Alexandre Piccini Ribeiro
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ALEXANDRE PICCINI RIBEIRO FUNÇÃO MUSICAL, ACERTOS E ERRÂNCIA NA CINEMATOGRAFIA PUBLICITÁRIA: ENTRE O JUGO DA ESTRUTURA E A EPIFANIA PÚBLICA DA IMAGEM Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Música do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, como requisito parcial para a obtenção de grau de Mestre em Música sob a orientação do Prof. Dr. Silvio Ferraz Mello Filho CAMPINAS 2008 iii FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP Ribeiro, Alexandre Piccini. R354f Função musical, acertos e errância na cinematografia publicitária: entre o jugo da estrutura e a epifania pública da imagem. / Alexandre Piccini Ribeiro – Campinas, SP: [s.n.], 2008. Orientador: Prof. Dr. Silvio Ferraz Mello Filho. Dissertação(mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. 1. Música. 2. Audiovisual. 3. Cinema publicitário. 4. Filosofia. 5. Gilles Deleuze. I. Mello Filho, Silvio Ferraz . II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes. III. Título. (em/ia) Título em inglês: “Musical function, hits and wanderings athwart cinema adverts: between the yoke of the structure and the public epiphany of the image.” Palavras-chave em inglês (Keywords): Music; audiovisual; cinema adverts; philosophy; Gilles Deleuze. Titulação: Mestre em Música. Banca examinadora: Prof. Dr. Silvio Ferraz Mello Filho. Prof. Dr. Luiz Benedicto Lacerda Orlandi. Prof. Dr. Rogério Luiz Moraes Costa. Prof. Dr. José Roberto Zan. Prof. Dr. João Marcos Alem. Data da Defesa: 22-02-2008 Programa de Pós-Graduação: Música. iv v Aos meus avós que se foram Ivonete, Virgílio e Risoleta. vii AGRADECIMENTOS Aos meus caros, importantíssimos professores, sem os quais estaríamos longe daqui, especialmente aos amigos Ney Carrasco, José Roberto Zan, Hilton Valente e Cyro Pereira. Ao grande amigo retirante Bruno Machado, pela apresentação devastadora da filosofia deleuzeana e ao não menos “repentista” João M. L. Pereira pelas conversas, cafeína e amor à literatura. Aos muito mais que colegas de trabalho Nelson Dutra, Cyro Pereira e Rodrigo Morte, que me ensinaram mais do que eu poderia revelar aqui (um novo sentido do segredo). A meu estimadíssimo e encorajador Silvio Ferraz, verdadeiro lançador de dados, sem o qual a orientação à esta “segunda fase” do trabalho teria tomado um rumo muito insipiente. Ao professor Rogério Costa pela atenciosa presença na banca. Àqueles a quem eu amo muito, meus pais Robson e Sonia, minha irmã Patrícia e à minha querida emoção, inspiração e lição de arte Letícia Moreira. Ao Instituto de Artes da Unicamp, na condição de hecceidade que aproxima tantos ventos e virulências. Aos professores Vladimir Safatle (USP) e especialmente ao querido Luiz Orlandi (UNICAMP e PUC-SP) pela abertura e oportunidade enriquecedora dedicadas à filosofia de Gilles Deleuze – sobretudo, pela inspiração e vontade de correção ante um rigor próprio que tal filosofia convoca. As vias públicas e aos caminhos invisíveis traçados entre corredores, paisagens, carros e muros, ao tempo que me emociona e às matilhas anônimas que se dizem aqui, sob a forma do discurso indireto livre. ix “Um contemporâneo nem sempre é alguém que vive ao mesmo tempo, tampouco alguém que fala de questões abertamente ‘atuais’. Mas é alguém cuja voz, ou gesto, reconhecemos vir de um lugar até então desconhecido e imediatamente familiar, que descobrimos que esperávamos, ou que ele nos esperava, que estava ali, iminente” Jean-Luc Nancy xi Resumo Este trabalho é, em parte, uma exploração do meio publicitário com vista aos modos como a música é empregada em sua cinematografia. Do ponto de vista conceitual, posso dizer que a obra filosófica de Deleuze e Guattari é o ponto de encontro e divergência deste ensaio, que tem, quanto às filosofias da representação, uma postura crítica. À orientação axiomática dos estudos de Gorbman e de grande parte das doxas técnicas do campo da film music, procuro especificar uma nova analítica da imagem, especialmente com relação a aquelas que implicam uma nova pedagogia, como em inúmeros casos de Godard, Resnais, Robbe-Grillet, Duras, Herzog, Bresson, Tarkovski e mesmo Pasolini. Nestes casos, em que as analíticas, axiomaticamente fundadas no bom senso e no senso comum, vêem-se claramente fragilizadas ou desfavorecidas, o recurso involuntário ao pensamento (dito aqui sem imagem) instaura uma urgência na qual sujeito, objeto e método nascem concomitantemente. Segundo o posicionamento anti-fenomenológico de Deleuze, nestes casos já não é à intencionalidade da consciência “vígil, clara e distinta” que nos lançamos, mas a um campo transcendental, impessoal, crepuscular, “distinto e obscuro” cujos volumes e paisagens testemunham as mais acrobáticas posições do pensamento – que encontra, nas