Viva Maria: Telenovela alerta para violência moral contra mulheres

(Radioagência Nacional, 10/03/2016) Em entrevista exclusiva ao Viva Maria, a atriz Maeve Jinkings conta sobre a carreira e os desafios de viver uma personagem que luta contra a violência doméstica na telenovela Regra do Jogo, transmitida pela Rede Globo.

Jinkings ressalta a importância das mulheres entenderem as perversidades existentes na violência moral e incentiva nossas Marias a vencer o medo para romper com o ciclo de agressão.

Viva Maria: Programete que aborda assuntos ligados aos direitos das mulheres e outros aspectos da questão de gênero. É publicado de segunda a sexta-feira.

Acesse no site de origem: Viva Maria: Telenovela alerta para violência moral contra mulheres (Radioagência Nacional, 10/03/2016)

Tema Livre debate cenas de estupros exibidas na televisão aberta

(EBC Rádios, 15/01/2016) O programa Tema Livre, desta segunda-feira (18), debateu sobre uma cena transmitida recentemente na televisão brasileira que acabou gerando críticas acaloradas sobre a cultura do estupro no Brasil. Mas não é a primeira vez que uma cena exibida na TV rende debates sobre a romantização do estupro. A discussão não foi em torno da exibição da cena de estupro, mas sim, como um crime tão traumático pode ser veiculado de forma romântica.

No estúdio, estiveram presentes as Defensoras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, Dra Eufrasia Maria das Virgens, coordenadora de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, e Dra Arlanza Rebello, coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher Vítima de Violência, a professora do Curso de Estudos de Mídias da Universidade Federal Fluminense, Juliana Bravo, e o advogado mestre em ciências criminais, Dr André França Barreto.

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Violência contra a mulher: problema além da ficção

(Jornal de Brasília, 02/12/2015) Bastante discutido nas redes sociais, tema também é retratado na TV como forma de conscientizar

Recentemente, campanhas como #meuprimeiroassédio e #meuamigosecreto, que denunciam abusos sofridos por mulheres, tomaram conta das redes sociais. Por conta dessas iniciativas, o número de denúncias de violência contra a mulher – seja ela física, moral ou psicológica – no 180, o disque- denúncia, chegou a 63.090, 40% a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados divulgados, ontem, pela Central de Atendimento à Mulher. Na TV e no cinema, o tema violência contra a mulher também é muito abordado, e não é de hoje.

Na novela Mulheres Apaixonadas (2003), o tema da violência doméstica foi bastante discutido com a personagem da atriz Helena Ranaldi. Ela vivia Raquel, mulher que sofria agressões físicas do marido Marcos (Dan Stulbach). Vítima do ciúme doentio do parceiro, a personagem tinha medo de denunciá-lo. As célebres cenas de agressão com raquete de tênis deram o que falar na época.

Atualmente, os noveleiros de plantão têm se deparado com o relacionamento abusivo vivido por Domingas e Juca (Osvaldo Mil), em A Regra do Jogo. A atriz que dá vida à personagem, Maeve Jinkings, ressalta a importância de se falar no assunto, para que as pessoas olhem com mais simpatia para mulheres que passam por essas situações, e ainda precisam lidar com o julgamento da sociedade. “Espero que não apenas as mulheres agredidas psicologicamente, como Domingas, possam refletir melhor, mas também os que estão ao redor. A pessoas tendem a não compreender a complexidade das relações e frequentemente culpam a vítima. Isso é uma ignorância que fortalece o agressor”, diz a atriz brasiliense.

Inspiração

Jinkings afirma não ter como prever se a sua história irá servir como motivação para mulheres que passam pela mesma situação, mas se diz satisfeita com a repercussão de seu trabalho. “Antes eu não conhecia quase nada da dinâmica do assédio moral nas relações de casal. O que espero é que isso, no mínimo, cause algum debate, algum incômodo”.

A teledramaturgia brasileira está repleta de personagens que podiam servir de referência e pesquisa, mas Maeve preferiu não utilizar nenhuma. “Queria compreender essas mulheres na vida. Li bastante o diário de Frida Kahlo, sobre seu enorme amor por Diego (Rivera), sua solidão, e como ela suportava as traições dele”, conta a atriz, que adianta, ainda, que os telespectadores estão próximos de ver no ar a reviravolta na vida de Domingas.

Lei Maria da Penha

Paolla Oliveira, de O Profeta (2006), era Sônia, que chegou a ser trancada no quarto pelo próprio parceiro, sem poder comer. No fim, ela consegue se libertar do cativeiro e vive sua vida longe do malfeitor. Na pele da personagem Catarina, de (2008), Lília Cabral deu vida a uma dona de casa submissa que sofria com agressões físicas e morais do marido, vivido por Jackson Antunes. Na trama a reviravolta começa quando Catarina começa a se relacionar com Stela (Paula Burlamaqui).

