Nonada: Letras em Revista E-ISSN: 2176-9893 [email protected] Laureate International Universities Brasil

Gomes Barbosa, Edival; Macêdo Freitas, Karine; de Souza Pereira, Jéssica HERANÇA DOS TOPÔNIMOS LATINOS: UM OLHAR ATENTO SOBRE A INFLUÊNCIA LATINA EM TOPÔNIMOS DA ÁFRICA E ÁSIA. Nonada: Letras em Revista, vol. 2, núm. 21, octubre, 2013 Laureate International Universities Porto Alegre, Brasil

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Edival Gomes Barbosa 1 Karine Macêdo Freitas2 Jéssica de Souza Pereira3

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo estudar a herança dos topônimos latinos: um olhar atento sobre a influência latina em topônimos da África e Ásia, ou seja, as influências da cultura romana sobre outros povos e da língua latina no processo de denominação das novas colônias e províncias conquistadas. Foram escolhidos alguns topônimos representativos das regiões mais estratégicas e diretamente ligadas ao desenvolvimento do império romano, sendo feita uma análise de sua formação. Os topônimos analisados fazem alusão ao imperador como designativo de poder em que a localidade leva à denominação do seu governante como forma de reconhecimento do território por outros povos. A presença de referentes de origem latina e grega ainda se faz presente para designar países e capitais, demonstrando o prestígio e o legado cultural que os povos da antiguidade, sobretudo os latinos, deixaram para as civilizações posteriores. Palavras-chaves: Topônimos. Influência Latina. África. Ásia.

HERITAGE OF LATIN TOPONYMS: AN WATCHFUL EYE ABOUT THE LATIN INFLUENCE IN TOPONYMS OF AND ASIA.

ABSTRACT: This article aims to study the inheritance of the Latin toponyms: a close eye on the influence of Latin place names in Africa and Asia, ie the influence of Roman culture in other people and the Latin language in the process of designation of new colonies and conquered provinces. Some place names were chosen representative of the most strategic and directly linked with the development of the , being made an analysis of its formation. The toponyms analyzed allude to the emperor as designating power in that locality takes the name of its ruler in recognition of the territory by other people. The presence of referents of Latin and Greek origin still present to designate countries, capitals demonstrating the prestige and cultural heritage of the peoples of antiquity, especially Latinos left to later civilizations. Keywords: Place Names. Influence America. Africa. Asia.

1 Acadêmico de Letras Português na Universidade Federal do Piauí-UFPI. Bolsista de Iniciação Cientifica-CNPq no grupo CATAPHORA da Universidade Federal do Piauí. 2 Acadêmica de Letras Português na Universidade Federal do Piauí – UFPI. Bolsista de Iniciação Cientifica- CNPq-AF no projeto de Pesquisa "Teseu, o labirinto e seu nome". E-mail: [email protected] 3 Acadêmica de Letras Português na Universidade Federal do Piauí – UFPI

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo estudar as influências da cultura romana sobre outros povos e, ainda, da língua latina no processo de denominação das novas colônias e províncias conquistadas. Para tanto, após uma pesquisa de cunho bibliográfico, encontramos suporte para realizar análises de topônimos de algumas localidades que no passado fizeram parte do império romano. Levando em conta a romanização política e cultural, observaremos as seguintes questões: Os topônimos designativos das províncias romanas realmente provinham da língua latina? E o processo de romanização cultural se deu através da imposição ou se deu através da aceitação e apropriação da cultura dos povos subjugados?

2 DEFINIÇÃO DE EXPANSÃO CULTURAL POR BARFIELD

A política expansionista foi uma prática empreendida por povos que exerciam seu poder sobre os povos conquistados. De acordo com Thomas J. Barfield (apud MENDES, 2005, p.03) a construção da estrutura de governo imperial é um processo complexo, que, internamente, se baseia em cinco características principais, e partindo delas, Mendes (2005, p.03) concluí que o termo imperialismo seria como a ação de pensar, colonizar, controlar terras, que não são as suas, são distantes, habitadas e pertencentes a outros povos. Enquanto a primeira dessas características trata da existência de um sistema administrativo para explorar a diversidade econômica, política, religiosa ou étnica, a segunda diz respeito ao estabelecimento de um sistema de transporte que se propõe a servir ao centro imperial militar e também economicamente, já a terceira indica a criação de um sofisticado sistema de comunicação, que permita administrar diretamente do centro, todas as áreas submetidas. A quarta característica refere-se, então, à manutenção do monopólio de força dentro do território imperial e sua projeção frente às regiões externas. Dentre estas, a quinta característica é a que melhor define um império formado, como podemos observar nesta afirmação:

