José Guilherme Baldocchi (Depoimento, 2012)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. BALDOCCHI, José Guilherme. José Guilherme Baldocchi (depoimento, 2012). Batatais - SP, Brasil. 2013. 52 pg. JOSÉ GUILHERME BALDOCCHI (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2013 Transcrição Nome do Entrevistado: José Guilherme Baldocchi Local da entrevista: Batatais – SP, Brasil Data da entrevista: 22 de junho de 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Clarissa Batalha, Bruno Romano Rodrigues e Thiago William Monteiro. Câmera: Thiago Monteiro Transcrição: Maria Izabel Cruz Bitar Data da transcrição: 30 de maio de 2012 Conferência da Transcrição: Thomas Dreux Data da Conferência: 25 de setembro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por José Guilherme Baldocchi em 25/04/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Clarissa Batalha – Então, a gente vai começar Baldocchi, e se você puder, falar o seu nome completo, a data do seu nascimento e onde você nasceu. José Baldocchi – Meu nome completo é José Guilherme Baldocchi; eu nasci em Batatais, em 14 de março de 1946. C.B. – Seus pais são daqui, também? J.B. – Meus pais nasceram aqui e meus irmãos. Nós criamos uma família toda aqui. Eu iniciei a minha profissão de jogador de futebol no Batatais Futebol Clube, nas divisões inferiores, na época de 1963 a 1964, e fui para Ribeirão Preto por volta... fui transferido, vendido do Batatais para o Botafogo de Ribeirão Preto em 1964 e 1965. Joguei no Botafogo em 1965 e fui vendido para o Palmeiras – se não me engano, acho que foi em maio. Em maio de 1966, eu estava no Palmeiras. Joguei no Palmeiras de 1966 a 1971. Participei da Copa do Mundo de 1970, tive a felicidade de ser campeão do 2 Transcrição mundo, de ter o prazer de fazer parte de um grupo excelente que até hoje a gente se encontra e se relembra e traz muitas saudades. E de 1971 a 1975, eu joguei no Corinthians Sport Club Corinthians Paulista. C.B. – Vamos voltar um pouco. O que o seu pai fazia, quando você era criança? J.B. – Meu pai tinha uma loja de materiais de construção e uma marcenaria. Fazia móveis. Isso já vinha da época dos meus avós paternos, e meu pai seguiu a profissão. E eu sempre gostei muito de marcenaria – mas não aprendi o ofício –, de forma que, quando eu parei de jogar futebol e que eu voltei a Batatais, eu montei uma marcenaria e uma fábrica de móveis. Tocamos uns oito anos ou dez anos e depois ela parou. B.R. – Você chegou a conhecer os seus avós? J.B. – Conheci, graças a Deus, tanto os maternos como... B.R. – Eram de Batatais, também? J.B. – Não. Os meus avós, os dois avós, maternos e paternos, vieram da Itália. Meu avô por parte de pai veio de Lucca, da província de Lucca, e a minha avó veio da Calábria. Minha avó e meu avô vieram com quatorze ou quinze anos, na época da guerra, se casaram aqui e constituíram família aqui. C.B. – Aqui em Batatais? J.B. – É. E eu tenho cidadania italiana; meus filhos têm também. E eu perdi uma chance de jogar na Itália porque não sabia que podia ter tirado a cidadania. Na época em que eu jogava no Palmeiras, eu tinha um amigo italiano que queria me levar para a Itália de qualquer jeito. Mas não podia entrar, tinha... B.R. – Tinha cota de estrangeiros, não é? 3 Transcrição J.B. – É, tinha cota de jogadores. E eu tirava o passaporte italiano tranquilo, porque meus avós... Como eu tirei depois. Então, não era para ser, não é? Então, era para jogar aqui, mesmo. C.B. – E a sua mãe fazia o quê? J.B. – Minha mãe era professora, mas depois, com três filhos, foi criar os filhos. C.B. – São três filhos então? J.B. – São três. São todos vivos. Meus irmãos são vivos. Meus pais já faleceram. C.B. – E aí como é que era o futebol da criançada? Jogava na rua? Na escola? J.B. – Eu apanhei muito de chegar em casa tarde. Às vezes, jogava até escurecer e chegava em casa descalço, sujo, aí apanhava, tomava banho e ia dormir.