Em 2011, a novela Fina Estampa representou as implicações policiais e legais decorrentes da denúncia de violência doméstica por meio da história do casal Baltazar (Alexandre Nero) e Celeste (), na foto abaixo: ele agride a mulher e a filha continuamente. Ao tentar matar a esposa em uma briga, a polícia é acionada, e ele, preso em flagrante, sendo retratado na trama todo o desenrolar do procedimento previsto na Lei Maria da Penha.

Quatro perguntas para Maeve Jinkings

Onde buscou referências para criar a Domingas? Chegou a ter contato com mulheres vítimas de violência?

Entrevistei e continuo aberta a entrevistar diversas mulheres vítimas desse tipo de relação. No início precisei procurá-las, mas hoje em dia os depoimentos chegam em enxurrada, vou filtrando na medida de minha possibilidade emocional e de tempo. Também conversei com homens agressores e li relatos de alguns deles a fim de compreender melhor a dinâmica que os leva a acreditar que podem agredir suas companheiras.

Por que, na sua opinião, tanto a personagem, quanto as “Domingas” da vida real, se mantêm em um relacionamento abusivo?

Em primeiro lugar porque ninguém acha que está vivendo isso. É como uma doença que só “o outro” é quem tem… quem vive isso demora muito a perceber e, quando percebe, o mais comum é se sentir responsável pela situação. Uma relação abusiva é alimentada basicamente por medo e culpa, o agressor joga com esses elementos e assim manipula psicologicamente a vítima. De todo modo, cada caso é um caso.

A audiência feminina da novela te aborda na rua? Se identifica?

Sim, muitas mulheres me abordam, e muitas naturalmente me contam suas histórias. A verdade é que elas são mais comuns do que se pensa, e em todas as classes e família há algum caso. Depois de Domingas, já obtive relatos de todos os lados, até dentro dos meus círculos de amizade mais próximos, na família, no Projac. Todos conhecem alguém, a gente apenas não fala sobre isso, pois é um tema vergonhoso e confuso.

Você nasceu em Brasília, mas foi embora muito cedo. Tem boas lembranças da cidade?

Tenho memórias muito vivas da minha infância na capital. Meu pai, irmãs, parentes e amigos ainda vivem na cidade. Visito todos os anos, amo muito Brasília!

Raquel Martins Ribeiro

Acesse no site de origem: Violência contra a mulher: problema além da ficção (Jornal de Brasília, 02/12/2015)

Rachel Moreno, pesquisadora de mídia, aponta violência de gênero em novela

Não deve ser fácil escrever uma novela.

Além de todo o talento necessário à empreita, há que se garantir a audiência da emissora que bancar o projeto.

Para isso, alguns capítulos estão prontos na estreia e, depois de acompanhar o índice de audiência, fazem-se pesquisas qualitativas.

Grupos representando a diversidade da audiência são convidados por um instituto a dar a sua opinião sobre a novela, as situações mais relevantes, as personagens. E, baseado na análise dessas avaliações, o/a autor/a dá mais, ou menos espaço a determinados temas e personagens. Babilônia, novela de , Ricardo Linhares e João Ximenes Braga das nove horas da TV Globo acabou recentemente.

Ousada em algumas de suas propostas, onde a diversidade a orientação sexual existente e reconhecida culturalmente e que, inclusive pode contabilizar algumas vitórias (como o reconhecimento da união homoafetiva, a possibilidade de adoção de crianças), foi uma dessas “ousadias”.

Ousadia, entenda-se bem, não porque a novela propusesse nada de novo – afinal, refletia a nova aceitação de uma diversidade maior de tendências em nossa sociedade – mas provavelmente porque, com a migração de um segmento de telespectadores – particularmente os jovens, habitualmente mais abertos às novidades e talvez menos preconceituosos – para a internet, deixando frente à tela da TV um segmento de mais idade e mais conservador.

Afinal, a grande mídia não inventa valores e situações, mas reflete – talvez de forma bastante seletiva, segundo os seus critérios e valores – o comportamento (ou, melhor dizendo, alguns dos comportamentos) que percebe na sociedade. Que ela seleciona, desterritorializa, resignifica e termina por transformar em moda.

E foi justamente o que os autores apresentaram no primeiro capítulo, com personagens vilãs (Gloria Pires e Adriana Esteves) com excelente performance e um beijo carinhoso entre as lésbicas vividas por e Nathalia Timberg.

