas 18% das mulheres brasileiras trabalhavam, em 2007, 52,4% encontravam-se ativas, segundo a Fundação Carlos Chagas (2013). Em 2005, de acordo com ÁVILA (2003), as mulheres constituíam 55,5% das estudantes inscritas em vestibulares para o ensino superior no Brasil, 55% das ingressantes e 62,2% daquelas que se formaram. No entanto, até o ano de 1988 as leis brasileiras ainda estavam fortemente marcadas pela hierarquia de gênero. Os processos sócio-políticos e jurídicos que envolveram tais transformações exigiram a criação de novos instrumentos e de leis ordinárias através da articulação e da cooperação suprapartidária de parlamentares, e, sobretudo, do papel da sociedade civil organizada junto aos órgãos governamentais e à Assembleia Nacional Constituinte (1987). O conteúdo do artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, resumido aqui na simples referência de que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”, remete-nos aos significativos avanços desta carta magna, seja em termos da reconceituação da noção de família – ao abolir o pátrio poder e a figura do chefe do casal - o reconhecimento da união estável e do divórcio; a ampliação da licença maternidade; a criação da licença paternidade; o direito à creche; as alterações na legislação trabalhista como o combate à discriminação da mulher no mercado de trabalho e a criação de direitos para empregadas domésticas; a criação de mecanismos para coibir a violência doméstica, dentre outros. Atualmente configuram-se como algumas das grandes temáticas concernentes à agenda de equidade de gênero defendida pela Bancada Feminina, a violência doméstica contra as mulheres e o cumprimento da Lei Maria da Penha, a saúde, a paridade política e a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Destacava a então coordenadora da bancada, no ano de 2011, deputada Janete Pietá (PT-SP), sobre as matérias nas quais os esforços das parlamentares deveriam incendir:

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- PEC 590/2006, da Dep. Luíza Erundina (PSB/SP), que garante representação proporcional de cada sexo na composição das mesas diretoras da Câmara, do Senado e das Comissões, garantindo pelo menos uma vaga para cada sexo. - PEC 030/2007, da Dep. Angela Portela (PT/RR), que amplia para 180 dias a licença à gestante. - PEC 231/1995, do Dep. Inácio Arruda (PCdoB/CE), que reduz a jornada de trabalho para 40 horas, para que a família e a mulher tenham direito ao lazer, capacitação profissional e mais emprego.

Para pensarmos a perspectiva de gênero no legislativo brasileiro, um processo em construção tanto em termos políticos quanto socioculturais, na produção legislativa das nossas deputadas federais, destacando aqui os projetos de lei, e adentrarmos na discussão teórica sobre a representação política de mulheres, alguns aspectos pontuais que permearam os diferentes contextos sócio-políticos e que estão relacionados com o modo com o qual a questão dos direitos das mulheres tem sido abordada serão apresentados a seguir. As proposições legislativas no parlamento brasileiro no período de 1826-2004 acerca das chamadas “questões femininas” foram levantadas pelo Senado Federal e disponibilizadas em material impresso e online. Intitulado “Proposições legislativas sobre questões femininas no Parlamento Brasileiro: 1826 – 2004”, este estudo demonstra que a representação colonial sobre a mulher, ou seja, a sua exclusão do espaço público e da gestão econômica do patrimônio conjugal foi reproduzida na produção legislativa durante o Império (1822-1889), embora datem também deste período profundas mudanças como a Lei do Ventre Livre (1871), a Abolição da Escravatura (1888), assim como os efeitos do regime escravista nas relações entre mulheres negras e senhores, principalmente. Gilberto Freyre, por exemplo, apontava que o regime patriarcal brasileiro abrangia uma diferenciação extremada entre feminino e masculino, diferenciação esta pautada na construção de duas classes de indivíduos, uma considerada forte e nobre e a outra bela, fraca, mórbida. Tal construção, segundo o autor, “(...) fez da mulher de senhor de engenho e de fazenda e mesmo da Iaiá de sobrado, no Brasil, um ser artificial, mórbido. Uma doente, deformada no corpo para ser a serva do homem e a boneca de carne do marido.” (FREYRE, 2004:208). A ênfase das proposições daquele período, segundo material mencionado, estava na noção de “honra sexual” (enquanto um bem

15 com valor, irreparável e de propriedade do círculo familiar). Esta noção mediava as relações sociais e impactava diretamente na produção legislativa. As discussões no parlamento eram centradas, em suma, nos fatos relativos às herdeiras da família imperial e solenizadas no parlamento, bem como nas relações diplomáticas e arranjos matrimoniais. Questões de previdência social e saúde das mulheres, por exemplo, não fomentavam discussão, visto que o Estado atribuía estas questões ao domínio da caridade, às quais estavam sob responsabilidade das confrarias e irmandades. A violência contra a mulher, os delitos nas relações conjugais e aqueles que envolviam a honra sexual, por exemplo, demonstravam claramente a tolerância do Estado para com a violência doméstica, aceita como uma característica cultural da sociedade brasileira. O adultério, tomado como crime, previa diferentes punições de acordo com o sexo da pessoa acusada, de modo que a misoginia manifesta visava, sobretudo, à preservação do casamento e da família. No que tange à educação, o ato adicional de 1834 transferiu às províncias a competência para legislar sobre a educação primária. A Lei de 15 de outubro de 1827, elaborada pela Assembleia Geral Legislativa previa recomendações diferenciadas para meninas e meninos. A presença das meninas e mulheres nas escolas, bem como o surgimento da profissão do magistério foram aspectos de suma importância. Neste sentido DEL PRIORE (2001:451) pontuava que:

O magistério era visto como uma extensão da maternidade, o destino primordial da mulher. Cada aluno ou aluna era representado como um filho ou filha espiritual e a docência como uma atividade de amor e doação a qual recorreriam aquelas jovens que tivessem vocação.

Ou seja, embora trabalhando, para estas mulheres, prevalecia uma concepção de mercado de trabalho enquanto ocupação transitória, sendo o magistério apenas um turno de trabalho que possibilitaria ser conciliada com as jornadas de esposa e mãe. Importante destacar também que, segundo Del Priore, esta percepção servia como argumento para justificar o salário reduzido em relação ao dos homens, através da ideia de um “salário complementar”, como uma extensão do marido. Os impactos da Proclamação da República (1889) não alteraram os modelos de “feminino”, modelos estes formados e transferidos através das elites, por parte de republicanos e positivistas, os quais davam enfoque à idealização das mães na missão "civilizadora" das mulheres,

16 prevalecendo a divulgação de imagens relacionadas ao mito do “eterno feminino” e aos papeis familiares. Foi apenas nas primeiras décadas do século XX que o Manifesto da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, encabeçado por Bertha Lutz e Maria Eugênia e enviado ao Congresso em 1927, fundamentou as demandas das mulheres por direitos políticos através da conquista de direitos civis. Importante destacar o trabalho realizado pela portuguesa radicada no Brasil, Mariana Coelho (1933), educadora e uma das primeiras mulheres a tentar traçar nas primeiras décadas do século XX a história do feminismo no Brasil, ao observar o panorama sobre as iniciativas e projetos de lei por todo o país durante as primeiras décadas do século passado, assim como as reivindicações políticas das mulheres: “(...) Relutância dos países latinos em sancionar os projetos que dão à mulher direitos políticos, ainda que ela já exerça, em grande escala, importantes cargos na administração.”. (Coelho, 2002:128). Embora facultativo, em 1932, o direito ao voto feminino foi assegurado pelo decreto-lei estabelecido pelo presidente Getúlio Vargas. O Código Eleitoral, decreto nº 21.078 (1932) amparava este direito, presente na Constituição Federal de 1946 e, em 1949, o Brasil aprovava o texto da Convenção Interamericana sobre a Concessão de Direitos Políticos às mulheres, realizada em Bogotá, Colômbia. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por exemplo, primeira legislação de impacto neste sentido, instrumentalizava as relações de trabalho, dentro de um Estado ao qual também cabia a proteção ao trabalho feminino, à maternidade, à jornada de trabalho, à licença maternidade, etc. No que diz respeito às questões relativas ao patrimônio e inserção econômica, as pensões e o tratamento legislativo da capacidade econômica, apesar de reproduzir as limitações da legislação colonial, já passava a apresentar algumas simplificações as quais conferiam certa autonomia às mulheres, algumas das quais já atuantes como comerciárias. Apenas com o Código Penal, durante o Estado Novo, os crimes contra a família passaram a ser considerados crimes contra os costumes. A honestidade sexual e a integridade física da mulher eram encaradas ainda como bens sociais coletivos. Bertha Lutz, além de assumir em 1936 um mandato na Câmara Federal, integrou a delegação brasileira, na ocasião do primeiro Ano Internacional da Mulher e do Congresso Internacional da Mulher, realizado na Cidade do México (1975). Em termos de representação quantitativa, entre os anos de 1932 e 1963, apenas seis mulheres foram empossadas deputadas federais: Carlota de Queirós, Olga Benário, Bertha Lutz, Ivette

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Vargas, Nita Costa e Leonina Costa, segundo a publicação “Palavra de Mulher: oito décadas de direito ao voto” (Brasília, 2012). Segundo esta mesma publicação, no que tange aos períodos 1963-1967 e 1983-1987 a característica mais marcante foi a oscilação no número de mulheres parlamentares, visto que muitas das 22 deputadas federais empossadas tiveram seus mandatos cassados por conta do Regime Militar. Tendo em vista duas das principais dimensões da socialização política, ou seja, o acesso à informação e a participação política, TABAK (1989) afirmava que o afastamento de movimentos sociais e setores expressivos da sociedade civil organizada limitavam o processo de socialização política, no sentido de impedir a inserção destas novas gerações na arena política, o que incluiu – e mais uma vez contribuiu para a exclusão – também das mulheres. A limitação na difusão de informação política em contextos em que os regimes autoritários obstaculizavam o processo de socialização política refletiria “(...) pressões ideológicas do regime no poder e as limitações ao exercício de uma prática democrática.” (Tabak, 1983:05). Sobre a disponibilização e divulgação de informações de cunho político acerca dos direitos das mulheres, a mesma autora, em meados da década de 1970 as organizações feministas, ou ainda as associações de mulheres, não havia conseguido o fazer. Sobre a participação política das mulheres durante o regime ditatorial brasileiro (1964-1985) é importante destacar dados apontados por RIDENTI (1990) acerca da participação diferenciada de mulheres, a favor ou contra a ditadura militar, especialmente no que tange aos dados estatísticos sobre as mulheres em organizações clandestinas de esquerda e grupos guerrilheiros. De acordo com Ridenti, a participação de mulheres nas organizações de esquerdas armadas urbanas, 18,3%, estava próxima ao percentual de mulheres economicamente ativas (IBGE, 1970), ou seja, aproximadamente 21%. Se nas eleições de 1982, 58 mulheres saíram candidatas ao cargo de deputada federal e oito foram eleitas, pela primeira vez na história do país, 26 mulheres foram empossadas em 1987 e no dia 23 de março daquele ano, uma delegação de mulheres representantes de movimentos sociais coordenadas pelo CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) e dirigida pela deputada federal Jaqueline Pitanguy, entregava a “Carta das Mulheres” ao Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, deputado federal Ulisses Guimarães. Entre as propostas ligadas aos temas defendidos pelos movimentos feministas e de mulheres, estavam, posicionamentos favoráveis e

18 contrários ao aborto, o direito à aposentadoria das donas de casa, os direitos das/os empregadas/os domésticas/os, a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres, entre outros. A Constituição Federal (1988), conhecida como a Constituição Cidadã, recebeu ao todo 122 emendas populares e mais de 12 milhões de assinaturas - para cada Emenda Popular era exigida a aderência de três entidades legalmente constituídas e de 30 mil assinaturas de apoio. A dinâmica da Constituinte mobilizou grupos de movimentos sociais como o de mulheres, indígenas, negros e homossexuais, visando o reconhecimento de seus direitos, segundo FALEIROS (1987). Tratava-se de manifestações que “(...) surgem no bojo da necessidade de diferenciação e de ruptura de relações opressoras, de definição de identidades, enquanto coletividades históricas.” (Faleiros, 1987:160). Os avanços conquistados naquela Carta através de rupturas e definições de identidades indicam a importância da articulação e da cooperação suprapartidária de parlamentares, e, sobretudo, o papel da sociedade civil organizada junto aos órgãos governamentais e à Assembleia Nacional Constituinte (1987). É justamente pelo fato de que 70% das reivindicações dos movimentos feministas e de mulheres terem sido contemplados pela Constituição Federal de 1988, que se torna nítida a importância do diálogo entre parlamento e grupos da sociedade civil organizada (Tabak, 1989). De acordo com MIRANDA (2012), a relação entre a atual bancada feminina com movimentos feministas e de mulheres não apresenta a mesma intensidade que as relações conquistadas naquele contexto de Constituinte. Para esta autora, a despeito da atual institucionalização de demandas e de uma maior abertura de diálogo entre governo e sociedade civil, os contextos difeririam em termos de oportunidades políticas, constrangimentos, controvérsias e disputas, visto que:

As relações construídas desigualmente no espaço parlamentar e nos partidos políticos podem ser vistas como um dos obstáculos para o combate à desigualdade de gênero. No Brasil, as poucas mulheres que conseguem um assento no parlamento seguem os direcionamentos dos seus partidos, que nem sempre consideram a atuação em prol da igualdade de gênero como uma pauta importante para um mandato parlamentar. (Miranda, 2012:162).

A 49ª Legislatura (1991-1995) contava com 30 deputadas federais e foi em 1995 que ocorreu a Conferência Mundial da Mulher, realizada em Beijing, China, conferência esta tida como marco institucional para a questão das cotas de gênero. A 50ª Legislatura

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(1995-1999), por sua vez, conseguira não apenas eleger 42 parlamentares mulheres em um universo de 471 homens, mas também ver a entrada em vigor da chamada Lei de Cotas, a Lei 9.504 de 1997. Esta lei inicialmente determinava que ao menos 30% das vagas nas listas eleitorais nas eleições para cargos proporcionais no Brasil deveriam ser reservadas a um dos gêneros. Segundo informações da publicação “Palavra de Mulher: oito décadas de direito ao voto”, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as eleições de 1998 representaram um avanço em termos numéricos na candidatura de mulheres, visto que naquele ano um total de 2.545 saíram candidatas a todos os cargos, um percentual de aproximadamente 13%, bastante aquém daquele determinado pela lei de cotas. Assim, a 51ª Legislatura (1999-2003) contou com a atuação de 39 deputadas federais. Já a 52ª Legislatura (2003-2007) contou com a atuação de 52 deputadas federais, constituindo a maior Bancada Feminina até hoje. Em 2003 foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), órgão com status ministerial o qual, articulado a outros ministérios, tem o objetivo de fornecer assessoria à Presidência da República no que tange às políticas públicas que visam à equidade de gênero. A chamada “minirreforma política” realizada em 2009 passou a exigir o preenchimento das vagas - e não apenas a reserva – bem como a obrigatoriedade dos partidos destinarem no mínimo 5% do fundo partidário às ações voltadas para a participação política das mulheres, assim como o uso do tempo de televisão das propagandas partidárias. No entanto, o número de mulheres eleitas para a Câmara Federal permanece o mesmo nas duas últimas legislaturas, 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015), isto é, 45 parlamentares, ainda que durante os três primeiros anos da atual legislatura outras duas mulheres tenham ocupado o cargo de suplentes. Configuram-se como algumas das grandes temáticas concernentes à agenda de equidade de gênero defendida pela atual Bancada Feminina (54ª Legislatura, 2011-2014), a violência doméstica contra as mulheres e o cumprimento da Lei Maria da Penha, a saúde, a paridade política e a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Sobre a paridade política é importante destacar os esforços da Bancada Feminina em prol de uma legislação que torne obrigatória a prestação de contas através de mecanismos de fiscalização e controle do uso do fundo partidário. O estudo realizado pela Câmara Federal acerca das proposições legislativas relacionadas às chamadas “questões femininas” afirma que a atividade parlamentar no período 1823-2004 se manteve obediente às regras inerentes ao jogo político. Esta

20 análise, a qual também salienta a importância das iniciativas de origem externa ao Congresso e da eficiência do Executivo em aprovar medidas legislativas, aponta que a lógica do jogo político parlamentar tem prevalecido em relação à lógica de gênero enquanto orientadora para ações políticas. Considerando a manutenção da sub-representatividade de mulheres na Câmara Federal nesta legislatura, é importante considerar que, conforme apontado por Miranda (2012) faz-se necessária a aproximação entre parlamentares e movimentos feministas e de mulheres, a fim de fortalecer institucionalmente as demandas por equidade de gênero.