Construção de um projeto imperial que impõe certa unidade através do império. A manutenção dos impérios está ligada a criação de um sistema de valores compartilhados formado com base nos padrões culturais do centro

imperial que possa subjugar a diversidade local. (BARFIELD apud: MENDES, 2005, p.03)

3 O QUE FOI A ROMANIZAÇÃO E COMO A ÁFRICA ERA BENÉFICA?

O projeto imperial romano “Divide et Impera” compreendia além da conquista de fronteiras estratégicas e da diplomacia, a realização de grandiosos trabalhos que permitissem levar a cabo a ocupação desses novos territórios. Assim, o imperium romano era formado por duas frentes estratégicas; a intriga diplomática (divide) e a força das armas (impera). Para os fins a que este projeto se destinava, a posição geográfica da África Proconsular era benéfica e entre seus benefícios destaca-se o fato de sua localização permitir maior facilidade no controle do Mediterrâneo Ocidental, além de que a África proconsular possuía uma tradição urbana intensa, com uma moderna atividade agrícola, em especial a produção de cereal, vinho e oliveira, esse desenvolvimento agrícola fez com que esta região da África passasse a ser conhecida como o celeiro de Roma.

4 UMA ÁFRICA ROMANA

Com a derrota de Cartago, os romanos puderam se consolidar no continente africano e estabelecer os primeiros contatos com os reinos indígenas, numidas e berberes. A África romana no século III d.C se estende desde o Oceano Atlântico até as margens de Syrtis, abrangendo o Marrocos, Argélia, Tunísia e Tripolitania, ou seja, uma parte da atual Líbia, para as fronteiras do Saara. Criada após a derrota de Cartago foi anexada ao imperium na metade do século I a.C a Nova África. Sua anexação sob o comando do Imperador Augusto deu origem a África proconsular, que corresponde às atuais Tunísia, Trípoli e parte da Argélia. Em seguida, vêm a leste as províncias Numídia (Cirtensi e Militaria) e as duas províncias da Mauritânia, Cesariense, Tingitania (tanger) e Sitifensi. Em relação à Ásia, esta foi anexada após o conflito entre Ptolomeus e Selêucidas em uma luta de três anos (131-129 a.C.). Fatores decisivos: a tentativa frustrada de expansão de Antioco IV (último rei selêucida) e a ocupação do Irã e da mesopotâmia pelos Partas. Após

esses incidentes, os romanos organizaram a província da Ásia que abrangia a Frigia, a Misia, a Canária e a Lídia.

Configuração do Império Romano no século II d.C (em sua maior extensão)

5 ANÁLISE DOS TOPÔNIMOS

De acordo com Said (1995), o imperialismo é resultado de uma cultura metropolitana, como um conjunto de códigos de identificação, referência e distinção geográfica, controle, autoridade, dependência, vantagem e desvantagem. A finalidade seria a de amparar e de consolidar a prática imperial, restando aos lugares conquistados além da expansão territorial, a expansão cultural do Império onde cada grupo humano possui “variáveis culturais definidas pela cosmovisão que os anima a qual, porém só pode ser apreendida na totalidade através de estudos mais aprofundados de seu contexto histórico-social e psicológico”. (DICK, 1987, p.98) Os critérios de denominação em geral eram relacionados a elementos descritivos do ambiente (acidentes geográficos, características dos povos nativos). Essa característica de

toponimização é notável inclusive em territórios brasileiros. O adjetivo fluminense relativo ao estado do Rio de Janeiro tem em sua etimologia o radical flumin-, que advém do radical latino flúmen, inis (rio), o adjetivo carioca também referente ao Rio de Janeiro tem em sua etimologia termos do tupi: kari'oka, prov. do tupi kara'ïwa 'homem branco' + 'oka. Outra característica notável em relação aos topônimos é a predominância do sufixo -ia, (do grego ια, -εια), que em latim era utilizado na formação de nomes femininos e países, correlacionando- se também com o termo latim area (superfície,área). Como exemplo podemos destacar alguns nomes de países como Itália, Gália, Rússia, Hispânia, Britânia, onde ao etnômio é associado o sufixo -ia. Da mesma forma, para criar o topônimo referente à capital do Brasil, acrescentou- se ao radical o sufixo ia, formando, então, o topônimo Brasília.

