Nas Intervenções Da Igreja Católica Em Angola (1989-2002)
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ANTÓNIO MANUEL SANTOS DE SOUSA NEVES ‘JUSTIÇA E PAZ’ NAS INTERVENÇÕES DA IGREJA CATÓLICA EM ANGOLA (1989-2002) Orientador: Professor Doutor José Fialho Feliciano Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Ciência Política, Lusofonia e Relações Internacionais Lisboa 2011 1 ANTÓNIO MANUEL SANTOS DE SOUSA NEVES ‘JUSTIÇA E PAZ’ NAS INTERVENÇÕES DA IGREJA CATÓLICA EM ANGOLA (1989-2002) Tese apresentada para a obtenção do Grau de Doutor em Ciência Política no curso de Doutoramento em Ciência Política, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Doutor José Fialho Feliciano Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Ciência Política, Lusofonia e Relações Internacionais Lisboa 2011 2 Epígrafe Felizes os que têm fome e sede de Justiça, porque serão saciados. (...) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. (...) Felizes os que sofrem perseguição por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Mt 5, 6.9-10 Dos quatro cantos da Nação, ouvimos um grito, que é um apelo, ao mesmo tempo de reconciliação e de esperança: Nunca mais a guerra! Paz a Angola, Paz a Angola para sempre! (...) Para restaurar a Paz, há que repor a Justiça da verdade, a Justiça da igualdade social, a Justiça da solidariedade fraterna. João Paulo II Huambo, 5 de Junho de 1992 3 Dedicatória Às minhas FAMÍLIAS, A saber: - a de Sangue; a Espiritana; a dos Conterrâneos; a daquelas e daqueles com quem cruzei a minha vida, sobretudo nos Seminários e Universidades por onde passei; a do povo com quem partilhei uma fatia da minha história por terras do Planalto Angolano. 4 Agradecimentos A todos a quem dedico este Doutoramento; ao Prof. Doutor Fernando Santos Neves, que me estimulou a fazer o Mestrado em Lusofonia e Relações Internacionais, donde partiu este Doutoramento; ao Prof. Doutor José Fialho Feliciano, pelo empenho e exigência colocados na orientação da Tese; aos Professores que compuseram este Júri; aos 48 Missionários (Bispos, Padres, Irmãs e Leigos) que me apresentaram os seus depoimentos; a D. Pedro Luís António e ao P. António Moreira que me abriram, de par em par, as portas de Angola, no Kuito-Bié; à Arminda Camate, ao Dr. Fernando Faria Ribeiro, ao Dr. João Cláudio Fernandes, à Irmã Madalena Vieira e à Eng. Marta Garrido pelo trabalho de revisão e de verificação metodológica; a quantos, de uma maneira ou de outra, tornaram possível esta investigação. 5 Resumo Angola vivia em guerra civil de 1989 a 2002, arco temporal que esta tese abrange. A minha investigação propôs-se estudar o impacto político das intervenções da Igreja Católica na pacificação do país. O papel que a Igreja desempenha na Paz deriva dos seus compromissos na luta a favor da Justiça. Para a fundamentação teórica aprofundei conceitos de Justiça, Paz, Política e Conflito, Cultura Banto, Teologias Africanas e Igreja Colonial, elementos que estão encadeados. O trabalho de campo incidiu sobre as Mensagens dos Bispos de Angola, Depoimentos e Eventos, Movimentos e Instituições, confirmando que as intervenções da Igreja Católica tiveram impacto político e foram decisivas para o fim da guerra civil, abrindo caminhos à reconciliação dos angolanos e à reconstrução das estruturas num país marcado por 27 anos de guerra civil. A Igreja Católica interveio a favor da Justiça e da Paz, sendo este trabalho legitimado pela coerência das suas posições e pelo reconhecimento, confiança e apoio por parte das populações. Este dado é confirmado por figuras independentes como é o caso do Presidente Eduardo dos Santos, do Dr. Jonas Savimbi e jornalistas e académicos citados. Num contexto de desequilíbrio total, as práticas da Igreja são reequilibradoras da Paz à custa da Justiça. 6 Abstract Angola lived through a civil war from 1989 to 2002, which is the temporal arc covered in this thesis. My research addressed the political impact of the interventions of the Catholic Church in the pacification of the country. The role that the Church has in bringing peace derives from its commitment in the fight for justice. With regards to theoretical foundations, I have examined the intertwined concepts of justice, peace, politics and conflict, Banto culture, African theologies, and the colonial church. The field work focussed on the messages of the Bishops of Angola, testimonials and events, movements and institutions, and confirmed that the interventions of the Catholic Church had a political impact and were decisive for the end of the civil war by opening ways for the reconciliation of the Angolans and for the reconstruction of a country marked by 27 years of civil war. The Catholic Church has intervened in favour of justice and peace, and this work is legitimized by the coherence of its positions and by the recognition, trust and support of the populations. This finding is confirmed by independent figures such as President Eduardo dos Santos, Dr. Jonas Savimbi as well as cited journalists and academics. In a context of total disequilibrium, the practices of the Church rebalance peace at the expense of justice. 