<<

PIER | , Caracterização da situação de referência CARREÇO E AREOSA

Viana do Castelo, abril de 2016

1

EQUIPA TÉCNICA

COORDENADOR: Paulo Castro – Eng. Agrónomo

ESTRUTURA TÉCNICA: Duarte Mendes – Biólogo Duarte Silva – Biólogo José João Teixeira – Eng. Agrónomo Patrícia Pereira – Eng. Agrónoma Gonçalo Andrade – Arq. Paisagista Rui Carvalho - Arq. Paisagista / SIG Sofia Pacheco - Arq. Paisagista Tiago Costa – Arq. Paisagista / SIG Victor Esteves - Arq. Paisagista

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

2

Índice

1. INTRODUÇÃO ...... 9 1.1 ÁREA DE INTERVENÇÃO ...... 9 2. ENQUADRAMENTO ESTRATÉGICO, LEGAL, SERVIDÕES E RESTRIÇÕES ...... 10 2.1 ÂMBITO NACIONAL ...... 12 2.1.1 PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO (PNPOT) 12 2.1.2 PLANO DE ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA -ESPINHO ...... 12 2.2 ÂMBITO REGIONAL ...... 13 2.2.1 PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DO NORTE (PROT-N) ...... 13 2.3 ÂMBITO MUNICIPAL ...... 14 2.3.1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE (PDMVC) ...... 14 2.3.2 PLANO DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO RÚSTICO DE AFIFE, CARREÇO E AREOSA (PIERACA) ...... 15 2.4 SERVIDÕES E RESTRIÇÕES DE UTILIDADE PÚBLICA EXISTENTES ...... 19 2.4.1 DOMÍNIO HÍDRICO ...... 19 2.4.2 ÁREAS DE RESERVA, PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ...... 20 2.4.2.1 Reserva Ecológica Nacional (REN) Decreto-Lei n.º 239/2012, de 2 de novembro, que estabelece o RJREN ...... 20 2.4.2.2 Reserva Agrícola Nacional (RAN) - Decreto-Lei nº 199/2015, de 16 de setembro . 20 2.4.2.3 Rede Natura 2000 - Sítio Litoral Norte, código PTCON0017 - RCM nº 76/00 de 5 de julho……… ...... 20 2.4.3 PERÍMETROS DE EMPARCELAMENTO ...... 22 2.4.4 PATRIMÓNIO EDIFICADO ...... 22 2.4.5 INFRAESTRUTURAS BÁSICAS ...... 23 2.4.6 INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES ...... 23 2.4.7 CARTOGRAFIA ...... 23 3. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA ...... 23 3.1 CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA ...... 23 3.1.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ...... 23 3.1.1.1 Metodologia ...... 23 3.1.1.2 Geologia ...... 24 3.1.1.3 Relevo ...... 26 3.1.1.4 Declives ...... 26 3.1.1.5 Exposição Solar ...... 27 3.1.2 CLIMA ...... 27 3.1.2.1 Metodologia ...... 27 3.1.2.2 Classificação Climática ...... 28 3.1.2.3 Localização das Estações ...... 28 3.1.2.4 Temperatura do Ar ...... 28 3.1.2.5 Precipitação ...... 28 3.1.2.6 Humidade Relativa do Ar...... 29

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

3

3.1.2.7 Vento ...... 29 3.1.3 HIDROGRAFIA ...... 29 3.1.3.1 Metodologia ...... 29 3.1.3.2 Recursos Hídricos Superficiais ...... 30 3.1.3.3 Bacias de drenagem PIERACA ...... 31 3.1.3.4 Recursos Hídricos Subterrâneos...... 31 3.1.4 SOLOS ...... 32 3.1.4.1 Metodologia ...... 32 3.1.4.2 Caracterização dos Solos ...... 33 3.1.4.3 Aptidão do Solo ...... 38 3.1.5 ECOLOGIA ...... 39 3.1.5.1 Metodologia ...... 39 3.1.5.1.1 Cartografia de Habitats e Biótopos ...... 39 3.1.5.1.2 Flora ...... 41 3.1.5.1.3 Fauna ...... 42 3.1.5.2 Resultados ...... 44 3.1.5.2.1 Habitats e Biótopos ...... 44 3.1.5.2.2 Flora ...... 58 3.1.5.2.3 Fauna ...... 72 3.2 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA ...... 85 3.2.1 SÓCIO-ECONOMIA ...... 85 3.2.1.1 Metodologia ...... 85 3.2.1.2 Caraterização das e população ...... 85 3.2.1.3 Dinâmicas sociais/Associativismo ...... 88 3.2.1.4 Caracterização das atividades económicas e recreativas ...... 89 3.2.1.5 Equipamentos ...... 91 3.2.2 REDES E INFRAESTRUTURAS...... 93 3.2.2.1 Metodologia ...... 93 3.2.2.2 Infraestruturas de águas e elétricas ...... 93 3.2.2.3 Vias e Caminhos ...... 95 3.2.3 PATRIMÓNIO ...... 98 3.2.3.1 Metodologia ...... 98 3.2.3.2 Enquadramento ...... 99 3.2.3.3 Elementos Patrimoniais culturais, religiosos e arqueológicos e naturais ...... 100 3.2.4 TURISMO ...... 104 3.2.4.1 Metodologia ...... 104 3.2.4.2 Caraterização do turismo e enquadramento regional ...... 105 3.2.4.3 Percursos e trilhos temáticos ...... 106 3.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO...... 108 3.3.1 METODOLOGIA ...... 108 3.3.2 USO DO SOLO ...... 109 3.3.3 OCUPAÇÃO DO SOLO ...... 112 3.3.4 OCUPAÇÃO DO USO DE SOLO ...... 115

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

4

3.4 AGRICULTURA ...... 119 3.4.1 METODOLOGIA ...... 119 3.4.2 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA AO LONGO DO TEMPO ...... 120 3.4.3 AGROPECUÁRIA ...... 122 3.4.4 ESTUFAS E VIVEIROS ...... 123 3.4.5 PERÍMETRO DE EMPARCELAMENTO RURAL DE AFIFE, CARREÇO E AREOSA ...... 126 3.4.6 CARACTERIZAÇÃO DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS ...... 128 3.4.7 CARACTERIZAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS...... 128 3.5 PAISAGEM ...... 130 3.5.1 METODOLOGIA ...... 130 3.5.2 ANÁLISE DA ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA PAISAGEM ...... 133 3.5.3 CARÁCTER DA PAISAGEM – ATRIBUTOS ...... 136 3.5.4 UNIDADES DE PAISAGEM ...... 136 3.5.5 BACIAS VISUAIS E EXPOSIÇÃO VISUAL DA PAISAGEM ...... 141 3.5.6 DISSONÂNCIAS AMBIENTAIS E PAISAGÍSTICAS ...... 144 Bibliografia ...... 148 Sites Consultados ...... 151 Legislação nacional consultada ...... 152

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

5

Índice de figuras

Figura 1. Localização do concelho de viana do castelo, municípios vizinhos e localização da área de intervenção do PIERACA...... 10 Figura 2. Enquadramento da área de estudo na RNAP e Rede Natura 2000...... 21 Figura 3. Troço final do rio de Cabanas, em Afife ...... 31 Figura 4. Caraterização dos solos no Concelho de Viana do Castelo ...... 33 Figura 5. Unidades cartográficas no concelho de Viana do Castelo ...... 36 Figura 6. Unidades Cartográficas na área do PIERACA ...... 37 Figura 7. Fertilidade, Espessura e Aptidão agrícola ...... 38 Figura 8. Exemplo de uma transformação da nomenclatura do COS 2007 para a nomenclatura de habitats sem alteração da representação planimétrica ...... 40 Figura 9. Transformação planimétrica e temática da COS 2007 na cartografia de habitats naturais ...... 41 Figura 10. Localização dos inventários na área de estudo ...... 42 Figura 11. Combinações de habitats e subtipo de habitat ...... 48 Figura 12. Representação da vegetação típica do Habitat 1230 ...... 49 Figura 13. Representação do Habitat 1230 ...... 49 Figura 14. Cartografia dos Biótopos ...... 54 Figura 15. Acacial...... 55 Figura 16. Biótopo Litoral Rochoso com Spartina ...... 55 Figura 17. Distribuição dos habitats por zonas de importância ...... 57 Figura 18. Spergularia australis ...... 59 Figura 19. Allium ericetorum ...... 60 Figura 20. Genista ancistrocarpa ...... 60 Figura 21. Gentiana pneumonanthe ...... 61 Figura 22. Localização dos núcleos das espécies RELAPE e inscritas na Diretiva Habitat ...... 62 Figura 23. Acacia longifolia e Carpobrotus edulis ...... 64 Figura 24. Spartina patens ...... 65 Figura 25. Stenotaphrum secundatum ...... 65 Figura 26. Oxalis pes-caprea ...... 66 Figura 27. Cortaderia seoane ...... 66 Figura 28. Hakea sericea ...... 67 Figura 29. Canna indica ...... 67 Figura 30. Conyza bilbaoana ...... 68 Figura 31. Datura stramonium ...... 68 Figura 32. Euryops chrysanthemoides ...... 69 Figura 33. Hydrocotyle bonariensis ...... 69 Figura 34. Ipomoea indica ...... 70 Figura 35. Senecio tamoides ...... 70 Figura 36. Symphyotrichum subulatum ...... 71 Figura 37. Zantedeschia aethiopica e Ageratina adenophora ...... 71

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

6

Figura 38. Faisão (Phasianus colchicus) observado numa área agrícola na área de estudo ...... 78 Figura 39. Mapa dos principais valores faunísticos considerados para a área de estudo ...... 84 Figura 40. Índice de Envelhecimento no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias de Afife, Areosa e Carreço...... 87 Figura 41. Linhas de alta e baixa tensão ...... 95 Figura 42. Identificação % das tipologias de pavimentos existentes ...... 97 Figura 43. Tipologia de pavimentos existentes ...... 98 Figura 44. Forte de Paçô (esquerda) e Forte da Areosa (direita) ...... 101 Figura 45. Moinho de Vento em Areosa (esquerda) e Moinho do Petisco em Carreço (direita)...... 102 Figura 46. 'Barracas' de Paçô (esquerda) e 'Barracas' de Carreço (direita)...... 103 Figura 47. Distribuição do Uso do Solo ...... 112 Figura 48. Distribuição das categorias de Ocupação do Solo ...... 114 Figura 49. Ocupação do uso agrícola ...... 116 Figura 50. Ocupação do solo (ha) ...... 118 Figura 51. Ocupação do solo (%) ...... 119 Figura 52. CAMPOS DA VEIGA recém semeados ...... 121 Figura 53. Imagem aerea virgin flowers ...... 124 Figura 54. imagem aerea virgin flowers ...... 124 Figura 55. Imagem aéra da exploração- Aromáticas Vivas ...... 125 Figura 56. imagem aerea – viveiros juca ...... 126 Figura 57. Balanço mensal dos efluentes líquidos ...... 130 Figura 58. Metodologia de análise da paisagem ...... 131 Figura 59. Evolução da rede de circulação viária entre 1958 – 2015 (interpretação de fotografias áreas, cartas militares, ortofotomapas) ...... 134 Figura 60. Veiga de Afife ...... 138 Figura 61. Sistema dunar – Praia de Paçô ...... 138 Figura 62. Veiga de Afife – extensão das folhas de cultivo ...... 139 Figura 63. Vista do Forte para a Veiga de Areosa ...... 139 Figura 64. Veiga da Areosa ...... 139 Figura 65. Mata de proteção ...... 140 Figura 66. Núcleo urbano de Montedor...... 140 Figura 67. Sistema dunar e relação com a Veiga de Afife ...... 141 Figura 68. Mata de proteção e Montedor...... 141 Figura 69. Áreas húmidas na relação com a Veiga da Areosa ...... 141 Figura 70. Vistas a partir do Monte de Santo António ...... 142 Figura 71. Vistas a partir do Monte de Santo António ...... 142 Figura 72.Estruturas da rede elétrica na área do PIERACA ...... 145 Figura 73. A ETAR de Areosa e os coletores a descoberto ...... 146 Figura 74. Antigo Matadouro de Aves, em Areosa (à esquerda). Tanques abandonados de antiga unidade de aquacultura, Afife (à direita)...... 147 Figura 75. Construções em ocupação inadequada do cordão dunar ...... 147

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

7

Índice de tabelas

Tabela 1. Lista de áreas classificadas na área de estudo a nível europeu, pela RN 2000, e a nível nacional, regional e local, pela Rede Nacional de Áreas Protegidas ...... 21 Tabela 2. Grupos principais, unidades e sub-unidades de solo no concelho de Viana do Castelo ...... 34 Tabela 3. Grupos principais, unidades e subunidades de solo na área do PIERACA ...... 37 Tabela 4. Enquadramento dos códigos dos habitats na classe ...... 39 Tabela 5. Habitats e respetivos subtipos de habitats identificados na área de estudo ...... 46 Tabela 6. Combinações de habitats e subtipo de habitats e área de ocupação ...... 47 Tabela 7. Distribuição do tipo de Biótopos ...... 53 Tabela 8. Espécies da Flora Vascular (Anexo II, IV e V da Directiva ‘Habitats’) e espécies RELAPE, presentes no espaço classificado e na restante área de estudo não classificada ...... 58 Tabela 9. Listagem de espécies exóticas identificadas na área de estudo ...... 63 Tabela 10. Espécies faunísticas do SIC Litoral Norte alvo de orientações de gestão específicas 72 Tabela 11. Espécies de peixes migradores e dulciaquícolas presentes na área de estudo e respetivos estatutos de proteção ...... 73 Tabela 12. Número de espécies de anfíbios e répteis com estatutos de conservação pela DH e LVVP ...... 74 Tabela 13. Número de espécies de aves listadas para a área de estudo, divididas por fenologias, e respetivos estatutos de conservação pela DA e LVVP ...... 74 Tabela 14. Número de espécies de mamíferos (terrestres não voadores e morcegos) com estatutos de conservação pela DH e LVVP...... 76 Tabela 15. Número de espécies potencialmente presentes nos biótopos prados e campos agrícolas da área de estudo, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 77 Tabela 16. Número de espécies potencialmente presentes nas zonas de bosque da área de estudo, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 79 Tabela 17. Número de espécies associadas ao biótopo matos, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 79 Tabela 18. Número de espécies potencialmente presentes no biótopo povoamentos florestais da área de estudo, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 80 Tabela 19. Número de espécies potencialmente presentes no biótopo dunas da área de estudo, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 81 Tabela 20. Número de espécies potencialmente presentes no biótopo linhas de água da área de estudo, com as respetivas fenologias e estatutos de conservação ...... 83 Tabela 21. Evolução da população residente no concelho de Viana do Concelho e nas Freguesias em estudo. Fonte: INE (2002), Censos 2001 – Resultados definitivos; INE (2012), Censos 2011 – Dados atualizados 20 novembro de 2012 ...... 86 Tabela 22. População residente no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias em estudo, por grandes grupos etários. Valores em Percentagem e Totais...... 86

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

8

Tabela 23. Distribuição percentual da população residente por nível de escolaridade mais elevado completo (2001) no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias de Afife, Areosa e Carreço...... 87 Tabela 24. Distribuição percentual da população residente por nível de escolaridade mais elevado completo (2001) no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias de Afife, Areosa e Carreço ...... 88 Tabela 25. Dinámica associativa na área de estudo ...... 88 Tabela 26. População ativa e taxa de atividade no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias de Afife, Areosa e Carreço ...... 90 Tabela 27. População empregada e distribuição por setores de atividade (2001-2011), no concelho de Viana do Castelo e nas freguesias de Afife, Areosa e Carreço...... 90 Tabela 28. Principais equipamentos das freguesias de Afife, Carreço e Areosa, localizados na Área do PIERACA ou na envolvente mais próxima...... 92 Tabela 29. Tipologia de Percursos viários em Km ...... 96 Tabela 30. Categorias de Qualificação do Solo ...... 109 Tabela 31. quantidades de produção declaradas pelos produtores entrevistados ...... 122 Tabela 32. Tipo de ocupação de solo ...... 132 Tabela 33. Classe de Ocupção do Solo ...... 133 Tabela 34. Intervalos das classes ...... 143

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

9

1. INTRODUÇÃO

Este relatório é desenvolvido no âmbito do Plano de Intervenção em Espaço Rústico das freguesias de Afife, Carreço e Areosa (PIERACA) no concelho de Viana do Castelo. Procede-se à caracterização da situação de referência da área de intervenção como ponto de partida para a definição de soluções que visem a melhoria da sustentabilidade da Paisagem das freguesias de Afife, Carreço e Areosa. O Plano será elaborado de acordo com o Regime Jurídico de Gestão Territorial (RJIT), aprovado pelo Decreto-lei nº 80/2015 de 14 de maio e legislação complementar. O presente documento de “Caracterização da Situação de Referência” faz parte integrante do desenvolvimento do PIERACA no que se refere ao seu conteúdo documental. Este estudo pretende analisar e caracterizar as diferentes componentes biofísicas e antrópicas presentes neste território, de modo a identificar os seus sistemas ecológicos e socio-ecológicos; analisar as componentes socioeconómicas na base da ocupação do solo, a sua história e tendências evolutivas a ter em consideração na definição das ações a implementar pelo plano; áreas de salvaguarda, que visem a proteção dos sistemas naturais e patrimoniais de referência; a salvaguarda do elevado valor paisagístico; a integração de espaços públicos e percursos de lazer, tendo em vista a boa gestão dos recursos ali existentes e a qualificação do espaço rural tendo como objetivo último a melhoria das condições de vida locais e regionais.

Este relatório está organizado em 3 Capítulos. Um primeiro capítulo introdutório e de enquadramento territorial. O segundo capítulo que se refere ao enquadramento estratégico e legal com levantamento das restrições e servidões existentes. O terceiro capítulo trata da caracterização da situação de referência na sua dimensão biofísica, onde se inclui a caracterização da Geologia e Geomorfologia, Clima, Hidrologia, Solos, Flora e Fauna e na sua dimensão antrópica onde se inclui a caracterização da socioeconómica, Redes e Infraestruturas, Património, Uso do Solo, Agricultura, Turismo e Paisagem.

1.1 ÁREA DE INTERVENÇÃO

A área de estudo, com 902 ha, localiza-se no concelho de Viana de Castelo e o seu âmbito territorial corresponde à área delimitada a oeste pelo limite da faixa marítima de proteção considerado nos Planos de Ordenamento da Orla Costeira (até à batimétrica dos 30m, com exceção das áreas sob jurisdição portuária - http://www.apambiente.pt), a sul pela Avenida de Figueiredo, a este pela Estrada Nacional 13 e a norte pelo limite do concelho de Viana do Castelo, definido na Carta Administrativa Oficial de (CAOP2015).

O concelho de Viana do Castelo localiza-se na região noroeste de Portugal, junto à costa atlântica, confrontando com os municípios de Caminha a norte, a este, Esposende e Barcelos a sul e sudeste. Ocupa uma área de 314km2, com 24km de costa, e é constituído por 27 freguesias.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

10

FIGURA 1. Localização do concelho de viana do castelo, municípios vizinhos e localização da área de intervenção do PIERACA

2. ENQUADRAMENTO ESTRATÉGICO, LEGAL, SERVIDÕES E RESTRIÇÕES

Ao abrigo da lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo aprovada pela Lei nº 31/2014 de 30 de Maio, verificaram-se alterações significativas no quadro legal e institucional em matéria de ordenamento do território, política de solos, salvaguarda e valorização do território.

O novo quadro da política de solos, de ordenamento do território e de urbanismo é desenvolvido através de instrumentos de gestão territorial que se materializam em Programas, que estabelecem o quadro estratégico de desenvolvimento territorial e as suas diretrizes programáticas ou definem a incidência espacial de políticas nacionais a considerar em cada nível de planeamento; e por Planos, que estabelecem opções e ações concretas em matéria de planeamento e organização do território bem como definem o uso do solo.

O âmbito nacional é concretizado através do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), programas sectoriais (PS) com incidência territorial e programas especiais de ordenamento do território (PEOT), compreendendo os programas de ordenamento de áreas protegidas (POAP), os programas de ordenamento de albufeiras de águas públicas (POAAP), os programas de ordenamento da orla costeira (POOC) e os programas de ordenamento dos estuários (POE). Os programas especiais constituem um meio de intervenção do Governo e visam a prossecução de objetivos considerados indispensáveis à tutela de interesses públicos e de recursos de relevância nacional com repercussão territorial.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

11

Os instrumentos de gestão territorial encontram-se tipificados nos seguintes diplomas legais:

• Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo (Lei de Bases), aprovada pela Lei nº 31/2014 de 30 de maio

A Lei de Bases Introduziu diversas alterações no quadro legal do ordenamento do território e urbanismo, entre as quais estabelece que o regime de uso do solo e respetiva execução é fixada nos planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal, pela classificação e qualificação do solo, passando apenas estes a vincular direta e imediatamente os particulares.

Os planos especiais de ordenamento do território, como o atual plano da de ordenamento da Orla Costeira – Caminha-Espinho, passam a programas especiais de ordenamento do território, perdendo a natureza regulamentar e a sua vinculação direta aos particulares, ainda que mantendo o vínculo para a administração. Nos termos do nº 4 do artigo 40.º da Lei de Bases “Os programas especiais constituem um meio supletivo de intervenção do Governo e visam a prossecução de objetivos considerados indispensáveis à tutela de interesses públicos e de recursos de relevância nacional com repercussão territorial, estabelecendo exclusivamente regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais, através de medidas que estabeleçam ações permitidas, condicionadas ou interditas em função dos objetivos de cada programa, prevalecendo sobre os planos territoriais de âmbito intermunicipal e municipal”, cabendo aos planos territoriais, de âmbito municipal e intermunicipal, estabelecer o regime de uso do solo e respetiva execução.

Esta lei definiu um regime transitório, que determina a integração de conteúdos dos planos especiais de ordenamento de território em vigor, nos planos territoriais aplicáveis à área abrangida.

• Regime Jurídico dos Instrumentos de gestão territorial (RJIT) aprovado pelo Decreto-Lei 80/2015 de 14 de Maio O sistema de gestão territorial organiza-se, num quadro de interação coordenada, nos âmbitos nacional, regional, intermunicipal e municipal. O âmbito regional é concretizado através dos programas regionais de ordenamento do território (PROT). O âmbito intermunicipal é concretizado pelo programa intermunicipal que assegura a articulação entre o âmbito regional e os planos intermunicipais de âmbito intermunicipal e municipal. Os planos intermunicipais de âmbito intermunicipal são o plano diretor intermunicipal, plano de urbanização intermunicipal e o plano de pormenor intermunicipal.

O âmbito municipal é concretizado através dos planos territoriais de âmbito municipal, compreendendo os planos diretores municipais (PDM), os planos de urbanização (PU) e os planos de pormenor (PP). O plano de pormenor desenvolve e concretiza o plano diretor municipal, definindo a implantação e a volumetria das edificações, a forma e organização dos espaços de utilização coletiva e o traçado das infraestruturas.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

12

2.1 ÂMBITO NACIONAL 2.1.1 PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO (PNPOT) O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) é um instrumento de desenvolvimento territorial de natureza estratégica que estabelece as grandes opções com relevância para a organização do território nacional, consubstancia o quadro de referência a considerar na elaboração dos demais instrumentos de gestão territorial e constitui um instrumento de cooperação com os demais Estados membros para a organização do território da União Europeia.

O PNPOT foi aprovado pela Lei n.º 58/2007, de 4 de setembro, retificada pelas Declarações de Retificação n.º 80-A/2007, de 7 de setembro, e n.º 103-A/2007, de 23 de n o PNPOT aponta estratégias territoriais que importa aqui referir no âmbito deste plano, como “Proteger a paisagem e ordenar os espaços protegidos como um pilar fundamental de desenvolvimento, de sustentabilidade e de expansão da atividade turística; (…) Preservar as condições de exploração das produções agropecuárias de qualidade; (…) Assumir como prioridade estratégica a recuperação dos défices ambientais;”.

No que se refere à área entre os rios e Lima o PNPOT aponta a importância do reforço do papel de Viana do Castelo como centralidade urbana; a necessidade de se “preservar as condições naturais de produção e a viabilidade das explorações de produtos agropecuários competitivos (…) ” e de “superar os défices ambientais, com prioridade para as situações mais graves em termos de qualidade de vida e de diminuição das potencialidades de valorização turística dos territórios.” Relativamente às opções estratégias e modelo territorial, o PNPOT constitui um dos instrumentos-chave para implementar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável, com desígnios e opções no âmbito de “um espaço sustentável e bem ordenado (...) Preservar o quadro natural e paisagístico, em particular os recursos hídricos, a zona costeira, a floresta e os espaços de potencial agrícola; Gerir e valorizar as áreas classificadas integrantes da Rede Fundamental de Conservação da Natureza”.

2.1.2 PLANO DE ORDENAMENTO DA ORLA COSTEIRA CAMINHA-ESPINHO O POOC Caminha-Espinho, face ao quadro legal e institucional em vigor, nomeadamente as alterações referentes à Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, encontra-se em fase de alteração, passando a integrar a categoria dos programas, pendendo o carácter vinculativo relativamente a particulares.

A área do PIERACA integra as áreas definidas no POOC como área de proteção costeira (APC), que “constitui a parcela de território situada na faixa de intervenção do POOC, considerada fundamental para a estabilidade do litoral, na qual se pretende preservar os locais e paisagens notáveis ou característicos do património natural e cultural da orla costeira, bem como os espaços necessários à manutenção do equilíbrio ecológico, incluindo praias, rochedos e dunas,

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

13

áreas agrícolas e florestais, zonas húmidas e estuários”. Identificam-se as várias categorias de espaços identificadas pelo POOC e presentes na área do plano: Praias em APC; Áreas de vegetação rasteira e arbustiva em APC; Áreas florestais em APC; Áreas agrícolas em APC; Rochedos em APC; Zonas húmidas em APC; Estuários em APC; Equipamentos em APC. O POOC Caminha-Espinho define ainda na área de intervenção a UOPG do “Núcleo urbano da praia de Carreço” definindo atos e atividades interditas nestas áreas, sujeitando esta área a um plano de pormenor (PP), a promover pela CMVC com a APA. Esta área por definição do âmbito do Plano encontra-se fora da área de intervenção.

2.2 ÂMBITO REGIONAL 2.2.1 PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DO NORTE (PROT-N) O PROT-N, que se encontra em fase de publicação, define a estratégia regional de desenvolvimento territorial, integrando as opções estabelecidas a nível nacional e considerando as estratégias municipais de desenvolvimento local, constituindo o quadro de referência para a elaboração dos planos municipais de ordenamento do território. O PROT-N, na sua versão para consulta pública, estabelece um modelo de organização do território regional, identificando os principais sistemas territoriais (sistema urbano, sistema biofísico, sistema de recursos produtivos e outros). Para cada um dos sistemas territoriais individualizados são definidos conjuntos de orientações estratégicas e de normas orientadoras. As orientações estratégicas do PROT-N para o sector agroflorestal e desenvolvimento rural são as seguintes:

• Melhorar o desempenho dos sectores agrícola, agropecuário e florestal, promover a especialização dos espaços produtivos, a valorização qualitativa, diferenciação dos produtos e a competitividade económica das explorações e a organização coletiva e estruturação vertical das fileiras.

• Revitalizar as atividades agrícolas, pecuárias e florestais, em especial nos territórios em perda demográfica, diversificando a base económica através da potenciação de produções de excelência e da articulação com atividades económicas e produtivas compatíveis.

• Assegurar a aplicação dos princípios de sustentabilidade ambiental e eco- condicionalidade nos modelos de produção agrícola, pecuária e florestal, designadamente práticas para o melhoramento da eficiência do uso dos recursos hídricos na atividade agrícola, valorização dos modos de produção e promoção da gestão multifuncional. O modelo territorial que o PROT-N veicula, no que diz respeito à sua dimensão agroflorestal, inclui a delimitação de uma unidade territorial, o Litoral Norte, classificada como de elevado potencial produtivo. Em relação a essa unidade territorial o plano refere o seguinte: “Para a otimização do potencial produtivo nas áreas de maior aptidão produtiva, designadamente no

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

14

Litoral Norte, de matriz policultural agrícola de carácter intensivo, colocam-se desafios de adaptação estrutural do sector às exigências do mercado e ao cumprimento do normativo ambiental e orientações dos instrumentos de política de ambiente. Por outro lado, será determinante contrariar a atual tendência de fragmentação e de artificialização dos solos sujeitos a elevada competição por usos não agrícolas, sobretudo na Área Metropolitana do e na Bacia Leiteira Primária do Entre Douro e Minho. A este nível, destacam-se a fileira agroalimentar, sobretudo ligada ao sector leiteiro, e a vitivinicultura.”

2.3 ÂMBITO MUNICIPAL 2.3.1 PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO (PDMVC) O Plano Diretor Municipal mantém-se no quadro legal atual, como um instrumento de definição da estratégia municipal ou intermunicipal, estabelecendo o quadro estratégico de desenvolvimento territorial ao nível local ou sub-regional. Neste momento, os planos territoriais são os únicos instrumentos passiveis de determinar a classificação e qualificação do uso do solo, bem como a respetiva execução e programação. Com a alteração ao quadro legal, o termo “Solo Rural” é alterado para “Solo Rústico”. O Plano Diretor Municipal de Viana do Castelo em vigor corresponde à revisão, aprovada pela Assembleia Municipal de Viana do Castelo em 11 de março de 2008 e publicada através do Aviso n.º 10601/2008 no Diário da República, Série II, de 4 de abril de 2008, com a alteração publicada através do Aviso n.º 1817/2014 Diário da República, 2.ª série, n.º 26 de 6 de fevereiro de 2014 Face ao PDM em vigor, a área de intervenção do PIERACA compreende Espaços Agrícolas, Espaços Naturais e Espaços Públicos de Recreio e Lazer em Solo Rural, classificada numa “Área de Elevado Valor Paisagístico” (755ha), por natureza non-aedificandi, e condicionada relativamente à edificação, de acordo com o definido em regulamento do PDM, sendo que qualquer intervenção deve ser preferencialmente antecedida pela execução de plano ou projeto de maior pormenor, correspondente a uma “Área de Elevado Valor Paisagístico” dado o papel importante que os espaços que definem estas áreas desempenham ao nível da estrutura paisagística do concelho de Viana do Castelo.

As Áreas de Elevado Valor Paisagístico encontram-se delimitadas na Planta de Ordenamento e correspondem a zonas do território concelhio que, pela sua dimensão, continuidade e localização, desempenham um papel importante na perceção da paisagem.

Nos espaços agrícolas, não são permitidas quaisquer construções, de carácter definitivo ou precário, incluindo estufas e painéis publicitários, com as exceções decorrentes do PDMVC.

Os Espaços naturais de acordo com a secção V do artigo 32º “além de constituírem uma dimensão física fundamental na caracterização do povoamento e do seu ordenamento, imprescindível à sustentabilidade de um sistema territorial em constante mutação, representam também um valioso recurso, com valor intrínseco e de usufruto para toda a comunidade.” Compreendendo na área do PIERACA os rochedos emersos do mar, praias, ínsuas e sapais; leitos de cursos de água; zonas de mata ribeirinha; galerias ripícolas; zonas de vegetação rasteira e

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

15

arbustiva; zonas de mata de proteção do litoral. Estes espaços são non-aedificandi, não sendo permitidas quaisquer novas construções, de carácter definitivo ou precário, com exceções descritas em regulamento do PDMVC.

2.3.2 PLANO DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO RÚSTICO DE AFIFE, CARREÇO E AREOSA (PIERACA) O Plano de Intervenção em Espaço Rústico enquadra a figura de um plano de pormenor específico para o espaço rústico. Permite a implementação de ações concretas, adequadas aos objetivos de ordenamento integrado e sustentável dos espaços agrícolas, florestais e naturais. De acordo com o artigo 104º do RJIT o Plano de Intervenção no Espaço Rústico “abrange o solo rústico e estabelece as regras relativas à: a) Construção de novas edificações e a reconstrução, alteração, ampliação ou demolição das edificações existentes, quando tal se revele necessário ao exercício das atividades autorizadas no solo rústico; b) Implantação de novas infraestruturas de circulação de veículos, de animais e de pessoas, e de novos equipamentos, públicos ou privados, de utilização coletiva, e a remodelação, ampliação ou alteração dos existentes;

c) Criação ou beneficiação de espaços de utilização coletiva, públicos ou privados, e respetivos acessos e áreas de estacionamento;

d) Criação de condições para a prestação de serviços complementares das atividades autorizadas no solo rústico; e) Operações de proteção, valorização e requalificação da paisagem natural e cultural.

2 - O plano de intervenção no espaço rústico não pode promover a reclassificação do solo rústico em urbano.” O PIERACA é constituído pelo conteúdo material e documental adaptado à natureza deste plano, com a respetiva fundamentação.

a) Conteúdo material O Plano de Intervenção no Espaço Rústico é um plano com conteúdo material adaptado às finalidades particulares de intervenção. Assim, tendo em consideração as especificidades do plano, e os termos de referência da deliberação municipal - Aviso n.º 5694/2015 (Diário da República, 2.ª série — N.º 100 — 25 de maio de 2015), e segundo o artigo 102º do RJIT no âmbito do PIERACA vai-se proceder: “a) A definição e a caraterização da área de intervenção, identificando e delimitando os valores culturais e a informação arqueológica contida no solo e no subsolo, os valores paisagísticos e naturais a proteger, bem como todas as infraestruturas relevantes para o seu desenvolvimento;

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

16

(….) d) A distribuição de funções, conjugações de utilizações de áreas de construção e a definição de parâmetros urbanísticos, designadamente, densidade máxima de fogos, número de pisos e altura total das edificações ou altura das fachadas;”

Esta alínea será adaptada às construções agropecuárias (edificado relacionado com a atividade pecuária, em particular leiteira, estufas de horto florícolas e outras atividades agrícolas que se reconheçam compatíveis com as condicionantes do PIERACA e ainda às adaptações no edificado existente que se entendam manter com as mesmas ou novas funções. “e) As operações de demolição, conservação e reabilitação das construções existentes; f) As regras para a ocupação e para a gestão dos espaços públicos;

g) A implantação das redes de infraestruturas, com delimitação objetiva das áreas que lhe são afetas; h) Regulamentação da edificação, incluindo os critérios de inserção urbanística e o dimensionamento dos equipamentos de utilização coletiva, bem como a respetiva localização no caso dos equipamentos públicos;”

Esta alínea será adaptada às construções previstas na alínea d) e em particular para os equipamentos coletivos de tratamento de efluentes das explorações agropecuárias e agrícolas sempre que essa for a solução mais adequada às circunstâncias do PIERACA. Podem ainda ser passíveis de ser instalados equipamentos no âmbito da criação de uma Área de Paisagem Protegida e das pequenas infraestruturas de ócio e lazer que ainda não estejam previstas no POOC;

“(….) i) A identificação dos sistemas de execução do plano, do respetivo prazo e da programação dos investimentos públicos associados, bem como a sua articulação com os investimentos privados;” Esta alínea será justificada no contexto do planeamento, e das soluções mais adequadas ao plano, sendo condicionadas pelo tipo de iniciativa, de caráter público ou privado. “(….) 2 — O plano de pormenor relativo a área não abrangida por plano de urbanização, incluindo as intervenções em solo rústico, procede à prévia explicitação do zonamento, dos fundamentos e dos efeitos da alteração do zonamento, com base na disciplina consagrada no plano diretor municipal ou plano diretor intermunicipal” Relativamente à alínea 1ª do artigo 102º do RJIT apresenta-se em baixo a fundamentação das exclusões consideradas, que decorrem da especificidade do PIERACA: “b) As operações de transformação fundiária preconizadas e a definição das regras relativas às obras de urbanização;”

Não faz parte do âmbito do PIERACA a transformação fundiária, assim como a definição de regras relativas a obras de urbanização.

“c) O desenho urbano, exprimindo a definição dos espaços públicos, incluindo os espaços de circulação viária e pedonal e de estacionamento, bem como o respetivo tratamento, a localização de equipamentos e zonas verdes, os alinhamentos, as implantações, a modelação

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

17

do terreno e a distribuição volumétrica;” O desenho urbano não faz parte do âmbito do PIERACA, sendo que o Plano em específico posiciona-se no intermédio entre o zonamento e o desenho urbano.

“j) A estruturação das ações de compensação e de redistribuição de benefícios e encargos.” Não se aplica ao PIERACA.

b) Conteúdo documental De acordo com a alínea 6 do artigo 103º do RJIT, “Nas modalidades específicas de plano de pormenor previstas no n.º 2 do artigo 103.º, o conteúdo documental do plano é ajustado, de forma fundamentada, devendo ser garantida a correta fundamentação técnica e caracterização urbanística, face à especificidade do conteúdo de cada plano”. Sendo assim define-se em baixo o conteúdo documental do Plano: De acordo com a alínea 1ª do artigo 107º do RJIT o conteúdo documental do plano de pormenor será constituído por:

“a) Regulamento do PIERACA

b) Planta de implantação, que representa o regime de uso, ocupação e transformação da área de intervenção;”

Esta planta será adaptada ao conteúdo específico do PIERACA.

“c) Planta de condicionantes, que identifica as servidões administrativas e as restrições de utilidade pública em vigor, que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer forma específica de aproveitamento.“

Segundo a alínea 2ª do artigo 107º, o plano de pormenor será acompanhado por: “a) Relatório, contendo a fundamentação técnica das soluções propostas no plano, suportada na identificação e caraterização objetiva dos recursos territoriais da sua área de intervenção e na avaliação das condições ambientais, económicas, sociais, e culturais para a sua execução; b) Relatório ambiental (decorrente da AA); d) Programa de execução das ações previstas; f) Plano de financiamento e fundamentação da sustentabilidade económica e financeira.”

Relativamente a esta alínea 2ª do artigo 107º, apresenta-se em baixo a fundamentação das exclusões consideradas, que decorrem da especificidade deste plano: “c) Peças escritas e desenhadas que suportem as operações de transformação fundiária previstas, nomeadamente para efeitos de registo predial e de elaboração ou conservação do cadastro geométrico da propriedade rústica ou do cadastro predial;”

Não estão previstas operações desta natureza, na medida em que a área foi objeto de uma operação de emparcelamento rural por parte do Ministério da Agricultura na década de 90, o

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

18

que resultou na reconfiguração das parcelas existentes na altura para um novo desenho mais racional da propriedade e da sua localização quanto à sua acessibilidade ao sistema viário interno e ao sistema de drenagem construídos., no entanto, caso as opções do plano o justifiquem, o conteúdo poderá ser desenvolvido. e) “Modelo de redistribuição de benefícios e encargos;” Não se prevê necessário proceder à perequação compensatória dos encargos e benefícios, pois não se está a redefinir uso de solo, no entanto, caso as opções do plano o justifiquem, este modelo poderá ser desenvolvido. Relativamente à Alínea 3ª do Artigo 107º do RJIT, não se aplica qualquer um dos pontos, pois a área de intervenção do PIERACA é constituída maioritariamente pelo Perímetro de Emparcelamento de Afife, Carreço e Areosa (PEACA), aprovado pela RCM nº184/96, obra de melhoramento agrícola de iniciativa do Ministério da Agricultura que consistiu no ordenamento fundiário das parcelas. Sendo assim o plano não poderá alterar a configuração e a geometria das parcelas, não existindo por isso efeitos registrais.

