CATARINA TAVIRA VAN-DÚNEM, DIRECTORA DO CANAL ZAP VIVA “Convidamos As Pessoas a Estar Em Casa De Forma Segura, Informada E Divertida”

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CATARINA TAVIRA VAN-DÚNEM, DIRECTORA DO CANAL ZAP VIVA “Convidamos As Pessoas a Estar Em Casa De Forma Segura, Informada E Divertida” Domingo CRÓNICA 14 de Junho de 2020 15 DR DA FILOSOFIA DO DIREITO E DAS LETRAS Carl Schmitt, o estado de excepção e a literatura Carl Schmitt (1888–1985) é um nome que conheço há mais de três décadas. Era eu ainda estudante. Por isso, frequentava todos os dias úteis da semana o vetusto edifício onde funcionava o Tribunal Popular Revolucionário e estava igualmente instalada a única Faculdade de Direito em Luanda, hoje sede do Ministério das Relações Exteriores Luís Kandjimbo Na referida sebenta do caso-limite às situações e É uma narrativa de viagem do século XX. Nesse tempo, Herman Melville adopta uma professor Adérito Correia, personagens de um conto datada de 1817 e assinada invocava-se a narrativa de estratégia ficcional que não o nome do constitucionalista do escritor norte-americano por esse capitão que nave- Melville como uma alegoria é casual. A narrativa auto- Foi nas aulas da cadeira de alemão era citado a propósito Herman Melville com o título gava pelas águas do oceano política. Na história da tra- biográfica de Amasa Delano Direito Estatal, disciplina da teoria do amigo/inimigo “Benito Cereno”. Ao trazer Pacífico, quando ele e a sua dução da sua obra, refere- reporta-se a 1805. Já a versão então competentemente mi- político e do estado de ex- o exemplo, Carl Schmitt, tripulação avistaram o se que os intelectuais alemães de Herman Melville situa- nistrada pelo falecido pro- cepção. Revisitei o pensa- eminente jusfilósofo, revela Tryal, um navio espanhol, da época estabeleciam uma se no longínquo ano de 1799, fessor Adérito Correia mento do constitucionalista a sua incompetência em sob controlo de africanos comparação paradoxal do ano em que “o capitão Ama- (1948–2017), no segundo alemão, já lá vão quinze matéria de hermenêutica em rebelião que se encon- perfil de Babo, o líder dos sa Delano, de Duxbury, no ano do curso de Direito. anos, para conduzir uma re- literária. Ao mesmo tempo, trava sem provisões. africanos em insurreição no Massachusetts, comandan- Seguindo com atenção as flexão temática no domínio manifesta as suas profundas Na sua reconstituição, navio espanhol San Domi- do um grande navio mer- suas interessantes lições e da filosofia. Tratava-se exac- convicções anti-semitas e Herman Melville constrói nick, com a figura satânica cante e pesqueiro de lendo a sebenta policopiada, tamente do problema da so- racistas num livro escrito uma voz narrativa que inverte de Hitler. No entanto, os afri- mamíferos marinhos, an- chegavam-me pela primeira berania quem e parece durante o período em que o presumível destino dos canos revoltados que durante corava, com uma carga va- vez as referências ao con- apaixonante abordar com esteve preso nas cadeias africanos confinados no navio meses habitavam o referido liosa, no porto de Santa troverso constitucionalista recurso à interpretação dos das forças americanas, espanhol que se dedicava ao navio pretendiam libertar- Maria”. San Dominick é a alemão cujas ideias parecem provérbios angolanos, quan- após a queda do regime tráfico de escravizados. Sob se, tomar o controlo do navio denominação anglicizada hoje ter muitos admiradores do se discute a relação entre nazi. O título é o seguinte: a liderança de Babo, os afri- e iniciar o regresso ao Senegal do navio. Em espanhol seria entre os juristas angolanos. a literatura e o direito. Há “Ex Captivitate Salus: canos realizam uma operação e às suas terras de origem na San Domingo. Foi um eminente filósofo quase um século, Carl Experiências do Período bem sucedida, decapitando África Ocidental. Por essa Ora, San Domingo, na sua e jurista, durante a vigência Schmitt tematizou o conceito de 1945 a 1947”. O seu sen- o capitão e parte da tripulação razão, nada há de verosímil versão francesa Saint-Do- da República de Weimar. de soberania em três livros: tido da expressão em latim do navio San Dominick, entre Babo e Hitler. mingue, é o topónimo da Mas com a chegada ao poder “Ditadura”; “Teologia Polí- remete para a segurança de mantendo outros encarce- Portanto, a gesta predo- ilha onde triunfa a primeira do Partido Nacional Socialista tica”; “Conceito de Político alguém que se encontra em rados. Para escaparem à vi- minante não é de Benito Ce- república de africanos es- dos Trabalhadores Alemães e Teoria do Partisan”. situação carcerária. gilância de outros navios e reno. Quer na sua fonte quer cravizados no espaço insular converteu-se aos ideais nazis A sua definição de sobe- Nesse livro, Carl Schmitt evitar a captura, Babo ameaça na versão reconstruída por das Caraíbas que passará a dessa força política, em 1933, rania formulada no livro reitera a sua simpatia por igualmente o capitão espa- Herman Melville, a causa ser o Haiti. É legítimo con- ano em que Martin