Além disso, tivemos cenas de violência doméstica e assassinato. Com direito a filha esbofeteando mãe, e filho ameaçando pai, a audiência foi despencando.

E, como aponta Nilson Xavier, em matéria publicada no dia 28/08/2015 , para piorar, a mocinha, vivida por , ganhou a pecha de chata e a antipatia do público.

“Uma ala mais conservadora da sociedade”, que aliás se manifestou em vários momentos e episódios políticos recentes (como na derrota da inclusão de questões de gênero, em diversos Planos Municipais de Educação, que propunha a discussão crítica das diversas formas de preconceito na escola, para desnaturalizá-las) iniciou uma campanha anti-Babilônia.

Como resultado, os autores mudaram uma série de aspectos e perfil de personagens da novela.

A grande vilã Beatriz (Glória Pires), uma mulher fria e calculista, ávida por sexo e poder, se revelou uma romântica boboca ao se apaixonar pelo nadador Diogo (Thiago Martins), num romance pouco crível. Alice (Sophie Charlotte) e sua mãe Inês (Adriana Esteves), que se odiavam, se reconciliaram e viraram melhores amigas da noite para o dia. Alice, que era para ser uma prostituta de luxo, se tornou uma mocinha chorosa. O cafetão Murilo (Bruno Gagliasso) só não perdeu a função na novela porque, nas últimas semanas, os autores o pegaram para ser a vítima do “quem matou”. O romance entre Alice e Evandro (Cássio Gabus Mendes), meloso e forçado, foi outra mudança drástica, já que ele havia sido apresentado como um machista mau caráter no início. Ficou claro o foco nos romances para tentar fisgar o telespectador. Os autores também investiram mais no humor do triângulo cômico (mas pouco engraçado) envolvendo Norberto, Valeska e Clóvis (Marcos Veras, Juliana Alves eIgor Angelkorte). E diminuíram o foco nos personagens gays. O romance estre as lésbicas, que prometia ser uma abordagem interessante, praticamente sumiu da história, sem mais beijos. Outro personagem descaracterizado foi Carlos Alberto (Marcos Pasquim), que seria um gay enrustido de caso com Ivan (Marcello Melo Jr.), mas que acabou envolvendo-se com Regina.

Mas todas as concessões feitas à opinião pública do segmento mais conservador da audiência à telenovela, além de descaracterizar, apresentaram mudanças de alguma forma artificiais, que nem a tornaram mais palatável, nem reapresentaram as propostas mais inovadoras numa embalagem mais aceitável.

No fim, com finais felizes para todos os casais e punição das principais vilãs Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Gloria Pires) jogadas de um precipício, embora dando uma audiência mais razoável (32,2 pontos), não a salvaram do despencamento de 18 pontos com relação ao final da última novela (Império). A FUNÇÃO SOCIAL DA MÍDIA

A TV, e particularmente as novelas, não inventam comportamentos e valores, mas reproduzem os que lhes convém focar. E, com isso, amplificam o seu alcance – transformando-os em moda ou contribuem fortemente para a sua naturalização e multiplicação na cultura.

Assim, numa cena que foi ao ar no dia 26/08, a mando de Beatriz (Gloria Pires), Osvaldo (Werner Schünemann) vai sequestrar a advogada Inês (Adriana Esteves), e levá-la até o alto do morro Babilônia, onde ele vai torturá-la para que ela deixe a presidência da construtora Souza Rangel. Osvaldo coloca a advogada dentro de uma pilha de pneus, em que joga gasolina e ameaçar atear fogo.

Uma conversa flagrada num bar de São Paulo, numa mesa grande onde as pessoas prestaram atenção ao capítulo da novela que a TV exibia, pode-se perceber o efeito imediato desta cena – aprovação, e votos de que as duas personagens femininas que ousaram se beijar, merecessem destino igual.

É precisamente isso que cansamos de apontar, quando falamos da influência na cultura, e na formação da subjetividade da população, pelo conteúdo da mídia.

Tudo bem que este procedimento não foi inventado pela Globo, nem pelos autores da novela, que reproduziram uma cena de violência que deve ter ocorrido em algum lugar do país, e que lhes pareceu forte o bastante para, quem sabe, resgatar a audiência nos capítulos finais.

Mas, mais do que a audiência de uma novela, cabe pensar no que deveria ser (mas infelizmente não é) a função e responsabilidade social da mídia – e, particularmente, quando falamos de uma mídia de massas, que também é uma concessão pública.

A novela terminou, e não há resgate possível, nela, com relação ao episódio em questão. Mas também não podemos deixá-lo passar em branco e, no mínimo, alertar os autores de novela, os decisores da mídia, e as autoridades governamentais, sobre o prejuízo que esta inconsequência pode trazer para a nossa sociedade, naturalizando assim mais este episódio de violência de gênero, e de violência em geral.