intensidades, o objeto de seu verdadeiro exercício. Trata-se, aqui, de uma grande empiria que já não visa a um repertório concreto de usos ou a um campo abstrato de possíveis, mas a meadas de mundos, autênticos e (muitos deles) incompossíveis. Sob este ponto de vista, o tema sofre uma reversão em direção à arte mostrando que, se na cinematografia publicitária as moedas de troca são as opiniões, percepções e afecções ordinárias, na arte toda moeda é, em si, uma coleção impessoal e paradoxal de afectos, perceptos e sensações, que será preciso, em cada caso, reconhecer, ainda que pela primeira vez. Palavras-chave: Música; Cinema publicitário; Audiovisual; Gilles Deleuze; Filosofia. xiii Abstract This work is, partially, an exploration of the advertising field, focusing on the particular manners in which music is used in its cinematography. From a conceptual point of view, it could be said that the philosophical work of Deleuze & Guattari is the point of encounter and divergence of this essay, which has a critical posture towards the philosophies of representation. In opposition to Gorbman’s studies axiomatic orientation, and to most of the technical doxologies on the film music field, I tried suggesting a new analytical approach to the image (cartography), especially in relation to those cases in which a new “pedagogy” is established, such as the numerous cases found in Godard, Resnais, Robbe-Grillet, Duras, Herzog, Bresson, Tarkovski, and even Pasolini. In these cases, in which analytical models – axiomatically founded on common and good senses – see themselves clearly weakened and unfavoured, the involuntary trigger to transcendental thinking (said here imageless) sets a problematic state of urgency in which subject, object and method unfold reciprocally and immediately. According to the anti-phenomenological position of Deleuze, in these cases we are not concerned, as usual, with the vigil, clear and distinct aspects of consciousness, but with an impersonal, crepuscular, “distinct and obscure” transcendental field, whose volumes and landscapes witness the most acrobatic postures of thought – that finds, in the intensities (that flow in this field), the precise object of its very exercise. The concern, here, is with an ample empiria that doesn’t care for organizing concrete cases or, conversely, an abstract field of possibilities, but spoors of worlds, authentic and (many of them) incompossible. From this point of view, our subject suffers a sudden reorientation towards art, revealing that, if in advertising cinematography the opinions, perceptions and affections are the currency of trade, in art, every coin is, in itself, an impersonal and paradoxical collection of affects, percepts and sensations, that we might recognize, even as if for the first time. Keywords: Music; Advertising cinema; Audiovisual; Gilles Deleuze; Philosophy. xv Sumário Introdução 1 Parte I 1. Em direção à tipologia dos signos musicais em Philip Tagg 23 1.1. Os anáfones sonoros, cinéticos e táteis 24 1.1.1. Anáfones sonoros 25 1.1.2. Anáfones cinéticos 25 1.1.3. Anáfones táteis 26 Primeiro intervalo: da analogia e do figural 27 1.2. Sinédoque de gênero 45 Segundo intervalo: da virtualidade 47 1.3. Os marcadores de episódio 69 1.4. Indicadores de estilo 72 Terceiro intervalo: da (in)determinação estilística na cinematografia publicitária 73 Parte II 1. Um primeiro apanhado sistemático das funções da música no cinema narrativo e publicitário. 81 2. Uma organização da música publicitária 107 3. Primeira aproximação ao dispositivo audiovisual em Deleuze 163 4. O Esboço de um sistema de imagens entre Bergson e Deleuze 181 5. Segunda aproximação ao dispositivo audiovisual em Deleuze 187 Conclusão 205 Abreviações 217 Referências Bibliográficas 219 Lista dos Filmes Consultados 227 xvii Introdução No início deste projeto tínhamos em mente um estudo de inclinação estrutural1 sobre a música no cinema publicitário. Tal empresa tinha em vista a esquematização (e a equiparação) generalizante das situações audiovisuais, enfatizando a música a partir da categorização de seus papéis nos casos da cinematografia publicitária. Procurávamos especificá-la funcionalmente sob o ponto de vista da representação, a partir da integração disciplinar de estudos coordenados em cinema, semiótica e linguagem. Por razões difíceis de resumir, devo dizer que uma reavaliação crítica2 me fez crer que o aprofundamento das questões que o audiovisual suscitava, apontava para um 1 A questão estrutural nos parece fundamentalmente atrelada ao aspecto sincrônico das estruturas, segundo Mora (2001, p. 237-238) “inacessíveis à observação e às descrições observacionais”. O autor prossegue negando-lhes a existência “pelo menos no sentido em que há objetos ou propriedades dos objetos” sendo “metodologicamente”