Segundo a alínea 4ª do artigo 107º, o PIERACA será ainda, acompanhado pelos seguintes elementos complementares: “a) Planta de localização, contendo o enquadramento do plano no território municipal envolvente, com indicação das principais vias de comunicação e demais infraestruturas relevantes, da estrutura ecológica e dos grandes equipamentos, existentes e previstos na área do plano e demais elementos considerados relevantes;

b) Planta da situação existente, com a ocupação do solo e a topografia à data da deliberação que determina a elaboração do plano; c) Planta ou relatório, com a indicação dos alvarás de licença e dos títulos de comunicação prévia de operações urbanísticas emitidos, bem como das informações prévias favoráveis em vigor ou declaração comprovativa da inexistência dos referidos compromissos urbanísticos na área do plano; d) Plantas contendo os elementos técnicos definidores da modelação do terreno, cotas mestras, volumetrias, perfis longitudinais e transversais dos arruamentos e traçados das infraestruturas, no que respeita e é específico da área de intervenção e) Relatório sobre recolha de dados acústicos ou mapa de ruído, nos termos do nº 2 do artigo 7º do Regulamento Geral do Ruído;

f) Participações recebidas em sede de discussão pública e respetivo relatório de ponderação;

g) Ficha dos dados estatísticos, em modelo a disponibilizar pela Direção-Geral do Território”.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

19

2.4 SERVIDÕES E RESTRIÇÕES DE UTILIDADE PÚBLICA EXISTENTES

Na área de intervenção do PIERACA é aplicável a legislação específica relativa às Servidões Administrativas e Restrições de Utilidade Pública assinaladas em Planta de Condicionantes do PDM de Viana do Castelo. Em baixo faz-se uma breve abordagem às servidões e restrições que se identificara.

2.4.1 DOMÍNIO HÍDRICO a) Leitos de Cursos de Água e das Águas do Mar Consideram-se recursos hídricos todas as águas subterrâneas ou superficiais, os respetivos leitos e margens e ainda, as zonas de infiltração máxima, as zonas adjacentes e as zonas protegidas conforme o artigo 1º da Lei n.º 54/2005 de 15 de novembro e o artigo 1.º e 2.º da Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, que estabelece a titularidade dos recursos hídricos). A constituição de servidões administrativas e restrições de utilidade pública relativas ao Domínio Público Hídrico seguem o regime previsto na Lei n.º 54/2005, de 15 de novembro, na Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro e no DL n.º 226-A/2007, de 31 de maio. O domínio público hídrico compreende o domínio público marítimo, o domínio público lacustre e fluvial e o domínio público das restantes águas. As margens das águas do mar (50 m), de outras águas navegáveis ou flutuáveis (30 m) e as águas não navegáveis nem flutuáveis (10 m) fazem parte do domínio público hídrico. b) Zonas Ameaçadas pelas Cheias

As áreas identificadas em PDM como áreas ameaçadas pelas cheias correspondem à envolvente ao ribeiro de Carreço.

c) Captações de Água e respetivas Áreas de Proteção – Imediata, Intermédia e Alargada

Identifica-se na área do PIERACA a captação de água da Areosa, que foi construída na década de 50, para reforço do abastecimento de água à cidade de Viana do Castelo durante o período de estiagem, sendo hoje uma importante origem que complementa o abastecimento da área urbana a partir da captação de Bertiandos. Em 1970, foram executadas obras de ampliação da captação com a construção de três poços. Está prevista a desativação deste abastecimento pela SMSBVC.

As captações de água subterrânea destinadas ao abastecimento público para consumo humano de aglomerados populacionais com mais de 500 habitantes ou cujo caudal de exploração seja superior a 100 m3/dia, ficam ainda abrangidas pelos condicionamentos e interdições conforme o artigo 1º nº 2 e artigo 6º, nº 1 do Decreto-lei nº 382/99 de 22 de setembro, que estabelece as normas e os critérios para a proteção de captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público e respetivos perímetros de proteção.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

20

2.4.2 ÁREAS DE RESERVA, PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA 2.4.2.1 Reserva Ecológica Nacional (REN) Decreto-Lei n.º 239/2012, de 2 de novembro, que estabelece o RJREN O Decreto-Lei nº 239/2012, de 2 de novembro procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 166/2008, de 22 de agosto, que estabelece o Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional, abreviadamente designada por REN. A REN é uma estrutura biofísica que integra o conjunto das áreas que, pelo valor e sensibilidade ecológicos ou pela exposição e suscetibilidade perante riscos naturais, são objeto de proteção especial.

Constitui uma restrição de utilidade pública, à qual se aplica um regime territorial especial que estabelece um conjunto de condicionamentos à ocupação, uso e transformação do solo, identificando os usos e as ações compatíveis com os objetivos desse regime nos vários tipos de áreas. Os usos e ações compatíveis com os objetivos de proteção ecológica e ambiental e de prevenção e redução de riscos naturais de áreas integradas na REN encontram-se identificados, de acordo com o artigo 5º, no anexo II do respetivo diploma.

2.4.2.2 Reserva Agrícola Nacional (RAN) - Decreto-Lei nº 199/2015, de 16 de setembro O Decreto-Lei nº 199/2015, de 16 de setembro procede à primeira alteração ao Decreto-Lei nº 73/2009, de 31 de março, que aprova o regime jurídico da Reserva Agrícola Nacional, abreviadamente designada RAN. As áreas da RAN constituem o conjunto de áreas que “em termos agroclimáticos, geomorfológicos e pedológicos apresentam maior aptidão para a atividade agrícola.”

Constitui uma restrição de utilidade pública, à qual se “aplica um regime territorial especial, que estabelece um conjunto de condicionamentos à utilização não agrícola do solo”, identificando quais as permitidas tendo em conta os objetivos de proteção do recurso solo, preservação dos valores naturais e desenvolvimento sustentável. O artigo 21º do presente diploma identifica as ações interditas em solos RAN, enquanto o artigo 22º identifica utilização da RAN para outros fins. A RAN corresponde a uma área de cerca de 695ha, expressando a capacidade agrícola do território.

2.4.2.3 Rede Natura 2000 - Sítio Litoral Norte, código PTCON0017 - RCM nº 76/00 de 5 de julho A área de estudo do presente PIER coincide parcialmente com uma área classificada como Sítio de Importância Comunitária (SIC), designados ao abrigo da Diretiva Habitats, o SIC Litoral Norte

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

21

(PTCON0017). De uma forma geral, este SIC apresenta um património faunístico diversificado, com várias espécies protegidas distribuídas ao longo do corredor costeiro. É ainda de salientar a presença nas zonas envolventes de um conjunto de áreas também incluídas na rede Natura 2000. Entre estas destaca-se a ZPE Estuário dos rios Minho e Coura (PTZPE0001) e o SIC Rio Minho (PTCON0019), a norte, e o SIC Rio Lima (PTCON0020), a sul. Um pouco mais a sul, ainda incluída na área do SIC Litoral Norte existe ainda uma área classificada na Rede Nacional de Áreas Protegidas, o Parque Natural do Litoral Norte. Assim, podemos ver que a área de estudo encontra-se incluída numa região rica do ponto de vista ecológico, com uma rede bem desenvolvida de locais definidos como importantes para a biodiversidade (Tabela 1 e Figura 2).

DESIGNAÇÃO ESTATUTO LOCALIZAÇÃO Parcialmente Coincidente com a área SIC Litoral Norte (PTCON0017) RN2000 de estudo ZPE Estuário dos rios Minho e Coura RN2000 Área envolvente (Norte) (PTZPE0001) SIC Rio Minho (PTCON0019) RN2000 Área envolvente (Norte) SIC Rio Lima (PTCON0020) RN2000 Área envolvente (Sul) Parque Natural do Litoral Norte RNAP Área envolvente (Sul)

TABELA 1. LISTA DE ÁREAS CLASSIFICADAS NA ÁREA DE ESTUDO A NÍVEL EUROPEU, PELA REDE NATURA 2000 (RN2000), E A NÍVEL NACIONAL, REGIONAL E LOCAL, PELA REDE NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS (RNAP)

FIGURA 2. ENQUADRAMENTO DA ÁREA DE ESTUDO NA RNAP E REDE NATURA 2000

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

22

A nível nacional as áreas da RN2000 dividem-se essencialmente em duas tipologias, em função dos objetivos de conservação a que se propõe: Sítios de Importância Comunitária (SIC), designados ao abrigo da Diretiva Habitats e Zonas de Proteção Especial (ZPE), designadas ao abrigo da Diretiva Aves. O PNLN, incluído na Rede Nacional de Áreas tem, entre outros objetivos, a função de proteção e valorização das espécies de todos os grupos faunísticos presentes. Verifica-se assim que a nível regional, nas áreas de estudo e envolvente, existem valores ecológicos, com destaque para os valores faunísticos, com significativo valor conservacionista. Todas estas áreas protegidas estão de alguma forma associadas à faixa costeira e aos principais rios da região, os rios Minho, Lima e Cávado. De uma forma geral, estas áreas apresentem habitats específicos mas, por outro lado, possuem um conjunto de características ecológicas semelhantes, como a temperatura, pluviosidade, exposição solar, etc., que permitem uma distribuição relativamente uniforme das espécies a nível regional.

2.4.3 PERÍMETROS DE EMPARCELAMENTO O perímetro de emparcelamento rural é um projeto de ordenamento fundiário que surge pela necessidade de promover o desenvolvimento da agricultura na veiga das freguesias de Afife, Carreço e Areosa (PEACA), e pretendeu resolver os problemas de acesso às explorações e de dispersão e fragmentação da propriedade, reconfigurando parcelas. A vontade de realização deste emparcelamento era bastante antiga /década de 50-60 mas o projeto apenas teve início em 1985 e incluiu, para além da nova configuração dos prédios, as consequentes obras de rede viária e de drenagem. O PEACA corresponde a uma área de cerca de 604ha. A autorização da execução do projeto de emparcelamento resulta da Resolução do Conselho de Ministro nº 184/96, Diário da República, I série-B nº 274 - 26 de novembro de 1996. A implementação do plano resultou numa alteração significativa da paisagem, pela reconfiguração dos limites, forma e área das parcelas. Esta transformação na paisagem foi acompanhada da implementação de um sistema de drenagem associado aos campos agrícolas, e da redefinição / recuperação da rede viária, permitindo o acesso direto a todas as parcelas.

2.4.4 PATRIMÓNIO EDIFICADO a) Imóveis Classificados/ Em Vias de Classificação; b) Zonas de Proteção ao Património; c) Zonas non-aedificandi de Proteção ao Património;

De acordo com a Lei nº 107/2001, de 8 de setembro, que estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do património cultural, os bens imóveis “podem pertencer às categorias de monumento, conjunto ou sítio, nos termos em que tais categorias se encontram definidas no direito internacional, e os móveis, entre outras, às categorias indicadas no título VII.” De acordo com o artigo 15º da presente lei, os bens imóveis classificados, ou em vias de classificação beneficiam de uma proteção de 50m a partir dos seus limites externos. Os imóveis

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

23

classificados devem “dispor ainda de uma zona especial de proteção, a fixar por portaria (…)” sendo que nas zonas especiais de proteção (ZEP) se podem incluir zonas non aedificandi, de proteção ao património.

2.4.5 INFRAESTRUTURAS BÁSICAS a) Coletores/Emissários; b) Linhas de Média Tensão; f) Postos Elétricos;

2.4.6 INFRAESTRUTURAS DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES a) Estrada Nacional – N13 Nos terrenos confinantes com estradas classificadas pelo PRN a servidão constitui-se com o artigo 3º do Decreto-Lei DL nº 13/94 de 15 de Janeiro, b) Caminhos municipais no acesso à praia de Afife e à praia de Carreço

c) Faróis e outros Sinais Marítimos O regime de constituição de servidões relativamente aos faróis e outros sinais marítimos constado Decreto-Lei nº 594/73, de 7 de novembro. As zonas adjacentes a qualquer dispositivo de sinalização marítima, existente e as zonas incluídas na linha de enfiamento dos referidos dispositivos ficam sujeitas a servidão de sinalização marítima, destinada a garantir a segura e eficiente utilização da mesma sinalização conforme o artigo 5º do DL nº 594/73.

2.4.7 CARTOGRAFIA a) Marcos geodésicos

Todos os vértices geodésicos pertencentes à Rede Geodésica Nacional (RGN) são da responsabilidade da Direcção-Geral do Território.

3. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA

3.1 CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA 3.1.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA 3.1.1.1 Metodologia A compreensão dos processos que originam diferentes aspetos geomorfológicos constitui uma etapa essencial da compreensão da paisagem. O relevo é um dos fatores que mais condiciona

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

24

as atividades antrópicas, nomeadamente as que estão dependentes diretamente da inclinação do terreno ou a orientação das encostas. A metodologia empregue assentou, assim, numa primeira análise dos aspetos geológicos, seguida da caracterização do relevo da área de estudo, da análise dos declives e da exposição solar. O estudo da geologia teve como base a análise da Carta Geológica de Viana do Castelo (escala 1/50.000, TEIXEIRA et al, 1969 e 1972 - Folha 5A) e respetiva Notícia Explicativa (TEIXEIRA, 1972), bem como a consulta de diversos documentos, entre os quais os Estudos de Caracterização de Suporte à Revisão do PDM de Viana do Castelo. Para o estudo do relevo foi efetuada uma análise à altimetria, agrupando-se depois os valores em classes hipsométricas. O estudo da altimetria teve como base as curvas de nível com equidistância de 2m, presentes na Base Cartográfica Numérica Vetorial à escala 1/2000, 2015, fornecida pela Câmara Municipal de Viana do Castelo. A partir dos dados altimétricos foi criado um Modelo Digital do Terreno (MDT), que permitiu a análise de diferentes classes hipsométricas, de acordo com os intervalos definidos: 0-2m, 2-5m, 5-10m, 10-20m, 20-50m, 50-100m, 100- 200m, 200-500m e > de 500m. A análise dos declives teve como base a análise da inclinação do terreno, em percentagem, efetuada a partir da versão rasterizada do Modelo Digital de Terreno (MDT) elaborado previamente. Os valores obtidos foram agrupados em 8 classes: 0-2%, 2-5%, 5-8%, 8-15%, 15- 30%, 30-50%, 50-100% e >100%.

Com base na versão rasterizada do Modelo Digital de Terreno foi também elaborada a carta de exposição solar, na qual consta a representação da orientação geográfica das vertentes, fator que influencia, entre outros, a quantidade de radiação solar recebida ou a direção de escorrência superficial. Foi efetuada uma reclassificação para obter a representação em 5 categorias: as áreas sem orientação significativa (Plano) e as áreas expostas a Norte, Este, Sul ou Oeste.

3.1.1.2 Geologia A composição do substrato rochoso - com granitoides hercínios e metassedimentos paleozoicos - e a sua evolução temporal estão na origem do relevo que carateriza o concelho de Viana do Castelo. Na envolvente próxima da área de estudo, os elementos de maior destaque são a arriba fóssil de Santa Luzia e a "plataforma de abrasão marinha que forma a orla litoral, em que apenas se destaca a colina de Montedor, Carreço, que interrompe" a sua regularidade (TEIXEIRA, 1972).

As unidades geológicas mais recentes são constituídas pelos aluviões atuais e pelas areias de duna. Na área de intervenção, as aluviões estão representados sobretudo na zona de Cabeços do Mar, no litoral sul da de Carreço, prolongando-se até à freguesia de Areosa. As areias de duna estão representadas a norte de Montedor pela faixa litoral que inclui as areias do sistema dunar de Afife-Carreço, e a sul desta elevação por uma outra faixa mais estreita desde a praia de Fornelos até perto de Cabeços do Mar, onde contacta com aluviões atuais.

A plataforma Plio-Quaternária litoral, com uma largura máxima de 2 Km, constitui uma parte significativa da área de intervenção do PIERACA. É formada sobretudo por depósitos de praias

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

25

antigas, originados pelo recuo da linha-de-costa, do qual se encontram vestígios como alvéolos desabitados de ouriços-do-mar (em especial na zona do Forte da Areosa, a cerca de 300 metros para o interior do seu atual biótopo), sapas, ou marmitas de gigante (ambas resultantes de processos de erosão hídrica, sendo observáveis, por exemplo, na Praia de Fornelos). Estão representados na área de intervenção:

• Depósitos de nível 5-10m: com grande expressão a sul de Montedor, aparecendo também numa pequena mancha que confronta com os granitos da sua vertente norte. Estudos referidos na Notícia Explicativa da Carta Geológica dão conta de um tipo de "sedimento de origem local, com pequeno transporte, provavelmente sob a forma de depósito lamacento" (TEIXEIRA, 1972).

• Depósitos de nível 15-20m: com maior representatividade a norte de Montedor, numa faixa interior às areias de duna e numa mancha a norte do aglomerado populacional, atravessada pela EN13; para sul de Montedor, existe uma estreita faixa já fora da área do PIERACA, no contato com os granitos, sobre a qual está assente parte da linha de caminho- de-ferro. O litoral das freguesias de Areosa e Carreço é marcado pelo aparecimento de bancadas de quartzitos do período Ordovícico, que assentam "sobre rochas xistentas pertencentes (...) ao complexo xisto grauváquico" (TEIXEIRA, 1972).

As formações que se encontram na vertente sudeste de Montedor - xistos andaluzíticos e conglomerados - estão relacionadas com uma "faixa xistenta e quartzito-conglomerática" que é "interrompida pelo granito da serra de Santa Luzia" e que se prolonga a partir de Lanteiras até à região de Caminha. A faixa "está dobrada em arco, talvez pela ação do granito da serra de Santa Luzia que cortou bruscamente as formações e as metamorfisou", reaparecendo no maciço granítico de Montedor, onde sofreu "granitização intensa", verificando-se algumas "massas de conglomerados que o granito não conseguiu assimilar". (TEIXEIRA, 1972)

O maciço montanhoso da Serra de Santa Luzia, que se prolonga até Montedor, é de origem granítica, estando representados 3 subtipos na área do PIERACA ou na envolvente mais próxima:

• Granito porfiroide de grão fino (Granito da Serra de Santa Luzia), que ocorre sobretudo em zonas mais interiores da Serra, mas que reaparece em alguns afloramentos em Montedor (prolongando-se até à linha de costa, onde existem geoformas como 'pias' ou 'caneluras'). O granito aqui presente, um pouco alterado, é "alcalino, moscovítico, com biotite, levemente porfiroide" (TEIXEIRA, 1972).

• Granito de grão médio ou fino a médio, sobretudo na vertente Oeste da Serra, até ao Alto da Pena, a Sul. Inclui áreas na base da encosta onde se situam as povoações de Afife, Paçô e parte do aglomerado de Carreço; prolonga-se para o interior até Chã de Carreço e Chã da Areosa;

• O granito de grão grosseiro ou médio a grosseiro é observado em zonas de encosta ou base de encosta, numa mancha que se estende desde sul de Carreço até ao Santuário de Santa Luzia. Nesta formação granítica são observáveis depósitos de praias antigas (de

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

26

nível 45-55m), xistos andaluzíticos (associados ao vale da ribeira do Pego) e conglomerados (a sul, perto do Santuário). Embora sem grande expressão territorial, referem-se ainda os filões pegmatíticos, muitos dos quais estão "encaixados em rochas silúricas", sendo frequente a presença de minerais como o berilo.

3.1.1.3 Relevo As freguesias de Afife, Carreço e Areosa são marcadas por variações altimétricas significativas, estando as classes hipsométricas de maior valor (graduação crescente de laranja a vermelho) representadas sobretudo na Serra de Santa Luzia. Este elemento montanhoso, com altitude máxima de 550m, destaca-se na envolvente mais próxima da área do PIERACA e faz a transição entre a orla costeira e as diversas elevações que se prolongam para o interior do distrito, sendo as mais próximas as Serras de Perre, de Amonde e de Arga. As encostas da Serra de Santa Luzia apresentam na sua base cotas entre 20 e 50 metros (representadas a amarelo), que se prolongam até Montedor, na freguesia de Carreço.

Esta elevação é o elemento de maior destaque na área do PIERACA, sendo a sua cota máxima 76 metros, a uma distância de 560 metros do litoral. A orografia dilui-se para sul e para norte de formas distintas. Para norte, depois de um prolongamento da classe 20-50m, predominam as cotas entre 5-10m e 10-20m, surgindo classes inferiores nas depressões de terreno como as verificadas na bacia hidrográfica do rio de Cabanas. Para sul, as classes mais representativas são as de 2-5m e 5-10m, existindo algum recuo das classes hipsométricas em relação à linha de costa, por exemplo, na bacia da ribeira do Pego. Numa envolvente mais próxima da área de intervenção destaca-se ainda o monte de Santo António, onde existe uma capela perto da qual se atinge a cota de 66 metros, a pouco mais de 800 metros em linha reta do mar.

3.1.1.4 Declives De uma forma geral distinguem-se: áreas mais planas a oeste da EN13 e áreas de maior declive para este.

Do lado este, as zonas de maior declive (verde escuro) correspondem às encostas da Serra de Santa Luzia, tendo grande expressão as áreas com inclinação de 15-30% e 30-50%. Estas classes surgem também associadas às margens de algumas linhas de água - como o rio de Cabanas e a ribeira de Pego - e à envolvente da Capela de Santo António. Embora com menor expressão, destacam-se ainda áreas com declives superiores a 50%, ultrapassando pontualmente os 100%. Os declives são mais suaves à medida que se aproximam da base da encosta e na bacia hidrográfica do rio de Cabanas, já no limite da área do PIERACA. Existem ainda algumas áreas de planalto a nascente, em Chã de Carreço e Chã de Afife.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

27

As principais exceções aos baixos declives na área do PIERACA situam-se em Montedor (onde excedem 50%) e nos extremos oeste e noroeste da freguesia de Afife por influência dos cordões dunares.

Tal como acontece altimetricamente, encontram-se diferentes caraterísticas de declive, para norte ou para sul de Montedor. Para norte, a linha de costa é mais acidentada e verifica-se uma dominância de áreas com declives entre 2 e 5%, seguida das áreas com declives menores que 2%. Para sul, a linha de costa torna-se progressivamente menos acidentada, acontecendo o mesmo com as restantes áreas, quase exclusivamente representadas pelas classes de 0 a 2% (mais representativa) e 2 a 5%.

3.1.1.5 Exposição Solar De forma geral, os baixos declives que se verificam na área do PIERACA resultam numa ampla exposição solar, quase total nos vários quadrantes e portanto muito favorável às atividades agrícolas que dela dependem.

Não obstante, verifica-se a dominância da exposição dos terrenos a oeste (amarelo), típica das zonas litorais atlânticas portuguesas, e a sul (vermelho) em relação às exposições a norte (azul) e a este (verde). As principais exceções a essa dominância são:

• A bacia hidrográfica do rio de Cabanas, em Afife/Carreço, com exposições a sul do lado norte da ribeira e exposições a norte do lado sul, prolongando-se estas praticamente até Chã de Carreço;

• As áreas a norte e a sul da ribeira das Bouças (denominado rio de Cabanas mais a jusante), onde grande parte das encostas apresentam orientações a sul ou a oeste;

• A zona de Montedor, onde se verificam as 4 orientações, resultantes das encostas que formam a elevação de terreno.

Existem depois uma série de áreas sem orientação dominante, distribuídas ao longo de faixas junto ao litoral. Tratando-se de áreas de baixa altitude, são favoráveis a receber uma quantidade significativa de radiação ao longo de todo o dia, sendo consideradas por isso como zonas de exposição total.

3.1.2 CLIMA 3.1.2.1 Metodologia O clima de uma dada região está diretamente relacionado com as diferentes atividades económicas, sendo o fator que mais influencia a prática agrícola. Certos padrões de dispersão humana no território resultam da forma como as sociedades se adaptaram ao clima ou tiraram até proveito de condições climatéricas adversas.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

28

A consulta de classificações climáticas permitiu entender as principais condições climáticas da região, no âmbito da Península Ibérica. Para uma caraterização mais completa procedeu-se à consulta de dados de temperatura, precipitação, humidade do ar e vento, nos portais do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e do CMIA de Viana do Castelo, entre outros.

3.1.2.2 Classificação Climática Sob o ponto de vista climático, verifica-se na Península Ibérica a transição entre os climas frios e húmidos do Norte da Europa e os climas quentes e secos de África, coexistindo as influências mediterrânica e atlântica.

Em grande parte do noroeste peninsular e na maioria do litoral oeste português verifica-se, segundo a classificação de Köppen-Geiger, um clima Temperado com Verão seco e Temperado (Csb): média de temperatura do mês mais frio entre os 0 e 18ºC; temperatura média do mês mais quente menor ou igual a 22ºC e quatro ou mais meses por ano com temperatura média superior a 10ºC.

Situado no litoral norte, o concelho de Viana do Castelo apresenta por isso condições climáticas amenas, de verões relativamente frescos e invernos pouco severos.

3.1.2.3 Localização das Estações A principal estação meteorológica do concelho, a de Viana do Castelo/Meadela, está situada na margem direita do rio Lima (Latitude 41º42’ N; Longitude 08º48’ NOVEMBRO) a uma cota de 16m, na freguesia de Meadela, atualmente parte da União de Freguesias de Viana do Castelo e Meadela. Também na margem direita do rio Lima, mas um pouco mais a jusante, junto ao Parque de Viana do Castelo (Latitude 41º42’ N; Longitude 08º48’ NOVEMBRO), está situada uma outra estação, a do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental (CMIA) de Viana do Castelo.

3.1.2.4 Temperatura do Ar O efeito regulador do oceano verifica-se na temperatura média anual - que ronda os 14,7ºC - e nas temperaturas médias mensais, mais altas nos meses de verão, sendo superiores a 20ºC apenas em julho e agosto. Também a média das temperaturas mínimas mensais, sempre com valores positivos, reflete esse equilíbrio, sendo que ao longo do ano raramente ocorrem mais de 14 dias com temperatura mínima negativa, estando estes distribuídos entre os meses de novembro a abril.

3.1.2.5 Precipitação Ao nível da precipitação, existe uma distribuição irregular ao longo do ano, com valores mais altos na estação fria e mais baixos na estação quente. As massas de ar húmido provenientes do oceano desempenham um importante papel na sua ocorrência, encontrando nas principais

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

29

elevações do concelho barreiras à sua progressão (razão da variação de valores em função da altitude e da distância ao mar). Na orla costeira, onde se situa a área de estudo, os valores de precipitação média anual situam-se entre os 1200 e 1600mm, sendo Janeiro o mês mais chuvoso e agosto o mês mais seco. Em média há 150 dias no ano em que se regista 0,1mm ou mais de precipitação e 125 com registo igual ou superior a 1mm de precipitação.

3.1.2.6 Humidade Relativa do Ar Os valores médios anuais de humidade relativa do ar verificados na área de estudo são superiores a 75%, aumentando os valores à medida que nos aproximamos das principais elevações de terreno que, como já foi referido, funcionam como barreiras à progressão das massas de ar húmidas para o interior.

3.1.2.7 Vento Os ventos em Viana do Castelo sopram predominantemente nos sentidos norte-sul e noroeste- sudeste; o regime normal é alterado em algumas zonas específicas pela orografia do terreno, como acontece na Serra de Santa Luzia, que funciona como obstáculo natural aos fluxos de ar. As médias anuais da velocidade do vento rondam valores entre de 1,2 a 2 m/s, havendo uma tendência, embora nem sempre verificada, para uma maior velocidade média nos meses mais quentes e menor nos meses mais frios.

3.1.3 HIDROGRAFIA 3.1.3.1 Metodologia O estudo dos recursos hídricos superficiais teve como base a cartografia de hidrografia presente na Base Cartográfica Numérica Vetorial à escala 1/2000 de 2015 (para a área do PIER), bem como a cartografia de Linhas de Água do Plano Diretor Municipal (para a envolvente), ambas fornecidas pela Câmara Municipal de Viana do Castelo. Confrontaram-se esses dados cartográficos com a informação presente na Carta Militar de Portugal - Série M888, à escala 1:25000, folhas 40 e 27, produzidas pelo Instituto Geográfico do Exército - permitindo a comparação dos traçados e inferição de nomenclatura de rios e ribeiras. Efetuou-se depois uma verificação no terreno, de forma a melhor compreender a hierarquização da rede hidrográfica, distinguindo as seguintes classes:

• Rios e ribeiras, que incluem os principais elementos hidrográficos que atravessam a área em estudo; • Linhas de água, que incluem outros cursos de água permanentes presentes na área do PIER e outras linhas de água cartografadas fora da intervenção do plano; • Valas profundas, identificam as valas com profundidade> 60cm, nem sempre com água corrente, normalmente coletoras de valas mais superficiais que conduzem a água até às linhas de água;

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

30

• Valas superficiais, pouco profundas <60cm, sem água corrente, na maioria dos casos associadas à drenagem da água no interior da própria folha agrícola de carácter mais temporário; • Linha de costa, correspondente ao limite litoral arenoso ou rochoso. Seguiu-se uma análise das principais bacias e sub-bacias de drenagem, com base nas direções de escorrência superficial, obtidas a partir da análise do Modelo Digital de Terreno. Tendo sido utilizados apenas valores altimétricos (a partir de curvas de nível com equidistância de 2m), sem cruzamento com dados pedológicos, de ocupação de solos ou de estruturas de drenagem artificiais, existe portanto um coeficiente de erro a considerar. Não obstante, a sua análise permite inferir em traços gerais as bacias de drenagem e o comportamento da drenagem superficial da área de estudo.

3.1.3.2 Recursos Hídricos Superficiais A existência de elementos montanhosos como a Serra de Santa Luzia e a Serra da Aguieira tem particular importância no que toca à formação das principais linhas-de-água desta região do concelho. A linha de festo principal definida por estas realidades orográficas, separa as diversas ribeiras que nela nascem entre as que vão para norte e alimentam o caudal do rio Âncora e as que correm para sul, afluentes do rio Lima. Na vertente oeste da Serra de Santa Luzia, nas freguesias de Afife, Carreço e Areosa, a realidade é porém distinta. Formam-se ribeiras ou cursos de água temporários que correm no sentido este-oeste e desaguam no oceano Atlântico. Ao longo dos anos, foi recorrente o seu desvio e aproveitamento para fins agrícolas, seja através da construção de azenhas ou da criação de valas para condução/drenagem da água ao longo dos campos. Na maioria dos casos, são pouco conhecidos os nomes dos pequenos cursos de água, excetuando dois pequenos rios/ribeiras que se destacam dos demais: o rio de Cabanas e a ribeira de Pego.

O rio de Cabanas (identificado com o código PT01NOR0717 no PGRH Minho e Lima - RH1), também conhecido como rio de Afife, nasce próximo de Chã de Afife, nos pontos mais elevados da Serra de Santa Luzia e tem uma extensão total de 2 Km. Ao longo do seu percurso inicial é alimentado por diversos cursos de água também provenientes das encostas da serra (como o rio de Oliveira). Atravessam-no diversas pontes, entre as quais a linha de caminho-de-ferro e a EN13, após ter deixado para trás os lugares de Armada, Louredo e Pião. No seu troço final, na área do PIERACA (Figua 3), atravessa sobretudo campos agrícolas e zonas de mato. Aqui, após uma acentuada curva para norte, alarga o seu leito e desagua em plena praia de Afife.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

31

FIGURA 3. TROÇO FINAL DO RIO DE CABANAS, EM AFIFE

A ribeira do Pego (identificada com o código PT01NOR0718 no PGRH Minho e Lima - RH1) nasce na zona de Chã da Areosa, perto do limite entre as freguesias de Carreço e Areosa e tem uma extensão de 2,2 Km, recebendo no seu troço inicial a designação de ribeira das Bouças. Percorre encostas orientadas a su-sudoeste, sendo as suas margens bastante apertadas até passar perto da Capela e da Quinta da Boa Viagem, seguindo a partir daqui por terrenos menos acidentados. É atravessado pela linha de caminho-de-ferro (bem perto do apeadeiro de Areosa) e pela EN13. Na área do PIERACA, percorre terrenos agrícolas até desaguar numa área costeira de afloramento rochoso, a norte do campo desportivo e de um moinho de vento que ali existe.

3.1.3.3 Bacias de drenagem PIERACA O rio de Cabanas é o que possui uma bacia hidrográfica mais extensa, com área superior a 1200 hectares, dos quais pouco mais de 400 correspondem à sub-bacia do rio de Oliveira, seu afluente. Na área de intervenção a bacia do rio de Cabanas abrange uma área de aproximadamente 85 hectares. Para o leito da ribeira do Pego drena uma área superior a 1000 hectares, onde se inclui toda a área que drena para o troço denominado Ribeira das Bouças. A bacia sofre um estreitamento significativo perto da linha de caminho-de-ferro e entra depois na área do PIERACA, dentro da qual se estende por uma área de 29 hectares.

A restante área de intervenção do plano caracteriza-se por uma série de bacias de drenagem estreitas, algumas das quais têm início na base de encosta da Serra de Santa Luzia. De referir ainda a importância da formação de Montedor, que atua como condicionante física que influencia a distribuição das águas na área do PIERACA. Esta elevação motiva a existência de duas bacias de dimensão considerável, com áreas aproximadas de 306 hectares e 245 hectares, que correm respetivamente para norte e para sul desta.

3.1.3.4 Recursos Hídricos Subterrâneos No que diz respeito às Massas de Água Subterrânea, de acordo com o Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Minho-Lima, a área de intervenção do PIERACA constitui o limite oeste do

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

32

Maciço Antigo Indiferenciado da Bacia do Minho (PTA0x1RH1), que se estende por uma área de 939 Km2 e abrange 7 concelhos, desde Melgaço até Viana do Castelo. O Relatório de Base do Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Minho-Lima (APA, 2012) refere as principais características ao nível da hidrogeologia e dos recursos hídricos subterrâneos da Região, algumas das quais se verificam no concelho de Viana do Castelo e na sua orla litoral:

• Existência de numerosas nascentes permanentes, sendo o aproveitamento de águas (sobretudo para rega, mas também para abastecimento humano) efetuado com recurso a poços e galerias de mina;

• Importância da água subterrânea sobretudo ao nível local, existindo uma pressão significativa relacionada com a captação para fins agrícolas;

• As formações geológicas graníticas e as rochas metamórficas (como xistos e grauvaques) apresentam baixa condutividade hidráulica, sendo que no geral "as captações mais produtivas raramente ultrapassam os 3 litros/segundo, sendo já razoável encontrarem-se caudais na ordem de 1 litro/segundo. Os valores de transmissividade podem ser compatíveis com extrações de interesse local, mas a capacidade de reserva específica dos níveis aquíferos é, em geral, muito reduzida." (APA, 2012);

• "As disponibilidades hídricas subterrâneas estão diretamente relacionadas com os valores e regime de precipitação" (APA, 2012) - dependentes das variações sazonais e interanuais, mas também espaciais e com a ocorrência dos escoamentos superficiais.

Na plataforma litoral do concelho de Viana, a baixa condutividade hidráulica do substrato rochoso traduz-se na impedância mecânica à drenagem das águas. Como resultado, ocorre o escoamento superficial e o armazenamento de água numa toalha freática muito pouco profunda, atestada pela pouca necessidade de rega, em grande parte do ano, de muitos dos campos existentes.

3.1.4 SOLOS 3.1.4.1 Metodologia O solo é um recurso natural fundamental, resultado de um processo lento, gradual e constante de interação de fatores físicos e biológicos, que determinam a sua tipologia, composição e uso potencial.

A compreensão do solo enquanto recurso não renovável é fundamental no ato de planear o território, para que este exerça as suas funções de carácter ambiental, ecológico, social e económico. O solo é um componente estruturante dos ciclos naturais, armazenamento, escoamento e infiltração da água na superfície e é o suporte para o desenvolvimento dos ecossistemas e para as atividades humanas. A necessidade de proteger o solo como recurso vital, sobretudo para a prática agrícola é crucial para acompanhar as necessidades, cada vez maiores de produção de alimentos.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

33

A análise dos solos do concelho de Viana do Castelo teve por base a “Carta de Solos e Carta da Aptidão da Terra”, de Entre Douro e Minho, nas escalas 1:100.000 e 1:25.000, fornecidas pela Direção Geral de Agricultura e Pescas do Norte (DRAP-N). A caracterização dos solos foi abordada inicialmente ao nível do concelho, para contextualizar a situação de referência. A análise da carta ao nível da área de intervenção do PIERACA, à escala 1:1000000 e 1:25000, incidiu sobre as componentes mais relevantes para a caracterização da área: unidades cartográficas, aptidão do solo, espessura e fertilidade.

3.1.4.2 Caracterização dos Solos No concelho de Viana do Castelo, parte da superfície encontra-se ocupada por núcleos consolidados, praias e água (5%). A análise da área cartografada, permite concluir que no concelho predominam os regossolos RG (39%) e os antrossolos AT (25%), seguidos dos leptossolos LP (14%) e dos cambissolos CM (11%). Com menor representatividade no concelho surgem os fluvissolos FL (7%) e os arenossolos AR (4%).

FIGURA 4. CARATERIZAÇÃO DOS SOLOS NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO

O quadro abaixo apresenta os grupos principais, unidades e subunidades de solo, presentes no concelho.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

34

GRUPOS UNIDADES SUB-UNIDADES AREA %

ATcd.g de materiais de granitos ou rochas afins

ATcd.t de sedimentos detríticos AT Antrossolos ATcd Cumúlicos não consolidados em terraços 7.473 ha 25% fluviais ou marinhos

ATcd.x de materiais de xistos e rochas afins

ARhc.r arenossolos háplicos antrópicos ou cultivados em areais de duna 4% AR Arenossolos ARh Háplicos 1.224 ha ARhn.r arenossolos háplicos normais ou não cultivados em areais de duna

CMdp.t em sedimentos detríticos CMdp Cambissolos não consolidados, em terraços dístricos pardacentos fluviais ou marinhos

CMdx Cambissolos CMdx.t em sedimentos detríticos 3.401 ha 11% CM Cambissolos dístricos crómicos não consolidados

CMup Cambissolos CMup.t em sedimentos detríticos húmico-úmbrico não consolidados, em terraços pardacentos fluviais ou marinhos

FLda fluvisssolos dístricos grosseiros em aluviões recentes

2.089 ha 7% FL Fluvissolos Fld Fluvissolos dístricos FLdg fluvisssolos dístricos medianos em aluviões recentes

FLdm fluvissolos dístricos em aluviões recentes

Lpd.x leptossolos dístricos em LP Leptossolos LPd Leptossolos dístricos 4.317 ha 14% xistos e rochas afins.

RGdo.t regossolos dístricos em sedimentos detríticos não consolidados, em terraços fluviais ou marinhos.