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3- A REPRESENTAÇÃO DE MULHERES E A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: ABORDAGENS TEÓRICAS

Depois de contextualizadas as chamadas “questões femininas” e a presença das parlamentares mulheres na Câmara Federal brasileira ao longo dos últimos anos, este capítulo abordará alguns aspectos teóricos da representação política de mulheres, iniciando com elementos da teoria da representação política clássica, tendo como fio condutor as considerações feitas por Hanna Pitkin em seu célebre The concept of Representation (1967). A afirmação de que os contratos sociais têm caráter também sexual, tendo em vista, por exemplo, diferentes discussões formuladas por contratualistas clássicos como Thomas Hobbes (1651), John Locke (1689) e Jean Jacques Rousseau (1762), foi feita por Carole Pateman (1993) na obra O Contrato Sexual. Para esta autora, a exclusão das mulheres da esfera pública, relegadas ao espaço doméstico, torna o contrato original ficção política, uma história contada pela metade.

A ficção política reflete nossos próprios seres políticos para nós mesmos – mas quem somos nós? Somente os homens – que criam a vida política – podem fazer parte do pacto original, embora a ficção política fale também às mulheres por meio da “linguagem do indivíduo”. Uma mensagem curiosa é enviada às mulheres que representam tudo o que um indivíduo não é, mas a mensagem deve ser continuamente transmitida porque o significado do indivíduo e do contrato sexual depende das mulheres e do contrato sexual. As mulheres tem de reconhecer a ficção política e falar sua língua, mesmo quando os termos do pacto original as exclui das conversações fraternais. (Pateman, 1993:325).

Portanto, é possível considerar que o Estado ainda não é completamente neutro em relação às questões de gênero, conforme também já apontava ALVAREZ (1988), uma vez que se constitui a partir da predominância do sexo masculino e ainda é dominado por este. A definição sexual dos papeis, ou seja, a diferenciação dos papeis que caberiam aos homens daqueles que caberiam às mulheres, refletida na socialização diferenciada destas, promove impactos desde o sistema educacional e as chamadas carreiras tradicionais femininas, ligadas, em geral, ao cuidado, bem-estar, educação e saúde, aos preconceitos, mitos e tabus difundidos pelos meios de comunicação de massa. É importante considerar também a influência da religião no processo de socialização política das gerações TABAK (1989).

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Para pensar os condicionantes de gênero na prática política das mulheres parlamentares é necessário ter em vista que o conceito de gênero é uma categoria de análise para estudo das relações sociais travadas entre homens e mulheres. Conforme apontado por SCOTT (1990:15): “(...) o termo gênero torna-se uma forma de indicar construções culturais – a criação inteiramente social de ideias sobre os papeis adequados aos homens e às mulheres.”. Sobre as relações de poder, segundo esta autora:

(...) gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos. O gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. As mudanças na organização das relações sociais correspondem sempre às mudanças nas representações de poder, mas a direção da mudança não segue necessariamente um sentido único. (Scott, 1990:35).

A noção de uma "política do desvelo" (care politics), mais sensível ao cuidado e aos interesses de outrem, própria de uma moral feminina diferenciada, foi formulada por Nancy Chorodow (1978) e desenvolvida por Carol Gilligan (1982). Uma política do desvelo em oposição a uma política de interesses, tida como masculina e egoísta, poderia sugerir, neste sentido, que parlamentares mulheres provindas de ocupações e trajetórias ligadas à educação e à saúde, por exemplo, estariam mais aptas para atuar politicamente em comissões relacionadas a tais temas, não apenas em termos funcionais, mas, principalmente, pelo fato de incorporarem outro modo de fazer política, isto é, a política do desvelo. Assim é importante destacar o que ressaltou Scott (1995:07) sobre a construção da ideia de alta política (high politics) enquanto um conceito de gênero, ou seja, tendo em vista oposições binárias de masculino/feminino, alta política e baixa política (soft politics), inclusão/exclusão, oposições estas que delimitariam o acesso e a presença no campo político:

A alta política, ela mesma, é um conceito de gênero porque estabelece a sua importância decisiva de seu poder público, as razões de ser e a realidade da existência da sua autoridade superior, precisamente graças à exclusão das mulheres do seu funcionamento. O gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político foi concebido, legitimado e criticado. Ele se refere à oposição masculino/feminino e fundamenta ao mesmo tempo seu sentido. Para reivindicar o poder político, a referência tem que parecer segura e fixa fora de qualquer construção humana, fazendo parte da ordem natural ou divina. Desta forma, a oposição binária e o processo social das relações de gênero tornam-se, os dois, parte do sentido do poder, ele mesmo. Colocar em questão ou mudar um aspecto ameaça o sistema por inteiro.

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As barreiras institucionais de grupos politicamente dominantes, portanto, delimitariam não apenas o acesso e atuação de mulheres como de outros grupos tidos como minoritários (Miguel, 2011) e, principalmente, uma vez que tais grupos consigam ultrapassar os funis sociais, culturais e mesmo políticos, a apresentação de suas perspectivas, passariam a ser “(...) distorcida(s) pela necessidade de adaptação aos padrões que conferem legitimidade aos agentes políticos.” (Miguel: 2011:115).

3.1 - A representação política em aspectos gerais: contribuição dos teóricos clássicos às reflexões sobre representação de mulheres

A fim de destacar elementos presentes nas definições clássicas de representação política e que sustentam a tipologia proposta por Pitkin (1967), ou seja, da representação descritiva, da representação simbólica e da representação de interesses, algumas questões apontadas pela literatura política clássica serão observadas. De origem latina o termo repraesentare significa “tornar presente ou manifesto; ou apresentar novamente”. Segundo Pitkin, a representação seria a ação política delineada a partir dos interesses das representadas. Ou seja, a ação política que visa às demandas destas, as quais possuem autonomia, e é colocada em prática de forma independente pela (o) representante.

A concepção formalista de Thomas Hobbes (1651), por exemplo, apresenta a representação em termos de autorização, isto é, representantes recebendo autoridade para agir em relação aos/às representados (as) e em contrapartida estes (as) permanecem vinculados (as) à ação do (a) representante. Neste sentido, de acordo com ALKMIN (2013:59), a concepção hobbesiana ilustra uma das formas de representação propostas por Pitkin: a representação por autorização.

Neste tipo de representação ocorreria a transferência de poder das representadas para a (o) representante, devendo ainda compreender neste processo a responsabilização ou accountability. Nas palavras da própria Pitkin, representar significaria:

(...) representing here means acting in the interest of the represented, in a manner responsive to them, the representative must act independently; his action must involve discussion and judgment; he must be the one who acts. The represented must also be (conceived as) capable of independent action and judgment, not merely being taken care of. (Pitkin, 1967:209).

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A representação por semelhança ou identidade, outra categoria de representação proposta por Pitkin, aparece de forma implícita, segundo Alkmim (2013:62), no contratualista inglês John Locke (1689). Para Locke, o legislativo seria o poder mais importante de uma comunidade e a relação entre representante e representado (a) se daria de forma direta na prática legislativa. A representação descritiva, segundo Pitkin, supõe o compartilhamento de características de determinado segmento ou grupo por parte da agente política, implicando em uma atuação por correspondência, tal qual o reflexo de um espelho. Este seria, por exemplo, o caso de mulheres que atuam na política e que representam os direitos das mulheres, ou ainda de minorias étnicas ou sexuais. Assim, ao versar sobre a proporcionalidade e a incorporação das diversas minorias no processo político, a representação descritiva poderia ter respaldo em John Stuart Mill, grande defensor do governo representativo, do sufrágio universal e da representação proporcional, segundo o qual o corpo representativo seria:

(...) an arena in which not only the general opinion of nation, but that of very section of it, and as far as possible of every eminent individual whom it contains, can produce itself in full light. (Mill Apud Pitkin, 1967:83). A representação simbólica, por sua vez, estaria mais voltada para componentes psicológicos, emocionais e afetivos, e teria na agente um reforço daquilo que seria assumido, em termos também simbólicos, pelas representadas. Ou seja, enxergaria na agente um símbolo da identidade e/ou qualidade de determinado grupo, alguém que efetivamente “age por” suas representadas, de acordo com determinados interesses compartilhados pelas mesmas.

Além da revisão conceitual realizada por Pitkin no livro The concept of Representation (1967) - sendo citados aqui, de modo breve, apenas alguns destes teóricos políticos clássicos, a autora continuou a discutir tais contribuições em um artigo publicado originalmente em 1989 e intitulado “Representação: palavras, instituições e ideias”. Neste texto, Pitkin cita Edmund Burke em seu clássico “Discurso aos eleitores de Bristol”, cabendo destacar aqui a distinção feita por este autor entre “representação virtual” e “representação efetiva”, visto que enquanto esta diz respeito ao direito de escolha do representante pelo representado, a representação virtual considera, principalmente, o compartilhamento de interesses e opiniões entre ambas as partes. No entanto, para Burke, o Parlamento:

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(...) é uma assembleia deliberativa da nação, com um interesse, o interesse do todo – onde os preconceitos locais não devem servir de guia, mas sim o bem geral, que resulta do juízo geral do todo. É verdade que os senhores escolhem um membro; mas ele, uma vez escolhido, não é um membro de Bristol, é um membro do Parlamento. (Burke, 2006:30).

Considerando a prioridade dada por Burke aos interesses gerais da nação ou da localidade, o dever do (a) representante para com os (as) representados (as) estaria muito mais relacionado aos interesses tomados como fixos, a despeito das opiniões, vistas como individuais e mutáveis. Cabe destacar ainda que para os federalistas Alexander Hamilton, John Jay e James Madison, a representação funcionaria como um “substituto para o encontro pessoal dos cidadãos” e o conceito de interesse se caracterizaria pela mutabilidade e pluralidade (Pitkin, 2006:33).

3.2 - A Representação política de mulheres e as reflexões teóricas feministas

As discussões teóricas levantadas pelos movimentos feministas foram sintetizadas por HITA (2002), tendo em vista alguns dos elementos estruturais presentes nas reflexões teóricas feministas ocorridas entre meados da década de 1960 e 1990. A frase “Da igualdade à diferença e da diferença às diferenças” ilustra as preocupações centrais das fases por ela analisadas. Se na primeira fase ou onda feminista, datada em fins do século XIX, preponderou a luta pela igualdade entre homens e mulheres, luta esta bastante inspirada pelos ideais revolucionários burgueses de liberdade, fraternidade e igualdade, e, principalmente, pela busca por destacar o caráter de ''humanidade'' das mulheres, isto é, a superação do caráter da subordinação feminina à masculina, considerando que até então estas não dispunham dos direitos universais, assim como crianças e escravos. A segunda fase, em meados dos anos 1960, passou a ensejar a luta pela identidade feminina, afirmando as diferenças e as especificidades de gênero: “(...) isto é, o direito à diferença da mulher em relação ao homem, de modo a reivindicar não apenas direitos universais, mas também os direitos específicos das mulheres.”. (Hita, 2002:321). Nesta fase se deu o surgimento do conceito de gênero, compreendido, em termos gerais, como o conjunto de fatores psicológicos, sociais e culturais que distinguiriam homens e mulheres - em oposição ao termo biologizante “sexo”, assim como as discussões, no interior no movimento feminista, da necessidade de se pensar

26 não apenas as diferenças entre homens e mulheres, mas também as diferenças entre as mulheres em termos de classe, etnia e orientação sexual, por exemplo. Rompendo com as dicotomias de diferença e identidade, as propostas teóricas feministas pós-modernas que surgiram a partir dos anos 1990 (BUTLER, 1990; Scott, 1990.) passaram então a propor um enfoque de análise que não buscava afirmar ou defender identidades fixas. Para HARAWAY (Apud Hita, 2002:331),

Ao invés de afirmarem ou defenderem uma identidade fixada a priori que defina aqueles que poderão representar a diversidade de facções e interesses em questão, como ocorreram com teorias tradicionais do sujeito, muitas dessas autoras propõe pensarmos em termos como coalizão, conexão ou afinidades.

Inspirando-se nesta autora, Hita propõe a ideia de "formas de identificação", ou seja, encarando o conceito de identidade como um processo em andamento, flexível e provisório, isto é, passível de mudança e capaz de abranger diferenças. Se na primeira fase, o feminismo esteve mais preocupado com o espaço que os diversos movimentos sociais deveriam ocupar dentro das discussões, na segunda fase preponderava a política de identidades e o reconhecimento das diferenças, conforme apontado por Fraser (2007:296): Quer o problema fosse a violência contra a mulher, quer a disparidade de gêneros na representação política, feministas recorreram à gramática do reconhecimento para expressar suas reinvindicações.

Já a discussão feminista pós 11 de setembro de 2001 passou a visar um enfoque que contemplaria as mudanças geográficas, percebidas sob o viés dos espaços transnacionais, em um novo momento da teoria política feminista denominado por Hita como de ''reenquadramento''. O feminismo, enquanto política transnacional passa então a visar uma síntese entre redistribuição e reconhecimento. Neste novo momento de “reenquadramento” em que se buscou sintetizar a redistribuição – através da política de cotas de gênero, por exemplo – e o reconhecimento, a representação de mulheres é considerada por Fraser como:

(...) não é apenas uma questão de assegurar voz política igual a mulheres em comunidades políticas já constituídas. Ao lado disso, é necessário reenquadrar as disputas sobre justiça que não podem ser propriamente contidas nos regimes estabelecidos. Logo, ao contestar o mau enquadramento, o feminismo transnacional está reconfigurando a justiça de gênero como um problema tridimensional, no qual redistribuição, reconhecimento e representação devem ser integrados de forma equilibrada. (Fraser. 2007:306).

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Assim, é preciso considerar que, a despeito do processo de institucionalização do discurso de gênero que é global e das significativas alterações na legislação eleitoral brasileira no que diz respeito às chamadas cotas de gênero, redistribuição e reconhecimento, a representação ainda é tratada como “sub”. Cabe aqui o questionamento sobre até que ponto as agentes políticas eleitas demonstram compromisso com a representação de mulheres em seus respectivos mandatos. Para tanto, alguns aspectos da discussão sobre representação política de mulheres, serão apresentados a seguir.