Heideg- inaugural daquilo a que de- Benito Cereno, uma perso- nhol, Benito Cereno, entre nobre reside na luta pela li- cluir que Herman Melville, ger, outro filósofo alemão signa por teologia política, nagem criada pelo escritor outros sobreviventes ibéricos. berdade da pessoa humana explorando o navio como também aderiu ao nazismo. assenta numa formulação norte-americano Herman Essa ameaça de deca- estigmatizada por razões metáfora de campo de con- E nas décadas seguintes Carl lapidar. “Soberano é aquele Melville (1819–1891), tam- pitação vivida por Benito contigentes do seu fenótipo. flito, com a personagem de Schmitt tornou-se célebre que decide em estado de ex- bém autor do célebre ro- Cereno e a experiência de O espanhol não era vítima. Babo fazia alusão à figura de pelas suas ligações ao regime cepção”. No seu entender, mance “Moby Dick”. Mas já sobrevivência inspira a sim- Ao invés, era ele o algoz. Toussaint Louverture, um nazi, tendo sido presidente da a definição de soberania tem em 1938, quando celebrava patia de leitores como Carl O estado de excepção vi- líder africano da revolução associação dos juristas dessa conexão com o caso-limite o seu quinquagésimo ani- Schmitt. Mas, numa leitura vido pelos africanos escra- do Haiti de 1791. organização política. Foi pro- e não com a rotina. A de- versário, Carl Schmitt se ti- diferente parece evidente vizados, em pleno oceano Portanto, na crítica e nos fessor de direito na Univer- claração de um estado emer- nha identificado com Benito que o protagonista da estória Pacífico, analisa-se no facto estudos da obra de Herman sidade de Berlim entre 1933 e gência ou de calamidade Cereno. Tal identificação de- são os africanos escravizados. deterem tomado o controlo Melville, as controvérsias 1945. Após a derrota de Hitler pública, vivida hoje a nível rivava do facto de se auto- São eles os agentes do acon- do navio “negreiro” para re- apontam, tendencialmente, e o fim da Segunda Guerra global, no contexto da pan- intitular como o último tecimento excepcional que verter a sua marcha. Disso para esta conclusão. O conto Mundial foi preso pelas forças demia a que se convencio- professor, aluno e represen- expõe o marinheiro espanhol Herman Melville tem cons- em apreço é uma denúncia americanas que ocuparam a nou chamar Covid-19 tante consciente do direito àquilo que para Carl Schmitt ciência porque introduz um da ideologia racialista e suas Alemanha, tendo sido poupado pressupõe a existência de público europeu. Por isso, parece ser o caso-limite. conjunto de simbolismos manifestações. Babo é o líder durante o julgamento de Nu- um “estado de excepção”. imaginava-se como perso- A apropriação da perso- que têm fundamento his- da insurreição que eclode a remberga. Morreu em 1985. A necessidade de demons- nagem da estória narrada nagem de Benito Cereno por tórico. Um destes simbolis- bordo do San Dominick, em Na década de 90 do século trá-lo levou Carl Schmitt à por Herman Melville. parte de Carl Schmitt é um mos é a denominação do contexto de estado de ex- passado, a sua obra começou literatura, em busca de ana- Herman Melville recupera atalho para a compreensão navio. Na narrativa de Amasa cepção, representa a reali- a atrair o interesse dos círculos logia. E como é que ele faz na totalidade o material nar- do fenómeno de recepção da Delano que é a sua fonte, o zação epifânica da soberania, académicos nos Estados Uni- este exercício? rativo de Amasa Delano, ca- obra de Herman Melville na navio tem a designação de tal como Toussaint Louver- dos e na Europa. Vai buscar o exemplo do pitão de um navio baleeiro. Alemanha dos anos 30 e 40 Tryal. Na sua versão narrativa ture na revolução do Haiti. Domingo 16 LITERATURA 14 de Junho de 2020 TOMADA DE POSSE DA NOVA DIRECÇÃO Academia de Letras quer participar na definição da política linguística A Academia Angolana de Letras, cujos novos corpos sociais - mesa da assembleia geral, direcçãoe conselho fiscal – tomaram posse no passado dia 5, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, pretende ser uma referência obrigatória no país, sobretudo na definição da política linguística. No discurso de tomada de posse como presidenteda instituição, Paulo de Carvalho adiantou que no programa de acção para o quadriénio 2020-2024 consta a realização de um encontro sobre a “Política Linguística em Angola”.Embora reconheça a “espinhosa” tarefa que tem pela frente, o académico espera encontrar soluções práticas face aos desafios que se apresentam MOTA AMBRÓSIO| EDIÇÕES NOVEMBRO Analtino Santos Carvalho, apesar de ser um manifestaram-se desfavo- o programa de acção”. Du- para nos juntarmos à causa órgão da sociedade civil, ráveis à sua ractificação por rante o mandato de quatro das letras angolanas”. criada há quatro anos, mais parte do Estado angolano. anos, disse, prevê-se incre- Para ser ratificado, A juventude angolana não A realização de mesas-re- concretamente em Setembro Nesta declaração, de acordo mentar a cooperação com foi esquecida.
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