Ainda mais num tempo em que parece estar se legitimando o “fazer a justiça com as próprias mãos”, como relatado em dois episódios recentes, cobertos pela mídia.

No primeiro, a população agarra um moleque que roubou algo do supermercado, amarra o menino num poste, e bate nele até matá-lo, em São Luiz do Maranhão (http://extra.globo.com/casos-de-policia/assaltante-amarrado-em-poste-espan cado-ate-morte-por-pedestres-em-sao-luis-16686215.html). E, mais recentemente, um final trágico similar teria sido corajosamente sustado pela intervenção de Joel Rufino, historiador, que impede o linchamento de um ladrão, ensanguentado, que levava porrada de saradões, mulheres, velhos, em Copacabana, no sábado passado, enquanto um policial civil armado assistia a tudo sem se meter. (Mamapress, no site Geledés – fonte: http://joelrufinodossantos.com.br/paginas/biografia.asp)

Precisamos veicular este nosso alerta. E, mais do que isso, precisamos de uma manifestação impactante dos órgão que combatem a violência de gênero, que traçam políticas públicas de interesse das mulheres, e que, ao menos teoricamente, podem inclusive impactar em algum alerta institucional a ser encaminhado à Globo, com repercussão pública, para que tais situações não se repitam e, se possível, tenham algum espaço de resgate, de modo a contrabalançar o seu efeito nocivo.

Rachel Moreno

Atriz faz papel de empregada em duas novelas ao mesmo tempo

(UOL, 12/06/2015) No momento em que o papel de Olivia Araujo cresce em “I Love Paraisópolis”, é natural que mais espectadores se deem conta de que ela está atuando em “Chiquititas” também. O mais curioso é que em ambas as novelas a atriz vive uma empregada doméstica.

A Melodia, da novela das 19h da Globo, acaba de receber a missão da patroa, a vilã Soraya (Letícia Spiller), de se tornar sua informante na favela Paraisópolis. Olivia tem protagonizado cenas bem engraçadas contracenando também com o mordomo da megera, Junior (Frank Menezes).

Olivia Araujo e Frank Menezes contracenando em ‘I Love Paraisópolis’ (Foto: Reprodução)

Na trama infantil do SBT, Olivia vive Shirley, também uma empregada espirituosa. Ela entrou na novela em 2014 e ainda vai aparecer em alguns capítulos antes do fim, previsto para agosto de 2015. O interminável folhetim (nesta sexta, 12, chega ao 500º capítulo) já havia encerrado as suas gravações quando a atriz começou o seu trabalho na Globo. Olivia Araujo representando na novela infantil ‘Chiquititas’ (Foto: Reprodução)

A trajetória de Olivia na televisão confirma a reclamação de que atores negros têm muito poucas oportunidades neste mercado. O seu trabalho anterior foi em “Cheias de Charme”, em 2012. Adivinhe em qual papel? Novamente uma empregada, Jurema, amiga da “empreguete” Penha (Thais Araujo).

Quem me chamou a atenção para a dupla atuação de Olivia foi o leitor Railan Soares, a quem agradeço.

Mauricio Stycer

Acesse no site de origem: Atriz faz papel de empregada em duas novelas ao mesmo tempo (UOL, 12/06/2015) Morre, aos 85 anos, a atriz Odete Lara

(Jornal Nacional, 04/02/2015) Atriz sofreu infarto manhã desta quarta- feira (04) enquanto dormia. Corpo será cremado na quinta-feira (5) em Nova Friburgo, Região Serrana do RJ.

Morreu, na manhã desta quarta-feira (4), no Rio de Janeiro, a atriz Odete Lara. A última vez em que a atriz deu vida a um personagem na TV foi há 20 anos. A novela era “Pátria Minha”.

A bela loira, de olhos verdes começou a carreira como modelo. Odete Lara participou do primeiro desfile de moda do país, na década de 50 e chegou à TV como garota propaganda para depois se tornar atriz.

As atrizes Eva Todor, Tonia Carrero, , Leila Diniz, Odete Lara e em 1968 durante a Passeata dos Cem Mil em protesto contra a Ditadura Militar no Brasil no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)

Virou musa do cinema novo. Atuou em mais de 40 filmes, como “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha, e, clássicos como “Vai trabalhar vagabundo” e “Bonitinha, mas ordinária”, adaptação da peça de Nelson Rodrigues,

Odete Lara também cantava e chegou a gravar com Vinicius de Morais. No auge da carreira, se converteu ao budismo, deixou a fama de lado e passou a viver em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio.

Publicou quatro livros, três autobiográficos e traduziu várias obras do budismo.

