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“Redescobrindo a Memória do Solar do Visconde de ”: Projeto de Exposição Permanente do Museu Histórico de - RJ

Graziela Escocard Ribeiro *

Resumo Este trabalho apresenta o projeto de exposição permanente do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes - RJ, instituição museal mais importante do Município, por se tratar do museu histórico da cidade, que finalmente em 2012 foi entregue a população. Entretanto, após a restauração do edifício sede do museu se constatou a necessidade de divulgar a história desta edificação, popularmente conhecida como solar do Visconde de Araruama, através de uma retrospectiva histórica do edifício. Partindo da concepção de LE GOFF (2003) & NORA (1993) sobre história e memória, a exposição permanente do museu foi idealizada, recebendo a denominação de: “Redescobrindo a Memória do Solar do Visconde de Araruama”.

Palavras-chave: Museu Histórico de Campos dos Goytacazes. História e Memória. Exposição Permanente

Abstract This paper presents the design of the permanent exhibition of the Museum of History Goytacazes Campos - RJ, institution most important museum in the city, because it is the historical museum of the city, which in 2012 was finally delivered to the population. However, after the restoration of the headquarters building of the museum is noted the need to disclose the history of this building, popularly known as the Viscount of solar Araruama through a historical building. Based on the concept of LE GOFF (2003) & Nora (1993) on history and memory, the museum's permanent exhibition was conceived and received the designation of "Rediscovering the memory of Viscount Solar Araruama."

* Graduada em História pela Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO/Campos, com Pós-graduação em Literatura, Memória Cultural e Sociedade pelo Instituto Federal Fluminense - IFF/Campos. Atua como Historiadora do “Museu Histórico de Campos dos Goytacazes”. [email protected]

Key words: Field Museum of History Goytacazes. History and Memory. Permanent Exhibition

Retrospectiva da História e Memória do Edifício

O edifício onde funciona atualmente o Museu de Campos dos Goytacazes trata-se do secular imóvel, conhecido como Solar do Visconde de Araruama, construído no final do século XVIII. De acordo com Alberto Lamego Filho, a edificação foi construída para ser moradia do José Caetano Barcelos Coutinho do morgado de Capivari 1, tendo sido nomeado Brigadeiro, posteriormente Mestre de Campo 2, nomeação esta que lhe favoreceu para ser eleito primeiro provedor da Santa Casa de Misericórdia de Campos, em “1º de Janeiro de 1793, cargo que exerceu até junho de 1794. Em 1797 recebeu o título de primeiro coronel de milícias da Vila de São Salvador de Campos dos Goytacazes” (LAMEGO, 1951:13). Portanto, pela obrigação de estar presente na Vila de São Salvador, José Caetano Barcelos Coutinho mandou erguer a sua morada do qual seu único filho que tivera de seu casamento com Helena Caetana de Azevedo, o Tenente Coronel do Terço Auxiliar João Antonio de Barcelos Coutinho, herdaria. No entanto, seu filho morreu assassinado em 1816 na sua fazenda localizada na freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Capivari. Como não teve filhos legítimos de seu breve casamento com sua prima Ana Joaquina de Velasco Carneiro, possuindo apenas seis filhos naturais, todos oriundos de escravas de seu pai, conforme o auto de Perfilhação 3, que se encontra sobre a guarda do Arquivo Nacional do revela. Sendo este processo sucessivas vezes questionado por sua tia e também sogra Ana Francisca Velasco de Barcelos Coutinho. Presumiu-se, que estes fatos tenham ocasionado que a sua única tia herdasse todos os bens deixados pelo o sobrinho e seu irmão.