RGdo Regossolos RGdo.g regossolos dístricos em dístricos espessos materiais de granitos e rochas 11.717 ha 39% RG Regossolo afins

RGdo.x regossolos dístricos em materiais de xisto e rochas afins

RGuo.g regossolos úmbricos RGuo Regossolos úmbricos espessos em materiais de normais granitos e rochas afins TABELA 2. GRUPOS PRINCIPAIS, UNIDADES E SUB-UNIDADES DE SOLO NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

35

Os regossolos (RG) são “solos de materiais não consolidados, com exclusão de materiais com textura mais grosseira que franco-arenosa ou com propriedades flúvicas, não tendo outro horizonte de diagnóstico além de um A úmbrico ou ócrico; sem propriedades gleicas em 50 cm a partir da superfície; sem caraterísticas de diagnóstico para vertissolos ou antrossolos; sem propriedades sálicas” (DRAEDM, 1999). Os regossolos presentes enquadram-se nas unidades: regossolos dístricos normais (RGdo) e regossolos úmbricos normais (RGuo).

Os regossolos dístricos normais (RGdo) são “regossolos dístricos formados a partir de sedimentos detríticos não consolidados, coluviões de bases de encostas e fundos de vales, de depósitos de vertente em encostas declivosas ou materiais resultantes da alteração e desagregação de rocha dura subjacente” enquanto os regossolos úmbricos normais (RGuo) são “regossolos úmbricos desenvolvidos a partir de regolitos relativamente espessos resultantes da arenização profunda de xistos, granitos, quartzodioritos ou granodioritos, ou correspondentes a sedimentos detríticos não consolidados (em terraços fluviais ou marinhos), coluviões de bases de encostas e fundos de vales, ou depósitos de vertente em encostas declivosas.”

O grupo antrossolos (AT), de acordo com a memória da “Carta de Solos Entre Douro e Minho”, definem-se por “solos que, pela atividade humana, sofreram uma modificação profunda por soterramento dos horizontes originais do solos ou através de remoção ou perturbação dos horizontes superficiais, cortes ou escavações, adições seculares de materiais orgânicos, rega contínua e duradoura, etc. …”, ou seja, solos com forte influência antropogénica na sua formação. No concelho domina a unidade de solo antrossolos cumúlicos ATcd (x%), “Antrossolos apresentando acumulação de sedimentos com textura franco-arenosa ou mais fina, em espessura superior a 50 cm, resultante de rega contínua de longa duração ou elevação da superfície do solo por acção do homem”, com predomínio dos de “materiais de granitos ou rochas afins” (ATcd.g).

Genericamente os cambissolos (CM) definem-se por “um horizonte câmbrico e sem outros horizontes de diagnóstico além de um A ócrico ou úmbrico, ou um A mólico assentando sobre um B câmbico com um grau de saturação em bases menor que 50 %; sem propriedades sálicas; sem as caraterísticas de diagnóstico dos vertissolos ou antrossolos; sem propriedades gleicas até 50 cm a partir da superfície” (DRAEDM, 1999). Os cambissolos encontram-se divididos em três unidades: cambissolos dístricos pardacentos (CMdp) “com horizonte B câmbico não crómico”, cambissolos dístricos crómicos (CMdx) “com horizonte B crómico”, e cambissolos húmico- úmbrico pardacentos (CMup) “cambissolos húmicos com horizonte A úmbrico e horizonte B não crómico.” Os fluvissolos (FL) apresentam “propriedades flúvicas e não tendo outros horizontes de diagnóstico além de um A ócrico, mólico ou úmbrico ou um horizonte NOVEMBRO hístico, ou um horizonte sulfúrico, ou material sulfídrico até 125 cm da superfície”. Os fluvissolos presentes no concelho integram-se na unidade dos fluvissolos dístricos. Os fluvissolos dístricos (FLd) definem- se por solos “com grau de saturação em bases (pelo acetato de amónio) inferior a 50% pelo menos entre 20 e 50 cm a partir da superfície; sem horizonte sulfúrico e material sulfídrico até 125 cm, a partir da superfície; sem propriedades sálicas”.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

36

Com menos expressão surgem os arenossolos halápicos (ARh), solos que “apresentam textura mais grosseira que franco-arenosas até profundidade de pelo menos 100 cm. Apenas apresentam o horizonte de diagnóstico A ócrico, sem propriedades ferralíticas nem gleicas” e os leptossolos dístricos (LPd) que são “leptossolos com um horizonte A ócrico e grau de saturação em bases (pelo acetato de amónio) menor que 50%, pelo menos em alguma parte do solo; sem rocha dura ou cimentada contínua até 10 cm a partir da superfície”.

Da análise da carta de solos, à escala 1:25000, verifica-se que mais de metade da área do concelho de Viana do Castelo não se encontra cartografada, correspondendo sobretudo a áreas com ocupação florestal e urbana/social.

FIGURA 5. UNIDADES CARTOGRÁFICAS NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO

Na área de ação do PIERACA, cerca de 1/5 do território está ocupado por praias, e de acordo com a ‘Carta de solos’ à escala 1.100000, a maioria dos solos estão classificados como cambissolos. Analisando os solos à escala 1:25000, verifica-se que cerca de 1/4 da área não está cartografada (N/C), coincidindo com a ocupação de praia, mata e a área do núcleo urbano da praia de Carreço. A análise da área cartografada, no que se refere às unidades pedológicas, mostra que 98,28% dos solos estão classificados com cambissolos e 1,72% como antrossolos.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

37

FIGURA 6. UNIDADES CARTOGRÁFICAS NA ÁREA DO PIERACA

O quadro abaixo apresenta os grupos de solo, unidades cartográficas e subunidades presentes na área de ação do PIERACA.

GRUPOS UNIDADES SUB-UNIDADES AREA %

ATcd.g de materiais de AT Antrossolos ATcd Cumúlicos 11,38ha 1,72% granitos ou rochas afins

CMdx Cambissolos CMdx.t em sedimentos 82,31ha 12,42% dístricos crómicos detríticos não consolidados

CM Cambissolos CMdp.t em sedimentos CMdp Cambissolos detríticos não consolidados, 568,84ha 85,86% dístricos pardacentos em terraços fluviais ou marinhos TABELA 3. GRUPOS PRINCIPAIS, UNIDADES E SUBUNIDADES DE SOLO NA ÁREA DO PIERACA

A análise da área cartografada indica uma predominância clara da unidade de solo cambissolos, especificamente os cambissolos dístricos, que são solos que apresentam um horizonte A ócrico e grau de saturação em bases superior a 50 %, sem propriedades vérticas, sem propriedades ferrálicas no horizonte B câmbrico; sem propriedades gleicas até 100 cm a partir da superfície.

A subunidade dominante na área de ação do PIERACA são os cambissolos dístricos pardacentos, em sedimentos detríticos não consolidados, em terraços fluviais ou marinhos, o que coincide com as áreas com uso agrícola e com espessura do solo igual ou superior a 100cm.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

38

Verifica-se que o perímetro urbano de Montedor desenvolve-se em antrossolos e em cambissolos distritos crómicos, onde a espessura do solo é inferior (até 75cm).

3.1.4.3 Aptidão do Solo Segundo a ‘Memória da Carta de Solos e Carta de Aptidão da Terra’, na elaboração da ‘Carta de Aptidão da Terra’ foi adotado o sistema de classificação da terra (Land suitability evaluation) recomendado pela Food and Agriculture Organization (FAO).

“O objetivo principal deste sistema é a seleção do uso ótimo para cada unidade de terra definida, atendendo a considerações de ordem física e económica e à conservação dos recursos do meio para usos futuros. (...) A terra corresponde a um conceito mais vasto que o de solo, resultando da interação de todos os elementos do meio que afetam o seu potencial de utilização, incluindo, além do solo, fatores relevantes do clima, litologia, geomorfologia, hidrografia, cobertura vegetal, ocupação agroflorestal, e ainda os resultados da atividade humana.” A análise da ‘Carta de Aptidão da Terra’ permite concluir que na área de ação do PIERACA, a maioria da área cartografada tem aptidão moderada para a prática agrícola, o que coincide com as áreas de cambissolos, sobretudo os cambissolos dístricos pardacentos, situados na classe de declives 1 (0-5-6%). Esta unidade pedológica encontra-se englobada na RAN, e a sul de Montedor, em RAN e REN.

Aptidão marginal para a agricultura e elevada aptidão florestal, corresponde aos regossolos, com predomínio de declives até 15%. A fertilidade dos solos cartografados na área do PIERACA corresponde a 1 (fertilidade relativamente elevada).

FIGURA 7. FERTILIDADE, ESPESSURA E APTIDÃO AGRÍCOLA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

39

3.1.5 ECOLOGIA O presente ponto tem como objetivo a caraterização e diagnóstico ambiental da área de intervenção do Plano de Intervenção em Espaço Rural para Afife, Carreço e Areosa, relativamente à componente Ecológica.

3.1.5.1 Metodologia Pretende-se com o presente trabalho caracterizar e analisar a situação de referência no que concerne a:

• Caracterização dos habitats, biótopos, flora e fauna terrestre da área de estudo; • Identificação das áreas importantes de habitats, flora e fauna; • Avaliação da importância dos principais biótopos para as comunidades faunísticas.

3.1.5.1.1 Cartografia de Habitats e Biótopos A metodologia adotada para a elaboração da cartografia de habitats para o sector costeiro foi desenvolvida em ambiente de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), open source, mais especificamente recorrendo ao software Quantum Gis. Na caracterização dos habitats naturais, que se apresenta em seguida, efetuou-se a cartografia de habitats, com uma memória descritiva ajustada à escala do plano, a partir da reclassificação da Carta de Ocupação do Solo de 2007 (COS2007) nível 5 para Portugal da autoria do IGP. A vantagem da utilização desta cartografia deve-se ao facto de ser uma base cartográfica de 2007, em formato vetorial, com uma excelente qualidade cartográfica, com as características e especificidades anteriormente descritas, para uma escala de utilização ajustada à escala da área de estudo. À semelhança da COS 2007, para o PIER, os níveis de maior detalhe estão contidos nos níveis de menor detalhe, de acordo com a seguinte correspondência (Tabela 4).

CLASSE HABITATS

Habitats costeiros e vegetação halófila 1210, 1230, 1310 Dunas marítimas e interiores 2110, 2120, 2130*, 2150*, 2230, 2330 Habitats de água doce 3130, 3260 Charnecas e matos das zonas temperadas 4020*, 4030 Formações herbáceas naturais e 6410, 6420, 6430, 6510 seminaturais Habitats Rochosos 8230 Florestas 91E0* TABELA 4. ENQUADRAMENTO DOS CÓDIGOS DOS HABITATS NA CLASSE

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

40

Esta reclassificação permitiu obter um produto cartográfico ao nível de habitats com um nível de detalhe do pormenor planimétrico consistente com a informação de base utilizada (COS2007). A escala de edição cartográfica e de digitalização dos dados vetoriais foi constante, de 1:5 000 (Figura 8).

FIGURA 8. EXEMPLO DE UMA TRANSFORMAÇÃO DA NOMENCLATURA DO COS 2007 PARA A NOMENCLATURA DE HABITATS SEM ALTERAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO PLANIMÉTRICA

Após a reclassificação do COS 2007 nível 5, cada mancha, com área mínima de 0,25ha, foi aferida através dos ortofotomapas de 2015 e através da sua calibração com base na visualização no terreno onde foram realizadas 5 saídas de campo. Desta forma, por vezes verificou-se a necessidade de modificar espacialmente algumas manchas e também de atribuir habitats diferentes do estipulado pela reclassificação anteriormente feita (Figura 9).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

41

FIGURA 9. TRANSFORMAÇÃO PLANIMÉTRICA E TEMÁTICA DA COS 2007 NA CARTOGRAFIA DE HABITATS NATURAIS

3.1.5.1.2 Flora A metodologia utilizada para a identificação da flora, e complementar também a cartografia de habitats e biótopos, teve por base a realização de trabalho de campo e a compilação de informação bibliográfica disponível sobre a flora potencial da zona de estudo.

O trabalho de campo, realizado durante cinco saídas de campo com a realização de 37 inventários (Figura 10) permitiu a caracterização da área de estudo através da realização de levantamentos sistemáticos da flora existente na área de estudo e pela análise crítica da literatura existente (Castroviejo et al., 1986-2015; Franco, 1971, 1984 e Franco & Rocha Afonso, 1994, 1998 e 2003).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

42

FIGURA 10. LOCALIZAÇÃO DOS INVENTÁRIOS NA ÁREA DE ESTUDO

A maioria das espécies foi identificada no terreno, não obstante se terem colhido alguns exemplares para posterior identificação. A nomenclatura está maioritariamente de acordo com a Flora Ibérica (Castroviejo et al., 1986-2015) para os volumes já publicados e para a Nova Flora de Portugal (Franco, 1971, 1984; Franco & Rocha Afonso, 1994, 1998 e 2003) para os restantes grupos. A realização dos inventários foi complementada com a realização de transetos em toda a área de estudo, de forma identificar as espécies inscritas na Diretiva Habitats, espécies RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou em Perigo de Extinção) e espécies exóticas invasoras presentes na área de estudo.

É de salientar que não se pretendeu efetuar um levantamento exaustivo da flora vascular, mas sim realizar a identificação e georreferenciação de áreas onde se detetou a presença de espécies da Diretiva Habitats e RELAPE que podem de algum modo condicionar a alteração do uso de solo.

3.1.5.1.3 Fauna De forma a caraterizar as comunidades faunísticas presentes na área de intervenção do PIER para Afife, Carreço e Areosa, e tendo em consideração os prazos disponíveis para a realização

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

43

deste estudo, o presente relatório baseia-se na recolha de informação bibliográfica, complementada com levantamentos de campo na área de estudo. Nos levantamentos de campo procurou-se efetuar inventários das espécies presentes. Foram ainda identificados e referenciados os principais biótopos presentes, permitindo assim enquadrar de forma adequada a informação bibliográfica recolhida. A caracterização da fauna resultou na elaboração de listas de espécies presentes ou potencialmente presentes para a área geral e distribuídas pelos diferentes biótopos identificados na área de estudo, que permitem avaliar a sua importância específica para as comunidades faunísticas.

Tendo em consideração as espécies identificadas nos trabalhos de campo, as descritas na bibliografia consultada e os biótopos encontrados na área de estudo, classificou-se a ocorrência das espécies em confirmada, provável ou pouco provável, de acordo com os seguintes critérios:

• Confirmada: espécie detetada nos trabalhos de campo; • Provável: espécie não confirmada nos trabalhos de campo, descrita na bibliografia para a área envolvente, com presença de habitat adequado na área de estudo; • Pouco provável: espécie não confirmada nos trabalhos de campo, descrita na bibliografia para a área envolvente, sem presença de habitat adequado na área de estudo; ou presença de habitat adequado na área de estudo mas não descrita na bibliografia para a área diretamente envolvente, mas presente nas áreas adjacentes.

a) Metodologias de amostragem Tendo em consideração o objetivo do presente estudo e o tempo disponível para a realização do mesmo, foram efetuadas amostragens de campo direcionadas para herpetofauna, aves e mamíferos não voadores, sendo a informação sobre os peixes e quirópteros baseada na informação bibliográfica recolhida. Os levantamentos de campo foram realizados em três visitas à área de estudo. Para a caraterização faunística foram realizados transectos na área de estudo, a pé e de carro, e foram realizados períodos de audição em pontos específicos (pontos de escuta), ambas as metodologias permitiram o registo das espécies e indícios observados. Nas visitas foram ainda registados e georreferenciados os diferentes biótopos encontrados ao longo da área de estudo.

De forma a caracterizar as comunidades faunísticas e os biótopos presentes procurou-se percorrer o máximo possível da área de estudo. Os transectos e pontos de escuta foram realizados em pontos selecionados pelas suas características de habitats, tentando abranger todas as tipologias de biótopos presentes, privilegiando as áreas de maior riqueza faunística, como por exemplo em áreas de transição de biótopos e áreas de ecótono.

b) Tipologia da caracterização efetuada Tendo em consideração os objetivos deste trabalho optou-se por realizar a caracterização do património faunístico da área com 3 níveis diferenciados de análise.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

44

a) Enquadramento ecológico da área de estudo Importância geral da área de estudo no contexto das redes de áreas protegidas a nível nacional (pela Rede nacional de áreas protegidas) e europeu (pela Rede Natura 2000).

b) Caraterização geral da fauna área de estudo Análise das espécies presentes, através de levantamentos de campo e da informação existente no mais recente atlas dos grupos faunísticos, incluindo a análise da importância da área para o Sítio de Importância Comunitária Litoral Norte, incluído na Rede Natura 2000. c) Biótopos

Distribuição das espécies pelos diferentes biótopos presentes na área.

c) Grupos alvo São avaliados detalhadamente neste relatório os grupos faunísticos correspondentes aos vertebrados terrestres e dulciaquícolas, especificamente:

• Peixes • Herpetofauna • Aves terrestres • Mamíferos terrestres

Todas as espécies potencialmente presentes serão analisadas, no entanto será dada particular relevância às espécies com estatutos de conservação mais elevados. Relativamente aos estatutos de conservação em Portugal, pelo LVVP, neste trabalho consideram-se como espécies ameaçadas as espécies classificadas com os estatutos de conservação Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente Ameaçado (CR).

3.1.5.2 Resultados 3.1.5.2.1 Habitats e Biótopos a) Caracterização dos Habitats Na área de estudo foram identificados 19 habitats que correspondem a 21 subtipos de habitats (Tabela 5), pois os habitats 91E0* - Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae) e o 6410 - Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo-limosos (Molinion caeruleae) apresentam cada um dois subtipos na área de estudo, designadamente o 91E0*pt1 - Amiais ripícolas e 91E0*pt3 - Amiais e salgueirais paludosos e 6410pt1 - Comunidades derivadas de Molinia caerulea e 6410pt2 - Juncais acidófilos de Juncus acutiflorus, J. conglomeratus e/ou J. effusus.

Dos habitats identificados existem 4 de conservação prioritária, o já referido 91E0*, o habitat 4020* - Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix com o subtipo de habitat 4020pt2 - Urzais-tojais termófilos, o habitat 2130* - Dunas fixas com vegetação

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

45

herbácea (‘dunas cinzentas’) com o subtipo de habitat 2130*pt3 - Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Helichrysum picardii e Iberis procumbens e caracterizados pela ausência de Armeria sp.pl. e o habitat 2150* - Dunas fixas descalcificadas atlânticas (Calluno- Ulicetea) com o subtipo de habitat 2150*pt1 - Dunas fixas com tojais psamófilos com Ulex europaeus subsp. latebracteatus.

SUBTIPO DE HABITAT DESIGNAÇÃO DESIGNAÇÃO HABITAT

Habitats costeiros e vegetação halófila 1210 Vegetação anual das zonas intertidais Falésias com vegetação das costas 1230 atlânticas e bálticas Vegetação pioneira de Salicornia e outras Vegetação anual de arribas 1310 espécies anuais das zonas lodosas e 1310pt5 litorais atlânticas arenosas Dunas marítimas e interiores 2110 Dunas móveis embrionárias Dunas móveis do cordão litoral com 2120 Ammophila arenaria (‘dunas brancas’) Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Dunas fixas costeiras com vegetação Helichrysum picardii e Iberis 2130* 2130*pt3 herbácea (‘dunas cinzentas’) procumbens e caracterizados pela ausência de Armeria sp.pl. Dunas fixas com tojais Dunas fixas descalcificadas atlânticas psamófilos com Ulex 2150* 2150*pt2 (Calluno-Ulicetea) europaeus subsp. latebracteatus Dunas costeiras com prados 2230 Dunas com prados da Malcolmietalia 2230pt1 anuais oligotróficos Dunas interiores com prados abertos de 2330 Corynephourus e Agrostis Habitats de água doce Águas estagnadas, oligotróficas a Charcos sazonais mesotróficas, com vegetação da oligotróficos, pouco 3130 3130pt3 Littorelletea uniflorae e ou da Isoeto- profundos, com vegetação de Nanojuncetea Isoetetalia Cursos de água dos pisos basal a 3260 montano com vegetação da Ranunculion fluitantis e a Callitricho-Batrachion Charnecas e matos das zonas temperadas Charnecas húmidas atlânticas 4020* temperadas de Erica ciliaris e Erica 4020*pt2 Urzais-tojais termófilos tetralix Tojais e urzais-tojais galaico- 4030 Charnecas secas europeias 4030pt2 portugueses não litorais Formações herbáceas naturais e seminaturais

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

46

SUBTIPO DE HABITAT DESIGNAÇÃO DESIGNAÇÃO HABITAT Comunidades derivadas de 6410pt1 Pradarias com Molinia em solos calcários, Molinia caerulea 6410 turfosos e argilo-limosos (Molinion Juncais acidófilos de Juncus caeruleae) 6410pt2 acutiflorus, J. conglomeratus e/ou J. effusus Pradarias húmidas mediterrânicas de 6420 ervas altas da Molinio-Holoschoenion Vegetação higrófila Comunidades de ervas altas higrófilas das 6430 6430pt2 megafórbica perene de solos orlas basais e dos pisos montano a alpino permanentemente húmidos Prados de feno pobres de baixa altitude 6510 (Alopecurus pratensis, Sanguisorba officinalis) Habitats Rochosos Rochas siliciosas com vegetação pioneira Tomilhais galaico- 8230 da Sedo-Scleranthion ou da Sedo albi- 8230pt1 portugueses Veronicion dillenii Florestas Florestas aluviais de Alnus glutinosa e 91E0*pt1 Amiais ripícolas 91E0* Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion Amiais e salgueirais 91E0*pt3 incanae, Salicion albae) paludosos TABELA 5. HABITATS E RESPETIVOS SUBTIPOS DE HABITATS IDENTIFICADOS NA ÁREA DE ESTUDO

Os subtipos de habitats geralmente ocorrem em mosaico sendo que foram cartografados em 48 diferentes combinações. Estas unidades cartográficas foram agrupadas em seis classes com base no habitat serial mais evoluído que é o que geralmente determina a estrutura do mosaico de habitats. No total foram cartografados 155,4 ha de habitats (cerca de 17% da área de estudo), correspondentes a 39 polígonos (Tabela 6 e Figura 11).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

47

HABITAT/HABITAT SUBTIPO ÁREA (HA) N.º POLÍGONOS Habitats costeiros e vegetação halófila 1210 33,97 3 1210+1230 2,46 1 1230 7,35 3 1230+1310pt5 8,32 1 1230+8230pt1 23,62 1 Subtotal 75,72 9 Dunas marítimas e interiores 1210+2110+2120+2130*pt3+2230pt1+2330 6,02 1 2120+2130*pt3+2150*pt2+2230pt1 0,28 1 2120+2130*pt3+2150*pt2+2230pt1+2330 7,58 1 2120+2130*pt3+2230pt1 6,63 1 2130*pt3+2150*pt2+2230pt1+2330+6420 4,92 1 Subtotal 25,43 5 Charnecas e matos das zonas temperadas 3130pt3+4020*pt2+4030pt2+6410pt1 8,59 1 4020*pt2+4030pt2 0,83 1 4020*pt2+4030pt2+8230pt1 2,67 1 4030pt2 2,51 2 Subtotal 14,6 5 Formações herbáceas naturais e seminaturais 6410pt2 3,09 3 6410pt2+6430pt2 2,85 1 6410pt2+6510 1,57 1 6510 0,95 1 Subtotal 8,64 6 Florestas 3260+6430pt2+91E0*pt1 2,93 4 3260+6430pt2+91E0*pt1+91E0*pt3 2,88 1 6410pt1+6410pt2+6430pt2+91E0*pt3 16,17 3 6410pt2+6430pt2+91E0pt3 8,52 5 6430pt2+91E0*pt3 0,71 1 Subtotal 31,21 14 TOTAL 155,4 39 TABELA 6. COMBINAÇÕES DE HABITATS E SUBTIPO DE HABITATS E ÁREA DE OCUPAÇÃO

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

48

FIGURA 11. COMBINAÇÕES DE HABITATS E SUBTIPO DE HABITAT

Os Habitats costeiros e vegetação halófila são os mais importantes em termos de extensão, ocupando uma área total de 75,72 ha e ocorrem praticamente em toda a linha de costa da área do PIER. Na zona adjacente à duna embrionária pode existir o habitat 1210 - Vegetação anual das zonas intertidais, que corresponde a formações de plantas halonitrófilas (Cakile maritima, Honkenia peploides) que ocorrem nas zonas de deposição de detritos pela maré. A presença deste habitat é dependente da dinâmica costeira e nos perfis regressivos encontra-se muitas vezes ausente. Contudo, devido ao facto de ser habitat constituído por plantas anuais, pode ocorrer facilmente na maioria das praias desde que haja condições de deposição de detritos. Como este habitat não é possível de identificar por ortofotomapas e é dominado por vegetação anual, optou-se por o cartografar para todas as zonas em que se supõe ter condições para a sua existência.

O habitat típico de vegetação de falésias terrestre presente no território litoral do norte de Portugal corresponde ao habitat 1230 - Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas, dominado pela Armeria pubigera e Crithmum maritimum, encontrando-se muito bem representado em algumas zonas de falésia como Montedor (Figura 12).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

49

FIGURA 12. REPRESENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO TÍPICA DO HABITAT 1230

Segundo a ficha do habitat, o habitat 1230 também inclui as formações aero-halófilas pulviniformes dominadas por Ulex europaeus subsp. latebracteatus em plataformas expostas aos ventos marítimos (ICNF, 2006). Este habitat foi identificado nos inventários PR7, PR8, PR12 e PR22 do Anexo I, dominados por urzes (Erica ciliaris, E. cinerea, E. umbellata e Calluna vulgaris) e tojos (Ulex minor e U. europaeus) (Figura 13).

FIGURA 13. REPRESENTAÇÃO DO HABITAT 1230

O habitat 1310 - Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais das zonas lodosas e arenosas ocorre nas zonas de transição entre as zonas lodosas e arenosas a descoberto na maré

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

50

baixa e as formações de vegetação permanente nas zonas de sapal mais externo. Na área de estudo e nas zonas de acumulação de água de salsugem em zonas de falésia ocorre o subtipo 5 do habitat 1310 - Vegetação anual de arribas litorais atlânticas, com espécies anuais halonitrófilas tais como Cochlearia danica e Sagina maritima. Algumas espécies com interesse para a conservação podem ser encontradas neste mosaico de habitats (1230 e 1310), designadamente Spergularia australis e Armeria pubigera.

Por vezes a acompanhar o habitat 1230 também se identificou o habitat 8230 subtipo 1 – Tomilhais galaico-portugueses, caracterizado por formações de nanocaméfitas (“tomilhais”) dominadas pelo tomilho Thymus caespititius, pela gramímea cespitosa Agrostis truncatula subsp. commista e Sedum brevifolium, espécies inventariadas no inventário PR28 do Anexo I.

Os habitats integrados no grupo Florestas são os segundos mais expressivos da área de estudo, ocupando uma área total de 31,21 ha. O habitat de conservação prioritária 91E0* - Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae) é o mais representativo e está presente em todas as combinações do grupo Florestas. Associado às margens de cursos de água permanentes, ocorre o subtipo 91E0pt1- Amiais ripícolas, identificado nos inventários PR16, PR19 e PR35 do Anexo I, dominado pelo amieiro (Alnus glutinosa) e/ou pelo salgueiro (Salix atrocinera), e por vezes com loureiro (Laurus nobilis). Contudo, este habitat por se encontrar fragmentado com uma baixa percentagem de amieiros e pela presença de espécies exóticas invasoras como as acácias (Acacia dealbata, A. melanoxylon e A. longifolia), apresenta um estado de conservação baixo. Juntamente com este subtipo de habitat, na área de estudo, ocorre o habitat 3260 - Cursos de água dos pisos basal a montano com vegetação da Ranunculion fluitantis e habitat 6430 - Comunidades de ervas altas higrófilas das orlas basais e dos pisos montano a alpino.

O subtipo 91E0pt3 - Amiais paludosos, é mais frequente do que o 91E0pt1, tendo sido identificado nos inventários PR17, PR26 e PR36, dominado pelo salgueiro (Salix atrocinera). Este subtipo de habitat, na área de estudo, está sempre associado ao habitat 6410 - Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo-limosos (Molinion caeruleae), com elevada abundância de Molinia caerulea no inventário PR26 do Anexo I, e ao habitat 6430 - Comunidades de ervas altas higrófilas das orlas basais e dos pisos montano a alpino. Ao contrário do subtipo 91E0pt1, o subtipo 91E0pt3 encontra-se num estado de conservação médio a elevado uma vez que não foram identificadas em nenhum dos inventários espécies exóticas.

Os habitats de Dunas marítimas e interiores são os terceiros mais representativos na área do PIER ocupando uma área total de 25,43 ha. Os complexos de vegetação das dunas litorais resultam de um processo de acumulação de areia trazida pelo vento. A deposição da areia é controlada por muitos fatores sendo o principal a presença de vegetação. Por essa razão, as dunas constituem sistemas dinâmicos de interação entre o mar e o continente, resultando numa zonação de vegetação em bandas paralelas à costa denominada “complexo de vegetação dunar”.

O habitat 2110 - Dunas móveis embrionárias, corresponde às zonas de duna embrionária, que apesar de em algumas zonas da costa estar quase ausente, apresenta-se sob a forma de alguns

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

51

pés de feno-das-areias (Elymus farctus subsp. boreali-atlanticus). Este habitat ocorre de forma muito esporádica, estando ausente nas zonas de maior erosão costeira. Na zona de crista ocorre o habitat 2120 - Dunas móveis do cordão litoral com Ammophila arenaria, dominado pelo estorno. Este habitat é o verdadeiro construtor da duna já que impede a deposição da areia nas zonas mais interiores e foi identificado no inventário PR5 do Anexo I, dominado pela Ammophila arenaria, Artemisia crithmilifolia, Carpobrotus edulis e Elymus farctus.

O habitat de conservação prioritária 2130* - Dunas fixas costeiras com vegetação herbácea ocorre numa zona mais interna, identificado no inventário PR9 do Anexo I, geralmente após o habitat 2120. Na área de estudo encontra-se representado pelo subtipo 2130pt3 - Duna cinzenta com matos camefíticos dominados por Helichrysum italicum subsp. picardii e Iberis procumbens e caracterizados pela ausência de Armeria sp. Pl (ICN 2006). As espécies mais abundantes são a Artemisia crithmifolia, o Helichrysum italicum subsp. picardii, o Corynephorus canescens e a Corrigiola litoralis. Este habitat ocorre frequentemente no litoral, aparecendo mesmo em situações em que os habitats dunares mais frontais estão ausentes. Pode ser muito modificado por alterações da dinâmica costeira, quando há deposição de areia na duna interior devido à ausência de uma duna frontal protetora. Outro fator de ameaça é a invasão do habitat por chorão (Carpobrotus edulis), que ocorre um pouco por toda a área de estudo.

Nas clareiras do habitat 2130* ocorre muitas vezes o habitat 2330 - Dunas interiores com prados abertos de Corynephorus e Agrostis, identificado no inventário PR4 do Anexo I e dominado pela gramínea Corynephorus canescens var. maritimus, pelo Helichrysum italicum subsp. picardii e pela Malcolmia littorea, e o habitat 2230 - Dunas com prados de Malcolmietalia, que no caso da área de estudo é representado pelo subtipo 2230pt1 - Dunas costeiras com prados anuais oligotróficos dominados por Medicago littoralis, Silene nicaeensis e Silene littorea. A sua presença ao longo da costa está relacionada com a presença do habitat 2130*, estando na maioria das vezes estes três habitats em mosaico. Contudo, em algumas situações pode existir desaparecimento do habitat 2330 devido a alterações da dinâmica costeira causados por processos erosivos que levam à destruição da duna frontal que serve de barreira à progressão da areia para a duna interior. O pisoteio excessivo durante a época de veraneio pode destruir tanto o habitat 2330 como o habitat 2230, porém os passadiços recém construídos minimizam este impacto. O habitat prioritário 2150* - Dunas fixas descalcificadas atlânticas (Calluno-Ulicetea), ocorre de forma esporádica no interior de dunas consolidadas. Na área de estudo é caracterizado pelo subtipo 2150pt2 - Dunas fixas com tojais psamófilos com Ulex europaeus subsp. latebracteatus, identificado no inventário PR10 do Anexo I, onde as espécies dominantes são o Ulex europaeus e o Cistus psilosepalus. A área de ocupação deste habitat no passado foi muito reduzida devido à atividade agrícola e nos últimos anos pela expansão da Acacia longifolia. As depressões da duna secundária, com lençol freático mais superficial, são muito comuns em todos os complexos dunares e albergam o habitat 6420 - Pradarias húmidas mediterrânicas de ervas altas da Molinio-Holoschoenion colonizadas por Juncáceas e Ciperáceas. A comunidade vegetal mais comum nas dunas costeiras da Península Ibérica é dominada por Scirpoides holoschoenos e é enquadrada em termos fitossociológicos na aliança Holoschoentalia vulgaris

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

52

da classe Molinio-Arrhenatheretea, que engloba as comunidades dominadas por Scirpoides holoschoneos em gleysolos temporariamente inundados, geralmente de clima mediterrânico, e que são normalmente enquadráveis no habitat 6420.

Os habitats associados às Charnecas e matos das zonas temperadas ocupam uma área total de 14,6 ha. Apesar de estarem associados a este grupo vários habitats, os dominantes são o habitat prioritário 4020* - Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix, a que corresponde a formação arbustiva dominada por urzes e tojos higrófilos, e o habitat 4030 - Charnecas secas europeias, correspondente a formações seriais mesófilas ou xerófilas dominadas por tojo e/ou urze.

O habitat prioritário 4020* com o subtipo 2- Urzais-tojais termófilos foi identificado no inventário PR27, PR34 e PR37 do Anexo I, sendo as espécies com maior abundância a Erica ciliaris e o Ulex minor, e estando sempre em mosaico com o habitat 4030 pois o 4020 ocupa as áreas mais baixas e o 4030 as áreas mais altas de matos. O habitat 4030 com o subtipo 2 - Tojais e urzais-tojais galaico-portugueses não litorais, dominado pelo Ulex europaeus subsp. latebracteatus, identificado nos inventários PR29 e PR33, é muito abundante no Minho e Douro Litoral, mas na área de estudo ocorre em duas manchas a sul de Montedor na freguesia de Carreço em mosaico com o 4020*pt2 e em duas manchas isolado na freguesia de Areosa. Na mancha mais a sul, na freguesia de Carreço, encontra-se nas clareiras do 4030pt2, o habitat 8230 - Rochas siliciosas com vegetação pioneira da Sedo- Scleranthion ou da Sedo albi-Veronicion dillenii, subtipo 1 - Tomilhais galaico-portugueses. Além disso, o habitat 8230pt1 só foi mais cartografado nas clareiras das formações aero- halófilas pulviniformes dominadas por Ulex europaeus subsp. latebracteatus enquadradas no habitat 1230 em Montedor. A sul da freguesia de Carreço, quase no limite com a freguesia de Areosa, foi cartografada uma mancha de 8,5 ha (onde estão inseridos o inventário PR27 e o PR37) em que os habitats 4020*pt2 e 4030pt2 aparecem em mosaico com o habitat 3130 - Águas estagnadas, oligotróficas a mesotróficas, com vegetação da Littorelletea uniflorae e ou da Isoeto- Nanojuncetea subtipo 3 - Charcos sazonais oligotróficos, pouco profundos, com vegetação de Isoetetalia, e com o habitat 6410 - Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo- limosos (Molinion caeruleae) subtipo 1 - Comunidades derivadas de Molinia caerulea.

As Formações herbáceas naturais e seminaturais na área de estudo ocupam uma área muito pequena, de apenas 8,64 ha. O habitat 6410 - Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo-limosos (Molinion caeruleae), subtipo 2 - Juncais acidófilos de Juncus acutiflorus, J. conglomeratus e/ou J. effusus, na área de estudo é o habitat dominante deste grupo. Este habitat corresponde aos juncais baixos dominados por Juncus acutiflorus que é a espécie dominante nos inventários PR14 e PR24 do Anexo I onde foram identificados este habitat. Este habitat aparece isolado na área de estudo ou em mosaico com o habitat 6430 - Comunidades de ervas altas higrófilas das orlas basais e dos pisos montano a alpino, subtipo 2 - Vegetação higrófila megafórbica perene de solos permanentemente húmidos, ou com o habitat 6510 - Prados de feno pobres de baixa altitude (Alopecurus pratensis, Sanguisorba officinalis).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

53

O habitat 6430pt2 foi identificado no inventário PR15 do Anexo I, tendo como espécies dominantes o Lythrum salicaria, Lycopus europaeus e Typha latifolia, típicas de áreas de Prados e o habitat 6510, foi identificado no PR30 no Anexo I, dominado pelo Holcus lanatus e a Plantagula lanceolata.

b) Caracterização dos Biótopos Através da classificação da vegetação e habitats presentes definiram-se oito biótopos principais na área de estudo (Tabela 7 e Figura 14)

ÁREA BIÓTOPOS N.º DE POLÍGONOS ha % Acacial 50,05 5,94 10 Bosques 32,07 3,81 15 Campos Agrícolas 524,49 62,24 33 Dunas 59,40 7 8 Litoral Rochoso 42,19 5 6 Matos 38,42 4,56 21 Povoamentos Florestais 87,21 10,35 12 Prados 8,46 1 6 TOTAL GERAL 842,74 - 111 TABELA 7. DISTRIBUIÇÃO DO TIPO DE BIÓTOPOS

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

54

FIGURA 14. CARTOGRAFIA DOS BIÓTOPOS

Os Campos Agrícolas (Anexo I - PR2, PR15 e PR25) é o biótopo mais representativo na área de estudo, com uma área total de 524,49 ha (62,24 % da área total). Este biótopo corresponde a uma unidade de vegetação artificial e que tem sido modelada de acordo com as necessidades humanas. Estas comunidades podem ser muito variáveis na composição florística, de acordo com a disponibilidade hídrica, o tipo de solos e finalmente as espécies cultivadas. Na área de estudo destaca-se o milho e o cultivo de outras plantas forrageiras.

Do ponto de vista florístico, este biótopo apresenta um baixo valor ecológico específico e não possui nenhum habitat do Anexo I da Diretiva Habitats.

Povoamentos Florestais (Anexo I – PR1, PR11, PR20 e PR21) o segundo biótopo mais abundante na área de estudo, com uma área de ocupação de 87,21 ha (10,35 % da área total cartografada), são essencialmente dominados por florestas de pinheiro e esporadicamente com eucalipto. A grande maioria dos povoamentos florestais apresenta um subcoberto dominado por acácias com particular destaque para a acácia-de-espigas (Acacia longifolia).

O biótopo Dunas (Anexo I – PR4, PR5, PR9 e PR10) é o terceiro maior e abrange todos os habitats da classe de dunas marítimas e interiores. Além dos habitats de dunas, também inclui o habitat

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

55

1210 pois ocorre na zona adjacente à duna embrionária. Também inclui todas as zonas dadas pela COS 2007 como sendo de Praias e dunas mesmo não tendo qualquer habitat natural. O quarto biótopo mais abundante na área de estudo é o Acacial (Anexo I – PR3 e PR18), ocupando 50,05 ha da área cartografada, que corresponde a aproximadamente 6% da área total cartografada. Este é composto essencialmente pela acácia-de-espigas (Acacia longifolia). Em toda a área é abundante a presença de espécies exóticas invasoras, das quais as do género Acacia são as mais evidentes.