Há três meses, quando a saúde ficou mais frágil, Odete Lara passou a morar em uma casa de repouso no Rio. Ela sofreu um infarto na manhã desta quarta-feira (04) enquanto dormia, aos 85 anos.

Odete Lara na Passeata dos Cem Mil em 1968 (Foto: Reprodução)

“Ela foi uma grande estrela do cinema brasileiro. Tinha uma naturalidade, entende?”, disse a atriz .

“Ela foi uma feminista, uma pessoa que quebrou tabus, venceu barreiras, ultrapassou tudo e impôs um novo comportamento para as mulheres”, afirmou a cineasta Ana Maria Magalhães. O corpo da atriz Odete Lara será cremado na quinta-feira (5) em Nova Friburgo.

Acesse no site de origem: Morre, aos 85 anos, a atriz Odete Lara (Jornal Nacional, 04/02/2015)

MPF não vê irregularidade em cenas com homossexuais em novela da Globo

(Procuradoria Geral da República, 19/01/2015) Classificação indicativa não deve diferenciar orientações sexuais

“A avaliação de cenas que envolvam conteúdo de cunho sexual não pode ter como elemento distintivo o fato de estas relações ocorrerem entre pessoas do mesmo sexo ou não”. Com esse entendimento, especialistas em direitos humanos do Ministério Público Federal (MPF) consideraram adequadas à classificação indicativa duas cenas envolvendo personagens homossexuais na novela “Império”, exibida pela Rede Globo. A subdivisão da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) sediada na 2ª Região (RJ/ES) homologou o arquivamento de uma apuração feita a partir da denúncia de um cidadão que considerou que a novela exibia conteúdo impróprio.

Tanto a procuradora da República que apurou o caso quanto os membros dessa subdivisão – Núcleo de Apoio Operacional à PFDC-2ª Região (NAOP2) – concluíram que as cenas devem ser avaliadas em razão dos elementos sexuais expostos, independentemente do gênero dos personagens, mesma posição adotada pelo Ministério da Justiça (MJ). O procurador regional da República João Marcos Marcondes, relator do caso, argumentou em seu voto que o Guia Prático da Classificação Indicativa, do MJ, não considera os personagens envolvidos. “No que se refere a conteúdo que envolva sexo e nudez, o documento não faz qualquer distinção entre cenas que envolvam personagens heterossexuais ou homossexuais, em atendimento aos direitos fundamentais à igualdade e à dignidade da população LGBT”, explica o procurador regional.

Das três cenas criticadas pelo telespectador, apenas uma teria conteúdo impróprio para a classificação indicativa da novela, não recomendada para menores de 12 anos, na qual um dos personagens tira a camisa e faz uma dança sensual para outro. O Ministério da Justiça considera essa situação imprópria para menores de 14 anos. Ainda assim, a procuradora da República que atuou no caso apurou que a Rede Globo foi notificada pelo MJ para adequar as cenas da novela à classificação indicativa, e considerou a questão solucionada, sem a necessidade de encaminhamento judicial, entendimento seguido pelo NAOP2.

Acesse no site de origem: MPF não vê irregularidade em cenas com homossexuais em novela da Globo (Procuradoria Geral da República, 19/01/2015)

Novela angolana leva para a TV discussão sobre igualdade de gêneros

(Agência Brasil, 12/11/2014) A novela Windeck – Todos os Tons de Angola estreou nesta semana na TV Brasil, e para a atriz Edusa Chindecasse, a trama será uma oportunidade para os brasileiros discutirem a representação dos negros e a igualdade de gêneros no mercado de trabalho. O lançamento da novela será comemorado com uma festa, na noite de hoje (12), na zona sul do Rio de Janeiro.

O folhetim foi ao ar em Angola, entre 2012 e 2013, e concorreu ao Emmy internacional de melhor novela ao lado de Avenida Brasil e Lado a Lado, trama da TV Globo que saiu vencedora. Na história, Edusa interpreta Luena Voss, uma mulher que volta de Londres para assumir a direção da revista de moda de seu pai, a Divo, frustrando as ambições de outros personagens pelo cargo.

O destaque profissional da personagem, na visão de Edusa, reflete uma mudança na sociedade angolana, em que mulheres cada vez mais buscam os cargos de chefia. “Nosso país era um país só de homens, em que as mulheres não tinham lugar no Parlamento, não tinham cargos de destaque. Mulher era só para ficar em casa e cuidar dos filhos. Hoje, temos mulheres em cargos de destaque. Fazer uma personagem dessa é representar essas mulheres”, disse ela.

