REVISTA DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS / JANEIRO–MARÇO 2007 / ANO 9 – Nº 1 / 5.OO

30trimestral

«DEFENDER E UNIR OS MÉDICOS» Miguel Leão, em entrevista, apresenta as razões da sua candidatura a Bastonário da Ordem dos Médicos

BALANÇO DE ACTIVIDADES DO CONSELHO DISCIPLINAR REGIONAL

WWW.NORTEMEDICO.PT RENOVADO REVISTA DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS / JANEIRO - MARÇO 2007 / ANO 9 - Nº 1

2 Editorial DIRECTOR Miguel Guimarães, membro do CRNOM José Pedro Moreira da Silva ENTREVISTAS EDITOR Miguel Guimarães 4 Uma Ordem «firme» e que «defenda os médicos» Miguel Leão apresenta as razões da sua candidatura a bastonário da Ordem dos Médicos CONSELHO EDITORIAL 12 «Existem mais queixas do que seria desejável» Alfredo Soares Ana Aroso, Presidente do Conselho Disciplinar Regional, em entrevista Anabela Rodrigues Correia António Araújo 16 Os problemas da Medicina Geral e Familiar António Gomes da Silva Entrevista com Marlene Lemos, membro do CRNOM António Santa Comba 18 www.nortemedico.pt Cláudio Rebelo Miguel Guimarães apresenta o renovado portal da SRNOM Eugénia Parreira 21 Gestão das Unidades Estratégicas nas Organizações de Saúde Fátima Carvalho Fátima Oliveira Curso promovido pela SRNOM apresentado por M. Jorge de Carvalho José Manuel Fraga Lurdes Gandra NOTÍCIAS Manuela Dias 24 Balanço de actividades do Conselho Disciplinar Regional Margarida Faria Apresentado em Conferência de Imprensa Maria José Machado Vaz 26 Unidades de Saúde Familiar Marlene Lemos Modelo positivo mas... com falhas, considera Miguel Leão SECRETÁRIO 28 Políticas de qualidade devem estar centradas no doente José Maria Moreira Apresentação da Sociedade Portuguesa para a Qualidade em Cuidados de Saúde 30 Um outro olhar sobre os cuidados de saúde primários PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO «Chá em Família» é o pretexto para o debate Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos Rua Delfim Maia, 405 – 4200-256 Porto CULTURA Telefone 225070100 32 «No Bolso de Hipócrates – Quem mais jura mais sente» Telefax 225502547 Histórias contadas na primeira pessoa enchem o livro de Moraes Machado 34 «O Porto e a tuberculose. História de 100 anos de luta» REGISTO Livro do pneumologista António Ramalho de Almeida apresentado no CCC Inst. da Comunicação Social, n.º 123481 35 Cores fortes e traços firmes DEPÓSITO-LEGAL n.º A obra do pintor aveirense Júlio Pires despertou atenção 145698/07 36 Adelino Ângelo no Centro de Cultura e Congressos Exposição serviu para prestar tributo ao mestre PERIODICIDADE Trimestral 38 Design português em destaque Mostra colectiva promovida por Isabel Abreu TIRAGEM 39 Existe vida para além dos cifrões 13.000 exemplares Economistas, amantes da fotografia, mostraram o seu talento 40 Grande concerto encerrou mais um Master de Canto REDACÇÃO, COMPOSIÇÃO E MONTAGEM MEDESIGN Mónica Pais já pensa na 3.ª edição Edições e Design de Comunicação, Lda 42 William Somerset Maugham Rua Gonçalo Cristóvão, 347 - s/217 Mais um médico-escritor apresentado por Rodrigo Liberal, Interno do H. S. João 4000-270 Porto 46 Para uma História Médica Portuense Telefone 222001479 Revistas Médicas Portuenses, por A. S. Maia Gonçalves Telefax 222001490 [email protected] 52 3 livros, 3 discos www.medesign.pt As sugestões da Prof.ª Teresa Lago

IMPRESSÃO LAZER Gráfica Maiadouro, S.A. 54 Pousada de S. Bento, um miradouro da Natureza No coração do Parque Nacional Peneda-Gerês 58 Patagónia – uma viagem rumo ao desconhecido Crónica de viagem de Pedro Gouveia, Interno do Hospital Pedro Hispano

INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL 62 Actividades desenvolvidas pela SRNOM 78 Agenda do Centro de Cultura e Congressos 80 Benefícios Sociais NUNO ALMEIDA

CAPA: http://nortemedico.pt 2

nortemédico EDITORIAL

MUDANÇAS EM CURSO

 Em 3 de Maio foi publicado o despacho consequência imediata o aumento da difi culdade 7921/2007 relativo à incompatibilidade do de acesso aos cuidados de saúde com todas as exercício efectivo de funções públicas com o consequências negativas daí decorrentes. Esta si- exercício efectivo de funções de coordenação tuação está a ser motivo de análise pela nossa e direcção em instituições privadas presta- consultora jurídica no sentido do completo escla- doras de cuidados de saúde. Tal despacho vem recimento sobre esta matéria para os potenciais complementar o despacho 725/2007 de 15 de doentes e para os médicos. Janeiro sobre a mesma matéria. É lamentável que o Senhor Ministro da Saúde venha por via de des- pacho contrariar o disposto no Decreto-Lei 73/90  Temos candidato a Presidente da Ordem dos de 6 de Março e na Base XXXI n.º 3 da Lei da Médicos. O colega Miguel Leão apresentou re- Bases de Saúde aprovada pela Lei 48/90 de 24 de centemente a sua fi rme intenção de se sub- Agosto. Lamentável, porque não só constitui uma meter a votos e disputar as eleições para situação de absoluta ilegalidade legislativa, como bastonário. Ainda bem. A Ordem dos Médicos

MIGUEL GUIMARÃES também procura impor o regime de exclusividade necessita com urgência de alguém que possa re- Membro do Conselho Regional de funções públicas a médicos do SNS que não presentar e unir os médicos portugueses. Com do Norte da OM se encontram neste regime por opção, revelando isenção. Com fi rmeza. Com determinação. Com uma completa falta de respeito pelos médicos, inteligência. Com sabedoria. Com arte. É preciso pelo trabalho médico e pelo próprio SNS. Aliás, e alguém que saiba defender os médicos e lutar por a propósito, todas as medidas legislativas mais re- uma medicina de qualidade, mas sem perder o centes no âmbito do SNS e da medicina privada e rumo. Nos últimos três anos os acontecimentos convencionada parecem ter um objectivo comum, na política de saúde sucederam-se uns aos outros: a extinção do SNS. Perante tais medidas, a indig- carreiras médicas em risco de desaparecerem; En- nação e contestação desta política de saúde não tidade Reguladora da Saúde – uma realidade não pode permanecer em estado adormecido. virtual que ameaça todos os médicos e a própria Ordem dos Médicos; as escalas-tipo dos servi- ços de urgência – um despacho de ilegalidades  Foi publicado em 9 de Maio o Decreto-Lei injustifi cadas; a incompatibilidade entre exercí- 181/2007, que altera o regime sobre a justifi ca- cio de funções públicas e exercício de funções de ção de faltas por doença e respectivos meios coordenação e direcção em instituições privadas de prova aplicável aos funcionários e agentes para médicos que não se encontram em regime de da administração púbica central, regional exclusividade – a intenção fi rme de acabar com o e local. O diploma consagra que o único meio SNS e uma ameaça séria ao trabalho/emprego mé- de prova idóneo para justifi car as faltas por do- dico, e muito mais. Os médicos precisam, com ur- ença dos funcionários e agentes da administração gência, de sentir que alguém os defende e se pre- pública é uma declaração emitida por entidades ocupa com eles. É obrigatório ter uma estratégia. competentes do SNS, como é o caso de médicos Que funcione. Que tenha frutos. Que seja fértil. privativos dos serviços que dele disponham, por Estou convicto que com o colega Miguel Leão na médicos de outros liderança da Ordem estabelecimentos dos Médicos sere- públicos de saúde e mos todos mais res- por médicos que te- peitados e os doen- nham acordos com tes melhor tratados, qualquer dos subsis- isto é, a medicina temas de saúde da corre o risco de se administração pú- sentir mais mo- blica. Esta alteração derna, mais pública legislativa tem como e mais liberal. 3

 A actividade cultural do Centro de Cultura e Congressos (CCC) está em fase de estabiliza- ção. Estabilização de imagem e ponto de referência para o mundo das artes. O Centro já vive por si só e é quase paragem obrigatória para quem aprecia as diferentes manifestações artísticas que constan- temente povoam o seu espaço. Um espaço aberto a todos os médicos, mas também a todos aqueles que gostam de viver a arte. A participação de mais cole- gas nas actividades de gestão dos recursos possíveis tem permitido aumentar a qualidade dos eventos realizados. Neste contexto, entre uma boa dezena de actividades programadas até ao final do corrente ano, gostaria de realçar a presença dos Mestres João Cutileiro e Pedro Cabrita Reis com alguns dos seus trabalhos. Estão a ser desenvolvidos dois novos pro- jectos na área cultural: um designado por “leilão dos médicos” que consistirá em “leilão” de obras de arte com venda ou troca de peças entre médicos, a acontecer dois ou três dias por mês; o outro de- signado por “artistas em Portugal” que passará por criar uma base de dados na Internet que permitirá o acesso a obras de arte e respectivos preços médios de artistas, médicos ou não, com raízes no nosso País, podendo vir a constituir uma obra de referên- cia da arte em Portugal. Tome nota.

 O restaurante da Ordem dos Médicos está em grande renovação... para melhor, claro! A renovação envolve as instalações propriamente di- tas, com particular relevo para a qualidade da co- zinha, a imagem global da sala ou salas de jantar, a recuperação do bar, e o aproveitamento de novos espaços físicos virados para o ar livre de encontro à natureza. Esta renovação é acompanhada por uma nova gestão dos serviços de restauração. Neste con- texto, os serviços de restauração funcionam transi- toriamente (até 31 de Agosto de 2007) nas instala- ções do bar do Centro de Cultura e Congressos. No dia 1 de Setembro serão inauguradas as novas ins- talações e consolidada a nova gestão dos serviços. Fique atento à mudança e aos sinais de diferença. Contamos com todos.

Miguel Guimarães 4 ENTREVISTA

MIGUEL LEÃO, CANDIDATO A BASTONÁRIO, PROMETE UMA ORDEM “FIRME” E QUE “DEFENDA OS MÉDICOS”

O LEMA DA CANDIDATURA «A MINHA CANDIDATURA NÃO É «DEFENDER E UNIR OS MÉDICOS». MIGUEL LEÃO SE VAI TRANSFORMAR NUMA CONCORRE A BASTONÁRIO GUERRA NORTE/SUL» COM O OBJECTIVO DE PRO- MOVER A INSTITUCIONALI- ZAÇÃO DO FÓRUM MÉDICO, INCENTIVAR (nortemédico) – Há alguns anos, disse numa en- trevista à Nortemédico que eram necessários REUNIÕES PERIÓDICAS COM OS DOIS SINDI- três motivos para avançar com uma candida- CATOS E COLABORAR ACTIVAMENTE COM tura a bastonário: querer, motivo e reunir apoios. AS ASSOCIAÇÕES SÓCIO-PROFISSIONAIS. Chegou esse momento? (Miguel Leão) – Chegou, talvez por ordem inversa. SÓ ASSIM, ADVOGA, “SE CONSEGUE UNIR Começando pelos motivos, pelos apoios e final- OS MÉDICOS”. NUMA GRANDE ENTREVISTA mente o querer. Os motivos decorrem daquilo que À NORTEMÉDICO, MIGUEL LEÃO EXPLICA AS é o lema da minha candidatura: «Defender e Unir os Médicos». Em segundo lugar, foram reunidos os RAZÕES DA SUA CANDIDATURA, TOMA PO- apoios mínimos, considerados indispensáveis. O SIÇÃO SOBRE OS TEMAS DA ACTUALIDADE querer resulta de um processo de contactos, mas E LAMENTA O QUE CONSIDERA SER AS “DE- o momento não é oportuno para o revelar. Porém, ninguém se candidata empurrado e, por isso, objec- CISÕES DESPROPORCIONADAS” DO MINIS- tivamente também é preciso querer. TRO DA SAÚDE, CORREIA DE CAMPOS. Pegando no lema da sua campanha, acha que os médicos não estão unidos neste momento? nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto Acho que não. A reforma nos Cuidados de Saúde 5

Primários introduziu um ruído entre os médicos nes tem feito tudo aquilo de que é capaz. Contudo, e a falta de concertação dos dois sindicatos, na ne- não me vou pronunciar sobre a sua conduta. Não gociação do acordo colectivo de trabalho, é uma acho que esse seja o motivo da minha candidatura. prova da falta de unidade. A Ordem, em particular o seu presidente, tem a função de unir os médicos, O facto de não estar de acordo com a conduta do ac- principalmente numa matéria em que os dois sindi- tual bastonário, não pesou no avançar da sua can- catos até estão de acordo. Ambos concordam com didatura, posicionando-se como uma alternativa? a necessidade de haver um sistema de carreira que Não sou uma alternativa, até porque fui o primeiro permita a diferenciação técnica dos médicos. As- a anunciar uma candidatura à Ordem dos Médicos. sim, é absolutamente imprescindível que a Ordem, Quanto muito, as candidaturas posteriores são al- em concertação estratégica com os dois sindicatos, ternativas à minha. assuma uma postura de unidade e de consenso, para que os médicos tenham capacidade reivindica- A CANDIDATURA DO DR. tiva. Segundo os estatutos da Ordem, uma das suas finalidades essenciais é fomentar e defender os inte- SILVA SANTOS NÃO DIVIDE resses da profissão médica a todos os níveis. É claro ABSOLUTAMENTE NADA que a Ordem se destina a defender a qualidade da medicina, mas também a defender os médicos. Há Neste momento o Dr. Pedro Nunes ainda não quem, eventualmente, pense que a Ordem apenas anunciou a sua candidatura, mas já existe um se destina a defender a ética e a técnica. segundo candidato no terreno. O Dr. Carlos Silva Santos assumiu-se contra o actual bastonário, Essa avaliação negativa recai sobre o actual bas- mas acabou por considerar que a candidatura do tonário? Dr. Miguel Leão era “mais do mesmo”. Aceita a Relativamente àquela que tem vindo a ser a conduta crítica? do actual presidente da Ordem não tenho dúvidas, Li a entrevista do Dr. Carlos Silva Santos e do meu para citar o meu mandatário da Secção Regional do ponto de vista, estritamente pessoal, até é agra- Sul, Prof. Doutor Bicha Castelo, que o Dr. Pedro Nu- dável. Já tentei telefonar-lhe a agradecer algumas 6 ENTREVISTA

partes da entrevista, que me parecem simpáticas, NÃO SE UNE OS MÉDICOS inclusivamente porque posso subscrever matéria programática que ele defende. Portanto, não vi na COM ATITUDES OSTENSIVAS entrevista do Dr. Silva Santos ao «Tempo Medicina» nenhuma espécie de crítica pessoal. Tem uma opi- Por que decidiu apresentar a sua candidatura no nião que é legítima. O único ponto que não reco- dia 16 de Março, porquê este timing? nheço é quando refere que a minha candidatura se Qualquer candidato deve apresentar-se com tempo pode transformar numa guerra Norte/Sul. Isso não para expor as suas ideias e os seus programas. vai acontecer. Quem não tem meios institucionais para fazer cam- panha, como é o meu caso, e como é o caso do Dr. Esta candidatura é salutar? Silva Santos, tem necessidade de, em devido tempo, É uma candidatura completamente normal, como dar-se a conhecer melhor ao eleitorado médico. qualquer outra que venha a surgir. É uma opção programática, baseada num manifesto que contém De que forma é que se podem unir os médicos? ideias e o importante nestes processos é que os pro- Há várias maneiras de não se unir. Por exemplo, jectos das candidaturas sejam claros. não estando disponível para unir os dois sindicatos e para conversar com os dois ao mesmo tempo. A candidatura do Dr. Silva Santos pode revelar- Não estando disponível para uma concertação es- se, do ponto de vista estratégico, positiva para tratégica com as associações sócio-profissionais, si, nomeadamente pelo facto de poder ajudar a nomeadamente com a Associação dos Médicos de dividir os votos a Sul? Clínica Geral e da Carreira Hospitalar. Não se une O acto eleitoral é um processo normal. Veremos os médicos escrevendo-se, por exemplo, que o en- quais são os resultados da primeira volta para elei- contro da Associação dos Médicos de Clínica Geral ção do presidente da Ordem e, se houver necessi- é uma feira de medicamentos. Não se une os médi- dade, da segunda volta. Naturalmente, havendo cos tendo atitudes ostensivas contra personalidades mais do que uma candidatura há uma maior dis- médicas que, seguramente, também fazem o me- persão de votos. Mas, a não ser do ponto de vista lhor que sabem e o melhor que podem. Não se une aritmético, a candidatura do Dr. Silva Santos não os médicos divulgando o relatório da Inspecção- divide absolutamente nada. Mesmo assim, se divi- Geral de Saúde na comunicação social. Deste ponto dir em termos de ideias, não vem nenhum mal ao de vista, acho que o exemplo institucional tem uma mundo. Cada um tem o seu projecto e isso deve ser aplicação prática, como a institucionalização do encarado como a vida normal da Ordem. Qualquer fórum médico, reuniões periódicas com os dois médico pode ser candidato, no momento e nas cir- sindicatos, colaboração activa com as associações cunstâncias em que entender. sócio-profissionais. Estas são as questões que, do 7

ponto de vista prático, podem promover a união tutos foi metida na gaveta pelo actual presidente da dos médicos. Acima de tudo, é preciso que não exis- Ordem. Do ponto de vista prático, o pedido feito tam atitudes que levem à desunião. pelo actual CNE terminou apenas com a revisão de duas ou três alíneas do regulamento eleitoral. Foi isso que tentou fazer durante o período em Não pode ser assim. É um trabalho que é para se que foi presidente da SRNOM? ir fazendo, com total autonomia desse grupo de Acho que sim. Enquanto fui presidente da SRNOM missão para a revisão do estatuto. Quando esses tentei ter esta atitude e se for eleito presidente da contributos estiverem reunidos, avança-se com a Ordem farei o mesmo e com uma obrigação maior. consulta aos médicos. Sendo o presidente da Ordem um órgão unipessoal, tem de estar profundamente convicto do que vai Quem irá compor esse grupo de missão? fazer. Tem, ainda, de estar profundamente empe- Para a revisão dos estatutos e do Código Deonto- nhado na colaboração entre a Ordem e as associa- lógico haverá um grupo de 10 pessoas que já estão ções que representam os médicos. convidadas, mas cujos nomes não vou divulgar. O que acontece é que encaro as funções de presidente REVISÃO DOS ESTATUTOS E da Ordem como um interpares. O presidente da Or- dem deve ter a função de coordenar uma equipa e, DO CÓDIGO DEONTOLÓGICO por isso, não pode falar nem tratar de tudo. Tem de SUBMETIDA A REFERENDO se rodear de uma equipa para fazer este trabalho.

Já defendeu que a Ordem deve assumir uma se- paração entre o papel político, que é do bastoná- ORDEM DEVE PROMOVER rio, e os papéis fiscal e disciplinar. Se for eleito CRIAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES DE bastonário, avança com a revisão dos estatutos? MÉDICOS POR ESPECIALIDADE O processo de revisão dos estatutos deve ser enca- rado com seriedade e abertura. O que significa que Quais são as prioridades da sua candidatura? não deve ser feito com reservas mentais. Pelo con- É um pouco difícil referir tudo, porque vamos ter de trário, deve ser amplamente discutido e muito parti- andar depressa em várias áreas. Acho que é muito cipado. Caso seja eleito, tenho a intenção de propor importante revitalizar o fórum médico para a união ao Conselho Nacional Executivo (CNE) um grupo das estruturas médicas, é necessário que a Ordem de trabalho, com o objectivo de recolher contributos reivindique a participação, como parceiro, na ne- e promover um debate nacional quer sobre a revisão gociação do acordo sobre o contrato colectivo de dos estatutos, quer sobre a revisão trabalho para os hospitais e, do Código Deontológico. Depois por exemplo, é importante desse debate e desses contributos, retomar o decreto-lei sobre o entendo que deve haver dois pro- Acto Médico. Mas também é jectos finais, permitindo ainda aos importante rever as questões médicos fazer opções sobre pro- relacionadas com o estatuto jectos alternativos. Caso não haja disciplinar dos médicos e a consenso neste grupo de trabalho, lei orgânica da Inspecção-ge- pode haver projectos alternativos ral de Saúde. É ainda funda- que serão aprovados pelo CNE mental que a Ordem assuma e, posteriormente, serão sujeitos a necessidade de promover a referendo. Face à votação que associações de médicos por se verificar, o projecto final será especialidade, de forma a ne- o defendido pela Ordem. O mais gociar com entidades terceiras importante é que o projecto ven- os valores dos Actos Médicos, cedor seja aquele que os médicos em função da qualidade des- querem. ses actos.

Esta revisão é uma prioridade? Em que áreas é que serão É uma coisa que se tem de ir fa- constituídos os conselhos zendo, conjuntamente com muitas consultivos? outras. A pressa pode ser inimiga Haverá dois conselhos con- da qualidade. Convém recordar sultivos que já estão parcial- que a iniciativa de rever os esta- mente constituídos. Haverá 8 ENTREVISTA

litígio não são culpa dos médicos, são resultado das circunstâncias em que os médicos exercem a sua profissão.

Que avaliação global faz do Serviço Nacional de Saúde (SNS), numa al- tura em que tantos apontam para um fim deste modelo? O SNS, seguramente, não está pior, mas é preciso estar-se atento. Diz-se que existem restrições à introdução de novos medicamentos, meios tera- pêuticos... A Ordem dos Médicos não pode contentar-se com o que se diz e deve ter uma atitude pró-activa, em vez de estar à espera das propostas ou iniciativas políticas para responder. Perante este ruído de fundo, deve ser feito um inquérito às unidades hos- pitalares e aos médicos, no sentido de averiguar se estas restrições real- mente existem. Esse relatório deve ser um conselho para o desenvolvimento profissional público e caso se confirme que existem situações contínuo, que será coordenado pelo Prof. Doutor que colidem com o interesse dos doentes, a Ordem José Amarante. Será uma estrutura com uma es- tem a obrigação de fazer uma denúncia pública, tratégia de concertação, de forma a promover a for- responsabilizando a tutela política e os conselhos mação contínua dos médicos, em colaboração com de administração dos estabelecimentos de saúde em os colégios, com as sociedades científicas, as facul- questão pela degradação da assistência aos doentes, dades de medicina e a indústria farmacêutica. O resultante da aplicação de critérios economicistas. segundo conselho destina-se a avaliar as situações de litígio e cujas causas são várias: negligência, erro Já revelou que pretende fazer uma auditoria na- médico, más condições de exercício profissional, cional nesta matéria. Estas denúncias nunca fo- inadaptação ao exercício da profissão. Uma coisa é ram formalizadas? certa, não terá nada a ver com a acção disciplinar. Por enquanto, diz-se. Aliás, o Dr. Pedro Nunes co- O que acontece é que a Ordem tem de medir e con- mentou isso no «Tempo Medicina» há alguns meses. textualizar as causas do litígio, de forma a ter uma Portanto, pelos vistos há algum conhecimento deste acção pedagógica na sua resolução. Este conselho tipo de situações. É preciso clareza. Ou existem ou será coordenado Prof. Doutor Duarte Nuno Vieira. não existem. A melhor maneira de tirar isso a limpo é fazer uma auditoria nacional para averiguar. AUDITORIA NACIONAL ÀS HÁ UM PROBLEMA INSOLÚVEL UNIDADES HOSPITALARES NA MEDICINA GERAL E A criação dos conselhos consultivos será uma FAMILIAR peça fundamental na resolução de alguns dos problemas que os médicos enfrentam actual- A criação das Unidades de Saúde Familiares mente? (USF) é a panaceia dos Cuidados de Saúde Pri- Acima de tudo, é importante abordar estas questões mários? e, mais uma vez, não é o presidente da Ordem ou Há um problema prático que é insolúvel. As pessoas o CNE que vão tratar de tudo. Do ponto de vista têm de perceber que não há milagres e não é possí- conceptual, são duas áreas muito importantes. Uma vel, de um momento para outro, produzir mil médi- que está relacionada com a formação médica e outra cos de família que não existem em Portugal. Trata-se que temos de começar a encarar face à evolução da da única especialidade médica que, realmente, está sociedade, face ao próprio conhecimento e grau carenciada. Mesmo com a reorganização, mesmo de informação que os doentes têm sobre questões com os modelos das USF, não vai ser possível fazê- médicas e potenciam situações de litígio. Usando lo a curto prazo. O sr. ministro da Saúde diz que uma expressão banal, nesta matéria médico-legal as USF são a resolução dos problemas dos utentes não podemos continuar a meter o lixo debaixo do que hoje não têm médico de família. Também não tapete. Temos de o avaliar, de o medir e de o corri- é verdade, porque a «manta» tem uma determinada gir pedagogicamente. É uma obrigação da Ordem dimensão. É preciso ter a coragem política de assu- promover o debate destas questões e o resultado mir que este problema não tem solução, enquanto final vai revelar que, muitas vezes, as situações de não for suprida a carência de médicos de família. 9

Como encara a constituição das Unidades Locais o risco de haver uma desnatação do sistema em ter- de Saúde? mos financeiros, mas também pela possibilidade de Tenho forte reservas, porque não vejo a necessidade discriminação dos doentes. Além disso, a concessão da criação de uma estrutura administrativa para de serviços do SNS a unidades privadas pode vir a melhorar a comunicação entre os hospitais e os introduzir uma fortíssima restrição na formação centros de saúde. Aliás, a única que existe no país, dos médicos internos e na formação contínua dos a Unidade Local de Saúde de Matosinhos, nunca foi médicos especialistas. avaliada por entidades independentes. Em contra- partida, o Hospital de S. José em Lisboa tem circui- O Governo prometeu apostar numa rede de Cuida- tos de comunicação com os centros de saúde da sua dos Continuados. Como avalia a actual situação? área de influência e não precisa de uma ULS para Nesta matéria, a Ordem deve defender a revisão da estabelecer essa comunicação. Parece-me, portanto, legislação dos Cuidados Continuados, de forma a que esta ideia é a criação de mais uma estrutura que a orientação terapêutica dos doentes seja feita administrativa, com o risco, em alguns casos, de por médicos, nomeadamente por médicos fisiatras. acentuar uma cultura hospitalocêntrica que, na mi- Esta é uma questão que não está contemplada na nha opinião, é negativa. legislação que saiu e que, com grande surpresa não foi rejeitada, pelo menos aparentemente, pelo CNE. E quanto à possibilidade de entregar a gestão dos Estranhamente, o Colégio de Medicina Física e Rea- Centros de Saúde às autarquias? bilitação nem sequer foi ouvido. Em segundo lugar, Também tenho fortes reservas, nomeadamente por acho que a Ordem deve estar preocupada com o todos os problemas complexos que as autarquias problema crescente do envelhecimento da popu- enfrentam e tendo em conta a Lei das Finanças lação e, por isso, a Ordem deve ponderar a criação Locais. de uma área de diferenciação técnica, na área dos Cuidados Continuados e Paliativos. SOU COMPLEMENTE CONTRA A CONCESSÃO DE SERVIÇOS A ORDEM TEM TODO O DO SNS A PRIVADOS DIREITO DE APOIAR UMA GREVE MÉDICA Como avalia a actual política hospitalar? Neste caso, o processo tem sido bem pior, quer em Há muito tempo que se tem vindo a alertar para relação à eventual restrição aos meios de diagnós- o perigo do fim das carreiras médicas. Apesar tico e terapêutica, quer em relação à constituição de disso, as políticas têm sido implementadas. equipas de urgência pela limitação do pagamento Ainda é possível dar a volta? de horas extraordinárias, quer em relação à instabi- Acho que sim. O primeiro passo é a Ordem querer lidade profissional pela criação dos contratos indi- intervir no processo do acordo colectivo de trabalho viduais de trabalho e pela ausência de uma carreira para os hospitais. Eu acho que a Ordem deve querer médica. Não considero que haja qualquer diferença intervir, muito embora, até agora, não se conheça se substancial entre os hospitais SA e, agora, os EPE. A quer ou não fazê-lo. Depois de querer, tem de juntar única questão prende-se com o modelo ideológico, os dois sindicatos, de forma a haver uma concerta- uma vez que as Entidades Públicas Empresariais ção. Em terceiro lugar, deve defender o princípio de não permitem a alienação de património. que deve haver uma carreira médica que, indepen- dentemente do número de graus, possa permitir O que pensa das parcerias público-privadas? uma diferenciação técnica. Ou seja, essa carreira Acho que é “wait, and see”. Como já ouvi falar das médica deve ser universal aos hospitais do SNS e, parcerias público-privadas há cinco anos e elas con- desejavelmente, aos hospitais privados, de forma a tinuam em banho-maria, é melhor ver para querer. que haja equivalência de qualificações, permitindo A Ordem deve ter uma atitude de vigilância, através aos médicos circular entre sectores. Além disso, de auditorias clínicas, para evitar a discriminação o modelo de carreira médica deve ter um sistema de doentes. O exemplo inglês das parcerias pú- com valorização do mérito e do desempenho. Fi- blico-privadas foi desastroso em termos financei- nalmente, qualquer modelo de carreira médica não ros e não incluía a gestão clínica das unidades de pode ficar condicionado aos orçamentos clínicos. saúde. Pessoalmente, sou completamente contra a Isto é, a evolução técnica da carreira médica não concessão de serviços do SNS a entidades privadas, pode ficar condicionada ao cumprimento de objec- discordando, por isso, do actual presidente da Or- tivos de poupança nos estabelecimentos de saúde. dem. Não concordo não só por causa de corrermos Portanto, acho que a solução é simples. 10 ENTREVISTA

Se fosse eleito presidente da Ordem dos Médi- não se vê grandes resultados práticos da nova cos, não hesitaria em apoiar uma greve? legislação. A montanha pariu um rato? Seguramente que não. Exactamente porque consi- A grande questão prendia-se com o princípio da dero que a Ordem deve ter uma componente sócio- livre comercialização dos medicamentos não sujei- profissional. A Ordem tem todo o direito e, porven- tos a receita médica fora das farmácias. Sobre esta tura, o dever de, em circunstâncias extremas, apoiar matéria apenas lamento que a Ordem dos Médicos uma greve médica conduzida pelos sindicatos. e o seu presidente não tenham apoiado firmemente, com a excepção do actual Conselho Regional do Uma das críticas que muitas vezes lhe foi apon- Norte, a iniciativa do Governo. Em contrapartida, tada, até como presidente do Conselho Regional também lamento profundamente que a Ordem do Norte, é a tendência para misturar o que é da (com excepção do Conselho Regional do Norte) área sindical com o domínio de intervenção da e o seu presidente não tenha criticado, de forma Ordem dos Médicos. Revê-se nessa crítica? firme, a iniciativa de permitir a instalação de meios Pessoalmente, considero que nunca houve essa mis- auxiliares de diagnóstico e terapêutica nas farmá- tura. Posso, no entanto, dar o exemplo da promul- cias. Mais uma vez acho que a Ordem não pode ser gação da legislação sobre os Centros de Saúde pelo cinzenta e redonda. anterior Governo que gerou uma greve dos médicos de Medicina Geral e Familiar. Se aquela paralisação Como é que tem visto o trabalho da ERS? teve mais êxito, no Norte, pelo facto do Conselho Do trabalho da ERS conheço a cobrança de taxas Regional do Norte, sendo eu o seu porta-voz, se ter e o seu parecer sobre as farmácias, condenando empenhado no seu sucesso, fico muito contente. fortemente o acordo que a ANF fez com o Governo. Quanto ao resto, houve uma iniciativa recente, da PEDIRIA A CONVOCATÓRIA qual se constatou que as unidades privadas de saúde não estão licenciadas. Sobre este assunto, inclusiva- DE GREVE MÉDICA SE A ERS mente, tenho a dizer que se for eleito presidente da PASSASSE A TER COMPETÊNCIA Ordem proporei de imediato ao CNE que suscite DISCIPLINAR SOBRE OS junto da ERS uma fórmula de processo de licen- ciamento em que peritos médicos, designados pela MÉDICOS Ordem e pagos pela ERS, procedam ao licencia- mento das unidades privadas. Nos termos do actual Acha então que essa intervenção é fundamental quadro legislativo acho que a ERS deveria deixar de para a Ordem? existir. Se falarmos em regulação económica, que Admito que a Ordem deva pedir aos dois sindica- foi para isso que se defendeu a sua criação, admito a tos para convocarem uma greve quando estiverem existência de uma entidade deste tipo. Mas estamos em causa aspectos essenciais da profissão médica. num país de sombras. Por exemplo, se uma nova lei-quadro da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) vier a prever que esta O que acha sobre o recente despacho sobre as passa a ter competência disciplinar sobre os médi- incompatibilidades? cos, não hesitaria em pedir aos dois sindicatos uma Foi chão que deu uvas. O sr. ministro da Saúde fez greve médica a nível nacional. um despacho que depois corrigiu, e depois não corrigiu, relativamente ao problema das incompati- Foi um grande defensor da liberalização da bilidades dos médicos no regime público e privado. venda de medicamentos. Contudo, hoje em dia, Mas, curiosamente, ao mesmo tempo que se dá esta sucessão de despachos, o sr. ministro da Saúde publica um decreto-lei, em que as farmácias que estão junto a um deter- minado hospital, portanto privadas, têm um acesso preferencial aos concursos para concessão das farmácias hospitalares. É um paradoxo. Ou seja, no caso dos mé- dicos é incompatível com o interesse pú- blico a acumulação de funções, no caso das farmácias é cultivada a acumulação em nome do interesse público. Portanto, acho que esta questão é uma manifesta hipocrisia. Não considero que a exclusi- vidade seja uma boa solução. Se há provas de corrupção relativamente a eventual trá- fico de influências, a Ordem dos Médicos e a Inspecção-Geral de Saúde devem fun- cionar e os médicos envolvidos devem ser exemplarmente punidos. 11