FIGURA 15. ACACIAL

O biótopo Litoral Rochoso (Anexo I – PR7, PR8, PR12 e PR22) ocupa cerca de 5 %, porque somente corresponde às zonas litorais rochosas com o habitat 1230. Estas zonas também podem conter o habitat 1310pt5 e/ou o 1210.

FIGURA 16. BIÓTOPO LITORAL ROCHOSO COM SPARTINA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

56

Na área de estudo foram cartografadas as quatro manchas referentes ao habitat 4030pt2 no biótopo Matos (Anexo I – PR6, PR23, PR27, PR28, PR29, PR32, PR33, PR34 e PR37). Além disso também se enquadrou neste biótopo, mais algumas manchas com outro tipo de matos como os silvados e giestais. Ainda foi incluída uma mancha dominada pelo feto-ordinário (Pteridium aquilinum) que apesar de não ser uma espécie arbustiva apresentava uma estrutura fechada tal como os silvados e além disso também tinha alguns arbustos pelo que em poucos anos pode dar origem a um urzal-tojal. Mesmo com estes tipos de matos incluídos, a área de ocupação é reduzida pois este biótopo representa somente 4,56%. Existia na COS 2007, outras áreas referidas como matos mas por estarem sobre dunas, em plataformas expostas aos ventos marítimos (não seriais) ou constituída por espécies lenhosas invasoras foram colocadas nos biótopos dunas, litoral rochoso e acaciais, respetivamente. O biótopo Bosques (Anexo I – PR16, PR17, PR19, PR26, PR35 e PR36) corresponde à classe de bosques dos habitats e por isso apenas estão registadas as 15 pequenas manchas dominadas pelo habitat 91E0 (habitat de conservação prioritária do Anexo I da Diretiva Habitats) que perfazem uma área total de 32,07 ha, representando apenas 3,81% da área total de biótopos cartografada. O biótopo Prados (Anexo I – PR14, PR15, PR24, PR30 e PR31) é o menos representativo, ocupando uma área de 8,46 ha. Foram identificadas e cartografadas cinco pequenas manchas de Prados dominadas pelo habitat 6410pt2 e uma mancha dominada pelo habitat 6510.

c) Identificação das áreas importantes para os Habitats e Biótopos As áreas mais importantes no que aos habitats diz respeito são as correspondentes aos habitats de conservação prioritária 2130* (Dunas fixas costeiras com vegetação herbácea), 2150* (Dunas fixas descalcificadas atlânticas), 4020* (Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix) e 91E0* (Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior). Além destes, o habitat 2110 - Dunas móveis embrionárias, e o habitat 2120 - Dunas móveis do cordão litoral com Ammophila arenaria são também muito importantes pois são os habitats que começam a estabilizar a areia e impedem a passagem da água do mar para o interior da duna e encontram-se em mau estado de conservação na maior parte da área de estudo. Os habitats do litoral rochoso (1230 - Falésias com vegetação das costas atlânticas e bálticas e 1310 - Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais das zonas lodosas e arenosas) pela sua raridade em Portugal e pelo facto de estarem ameaçados pela pressão urbanística e espécies invasoras também são considerados como muito importantes.

Desta forma, as áreas com os habitats acima referidos são muito importantes e devem ser protegidas. Num outro nível, mas que também deve merecer uma atenção particular são as outras áreas com habitats naturais. Estas duas zonas possuem 155,4 ha de habitats (cerca de 17% da área de estudo). Os biótopos sem habitats naturais apresentam uma menor importância para a conservação da natureza (acaciais, campos agrícolas e povoamentos florestais). Destes, os povoamentos florestais por serem constituídos maioritariamente por uma espécie autóctone (o pinheiro-bravo), podendo

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

57

ainda possuir a gilbardeira (Ruscus aculeatus), uma espécie da Diretiva habitats, apresenta um valor um pouco superior aos outros. Por outro lado, os acaciais não apresentam qualquer valor ecológico devendo se fosse possível serem eliminados por serem dominados por espécies exóticas invasoras. Assim, podemos então só considerar duas zonas, uma de maior importância com os habitats prioritários e outros habitats ameaçados (Zona I) e uma segunda com os outros habitats (Zona II) (Figura 17).

FIGURA 17. DISTRIBUIÇÃO DOS HABITATS POR ZONAS DE IMPORTÂNCIA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

58

3.1.5.2.2 Flora a) Caracterização da Flora Com base nos inventários e transectos realizados foram identificadas 148 espécies (ANEXO II), mas o número deve ser consideravelmente superior pois o trabalho decorreu do Verão ao Inverno, não incluindo a Primavera quando a maior parte das espécies estão floridas e é mais fácil a sua identificação. Das espécies registadas, duas estão inscritas na Diretiva Habitat e sete são consideradas espécies RELAPE (Raras, Endémicas, Localmente Ameaçadas ou em Perigo de Extinção), como mostra a Tabela 8.

ESPÉCIES ANEXOS DA ESPÉCIES REFERIDAS NO TAXON DIRECTIVA OBSERVADAS NA SIC LITORAL HABITATS ÁREA DE ESTUDO NORTE Jasione maritima var. sabularia (=J. II, IV X lusitanica) Narcissus triandrus IV X Narcissus bulbocodium V X Ruscus aculeatus V X X Outras espécies RELAPE Allium ericetorum X Angelica pachycarpa X Armeria pubigera X X Carex trinervis X Centaurea limbata subsp. limbata X X Centaurium portense X Chaetopogon fasciculatus subsp. X Prostatus Genista ancistrocarpa X Gentiana pneumonanthe X Mibora minima subsp. littorea X Spergularia australis X X TABELA 8. ESPÉCIES DA FLORA VASCULAR (ANEXO II, IV E V DA DIRECTIVA ‘HABITATS’) E ESPÉCIES RELAPE, PRESENTES NO ESPAÇO CLASSIFICADO E NA RESTANTE ÁREA DE ESTUDO NÃO CLASSIFICADA

Foram registadas duas espécies, das quatro dadas para o SIC Litoral Norte, inscritas na Diretiva Habitats, o Narcissus bulbocodium e o Ruscus aculeatus que estão no Anexo V considerado o de proteção mais baixo. Estão dadas sete espécies RELAPE com interesse para conservação, não protegidas, para o SIC Litoral Norte. Destas sete espécies foram observadas três, a Armeria pubigera, a Centaurea limbata subsp. limbata e a Spergularia australis.

A Armeria pubigera, ocorre no litoral noroeste da Península Ibérica desde a Galiza até Matosinhos, em afloramentos costeiros. Na área de estudo está presente em toda a zona com habitat 1230 com a exceção da parte dominada por tojais psamófilos, no biótopo Litoral Rochoso. Desta forma é a espécie com interesse para a conservação mais abundante na

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

59

área. Todavia, fora da área de estudo considera-se que é ameaçada pela raridade do habitat e pelas construções efetuadas nas falésias rochosas em zonas urbanas (Castroviejo et al., 1986-2015).

A Spergularia australis é um endemismo do litoral atlântico da Península ibérica presente nos afloramentos rochosos do litoral, mais raramente em sapais. Na área de estudo está presente no biótopo Litoral Rochoso, no habitat 1230, e o seu estatuto é de ameaçado pela raridade do habitat e pelas construções efetuadas nas falésias rochosas nas zonas urbanas (Castroviejo et al., 1986-2015) (Figura 18).

FIGURA 18. SPERGULARIA AUSTRALIS

As outras espécies citadas para o SIC Litoral Norte não foram observadas na área de estudo mas não quer dizer que não possam existir. Embora como também não estão dadas para a zona do PIER, em nenhuma das bases de dados consultada (Flora On e Biodiversidade ameaçada), não é muito provável a sua existência. Para além das três espécies RELAPE referidas para o SIC Litoral Norte, foram identificadas mais quatro espécies RELAPE, o Allium ericetorum, Centaurium portense, Genista ancistrocarpa e a Gentiana pneumonanthe.

O Allium ericetorum tem como área de distribuição o sul da Europa e em Portugal está dado para o Minho e Beira Litoral. O seu estatuto é de ameaçado, devido ao desaparecimento do seu habitat, habitat prioritário 4020*, que aparece essencialmente em zonas de Matos (Castroviejo et al., 1986-2015) (Figura 19).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

60

FIGURA 19. ALLIUM ERICETORUM

A Genista ancistrocarpa, típica dos habitats 6410 e 6420 típico de Prados, tem a sua distribuição no Oeste da Península Ibérica e Marrocos, e encontra-se ameaçada pela destruição dos seus habitats (Castroviejo et al., 1986-2015) (Figura 20).

FIGURA 20. GENISTA ANCISTROCARPA

A espécie Gentiana pneumonanthe está presente em quase toda a Europa mas em Portugal apenas ocorre no Norte. Ameaçada pelo desaparecimento do seu habitat, esta espécie é típica

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

61

do habitat prioritário 4020* e do habitat 6410, que ocorrem nas áreas de Matos (Castroviejo et al., 1986-2015) (Figura 21).

FIGURA 21. GENTIANA PNEUMONANTHE

b) Identificação das áreas importantes para a Flora Pelo que se descreveu e tendo em consideração a Figura 22 pode-se constatar que para assegurar a proteção de todos os núcleos das espécies com interesse para a conservação (Diretiva Habitats e RELAPE) basta proteger os habitats naturais e o núcleo de Ruscus aculeatus que se localiza num pinhal e o núcleo de Centaurium portense que se situa numa interface de duna com um campo agrícola. Como estes dois núcleos são muito pequenos, uma área com 5 metros de raio em torno do centro de cada um, é mais do que suficiente para assegurar a sua proteção.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

62

FIGURA 22. LOCALIZAÇÃO DOS NÚCLEOS DAS ESPÉCIES RELAPE E INSCRITAS NA DIRETIVA HABITAT

Como já referido anteriormente em toda a área de estudo é abundante a presença de espécies exóticas. Do total das 148 espécies identificadas, 27 são consideras espécies exóticas, que correspondem a 18% do total de espécies. Na Tabela 9 apresenta-se a listagem das espécies exóticas identificadas na área de estudo.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

63

ANEXO I DO DL N.º565/99 DE ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS 21 DE DEZEMBRO Acacia dealbata X X X Acacia longifolia X X X Acacia melanoxylon X X X Arctotheca calendula X X X Arundo donax X X Canna indica X Carpobrotus edulis X X X Conyza bilbaoana X X Cortaderia seoane X X Datura stramanium X X X Delairea odorata X X Euryops chrysanthemoides X Hakea sericea X X X Hydrocotyle bonariensis X X Ipomoea indica X X Oxalis pes-caprea X X X Phytolacca americana X X Senecio tamoides X Solanum chenopodioides X X Spartina patens X X Stenotaphrum secundatum X X Symphyotrichum subulatum X X Tradescantia fluminensis X X Tropaeolum majus X Zantedeschia aethiopica X X Zea mays X TABELA 9. LISTAGEM DE ESPÉCIES EXÓTICAS IDENTIFICADAS NA ÁREA DE ESTUDO

Uma espécie exótica é a que ocorre num território que não corresponde à sua área de distribuição natural. As exóticas que, por si só, podem ocupar o território de forma excessiva, em área ou número de indivíduos, provocando modificações significativas nos ecossistemas e usando os recursos necessários à sobrevivência das espécies locais, são designadas de invasoras. Na área de estudo das 27 espécies exóticas 22 são consideradas invasoras, mas apenas 8 destas espécies estão listadas no Anexo I do Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro, que regula a introdução de espécies não indígenas em Portugal, contudo este decreto encontra-se atualmente em processo de revisão. Na área de estudo entre as duas espécies mais problemáticas são a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), e o chorão-das-praias (Carpobrotus edulis), listadas no Anexo I do Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro, que invadem as dunas onde ocorrem espécies endémicas (Figura 23).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

64

FIGURA 23. ACACIA LONGIFOLIA E CARPOBROTUS EDULIS

Em menor grau, mas afetando principalmente o litoral rochoso também se encontram a Spartina patens e Stenotaphrum secundatum, duas espécies exóticas invasoras, embora sem estarem dadas como tal, pelo Decreto-Lei n.º 565/99 (Figura 24 e Figura 37).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

65

FIGURA 24. SPARTINA PATENS

FIGURA 25. STENOTAPHRUM SECUNDATUM

A azeda (Oxalis pes-carprea) invade os campos agrícolas, que é o biótopo com maior expressão na nossa área de estudo (Figura 26).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

66

FIGURA 26. OXALIS PES-CAPREA

Outras espécies que também se comportam como invasoras e que foram observadas na área de estudo, embora com pouca abundância, é a cana (Arundo donax) e a erva-das-pampas (Cortaderia seoane) (Figura 27). Estas duas espécies não estão dadas como invasoras no Anexo I do Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro.

FIGURA 27. CORTADERIA SEOANE

A háquia-picante (Hakea sericea) foi observada com apenas um exemplar, na área de estudo, mas esta espécie tem a capacidade de formar rapidamente bosques densos e está listada no Anexo I do Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro (Figura 28).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

67

FIGURA 28. HAKEA SERICEA

Da Figura 29 à Figura 37, apresenta-se outras espécies exóticas observadas na área de estudo.

FIGURA 29. CANNA INDICA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

68

FIGURA 30. CONYZA BILBAOANA

FIGURA 31. DATURA STRAMONIUM

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

69

FIGURA 32. EURYOPS CHRYSANTHEMOIDES

FIGURA 33. HYDROCOTYLE BONARIENSIS

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

70

FIGURA 34. IPOMOEA INDICA

FIGURA 35. SENECIO TAMOIDES

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

71

FIGURA 36. SYMPHYOTRICHUM SUBULATUM

FIGURA 37. ZANTEDESCHIA AETHIOPICA E AGERATINA ADENOPHORA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

72

3.1.5.2.3 Fauna a) Caraterização geral da Fauna A área de estudo é parcialmente coincidente com o Sítio de Importância Comunitária Litoral Norte, uma área protegida com estrutura linear ao longo da costa Norte, desde o rio Minho até ao limite Sul do PNLN. Para esta área estão descritas como prioritárias várias espécies faunísticas. Na Tabela 10 encontram-se sistematizadas as espécies listadas no anexo II da DH, alvo de medidas de conservação específica neste SIC (ICN, 2006).

ESPÉCIES ALVO DE MEDIDAS DE GRUPO CONSERVAÇÃO ESPECÍFICAS LVVP (Nome científico / Nome comum) Alosa alosa Sável EN Alosa fallax Savelha VU Chondrostoma 1 Boga do Norte LC Peixes duriensis Lampreia- Petromyzon marinus VU marinha Salmão do Salmo salar CR Atlântico Herpetoufauna Lacerta schreiberi Lagarto-de-água LC Mamiferos Lutra lutra Lontra LC TABELA 10. ESPÉCIES FAUNÍSTICAS DO SIC LITORAL NORTE ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO ESPECÍFICAS

Do ponto de vista da fauna destacam-se alguns conjuntos de espécies que são alvo de proteção ao longo destas áreas. Entre eles, alguns dos mais importantes são os peixes, em particular os peixes migradores, que, apesar de descritos para o SIC litoral norte, não deverão ter presença regular na área de estudo devido à reduzida dimensão das linhas de água. Para a herpetofauna, o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e nos mamíferos, a lontra (Lutra), constituem objetivos prioritários. Tendo em consideração que esta área está classificada como SIC, as orientações de gestão não se aplicam às espécies de aves presentes. Ainda assim, e uma vez que esta área envolve parcialmente a ZPE Estuário dos rios Minho e Coura e o PNLN, as comunidades de aves presentes são muito significativas. Apesar das importantes comunidades associadas ao SIC Litoral Norte, a área de estudo do PIER não envolve as áreas mais importantes incluídas neste SIC, os estuários dos rios Minho, Coura, Lima e Cávado.

Outro fator fundamental de intervenção do SIC Litoral Norte diz respeito a proteção de espécies marinhas. Apesar de serem ecologicamente relevantes estas espécies não têm relação direta

1 (*a partir da entidade anteriormente considerada como C. polylepis, foram descritas duas novas espécies: C. duriensis e C. willkommi, na região encontra-se a espécie C. duriensis).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

73

com as intervenções e objetivos do PIER, que orienta intervenções na área terrestre, sem influência direta no meio marinho e respetivas espécies. A caraterização do património faunístico, envolvendo toda a área de estudo, foi efetuado com base na informação disponibilizada no atlas de distribuição dos diferentes grupos faunísticos a nível nacional (Equipa Atlas, 2008; Loureiro et al., 2008; Mathias et al., 1998; ICNF, 2014a; ICNF, 2014b; Rainho et al., 2013), complementada com a informação recolhida nos levantamentos de campo. A informação geográfica de distribuição das espécies disponibilizada pelo ICNF, no âmbito dos relatórios nacionais de implementação das diretivas comunitárias habitats e aves (ICNF, 2014a; ICNF, 2014b), constitui a base para esta análise. Esta inclui informação sobre a distribuição das aves nidificantes e dos restantes vertebrados incluídos nos anexos da diretiva habitats. Os levantamentos de campo realizados permitiram aferir os dados bibliográficos obtidos, quer pela confirmação das espécies no terreno, quer pela aferição dos habitats disponíveis que limitam a presença das diferentes espécies.

Na tabela I do anexo III do documento “Ecologia” encontra-se uma listagem de todas as espécies, de todos os grupos faunísticos considerados, descritas para a área de estudo, com os respetivos estatutos de conservação.

b) Ictiofauna dulciaquícola Na área de estudo não estão incluídos nenhuns dos troços terminais das principais linhas de água que fazem parte do SIC Litoral norte, nomeadamente os rios Minho, Âncora, Lima, Neiva e Cávado. Ainda assim, encontram-se aqui alguns cursos de água, nomeadamente o rio de Cabanas e a ribeira do Peso, com capacidade de suporte para algumas espécies de ictiofauna.

Para a área de estudo (Tabela 11) estão classificadas como prováveis 4 espécies piscícolas: a enguia-europeia (Anguilla anguilla), a truta-de-rio (Salmo trutta), a boga do Norte (Chondrostoma duriensis) e o ruivaco (Achondrostoma oligolepis).

A enguia é, para a área de estudo considerada, o único peixe migrador, sendo classificada como Em Perigo em Portugal, apesar de não estar listada nos anexos da diretiva habitats.

Já a boga do Norte (Chondrostoma duriensis) e o ruivaco (Achondrostoma oligolepis), são ambas endemismos ibéricos, com estatutos de conservação pela Diretiva Habitats onde se encontram listadas no Anexo II.

NOME CIENTÍFICO NOME COMUM ANEXO DH LVVP Migradores Anguilla anguilla Enguia-europeia EN Chondrostoma duriensis Boga do Norte II LC Dulciaquícolas Achondrostoma oligolepis Ruivaco II LC Salmo trutta Truta-de-rio LC TABELA 11. ESPÉCIES DE PEIXES MIGRADORES E DULCIAQUÍCOLAS PRESENTES NA ÁREA DE ESTUDO E RESPETIVOS ESTATUTOS DE PROTEÇÃO

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

74

c) Herpetofauna Relativamente à herpetofauna esta é uma área rica particularmente para as comunidades de anfíbios. Para este grupo estão aqui descritas 12 espécies, cerca de 70% das espécies presentes em Portugal. Esta riqueza específica, com grande abundância de algumas espécies, deve-se essencialmente aos elevados níveis de humidade da área, com a presença de zonas alagadas, lameiros e pequenos canais de água, tudo zonas de habitat favorável para a maioria das espécies deste grupo. Das 12 espécies potencialmente presentes, 7 encontram-se classificadas nos anexos da Diretiva Habitats e duas classificadas como Vulneráveis em Portugal, a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica) e o tritão-palmado (Lissotriton helveticus), sendo por isso considerado um grupo bastante sensível. A salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), sendo um endemismo ibérico, com área de distribuição global muito restrita, é a espécie mais importante em termos conservacionistas. Para os répteis, encontra-se referenciada a presença de 10 espécies, 2 listadas nos anexos da Diretiva Habitats: a lagartixa-ibérica (Podarcis hispanicus) e o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), ambos bem distribuídos a nível local e regional, sendo nenhuma das espécies de répteis aqui presentes se encontra ameaçada a nível nacional.

HERPETOFAUNA DH (Anexo II, IV e V) LVVP (VU, EN, CR)

Anfíbios 7 2 Répteis 2 0 TABELA 12. NÚMERO DE ESPÉCIES DE ANFÍBIOS E RÉPTEIS COM ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO PELA DH E LVVP

d) Avifauna As aves são o grupo faunístico mais diversificado. Estão descritas para a área 102 espécies, 58 das quais são espécies residentes, 23 espécies migradoras estivais que poderão reproduzir regularmente na área de estudo e 22 correspondem a espécies migradores, na sua maioria invernantes, com ocorrência frequente mas que não reproduzem na área de estudo (Tabela 13)

LVVP FENOLOGIA Nº ESPÉCIES DA (ANEXO I) (VU, EN, CR) Residentes 58 3 1 Nidificantes 23 5 5 Visitantes 22 1 0 TABELA 13. NÚMERO DE ESPÉCIES DE AVES LISTADAS PARA A ÁREA DE ESTUDO, DIVIDIDAS POR FENOLOGIAS, E RESPETIVOS ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO PELA DA E LVVP

Além dessas espécies, esta é ainda uma área com alguma importância para outras aves migratórias, que ocasionalmente utilizam estas áreas para descanso e alimentação.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

75

Especialmente ao longo da faixa costeira mas também noutros biótopos, podem esporadicamente ser avistadas aves pouco comuns, que variam desde espécies marinhas como o Airo (Uria aalge) ou as andorinhas-do-mar (Sterna albifrons; Sterna hirundo; Sterna sandvicensis), a aves limícolas que migram essencialmente ao longo da costa e outras, como o abibe (Vanellus vanellus), que se alimentam nos terrenos agrícolas. Mesmo algumas raridades em Portugal, como o ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis), já foram observadas em alimentação na veiga de Afife (Jara et al., 2010). Ainda assim, uma vez que a presença dessas espécies ocorre de forma muito irregular, as mesmas não se consideraram nas listas de espécies elaboradas neste trabalho. Assim, considerando apenas as espécies com frequência regular, verifica-se que apesar de possuir um interessante diversidade, com mais de 100 espécies, apenas 9 são consideradas ameaçadas a nível europeu pela DA e 6 em Portugal pelo LVVP. Na área de estudo as espécies residentes e visitantes são na sua maioria espécies comuns, bem adaptadas à diversidade de biótopos presentes por toda a região, com apenas 4 das 80 espécies destes dois grupos listadas nos anexos da DA e apenas uma, o açor (Accipiter gentilis), é classificada como Vulnerável em Portugal. As espécies migradoras nidificantes são as que apresentam maior percentagem de espécies classificadas quer em Portugal (5 espécies), quer a nível europeu (5 espécies).

e) Mamofauna Relativamente ao grupo dos mamíferos a informação bibliográfica disponível atualizada é relativamente escassa. Sendo também um grupo difícil de inventariar nos levantamentos de campo, os dados relativos a este grupo são por vezes pouco precisos. Ainda assim, para as espécies listadas na DH, é possível referir a presença potencial de 5 espécies de mamíferos terrestres não voadores e de 4 espécies de morcegos (Tabela 14). Entre as espécies referenciadas destaca-se a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus). Descrita para esta área envolvente, esta espécie encontra-se normalmente associada a troços de rio com características de montanha, sendo pouco provável a sua presença em zonas costeiras e áreas adjacentes. A área de distribuição provável mais próxima deverá ser no rio âncora, mas com maior probabilidade de ocorrência em áreas afastadas cerca de 2 Km da linha de costa (Queiroz et al., 1998).

Relativamente às restantes espécies, salienta-se a presença confirmada da lontra (Lutra lutra), espécie listada no anexo II da Diretiva habitats, associada a rio de Cabanas, que utiliza inclusivamente a zona costeira como área de alimentação.

Relativamente aos quirópteros, segundo o atlas dos morcegos dos Portugal continental (Rainho et al., 2013), na área envolvente foram detetadas 4 espécies, nenhuma ameaçada em Portugal mas listadas nos anexos da diretiva habitats.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

76

MAMÍFEROS TERRESTRES DH (Anexo II, IV e V) LVVP (VU, EN, CR)

Não voadores2 5 1

Morcegos 4 0

TABELA 14. NÚMERO DE ESPÉCIES DE MAMÍFEROS (TERRESTRES NÃO VOADORES E MORCEGOS) COM ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO PELA DH E LVVP.

f) Diversidade faunística dos biótopos De forma a efetuar uma análise de pormenor relativamente à distribuição das espécies faunísticas na área de implementação do PIER, procurou-se apresentar a distribuição potencial das espécies identificadas pelos diferentes biótopos presentes na área. Dada a complexidade dos sistemas biológicos, esta classificação não reflete de forma definitiva a distribuição das espécies. De uma forma geral, as espécies faunísticas têm grande mobilidade sendo capazes de explorar uma grande diversidade de habitats e preferindo por vezes as zonas de mosaicos, onde se cruzam diferentes biótopos gerais. Ainda assim, é possível associar as espécies a tipologias a que estão mais adaptadas, permitindo assim fornecer indicações sobre a distribuição dessas espécies na área de estudo. Essa distinção permite definir áreas importantes para a conservação das principais espécies faunísticas dentro da área de estudo, bem como definir medidas de recuperação ecológica das áreas mais degradadas, com biótopos mais pobres.

Na seleção das espécies associadas aos biótopos procurou-se refletir as comunidades presentes nesses biótopos, incluindo espécies generalistas, que estão presentes em várias tipologias de habitats. Através da classificação da vegetação e habitats presentes definiram-se os principais biótopos na área de estudo:

• Prados e Campos agrícolas • Bosques • Matos • Povoamentos florestais • Acacial • Dunas • Litoral Rochoso • Linhas de água

Apesar de não estar diretamente classificado nos biótopos de vegetação na área de estudo, para a caracterização das comunidades faunísticas entendeu-se ser fundamental adicionar um biótopo relativo às linhas de água. Estas, apesar de serem constituídas na área de estudo por pequenos ribeiros e canais, apresentam uma diversidade faunística especificamente associada, pelo que se optou também pela sua análise separada. Por outro lado, pela semelhança das comunidades faunísticas que apresentam, optou-se por juntar numa categoria os biótopos Prados e Campos agrícolas. Apesar das diferentes tipologias, umas mais ricas do que outras,

2 Inclui a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), apesar de esta espécie ser pouco provável na área de estudo.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

77

estes habitats apresentam características gerais semelhantes para a fauna, pelo que a análise e lista de espécies apresentada é comum.

g) Prados e Campos Agrícolas Biótopos mais abundantes na área de estudo. Nestes biótopos podemos encontrar áreas com diferentes características como campos agrícolas, prados naturais com juncal e pequenos lameiros, que no entanto apresentam comunidades faunísticas com características semelhantes, sendo por isso analisados em conjunto.

Na elaboração das listas de espécies consideraram-se as espécies classificadas para a área de estudo que podem explorar a maior parte das áreas classificadas nestes biótopos (Tabela II, Anexo III, Documento “Ecologia”).

DH (anexos II, IV e V) GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) HERPETOFAUNA 13 res 5 1 MAMÍFEROS 20 res 4 0 30 res. 1 0 AVES 11 rep. 1 0 9 vis. 0 0 TABELA 15. NÚMERO DE ESPÉCIES POTENCIALMENTE PRESENTES NOS BIÓTOPOS PRADOS E CAMPOS AGRÍCOLAS DA ÁREA DE ESTUDO, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

Sendo biótopos com um grande número de espécies associado (82), verifica-se que na maioria dos casos as espécies potencialmente presentes nestas áreas são espécies bem adaptadas, e que de uma forma geral têm distribuição ampla no país. Isto é especialmente evidente no caso das aves, em que a maioria são espécies são residentes e comuns.

Apesar de apresentarem comunidades semelhantes, os prados naturais apresentam uma maior importância para a fauna, nomeadamente para as comunidades de anfíbios. Este facto deve-se essencialmente à menor perturbação e elevados níveis de humidade nestes habitats, que proporcionam condições ótimas para estas espécies.

Especificamente no caso da avifauna, estas tipologias de biótopos (tanto agrícolas como os prados naturais) proporcionam amplas áreas de alimentação, sendo por isso visitados, regular ou esporadicamente, por várias espécies. Aqui foram observados esporadicamente ao longo da última década algumas espécies raramente observadas em Portugal, como o ganso-de-faces- brancas (Branta leucopsis, Jara et al., 2010). Outras espécies como a garça-boieira (Bubulcus ibis), ou o introduzido faisão-comum (Phasianus colchicus), podem aqui ser observadas de forma regular, mesmo não devendo ocorrer nesta área como reprodutores.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

78

FIGURA 38. FAISÃO (PHASIANUS COLCHICUS) OBSERVADO NUMA ÁREA AGRÍCOLA NA ÁREA DE ESTUDO

A importância destes biótopos para a fauna dependem significativamente da conservação de outros biótopos associados. A maior parte das espécies utiliza estas áreas essencialmente como locais de alimentação, por isso a existência de áreas de bosques, florestais, matos e linhas de água, preferencialmente com galerias ripícolas associadas, são essenciais para proporcionarem abrigo para as espécies que utilizam estes habitats.

h) Bosques O biótopo bosques, apesar de ser dos menos abundantes da área de estudo é um dos que apresenta maior importância para a fauna. As áreas classificadas como bosques, na sua maioria correspondentes a bosque ripícolas ou palustres, são áreas com elevados índices de humidade, e boas condições de refúgio para um grande número de espécies, algumas classificadas como ameaçadas.

Entre as muitas espécies que aqui podemos encontrar destaca-se a sua importância das espécies de anfíbios (das 11 espécies de herpetofauna, 9 são de anfíbios), proporcionando nichos de habitats com condições de temperatura e humidade que potenciam a presença de espécies importantes como a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). Para os répteis, estes bosques são também importantes para uma espécie endémica da Península ibérica com importância conservacionista a nível europeu (anexo II da diretiva habitats), o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi).

Este é ainda um biótopo importante para algumas espécies de mamíferos listados na diretiva habitats. Espécies como a gineta (Ginetta ginetta), o toirão (Mustela putorius) e especialmente a lontra (Lutra lutra) encontram-se aqui associadas aos pequenos bosques ripícolas. Sendo a lontra uma espécie essencialmente aquática, a ausência de galeria ripícola desenvolvida limita a existências de abrigo, pelo que estes bosques desempenham um papel fundamental para esta espécie na área de estudo. Salienta-se também a riqueza de espécies de aves que pode ocorrer nestes biótopos, sendo ainda assim relativamente reduzido o número de espécies com estatuto de proteção elevado.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

79

No total, para estas áreas, estão listadas 75 espécies, distribuídas pelos grupos de vertebrados terrestres analisados (Tabela III, Anexo III, Documento “Ecologia”).

DH (anexos II, IV eV) GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) 13 res HERPETOFAUNA 8 2 (11 anfíbios) 17 res 10 MAMÍFEROS 0 (4 quirópteros) (4 Quirópteros) 28 res. 0 1 AVES 11 rep. 2 2 6 vis. 0 0 TABELA 16. NÚMERO DE ESPÉCIES POTENCIALMENTE PRESENTES NAS ZONAS DE BOSQUE DA ÁREA DE ESTUDO, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

i) Matos Na área de intervenção do PIER, o biótopo matos divide-se em áreas com características muito distintas, com diferentes níveis de importância para a fauna. Apesar das espécies da fauna associada serem sensivelmente as mesmas, os giestais e tojais são os que apresentam comunidades faunísticas mais diversas. Por outro lado, grandes silvados, muito densos, e mesmo fetais são significativamente menos interessantes, sendo apenas importantes como sebes associadas a áreas agrícolas. Ainda assim, para a elaboração das listas de espécies associadas, optou-se por consideram as áreas de matos como um todo, uma vez que apesar das comunidades menos desenvolvidas, as espécies faunísticas associadas são muitas vezes coincidentes. Não sendo por si só áreas com uma grande diversidade (apenas 27 espécies associadas especificamente a estes habitats), estas áreas possuem alguma importância uma vez que apresentam espécies que normalmente não são observadas noutros habitats da área de estudo, como por exemplo a felosa-do-mato, Sylvia undata, classificada no anexo I da DH. Por outro lado, apesar de não se classificarem aqui a maioria das espécies associadas aos biótopos agrícolas, o biótopo matos funciona muitas vezes como abrigo para essas espécies.

No total, para estas áreas, estão listadas 26 espécies, distribuídas pelos grupos de vertebrados terrestres analisados (Tabela, Anexo III, Documento “Ecologia”).

DH (anexos II, IV eV) GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) 9 res Herpetofauna 2 0 (6 répteis) Mamíferos 6 res 2 0 9 res. 0 1 Aves 2 rep. 2 2 1 vis. 0 0 TABELA 17. NÚMERO DE ESPÉCIES ASSOCIADAS AO BIÓTOPO MATOS, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

80

j) Povoamentos Florestais Sendo o segundo biótopo mais abundante na área de estudo, os povoamentos florestais são essencialmente dominados por áreas de pinhal. Estes tipos de áreas são muito comuns a nível regional, sendo por isso pouco significativos em termos de valor faunístico global. Ainda assim, pela sua integração nesta paisagem particular, dominada pelas áreas agrícolas e prados, assumem um papel mais importante para as comunidades.

Procurou-se listar todas as espécies que exploram os povoamentos florestais da área de estudo (Tabela V, Anexo III, Documento “Ecologia”).

DH (anexos II, IV eV) E GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) 9 res. HERPETOFAUNA 3 0 (5 repteis) MAMÍFEROS 6 res 2 0 29 res. 0 2 AVES 5 rep. 3 2 3 vis. 2 0 TABELA 18. NÚMERO DE ESPÉCIES POTENCIALMENTE PRESENTES NO BIÓTOPO POVOAMENTOS FLORESTAIS DA ÁREA DE ESTUDO, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

Neste biótopo foram listadas 52 espécies, sendo o grupo mais abundante o da avifauna. A maioria das espécies são aves residentes que passam grande parte do tempo nas copas das árvores.

De salientar ainda que, ao contrário do biótopo bosques, na herpetofauna são os répteis apresentam maior riqueza específica. Isto deve-se ao facto de essas espécies se encontrarem mais adaptadas aos solos tipicamente mais secos deste biótopo, que não é tão favorável para os anfíbios.

k) Acacial Apesar de constituírem um biótopo relativamente abundante na área de intervenção do PIER, os acaciais são habitats muito pobres em termos faunísticos. Em termos estruturais, funcionam como zonas florestadas muito densas, com as populações faunísticas normalmente constituídas apenas por espécies generalistas. Dado que não apresentam nenhuma especificidade de espécies associadas, optou-se por não elaborar lista de espécies associadas a este biótopo.

l) Dunas O habitat dunas refere-se às praias arenosas, englobando as áreas de vegetação dunar e áreas entre-marés. As comunidades dessas duas zonas são bastante distintas. Nas zonas de vegetação dunar podem ser encontradas espécies características de áreas típicas de matos (semelhantes a

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

81

matos baixos, pouco densos), enquanto nas zonas de areal encontram-se frequentemente algumas espécies de aves limícolas. Embora a maioria das espécies limícolas seja mais frequente nas áreas de estuário existentes na área envolvente, algumas dessas espécies frequentam também a zona de costa, ocorrendo em praias arenosas ou rochosas (Lecoq et al., 2013). Muitas destas espécies coincidem com as limícolas que utilizam as áreas de litoral rochoso, embora em alguns casos existam preferências específicas por um ou outro tipo de habitat. Por exemplo, o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) tem preferência específica pelas áreas de areal, onde se reproduz. De salientar que associadas à vegetação dunar aparecem por vezes comunidades relativamente diversas, com espécies de anfíbios, répteis e micromamíferos, juntamente com uma diversidade interessante de aves. Ainda assim, de uma forma geral, estas comunidades são dominadas por espécies comuns, apenas com 5 espécies listadas nos anexos das diretivas comunitárias. No total estão listadas 33 espécies de ocorrência provável neste biótopo (Tabela VI, Anexo III, Documento “Ecologia”).

DH (anexos II, IV eV) GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) Herpetofauna 8 res 4 0 Mamíferos 3 res 0 0 12 res. 0 0 Aves 2 rep. 1 0 8 vis. 0 0 TABELA 19. NÚMERO DE ESPÉCIES POTENCIALMENTE PRESENTES NO BIÓTOPO DUNAS DA ÁREA DE ESTUDO, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

m) Litoral Rochoso O biótopo classificado como litoral rochoso representa uma parte significativa da costa da área de estudo. Não sendo um biótopo com uma grande riqueza de espécies, possui características particulares que muitas vezes se refletem nas suas comunidades.

Para este biótopo a área de estudo apresenta uma baixa diversidade de espécies, sendo as aves que dominam as comunidades (Tabela VII, Anexo III, Documento “Ecologia”). Tal como referido para o biótopo dunas, algumas espécies limícolas típicas dos estuários ocorrem também nas zonas de praias, neste caso de características rochosas (Lecoq et al., 2013). O maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) e a rola-do-mar (Arenaria interpres) são dois exemplos de espécies que aqui se encontram, e que têm preferência por estes habitats relativamente às praias de areia.

Entre as espécies mais tipicamente terrestres, as comunidades são pouco diversificadas. Aparece aqui potencialmente a lagartixa-ibérica (Podarcis hispanicus) e algumas aves que por vezes são avistadas pousadas nestes rochedos e matos associados.

Curiosamente, foram encontrados nestes locais indícios de presença de lontra (Lutra lutra). Esta espécie, normalmente associada a massas de água-doce, parece aproveitar nesta área as zonas costeiras, nomeadamente as poças criadas pela maré vaza para capturar alimento.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

82

n) Linhas de Água Apesar de não considerado nos biótopos associados à vegetação, este biótopo tem bastante importância para a fauna, sendo por isso aqui caracterizada a sua importância para as comunidades. A área de estudo é atravessada por rios e ribeiras de dimensão pequena e muito pequena, mas que apresentam importantes comunidades faunísticas associadas. Nas duas linhas de água de maior dimensão, o rio de Cabanas a norte, e a ribeira do peso, mais a sul, encontram-se potencialmente algumas espécies piscícolas, nomeadamente a enguia- europeia (Anguilla anguilla), a truta-de-rio (Salmo trutta), a boga do Norte (Chondrostoma duriensis) e o ruivaco (Achondrostoma oligolepis). A boga do Norte (Chondrostoma duriensis) e o ruivaco (Achondrostoma oligolepis), estritamente dulciaquícolas, são endemismos ibéricos com estatutos de conservação pela DH, encontrando-se listadas no anexo II. A enguia, único peixe migrador potencialmente presente, está classificada como Em Perigo em Portugal. Estas são ainda áreas com alguma importância para os anfíbios, proporcionando condições para a reprodução de várias espécies, sendo facilmente detetadas espécies como a rã-ibérica (Rana iberica) ou o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai), ambos endemismos ibéricos.