3.3 - A representação política de mulheres: perspectivas, ideias e interesses

A questão da representação política de mulheres será aqui observada a partir de alguns desdobramentos que partilharam das contribuições anteriormente mencionadas de Hanna Pitkin no clássico The concept of representation (1967), tendo em vista, principalmente, o uso das categorias analíticas formuladas por Young (2000): ideias, interesses e perspectivas. Para Miguel (2005) são três os principais problemas da representação política em uma democracia direta: a separação entre representantes e representados (as) e o impacto desta diferenciação na tomada de decisões; em decorrência desta separação, a formação de uma elite especializada; e a divisão existente entre o que pode se nomear de vontade de quem representa e de quem é representado (a). Este último problema, segundo Miguel, deriva tanto da possível inexistência de características sociais semelhantes entre representantes e representados (as) quanto de mecanismos que focariam as diferenças funcionais entre os (as) mesmos (as). Sobre a representação política de mulheres, mesmo que o caso brasileiro seja de sub-representação em termos quantitativos, seria possível afirmar sobre o último problema mencionado por Miguel, que, embora possam inexistir características sociais comuns entre as representantes e representadas – algo a ser observado através das suas trajetórias pessoais e associativismo com movimentos feministas e/ou de mulheres – os mecanismos institucionais com foco na equidade de gênero (Bancada Feminina, Secretaria de Políticas para as Mulheres, Procuradoria da Mulher) estão presentes. Embora a representação descritiva tal qual formulada por Pitkin suponha um compartilhamento de características de determinado segmento, no caso as mulheres, pela representante, a qual atuaria politicamente visando aos direitos das mulheres, para

28 esta autora, a representação descritiva é problemática, visto que uma relação de correspondência não é simples. Afinal de contas, quem o representante deveria representar? Ao trabalhar com a representação de grupos, Young (2006:142) critica a tendência à unificação de identidades, no sentido de que isso “(...) Buscaria congelar relações fluidas numa identidade unificada, o que pode recriar exclusões opressivas.”. Deste modo, é preciso recordar que diferenças de gênero perpassam outras diferenças como classe, religião e etnia. Em estudo da representação descritiva a partir da relação entre representante e representado (a), Miguel (2011) considera que a presença dos integrantes de grupos dominados não elimina necessariamente as assimetrias e exclusões reproduzidas pelo campo político. Segundo este autor:

A homogeneidade do grupo politicamente dominante é mantida por uma série de barreiras com ação conjunta. A demanda por presença política contrapõe-se aos efeitos desses constrangimentos. Mas as estruturas do campo político resistem à inclusão efetiva, mantendo os representantes de grupos subalternos em posição periférica e impondo ônus simbólicos especiais à sua ação. A verbalização de suas perspectivas é distorcida pela necessidade de adaptação aos padrões que conferem legitimidade aos agentes políticos (...). (Miguel: 2011:115)

Ou seja, se tomarmos as mulheres como pertencentes a um grupo minoritário, embora haja demanda por uma maior presença de mulheres na política, a força das estruturas do campo político constrangeriam as práticas políticas das parlamentares, de modo que distintas perspectivas perderiam espaço para a necessidade de adaptação aos padrões reconhecidos pelo campo como legítimos. A questão da representação específica de grupos é trabalhada por Young através das noções de perspectiva, interesses e opiniões. Young afirma que o fato de indivíduos estarem posicionados de modo semelhante em dado campo social implicaria na geração de perspectivas sociais aproximadas. Esta autora parte, no entanto, de uma percepção relacional de representação, a qual prioriza a posição dos indivíduos em dada estrutura de grupo social, desconsiderando que esta posição possa determinar as identidades dos mesmos. Tendo em vista aquilo que Pitkin (1977:209) considerou como representação, isto é, a ação política delineada a partir de interesses compartilhados e colocada em prática de forma independente pelas agentes, ser representada para Young é ter seus interesses cuidados por representantes que têm como norteadores das decisões políticas,

29 princípios, valores e prioridades que são compartilhados. Ou seja, as decisões e deliberações de uma representante seriam, para Young, capazes de dar forma à posição que representantes e representadas assumem no campo social. É importante considerar ainda a crítica realizada por Miguel (2010), tendo por base Hobbes e a afirmação de que a presença de representante gera comunidade política, visto que “Onde não há um porta- voz autorizado, no qual o grupo reconheça-se, permanece apenas um conjunto de indivíduos atomizados” (Hobbes, 1997:137 Apud Miguel, 2010:33). Segundo Young, as perspectivas sociais derivariam dos diferentes posicionamentos de cada grupo no campo social, considerando, sobretudo, o valor que cada experiência, trajetória e história, em suas distinções, podem ter para a prática democrática. Para Young (2006:175): “A perspectiva social é o ponto de vista que os membros de um grupo mantêm sobre os processos sociais em função das posições que neles ocupam.”. Esta autora aponta ainda que reduzir uma perspectiva como apenas de gênero, ou apenas afro-americana, para citar os exemplos por ela dados, é um equívoco, posto que “(...) cada pessoa tem sua própria história irredutível, o que lhe confere uma perspectiva ou uma percepção social única.”. (Young, 2006:165). Para Young, é possível que haja o compartilhamento de dada perspectiva social entre indivíduos ainda que seus posicionamentos no campo social sejam vividos de modos diferentes. Isto é, “(...) na medida em que estão voltadas a diferentes aspectos da sociedade.”. (Young, 2006:163). Quanto à multiplicidade de perspectivas possíveis e disponíveis a um indivíduo, cabe citar o que esta autora fala sobre perspectivas híbridas:

Algumas destas podem se entrecruzar e constituir uma perspectiva híbrida diferenciada – por exemplo, uma perspectiva das mulheres negras ou uma perspectiva dos jovens da classe trabalhadora. Os indivíduos podem se mover em torno de perspectivas que lhes estão disponíveis conforme as pessoas com as quais interagem ou conforme o aspecto da realidade social ao qual se voltam. (Young, 2006:166)

Aqui cabe o questionamento sobre a possibilidade de se verificar indícios da segmentação de grupos de mulheres, de perspectivas sociais, não apenas em suas trajetórias, mas também quando da produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres entre as deputadas federais, a primeira hipótese levantada neste trabalho. As ideias ou opiniões são compreendidas por Young, no caminho daquilo que Anne Phillips chamou de “política das ideias”, ou seja, todos os princípios, valores e prioridades que baseiam a prática política de determinado grupo. Isso se dá porque

30 supõe que os indivíduos têm nesses elementos os parâmetros para interpretar e se posicionar diante de grande parte dos temas, seja ele um problema social ou político. (Young, 2006:160). Deste modo, os partidos políticos atuariam como o principal meio para representar opiniões porque, segundo esta autora:

Os partidos frequentemente elaboram programas que, menos que expressar os interesses de um determinado eleitorado, organizam os temas políticos do dia segundo princípios, valores e prioridades que eles se propõem a representar de forma geral. No entanto, associações menores ou mais especializadas também podem representar opiniões na vida pública e influenciar as políticas públicas. (Young, 2006:161).

Deste modo, a fim de verificar como se expressa a representação de mulheres de um modo mais completo, tão importante quanto investigar as trajetórias pessoais das parlamentares e sua produção legislativa, é o estudo dos espaços que os partidos dão, ou não, para a equidade de gênero, elemento que não foi contemplado pelo presente trabalho. Enquanto valores e princípios serviriam para definir os objetivos de um indivíduo, aos interesses caberiam os meios para alcançar tais objetivos. Assim, Young define “interesse” como “(...) aquilo que afeta ou é importante para os horizontes de vida dos indivíduos ou para as metas das organizações.” (Young, 2006:174). A autora afirma ainda sobre os conflitos de interesses que:

Os interesses frequentemente conflitam não apenas entre agentes, mas também nas ações de um único agente. Ao procurar obter os recursos de que precisam para realizar uma variedade de fins, os agentes tendem a descobrir que alguns desses recursos são relativamente escassos. (Young, 2006:159).

A autora não explicita quais tipos de recursos são responsáveis pelo conflito de interesses tanto entre agentes quanto entre a própria (o) agente, no entanto, sem desconsiderar a preponderância das questões de ordem material, deve-se levar em conta a necessidade da (o) agente estar vinculado a grupos que se constituam como base orientadora e que coopere para que princípios e valores sejam articulados com oportunidades políticas.

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No tocante à relação entre perspectivas e interesses, Miguel argumenta, sobre a tendência de Young em evidenciar a questão das perspectivas sociais de um modo isolado, a despeito dos vínculos destas com os interesses que:

(...) a presença de múltiplas perspectivas sociais no debate público pode, sim, ser vantajosa para ampliar sua qualidade epistêmica, mas não é razoável deixar de lado o fato de que ela, sem postular qualquer derivação mecânica ou determinista, amplia a possibilidade de que os interesses dos grupos dominados se façam representar. (Miguel, 2010:36).

Se Miguel trata a presença de perspectivas sociais como uma possibilidade de ampliar o debate e a representação de interesses de grupos dominados, tendo em vista o caso da perspectiva social das mulheres dentro da Câmara enquanto um grupo com experiências socialmente compartilhadas, Phillips (2001), por sua vez, toma como uma potencialidade. Cabe salientar aqui o aprofundamento daquilo que Young chamou de perspectivas híbridas, algo a ser verificado na trajetória e na produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres das parlamentares.

No entanto, a restrição de Phillips acerca da identidade é interessante no sentido de que determinada identidade pode levar a um bloqueio de alianças necessárias para as mudanças políticas. Segundo Miguel, quando Phillips propõe uma reflexão que considera a “política de presença” em oposição à “política de ideias”, considerando para esta última que “(...) o que interessa não é se mulheres são escolhidas representantes, mas se as reivindicações e interesses femininos são expressos, ainda que por homens, nos locais de deliberação.”. (Miguel, 2010:40). Para Phillips, a política de ideias tem sido ineficaz e mesmo insuficiente, em síntese, “irrelevante para resolver o problema da exclusão” (2001:31). Assim, a dificuldade em definir interesses, os quais estão em construção constante, é considerada por Phillips, segundo quem é necessário “(...) reconciliar ideias, interesses e presença como parte de um único processo.” (Phillips, 2011).

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4-PERFIL E TRAJETÓRIA POLÍTICA DAS DEPUTADAS E DEPUTADOS FEDERAIS BRASILEIROS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)

Após a contextualização e o resgate do debate teórico que norteia as hipóteses dessa dissertação, busca-se a análise dos dados empíricos. Para atender o objetivo central deste trabalho, que é observar a trajetória sócio-política das 47 deputadas federais em exercício na 54ª Legislatura (2011-2014) da Câmara Federal brasileira, tendo em vista as possíveis relações existentes entre capital político e produção legislativa acerca das temáticas sobre gênero e direitos das mulheres, vamos focar em um primeiro momento na seguinte questão: Quais são os padrões de carreira das deputadas federais, no que tange, sobretudo, ao nível de escolaridade, formação, ocupação de cargos públicos e partidários, vínculos associativos e mandatos anteriores? A título de complementaridade, faremos um comparativo entre o padrão de carreira dos deputados e das deputadas.

A fim de realizar uma análise da trajetória das quarenta e cinco deputadas eleitas em 2010, foram levantados aspectos que dizem respeito, sobretudo, à ocupação profissional e escolaridade, capital associativo, carreira pública (cargos públicos) e carreira política (filiação e fidelidade partidária, cargos partidários, ano de ingresso na política, cargos eletivos). Tais dados foram levantados e categorizados pelo Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná (NUSP/UFPR) a partir das informações disponíveis, sobretudo, no site institucional da Câmara Federal. Eles foram categorizados realizados testes chi-quadrado no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) com as variáveis já categorizadas. A categorização dos partidos políticos por ideologia foram localizados conforme proposta de MENEGUELLO, MANO e GORSKI (2012), os quais sistematizaram as legendas no espectro ideológico de acordo com a seguinte literatura: Mainwaring, Meneguello e Power (2000) e Power e Zucco (2009). Desta forma PP, DEM, PSDB, PSC, PR, PMN e PSD estariam localizados à direita e centro-direita e PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, PTdoB, PMDB e PPS à esquerda e centro-esquerda. Já as classificações de carreiras foram baseadas na obra de RODRIGUES (2006), na qual as áreas de formação acadêmica foram subdivididas em cinco grandes grupos: administração e economia; ciências jurídicas e humanas, comunicação, saúde e engenharias. O status ocupacional obedeceu à seguinte classificação:

33 administração/economia; agricultura; agricultura familiar; comunicação; educação; engenharias; empresariado; jurídicas; saúde; técnico; religião; serviço público; trabalhadores (as) e outros. Quanto às principais vias de acesso à política utilizamos o estudo de Simões (2006) sobre as parlamentares pós-Constituinte, em que elas são definidas como: capital familiar, capital oriundo da participação em movimentos sociais, capital oriundo da ocupação de cargos públicos e/ou políticos em função de saber técnico/especializado e capital convertido de outros campos. A meta aqui é testar a primeira hipótese das perspectivas, de acordo com a qual as perspectivas sociais derivariam dos diferentes posicionamentos de cada grupo no campo social, considerando, sobretudo, o valor que cada experiência, trajetória e história, em suas distintas formas, podem ter na produção social de interesses. Assim, para este trabalho, a nossa expectativa é que o tipo de trajetória percorrido pelas mulheres deputadas irá influenciar a sua produção legislativa. Espera-se, por exemplo, que mulheres com experiência em movimentos sociais e de minorias tenderão a elaborar propostas mais inclusivas, no que tange à questão de gênero, do que aquelas que não tiveram tal trajetória, assim como aquelas que possuem formação e trajetória mais voltadas para temas como da família (saúde, educação) se aterão mais a tais temas.

4.1 - Aspectos gerais da 54ª Legislatura

No que diz respeito ao índice de renovação da Câmara Federal brasileira nas eleições após o ano de 1988, segundo CINTRA (2011), o mesmo tem se mantido entre 45 e 62%, um percentual relativamente alto em relação a outros países (Rodrigues, 2006). Quando observados os dados relativos ao percentual de parlamentares que apresentam a 54ª legislatura como a primeira de suas trajetórias políticas, 36,6% são neófitos, 23,4% apresentam duas legislaturas e 15,4% três legislaturas. Parlamentares com sete ou mais legislaturas constituem menos de 3% do total de 513 representantes. Ou seja, embora o índice de renovação seja inferior àquele apresentado por Cintra, o percentual de parlamentares que apresenta apenas uma legislatura é superior àqueles que apresentam duas ou mais, indicando um perfil parlamentar de capital político que tem origem externa à Câmara Federal.

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Em relação ao período em que declaram ter sido a primeira filiação partidária, deputados homens apresentam início uma década antes das parlamentares mulheres, destacando-se para eles o período entre as décadas de 1980 e 1990, e para elas, os anos de 2000-2009, período no qual 25,5% das parlamentares tiveram sua primeira filiação partidária. Aproximadamente metade dos parlamentares homens e 38,2% parlamentares mulheres apresentam uma última filiação partidária entre os anos de 2000 e 2011 (Ver tabelas 1 e 2 em anexo). Nas eleições mais recentes para a Câmara Federal brasileira, em outubro de 2010, os partidos que menos lançaram candidaturas de mulheres, em termos percentuais, foram PCB (4,55%), DEM (10,82%) e PRTB (11,85%). Os partidos que não elegeram nenhuma mulher para a 54ª Legislatura foram PCB, PCO, PHS, PRB, PRP, PRTB, PSDC, PSL, PSOL, PSTU, PTC e PTN e os partidos que menos elegeram mulheres, em termos percentuais, foram DEM (4,65%), PR (4,76%), PTB (4,76%), PSDB (5,56%), PV (6,67%) e PDT (7,14%). Já os partidos que mais lançaram mulheres foram o PCO (33,3%), PCdoB (26,19%), PMN (25,00%), PSTU (23,53%), PTB (23,43%), PSL (22,29%), PSB (21,45%), PT (21,33%) e PV (21,28%). Os partidos que atingiram a faixa de 20%, percentual abaixo daquilo que é colocado pela lei de cotas de gênero, foram o PR, PRB, PSB, PSDB, PSOL, PTdoB e PTN (ver tabela 3). Os partidos que mais elegeram mulheres ao cargo de deputada federal, em termos percentuais, foram o PCdoB (40,00%), PTdoB (33,33%) e PMN (25,00%), confirmando, que a localização partidária no espectro ideológico tem alguma validade, ao menos entre aqueles partidos que lançaram candidaturas.

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Tabela 3: Candidatas e eleitas por partido político

Partido Candidaturas Eleitos (as)

Mulheres Homens Total Mulheres Homens Total

DEM 21 10,82 173 89,18 194 2 4,65 41 95,35 43

PCdoB 33 26,19 93 73,81 126 6 40,00 9 60,00 15

PCB 1 4,55 21 95,45 22 0 0,00 0 0,00 0

PCO 2 33,33 4 66,67 6 0 0,00 0 0,00 0

PDT 44 16,30 226 83,70 270 2 7,14 26 92,86 28

PHS 26 14,69 151 85,31 177 0 0,00 2 100,00 2

PMDB 57 16,06 298 83,94 355 7 8,97 71 91,03 78

PMN 55 25,00 165 75,00 220 1 25,00 3 75,00 4

PP 36 17,31 172 82,69 208 4 9,76 37 90,24 41

PPS 29 19,59 119 80,41 148 0 0,00 12 100,00 12

PR 35 20,35 137 79,65 172 2 4,76 40 95,24 42 100,00 PRB 29 20,42 113 79,58 142 0 0,00 7 7 100,00 PRP 20 17,86 92 82,14 112 0 0,00 2 2 100,00 PRTB 16 11,85 119 88,15 135 0 0,00 2 2

PSB 65 21,45 238 78,55 303 4 11,76 30 88,24 34

PSC 37 17,87 170 82,13 207 2 11,76 15 88,24 17

PSDB 57 20,65 219 79,35 276 3 5,56 51 94,44 54

PSDC 11 16,42 56 83,58 67 0 0,00 0 0,00 0

PSL 35 22,29 122 77,71 157 0 0,00 1 100,00 1

PSOL 60 20,69 230 79,31 290 0 0,00 3 100,00 3

PSTU 8 23,53 26 76,47 34 0 0,00 0 0,00 0

PT 74 21,33 273 78,67 347 9 10,23 79 89,77 88

PTdoB 31 20,81 118 79,19 149 1 33,33 2 66,67 3

PTB 71 23,43 232 76,57 303 1 4,76 20 95,24 21

PTC 46 17,97 210 82,03 256 0 0,00 1 100,00 1 PTN 25 20,83 95 79,17 120 0 0,00 0 0,00 0 PV 83 21,28 307 78,72 390 1 6,67 14 93,33 15 Total: 1007 19,42 4179 80,58 5.186 45 8,77 468 91,23 513

Fonte: Adaptado de CFEMEA – Eleições 2010

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Ao analisarem o recrutamento e os perfis socioeconômicos das candidatas/os e eleitas/os a partir das legendas partidárias nas eleições de 2006 para a Câmara Federal brasileira, BRAGA, VEIGA e MIRIADE (2009:140), considerando que processos de seleção de candidaturas inclusivos são aqueles que garantem espaço para os diferentes grupos sociais, afirmavam no que tange à inclusão de mulheres, que:

O PT é o tipo mais inclusivo dos partidos investigados, abrindo mais espaço para mulheres, pessoas de baixa escolaridade e trabalhadores manuais. Do lado oposto, o PFL como o tipo menos inclusivo, abrindo pouco espaço para a diversidade. (...) O PSDB mostrou-se o mais inclusivo no que se refere ao sexo dos candidatos e o menos inclusivo em relação ao grau de escolaridade.