JOÃO RODRIGUES PENA MINISTRO NÃO FAREI ACORDOS EX-CANDIDATO A BASTONÁRIO NAS SERÁ MAIS PRIVADOS, NEM À MESA DE ÚLTIMAS ELEIÇÕES É O MANDATÁRIO CAUTELOSO RESTAURANTE DAS LISTAS ÀS SECÇÕES REGIONAIS NO QUE DIZ Na qualidade de presidente do Conselho Regio- esde a apresentação da candidatura à E NO QUE nal do Norte sempre teve posições combativas. Ordem dos Médicos, a 16 de Março, D Vai continuar a assumir posições de força, caso Miguel Leão tem vindo a apresentar alguns FAZ dos nomes dos seus colaboradores mais di- seja eleito bastonário? rectos. À Nortemédico, revelou que João Ro- Que avaliação faz Com certeza. Uma das funções do presidente da drigues Pena, ex-candidato a bastonário nas do desempenho do Ordem é que a sociedade e os médicos percebam últimas eleições, será o mandatário das três actual ministro da o que ele diz, percebam o que quer e o que pensa, listas que apoiam a sua candidatura: José Saúde? sob pena de estar a falar para si próprio. A experi- Pedro Moreira da Silva a Norte, Carlos Maia Acho que o ministro ência que tive no Conselho Regional do Norte foi, Teixeira no Centro, e Álvaro Beleza a Sul. da Saúde tem um pro- porventura, mais fácil, porque estatutariamente Para mandatário nacional, Miguel Leão re- havia um órgão de 11 pessoas a decidir. No caso do colhe o apoio de peso do Prof. Manuel Sobri- blema: muitas vezes presidente da Ordem são decisões mais solitárias nho Simões. Do rol de mandatários constam fala mais depressa do ainda os seguintes: Henrique Bicha Castelo que o que pensa. Tem e, neste caso, a componente de decisão pessoal é (zona Sul), Adriano Vaz Serra (zona Centro), tido um conjunto de maior. Mas também assumo o compromisso de que Alfredo Loureiro (zona Norte) Miguel Ma- declarações abominá- só negociarei e só discutirei quando estiver manda- nassas (Medicina Desportiva), Mário Moura veis e desproporciona- tado pelo CNE e para o que estiver mandatado pelo (Medicina Geral e Familiar) Ana Ferreira das e não me parece CNE. Não farei negócios privados com ninguém. (Médicos Internos), Armando Gonçalves que haja uma estra- Não serei o dono da Ordem. (Medicina Hospitalar) Duarte Nuno Vieira tégia coerente no Mi- (Medicina Legal), Mário Pragosa (Medicina É essa a postura que o Dr. Pedro Nunes tem as- Militar), Filipe Caseiro Alves (Medicina Pri- nistério da Saúde. Ou sumido? vada), António Sousa Uva (Medicina do Tra- seja, se procurou esco- balho) e Constantino Sakellarides (Saúde lher um conjunto de Não sei. Estou apenas a dizer que esta será a minha Pública). pessoas para a reforma posição, caso seja eleito presidente da Ordem. Não dos Cuidados de Saúde farei acordos privados, nem à mesa dos restaurantes Primários com empe- e, sobretudo, sem base em documentos. Não haverá nhamento e conhecimento, independentemente de acordos com a Ordem dos Médicos a não ser que se poder concordar ou não com a reforma em curso, estejam fundamentados em documentos e, se for já na área hospitalar, pelo contrário, tem sido um necessário, em actas. desastre. Por isso, acho que não há coerência estra- tégica dentro das políticas do ministério. Por outro NÃO COLOCO A HIPÓTESE DE lado, acho que tem tido uma estratégia errática e NÃO HAVER UNANIMIDADE com falta de coerência nas matérias que abordámos: as incompatibilidades para acumulação de funções NO CNE públicas e privadas no caso dos médicos, a compa- tibilidade no caso dos farmacêuticos; a política de Se tiver posições diferentes de Conselhos Regio- venda livre de medicamentos não sujeitos a receita nais? médica para depois – não sei se terá havido uma Decorre do Estatuto e da Constituição da República estratégia de compensação – ocorrer uma completa que os órgãos têm liberdade de expressão. Respei- cedência à ANF, no caso da concessão de farmácias tarei integralmente. É legítimo que haja posições hospitalares... divergentes e pode haver matéria fundamental e de consciência que leva um Conselho Regional a não Se fosse bastonário da Ordem, poderia condicio- estar de acordo com a posição do CNE. nar o ministro? Acredito que os ministros e os governos fazem E num cenário em que não haja unanimidade no aquilo que os parceiros deixam. Também admito CNE? que em relação aos médicos, o ministro da Saúde Não coloco essa hipótese. Esta é uma candidatura na- teve uma determinada conduta porque teve opor- cional e estou convencido de que as listas que se iden- tunidade para a ter. Tenho a certeza de que se eu for tificam com este tipo projecto sairão vencedoras. ■ o presidente da Ordem e com uma equipa capaz de negociar com o Ministério da Saúde, o ministro será mais cauteloso no que diz e no que faz. 12 ENTREVISTA

ANA AROSO, PRESIDENTE DO CONSELHO DISCIPLINAR REGIONAL DO NORTE, SOBRE OS PROCESSOS DE MÉDICOS CONTRA MÉDICOS

“EXISTEM MAIS QUEIXAS DO QUE SERIA DESEJÁVEL”

ANA AROSO ASSUME-SE COMO UMA QUE TODAS AS DECISÕES SOBRE OS PRO- GRANDE DEFENSORA DOS MÉDICOS. ACTU- CESSOS TÊM DE SER TOMADAS COM BASES ALMENTE, PRESIDE AO CONSELHO DISCIPLI- TÉCNICAS E CIENTÍFICAS E NÃO APENAS NAR DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA COM O CORAÇÃO. ORDEM DOS MÉDICOS. EM ENTREVISTA À

NORTEMÉDICO CONFESSA QUE APRENDEU nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografi a António Pinto 13

ACIMA DE TUDO, SOU UMA Não. Pensava que as coisas fossem mais simples e, de facto, no início do mandato os processos que her- GRANDE DEFENSORA DOS dámos eram mais fáceis de resolver. Actualmente, MÉDICOS temos em mãos processos muito complicados que, para que se tenha uma noção, chegam a ocupar três É médica, ginecologista e obstetra, mas decidiu ou quatro pastas só com documentação. abraçar o desafio de presidir ao Conselho Discipli- nar Regional do Norte. No fim de um primeiro man- Ao assumir a presidência do Conselho Disci- dato de três anos, e apesar do enorme volume de plinar Regional sentiu necessidade de estudar trabalho que este cargo envolve, Ana Aroso aceitou questões jurídicas? o desafio e volta a candidatar-se na lista do actual O conselho tem, na sua composição, o acompanha- presidente da Secção Regional do Norte da Ordem mento de um jurista que, ainda para mais, é uma dos Médicos, José Pedro Moreira da Silva. A Norte- pessoa muito competente pois faz parte deste órgão médico foi conhecer um pouco mais sobre o traba- há anos. Além disso, tenho a sorte de ter uma filha lho que tem sido desenvolvido a nível disciplinar. em Direito, o que acabou por proporcionar a minha ligação a esta área. (nortemédico) – Por que aceitou assumir as fun- ções de presidente do Conselho Disciplinar Re- gional do Norte? AS QUEIXAS PARA ABERTURA (Ana Aroso) – Há já alguns anos que estive para DE PROCESSOS PODEM SER ocupar este cargo. A primeira vez fui convidada, mas optei por não aceitar. Depois, fiz parte de uma FEITAS POR QUALQUER lista que perdeu as eleições e, à terceira vez, as- PESSOA sumi as funções. Julgo que as pessoas que me con- vidaram também acharam que seria interessante ter Qual é o trabalho que é desenvolvido pelo Con- uma mulher na presidência Conselho Disciplinar selho Disciplinar Regional? Regional. Pessoalmente, aceitei o desafio não só O Conselho Disciplinar é constituído por cinco porque estou um pouco mais livre, mas também elementos, dos quais um é presidente e tem voto em porque me quis envolver nas actividades da Ordem caso de empate, e um jurista que dá apoio aos pro- dos Médicos. Afinal de contas, se não colaboramos, cessos. Reunimos mensalmente, para distribuição não temos legitimidade para criticar. dos processos por cada um dos elementos. O nosso trabalho consiste em avaliar eventuais infracções De que forma é que tem desenvolvido este traba- disciplinares, ou seja, o eventual incumprimento de lho na SRNOM? todas as normas dispostas nos estatutos da Ordem Acima de tudo, sou uma grande defensora dos mé- dos Médicos. As queixas, para a abertura de pro- dicos. De uma maneira geral, arquivar um processo cessos, podem ser feitas por qualquer pessoa que pode ser uma grande justiça, porque, muitas vezes, entenda que houve, por exemplo, negligência de um as pessoas que fazem as queixas não têm a mínima médico; uma atitude que opõe um colega a outro; noção do que é uma urgência ou um serviço de um doente que considere que o médico não exerceu atendimento permanente e não o distinguem do plenamente a sua função; entidades públicas por funcionamento de uma consulta regular. Ou seja, causa de atestados médicos ou certidões de óbito... exigem demasiadas coisas que um médico não tem obrigação de fazer. Claro que é doloroso suspender Quais são os trâmites que são desenvolvidos um colega, por exemplo, durante um ano. Eu não desde a abertura de um processo, até à sua con- me imagino nessa situação, pois não sei fazer mais clusão? nada além de exercer medicina. No entanto, todos os Cada caso é um caso. À partida, se a queixa chegar médicos devem analisar constantemente a sua ma- ao Conselho Disciplinar com os factos bem expli- neira de agir, manterem-se actualizados, de forma a cados e os visados bem identificados, iniciamos a prevenir qualquer prática que prejudique o doente. investigação. Em contrapartida, se for necessário perceber melhor sobre quem é que se debruça a Na última conferência de imprensa [n.d.r.: ver queixa, passamos por uma fase de inquérito. A par- notícia nas páginas 26 e 27], alertou para o cres- tir do momento em que se abre o processo, a nossa cimento do volume de processos que têm dado primeira diligência é ouvir a parte sobre a qual recai entrada no Conselho Disciplinar Regional. Es- a queixa, dando a possibilidade de haver defesa das tava à espera de que este cargo pudesse ser tão acusações. Normalmente, esta fase é feita através de trabalhoso? carta. Depois, muitas vezes recorremos aos proces- 14 ENTREVISTA

sos clínicos e aos pedidos AS PESSOAS ESTÃO, CADA dos exames auxiliares de diagnóstico, para ava- VEZ MAIS, CONSCIENTES liarmos as situações. No DOS SEUS DIREITOS caso de haver dúvidas, auscultamos os colégios Como é que explica este aumento sistemático do de especialidade. Pode- número de queixas? mos recorrer à audição de Na minha opinião, as pessoas percebem que existe testemunhas. Feita a aná- uma Ordem dos Médicos que está a actuar e que, lise do processo, o relator por isso, as queixas vão ter um seguimento. É ver- apresenta o caso em reu- dade que os processos são morosos, mas isso tem nião do Conselho para a ver com os procedimentos que são necessários. decisão das medidas a to- Depois das primeiras diligências, no sentido de dar mar. Nesta fase, podemos voz à defesa e de investigar o que se passou, pode optar pelo arquivamento, ser necessário pedir pareces aos conselhos de ética. ou pela aplicação de san- Por outro lado, as pessoas estão, cada vez mais, ções que podem ir desde conscientes dos seus direitos ao nível da saúde, em- a simples advertência, bora também se esqueçam, muitas vezes, dos seus passando pela censura, deveres. Portanto, há posições que necessitam de até uma suspensão. Caso ser limadas. É preciso haver um equilíbrio, mas o réu ou o queixoso não os pequenos erros que temos encontrado não jus- concordem com a deci- tificam o que se tem vindo a dizer de mal sobre a são, pode recorrer para actividade dos médicos e do sistema de saúde. o Conselho Nacional de Disciplina e, posterior- MUITAS VEZES NÃO SE mente, para o tribunal. Esta é uma situação que PROVA QUE HOUVE ocorre, maioritaria- NEGLIGÊNCIA mente, nos casos em que a sentença é a suspensão. Uma das questões que mais se levanta na opi- Nas sanções menos gra- nião pública prende-se com os casos de negligên- ves, como a advertência, cia médica. Esses são os casos mais difíceis de são muito poucos os que fazer prova? decidem recorrer. Existem muito poucas coisas na medicina que têm apenas um só caminho para percorrer. Um mé- QUEIXAS ESTÃO A TER dico pode fazer uma avaliação de um doente de várias maneiras. Um primeiro diagnóstico pode SEGUIMENTO ser alterado após a avaliação dos exames efectuadas posteriormente. No fundo, são situações que po- É possível dizer, em média, quanto tempo de- dem conduzir a um diagnóstico incorrecto, mas não mora a análise de um processo? estamos a falar de um erro grosseiro ou negligência Imenso. Basta olhar para os números. Em 2005, en- médica, apesar da versão oposta do doente. A ver- traram 108 processos que se juntaram aos 143 já em dade é que recebemos muitas queixas onde se pode curso. Nesse ano, ficámos apenas com 43 processos provar que não houve negligência. resolvidos. Isto é, que foram arquivados, ou houve aplicação de pena, sem recurso da decisão. Existem muitas queixas de médicos contra mé- dicos? Na conferência de imprensa evidenciou que só Mais do que seria desejável. Mas para que um mé- em 2006 o número de processos quadriplicou, dico participe de outro é porque se sente terrivel- comparativamente com o ano anterior. Esta ten- mente ofendido e tem de haver um acumular de dência mantém-se? tensão que só é resolvida com a apresentação de Exactamente. Com base nos últimos dados, nos pri- uma queixa. É uma pena que isto aconteça, nome- meiros quatro meses de 2007 entraram 78 proces- adamente porque poderiam ser assuntos resolvidos sos e, portanto, temos um total de 644 processos a localmente, sem haver a necessidade de chegarem à decorrer. Outra das curiosidades é que, ao contrário Ordem dos Médicos. do que aconteceu no ano passado em que a grande maioria das queixas teve origem nas câmaras muni- Ao julgarem colegas de profissão, não teme que cipais do Porto e da Maia e no Ministério da Educa- sejam considerados «juízes em causa própria»? ção, devido a alegados atestados médicos falsos, esta O trabalho que é desenvolvido pelos conselhos dis- nova vaga de queixas que deram entrada desde o ciplinares da Ordem dos Médicos tem por base início deste ano prende-se com questões inerentes à avaliações técnicas muito rigorosas, nomeada- relação médico/doente e com a negligência médica. mente, como já referi, a auscultação, em determi- 15

nados casos, dos colégios da especialidade. Numa cessos era defender imediatamente o médico. Agora situação em que temos de avaliar a actuação de um não é assim. Percebi que, primeiro, é preciso anali- colega que conhecemos melhor, ou num caso em sar e ver realmente o que se passou. Não há dúvida que existe alguma afectividade, temos o cuidado de de que quando há um processo que é resolvido, entregar o processo a outro elemento do conselho. sentimos que foi feita justiça. É o momento em que Eu, por exemplo, nunca aceito casos relacionados percebemos que o trabalho que levamos para casa é com a especialidade de obstetrícia-ginecologia, pois recompensado. seria muito difícil para mim ser imparcial em relação aos RECANDIDATURA colegas. É mais fácil tomar uma decisão com base nos PARA MAIS TRÊS pareceres técnicos a quem ANOS está um pouco de fora do stress das situações. Considera que é importante haver uma certa continuidade TRIBUNAIS neste tipo de cargos? Sim. Estamos três anos no cargo e NUNCA quando, finalmente, começamos CONTRARIARAM a perceber como é que as coisas DECISÕES DA funcionam, e a desvalorizar por- menores desnecessários para ORDEM completar o processo, acabou o mandato. Além disso, é necessário A verdade é que os estatu- haver uma harmonização de crité- tos permitem que os visa- rios e procedimentos transversais dos possam recorrer das a todos os conselhos disciplinares. decisões dos conselhos Neste contexto, estamos a pensar disciplinares, primeiro do em organizar uma reunião a nível regional e depois do na- nacional, com todos os elementos cional, para os tribunais dos conselhos, com o objectivo de civis. Este trabalho não se obtermos um consenso, ao nível pode tornar um pouco in- das aplicações das penas. Outro grato? dos temas a debater é a necessi- Não. Dando o exemplo de um caso recente, que dade de perceber como é que podemos agir mais apareceu nos jornais, a Ordem decidiu suspender rapidamente, para que não se acumulem tantos por dois anos um médico que, paralelamente, está processos. Contudo, é preciso sublinhar que, mui- a ser julgado em tribunal pelo crime de homicídio tas vezes, os processos não estão parados por nossa por negligência. Neste sentido, podemos continuar causa. Existem situações em que temos de ficar à a suspender o médico, mesmo quando ele ficou espera de pareceres do tribunal, ou das conclusões ilibado no tribunal, porque consideramos que ele da investigação da Polícia Judiciária. não utilizou todos os critérios de que dispunha para a avaliação correcta da doente. Portanto, os médicos Pensa que seria importante alargar o número de podem ser criticados e julgados por não cumpri- elementos que compõem os conselhos discipli- rem os estatutos aprovados da Ordem dos Médicos, nares? embora a nível dos tribunais civis possamos ser É um pouco complicado, porque o número de pro- ilibados, por outras razões. Por enquanto, nunca cessos é muito variável de região para região. O houve qualquer caso em que o tribunal fosse contra Norte é, sem dúvida, aquele a que têm chegado uma decisão dos conselhos disciplinares da Ordem mais queixas. Aquilo que defendo é que os estatutos dos Médicos. terão de ser revistos e, talvez, além de aumentar o número de elementos dos conselhos disciplinares, Aceitou voltar a concorrer à presidência do Con- poderia pensar-se numa eventual dispensa do ser- selho Disciplinar Regional. Porquê? viço. É preciso dizer que todo este trabalho é feito Aceitei e espero que os colegas votem em mim. em regime de voluntariado pós laboral que, conse- Sinto que, actualmente, tenho mais maturidade quentemente, tira horas à família. ■ para perceber os processos. Confesso que, no início, a minha primeira reacção quando recebia os pro- 16 ENTREVISTA MARLENE LEMOS ALERTA PARA OS PROBLEMAS DA MEDICINA GERAL E FAMILIAR

NÚMERO CLAUSUS “DEVERIA SER AUMENTADO EM 50 POR CENTO”

A CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE FA- TENDO EM CONTA A ESTIMATIVA DE QUE 70 MILIARES ESTÁ A RECOLHER OS APLAUSOS POR CENTO DOS MÉDICOS DESTA ÁREA SE DOS MÉDICOS. MARLENE LEMOS, QUE IN- IRÃO REFORMAR NA PRÓXIMA DÉCADA.

TEGRA O CONSELHO REGIONAL DO NORTE nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto DA ORDEM DOS MÉDICOS, ADVOGA QUE (nortemédico) – Os Cuidados de Saúde Primá- OS CLÍNICOS ESTÃO MOTIVADOS PARA ME- rios sempre foram considerados como o pilar LHORAR OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁ- central do sistema. Contudo, ao longo dos anos RIOS, MAS ALERTA PARA A NECESSIDADE DE tem havido várias queixas de que este sector da saúde tem sido esquecido pelos sucessivos go- ACOMPANHAR E AVALIAR A REFORMA EM vernantes. Considera que esta reforma que está CURSO. ALÉM DISSO, CHAMA TAMBÉM A a ser levada a cabo vai, finalmente, melhorar os ATENÇÃO PARA A IMPORTÂNCIA DE “AU- problemas de Medicina Geral e Familiar? (Marlene Lemos) – Penso que sim. São reformas MENTAR O NÚMERO DE VAGAS NA ESPECIA- positivas, mas que demoram a dar resultados. Cá LIDADE DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR”, estaremos para ver. 17

IMPLEMENTAÇÃO MARLENE LEMOS da população, por vezes por DAS USF PODERÁ SER deficiente informação ou má médica especialista em formação; e com o facto da po- BEM SUCEDIDA Medicina Geral e Fa- pulação portuguesa estar mais Émiliar, com o grau de alertada para os seus direitos O que pensa do projecto de cria- consultora, função que exerce do que para os seus deveres, ção das Unidades de Saúde Fami- no Centro de Saúde da Maia e enquanto utentes do SNS, liares (USF)? Águas Santas. É coordenadora motivando comportamentos Intrinsecamente, é uma atitude médica na sede do Centro de agressivos em relação aos es- Saúde, na Maia. Além disso, positiva pelo facto de não ser im- pecialistas em Medicina Geral pertence ao Conselho Regional posta. Ou seja, os médicos aderem do Norte, é membro da direcção e Familiar. Por outro lado, o livremente e têm a possibilidade de do Colégio de Especialidade de envelhecimento dos profissio- escolher os membros da sua equipa. Medicina Geral e Familiar da nais e a consequente reforma Além disso, não há utentes sem mé- Ordem dos Médicos e da ADSO de cerca de 70 por cento dos dico e o trabalho dos profissionais – Associação dos Docentes e médicos que se encontram no é executado por incentivos, com Orientadores de Medicina Geral activo, nos próximos 10 anos, cumprimento dos indicadores a que e Familiar. é também um dos factores que se propõem. No entanto, só numa afectará a especialidade de avaliação posterior se poderá avaliar Medicina Geral e Familiar. se haverá, ou não, benefícios. De que forma é que esses Como analisa a forma como o pro- problemas podem ser corri- cesso das UFS está a ser imple- gidos? mentado pela Unidade de Missão, A motivação para a especia- liderada pelo Dr. Luís Pisco? lidade de Medicina Geral e Penso que, pela forma como está a Familiar deve começar junto decorrer, e conhecendo o Dr. Luís dos alunos das faculdades de Pisco, acredito que levará a bom medicina. Neste contexto, o termo o processo das USF. Tem de número de vagas para a espe- lhe ser dado um voto de confiança e, cialidade de Medicina Geral diria mesmo, os parabéns pela forma e Familiar deve aumentar em como tem conduzido a Unidade de cerca de 50 ou 60 por cento. Missão, até ao momento presente. Paralelamente, no ano co- Contudo, todo este processo é dinâ- mum, o internato em Medi- mico e terá de ser acompanhado e avaliado. cina Geral e Familiar deverá ser de, pelo menos, quatro anos, como defende o Colégio de Especia- Acha que os profissionais de saúde, designada- lidade e, finalmente, deve haver um reconheci- mente os médicos, têm tido uma participação mento público da importância da Medicina Geral activa na reforma dos Cuidados de Saúde Pri- e Familiar. mários e estão motivados para esta nova etapa? Penso que sim. Todos estão motivados para as mu- Qual o futuro dos Cuidados de Saúde Primá- danças operadas nos Cuidados de Saúde Primários, rios? bem como para a melhoria desses mesmos cuida- Como se sabe, a saúde em qualquer país desenvol- dos. vido e civilizado terá de assentar, forçosamente, numa boa rede de Cuidados de Saúde Primários, ENVELHECIMENTO DOS com profissionais mais treinados, motivados e com boas condições de trabalho para o desempenho da MÉDICOS DE MEDICINA GERAL sua profissão. Atendendo a todos estes parâmetros, E FAMILIAR É UM PROBLEMA a Medicina Geral e Familiar será sempre uma medi- cina de primeira linha. ■ Quais são os principais problemas que, actual- mente, afectam a Medicina Geral e Familiar? Há muitos. Mas os principais estão relacionados com a não existência de especialistas de Medicina Geral e Familiar, para toda a população; com a existência de um consumismo exagerado por parte 18 ENTREVISTA NOVO SITE DA SRNOM À DISTÂNCIA DE UM CLICK

PORTAL ASSUME IMAGEM INOVADORA E COM MAIS FUNCIONALIDADES

WWW.NORTEMEDICO.PT. O ENDEREÇO ACESSO MAIS RÁPIDO À ELECTRÓNICO É O MESMO, MAS O SITE DA INFORMAÇÃO SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS (SRNOM) MUDOU DE IMA- (nortemédico) – Cinco anos após o lançamento GEM... E DE FUNCIONALIDADES. COM NO- do portal da Secção Regional do Norte da Or- dem dos Médicos, o sitio www.nortemedico.pt VAS CORES E SERVIÇOS COMPLEMENTARES, aparece com uma nova imagem. Qual foi o ob- OS MÉDICOS PASSAM A DISPOR DE UM POR- jectivo? TAL MAIS MODERNO E DINÂMICO, ONDE, (Miguel Guimarães) – A mudança teve a ver com a actualização dos conceitos e normas ao nível da BREVEMENTE, PODERÃO, POR EXEMPLO, imagem e dinâmica de um portal. As plataformas PAGAR AS SUAS QUOTAS. TUDO PELA IN- web têm mudado rapidamente, na medida em que TERNET, COMO CONTA O COORDENADOR há novas formas de funcionamento das estruturas próprias da Internet que permitem uma transfor- DO PROJECTO, MIGUEL GUIMARÃES. mação cada vez maior. Ao nível da imagem, o an-

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto tigo site tinha muita cor. Actualmente, optámos por cores mais sóbrias e que se adequam mais aos utilizadores. Em termos de mais-valias, comparati- vamente com o anterior, este site disponibiliza um webmail mais moderno, nomeadamente por causa das funcionalidades que oferece, como a agenda que 19

permite a qualquer médico fazer uma gestão diária uma questão, por exemplo, com a qual tínhamos dos mails que recebe. Além disso, o novo portal tem um problema, no portal anterior. Tentámos, por ainda por objectivo fornecer conteúdos mais ágeis, isso, melhorar o acesso em tudo o que esteja rela- de forma a que os utilizadores possam ter acesso cionado com documentos oficiais e digam respeito mais rápido à informação que procuram. aos médicos e, actualmente, 24 horas após ter sido publicado, o decreto-lei fica acessível no nosso site. Que tipo de informação disponibiliza o novo Por fim, temos acessível toda a informação institu- site? cional, que se divide em dois vectores: informação O portal vai ter um modo de funcionamento muito da direcção da SRNOM sobre as iniciativas que vai semelhante ao anterior e assenta, basicamente, em promovendo e as decisões que vai tomando, quer ao três níveis. O primeiro é referente a uma área aberta nível da política da saúde, quer ao nível de funcio- à população em geral. Ou seja, qualquer pessoa namento da estrutura. pode ter acesso a informação genérica sobre a SR- NOM e sobre notícias médicas. Existe uma segunda área, restrita a médicos, na qual existem vários as- VAMOS POUPAR MUITO suntos que podem ser explorados, desde a intranet, DINHEIRO às informações relacionadas com a profissão mé- dica, designadamente decretos-lei e portarias que Para quando a disponibilização de serviços ad- vão sendo publicadas no Diário da República. É im- ministrativos online para os médicos? portante que esta informação esteja imediatamente É um projecto que queremos implementar a muito online, para que os médicos possam ter acesso aos curto prazo. Ainda no decorrer deste ano, queremos documentos o mais rapidamente possível. Esta era que passe a ser possível que os médicos paguem 20 ENTREVISTA

REGISTAR-SE NO O antigo portal, na minha opinião, não era muito procurado por médicos, apesar de ter um número NOVO PORTAL É de entradas diárias muito significativas. Tínhamos EXTRAORDINARIAMENTE cerca de 500 visitas por dia e entre as informações SIMPLES mais procuradas encontravam-se questões relacio- nadas com os colégios da especialidade, acesso a as suas quotas via Internet. No entanto, é também documentos oficiais e até a Nortemédico online. nossa intenção vir a disponibilizar outro tipo de Agora, já temos mais visitas diárias, até porque o serviços de secretaria online. Neste contexto, es- site actual está mais virado para os médicos do que tamos também a dar formação aos colaboradores propriamente para a população em geral. A verdade da SRNOM, no sentido de saberem como podem é que temos tido uma grande adesão, desde que trabalhar com o portal. É que ao disponibilizarmos apareceu a nova imagem. Em duas semanas tive- serviços administrativos pela Internet, não estamos mos 1400 médicos inscritos no portal, ou seja cerca apenas a agilizar processos. Estamos, também, a de 10 por cento dos médicos do Norte, mais do poupar muito dinheiro, inclusivamente com a redu- que tínhamos no anterior. De qualquer das formas, ção dos custos ao nível do papel. gostaria de alertar para o facto de, neste momento, ainda não estar disponibilizada toda a informação De que forma é que os médicos podem registar- online que havia no portal anterior. Existem muitos se em www.nortemedico.pt? documentos que ainda estão a ser introduzidos na É extraordinariamente simples, bastando que sigam nova plataforma web. ■ as indicações. Aliás, o registo actual ainda é mais fácil de obter do que o anterior. Quando criámos o site, há cinco anos, enviámos uma carta a todos os médicos do Norte, dando conhecimento do portal e incentivando-os a inscreverem-se. Neste momento, temos condições para enviar directamente a cada médico o seu login e a sua password, que podem ser alteradas posteriormente. Basta, depois, que as activem. Talvez por ser tão fácil é que já consegui- mos obter imensos registos de médicos, num curto espaço de tempo. O sítio, refira-se, mantém funcio- nalidades anteriores, designadamente o facto do médico poder colocar informação, como comentá- rios, acrescentar actividades, sugerir links, marcar reuniões, entre muitas outras coisas.