Também para as aves, estes são os únicos locais com probabilidade de ocorrência do guarda- rios (Alcedo atthis). Outras espécies como a galinha-de-água (Gallinula chloropus), embora pouco prováveis, poderão ocorrer, especialmente no troço final do rio de Cabanas.

Por fim, duas espécies de mamíferos com grande importância conservacionista (anexo II da diretiva habitats) poderão aqui ocorrer. A lontra (Lutra lutra), que foi confirmada nesta área, apesar de também explorar os habitats costeiros, é estritamente dependente destas linhas de água. Já a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), apesar de presença potencial, a sua confirmação não foi possível, sendo pouco provável que ocorra nestas linhas de água. No total classificaram-se 33 espécies associadas a este biótopo (Tabela VIII, Anexo I, Documento “Ecologia”). Esse número deverá mesmo assim estar sobrestimado, uma vez que considera as espécies potencialmente presentes associadas a esta tipologia de biótopo, algumas delas com presença pouco provável na área de estudo. Apenas se consideraram as espécies mais dependentes da linha de água, não tendo sido consideradas espécies que se distribuem especialmente pelas áreas agrícolas e bosques adjacentes.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

83

DH (anexos II, IV e V) GRUPO FAUNÍSTICO FENOLOGIAS LVVP DA (anexo I) 3 res. 2 0 Peixes 1 vis. 0 1 14 res. Herpetofauna 8 2 (11 anfibios) Mamíferos 3 res. 2 1 9 res. 1 1 Aves 1 rep. 0 0 2 vis. 0 0 TABELA 20. NÚMERO DE ESPÉCIES POTENCIALMENTE PRESENTES NO BIÓTOPO LINHAS DE ÁGUA DA ÁREA DE ESTUDO, COM AS RESPETIVAS FENOLOGIAS E ESTATUTOS DE CONSERVAÇÃO

o) Identificação das áreas importantes para a Fauna A área de intervenção do PIER para Afife, Carreço e Areosa apresenta um conjunto de valores faunístico com algum interesse conservacionista. Para a área estão descritas cerca de 150 espécies com presença regular, das quais 28 apresentam estatuto de conservação pelas diretivas comunitárias aves e habitats.

Apesar desta riqueza específica considerável, a maior parte das espécies presentes são ainda assim espécies relativamente abundantes em Portugal e relativamente bem distribuídas a nível regional.

Na análise dos biótopos, também se verifica que nenhum dos biótopos considerados apresenta valores faunísticos específicos, que obriguem por si só a medidas de conservação. Ainda assim, analisando as comunidades associadas a cada um, verifica-se que os biótopos de maior valor são os Bosques e Linhas de água, biótopos que se encontram associados na maioria dos casos.

Pela diversidade associada e baixo nível de perturbação a que estão sujeitos, consideram-se também os Prados naturais como um dos biótopos de maior valor da área de estudo. Pelo seu valor faunístico mas também por se encontrarem incluídos dentro da área da Rede Natura 2000 Litoral Norte, foram também consideradas, entre as áreas de maior valor, as zonas costeiras nomeadamente os habitats Dunas e Litoral Rochoso.

A riqueza específica elevada da área de estudo, mesmo sem um conjunto de espécies particularmente distintivo, representa o seu maior valor. Na área de intervenção do PIER, essa riqueza deve-se, mais do que ao valor de cada biótopo em particular, à associação deste conjunto de habitats distintos, numa área de dimensão considerável com reduzida pressão urbana. Como exemplo, temos a diversidade associada aos prados e espaços agrícolas que neste caso é muito maior devido à sua associação aos biótopos bosque, linhas de água, matos e povoamentos florestais. Por esta razão, foram definidas como zonas de maior importância para a fauna, as áreas dos biótopos referidos, (bosques, linhas de água e prados), mas também as áreas de matos com maior valor ecológico.

Para a definição das áreas de maior importância para a fauna, foram ainda acrescentadas áreas buffer com um raio de 20 metros às áreas de maior importância (bosques e linhas de água).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

84

Estas áreas envolventes dos biótopos mais relevantes permitem a conservação de pequenos mosaicos de habitat que garantem uma maior diversidade do que a conservação de cada biótopo por si só (Figura 39).

FIGURA 39. MAPA DOS PRINCIPAIS VALORES FAUNÍSTICOS CONSIDERADOS PARA A ÁREA DE ESTUDO

Em conclusão, a análise dos valores faunísticos da área de estudo permitiu verificar que na área de intervenção do PIER, as comunidades de fauna são relativamente diversificadas. Apesar de não apresentar um conjunto muito significativo de espécies estritamente

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

85

ameaçadas, a conservação dos principais biótopos e áreas associadas é fundamental para a manutenção da elevada riqueza especifica detetada.

3.2 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÓMICA 3.2.1 SÓCIO-ECONOMIA 3.2.1.1 Metodologia A evolução da paisagem do litoral norte de Viana do Castelo ao longo das últimas décadas refletiu as mudanças socioeconómicas que ocorreram na região. A presença humana está por isso relacionada com a sustentabilidade deste território, tornando-se essencial um estudo ao nível das 3 freguesias incluídas no PIERACA e do seu enquadramento ao nível do concelho. Para além de um breve estudo demográfico, foram analisadas as principais dinâmicas sociais, atividades económicas e recreativas e os equipamentos presentes. A caracterização da população ao nível do concelho e das freguesias foi efetuada com base nos Resultados Definitivos dos Censos 2011 (INE, 2012) e Censos 2001 (INE, 2002), que permitiu a análise da evolução de uma década, das variáveis estudadas. Complementou-se a informação com a consulta do relatório de Caraterização Demográfica e Social dos Estudos de Caraterização de Suporte à Revisão do PDM de Viana do Castelo.

No que diz respeito às Dinâmicas Sociais e Associativismo fez-se uma análise expedita das diferentes formas de organização da sociedade civil ao nível de cada freguesia, do território do PIER e de outras formas organizadas com áreas sociais distintas mas sedeadas na área de estudo. A caraterização das atividades económicas e recreativas consistiu, numa primeira fase, na análise da população ativa e da sua distribuição pelos sectores de atividade nas 3 freguesias, tendo como base os Resultados Definitivos dos Censos 2011 (INE, 2012) e Censos 2001 (INE, 2002). Efetuou-se ainda um levantamento das atividades económicas na área de intervenção, bem como uma amostragem das principais atividades industriais, de comércio e serviços no troço da EN13 adjacente à área do PIERACA. Com vista à identificação dos principais equipamentos presentes na área de intervenção e na envolvente mais próxima, foram consultados os portais da Câmara Municipal de Viana do Castelo e das freguesias de Afife, Areosa e Carreço, complementando os dados obtidos com a consulta de outras fontes como os portais das instituições, grupos desportivos e outras coletividades presentes no território.

3.2.1.2 Caraterização das freguesias e população Ao longo de uma década (2001/11), o concelho de Viana do Castelo registou um crescimento populacional (Tabela 21) na ordem dos 0,1%, para um total de 88.725 habitantes, acompanhando a dinâmica verificada a nível nacional. Em 2011, viviam no conjunto das 3 freguesias em estudo 8.244 habitantes, cerca de 10,8% da população do concelho. A freguesia de Areosa foi aquela que registou na referida década um crescimento mais acentuado (de 8,2%,

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

86

para um total de 4.853 habitantes). Em Afife e Carreço, pelo contrário, houve decréscimo populacional de 2,7% (para 1632 habitantes) e 0,6% (para 1759 habitantes), respetivamente.

POPULAÇÃO RESIDENTE (2001-2011) 2001 2011 Variação (nº) Variação (%) Viana do Castelo 88.631 88.725 94 0,1 Afife 1.677 1.632 -45 -2,7 Areosa 4.485 4.853 368 8,2 Carreço 1.769 1.759 -10 -0,6

TABELA 21. EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE NO CONCELHO DE VIANA DO CONCELHO E NAS FREGUESIAS EM ESTUDO. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 – RESULTADOS DEFINITIVOS; INE (2012), CENSOS 2011 – DADOS ATUALIZADOS 20 NOVEMBRO DE 2012

Na estrutura etária desta população (Tabela 22), verificou-se entre 2001 e 2011 um crescimento percentual de indivíduos com mais de 65 anos, tanto ao nível do concelho como nas freguesias em estudo. Em Afife e Carreço, perante um cenário global de decréscimo populacional, mas de aumento no número de habitantes da faixa etária mais elevada houve um aumento da proporção destes no total da população residente (especialmente em Afife, onde cresceu 4,5%). No escalão etário mais baixo (0-14 anos) ocorreu um decréscimo ao nível do concelho e das 3 freguesias, tanto a nível percentual (com valores entre -1% e -2,2%) como em valor total. No escalão etário intermédio (15-64 anos) verificou-se um decréscimo em termos percentuais, mesmo na freguesia de Areosa, onde ocorreu um crescimento da classe em valores globais. Este facto explica-se pelo crescimento do escalão de maiores de 65 anos e o maior peso deste em termos percentuais.

ESCALÃO ETÁRIO (2001-2011) 0-14 anos 15-64 anos > 65 anos 2001 2011 2001 2011 2001 2011 15,9% 14,1% 68% 66,4% 16,1% 19,5% Viana do Castelo (14.062) (12.492) (60.271) (58.896) (14.298) (17.337) 66,5% 21,6% Afife 11,9% (199) 10,9% (177) 63,1% (1.029) 26,1% (426) (1.115) (363) 68,4% 15,7% Areosa 15,9% (712 ) 13,7% (665) 67,8% (3.288) 18,6% (900) (3.068) (705) 67,9% 18,8% Carreço 13,3% (235) 12,2% (214) 65,4% (1.151) 22,4% (394) (1.201) (333)

TABELA 22. POPULAÇÃO RESIDENTE NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS EM ESTUDO, POR GRANDES GRUPOS ETÁRIOS. VALORES EM PERCENTAGEM E TOTAIS. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 - RESULTADOS DEFINITIVOS; INE (2012), CENSOS 2011 – DADOS ATUALIZADOS A 10 DE OUTUBRO DE 2013.

Ao nível do concelho, entre 2001 e 2011, verificou-se um aumento do índice de envelhecimento (FIGURA 40) na ordem dos 36% (de 102 para 138,7), mantendo-se o panorama geral de aumento observado a nível nacional (de 102 para 129) e na região Norte (de 80 para 114). Afife é a freguesia mais envelhecida, seguida de Carreço, com índices de 240,7 e 184,1 respetivamente em 2011. A freguesia de Areosa, apesar dos valores abaixo da média do concelho, foi aquela que

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

87

apresentou o maior crescimento em termos percentuais do índice de envelhecimento aumentando 36,7%, (de 99 para 135,3).

FIGURA 40. ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS DE AFIFE, AREOSA E CARREÇO. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 - RESULTADOS DEFINITIVOS (CÁLCULO DO ÍNDICE EFETUADO A PARTIR DOS VALORES DE POPULAÇÃO RESIDENTE); INE (2012), CENSOS 2011 - DADOS ATUALIZADOS 16 DE FEVEREIRO DE 2013.

Quanto à percentagem da população por nível de escolaridade mais elevado completo, verifica- se que, em 2011 (Figura 3.2.1.2d), 9,8% de população não tinha qualquer nível de instrução, valor abaixo da média nacional (10,9%) e da região Norte (10,4%); em Areosa o valor está próximo da média do concelho, sendo mais baixo em Carreço (7,6%) e Afife (7,6%). O ensino básico 1º ciclo tem um peso a rondar os 30%, com exceção da freguesia de Areosa (26,5%). O ensino básico 2º e 3º Ciclos representam entre 8,8 a 12% e 12,4 a 15,4% respetivamente, sendo os valores nas 3 freguesias mais baixos que a média do concelho, para ambas as classes. Cerca de 17% da população do concelho completou o ensino Secundário/Pós-Secundário (médio), sendo a média ligeiramente superior em Areosa e inferior nas 2 outras freguesias. A média da população do concelho que concluiu o ensino superior (15,6%) está próxima do valor nacional, mas é mais alta que a média da região Norte (13,5%). Ao nível das 3 freguesias, o seu peso é bastante mais elevado, de 20,5% em Areosa, 22,9% em Afife e 24% em Carreço.

PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO SEGUNDO O NÍVEL DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADO COMPLETO (2011)

Básico 1º Básico 2º Básico 3º Secundário + Pós- Nenhum Superior Ciclo Ciclo Ciclo Secundário Viana do Castelo 9,8 29,9 12,1 15,4 17,2 15,6 Afife 7,6 31,6 10,0 12,4 15,5 22,9 Areosa 9,6 26,5 10,0 14,9 18,5 20,5 Carreço 6,9 30,6 8,8 13,2 16,3 24,0 TABELA 23. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO RESIDENTE POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADO COMPLETO (2001) NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS DE AFIFE, AREOSA E CARREÇO. FONTE: INE (2012), CENSOS 2011 - RESULTADOS DEFINITIVOS.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

88

A comparação com os resultados de 2001 (Tabela 24) permite verificar uma melhoria geral do nível de escolaridade da população, traduzido num decréscimo do peso da população residente sem qualquer nível de instrução (que desceu 13 a 16%) e o acréscimo de indivíduos com o ensino superior concluído (representando cerca de 10 a 15% mais).

PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO SEGUNDO O NÍVEL DE ESCOLARIDADE MAIS

ELEVADO COMPLETO (2001) Básico 1º Básico 2º Básico 3º Secundário e Nenhum Superior Ciclo Ciclo Ciclo Pós-Secundário Viana do Castelo 25,7 26,2 16,7 13,4 12,3 5,7 Afife 20,9 29,2 12,5 14,0 14,2 9,3 Areosa 24,8 27,0 13,5 14,0 14,0 6,6 Carreço 23,1 26,2 12,2 13,6 15,6 9,4

TABELA 24. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO RESIDENTE POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADO COMPLETO (2001) NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS DE AFIFE, AREOSA E CARREÇO. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 - RESULTADOS DEFINITIVOS

3.2.1.3 Dinâmicas sociais/Associativismo As freguesias de Afife, Carreço e Areosa apresentam algumas caraterísticas interessantes e originais ao nível das suas dinâmicas sociais e formas organizadas da sociedade civil em particular associativas.

Na medida em que as dinâmicas associadas ao lazer e recreio foram identificadas em capítulo específico apenas se identificam aqui as manifestações mais diretamente ligadas à problemática do PIER. Assim e no âmbito de cada freguesia podemos distinguir as dinâmicas associativas identificadas na Tabela 25.

NATUREZA AFIFE CARREÇO AREOSA ASSOCIAÇÃO - Rancho Regional de Rancho Infantil das Lavradeiras de Carreço Ranchos Grupo Etnográfico da Lavradeiras de Afife - Grupo Folclórico de Folclóricos Areosa Danças e Cantares de Carreço -Associação dos Proprietários das Veigas de Afife, Carreço e Areosa

-Agrupal – Agricultura de Associações Grupo Afinfense , SARL Agricultores -Associação dos Proprietários das Sortes do Monte de Chã de Afife -Comissão Fabriqueira de

Afife

Outras -Associação de Proteção e Sociedade Columbofólia Amigos do Chão Associações Conservação do Ambiente Areosense

-Núcleo Amador de

Investigação de Afife TABELA 25. DINÁMICA ASSOCIATIVA NA ÁREA DE ESTUDO

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

89

Como é patente na Tabela 25 a sociedade civil da área em estudo tem uma forte tradição de se organizar em associações quer no seu lazer, preservação da cultura, desporto e ainda de atividades económicas.

A maior parte das associações têm apenas a área social da freguesia onde estão sedeadas. São exceção algumas que têm uma área de intervenção muito superior, designadamente as rádios locais pela sua lógica de funcionamento.

No que diz respeito ao PIER e às associações que têm um interesse mais relevante e direto sobre o desenvolvimento dos trabalhos cabe especial referência às seguintes: a) Associação de Proteção e Conservação Ambiental pela natureza das suas atividades e área em que as desenvolve;

b) Baldios de Afife, Carreço e Areosa na medida em que gerem o espaço florestal das respetivas freguesias; c) Associação dos Proprietários e Rendeiros do Perímetro de Emparcelamento de Afife, Carreço e Areosa pela relação direta com o espaço e com a natureza das ações que o PIER pretende desenvolver. Apesar de não sedeada na área das três freguesias, cabe ainda uma referência à Cooperativa dos Agrícola de Viana do Castelo na medida em que é a Organização de Produtores que agrega os produtores das freguesias e pelo papel que tem em particular na componente da produção leiteira.

3.2.1.4 Caracterização das atividades económicas e recreativas A análise comparativa dos dados da população ativa de 2001 e 2011 (Tabela 26) permitem afirmar que se verificou, ao longo da década, uma tendência geral de aumento da população ativa ao nível do concelho e das freguesias de Carreço e Areosa; só nesta última registou-se um crescimento decenal de cerca de 12%, num total de 263 indivíduos. Em Afife, pelo contrário, registou-se um decréscimo de cerca de 20 indivíduos.

Este aumento resultou numa evolução favorável da taxa de atividade (população ativa/população residente) ao nível do concelho, registando-se em 2011 uma taxa de 46,9%, ainda assim inferior às médias nacional e da região norte (fixadas em 47,6%). Nas freguesias estudadas, o maior aumento ocorreu em Areosa, para uma taxa de 48,4% em 2011; em Carreço, apesar de um aumento da população ativa, verifica-se ainda uma taxa abaixo da média do concelho (48,4%); em Afife, apesar do decréscimo da população ativa verificado, manteve-se a taxa de atividade em 44,8% à custa do decréscimo da população residente.

POPULAÇÃO ATIVA (A) TAXA DE ATIVIDADE % (B) 2001 2011 2001 2011 Viana do Castelo 40.931 41.585 46,2 46,9 Afife 751 731 44,8 44,8 Areosa 2.085 2.348 46,5 48,4 Carreço 754 774 42,6 44,0

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

90

TABELA 26. POPULAÇÃO ATIVA E TAXA DE ATIVIDADE NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS DE AFIFE, AREOSA E CARREÇO. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 – RESULTADOS DEFINITIVOS; INE (2012), CENSOS 2011 – DADOS ATUALIZADOS 20 NOVEMBRO DE 2012. A) ”CONJUNTO DE INDIVÍDUOS COM IDADE MÍNIMA DE 15 ANOS QUE, NO PERÍODO DE REFERÊNCIA, CONSTITUÍAM A MÃO-DE-OBRA DISPONÍVEL PARA A PRODUÇÃO DE BENS E SERVIÇOS QUE ENTRAM NO CIRCUITO ECONÓMICO (EMPREGADOS E DESEMPREGADOS) ” - 20 DE NOVEMBRO DE 2012; B) (POPULAÇÃO ATIVA/ POPULAÇÃO RESIDENTE) *100; (NOVEMBRO.INE.PT).

No que diz respeito à distribuição da população empregada pelos setores de atividade (Tabela 27), os dados relativos a 2011 traduzem uma clara predominância do sector terciário ao nível do concelho, representando 64,1% da população empregada. O valor é superior à média da região norte, mas inferior à média nacional de 70,5%, que é ultrapassada se se considerarem as 3 freguesias em estudo, nas quais o setor tem um peso ainda maior. Já o setor secundário tinha no concelho um peso de 33,9%, sendo menos significativo nas 3 freguesias (25,5% em Afife, 23,7% em Areosa e 21,3% em Carreço). O setor primário regista-se como o menos representativo em termos percentuais, tanto ao nível do concelho (apenas 2% da população empregada, valor mais baixo que médias nacional e da região norte), como nas freguesias de Afife, Carreço (com percentagem semelhante à do concelho) e Areosa (apenas 0,8%). Comparando os dados de 2001 e 2011, denota-se um decréscimo generalizado em termos de população empregada, exceto na freguesia de Areosa, onde houve um acréscimo, em parte relacionado com o aumento da população residente. As tendências gerais verificadas em Portugal e na região norte ao longo da década repetiram-se ao nível do concelho e das freguesas, traduzidas numa redução do peso dos sectores primário e secundário, face ao crescimento proporcional da população empregada no setor terciário.

2001 2011 POPULAÇÃO PROPORÇÃO POPULAÇÃO POPULAÇÃO PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO EMPREGADA EMPREGADA POR SETOR % EMPREGADA EMPREGADA POR SETOR % Total Primário Secundário Terciário Total Primário Secundário Terciário Viana do 38.044 3,6 43,8 52,6 36.403 2,0 33,9 64,1 Castelo Afife 682 2,5 36,2 61,3 646 1,9 25,5 72,6 Areosa 1.914 1,7 33,4 64,9 2.094 0,8 23,7 75,5 Carreço 708 3,2 34,6 62,1 691 2,0 21,3 76,7

TABELA 27. POPULAÇÃO EMPREGADA E DISTRIBUIÇÃO POR SETORES DE ATIVIDADE (2001-2011), NO CONCELHO DE VIANA DO CASTELO E NAS FREGUESIAS DE AFIFE, AREOSA E CARREÇO. FONTE: INE (2002), CENSOS 2001 – RESULTADOS DEFINITIVOS; INE (2012), CENSOS 2011 – DADOS ATUALIZADOS 20 NOVEMBRO DE 2012.

Embora o setor primário não tenha ao nível do concelho e das freguesias um peso significativo, as atividades deste setor são aquelas que, na área de intervenção do PIERACA, têm maior expressão territorial, conferindo caraterísticas muito particulares a esta paisagem marcada pela sua matriz agrícola, onde se destacam também as diversas estufas/viveiros de produção de plantas. Devido à sua complexidade, e interesse particular no âmbito do Plano, dedica-se um capítulo próprio do presente documento à caraterização mais pormenorizada do sector.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

91

O setor secundário não está representado na área de intervenção; existem, porém, na freguesia de Areosa, do lado nascente da estrada nacional, inúmeras ocupações afetas ao setor da indústria e transformação, que tiram partido da proximidade com a cidade. Entre as existentes destacam-se as empresas de transformação de mármores e granitos, sendo parte da produção destinada à exportação, a partir do Porto de Viana do Castelo. No que diz respeito ao setor terciário, destaca-se na área do PIERACA a ETAR de Areosa e os restaurantes, bares, equipamentos associados aos apoios de praia. Estão ainda incluídos na área do plano alguns estabelecimentos a poente da EN13:

• Em Afife: um stand automóvel;

• Em Carreço: um stand automóvel, uma loja de comércio de pneus e dois estabelecimentos de restauração (restaurante/bar e café);

• Em Areosa: uma oficina automóvel. Ao longo da estrada nacional, do lado nascente, situam-se uma série de outros estabelecimentos deste setor, dos quais se identificaram, numa breve amostragem:

• Em Afife: diversos stands automóveis, uma residencial, um restaurante, e um posto de abastecimento de combustíveis em Afife;

• Em Carreço: um estabelecimento farmacêutico e de análises clínicas;

• Em Areosa: residência com serviços gerontológicos e geriátricos, residencial, hipermercados (com lojas de pequeno comércio associadas), posto de abastecimento de combustíveis, estabelecimentos de restauração (café, restaurante, snack-bar), stands e oficinas automóveis, comércio de mobiliário, de tetos falsos/gessos ou de caldeiras e fogões a lenha, serviços de instalação de gás, clínica veterinária, hospital veterinário, gabinete de engenharia de projetos industriais, loja de artigos usados e loja de artigos de desporto motorizado.

3.2.1.5 Equipamentos As freguesias em estudo dispõem de uma série de equipamentos educativos, de saúde e solidariedade social, culturais, recreativos, desportivos, entre outros (Tabela 28), alguns dos quais estão situados numa envolvente próxima da área do PIERACA. Na figura identificam-se os principais equipamentos situados na orla litoral das freguesias, estando sublinhados aqueles que se encontram incluídos ou parcialmente incluídos da área de intervenção.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

92

Afife Carreço Areosa -Creche "Favo de Mel" -Jardim Infantil "Bom -Creche (Centro Social e Pastor" (a funcionar no Cultural de Carreço) CSPSS) -Jardim de Infância (Casa -ATL (Centro Social e -Jardim de Infância de Educação do Povo); Cultural de Carreço) Areosa -EB 1º Ciclo Breia de Cima -Jardim de Infância de -ATL (Centro Social e Carreço Paroquial de Areosa) -Escola Básica de Carreço -Centro de Educação e Formação Profissional de Areosa (APPACDM) -Centro Social e Paroquial de Areosa (CSPA) - Apoio Domiciliário, Lar e Centro de Dia -Centro Social e Paroquial -Centro de Saúde (Casa do -Centro Social e Cultural do Senhor do Socorro Saúde/ Povo) de Carreço - Centro de (CSPSS) - inclui Centro de Solidariedade -Centro Social e Paroquial Dia, Apoio Domiciliário, Convívio Social de Afife Hotel Sénior - Residências Bellavida- Residências Assistidas, Apoio Domiciliário, Unidade de Medicina Física e de Reabilitação, Unidade de Convalescença -Sociedade de Instrução, -Casino Afifense (teatro, Recreio e Social Areosense biblioteca, café, salão de -Museu de Etnografia (na (SIRSA) festas, salão de jogos, sede da Junta de - Danças de Salão, Teatro Cultura/ outros) Freguesia) amador, Atividades para Lazer -Radio Popular Afifense - Apoio de Praia - Praia de crianças, Pesca desportiva, -Apoios de Praia - Praia de Carreço entre outros Afife e Praia de Arda -Apoio de Praia - Praia Norte -Pavilhão Municipal David Freitas (Recinto Fechado -Campo Desportivo Ilídio Inaugurado em 2008 Cunha - Grupo Desportivo utilizado pela Associação -Polidesportivo de Areosense Desporto Desportiva Afifense e pelo Carreço -Campo de Futebol do Soutelense) Grupo Desportivo e -Polidesportivo de Cultural dos Cabeços Cabanas -Apeadeiro de Carreço -Apeadeiro de Afife (CP, (CP, Linha do Minho) - -Apeadeiro de Areosa (CP, Transportes Linha do Minho) antiga "Estação de Linha do Minho) Montedor" Outros -Cemitério Afife -Cemitério Carreço -Cemitério de Areosa

TABELA 28. PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DAS FREGUESIAS DE AFIFE, CARREÇO E AREOSA, LOCALIZADOS NA ÁREA DO PIERACA OU NA ENVOLVENTE MAIS PRÓXIMA.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

93

A grande maioria dos equipamentos estão a nascente da EN13, fato relacionado com a organização espacial dos aglomerados, que resultou na preservação da extensa área produtiva a poente desta via. Um dos principais equipamentos de caráter desportivo, localizado na freguesia de Areosa, contraria esta tendência - o Campo Desportivo Ilídio Cunha, utilizado pelo Grupo Desportivo Areosense (fundado em 1984). Ao longo da faixa litoral estão situados diversos equipamentos, com uma utilização mais intensiva no verão, associados à prática balnear, nas praias de Afife, Arda, Carreço e Norte. Considerou-se como equipamentos as diversas infraestruturas e valências que compõem os apoios de praia - vestiários, balneários, instalações sanitárias, posto de socorro, comunicações de emergência, informação e assistência a banhistas, espaços comerciais, instalações dedicadas à prática de desportos náuticos e diversões aquáticas, etc. - embora o artigo 63º do DL n.º 226- A/2007, de 31 de Maio (relativo ao Regime da Utilização dos Recursos Hídricos) aplique o conceito de "equipamento" apenas aos "núcleos de funções e serviços que não correspondam a apoio de praia, nomeadamente restaurantes e snack-bares".

Destes equipamentos o Casino de Afife é, porventura, o exemplo mais paradigmático de uma iniciativa dos artistas de estuque de Afife que no século XIX se organizam num espaço de lazer e recreio de grande fama e notoriedade para a época mesmo que apesar do nome nunca tenha tido essa função.

3.2.2 REDES E INFRAESTRUTURAS 3.2.2.1 Metodologia A análise das redes e infraestruturas foi realizada com base na cartografia à escala 1:2000, de 2015, fornecida pela CMVC, e levantamentos de campo entre Setembro e novembro de 2015.

A EN13 para além de uma via de comunicação estruturante a nível nacional, é também um canal de distribuição de infraestruturas para o concelho. Na área do PIERACA existem servidões administrativas e de utilidade pública integradas nos seguintes domínios:

• Rede Rodoviária Nacional, conforme o disposto no Decreto-Lei n.º 13/1994 de 15 de janeiro;

• Linhas Elétricas, conforme o disposto no Decreto Regulamentar n.º 446/76 de 5 de junho;

• Linhas de Alta Tensão de acordo com o Decreto-Lei n.º 43/335 de 19 de novembro de 1960;

• Telecomunicações, de acordo com o Decreto-Lei n.º 181/1970 de 28 de abril.

3.2.2.2 Infraestruturas de águas e elétricas De acordo com a informação disponibilizada pela CMVC, a área do PIERACA é abastecida pela rede de saneamento básica e rede elétrica.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

94

As infraestruturas de água estão categorizadas em:

• Rede de saneamento

• Coletores

• Conduta adutora

• Captações de água

• Poços

• Tanques

Na área do PIERACA destaca-se a captação de água da Veiga da Areosa, que complementa o abastecimento da área urbana a partir da captação de Bertiandos. A conduta adutora faz o transporte da água desde a captação até à distribuição, ao longo da EN13. A rede coletora distribui-se da EN13 para a ETAR da Areosa e nos arruamentos CM1165 e Avenida de Figueiredo. A rede de saneamento existente ao longo da EN13 serve, na área de ação do PIERACA, o perímetro urbano de Montedor, o Farol de Areosa, a UOPG do núcleo urbano da praia de Carreço e a ETAR de Areosa. A norte de Montedor, na área de ação do PIERACA não há saneamento.

Os poços localizam-se exclusivamente a sul de Montedor nas freguesias de Areosa e Carreço, com exceção de um cartografado a norte, em Afife, nas instalações da aquicultura.

Os tanques concentram-se no interior do perímetro urbano de Montedor, associados às habitações. Fora do perímetro surgem apenas associados aos equipamentos: instalações da aquicultura, ETAR da Areosa e viveiros. As infraestruturas elétricas estão categorizadas em:

• Torres de alta tensão

• Postes de alta tensão

• Postes de baixa tensão

• Poste de iluminação

• Poste de telefone As linhas de alta e baixa tensão são aéreas.

As torres de alta tensão são de estrutura metálica e ocorrem paralelas à EN13, com maior predominância nas freguesias de Areosa e Carreço. Os postes de alta tensão são em betão, assim como os postes de baixa tensão. Os postes de baixa tensão ocorrem em maior número na área e são geralmente em betão. Estes levam a energia elétrica desde os Postos de Transformação, ao longo dos arruamentos até aos locais onde é consumida, como as habitações, apoios de praia e equipamentos.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

95

A iluminação pública e os postes de telefone concentram-se nas áreas com uso habitacional, equipamentos e nos acessos principais à frente marítima.

FIGURA 41. LINHAS DE ALTA E BAIXA TENSÃO

3.2.2.3 Vias e Caminhos As vias ferro-rodoviárias estruturantes de acesso à área do PIERACA são a EN13 e linha ferroviária do Minho. A uma escala regional e nacional, a A28 é uma via importante de conexão desta área a outros pontos geográficos. A EN13 é transversal a toda a área de intervenção, e assegura a comunicação entre as três freguesias: Afife, Carreço e Areosa. Esta também é uma via importante de comunicação com concelhos vizinhos do litoral Norte. A linha do Minho é também um forte canal de acesso à área do PIERACA, com apeadeiros em Afife, Carreço e Areosa. Em resultado de um projeto intermunicipal, a Ecovia do Litoral Norte, que se encontra em execução vai permitir ligar Viana do Castelo a Caminha e Esposende. O concelho de Viana do Castelo compreende 52% do total do itinerário, que abrange toda a frente litoral da área do PIERACA e o conecta com os concelhos vizinhos. Esta transversalidade contribui para uma maior aproximação da área ao território envolvente e para a sua dinamização. O relatório final do ESTUDO DA ECOVIA DO LITORAL NORTE e PERCURSOS COMPLEMENTARES do projeto reflete que: “ (…) O Itinerário nas freguesias de Afife, Carreço e Areosa caraterizam-se pelo elevado número de acessos decorrentes do processo de emparcelamento agrícola. Constituem uma malha formal de acessos estruturados por eixos perpendiculares de apoio aos espaços balneares. Nos espaços de transição entre as explorações agrícolas/florestais ou espaços urbanos e os espaços dunares ou arribas, é permanente a existência de acessos pouco infraestruturados.”

Sobre as caraterísticas cénicas do itinerário, na área do PIERACA, o relatório refere:

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

96

“(…) a paisagem agrícola da veiga de Afife, pela possibilidade de perceção da mesma a partir das extremidades norte e sul, a par da fácil delimitação visual, bem como a possibilidade de identificação dos corredores ribeirinhos. A par destes elementos, a compartimentação promovida por pequenas matas, distribuídas nas áreas mais elevadas, permitem a transição entre o sistema agrícola e os espaços balneares ou urbanos; - Montedor (Carreço), face à conservação dos espaços de vegetação autóctone em articulação com a perceção da linha de costa, a norte e a sul, em particular do Forte do Paçô e alinhamento de moinhos de vento; - a paisagem agrícola da Veiga de Carreço e Areosa, enquanto espaço produtivo associado a espaços de dunas e arribas, a par do enquadramento promovido pela proximidade à serra, bem como o património arquitetónico que apresenta.”

TIPOLOGIA DE PERCURSOS VIÁRIOS E PEDONAIS INSERIDAS NA ÁREA DO PIERACA

TIPO DISTÂNCIA (KM) Calçada à portuguesa 21,7 Betuminoso 18,7 Lajes de Betão 1,5 Cubo de Granito 4,2 Macadame 4,2 Saibro 1,4 Passadiço 3,8 Trilhos 7,6 Não identificados 3,1

TABELA 29. TIPOLOGIA DE PERCURSOS VIÁRIOS EM KM

Os caminhos formam uma rede complexa em resultado do desenho das parcelas agrícolas.

Em relação à tipologia de pavimentos, verifica-se à data do levantamento de novembro de 2015, na área do PIERACA, que a maioria dos pavimentos é em calçada de granito (2,16ha) e em betuminoso (1,87ha). Os pavimentos em cubo de granito, macadame, saibro e madeira totalizam 1,36ha. Conclui-se que a calçada de granito é o pavimento mais utilizado na área, e que se privilegia o uso de pavimentos permeáveis e semipermeáveis em detrimentos dos impermeáveis.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

97

FIGURA 42. IDENTIFICAÇÃO % DAS TIPOLOGIAS DE PAVIMENTOS EXISTENTES

A calçada surge como pavimento dominantes nos acessos entre a EN13 e a zona costeira. A ligação longitudinal entre as parcelas é feita em calçada de granito ou betuminoso, com predominância da primeira. Na zona de praia e frente marítima utilizam-se com maior expressão os pavimentos em saibro ou pavimentos agregados e sobre a zona de duna surgem os passadiços de madeira. Na zona da mata de proteção e na encosta de Montedor, o percurso é feito por trilhos.

Dentro da área do PIERACA a sinalética orientava é pouco frequente e em algumas zonas inexistente. As zonas de estacionamento encontram-se associadas aos acessos às praias e locais de visita patrimonial. O projeto POLIS tem vindo a ampliar e a ordenar o estacionamento na frente marítima, sobretudo nos pontos principais de acesso às praias.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

98

PAVIMENTO EM CALÇADA DE GRANITO PAVIMENTO EM BETUMINOSO

PAVIMENTO EM SAIBRO PAVIMENTO EM ESTRADO DE MADEIRA

FIGURA 43. TIPOLOGIA DE PAVIMENTOS EXISTENTES

3.2.3 PATRIMÓNIO 3.2.3.1 Metodologia Consideraram-se como valores de paisagem os elementos que mais se destacam ao nível do património cultural e natural da área de estudo, cuja presença constitui uma mais-valia para o território.

No que diz respeito ao património cultural, a cartografia efetuada baseou-se nas Plantas de Património Arqueológico e Património Edificado do PDM de Viana do Castelo, de 2014, fornecidas pelo Município, cuja informação foi complementada com alguns elementos cartografados na Carta Militar de Portugal, Série M888 (Folhas 40 e 27, IGeoE), considerados importantes por estarem associados à identidade desta paisagem, nomeadamente as azenhas, moinhos de vento, muros de pedra seca ou muros de alvenaria. A informação relativa aos muros foi comparada e corrigida de acordo com a informação presente na Base Cartográfica Numérica Vetorial à escala 1/2000, 2015, fornecida pelo Município de Viana do Castelo. Ao nível do património natural, considerou-se toda a orla litoral que integra a Rede Natura 2000, delimitada a partir da cartografia do respetivo Plano Sectorial (Instituto da Conservação da Natureza, 2006), destacando-se também diversos elementos de elevado interesse ao nível geomorfológico - Monumentos Naturais Locais em Vias de Classificação (CARVALHIDO, 2014).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

99

Foram também incluídas as principais linhas-de-água (relacionadas com a localização das azenhas) e diversas áreas de galeria ripícola. Numa primeira fase elaborou-se um enquadramento geral no contexto da região e do concelho, focando depois a atenção na área de intervenção do PIERACA e nos elementos mais relevantes na envolvente mais próxima.

3.2.3.2 Enquadramento A ocupação humana do território atualmente incluído no concelho de Viana do Castelo é antiga, justificada pela diversidade de recursos, as condições naturais de defesa ou o "subsolo rico em matérias-primas e abundância de terrenos férteis e bem irrigados" (LEAL, 2008). A forma como o Homem se apropriou do território e tirou partido das diferentes mais-valias que este oferecia, resultou em profundas alterações na paisagem, num processo de constante transformação, que se estende até à atualidade. Na pré-história, era atravessado por caçadores-recolectores, dando-se posteriormente a sedentarização das primeiras comunidades agro-pastoris do Neolítico (LEAL, 2008) - resultantes do plantio em terras férteis próximas das linhas-de-água e da domesticação de animais - que mantinham no entanto alguma dependência da caça, da pesca e da recolha direta de alimento e materiais nas áreas naturais.