Embora não seja este o objetivo da pesquisa, apenas para ilustrar ainda mais o que vem sendo apresentado aqui, interessante observar o espaço que as mulheres têm nas executivas nacionais de alguns dos partidos políticos brasileiros que obtiveram destaque no pleito eleitoral de 2010. A partir de informações disponibilizadas nos sites institucionais dos partidos, é possível observar que o PT, por exemplo, tem 27 membras do total de 82 do diretório nacional, isto é, 33%, sendo uma vice-presidente nacional; O PV, 11 de 50 membros (as) do diretório nacional (22%); o PSDB, 5 de 34 membros (as) do diretório nacional (14,7%); o PCdoB: 30 de 103 membros (as) do diretório nacional, sendo uma vice-presidente nacional (29%); o PSC: 2 de 20 membros (as) do diretório nacional (10%). Deste modo, coloca-se como ponto passível de questionamento, em que pesa o fato de mulheres alcançarem prestígio em determinados partidos, a despeito de outros: deve-se mais ao perfil da parlamentar ou da estrutura partidária – mais ou menos inclusiva. Em estudo sobre a composição social das bancadas partidárias e a relação entre os meios sócio ocupacionais de recrutamento e orientações político-ideológicas na 51ª Legislatura (1999-2003) da Câmara Federal brasileira, Rodrigues (2002; 2006) reconhecia a importância da clivagem de gênero como uma das variáveis a ser analisada junto à orientação partidária (Rodrigues, 2002:20). Segundo este autor, os partidos se diferenciariam não apenas em termos ideológicos, mas também pelos segmentos sociais neles representados, como o PSDB, caracterizado por uma composição de intelectuais com renda elevada e de setores empresarias e o PT por uma classe média burocrática, intelectual e de lideranças operárias. Assim, quanto à relação do número de candidatas por partidos políticos, esperávamos encontrar mais inclusão de mulheres em partidos de esquerda e centro-

37 esquerda, diante de uma maior tendência e abertura de tais partidos para com a participação e à visibilização de grupos minoritários, o que é considerado, nos termos de Young, como ideias ou opiniões. Tal expectativa foi construída a partir de estudos como Rodrigues (2002; 2006); HERSSON (1988), Iversen e Rosenbluth (2006). Estes últimos autores ao estudarem casos da América Latina apontavam que

(...) hallan que los partidos de izquierda tienden a preocuparse más por el rol de la mujer en la política, y por una mayor visibilización de éstas en la esfera pública.” (Iversen e Rosenbluth, 2006: 14 apud Pachón, Peña e Wills).

Hersson (1988) observava no caso do parlamento dos Estados Unidos da América um padrão que distinguia democratas de republicanos tanto em termos de segmentos sociais representados como também no número de mulheres que saíam candidatas. Enquanto democratas estavam mais atrelados aos interesses das classes mais baixas, preponderando os temas ligados à educação, entre os republicanos o número de parlamentares ligados ao mundo dos negócios era maior, o que constituiria um compromisso histórico deste partido com a defesa dos interesses das classes mais altas. Tais diferenciações se repetiriam também no número de mulheres que saíram candidatas ao Congresso daquele país, em maior número entre os democratas. Para estudar a trajetória das deputadas serão considerados a sua formação, a sua ocupação/profissão, os cargos públicos eletivos e administrativos ocupados; os cargos dentro de suas organizações partidárias; e experiência em associativismo. Nas próximas páginas o objetivo é apresentar qual é a formação das deputadas (utilizando-nos para isso da exposição das informações referentes também ao total de deputados e do grupo de deputados homens) e verificar se há diferença significativa sobre os diversos aspectos aqui em foco entre os grupos de homens e de mulheres. Para isto, utilizaremos testes de significância (chi-quadrado). O quadro abaixo apresenta a síntese do que veremos a seguir. Não há diferenças significativas entre a trajetória de mulheres e homens deputados na legislação em foco no que tange ao grau de escolaridade e à ocupação de cargos públicos (eletivos e administrativos) e/ou vinculados à organização partidária, no entanto, foi possível verificar diferenças significativas no que tange à ocupação e ao associativismo.

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Quadro 1 – Síntese dos testes de significância Variável em associação Teste de Significância com gênero Escolaridade Sig>0.050 Ocupação Sig 0.000 Cargos Públicos Sig>0.050 Cargos Partidários Sig> 0.050, contudo Sig<0.10 Associativismo Sig 0.020 (sindicatos/organizações trabalhadores rurais) Sig 0.090 (associações de assistência social)

4.2 - Escolaridade

Estudo comparativo sobre o perfil sócio demográfico de parlamentares argentinas e brasileiras demonstrou a incidência de fatores como idade, estado civil, nível educacional e perfil profissional, partidos e movimentos sociais e inserção na carreira política (MARX, BORNER e CAMINOTTI, 2007). Conforme demonstrado por este estudo, boa parte das parlamentares apresentava perfis profissionais com ensino superior, prevalecendo os setores da educação, profissões jurídicas e da saúde. Analisamos, no presente estudo, conforme já mencionado, as áreas de formação acadêmica das/dos 513 parlamentares, subdividindo-as em administração/economia, ciências jurídicas e humanas, comunicação, saúde, engenharias e outras.

Não há qualquer relação entre o grau de escolaridade e o sexo das/os parlamentares brasileiros na atual legislatura, visto que o resultado do teste chi- quadrado foi > 0.05. O percentual geral de parlamentares com ensino superior, ou seja, considerando apenas a graduação, foi de 80,51%, o que já indicava Rodrigues (2002; 2006). Entre as mulheres este percentual é ainda maior, visto que 91,4% das parlamentares possuem nível superior. Verifica-se, contudo, diferenças evidentes quando se trata da área da graduação cursada por mulheres e homens. Grande distinção, em termos percentuais, encontra-se, por exemplo, na área de ciências jurídicas e humanas, isto é, 48,93% da mulheres se graduaram em tais especificidades, e apenas 28,5% dos homens o fizeram (Ver tabelas 4 e 5). Este elemento é apontado pela literatura (Marx, Borner e Caminotti, 2007, Sacchet, 2011; Simões, 2006) e confirmado no caso em análise, e indica, não apenas o

39 impacto dos condicionantes de gênero no que tange à área de formação acadêmica e atuação profissional, conforme será visto a seguir, mas também quando relacionado à expertise e à prática legislativa.

Tabela 4: Áreas de formação acadêmica

Áreas de formação acadêmica Frequência Percentual

Administração, Economia 101 19,9

Ciências Jurídicas e Humanas 177 38,3

Comunicação 10 20,0

Saúde 62 12,0

Engenharias 63 12,5

Total 513 100,00 Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

Tabela 5: Áreas de formação acadêmica por sexo

Áreas de formação Mulheres Percentual Homens Percentual Total Percentual

acadêmica

Administração/Economia 03 6,38 83 17,8 101 19,68

Ciências Jurídicas e Humanas 23 48,93 133 2,85 177 34,50 Comunicação 05 10,63 7 1,50 10 1,94 Saúde 05 10,63 40 8,58 62 12,08

Engenharias 02 4,25 37 7,93 63 12,28

Outros 09 17,02 51 60,08 299 58,28

Total 47 100,00 466 100,00 513 100,00

Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

4.3 - Ocupação

Ao observarmos as áreas de ocupação das/dos 513 parlamentares, conforme tabelas 5 e 6, encontramos uma diferença considerável entre o tipo de ocupação de parlamentares homens e mulheres (teste do chi-quadrado sig = 0.00). Administradora pública, assistente social, auditora fiscal, bancária, do lar, enfermeira foram as

40 ocupações que tiveram destaque entre as mulheres, sendo as áreas de educação e serviço público aquelas que concentram praticamente metade das parlamentares. O percentual de parlamentares que apresentaram ocupação de cargos públicos foi de 54% entre as parlamentares e 44,7% entre os parlamentares (ver tabelas 6 e 7 em anexo).

Sobre a ocupação de cargos públicos por parlamentares nas trajetórias políticas anteriores à entrada ao parlamento, considerando que se trata de um processo de socialização política, Simões (2006) aponta que este poderia ser considerado um indicativo do grau de imersão de determinado indivíduo no espaço político, ou ainda, em termos bourdieusianos, o quanto de capital político foi acumulado pelo (a) parlamentar. Este elemento indica, em grande medida, a proveniência da socialização política e o acúmulo de capital político, considerando ainda que quando presentes entre as parlamentares remetiam, em geral, a cargos em secretarias relacionados ao cuidado e bem-estar social, conforme já apontado por Avelar (2001).

Para Simões, a ocupação de cargos públicos é um importante caminho para ascensão no desempenho da atividade política, na medida em que se configura em:

(...) esferas de treinamento e de aquisição de habitus políticos fundamentais para a atividade parlamentar, mas também conferem (ou renovam) a visibilidade de quem os ocupa, contribuindo para a construção de suas bases eleitorais. (Simões, 2006:137)

A ocupação de cargos públicos reflete papeis de gênero na medida em que haveria um maior recrutamento de mulheres para cargos nos quais o poder de decisão é menor, em geral, relacionados ao cuidado e bem-estar social, educação e cultura (Avelar, 2001:103; Simões, 2006:137). É importante salientar que para esta análise foram considerados apenas dois dos cargos públicos apresentados pelos (as) parlamentares em seus respectivos perfis biográficos institucionais disponíveis no site da Câmara Federal. Para a ocupação de cargos públicos foram utilizadas as categorias propostas pelo Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP), acrescentados os cargos eletivos de vereador (a), prefeito (a), deputado Estadual/Distrital, senador (a) e governador (a). Assim, ao pedirmos o teste de chi-quadrado, encontramos o valor de 0.163 para cargos públicos, sendo possível observar, em termos proporcionais, que as mulheres ocuparam mais cargos como ministras, prefeitas e senadoras do que os homens. Estes, por sua vez, concentram-se em cargos relacionados às secretarias estaduais e cargos de

41 nomeação na burocracia estadual. Importante destacar o fato de algumas destas parlamentares terem ocupado postos como ministras ou secretárias de primeira classe – Iriny Nicolau Corres Lopes PT/ES, por exemplo, Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres e Benedita Souza da Silva Sampaio PT/SP, Ministra de Desenvolvimento Social e Janete Rocha Pietá PT/SP, ex-coordenadora da atual bancada feminina na Câmara Federal.

4.4 - Cargos partidários

Além da trajetória política nas arenas eleitorais e administrativa, buscou-se identificar a experiência das candidatas na esfera organizacional. Em relação à ocupação de cargos partidários, os testes de chi-quadrado indicaram relação para a ocupação de cargos de direção partidária e gênero (sig=0.090), (ver tabela abaixo). As deputadas federais ocupam mais cargos nas executivas e do que nos diretórios partidários, aonde os homens ocupam mais cargos.

Tabela 10: Cargos partidários

Cargos partidários Total Mulheres Homens

Frequência Percentual Frequência Percentual Frequência Percentual

Dirigente nível 59 11.5 3 6.4 56 12.1 nacional (Diretório)

Dirigente nível 122 23.8 9 19.1 113 24.5

estadual (Diretório)

Dirigente nível 50 9.7 1 2.1 49 10.6 municipal capital

(Diretório)

Dirigente nível 75 14.6 3 6.4 72 15.5

municipal interior (Diretório)

Dirigente nacional 55 10.7 5 10.6 50 10.8

(Comissão Executiva)

Dirigente estadual 61 11.9 7 14.9 54 11.6 (Comissão Executiva)

42

Dirigente municipal 19 3.7 1 2.1 18 3.9

capital (Comissão

Executiva)

Dirigente municipal 31 6.0 7 14.9 28 6.0 interior (Comissão

Executiva) Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

No que diz respeito exclusivamente às mulheres, há uma concentração nos cargos de Dirigente partidária nível estadual (Diretório), Dirigente nacional (Comissão Executiva), Dirigente estadual (Comissão Executiva), Dirigente municipal interior (Comissão Executiva) e uma pequena presença nos cargos de Dirigente partidária nível municipal capital (Diretório) e Dirigente municipal capital (Comissão Executiva). Entre os parlamentares homens, destaque para os cargos de Dirigente partidário nível estadual (Diretório), Dirigente partidário nível municipal interior (Diretório) e Dirigente estadual (Comissão Executiva), sendo uma menor presença em termos de Dirigente municipal capital (Comissão Executiva) e Dirigente municipal interior (Comissão Executiva).

4.5 - Associativismo

No que tange aos vínculos associativistas, apesar de mais da metade das parlamentares e dos parlamentares não declararem quaisquer vínculos com associações, isto é, 51,7% (ver tabela 10), é importante destacar que, conforme apontado por MARENCO E SERNA (2004:97):

A mobilização de recursos associativos representa um tipo de capital social que pode ser encontrado nas trajetórias de acesso ao poder político de dirigentes e representantes partidários. Isso pode ser entendido como um mecanismo de estabelecimento de redes sociais e organizações de representação coletiva ligada a interesses e questões sociais. A distribuição e a presença desse tipo de capital mudam conforme os diferentes padrões de carreiras parlamentares.

Associações sindicais, acadêmicas e de profissionais da imprensa, assim como aquelas vinculadas com movimento estudantil são as que mais aparecem como vínculo associativo. Os testes de chi-quadrado indicaram alguma correlação entre as variáveis

43 de gênero e associação à de sindicatos/organizações trabalhadores rurais (Sig = 0.020) e gênero de associações assistencialistas (Sig = 0.090).

Tabela 11: Associações

Tipo de associação Total Mulheres Homens

Frequência Percentual Frequência Percentual Frequência Percentual

Sindicais 25 4.9 36 76.6 25 5.4

Patronais/Empresariais

Produtores (as) rurais 24 4.7 1 2.1 23 5.0

Sindicais/ trabalhadores 61 11.9 9 19.1 52 11.2

(as)

Religiosas 11 2.1 1 2.1 10 2.2

Acadêmicas / 59 11.5 4 8.5 55 11.9

profissionais / imprensa

Movimento estudantil 52 10.1 3 6.4 49 10.6

Sociais /culturais 38 7.4 3 6.4 35 7.5

Novas questões sociais 13 2.5 3 6.4 10 2.2

Assistencialistas 13 2.5 3 6.4 10 2.2

Esportivas 8 1.6 0 0 8 1.7

Sindicatos/organização 10 1.9 0 0 10 2.2 trabalhadores (as)

rurais

Outros (não participou) 265 51.7 23 48.9 241 51.9

Total: 513 100.0 47 100.0 466 100.0 Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

Mulheres atuantes nas esferas políticas institucionais estão mais ligadas a temas e grupos específicos, tais como, educação, saúde, cuidado e bem-estar social, crianças, idosos, portadores de necessidades especiais, etc. (Pinheiro, 2006; Marx et AL, 2006). Neste sentido, é importante destacar ainda afirmação feita por recente estudo de ALMEIDA, LÜCHMANN e RIBEIRO (2012:37), intitulado “Associativismo e representação política feminina no Brasil”:

Ainda que possamos considerar que a participação em organizações assistenciais esteja ligada, de alguma forma, à defesa de interesses daqueles

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grupos, é possível sugerir que nesse caso o perfil de atuação parlamentar das mulheres não tem relação direta com suas bases associativas.