NÚMERO DE ENTRADAS DIÁRIAS É SIGNIFICATIVO

Como é que tem sido, ao longo desta últimos cinco anos, o registo de procura do portal da SRNOM? ENTREVISTA 21

CURSO «A GESTÃO DAS UNIDADES ESTRATÉGICAS NAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE»

SOMOS MUITO POBRES NA FORMAÇÃO EM GESTÃO NA SAÚDE

A SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM CENTRALIDADE DE ATENÇÃO DOS MÉDICOS VAI PROMOVER UM CURSO NOS SERVIÇOS E UNIDADES SUBORDINADO AO TEMA «A GESTÃO DAS NUCLEARES DOS HOSPITAIS UNIDADES ESTRATÉGICAS NAS ORGANIZA- (nortemédico) – No actual cenário, em que estão a ÇÕES DE SAÚDE». O RESPONSÁVEL PELA aparecer as Unidades de Saúde Familiares e está FORMAÇÃO SERÁ MÁRIO JORGE DE CAR- em prática um modelo empresarial nos hospi- tais, este tipo de formação em gestão nas organi- VALHO, ECONOMISTA QUE VAI DEIXANDO zações de saúde assume que tipo de importância UM AVISO: “NÃO É POSSÍVEL OS MÉDICOS para os médicos? ABDICAREM OU SEREM SUBSTITUÍDOS NA (M. Jorge de Carvalho) – A riquíssima experiência profissional que adquiri ao desempenhar funções EFECTIVA E PRÓ-ACTIVA LIDERANÇA DOS executivas de administração numa das maiores SERVIÇOS E UNIDADES ESTRATÉGICAS NA organizações de saúde portuguesas e o posterior SAÚDE”. acompanhamento muito próximo da evolução do sector (realizando dezenas de entrevistas a dife-

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto rentes operadores e recolhendo toda a informação disponível) levaram-me a fixar um quadro rigoroso de condições nucleares para o que qualifico de re- fundação gestionária da saúde em Portugal, em par- 22 ENTREVISTA

ticular nos grandes hospitais do do mínimo indispensável para dominar a termi- SNS e nos cuidados primários. nologia, as ferramentas e as metodologias. Esta é a A primeira é o que chamaria terceira condição. O médico tem também de deixar do retorno ao básico, isto é, à de fingir! Meio quilo de seriedade, umas pitadas de centralidade de atenção nos ser- cara feia, muitos litros de jogo de cintura, quanto viços e unidades nucleares dos baste de lobiismo e tráfico de influência, alguma hospitais. Há alguns meses, o auto-suficiência aparente e já está! Foi, talvez, uma ministro da Saúde considerou receita que já funcionou mas, definitivamente, não que os serviços hospitalares, os hoje. O médico, na sua qualidade indeclinável de lí- centros de saúde e todas as ou- der de um serviço ou unidade estratégica, precisa de tras unidades nucleares do sis- conhecer as ferramentas, sistemas e metodologias tema eram “pontos de enlace” básicas para as saber gerir estrategicamente e de e “de encontro” do doente com avaliar em permanência o respectivo desempenho. o sistema – e reproduzo textu- almente o que ouvi. Na minha Foi perante esta lacuna que consideraram que opinião, o caminho a percorrer seria uma aposta ganhar avançar com um curso é exactamente no sentido con- «A Gestão das Unidades Estratégicas nas Orga- trário desta visão, quase diria, nizações de Saúde»? estalinista do sistema. As uni- Ao fim de perto de seis meses de trabalho árduo, dades nucleares do sistema são com uma equipa multidisciplinar de colaboradores, a base, o sustento e o efectivo investigámos, entrevistámos, planeámos e, final- núcleo de desenvolvimento mente, desenhámos e implementámos um curso das organizações hospitalares. de formação especificamente dirigido a médicos, Há dois segredos muito bem directores e chefes de serviço hospitalar e respon- guardados na nomenclatura da sáveis ou potenciais responsáveis intermédios de saúde em Portugal: o primeiro unidades estratégicas de saúde que aceitassem, se é de que a soma das partes nas assim posso dizer, algumas regras de jogo na res- organizações hospitalares vale, pectiva apresentação. obviamente, muito mais que o todo (hospital). Isto é, se, por OS MÉDICOS PRESENTES absurdo, o Estado fizesse o respectivo spin-off ga- nharia uma fortuna. VÃO TER ALGUMAS CRÍTICAS FEROZES Porquê? Exactamente porque o acrescento de valor dos ac- Quais os grandes objectivos a que se propõe este tivos intangíveis faz-se, naturalmente, nos serviços curso? e não na estrutura mastodôntica que lhes serve de Em primeiro lugar, o curso é para os clínicos e para chapéu-de-chuva. O segundo segredo é que temos, os economistas da saúde que adoram reproduzir, no nosso país, excelentes centros de formação e perante iniciados, toda aquela terminologia hermé- investigação em economia da saúde e somos pau- tica e desconhecida dos clínicos. O objectivo último pérrimos na formação em gestão na saúde. Quem é divulgar algumas boas práticas em gestão especi- está de fora ou sempre viveu dentro, não sabe, não ficamente orientadas e dirigidas para os serviços e nota ou não distingue. Quem chega ao SNS com unidades estratégicas na saúde. Não vamos discutir alguma experiência profissional de gestão conclui, direito, finanças, estatística, fármaco-economia ou facilmente, que essa é uma das suas piores pechas. qualquer outra área correlativa – gestão estratégica A segunda condição é que não é possível os médicos e avaliação de desempenho. Em segundo lugar, os abdicarem, ou serem substituídos, na efectiva e pró- médicos presentes têm que me aturar pessoalmente activa liderança dos serviços e unidades estratégicas em algumas críticas ferozes. Não se compreende na saúde. Não é de todo possível, e muito menos por nem se pode aceitar, por exemplo, o défice de co- gestores profissionais. É o médico – e só o médico! municação horizontal e vertical no relacionamento – quem pode combater o centralismo das soluções dentro/entre serviços e unidades estratégicas. gestionárias “one-size-fits-all”; é o médico – e só o médico! – que tem as competências necessárias e Considera que esse é um dos grandes proble- suficientes para identificar e gerir as especificidades mas? na gestão corrente dos serviços, dando-lhe a visão Não percebo por que o médico não reflecte (ou, pelo de liderança que, na generalidade, lhes falta. menos, não divulga) a sua visão de líder dos servi- ços. Em terceiro lugar, há que acabar com o mito De que forma é que é possível dar essa visão aos de que, na medicina e em princípio, somos todos médicos? “igualmente” diferenciados e muito competentes. O médico não nasce ensinado, nem infelizmente No fundo (e aqui antecipo uma das noções fortes se soube incluir nos respectivos planos correntes do curso), o que nos é pedido para fornecer: exce- de formação académica o que se poderia chamar lentes produtos e serviços ou produtos e serviços de 23

excelência? Aqui está mais um saúde internacionais mais exemplo em que se surpreende, M. JORGE DE evoluídos do mundo. naturalmente, quem se con- CARVALHO fronta pela primeira vez com a Que tipo de reacções alternativa. O curso baseia-se, oi, durante dois anos, Adminis- tem obtido com esta for- assim, na definição básica uni- trador Delegado e Executivo do mação? Hospital de S. João. Actualmente, versal da SBU’s (Strategic Bu- F Neste momento, estou a é consultor e docente em estratégia em- siness Unit), aplicada directa e presarial e corporativa e será nesta quali- finalizar uma acção de especificamente à saúde e suas dade que vai promover na Secção Regio- formação dupla com pre- organizações e à capacidade nal do Norte da Ordem dos Médicos o cisamente este mesmo – que diria ser uma obrigação, curso «A Gestão das Unidades Estratégi- plano de curso no IPO do uma necessidade, uma exigên- cas nas Organizações de Saúde». Natu- Porto, envolvendo algu- cia de sobrevivência – de criar ral de Lisboa, licenciou-se na Faculdade mas dezenas de médicos. de Economia da Universidade do Porto, técnicas e sistemas de avaliação Considerando a conjun- e fez uma pós-graduação em Finanças em termos estratégicos. Empresariais. Tem pendente o processo tura vivida, o generali- para a obtenção do grau de mestre em zado desânimo no sector Mas essa questão, normal- Ciências Empresariais. e a permanente e inquie- mente, também costuma le- tante presença do cons- vantar alguns problemas? trangimento orçamental Sim, temos sempre alguns na gestão corrente, julgo, problemas, quando aqui che- apesar disso tudo, que gamos. Em primeiro lugar, por- está a correr muito bem. que está enraizada a ideia que Mas este é, em defini- a estratégia cabe por exclusivo tivo, um projecto a longo aos crânios coroados das diver- prazo, estruturante e, em sas macro-estruturas na saúde. certo sentido, até fractu- Não só não é verdade como a rante da mentalidade po- fazê-lo, e na minha opinião, liticamente correcta que iremos sempre num sentido prevalece no sistema. errado. É impossível a uma ad- ministração hospitalar poder Como é que surgiu a ser igualmente eficaz na imple- ideia de fazer este curso mentação e controlo de execu- na Secção Regional do ção estratégica em todos os seus Norte da Ordem dos Mé- serviços e unidades nucleares. dicos? Em segundo lugar, o peso ope- A determinada altura e racional na visão do líder é, por contra a opinião de al- vezes, demasiado forte. Daqui guns, entendi que valia a o curto-termismo, o facilitismo pena requerer a acredita- da “navegação à vista” sob pena ção formal da Ordem dos de, de facto, entregar por inteiro aos burocratas e Médicos para este curso e o respectivo programa. políticos a definição integral da estratégia. Como sou teimoso, não desisto facilmente. O presi- dente do Conselho Regional do Norte e o Dr. Miguel ESTE É UM PROJECTO Guimarães foram inexcedíveis no apoio e incentivo nessa fase do processo, e com dificuldade lhes po- ATÉ FRACTURANTE derei agradecer suficientemente essa ajuda. Com DA MENTALIDADE toda a naturalidade, dentro das nossas conversas, POLITICAMENTE CORRECTA nasceu a ideia de se fazer uma edição do Curso na Secção Regional do Norte. ■ Qual é a duração deste curso? Em síntese, o plano do curso é de 28 horas de for- mação, distribuídas por dois fim-de-semana em que vamos desenvolver o que considero serem as melhores, mais testadas e reconhecidas práticas na gestão das unidades e serviços nos sistemas de 24 NOTÍCIAS

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA [26. FEV. 2007]

CONSELHO DISCIPLINAR REGIONAL ACTIVO PROCESSOS AUMENTARAM EM 2006 DEVIDO A QUEIXAS DE ENTIDADES PÚBLICAS

AS SUSPEITAS DE ATESTADOS FRAUDULEN- 614 TOS FIZERAM AUMENTAR O NÚMERO DE PROCESSOS QUEIXAS QUE CHEGAM AO CONSELHO DIS- EM CURSO CIPLINAR DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE

DA ORDEM DOS MÉDICOS (SRNOM). SÓ EM O actual Conselho Disciplinar Regional tem 614 2006, O NÚMERO DE PROCESSOS QUADRU- processos em curso, depois de no ano passado ter PLICOU COMPARATIVAMENTE COM O ANO concluído 40 casos. Apesar de muitas das queixas terem sido herdadas da gestão anterior, 2006 acaba ANTERIOR. OS CONFLITOS ENTRE MÉDICO E por marcar um signifi cativo acréscimo de trabalho DOENTE SÃO OUTRA CAUSA DAS QUEIXAS. para este organismo da SRNOM. As queixas contra clínicos chegaram ao Conselho Disciplinar Regio- nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografi a António Pinto 25

ATESTADOS DE Igualmente motivo de reclamação é a COMPLACÊNCIA negligência médica, SÃO A PRINCIPAL muitas vezes ocor- RAZÃO DAS rida em serviços de urgência. As especia- SANÇÕES lidades mais suscep- DISCIPLINARES tíveis a estas queixas são a Clínica Geral, nal em força e, de acordo com Obstetrícia e Psi- a presidente daquele órgão quiatria. Contudo, disciplinar, Ana Aroso, “têm realçou a presidente sido muitos os processos” re- daquele órgão dis- cepcionados. ciplinar, muitas das As denúncias de entidades queixas consubs- públicas, como as autarquias tanciam problemas ou o Ministério da Educação, de funcionamento têm feito engrossar o rol de dos serviços e não casos: em 2005 houve apenas negligência dos mé- lugar a 108 processos disci- dicos. “Não estamos plinares autuados, enquanto perante negligência que em 2006 foram apresen- médica, mas apenas tadas 410 queixas. Destas, cumprimento da lei 266 referem-se a atestados que está estabele- médicos que se suspeita frau- cida”, sustentou Ana dulentos. Aliás, “os atestados Aroso. de complacência” são igual- O Conselho Disci- mente a principal razão das plinar Regional fun- sanções disciplinares aplica- ciona como um tri- das, havendo mesmo situações de “reincidências”, bunal de primeira instância. O veredicto é baseado notou Ana Aroso numa conferência de imprensa na análise de provas e inquirição de testemunhas, onde também esteve presente o presidente do Con- podendo ser contestado com recurso para o Conse- selho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, lho Nacional de Disciplina da Ordem dos Médicos. José Pedro Moreira da Silva. Da decisão dessa instância, por seu turno, pode haver recurso aos tribunais. NEGLIGÊNCIA MÉDICA… OU DIFICULDADES CUMPRIMENTO DA LEI DE GESTÃO

As penas de advertência, censura e suspensão são as Ana Aroso reconhece que a análise dos processos mais utilizadas, sendo poucos os casos que culmi- torna-se, a maior parte das vezes, muito demo- nam com a expulsão. Em 2006, por exemplo, além rada. “É preciso pedir pareceres aos colégios da dos 35 processos em que não foram encontradas pro- especialidade, aos tribunais...”, enumera, alegando vas de culpa e, por isso, arquivados, houve um caso ainda que tem havido mais processos a enviar ao de advertência, um de censura, uma suspensão por Conselho Nacional de Disciplina e muitos deles dois meses, outra por um ano e uma por um período a tribunal, pelo facto dos visados não concorda- de seis meses, com pena acessória de publicidade. rem com o veredicto. Neste contexto, o Conselho Disciplinar Regional está a começar a analisar os RELAÇÃO processos que deram entrada em 2005. Quanto aos MÉDICO/DOENTE do ano passado, explicou Ana Aroso, “muitos deles começaram agora a ser avaliados, enquanto outros Muitas das queixas que chegam ao Conselho Disci- aguardam a vez de distribuição ao relator”. O Con- plinar Regional estão ainda relacionadas com situa- selho Disciplinar, recorde-se, é apenas composto ções em que o doente exige procedimentos clínicos por cinco elementos, e reúne mensalmente. ■ não previstos nos serviços de urgência. 26 NOTÍCIAS

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA [05. ABR. 2007]

CANDIDATO A BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS, MIGUEL LEÃO AVALIA TEXTO LEGISLATIVO

MODELO DAS UNIDADES DE SAÚDE FAMILIAR POSITIVO, MAS... COM FALHAS

O MODELO DE CRIAÇÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE FAMILIARES (USF) É “GLOBALMENTE POSITIVO”, MAS CARECE DE ALGUNS AJUS- TES. A ANÁLISE PARTIU DO CANDIDATO A BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS MIGUEL LEÃO, CUJO UM DOS PRINCIPAIS RECEIOS RESIDE NO FACTO DA ADESÃO VOLUNTÁRIA PODER VIR A RESULTAR NA DISCRIMINAÇÃO DOS NÃO ADERENTES. A CONSAGRAÇÃO DO PRINCÍPIO DA AUTO- NOMIA ORGANIZATIVA, FUNCIONAL E TÉC- NICA DAS USF É, POR UM OUTRO LADO, UM DOS ASPECTOS POSITIVOS DA REFORMA EM CURSO.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografi a António Pinto 27

PERIGO DE PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO NEGATIVA SOLIDARIEDADE CRITICADO PARA OS MÉDICOS NÃO ADERENTES Nas falhas apontadas no texto legislativo, que con- frontou com aspectos positivos, insere-se a que está A apreciação geral é positiva. O candidato a basto- relacionada com a adopção do princípio da solida- nário da Ordem dos Médicos Miguel Leão não tem riedade, que prevê que cada elemento da equipa dúvidas de que o modelo de criação das USF consti- deve garantir o cumprimento das obrigações dos tui “um passo importante e positivo na organização demais elementos. Na conferência de imprensa do dos cuidados de saúde de proximidade e para a área passado dia 5 de Abril, Miguel Leão considerou que da Medicina Geral e Familiar”. O carácter “voluntá- a definição “pode ser interpretada como o princípio rio” da adesão a este processo é, como sublinhou, da intersubstituição entre pessoal médico, de enfer- o garante da auto-organização dos médicos e a da magem e administrativo”, o que “se afigura absurdo, sua liderança, não colocando em causa direitos ad- inaceitável e impraticável face às respectivas com- quiridos. petências, direitos e deveres”. Neste contexto, “é im- Assumindo uma posição sobre o projecto de de- prescindível que seja explicitado que este princípio creto-lei que estabelece o regime jurídico e fun- se aplica dentro e para cada grupo profissional”. cionamento das USF, Apesar de enaltecer o facto Miguel Leão alertou, do decreto-lei consagrar o contudo, para os even- princípio de que os médi- tuais perigos de uma cos que constituem a USF discriminação negativa têm de deter, pelo menos, para os médicos não o grau de assistente da aderentes, nomeada- carreira de Clínica Geral mente no que se refere ou o título de especia- a direitos adquiridos, lista em Medicina Geral como sejam o acesso à e Familiar, o candidato formação contínua, a a bastonário da Ordem progressão na carreira dos Médicos lamentou e as condições do exer- as funções de validação cício profissional. “Não da prescrição cometidas deve haver discrimina- ao coordenador da USF. ção negativa dos médi- É que “á luz do princípio cos não aderentes, senão da autonomia técnica de é ser voluntário à força”, cada médico, não pos- ironizou. sui competência para tal”, apontou, considerando ainda que um médico COMPENSAÇÃO com as mesmas qualificações dos colegas “tenha a REMUNERATÓRIA PARA função de validar a prescrição de outros colegas”. FUNÇÕES DE FORMAÇÃO ADESÃO ESTÁ “AQUÉM”

Em contrapartida, o candidato a bastonário da Or- Num olhar global sobre o modelo de criação das dem dos Médicos congratulou-se com a previsão da USF, Miguel Leão realçou que o valor acrescentado existência de compensação remuneratória para os da reforma em curso já se traduz em dados objecti- médicos que desempenhem as funções de orienta- vos, designadamente o elevado número de adesões dores de formação do internato da especialidade de de candidaturas apresentadas (150), envolvendo Medicina Geral e Familiar. Princípio, avaliou, “da cerca de mil médicos, ou a existência de ganhos mais elementar justiça que deveria ser alargado a to- assistenciais previsíveis que se traduz no aumento das as outras especialidades”. Negativa é, porém, “a do número de utentes com médico de família (à inclusão na remuneração dos médicos das despesas volta de nove mil). Mas o candidato a bastonário realizadas para prestação de cuidados domiciliá- da Ordem dos Médicos deixou o alerta: “O número rios”, o que implicará, na opinião de Miguel Leão, de USF em funcionamento encontra-se aquém do “necessária desmotivação para a prestação dos mes- esperado, o que pode defraudar as expectativas dos mos e prejuízo para a continuidade assistencial”. profissionais aderentes”. ■ 28 NOTÍCIAS

SOCIEDADE PORTUGUESA PARA A QUALIDADE EM CUIDADOS DE SAÚDE DÁ OS PRIMEIROS PASSOS AINDA ESTE ANO

Um das funções da Ordem dos Médicos é identifi- POLÍTICAS DE car indicadores e padrões que possam demonstrar a qualidade da actividade médica. Mas a necessidade de fazer uma avaliação de resultados mais concreta, QUALIDADE DEVEM objectiva e, acima de tudo, que esteja centrada no doente conduziu ao projecto de criação da Socie- dade Portuguesa para a Qualidade em Cuidados ESTAR CENTRADAS NO de Saúde, cuja constituição oficial deverá ocorrer durante o primeiro semestre de 2007. A notícia foi DOENTE avançada no debate subordinado ao tema «Sistemas de saúde e qualidade dos cuidados oferecidos aos cidadãos», onde a grande impulsionadora da ideia, Susana Parente, A SOCIEDADE PORTUGUESA explicou que o PARA A QUALIDADE EM CUIDA- novo organismo vai agrupar asso- DOS DE SAÚDE VAI SER CRIADA ciações médicas, AINDA DURANTE O PRIMEIRO de enfermagem, SEMESTRE DESTE ANO. NO CEN- de educação e far- mácia, devendo TRO DE CULTURA E CONGRES- ainda contar com SOS DA SECÇÃO REGIONAL DO a participação de NORTE DA ORDEM DOS MÉDI- associações de doentes. Os ob- COS, O DEBATE SOBRE «SISTE- jectivos assentam, MAS DE SAÚDE E QUALIDADE exactamente, no DOS CUIDADOS OFERECIDOS doente e para que sejam aferidas AOS CIDADÃOS» SERVIU DE a qualidade das MOTE PARA EXPLICAR QUAIS políticas que vão OS PRINCÍPIOS ORIENTADORES sendo desenvolvidas, é necessário fazer uma ava- liação contínua que vá mais além do que alcançar o DESTA NOVA ENTIDADE. primeiro lugar do ranking. Susana Parente assume

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto que a tarefa não será fácil, uma vez que, actual- mente, as pessoas estão mais preocupadas em gerar mudança, do que propriamente em promover con- tinuidade no percurso do doente, desde que entra no sistema, até que vai para casa”. 29

Para vencer as contrariedades, o caminho passa por da qualidade na prestação dos cuidados é impera- “alterar a motivação, versus exigência, das estru- tivo, não só do ponto de vista clínico, mas também turas de decisão intermédia, no sentido de imple- comercial. “Nas próximas décadas, vai haver uma mentar a reflexão objectiva sobre o que se passa nos competição severa no sistema de saúde, com o mer- serviços de saúde”. Para a médica anestesiologista cado comunitário e a necessidade de redução de do Hospital de S. Francisco Xavier, “só reflectindo custos. Portanto, é melhor que os actores da saúde de uma maneira integrada sobre o que fazemos é percebam rapidamente que a melhoria da qualidade que podemos concluir se estamos a fazer bem ou é a chave do sucesso”. mal”. Por isso, acrescenta, não basta analisar objec- Na Holanda, o primeiro país europeu a criar uma tivamente a progressão de um determinado serviço organização ligada à qualidade dos sistemas de ou unidade. É preciso acompanhar a sua integração saúde, a actual preocupação gira em torno da inte- com os restantes. gração do doente na gestão do sistema e na impor- tância da comunidade como um recurso. CASOS HOLANDÊS E INGLÊS Da Inglaterra, Maggie Somekh centrou a sua inter- venção no «Passado, Presente e Futuro» do National Os exemplos de países como a Holanda e o Reino Health Service. Depois de ter adoptado há alguns Unido serviram para trocar ideias no debate rea- anos medidas políticas que só agora começam a che- lizado no passado dia 17 de Março, no Centro de gar a Portugal, a oradora alertou para os problemas Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte que estão a ser vividos no Reino Unido. Entre eles, a da Ordem dos Médicos. Segundo Marius Buiting, falência do modelo Primary Care Trusts e a compe- especialista holandês em qualidade nos cuidados titividade entre hospitais pela abertura do mercado de saúde, o primeiro passo na instituição de uma à iniciativa privada. “Alguns hospitais não sobrevi- política de qualidade passa por avaliar os seus pró- veram”, advertiu Maggie Somekh, apontando ainda prios resultados, com o objectivo de ultrapassar a dificuldade de partilha de experiências profissio- marcas pessoais. O orador realçou que a melhoria nais entre instituições concorrentes. ■ 30 NOTÍCIAS

UM OUTRO OLHAR SOBRE OS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

NUMA ALTURA EM QUE ESTÁ A SER LEVADA A CABO UMA DAS MAIORES REFORMAS NO SECTOR DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS, O CONSELHO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS ENCONTROU UMA MANEIRA DIFERENTE DE ABORDAR OS PROBLEMAS QUE SE LEVANTAM. «CHÁ EM FAMÍLIA» É MAIS UMA INICIATIVA PARA CHAMAR OS PRINCIPAIS «ACTORES» DA MUDANÇA A TER UM PAPEL INTERVENTIVO.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto

UMA INICIATIVA ORGANIZADA POR FÁTIMA OLIVEIRA

A noite está apenas a começar e já um dia longo de em que o Conselho Regional do Norte da Ordem trabalho ficou para trás. O cenário temporal não é dos Médicos leva a cabo o «Chá em Família», uma sinónimo de descanso quando o tempo é aprovei- iniciativa organizada por Fátima Oliveira. O nome tado para discutir os problemas, as dúvidas e os re- diz quase tudo. A tarde troca-se pela noite, junta-se ceios daqueles que são os grandes protagonistas da uns doces, ainda quentes, ao chá e, num ambiente reforma que está a ser implementada na rede de cui- informal e descontraído, um conjunto de médicos dados de saúde primários. No entanto, esse período de família trocam impressões sobre a situação que pode ser encarado como descontracção nas noites se vive actualmente. “Em vez de organizarmos uma 31

palestra, ou uma conferência, ciativa muito positiva, optámos por este tipo de for- dado que, face às al- mato mais descontraído, per- terações que têm sido mitindo que todos os presen- implementadas, esta- tes possam dar a sua opinião mos um bocadinho sobre os mais diferentes assun- perdidos naquilo que tos”, explicou Fátima Oliveira, se refere à lei. Há sem- lembrando aquela que tem pre coisas novas a sair sido uma das preocupações do e é preciso estarmos Conselho Regional do Norte: atentos”, salientou ouvir e dar apoio aos médicos. Maria Piedade Balta- Para a organizadora da inicia- zar, médica de famí- tiva, “é fundamental que os lia na Foz, congratu- médicos estejam envolvidos lando-se, igualmente, nas questões que lhes dizem com a escolha do formato da iniciativa: “Foi uma forma muito A JURISTA DA simpática de promo- SRNOM PRESTA ver o debate em torno TODO O APOIO QUE OS da reforma dos cuidados de saúde primários”. Por outro lado, realçou Maria do Céu Magalhães, MÉDICOS SOLICITAREM do Centro de Saúde dos Carvalhos, “é importante que os médicos estejam unidos para debater a lei e directamente respeito”, de forma a que “haja uma participar activamente nas reformas que o Governo consciencialização colectiva e espírito de grupo”. quer implementar”. A par das opiniões, o momento pode também ser De facto, as preocupações dos médicos de família aproveitado para levantar dúvidas, até as mais com- são muitas e variadas, com o avanço da formação plicadas. Igualmente convidada para o «Chá em das Unidades de Saúde Familiares. Questões como Família» a jurista da Secção Regional do Norte da a mobilidade dos médicos, os horários alargados e Ordem dos Médicos, Inês Folhadela, presta todo o o futuro dos centros de saúde tal como eles existem apoio que os médicos solicitarem. É preciso, assina- actualmente foram algumas das questões aborda- lou Fátima Oliveira, “estarmos atentos, até para nos das, durante a segunda edição de «Chá em Famí- anteciparmos à eventual saída de legislação com lia”» que decorreu no dia 14 de Março. ■ a qual não estamos de acordo e que é necessário travar”.

MÉDICOS ADERIRAM COM ENTUSIASMO

O entusiasmo da organizadora foi partilhado pelos participantes, médicos de família de vários centros de saúde do Porto, Vila Nova de Gaia, Gondomar, Santo Tirso e até Felgueiras. “Trata-se de uma ini- 32 CULTURA

MORAES MACHADO APRESENTOU

« NO BOLSO DE HIPÓCRATES – Quem mais jura mais sente»

HISTÓRIAS CONTADAS NA PRIMEIRA PESSOA

Na manhã seguinte aguardei, com ansiosa ALGUÉM QUE OLHA E esperança, a visita da mãe. Chegou já perto do meio-dia. Acompanhei-a REPARA NO QUE ESTÁ À imediatamente à camita do bebé. Tinha acabado de SUA VOLTA, MAS, ACIMA tomar banho, estava bonito, penteadinho. Ficou estática DE TUDO, INTERVÉM ao lado da cama, parecia hesitar. Tentei ajudá-la. – Os meninos desta idade são todos bonitos, mas o seu Com este pequeno trecho do capítulo intitulado é muito bonito, o mais bonito da Enfermaria. Hoje já “Adopção ou não?”, um dos que mais marcou An- tomou banho, está aí todo arranjadinho para receber os tónio Moraes Machado, conta-se o caso de uma carinhos e o calor do colo da mamã. professora que, após dar à luz, abandona o hospital Não esboçou qualquer gesto. Estava fi xa no fi lho. com a intenção de dar o fi lho para adopção. Toda- Ainda insisti na tentativa de a demover, mas entendi via, ultrapassando todas as regras, o médico conse- que devia deixá-la só no pequeno quarto de 3 camas, gue demovê-la, conseguindo um fi nal feliz. onde outras mães faziam companhia aos seus bebés. A apresentação pública de «No Bolso de Hipócra- Acabou por se curvar sobre o leito, beijar, afagar e tes – Quem mais jura mais sente» decorreu a 23 tomar o bebé ao colo.” de Março, no Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. “Este livro surgiu de uma situação fortuita. Estava de férias no Natal, quando me ofereceram um livro ANTÓNIO MORAES MACHADO, ESPECIA- de uma colega. Como tinha muitas histórias na LISTA EM PEDIATRIA PELA ORDEM DOS MÉDI- gaveta, a minha fi lha incentivou-me a contá-las”, confi denciou Moraes Machado. COS, CO-FUNDADOR DA LIGA DOS AMIGOS DO HOSPITAL DE SANTO ANTÓNIO, GALAR- As histórias são relatadas na primeira pessoa e nar- DOADO COM A MEDALHA DE MÉRITO DA ram as memórias de um homem que, nas palavras de José Almeida da Silva, responsável pela apresen- CRUZ VERMELHA PORTUGUESA E, AGORA, tação literária da obra, revela a “entrega humana e AUTOR DO LIVRO «NO BOLSO DE HIPÓCRA- generosa” de quem “olha os seus doentes e os seus TES – QUEM MAIS JURA MAIS SENTE». pares”. Contos que ilustram, segundo a pediatra Margarida Guedes, a quem competiu a leitura da- quele capítulo do livro, a “sensibilidade extrema” nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografi a António Pinto 33

de um médico que foi mais No entanto, o médico faz além, capaz de intervir um balanço positivo do quando sabia que algo estava progresso desenvolvido ao errado. Alguém que “olha longo dos tempos. Há 30 e repara no que está à sua anos, recorda, “não havia volta”, mas, acima de tudo, sentido de humanização, “intervém”. ou apenas existiam casos isolados. Hoje é diferente. TEMAS ACTUAIS Entra-se num hospital e é- se tratado com considera- A narrativa de António Mo- ção”. Aliás, “ter um médico raes Machado, apesar de à porta é extraordinário, assente no passado, é tam- mas temos de ver se esse bém ela muito actual. Numa médico nos trata bem ou leitura na diagonal, como não”, acrescentou, numa confessou o presidente da alusão à reestruturação da Mesa da Assembleia Regio- rede de urgências, não es- nal do Norte da Ordem dos quecendo o facto do conce- Médicos, que substituiu José lho de Mogadouro, no qual Pedro Moreira da Silva no assume o cargo de presi- papel de anfitrião da noite dente da câmara munici- de apresentação da obra, Mi- pal, vir a beneficiar de um guel Leão não deixou de sen- serviço de urgência básico. tir uma conotação política Foram exactamente com nos contos do autor, dado os sons e ritmos de Trás- levantarem questões pertinentes em torno de temas os-Montes que a festa de apresentação pública de como a organização das urgências pediátricas ou o «No Bolso de Hipócrates – Quem mais jura mais fim das carreiras médicas. Pequenas provocações sente» decorreu. A marcar a passagem pelo Centro que Moraes Machado assumiu: “Não há nenhum de Cultura e Congressos, as Pauliteiras de Valcerto, acto na nossa vida que não tenha conotação política do concelho de Mogadouro, comprovaram porque e quando tratamos dos problemas dos serviços de conseguiram atrair a popularidade numa tradição urgência essa questão ganha um relevo fantástico”. (antes) apenas confinada aos homens. ■ 34 CULTURA

«O PORTO E A TUBERCULOSE HISTÓRIA DE 100 ANOS DE LUTA»

HISTÓRIAS FIEIS DA Pneumologista, com mais de 30 anos a lidar com a tuberculose, António Ramalho de Almeida quis REALIDADE DE OUTRORA espelhar no seu livro as vivências quotidianas e evi- “Enquanto durar este tipo de mentalidade, enquanto denciar o papel da cidade no combate a esta doença. as pessoas não forem informadas com verdade do “O Porto foi sempre a capital da luta contra a tuber- poder da tuberculose (...), o Porto será a cidade por- culose”, defendeu, em declarações à nortemédico. tuguesa com maior número de casos (...)”. O aviso é lançado por António Ramalho de Almeida no seu PORTO É A CIDADE COM mais recente livro, onde retrata o percurso desta MAIOR NÚMERO DE CASOS doença ao longo dos dois últimos séculos. «O Porto e a Tuberculose – História de 100 anos Mas nem só deste importante papel, dos avanços e de luta» foi apresentado no passado dia 23 de Fe- dos recuos, fala a obra. Através da escrita, António vereiro, no Centro de Cultura e Congresso da Sec- Ramalho de Almeida quis ainda mudar mentalida- ção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. São des. Apesar de ter sido um lutador, lamenta, “não histórias fieis da realidade de outrora, onde se fala consegui acabar com alguma indiferença que pes- de casos como os de Júlio Dinis ou António Nobre soas responsáveis têm perante a tuberculose”. que, vítimas da doença, receberam tratamento fora Actualmente, o Porto é a cidade com maior número do país. de casos de tuberculose em Portugal. A luta está longe de ter terminado e, por isso mesmo, apesar de reformado, António Ramalho de Almeida continua a trabalhar nesta área, prestando assessoria à Admi- nistração Regional de Saúde do Norte. O livro é uma edição da Fronteira do Caos , Porto. Disponível em diversas livrarias, também pode ser adquirido on-line, por exemplo no site da livraria Apolo 70 (http://www.livapolo.pt). ■

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto CULTURA 35

TELAS DE JÚLIO PIRES EXPOSTAS NO CCC

CORES FORTES E TRAÇOS Participou em várias dezenas de exposições indi- viduais e colectivas em Portugal, Espanha, Estados FIRMES DEFINEM A Unidos da América e Venezuela. ARTE DO AUTODIDACTA AVEIRENSE Sobre Júlio Pires escreveu recentemente outro in- telectual aveirense no seu blog http://pela-positiva. blogspot.com/: “Há dias encontrei-me com um ar- tista que desconhecia. [...] É um pintor ilhavense, que reflecte, num rápido contacto, uma serenidade que impressiona. [...] Os quadros que apreciei pro- jectam-me para cantos e recantos da sua e nossa terra, e para mais além, ora carregados de cores fortes, ora de silhuetas que fazem sonhar, mas sem- pre com traços firmes que denotam o domínio das técnicas que experimenta, ou não fosse o artista um autodidacta que tem, como deve ter, a ânsia da procura e o desejo de chegar mais longe na arte que nunca mais pode abandonar. De quando em vez mostra-nos rostos que nos são familiares, tais são o rigor das feições e a expressividade de certos Júlio Pires é natural de Ílhavo, nascido a 30 de Ou- olhares e posições, das nossas gentes e de gentes tubro de 1964. Autodidacta, cria o seu próprio per- de outras bandas, que Júlio Pires fixou de diversos curso no caminho das Artes Plásticas. Frequenta pintores e de várias culturas.” em 1987 um curso de desenho e pintura no Grupo E acescenta: “Por isso, digo que o Júlio Pires me- A.C.V., na Fundação Calouste Gulbenkian, sob a rece uma visita, onde quer que se encontre: nas direcção de Pedro Andrade. Profissionalmente, foi galerias onde expõe, nas telas que se vão espa- pintor na Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre. lhando por casas de gente de bom gosto, no seu Contudo é nas telas que encontra a sua realiza- ateliê, que fica na Avenida João Vaz e Silva, Lote 4, ção pessoal, a sua forma de expressão. Em 2007, o na Praia da Vagueira, e no seu “site”, que mora em artista assinala vinte anos de actividade artística. www.juliopires.com”. ■ 36 CULTURA EXPOSIÇÃO SERVIU PARA PRESTAR TRIBUTO AO MESTRE

APLAUSOS E HOMENAGENS A ADELINO ÂNGELO

É CONHECIDO COMO “O PINTOR DO DE- SASSOSSEGO”, MAS FORAM AS EMOÇÕES DE DUAS NOITES DE INTEIRA HOMENAGEM QUE DEIXARAM ADELINO ÂNGELO QUASE SEM PALAVRAS. A EXPOSIÇÃO NO CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS DA SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉ- DICO VALEU, MAIS UMA VEZ, TODOS OS APLAUSOS.