As gravuras rupestres (representadas, por exemplo, em Montedor) constituem vestígios pré- históricos bastante antigos. Posteriores a este são os registos do Neolítico, como os monumentos megalíticos de valor simbólico (frequentemente de cariz funerário, construídos à base de grandes blocos de pedra dos quais se destaca a Mamoa de Afife) ou diversas estações paleolíticas (oficinas de talhes de bifaces), existentes nas 3 freguesias em estudo. O conhecimento metalúrgico que origina a Idade do Ferro resulta nos primeiros utensílios deste material, associados à exploração intensiva dos recursos minerais e à sedentarização efetiva de populações de base agro-silvo-pastoris. A disputa pelos recursos naturais e pelas melhores terras de cultivo estão na base da hierarquização e maior complexidade social deste período, do qual os "castros" (povoados fortificados) são importantes vestígios. Alguns estavam localizados em zonas estrategicamente altas, de defesa, com grande amplitude visual, como as encostas da Serra de Santa Luzia ou Montedor; outros eram preferencialmente localizados em zonas de vale, perto dos terrenos agrícolas. Profundas alterações ocorreram também durante o processo de romanização da Península Ibérica (LEAL, 2008), em domínios como o comércio, os hábitos alimentares ou o modo de vestir (ALMEIDA, 2013). Em algumas povoações de maiores dimensões, já existentes na Idade do Ferro, como a Citânia de Santa Luzia, ocorreram processos de desenvolvimento e transformação morfológica, mantendo-se a ocupação humana até pelo menos ao início da Idade Média. Já os povoados castrejos de menor importância acabaram na grande maioria por se extinguir em virtude da formação de vilas, casais ou até pequenas unidades agrícolas nas terras mais baixas (ALMEIDA, 2013), servidos por uma rede de percursos que esteve na origem de alguns dos traçados de caminhos ainda hoje existentes.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

100

Um importante vestígio que remonta a este período é o conjunto de salinas, as "pias salineiras" que se observam em diversos locais do litoral do concelho (http://novembro.cm-viana- castelo.pt/), sendo exemplo disso as existentes na Praia de Fornelos ou na Praia do Lumiar. Algumas das salinas funcionavam "(...) não por inundação direta, mas mediante o transporte de água até aos locais de cultura (...)", ao qual se seguia a evaporação, que permitia o abastecimento de sal marinho às populações castrejas. (CARVALHIDO, 2009).

Com o declínio do Império Romano e as Invasões Bárbaras, a região foi habitada pelos Suevos, que criaram o primeiro reino cristão da Europa (com uma governação baseada em paróquias) e pelos Visigodos, que o anexaram depois ao seu reino. A região sofreu também o embate das incursões árabes e desempenhou um papel fundamental na reconquista cristã (LEAL, 2008), à qual se seguiu, nos séculos seguintes, o povoamento progressivo, mas disperso, das margens e da foz do Lima, mas também de áreas pertencentes atualmente à freguesia de Areosa, numa villa então denominada por "Vinha" (http://www.santamariamaior-monserrate- meadela.com/).

Por circunstâncias de ordem geográfica, a região de Viana desempenhou, através do seu porto, um papel muito importante na época dos descobrimentos. No séc. XV, estabelece-se a ligação entre o Mediterrâneo e a Europa do Norte, comercializando-se panos do norte, frutas, ferro e madeiras da região da Biscaia e sal e produtos agrícolas da Europa do Sul (MOREIRA, 2002). No final desse mesmo século, dá-se a extensão da rota até aos Açores e Madeira, saindo de Viana grande parte dos tecidos que chegam àquelas paragens (MOREIRA, 2002). No último quartel do século XVI, os vianenses aparecem fortemente envolvidos na produção e comércio de açúcar brasileiro, atividades particularmente lucrativas à custa das quais se constroem grandes fortunas, com impacto na sociedade, na paisagem da região e na fisionomia da cidade, à volta da qual surge "uma cintura de conventos e mosteiros, destinados a moralizar e impedir o avanço das heresias" (MOREIRA, 2002).

3.2.3.3 Elementos Patrimoniais culturais, religiosos e arqueológicos e naturais A Mamoa de Afife é um dos principais monumentos megalíticos da região e um exemplar de antigos túmulos de enterramento coletivo, que se desenvolveram desde o Neolítico até ao Bronze Inicial. As escavações ocorridas durante a década de 1980 puseram a descoberto o monumento funerário, datado da Idade Cobre - do qual se conserva grande parte da estrutura em pedra que formava a câmara/corredor - e permitiram a recolha de materiais como pontas de seta e lâminas de sílex e quartzo, machados de pedra polida e fragmentos cerâmicos. Em alguns dos esteios encontram-se gravuras rupestres com motivos geométricos e zoomórficos, bem como vestígios de pinturas a ocre. (LEAL, 2008)

Nas 3 freguesias em estudo observa-se um interessante conjunto de gravuras rupestres, dos mais significativos no noroeste da Península Ibérica, que comprova a ancestralidade da ocupação humana neste território. Destacam-se pela proximidade com a área de intervenção as gravuras da Praia de Fornelos, da Laje/Fraga da Bica ou da Laje da Churra, com representações geométricas, de animais ou de seres humanos. A variedade das representações não permite um

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

101

"contexto arqueológico seguro (...) apesar do facto de se encontrarem paralelismos com os motivos gravados e insculturados nos esteios de dólmenes, permitirem pensar que estas gravuras poderão remontar ao Calcolítico e estender-se pela Idade do Bronze, até à Idade do Ferro". Existem ainda algumas gravações predominantemente cruciformes que aparecem "sobrepostas às gravuras originais (...) que terão servido como forma de cristianização destes santuários pagãos", como acontece na Laje/Fraga da Bica. (LEAL, 2008)

A orla litoral do concelho é marcada pela presença de diversos fortes militares. O Forte de Paçô, ou Fortim de Montedor (Figura 44) localiza-se a norte do Farol de Montedor e está classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 47 508, DG, I Série, n.º 20, de 24-01- 1967. Constitui um "interessante exemplar da arquitetura militar seiscentista, (...) construído para suster possíveis ataques espanhóis durante as guerras da Restauração (1640-1668)", durante as quais "foi delineada uma linha defensiva estrategicamente colocada nas margens do rio Minho e ao longo da Costa Atlântica, conseguida através da remodelação de antigas fortificações (...) ou a edificação de novos fortes", como o Forte da Areosa Figura 44. Forte de Paçô (esquerda) e Forte da Areosa (direita), anteriormente conhecido por Forte da Vinha. (LEAL, 2008)

FIGURA 44. FORTE DE PAÇÔ (ESQUERDA) E FORTE DA AREOSA (DIREITA)

Durante as invasões francesas os Fortes de Paçô (Carreço), da Vinha (Areosa) e do Cão (Âncora, Caminha), eram considerados como importantes elementos de defesa. Numa conjugação de esforços, as três fortalezas "evitariam o eventual desembarque de tropas inimigas, numa zona onde a costa se apresenta bastante permeável". Durante as lutas liberais do séx.XIX, foi também "por vezes reativada a sua função militar". (LEAL, 2008) Os moinhos de vento situados nas freguesias de Areosa e Carreço (Figura 45), num total de 7 só na área do PIERACA são também elementos de destaque na paisagem litoral do concelho. A difusão deste tipo de engenhos ocorreu, na Europa, "durante a Idade Média (...) embora a sua generalização só tenha acontecido nos finais da época medieval". A importância do conjunto existente na vertente sul de Montedor deu origem à criação do Núcleo Museológico dos Moinhos de Vento de Montedor, funcionando no local um Centro de Interpretação com informações sobre os moinhos, mas também acerca da região e dos principais percursos ambientais e patrimoniais. O Município de Viana promove um percurso, com início e fim na praia

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

102

de Carreço, com extensão de 5Km e duração de 2 horas que inclui a passagem por este conjunto de moinhos.

FIGURA 45. MOINHO DE VENTO EM AREOSA (ESQUERDA) E MOINHO DO PETISCO, EM CARREÇO (DIREITA). Os exemplares existentes em Montedor possuem planta circular e são "cobertos por uma estrutura cónica" que excede o diâmetro do edifício, formando um pequeno beiral. A adaptação das velas "à direção dos ventos faz-se através da rotação do tejadilho", manejando uma "comprida haste denominada de 'rabo'". Num patamar mais baixo encontram-se o 'Moinho do Marinheiro' ("um dos últimos a funcionar com um velame constituído por quatro velas trapezoidais de madeira, dispostas em cruz, outrora típico da faixa litoral compreendida entre os rios Minho e Lima") e o 'Moinho de Cima' (que originalmente deverá também ter tido velame em madeira, substituído posteriormente por velas triangulares de pano). Um pouco mais acima, isolado num patamar próximo do Farol de Montedor, está situado o 'Moinho do Petisco', classificado como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 735/74, DG, I Série, n.º 297, de 21- 12-1974), e "objeto de uma (...) intervenção de restauro (...) que primou pela manutenção da estrutura original, designadamente ao nível dos mecanismos existentes e da própria arquitetura de toda a estrutura". (http://www.patrimoniocultural.pt/). (LEAL, 2008) Perto deste local, no topo da colina, a uma cota de 72m, está situado o Farol de Montedor. Construído em 1910, é o farol mais a norte da costa portuguesa, cruzando-se com os faróis das Ilhas Cies e do molhe do Douro. É constituído por uma torre com cerca de 28 metros de altura e pelos edifícios anexos, situados num terreno murado, onde existem também zonas ajardinadas e pequenas hortas. Junto à linha de costa está situada uma outra torre, construída em 1960, na qual foi instalada a "sereia elétrica", que emite o sinal sonoro para auxílio à navegação.

Os abrigos/aprestos de pesca conhecidos como 'Barracas' do Lumiar, de Paçô ou de Carreço (Figura 46) constituem um importante testemunho da atividade piscatória e da apanha do sargaço levada a cabo pelos agricultores locais. As construções serviam não só para a recolha dos barcos, como para armazenamento de diversos utensílios relacionados com essas atividades, descritas no Guia de Portugal (DIONÍSIO, 1996), no âmbito da descrição das praias de Viana do Castelo:

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

103

"A estas praias vêm habitualmente as 'sargaceiras' e as 'marisqueiras' das aldeias da beira-mar, na recolha do 'pescado' e do 'sargaço' para fertilização das terras, ou do 'marisco' e da 'bodelha' para alimentação humana e animal. A freguesia de é a que manda mais gente ao 'sargaço', termo por que designam as variedades de algas que arrancam ao mar e depois estendem fora do alcance das marés. São empilhadas nos 'palheiros', onde secam para servirem de adubo." (DIONÍSIO, 1996)

FIGURA 46. 'BARRACAS' DE PAÇÔ (ESQUERDA) E 'BARRACAS' DE CARREÇO (DIREITA). Os antigos Postos de Recolha de leite situados na freguesia da Areosa, à face da EN13, estão por seu lado ligados ao passado da atividade agrícola e leiteira na região. Era em locais como estes que os lavradores entregavam a maioria do leite que produziam (uma pequena quantidade por vezes ficava para consumo doméstico, em alturas de maior produção), que era armazenado (normalmente em grandes bilhas de alumínio) e depois recolhido por uma camioneta que tinha como destino a posterior comercialização, motivo pelo qual as construções e localizava à face da estrada.

Algumas áreas específicas desta orla litoral destacam-se pelo seu valor em termos geomorfológicos, estando atualmente em vias de classificação enquanto Monumentos Naturais Locais, dos quais se destacam os que estão situados na faixa litoral incluída no Plano: Alcantilado de Montedor, Canto Marinho e Pedras Ruivas. Apresenta-se de seguida uma breve transcrição das suas principais características e particularidades, identificadas no documento "Monumentos Naturais Locais de Viana do Castelo: processo de classificação e estratégias de valorização" (CARVALHIDO, 2014):

a) Alcantilado de Montedor (CARVALHIDO, 2014)

• Aproximadamente 55 hectares, delimitado a norte pelo Forte do Paçô e a sul pela Praia da Cambôa do Marinheiro;

• Valores geológicos que permitem compreender aspetos relacionados com a evolução geológica, paleoambiental e cultural da região nos últimos 400 mil anos;

• Interesses geomorfológicos principais: Residual (blocos graníticos, pias do tipo pan e poltrona, tafoni, alvéolos de contacto e pavimentos graníticos ondulados), Tectónico (estruturas da herança estrutural varisca do maciço de Montedor - e.g. cavalgamento entre a Formação de Valongo, a Formação de Sta Justa e o Plutonito de Bouça de Frades) e Litoral (plataformas costeiras e geoformas de detalhe que comprovam a sua génese em praia - sapas, marmias e alvéolos de P. lividus);

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

104

• Outros interesses: Fluvial, Eólico, Periglaciário e Cultural (pias salineiras e insculturações pré-romanas, ruínas da Cambôa do Marinheiro e do Morgado); b) Pedras Ruivas (CARVALHIDO, 2014)

• Aproximadamente 58 hectares, e com extensão aproximada de 1500 metros, entre o Forte de Rego de Fontes e o extremo sul da Praia Norte;

• Interesses geomorfológicos principais: Residual (plataformas costeiras preservadas na Formação de Valongo, com alvéolos de P. lividus no nível inferior; relevo residual da Formação de Santa Justa) e Tectónico (herança da tectónica hercínica - fraturação em dominó com relação à instalação de corredor de cisalhamento sinistrógiro, Formação de Santa Justa; sigmóides e estruturas em flor; várias gerações de dobras e boudinage; a Formação de Valongo apresenta dobramento em Kink);

• Outros interesses: Periglaciário, Paleontológico, Estratigráfico, Cultural (o 'Crime das Pedras Ruivas'), Mineralógico e Ecológico (importância ecológica dos siltes da Cambôa do Marinheiro, associados à manutenção das zonas húmidas das veigas da zona litoral em estudo, por impermeabilização e enriquecimento orgânico do solo);

c) Canto Marinho (CARVALHIDO, 2014)

• Aproximadamente 24 hectares em zona intertidal (entre-marés), na freguesia de Carreço, desde perto das 'Barracas do Lumiar' até quase ao limite da freguesia;

• Observam-se mais de 700 Pias Salineiras do período pré-romano e pesqueiros como as Cambôas (13 no total) - elementos que esclarecem a posição relativa do nível do mar durante a Idade do Ferro e o período Medieval; O rio de Cabanas e a ribeira do Pego, assim como os restantes ribeiros que correm para o oceano, constituem também importantes valores de paisagem. Ao longo das linhas-de-água existiam diversos moinhos (alguns adaptados a novos usos, outros em ruína), testemunho da importância destes recursos naturais para o Homem. Na ribeira do Pego, a montante da Quinta da Boa Viagem, situa-se uma área com grande interesse paisagístico - o Poço Negro - onde existe uma represa natural, particularmente apreciada pela profundidade que a ribeira adquire, tornando o local propício a banhos ou mergulhos a partir das margens escarpadas.

3.2.4 TURISMO 3.2.4.1 Metodologia O enquadramento de Viana do Castelo ao nível das regiões turísticas de Portugal e a caraterização da vertente turística do concelho foram os primeiros passos para a compreensão das atividades que surgem associadas à área do PIERACA. Com vista ao enquadramento regional foi consultado o portal o Turismo do Porto e Norte de Portugal (http://www.portoenorte.pt/); ao nível do concelho consultaram-se diversos documentos e dados disponíveis no portal do Município de Viana do Castelo (http://www.cm-viana-castelo.pt/), bem como das freguesias de Afife (www.jf-afife.com), Carreço (www.jf-carreco.com) e Areosa (www.fjareosa.pt).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

105

Foi também efetuada uma pesquisa acerca da gastronomia da região, sendo de salientar a informação obtida no portal Museu Virtual de Viana do Castelo (http://www.mvvc.ipvc.pt). Por último, efetuou-se um estudo das principais rotas e percursos que cruzam a área litoral norte do concelho, nomeadamente as rotas intermunicipais da Comunidade Urbana Valimar (que inclui os municípios de , Caminha, Esposende, , Ponte de Lima e Viana do Castelo).

3.2.4.2 Caraterização do turismo e enquadramento regional Com sede em Viana do Castelo, a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal é a principal entidade responsável pela gestão e promoção turística da região "Porto e Norte de Portugal", uma das 5 grandes áreas geográficas em que se divide no âmbito deste setor o território de Portugal Continental. A sua principal missão é levar o turista "à descoberta de renovados encantos que primam pela singularidade e hospitalidade" (http://www.portoenorte.pt/): seja nas paisagens como as do Douro Vinhateiro ou do Parque Nacional da Peneda-Gerês, do Porto ou Viana do Castelo, tão distintas na sua identidade e nos seus valores ou tradições.

O concelho de Viana do Castelo apresenta diversas valências que a tornam particularmente atrativa em termos turísticos, destacando-se o seu património histórico, as suas tradições que se mantém tão vivas e as caraterísticas naturais. A etnografia vianesa é talvez o elemento de maior destaque, existindo porém outros fatores atrativos para os visitantes, como os monumentos e espaços culturais, o rio e o mar (onde circulam veleiros e se praticam diversos desportos náuticos) e os 24 Km de frente atlântica, associados sobretudo à prática balnear. O "Caminho Português da Costa" para Santiago, que percorre uma grande faixa do litoral norte (http://caminhodacosta.wix.com/caminhodacosta), tem na cidade um dos pontos principais de paragem. O Município de Viana destaca no seu portal (http://www.cm-viana-castelo.pt/) alguns dados que demonstram a importância do setor turístico na região: o Monte de Santa Luzia, com mais de 1 milhão de visitas por ano; o Navio-Hospital Gil Eannes, com cerca de 40.000 visitas por ano; as cerca de 70 romarias e 260 feiras e feirões realizados por ano; as 8 praias douradas e de bandeira azul e os 307 lugares de acostagem na marina; as 15 empresas de animação turística, e os 22 trilhos pedestres existentes; os cerca de 149 estabelecimentos de restauração, nalguns dos quais se pode provar o Cabrito das Terras Altas do Minho e beber os Vinhos Verdes da região. O município dispõe ainda de uma escola com a "chancela da marca Turismo de Portugal", a Escola de Hotelaria e Turismo de Viana do Castelo (http://escolas.turismodeportugal.pt/).

No portal é também possível ter uma ideia da capacidade hoteleira do município: 20 empreendimentos turísticos como hotéis, pousadas ou apartamentos turísticos (1290 camas); 6 empreendimentos de turismo de habitação (80 camas); 20 empreendimentos de turismo em espaço rural (226 camas); 2 parques de campismo (1900 lugares); 39 alojamentos locais (212 camas); 3 Pousadas de Juventude e albergues (142 camas).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

106

Ao nível das 3 freguesias incluídas no PIERACA, é o turismo balnear aquele que tem maior expressão, sobretudo devido às praias, de bandeira azul, com qualidade de ouro (www.portoenorte.pt): de Afife e da Arda (em Afife), a de Paçô (em Carreço) e a do Norte (em Areosa). As diversas estruturas existentes nos apoios de praia garantem uma série de serviços aos veraneantes, enquanto a rede de passadiços em madeira permite percorrer a zona dunar ao longo de vários quilómetros.

Ao nível hoteleiro, para além de uma unidade com 65 quartos situada em Afife, existem nas 3 freguesias diversos apartamentos turísticos, alojamentos locais e unidades de turismo em espaço rural, algumas das quais associadas a grandes quintas. O mercado de arrendamento de quartos e casas tem uma expressão considerável, sendo fácil encontrar, tanto em classificados, como online, diversos anúncios para aluguer, sobretudo durante os meses de verão. O parque de campismo Sereia da Gelfa em Âncora, Caminha (mais até do que os parques situados a sul da cidade da Viana) é uma alternativa de estadia para quem visita esta zona, estando apenas a poucos quilómetros a norte, com acesso facilitado pela EN13.

As empresas turísticas da região são responsáveis pela organização de muitas das atividades que podem ser experimentadas: aquáticas como mergulho, surf, windsurf, bodyboard, kitesurf, longboard, ou terrestres como downhill, todo-o-terreno, passeios de btt, entre outros.

O diverso património que se encontra em toda esta orla litoral (descrito em mais pormenor no respetivo capítulo) como os moinhos de vento de Montedor, os fortes de Paçô e de Areosa, as gravuras rupestres, as salinas ou o farol de Montedor, são também elementos de interesse, alguns dos quais incluídos em roteiros que fazem da área do PIERACA um ponto de passagem obrigatório. Também a gastronomia é um dos pontos fortes desta região, sendo inúmeros os guias que salientam o restaurante Mariana, em Afife, como um dos locais de referência, onde é possível provar o robalo cozido em algas, sendo da mesma forma servidos sargo ou pescada. Na região é possível encontrar diversos locais que servem pratos típicos locais (http://www.mvvc.ipvc.pt/) como o arroz de sarrabulho, posta barrosã e arroz de feijão, os rojões, o cabrito, a lampreia à moda do Minho, a caldeirada de marisco ou diferentes pratos de bacalhau. A doçaria típica inclui os barquinhos vianenses, os biscoitos de Viana, as bolas de Berlim, as cavacas de Viana, os jesuítas, as tortas de Viana, entre muitos outros. A acompanhar a gastronomia condimentada associam-se os vinhos verdes (cuja região demarcada inclui, entre outros os distritos de Viana do Castelo e de Braga): os tintos de cor e aroma forte, fresco, tradicionalmente servidos em malgas; os brancos mais leves, de aroma frutado e delicado.

3.2.4.3 Percursos e trilhos temáticos O portal da Câmara Municipal de Viana do Castelo (http://www.cm-viana-castelo.pt/) faz referência a diversas rotas intermunicipais estabelecidas pela Comunidade Urbana Valimar que incluem pontos de destaque situados no litoral norte do concelho, ou com relação visual com este:

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

107

• O percurso cicloturístico "Fortes do Litoral", que percorre o litoral do concelho e inclui os fortes da Areosa e de Carreço; (Valimar ComUrb, Percurso "Fortes do Litoral", Brochura Explicativa);

• A "Rota Natureza e Cultura (Litoral)" visita um conjunto de locais de interesse paisagístico nos concelhos de Esposende, Viana do Castelo, Caminha e Ponte de Lima. Um dos 17 pontos de destaque é a zona de Montedor, onde se destacam o Farol, os moinhos de vento, as gravuras rupestres, mas também o forte de Paçô; (Valimar ComUrb, "Rota Natureza e Cultura", Brochura Explicativa);

• A "Rota Castros e Fortes" propõe um circuito cultural pelas povoações fortificadas da Idade do Ferro, pelas fortalezas construídas no séc. XVIII e por outros locais de interesse arqueológico. O Fortim de Areosa, o Farol de Montedor e a Cividade de Afife são alguns dos elementos de destaque;

• A "Rota O Religioso (Litoral)" propõe a visita a um conjunto de locais de culto e festas religiosas nos mesmos concelhos, sendo um dos locais de destaque a Capela do Senhor do Bonfim, em Carreço; (Valimar ComUrb, "Rota O Religioso", Brochura Explicativa);

• A "Rota Miradouros" refere o Monte de Santa Luzia como um dos locais de maior destaque, nomeadamente as vistas "para a orla costeira, com o verde das veigas e as extensas praias". (Valimar ComUrb, "Rota Miradouros", Brochura Explicativa).

A uma menor escala destaca-se a Rede Municipal de Percursos Pedestres de Viana do Castelo (http://www.cm-viana-castelo.pt/pt/percursos-pedestres-ciclovia), alguns dois dos quais exploram a orla litoral e estão incluídos na área do PIERACA:

• PR6, Percurso dos Moinhos de Vento de Montedor (Carreço). Trata-se de um trilho de pequena rota, com grau de dificuldade fácil, extensão de 1,6 Km e duração aproximada de 45 minutos. Com início na praia de Fornelos, inclui como principais pontos de interesse as gravuras rupestres de Montedor e da Fraga da Bica, a Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, o Farol de Montedor, o Moinho do Petisco, o Moinho do Marinheiro e o Moinho de Cima;

• PR7, Percurso do Forte do Paçô (Carreço). Trata-se de um trilho de pequena rota, com grau de dificuldade fácil, extensão de 4Km e duração aproximada de 1 hora e 30 minutos. O percurso inicia-se na praia de Fornelos e é no seu troço inicial coincidente com o Percurso dos Moinhos de Vento de Montedor (PR6). Tem como principais pontos de interesse as gravuras rupestres de Montedor e da Fraga da Bica, a Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, o Farol de Montedor, o Moinho do Petisco, a praia de Paçô e o Forte de Paçô;

As encostas da Serra de Santa Luzia são o pretexto para outros percursos que cruzam a área do PIERACA ou estão muito próximos desta, como é o caso dos Trilhos da Chão de Carreço (PR8, com extensão de 18,9 Km, 6 a 7 horas de duração) e o Trilho dos Canos de Água (PR9, extensão de 10Km, 3 horas e 30 minutos).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

108

3.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 3.3.1 METODOLOGIA A análise ao Uso do solo foi efetuada com base na “Carta do Uso do Solo”, Planta de Ordenamento do Plano Diretor Municipal de Viana do Castelo, fornecida pela CMVC e no regulamento do PDM de Viana do Castelo (2008). O PDM em termos de classificação do solo compreende dois tipos de solo de acordo com o destino básico de cada um: o solo rural e o solo urbano. De acordo com o art.º 8 e 9, do Capítulo III do PDM, o solo rural é aquele “destinado a ser usado em atividades agrícolas, pecuárias, florestais ou minerais, bem como os espaços naturais de proteção ou de lazer” enquanto o solo urbano é “destinado a ser usado no processo de urbanização e de edificação.” Paralelamente ao desenvolvimento deste trabalho, foi aprovada a lei de bases da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo, através da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio e, na sua sequência, a revisão do regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (RJIGT), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio, o que operou uma profunda reforma no modelo de classificação do solo, eliminando a categoria operativa de solo urbanizável. “Agora o solo urbano corresponde ao que está total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal, afeto em plano territorial à urbanização ou edificação. Por sua vez, o solo rústico corresponde àquele que, pela sua reconhecida aptidão, se destine, nomeadamente ao aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação e valorização de recursos naturais, à exploração de recursos geológicos ou de recursos energéticos, assim como o que se destina a espaços naturais, culturais, de turismo e recreio, e aquele que não seja classificado como urbano.” (Decreto Regulamentar nº15/2015 DR nº161/2015, Série I de 19 de agosto). O PDM de Viana do Castelo ainda não exprime estas alterações, mas como é o instrumento de gestão em vigor, será o utilizado para efeitos de análise, classificação e qualificação do uso do solo.

A caracterização da ocupação do solo foi realizada com base em levantamentos de campo efetuados entre Setembro e novembro de 2015, fotografia aérea de 2014 e 2015 fornecida pela CMVC, cartografia à escala 1:2000 do ano de 2015 fornecida pela CMVC e imagens de satélite e de Streetview disponíveis para consulta digital através dos serviços de Webmapping da Google. A informação foi processada e analisada com recurso a software GIS, tendo como produto final a “Carta de ocupação do solo”.

A partir das cartas do “Uso do Solo” e “Ocupação do solo”, foi elaborada uma carta síntese, designada de “Carta de Ocupação do Uso do Solo”, à escala 1:2000, que permite relacionar o uso previsto para o solo rural e a sua atual ocupação.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

109

3.3.2 USO DO SOLO Apresenta-se no quadro abaixo, a estrutura de qualificação do solo, de acordo com o Capítulo IV e V do PDM, presente na área de ação do PIERACA.

QUALIFICAÇÃO DO SOLO

SOLO RURAL SOLO URBANO

1. Solo Urbanizado Zonas de Construção de Colmatação / Continuidade 1. Espaços Agrícolas Zonas de Construção de Transição Zonas de Equipamentos Existentes Zonas Urbanas de Aplicação de PMOT

2. Espaços Naturais 2.1 Zonas de Rochedos Emersos do Mar, Praias, Ínsuas e Sapais; 2. Solo de Urbanização Programada 2.2. Galerias Ripícolas Zonas de Construção de Tipo II 2.3 Zonas de Vegetação Rasteira e Arbustiva 2.4 Zonas de Mata de Proteção do Litoral

3. Espaços Públicos de Recreio e Lazer em Solo Rural TABELA 30. CATEGORIAS DE QUALIFICAÇÃO DO SOLO

a) Solo rural Segundo o PDM, os Espaços agrícolas ‘caraterizam-se pela sua aptidão agrícola atual ou potencial e destinam-se à prática da atividade agrícola.’

Os espaços agrícolas na área do PIERACA ocupam cerca de 614ha (68%) e estão integralmente inseridos na RAN. A sul de Montedor a maioria destes espaços integra também a REN. Cumulativamente estão classificados no PDM como áreas de “Elevado Valor Paisagístico”, dado o papel desempenhado na estrutura paisagística do concelho.

Para além das restrições ao regime RAN e REN, os “Espaços Agrícolas de Elevado Valor Paisagístico, são non aedificandi, não sendo permitidas quaisquer construções, de caráter definitivo ou precário, incluindo estufas e painéis publicitários”’, com as exceções previstas no art.º 15, Secção II, Capítulo IV do PDM.

Os Espaços naturais, “além de constituírem uma dimensão física fundamental na caraterização do povoamento e do seu ordenamento, imprescindível à sustentabilidade de um sistema territorial em constante mutação, representam também um valioso recurso, com valor intrínseco e de usufruto para toda a comunidade.”’ (art.º 32, subsecção I, secção I, Capítulo IV do PDM).

Representam na área do PIERACA cerca de 244ha (27%), a maioria destes espaços integra a REN, e parte deles a REDE Natura 2000.

A norte de Montedor, a maioria das Zonas de Vegetação Rasteira e Arbustiva e das Zonas de Mata de Proteção do Litoral estão englobadas nas áreas classificadas de elevado valor paisagístico.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

110

Para além das condicionantes ao regime REN e Rede Natura 2000, os “Espaços Naturais de Elevado Valor Paisagístico são non aedificandi, não sendo permitidas quaisquer novas construções, de carácter definitivo ou precário.”, com as exceções previstas no art.º34, subsecção I, Secção V, Capítulo IV do PDM. As zonas de rochedos emersos do mar, praias, ínsuas e sapais, integram as zonas costeiras e estão enquadradas na REN.

Verifica-se que as zonas a norte e a sul de Montedor são bastante distintas, predominando na área norte a zona de praias, enquanto a sul predominam as zonas de rochedos emersos do mar, e em grande parte, sem formação de praia.

As galerias ripícolas “correspondem às faixas de vegetação arbórea e arbustiva situadas nas margens dos cursos de água, onde ocorrem determinadas espécies ripícolas, nomeadamente choupo, salgueiro, ulmeiro, amieiro e freixo”’ (art.º43, subsecção VI, Secção V, Capítulo IV do PDM). As galerias ripícolas encontram-se associadas às margens e leito de cheia das linhas de água, com maior incidência a sul de Montedor. Verifica-se na maioria que as faixas de vegetação encontram-se fragmentadas, e/ou ocupadas por espécies de caráter invasor. As zonas de vegetação rasteira e arbustiva, “integram todas as áreas que ocupam fundamentalmente a antepraia e as zonas dunares, incluindo-se ainda nesta categoria, pelas suas características específicas, o promontório de Montedor.” (art.º45, subsecção VII, Secção V, Capítulo IV do PDM).

Estas zonas distribuem-se ao longo de toda a faixa litoral da área do PIERACA, com maior expressão a norte e noroeste de Montedor, onde estão incluídas nos ‘Espaços Naturais de Elevado Valor Paisagístico’, com exceção do topo mais a norte da área do PIERACA. As zonas de mata de proteção litoral “exercem funções de proteção e estabilização dos solos arenosos próximos do litoral e integram as áreas florestais em APC previstas no POOC Caminha - Espinho, as áreas florestais abrangidas pelo Sítio Litoral Norte da Rede Natura 2000 e áreas de floresta adjacente.” (art.º47, subsecção VIII, Secção V, Capítulo IV do PDM).

Na área abrangida pelo PIERACA, estas zonas ocorrem apenas na área a norte de Montedor, e estão genericamente abrangidas nos ‘Espaços Naturais de Elevado Valor Paisagístico’. Os Espaços Públicos de Recreio e Lazer em Solo Rural “destinam-se à instalação de infraestruturas que potenciem a fruição da componente ambiental e paisagística (…) são incluídas nesta classe de espaços as áreas de apoio às praias previstas pelo POOC Caminha - Espinho.” (art.º51, Secção VI, Capítulo IV do PDM).

A área prevista para este uso é de cerca de 4ha (0,004%), que correspondem aos apoios de praia das praias de Afife, Arda/Bico e Carreço; área de apoio ao Forte de Paçô e Forte da Areosa e inclui também outras duas áreas expectantes: uma entre a EN13 e a Avenida Porto de Vinha e outra definida nos Planos de praia: Arda-Bico (POOC Caminha-Espinho - Desenho n.º7/2007).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

111

b) Solo urbano Relativamente ao solo urbanizado (zonas de construção de colmatação/continuidade e zonas de construção de transição) e ao solo de urbanização programada (zonas de construção de tipo II), o PDM define que estas “caraterizam-se pela ocorrência ou pela previsão de processos de urbanização, cuja intensidade e caráter podem assumir variadas concretizações, como resultado de ações de infraestruturação, parcelamento, emparcelamento e construção, realizadas aos mais diversos níveis e inscritas em dinâmicas demográficas, socioeconómicas e de promoção de solo urbano ao nível do território concelhio.” (art.º61, subsecção II, Secção I, Capítulo V do PDM).

Os usos admitidos neste tipo de solos estão definidos no art.º 62, subsecção II, Secção I, Capítulo V do PDM.

• Solo urbanizado As zonas de construção de colmatação / continuidade, “correspondem aos aglomerados urbanos identificados no território, podendo caraterizar-se genericamente como áreas edificadas e infraestruturadas.” (art.º 80, subsecção I, Secção II, Capítulo V do PDM). Na área do PIERACA, estas zonas correspondem aos núcleos construídos de Montedor. As zonas de construção de transição, “localizam-se entre aglomerados, apresentam-se pouco infraestruturadas e caraterizam-se por ocupação de baixa densidade, constituindo zonas de transição entre o solo urbano e o solo rural.” (art.º 84, subsecção II, Secção II, Capítulo V do PDM). Na área do PIERACA estão limitadas a uma zona a nordeste de Montedor, na transição entre este e os espaços agrícolas. As zonas de equipamentos existentes - zonas que apresentam-se já ocupadas por equipamentos. (art.º 90, subsecção IV, Secção II, Capítulo V do PDM).

Na área do PIERACA são constituídas pelas instalações da aquicultura (desativadas), farol de Montedor, ETAR da Areosa e pelo forte da Areosa. As zonas urbanas de aplicação de PMOT - Estas áreas encontram-se delimitadas na Planta de Ordenamento e localizam-se em zonas do território municipal para as quais existem PMOT em vigor. (art.º 94, subsecção VI, Secção II, Capítulo V do PDM). Correspondem na área do PIERACA à UOPG proposta para o núcleo urbano da praia do Carreço.

• Solo de urbanização programada Zonas de Construção de Tipo II - “Estas zonas encontram-se delimitadas na Planta de Ordenamento, são contíguas aos aglomerados urbanos e apresentam-se genericamente desocupadas e deficitárias em infraestruturas.” (art.º 100, subseção II, Seção III, Capítulo V do PDM).

Na área de estudo, estão exclusivamente inseridas no núcleo urbano de Montedor.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

112

USO DO SOLO (%)

USO DO SOLO (HA)

FIGURA 47. DISTRIBUIÇÃO DO USO DO SOLO

3.3.3 OCUPAÇÃO DO SOLO A carta reflete apenas a ocupação do solo rural, segundo a qualificação do PDM Viana, excluindo o solo urbano, uma vez que este não é abrangido pelo PIERACA.

A síntese da informação acima descrita foi agrupada em quatro categorias com o objetivo de caraterizar a ocupação atual do solo:

a) Agricultura; b) Matos e Matas; c) Galerias Ripícolas;

d) Equipamentos, Áreas Construídas e de Uso Habitacional em solo rural.

A seguir descreve-se cada uma das categorias e as subcategorias:

a) Agricultura foi considerada nos espaços cultivados;

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

113

b) Matos e matas engloba os espaços onde se verificou a presença de vegetação arbóreo/arbustiva de caráter autóctone e/ou invasor e as áreas de uso agrícola não cultivadas e com indicações de inatividade recente. Esta categoria foi dividida em sete subcategorias, com base na tipologia de ocupação, para uma melhor compreensão do território:

• Áreas com predominância de Acacial - áreas ocupadas com vegetação arbórea com clara predominância de espécies do género Acacia;

• Áreas com predominância de Eucaliptal - áreas ocupadas com vegetação arbórea com clara predominância de espécies do género Eucalyptus;

• Áreas com predominância de Pinhal - áreas ocupadas com vegetação arbórea com clara predominância de espécies do género Pinus;

• Áreas com predominância de Salgueiral - áreas ocupadas com vegetação arbórea com clara predominância de espécies do género Salix;

• Áreas de ocupação arbórea mista - áreas ocupadas com vegetação arbórea sem clara predominância de uma espécie;

• Áreas de vegetação herbácea e arbustiva - áreas ocupadas com vegetação do estrato herbáceo/arbustivo, de caráter invasor ou espécies pioneiras nos primeiros passos da sucessão ecológica em resultado da inatividade agrícola;

• Área de vegetação rasteira e arbustiva associada à faixa costeira - áreas com ocupação de vegetação caraterística da orla litoral/dunar.

c) Galerias ripícolas engloba as “faixas de vegetação adjacentes arbórea e arbustiva situadas nas margens dos cursos de água, onde ocorrem determinadas espécies ripícolas, nomeadamente choupo, salgueiro, ulmeiro, amieiro e freixo”. (definição do PDM de Viana do Castelo, Subsecção VI, artigo 43)

d) Equipamentos, Áreas Construídas e de Uso Habitacional englobam as áreas definidas no PDM de Viana como Espaços públicos e lazer em solo rural e as áreas atualmente ocupadas com construções / equipamentos.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

114

OCUPAÇÃO DO SOLO (%) FIGURA

OCUPAÇÃO DO SOLO (HA)

48. DISTRIBUIÇÃO DAS CATEGORIAS DE OCUPAÇÃO DO SOLO

A agricultura é marcante na área do PIERACA, ocupando mais de metade da área (58%), e fundamental na definição do carácter desta paisagem. A maior parte do espaço é ocupado por uma sucessão de milho e azevém ambos para silagem, típicos da produção pecuária do Entre Douro e Minho. Por não ser regado o milho, pode-se dizer que a exploração não é muito intensiva e como tal com produtivades abaixo da média do litoral minhoto. Outra parte da área é ocupada com culturas tradicionais de milho grão e hortícolas de ar livre típico do minifúndio minhoto. Finalmente e apesar de não ser uma área muito grande, cabe referência à produção intensiva de hortoflorícolas em estufa de grande valor acrescentado e com níveis tecnológicos muito evoluídos para o que é habitual na região.

A seguir à agricultura, a segunda maior expressão de ocupação do território são os Matos e matas (40%). As áreas com predominância de acacial surgem com forte expressão a norte de Montedor, sobretudo na zona litoral, ocupando área de duna, e terrenos com abandono da agricultura. O comportamento invasor desta espécie associado às caraterísticas de ocupação da paisagem fragilizam o carácter desta área de elevado valor paisagístico a sul de Montedor estas áreas são residuais.