Deste modo é preciso considerar que além de “(...) reconciliar ideias, interesses e presença como parte de um único processo.” (Phillips, 2011), há o fator de resistência do campo político para com a inclusão de grupos e questões tidas como periféricos, tal como apontado por Miguel (2011). No que diz respeito especificamente à participação das parlamentares em associações de mulheres e/ou feministas, Almeida et al (2012) sustentam neste estudo no qual foram consideradas as parlamentares eleitas e suplentes nas três últimas legislaturas, 52ª (2003-2007), 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015), que aquele tipo de vínculo estaria necessariamente apoiado a outro (s) tipo (s) de vínculo (s). Os testes de significância realizados aqui indicaram que as parlamentares mulheres apresentam em seus perfis as associações sindicais (trabalhadores/as), acadêmicas e de profissionais da imprensa em empate com associações de movimento estudantil, sociais /culturais, novas questões sociais e assistencialistas e entre os homens prevalecem as associações sindicais, acadêmicas e de movimento estudantil, constituindo-se em apenas nove (20%) o número de parlamentares mulheres que apresentaram em suas trajetórias políticas algum vínculo associativo com associações de mulheres e/ou feministas. Considerando o que foi acima exposto e, conforme já apontado por Tabak (1989), ainda é pequeno o número de parlamentares eleitas com o apoio de movimentos de mulheres e/ou feministas. Ou seja, embora determinados interesses sejam refletidos na produção legislativa destas parlamentares, isto pode ser considerado um indicativo de vinculação com bases associativas?

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5- A ATUAÇÃO PARLAMENTAR DAS DEPUTADAS FEDERAIS (2011-2013): PARTICIPAÇÃO NAS COMISSÕES PERMANENTES E CARGOS DE PODER, APRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE LEI E PROJETOS DE GÊNERO.

Neste capítulo serão observadas quais das variáveis presentes nas trajetórias políticas podem ter influência na produção legislativa das parlamentares que apresentaram projetos de lei relacionados às temáticas de gênero e/ou direitos das mulheres, entre os meses de fevereiro de 2011 e junho de 2013. Entre as variáveis estão o associativismo, cargos públicos e partidários, existência de mandatos anteriores na Câmara Federal e parentesco com familiares de prestígio político. Apenas foram analisadas as ementas dos projetos de lei ordinária ou complementar apresentados pelas deputadas federais, de forma individual ou coletiva, a fim de observar o impacto dos incentivos institucionais e toda a retórica de gênero na produção legislativa destas mulheres que representariam mais da metade da população brasileira e são menos do que 10% do total de parlamentares da Casa. Seguindo a sugestão de Young (2006), as parlamentares foram subdivididas em grupos de acordo com seu posicionamento ideológico. Para análise do perfil associativo das deputadas federais na 54ª Legislatura, utilizamos a classificação realizada pelo NUSP/UFPR, além de uma categoria que diferenciou apenas se a parlamentar participou de alguma associação de mulheres e/ou associação feminista. Para análise dos projetos de lei foi utilizada uma classificação própria, realizada a partir do conteúdo das ementas disponibilizadas pelo site institucional da Câmara Federal, e que envolveram os seguintes tipos: saúde, trabalho, educação, gênero e política. Em relação à presença das deputadas federais nas comissões permanentes e em cargos de relevância, as informações foram retiradas integralmente do site institucional da Câmara Federal e organizadas em uma tabela que apresenta os percentuais em quadros explicativos com os nomes das parlamentares, diferenciando-as em membras efetivas ou suplentes e se ocuparam algum cargo na comissão. As informações sobre cargos de relevância na estrutura organizacional da Câmara, retiradas dos sites pessoais das parlamentares e da mesma fonte institucional citada acima foram comentadas ao longo do capítulo.

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5.1 – Trajetória política e produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres

Segundo o Regimento Interno da Câmara Federal, o exercício da função legislativa se dá através de projetos de lei ordinária ou complementar, decreto legislativo ou de resolução e propostas de emenda à Constituição. Em 2013, eram em número de 1695 as proposições sobre as mulheres em processo de tramitação, sendo 1408 os Projetos de Lei (PL), de acordo com o site institucional da Câmara Federal. Da produção legislativa total das parlamentares nesta legislatura, isto é, 508 projetos de lei apresentados até julho de 2013, apenas 33 possuem alguma relação com a temática de gênero e direitos das mulheres. Tais projetos estão, em geral, relacionados a alguma outra temática como trabalho, saúde, política, violência, etc. Importante destacar que não se procurou avaliar aqui a situação em que se encontrava o projeto de lei, ou seja, o seu estágio de tramitação, visto que o objetivo central foi observar o conteúdo geral dos mesmos, conforme dispostos em suas respectivas ementas. Optou-se por destacar também a participação das deputadas federais nas Comissões Permanentes, considerando que no que tange à ocupação de cargos públicos, haveria um maior recrutamento de mulheres em cargos de decisão relacionados ao cuidado, educação, cultura, etc, reflexo da trajetória política prévia destas parlamentares (Avelar, 2001:103; Simões, 2006:137). Aspectos que dizem respeito à carreira política (associativismo, existência de mandatos anteriores na Câmara Federal, parentesco com familiares de prestígio político, cargos públicos e partidários) foram relacionados com a apresentação de projetos de lei e de gênero, a fim de tomar um primeiro contato com o grau de relevância que a representação política de mulheres teve ou ainda tem na carreira destas parlamentares. Para tanto foi realizada uma análise de correlação com o teste de chi-quadrado, conforme mostra tabela a seguir. A primeira constatação ao olharmos para a tabela 12 é verificar que as deputadas federais que mais apresentaram projetos de lei de gênero no período analisado foram aquelas que mais apresentaram projetos de lei de maneira geral, o que aponta um perfil possivelmente mais ativo destas parlamentares no legislativo. Quando focamos na apresentação de projetos de lei de gênero, verifica-se significativa, forte e positiva correlação entre com vínculos provenientes do associativismo, conforme mostra tabela 12. Isto é, quanto mais vínculo associativo a deputada teve em sua carreira política, mais ela apresentou projetos de lei de gênero, conforme já indicava a literatura.

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Significativa e positiva também é a correlação entre apresentação de projetos de gênero e ideologia (tomados 0=direita e centro direita e 1=esquerda e centro esquerda). Isto quer dizer que deputadas de centro esquerda e esquerda têm mais chances de apresentar projetos de lei de gênero do que as de direita e centro-direita. Por fim, embora devamos registrar que não se trata de uma correlação significativa, o capital familiar mostrou uma correlação negativa, isto é, quanto maior o capital familiar da parlamentar, menores as chances desta apresentar projetos de gênero.

Tabela 12: Apresentação de Projetos de Gênero – Teste de Correlação Apresentação de Projetos de Apresentação de Projeto de Lei de Lei gênero Apresentação de Projetos de Pearson 1 Pearson .421** Lei Sig .004 Associativismo Pearson .226 Pearson .428** .003 Sig Ideologia Pearson .115 Pearson .392** .008 Sig Capital Familiar Pearson .054 Pearson -.132 ** Correlação é significativa no nível 0.05 Fonte: NUSP/UFPR

Conforme anteriormente apresentado, apenas 9 das 45 parlamentares (20%) apresentaram em suas trajetórias políticas algum vínculo associativo com associações de mulheres e feministas. Das 45 deputadas federais, 22 pertencem ao bloco ideológico de direita e centro-direita e 23 ao bloco ideológico de centro-esquerda e esquerda. Entre as 45 parlamentares, 14 apresentam algum vínculo com pessoas de prestígio político – seja mãe, pai, irmão, marido, tios – isto é, 31,1% do total. Destas, dez pertencem ao grupo ideológico de direita e centro-direita e quatro ao grupo de esquerda e centro-esquerda. Em relação ao capital familiar das deputas federais, foram encontradas correlações com ocupação de cargos no atual mandato (0.34) e vínculos associativos (0.04).

Tabela 13: Ideologia e Capital Familiar

Apresenta Capital Familiar? Percentual Ideologia e Capital Familiar Não Sim Não Sim Total Ideologia Direita e centro-direita 12 10 39 71 22

Esquerda e centro-esquerda 19 4 61 29 23 Total 31 14 100 100 45 Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

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A apresentação de projetos de lei relacionados a gênero apresentou correlação com a existência de outros mandatos eletivos nas trajetórias políticas das parlamentares e associativismo. A apresentação de projetos de lei e a ocupação de cargos na atual legislatura apresentaram índice de correlação de 0.55, o que pode indicar alguma relação entre produção legislativa e expertise adquirida com a ocupação de cargos. A primeira constatação ao olharmos para a tabela 12 é verificar que as deputadas federais que mais apresentaram projetos de lei de gênero no período analisado foram aquelas que mais apresentaram projetos de lei de maneira geral, o que aponta um perfil possivelmente mais ativo destas parlamentares no legislativo. Podemos verificar ainda que não há correlação estatisticamente significativa entre a apresentação de projetos de lei e características da trajetória das deputadas como associativismo, ideologia e capital familiar. Contudo, quando focamos na apresentação de projetos de lei de gênero, verifica- se significativa, forte e positiva correlação entre com vínculos provenientes do associativismo, conforme mostra tabela 12. Isto é, quanto mais vínculo associativo a deputada teve em sua carreira política, mais ela apresentou projetos de lei de gênero, conforme já indicava a literatura. Significativa e positiva também é a correlação entre apresentação de projetos de gênero e ideologia (tomados 0=direita e centro direita e 1=esquerda e centro esquerda). Isto quer dizer que deputadas de centro esquerda e esquerda têm mais chances de apresentar projetos de lei de gênero do que as de direita e centro-direita. Por fim, embora devamos registrar que não se trata de uma correlação significativa, o capital familiar mostrou uma correlação negativa, isto é, quanto maior o capital familiar da parlamentar, menores as chances desta apresentar projetos de gênero. É importante considerarmos também a segmentação dos grupos dentre as mulheres, ou ainda, a partir de quais perspectivas e ideias ou opiniões (Young, 2006) estas parlamentares partem. Conforme mencionado anteriormente, ao trabalhar com a representação de grupos, Young critica a tendência à unificação de identidades, salientando que diferenças de gênero perpassam outras diferenças como classe, religião e etnia, bem como o fato de que os partidos políticos seriam os maiores veículos de ideias e opiniões, expressas por meio dos seus programas. Conforme expresso por Almeida, Lüchmann e Ribeiro (2010), embora as parlamentares estivessem de fato mais ligadas a grupos minoritários específicos, como crianças, idosos e deficientes, não significava que as mesmas apresentassem vínculos

49 associativos com tais grupos, sendo que entre as parlamentares que apresentavam vínculos com organização de mulheres, havia outros tipos de associativismo envolvidos como, por exemplo, o sindical e o religioso.

5.2- A presença de Deputadas nas Comissões Permanentes

A partir de informações recolhidas no site institucional da Câmara Federal, as comissões permanentes que menos possuem mulheres em sua composição, considerando o segundo biênio da legislatura, em termos percentuais, são a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (4%), Comissão de Defesa do Consumidor (5%), Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (3%), Comissão de Finanças e Tributação (0%), Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (0%), Comissão de Minas e Energia (5%) e Comissão de Viação e Transportes (3%). (Ver tabela 13).

Tabela 14: Percentual de Deputadas nas Comissões Permanentes

Comissões Número de Número Percentual Permanentes parlamentares de Deputadas CAPADR 82 2 CCTCI 78 6 8% CCJC 130 5 4% CCULT 36 9 25% CDC 40 2 5% CDEIC 34 1 3% CDU 33 2 6% CDHM 34 9 26% CE 63 10 16% CESPO 39 3 8% CFT 65 0 0% CFFC 38 0 0% CINDRA 39 1 2% CLP 26 4 15% CMADS 30 3 10% CME 64 3 5% CREDN 64 7 11% CSPCCO 40 3 7% CSSF 70 15 2% CTASP 48 7 15% CTUR 35 6 17% CVT 57 2 3% Fonte: Elaboração própria a partir de dados disponíveis no site institucional da Câmara

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Federal.

Já as comissões permanentes que mais possuem mulheres em sua composição, também em termos percentuais, são a Comissão de Cultura (25%), Comissão de Direitos Humanos e Minorias (26%), Comissão de Seguridade Social e Família (21%), Comissão de Educação (16%), Comissão de Legislação Participativa (15%), Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (11%), Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (15%) e Comissão de Turismo (17%).

Considerando que a ocupação de cargos nas comissões permanentes advém de acordos políticos e obedece a critérios de representatividade partidária, elemento fundamental no jogo político e que representa um “controle no processo decisório e na organização dos trabalhos legislativos.”. (Simões: 2006:163), ao destacar as comissões permanentes nas quais as deputadas federais participam como membras efetivas ou suplentes, é notória a maior presença de mulheres nas comissões que envolvem as soft politics, isto é, direitos humanos e minorias, seguridade social e família, cultura e educação.

5.3 - Projetos de lei sobre gênero e direito das mulheres

Em termos numéricos, entre as deputadas federais do bloco ideológico de esquerda e centro esquerda (PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e PT do B) foram apresentados 23 projetos de lei e entre as deputadas federais do bloco de direita e centro direita (PP, DEM, PSDB, PMDB, PPS, PSC, PR, PMN e PSD), 10 projetos de lei. É possível observar, conforme mostra abaixo que os temas priorizados nos projetos de lei apresentados pelas deputadas federais do bloco ideológico de esquerda e centro esquerda foram gênero e trabalho e gênero e saúde e entre as deputadas federais do bloco ideológico de direita e centro direita, os projetos de lei que versam sobre questões de reforma política e violência doméstica contra as mulheres. Tais prioridades correspondem àquilo que Young chamou de opiniões e ideias.

Tabela 15: Projetos de Lei relacionados às temáticas de gênero

BLOCO CENTRO-ESQUERDA BLOCO CENTRO- E ESQUERDA DIREITA E DIREITA

PL Tema Resumo PL Tema Resumo Gênero Gênero PL- Trabalho Trabalho, fator PL- Violência Violência

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5580/2013 previdenciário, 5097/2013 Doméstica doméstica, Lei professores/as. Maria da Penha, aumenta pena e torna ação pública incondicionada. PL- Reforma Reforma política, PL- Violência Violência 2436/2011 Política distribuição paritária 4501/2012 Doméstica doméstica, Lei para preenchimento Maria da Penha, de cargos de direção repressão à e de deliberação violência. partidária. PL- Identidade de União estável PL- Reforma Reforma política, 5120/2013 Gênero homoafetiva. 3352/2012 Política fundo partidário, promoção da participação feminina PL- Identidade de Identidade de gênero PL- Direitos Contenção de 5002/2013 Gênero 2744/2011 Humanos presas grávidas.

PL- Identidade de Identidade de gênero PL- Patrimônio Regularização 4241/2012 Gênero 5515/2013 fundiária, Programa Minha Casa, Minha Vida. PL- Trabalho Aumento de 30% do PL- Violência Programas de apoio 3408/2012 percentual de 797/2011 Doméstica social e financeiro policiais mulheres às grávidas vítimas no Distrito Federal. de estupro. PL- Trabalho Trabalho, serviço PL- Reforma Eleições 5246/2013 público, equidade de 5384/2013 Política proporcionais, gênero no serviço preenchimento de público. vagas por mulheres. PL- Trabalho Trabalho, jornadas PL- Reforma Recursos do fundo 5465/2013 de trabalho 4580/2012 Política partidário, exaustivas. campanhas. PL- Saúde Saúde, parto, PL- Patrimônio Lei de registros 5304/2013 permite 5258/2013 públicos, averbação acompanhante e de patrimônio. doula. PL- Identidade de Adoção de crianças PL- Violência Violência 2153/2011 Gênero e adolescentes por 3888/2012 Doméstica doméstica, Lei casais Maria da Penha. homossexuais. PL- Identidade de Cônjuge, comunhão PL- Homenagem Homenagem. 1878/2011 Gênero de bens. 3684/2012 PL- Data Esporte, data PL- Patrimônio Aquisição de terras 3192/2012 comemorativa comemorativa, 1823/2011 públicas, mulheres institui 2013 como o chefes de família. ano do esporte feminino. PL- Data Esporte, data PL- União Conversão da união 2343/2011 comemorativa comemorativa, 1608/2011 estável estável em institui 2013 como o casamento. ano do esporte feminino.

