Transcrição Final Eduardo Stinghen (Ado)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. STINGHEN, Eduardo. Eduardo Stinghen (depoimento, 2011). Rio de Janeiro, CPDOC, 2012. 75 pg. EDUARDO STINGHEN (depoimento, 2011) Rio de Janeiro 2012 Transcrição Nome do Entrevistado: Eduardo Stinghen (Ado) Local da entrevista: São Paulo, SP Data da entrevista: 19 de agosto de 2011 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Bernardo Buarque (CPDOC/FGV) e Clarissa Batalha (Museu do Futebol) Transcrição: Jonas Dias da Conceição Data da transcrição: 20 de outubro de 2011 Conferência da Transcrição: Fernando Herculiani Data da Conferência: 14 de fevereiro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Eduardo Stinghen em 19/08/2011. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. B.B. – Ado, primeiramente, muito obrigado por ter aceito o convite. Estamos muito felizes em recebê-lo aqui, no Museu do Futebol. Eu pediria, inicialmente, que você começasse se apresentando, dizendo o seu nome, data e local de nascimento. E.S. – Boa tarde, é uma satisfação estar com vocês aqui. Realmente, é um orgulho para mim fazer parte desse acervo do futebol Brasileiro. Eu vejo que a cultura está mudando, o Brasil, hoje, está preservando os ex-jogadores, ex-ídolos, aqueles que começaram comer grama, não é? Para estar, hoje, nesse patamar, nessa situação que está o futebol brasileiro, que está muito bem em termos de mídia, em termos de tudo. Mas eu sou... O meu nome verdadeiro é Eduardo Roberto Stinghen; eu nasci em Santa Catarina, em Jaraguá do Sul, em 04/07/1946 - um pouquinho velho. Aí, o meu pai era professor, foi transferido para Londrina, onde, aos quatorze anos, eu comecei a jogar futebol no Corinthinha de Londrina. Aí então, aos dezesseis, eu já era profissional, fui convidado por Londrina a fazer contrato. Eu já fiz, antigamente não existia... Era o juvenil e profissional, não tinham esses estágios de amadores. Então, a gente já passava direto. Aos dezenove anos... Aos dezoito anos, eu já era titular do Corinthians. E, na época... Nossa, o Londrina recebia times grandes, como o Corinthians; o Atlético Paranaense, 2 Transcrição que jogava o Djalma Santos, na época, o Bellini. Então, eu comecei pegando uma experiência. Num desses jogos aí, por incrível que pareça, o João Saldanha foi observar o goleiro do Coritiba, que era o Joel Mendes; e, nesse jogo, eu me destaquei porque eu já jogava com luvas. Ele falou: “Pô, um goleiro jogar com luvas aqui, no Brasil, é coisa rara.” Ainda não tinha essa cultura, não é? E eu mandava vir da Argentina as luvas. Ele falou: “Esse cara sai bem do gol, é bom e não sei o quê...” Ele deu uma entrevista até. Eu fiquei empolgado. Eu falei: “Poxa, acho que o futebol é legal. Eu vou pegar firme...” Porque eu estudava, na época, ainda. E foi... Coincidentemente, um mês ou dois meses depois, o Corinthians foi jogar em Londrina, em 1969, onde eu me destaquei no jogo... Eu, o Lidu, o [Doublê1] e o Djalma. E o Corinthians nos contratou, mandou vir para o Parque São Jorge. Eu garoto - nunca tinha vindo a São Paulo - realmente eu era do interior, pé vermelho, londrinense. Eu me empolguei. No começo, eu morava no Parque São Jorge e treinava muito. E o Dino Sani, que foi meu técnico, na época, gostava de mim pela minha dedicação, não é? Ele falou: “Pô, esse alemão treina demais.”, né? E começou a me levar nas viagens. Antigamente, o campeonato brasileiro ele era complicado porque você saía daqui, de São Paulo; jogava em Porto Alegre; vinha jogar em São Paulo; embarcava para Minas; jogava em Minas; embarcava para o Ceará... E eu junto, o terceiro goleiro. E num desses jogos, no Maracanã, o Lula estava com problema – que era o goleiro da Seleção, na época, o Lula e o Cláudio, na época de 1970 –, e o Dino chegou para mim e falou assim: “Você vai jogar.” No Maracanã, era contra o Botafogo. O Botafogo tinha Fischer, Jairzinho... Eu falei: “Pô, eu estou ferrado.” Eu garoto, mas tudo bem. É gozado porque, no futebol, nós, quando treinamos, ficamos em traves maiores; na areia para dar impulsão; esse negócio todo. Quando eu entrei no Maracanã – eu nunca tinha entrado e nem visto o Maracanã – eu falei: “Poxa, esses caras estão de brincadeira, esse gol é muito pequeno.” Eu fui um destaque um destaque do jogo - ganhamos de 2x0 – e nunca mais eu saí do Corinthians, de titular do Corinthians né. Depois, o segundo jogo foi contra o Fluminense aqui, no Pacaembu. O Fluminense veio com Denílson... Era um timaço. O Flávio, centroavante, o Félix era o goleiro, que é meu amigão. E nós ganhamos de 2a 0 também; eu peguei pênalti; e o Saldanha estava presente. Mas, aí, eu fiz três partidas pelo Corinthians, ou 1 O mais próximo do que foi possível ouvir. 