As áreas com predominância do salgueiral surgem associadas a zonas húmidas, na proximidade de linhas de águas, canais ou valas de drenagem, e formam núcleos com interesse paisagístico

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

115

e ecológico. As duas manchas arbóreas com maior expressão localizam-se, uma associada à ribeira de Afife e a outra no limite entre as freguesias de Carreço e Areosa. As áreas com predominância de eucalipto concentram-se numa mancha junto ao perímetro urbano de Montedor. As áreas com predominância de pinhal concentram-se a norte e noroeste de Montedor, sendo inexistentes a sul deste complexo. Estão maioritariamente associadas às áreas de vegetação rasteira e arbustiva associadas à faixa costeira formando com estas uma mata de proteção. A maioria da ocupação por vegetação herbácea e arbustiva encontra-se a sul de Montedor, sobretudo na freguesia de Areosa. Este tipo de ocupação surge nesta área como indicador de inatividade agrícola, em que na ausência de cultivo ocorre naturalmente uma evolução da ocupação da vegetação, desde estádios pioneiros de formações herbáceas, a silvas, giestas até estádios mais evoluídos com presença de árvores jovens, sobretudo salgueiros e acácias. A vegetação rasteira e arbustiva associada à faixa costeira está presente por toda a área, com maior expressão a noroeste e norte de Montedor, associadas às dunas.

As galerias ripícolas são pouco consistentes e descontínuas na área do PIERACA (0,3%), provavelmente em resultado da rentabilização do solo para agricultura. Os Equipamentos, Áreas Construídas e Uso Habitacional inseridos no PIERACA, pontuam o território (2%), e surgem geralmente na transição com a orla costeira ou com a EN13. Associados à zona costeira destaca-se, de norte para sul: ● Instalação de Aquicultura (desativada);

● Apoios da praia de Afife;

● Apoios da praia da Arda; ● Estacionamento, conjunto edificado e Forte do Paçô; ● Campo de jogos Ilídio Cunha.

Associados à EN13 surgem as estufas e viveiros, oficinas e outros serviços. Refere-se ainda a presença das instalações de um matadouro (inativo). As construções de uso habitacional surgem um pouco por todo o espaço, com mais incidência nos limites com a praia, Montedor e EN13.

3.3.4 OCUPAÇÃO DO USO DE SOLO a) Uso agrícola A relação entre o Uso do solo e a Ocupação do solo no que se refere à exploração agrícola, mostra que as áreas definidas para este uso são superiores à ocupação efetiva, numa relação de 452 ha ocupados em 614 ha previstos, ou seja 73,62% do seu potencial pleno.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

116

Atualmente parte dos espaços agrícolas são maioritariamente ocupados por culturas forrageiras não permanentes (434 ha). A área afeta a viveiros de produção de plantas/floricultura é de 11 ha, enquanto a produção de hortícolas ao ar livre distribui-se em 7 ha.

Pontualmente, e a norte de Montedor, a ocupação agrícola surge em solo destinado a outros usos: 0,70 ha em zonas de vegetação rasteira e arbustiva e 3 ha em zonas de mata de proteção do litoral.

Verifica-se que o solo de uso agrícola não cultivado está atualmente ocupado por construções/equipamentos como o caso do campo de jogos Ilídio Cunha, matadouro e outras de uso habitacional/comercial, e em maior extensão por matos e matas.

A ocupação deste solo por matos e matas acontece na sequência da inatividade/abandono agrícola, e atualmente podemos encontrar diversas parcelas agrícolas não cultivadas, onde nas mais recentes ocorre a ocupação por vegetação herbácea e arbustiva, por vezes num estado evolutivo recente, noutras num estado já de consolidação. Verificam-se pontualmente áreas húmidas com predominância de salgueiros que apesar de integrarem solos identificados com potencial agrícola, desempenham funções importante no equilíbrio ecológico e disponibilidade de água já que a rega não é prática habitual na veiga.

OCUPAÇÃO DO USO SOLO (%)

OCUPAÇÃO DO USO SOLO (HA)

FIGURA 49. OCUPAÇÃO DO USO AGRÍCOLA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

117

b) Espaços naturais

• Zonas de Rochedos Emersos do Mar e Praias O levantamento e análise à ocupação atual não se focou nestas zonas, uma vez que são alvo de POOC.

• Galerias ripícolas Há um notório desfasamento entre as áreas definidas na ‘Carta de uso do solo’ e a sua real ocupação. Atualmente as galerias ripícolas, como definidas em PDM, ocupam uma área residual do território do PIERACA de apenas 2 ha (0,3%), ou seja, apenas 11,17% da área afeta a este uso está efetivamente ocupada.

A maioria dos espaços previstos para o desenvolvimento das galerias ripícolas encontram-se atualmente ocupados com agricultura, fragmentados ou sem a presença de vegetação típica deste sistema.

• Zonas de vegetação rasteira/arbustiva

Em áreas mais próximas do mar a ocupação do solo é feita por áreas de vegetação rasteira e arbustiva, caraterísticas da zona costeira. Na carta de uso do solo, a área prevista para este uso inserida no PIERACA é de aproximadamente 73 ha. Verifica-se que 61% desta área está ocupada com o uso previsto, e que já se expandiu de 45 ha para em 11 ha em áreas afetas a outros usos. Parte desta zona também está ocupada por áreas de vegetação arbórea, como o pinhal e o acacial. O pinhal representa 14% de ocupação e o acacial 17%.

• Zonas de mata de proteção do litoral Na zona de mata de proteção do litoral, as áreas com predominância de pinhal, caraterístico da frente marítima, atualmente só representam cerca de 14% da ocupação desta zona. A área de pinhal tem sido descaraterizada pela presença das acácias, e o caráter invasor desta espécie, e por conseguinte a sua velocidade de propagação num espaço sensível, permitem que avance sobre as áreas de pinhal, apontando-se atualmente para uma invasão de cerca 27% destas áreas.

A norte e noroeste de Montedor principalmente nas zonas com declive mais acentuado, a ocupação do solo é caraterizada pelas áreas de predominância de Pinhal, Eucaliptal e de Ocupação Arbórea Mista, com presença de vegetação infestante e invasora, principalmente acácias, em áreas igualmente ocupadas por pinheiros, eucaliptos e salgueiros. A norte de Montedor, verifica-se que cerca de 47% desta zona encontra-se ocupada predominantemente por acácias.

As áreas com predominância de salgueiral representam cerca de 3% encontram-se associadas às margens das linhas de águas. A nordeste de Montedor, à cota alta, verifica-se que esta parte desta zona encontra-se ocupada pelo eucaliptal (4,70%).

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

118

As áreas com predominância de vegetação herbácea e arbustiva correspondem a 3,50% da ocupação desta zona. Os Equipamentos, Áreas Construídas e de Uso Habitacional, pontuam toda a área, e verifica-se que os de uso público (apoios de praia, encontram-se nas áreas delimitadas para o uso “Espaços Públicos de recreio e lazer em solo rural”, com exceção do campo de jogos Ilídio Cunha, que se encontra sobre solo de uso agrícola e de vegetação rasteira e arbustiva.

As estufas e viveiros encontram-se implantados em áreas de uso agrícola, assim como o matadouro de aves, e a maioria das construções de uso habitacional. Verificam-se também construções de uso habitacional nas zonas da mata de proteção do litoral. A aquicultura e a ETAR existentes estão em solo urbano.

OCUPAÇÃO DO USO DO SOLO (HA)

FIGURA 50. OCUPAÇÃO DO SOLO (HA)

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

119

OCUPAÇÃO DO USO DO SOLO (%)

FIGURA 51. OCUPAÇÃO DO SOLO (%)

3.4 AGRICULTURA 3.4.1 METODOLOGIA A caracterização agrícola da área de estudo é uma importante componente para a compreensão do valor deste setor, assim como permite identificar os problemas associados ao mesmo e os contributos que pode dar para a manutenção da veiga enquanto espaço agrícola por excelência novos projetos que possam surgir nesta área. Para efeito desta caracterização foram desenvolvidas entrevistas aos produtores pecuários do sector de leite e de carne, pela importância que têm na construção desta paisagem e pelas aspirações que motivaram em grande parte a iniciativa de se desenvolver um PIER para a área. Foram ainda entrevistados os produtores de hortoflorícolas em estufa pela importância económica e impacto visual que têm apesar da sua reduzida área de implantação, bem como entrevistas aos restantes intervenientes de estufas e viveiros.

Optou-se por não ser feita uma análise dos dados estatísticos oficiais constantes dos Recenseamentos Gerais Agrícolas na medida em que a área em estudo é apenas uma parcela das freguesias e a sua natureza específica de espaço da veiga por oposição à restante área de meia encosta das três freguesias enviesariam qualquer análise dos principais indicadores estatísticos. Assim e para além da recolha da informação junto dos produtores já referida, trabalhou-se um conjunto de informação recolhida junto da Cooperativa de Agricultores de Viana do Castelo e da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

120

3.4.2 CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA AO LONGO DO TEMPO A veiga de Afife, Carreço e Areosa teve uma evolução em muito semelhante ao restante litoral norte no que diz respeito à agricultura. As condições amenas de clima, um espaço amplo e plano permitiram o desenvolvimento de uma agricultura tradicional minhota apoiada na pecuária de carne e em culturas forrageiras mais uma componente hortícola de autoabastecimento. Sem vinha nem pomares na veiga, a paisagem ficou marcada claramente por um espaço aberto ao horizonte do oceano apenas interrompido pela elevação de Montedor. A exemplo do restante Entre Douro e Minho também aqui a evolução da agricultura passou pela produção de leite de que são memória já remota os postos de recolha de leite junto da EN13.

Rapidamente porém a evolução da agricultura levou a uma especialização das explorações agrícolas que na veiga se traduziu por duas opções principais, a produção forrageira para vacas de carne ou de leite. Na medida em que os assentos de lavoura permaneciam acima da EN13, junto às áreas urbanas das freguesias, a veiga manteve o seu caráter de espaço aberto apenas interrompido mais recentemente pelo aparecimento as estufas de hortoflorícolas de maior valor acrescentado e tecnológico. Entretanto a sobrevivência da produção de leite no Entre Douro e Minho passou fundamentalmente por uma maior especialização e intensificação seja na produção das forragens seja no efetivo animal. Mais animais e mais produtivos obrigaram a um ciclo de intensificação de grande investimento que começou a afastar a maioria dos produtores de leite de menor dimensão, fosse pela escassez de terra, fosse pela falta de capital para intensificarem a produção. A veiga e os produtores de Afife, Carreço e Areosa tiveram assim uma trajetória em tudo semelhante à dos restantes produtores do Entre Douro e Minho e o abandono foi muito grande restando atualmente apenas 7 produtores com mais de 10 animais.

O abandono da produção de leite não foi acompanhado pelo aparecimento de outras culturas alternativas como aconteceu noutras zonas do litoral nomeadamente ao nível das hortícolas com maior intensificação através da cultura forçada em estufas. E assim a veiga foi mantendo o seu caráter aberto pontuado agora por algumas manchas de matos e matas decorrentes do abandono agrícola de algumas parcelas. Entretanto importa assinalar um facto que vai ser marcante no futuro da paisagem da veiga, o emparcelamento rural. Sendo uma aspiração muito antiga (décadas de 50-60) no Entre Douro e Minho, na altura apenas foi concretizado em Ponte de Lima (Estorãos) e em Vila Verde (Cabanelas) ficando Afife, Carreço e Areosa como outras veigas para futuras intervenções. Tal veio a acontecer apenas no final de década de 80, ficando o Perímetro de Emparcelamento terminado em 1996. A realização desta obra de emparcelamento permitiu um salto qualitativo nas explorações agrícolas na medida em que aumentou substancialmente a área média da parcela, diminuiu o número de prédios e fundamentalmente permitiu a construção de uma rede viária e de drenagem que qualificou as condições de produção da veiga.

Entretanto foi criada nos produtores de leite a expetativa de deslocalizarem as suas explorações para a veiga ao nível de estábulos e demais construções agrícolas agora servidas por uma área

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

121

maior e melhor infraestruturada. Esta deslocalização fazia todo o sentido na medida em que deslocalizava o edificado agrícola para a veiga com os animais e as fossas, diminuindo a pressão na área urbana das freguesias, permitia uma poupança óbvia nas deslocações entre a veiga e os assentos de lavoura como constituía ainda uma oportunidade para novos investimentos em novos equipamentos mais eficientes. Contudo não foi assim que aconteceu e as expetativas dos produtores viram-se goradas por um bloqueio ao nível do PDM que, dada a qualidade da unidade de paisagem da veiga, remetia qualquer intervenção desta natureza para um plano de pormenor que, apesar de tardio, está agora a acontecer com a elaboração deste PIER.

Neste entretanto nos últimos 20 anos, os produtores de leite e de carne diminuíram em número, mas aumentaram a sua produção e o seu efetivo, os outros produtores que abandonaram a atividade arrendaram/cederam a sua terra aos produtores remanescentes, permitindo manter o caráter de espaço agrícola aberto da veiga apesar da área abandonada também ter aumentado. Nos anos mais recentes a questão da deslocalização das explorações agropecuárias voltou a colocar-se agora por razões de licenciamento das mesmas nas atuais localizações, o que de alguma forma acabou por reforçar a necessidade de se elaborar o presente PIER. Finalmente ficam para a história ainda outras tentativas de atividades alternativas (matadouro, aquacultura) que há muito faliram. Paradoxalmente a veiga foi mantida nos seus valores de paisagem graças à persistência dos produtores de leite e de carne que mantiveram a sua atividade ocupando a maioria da paisagem com campos agricultados (Figura 52).

FIGURA 52. CAMPOS DA VEIGA RECÉM-SEMEADOS

No que diz respeito à distribuição espacial da agricultura na veiga, as maiores áreas de cultivo encontram-se sobretudo nas freguesias de Carreço e Afife, pela forte incidência do sector do leite. Sendo que a freguesia da Areosa se apresenta com um maior índice de terra abandonada devido à nula presença do sector do leite e aos poucos produtores de carne que nela se encontram, bem como uma maior proximidade à cidade que presume uma maior terciarização dos proprietários dos prédios.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

122

Em termos de culturas e como já foi referido, a veiga é maioritariamente cultivada com uma sucessão de milho e azevém ambos para silagem para alimentação animal. Há igualmente produção de milho grão mas em menor proporção. É ainda possível encontrar produções hortícolas como a batata, cebola, e algumas brássicas. Finalmente referência às explorações hortoflorícolas e viveiros em estufa que apesar da pequena área que ocupam têm um contributo muito importante na riqueza criada na veiga e em particular no emprego gerado. Como nota, de referir que devido à salinidade destes terrenos não existem vinha nem pomares por não se adaptarem a estas condições.

3.4.3 AGROPECUÁRIA Aquando do inquérito expedito feito aos 15 produtores de leite e carne de Afife, Carreço e Areosa com mais de 10 cabeças de gado (7 de leite e 8 de carne), com um total de efetivos de aproximadamente 1071 cabeças, foi possível apurar os seguintes valores de produção globais para os cerca de 306 ha de terra por eles declarados como cultivados.

CULTURA TIPO QUANTIDADE DE PRODUÇÃO

Milho Silagem 5972 toneladas

Milho Grão 98 toneladas

Erva (Azevém) Silagem 3210 rolos

TABELA 31. QUANTIDADES DE PRODUÇÃO DECLARADAS PELOS PRODUTORES ENTREVISTADOS

Anualmente são aqui produzidos cerca de 2.783.000 litros de leite o que equivale a 835.416€ na campanha de 2015. Este negócio sustenta naturalmente alguns postos de trabalho embora sejam por excelência, neste ramo, mão-de-obra familiar. No que afeta a área edificada as explorações leiteiras usam apenas cerca de 2 ha de área de implantação para desenvolver a sua atividade segundo dados recolhidos junto dos produtores de leite. Em termos de tecnologia e do próprio funcionamento do sector do leite, os animais encontram- se maioritariamente estabulados, com sala de ordenha anexa e tanque de frio bem como fossa ou outro tipo de solução para o armazenamento do chorume. Todas estas construções e equipamentos estão instalados fora da veiga junto das áreas urbanas das freguesias à exceção de uma única exploração de leite na freguesia de Carreço integralmente instalada na veiga. Apenas no caso dos silos para milho, os mesmos encontram-se na veiga por razões óbvias de operacionalidade.

Cada exploração possui um tanque de refrigeração que perfaz um total de 21.900 litros de frio instalado no conjunto. Em termos de fossas para chorume, o conjunto das 7 explorações de leite apresenta uma capacidade de 2.958,9m3.

Segundo o referido inquérito expedito, o sector da carne conta com cerca de 126 cabeças vendidas/abatidas por ano. Neste sector os animais encontram-se em regime livre ou semilivre,

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

123

sendo a sua alimentação à base de pastoreio direto fora da veiga, mas recorrendo também ao uso de forragem e silagem produzidos na veiga. Contudo a quantidade de terra agricultada pelos produtores de carne é menor do que no sector do leite. Este menor valor não se deve apenas ao facto de serem em menor número, mas sobretudo ao facto dos animais não se encontrarem estabulados e as áreas de pastoreio não serem dentro da área de intervenção do plano, mas sim em baldios e em campos que estes produtores possuem como rendeiros ou como proprietários a Este da EN13.

3.4.4 ESTUFAS E VIVEIROS a) Virgin Flowers Esta empresa tem por objeto a produção e comercialização de flores, dedicando-se principalmente à produção de Alstroemeria, Lilium, Girassol (flores), Jarros, Hortênsias e Peónias. Tendo exercido a sua atividade em cerca de 2 ha de SAU. Ultimamente alargou a área da exploração em mais 4 ha, pelo que possui cerca de 6 ha de terra, dos quais 0.6 ha são terrenos próprios e os restantes arrendados.

A produção desenvolve-se em cerca de 1,1 ha de estufas, 0,4 de estufins e 3 ha ao ar livre. A restante área está ocupada por um armazém de apoio de cerca de 600 m2, parque de estacionamento e arruamentos, charca para armazenamento de água e áreas perdidas.

Em termos de tecnologia a exploração está dotada com os seguintes equipamentos:

• Sistema e aquecimento de parte das estufas (0,45 ha) através de água quente em tubagem à superfície, proveniente duma caldeira a gasóleo;

• Para arrefecimento das estufas tem instalado um sistema de rega por micro-aspersão;

• Existe ainda uma estação meteorológica de apoio às tomadas de decisão na gestão da exploração;

• Sistema de fertirrigação ligado a um programa informático que permite a dotação das quantidades exatas dos nutrientes exigidos pelas diferentes culturas.

A origem da água para rega provém essencialmente de 2 origens: (1) da água da chuva que cai sobre o telhado das estufas, a qual, através dum sistema de caleiros é encaminhada para a charca e (2) da água proveniente de 3 poços existentes, aos quais só recorre quando o nível da charca atinge determinado nível mínimo. É usual proceder a análises químicas de água, as quais revelam que se trata de água de muito boa qualidade. Não faz análises à água de natureza bacteriológica, pelo que desconhece a sua qualidade neste particular.

Quanto às questões relacionadas com o solo, realiza análises frequentemente, as quais, para além de fornecerem dados que serão usados no programa da fertirrigação, revelam sistematicamente que os solos da exploração possuem um pH muito baixo, pelo que procede a correções de pH através de calagens sempre que renova uma cultura.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

124

A exploração tem um problema relacionado com as dimensões do armazém e com a sua localização dentro da exploração. Há uma clara necessidade de aumento de área de produção por forma a viabilizar algumas das produções pro razões de escala da produção e mercados.

FIGURA 53. IMAGEM AÉREA VIRGIN FLOWERS

FIGURA 54. IMAGEM AÉREA VIRGIN FLOWERS

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

125

b) Aromáticas Vivas A empresa Aromáticas Vivas destina-se à produção de plantas aromáticas sobretudo em vaso em modo de produção biológico. Tendo como área de produção cerca de 3 hectares em estufa e 3.000m2 de área social, sendo tudo terrenos arrendados. Em termos de tecnologia a exploração conta com estufas climatizadas, estufas em ambiente protegido, os corredores são impermeabilizados e utilizada a fertirrigação. A água para rega advém de 2 charcas e do reaproveitamento das águas das chuvas. Periodicamente são feitas análises à água a nível químico e bacteriológico, das quais tem tido boa qualidade.

Em 2015 a empresa apresentou um volume de negócios de 3 milhões de euros, tendo principais clientes as grandes superfícies comerciais de Portugal e Espanha. Produzindo cerca de 20 espécies de entre as quais se destacam as seguintes: salsa, coentros, cebolinho, hortelã-menta, alecrim e manjericão. Para que a empresa mantenha um bom desempenho e consiga atingir os seus objetivos de produção conta com cerca de 40 funcionários, de entre os quais 20% são técnicos licenciados. Futuramente a empresa pensa em apostar na 4ª gama, aumentar a área social e a área de tuneis.

FIGURA 55. IMAGEM AÉREA DA EXPLORAÇÃO- AROMÁTICAS VIVAS

Ao nível das hortoflorícolas ainda existe uma outra exploração Viveiros Juca que até ao momento não foi possível entrevistar e caracterizar, contando-se ainda ser possível durante o período de elaboração do PIER.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

126

FIGURA 56. IMAGEM AÉREA – VIVEIROS JUCA

3.4.5 PERÍMETRO DE EMPARCELAMENTO RURAL DE AFIFE, CARREÇO E AREOSA O Perímetro de Emparcelamento de Afife, Carreço e Areosa (PEACA) tem uma centralidade tão grande na questão deste PIER que importa identificar algumas questões base desta realidade e em que medida as mesmas devem ter sidas em conta na hora de se contruírem as soluções mais sustentáveis para este PIER.

Como já se referiu o PEACA foi uma aspiração adiada mais de 30 anos pois a vontade então expressa nos anos 50-60 dos proprietários só veio a ter execução efetiva nos anos 80-90 graças a uma maior disponibilidade de fundos comunitários, a uma aposta do Ministério da Agricultura de então neste tipo de intervenção e naturalmente graças à adesão dos proprietários da veiga.

Foi assim possível proceder à reestruturação fundiária de 587 hectares divididos em 9070 parcelas (com uma média de 647m2 por prédio) pertencentes a 1380 proprietários procedendo a um novo cadastro da propriedade de apenas 1673 prédios e com uma área média de 4250 m2 por prédio. Para além deste salto muito significativo na área média das parcelas, o PEACA permitiu ainda ganhos ao nível de: a) ganhos nas deslocações (tempo e distância) entre prédios e o assento de lavoura;

b) uma rede viária permitindo acesso direto a todos os prédios, melhores acessos ao próprio perímetro e de passagem da EN13; c) uma rede de drenagem dos prédios permitindo a boa gestão da água e evitando o encharcamento típico de zonas deste tipo.

Das operações tipo dos PE apenas não se realizou a rede de rega por, na altura, os proprietários entenderem não ser necessária/ter um elevado custo posterior de gestão e manutenção.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

127

Pode-se dizer que aquando da declaração do PEACA (Resolução de Conselho de Ministros nº 184/96 de 26 de Novembro) havia uma elevada expetativa de que as questões em aberto pudessem ser resolvidas.

Tal não aconteceu na totalidade e apesar de se poder considerar que o investimento na reestruturação fundiária tenha valido a pena porque permitiu a instalação de explorações modernas e tecnologicamente evoluídas, também se pode afirmar que o seu potencial ainda não foi atingido mesmo num quadro atual onde as questões da sustentabilidade ambiental, económica e social são bem distintas das de 1996. Assim importa fixar os aspetos de maior relevância que devem ser tidos em consideração na construção de soluções sustentáveis no âmbito do PIER:

a) a regularização definitiva da titularidade dos prédios que ainda não estão devidamente registados. Com efeito ainda estão por registar cerca de 600 prédios e o processo, que burocraticamente é complexo pelo tipo de comprovativos que exige, carece de um apoio aos proprietários por forma a ser mais fácil a sua instrução junto da DGADR;

b) a entrega definitiva da rede viária à associação de proprietários ou a entidade competente (p.e. Câmara Municipal) que permita no futuro a sua boa gestão. Com efeito, desde a conclusão do PEACA esta competência não foi assumida na plenitude por nenhuma entidade, optando-se por uma gestão pontual de ocorrências que não permite a gestão da rede como um todo. Entretanto a importância crescente de outros usos do espaço PIER (rede pedonal, ecovias, acesso a praias, etc.), bem como o aumento de carga de trânsito específico à deslocalização das explorações leiteiras (camiões de recolha de leite) e de camiões associados à produção hortoflorícola em que a rede viária do PEACA é a base fundamental torna esta questão da transferência de competências essencial na construção de qualquer solução;

c) a entrega definitiva da rede de drenagem à associação de proprietários ou a entidade competente (p.e. Câmara Municipal) que permita no futuro a sua boa gestão. A ausência de gestão da rede de drenagem desde a sua construção, a alteração/ eliminação de alguns dos canais de drenagem pelos próprios agricultores e o próprio assoreamento das linhas de água diminuíram claramente a eficiência da rede e o aumento dos problemas de drenagem em particular nas zonas mais baixas no fim das linhas de água. Num quadro habitual de PE esta transferência é feita para as associações de proprietários que as gerem com base em taxas pagas pelos agricultores indexadas ao consumo de água de rega. Contudo no caso do PEACA dada a ausência de rede de rega tal opção não se apresenta viável pelo que a sua transferência em conjunto com a rede viária para a Câmara Municipal poderá ser a opção mais sustentável.

Finalmente cabe referenciar que a recente revisão da legislação do emparcelamento rural (DL nº 111/2015 de 27 de agosto) contempla a possibilidade de ações de emparcelamento simples da iniciativa dos proprietários e das autarquias, o que poderá constituir um instrumento fundamenta e uma oportunidade a ser tida em conta se se entender que seja esta a solução que melhor salvaguarde os interesses de todos os envolvidos aquando do processo de deslocalização das explorações leiteiras e/ou de novas explorações agropecuárias e/ou hortoflorícolas que, por

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

128

razões de limitação de zonamento, não permitam fazer coincidir os prédios de destino dessas explorações com a titularidade dos mesmos por parte dos interessados nessa deslocalização/nova exploração.

3.4.6 CARACTERIZAÇÃO DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS Apesar da veiga de Afife, Carreço e Areosa se enquadrar na lógica/prática agrícola do Entre Douro e Minho e ter sofrido o mesmo tipo de evolução, há algumas particularidades que importa identificar pois deverão ser tidas em conta na hora de se construírem soluções sustentáveis. Uma proximidade ao mar e suas neblinas, uma toalha freática muito à superfície, a existência de zonas húmidas (paúis) e uma pluviosidade importante, típica do EDM, levam a que o recurso à rega não seja prática frequente apesar dos vários poços existentes na veiga. Tal significa que o esforço sobre o recurso água é menor, mas igualmente que as produtividades serão naturalmente mais baixas e, como tal, a carga pecuária sobre a área é menor e consequentemente poderemos ter balanços de chorume menos “agressivos” do ponto de vista ambiental. O cálculo do balanço de chorume é assim condição essencial para a avaliação deste fator. Por serem terrenos planos e ainda por cima objeto de uma ação de emparcelamento rural tornam-se também de fácil cultivo e com boas condições para o uso de máquinas agrícolas na medida em que todos os prédios têm acesso direto. São assim explorações de maior eficiência na utilização de maquinaria de maior dimensão e devendo esse facto ser tido em conta em soluções futuras. O facto de se preverem deslocalizações de várias explorações ao mesmo tempo permite pensar- se em soluções agrupadas ou coletivas para alguns dos equipamentos/investimentos tornando menos pesado o esforço de investimento de cada produtor que já de si é elevado neste tipo de investimentos. A existência de explorações hortoflorícolas de tecnologia mais desenvolvida (hidroponia) permite antever a possibilidade de que o aumento da atividade possa ser feito com base nestas tecnologias simultaneamente de maior valor acrescentado e de menor impacto ambiental com claro benefício para todos. Finalmente a disponibilidade de terra por abandono e a prática habitual de arrendar ou ceder terra entre proprietários (que permitiu no passado recente o crescimento das explorações leiteiras sem um custo demasiado elevado da terra) permite antever que uma abertura a novos investimentos agrícolas crie a oportunidade para alguns proprietários ou para novos empresários agrícolas se instalarem na veiga.

3.4.7 CARACTERIZAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS Nos sistemas tradicionais de agricultura do Entre Douro e Minho o papel da pecuária na exploração era fundamental pois permitia criar artificialmente uma fonte de matéria orgânica em que os solos da região eram muito pouco ricos por natureza. Assim, uma combinação inteligente de pecuária estabulada e recolha de matos para as camas do gado permitia a produção de estrumes que depois de devidamente curtidos eram incorporados nas terras antes

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

129

das sementeiras melhorando a estrutura do solo e a sua riqueza em matéria orgânica, condições base para uma maior produtividade. Com a intensificação da exploração pecuária e sobretudo com o estabulamento dos animais evoluiu-se rapidamente para uma produção de chorume em alternativa ao estrume. O chorume apesar de ser um subproduto da produção agropecuária tem do ponto de vista do agricultor um valor fundamental pelo seu papel de substituto dos adubos enquanto fertilizante, permitindo desta forma uma poupança substancial nas fontes de azoto compradas. Tal como na restante produção agropecuária do Entre Douro e Minho, este chorume é aplicado sobretudo nas épocas de sementeira do milho em abril - maio e do azevém em setembro - outubro podendo considerar-se em tudo semelhante à prática no resto da região. (Figura 57)

O problema do chorume atualmente decorre da crescente intensificação da produção leiteira e da crescente produção de chorume que, num quadro de uma sociedade mais atenta às questões ambientais, limita e restringe as quantidades e as épocas de aplicação direta do chorume nos campos.

Assim o produtor é colocado perante a necessidade de aumentar a sua capacidade de armazenamento para poder reter o chorume produzido até o poder aplicar nas épocas de maior necessidade das culturas. É deste equilíbrio entre produção de chorume/necessidades das culturas e aplicação/armazenamento que se trata encontrar uma solução que simultaneamente satisfaça as necessidades dos agricultores e suas culturas, o cumprimento da legislação ambiental num quadro de uma solução económica e tecnicamente viável. Nesse sentido a DRAP- Norte desenvolveu uma aplicação informática que permite fazer o aconselhamento aos agricultores quanto à melhor gestão dos chorumes/fertilização das suas culturas e que se pretende aplicar ao caso concreto da veiga por forma a determinar com maior rigor o balanço e as possíveis soluções. Dado que se trata de uma deslocalização das explorações as novas soluções de armazenamento podem ser enquadradas de raiz com soluções que tanto podem passar por soluções individuais, agrupadas ou coletivas e consequentemente com soluções técnicas distintas A título informativo e com base nos inquéritos expeditos às 7 explorações agropecuárias de leite são produzidos anualmente cerca de 11.452 m3/ano (valor estimado resultante da aplicação do programa de calculo SIAPA_ZV aos dados de efetivos das explorações) de chorume que são distribuídos por cerca de 181 ha de terra, sendo aplicado sensivelmente 63 m3/ha valor tido por aceitável para a região.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

130

FIGURA 57. BALANÇO MENSAL DOS EFLUENTES LÍQUIDOS

3.5 PAISAGEM 3.5.1 METODOLOGIA O termo Paisagem designa “uma parte do território, tal como e ́ apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da Acão e da interação de fatores naturais e ou humanos” (CONVENÇÃO EUROPEIA DA PAISAGEM, 2000). A convenção Europeia da Paisagem, considera no seu preâmbulo que a paisagem:

- “(...) desempenha importantes funções de interesse público, nos campos cultural, ecológico, ambiental e social, e constitui um recurso favorável à atividade económica (...); - (...) contribui para a formação de culturas locais e representa uma componente fundamental do património cultural e natural europeu, contribuindo para o bem-estar humano e para a consolidação da identidade europeia; - (...) é em toda a parte um elemento importante da qualidade de vida das populações: nas áreas urbanas e rurais, nas áreas degradadas bem como nas de grande qualidade, em áreas consideradas notáveis, assim como nas áreas da vida quotidiana;

- (...) constitui um elemento-chave do bem-estar individual e social e que a sua proteção, gestão e ordenamento implicam direitos e responsabilidades para cada cidadão; (...)”.

O desenvolvimento do PIERACA consiste sobretudo na resolução de um problema de paisagem, uma paisagem costeira de forte caráter agrícola, que se alterou de forma significativa nas últimas décadas, objeto da execução do perímetro de emparcelamento de Afife, Carreço e Areosa (PEACA).

Com o objetivo de perceber a sua evolução procedeu-se, numa primeira fase, à análise da estrutura da paisagem, com base na informação disponibilizada pela CMVC, respetivamente a fotografia aérea USAF de 1958 (1:26000); fotografia aérea USAF do voo de 1968 (1:30000); carta militar de Portugal Continental nº 27 e nº 40, a 2ª edição de 1997 (1:25000); e a cartografia e ortofotomapa homologados de 2015 (1:2000). Estabeleceu-se uma comparação evolutiva em

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

131

termos da estrutura paisagem no que se refere à forma, orientação e dimensão das parcelas e às alterações da rede de circulação. A caracterização dos fatores biofísicos permitiu a identificação de seis unidades biofísicas, que conjugadas com análise da evolução da paisagem e fatores socioeconómicos, conduziram à identificação de quatro unidades de paisagem. Aqui, importa referir que em termos metodológicos considerou-se que a área de intervenção por si só, no contexto do concelho de Viana do Castelo, constitui uma única unidade de paisagem, justificada pela proximidade e influência do mar, no contacto longitudinal entre as veigas de Afife e da Areosa, e no confronto interior com as encostas montanhosas.

FIGURA 58. METODOLOGIA DE ANÁLISE DA PAISAGEM

De forma a ser possível estudar o impacto visual de alterações/introduções de elementos na paisagem, foi elaborada uma análise das bacias visuais a partir de pontos-chave e da exposição visual a partir de diversos trajetos. Em conjunto, estes estudos permitem inferir quais as áreas que poderão ter maior ou menor capacidade de "absorção" de novos elementos. A produção da cartografia teve como base dados altimétricos e de uso/ocupação de solo. Para esse efeito, ao Modelo Digital de Terreno previamente criado foram efetuados incrementos de cota, assumidos como representativos da projeção vertical média dos diversos tipos de uso/ocupação de solo.

Na área de intervenção do PIERACA foram utilizados dados do edificado presentes na Base Cartográfica Numérica Vetorial à escala 1/2000, de 2015, fornecida pela CMVC, bem como manchas das principais formações arbóreas ou arbustivas (galerias ripícolas, zonas de mata de proteção do litoral, matos e matas em campo agrícola e áreas de vegetação rasteira/arbustiva) cuja delimitação/classificação resultou da compatibilização da cartografia existente com o levantamento de campo e tratamento de dados efetuado pela equipa de trabalho do PIER. Consideraram-se os seguintes incrementos de cota:

INCREMENTO DE TIPO DE OCUPAÇÃO DE SOLO COTA EDIFICADO Construção Baixa (Anexo/Arrecadação; Espigueiro; Garagem; Telheiro/Alpendre; Outras Construções de Instalações Desportivas; Depósito 3m de Água Elevado) Construção Média/Baixa (Vivenda/Casa; Edifício em Construção/Ruínas; Áreas de Serviço; Restaurante; Estufa Agrícola Gasómetro; Moinho; Posto de 6m Transformação)

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

132

Construção Média/Alta (Hipermercado/Lar 3ª Idade) 9m Construção Alta (Hotel/Prédio) 15m Depósito de Água à Superfície 1m Estádio/Bancadas 2m Parque de Estacionamento em Telheiro 4m Resíduos líquidos 5m Forte 4 a 5 m Capela 4 a 6m Farol 28m FORMAÇÕES OU ARBUSTIVAS Áreas com Predominância de Acacial 4m Áreas com Predominância de Eucaliptal 20m Áreas com Predominância de Pinhal 20m Áreas com Predominância de Salgueiral 20m Áreas de Ocupação Arbórea Mista 20m Áreas de Vegetação Herbácea e Arbustiva 2m Áreas de Vegetação Rasteira e Arbustiva Associada à Zona Costeira 1m Galerias Ripícolas 20m

TABELA 32. TIPO DE OCUPAÇÃO DE SOLO

Na envolvente da área de intervenção, não havendo dados da cartografia 1/2000, efetuaram-se incrementos de cota com base na Carta de Ocupação de Solo 2007, nível 3, fornecida pela CMVC. Embora não sendo tão rigorosos como os efetuados para a área do PIER, permitem uma maior aproximação do modelo digital de terreno à realidade envolvente. Foram considerados para as referidas classes da COS2007 os seguintes incrementos de cota:

INCREMENTO DE CLASSE DE OCUPAÇÃO DE SOLO COTA Agricultura com espaços naturais e seminaturais 1m Comércio 9m Equipamentos públicos e privados 2m Estufas e Viveiros 8m Florestas abertas de eucalipto 20m Florestas abertas de outras folhosas 20m Florestas abertas de pinheiro bravo 20m Florestas de eucalipto 20m Florestas de eucalipto com folhosas 20m Florestas de eucalipto com resinosas 20m Florestas de outra folhosa com resinosas 20m Florestas de outros carvalhos com resinosas 20m Florestas de pinheiro bravo 20m Florestas de pinheiro bravo com folhosas 20m Indústria 9m Matos densos 4m Matos pouco densos 2m Tecido urbano contínuo predominantemente horizontal 6m Tecido urbano contínuo predominantemente vertical 15m Tecido urbano descontínuo 2m Tecido urbano descontínuo esparso 6m Vegetação esclerófita densa 4m Vegetação esparsa 1m

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

133

Vegetação herbácea natural 1m Vinhas 1m

TABELA 33. CLASSE DE OCUPAÇÃO DO SOLO

O estudo da paisagem incluiu também uma identificação das principais dissonâncias ambientais e paisagísticas verificadas na área do PIERACA. Numa fase inicial, foi efetuado um levantamento de potenciais elementos dissonantes, apoiado na cartografia fornecida pelo Município, nomeadamente a Carta de Ocupação de Solo (COS2007), os Ortofotomapas de 2015, e os dados de infraestruturas como a rede elétrica e os coletores de águas. As visitas de campo tiveram um papel fundamental nesta análise, permitindo avaliar no terreno a desadequação em relação à paisagem e algumas das consequências ambientais negativas dos elementos previamente identificados. Foram ainda consultados, para obtenção de informação complementar, os “Estudos de Caracterização de Suporte à Revisão do PDM do concelho de Viana do Castelo” (junho 2002), bem como os seguintes portais/sítios:

• http://www.invasoras.pt/ , onde estão descritas as principais características, bem como problemáticas associadas à presença da Acacia longifolia;

• http://portal.smsbvc.pt/, para consulta da informação relativa à ETAR de Areosa;

• http://areosense.blogspot.pt/, para informações relativas ao Grupo Desportivo Areosense.