6 METODOLOGIA

Foram escolhidos alguns topônimos representativos das regiões mais estratégicas e diretamente ligadas ao desenvolvimento do império romano e analisadas suas formações, os povos que a constituíam e como estas foram submetidas ao poderio romano e sua correspondência atual. Na Ásia Aelia Capitolina, fundada por volta de 135 d.C pelos romanos sobre as ruínas de Jerusalém que Tito destruiu no ano 70 d.C., o nome foi dado depois da segunda guerra Judaica em alusão ao nome do imperador Adriano (Aelia) e à tríade Capitolina (Júpiter, Juno e Minerva). A fundação de Capitolina resultou do fracasso da terceira revolta judaico-romana ocorrida por volta de 130 e 131 d.C., após a viagem de Adriano pelo oriente com o propósito de revitalizar o helenismo, enquanto esteio cultural do Império Romano naquela região. Entre seus planos estava a reconstrução de Jerusalém como uma cidade helenística, aonde, sobre o monte do templo, seria erguido um santuário dedicado à Júpiter Capitolino, decisão que feriu os sentimentos religiosos dos judeus. Como consequência, os judeus foram proibidos de entrar na cidade . Um santuário de Júpiter foi construído no Monte do Templo, e estátuas de divindades romanas foram erguidas na cidade, em violação intencional à lei do Antigo Testamento, e a Legio X Fretensis (a décima legião) foi convocada para proteger a cidade. O plano urbano da cidade seguia o modelo típico romano, com grandes avenidas que se cruzavam, inclusive um Cardo maximus (avenida principal). O território tem como denominação atual Jerusalém. No continente Africano, por regiões:

Argélia: (Bugia): Em 27 ou 26 a.C, no local da atual Bugia, o Imperador Augusto fundou a colônia Julia Augusta Saldensium Septimana Immunis para assentar veteranos da VII Legião Cláudia. Esta cidade de Saldae foi incorporada à província da Mauritânia Cesariense e tornou-se capital do breve reino africano dos vândalos, que foi destruído pelos bizantinos, os quais estabeleceram a prefeitura africana e, posteriormente, Michael Doyle, o Exarcado de Cartago. Segundo Machado (2003), “a antiguidade da forma vernácula parece indicar que o topônimo foi recebido pela língua portuguesa diretamente do ára e Bidjāya, e não por intermédio do correspondente francês Bougie”. No entanto, os francófonos preferem a forma Béjaïa para a cidade. Os substantivos comuns "bugia" (tipo de vela com cera e pavio) e "bugio" (sinônimo de macaco) advêm do topônimo Bugia, devido ao fato de que a cidade exportava cera e, possivelmente, macacos. (Tenes): Ténès é uma antiga povoação originada no século VIII a.C. Era na época chamada de Kartenas, integrava a colonização fenícia e foi dominada pelos romanos de Cartennae , que ocuparam a cidade por quatro séculos. Mais tarde, o lugar foi conquistado pelos árabes, que expandiram o Islã pelo norte da África. Sob o domínio árabe, Ténès foi uma monarquia independente, e o sultão Hamid El Abd foi seu último soberano Iol Caesarea (): Os fenícios de Cartago se estabeleceram em Cherchell no século 4 a.C. e nomearam a cidade de Iol ou Jol. A cidade tornou-se uma parte do reino da Numídia. A cidade tornou-se muito importante para a monarquia berbere e para generais da Numídia. O último númida, rei Juba II, e sua esposa, a princesa grega Ptolomaica Cleópatra Selene II, foram forçados a fugir para a outra parte do reino númida devido à perseguição popular que causou agitação civil entre 26 a.C. - 20 a.C. O Imperador romano César Augusto interveio na situação e dividiu o Reino númida em dois; uma metade do reino se tornou uma parte da província romana da África Nova. Numídia Ocidental, e Mauritânia (segunda metade do reino) tornou-se um reino. Iol foi rebatizado Cesaréia ou Cesaréia, em honra ao imperador. Caesaria se tornaria a capital do reino da Mauritânia que tornou-se um dos reinos clientes importantes no Império romano. Juba e Cleópatra não apenas renomearam a nova capital, mas reconstruiram a cidade em estilo romano, em grande escala, luxuoso e caro. Os projetos de construção e de esculturamento em Cesaréia e em todo o reino foram construídos em uma rica mistura de antigos estilos arquitetônicos egípcios, gregos e romanos.

A capital, Porto, e o seu reino floresceu até 40ª.C., quando seu último monarca Ptolomeu da Mauritânia foi assassinado em uma visita a Roma. Em 44ª.C., após uma revolta sangrenta que durou quatro anos, o Imperador Romano Claudius, dividiu o reino Mauretanian em duas províncias. Cesaréia tornou-se a capital da Mauritânia Caesariensis, uma das duas províncias. Cláudio deu à Cesaréia dois nomes: o Caesariensis capital, enquanto a cidade se tornou uma colônia romana chamada Colonia Claudia Cesaréia.