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PL- Trabalho Trabalho, PL- Violência Violência 371/2011 desigualdade 3396/2012 Doméstica doméstica, Lei salarial, prevê Maria da Penha, punição e atendimento aos/às mecanismos de filhxs das vítimas. fiscalização. PL- Saúde Saúde, imunização 449/2011 de mulheres e adolescentes contra HPV. PL- Reforma Reforma Política, 448/2011 Política financiamento público de campanha. PL- Violência Violência doméstica, 5822/2013 Doméstica internet, violação de intimidade. PL- Saúde Trabalho, licença- 5376/2013 maternidade, empregada doméstica com deficiência. Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados no site institucional da Câmara dos Deputados (http://www2.camara.leg.br/).

A seguir nos deteremos nas ementas destes projetos de lei entre aquelas primeiras deputadas. No que tange aos projetos de lei que envolvem gênero e trabalho, o PL5246/2013, apresentado pela deputada federal Iriny Lopes (PT/ES), licenciada entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012 para ocupar o cargo de ministra na Secretaria de Políticas para as Mulheres, visa à equidade de gênero no serviço público. O PL 371/2011 apresentado pela deputada federal Manuela D‟Ávila (PCdoB/RS), por sua vez, prevê a punição e mecanismos de fiscalização acerca das desigualdades salariais entre homens e mulheres.

Sobre a saúde da mulher, o PL 5304/2013, apresentado pelo deputado Vanderlei Siraque (PT/SP) e pela deputada Janete Pietá (PT/SP), dispõe sobre a garantia de que acompanhante e doula permaneçam durante o trabalho de parto na rede pública do Sistema Único de Saúde. Já o PL 449/2011, apresentado pela deputada Perpétua de Almeida (PCdoB/AC), sobre a imunização contra o HPV (papilomavírus humano) na rede pública do Sistema Único de Saúde de todos os municípios brasileiros; O PL 5376/2013 apresentado pela deputada Rosinha da Adefal (PTdoB/AL) versa sobre a licença maternidade para empregadas domésticas com deficiência, constituindo um interessante exemplo de projeto de lei que articula diferenças as quais perpassam aquilo

53 que Young chamou de perspectivas, visto que esta deputada, acometida aos dois anos de idade pela poliomielite, ocupou em sua trajetória prévia à Câmara cargos diretivos na Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal) e dedica sua atuação parlamentar à representação deste grupo específico, conseguindo articular neste projeto de lei o grupos minoritário de mulheres deficiência física, isto é, uma perspectiva híbrida. Destacam-se ainda aqueles projetos de lei que dialogam com as questões de gênero, por exemplo, o PL 5120/2013 e o PL 5002/2013, este sobre o direito à identidade de gênero e aquele sobre a união estável homoafetiva, apresentados pela deputada federal Erika Kokay (PT/DF) e pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ), assim como o PL 4241/2012, apresentado individualmente pela deputada federal Erika Kokay, e que também dispõe sobre o direito à identidade de gênero. No que tange às temáticas de gênero e política, o projeto de lei apresentado pela deputada federal (PT/RJ), PL 2436/2011, prevê a distribuição paritária entre os sexos para o preenchimento de cargos nos órgãos de direção e deliberação partidários e o PL 448/2011, apresentado pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC), sobre financiamento público de campanha. Já entre as deputadas federais do bloco ideológico de direita e centro direita se destacam os projetos de lei que versam sobre questões de reforma política e violência doméstica contra as mulheres. Sobre as questões de reforma política, foram apresentados três projetos que envolvem gênero: o PL 3352/2012, da deputada Fátima Pelaes (PMDB/AP), sobre o uso do fundo partidário para a promoção de campanhas de mulheres; o PL 5384/2013, da deputada Dorinha Seabra (DEM/TO), acerca das eleições proporcionais e o preenchimento de vagas por mulheres; e o PL 4580/2012, da deputada Rose de Freitas (primeira mulher a ocupar o cargo diretivo da Câmara Federal como 1ª Vice Presidente da Mesa Diretora no período de 1/2/2011 - 4/2/2013) o qual fixa o percentual de 2,5% dos recursos do fundo partidário para o financiamento de campanhas partidárias de candidatas mulheres. Foram apresentados quatro projetos de lei sobre violência doméstica: PL 3888/2012, deputada Rose de Freitas (PMDB/ES), dispondo sobre a criação de juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher; o PL 3396/2012, apresentado pela deputada Sueli Vidigal (PDT/ES), o qual visa substituir o termo “menor” por crianças e adolescentes e estabelecer a criação de centros de atendimento em tempo integral para as crianças e adolescentes filhas/os de vítimas de violência doméstica; O PL 5097/2013,

54 apresentado pela deputada Aline Lemos (PP/SP), prevendo o aumento da pena para a violência doméstica praticada contra a mulher, tornando-a ação pública incondicionada, ou seja, ação que não depende nem se subordina a nenhuma condição como, por exemplo, a manifestação da vontade por parte da vítima; E o PL 4501/2012, também apresentado pela deputada Aline Lemos, o qual prevê a repressão à violência contra a mulher, alterando dispositivos da Lei 11 340/06 (Lei Maria da Penha). Por fim, em relação à saúde e os direitos humanos da mulher, o PL 2744/2011, proposto pela deputada federal Fátima Pelaes (PMDB/AP), visa impedir a contenção de presas durante o trabalho de parto e logo após o nascimento da criança.

Como foi possível observar, não podemos afirmar que o perfil ideológico de uma parlamentar implica na apresentação ou não de projetos de gênero, mas que há uma maior tendência das parlamentares de esquerda e centro-esquerda apresentarem vínculos associativistas com movimentos feministas e de mulheres. O que a análise das ementas permitem considerar é que, tomadas em blocos ideológicos, as áreas temáticas priorizadas se diferenciam em saúde, gênero e trabalho (esquerda e centro-esquerda) e reforma política e violência doméstica (direita e centro-direita).

5.4 - Trajetórias e apresentação de projetos de gênero

As perspectivas sociais, segundo Young, derivariam dos diferentes posicionamentos no campo social, considerando, portanto, a relevância que cada experiência, trajetória e história, em suas distintas formas, podem ter para a prática democrática. Para esta autora, “(...) cada pessoa tem sua própria história irredutível, o que lhe confere uma perspectiva ou uma percepção social única.”. (Young, 2006:165). Embora esta pesquisa tenha sido limitada ao caráter quantitativo da representação, é importante registrar a relevância em se observar a percepção que estas parlamentares têm sobre a representação política de mulheres em suas trajetórias políticas e atuações legislativas, assim como as barreiras institucionais dentro dos partidos e da Câmara. Tendo em vista a noção de perspectiva, a seguir nos deteremos um pouco sobre alguns detalhes das trajetórias políticas das deputadas federais que mais apresentaram projetos de lei sobre gênero e direitos das mulheres em termos percentuais ao número de projetos de lei apresentados ao longo desta legislatura (Ver tabela abaixo). As informações foram recolhidas do site institucional da Câmara Federal, dos sites pessoais das parlamentares e do portal Transparência Brasil.

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Tabela 16: Deputadas federais e percentuais de projetos de gênero

Deputada Federal Partido UF Projetos de Lei Projetos de Gênero Percentual Projetos de Gênero Alice Portugal PCdoB BA 7 1 14% Aline Lemos PP SP 16 2 12,50% Andréia Zito PSDB RJ 30 0 0 Antonia Lucia PSC AC 3 0 0 Benedita PT RJ 12 1 8% Bruna Furlan PSDB SP 18 0 0 Carmen Zanotto PPS SC 0 0 0 Cida Borguetti PROS PR 25 4 16% Dalva Figueiredo PT AP 0 0 0 Elcione Barbalho PMDB PA 29 4 14% Erika Kokay PT DF 38 4 10,50% Fátima Bezerra PT RN 10 0 0 Fátima Pelaes PMDB AP 9 2 22% Flávia Moraes PDT GO 0 0 0 Goaciara Cruz PR TO 0 0 0 Gorete Pereira PR CE 15 9 0 Iara Bernardi PT SP 1 0 0 Iracema Portella PP PI 16 1 6% Iriny Lopes PT ES 5 1 10% Jandira Feghali PCdoB RJ 13 1 8% Janete Capiberibe PSB AP 6 1 17% Janete Pietá PT SP 12 4 33% Jaqueline Roriz PMN DF 2 0 0 Jô Moraes PCdoB MG 6 0 0 Keiko Ota PSDB SP 14 0 0 Lauriete PSC ES 18 1 6% Liliam Sá PSD RJ 17 0 0 Luci Choinacki PT SC 29 2 7% Luciana Santos PCdoB PE 6 0 0 Luiza Erundina PSB SP 9 0 0 Manuela D'Ávila PCdoB RS 10 1 10% Magda Mofatto PTB GO 0 0 0 Margarida Salomão PT MG 0 0 0 Marina Santanna PT GO 7 0 0 Marinha Raupp PMDB RO 3 0 0 Nice Lobão PSD MA 0 0 0 Nilda Godim PMDB PB 34 0 0 Nilmar Ruiz PEN TO 1 0 0 Perpétua Almeida PCdoB AC 6 2 33% Professora Dorinha DEM TO 19 1 5% Rosane Ferreira PV PR 14 1 7% Rose de Freitas PMDB ES 6 1 17% Rosinha da Adefal PTdoB AL 15 1 7% Sandra Rosado PSB RN 49 5 10% Sueli Vidigal PDT ES 19 1 5% Total 549 51 9% Fonte: Elaboração própria a partir do site institucional da Câmara Federal.

A deputada federal Janete Pietá (PT/SP) apresentou doze projetos de lei no período analisado, sendo quatro (33%) relacionados aos critérios de pesquisa. Filiada ao

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PT desde 1981 e vice-líder do partido na Câmara Federal, a deputada foi coordenadora da Bancada Feminina no primeiro biênio da atual legislatura. Segundo informações disponíveis no site da Câmara Federal, esta deputada apresenta em sua trajetória prévia a ocupação de alguns cargos públicos como, por exemplo, o de coordenadora da Ação Social (Prefeitura Municipal, Fundo Social Solidariedade, Guarulhos, SP, 2001-2006), Secretária Adjunta de Saúde (Prefeitura Municipal, Secretaria de Saúde, Guarulhos, SP, 2005-2006). Com relação ao capital familiar, Pietá é casada com Elói Pieta (PT), político de Guarulhos (SP). Ou seja, trata-se de uma parlamentar que possui uma trajetória política que conflui a filiação política a um partido que historicamente apresenta compromisso com as ideias ou opiniões, princípios, de equidade de gênero, associativismo e a ocupação de cargos na carreira pública com a produção legislativa sobre representação política de mulheres e gênero.

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB/AC) apresentou seis projetos de lei, sendo dois de gênero e direitos das mulheres, isto é, 33% de sua produção legislativa. Filiada ao PCdoB desde o ano de 1987, esta deputada apresenta atividade sindical ligada ao setor bancário, tendo sido diretora e presidente (Sindicato dos Bancários do Acre, Rio Branco, AC, 1992-1998 e 1996-1998). Segundo informações do portal Transparência Brasil, Perpétua Almeida é casada com o Edvaldo Magalhães, deputado estadual acreano. Embora não apresente em sua trajetória associação com movimentos de mulheres e/ou feministas, assim como a parlamentar anterior, ser filiada a um partido político que possui compromisso com a equidade de gênero demonstra a importância dos partidos políticos como principais veículos para a representação de ideias ou opiniões.

A deputada federal Fátima Pelaes (PMDB/AP), quinto mandato na Câmara Federal, foi filiada ao PFL (1986-1995), PSDB (1995-2005) e PMDB desde 2005. Em 2011, a deputada foi eleita presidente do PMDB Mulher. Em sua trajetória de cargos públicos, segundo informações do site da Câmara, foi secretária de Trabalho e Cidadania do Amapá (SETRACI, AP, 1983-1985) e secretária de Turismo do Estado do Amapá (2004-2006). De acordo com o site pessoal da deputada, seus mandatos foram marcados por projetos sociais e pelo desenvolvimento do Amapá. Entre os projetos sociais relacionados aos direitos das mulheres, destaca-se a Lei Federal 11.942/09 que visa assegurar assistência às mães presidiárias e seus filhos e a Lei 10.421/02 sobre a garantia de licença maternidade para as mães adotivas. No período analisado, Fátima

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Pelaes apresentou nove projetos de lei, sendo dois relacionados a gênero e direitos das mulheres, isto é, 22%, ou seja, uma trajetória política marcada pela ocupação de cargos partidários relacionados à representação de mulheres.

A deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP) está em seu terceiro mandato na Câmara Federal. Filiada ao PCB (1965), PMDB (1980-1987) e PSB (1987-), apresenta em sua trajetória política uma estreita ligação ao movimento estudantil, tendo sido presa e exilada durante a ditadura militar. Em 2006, Janete Capiberibe já deputada federal, e seu esposo, João Alberto Capiberibe, então senador, foram acusados de comprar dois votos e tiveram seus mandatos cassados, segundo informações disponíveis em seu site pessoal. Janete Capiberibe foi reeleita em 2010 como deputada federal, no entanto, impedida pelo Tribunal Superior Eleitoral, apenas tomou posse de seu mandato em julho de 2011. Também segundo informações disponíveis em seu site pessoal, a deputada Janete Capiberibe tem entre suas áreas prioritárias a saúde materna e a educação infantil, com propostas, por exemplo, que envolvem o reconhecimento e a inclusão da profissão de parteira tradicional no Sistema Único de Saúde. A parlamentar é autora da Lei 11.970/2009, lei esta que diz respeito à prevenção de acidentes com escalpelamentos na Amazônia através da instalação de proteção no eixo e volante das embarcações. Dos seis projetos apresentados pela parlamentar, um (6%) diz respeito a gênero/direitos das mulheres.

A deputada federal Rose de Freitas (PMDB/ES) está em seu sexto mandato na Câmara Federal. Em 2011 tornou-se a primeira mulher a ocupar o posto de 1ª vice- presidente na mesa diretora da Câmara Federal. Participou da Constituinte, foi a primeira mulher a presidir uma comissão mista no Congresso Nacional (1987) e representou o Brasil na ONU como relatora dos direitos femininos (1987). Foi filiada aos seguintes partidos políticos MDB (1976-1979), PMDB (1980-1988), PSDB (1988- 2003) e PMDB (2003-) e apresenta em sua trajetória política os seguintes cargos públicos: assessora da presidência da república, o de diretora administrativa financeira (EMBRATUR) e de diretora administrativa financeira(CODES). Dos seis projetos de lei apresentados pela deputada, um (16%) corresponde aos critérios da pesquisa. Esta parlamentar, apesar de não ter apresentado grande número de projetos no período analisado, demonstra perfeitamente o peso da trajetória política de ideias e princípios revertidos em capital político e representação de mulheres, visto que ocupou importantes cargos diretivos na Casa.

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A deputada federal Cida Borguetti (PROS/PR) é neófita na Câmara Federal. Foi filiada ao PFL, PP (1997-2013) e PROS (2013-). Atualmente Cida Borguetti é presidente do PROS no estado do Paraná. Segundo informações disponíveis no site institucional da Câmara Federal, teve como atuação partidária os cargos de presidente do Movimento PP Mulher no Paraná e de vice-presidente do Movimento PP Mulher Nacional. A parlamentar é casada com Ricardo Barros (ex-prefeito de Maringá e ex- deputado federal pelo estado do Paraná), empresária e membra da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais no estado do Paraná. Em relação a outros cargos eletivos, Cida Borguetti foi eleita deputada estadual pelo Paraná por duas vezes, destacando em sua atuação o projeto de lei que instituiu o Dia Estadual de Luta contra o Câncer de Mama, assim como sua participação na Comissão dos Direitos da Mulher, da Criança e do Adolescente. Dos vinte e cinco projetos de lei apresentados pela parlamentar ao longo do primeiro biênio desta legislatura, quatro (16%) dizem respeito a gênero e direitos das mulheres. Ao apresentar projetos de lei relacionados à temática de gênero e representação de mulheres, o exemplo desta parlamentar que apesar de neófita na Câmara Federal, ilustra a força da trajetória política através da ocupação de cargos partidários, assim como a presença de ideias e princípios.