3 Transcrição quatro, depois eu fiz mais dois jogos, quando o Cláudio Coutinho – num jogo em Montevidéu, no Uruguai, numa taça e não sei o quê – ele chegou para mim: “Você está convocado para a Seleção.” Eu não acreditei e falei: “Vocês estão de brincadeira.” Eu tinha vinte anos, menino, recém vindo do interior. E fui, realmente, convocado. A minha fase áurea, eu estava pegando tudo, infernal. E fui convocado, ficamos lá de janeiro a julho na Seleção Brasileira. Foi um momento maravilhoso que eu passei na minha vida – inesquecível - porque o grupo, além de excepcional, de atletas, era muito coeso, era um grupo muito bom e a gente parecia uma família. Não tinha briga, não tinha discussão, não tinha pega em treino. Logicamente que existiam jogadas ríspidas, mas jamais desleais porque eram todos de um nível muito bom, técnico e de cabeça também, não é? Porque o jogador não precisa ser só técnico, tem que ter um pouco de cabeça para jogar também, não é? E eu fiquei empolgado, lisonjeado, por estar naquela Seleção; ficamos treinando... Saldanha, depois teve um problema com o Saldanha, ele caiu, e entrou o Zagalo. Aí, o Zagalo achou que eu e o Leão éramos muito novos para assumir o gol do Brasil, convocou o Félix. Então, ficou a briga entre eu e o Leão para ver qual que sairia; e eu, realmente, na época, consegui superar o Leão. O Leão foi cortado aqui no Brasil, e eu segui para o México, onde treinávamos que nem uns malucos, não é? A gente treinava muito mesmo. O meu objetivo na vida era treinar. Aí, fomos campeões do mundo, você vai falar pra descrever, eu falo: “Eu não posso porque eu não sei...” Porque eu senti na hora e eu fiquei louco. Eu não tinha noção do que representava aquilo, eu não tinha. Nós, quando chegamos ao Brasil, aqui, foi aquela ovação toda né... [INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO] B.B. – Ado, você estava já entrando na parte da Copa de 1970. Eu queria só que você relembrasse, antes da gente chegar na Copa - que é o nosso grande interesse em te ouvir - que você contasse um pouquinho das suas origens familiares, se os seus avós já eram brasileiros... Enfim, contar um pouquinho das suas lembranças de Santa Catarina. E.S.- Tá. A minha origem é austríaca né, que era de Trento. Eu fui, lá, conhecer os meus parentes na Itália. Hoje, Trento é Itália. Depois da segunda Guerra Mundial, 4 Transcrição aquela parte ficou para Trento; não tinha os Alpes Suíços, a coisa mais linda do mundo, não é? E os meus avós vieram para cá... Até eu fui conhecer os meus familiares lá. Os meus filhos estavam tirando, na época, o passaporte europeu - esse negócio todo – e eu fiquei conhecendo. Um lugar maravilhoso, lindo. Então, talvez, eu não sei, na minha família, jogador de futebol fui eu e o Toto, que jogou no Flamengo, centroavante. Eu não sei se as origens, antigamente, eram de europeus, europeu era muito grande, forte, alto. Foi a minha coisa. Hoje, estou magro e tal porque a gente perde as musculaturas, mas eu era muito forte. E eu acho que a minha origem é... Veio essa força minha toda, essa altura, dos europeus, não é? Que são os austríacos. B.B. – Os seus avós eram austríacos? E.S.- Eles vieram para Santa Catariana. B.B. - Os seus avós eram austríacos e migraram para o Brasil? E.S. – Austríacos e migraram para o Brasil. É. C.B. – Foi na época da Segunda Guerra? E.S. – Foi, na época da Segunda Guerra. Vieram para cá e... Vieram porque, antigamente, era dividido. Os portugueses iam para São Paulo; os italianos também aqui; os austríacos, por causa do frio, iam lá para o lado do Sul, etc. Assim que eram divididos os imigrantes que vinham de fora. E foi lá, onde cresci praticamente a minha infância toda até os seis anos; foi em Santa Catarina, numa cidadezinha pequena - que era Jaraguá do Sul - perto de Joinville alí. Muito boa a educação rígida dos alemães; depois veio o colégio interno, também, um colégio de padres em Londrina – que eu tomava muita pancada. Foi lá que eu me tornei corintiano. [risos] Porque o normalista, o nosso padre lá, era corintiano. Dias de jogos, à tarde assim, ele parava a aula e colocava o radinho... Na nossa época, dificuldade era muito grande.