Edusa também considera que o fato de a novela ter 100% do elenco negro vai chamar a atenção dos brasileiros: “Vai criar uma curiosidade nas pessoas, e sinto que os brasileiros negros vão poder olhar para a novela e ver a si mesmos. Vão dizer: nós estamos aí, e é possível fazer isso”.

Tendo como cenário principal a redação de uma revista de moda, a novela será uma janela para que os brasileiros conheçam também o modo de se vestir no país africano, além de sua música, cultura e culinária. “Já há muitos anos, desde a decada de 1980, o povo angolano vê novelas brasileiras. Nós vemos até hoje, e conhecemos cultura brasileira graças às novelas”, acrescentou.

Outro tema presente na novela é a homossexualidade, mostrada na revelação de um personagem rejeitado pela família e chantageado por inimigos. “Em Angola, há tabu muito grande em relação a isso. Ou não se fala, ou se finge que não existe. Você vai para a rua e vê que existe, mas não pode falar em casa, porque é uma sociedade conservadora”, disse a atriz. Segundo ela, a intenção é mostrar que as pessoas gostam de outras pessoas e não de suas sexualidades. “Vamos falar sobre coisas que não existem só em Angola, mas no Brasil”, concluiu.

Vinícius Lisboa; Colaborou Tâmara Freire, das Rádios EBC Acesse no site de origem: Novela angolana leva para a TV discussão sobre igualdade de gêneros (Agência Brasil, 12/11/2014)

Novela que mostra cultura do povo angolano será exibida no Brasil

(Agência Brasil, 10/11/2014) O público brasileiro vai poder acompanhar, a partir de hoje (10) na TV Brasil, uma novela na qual quase todos os atores são negros e desempenham os mais variados papéis como empresários, modelos e jornalistas. Além de mostrar um cenário de glamour e ambição, a novela Windeck, produzida em Angola, traz elementos da tradição e da cultura africana, como costumes e dança.

“Não é uma mera exibição de novela, é política pública. Estamos dando espaço para a representação negra positiva e para a África se mostrar para os brasileiros da maneira que o brasileiro mais gosta e melhor recepciona a informação”, explica o diretor-geral da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Eduardo Castro. Antes de decidir pela exibição da novela, a EBC promoveu discussões com integrantes do movimento negro para verificar a receptividade da trama.

Castro destaca que, em Windeck, os personagens negros aparecem em funções de destaque na sociedade, como donos de empresas, presidentes de banco e modelos. “Negro não é o que vemos nas nossas novelas: serviçal, abridor de porta, jogador de futebol e pagodeiro”, diz. Além de apresentar elementos culturais de Angola, a novela traz temas como a violência doméstica, a homofobia e as doenças sexualmente transmissíveis. Segundo Castro, todos esses temas serão debatidos nos programas da EBC.

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, foi a primeira a assistir a um capítulo da novela. Por acreditar que a exibição da trama representa a concretização de uma política pública, a secretaria patrocinou o licenciamento da novela para a transmissão no Brasil.

Para a ministra, Windeck representa uma trincheira importante, pois as novelas brasileiras mostram uma imagem do negro estereotipada. “A exibição da novela é fruto de uma parceria da Seppir e da EBC para mostrar que é possível, dentro de um gênero que é tão comum no Brasil, ter protagonistas negros, é algo simples de fazer”, disse a ministra, em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil.

A secretária de Políticas para Comunidades Tradicionais da Seppir, Silvany Euclênio, diz que a exibição da novela no Brasil deverá servir como um contraponto às novelas produzidas no país, onde a maioria do elenco é branco e os negros são incluídos em papéis menores. “Vamos ver negros em diferentes papéis, tanto personagens com características positivas, como mais negativas, como é o ser humano de qualquer origem racial ou étnica”, avalia.

O cineasta Joel Zito de Araújo integrou um dos grupos focais para avaliar a novela. Ele acredita que a trama vai causar um choque estético no público brasileiro, por contar com a maioria do elenco negro, além de mostrar uma visão da África com um grande nível de desenvolvimento, desconstruindo a imagem que muitos têm do continente. “Embora seja uma telenovela, com os cacoetes típicos, que não são muito voltados para o realismo, também nos ajuda a viver um pouco da cultura angolana”, diz.

Ele aposta que o público negro terá uma grande identificação com a telenovela e também comemora o fato de pretos e pardos não aparecerem apenas como subalternos. “É a primeira telenovela que pode despertar um encanto grande na população negra. E se uma parcela dessa população negra acompanhar a telenovela, é uma grande conquista para a EBC”, diz.

O cineasta, entretanto, não tem expectativa de que a trama seja um grande sucesso em todo o país e acredita que Windeck vai agradar mais o público que já gosta desse gênero, especialmente quem gosta de assistir a novelas mexicanas e venezuelanas. “A novela está mais próxima desse tipo de dramaturgia do que da modernidade que tem a dramaturgia da telenovela brasileira”, avalia.