Marrocos:

Tingis (Tânger): Tanger é uma antiga cidade fenícia, fundada por colonos cartagineses no início do século V A.C. Ela continuou a ser um importante centro urbano para os berberes, o povo tradicionalmente nômade nativo da região. Moedas antigas se referem à cidade como Tenga, Tinga e Titga, e autores gregos adotaram diferentes variações do nome. Os romanos chamaram-lhe , donde advém o adjetivo tingitano para designar esta terra desde a Antiguidade. A cidade passou para o jugo romano no século I a.C., primeiro como uma aliada independente e, posteriormente, sob o imperador Augusto, como uma colônia (Colônia Julia, no governo de Cláudio), capital da Mauritânia Tingitana.

Tunísia: Carthago (cartago): No século III a.C., encontramos Cartago em plena expansão pela região do Tirreno, guardando vigilante os pontos que lhe garantem posição estratégica: Corsega, Sardenha e Sicília. Pensando nas riquezas e no impedimento do progresso de Cartago, os romanos enviaram um exército à Sicília, ato que assinala o início da conquista do mundo mediterrâneo. Ao fim da primeira guerra púnica, Cartago derrotada precisou abandonar a Sicília e as ilhas entre a mesma e a Itália, bem como pagar indenização. Cartago resistiu até a primavera de 146 a.C., quando, tomada por Cipião Emiliano e por ordem do senado romano, foi destruida. Do fenício Karthago “nova cidade” termo latinizado para Karkhēdōn.

Niger: Caio Pescênio Níger (em latim: Gaius Pescennius Niger; 140 — 194 a.C.) foi um usurpador romano, nascido de uma antiga família equestre. Tomou o título de imperador

romano a partir de abril ou maio de 193 até outubro de 194a.C. Níger era governador da província romana da Síria e foi proclamado imperador pelas legiões orientais do Império, após o assassinato de Pertinax e o "leilão" do título imperial feito a Dídio Juliano. Entre as províncias que ficaram sob seu controle direto estava o Egito, e ele conseguiu também o apoio do governo da Ásia. Embora estas terras contivessem grandes riquezas, outro general rebelde, Septímio Severo, conseguiu tomar Roma, inicialmente, e marchou para o Oriente. Níger foi derrotado em Cízico e Niceia (193) e, de maneira definitiva, em Isso (194); forçado a recuar até Antioquia, Níger foi morto enquanto tentava fugir para a Pártia.

Síria: A Síria (Syria, em latim) tornou-se província do Império Romano quando o então procônsul Pompeu anexou o seu território, em 64 a.C. Era uma província imperial que abrangia grande parte do antigo território do Império Selêucida da Síria. A partir de VI d.C., o governador da Síria dispunha também de jurisdição parcial sobre a Judéia. A capital da província e a terceira maior cidade do Império Romano era Antioquia, junto ao rio Orontes. Permaneceu sob o jugo romano e, posteriormente, bizantino por sete séculos, até cair nas mãos dos exércitos muçulmanos no ano de 637d.C. O exército da província contava com três legiões do exército romano, defendo a fronteira com a Pártia. No século I, foi o exército da Síria que permitiu o golpe de estado de Vespasiano. A província teve importância estratégica crucial durante a crise do terceiro século. A partir da metade do século II, passaram pelo senado romano diversos sírios notáveis, incluindo Cláudio Pompeiano e Avídio Cássio. No século III, alguns sírios até mesmo alcançaram o cargo de imperador, com a dinastia dos Severos. Em 193, a província foi dividida em Syria Coele e Syria Phoenice. (No século IV, com o imperador Teodósio I, a Syria Coele foi subdividida em Syria, Syria Salutaris e Syria Euphratensis), enquanto a Syria Phoenice foi dividida entre Phoenice e Libanesia. A região permaneceu uma província de destaque dentro do Império Bizantino até o século VI, embora constantemente assolada pelas incursões sassânidas. Atualmente: Síria.