7 ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 8 5SEEC – Cinco Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas. ACA – Associação Cívica Angolana. ACL – Academia das Ciências de Lisboa. ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. AEA – Aliança Evangélica de Angola. ASA – Acção Solidária com Angola CA – Encíclica „Centesimus Annus‟ de João Paulo II CAIE – Conselho Angolano das Igrejas Evangélicas. CCEE – Conselho das Conferências Episcopais de Europa. CCPM – Comissão Conjunta Política e Militar. CEAST – Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé e Príncipe. CEC – Conferência das Igrejas Europeias (também conhecida por KEK (do alemão) CEJP – Comissão Episcopal Justiça e Paz da CEAST. CELAM – Conferências Episcopais da América Latina. CICA – Conselho das Igrejas Cristãs de Angola. Substituiu o CAIE. CIDAC – Centro de Investigação e Documentação Amílcar Cabral. CNE – Conselho Nacional de Eleições. CNJP – Comissão Nacional Justiça e Paz. COIEPA – Comité Inter-Eclesial para a Paz em Angola. CPJP – Conselho Pontifício Justiça e Paz. CRC – Centro de Reflexão Cristã. CRS – Catholic Relief Service CV – Encíclica „Caritas in Veritate‟ de Bento XVI. DINAR – Direcção Nacional dos Assuntos Religiosos. DISA – Direcção de Informação e Segurança de Angola. DN – Diário de Notícias DNAR – Direcção Nacional para os Assuntos Religiosos DSI – Doutrina Social da Igreja. EA – Encíclica „Ecclesia in Africa‟ de João Paulo II. FAA – Forças Armadas de Angola. FAAT – Fórum das Autoridades Angolanas Tradicionais. FALA – Forças Armadas de Libertação de Angola FAPLA - Forças Populares de Libertação de Angola. FLEC – Frente de Libertação do Enclave de Cabinda. FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola. FONGA – Fórum das ONG‟s Angolanas. 9 FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique. GS – „Gaudium et Spes‟, Constituição Pastoral da Igreja do Concílio Vaticano II. GURN – Governo de Unidade e Reconciliação Nacional. ICRA – Instituto de Ciências Religiosas de Angola IMBISA – Conferência Inter-Regional dos Bispos da África Austral. JA – Jornal de Angola. JP – Justitiam et Pacem KEK – Conferência das Igrejas Europeias (em alemão). Também conhecida por CEC. LE – Encíclica „Laborem Exercens‟ de João Paulo II. MFA – Movimento das Forças Armadas. MM – Encíclica „Mater et Magistra‟ de João XXIII. MNIA - Movimento dos Novos Intelectuais de Angola. MONS. – Monsenhor. MONUA – Missão de Observação das Nações Unidas em Angola. Substituiu a UNAVEM III. MPLA – PT – Movimento Popular de Libertação de Angola – Partido do Trabalho. NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte. OMS – Organização Mundial de Saúde (ONU). ONG/D – Organização Não Governamental / para o Desenvolvimento. ONU – Organização das Nações Unidas. OUA / UA – Organização de Unidade Africana / União Africana. PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. PAM – Programa Alimentar Mundial (ONU). PCP – Partido Comunista Português. PDA – Partido Democrático de Angola. PIC – Posto Infantil Comunitário PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado (no tempo colonial). PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ONU). PP – Encíclica „Populorum Progressio‟ do Papa Paulo VI. PROMAICA – Movimento de Promoção da Mulher Angolana na Igreja Católica. PT – Encíclica „Pacem in Terris‟ de João XXIII. QA – Encíclica „Quadragesimo Anno‟ de Pio XI. RN – „Rerum Novarum‟, a primeira encíclica social da Igreja Católica, publicada por Leão XIII. RNA – Rádio Nacional de Angola. 10 RTA – Religião Tradicional Africana. SCEAM – Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar. SEC – Secretaria de Estado da Cultura SRS – Encíclica „Sollicitudo Rei Socialis‟ de João Paulo II. TPA – Televisão Popular de Angola. TROIKA – Estados Unidos da América, Rússia e Portugal. UCAN – Universidade Católica de Angola. UCP – Universidade Católica Portuguesa. ULHT – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. UNAVEM – Missão de verificação das Nações Unidas em Angola. Teve a I, II e III. UNICEF – Fundo Internacional das Nações Unidas de Emergência para a Infância. UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola. UPA – União dos Povos de Angola. UPNA – União dos Povos do Norte de Angola. VAT.II – Concílio Ecuménico Vaticano II. VORGAN – Voz da Resistência do Galo Negro, rádio oficial da UNITA. 11 ÍNDICE 12 Abreviaturas e Símbolos 8 Índice 12 INTRODUÇÃO 18 A. Objectivo geral 21 B. Questão e hipótese 22 C. Conceitos aprofundados 25 D. Importância, pertinência e oportunidade 26 METODOLOGIA 27 I PARTE 33 I. JUSTIÇA 34 I.1. Uma teoria da Justiça: John Rawls 35 I.1.1. Princípios da Justiça 37 I.1.2. A „Posição Original‟ e o „Véu de Ignorância‟ 40 I.1.3. As Instituições, Justiça Política e Constituição 42 I.1.4. Economia Política - a distribuição 44 I.1.5. O Dever e a Obrigação 45 I.1.6. A Desobediência Civil e a Objecção de Consciência 46 I.1.7. A Teoria do Bem e o sentido da Justiça 49 I.1.8. A Justiça como Bem e a Felicidade 52 I. 2. Críticas à Teoria da Justiça 53 II. PAZ, POLÍTICA E CONFLITO 63 II.1. O Século XX segundo Hobsbawm 64 II.2. O papel do conflito segundo Simmel 67 II.3.