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografi a António Pinto lidades da cidade do Porto reunia-se para prestar mais uma homenagem ao homem que, em poucas pinceladas, consegue colocar a nu a alma de um ser UM PINTOR EXCEPCIONAL humano. E UM RETRATISTA Duas noites separadas por menos de um mês de distância fi zeram com que “o pintor do desassos- EXTRAORDINÁRIO sego”, como já lhe chamou o poeta Nuno Pereira Pinto, se tornasse o «experimentador» das emoções Dia 15 de Março, pelas 21h30, abriam-se as portas fortes que costuma provocar no público que vê a para a segunda grande exposição do mestre Adelino sua obra. “Estou sem palavras. É difícil falar num Ângelo no Centro de Cultura e Congressos da Sec- momento em que sinto todo o carinho por parte ção Regional do Norte da Ordem dos Médicos. Dia destas pessoas”, descrevia, visivelmente emocio- 13 de Abril, pelas 21h30, um conjunto de persona- nado, o mestre. 37

Os amigos, em contrapartida, não pouparam pa- A MÚSICA E A POESIA lavras. “Adelino Ângelo surpreende-nos com a sua técnica. Não precisa que ninguém esteja a posar ENGRANDECERAM A para que, em quatro traços, surja a figura preten- HOMENAGEM AO PINTOR dida”, elogia Júlio Couto. Amigo de longa data do pintor, o historiador por- tro de Cultura e Congressos, em 2005, e se espan- tuense recorda o percurso de vida que tanto espelha tou ao ver a obra patente nas paredes. “Não sou um a sua obra. “Andou três meses numa caravana a especialista em pintura, mas sente-se logo quando a acompanhar os ciganos. É um pintor excepcional e arte é boa”, advoga. Quis conhecer o autor e, desde um retratista extraordinário”, evidência, então, Bernar- acrescentando que “é impossível ficar dino Castro indiferente” perante os seus quadros. tem-se mantido Aurelino Costa, poeta, diseur e advo- um fã incondi- gado português, é também um amigo cional do traba- próximo. Para além da perfeição de lho do mestre: que, diz, Adelino Ângelo está sempre “Gosto muito da em busca, fazendo de si uma pessoa sua pintura”. extremamente exigente, Aurelino Costa A par das cerca enaltece a boa disposição e o humor do de 40 pinturas pintor. Além disso, “acrescenta é muito que expôs até amigo do seu amigo”. ao passado dia 15 de Abril no Centro de Cul- tura e Congressos, a mostra de Adelino Ângelo teve, MÉDICOS TAMBÉM assim, dois momentos altos, aos quais se juntaram a APLAUDEM música e a poesia. Na primeira grande noite, a 13 de Março, o Grupo Coral do Porto encantou. A 13 de Insuspeito para qualquer elogio é o médico Ber- Abril, na segunda homenagem, o Encantus Corus e nardino Castro que, na noite da inauguração da as declamações de Aurelino Costa engrandeceram exposição no Centro de Cultura e Congressos foi o momento. No final, esta segunda passagem pela surpreendido com o momento em que entregou ao Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos mestre uma caixa em prata para guardar cartões de não poderia ter sido mais positiva para um pin- apresentação – “para que o mestre não ande sempre tor humanista, que denuncia as tragédias sociais à procura deles”, gracejou na altura Júlio Couto. Foi do nosso tempo. «O drama dos loucos» e «A vida quase por um acaso que se cruzou com a obra de nómada dos ciganos» voltaram a ser os temas em Adelino Ângelo, numa altura em que visitou o Cen- destaque. ■ 38 CULTURA DESIGN PORTUGUÊS EM ALTA

EXPOSIÇÃO COLECTIVA PROMOVIDA POR ISABEL ABREU

PINTURA, CERÂMICA E ALTA BIJUTERIA. O DIVULGAR OS DESIGN ESTEVE EM ALTA NO CENTRO DE CUL- NOSSO ARTESÃOS E TURA E CONGRESSOS DA SECÇÃO REGIONAL PROMOVER O QUE É DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS NUMA PORTUGUÊS EXPOSIÇÃO COLECTIVA, ORGANIZADA POR ISABEL ABREU. A MOSTRA TEM UM ANO DE Foi exactamente o Centro de Cultura e Congressos ACTIVIDADE, NUM «SHOW ROOM» MON- o primeiro palco desta exposição itinerante que reuniu obras 100 por cento portuguesas, entre os TADO NUMA SALA DA CIDADE DO PORTO E dias 2 e 29 de Abril. “É necessário divulgar os nosso QUE PARTIU ESTE ANO EM «VIAGEM». artesãos e promover o que é português”, justifica Isabel Abreu. Assim, nasceu a ideia de juntar alguns nomes de diferentes áreas da arte e se concreti-

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto zou o sonho de avançar com esta mostra colectiva: Malheiro e Tita Costa na pintura, José Fraga na ce- râmica e a dupla de artesãos Luís e Lúcia Garcia na alta bijoute- ria. Segundo a promotora do evento, “artistas que já são reco- nhecidos pelo seu trabalho”, mas cuja promo- ção não deve ser esquecida. A graciosidade, beleza e qualidade das peças expos- tas não deixaram o público indiferente. Designada- mente a originalidade das peças em cerâmica, com incrustações em prata, um cunho de Isabel Abreu, ela própria habituada a trabalhar com esta matéria- prima. A prata, descreve, “é o meu cunho pessoal e, por outro lado, um valor acrescentado das peças em exposição”. A PRATA COMO ELEMENTO DISTINTIVO

Depois das experiências na cerâmica e no vidro, a paixão pelo desenho levará esta artista a sonhos mais altos e prometido ficou que o próximo projecto passará por trabalhos com incrustações de prata na pintura. No fundo, retrata, “a pintura servirá de moldura à prata”. ■ CULTURA 39

EXPOSIÇÃO ECONOMISTAS AMANTES DE FOTOGRAFIA” NO CCC « EXISTE VIDA PARA ALÉM DOS CIFRÕES»

SÃO ECONOMISTAS, MAS, PARA ALÉM DA MEIA CENTENA DE PROFISSÃO QUE OS UNE, ABRAÇAM O TRABALHOS EXPOSTOS MESMO HOBBIE: A FOTOGRAFIA. AFINAL Coimbra, onde praticamente todas as ordens de DE CONTAS, “EXISTE VIDA PARA ALÉM DOS profissões liberais com delegação regional organi- CIFRÕES”, RESUME, ASSIM, O PRESIDENTE zam fóruns de discussão, seminários ou exposições regularmente. Esta mostra fotográfica pretende ser DA DELEGAÇÃO REGIONAL DO NORTE (DRN) o início de uma relação de colegialidade a Norte”, DA ORDEM DOS ECONOMISTAS, JORGE explicou Alexandre Sousa, vogal da DRN da Ordem SOARES, QUANDO QUESTIONADO SOBRE A dos Economistas. Foi, por isso, num ambiente descontraído que a ORIGEM DESTA INICIATIVA. noite da inauguração decorreu, com a presença

nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto do presidente da SRNOM, José Pedro Moreira da Silva. Ao todo, quase meia centena de fotografias retrataram os olhares captados pelas objectivas dos Para além de revelar economistas nas mais variadas situações: velhos «novos talentos», esta e novos, paisagens, monumentos ou simples mo- 1ª Mostra Fotográfica mentos que fazem parte do nosso quotidiano. Uma também serviu para forma, enalteceu Jorge Soares, “de juntar as pessoas para “desenvolver o e dar a conhecer a todos um pouco das suas facetas espírito de camara- de artistas”. dagem”, aproximando À semelhança da dinamização cultural que tem médicos e economis- sido protagonizada pela SRNOM no Porto, tam- tas. É que a exposição bém a DRN da Ordem dos Economistas pretende esteve patente, entre promover mais iniciativas do género. Já para Ou- os dias 17 e 25 de Abril, no Centro de Cultura e tubro, revelou Alexandre Sousa, está prevista uma Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem exposição de pintura, assinada por economistas, no dos Médicos. “Adoptámos o modelo da Região de Ateneu Comercial do Porto. ■ 40 CULTURA NOITE LÍRICA NO CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS

MASTER DE CANTO TERMINOU COM «MASTER» CONCERTO

FOI MAIS UM MOMENTO ALTO MÓNICA PAIS NA DINAMIZAÇÃO CULTURAL ENALTECEU O APOIO DO CENTRO DE CULTURA E INCANSÁVEL DA CONGRESSOS DA SECÇÃO RE- SRNOM GIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS (SRNOM). NO dois cantores líricos que participaram no master e PASSADO DIA 30 DE ABRIL, OS a receptividade da SRNOM para com a arte tornou 24 ALUNOS DE UM MASTER DE possível este segundo encontro”, sublinhou Mónica Pais, enaltecendo o apoio “incansável da SRNOM”, CANTO COORDENADO PELA ao ter disponibilizado duas salas do Centro de Cul- SOPRANO MÓNICA PAIS BRINDARAM OS ES- tura e Congressos para o curso. PECTADORES COM ÁRIAS E DUETOS, NUM O Master de Canto teve a duração de cinco dias e dirigiu-se, especificamente, a cantores líricos. Con- GRANDE CONCERTO FINAL QUE CONTOU tudo, explicou a soprano, não se fez distinção nem AINDA COM A PARTICIPAÇÃO DO GRUPO sobre o repertório, nem o grau académico. CORAL DIDÁXIS QUE ENCERROU A NOITE Segundo Mónica Pais, entendeu-se que, “para um cantor lírico com um grau de conhecimento mais COM O CORO DOS HEBREUS “VA PENSIERO” avançado, há toda uma possibilidade de trabalhar e DA ÓPERA NABUCCO DE VERDI. aperfeiçoar repertórios do Verismo Italiano e do bel canto com todas as potencialidades que oferecem nortemédico Texto Patrícia Gonçalves • Fotografia António Pinto dois cantores Italianos em plena actividade”. Por outro lado, “acho que é no início da nossa instrução Esta é a segunda vez que a Secção Regional do Norte que devemos ter acesso aos bons professores”, de- acolhe um Master de Canto, depois da primeira fendeu ainda, evocando o caso de Itália, um país de iniciativa, que decorreu em Setembro, ter sido “co- fortes tradições e, por isso, com uma vasta lista de roada de êxito”. “A estreita amizade que me une aos “nomes que ficaram na história no canto lírico”. No final da noite, e após a entrega dos diplomas de participação, ficou no ar a possibilidade de uma terceira edição de um Master de Canto. “Enquanto houver por parte desta e de outras instituições a preocupação de não deixar morrer a arte, todos nós temos a responsabilidade de proporcionar aos presentes e aos que vêem este legado sem preço”, conclui Mónica Pais. ■ 42 CULTURA

WILLIAM SOMERSET MAUGHAM (1874-1965) MÉDICOS ESCRITORES POR RODRIGO LIBERAL

A PROFISSÃO MÉDICA TÊM PRODUZIDO AO CIA COMO CLÍNICO, O CONHECIMENTO LONGO DOS ANOS MUITOS ESCRITORES DA PROFISSÃO AJUDOU-O A ALCANÇAR FAMOSOS. OS MÉDICOS TÊM COMBINADO UM ENORME PRESTÍGIO E DISTINÇÃO EM DE FORMA NOTÁVEL A SUA LÓGICA CIEN- DIVERSAS FORMAS LITERÁRIAS: ROMANCE, TÍFICA COM UMA IMAGINAÇÃO CRIATIVA DRAMA, ENSAIO E CONTO. A FORMA GE- E TÊM FORNECIDO AO MUNDO ALGUMA NIAL COMO INVENTAVA AS SUAS PERSO- Rodrigo Liberal DA SUA MELHOR LITERATURA. ENTRE ESSES NAGENS, JUNTAMENTE COM A SUA CRIA- Interno do H. S. João [email protected] MÉDICOS QUE SE TORNARAM ESCRITORES, TIVIDADE E SUAVIDADE, DISTINGUIRAM WILLIAM SOMERSET MAUGHAM FOI UMA MAUGHAM COMO UM HÁBIL ARTISTA. DAS FIGURAS MAIS CONTROVERSAS DO SEU TEMPO. APESAR DA SUA CURTA EXPERIÊN- 43

William Somereset Maugham foi considerado por Aos 13 anos, Maugham entrou na escola prepa- Karl Pfeiffer, Professor de Língua Inglesa na Uni- ratória, no King’s College. Aí a sua vida foi “um versidade de Nova Iorque, como “um bom escritor, verdadeiro purgatório”, onde era gozado pelo seu na primeira linha dos de segunda”. Apesar de não mau domínio do inglês (o francês tinha sido a sua ser aclamado pela crítica, permaneceu e permanece língua materna) e pela baixa estatura, que herdara como um dos autores mais lidos e estudados do do seu pai. As memória de Somerset Maugham dos século XX. Foi um dos mais populares escritores sete anos aí passados nunca o abandonaram. da sua era, tornando-se no mais bem pago da A educação formal de Somerset Maugham é inter- sua profi ssão durante a década de 30 do século rompida em 1889, quando contraiu tuberculose passado. pulmonar. Viajou até ao Sul de França para recu- Maugham começou a sua carreira enquanto es- perar, tendo aí permanecido cerca de 9 meses. tudante de medicina, e tal como outros médicos- Aos 16 anos de idade, Maugham deixa Inglaterra escritores que o antecederam (como, por exemplo, para passar 18 meses na Alemanha, onde frequenta Tchéchov, Keats, Céline, Conan Doyle; de facto, a a Universidade de Heidelberg. Na Alemanha, Mau- lista é interminável), a experiência directa do so- gham estuda e entra em contacto com a fi losofi a frimento e da doença deram-lhe um conhecimento pessimista de Schopenhauer. O jovem William profundo da natureza humana e tiveram um valor identifi ca-se então com a fi losofi a niilista desse inestimável no processo de aprendizagem da sua autor, que o ajuda a recuperar do sentimento de futura carreira como escritor. culpa que sentia em relação à morte da mãe, à sua infância miserável e ao seu ateísmo. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO Aquando do seu regresso da Alemanha, Maugham ainda não sabia que carreira seguir. Escolheu a Filho de Robert Ormond Medicina, uma vez que não teve a coragem de Maugham, um famoso confessar ao seu Tio que desejava tornar-se escritor. advogado e conselheiro da Embaixada Britâni- A MEDICINA DE SOMERSET ca em Paris e de Edith MAUGHAM Mary, William Somerset Maugham nasceu a 25 de A 27 de Setembro de 1892, Maugham matricu- Janeiro de 1874. Desde lou-se na Faculdade de Medicina, no St. Thomas que lei francesa declarou Hospital. que todas as crianças Durante o primeiro ano do curso, Maugham e os nascidas em solo fran- seus colegas estudaram Anatomia; as actividades cês poderiam vir a ser de dissecção decorriam regularmente durante Embaixada Britânica em Paris recrutadas para serviço as manhãs e os demonstradores assistiam os es- militar, Robert Maugham tudantes na sua tarefa, geralmente hercúlea, de conseguiu que William memorização e dissecção do corpo humano. Mas nascesse na Embaixa- Maugham não estava muito interessado na Ana- da, tecnicamente solo tomia. Apesar de sempre ter trabalhado de forma britânico, salvando-o diligente, estava já mais interessado na escrita, de ser recrutado para pelo que trazia sempre consigo um pequeno blo- uma das futuras guerras co para registar notas de tudo o que ia ouvindo e francesas. observando; estes apontamentos viriam a tornar-se Na Embaixada em Paris, numa importante fonte de material para os seus Maugham viveu uma livros futuros. St. Thomas Hospital, Londres vida fácil e alegre numa Maugham iniciou a sua carreira literária durante atmosfera de elegância. os primeiros anos de faculdade. Enquanto estu- Mas a felicidade do pequeno Willie foi abrupta- dava, o jovem William arranjava sempre tempo mente interrompida pela morte da sua mãe, du- livre para se dedicar aquilo que mais gostava de rante um parto. Dois anos mais tarde, morre o seu fazer, a escrita; começou por escrever pequenas pai, vitimado por um cancro gástrico. Com apenas peças, e apesar de estas terem sido sucessivamente 10 anos de idade, o pequeno órfão foi enviado para rejeitadas pelos editores, Maugham nunca fi cou a pequena cidade de Whitestable, em Inglaterra, desanimado. Então, começou a escrever contos; para viver com o seu tio, o Reverendo Henry acreditava que o talento não era um pré-requisito Maugham. A mudança foi catastrófi ca. Henry Mau- – mais importante era a ambição e a vontade de gham mostrou ser frio e emocionalmente cruel. escrever. 44 CULTURA

Em 1894, Somerset Maugham inicia o seu trei- o director do serviço de Obstetrícia ofereceu um no clínico, tendo começado como estagiário no lugar ao Dr. Maugham, que este recusou, uma vez Departamento de Ambulatório. Esta experiência que pretendia tornar-se escritor a tempo inteiro. é avidamente descrita no papel de Philip Carey, Anos mais tarde, perguntaram a um eminente o estudante de Medicina em «A Servidão Huma- cirurgião do St. Thomas Hospital com quem na», de que falarei mais tarde. Após este período, Maugham tinha trabalhado se se lembrava do Maugham iniciou um estágio como assistente de jovem Maugham: “Lembro-me dele”, respondeu, cirurgião nas enfermarias de Cirurgia. “infelizmente, ele foi um dos nossos falhanços”. Já no ano de 1895, Maugham começou a traba- lhar nas enfermarias de medicina. As suas tarefas, CARREIRA LITERÁRIA nesta altura, envolviam a realização de uma his- tória clínica e exame físico completos, geralmente Após um início difícil, Somerset Maugham al- ajudando o médico residente. É nesta altura que cançou alguma popularidade com o seu primeiro Maugham começa a manifestar as suas tendências romance, “Lisa, a Pecadora”, cuja primeira edição misóginas; confessou mais tarde que era mais esgotou em poucas semanas. Este êxito foi suficien- fácil trabalhar com os homens, enquanto que as te para convencer Maugham a deixar a Medicina mulheres eram mais exigentes e estavam sempre e a embarcar numa carreira de mais de 60 anos a reclamar com as enfermeiras. como homem das Letras. Apesar das longas horas perdidas na enfermaria, A esposa de Maugham permitiu que, durante a Maugham continuou a escrever. No início de 1896, década seguinte, ele viajasse e vivesse em diversos acabou as primeiras histórias, “A Bad Example” locais, como em Sevilha e na Ilha de Capri; mas, o e “Daisy”, e enviou-os a Fisher Unwin, um im- sucesso alcançado pelas suas obras seguintes não portante editor nessa época. Maugham, muito chegaram sequer a rivalizar com o de “Lisa”. Esta influenciado por Ibsen, recorre nesta fase da sua situação modificou-se dramaticamente em 1907 escrita a temas como o de homens bons lutando com o sucesso fenomenal da peça “Lady Frederik”; contra uma sociedade má e doente. no ano seguinte, Maugham tinha 4 peças em exi- Nesse ano, Maugham começou a trabalhar no bição, simultaneamente, em Londres. serviço de Obstetrícia. Além do tempo passado Pelo ano de 1914, Maugham era já famoso, com no hospital, onde era esperado que assistisse a mais de 10 romances publicados e 10 peças de cesarianas, Maugham também passou algum do teatro produzidas. Demasiado velho para se alistar seu tempo trabalhando no Bairro de Lambeth, no exército quando começou a primeira Guerra onde acorreu a um total de 63 partos no período Mundial, Maugham inscreveu-se como membro de 3 semanas. da Unidade de Ambulâncias da Cruz Vermelha Maugham desenvolveu uma terrível obsessão com (denominada de “escritores condutores de ambu- mulheres que morriam durante o parto. Este foi lância”, um grupo constituído por vários escritores, um tema recorrente em muitas das suas obras, incluindo Hemingway, John dos Passos, e E.E. incluindo na primeira, “Lisa, a Pecadora” (1897), Cummings), como um oficial médico em França, na qual Lisa tem um aborto após um romance com mas rapidamente foi transferido para os Serviços de um homem casado. Este volta a ser o tema em Inteligência; esta foi a sua única aproximação à me- “Mrs. Craddock” (1904) e “Cakes and Ale” (1930). dicina durante o resto da sua vida. Durante os dois A razão desta obsessão residia, provavelmente, na anos seguintes, Maugham foi um agente secreto culpa que sentia pela morte da sua mãe durante britânico, primeiro na Suíça e mais tarde na Rússia. um parto. Aquela que é consensualmente considerada a sua William Somerset Maugham começou a trabalhar obra-prima, “A Servidão Humana” (1915), é um na obra “Lisa, a Pecadora” no Verão de 1896. O retrato semi-autobigráfico, que tem a sua força período como assistente de Obstetrícia principal na forma como é contada a vida de Philip no Bairro de Lambeth permitiu-lhe ad- Carey, um órfão, que com uma deficiência física quirir um conhecimento profundo da (é manco) tem de encarar enormes adversidades vida do Bairro e Maugham transferiu ad- ao longo da vida. O tema principal do romance miravelmente as personagens que tinha consiste na ideia de que a submissão à paixão é observado para este romance. O livro uma forma de escravidão, ou melhor, de servidão aborda a vida das classes trabalhadoras e humana, enquanto que o exercício da razão cons- introduz o tema do adultério nas classes titui uma forma de libertação do homem. Philip mais pobres, o que naquele tempo pode- Carey ama apaixonadamente uma mulher fútil, ria ter constituído um enorme risco para e na tentativa de a possuir, torna-se ele próprio um romance deste tipo. num servo dela: a sua liberdade é restringida, a Em Outubro de 1897, após 5 anos no St. sua educação interrompida e a sua fortuna perdida. Thomas Hospital, Maugham licenciou- Toda a sua racionalidade, poder e inteligência são se em Medicina e tornou-se membro do erradicados pela sua paixão por essa mulher. Royal College of Surgeons. Impressiona- Em 1916, Maugham viajou para o Pacífico para do com o talento do jovem médico e com trabalhar no livro “A Lua e os Seis Vinténs”, ba- Primeira edição de “A Servidão Humana” o sucesso dos seus primeiros trabalhos, seado na vida de Paul Gaugin. Esta foi a primeira 45

de muitas viagens através do mundo Imperial esperança, o medo e o alívio signifi cavam; eu vi dos anos vinte e trinta, que viriam a estabelecer as linhas escuras que o desespero retirava de uma Maugham, na imaginação popular, como o cronista face; eu vi coragem e fi rmeza. Eu vi a valentia que ofi cial dos últimos dias do colonialismo na Índia, fez um homem saudar um prognóstico mortal Sudeste Asiático, China e Pacífi co. com uma piada irónica porque era demasiado O último grande romance de Maugham, “O Fio orgulhoso para deixar outros verem o terror da da Navalha”, publicado em 1944, representou sua alma. Tudo isto foi uma valiosa experiência um adeus, de várias formas. Apesar de grande para mim. Não conheço um melhor treino para parte da acção decorrer na Europa, as personagens um escritor do que passar alguns anos exercendo principais são americanas, e não britânicas. O medicina.”. protagonista é um veterano desiludido da Primeira Por ocasião do seu Guerra Mundial, que abandona os seus amigos e octogésimo aniver- o seu estilo de vida bem sucedida, para viajar pela sário, numa entre- Índia à procura de iluminação. vista concedida à BBC, William So- CONCLUSÃO merset Maugham declarou: “Fui um A carreira literária de Somerset Maugham foi muito estudante insatisfa- infl uenciada pela sua educação médica. O exercício tório, uma vez que da Medicina proporciona a oportunidade única de o meu coração não estudar e observar o carácter humano sob stress. estava nos estudos. Reconhecendo isto, o escritor Inglês Wilkie Collins Eu queria, eu sem- escreveu: “O romancista está preocupado com os pre quis, ser um escritor – abandonei a medicina detalhes psicológicos da personalidade, do estado com alívio, mas não me arrependo dos cinco emocional e do comportamento; as molas da acção anos que passei no hospital – longe disso. Eles humana devem ser alvo do seu estudo incessante, ensinaram-me muito bem tudo o que sei acerca uma vez que o seu ofício consiste em explorar a da natureza humana, uma vez que num hospital natureza humana e em mapear as suas descobertas, tem-se contacto com isso em cru. Pessoas com o que é também uma parte signifi cativa da vida dor, pessoas com medo da morte, não tentam de um médico”. esconder nada do seu médico, e se o fi zerem o Maugham reconheceu a enorme importância que o médico geralmente consegue adivinhar aquilo que exercício da Medicina exerceu na sua escrita. A sua estão a esconder.”. experiência como médico interno entre pessoas O posto de Somerset Maugham como escritor, um pobres e afl itas no St. Thomas Hospital tiveram assunto de disputa nos círculos literários, ainda nele uma impressão duradoura. No Hospital, hoje gera polémica, mas é um consenso geral de aprendeu a respeitar o método científi co. Adquiriu que os seus trabalhos incluem alguma da melhor

“The Moon and Sixpence” um conhecimento da humanidade, uma atitude fi cção do século passado. Maugham granjeou uma foi um dos romances de “clínica” perante a vida. Tal como Marti-Ibanez ob- popularidade sustentada durante mais de meio maior êxito de Somerset servou, “O que muitos consideram como cinismo século. Escreveu cerca de 30 peças para teatro, 30 Maugham pode ser chamado de “clinicalismo”, o resultado do romances, 10 ensaios, e mais de 120 contos. treino utilizando o método científi co, que lhe per- “O único assunto que é inesgotável é o homem”, mitiu dissecar as emoções e acções humanas com escreveu em 1939. “Pode-se escrever durante toda a objectividade desapaixonada de um patologista”. a vida e tocar em não mais do que numa franja A todos os escritores, Maugham recomendava um disso”. O Dr. Maugham, eternamente fascinado conhecimento completo de psicologia e fi siologia. pelo comportamento humano, esteve sempre O escritor, disse Maugham, “deve saber como os mais preocupado com aquilo que as pessoas fa- elementos básicos da literatura estão relacionados zem do que com o que devem fazer. “O trabalho com as mentes e corpos dos homens”. de cada um”, disse numa entrevista em 1945, “é Acerca dos seus dias na Faculdade de Medicina, encontrar o que está correcto para ele próprio e Maugham escreveu: “ Até aí tive contacto com seguir esse caminho”. Um príncipe dos narradores aquilo que eu mais desejava, a vida em bruto. e um entertainer encantador, Maugham gostava Durante esses três anos, devo ter testemunhado de contar os caprichos e manias do homem com muito bem todas as emoções que um homem uma objectividade cirúrgica. Nas palavras de W. pode experimentar. Isso apelava ao meu instinto O. Ross, “Ele nunca fugiu muito daquele jovem dramático (...) Eu vi como os homens morriam. que estudou medicina no St. Thomas Hospital, no Eu vi como eles suportavam a dor. Eu vi o que a fi nal do século XIX”. ■ 46 CULTURA PARA UMA HISTÓRIA MÉDICA PORTUENSE

CONTINUANDO NO MEU EXERCÍCIO DE COMBATE A FAVOR DA MEMÓRIA E CONTRA A AMNÉSIA, NA SENDA DE TEMAS DA HISTORIA MÉDICA NORTENHA QUE INTERESSEM NÃO APENAS A UM OU OUTRO MÉDICO, MAS AO MAIOR NÚMERO POSSÍVEL, VENHO, DESTA VEZ, TRAZER À VOSSA CURIOSIDADE E APRECIAÇÃO UMA HISTÓRIA DAS REVISTAS MÉDICAS QUE FORAM EDITADAS DESDE ESTA CIDADE IN- VICTA, TAMBÉM CONHECIDA POR CIDADE DA VIRGEM, MUI ANTIGA E SEMPRE LEAL, CAPITAL DO NORTE DO PAÍS E AINDA, E MAIS VULGARMENTE, POR CIDADE DO PORTO. O QUE SÓ HÁ BEM POUCO TEMPO FIQUEI SABENDO FOI QUE ENTRE OS LIBERAIS DOS COMEÇOS DO SÉCULO XIX ESTA MESMA CIDADE TAMBÉM ERA DESIGNADA, SIMPLES E ORGULHOSAMENTE, POR A ETERNA. MARCANTE. OUTROS TEM- Dr. A. S. Maia Gonçalves POS, OUTRA LINGUAGEM, OUTRO UNIVERSO OU, PELO MENOS, OUTROS CIDADÃOS. Revistas Médicas Portuenses

INTRODUÇÃO

ão é a primeira vez que me debruço sobre Por tudo isso, ao vir falar-vos de Periodismo Médico este tema, e não sem justificações honrosas, Portuense não pretendo fazer, apenas, uma história da como veremos mais adiante. actividade editorial médica. Anima-me, isso sim, ensaiar Retorno a este tema pelo mérito intrínseco uma forma peculiar de perscrutar a evolução da activi- Nque o mesmo contém, com a determinação de o apro- dade e do pensamento médicos na cidade do Porto, ao fundar e melhorar em relação à minha abordagem an- longo das diferentes épocas e períodos da sua história, terior, mas sempre dentro das mesmas limitações: as por mais modestas que tenham sido, assim como, des- minhas, pessoais, que já são muitas, mais as que dizem vendando rotinas e inércias, revelar com a luminosidade respeito às fontes onde tive que ir beber as informa- que merecem os personagens médicos que lhes deram ções, e que também não são despiciendas. corpo e rosto. Nada extremista, gostaria que nesta minha composi- ção fosse interpretada como um intermezzo entre uma Ao abalançar-me nesta ousadia, a minha intenção é simples listagem dos títulos, com a revelação objectiva também a de dar continuidade ao trabalho encetado, dos protagonismos médicos (o que já seria relevante) ainda que há muitos anos, por um não pequeno número e um estudo exaustivo de todas as publicações, uma a de outros médicos Portuenses como, por exemplo, Ai- uma, o que, para além de praticamente impossível de res de Gouveia, Pedro Dias, Maximiano Lemos, João alcançar, se tornaria obrigatoriamente fastidioso, e de de Meira, J. A. Pires de Lima, Hernâni Monteiro, Luís leitura justificadamente sempre adiável, o que nada me de Pina, etc., que também encontraram valimento em agradaria. debruçar-se sobre o estudo desta faceta da história da Medicina, e sobre cujos trabalhos eu me alicercei para *** escrever o que agora e aqui estou escrevendo. Por isso, «O Norte é a Pátria dos A simples edição continuada de um jornal ou revista este meu contributo acaba por ser também uma forma jornais literários» (A. Malheiro Dias) médica pressupõe a existência de múltiplos apoios hu- singela de lhes prestar a minha homenagem pessoal. manos àquela actividade, os quais, por sua vez, reflec- Referir-me-ei muitas vezes quer à Escola Médico-Ci- tirão, naturalmente, a atmosfera e os níveis científico rúrgica, quer aos seus professores. Não é de estranhar e cultural das opiniões médicas da época em que os mas sim de registar e enaltecer, já que uma boa percen- textos foram editados. tagem das revistas médicas tiveram à sua frente alguns Como com os doentes, cada um dos periódicos foi – é desses professores. – um caso único... interessante e merecedor de ser re- cordado. Numa tentativa de análise e caracterização de eventu- ais ciclos no aparecimento destes periódicos, ao longo Para além de todas as diferenças entre si, em última aná- de todos estes anos, vou fazer uso, como marco de lise todas as revistas médicas foram resultantes de uma O mais velho jornal referência, do interessante pormenor de ter havido um médico que se conhece é o enorme e louvável generosidade por parte de alguns mesmo título que foi dado a diferentes revistas (mais «Les Nouvelles Découvertes sur Toutes les Parties de médicos, e não foram poucos, que, voluntariamente, exactamente a três) publicadas em épocas distintas. la Médecine», publicado optaram por entregar-se ao Jornalismo Médico, activi- em Paris, em 1679, por De facto, em 1842 surgiu a público uma revista de Nicolau de Blegni, cirurgião dade essa que desempenhou, todos concordarão, um nome Gazeta Médica do Porto. Foi certamente por- real, antigo bedel da Faculdade de Medicina importantíssimo papel tanto na informação como na que esta primeira Gazeta Médica grangeou elevada (Luís de Pina) própria formação dos médicos, quer na pré-graduação, consideração e respeito entre a comunidade médica como no pós-graduado. Portuense que surgiram, em 1860, uma segunda, e em 47