Arábia Pétrea: Em latim: Arabia Petraea, também chamada de Provincia Arabia ou apenas Arabia. Era uma província fronteiriça do Império Romano estabelecida no século II d.C., consistia no antigo reino nabateu, na atual Jordânia, sul da Síria atual, península do Sinai e noroeste da

Arábia Saudita. Sua capital era a cidade de Petra, e tinha como fronteira as províncias romanas da Síria, a norte, e da Judeia e do Egito, a oeste. Petra, seu esplendor máximo foi durante o período nabateu, de quando se crê que procedem essas construções escavadas na rocha. Em 63 a.C., os nabateus foram conquistados pelo general romano Pompeu, depois vieram os árabes, e, finalmente, no ano de 551 de nossa era, sofreu um devastador terremoto, que veio a ser o seu epílogo. De fato, Petra era uma espécie de área de serviço para as caravanas que viajavam da Arábia à Damasco, onde os nabateus cobravam pedágio dos sofridos condutores. Os nabateus instalaram-se nas terras de Edon, a sudeste do mar Morto. Lá, dispunham de um entreposto que tratava-se certamente do monte Umm el Biyara, em pleno centro do maciço de Petra. Ainda em nossos dias, o acesso ao seu cume é muito difícil. Com suas sete cisternas e as vertentes verticais, essa montanha é uma fortaleza inexpugnável. Em 64, Pompeu criou a província da Síria e, em 106, Trajano ordenaria ao governador romano da região que transformasse a Nabatéia em província romana da Arábia. Petra recebeu o título de metrópole, e o poder local foi assumido por Roma. Em 130, a cidade teria o privilégio de receber o imperador Adriano. Arábia Pétrea se configura como topônimo composto que faz referencia as regiões próximas a Arábia e a região de Petra. Atualmente corresponde a região da Jordânia.

Arábia Felix: A Arábia Felix é uma das três arábias da península ibérica, ocupada por tribos que desenvolviam entre outras atividades a agricultura, isso a tornou o país mais rico da antiguidade. Ela era dividida em pequenos reinos e tribos localizadas no sudoeste da Península Arábica, assim, servia muitas vezes como entreposto para os barcos com destino a Alexandria e Índia. Já o termo Felix (do latim fecundo, fértil) fazia alusão as terras de solo fértil e de agricultura produtiva que também contava com um clima ameno. Atualmente: Iêmen e Omã.

7 TOPÔNIMOS DE ORIGEM LATINA CONTEMPORÂNEOS

Libéria: Colonizada entre 1821 e 1822 por escravos libertos dos navios negreiros e escravos americanos que foram enviados para a Libéria, em vez de serem repatriados. E por volta de

1847 fundaram a República da Libéria, que instituiu um governo inspirado nos Estados Unidos, nomeando Monróvia como sua capital. Liber (do latim líber, era, erum significa liberdade, independente,) sufixo -ia (designativo de países e regiões) termos escolhidos em alusão à promessa de viver em liberdade no novo país, porém, houve o conflito entre as etnias já presentes na região e os novos colonizadores.

Nigéria: Etimologicamente Níger vem do latim niger, gra, grum: negro; e area do latim e no inglês área, ou superfície, no entanto, seu nome faz referência ao rio que atravessa o país no sudoeste. Sua história de colonização é antiga, tornou-se protetorado britânico apenas em 1901 e colônia em 1914, alcançando independência apenas em 1960.

DISCUSSÃO

Em relação aos topônimos pesquisados decorrem as seguintes características: os topônimos analisados fazem alusão ao imperador como designativo de poder em que a localidade leva a denominação do seu governante como forma de reconhecimento do território por outros povos. Os topônimos derivados de outras civilizações sofreram o processo de romanização pelo acréscimo de expressões latinas (coloniae, petrea) como referentes a características políticas e geográficas dos mesmos. Os topônimos, em sua maioria, sofreram transformações até chegar nas atuais denominações, provavelmente resultado da introdução de um novo corpus léxico de novas civilizações e uma ressemantização com base em novas características locais. Assim, o Latim aferiu características próprias da civilização romana às civilizações subjugadas, nesse sentido os topônimos também foram afetados, conciliando em um topônimo expressões latinas e expressões de outras línguas.

CONCLUSÃO

Como o ocorrido na montagem de novas colônias, houve expansão românica, tanto política, quanto cultural, que, apesar do caráter impositivo, assimilou a cultura dos povos subjugados. Sua cosmovisão toponímica levou em consideração, além do poderio do

imperador, a forma de demarcação de territórios, aspectos geográficos e políticos das regiões conquistadas no processo de escolha de designativos para a denominação destas, e no tocante ao caráter etimológico dos topônimos, houve a incorporação de sufixos, prefixos e referentes advindos do grego e do próprio latim na construção dos nomes das localidades. A presença de referentes de origem latina e grega ainda se faz presente para designar países e capitais, demonstrando o prestigio e o legado cultural que os povos da antiguidade, sobretudo os latinos, deixaram para as civilizações posteriores.

REFERÊNCIAS

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