Windeck mostra um continente africano moderno, jovem, completamente diferente do que o Brasil está acostumado a ver, na avaliação da jornalista Angélica Basthi. Para ela, a novela vai ser um marco para a televisão brasileira por ter protagonistas negros e trazer temas próximos da nossa sociedade. “Acho que vai ter uma ótima repercussão e vai criar um novo padrão de visibilidade do negro na sociedade brasileira”, avalia.

Por outro lado, ela critica a forma como as mulheres são tratadas na novela. “Acho que será uma oportunidade para nós discutirmos, aqui no Brasil, as nossas relações de gênero”, diz Angélica, que integra a Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio de Janeiro.

O termo Windeck é uma gíria angolana usada para identificar pessoas gananciosas que querem ascender socialmente a qualquer preço. A trama é ambientada em Luanda e é centrada nos bastidores da redação de uma revista chamada Divo.

Windeck tem 140 capítulos e é a primeira novela produzida em Angola. A trama já foi exibida pela emissora TPA, de Angola, e pela RTP1, de Portugal, e em 2013 esteve entre as quatro telenovelas indicadas ao Emmy Internacional, junto com duas obras brasileiras e uma canadense.

A classificação indicativa da novela é 16 anos, por isso será exibida às 23h, de segunda a sexta-feira. A novela será transmitida com áudio original, ou seja, os atores falam o português de Angola, mais próximo à língua falada em Portugal. Ao surgir alguma expressão diferente da usada no Brasil, ela será explicada com uma legenda ou o telespectador será convidado a ir ao site da novela, onde há um glossário. Também há a opção de usar o recurso closed caption da televisão, uma forma de legenda oculta.

Sabrina Craide

Acesse no site de origem: Novela que mostra cultura do povo angolano será exibida no Brasil (Agência Brasil, 10/11/2014) Assim como na vida real, mocinhas que fazem aborto são condenadas na ficção

(Boa Informação, 02/10/2014) Há pelo menos duas opiniões – por razões diametralmente opostas – a cerca do aborto. A primeira defende a prática alegando que a mulher é um ser livre e tem o direito da escolha, principalmente quando envolve a maternidade. O corpo é dela e ponto. A religião, a família, o parceiro e a sociedade não devem opinar sobre a decisão. A segunda, por questões éticas, religiosas ou científicas, diz ser contra o método porque a decisão não cabe ser feita exclusivamente pela mulher, mas também a vida de mais um ser humano. Por razões divinas, dizem, o feto ou bebê tem direito de viver e ser amado. A liberdade de um não pode prejudicar o direito do outro e ponto.

Concordando ou não, legalizando ou não, o aborto sempre existiu e sempre existirá. No Brasil, cerca de um milhão de mulheres abortam por ano e, dentre esse número, ao menos 250 mil sofrem complicações em abortos clandestinos, decorrentes da prática malfeita em locais sem condições de higiene ou segurança, o que leva a assumir no ranking a quarta posição em causa de morte materna, segundo o Ministério da Saúde.

O assustador é que todas essas mulheres que encaram o aborto clandestino são pobres, podem ser mocinhas ou vilãs. Geralmente recorrem a métodos arriscados, como a utilização de remédios e objetos pontiagudos. Algumas sentem dores inimagináveis e sangram até a morte. Se sobrevivem, são algemadas, detidas e interrogadas porque, de acordo com o código penal, abortar no país é crime previsto no Código Penal Brasileiro, datado de 1940. O ato só é permitido em casos de gestação resultante de estupro, gestação de anencéfalos e quando há risco de vida da mãe. Qualquer coisa além disso, nas entrelinhas do Código Penal, é considerado capricho ou injustiça. Isis Valverde, Sandra de Boogie Oggie (Foto: Divulgação)

Enquanto todas essas questões de interesse social gritam na cabeça dos brasileiros (sobretudo brasileiras), o eco não parece alcançar a telenovela, grande formadora de opinião. A personagem de Isis Valverde, a Sandra, de Boogie Oogie (Globo, 18h), conheceu o personagem de Marco Pigossi, o Rafael, e, depois de inúmeros empecilhos, finalmente ficou numa boa com o cara. Só que semana passada, no auge do conto de fadas, ela descobre que está grávida do seu noivo que morreu em um acidente aéreo, no começo da trama.