1897, uma terceira Gazeta Médica do Porto, pretensas Em 1640, sob uma nova dinastia, começou, por- continuadoras e aspirantes a merecedoras do mesmo tanto, uma também nova etapa da então já longa crédito que aquela primeira teve. vida, de 5 séculos, da Nação Portuguesa. Não terá sido um recomeço do zero, mas... pouco menos. Assim, vou designar como I Período o tempo que de- Com a agravante dos recursos humanos terem ficado correu desde 1749, ano da publicação daquele que, desfalcados, já que foram muitos os portugueses, es- como veremos mais adiante, é considerado o primeiro jornal médico Portuense, e também Português, até ao pecialmente entre os da Nobreza e do Clero, que se e aparecimento daquela primeira Gazeta em 1842. O bandearam para Castela. Até o P. António Vieira, na II Período, muito mais curto, será o que mediou entre altura, “ao reconhecer o miserável estado do Reino, a primeira e a segunda Gazeta, ou seja, entre 1842 e propôs o regresso dos ‘judeus mercadores’ que an- 1860. Designarei por III Período o intervalo de tempo davam pela Europa”. Para além disso foi necessário entre a segunda (de 1860) e a terceira Gazeta (de que passasse mais de um quarto de século de esforço 1897). Finalmente, o IV Período, o posterior a 1897. e contrariedades até que a “Restauração” se pudesse considerar consolidada. Porque se enquadra no tema e ilustra o que aca- I PERÍODO bamos de dizer, lembramos aqui a publicação, em (desde 1749 até 1842) Lisboa, do nosso primeiro jornal. Intitulava-se «Ga- zeta em Que Se Relatam as Novas Todas Que Houve Este primeiro período, longo de quase um século, Nesta Corte e Que Vieram de Várias Partes no Mês de poderemos, com algum critério, subdividi-lo em Novembro de 1641». Continuou regularmente a sua duas épocas distintas e assimétricas em duração: publicação, ao que parece até 1647, contrariamente uma primeira de 76 anos, e uma segunda de apenas ao que afirmavam Herculano e Rivara que apenas 17 anos, se considerarmos o que se passou, respecti- puderam ver exemplares até 1644 (Max. Lemos). vamente, antes e depois da fundação da Real Escola de Cirurgia do Porto (REC), que ocorreu em 1825. Em Portugal, os esforçados tempos que se seguiram Na cidade, anterior à fundação da REC, mas só de- à restauração da independência, finais do século pois do aparecimento do ZODÍACO, poderemos e XVII e século XVIII, foram, de facto, ricos em inicia- deveremos acrescentar uma outra referência histó- tivas e actividades culturais, e a proliferação que en- rica, e não só médica, da mais alta importância, que tão ocorreu das chamadas Academias Particulares só poderá ajudar à compreensão integrada destes re- foi disso um bom espelho. latos. Refiro-me ao “velhinho” Hospital de S.to Antó- Muitas dessas Academias Particulares foram curio- nio cuja construção só começou a ser feita em 1770. samente baptizadas com os nomes mais originais e E ainda mais porque estapafúrdios que se pode imaginar, tais como: dos foi nesse mesmo hos- Escondidos, dos Envergonhados, dos Singulares, pital que, por espe- dos Aplicados, dos Ocultos, dos Generosos, etc. cial atenção da Santa O próprio Estado Português, envolvendo-se em tal Casa da Misericórdia dinâmica e efervescência culturais, patrocinou uma a mesma Real Escola das nossas mais nobres e prestigiadas instituições: a de Cirurgia ficou pre- Academia Real da História Portuguesa, instituída cariamente instalada. por D. João V, em 1720, e cujos trabalhos formam os 15 volumes da Colecção de Documentos e Memória. Desde o ZODÍACO A revelar que não foi só o Estado a empenhar-se na (1749) até à animação cultural do País, data de 1727 a instalação fundação da Real da primeira loja maçónica em Lisboa. Escola de Cirurgia Em 1746, como que para ajudar à gigantesca tarefa (1825) pedagógica nacional em curso, o Cónego Luís Antó- Portugal, nação inde- nio Verney decidiu-se a apresentar o seu “Verdadeiro pendente desde 1143, Método de Estudar”. o mas, desde 1580, sob Em 1779, por iniciativa do 2. Duque de Lafões e do domínio Castelhano, abade Correia da Serra, mais uma instituição oficial conseguiu, em 1640, foi constituída: a Academia Real das Ciências de libertar-se do jugo Lisboa. Filipino, restaurando *** a sua independência. Socorrendo-nos agora de Luís de Pina, e parafra- Não foi tarefa fácil seando Castiglione, diremos que aquelas referidas nem breve. Academias Particulares “foram os centros de movi- 48 CULTURA

mentos científicos, com- todos, o primeiro periódico de ciências médicas em pletaram o trabalho das Portugal. Universidades, prepara- Silva Carvalho, em 1932, informou que deste ram os laboratórios das ZODÍACO, cujo frontispício aqui se reproduz, se Escolas Modernas, e dos conheciam dois exemplares: um na Biblioteca Pública relatos das suas sessões de Braga e outro na Faculdade de Medicina de Lisboa. nasceram, naturalmente, Ambições e interesses particulares dispersaram os os primeiros periódicos sócios e fizeram com que somente se publicasse o científicos.” primeiro número de Janeiro, com uma oração inau- E assim aquelas activida- gural e 6 observações clínicas (Aires de Gouveia). des associativas e jorna- Passados 10 anos, em 1759, e mais uma vez pelas lísticas médicas poderão mãos de Lima Bezerra, nova Academia viu a luz do ser consideradas como dia mas, cedo se finou. verdadeiros antecesso- res próximos do ensino ■ Em Julho de 1761, “numa época em que a cidade médico na cidade, o qual atravessava uma fase de progresso em múltiplos as- só foi oficializado no ano pectos” (Ribeiro dos Santos), o Cónego muito douto de 1825, quando o rei D. e sábio Francisco Bernardo de Lima fez aparecer a João VI instituiu as Reais GAZETA LITERARIA com “notícia exacta dos prin- Escolas de Cirurgia de cipaes escritos que modernamente se vão publicando na Lisboa e do Porto. Europa”. Os assuntos versados incluíam uma mis- celânea de crítica literária de Línguas, Medicina, Continuando a seguir Física, Botânica, Astronomia. as sugestões de Luís de A Gazeta Literária de Francisco Bernardo de Lima Pina: “recolhamo-nos publicou-se no Porto, desde o n.º 1, de Junho de e jubilemos pois o pri- 1761. A partir do ano seguinte a edição passou a ser meiro jornal médico feita em Lisboa, por o seu redactor ter ido para lá português foi criação de residir, tendo sido o seu último número publicado um médico cirurgião do em Junho de 1762. Pena foi que a pouca saúde do Porto, Manuel Gomes de seu ilustrado autor o não deixasse continuar, tendo Lima Bezerra, e órgão de falecido em 1764. uma Sociedade Científica Médica, também por si ■ Ainda que feito em tipografia lisboeta, em 1764, criada.... Honra pois a Go- de novo Gomes de Lima publicou outro periódico mes de Lima que na His- chamado Diário Universal de Medicina, Cirur- tória Médica Portuguesa gia e Pharmácia. Tinha colaboração portuguesa e ocupa alto e nobre lugar, estrangeira e dele apenas saíram quatro números, pouco compreendido ou, sendo o último em 1772 (Hernâni Monteiro). bem pior, esquecido”. “Natural de Ponte de ■ ANNO MEDICO foi o título dado por José Bento Lima, onde nasceu em Lopes a uma publicação sua com “Observações Meteo- Janeiro de 1727, entregou-se à prática cirúrgica nos rológicas e Médicas feitas na cidade do Porto em 1792”, mas hospitais de Viana e de Lisboa, tendo por Mestres que segundo Luís de Pina só foi publicada em 1796. não só nacionais mas dois Ingleses, Nicols e Werton Por curiosa similitude e para realçar a importância que, no dizer de Barbosa Machado, eram n’ela muito que outrora e durante longos anos foi atribuída a estes versados. Desde que começou a exercer a clínica temas, ocorre-nos trazer à colação a tese apresentada no Porto, trabalhou por levantar o conceito em que por Júlio Dinis tantos anos mais tarde, em 1861: “Da os cirurgiões eram tidos pelo público, quer prati- Importância dos Estudos Metereológicos para a Medicina cando operações cirúrgicas de importância, quer e Especialmente de Suas Aplicações ao Ramo Operatório”. promovendo a instrução por todos os meios ao seu alcance.” ■ Em 1798, o cirurgião Portuense António Rodri- Com esse espírito, Gomes de Lima Bezerra começou gues Portugal tentou iniciar a publicação de uma por fundar a Academia Cirúrgica Prototypo-Lusitâ- Folha Semanal intitulada Biblioteca de Cirurgia ou nia Portuense, que foi a primeira academia médica “Notícia das Melhores Obras de Cirurgia Que Sahen na do país, mas que pouco tempo durou, no entanto. Europa”. Nunca passou, porém, do manuscrito do Paralelamente à Academia Cirúrgica, Gomes de primeiro número (Hernâni Monteiro). Lima, na realidade dotado de um grande talento e, sobretudo, de uma prodigiosa actividade (Max. Le- Ainda segundo Aires de Gouveia, depois desta ten- mos) fundou em 1748 uma outra Academia Médico- tativa malograda de António Rodrigues, terá havido Portopolitana e, em Janeiro de 1749, fez publicar em 1820, ou 1821, um periódico escrito em dialecto o primeiro, e único aliás, número do jornal ZODÍ- Galego por um médico de nome F. Caminha, mas ACO LUSITANICO-DELPHICO, considerado por não acrescenta mais nenhum outro dado. 49

Tal foi a contribuição dos Portuenses no campo do rar-se, desencadeasse na segunda mais importante Jornalismo Médico até à data da criação da Real cidade do País as mais diversas iniciativas culturais, Escola de Cirurgia. (Hernâni Monteiro). entre as quais as do jornalismo médico. Contribuição pioneira, como vimos, com a honrosa Aconteceu, porém, que após a morte do rei D. João inscrição do protagonismo de Manuel Gomes de VI, que ocorreu logo no ano seguinte, em 1826, Lima Bezerra, mas pobre, devemos acrescentar, já os portugueses envolveram-se, desgraçadamente, que constituída por diminuto número de títulos, de em intermináveis lutas fratricidas entre os Liberais longevidade reduzida e, ainda por cima, muito con- apoiantes de D. Pedro e os Miguelistas defensores centrada na preocupação, nada criativa, de noticiar do absolutismo, numa guerra civil que dominou e o que então se passava na Europa. bloqueou o País desde 1828 até 1834: atmosfera im- profícua para qualquer actividade de índole cultural. Desde a Fundação da Real Escola de Cirurgia Só em 2 de Junho de 1834, o Conselho Escolar da (1825) até à Gazeta Médica do Porto (1842) REC encontrou a tranquilidade para voltar a reunir pela primeira vez depois do denominado “cerco” à Após a denominada cidade do Porto. Revolução Francesa de 1789, Portugal ■ Por tudo isso não deixa de ser surpreendente, e foi alvo e vítima das louvável, que no meio de tanta decadência, logo em maiores agressões mi- Outubro do mesmo ano de 1834, uma quinzena litares externas: por de anos após a revolução liberal do Sinédrio, tenha três vezes sucessivas surgido na mesma cidade do Porto uma interessante (em 1807, em 1809 e publicação de nome REPOSITORIO LITERARIO em 1810) Portugal foi DA SOCIEDADE DAS CIENCIAS MEDICAS E invadido, destruído e DE LITERATURA DO PORTO. saqueado pelos Fran- No Editorial/Introdução deste “Repositório” consta ceses, obrigando o que a iniciativa partiu do Dr. António Carlos de nosso Rei e toda a sua Melo que convidou os seus colegas da “Faculdade Corte a abandonarem de Medicina”(1) para constituírem uma Associação Lisboa e a “muda- de Literatos. Para esse efeito reuniram-se em sua rem-se” para o Brasil, casa em 13 de Dezembro de 1833, isto é, ainda em deixando o País en- período de guerra civil, cerca de meio ano antes tregue ao “Maneta”... da assinatura da Convenção de Évora-Monte que e sucessores, como em 26 de Maio de 1834 pôs fim às hostilidades diz o nosso Povo. e naturalmente antes, também, daquela primeira De tal sorte assim foi reunião do Conselho Escolar de 2 de Junho desse que, em chegando a mesmo ano. 1820, os Portuenses Era seu Presidente o distintíssimo e respeitado mé- inconformados com dico Agostinho Albano da Silveira Pinto. Da res- a situação indigente e tante estrutura orgânica interna faziam parte um humilhante em que a vice-presidente, um primeiro e um segundo secre- Nação se encontrava, tários (sendo este último o já mencionado médico coordenados pelo Si- António Carlos de Melo e Silva) e ainda mais 6 Só- nédrio, decidiram re- cios Honorários, 46 Sócios Efectivos (de entre os voltar-se e assim deram início, em 24 de Agosto, ao quais se destacava Alexandre Herculano, que então imparável movimento de Liberalização do País. ocupava o lugar de Bibliotecário); ainda dispunham O Rei, instalado no Brasil desde 1807, foi instado de 19 Sócios Correspondentes. por mais que uma vez a regressar a Lisboa, onde Do Repositório publicavam-se 2 números em cada desembarcou precisamente em 4 de Julho de 1821. mês, nos dias 1 e 15, o que era um feito notável. Em 25 de Junho de 1825, o rei D. João VI, após Este Repositório tem, por tudo isso, um valor his- a forte persuasão do médico Brasileiro Theodoro tórico, cultural e obrigatoriamente sócio-político, Ferreira de Aguiar, à semelhança do que durante a indiscutíveis. sua estadia deixara feito no Brasil, fundou as Reais Depois de um ano de vida próspera deixou de pu- Escolas de Cirurgia, a de Lisboa e a do Porto. blicar-se prometendo reaparecer muito melhorado. Natural seria, pois, que o surgimento, em 1825, Promessas vãs: nunca mais saiu à luz e a própria deste novo e importante baluarte científico-médico associação se foi desorganizando e morreu (Aires na nova atmosfera liberal que então passou a respi- de Gouveia). 50 CULTURA

■ Ainda segundo Silva Carvalho e Aires de Gouveia, Seguindo os dados biográficos fornecidos por Ma- “em Abril de 1837 apareceu a Revista Estrangeira ximiano Lemos ficamos a saber que Januário, em com Fórmulas e Notícias Médicas de Paris e de Londres”. 1828, assim como Ferreira, em 1832, integraram-se De dimensões reduzidas, tipo livro de bolso, cada em Batalhões Liberais: Januário, desde 1828, andou exemplar, mensal, continha regularmente o impres- de cadeia em cadeia até acabar na da Relação do sionante número de Porto, onde, em 1832, os seus confrades Liberais o 100 páginas. foram libertar. “Em Julho de 1838, De Luís António, o mesmo Maximiano apenas diz a mesma foi “cris- que em 1838 foi nomeado Demonstrador de Medi- mada” com o nome cina “por sugestão” do Januário, no Conselho Escolar. de Revista Literá- Esta primeira Gazeta Médica do Porto publicava-se ria, periódico quin- de 10 em 10 dias (impreterivelmente nos dias 10, 20, zenal de Litteratura, e último dia de cada mês) o que não deixava de ser Philosophia, Viagens, notável, para aquela época... ou qualquer outra, aliás. Sciencias, e Bellas-Ar- Através de uma linguagem tão rica quanto límpida tes, título que usou e expressiva, e muito própria daqueles períodos his- até 1845, o seu úl- tóricos, explicavam que vinham a público “para o timo ano”. adiantamento e prosperidade da medicina portuguesa” através do “derramamento dos conhecimentos médico- cirúrgico-farmacêuticos por entre os colegas”, preten- II PERÍODO dendo “ser os interpretes das ideias do tempo, sem terem (1842 a 1860) cor exclusiva, antes serem ecléticos.” No dizer dos entendidos “devia ser tida na conta de Segundo o nosso critério, este II Período corres- um dos melhores jornais de medicina publicados em ponde ao tempo que medeia entre o aparecimento vernáculo”. da primeira e da segunda Gazeta Médica do Porto. Todas estas razões abonam a favor do asserto do Vimos já que aquela que designamos por primeira nosso critério em eleger esta primeira Gazeta Médica Gazeta Médica do Porto, “Periódico de Medicina, do Porto como marco de referência neste nosso es- Cirurgia, Pharmacia e Sciencias Accessórias”, surgiu tudo, e ajudam a compreender porque as outras que em Outubro de 1842, da iniciativa de dois Profes- se lhe seguiram a quiseram imitar. sores da Escola Médica, Januário Peres Furtado Luís António retirou-se ao fim do 1º ano. A publi- Galvão e Luís António Pereira da Silva, e mais cação continuou, com os outros dois, até 1846, ano o ainda aluno João Ferreira da Silva Oliveira. em que foi suspensa, ao que não terá sido estranha a Os laços que terão unido e levado estes três homens à actividade política de João Ferreira.(2) deliberação de editarem esta revista, mais que quais- Reapareceu em 15 de Janeiro de 1848 com João Fer- quer outros, terão sido as suas convicções e ligações reira como seu único redactor, o que a torna ainda liberais, vividas e fortalecidas na cumplicidade das mais singular. lutas, no terreno, contra o “usurpador”, como gosta- Em 1852, João Ferreira concorreu a uma vaga de vam de chamar a D. Miguel. Demonstrador de Cirurgia na Escola Médica, e estas ocupações tê-lo-ão levado a abandonar a publicação da Gazeta que durou até Julho de 1852 (Aires Gou- veia)(3). (continua...) ■

1- Não é gralha nossa: é assim mesmo que está escrito no original. A REC do Porto, pela Reforma do Ensino assinada por Passos Manuel em 1836, passou a chamar-se Escola Médico-Cirúrgica. Só em 1911, após a implantação da República mudou para a designação actual de Faculdade de Medicina.

2- «…Nas eleições de 1846 o Partido Liberal do Porto, apresentou a candida- tura de João Ferreira (a par de Garret, Manuel Passos e outros). Um golpe de Estado, porém, impediu as eleições… e acabou a carreira política de JF» (Max. Lemos).

3- Em 1855 a cidade do Porto foi assolada pela cólera. João Ferreira faleceu nesse mesmo ano vítima da doença que contraíu no exercício da assistência médica que prestou aos coléricos da área de Paranhos (contava apenas 40 anos de idade). 52 CULTURA

3 LIVROS, 3 DISCOS

3 LIVROS

MEMÓRIAS DE ADRIANO MEMORIAL DO CONVENTO VIVER PARA CONTAR Marguerite Yourcenar José Saramago Gabriel Garcia Marquez

Trata-se de uma A acção decorre no Gabo, como é co- autobiografia ro- reinado de D. João nhecido pelos lei- manceada de um V, no início do sé- tores hispânicos, imperador romano culo XVIII. O rei regressa neste livro do século II. Pouco absolutista gover- ao tempo de infân- antes de morrer, nou numa altura cia e ao lugar de Adriano escre- de abundância de todas as suas his- veu uma longa ouro e diamantes tórias: a casa dos carta em formato vindos do Brasil e avós em Aracataca. de testamento ao mandou construir As aventuras do jovem Marco Au- um convento em avô, veterano da rélio, que o viria a suceder. Na missiva, o Mafra, como promessa para garantir um Guerra dos Mil Dias, sempre encantaram imperador recordou os principais episódios herdeiro. Saramago retrata a personalidade o neto e inspiraram um dos mais populares da sua vida: as campanhas militares pela do rei, conta a história de Baltasar (um ope- romances, “Cem Anos de Solidão”, publi- Europa, as viagens à Ásia Menor, a relação rário da obra) e do seu amor por Blimunda, cado em 1967 e que narra sete gerações da amorosa com Plotina, mulher de Trajano, que veio a dar nome a uma ópera inspirada família Buendía de Macondo. o casamento com Sabina e também o seu neste romance, com música do italiano Azio Em “Viver para Contar”, a primeira parte amor... pelo jovem grego Antínoo. Corghi. da sua autobiografia, Garcia Marquez foca O romance, publicado em 1951, tornou-se Em “Memorial do Convento”, publicado em ainda os anos boémios em Barranquilla, num clássico da literatura moderna. 1982, o autor traça um retrato muito crítico para além das influências literárias de Vir- A escritora nasceu em 1903, na Bélgica, no de uma época marcada pela Inquisição. gínia Woolf e Faulkner. Isto sem esquecer seio de uma família aristocrata. Publicou José Saramago nasceu em 1922, na aldeia os episódios dos anos de agitação política aos 17 anos “O Jardim das Quimeras”, na- ribatejana de Azinhaga, mas os pais leva- vividos pelo escritor colombiano. quele que foi o seu primeiro livro. Com a II ram-no para Lisboa com quase três anos de Gabriel Garcia Marquez ganhou o Prémio Guerra Mundial fixou residência nos Esta- idade. Foi na capital que completou o liceu Nobel em 1982. É um reconhecido escritor, dos Unidos, onde se naturalizou em 1947 e e o ensino técnico, não podendo continuar jornalista, editor e activista político. onde morreu 40 anos depois. os estudos por dificuldades financeiras. Em 1947 foi para Bogotá, onde estudou Foi a primeira mulher eleita pela Academia Serralheiro mecânico, funcionário público, Direito e Ciências Políticas. Não terminou Francesa e publicou, entre outros livros de desenhador, tradutor, editor e jornalista fo- o curso e, em 1948, começou a trabalhar ficção e ensaio, “A Obra em Negro”, “O La- ram algumas das actividades que exerceu como jornalista em Cartagena das Índias. birinto do Mundo”, até 1976, altura em “Relato de um Náufrago” foi o primeiro livro “A Visão do Vazio” que passou a viver a ser publicado em e “O Tempo, Esse exclusivamente do 30 anos. Grande Escultor”. que escreveu. “Viver para Con- Yourcenar é um Publicou em 1947 tar”, o penúltimo, anagrama im- o seu primeiro livro chegou às bancas perfeito do seu (“Terra do Pecado”) pouco depois de lhe nome verdadeiro: e conquistou o Pré- ter sido diagnos- Crayencour. mio Nobel da Lite- ticado um tumor ratura em 1998. linfático. 53

AS SUGESTÕES DE TERESA LAGO BASTAM POUCOS SEGUNDOS PARA QUE TERESA LAGO SAIBA A QUE VELOCIDADE AS GALÁXIAS SE DESLOCAM NO UNIVERSO. ESTA ASTRÓNOMA É UMA APAIXONADA PELO ESTUDO DE ESTRELAS JOVENS – QUE É COMO QUEM DIZ COM “APENAS” UM MILHÃO DE ANOS – E DE ASTROS UM POUCO MAIS ANTIGOS COMO O SOL, COM 4500 MILHÕES DE ANOS. PROJECTADA PARA A CENA PÚBLICA EM 2001 (QUANDO LIDEROU O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA “PORTO: CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA”), É LISBOETA DE NASCENÇA. MAS A VERDADE É QUE DESDE CEDO SE ENRAIZOU NA CIDADE INVICTA. É DIRECTORA DO CENTRO DE ASTROFÍSICA DA UNIVERSIDADE DO PORTO E ESTEVE RECENTEMENTE NA FUNDAÇÃO DO CORPO CIENTÍFICO DA CONSELHO EUROPEU DE INVESTIGAÇÃO. É AINDA DELEGADA NACIONAL DO OBSERVATÓRIO EUROPEU DO SUL E PERTENCE A MAIS DOIS ORGANISMOS INTERNACIONAIS: A SOCIEDADE EUROPEIA DE ASTRONOMIA E A EUROSCIENCE.

norte médico Texto Rui Martins 3 DISCOS

NARCOTANGO I’M YOUR MAN Carlos Libedinsky Leonard Cohen

Editado em De- É um álbum É o primeiro ál- zembro de 2004, surpreendente bum de estúdio, “Narcotango” re- lançado em 2005 desde “The Fu- sulta da fusão en- e que faz uma ture”, em 1992. tre o tango argen- revisita ao origi- Cohen esteve tino e a sonoridade nal de 1988. Se, nove anos sem da electrónica à primeira vista, gravar. Os úl- contemporânea. podia parecer um timos cinco O tango electró- trabalho desne- foram passados nico junta instru- cessário porque no mosteiro zen mentos tradicionais (como o bandoneón) a música de Cohen dispensa reinterpreta- de Mounty Baldy. a computadores e samplers, seja em temas ções, “I’m Your Man” revela-se uma mais va- “Ten New Songs” foi lançado em 2001, misturados, composições novas ou em frag- lia. As versões não substituem as originais. sendo seguido por “”, em mentos de temas clássicos do tango. Servem-lhes antes como uma espécie de 2004. Neste último trabalho o artista cana- Por instinto traçam-se semelhanças com complemento em sons mais country e jazz. diano canta poemas do inglês Lord Byron e o projecto Gotan Project, grupo liderado O trabalho conta com a participação de ar- de Frank Scott, sempre com a mesma voz pelo francês Philleppe Cohen-Solal, mas o tistas como Nick Cave, Rufus Wainwright, grave, paradoxalmente áspera e suave a que dançarino Carlos Libedonsky assume um Antony, Jarvis Cocker, Beth Orton e ainda nos habituou, sendo ainda acompanhado trabalho mais complexo e exuberante. os U2 com um marcante “”. pelas vozes de Sharon Thomas e O disco é também uma mistura do tango A leitura de poeta Frederico Garcia Lorca Thomas. de Osvaldo Pugliese com Massive Attack despertou-o para a poesia e fê-lo estudar o Em “Ten New Songs”, Cohen voltou aos te- e resulta em faixas onde sobressai a sensu- flamengo. “Take this Waltz” é uma adapta- mas originais. Todas as músicas foram com- alidade rítmica do tango, acentuada pelo ção do poema “Pequena Valsa Vienense”, postas em parceria com Sharon Robinson, acordeão e pelos instrumentos de corda. do escritor espanhol. Lorca é ainda o nome que já começou a trabalhar com o músico Trata-se de um bom disco para dançar. da filha de Cohen, inspiradora de um dos em “Everybody Knows” e “Waiting for the Enquanto alguns discutem se o mítico Pia- maiores êxitos: “Suzanne”. Miracle”. zzola “é ou não tango”, os criadores do tec- “I’m Your Man” serve também de título a Leonard Cohen surgiu na cena musical em notango vêem nele uma espécie de padro- um documentário sobre o lendário cantor 1967 e é considerado um ícone da contra- eiro, que usaria computadores... se estivesse -compositor. Inclui entrevistas nos basti- cultura. vivo. dores e actuações ao vivo dos músicos que influenciou. 54 LAZER

NO CORAÇÃO DO PARQUE NACIONAL PENEDA-GERÊS POUSADA DE S. BENTO É MIRADOURO DA NATUREZA

QUEM CHEGA À POUSADA DE S. BENTO ATÉ PARECE UMA TELA PAISAGISTA DE JOSÉ FICA COM A SENSAÇÃO DE QUE ALCANÇOU MALHOA, QUE PODE SER APRECIADA NO O PARAÍSO. SITUADO EM PLENO PARQUE TERRAÇO, ENQUANTO SE SABOREIA UM NACIONAL PENEDA-GERÊS, O EMPREEN- APERITIVO.

DIMENTO TURÍSTICO PROPORCIONA UM nortemédico Texto Rui Martins • Fotografia António Pinto CONTACTO ÚNICO COM A NATUREZA. PARA ALÉM DISSO, DISPÕE DE UMA VISTA DES- LUMBRANTE SOBRE O RIO CÁVADO E SOBRE A ALBUFEIRA DA BARRAGEM DA CANIÇADA. 55

O estilo rústico está bem presente em todo o lado. A desfruta-se de uma vista privilegiada sobre a serra pedra e a madeira predominam, principalmente na da Peneda, enquanto se escuta o chilrear dos pássa- parte mais antiga (erguida em 1968), em harmonia ros, numa simbiose perfeita com a natureza. com o ambiente do Parque Nacional Peneda-Gerês. Ao todo são 28 quartos, normalmente com elevada A sala de jantar está voltada para o verde cenário taxa de ocupação durante o Verão e nos fins-de-se- das montanhas, que é entrecortado pelo azul do mana de Inverno. As instalações contam ainda com Rio Cávado. Este prazer contemplativo pode ser o apoio de uma piscina e um court de ténis, que encadeado com o regalo degustativo de um lombo foram instaladas durante as obras de remodelação, de bacalhau com broa de milho ou um tradicional em 1990. Brevemente a pousada vai ser ampliada, arroz de cabrito. São algumas das especialidades da com a construção de mais quartos vocacionados região e da pousada, em concreto. especialmente para as famílias com crianças. Calcorrear as zonas do bar e da sala de estar provo- O empreendimento tem uma óptima localização, cam um ranger típico de madeira antiga. No terraço porque se encontra no coração do único parque na- 56 LAZER

cional do país, que atravessa vários concelhos, rios, serras e planaltos. Mas depois de se apreciar a paisagem à distância é natural que se queira ver in loco as maravilhas do Par- que Nacional Peneda-Gerês ou visitar a Serra da Ca- breira, onde se entra num mundo de sonho. A flora é muito rica, graças ao clima e à altitude; a fauna apre- senta grande quantidade e diversidade, com desta- que para a presença do lobo, que ainda subsiste na região, apesar de estar quase extinto a nível nacional. Tudo isto costuma atrair muitos portugueses, que constituem a maioria dos utentes, além de muitos espanhóis e ingleses, como nos revelou José Men- des, o nosso cicerone na visita efectuada à Pousada de S. Bento.

BACALHAU E CABRITO

A posta de lombo de bacalhau com broa de mi- lho (acompanhado ainda de batata a murro, grelos salteados e azeite especial) é uma das mais valias em termos de culinária. Mas o serviço de restau- rante tem também um importante trunfo ao nível da carne: o tradicional arroz de cabrito dos pastos do Gerês. A costeleta de vitela de raça barrosã no churrasco costuma ser bastante requisitada, assim como na- quinhos de porco com castanhas e grelos salteados. São iguarias típicas da serra, que normalmente se fazem acompanhar pelo vinho da região: o “verde” de Amares e de Ponte de Lima. Para quem quiser sair da pousada existe um ma- TRILHOS nancial de restaurantes típicos. Por vezes o difícil é HISTÓRICOS escolher. Na zona de Castro Laboreiro, por exem- plo, os pratos característicos incluem o cabrito de O Parque Nacional da Peneda-Gerês foi criado em Castro Laboreiro, mais os enchidos, broa centeia e 1971. Localiza-se no Alto Noroeste de Portugal, broa milha. O vinho preferido é o Alvarinho. com uma área que se alonga em ferradura por cerca O fumeiro tradicional de Fiães abrange todo o tipo de 72 mil hectares. Engloba territórios de concelhos de enchidos produzidos nesta zona, embora exis- como Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, tam particularidades que o distinguem do bem co- Terras de Bouro e Montalegre. É uma das zonas nhecido fumeiro tradicional de Castro Laboreiro. mais procuradas para percursos pedestres ou de Outro exemplo: na zona da Serra do Soajo/Amarela bicicleta. Possui também vários trilhos históricos e são muitos os pratos típicos confeccionados, com conhecidos percursos de automóvel, que podem ser destaque para as papas de sarrabulho, os rojões, o projectados a partir da Pousada de S. Bento. cozido à portuguesa e a lampreia. O parque engloba as Serras do Gerês, Peneda e Ama- O queijo típico do Parque Peneda-Gerês é o da Ca- rela, com cotas que ultrapassam os 1500 metros. chena. Este bovino pasta livremente na serra e a sua Por isso mesmo a região atrai também os amantes alimentação é complementada com o mantimento das da geologia porque é essencialmente constituída explorações agrícolas da região, o que proporciona a por rochas graníticas, podendo ocorrer ainda xistos recolha de um leite puro e de características únicas. e depósitos sedimentares. 57

A elevada pluviosidade, principalmente durante Portugal que obrigou a desalojar os habitantes de o Inverno, conduz à formação de lagoas em zonas uma aldeia. Quando é esvaziada para limpeza po- elevadas, que constituem o paradigma dos fotógra- dem ver-se ainda as casas, os caminhos e os muros fos. Em alguns locais é possível observar magníficas da antiga aldeia. paisagens, que englobam aspectos naturais e huma- Um dos sítios com paisagem mais bela no Gerês é nos, como é o caso do miradouro da Pedra Bela. conhecido como “As Cascatas do Tahiti”. Só lá se chega a pé ou numa moto de todo o terreno. Trata- Se ainda não conhece a estranha se de uma lagoa rodeada de areia, onde se encontra lenda da ponte de Misarela tem uma das maiores e mais espectaculares quedas de aqui um bom motivo para satis- água da região. fazer a curiosidade. Situada sobre o rio Rabagão, numa garganta es- treita e escarpada, esta construção TECELAGEM é da época medieval e servia a es- E CESTARIA trada que acompanhava o vale do Cávado para poente. O vigor do Falar de um meio rural como o do Parque Nacional relevo chega a dar a impressão de da Peneda-Gerês é sinónimo de artesanato. A ces- ser frágil mas trata-se de uma obra taria é uma actividade com muitas tradições, que de excelente execução. Por aqui se serviu de suporte financeiro a inúmeras famílias. retirou o General Soult, em 1809, Divide-se em cestaria tradicional e de junco, com num dos episódios mais sangren- uma vasta produção de vestuário para proteger os tos das invasões francesas. A espec- pastores do frio e da chuva. tacularidade da sua implantação A tecelagem em linho, também conhecida por tradi- mereceu das populações vizinhas cional, possui características próprias porque utiliza o epíteto de ponte do inferno ou um tear manual. A tecelagem em lã, num contexto do diabo. O acesso é a pé, por um agreste e de altitude, também surge naturalmente estradão, e demora cerca de 10 a 15 minutos. como boa alternativa, devido à qualidade do gado No Gerês há vários trilhos deslumbrantes. Uma boa ovino e caprino. caminhada pode levá-lo a um amontoado granítico, Os tamancos ou socos constituíram o calçado tra- caótico, imponente e majestoso, conhecido por Cal- dicional da região. Hoje em dia ainda são utilitários cedónia. Chega-se a um cimo com uma cota de 912 mas a tendência é para serem cada vez mais objec- m, onde é necessário atravessar uma estreita fenda tos de decoração, como os tamancos em miniatura. que separa duas enormes lajes. Uma experiência Como complemento destas actividades surgem inesquecível. também os bordados, executados em tecidos que Se optar por uma visita a Vilarinho das Furnas vai não sofreram qualquer tipo de actividade artesanal poder apreciar a primeira barragem construída em anteriormente. ■ 58 LAZER CRÓNICA DE VIAGEM DE PEDRO GOUVEIA, MÉDICO INTERNO NO HOSPITAL PEDRO HISPANO

“QUIS“QUIS AVENTURAAVENTURA E AGORAAGORA ESTAVAESTAVA ALI!”ALI!”