A deputada federal Elcione Barbalho (PMDB/PA), filiada ao PMDB desde 1981, está em seu quarto mandato na Câmara Federal. Na atual legislatura a deputada federal integra a Procuradoria da Mulher como procuradora (2011-) e dos vinte e nove projetos de lei apresentados pela deputada no primeiro biênio da atual legislatura, quatro (14%) correspondem aos critérios de pesquisa. A parlamentar é casada com Jader Barbalho e foi ex- primeira dama do Pará por duas vezes.

A deputada federal Alice Portugal (PCdoB/BA) está em seu terceiro mandato na Câmara Federal. Com trajetória política ligada ao movimento estudantil, é filiada ao PCdoB desde 1979 e, segundo informações disponíveis em seu site pessoal, a atuação da parlamentar prioriza os seguintes temas: educação, saúde, serviço público, direitos dos trabalhados e das mulheres. A parlamentar foi coordenadora da Bancada Feminina na Câmara Federal (2009), momento no qual se discutia o percentual da participação de mulheres nos partidos políticos. Dos sete projetos de lei apresentados pela deputada no período analisado da atual legislatura, apenas um (14%) diz respeito a gênero e/ou direito das mulheres.

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A deputada federal Aline Côrrea (PP/SP) está em seu segundo mandato na Câmara Federal e é filiada ao PP desde 2003. Segundo informações disponíveis no site institucional da Câmara Federal, a deputada federal apresenta atividade partidária ligada ao Movimento Mulher Progressista (como secretária e presidente) e a associativismo através da participação como voluntária da Associação Feminina Cristã. Seu capital familiar advém do pai, Pedro Côrrea, cassado no escândalo do mensalão. Dos dezesseis projetos de lei apresentados pela parlamentar, dois (12,5%) correspondem a gênero e direitos das mulheres.

A deputada federal Erika Kokay (PT/DF) é filiada ao PT desde 1989 e está em seu primeiro mandato na Câmara Federal. Possui uma trajetória política construída no seio da carreira sindical - foi presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília (1992- 1998) e da Central Única dos Trabalhadores (DF, 2000-2002) - e atuação política ligada aos direitos humanos. Dos trinta e oito projetos apresentados pela parlamentar, quatro (10,5%) correspondem aos critérios da pesquisa.

A deputada federal Iriny Lopes (PT/ES) é filiada ao PT desde 1983 e está em seu terceiro mandato na Câmara Federal. Apresenta em sua trajetória política associativismo ligado aos direitos humanos. Iriny foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Direitos Humanos e de Minorias da Câmara Federal. Entre 2007-2011 e 2011-2015 esta deputada esteve licenciada do cargo, pois passou a ocupar a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) como Ministra. Dos cinco projetos apresentados pela parlamentar, um (10%) corresponde a gênero e direitos das mulheres.

A deputada federal Benedita da Silva (PT/RJ) é filiada ao PT desde 1980 e está em seu terceiro mandato na Câmara Federal. Apresenta em sua trajetória política forte militância na Associação de Favelas do e em associações de mulheres (integrou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, sendo líder comunitária deste conselho em 1984). Em relação aos cargos eletivos, Benedita foi eleita em 1982 como a primeira mulher negra na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, repetindo este marco em 1994 para o Senado Federal, além de ter sido vice-governadora do RJ (1998- 2002). Foi indicada para o cargo de ministra da Assistência Social durante o governo Lula (2003-2007) e em 2007 assumiu a secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (Rio de Janeiro). Dos doze projetos de lei apresentados pela deputada no período analisado, um (8%) corresponde aos critérios da pesquisa.

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A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) está em seu quinto mandato na Câmara Federal, é filiada ao PCdoB desde 1981 e atualmente é líder da bancada deste partido na Câmara. Apresenta em sua trajetória política relação com movimentos de mulheres e associações ligadas à área da medicina. Segundo informações do site institucional da Câmara Federal, dentre outros cargos, a deputada foi fundadora da União Brasileira de Mulheres (Rio de Janeiro), presidente da Associação de Médicos Residentes do Rio de Janeiro (1981-1982) e presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes (Rio de Janeiro, 1983-1984). Segundo informações disponíveis no site pessoal da parlamentar, Jandira Feghali coordenou a Bancada Feminina no Congresso nacional entre os anos de 1998 e 2004 e em 2005 foi relatora do projeto que se tornou a lei Maria da Penha, lei esta que criou mecanismos para coibir a violência doméstica contra as mulheres. Dos treze projetos de lei apresentados pela parlamentar no período analisado, um (8%) corresponde aos critérios de pesquisa.

A deputada federal Sandra Rosado (PSB/RN) está em seu terceiro mandato na Câmara Federal. Foi filiada ao PMDB (1985-2005) e ao PSB (2005-) e segundo informações disponibilizadas no site institucional da Câmara Federal, apresenta em sua trajetória política os cargos eletivos de vice-prefeita (1993-1996) e de prefeita (1996) de Mossoró/RN pelo PMDB e de deputada Estadual pelo Rio Grande do Norte (PMDB, 1999 -2003). Na atual legislatura a parlamentar ocupou o cargo de procuradora adjunta na Procuradoria da Mulher (15/3/2011 - 3/7/2013). Dos 49 projetos de lei apresentados no período analisado, cinco (10%) dizem respeito a gênero e/ou direitos das mulheres. Segundo informações do site Transparência Brasil, Sandra Rosado é casada com o ex- deputado e atual vereador de Mossoró (RN) Laíre Rosado (PSB-RN).

A deputada federal Rosinha da Adefal (PTdoB/AL) é uma parlamentar neófita na Câmara Federal. Filiada ao PTdoB desde 2007, apresenta em sua trajetória os cargos de vice-presidente (2006-2007) e presidente da Associação dos Deficientes Físicos em Alagoas (2007-2009), segundo informações disponibilizadas no site institucional da Câmara Federal. Na atual legislatura a parlamentar integra a Procuradoria da Mulher como Procuradora Adjunta (15/03/2011 -). Segundo o site Excelências, Rosinha da Adefal é evangélica. Dos 15 projetos de lei apresentados no período analisado, um (7%) corresponde aos critérios de pesquisa. Conforme anteriormente mencionado, esta parlamentar exemplifica um interessante caso de perspectiva híbrida, visto que

61 consegue articular em projeto de lei interesses de grupos minoritários, isto é, de mulheres deficiência física.

A deputada federal Rosane Ferreira (PV/PR) é uma parlamentar neófita na Câmara Federal. Filiada ao PV desde 1999, foi deputada estadual no Paraná presidindo a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e da Criança (2003-2007). Em 2010 foi eleita para a Câmara Federal como a primeira deputada mulher do Partido Verde no Paraná, segundo informações disponíveis em seu site pessoal. Atualmente Rosane Ferreira é Presidente do Partido Verde do Paraná. Apresenta em sua trajetória os cargos de diretora do Departamento Municipal de Assistência a Saúde e do Departamento Municipal de Saneamento e Vigilância Sanitária (Araucária, PR), presidente do Conselho Municipal de Saúde de Araucária (2005-2006), de acordo com informações do site institucional da Câmara Federal. Dos 14 projetos de lei apresentados no período analisado, um (7%) corresponde aos critérios de pesquisa.

A deputada federal Luci Choinacki (PT/SC) está em seu quarto mandato na Câmara Federal e é filiada ao PT desde 1982. Foi eleita em 1987 como a primeira mulher deputada estadual pelo PT. Apresenta em sua trajetória política atividade sindical ligada a movimentos de mulheres: foi Coordenadora do Movimento Estadual de Mulheres, (SC, 1984-1987) e membra da Coordenação Estadual, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Urbanas, Florianópolis, (SC, 2007), segundo informações disponibilizadas no site institucional da Câmara e em seu site pessoal. Dos 29 projetos de lei apresentados no período analisado, dois (7%) dizem respeito a gênero e direitos das mulheres.

A deputada federal Iracema Portella (PP/PI) é uma parlamentar neófita na Câmara Federal. Vice-Líder do PP na Câmara Federal (5/3/2013), empresária e de forte capital familiar – a deputada é casada com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e filha dos políticos Myriam Portella (ex-deputada, PSDB) e Lucídio Portella (ex-senador e ex- governador do Piauí, PP). Apresentou um projeto (6%) que corresponde aos critérios de pesquisa, o PL-5515/2013, o qual segundo ementa, "Autoriza o financiamento pelo Programa Minha Casa, Minha vida para compra, por um dos cônjuges ou companheiro, da parte do outro cônjuge ou companheiro em caso de dissolução conjugal.".

A deputada federal Lauriete (PSC/ES) é uma parlamentar neófita na Câmara Federal. Filiada ao PSC desde 2004, possui capital advindo de carreira artística -

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Lauriete é cantora gospel, evangélica e empresária no ramo fonográfico. Segundo informações do site Transparência Brasil, a deputada foi casada com o ex-deputado Reginaldo Almeida (PSC) e atualmente é casada com o senador Magno Malta (PR). Dos dezoito projetos de lei apresentados no biênio 2011-2012, apenas um (6%) corresponde aos critérios da pesquisa.

A deputada federal Professora Dorinha (DEM/TO) é uma parlamentar neófita na Câmara Federal. Filiada ao DEM desde 1995, foi Vice-líder do partido na Câmara nos períodos 25/10/2011-1/2/2013 e 5/2/2013-, segundo informações disponíveis no site institucional da Câmara. De acordo com dados do site Transparência Brasil, Dorinha Seabra Rezende é casada com o ex-vereador Fernando Rezende (DEM-TO), integra a bancada ruralista e apresenta como cargo relevante o de secretária estadual de Educação e Cultura (2000-2009). Dos dezenove projetos de lei apresentados no biênio 2011-2012, apenas um (5%) corresponde a gênero e direitos das mulheres.

A deputada federal Sueli Vidigal (PDT/ES) está em seu segundo mandato na Câmara Federal. Filiada ao PDT desde 1988, foi deputada estadual (2003-2007) e tem em sua trajetória a ocupação do cargo de secretária de Promoção Social da Serra, ES (1997-2003). Segundo o site Transparências, Sueli Vidigal é casada com Sérgio Vidigal, ex-prefeito de Serra (ES) pelo mesmo partido e é evangélica. Dos dezenove projetos de lei apresentados no biênio 2011-2012, apenas um (5%) diz respeito a gênero e direitos das mulheres.

É possível considerar que, embora hipótese preliminar sugerisse que produções legislativas relacionadas às questões de gênero e direitos das mulheres seriam advindas de parlamentares localizadas mais à esquerda e centro-esquerda e com vínculos associativos com associações feministas e/ou de mulheres, diferenças ideológicas e associativas não implicam necessariamente na ausência de produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres. Mas sim uma diferença nas temáticas de acordo com os blocos ideológicos das parlamentares. Se entre aquelas pertencentes ao bloco ideológico de esquerda e centro-esquerda prevaleceram temas relacionados a gênero, trabalho, e saúde, entre as parlamentares pertencentes ao bloco ideológico de direita e centro-direita, destacaram-se as temáticas sobre questões sobre gênero, reforma política e violência doméstica.

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Tendo em vista as principais vias de acesso utilizadas por Simões (2006): capital familiar, capital oriundo da participação em movimentos sociais, capital oriundo da ocupação de cargos públicos e/ou políticos em função de saber técnico/especializado e capital convertido de outros campos é possível constatar que, embora apenas 20% das parlamentares tenham apresentado em suas trajetórias políticas algum vínculo associativo com associações de mulheres e/ou feministas, aquelas que mais apresentaram projetos de gênero e direitos das mulheres, em termos percentuais, além da presença deste tipo de associativismo, possuíam capital político acumulado ao longo de suas carreiras, oriundo, sobretudo, da fidelidade partidária e da ocupação de cargos públicos e partidário.

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6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebendo a política enquanto um lócus dinâmico no qual o pragmatismo e a racionalidade exigem que a representação política não esteja restrita a um grupo específico, o objetivo central deste trabalho foi observar a trajetória sócio-política das deputadas federais em exercício na 54ª Legislatura (2011-2014) da Câmara Federal brasileira, tendo em vista as possíveis relações existentes entre capital político e produção legislativa acerca das temáticas sobre gênero e direitos das mulheres.

Como o objetivo central da pesquisa foi verificar a relação da trajetória política das parlamentares e a produção legislativa sobre gênero e direito das mulheres, optou- se, em um primeiro momento, por uma breve revisão daquilo que tem se constituído como as chamadas “questões femininas” no Congresso Nacional. Considerando que vivenciamos um processo de institucionalização do discurso de gênero que é global (Canavate, 2007), é importante destacar, no contexto brasileiro, a relevância que as discussões e ações afirmativas que envolvem a violência doméstica contra as mulheres e a reforma política, por exemplo, tem tomado não apenas nas esferas institucionais, mas da mídia e entre a população.

Assim, ainda não estejamos colhendo os frutos da chamada lei de cotas de gênero que se estende desde 1994 e que teve como marco a “minirreforma política” realizada em 2009, a qual passou a exigir, por exemplo, o preenchimento das vagas - e não apenas a reserva – do mínimo de 30% para cada um dos gêneros, é possível verificar a existência, embora pequena, de produção legislativa sobre gênero e direitos das mulheres entre as 45 deputadas federais brasileiras na 54ª Legislatura. Do total de 508 projetos de lei apresentados pelas parlamentares até julho de 2013, apenas 33 possuíam alguma relação com os temas em análise. Tais projetos estavam, em geral, relacionados a alguma outra temática como trabalho, saúde, política, violência, etc. O fato de que, conforme consta no site institucional da Câmara Federal, em 2013, totalizavam em 1408 os projetos de lei sobre as mulheres em processo de tramitação, demonstra a necessidade de que a representação política de mulheres seja estendida também à produção legislativa dos parlamentares homens.

Um dos questionamentos mais gerais desta pesquisa foi sobre a possibilidade de verificar a existência de diferenças nos padrões de carreira entre parlamentares homens e parlamentares mulheres, no que tange, sobretudo, ao nível de escolaridade, ocupação

65 de cargos públicos e partidários e vínculos associativos. Verificou-se que não há diferenças significativas na trajetória de mulheres e homens parlamentares em termos de grau de escolaridade, visto que o resultado do teste chi-quadrado foi > 0.05. Sobre as áreas de ocupação das/dos 513 parlamentares, encontramos uma diferença considerável entre o tipo de ocupação de parlamentares homens e mulheres (sig = 0.00). Conforme apontado pela literatura, o fato das mulheres apresentarem trajetórias mais ligadas ao cuidado, saúde, educação e cultura tem reflexo na atuação política (Avelar, 2001:103; Simões, 2006:137). Entre as atuais parlamentares, destacaram-se as áreas de educação e serviço público, áreas nas quais se concentram praticamente metade das parlamentares.

Interessante achado é o fato de que o percentual de parlamentares que apresentaram ocupação de cargos públicos foi de 54% entre as parlamentares mulheres e 44,7% entre os parlamentares homens. Ao pedirmos o teste de chi-quadrado, encontramos o valor de sig = 0.163 para cargos públicos, ou seja, é possível considerar que em termos proporcionais, as mulheres ocuparam mais cargos como ministras, prefeitas e senadoras do que os homens.

Sobre o associativismo, apesar de mais da metade das parlamentares e dos parlamentares não declararem quaisquer vínculos com associações, isto é, 51,7%, é possível observar que as parlamentares mulheres apresentam em seus perfis as associações sindicais (trabalhadores/as), acadêmicas e de profissionais da imprensa em empate com associações de movimento estudantil, sociais /culturais, novas questões sociais e assistencialistas e entre os homens prevalecem as associações sindicais, acadêmicas e de movimento estudantil. Ou seja, ainda é pequeno o número de parlamentares eleitas com o apoio de movimentos de mulheres e/ou feministas, visto que apenas nove (20%) o número de parlamentares mulheres que apresentaram em suas trajetórias políticas algum vínculo associativo com associações de mulheres e/ou feministas (Tabak, 1989).