3.5.2 ANÁLISE DA ESTRUTURA E EVOLUÇÃO DA PAISAGEM A estrutura da paisagem pode ser analisada a partir dos diferentes elementos que se podem distinguir numa paisagem (FORMAN e GODRON, 1981). A matriz é o elemento dominante e engloba no seu interior as parcelas e os corredores. As parcelas consistem em unidades não lineares que diferem da sua vizinhança, podendo variar em termos de tamanho, forma, tipo, heterogeneidade e características, enquanto os corredores são elementos lineares (infraestruturas, estradas, caminhos, muros, sebes,...). O conjunto de todas as parcelas constitui o mosaico da paisagem, enquanto os corredores constituem redes e ligações. O padrão da paisagem resulta das diferentes disposições espaciais do mosaico, e permitem distinguir a paisagem do ponto de vista estrutural. O sistema agrícola que caraterizava e estruturava a paisagem do Minho e Alto-Minho, era sobretudo o sistema “Campo-Bouça” (Cunha, 2006), que consistia num mosaico agroflorestal, com forragens associadas ao espaço campo e espécies florestais nos espaços de bouça. Este sistema dava origem a uma paisagem diversificada de elevado valor cénico e ecológico, com uma gestão integrada das áreas agrícolas e florestais, onde o mato das áreas florestais era utilizado nas camas dos animais, que era por sua vez, era reutilizado na fertilização do solo, como forma de estrume, de modo equilibrado em termos ecológicos, produtivos e económicos.

A disponibilidade de água permitiu a introdução do cultivo do milho, que vem alterar de forma

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

134

profunda a agricultura e a produção agrícola no norte de Portugal, contribuindo de forma determinante para a introdução dos bovinos, sobretudo para produção de leite, mas também de carne.

O desenvolvimento do sector agrícola e a necessidade de aumentar a quantidade de produtos levou a um processo de industrialização e provocou uma segregação de processos na exploração dos recursos, com aumento da eficiência de produção. A atividade agrícola evoluiu para um sistema de cultivo intensivo, sendo que esta tendência provocou a reconversão e/ou a degradação do sistema de cultivo tradicional de “campo-bouça”, conduzindo a um crescente abandono agrícola e descaracterização da paisagem. Deste modo foi quebrado o ciclo de transferência de fertilidade da floresta para os campos, conseguida através da incorporação do estrume. Surgiram assim novas formas de gestão /não gestão de resíduos e processos de fertilização da terra, com impactos graves no equilíbrio ecológico da paisagem. Esta evolução agrícola provocou uma alteração profunda na matriz da paisagem, quer pela necessidade de aumento da dimensão das parcelas cultivadas, como pela questão de acessibilidade à terra e pela mecanização do processo de trabalhar a terra, onde os animais, força de trabalho primária, são substituídos por tratores e alfaias agrícolas. O aumento da dimensão e área das parcelas levou a uma perda de diversidade estrutural/ biológica, e consequentemente a uma uniformização da paisagem. Este aspeto verifica-se particularmente na área de intervenção do PIERACA, onde todas as parcelas e áreas foram reajustadas no âmbito da execução do perímetro de emparcelamento. A ligação espacial/sentimental e a passagem intergeracional da terra entre pais e filhos foram quebradas.

FIGURA 59. EVOLUÇÃO DA REDE DE CIRCULAÇÃO VIÁRIA ENTRE 1958 – 2015 (INTERPRETAÇÃO DE FOTOGRAFIAS ÁREAS, CARTAS MILITARES, ORTOFOTOMAPAS)

Em termos de evolução da área de intervenção do PIERACA verificou-se nos últimos 50 anos uma grande transformação desta área em termos de uso e ocupação do solo, que se refletiram em

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

135

alterações muito significativas da paisagem:

• Reconfiguração da forma e aumento da dimensão das parcelas agrícolas com alterações da escala da paisagem. Na década de 50-60 as parcelas apresentavam uma área compreendida entre 150m2 a 1ha. Após a execução do perímetro de emparcelamento verifica-se que estas apresentam uma área compreendida entre cerca de 1000m2 e 8ha.

• Diminuição do número de parcelas agrícolas de cerca de 11000 para 3000 parcelas.

• Diminuição da área agrícola cultivada desde a década de 50-60 de cerca de 575ha para 456ha em 2015.

• Alterações significativas da estrutura viária, que permitiram o acesso independente de cada proprietário à sua parcela. A rede principal de caminhos existentes nas décadas 50- 60 foi parcialmente integrada na execução do PEACA (Figura 59), verificando-se com isso a manutenção de alguns resquícios da paisagem ancestral, como alguns moinhos, muros de pedra e valetas. A rede de caminhos foi sendo redefinida ao longo do tempo conforme a execução do PEACA.

• Segregação agrícola por um conjunto de proprietários / arrendatários, com o aumento da área das “folhas de cultivo”, e consequente diminuição da atividade agrícola tradicional e produção de produtos hortícolas.

• Diminuição da diversidade de culturas agrícolas, sendo agora uma paisagem sobretudo de culturas forrageiras.

• Diminuição da compartimentação agrícola, pela inexistência de limites físicos entre parcelas ou existência de bordaduras, com consequências em termos da homogeneização da paisagem e diminuição da biodiversidade.

• Abandono da atividade agrícola que corresponde já a 24% da área total agrícola, com o aumento espontâneo das áreas de matos e matas, com ocupação de solos férteis de vocação agrícola. Verifica-se a existência de parcelas com cobertos sub-arbóreos e arbóreos em campos agrícolas, o que revela a tendência de abandono existente de médio prazo.

• Verifica-se a expansão da vegetação ribeirinha em áreas húmidas, sobretudo de salgueiros em zonas mais baixas ou em galerias ripícolas. Na década de 60 as áreas agrícolas estendiam-se até às linhas de água, não existiam áreas florestais na veiga, e os terrenos encontravam-se todos cultivados, inclusive junto das linhas de água.

• Aumento dos espaços de matos e matas desde a década de 50-60 de cerca de 40ha para cerca de 96ha.

• As áreas de duna (zonas de vegetação rasteira e arbustiva), ocupadas na época, com um coberto sobretudo herbáceo-arbustivo espontâneo, foram “consolidadas” com a expansão das Acácias, e revelam-se hoje como um sistema monoespecífico de difícil controlo da sua expansão.

• Verificou-se a diminuição das áreas de vegetação rasteira e arbustiva desde a década de

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

136

50-60 de cerca de 140ha para 80ha. Em síntese... Esta é uma paisagem que alterou significativamente na última metade do século, resultado das evoluções agrícolas, materializadas nesta área pela execução do PEACA, com melhorias nos acessos e simplificação da rede de caminhos e percursos, pelo redimensionamento das parcelas e da sua configuração, diminuição significativa do número de parcelas, passando-se de uma economia de subsistência agrícola para uma economia industrial.

3.5.3 CARÁCTER DA PAISAGEM – ATRIBUTOS Esta paisagem é sobretudo uma paisagem agrícola, marcada pela presença constante do mar, uma paisagem humanizada, cultivada sobretudo de forma extensiva, onde se destaca o carácter temporário das culturas agrícolas; com condições únicas de humidade e de disponibilidade de água que permitem o cultivo da terra sem recurso a regadio; uma paisagem num estádio de consolidação, onde também se verifica o abandono pontual da terra, onde existem núcleos pontuais de matos e matas, onde Montedor se destaca e separa norte e sul. É uma paisagem com forte carácter natural, com ecossistemas e valores sensíveis, uma paisagem com um património construído diverso. Uma paisagem com um grande potencial económico, social e ambiental.

Os atributos que conferem valor a esta paisagem:

• Extensão física, visual e produtiva das veigas de Afife e da Veiga da Areosa;

• Dimensão das parcelas “folhas agrícolas”;

• Relação com o mar e as condições microclimáticas existentes;

• Disponibilidade de água;

• Património natural existente;

• Património construído existente.

3.5.4 UNIDADES DE PAISAGEM A paisagem de uma dada região pode ser descrita e caracterizada através de unidades de paisagem, sendo estas definidas como “áreas com características relativamente homogéneas, com um padrão específico que se repete no seu interior e que as diferencia da sua envolvente” (DGOTDU, 2004). Enquadrando a área de intervenção do PIERACA nas unidades de Paisagem de Portugal Continental definidas em 2004 pela DGOTDU, verifica-se que esta área insere-se no Grupo A, unidade 2 - Entre Minho e Lima. Refere ainda esse estudo que a zona litoral norte, pela sua natureza, pode constituir uma subunidade desta unidade paisagem, pois apresenta um carácter bem distinto do restante território, uma vez que a “zona litoral é uma faixa sempre estreita e contida do lado interior pelas encostas relativamente inclinadas e cobertas de matos, é também

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

137

por isso profundamente dominada pela presença do oceano (…) Relativamente à subunidade do litoral já se poderá considerar uma identidade mediana e alta, uma vez que a faixa costeira e os centros urbanos nela presentes ainda testemunham as atividades que aí se foram desenvolvendo ao longo do tempo” (DGOTDU, 2004). A área de intervenção está classificada no PDMVC como uma “área de elevado valor paisagístico”, que por si só no contexto do concelho de Viana do Castelo, justifica a individualidade como unidade de paisagem.

Assim tendo em conta o enquadramento geral da área de intervenção no concelho de Viana e as suas características como uma unidade de paisagem, procedeu-se ao estudo dos fatores biofísicos do território, para depois inserindo nesta equação a humanização da paisagem e os fatores socioeconómicos e culturais, definir as subunidades de Paisagem na área do PIERACA.

A análise dos fatores biofísicos conduziu à identificação de seis unidades biofísicas: UNIDADE A - Cambissolos Esta unidade é caracterizada por declives baixos, com solos férteis e profundos, que correspondem a depósitos de praias antigas. Verificam-se aqui ainda algumas áreas aluvionares, e os solos são sobretudo cambissolos. UNIDADE B - Rochedos emersos Esta unidade corresponde à faixa litoral da freguesia de Areosa, e parte da freguesia de Carreço, uma área marcada pelas formações geológicas, com rochas emersas no mar que limitam e protegem toda esta faixa litoral. A delimitação para nascente é feita por uma área de vegetação rasteira e arbustiva autóctone. A norte é limitada por uma zona de areias móveis, num processo de consolidação do sistema dunar.

UNIDADE C - Areias de duna Esta unidade corresponde à faixa litoral, onde se verifica a presença de areias móveis de duna, a norte e a sul do núcleo urbano de Montedor. Caracteriza-se por ser uma área de relevo pouco acidentado e com declives que variam principalmente entre 0-8%. As características geológicas desta unidade são muito próprias, possuindo sobretudo areias de duna, depósitos de praias antigas e terraços fluviais e quartzitos. Do ponto de vista da flora é uma área com problemas graves de infestação com acácias, no entanto na frente de mar ainda se verificam áreas de vegetação herbácea e arbustiva autóctone com funções importantes de proteção e estabilização das dunas. UNIDADE D - Matos mediterrâneos Esta unidade corresponde à faixa litoral de Montedor, uma área rochosa de substrato granítico e de solos pouco profundos, com declives superiores a 8%, numa cota altimétrica mais elevada. Esta área distingue-se pela presença de matos mediterrâneos, vegetação rasteira e arbustiva autóctone, nomeadamente um Urzal, com rochedos emersos no contacto com o mar.

UNIDADE E - Granitos

Esta unidade é composta essencialmente por substrato granítico, com declives superiores a 8%. Em termos vegetais verifica-se a presença de uma mata ocupada sobretudo com pinheiros,

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

138

pontuações de eucaliptos e pequenos núcleos de acácias. UNIDADE F – Xistos e conglomerados Esta unidade distingue-se das restantes sobretudo pela geologia, compreendendo áreas de xisto e conglomerados. É uma área de algumas oscilações altimétricas com declives superiores a 8%, mas na sua globalidade apresenta declives suaves.

Relativamente às unidades de paisagem, estas foram determinadas pela síntese entre as unidades biofísicas e os valores socioeconómicos e culturais existentes, avaliando-se a relação transversal entre as várias componentes da paisagem e as diferentes relações entre a terra e o mar. Desta forma foram estabelecidas quatro unidades de paisagem, que se passam a explicar:

UNIDADE A - Veiga de Afife Esta unidade corresponde a toda a área situada a Norte de Montedor, entre a linha de costa e a N13, com exceção das áreas de mata e matos de substrato granítico. Esta unidade distingue-se da Veiga da Areosa pela relação da linha de costa com a área agrícola, que se encontra protegida por um cordão dunar consolidado. A presença visual do mar não é assumida nem imediata. As praias têm extensos areais e existem vários apoios ao turismo balnear. O cultivo intensivo de forragens e as parcelas com “folhas de cultivo” muito grandes reforçam o carácter agrícola extensivo desta área e diferenciam-na da unidade B, sendo aqui que principalmente se concentra em termos económicos a atividade de produção de leite.

FIGURA 60. VEIGA DE AFIFE

FIGURA 61. SISTEMA DUNAR – PRAIA DE PAÇÔ

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

139

FIGURA 62. VEIGA DE AFIFE – EXTENSÃO DAS FOLHAS DE CULTIVO

UNIDADE B - Veiga da Areosa Esta unidade corresponde a toda a faixa litoral a sul de Montedor, onde o mar assume uma presença constante e direta com as áreas de cultivo agrícola, sendo esta relação o elemento distintivo desta paisagem. As parcelas apresentam sobretudo uma configuração perpendicular à linha de costa, e uma dimensão menor comparativamente com a Veiga de Afife. Em termos agrícolas esta unidade apresenta um maior abandono de terra, com a presença assumida de extensas matas de salgueiros associadas às zonas húmidas existentes. Verifica-se ainda a presença de estufas de floricultura, e surgem pontualmente alguns equipamentos e infraestruturas. Esta unidade apresenta uma maior dinâmica recreativa, social e de lazer pela proximidade à cidade de Viana do Castelo.

FIGURA 63. VISTA DO FORTE PARA A VEIGA DE AREOSA

FIGURA 64. VEIGA DA AREOSA

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

140

UNIDADE C – Matos e Mata de proteção Esta área engloba essencialmente as unidades biofísicas C e E e a área mais a norte no contacto com o limite de concelho. Esta área distingue-se das restantes pelo tipo de ocupação do solo, com matos mediterrâneos um pinhal sobre um substrato granítico, declives superiores a 8%, e cotas mais elevadas do que aquelas que ocorrem nas restantes áreas de intervenção do PIERACA.

FIGURA 65. MATA DE PROTEÇÃO

UNIDADE D - Núcleo urbano de Montedor

Esta área engloba o perímetro urbano de Montedor. Caracteriza-se por ser uma área de maior impermeabilização, com carácter habitacional. Esta área, em solo urbano, está excluída por definição do âmbito de ação do PIERACA.

FIGURA 66. NÚCLEO URBANO DE MONTEDOR

Os extratos dos perfis (Figura 67, 68 e 69) que se apresentam em baixo traduzem as diferentes relações entre a terra e o mar, identificam a forma de uso da paisagem e a circulação, as diferenças altimétricas existentes.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

141

FIGURA 67. SISTEMA DUNAR E RELAÇÃO COM A VEIGA DE AFIFE

FIGURA 68. MATA DE PROTEÇÃO E MONTEDOR

FIGURA 69. ÁREAS HÚMIDAS NA RELAÇÃO COM A VEIGA DA AREOSA

3.5.5 BACIAS VISUAIS E EXPOSIÇÃO VISUAL DA PAISAGEM Efetuou-se numa primeira fase o estudo das Bacias Visuais a partir de pontos de miradouro (1 na área do PIERACA e 2 na envolvente) com vistas para a área afeta ao Plano. Foram distinguidas as áreas visíveis das não visíveis, para cada um dos pontos considerados: 1 - Monte de Santo António (em Afife); 2 - vertente sul de Montedor, perto do Moinho do Petisco; 3 - Monte de Santa Luzia, perto da Capela (freguesia de Santa Maria Maior). Neste último, foi considerado um ponto situado na estrada que lhe dá acesso, na encosta poente, de onde são possíveis vistas amplas para o litoral, devido ao controlo do crescimento da vegetação que de outra forma seria um fator de obstrução.

Grande parte do território a norte de Montedor é visível apenas do Monte de Santo António, cuja bacia visual é bastante extensa (Figura 70). Existem algumas zonas não visíveis dos 3 miradouros estudados como as encostas e o sopé do referido monte, diversas áreas situadas a sul do rio de Cabanas (devido sobretudo à sua galeria ripícola) e outras zonas enquadradas pela

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

142

vegetação dunar e/ou pelo relevo junto à costa, destacando-se as manchas situadas perto da Praia de Arda ou do Forte de Paçô.

FIGURA 70. VISTAS A PARTIR DO MONTE DE SANTO ANTÓNIO

Na envolvente próxima de Montedor, verifica-se uma ausência de visibilidade a partir de qualquer um dos miradouros estudados. Para além da morfologia desta elevação (que impede a visibilidade em quadrantes específicos a partir dos diversos miradouros) as manchas florestais concentradas em Montedor condicionam, por um lado, a penetração visual a partir do exterior e filtram, por outro, as vistas a partir do próprio monte para a paisagem envolvente. A partir de Montedor (Figura 71), as vistas prolongam-se até ao limite sul da freguesia de Carreço, estando as principais interrupções visuais relacionadas com a presença de manchas arbóreas, estufas e outras construções. No limite noroeste da freguesia de Areosa destacam-se os terrenos visíveis a partir dos 3 miradouros estudados. Daqui para sul, a veiga torna-se visível a partir do miradouro de Santa Luzia, existindo algumas bolsas também visíveis a partir de Montedor e outras sem visibilidade a partir de qualquer dos 3 miradouros estudados, como os terrenos situados a norte da ribeira do Pego ou a sul do Campo Ilídio Cunha.

FIGURA 71. VISTAS A PARTIR DO MONTE DE SANTO ANTÓNIO

Numa segunda fase, foi efetuada uma análise da exposição visual da paisagem, relacionada com a visibilidade da área e a sua ocupação, para 2 tipos de trajetos distintos:

• O troço da EN13 ao longo da área do PIERACA, com grande importância ao nível do concelho e relação próxima com toda a zona litoral; consideraram-se pontos de observação de 10 em 10 metros, num total de 1121 pontos.

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

143

• O troço da Ecovia Litoral Norte incluído na área do PIERACA, bem como os principais acessos perpendiculares às praias; consideraram-se pontos de observação com equidistância de 10 metros, num total de 1348 pontos na Ecovia e 503 pontos nos acessos às praias. Com recurso a processamento computorizado analisou-se, para ambas os cenários, que quantidade de observadores consegue visualizar um determinado ponto da superfície de terreno. Na representação gráfica dos valores obtidos estabeleceram-se 4 classes, com base nos intervalos naturais (agrupamentos naturais inerentes aos dados, cujos pontos de quebra são definidos onde há saltos significativos nos valores destes, resultando em valores semelhantes dentro das classes e maximização das diferenças entre as mesmas) dos dados verificados apenas na área do PIERACA; garantiu-se assim uma maior adequação da classificação à área do plano. Aplicou-se depois esta classificação a toda a área em estudo, estendendo-se o limite superior da classe de maior visibilidade verificada na área do plano até ao valor máximo verificado no total das 3 freguesias. As classes e valores adotados encontram-se resumidos na tabela seguinte:

INTERVALOS DAS CLASSES EXPOSIÇÃO VISUAL (Nº de pontos da via/acesso de onde o local é visível) Da Estrada Nacional 13 Da Ecovia Litoral Norte e Acessos a Praias Muito Baixa 0 a 25 pontos 0 a 45 pontos Baixa 26 a 60 pontos 46 a 100 pontos Média 61 a 150 pontos 101 a 200 pontos Elevada Mais de 150 pontos Mais de 200 pontos TABELA 34. INTERVALOS DAS CLASSES

No que diz respeito à exposição visual a partir da EN13, verificam-se em Montedor diversas zonas com exposição elevada, comparável à das encostas da Serra de Santa Luzia. Associadas a estas surgem outras com exposição média, que na área do PIERACA ocorrem também na veiga de Afife, a norte do Forte de Paçô (Afife/Carreço) e em pequenas manchas perto do limite entre Carreço e Areosa. Os terrenos de baixa exposição surgem em manchas mais ou menos dispersas, relacionando-se com a presença de manchas florestais ou outros elementos que funcionam como barreiras visuais. A presença destes elementos, bem como de algumas formas de relevo mais ou menos acidentadas (como Montedor, os cordões dunares ou as depressões associadas a linhas de água) fazem com que se verifiquem na área do plano diversas zonas com muito baixa visibilidade, destacando-se a envolvente norte, oeste e sul de Montedor, parte da bacia do rio de Cabanas (Afife) e algumas áreas da veiga de Areosa. Nos estudos relativos à Ecovia Litoral Norte e Acessos às Praias, verifica-se um padrão semelhante ao da EN13 para as encostas da Serra de Santa Luzia, embora com graus de visibilidade mais acentuados devido à sua posição mais afastada da base da encosta. Na área do PIERACA observam-se exposições mais acentuadas a norte de Montedor e exposições mais baixas a sul; as duas estão separadas por uma região central com fortes contraste entre as exposições mais elevadas (a norte do Farol) e um grande número exposições muito baixas na base da elevação. Uma compreensão do traçado da ecovia está na base da explicação esta distribuição:

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

144

• A norte de Montedor, a Ecovia percorre o território pelo limite interior do cordão dunar ou sob o mesmo, o que permite uma grande amplitude visual sobre toda a veiga (interrompida em zonas específicas sobretudo devido ao coberto vegetal), acentuando- se a exposição visual junto aos principais acessos as praias (pelo maior número de pontos considerados) e no limite norte de Afife, onde devido ao relevo, a mata de Gelfa se torna visível de muitos dos pontos considerados;

• Na região central, a Ecovia inflete ainda mais para o interior e atravessa a área mais significativa de exposição visual elevada, justificada por se tratar de uma mancha florestal de encosta, visível de muitos dos pontos a norte, mas que condiciona a penetração visual, razão pela qual se encontram no seu interior algumas bolsas de exposição muito baixa. O coberto vegetal existente na zona de Montedor é também o principal responsável pelas muito baixas exposições que se verificam nesta região, mesmo nas áreas marginais da ecovia;

• À medida que se percorre ecovia para sul, esta aproxima-se da linha de costa e em alguns dos seus troços está encaixada entre o litoral rochoso e os maciços vegetais (ou até construções) que obstruem a visibilidade para os campos agrícolas. É este facto que explica que dominem as exposições visuais mais baixas, ocorrendo valores um pouco mais elevados nas proximidades dos acessos às praias, em especial a norte do que dá acesso à praia de Carreço.

3.5.6 DISSONÂNCIAS AMBIENTAIS E PAISAGÍSTICAS A preservação da qualidade paisagística da veiga litoral afeta ao PIERACA depende, em certa medida, da articulação das suas diferentes componentes. Torna-se por isso essencial identificar os elementos que, pela sua dissonância em relação à envolvente, possam por em causa o equilíbrio paisagístico e ambiental do conjunto. Ao nível ambiental destacam-se pela negativa as áreas com predominância de acacial - sobretudo com a invasora Acacia longifolia (Acácia-de- Espigas) - nomeadamente em muitos dos cobertos arbustivos associados aos sistemas dunares. As estruturas da rede elétrica, a par de elementos relacionados com a iluminação pública ou comunicações, constituem fortes dissonâncias na área do PIERACA, a par de outros elementos como a ETAR de Areosa, com cerca de 2ha de área vedada junto à linha de costa. Um pouco mais 900 metros a norte, o litoral desta freguesia volta a estar marcado por outro elemento: o Campo Desportivo Ilídio Cunha, utilizado pelo Grupo Desportivo Areosense. Existem ainda duas instalações abandonadas - o antigo Matadouro de Aves (Areosa) e uma antiga unidade de aquacultura (Afife) - bem como diversas construções desordenadas, fora dos perímetros urbanos, cuja presença contribui para uma descaracterização da paisagem e desqualificação ao nível ambiental.

As diversas áreas com predominância de acacial são sobretudo povoamentos arbustivos ao longo de uma faixa correspondente ao cordão dunar desde o Forte de Paçô até ao limite noroeste da freguesia de Afife (prolongando-se para o concelho de Caminha), interrompido perto das praias de Afife e da Ínsua. As restantes manchas, onde surgem frequentemente outras espécies do género Acacia estão dispersas e surgem em áreas limítrofes dos campos agrícolas -

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

145

como as situadas a sul do rio de Afife, perto da EN13 - ou em zonas rochosas, como as situadas a sul dos moinhos de vento de Montedor. A invasora Acácia-de-Espigas (Acacia longifolia), que domina muitos destes povoamentos, é originária da Austrália e tem uma forte presença no território continental; introduzida originalmente para fins ornamentais, foi sendo aplicada na fixação de dunas. Devido ao seu forte poder de dispersão e facilidade de adaptação colonizou diversos ambientes, constituindo atualmente um problema pela excessiva densidade dos povoamentos que forma - que impedem o desenvolvimento da vegetação nativa - pelas alterações que provoca ao nível da composição e microbiologia do solo e pelo seu consumo hídrico, que causa menor fluxo das linhas de água e menor disponibilidade de água para o crescimento da vegetação autóctone. A minimização do problema tem sido dificultada pelo elevado custo na aplicação das medidas de controlo da espécie; contudo, têm vindo a ser procuradas soluções para esta problemática. Em novembro de 2015, após longos anos de testes que culminaram com a aprovação por parte de autoridades nacionais e europeias, foi levada a cabo por uma equipa de investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (no âmbito do programa INVADER-B, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e comparticipado pelo FEDER) a libertação de um agente de controlo natural - o inseto Trichilogaster acaciaelongifoliae - numa extensão entre Quiaios (Figueira da Foz), Mira e São Jacinto (Aveiro) com o objetivo de travar a dispersão da espécie. As estruturas da rede elétrica (Figura 72) são também fortes dissonâncias no litoral norte do concelho. Os cerca de 14 quilómetros de extensão de rede elétrica de alta-tensão existentes na área do PIERACA, bem como os respetivos apoios verticais - 112, dos quais 94 se situam em espaços agrícolas ou florestais - são elementos que se destacam, sobretudo nas zonas de relevo suave onde, é permitido um longo alcance visual. Também a rede elétrica de baixa-tensão - com cerca de 14 Km de extensão, com mais de 407 apoios verticais, dos quais 186 se situam em espaços agrícolas ou florestais - e as estruturas de iluminação pública e comunicações têm um impacto negativo forte, relacionado sobretudo com a proximidade do elemento de obstrução em relação ao observador."

FIGURA 72.ESTRUTURAS DA REDE ELÉTRICA NA ÁREA DO PIERACA

A ETAR de Areosa (Figura 73) serve, para além desta freguesia, as de Carreço, da cidade de Viana, de Portuzelo e parte da de Perre (o tratamento das águas de Afife é efetuado na ETAR de Gelfa, no município de Caminha). Reconhecendo-se a importância ao nível do concelho, bem como a conformidade com o Plano Diretor Municipal, a ETAR não deixa contudo de ser um

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

146

elemento fortemente dissonante da paisagem litoral; não há um eficaz enquadramento paisagístico aos tanques, edifícios ou aos coletores a descoberto que se encontram junto à estação, juntamente com o odor associado a este tipo de infraestrutura, existe uma degradação da qualidade estética e funcional das áreas envolventes.

FIGURA 73. A ETAR DE AREOSA E OS COLETORES A DESCOBERTO

O Campo Desportivo Ilídio Cunha, utilizado pelo Grupo Desportivo Areosense (fundado em 1984), localiza-se em zona classificada no PDM como espaços agrícolas (áreas de elevado valor paisagístico) e como zonas de vegetação rasteira e arbustiva. Constitui um corpo estranho com cerca de 1 ha, o campo murado acaba por não tirar partido da paisagem de excelência onde se insere. A sua localização fora do aglomerado populacional leva a que os seus utilizadores (atletas e público) optem pela deslocação automóvel até ao local, não há porém a preparação para o tráfego ou estacionamento adequados de veículos. Ao nível das estruturas construídas, identificam-se os casos referidos de duas instalações abandonadas, elementos descaracterizadores e desenquadrados da envolvente pela sua volumetria, que constituem potenciais focos de problemas ambientais e de segurança: a) O antigo Matadouro de Aves (Figura 74), situado na freguesia da Areosa, ao qual se acede diretamente a partir da EN 13, por uma via estreita de calçada em cubo de granito; no terreno murado com mais de 8500 metros, onde se destacam 2 volumes construídos - um dos quais com mais de 90 metros de comprimento - bem como as estruturas associadas à rede elétrica;

b) Na freguesia de Afife, a norte da praia da Ínsua, em pleno cordão dunar, uma antiga unidade de aquacultura (Figura 74) que se dedicava à produção de salmão em viveiro. Os cerca de 7000 m2 estão delimitados com uma vedação baixa de arame com postes em madeira, sendo visíveis os edifícios em madeira e os inúmeros tanques e anexos abandonados;

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

147

FIGURA 74. ANTIGO MATADOURO DE AVES, EM AREOSA (À ESQUERDA). TANQUES ABANDONADOS DE ANTIGA UNIDADE DE AQUACULTURA, AFIFE (À DIREITA).

Identificaram-se ainda diversas construções desordenadas fora dos perímetros urbanos, em ocupação inadequada do cordão dunar (Figura 75) ou de outros habitats sensíveis, de zonas de mato ou de áreas de forte aptidão agrícola: d) A sul da antiga unidade de aquacultura de salmão, identificam-se habitações multifamiliares ou unifamiliares construídas nas dunas, bem como a reconversão de um antigo abrigo/armazém de aprestos de pesca (semelhante outro ainda existente, originalmente em pedra, sem grande impacto e com valor do ponto de vista arquitetónico-cultural) em edifício de apoio à habitação;

e) Na margem esquerda do rio de Afife, a jusante da EN 13, diversas moradias em terrenos murados, localizadas quase em cima do leito do rio, perturbando o desenvolvimento da galeria ripícola de uma forma natural;

f) A norte do Farol de Montedor, numa área classificada no PDM como Zona de mata de proteção do litoral, surgem diversas habitações, com terrenos murados, desadequados da vocação deste território; g) A sul de Montedor, destaca-se o crescimento desordenado do aglomerado, com habitações construídas fora do perímetro urbano, em cima de campos agrícolas;

h) E, ao longo do lado poente da EN 13, aproveitando a facilidade de acesso, uma série de construções que constituem uma frente desorganizada e dispersa, que inclui habitações, oficinas ou stands automóveis, restaurantes ou estruturas relacionadas com a rede elétrica ou rede de tratamento de águas.

FIGURA 75. CONSTRUÇÕES EM OCUPAÇÃO INADEQUADA DO CORDÃO DUNAR

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

148

Bibliografia

AEMet, Agencia Estatal de Meteorología; IM, Instituto de Meteorologia de Portugal - Atlas climático ibérico (1971-2000). Ministério de Medio ambiente novembro Medio rural novembro Marino, 2011. Disponível em https://www.ipma.pt/resources.novembro/docs/publicacoes.site/atlas_clima_iberico.pdf, acedido em Janeiro de 2016 ALMEIDA, Carlos A. Brochado de - A realidade arqueológica do litoral entre Neiva e Cávado: da romanização à formação das paróquias. Revista da Faculdade de Letras, Ciências e Tecnicas do Património, Volume XII, pp. 99-111. Porto, 2013 APA, Agência Portuguesa do Ambiente - Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Minho e Lima (RH1) 2016/2021, Documentos de Participação Pública. Agência Portuguesa do Ambiente, 2015 . Consultado em http://participa.pt/consulta.jsp?loadP=520 APA, Agência Portuguesa do Ambiente - Plano de Gestão da Região Hidrográfica do Minho e Lima (RH1). Relatório de Base, Parte 2 - Caracterização e diagnóstico da região hidrigráfica. Agência Portuguesa do Ambiente, 2012

Associação Portuguesa de Geomorfólogos, Braga, 2009. Disponível em: http://www. dct.uminho.pt/docentes/pdfs/jb_carvalhido.pdf, acedido em novembro de 2015 CARVALHIDO, R.; BRILHA, J.; PEREIRA, D.; - Monumentos Naturais Locais de Viana do Castelo: processo de classificação e estratégias de valorização. Comunicações Geológicas, LNEG. Porto, 2014 CARVALHIDO, R.; PEREIRA, D.; BRILHA, J. - Inventariação do património geomorfológico do litoral do concelho de Viana do Castelo. Associação Portuguesa de Geomorfólogos, Braga, 2009. Disponível em: http://www.dct.uminho.pt/docentes/pdfs/jb_carvalhido.pdf, acedido em novembro de 2015 CARVALHIDO, R.; PEREIRA, D.; CUNHA, P. - Depósitos costeiros quaternários do noroeste de Portugal (Minho-Neiva): caracterização, datação e interpretação paleoambiental. LNEG, 2014. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/35099/1/Carvalhido%20et%20al%20201 4_LNEG.pdf, acedido em novembro de 2015 CUNHA, M. 2006. Sistemas agro-florestais do Noroeste Atlântico de Portugal. Secção Autónoma de Engenharia das Ciências Agrárias, Faculdade de Ciências do Porto, textos didácticos, Conceptprint – FCUP

CUNHA, M. Sebenta de Agricultura Geral II, Secção Autónoma de Engenharia das Ciências Agrárias, Faculdade de Ciências do Porto, textos didácticos

CURADO, MARIA JOSÉ DRAEDM, IDARN, ESA-IPVC, UP – CIBIO, Plano de Ordenamento da Bacia Leiteira Primária do Entre Douro e Minho Volume I - Relatório Final

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

149

FRANÇOISE, B., JACQUES, B.; Ecologie du Paysage – Concepts, méthodes et applications, Editions TEC&DOC CMIA, Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo - Dados da estação metereológica do CMIA para o período 2008-2014. Disponíveis em http://www.cmia- viana-castelo.pt/, acedido em novembro de 2015 DIONÍSIO, Sant'Anna (e outros) - Guia de Portugal IV, Entre Douro e Minho II - Minho. Fundação Caluste Gulbenkian. Lisboa, 1996 FORMAN, R. and GODRON, M.; Patches and Structural Components for a Landscape Ecology; BioScience, Vol. 31, No. 10 (Nov., 1981), pp. 733-740; American Institute of Biological Sciences Stable

ICNF - Plano Sectorial da Rede Natura 2000, Ficha do Sítio de Importância Comuntária Litoral Norte, PTCON007 IGEO, Instituto Geográfico Português, Direcção de Serviços de Investigação e Gestão de Informação Geográfica - Relatório da Cartografia de Incêncio Florestal do Distrito de Viana do Castelo. Disponível em: http://scrif.igeo.pt/cartografiacrif/2007/crif07.htm, acedido em novembro de 2015 INE, Instituto Nacional de Estatística - Censos 2001, Resultados Definitivos - XIV Recenseamento Geral da População e IV Recenseamento Geral da Habitação. Instituto Nacional de Estatística, 2002 . Acedido através do portal http://censos.ine.pt/ INE, Instituto Nacional de Estatística - Censos 2011 Resultados Definitivos - XV Recenseamento Geral da População e V Recenseamento Geral da Habitação. Instituto Nacional de Estatística, 2012 . Acedido através do portal http://censos.ine.pt/ IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera - Fichas das Normais Climatológicas de Viana do Castelo, para o período 1981-2010. Disponíveis em: https://www.ipma.pt, acedido em novembro de 2015 LEAL, A. Pinho - Portugal Antigo e Moderno, Diccionario Geographico (...) de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal (...).Vols.1 a 12. Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia. Lisboa, 1873

LEAL, António Cunha (e outros) - Roteiro Arqueológico de Viana do Castelo. Gabinete Arqueológico de Viana do Castelo, 2008 MOREIRA, Armando - Recursos Geológicos, Nota Explicativa do Mapa de Condicionantes do Plano Director Municipal de Viana do Castelo. Instituto Geológico e Mineiro do Ministério da Economia, 2001

MOREIRA, Manuel António Fernandes - O porto de Viana na Época dos Descobrimentos: Abordagem das Fontes. O Litoral em Perspectiva Histórica (Séc. XVI a XVIII). Instituto de História Moderna. Porto, 2002

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

150

TEIXEIRA, C.; MEDEIROS A.C. - Carta Geológica de Portugal. Notícia Explicativa da Folha 5-A Viana do Castelo. Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos, Ministério da Economia, Secretaria de Estado da Indústria. Lisboa, 1972

Viana do Castelo, Câmara Municipal - Estudos de Caracterização de Suporte à Revisão do PDM do concelho de Viana do Castelo. Relatório 2 - Caracterização Demográfica e Social. Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2002.

Oliveira, F., Moreno, G., LÓPEZ, L., CUNHA, M. ORIGEM. Distribuição e Funcões sos Sistemas Agro-Florestais.“Pastagens e Forragens”, vol. 28, 2007, p. 93 - 115 Relatório Final do Estudo da Ecovia Do Litoral Norte e Percursos Complementares, Polis litoral Norte (www.polislitoralnorte.pt)

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

151

Sites Consultados

Direção Geral do Património Cultural - DGPC (disponível em http://www.patrimoniocultural.pt/, acedido em dezembro de 2015)

Faróis de Portugal (http://www.faroisdeportugal.com/) Freguesia de Afife (http://www.jf-afife.com/) Freguesia de Areosa (http://www.jfareosa.pt/)

Freguesia de Carreço (http://www.jf-carreco.com/)

Freguesias de Santa Maria Maior, Monserrate e Meadela (http://www.santamariamaior- monserrate-meadela.com) Museu Virtual de Viana do Castelo (disponível em: http://www.mvvc.ipvc.pt/, acedido em dezembro de 2015) Roteiros Temáticos, Município de Viana do Castelo (disponível em: http://www.cm-viana- castelo.pt/pt/roteiros-tematicos, acedido em dezembro de 2015) Sistema de Informação para o Património Arquitetónico - SIPA (disponível em: http://www.monumentos.pt/, acedido em dezembro de 2015)

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência

152

Legislação nacional consultada

Aviso n.º 10601/2008 de 4 de abril de 2008 - Alteração ao Plano Diretor Municipal de Viana do Castelo Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio - Bases da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo

Decreto-Lei n.º 199/2015 de 16 de setembro - primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 73/2009, de 31 de março; Regime jurídico da Reserva Agrícola Nacional (RAN)

Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de novembro - primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 166/2008, de 22 de agosto, que estabelece o Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional (REN) Decreto-Lei n.º 103/90 de 22 de março – bases gerais de emparcelamento e fracionamento de prédios rústicos e de explorações agrícolas Decreto-Lei n.º 468/71 de 5 de novembro – Domínio Público Hídrico

Decreto Regulamentar n.º 15/2015 de 19 de agosto – Estabelece os critérios de classificação e reclassificação do solo Decreto Regulamentar n.º 10/2009 de 29 de maio - cartografia a utilizar nos instrumentos de gestão territorial Lei n.º 31/2014 de 30 de maio - Lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo Lei n.º 58/2007 de 4 de setembro - Aprova o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território Portaria n.º 42/2015 de 19 de fevereiro - normas regulamentares aplicáveis à atividade de detenção e produção pecuária, ou atividades complementares Portaria n.º 162/2011 de 18 de abril - Utilizações não agrícolas de áreas integradas na RAN

Resolução do Conselho de Ministros nº 154/2007 - POOC de Caminha-Espinho

Resolução do Conselho de Ministros n.º 184/96 – Autorização para a execução do projeto de emparcelamento do perímetro de Afife, Carreço e Areosa

PIER | AFIFE, CARREÇO E AREOSA | Caracterização da situação de referência