Em nenhum diálogo, em nenhum ataque de desespero, sequer passou pela cabeça da mocinha não ter a criança. Sequer foi cogitado um aborto, tão praticado na década de 1970 e 80 quando se passa a novela, período em que, segundo o Ministério da Saúde, estima-se que quatro milhões de abortos foram feitos por ano, porque os métodos anticoncepcionais eram poucos ou falhos e a disseminação no país de políticas deplanejamento familiar era precária.

Taís Araújo, Verônica de Geração Brasil (Foto: Divulgação)

Em Geração Brasil (Globo, 19h), a personagem de Taís Araújo, a jornalista Verônica, decidida a investigar a vida de Jonas (Murilo Benício) para escrever uma biografia não autorizada dele, acaba se envolvendo e se apaixonando pelo milionário, até então casado. Separados pelos bons e velhos truques do folhetim, eis que a moça, agora sozinha, é surpreendida pelo resultado da gravidez. Por lá também um aborto sequer passou pela cabeça da personagem, ainda que por alguns segundos após a notícia.

É claro que em ambas as tramas a narrativa está em jogo. Sandra e Verônica precisam dessas benditas crianças para efervescer seus folhetins. Mas o problema está justamente aí. A gravidez nas novelas é empurrada como desculpa para conflitos entre mocinhos e vilões e, quando isso acontece, nada pode ser feito a não ser o parto. A decisão do aborto na ficção não existe, contrariando os dados do Ministério da Saúde no país onde essas obras são representadas. Já o aborto espontâneo vai permear sempre. É maisfácil pôr culpa no destino do que na consciência de uma personagem que será traduzida pelo telespectador.

Telenovela se molda ao público conservador

Embora nos tempos de agora haja a preocupação de se levar temas contemporâneos para a TV, principalmente sobre questões de sexo e sexualidade, a telenovela se faz dúbia: ora se comporta de maneira moderna, ora se comporta de maneira arcaica, devido à campanha delimitada contra tudo o que representa valores que foram preservados por séculos pelas sociedades — desde as mais primitivas até o moralismo que se conserva nos dias de hoje — mundo afora.

O gênero telenovela pode falar de tudo: alcoolismo, violência doméstica, fornicação, adultério, corrupção, etc, o público aceita. Mas aborto nem pensar. A mocinha pode ser reduzida a um monte de lágrimas, ser humilhada, sequestrada, enganada, mas aborto, sempre sinônimo de crime, nunca. Vilãs podem porque elas são mal vistas e vão pagar no final das contas.

Amor à Vida (2013), com seu hospital como cenário, trouxe o assunto superficialmente, sem criar relação intimista entre a personagem abordada com o espectador, tal qual aconteceu em Saramandaia (2013). Ambas as novelas não fizeram refletir se o bom comportamento seria aquele bem-visto pelos outros ou aquele que faz o ser humano se sentir livre. Não permitiram o espectador melhorar ou até mesmo mudar sua opinião, seja ela qual for. As que foram e as que estão no ar não mostram a luta pelos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres e a luta para que nenhuma delas morra por morte materna. Se é um problema de pressão na alta cúpula da emissora, desleixo ou falta de interesse dos autores sobre o tema, ninguém sabe.

Mas dizem que o autor Manoel Carlos entende da alma feminina. Há pouco tempo, na novela Em família, o autor balanceou opinião. A personagem de Jéssica Alves, empregada da personagem de Vanessa Gerbelli, confessou ter feito três abortos e não ter se arrependido. Alegou ser jovem e não ter condições financeiras para ter filhos. Já a personagem daatriz Jéssica Barbosa, a Neidinha, foi vítima de estupro coletivo, engravidou, não cogitou o aborto e teve o bebê. Entretanto, nenhuma delas era protagonista.

Mas quando Maneco criou a Helena de Taís Araújo, ousou ao colocar na sinopse de Viver a Vida (2009) que, quando jovem, a protagonista havia feito um aborto em nome da carreira demodelo. Condiz com a realidade. Sofisticada, bonita e rica, foi massacrada pelos telespectadores. Não por conta desses adjetivos ou pela cor da pele, mas porque o público, sempre intervindo com seus julgamentos, considerou Helena uma criminosa, uma espécie de vilã mascarada de mocinha.

Se o amor entre pessoas do mesmo sexo, tais quais seus conflitos, já foram absorvidos pelos folhetins, a questão do aborto ainda é tabu inquebrável na teledramaturgia. Para parcela do telespectador, aborto é palavrão, é clandestino, é feio, é coisa de puta, é feito por almas femininas sem sentimento. Se a mocinha ou qualquer personagem de bom caráter ousa pensar no assunto, coitada, é demonizada sem redenção.

Murilo Melo

Acesse no site de origem: Assim como na vida real, mocinhas que fazem aborto são condenadas na ficção (Boa Informação, 02/10/2014)