APRENDO MUITO SAIO DO ACONCHEGO DE COM OS DOENTES, MINHA CASA, RUMO AO COM AS SUAS HISTÓ- DESCONHECIDO RIAS, COM OS SEUS MEDOS... DOS MAIS Assim surge a oportunidade de viajar, de conhe- cer lugares e culturas distantes, a antítese do urba- NOVOS AOS MAIS VE- nismo e do turismo de menu (tipo viagem para duas LHOS, TODOS ME FA- pessoas num hotel em regime de pensão completa). ZEM ABSORVER UMA Depois de um ano a estudar para o exame da es- pecialidade (essa terrível tortura que todo o jovem CULTURA SOCIAL médico tem de enfrentar), sonho com a viagem ao E HUMANA INEXO- Fim do Mundo, à Patagónia de Pablo Neruda, Luís RAVELMENTE ESPANTOSA! A DESCOBERTA Sepúlveda e de Bruce Chatwin! A minha primeira grande viagem... Novembro de 2006! SINGULAR DA EFEMERIDADE DA VIDA, QUE Confesso que não preparei a viagem. Comprei um ACONTECE DIARIAMENTE NA ENFERMARIA bilhete de avião Porto-Madrid-Santiago do Chile e OU NO BLOCO OPERATÓRIO, CONDICIONA fui de mochila às costas, sozinho. É surpreendentemente agradável organizar a logís- UMA OBRIGATORIEDADE E UMA VONTADE tica destas viagens, poucas horas antes de prosseguir DE SER FELIZ, TODOS OS DIAS. até ao aeroporto. Dou um emocionado e apertado POR ISSO, E PARA QUE A MENTE CONTINUE abraço aos meus queridos e preocupados pais e saio do aconchego de minha casa, rumo ao desconhecido. SAUDÁVEL E COM A SENSIBILIDADE E A DE- No check-in despacho a bagagem e noto um sorriso DICAÇÃO QUE A MEDICINA HIPOCRÁTICA cúmplice na mulher que do lado de lá do balcão EXIGE, HÁ QUE PROCURAR REFÚGIOS LONGE confi rma as minhas passagens aéreas. Pergunta se viajo sozinho. Respondo com um sim rebelde. Já no DA AZÁFAMA DIÁRIA DO PEDRO HISPANO! avião, um sentimento de ansiedade apodera-se de

nortemédico Texto e Fotografi a de Pedro Gouveia ([email protected]) mim: será que me vou safar? 59

SERÁ QUE mendara. Ouço, numa língua simpática e mais ou menos conhecida, algo parecido com: “Sim, temos ME VOU SAFAR? vaga para a noite”. Entro no quarto onde estão dois

Depois de uma viagem de 13 horas, chego fi nal- beliches, mas o curioso não eram os beliches ou o mente ao aeroporto de Santiago do Chile. A sensa- aspecto do quarto. O quarto era misto e partilhava- ção é inebriante e ao mesmo tempo hilariante. Quis o com três irlandesas, duas das quais estavam já há aventura e agora estava ali. Não havia ninguém à cerca de dez meses a dar uma volta ao mundo. Não minha espera, ninguém de sorriso amarelo a segu- posso negar um sorriso maroto ao percepcionar o rar uma placa com o meu nome, não tinha sítio para contexto caricato daquela noite. Depois das obriga- dormir e tudo o que possuía era o meu bilhete de tórias apresentações convidaram-me para jantar no volta e a minha mochila. Estava sozinho!!! hotel, pois era a noite de Halloween. Aceitei e, após A primeira coisa que fi z foi observar a multidão do descansar um pouco, saí para conhecer a cidade, aeroporto. Eram morenos e pareciam simpáticos. com passagem obrigatória pela Plaza del Armas. A Mostravam uma organização fora do habitual e nem oferta cultural de rua é notável e os cidadãos aderem parecia que estava na América Latina. Aos poucos com uma naturalidade latina muito peculiar. Mas apercebi-me que, de facto, estava longe de casa. E confesso que a cidade me desiludiu um pouco... agora? O alívio surgiu já depois de chegar ao Hostel Dois dias depois adquiri um bilhete de autocarro BellaVista, localizado no bairro mais boémio e cul- e rumei para San Carlos de Bariloche, numa via- tural da capital chilena, que o taxista José me reco- gem de cerca de trinta e seis horas. O autocarro é um transporte muito popular no Chile, talvez por isso tenha achado fantástico a classe salón-cama (os bancos eram pareci- dos com a classe executiva dos aviões) com hospedeiro a bordo. Finalmente, a fron- teira com a Argentina. Os militares argen- tinos têm um semblante autoritário. Um a um, todos aguardamos pela chamada. Chega a minha vez, e mal entrego o meu passaporte... – “Portugal. Figo.”. O rosto 60 LAZER

dos soldados transfigura-se A viagem continuou, e na manhã seguinte desem- e o ambiente desanuvia (o barquei em Puerto Natales sob um intenso céu azul. futebol é mesmo um embai- Próximo destino: Torres del Paine, um dos 10 me- xador da paz!). lhores locais à face da terra para o trekking. Horas depois, Bariloche! Pa- Carreguei a mochila com mantimentos para cinco rece uma estância europeia dias e segui viagem à boleia de uma colega da África de ski, muito comercial. do Sul com quem tinha travado um diálogo inte- Compro um gorro todo con- ressante, durante o pequeno-almoço no barco. Era tente, pensando tratar-se voluntária e estava a trabalhar nas Malvinas, ilha de artesanato argentino da cuja história e a guerra de 1982 corrompe uma rela- Patagónia, mas… made in ção saudável entre argentinos e ingleses. Depois de China. Continentes diferen- fotografar nanas e guanacos, atravesso o lago Pehoe tes, realidades semelhantes. e chego ao acampamento base. Monto a tenda e vou Decido comprar uma via- ver o lago mais de perto. gem de Kayak; foram três horas a remar contra o A água dos lagos provém do degelo dos glaciares e, viento Patagônicoooooo!!! No final, um puro matté, por isso, tem um aspecto leitoso, pois os minerais uma bebida estimulante com teína que os argenti- do gelo sobrenadam à superfície. Era espantosa- nos bebem como nós aqui bebemos o café. mente bela a visão de um lago azulado com o vento patagónico a soprar e a condicionar a formação de ESTAVA ALI SOZINHO: pequenas e frágeis ondas austrais. Encontro pelo caminho um guarda do parque com quem meto EU, O GLACIAR E MAIS NADA conversa. Carlos guardava o parque há vinte anos; dizia que na Patagónia, num só dia, podia fazer sen- Segui rumo a Puerto Montt (de volta ao Chile) e em- tir-se as quatro estações do ano: um Sol radiante de barquei num cargueiro da Navimag, numa viagem manhã e um temporal intenso à tarde. de quatro dias até ao Sul do Chile, pelas águas do Pacífico que invadiram os andes Patagónicos. Ao terceiro dia de viagem, um momento alto: O AS FAMOSAS AGULHAS DE Glaciar Pio XI, o único glaciar no mundo que con- TORRES DEL PAINE tinua a crescer. Nunca tinha visto um glaciar. A sua coloração azul impressiona! O gelo do glaciar de- No dia seguinte acordo cedo e começo o trekking mora cerca de cinco anos a formar-se por deposição com água e três barras energéticas. A tiracolo a da neve; durante esse período e por compactação, minha Canon 350D. Estava a chover e o terreno vai perdendo oxigénio, restando somente o hidro- apresentava-se pesado. As indicações do meu mapa génio, que absorve todas as cores do espectro visível indicavam que demoraria a chegar ao Glaciar Grey da luz solar, excepto o azul, que reflecte: daí a sua cerca de três horas. O meu raciocínio foi simples: coloração azul. Quando o glaciar descongela, volta desportista e novo, tirava meia hora sem problemas. a recuperar o oxigénio e regressa à sua coloração Demorei quatro horas!!! Que vergonha. O terreno branca. era difícil e, de vez em quando, cruzava-me com 61

trekkers de várias nacionalidades em sentido con- PROCURAMOS O FITZ ROY trário. Aos poucos o terreno mostrava-se mais duro. Mais um esforço e... cheguei! NO PARQUE NACIONAL LOS Estava ali sozinho: eu, o glaciar e mais nada. Não GLACIARES havia mais turistas e o glaciar era todo só para mim! Aquela visão gigante da imensidão de um glaciar Faltava então Buenos Aires. Com o meu amigo Hél- azul impressiona-me mais uma vez! E eis que, de der, vi a maior concentração por metro quadrado de um momento para o outro, ouço um estrondo que mulheres bonitas! Todas elas magras, com vestuá- ecoa pelas montanhas... era o glaciar a quebrar e rio clássico e sempre de sapatinho! Apaixonava-me a rugir contra o sobreaquecimento global e um de cinco em cinco metros e, quer olhasse para a Quioto esquecido pelo Mundo. direita, para a esquerda ou simplesmente em frente, Fico mais três dias na montanha, com tempo ainda elas estavam sempre lá! para ver as famosas agulhas de Torres del Paine. Ir a Buenos Aires e não assistir a um espectáculo de Viajo depois à boleia de um casal de Munique com Tango era imperdoável! Escolhemos o Café Tortoni. quem partilhei um dos treks. Após sete horas de Os bailarinos foram bravos. viagem, chego à cidade argentina de El Calafate. O Hélder regressou a Portugal, eu tinha ainda mais Finalmente, tenho rede no telemóvel e recebo uma uns dias. Apanhei um voo da GOL para Santiago do mensagem de um dos meus melhores amigos, o Chile e voltei ao Hostel BellaVista. No dia seguinte, Hélder (interno de Pediatria da cidade do Viriato). começou o regresso à minha terra. Sem combinarmos, tinha chegado duas horas antes à cidade. Foi com um forte abraço que nos encontrá- ALGUMAS DICAS PARA QUATRO mos na rua principal da- QUEM LÁ QUISER IR: SEMANAS quela cidade. Daí em diante, DEPOIS… a viagem seria a dois. Visi- COMO LÁ CHEGAR: • Convém sempre antes Voos diários pela Ibé- de partir efectuar uma di- VOLTARIA AO támos o Glaciar Perito Mo- ria: Porto-Madrid-Santiago gitalização do bilhete de reno, o glaciar mais famoso do Chile ou Buenos Aires. A identidade e do passaporte PEDRO HISPANO viagem custa cerca de mil e enviá-lo para uma caixa da Argentina e da história euros, sendo que Buenos de correio electrónico, para Patagónica, fazendo home- Aires é a opção mais barata. qualquer intercorrência que Chego ao aeroporto de Madrid! A GOL (low cost brasileira) possa surgir. nagem ao explorador Fran- faz voos ida e volta entre No banco de espera, e a aguardar cisco Perito Moreno. Procu- Santiago do Chile e Buenos O QUE VESTIR: a chamada do voo de regresso Aires por 100 doláres. Depende sempre da es- rámos o Fitz Roy no Parque Voos internos: Aeroli- tação. Mas o melhor é ir ao Porto, vejo a minha imagem neas Argentinas/LanChile/ preparado. Por isso, o mais Nacional Los Glaciares, GOL. importante é um bom par reflectida e esbatida no vidro ex- mas, depois de um trek de de botas (impermeáveis, terior do terminal. Uma lágrima ONDE FICAR: de preferência em Gore- três horas, começou a nevar Santiago do Chile: Tex, que até podem ser ad- reluzente solta-se do canto do Hostel Bellavista. quiridos lá, pois os preços intensamente, pelo que re- Buenos Aires: são mais baixos, compara- olho e escorre pela minha face! gressámos inconsoláveis. Hostel La Recolleta. tivamente aos praticados A minha cabeça flectiu, tive re- San Carlos de Barilo- em Portugal) e um bom No dia seguinte voámos che: Hostel MarcoPollo. blusão! Mochila com um ceio que alguém se apercebesse. para Ushuaia, a cidade mais El Calafate: mínimo de 60 litros. Saco- Estava feliz... tinha conseguido! Hostal del Glaciar cama que aguente tem- austral do planeta. Mal che- Ushuaia: peraturas negativas e uma Poucas horas me separavam de Hostel Free Style boa tenda que seja leve e gámos, acordámos de ime- impermeável. rever novamente a minha família diato ir ao restaurante Tia A RETER: e a minha casa, quatro semanas • Essencial comprar um guia QUANDO IR: Elvira, recomendado pela de viagem. Existem vários Os meses de Dezembro a depois... No dia seguinte volta- no mercado, mas eu acon- Fevereiro são meses de high ria ao Pedro Hispano, aos meus Lonely Planet, para comer selho o da Lonely Planet: season e, por isso, obrigam o melhor marisco da minha Trekking in the Patagonian a um planeamento com doentes e às lições de cirurgia Andes. antecedência e um orça- vida. No dia seguinte, se- • Tanto na Argentina como mento superior. Para quem do Emanuel (o meu tutor). En- guimos viagem pelo canal no Chile não são necessá- quiser ir à aventura, e em fim, continuar a ser médico, essa rios vistos de entrada. total liberdade, aconselho Beagle, até à ilha La Pingui- • Obrigatório cartão de cré- Novembro e Março. O mês tão nobre profissão que escolhi nera. Foi um momento de dito (com seguro incluído; de Agosto, só mesmo para como modo de vida. Para trás aconselho o VISA TAP Vic- os adeptos dos desportos emoção ver os pinguins. toria, pois oferece um bom de neve. deixei a Patagónia de Neruda, seguro com a possibilidade Um dos grandes objecti- de acumular milhas, inde- Sepúlveda e Chatwin, mas não vos da viagem estava cum- pendentemente da compa- por muito tempo... Tenciono re- prido. nhia aérea). gressar! ■ 62 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

SECÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS MÉDICOS INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

1. QUALIDADE DO EXERCÍCIO 3. Enviado pelo Presidente da FNAM, recebeu o CRN o PROFISSIONAL texto de uma petição dirigida pelo SMZS ao Ministro da 1. Conforme foi já destacado no número anterior desta Saúde requerendo a revogação do Despacho do Minis- revista (ver nortemédico n.º 29, página 28), o CRN tério da Saúde n.º 725/2007, de 5 de Dezembro, texto acompanhou a polémica gerada pela publicação do que decidiu publicar integralmente nesta revista (docu- Despacho n.º 47/SEAS/2006, da Secretária de Estado mento 9). Mais, decidiu o CRN destacar nesta revista o Adjunta e da Saúde, onde se define um conjunto de sítio da FNAM na Internet (http://www.fnam.pt) como normas a ser aplicadas na elaboração das escalas-tipo importante meio de acesso a numerosa documentação dos serviços de urgência, o qual se transcreve como com interesse para a classe médica. documento 1. Oportunamente, em Conferência de 4. Tendo sido colocada por uma Colega uma questão Imprensa realizada a 5 de Fevereiro de 2007, denunciou concreta relacionada com a necessidade ou não de ins- publicamente este Conselho o que considerou ser um crição na ERS (documento 10a), pediu o CRN Parecer conjunto de ilegalidades do referido Despacho. O texto à consultora jurídica da SRNOM, o qual se transcreve da Nota de Imprensa na ocasião distribuído à comuni- como documento 10b. Cópia desse Parecer foi enviada cação social consta do documento 2. Sobre este mesmo por carta à interessada e ao Presidente da ERS. assunto, publica-se ainda aqui o Parecer da consultora 5. Recebeu este CR cópia do Parecer emitido pelo Ser- jurídica da SRNOM (documento 3), o Parecer do De- viço Jurídico do Sindicato dos Médicos da Zona Sul partamento Jurídico do SIM (documento 4) e as cartas relativo à situação dos médicos do Internato Médico enviadas à Secretária de Estado pela FNAM (docu- (Ano Comum) que foram colocados com atraso durante mento 5) e pelo Presidente da OM (documento 6). o passado mês de Janeiro e que receberam somente me- tade do vencimento relativo a esse mês. O CRN decidiu 2. DISCIPLINA, ÉTICA E DEONTOLOGIA subscrever esse Parecer (adiante transcrito como do- cumento 11) e fazer o seu envio aos colegas potenciais 1. Tendo sido colocada por um Colega a questão de interessados. saber se pode ser obrigado, por ordem do Director de Serviço, a implantar um determinado tipo “tradicional” 3. ORGANIZAÇÃO DA ORDEM DOS de “pacemaker” que não considere indicado e que pode MÉDICOS ter um efeito deletério em alguns doentes, pediu o CRN ao Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médicas A – ORGANIZAÇÃO INTERNA REGIONAL um Parecer sobre o assunto. Atendendo ao interesse 1 – Por solicitação da Associação Portuguesa de Médi- que a doutrina expressa no mesmo pode ter para a cos da Carreira Hospitalar, foi realizado nas instalações Classe em geral, decidiu o CRN proceder à sua publica- da SRNOM, em 22 de Fevereiro passado, um Fórum ção (documento 7). Médico Regional do Norte. 2. Tendo sido colocada por um Colega a questão de B – ORGANIZAÇÃO INTERNA NACIONAL saber se ao abrigo do Despacho n.º 725/2007 de 15 de 1 – Por ocasião do XIII Congresso Nacional de Medi- Janeiro (“Incompatibilidades”) poderia acumular as cina, propôs o CRN que fossem atribuídas Medalhas de funções de Assistente Hospitalar com as de Director Mérito aos seguintes Colegas da SRNOM: Dr. António Clínico de um Centro Privado de Hemodiálise, pediu o Júlio Silva Monteiro, Prof. Doutor Francisco José Zarco CRN Parecer à sua consultora jurídica, na sequência do Carneiro Chaves, Dr. José Bárbara Branco e Prof. Dou- qual foi enviada a todos os médicos da SRNOM a carta tor Manuel Alberto Coimbra Sobrinho Simões. que se transcreve como documento 8. 63

NORMAS PARA ELABORAÇÃO DAS ESCALAS-TIPO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA

CIRCULAR INFORMATIVA DA SECRETARIA-GERAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE N.º 64, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2006

DESPACHO N.º 47/SEAS/2006

O Despacho Normativo n.º 11/2002, de 6 de Março, 2. As presentes regras aplicam-se aos Serviços de Ur- criou o serviço de urgência hospitalar enquanto serviço gência Polivalente e Médico Cirúrgica e, com as devidas DOCUMENTO 1 adaptações, aos Serviços de Urgência Básica, definidos (28 Dez 2006) de acção médica, preconizando a constituição de equi- pas médicas adequadas ao seu movimento assistencial no Despacho n.º 18459/2006, de 30 de Julho, publi- e prevendo que haverá uma progressiva dedicação ao cado no DR II Série, n.º 176, de 12 de Setembro. trabalho naquele serviço, por parte de médicos dotados 3. O trabalho médico no Serviço de Urgência (SU) é de competências e qualificações próprias. realizado por equipas multi-especializadas, que devem Para o favorecimento da eficiência e da qualidade do ser tendencialmente estáveis quanto à sua composição serviço de urgência e tendo em conta que o mesmo se nominal. reveste de características muito próprias e diferencia- 4. O Conselho de Administração do hospital deve pro- das, reconhece-se a importância da utilização efectiva mover a constituição de equipas dedicadas constituídas de instrumentos facilitadores da organização do traba- por médicos que afectem parte ou a totalidade do seu lho médico, designadamente as escalas-tipo e as escalas horário semanal de trabalho ao SU, com carácter defini- de serviço. tivo ou temporário. No âmbito da requalificação da Rede de Serviços de 5. A integração em equipas dedicadas nos termos do Urgência Geral e de forma a evitar práticas diversas número anterior está dependente do acordo do médico entre as diferentes instituições, entende-se adequado, e não deve ser inferior a 6 meses. desde já, harmonizar procedimentos, difundindo um 6. O Director de Serviço do SU propõe ao Director conjunto de normas genéricas que visam a adequada Clínico a escala tipo do SU, a qual, obtida a sua con- elaboração e a criteriosa gestão daqueles instrumentos, cordância, é submetida à aprovação do Conselho de a aplicar pelos estabelecimentos da Rede e por cuja Administração. execução respondem em primeira linha os respectivos 7. As escalas-tipo devem respeitar, sempre que possível, órgãos máximos. os níveis assistenciais definidos pela Ordem dos Médi- cos para as diversas valências e, na sua inexistência ou Assim: impossibilidade, os níveis assistenciais definidos para 1. Nos termos dos números seguintes, são aprovadas o SU pelo Director Clínico, com a justificação devida, as regras que devem ser respeitadas na elaboração das quer quanto à dotação dos recursos, quer quanto à escalas-tipo dos serviços de urgência, com vista à ade- dimensão e estrutura demográfica da população abran- quada organização e funcionamento da Rede de Servi- gida pela área de influência da urgência e à evolução e ços de Urgência Geral. características da respectiva procura. 64 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL NORMAS PARA ELABORAÇÃO DAS ESCALAS-TIPO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA (CONT.)

8. A escala-tipo deve discriminar o número de médi- d) Identificação nominal (incluindo a respectiva dife- cos, em presença física e prevenção, por especialidade, renciação técnica) dos médicos escalados, por dia e distribuídos por dias da semana e turnos e ainda as es- por turno e, sendo o caso, do estabelecimento/enti- pecialidades de apoio ao SU e demais Serviços do Hos- dade de origem; pital, tendo por referência o modelo anexo ao presente e) Permissão de troca de escala entre médicos, desde despacho e que dele faz parte integrante. que sejam efectuadas entre médicos tecnicamente 9. As especialidades que asseguram a prestação de ser- habilitados para as mesmas funções e não impli- viço de urgência em regime de prevenção devem estar quem custos adicionais; expressas na escala-tipo e aquele regime aplica-se sem- f) Afixação das escalas de serviço no SU e publicitação pre que a presença física do médico da respectiva es- das mesmas nos serviços de Especialidade, bem pecialidade não se mostre indispensável, mas haja que como das alterações que possam ocorrer. garantir a sua comparência no SU quando necessário, 15. Havendo médicos com parte ou a totalidade do seu num período máximo de 30 minutos após a chamada. horário semanal de trabalho afecto à urgência, a orga- 10. As escalas-tipo dos SU dos centros hospitalares in- nização do SU pode ainda fazer-se aplicando àqueles o cluem os médicos adstritos aos vários hospitais. regime de trabalho por turnos. 11. Após aprovação da escala-tipo pelo Conselho de 16. No âmbito deste despacho incumbe ao director do Administração, o Director do Serviço do SU acorda SU, nomeadamente: com os Directores de Serviço dos respectivos Serviços a) Propor a escala-tipo do serviço de urgência, a qual de Especialidade a distribuição nominal dos médicos deve ser elaborada nos termos dos números anterio- especialistas e internos que prestam serviço de urgên- res e proceder à sua revisão anual; cia, por dias da semana e por turnos. b) Propor ao Director Clínico as especialidades que 12. A escala-tipo deve manter-se estável ao longo do prestarão serviço em regime de prevenção, depois ano, excepto nomeadamente nos períodos de férias, de ouvidos os Directores de Serviço das respectivas comissões gratuitas de serviço e licenças, os quais Especialidades; devem igualmente ser acordados entre os respectivos c) Propor o plano previsional anual de horas extraordi- directores de serviço, de forma a evitar rupturas no nárias; funcionamento do SU e, sempre que possível, encargos d) Zelar pelo respeito da escala-tipo; suplementares. e) Fazer e mandar afixar e publicitar a escala mensal 13. A escala-tipo é revista anualmente, excepto quando do SU, bem como as respectivas alterações; a verificação de factos supervenientes obriguem à ante- f) Autorizar as trocas de escala, quando necessárias, po- cipação da sua revisão. dendo delegar esta função no Chefe de Equipa do SU; 14. Na organização das escalas de serviço do SU devem g) Monitorizar o recurso a horas extraordinárias; ser tidas em conta as seguintes regras: h) Visar o cumprimento da escala de serviço do SU, a) Respeito pela legislação em vigor e pelas exigências antes do processamento dos vencimentos. técnicas, bem como pela escala-tipo aprovada; 17. Ao chefe de equipa do SU cabe nomeadamente a b) Restrição de prestação de serviço de urgência em primeira verificação do cumprimento da escala de ser- presença física por mais de 12 horas consecutivas, viço e o registo de eventuais desvios ou anomalias. salvo em situações excepcionais devidamente fun- damentadas; Lisboa, 19 de Dezembro de 2006 c) Recurso excepcional às horas extraordinárias, as A Secretária de Estado Adjunta e da Saúde quais devem constar de plano previsional anual de- Carmen Pignatelli vidamente fundamentado pelas necessidades;

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO CRNOM, DE 5 DE FEVEREIRO DE 2007

CONSELHO REGIONAL DO NORTE DA OM NOTA DE IMPRENSA

1 – O Conselho Regio- 2 – O CRN/OM subscreve e secunda as posições já nal do Norte (CRN) assumidas pelos Sindicatos Médicos e realça, de entre apreciou o Despacho 47/ outras, as seguintes ilegalidades do referido despacho: DOCUMENTO 2 SEAS/2006 sobre escalas- a) No ponto 4 em que se refere à atribuição da totali- (5 Fev 2007) tipo do serviço de urgên- dade do horário de trabalho para trabalho no serviço cia da Senhora Secretária de urgência, já que o decreto-lei 73/90 estabelece um de Estado Adjunta e da período normal máximo de 12 horas para aquelas Saúde e sujeitou o mesmo funções a que poderão ser acrescidas, sem o acordo à apreciação da Consul- do médico, 12 horas de trabalho extraordinário. tora Jurídica da Secção Regional do Norte da Ordem b) No ponto 9 em que se refere a existência de espe- dos Médicos. cialidades que asseguram a prestação de serviço 65

de urgência em regime de 5 – O despacho em prevenção, já que este regime causa é ainda notoria- de trabalho apenas pode ser mente ambíguo, face a atribuído mediante a concor- medidas anteriormente dância de cada médico. tomadas pelo Ministério da Saúde. Na verdade, 3 – Face a esta situação o CRN/ importa que o Ministé- OM dará apoio jurídico aos mé- rio da Saúde esclareça dicos sujeitos a decisões ilegais porque que é que invo- dos órgãos de administração das cou (e bem) os critérios unidades de saúde que, ao abrigo técnicos definidos pela do referido despacho, visem mo- Ordem dos Médicos dificar o regime de trabalho dos para o encerramento médicos nos serviços de urgên- de serviços de urgência cia, com vista à sua impugnação de várias maternidades, por via judicial. para agora ignorar os 4 – Salienta o CRN/OM que o mesmos critérios técni- citado despacho é caricato no cos referentes a todas as plano técnico ao referir que “as outras especialidades. escalas-tipo devem respeitar, 6 – O despacho estabe- sempre que possível, os níveis lece ainda o princípio assistenciais definidos pela Or- da distribuição dos mé- dem dos Médicos, para as diver- dicos por turnos, o que sas valências e na sua existência não tem consagração ou impossibilidade, os níveis assistenciais definidos legal a nível da actividade médica. para o SU pelo Director Clínico”. 7 – Face ao parecer emitido pela Consultora Jurídica Dito de outra forma, os níveis assistenciais definidos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, o pela Ordem dos Médicos não servem, na perspectiva CRN/OM irá proceder às diligências adequadas junto deste despacho, para a nada, já que ao Director Clínico do Ex.mo Senhor Procurador da República e junto do são atribuídos poderes discricionários nesta matéria. Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa com vista à Não ficam assim salvaguardadas as regras técnicas da declaração de ilegalidade do referido despacho. Ordem dos Médicos que permitam o exercício da ac- tividade médica em condições que assegurem o ade- quado tratamento dos doentes e a salvaguarda das res- O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos ponsabilidades médicas.

PARECER DA CONSULTORA JURÍDICA DA SRNOM

ASSUNTO: Circular Informativa da Secretaria-Ge- no que se refere às funções e aos tempos de trabalho ral do Ministério da Saúde n.º 64 de 28.12.2006 adstritos ao seu cumprimento. Despacho n.º 47/SEAS/2006 – Normas para elabora- ção das escalas-tipo dos serviços de urgência 3. É que, como resulta do Decreto-lei 73/90 (cfr. artigo 31.º, n.º 5) os médicos da carreira médica hospitalar prestam, de entre o seu horário normal de trabalho, um DOCUMENTO 3 Submetido à nossa apreciação o Despacho em epígrafe período semanal máximo de 12 horas em serviço de (30 Jan 2007) referenciado, observamos: urgência (doravante designado abreviadamente por SU). 4. A estas 12 horas de trabalho (normal) em SU podem 1. Faz o Despacho n.º 47/SEASD/2006 alusão ao Des- acrescer mais 12 horas, desde que, para tanto, o Hos- pacho Normativo n.º 11/2002, de 06 de Março, que pital se socorra das 12 horas de trabalho suplementar/ veio, no seu artigo 3.º, estatuir que “... no serviço de ur- extraordinário a que o médico está, e salvo situações gência devem exercer funções médicos da carreira com com- especiais, inelutavelmente, obrigado por força do n.º 6 petência, preferencialmente, em emergência médica” (n.º 1) do artigo 31.º do citado DL 73/90. e que “as equipas de médicos do serviço de urgência devem ter uma constituição adequada ao movimento assistencial 5. De salientar ainda que, nos termos do n.º 5 do artigo do serviço” (n.º 2). 31.º do DL 73/90, as 12 horas de trabalho (normal) em SU podem ser convertidas, com o acordo do médico, 2. Ora, deste Despacho Normativo n.º 11/2002 não em 24 horas de prevenção. decorre – nem podia decorrer atenta a sua posição hie- rarquicamente inferior ao Decreto-lei n.º 73/90, de 06 6. Estas regras legais são, do mesmo modo, respeitadas de Março –, nenhuma das soluções que ora se pretende pelo Despacho n.º 19/90, de 22 de Agosto, que estatui consagrar, tão pouco a sujeição dos médicos (em espe- as regras a que devem obedecer a elaboração dos horá- cial, os da carreira médica hospitalar1) a regras distintas rios dos médicos da carreira hospitalar2. 66 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL NORMAS PARA ELABORAÇÃO DAS ESCALAS-TIPO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA (CONT.)