(risos). Eu tive a felicidade... Aqui tem uma faculdade que se chama Claretiano1. É o antigo Colégio São José, que é de padres claretianos. E, na época que eu era moleque e jogava futebol, tinha o internato e o externato. Eu era externo, mas eu participava do colégio vinte e quatro horas. Eu morava ao lado do colégio. E, lá no colégio, tinha campo de menores, médios e maiores, dependendo da faixa etária. Então, foi ali que... Eu gostava de jogar futebol lá. Aí, fechavam o colégio às cinco horas ou seis horas, eu ia jogar futebol de salão no Centro de Cultura Física e, se tivesse depois, ia jogar em algum lugar depois. Eu sempre gostei demais de futebol. Para mim... Eu sempre tive o sonho de ser um jogador de futebol. É claro que, depois, na medida em que for evoluindo, a gente vai sonhando mais alto não é? Eu pensei em jogar no Botafogo: “Vou jogar num time de primeira divisão”, porque o Batatais era de divisão inferior. Aí o Palmeiras apareceu e me contratou, aí os pensamentos vão evoluindo e você vai almejando outras coisas. Aí, quando eu joguei no Palmeiras, o Palmeiras foi bem, tive a felicidade de ser campeão no Palmeiras três ou quatro vezes, e aí apareceu a chance de ser convocado para a seleção. 1 Refere-se ao Centro Universitário Claretiano. 4 Transcrição Então, aí chega aonde você praticamente sempre sonhou. Todo jogador tem que sonhar, tem que almejar alguma coisa a mais. B.R. – Você tinha irmãos ou era filho único? J.B. – Tenho um irmão. Meu irmão jogava futebol, também. Três anos... Eu tenho um irmão e uma irmã. Meu irmão jogava aqui no Batatais, também, mas depois foi para São Paulo... B.R. – É mais velho? J.B. – Mais novo. B.R. – Mais novo. E chegou a jogar profissionalmente? J.B. – Ele jogou no profissional do Batatais. B.R. – E depois não seguiu a carreira? J.B. – Não, não seguiu. C.B. – Como é que foi a chegada no Batatais? Você foi lá fazer teste? J.B. – Você fala aqui no Batatais? C.B. – No clube. J.B. – Aqui, tinha... Na época, era amadorismo, então, o Batatais jogava com outras equipes e o amador fazia a preliminar. Então, eu fazia parte dos amadores, porque eu não tinha idade – eu tinha quatorze ou quinze anos. Foi aí que começou. Aí, com dezesseis anos, eu já estava no Batatais. 5 Transcrição B.R. – E quem foi que te chamou para ir para o Batatais? Eles viram você jogando? J.B. – Me viram jogando. B.R. – Olheiros? J.B. – Na preliminar. Na preliminar, você... Hoje não tem mais não é? Então na preliminar, você jogava. E ficava uma festa. “Agora o amadorzinho vai fazer a preliminar.” Vinha time de outros lugares, ou time daqui, do campeonato interno mesmo da cidade. Era uma festa. E eu, com dezesseis ou dezessete anos, entrei para o Batatais. B.R. – E qual era a rivalidade maior aqui, dos clubes? J.B. – Aqui não tem muito clube; é só o Batatais. B.R. – Aqui da região. J.B. – Da região, na época era a Francana. B.R. – A Francana. J.B. - A Francana, toda vez que jogava, tinha briga e tinha bagunça, tanto aqui como lá. Depois foi indo, acalmou. Botafogo e Comercial, não, porque eles estavam na divisão superior e eram times melhores. B.R. – E, na sua época de amadorismo, chegou a jogar algum time grande aqui, alguém que vocês...? J.B. – Não, não. Eu joguei só aí e fui para o Batatais. Disputei um Campeonato Paulista da Segunda Divisão pelo Batatais, aí o Botafogo veio e me contratou. 6 Transcrição B.R. – E aqui mesmo, o senhor não jogou com o Palmeiras ou com o Corinthians? J.B. – Não, não cheguei a jogar. Fui enfrentar o Palmeiras, o Santos e esses times lá no Botafogo. C.B. – Você tinha algum ídolo, nessa época de criança, de moleque? J.B. – Eu era torcedor do Palmeiras. Na minha opinião... Eu gostava do Mazzola2, porque o Mazzola, na época, era centroavante do Palmeiras, depois foi para a seleção; eu admirava o Pelé... Na época, era: Pagão3... O time do Santos era muito bom. Eu era palmeirense, mas a gente torcia para o Santos. Não tinha televisão, também, mas as narrativas dos jogos sempre... O time do Santos era bom demais. Cheguei a ir ver o Santos jogar aqui com o Comercial e com o Botafogo. Então, a gente passa a admirar certos jogadores, de ver jogar. B.R. – E que posição que você gostava mais? Não foi sempre zagueiro, foi? J.B. – Não. Eu era lateral-esquerdo. Porque é assim: você é moleque, o mais novo no grupo... O zagueiro central e o quarto zagueiro geralmente eram mais tarimbados e tudo. Então, me botaram para jogar de lateral-esquerdo, porque eu era mais novo, “vai quebrando o galho aí”. Mas aí, depois de poucos jogos, eu vi que... Eu era alto, cabeceava bem e tudo, falei: “Não, eu vou jogar no meio”.