Assim para observarmos a questão da representação política de mulheres na atuação legislativa das deputadas federais, tendo em vista suas trajetórias políticas prévias, a pesquisa foi estruturada a partir dos conceitos de perspectiva, ideia e interesse, formulados por Young (2006).

A hipótese das perspectivas levou em conta que as perspectivas sociais derivam dos diferentes posicionamentos de cada grupo no campo social, considerando,

66 sobretudo, o valor de cada experiência, trajetória e história, em suas distintas formas, na produção social de interesses. Esperava-se, portanto, que as parlamentares com trajetórias relacionadas a movimentos sociais e de minorias e, especificamente, de mulheres e/ou feminista, tenderiam a uma maior produção legislativa sobre questões de gênero. Esta expectativa se confirmou, considerando a correlação entre a apresentação de projetos de gênero e vínculos provenientes do associativismo (sig = 0,03).

As parlamentares que mais se destacaram na representação política de mulheres, tanto em termos de trajetória prévia, quanto de produção legislativa e/ou ocupação de cargos relacionados a gênero na atual legislatura, apresentam a combinação, em algum grau, de capital político oriundo da ocupação de cargos partidários, cargos públicos, associativismo e mandatos anteriores. As deputadas federais Rose de Freitas (PMDB/ES), Janete Pietá (PT/SP), Sandra Rosado (PSB/RN), Elcione Barbalho (PMDB/PA) e a paranaense Cida Borguetti (PROS/PR) são exemplos de parlamentares que apresentaram projetos de lei relacionados a gênero e/ou direitos das mulheres nesta legislatura e ocupam ou ocuparam cargos de relevância na atual legislatura. Rose de Freitas (PMDB/ES), por exemplo, sexto mandato na Câmara Federal, tornou-se em 2011 a primeira mulher a ocupar o posto de 1ª vice-presidente na mesa diretora da Câmara Federal; Janete Pietá foi coordenadora da Bancada Feminina no primeiro biênio da atual legislatura; Sandra Rosado ocupou também na atual legislatura o cargo de procuradora adjunta na Procuradoria da Mulher e Cida Borguetti, atual presidente do PROS no estado do Paraná.

Parlamentares com forte vínculo associativista e que apresentaram projetos de lei sobre gênero e/ou direitos das mulheres foram, por exemplo, Benedita da Silva (PT/RJ), Janete Capiberibe (PSB/AP), Jandira Feghali (PCdoB/RJ), Luci Choinacki (PT/SC) e Rosinha da Adefal (PTdoB/AL). Benedita da Silva, além de ser filiada ao PT desde 1980, apresenta em sua trajetória política forte militância na Associação de Favelas do Rio de Janeiro e em associações de mulheres; Janete Capiberibe, estreita ligação ao movimento estudantil; Jandira Feghali, filiada ao PCdoB desde 1981, atualmente líder da bancada deste partido na Câmara, apresenta em sua trajetória política relação com movimentos de mulheres e associações ligadas à área da medicina; Luci Choinacki (PT/SC), filiada ao PT desde 1982, foi eleita em 1987 como a primeira mulher deputada estadual por este partido, apresenta em sua trajetória política forte atividade sindical ligada a movimentos de mulheres; Rosinha da Adefal (PTdoB/AL)

67 apesar de ser uma parlamentar neófita na Câmara Federal e filiada ao PTdoB desde 2007, apresenta em sua trajetória os cargos de vice-presidente e presidente da Associação dos Deficientes Físicos em Alagoas e, como anteriormente visto, representa um caso de perspectiva híbrida.

A ocupação de cargos públicos pelas parlamentares mulheres e a produção legislativa sobre gênero é observada entre as deputadas Janete Pietá (PT/SP), Erika Kokay (PT/DF), Professora Dorinha (DEM/TO), Rosane Ferreira (PV/PR), Sueli Vidigal (PDT/ES) e Perpétua Almeida (PCdoB/AC). Erika Kokay, por exemplo, possui trajetória política construída no seio da carreira sindical - foi presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília (1992-1998) e da Central Única dos Trabalhadores (DF, 2000-2002); Perpétua Almeida, filiada ao PCdoB desde 1987, apresenta atividade sindical ligada ao setor bancário, tendo sido diretora e presidente (Sindicato dos Bancários do Acre, Rio Branco, AC, 1992-1998 e 1996-1998); Dorinha Seabra foi secretária estadual de Educação e Cultura (2000-2009); Sueli Vidigal, secretária de Promoção Social da Serra, ES (1997-2003); Rosane Ferreira é a atual presidente do Partido Verde do Paraná e apresenta em sua trajetória os cargos de diretora do Departamento Municipal de Assistência a Saúde e do Departamento Municipal de Saneamento e Vigilância Sanitária (Araucária, PR), presidente do Conselho Municipal de Saúde de Araucária (2005-2006).

Algumas parlamentares que apresentaram projetos de gênero e que tiveram em suas trajetórias destaque para cargos partidários foram, por exemplo, Aline Côrrea (PP/SP), com atividade partidária ligada ao Movimento Mulher Progressista (como secretária e presidente) e associativismo através da participação como voluntária da Associação Feminina Cristã e Fátima Pelaes (PMDB/AP), eleita presidente do PMDB Mulher, em 2011, e com cargos públicos, segundo informações do site da Câmara, de secretária de Trabalho e Cidadania do Amapá (SETRACI, AP, 1983-1985) e secretária de Turismo do Estado do Amapá (2004-2006). A deputada Iriny Lopes (PT/ES) esteve licenciada do cargo entre 2007-2011 e 2011-2015, pois passou a ocupar a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) como Ministra. Alice Portugal (PCdoB/BA), com trajetória política ligada ao movimento estudantil e filiada ao PCdoB desde 1979, foi coordenadora da Bancada Feminina na Câmara Federal (2009), momento no qual se discutia o percentual da participação de mulheres nos partidos políticos.

68

A hipótese sobre as ideias ou opiniões, ou seja, os princípios, valores e prioridades que baseariam a prática política de determinado grupo partiu, sobretudo, da percepção de que as parlamentares filiadas aos partidos políticos de esquerda e centro- esquerda, considerando a maior adesão destes partidos a valores de igualdade e de inclusão das diversidades, possivelmente elaborariam mais propostas sobre as questões de gênero. Foi verificado, a partir da análise das trajetórias, que há uma maior tendência das parlamentares de esquerda e centro-esquerda apresentarem vínculos associativistas com movimentos feministas e de mulheres. No que tange à apresentação de projetos de lei sobre gênero e direitos das mulheres, a análise das ementas permite considerar que, tomadas em blocos ideológicos, as áreas temáticas priorizadas se diferenciam em saúde, gênero e trabalho (esquerda e centro-esquerda) e reforma política e violência doméstica (direita e centro-direita).

A hipótese dos interesses, tendo em vista que Young define “interesse” como “(...) aquilo que afeta ou é importante para os horizontes de vida dos indivíduos ou para as metas das organizações.” (Young, 2006:174). Considera-se, portanto, que para a representação política de mulheres, mais importante que a identidade “mulher”, são os valores, princípios e prioridades ligados às questões de gênero e, especificamente, aos direitos das mulheres, que impactam na prática política e na produção legislativa.

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8 – ANEXOS

Tabela 6: Ocupação por áreas afins Percentual Frequência Percentual Percentual Válido Cumulativo

Administração/Economia 87 17.0 17.0 685.4 Agricultura 32 6.2 6.2 349.0 Agricultura Familiar 3 0.6 2.3 57.7 Comunicação 37 7.2 7.2 720.8 Educação 48 9.3 9.3 1247.8 Engenharia 45 8.3 8.3 730.4 Empresariado 61 11.9 11.9 361.1 Jurídica 97 19.0 19.0 513.1 Saúde 50 9.8 9.8 640.3 Técnico 7 1.4 1.4 695.8 Religião 6 1.2 1.2 421.7 Serviço Público 20 4.0 4.0 1449.0 Trabalhadores (as) 12 2.4 2.4 439.7 Outros 8 5.6 5.6 342.2

Total 513 100.0 100.0 Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

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Tabela 7: Ocupação por áreas afins

Ocupação Mulheres Percentual Homens Percentual Total Percentual

Administração/Economia 4 8,51 83 17,88 87 16,95

Agricultura 0 0 32 6,89 32 6,23 Agricultura Familiar 1 2,12 2 0,43 3 0,58 Comunicação 5 10,63 32 6,89 37 7,12

Educação 11 23,04 37 7,97 48 9,35

Engenharia 2 4,24 43 9,26 45 8,77

Empresariado 3 6,36 58 12,5 61 11,89

Jurídica 2 4,24 95 20,47 97 18,09

Saúde 4 8,51 46 9,91 50 9,74

Técnico 0 0 7 1,5 7 1,36

Religião 0 0 6 1,29 6 1,16

Serviço Público 8 17,02 12 2,58 20 3,89

Trabalhadores (as) 0 0 12 2,58 12 2,33

Outros 7 14,89 1 0,21 8 1,55

Total: 47 100,00 466 100,00 513 100,00 Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

Tabela 8: Cargos públicos 1 Cargo Público 1 Homens Mulheres

Frequência Percentual Frequência Percentual

Ministério 2 0.4 3 6.4

Cargos de nomeação na burocracia federal 14 3.0 1 2.1

Secretaria Estadual 55 11.9 2 4.3

Cargos de nomeação na burocracia estadual 47 10.1 1 2.1

Secretaria Municipal de Capital Estadual 25 5.4 1 2.1

Cargos de nomeação municipal de capital estadual 14 3.0 1 2.1

Secretaria Municipal de cidade do interior 16 3.4 3 6.4

Cargos de nomeação municipal de cidade do 17 3.7 1 2.1 interior

Vereador (a) 56 12.1 2 4.3

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Prefeito (a) ou Vice 18 3.9 4 8.5

Deputado Estadual/Distrital 29 6.3 1 2.1

Senador (a) 0 0 4 8.5

Governador (a) 1 2.0 1 2.1

Outros 170 36.6 27 57.4

Total 464 100,0 47 100,0

Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

Tabela 9: Cargos públicos 2 Cargo Público 2 Homens Mulheres

Freqüência Percentual Freqüência Percentual

Ministério 1 0.2 3 6.4

Cargos de nomeação na burocracia federal 10 2.2 1 2.1

Secretaria Estadual 25 5.4 1 4.3

Cargos de nomeação na burocracia estadual 23 5.0 3 6.4

Secretaria Municipal de Capital Estadual 25 5.4 1 2.1

Cargos de nomeação municipal de capital estadual 15 3.2 0 2.1

Secretaria Municipal de cidade do interior 6 1.3 0 6.4

Cargos de nomeação municipal de cidade do 6 1.3 1 2.1 interior

Vereador (a) 23 5.0 2 4.3

Prefeito (a) ou Vice 18 3.9 2 4.3

Deputado Estadual/Distrital 49 10.6 4 8.5

Senador (a) 5 1.1 0 0

Governador (a) 1 2.0 0 0

Outros 170 36.6 8 17.0

Total 464 100,0 25 100,0

Fonte: NUSP (Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira/UFPR)

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Tabela 1: candidaturas por UF

Estado Candidaturas Eleitos (as)

Mulheres Homens Total Mulheres Homens Total

Acre 8 21,62%% 29 78,38% 37 2 25,00%% 6 75,00% 8

Alagoas 12 18,46% 53 81,54% 65 2 22,22% 7 77,78% 9

Amazonas 13 23,64% 42 76,26% 42 1 12,50% 7 87,50% 8

Amapá 21 27,63% 55 72,37% 55 3 37,50% 5 62,50% 8

Bahia 29 11,46% 224 88,54% 253 1 2,56% 38 97,44% 39

Ceará 25 20,66% 96 79,34 121 1 4,55% 21 95,45 22

Distrito Federal 22 22,00% 78 78,00 100 2 25% 6 75,00 8

Espírito Santo 12 16,67% 60 83,33 72 4 40,00% 6 60,00 10

Goiás 11 9,02% 111 90,98 122 2 11,76% 15 88,24 17

Maranhão 19 12,50% 133 87,50 152 1 5,56% 17 94,44 18

Mato Grosso 20 25,97% 57 74,03 77 0 0,00% 8 100,00 8

Mato Grosso 23 32,86% 47 67,14 70 0 0,00% 8 100,00 8 do Sul

Minas Gerais 69 12,99% 462 87,01 531 1 1,89% 52 98,11 53

Pará 22 17,60% 103 82,40 125 1 5,88% 16 94,12 17

Paraíba 13 16,46% 66 83,54 79 1 8,33% 11 91,67 12

Paraná 61 21,11% 228 78,89 289 2 6,67% 28 93,33 30

Pernambuco 14 7,87% 164 92,13 178 2 8,00% 23 92,00 25

Piauí 23 24,73% 70 75,27 93 1 10,00% 9 90,00 10

Rio de Janeiro 200 25,00% 600 75,00 800 4 8,70% 42 91,30% 46

Rio Grande do 11 15,07% 62 82,93 73 2 25,00% 6 75,00 8 Norte

Rio Grande do 64 23,27% 211 76,73 211 2 6,45% 29 93,55 31 Sul

Rondônia 18 24,66% 55 75,34 73 1 12,50% 7 87,50 8

Roraima 16 24,24% 50 75,76 66 1 12,50% 7 87,50 8

São Paulo 226 19,53% 931 80,47% 1.157 6 8,57% 64 91,43 70

Santa Catarina 37 24,83% 112 75,17 149 1 6,25% 15 93,75 16

Sergipe 8 13,79% 50 86,21 58 0 0,00% 8 100,00 8

Tocantins 10 25,00% 30 75,00% 40 1 12,50% 7 87,50 8

Total: 1007 19,42% 4179 80,58% 5186 45 8,77 468 91,23 513

Fonte: Adaptado de CFEMEA – Eleições 2010

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Tabela 2: Candidaturas por partido político

Partido Candidaturas Eleitos (as)

Mulheres Homens Total Mulheres Homens Total

DEM 21 10,82 173 89,18 194 2 4,65 41 95,35 43

PCdoB 33 26,19 93 73,81 126 6 40,00 9 60,00 15

PCB 1 4,55 21 95,45 22 0 0,00 0 0,00 0

PCO 2 33,33 4 66,67 6 0 0,00 0 0,00 0

PDT 44 16,30 226 83,70 270 2 7,14 26 92,86 28

PHS 26 14,69 151 85,31 177 0 0,00 2 100,00 2

PMDB 57 16,06 298 83,94 355 7 8,97 71 91,03 78

PMN 55 25,00 165 75,00 220 1 25,00 3 75,00 4

PP 36 17,31 172 82,69 208 4 9,76 37 90,24 41

PPS 29 19,59 119 80,41 148 0 0,00 12 100,00 12

PR 35 20,35 137 79,65 172 2 4,76 40 95,24 42

PRB 29 20,42 113 79,58 142 0 0,00 7 100,00 7

PRP 20 17,86 92 82,14 112 0 0,00 2 100,00 2

PRTB 16 11,85 119 88,15 135 0 0,00 2 100,00 2

PSB 65 21,45 238 78,55 303 4 11,76 30 88,24 34

PSC 37 17,87 170 82,13 207 2 11,76 15 88,24 17

PSDB 57 20,65 219 79,35 276 3 5,56 51 94,44 54

PSDC 11 16,42 56 83,58 67 0 0,00 0 0,00 0

PSL 35 22,29 122 77,71 157 0 0,00 1 100,00 1

PSOL 60 20,69 230 79,31 290 0 0,00 3 100,00 3

PSTU 8 23,53 26 76,47 34 0 0,00 0 0,00 0

PT 74 21,33 273 78,67 347 9 10,23 79 89,77 88

PTdoB 31 20,81 118 79,19 149 1 33,33 2 66,67 3

PTB 71 23,43 232 76,57 303 1 4,76 20 95,24 21

PTC 46 17,97 210 82,03 256 0 0,00 1 100,00 1

PTN 25 20,83 95 79,17 120 0 0,00 0 0,00 0

PV 83 21,28 307 78,72 390 1 6,67 14 93,33 15

80

Total: 1007 19,42 4179 80,58 5.186 45 8,77 468 91,23 513

Fonte: Adaptado de CFEMEA – Eleições 2010

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