7. Sucede que o Despacho em apreciação põe em causa dicos para as diversas valências ou na impossibilidade alguns dos mais elementares direitos referidos nos da sua aplicação (e quem define esta impossibilidade números anteriores. de aplicação é o próprio), determinar outros níveis as- sistenciais. 8. Desde logo, ao prever, sem qualquer limitação quanto ao seu âmbito subjectivo de aplicação, que “o 16. Numa matéria como é aquela em apreço – a da ur- Conselho de Administração do hospital deve promover a gência e emergencia médicas em que o direito à saúde, à constituição de equipas dedicadas constituídas por médicos integridade física e à vida estão, muitas vezes, em causa – que afectem parte ou a totalidade do seu horário semanal é de lamentar que tão lata margem de discricionariedade de trabalho ao SU, com carácter definitivo ou temporário” seja atribuída ao Director Clínico que, de resto, nesta é patente que, no caso dos médicos que, integrando a matéria nem tem sequer que consultar o Director do SU. carreira médica hospitalar, estão abrangidos pelo DL 17. Caberá perguntar: no momento da eventual dis- 73/90, tal norma irá colidir com este regime. cussão de um caso de responsabilidade médica será 9. De notar que é o próprio Despacho 47/SEAS/2006 que o Director Clínico irá, também, chamar a si essa que, na sua introdução, se auto-qualifica como norma responsabilidade por ter definido ou contrariado os ní- de carácter regulamentar, dotada de generalidade e veis assistenciais em contradição com o que tenha sido abstracção, tendo como fim “a adequada elaboração e determinado pela Ordem dos Médicos?. a criteriosa gestão daqueles instrumentos [facilitadores 18. Infelizmente as ilegalidades do despacho em crise da organização do trabalho médico, designadamente não se quedam por aqui. escalas-tipo e escalas de serviço], a aplicar pelos estabe- lecimentos da Rede [de Serviços de Urgência Geral] e por 19. É que o n.º 8 do aludido Despacho também merece cuja execução respondem em primeira linha os respectivos a nossa censura. órgãos máximos”. 20. Primeiro, porque prevê um regime de trabalho por 10. Deste modo, tendo esta natureza regulamentar (de turnos a que os médicos da carreira médica hospitalar resto, o que, no mínimo, torna discutível que o mesmo estão subtraídos (de resto, conceito este repetido nos não tenha sido objecto de publicação no Diário de n.ºs 11 e 15 do Despacho). República, mas de mera publicidade interna por via de 21. Depois, porque consagra um conceito (inovador) de circular informativa), não podem restar dúvidas que o “especialidade de apoio ao SU e demais serviços do hospital” presente Despacho não poderá contender com o dis- que, não obstante não se encontrar expressamente defi- posto no Decreto-lei n.º 73/90, sob pena de ilegalidade. nido no Despacho, se antevê o que se pretende alcançar: 11. Acresce ainda que, é de lamentar que aquele Des- que um médico tenha o dom da ubiquidade estando, pacho tenha utilizado o adjectivo “dedicadas” para qua- em simultâneo, a executar tarefas programadas (como, lificar estas novas equipas de urgência. v.g., de consulta) e tarefas de urgência. 12. É que, de tal adjectivação (de resto, reiterada n.º 5 22. Tudo isto com a agravante de os locais, nos quais do Despacho) resulta, a contrario, que as equipas até umas e outras actividades são exercidas, distarem, em agora existentes não o são! muitos casos, centenas de metros. 13. Ora, apesar de o n.º 5 do Despacho em análise 23. Depois o n.º 9 do Despacho n.º 47/SEAS/2006 de- dispor que a integração nestas equipas “dedicadas” termina que “as especialidades que assegurem a prestação está dependente do acordo do médico, sempre se dirá de serviço de urgência em regime de prevenção devem estar que, o acordo que o médico que integra a carreira mé- expressas na escala-tipo e aquele regime aplica-se sempre dica hospitalar possa prestar, está ferido de invalidade que a presença física do médico da respectiva especialidade porque o seu consentimento sempre terá que ser con- não se mostre indispensável, mas haja que garantir a sua siderado desconforme ao citado artigo 31.º do DL n.º comparência no SU quando necessário, num período má- 73/90. ximo de 30 minutos após a chamada”. 14. Depois, e agora já quanto ao n.º 7 do Despacho 47/ 24. Ora, do teor deste número retira-se, desde logo, a SEAS/2006, estatui este que “as escalas-tipo devem res- conclusão que o regime de prevenção passa a deixar de peitar, sempre que possível, os níveis assistenciais definidos depender do acordo expresso do médico sendo “supe- pela Ordem dos Médicos para as diversas valências e, na riormente” determinado em função da classificação de sua inexistência ou impossiblidade, os níveis assistenciais especialidades que prescindem da presença física dos definidos para o SU pelo Director Clínico, com a justificação seus profissionais no SU. devida, quer quanto à dotação dos recursos, quer quanto à 25. Depois, a criação da obrigação de comparência dimensão e estrutura demográfica da população abrangida “num período máximo de 30 minutos após a chamada” pela área de influência da urgência e à evolução e caracte- coloca-nos algumas perplexidades. rísticas da respectiva procura”. 26. Para além da questão da organização logística da 15. Ora, quanto a este preceito é de lamentar a utiliza- “chamada”, da sua prova e da sua contagem “contra- ção de um conceito indeterminado (“sempre que pos- relógio”, não podemos esquecer que, nos grandes cen- sível”) conferindo-se, assim, ao Director Clínico uma tros urbanos, mesmo em situações de pouca distância ampla margem de apreciação, praticamente insindicá- entre a casa do médico e o SU, o volume de tráfego é vel, já que fica este dotado do poder de, na inexistência susceptível de inviabilizar o cumprimento daqueles 30 de níveis assistenciais definidos pela Ordem dos Mé- minutos. 67

27. Perguntar-se-á: o que acontece em tais situações 32. No quadro dos deveres do funcionário público, do (para além da óbvia resposta de que, à luz do Decreto- agente da administração e dos deveres dos trabalhado- lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, ou do Código do Tra- res, todos estes deverão, no entanto, acatar as ordens balho, o médico incorre em infracção disciplinar), e que, ao abrigo de tal Despacho vierem a ser proferidas. porquê o limite dos 30 minutos? 33. Não obstante, somos do entendimento que, apesar 28. Será que, para além de estarmos perante um con- de tal dever de obediência, não deverão os médicos ceito inovador de especialidades sem SU, se presume deixar de, nomeadamente, nos termos, do disposto no que os episódios de urgência e de emergência que artigo 271.º da Constituição da República Portuguesa, ocorrem nestas especialidades não são tão urgentes do artigo 10.º do DL 24/84 e do artigo 121.º n.º 1 al. d), ou emergentes que podem – sempre – esperar, pelo in fine do Código do Trabalho, suscitar por escrito as menos, 30 minutos? dúvidas que, a aplicação concreta do presente Despa- cho possa colocar em termos de legalidade e mérito. 29. Consideramos, assim, que a positivação de tal tipo de solução é, no mínimo, altamente discutível do ponto 34. Sugerimos, igualmente, que seja o presente parecer de vista das regras de segurança do acto médico e, con- remetido ao Ex.mo Senhor Procurador da República sequentemente, das legis artis. junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa para os devidos efeitos legais. 30. Depois certo é que, em face dos latíssimos poderes conferidos pelo n.º 7 ao Director Clínico, acaba o n.º 16 Este, s.m.o., o nosso entendimento, por fazer impender sobre o Director do SU as respon- sabilidades pela implementação do sistema, sendo que, A Advogada, poderá, atento aquele poder do Director Clínico, ser Inês Folhadela totalmente vetado o seu trabalho por via de as decisões, no que diz respeito aos níveis assistenciais caberem a este, apesar de as responsabilidades poderem ser assa- cadas àquele (bem como aos chefes de equipa do SU). 31. Em suma: são sérias as reservas que o Despacho em apreço nos oferece, quer do ponto de vista da sua legali- dade, quer do ponto de vista do seu mérito.

PARECER DO CONSULTOR JURÍDICO DO SIM

afectos à prestação de serviço em SU em “parte” supe- rior a 6 ou 12 horas do seu horário semanal de traba- lho (consoante o regime de trabalho que pratiquem); b) Por maioria de razão, estes médicos nunca poderão ver afectada “a totalidade do seu horário semanal de DOCUMENTO 4 trabalho ao SU”, como se dispõe do Despacho. (9 Jan 2007) c) Diferente é o caso dos médicos em contrato indivi- dual de trabalho, pelo menos, até que reja neste sector um instrumento de regulação colectiva de trabalho, como será o ACT em negociação, por proposta do SIM, com a comissão negociadora dos Hospitais EPE; d) Não obstante, estes médicos em contrato individual DESPACHO N.º 47/SEAS/2006 de trabalho também estão subordinados a regras pró- Algumas notas sobre o teor do aludido Despacho: prias, emergentes, nomeadamente, do CódTrab, que determinam que as suas prestações sofrem específi- (I) As novas normas enunciadas aplicam-se de imediato cas limitações quanto à duração da jornada de traba- e a todos os universos de SU, i.e., SU polivalente, SU lho normal que nunca pode ser de 12 horas, como, Médico-Cirúrgica e, também, “com as devidas adapta- sabêmo-lo bem, é a prática corrente e generalizada; ções” aos SU Básica – cfr. n.º 2; (III) Note-se, ainda quanto aos médicos das carreiras (II) É criado um conceito-fórmula inovador, o de “equi- médicas de clínica geral e hospitalar, que nem sequer o pas dedicadas”, definidas como as equipas “constituídas seu “acordo” de que fala o n.º 5, torna aceitável, do ponto por médicos que afectem parte ou a totalidade do seu horário de vista da legalidade, a afectação de partes acrescidas semanal de trabalho ao SU, com carácter definitivo ou tem- dos respectivos horários semanais à actividade em am- porário” – cfr. n.º 4, com respeito às quais, há que fazer biente de SU; notar o seguinte: a) Face ao disposto nos arts. 24.º/5 e 31.º/5, DL 73/90, (IV) Muito grave é a lassidão de propósitos que flúi do 6.III, que contém o Regime Legal das Carreiras Mé- n.º 7, ao dar cobertura à violação das leges artis relativas dicas, os médicos da carreira médica de clínica geral aos “níveis assistenciais definidos pela Ordem dos Médicos e os médicos da carreira hospitalar, não podem estar para as diversas valências”; 68 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL NORMAS PARA ELABORAÇÃO DAS ESCALAS-TIPO DOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA (CONT.)

(V) Esta derrogação dos princípios de qualidade e de se- ainda assim, lhe deve dar “apoio”, no fundo, passa a de- gurança do exercício da medicina é triplamente grave, sempenhar 2 actividades totalmente distintas (a rotina na medida em que implica: e a adicional de urgência) dentro do mesmo horário, a) O reconhecimento, aliás expresso em letra regula- sendo que o faz, obviamente, em muito pioradas condi- mentar, por parte do Governo, na pessoa da SEAS, ções materiais e logísticas; de que as “escalas-tipo” dos SU podem passar a estar (XI) O Despacho também adopta, inovadoramente, a fora de lei; quantificação do tempo para satisfação, pelos médicos b) A co-responsabilização, por conivência esperada, do em regime de prevenção, do dever de comparência, em Director Clínico; “30 minutos após a chamada” – cfr. n.º 9; c) A submissão, dir-se-ia falsamente indemne, por parte dos médicos, colocados na primeira linha da (XII) Trata-se doravante de uma minuciosa especifica- prestação dos cuidados de saúde nos SU desguarne- ção, para o bem e para o mal; cidos dos “níveis assistenciais”; (XIII) Certamente que para o mal, é de registar, no (VI) É sempre de insistir que a responsabilidade crimi- mesmo n.º 9, a omissão quanto ao que se entende no nal e também a deontológica dos médicos, não se apaga, Despacho por “chamada”; nem transfere, por passos do leviano abaixamento dos “níveis assistenciais”, ainda que promanados superior- (XIV) Isto é: mente, já que nem mesmo a dedução de um protesto a) A “chamada” é um imperativo, ou não? formal dos médicos os escudará a posteriori, na emer- b) A quem cabe promovê-la? gência de um conflito com terceiros, v.g. os doentes; c) Que papel, se é que algum, pertence ao médico cha- mado, na decisão sobre a necessidade da comparência? (VII) É criado outro conceito-fórmula novo, no n.º 8, trata-se das “especialidades de apoio ao SU”; (XV) Ao regulamentar, até aos minutos, o dever de comparência, esperar-se-ia que o Despacho não olvi- (VIII) Desta feita, a noção em causa não é fornecida dasse a questão major dos contornos do dever de com- pelo Despacho, mas deduz-se que o intuito da SEAS parência do médico; seja o de mobilizar serviços, rectior, médicos, para esta- rem no SU, sem, de facto e de direito aí estarem; (XVI) Aplauda-se a consagração, por uma vez, da “res- trição” à tão perigosa prestação de trabalho “por mais de (IX) Ora, tal procedimento, constitui, para os médicos 12 horas consecutivas”, para mais em SU – cfr. n.º 14/b)! das carreiras médicas, repetida violação do disposto, respectivamente, nos arts. 24º/5 e 31º/5, DL 73/90, 6.III, (XVII) Atente-se na necessidade de monitorizar a sub- e, para os médicos em contrato individual de trabalho, reptícia introdução do “regime de trabalho por turnos” traduz, como para aqueles, uma diminuição das suas – cfr. n.º 15, tanto mais que se desconhece qualquer garantias e uma afectação intolerável da segurança do modelo de contrapartidas, designadamente as remune- respectivo desempenho, geradora de acrescidos níveis ratórias, para esse efeito. de risco profissional, absolutamente contrários à lei; (X) Não carece aqui de demonstração muito desen- Lisboa, 9 de Janeiro de 2007 volvida, observar que um médico que, não estando embora na escala de presenças ou de prevenção do SU,

CARTA DA FNAM À SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA SAÚDE

Ex.ma Sra. Secretária de Estado Adjunta e da Saúde Dra. Carmen Pignatelli

A FNAM tomou conhecimento do Despacho n.º 47/ De acordo com o D.L. n.º 73/90, os médicos têm uma SEAS/2006, relativo às “normas para elaboração das es- carga horária bem definida dentro do seu horário nor- DOCUMENTO 5 calas-tipo dos serviços de urgência”. mal semanal. (19 Jan 2007) Este despacho, assinado por V.Ex.a, tem sido divulgado No caso, por exemplo, da carreira médica hospitalar o pelos serviços de saúde através de uma “circular informa- seu horário normal semanal possui o período máximo tiva” da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde. de 12 horas destinado ao serviço de urgência. Verificamos que algumas disposições aí contidas não Deste modo, não é possível estabelecer que os médicos respeitam o enquadramento legal das carreiras médicas. “afectem parte” do seu horário semanal de trabalho ao Assim, importa clarificar as seguintes questões: SU (serviço de urgência). A “parte” que podem afectar está bem definida legal- 1. O ponto n.º 4 afirma que “o Conselho de Administra- mente. ção do Hospital deve promover a constituição de equipas A referência efectuada significa que pode existir a tenta- dedicadas constituídas por médicos que afectem parte ou a ção futura de promover medidas que determinem mais totalidade do seu horário semanal de trabalho ao SU, com de 12 horas semanais do horário normal atribuídas ao SU. carácter definitivo ou temporário”. 69

Quanto à existência de médicos que possam ser colo- 6. O ponto n.º 15 volta a insistir também na questão da cados a desempenhar a sua actividade no SU, execu- atribuição do horário semanal que já referimos na abor- tando neste serviço a totalidade do seu horário normal dagem do ponto n.º 4 desta circular informativa. semanal, é matéria que necessita de ser consagrada 7. A alínea b), do ponto n.º 16, torna a abordar a questão legalmente no diploma das carreiras médicas. do regime de prevenção e chega até ao extremo da ilega- 2. O ponto n.º 7 admite a possibilidade das chamadas lidade ao estabelecer que o director do SU deve “propor “escalas-tipo” não respeitarem os níveis assistenciais ao Director clínico as especialidades que prestarão serviço definidos para as diversas valências. Trata-se de uma em regime de prevenção...” situação surpreendente e inadmissível. Como já clarificámos anteriormente, este regime está na dependência directa do prévio acordo de cada médico. 3. O ponto n.º 8 estabelece o princípio da distribuição Deste modo, verificamos existir uma clara disposição de médicos por turnos. Trata-se, sem dúvida, de um em enveredar por disposições ilegais, pretendendo, in- lapso. É que o trabalho por turnos não tem consagração clusive, atribuir ao director clínico uma competência legal a nível da actividade médica nos serviços públicos que não dispõe. de saúde. Perante as questões que acabámos de referir, torna-se 4. O ponto n.º 9 contém duas disposições claramente urgente proceder a integral clarificação do conteúdo ilegais. deste despacho e proceder às correspondentes altera- A primeira faz referência a “especialidades que asseguram ções que assegurem o respeito pelo enquadramento a prestação de serviço de urgência em regime de prevenção”. legal em vigor. Como é sabido, não existem especialidades que asse- Consideramos que se justifica a realização, a muito gurem o serviço de urgência neste regime. Aquilo que curto prazo, de uma reunião com V.Exa. a legislação estabelece é o que o regime de prevenção Aguardando resposta, subscrevemo-nos com os nossos em substituição da presença física depende sempre do melhores cumprimentos. prévio acordo do médico. Nesse sentido, a segunda disposição contida neste P’Ia Comissão Executiva da FNAM ponto ao afirmar que “...aquele regime aplica-se sempre Maria Merlinde Madureira, Presidente que a presença física do médico da respectiva especialidade não se mostre indispensável” não possui qualquer susten- tação legal. Mais uma vez, aquele regime só se poderá aplicar se houver o prévio acordo do médico, não po- dendo as administrações determinar unilateralmente se se justifica ou não a presença física. 5. O ponto n.º 11, a alínea d) do ponto n.º 14 e o ponto n.º 15 voltam a referir o trabalho por turnos.

CARTA DO PRESIDENTE DA OM À SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA SAÚDE

A S. Ex.a, a Secretária de Estado Adjunta e da Saúde lação abrangida pela área de influência de urgência e à Dra. Carmen Pignatelli evolução e características da respectiva procura, deve ser enviado à Ordem dos Médicos para parecer,” A Ordem dos Médicos teve conhecimento, através de Circular Informativa da Secretaria-Geral do Ministério Certo da V. melhor atenção para este assunto, apresento DOCUMENTO 6 da Saúde, do despacho que Vossa Excelência exarou so- os melhores cumprimentos, bre a elaboração de escalas-tipo dos serviços de urgência. O Presidente Entende a Ordem dos Médicos a pertinência e utilidade Dr. Pedro M. H. Nunes deste despacho, que analisou atentamente em reunião de Conselho Nacional Executivo. Desta apreciação res- saltou que a redacção dada ao ponto 7.º é susceptível de comprometer a qualidade dos cuidados de saúde a serem prestados aos portugueses, pelo que vem propor a V. Exa. a seguinte redacção: “As escalas-tipo devem respeitar os níveis assistenciais definidos pela Ordem dos Médicos para as diversas valências. Quando inexistentes, os níveis assistenciais definidos para o SU pelo Director Clínico, com a justi- ficação devida, quer quanto à dotação de recursos, quer quanto à dimensão e estrutura demográfica da popu- 70 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL CONSELHO NACIONAL DE ÉTICA E DEONTOLOGIA MÉDICAS PARECER - RESPOSTA A QUESTÃO COLOCADA POR UM MÉDICO DA SRNOM

Resposta à questão colocada ao CRN por um médico Todavia, no caso em apreço não se equaciona só a inscrito na SRNOM que perguntou se pode ser obri- questão de saber se, havendo restrições financeiras, o gado, por ordem do Director de Serviço, a implantar médico pode aceitar a ordem de prescrever uma tera- um determinado tipo “tradicional” de “pacemaker” pêutica menos onerosa ou se deve prescrever a mais DOCUMENTO 7 que não considere indicado e que [na sua opinião] cara mesmo sabendo que ela não é financeiramente pode ter um efeito deletério em alguns doentes. exequível. De facto, o Colega adianta que o tratamento mais barato pode ter efeito deletério em alguns doentes. O Código Deontológico estabelece que o médico “só Em obediência ao princípio ético de não-maleficência, deve tomar decisões ditadas pelas suas ciência e cons- impõe-se “primum non nocere”, pelo que em tal caso o ciência” (art. 33.º), que “tem o direito a recusar a prática médico não deve prescrever esse tratamento. Por isso, de acto da sua profissão quando tal prática entre em se a instituição não tem condições financeiras para conflito com a sua consciência” (art. 30.º) e que não proporcionar o tratamento mais conveniente, o médico deve aceitar “situações de interferência externa que lhe não poderá prescrever um tratamento alternativo que cerceiem a liberdade de fazer juízos clínicos” (art. 28.º). julgue ir ter efeito deletério. Por outro lado, o médico deve ponderar os benefícios Em conclusão, [o médico], ponderando os custos, os e os custos das suas decisões. Com efeito, o médico riscos e os benefícios das suas decisões, deve actuar o “deve ter em consideração as suas responsabilidades melhor que souber, de acordo com a sua consciência e sociais no exercício do seu direito à independência na atendendo aos condicionalismos financeiros, mas não orientação dos cuidados e na escolha da terapêutica, deve aceitar ordens para prescrever tratamentos que assumindo uma atitude responsável perante os custos considere serem deletérios para o doente. globais da saúde» (art. 91.º do Código Deontológico). No mesmo sentido, o Código Deontológico prescreve Coordenador do CNEDM (no art. 46.º) que o médico “tem o direito à liberdade de Prof. Dr. Henrique Vilaça Ramos diagnóstico e terapêutica, mas deve abster-se de pres- crever exames ou tratamentos desnecessariamente one- rosos ou de realizar actos médicos supérfluos”. Do exposto decorre que o médico deve actuar o melhor que puder e souber, dentro dos condicionamentos fi- nanceiros existentes, devendo acatar as ordens dos seus superiores hierárquicos nesse sentido, desde que as mesmas não conflituem com a sua consciência.

«INCOMPATIBILIDADES» - DESPACHO N.º 725/2007, DO MINISTRO DA SAÚDE CARTA ENVIADA AOS MÉDICOS DA SRNOM

Ex.mo (a) Colega: adamente quando sejam titulares de um regime de tra- balho de 35 horas/semanais ou de contrato individual O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos de trabalho que não imponha exclusividade. analisou o despacho acima identificado e considera que: c) atendendo ao exposto anteriormente o Conselho a) o referido despacho para além do significado político Regional do Norte da Ordem dos Médicos recomenda DOCUMENTO 8 que contem (uma tentativa mal disfarçada de impor o que os Médicos, quando confrontados com o pedido de (18 Jan 2007) regime de dedicação exclusiva sem a correspondente subscrição de uma declaração conforme aquele Des- remuneração) é susceptível de gerar graves e díspares pacho, deverão, por escrito, apresentar requerimento interpretações por parte dos Conselhos de Adminis- motivado, no qual sejam suscitadas as dúvidas que o tração das Administrações Regionais de Saúde e das respectivo caso concreto possa motivar. instituições integradas no Serviço Nacional de Saúde, d) o Conselho Regional do Norte solicita ainda ao abrindo caminho ao exercício da arbitrariedade no âm- Ex.mo (a) Colega que lhe seja enviada uma cópia do bito da administração pública. requerimento acima referido. b) o facto das entidades acima referidas confrontarem No sentido de assegurar a DEFESA DOS MÉDICOS, o os Médicos com uma ordem de assinatura de um do- Conselho Regional envia-lhe em anexo três minutas- cumento, no qual estes declaram, sob compromisso de tipo dos requerimentos que – adaptados caso a caso –, honra, conhecerem o teor do aludido despacho e que devem ser apresentados, disponibilizando desde já os não se encontram na situação nele prevista (seja, de im- serviços jurídicos desta Secção Regional para os escla- pedimento), poderá forçar os médicos – desconhecedo- recimentos que cada médico considerar necessários. res do que se tenha por “... exercício efectivo da funções de coordenação e direcção, independentemente da sua Com os melhores cumprimentos natureza jurídica...” –, a prestarem falsas declarações e/ou obrigarem-se a uma “exclusividade” perante as O Presidente do Conselho Regional entidades do SNS camuflada e não remunerada, nome- (Dr. José Pedro Moreira da Silva) 71

MINUTA PARA MÉDICOS DA CARREIRA MÉDICA HOSPITALAR (35H/SEMANAIS)

Ex.mo Senhor Presidente do Conselho de Administração do 4. Assim, resulta para o Requerente que, ao subscrever a Hospital… aludida declaração e mantendo-se a sua situação de não exclusividade, poderá estar a incorrer na prática de um F...... , médico portador da cédula n.º ...... , .... (grau) da crime de falsas declarações, razão pela qual invoca, nos DOCUMENTO 8.1 carreira médica hospitalar, especialista de ...... , tendo-lhe termos do disposto no artigo 271.º da Constituição da sido solicitada a assinatura de declaração em como não se República Portuguesa e do artigo 10.º do DL 24/84 de encontra na situação prevista no Despacho n.º 725/2007, 16 de Janeiro o direito de desobediência, seja, de não de Sua Ex.a o Ministro da Saúde, publicado no Diário da assinatura da referida declaração. República 2.ª Série, n.º 10 de 15 de Janeiro de 2007, vem EXPOR e REQUERER: 5. O Requerente não pretende deixar de ser Médico da Instituição a que V.a Ex.a preside mas também não pre- 1. O Subscritor faz parte do quadro desse Hospital, tendo, tende optar pelo regime de 42 horas de trabalho/sema- nos termos do DL 73/90 de 06 de Março, um regime de nais, com exclusividade. 35 horas semanais, seja, sem dedicacão exclusiva. 6. Face à situação supra exposta, REQUER a V.a Ex.a que, 2. Para além disso, o Requerente vem, de há longos anos, nos termos do n.º 2 do aludido despacho se digne, sus- exercendo a sua actividade no âmbito da sociedade mé- citar os esclarecimentos que reputar por convenientes dica ...... na qual desempenha as seguintes funções: junto da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde quanto ...... (descrever pormenorizadamente as funções que à situação do Requerente. possam ser havidas como de coordenação e direcção na sociedade médica / clínica / consultório). 3. Esse exercício nunca colidiu com o desempenho das suas funções no Serviço Nacional de Saúde, nunca pôs ...... , ... de ...... de 2007 em causa o cumprimento do seu horário de trabalho, tão pouco a sua insenção no desempenho daquelas fun- O Requerente, ções.

MINUTA PARA MÉDICOS DA CARREIRA DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR (35H/SEMANAIS)

Ex.mo Senhor Director do Centro de Saúde de ...... 4. Assim, resulta para o Requerente que, ao subscrever a aludida declaração e mantendo-se a sua situação de não exclusividade, poderá estar a incorrer na prática de um F ...... , médico portador da cédula profi ssional n.º ...... , crime de falsas declarações, razão pela qual invoca – nos ...... (grau) da carreira de Medicina Geral e Familiar/Clínica termos do disposto no artigo 271.º da Constituição da DOCUMENTO 8.2 Geral, tendo-lhe sido solicitada a assinatura de declaração República Portuguesa e do artigo 10.º do DL 24/841 de em como não se encontra na situação prevista no Despacho 16 de Janeiro –, o direito de desobediência, seja, de não n.º 725/2007, de Sua Ex.a o Ministro da Saúde, publicado assinatura da referida declaração. no Diário da República 2.a Série, n.º 10 de 15 de Janeiro de 5. O Requerente não pretende deixar de ser Médico da Ins- 2007, vem EXPOR e REQUERER: tituição que V.a Ex.a dirige, mas também não pretende 1. O Subscritor faz parte do quadro desse Centro de Saúde, optar pelo regime de 42 horas de trabalho/semanais, tendo, nos termos no DL 73/90, de 06 de Março, um com exclusividade. regime de 35 horas semanais, seja, sem dedicação ex- 6. Face à situação supra exposta, REQUER a V.a Ex.a que, clusiva. nos termos do n.º 2 do aludido despacho se digne, susci- 2. Para além disso, o Requerente vem, de há longos anos, tar esclarecimentos à Secretaria-Geral do Ministério da exercendo a sua actividade no âmbito da sociedade mé- Saúde quanto à situação do Requerente. dica ...... na qual desempenha as seguintes funções: ...... (descrever pormenorizadamente as funções que possam ser havidas como de coordenação e direcção na sociedade médica / clínica / consultório)...... , ... de ...... de 2007 3. Esse exercício nunca colidiu com o desempenho das O Requerente, suas funções no Serviço Nacional de Saúde, nunca pôs em causa o cumprimento do seu horário de trabalho, tão pouco a sua isenção no desempenho daquelas suas funções. 72 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

MINUTA PARA MÉDICOS COM CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

Ex.mo Senhor ...... tão pouco a sua isenção no desempenho daquelas suas funções. F ...... , médico portador da cédula profi ssional n.º ...... , ...... (grau) de ...... (Especialidade), tendo-lhe sido solicitada 4. Assim, resulta para o Requerente que, ao subscrever a a assinatura de declaração em como não se encontra na aludida declaração e face ao teor do seu contrato de tra- situação prevista no Despacho n.º 725/2007, de Sua Ex.a balho, poderá estar a incorrer na prática de um crime de o Ministro da Saúde, publicado no Diário da República falsas declarações, razão pela qual invoca – nos termos DOCUMENTO 8.3 2.a Série, n.º 10 de 15 de Janeiro de 2007, vem EXPOR e do disposto no artigo 271.º da Constituição da Repú- REQUERER: blica Portuguesa e do artigo 10.º do DL 24/841 de 16 de Janeiro –, o direito de desobediência, seja, de não 1. O Subscritor faz parte do quadro dessa Instituição, assinatura da referida declaração. tendo celebrado um contrato individual de trabalho em .../.../..., no qual fi cou expressamente salvaguardada a 5. O Requerente não pretende rescindir o seu contrato de possibilidade de exercício da medicina fora da Institui- trabalho, mas também não pretende optar pelo regime ção Hospitalar. de exclusividade. 2. Para além disso, o Requerente vem, de há longos anos, 6. Face à situação supra exposta, REQUER a V.a Ex.a que, exercendo a sua actividade no âmbito da sociedade mé- nos termos do n.º 2 do aludido despacho se digne, susci- dica ...... na qual desempenha as seguintes funções: tar esclarecimentos à Secretaria-Geral do Ministério da ...... (descrever pormenorizadamente as funções que Saúde quanto à situação do Requerente. possam ser havidas como de coordenação e direcção na sociedade médica / clínica / consultório). 3. Esse exercício nunca colidiu com o desempenho das suas funções no Serviço Nacional de Saúde, nunca pôs ...... , ... de ...... de 2007 em causa o cumprimento do seu horário de trabalho e demais obrigações emergentes do contrato de trabalho, O Requerente,

REVOGAÇÃO DO DESPACHO N.º 725/2007 PETIÇÃO DO SINDICATO DOS MÉDICOS DA ZONA SUL

Senhor Ministro da Saúde Excelência, Novembro, e da alínea b) do n.º 1 do artigo 6.º do De- creto-Lei n.º 233/2005, de 29 de Dezembro, entendo SINDICATO DOS MÉDICOS DA transmitir as seguintes orientações e directrizes: ZONA SUL, Pessoa Colectiva n.º 1 – O exercício efectivo de funções de coordenação e di- DOCUMENTO 9 recção, independentemente da sua natureza jurídica, em (3 Out 2006) 501103554, com sede na Avenida Almirante Reis, n.º 113, 5.º Andar, instituições privadas prestadoras de cuidados de saúde Porta 501, 1150-014 Lisboa, vem, por profi ssionais pertencentes ao Serviço Nacional de em defesa colectiva dos direitos e Saúde (SNS) sujeitos ou não ao regime de Administração interesses individuais dos médicos Pública, deve ser sempre considerado incompatível. nele fi liados e ao abrigo dos artigos 2 – Devem os conselhos de administração das adminis- 56.º, n.º 1, da Constituição da Re- trações regionais de saúde e instituições integradas no pública Portuguesa (CRP), 53.º, n.º SNS proceder em conformidade e, em caso de dúvida, 1 e 115.º, n.º 1, do Código do Pro- solicitar esclarecimentos à Secretaria-Geral do Ministé- cedimento Administrativo (CPA), rio da Saúde. 3 – Os órgãos referidos no número antecedente procedem à avaliação das situações actuais, uniformizando-as com PETIÇÃO, o presente despacho.” Visando a revogação do Despacho do Ministro da 2. O Despacho transcrito emite, por referência a todos Saúde n.º 725/2007, de 15 de Janeiro de 2007 (DMS n.º os profi ssionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), 725/2007), publicado no Diário da República, 2.ª série, uma instrução de natureza regulamentar em matéria de n.º 10, de 15 de Janeiro de 2007, acumulação do desempenho de funções públicas com o exercício de actividades privadas. Nos termos e com os fundamentos seguintes: 3. Concretamente, no âmbito do exercício de funções 1. O Despacho ora impugnado é do seguinte teor: dirigentes (coordenação e direcção) em todas as enti- “O exercício de funções dirigentes em entidades privadas dades privadas prestadoras de cuidados de saúde, por prestadoras de cuidados de saúde, por parte de profi s- parte de todos aqueles profi ssionais, designadamente sionais de instituições integradas no Serviço Nacional médicos, vinculados a instituições integradas no SNS. de Saúde (SNS), independentemente da sua natureza jurídica, é passível de comprometer a isenção e imparcia- 4. Tal regra de actuação, a aplicar pelos órgãos ges- lidade, com o consequente risco de prejuízo efectivo para tores dos serviços e estabelecimentos integrados no o interesse público, conforme genericamente admitido no SNS, consiste na declaração de incompatibilidade de n.º 2 do artigo 20.º do Estatuto do SNS, aprovado pelo todas as modalidades de exercício funcional, presentes Decreto-Lei n.º 11/93. e futuras, enquadráveis na situação de facto referida no Assim, ao abrigo do artigo 6.º do regime jurídico da ges- número anterior, correspondente à previsão constante tão hospitalar, aprovado pela Lei n.º 27/2002, de 8 de do n.º 1 do Despacho ora impugnado. 73

5. A definição das incompatibilidades entre “o exercício d) a prevista no n.º 3 do artigo 9.º do DL n.º 97/98, re- de empregos ou cargos públicos e o de outras activida- lativa aos directores de serviço dos serviços e estabe- des”, designadamente privadas, está sujeita, por força lecimentos integrados no SNS, os quais “não podem do n.º 5 do artigo 269.º, da CRP, ao princípio da reserva exercer funções de direcção técnica em entidades de lei. convencionadas”. Ou seja, 12. Em relação aos profissionais do SNS, designada- 6. Conforme concluiu o Conselho Consultivo da Pro- mente médicos, a lei actualmente vigente não prevê curadoria-Geral da República, no âmbito do Parecer n.º quaisquer outras incompatibilidades, em matéria de 00000341, de 10 de Janeiro de 1991, “só existe incom- acumulação do desempenho de funções públicas com o patibilidade entre o exercício de empregos ou cargos exercício de actividades privadas. públicos e o de actividades privadas nos casos em que a 13. O DMS n.º 725/2007, na sua parte preambular e lei o determinar.” a título de enquadramento geral, vem sustentar que o 7. Os profissionais do SNS, em especial os médicos, exercício de funções dirigentes em entidades privadas estão sujeitos, em matéria de incompatibilidades, a uma prestadoras de cuidados de saúde, por parte de profis- normação especial, privativa, exterior ao regime ge- sionais vinculados a instituições integradas no SNS, é ral da relação jurídica de emprego na Administração “passível” de comprometer a sua “isenção” e “impar- Pública e sobre ele prevalecente, conforme se extrai, cialidade” e de gerar, portanto, um “risco” de “prejuízo sem esforço, dos artigos 44.º, n.º 3, do Decreto-Lei n.º efectivo para o interesse público”. 427/89, de 7 de Dezembro e 13.º do Decreto-Lei n.º 14. Esta valoração genérica e abstracta, ao expressar um 413/93, de 23 de Dezembro. juízo meramente indiciário, inteiramente contido nos 8. Tal normação específica, de natureza estatutária, é limites definidos pelo n.º 2 do artigo 20.º do ESNS, não delimitada pelo Regime Legal das Carreiras Médicas oferece o flanco à crítica. (RLCM), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 73/90, de 6 de 15. Só que o Despacho em apreço, de um modo intei- Março, pela Lei de Bases da Saúde (LBS), aprovada pela ramente surpreendente e em flagrante contradição com Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto, pelo Estatuto do Serviço o enunciado anterior, vem declarar, logo na abertura Nacional de Saúde (ESNS), aprovado pelo Decreto-Lei da sua parte dispositiva, que o referido exercício de n.º 11/93, de 15 de Janeiro e pelo Decreto-Lei n.º 98/97, funções dirigentes “deve ser sempre considerado in- de 18 de Abril (DL n.º 98/97), que regulamentou o re- compatível”. gime jurídico das convenções. Ou seja, 9. O cotejo das disposições constantes das Bases XXXI, 16. Vem afirmar que tal exercício funcional – indepen- n.º 3 e XXXVII, n.º 2, da LBS e do artigo 20.º, n.º 1, do dentemente da carreira, vínculo e regime de trabalho do ESNS, permite afirmar a existência, em relação aos profissional do SNS, da natureza jurídica da actividade profissionais do SNS, de um princípio ou regra geral de privada por si exercida e da natureza, convencionada permissão da acumulação do desempenho de funções ou não, da entidade privada onde a mesma actividade é públicas com o exercício de actividades privadas. exercida – deve, em si mesma, sem mais, e sempre, ser 10. Tal princípio ou regra geral sofre, naturalmente, considerado incompatível. algumas excepções. 17. O Ministro da Saúde emite, assim, um juízo conclu- 11. Tais excepções, correspondentes às incompatibili- sivo apriorístico, absoluto e incondicionado de existên- dades determinantes da proibição daquela acumulação cia de uma incompatibilidade, directa e imediatamente de funções e actividades são, por referência ao quadro decorrente daquele exercício de funções dirigentes, por legal vigente, as seguintes: parte dos profissionais do SNS, em entidades privadas a) a prevista no n.º 4 do artigo 9.º do RLCM, de natu- prestadoras de cuidados de saúde. reza quase absoluta, resultante da sujeição ao regime 18. Note-se que tal juízo é genérico e abstracto, prescin- de trabalho de dedicação exclusiva; dindo de qualquer mediação concreta e casuística. b) as previstas no artigo 2.º do ESNS, emergentes de situações de facto de acumulação funcional que, em 19. O “não comprometimento da isenção e imparcia- concreto, (1) imponham encargos ao SNS decorren- lidade do funcionário ou agente” e a “inexistência de tes da prestação de cuidados de saúde aos beneficiá- prejuízo efectivo para o interesse público”, conceitos rios, designadamente no âmbito de contratos, ou (2) normativos indeterminados que, em sede do n.º 2 do envolvam sobreposição de horários, (3) comprome- artigo 20.º do ESNS, funcionam como cláusulas gerais e tam a “isenção” e “imparcialidade” do funcionário abstractas de salvaguarda de incompatibilidades – e cuja ou agente ou (4) determinem a ocorrência de “preju- verificação exige, portanto, uma prévia avaliação, caso a ízo efectivo para o interesse público”; caso, das situações concretas existentes ou a constituir c) a prevista no n.º 2 do artigo 9.º do DL n.º 97/98, por – são transformados, por via do despacho ministerial via da qual “Os profissionais vinculados ao Serviço ora questionado, em pressupostos de preenchimento Nacional de Saúde não podem celebrar convenções, automático, sem necessidade de qualquer indagação deter funções de gerência ou a titularidade de capital casuística das situações concretas, presentes ou futuras, superior a 10% de entidades convencionadas, por si de exercício de funções dirigentes, por profissionais do mesmos, pelos seus cônjuges e pelos seus ascenden- SNS, em entidades privadas de saúde. tes ou descendentes do 1.º grau”; No fundo, 74 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL

20. O Ministro da Saúde, por via do Despacho em 29. Violando, frontalmente, a norma constante do n.º 5 apreço, dá como adquirido aquilo que o legislador não do artigo 269.º da Lei Fundamental. deu, nem podia dar. Nestes termos, Na verdade, E tendo presente o princípio da legalidade a que a Ad- 21. Saber se a acumulação de funções, públicas e priva- ministração Pública está sujeita (CRP, artigo 266.º, n.º das, por parte dos profi ssionais do SNS, gera ou não, em 2), deverá o DMS n.º 725/2007 ser revogado, o que se concreto, uma incompatibilidade, subsumível à previ- requer a V. Exa. são, geral e abstracta, constante do n.º 2 do artigo 20.º Junta: Procuração. do ESNS, é uma conclusão a extrair da avaliação casu- ística das situações de facto existente ou a constituir, O Advogado, não um dado inerente e infalível daquela acumulação [1] Cfr. Acórdão n.º 118/97, de 19 de Fevereiro, doTribu- juncional, susceptível de enunciação a priori, em ter- nal Constitucional, que declarou, com força obriga- mos gerais e abstractos. tória geral, a inconstitucionalidade – por violação do 22. O DMS n.º 725/2007, aparentemente abrigado no artigo 56.º, n.º 1, da CRP – da norma constante do n.º 2 do artigo 20.º do ESNS, exorbita claramente do n.º 1 do artigo 53.º do CPA na parte em que negava seu âmbito. às associações sindicais legitimidade para iniciar o procedimento administrativo e para nele intervir, 23. Cria, na verdade, ex novo, uma incompatibilidade fosse em defesa dos interesses colectivos, fosse em originária absoluta, vedando a todos os profi ssionais do defesa colectiva dos interesses individuais dos traba- SNS, à partida, o exercício de quaisquer funções de coor- lhadores que representavam (Boletim do Ministério denação e direcção em todas as entidades privadas pres- da Justiça, n.º 464, p. 135). tadoras de cuidados de saúde, convencionadas ou não. [2] Este Parecer, publicado no Diário da República, 2.ª 24. É algo de inteiramente novo no panorama legal série, n.º 127, de 4 de Junho de 1991, foi homologado vigente. por Despacho do Ministro da Saúde de 22 de Feve- Ora, reiro do mesmo ano. 25. O Ministro da Saúde, por força do prin- cípio da reserva de lei acima destacado, está constitucionalmente impedido de, por via regulamentar, instituir uma nova incompa- tibilidade em matéria de acumulação de fun- ções públicas e privadas. 26. Tal poder pertence ao Governo, no âm- bito da sua competência legislativa (CRP, ar- tigo 198.º, n.º 1, alínea c)). 27. Sendo que a competência para a apro- vação do diploma em causa é do Conselho de Ministros (CRP, artigo 200.º, n.º 1, alínea d)). 28. O Despacho em causa, de natureza regu- lamentar, enquadrável na competência ad- ministrativa do Governo (CRP, artigo 199.º, alínea c)), enferma do vício de usurpação de poder (legislativo).

INSCRIÇÃO NA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE PEDIDO DE ESCLARECIMENTO ENVIADO AO CRN

ASSUNTO: Esclarecimento sobre inscrição na Enti- que ao exercer actividade num consultório, ainda que dade Reguladora da Saúde não fosse meu, e ao passar recibos verdes eu tutelava, Exmo. Sr. Presidente do Conselho Regional Norte, detinha ou geria o estabelecimento onde são prestados cuidados de saúde. DOCUMENTO 10.A Exerço actividade privada numa Clínica que terá pago Venho por este meio solicitar parecer jurídico sobre a se (28 FEV 2007) à ERS todas as contribuições e taxas respeitantes à Clí- devo ou não efectuar inscrição na ERS. nica, incluindo as dos médicos que aí exercem. Inadvertidamente fi z a pré-inscrição na ERS, que não Subscrevo-me com estima e consideração, os meus conclui por entender que não estou abrangida na Enti- cumprimentos dade defi nida no art. 2.º, alínea c, da portaria 38/2006. No decurso da pré-inscrição a ERS requereu o pa- Ana Matos gamento das taxas pelo que solicitei audiência para esclarecimento tendo sido informada de que estava abrangida pelo decreto-lei supra mencionado uma vez 75

PARECER-RESPOSTA DA CONSULTORA JURÍDICA DA SRNOM

No dia 06 de Janeiro foi publicada a portaria 38/2006 saúde propriedade de terceiro, o médico não está obri- que estabelece as regras do registo obrigatório e do pa- gado a inscrever-se na ERS, sendo que são as entidades gamento das correspondentes taxas a que estão sujeitas detentoras de estabelecimento quem têm que se regis- as entidades que, nos termos do artigo 8.º do Decreto- tar. E o médico que aí presta serviços é considerado lei 309/2003, de 10 de Dezembro, estão sujeitas à regu- para efeitos de cálculo do número dos técnicos de saúde lação da Entidade Reguladora da Saúde (salientando-se daquelas entidades. que a sua redacção foi parcialmente alterada pela Por- Tal conclusão é evidenciada pelas próprias fórmulas de DOCUMENTO 10.B (3 Out 2006) taria 639/2006 de 23 de Junho e que aqui se tem em cálculo das taxas de inscrição e de manutenção – em consideração). que NTS e NMTS é o número de técnicos de saúde que Ora, a questão que de momento foi submetida à nossa exerçam actividades nos estabelecimentos da entidade apreciação é a de saber quais as entidades que estão sujeita a registo. sujeitas ao registo junto daquela Entidade (doravante Saliente-se por fim que tal é, de resto, a infromação que designada abreviadamente por ERS). se encontra disponível no próprio site da ERS (in www. Resulta claro do teor da alínea c) do artigo 2.º da Por- ers.pt – informações úteis; perguntas frequentes) e cujo taria 38/2006 (redacção actual) que a definição de “en- “print” se anexa ao presente. tidade” é a de quem tiver a tutela, a gerência ou detiver Por outro lado, sempre caberá indagar se os referidos estabelecimento onde são prestados cuidados de saúde. recibos verdes se a situação deverá merecer tratamento Isto é, as entidades sujeitas a registo são todas as pes- distinto no caso de os recibos serem a situação deverá soas singulares ou colectivas que efectivamente tutelam merecer emitidos à clínica ou aos doentes. ou gerem estabelecimentos de saúde – enquanto locais No primeiro caso não restam dúvidas que a relação que de aviamento. se estabelece é de uma prestação de serviços entre o mé- Só estas entidades (enquanto, repita-se, detentoras de dico e a clínica e que a prestação de cuidados de saúde é locais onde efectivamente são prestados cuidados de estabelecida entre a clínica e os doentes. saúde) estão obrigadas a inscrever-se na ERS. No casa de os recibos serem emitidos pelo médico di- A questão então que se coloca é a daqueles médicos que, rectamente aos doentes, isso não significa, no nosso exercendo a sua actividade em local/estabelecimento do entender, que o médico “tutele, detenha doentes ou qual não são titulares, emitem, no entanto recibos de gira estabelecimento de saúde” pois, muitas vezes, tal prestação de serviços (os ditos recibos verdes). procedimento é apenas adoptado por razões de índole A questão merecerá, no nosso entender, resposta nega- fiscal e não corresponde ao exercício de um poder de tiva desde que se verifique, com é o caso, que a clínica já facto sobre o estabelecimento. considerou o médico no acto da inscrição na ERS. Assim, e em face da exposição da Ex.ma Senhora Dra. É que, entendimento diverso, implica “taxar” duas ve- Ana Maria Tavares de Matos, somos de opinião que zes a mesma situação o que, de todo em todo, é ilegal. – e ressalvada situação de facto que não nos tenha sido Na verdade, nestes casos, trabalhando/prestando ser- dada a conhecer – a mesma não está obrigada a inscri- viços em estabelecimentos prestadores de cuidados de ção junto da ERS. 76 INFORMAÇÃO INSTITUCIONAL CORTE NO VENCIMENTO DOS MÉDICOS COLOCADOS COM ATRASO NO INTERNATO MÉDICO (ANO COMUM) PARECER DO SERVIÇO JURÍDICO DO SINDICATO DOS MÉDICOS DA ZONA SUL LEGISLAÇÃO E ABREVIATURAS: Em resultado da tramitação sumariada, o ano comum CI n.º 65: Circular Informativa n.º 65, de 29 de Dezembro, do IM teve datas de início diferentes nos vários esta- DOCUMENTO 11 da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde belecimentos e serviços de saúde, sendo que a maioria (2 Mar 2007) CN n.º 1/2007: Circular Normativa n.º 1/2007, de 10 de Janeiro, da Secretaria-Geral do Ministério da Saúde dos internos, tanto quanto julgamos saber, iniciou o seu CRP: Constituição da República Portuguesa processo formativo no período compreendido entre 15 e DL n.º 48 051: Decreto-Lei n.º 48 051, de 21 de Novembro 29 de Janeiro último. de 1967 Importa indagar quais os efeitos jurídicos do atraso re- DL n.º 203/2004: Decreto-Lei n.º 203/2004, de 18 de gistado tanto no piano dos direitos e interesses, legal- Agosto mente protegidos, dos internos. DSGMS n.º 15/2006: Despacho do Secretário-Geral do Mi- nistério da Saúde n.º 15/2006, de 29 de Dezembro O RJIM actualmente vigente foi aprovado pelo DL n.º IM: Internato Médico 203/2004, que veio estabelecer os “princípios gerais” do IM 2007 (AC): Internato Médico de 2007 (Ano Comum) processo de formação médica pós-licenciatura (artigo 1.º). MS: Ministério da Saúde O legislador, neste caso o Governo, previu a necessidade PTA n.º 1419/2004: Portaria n.º 1419/2004, de 20 de No- de “regulamentação” do diploma, fixando, para o efeito, vembro o prazo de 180 dias (RJIM, artigo 29.º, n.º 1). Dado que PTA n.º 1326/2005: Portaria n.º 1326/2005, de 28 de De- zembro o DL n.º 203/2004 entrou em vigor a 1 de Setembro de PTA n.º 183/2006: Portaria n.º 183/2006, de 22 de Feve- 2004 (artigo 32.º, n.º 1), a referida normação regulamen- reiro tar deveria ter sido publicada até ao final de Fevereiro de RIM: Regulamento do Internato Médico 2005. O que só veio a acontecer, porém, em 22 de Feve- RJIM: Regime Jurídico do Internato Médico reiro de 2006, com quase um ano de atraso em relação SG: Secretário-Geral TC: Tribunal Constitucional ao prazo legal, por via da publicação do RIM, aprovado pela PTA n.º 183/2006. RESUMO Dispõe o artigo 15.º do RJIM: Vicissitudes do procedimento administrativo prévio à “1 – O internato médico inicia se em 1 de Janeiro de abertura do internato médico de 2007 (ano comum). cada ano civil. (2) Atraso na abertura do internato. Efeitos jurídicos no 2 – Os internos devem apresentar se nos estabelecimen- plano dos direitos e interesses legalmente protegidos tos de colocação na data referida no número anterior,...”. dos internos. O regime jurídico do internato médico. O Sobre a mesma matéria, dispõe o artigo 53.º do RIM: regulamento do internato médico. Acto legislativo. Acto “O internato médico inicia-se no dia 1 de Janeiro de regulamentar. Vício de ilegalidade. Responsabilidade cada ano, podendo este prazo ser alterado por despa- civil extra-contratual da Administração por actos de cho do secretário-geral do Ministério da Saúde.”(3,4) gestão pública. Em sintonia com este preceito, também o n.º 1 do artigo O procedimento administrativo prévio à abertura do 103.º do mesmo diploma regulamentar dispõe que: IM 2007 (AC) conheceu várias vicissitudes que deter- “O ano comum e a formação específica iniciam-se no minaram o atraso, de alguns dias, do início do processo dia 1 de Janeiro de cada ano, podendo tal prazo ser formativo. alterado por despacho do Ministério da Saúde?(5) O Ministro da Saúde, reconhecendo (tardiamente) a A PTA n.º 183/2006, ao regulamentar o DL n.º 203/2004, necessidade de se proceder a um aumento do número introduziu, assim, uma modificação em matéria de início de vagas destinadas à especialidade de Medicina Geral do IM e, consequentemente, do ano comum: enquanto o e Familiar, foi forçado a anular a lista de vagas inicial- RJIM previu, para o efeito, uma data fixa (1 de Janeiro de mente publicada. cada ano civil), sem alusão a qualquer possibilidade de A primeira lista de colocação dos candidatos teve de ser alteração, o RIM veio abrir, inovadoramente, essa possi- rectificada. E a segunda, face às “incorrecções” de que bilidade, por via de despacho do secretário-geral do MS. padecia, foi anulada pelo DSGMS n.º 15/2006(1). Foi, aliás, ao abrigo da norma habilitante constante do O processo de revisão então encetado ficou concluído n.º 1 do artigo 103.º do RIM, por si expressamente in- em 10 de Janeiro de 2007, data em que foi publicada vocada, que o titular daquele cargo dirigente veio deter- a lista definitiva de colocação dos internos, conforme minar, através do n.º 4 do seu despacho n.º 15/2006, de anunciou a Secretária-Geral Adjunta do MS, a coberto 29 de Dezembro, que “O Internato Médico 2007 A (ano da CN n.º 1/2007, daquela mesma data, que fixou as comum) terá início no dia 29 de Janeiro. [de 2007]” seguintes orientações: Mas será que esta faculdade, introduzida por via regu- “... Este mapa [lista de colocação] pode ter aplicação ime- lamentar, de alterar, mediante despacho do secretário diata para efeitos de início do respectivo internato médico. geral do MS, a data de início do IM, prevista pelo legisla- Assim, a partir desta data, os médicos internos podem dor, é legalmente possível? contactar os estabelecimentos de saúde onde forarn colo- Entendemos que não. cados no sentido de acertar, com os respectivos serviços Com efeito, importa notar que o DL n.º 203/2004, que de acolhimento, a data mais breve para se apresentarem aprovou o RJIM, é, nos termos do n.º 1 do artigo 112.º e iniciar o programa do 1.º ano do internato médico, o da CRP, um acto legislativo (ou normativo), inserido no mais tardar até ao dia 29 de Janeiro. âmbito da competência legislativa do Governo e editado, Cabe a cada estabelecimento de saúde gerir de forma conforme se alcança do seu próprio texto, a coberto da adequada a celebração dos contratos administrativos alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Lei Fundamental. de provimento, a formalizar nos termos legais, tendo Já a PTA n.º 183/2006 é um acto de natureza regulamen- por referência as datas de apresentação estabelecidas e tar, de desenvolvimento do regime jurídico instituído verificadas.” pelo DL n.º 203/2004, inserido no âmbito da compe- 77

tência administrativa do Governo, editado à sombra da quais se operou a alteração da data de início do IM 2007 alínea c) do artigo 199.º da CRP. (AC), não têm, assim, sustentação juridicamente válida, Conforme decidiu o TC, através do seu Acórdão n.º face à ilegalidade da norma regulamentar habilitante 113/88: invocada (artigo 103.º, n.º 1, do RIM). “I – Sendo os regulamentos normas subalternas e O início do referido processo formativo médico deveria complementares das leis, estão sujeitos ao princípio ter ocorrido, para todos os internos, no dia 1 de Janeiro da legalidade da Administração (artigos 266.º, n.º 2 e de 2007, de acordo com a imposição expressa no n.º 1 do 3.º, n.º 2, da Constituição). artigo 15.º do RJIM. II – O poder regulamentar da Administração funda- A (muito) defi ciente gestão do procedimento adminis- se, por um lado, num plano geral, directa e imedia- trativo prévio à abertura do IM em causa, da exclusiva tamente na Constituição: mas, por outro fado, o responsabilidade do MS, impediu o cumprimento da fundamento de cada regulamento em particular en- referida previsão legal e gerou danos na esfera jurídica contrar-se-á numa específi ca lei anterior, que cumpra patrimonial dos médicos internos, designadamente em a função de habilitação legal necessária para se dar sede remuneratória e de contagem de tempo de serviço. cumprimento ao princípio da primariedade ou da Tais danos, emergentes de responsabilidade civil ex- precedência da lei (artigo 115.º, n.º 7, da Constituição). tra-contratual da Administração, por actos de gestão III – Constitucionalmente, o princípio da legalidade pública, devem ser ressarcidos nos termos dos artigos da Administração, no que aos regulamentos respeita, 22.º e 271.º da CRP e do regime jurídico instituído pelo analisa-se tipicamente em três sub-princípios: (1) o DL n.º 48 051. regulamento não pode invadir os domínios constitu- Nestes termos, cionalmente reservados à lei, isto é, aquelas matérias E no caso do MS não ressarcir, voluntariamente, os pre- que, segundo a Constituição, só a lei pode regular (re- juízos causados, os médicos internos interessados, fi - serva de lei); (2) o regulamento supõe sempre uma lei liados no SMZS, em ordem à defesa dos seus direitos e antecedente, que ele visa regulamentar ou ao abrigo interesses legalmente protegidos, deverão contactar este da qual é emitido (precedência da lei); (3) o regula- Serviço jurídico que, através dos seus advogados, assu- mento não pode contrariar a lei, designadamente a lei mirá o patrocínio dos respectivos processos judiciais. que aquele visa regulamentar ou ao abrigo da qual foi emitido (prevalência da lei). Lisboa, 2 de Março de 2007. IV – A Constituição não se limitou, porém, a obrigar O Advogado, os regulamentos a respeitar a lei; determina também Jorge Mata (artigo 115.º, n.º 5) que nem a própria lei pode autori- zar a sua revogação, derrogação, suspensão, etc., por outra via que não outra lei, estando vedados, portanto, [1]Cfr. MS, SC, CI n.º 65, 29.12.2006. os chamados regulamentos delegados.”(6) [2] Sublinhado nosso. [3] Sublinhado nosso. A desconformidade entre uma norma regulamentar e [4] Neste mesmo sentido dispõem, também, o artigo 5.º da PTA n.º uma norma de um diploma legislativo – visível, no caso 1419/2004 (regulamento do concurso de ingresso no IM 2005) e em apreço, pelo confronto das disposições constantes o artigo 5.º da PTA n.o 1326/2005 (regulamento do concurso de dos artigos 53.º e 103.º, n.º 1, do RIM, por um lado, e ingresso no IM 2006), que, porém, atribuem tal competência não ao 15.º, n.º 1, do RJIM, por outro – gera o vício de ilegali- secretário-geral do MS mas, antes, ao Ministro da Saúde. [5] Sublinhado nosso. dade (cfr. Acórdãos do TC nos. 209/94 e 247/93). [6] Lopes, J.J. Almeida. Constituição da República Portuguesa Anotada. O DSGMS n.º 15/2006 e a CN n.º 1/2007, por via das Coimbra, AImedina, 6.ª ed., 2005: 492. 78 AGENDA

CENTRO DE CULTURA E CONGRESSOS

ACONTECEU...

REUNIÕES CIENTÍFICAS Maio Curso Marketing. – Escola de Concertos 09 e 10 Março Reunião Negócios Caixanova 30 Janeiro Serão Cultural. do Grupo de Trabalho de 04, 05, 11, 12, 18, 19, 25, 26 Concerto de Guitarra dedilhada, Doença Inflamatória Intestinal Maio Curso M. B.A. – Escola de Harpa, Coro “Allegro da Sociedade Europeia de Negócios Caixanova Cantabile”– Conservatório Gastrenterologia e Nutrição de Música da Maia. Poesia de Pediátrica 09, 10, 11, 12 Maio Curso para Barreiro de Magalhães Formadores e Orientadores de 23 Março Assembleia Geral da Medicina Geral e Familiar 13 Abril Noite de Baladas e Associação Portuguesa de Cirurgia poesia, Dr. Aurelino Costa, Ambulatória 09 Maio Reunião de Médicos inserido no encerramento da Internos das Especialidades de Exposição do Mestre Adelino 30 Março Reunião Inter- Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Ângelo Hospitalar do Norte Ginecologia/Obstetrícia, Dermatologia 25 Abril a 01 Maio 2.º Master 02, 03, 09, 10, 16, 17, 23, de Canto Operático 24, 30, 31 Março Curso MBA 16 Maio Reunião de Médicos – Escola de Negócios Caixanova Internos das Especialidades de Pauliteiras de Valcerto, Mogadouro, animaram a Medicina Geral e Familiar e Saúde Outros Eventos: apresentação do livro “No Bolso de Hipócrates – Quem 04 Abril - Reunião de Médicos Mais Jura Mais Sente” de Moraes Machado. A 23 Internos das Especialidades Pública 03 Março Lançamento do Livro de Março. de Radioterapia, Anatomia 17, 18 Maio Congresso Europeu de “Manifesto de um Sonho” de Patológica, Patologia Clínica, Ortopedia Joaquim Carvalho Mendes. Radiologia, Neuroradiologia, Medicina Nuclear 25 Maio Reunião Inter-Hospitalar 19 Maio Lançamento de Livro do Norte “Ponto e Contraponto “ de José 11Abril - Reunião de Médicos Manuel Gonçalves de Oliveira. Internos das Especialidades de Ortopedia, Medicina Física e REUNIÕES ORGANIZADAS Reabilitação, Reumatologia PELO CRNOM 13,14,20, 21,27,28 Abril Curso 02 Maio Reunião do Conselho M. B.A. – Escola de Negócios Disciplinar do Norte da Ordem dos Caixanova Médicos 13,14,20,21,27,28 Abril Curso Marketing. – Escola de Negócios ACTIVIDADES DE CULTURA E Caixanova LAZER 18 Abril Reunião de Médicos Exposições: Mostra de Arte e Design passou pelo CCC de 2 a 29 Internos das Especialidades de de Abril. Uma exposição colectiva organizada por Infecciologia, Endocrinanologia, 28 Fevereiro a 31 Março Isabel Abreu. Gastrenterologia, Nefrelogia, Exposição de Pintura de Mestre Cardilogia, Pneumologia, Júlio Pires Imunoalergologia, Hematologia De 15 Março a 15 Abril Exposição Clínica, Imunohemoterapia, de Pintura de Mestre Adelino Oncologia Médica Ângelo, patente nos Corredores 21 Abril Reunião Sociedade de e Paredes do Bar do Centro de Endoscopia Cultura e Congressos. 21 Abril Formação de 02 Abril a 29 Abril Exposição Gerontopsiquiatria Colectiva de Dr.a Isabel Abreu, patente na Galeria do Centro de Mestre Adelino Ângelo esteve pela segunda vez com 02, 09, 15, 23 Maio Formação Cultura e Congressos uma grande exposição no CCC. De 15 de Março a para Estudantes de Medicina 13 de Abril. FMUP 10 Maio a 27 Maio Exposição de Artes de Ricardo de Brito Moreira 02 Maio Reunião de Médicos da Silva, patente na Galeria, nos Internos das Especialidades Corredores e Paredes do Bar do Urologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Centro de Cultura e Congressos Maxilo-Facial, Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, Cirurgia Vascular, Estomatologia, Cirurgia Cardio- Torácica 03, 04, 05 Maio Jornadas de Ortopedia do H. S. João 04 Maio 3.ª Reunião de Epilepsia 04, 05, 11, 12, 18, 19, 25, 26

Foram muitos os interessados que acorreram ao CCC para assistir à apresentação do ivro “O Porto e a Tuberculose - 100 anos de Luta”. Uma obra de António Ramalho de Almeida. 79

VAI ACONTECER... REUNIÕES CIENTÍFICAS De 08 a 21 Julho Exposição de Outros Eventos: Pintura de Luísa Prior, patente na 06, 13, 20, 27 Junho Formação Galeria e Hall do Salão Nobre do para Docentes de Medicina FMUP Centro de Cultura e Congressos. 14 de Junho de 2007 Debate sobre o Futuro da Saúde Pública 01, 02, 15 Junho Curso De 18 Agosto a 08 Setembro Marketing. – Escola de Negócios Exposição de Pintura e Escultura 17 Jun. – Dia do Médico Caixanova de Domingos Rodrigues Valente, - Homenagem aos Médicos com 25 e 50 anos de inscrição na 01, 02, 08, 09, 15, 16, 22, 23, patente nos Corredores e Paredes do Bar do Centro de Cultura e Ordem dos Médicos / Prémio 29, 30 Junho- Curso M. B.A. “Daniel Serrão 2007” – Escola de Negócios Caixanova Congressos. 23 de Junho de 2007 Festa de 15 Jun. – Reunião Cat’s Porto De 10 a 23 Setembro Exposição Escultura de José Martins, patente S. João 02 Julho Conselho Nacional para na Galeria do Centro de Cultura e a Evidência na Medicina Congressos. 06, 07, 13, 14 Julho Curso M. B.A. – Escola de Negócios Concertos: Caixanova 08 de Julho de 2007 Concerto de 14, 15, 21, 22, 28, 29 Setembro Canto - Grupo Coral da Portugal Curso M.B.A. – Escola de Telecom Negócios Caixanova 27 a 29 Setembro Reunião de IPOKRATES – Serviço de Neonatologia do H.S. João

ACTIVIDADES DE CULTURA E LAZER Exposições 06 de Junho V Exposição de “Arte Médica” 08 de Julho Exposição Colectiva de Pintura de Júlio e Apolinário Régio

PRIMEIROS MÉDICOS COMPLETARAM O INTERNATO DA ESPECIALIDADE DE GENÉTICA MÉDICA

Assinado pelo Presidente do Colégio da Especialidade de Genética Médica, recebeu a nortemédico o texto que abaixo, com muito gosto, integralmente se transcreve:

A 26 e 27 Fevereiro passado, realizaram-se os primeiros Porto, Coimbra e Lisboa. Possuem idoneidade formativa e exames de saída desta Especialidade. Os Colegas Jorge capacidade formativa em Genética Médica, além do Ins- Pinto Basto e Gabriela Soares são assim os primeiros dois tituto de Genética Médica, no Porto, o Centro Hospitalar Especialistas a completarem o internato de Genética Mé- de Coimbra (Hospital Pediátrico) e os Hospitais de Santa dica em Portugal. Ambos haviam terminado, em Dezem- Maria e de Dona Estefânia, em Lisboa. bro, os cinco anos da sua formação, no Instituto de Gené- tica Médica, no Porto. O Colégio de Genética Médica é neste momento composto por 45 Especialistas. A nova Especialidade foi criada em 1998, terminando o Ciclo de Estudos Especiais e a Competência em Genética Com os meus cumprimentos. Médica. 0 Colégio foi constituído em 2000, após o pro- cesso de admissão por consenso de 38 Especialistas em Presidente do Colégio da Especialidade de Genética Médica; outros cinco tiveram equivalência pos- Genética Médica teriormente. Jorge Sequeiros, Em 2001, iniciou-se o primeiro ano do Internato. Neste momento, encontram�se mais 17 internos em formação, no 80 BENEFÍCIOS SOCIAIS

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