1 É utilizado para designar o possuidor do “morgadio” - propriedade situada em Capivari, localizado em Quissamã. Bem vinculado à perpetuação do poder econômico da família de que fazia parte, ao longo de sucessivas gerações. 2 Designação de oficial superior, comandante do Terço de Infantaria do Exército Português no Brasil. 3 Autos que atestam do reconhecimento de um filho ilegítimo, como se chamavam, na época, os filhos nascidos fora do casamento, pelo pai ou pela mãe. 2

Ana Francisca Velasco de Barcelos Coutinho teve como esposo o capitão Manuel Carneiro da Silva. Pais de cinco filhos, dentre estes João Carneiro da Silva 4 e José Carneiro da Silva, o Visconde de Araruama, nascido em 21 de maio de 1788, na fazenda Mato de Pipa 5, na freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Capivari, hoje município de Quissamã 6, RJ. Herdeiro do emblemático sobrado pertencente ao seu tio José Caetano Barcelos Coutinho, situado na Praça São Salvador da Cidade de Campos - RJ. Onde residiu com sua esposa Francisca Antônia Ribeiro de Castro 7.

José Carneiro da Silva - Visconde de Araruama Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

O emblemático solar apresenta em seu interior cômodos generosos, além de um pátio interno. Sua fachada principal é voltada para a Praça São Salvador e aos fundos existe um pátio posterior que dá acesso a Rua Barão do Amazonas. Neste pátio posterior ficavam instaladas as cocheiras 8 por onde saíam os tílburis 9 na época do Visconde 10 .

4 Foi o primeiro Barão de Ururaí, e faleceu ainda solteiro em 1851, sem descendência legítima, sendo seu principal herdeiro o irmão, primeiro Visconde de Araruama, que assumiu a chefia da família “Carneiro e Silva”. 5 A “Fazenda Mato de Pipa” tem esse nome em virtude de existir no local uma árvore chamada arco-de-pipa. 6 “Quissamã” é uma palavra de origem angolana que significa “fruto da terra que está entre o rio e o mar” e dá nome à cidade. Fonte: http://www.quissama.rj.gov.br/municipio/mais_historia.html. 7 Nascida em 24 de março de 1799, filha do Capitão-mor Manuel Antônio Ribeiro de Castro, primeiro Barão de Santa Rita, e de Ana Francisca Pinheiro. 8 Local destinado a guardar carruagens e a alojar cavalos. 9 Em 1858 existiam 74 tílburis que era um tipo de carro antigo, com dois assentos, sem boléia, com capota, de duas rodas e puxado por um só cavalo ou burro. Ver a respeito em: RODRIGUES, Hervê Salgado. Na Taba dos Goytacazes . In: O bonde de burro. Niterói: Imprensa Oficial, 1988:84. 10 Dados retirados do LEVANTAMENTO HISTÓRICO. HELOUI, Ahmed Nazih M. & VASCONCELOS, Mariana E. J. F. Arquitetura e Restauro Ópera Prima, jun./1985. 3

A trajetória de utilização deste edifício pelos órgãos públicos da cidade se inicia anos após o falecimento do Visconde de Araruama, quando sua esposa Francisca Antônia Ribeiro de Castro, resolve se desfazer da residência localizada na Cidade de Campos na Praça São Salvador, de nº 40. Em 28 de abril de 1870 este imóvel foi vendido pela modesta quantia de 50:000$000 (cinqüenta contos de réis), para a Câmara Municipal de Campos. Por indicação do vereador Dr. Thomaz Coelho de Almeida para ser sede da Câmara 11 , sendo o pagamento feito em parcelas: a primeira de 30:000$00 (trinta contos de réis) no ato de assinatura da escritura, e os 20:000$00 (vinte contos de réis) restantes foi dividido em duas parcelas iguais a serem pagas no prazo determinado de 12 a 24 meses. Segundo Horácio de Sousa, “o parecer de compra foi aprovado na sessão da Câmara em 29 de abril, e as obras de adaptação do edifício foram em seguida iniciadas, conduzidas pelos engenheiros Dr. Camilo Maria de Menezes e Antonio Rodrigues Costa” (SOUSA, 1985:191).

Câmara Municipal vista a partir da Praça São Salvador - 1915. Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

Na falta de bancos na cidade a Câmara guardava suas rendas numa arca de madeira que foi descoberta com a restauração do edifício. “Nesta arca se guardava o antigo estandarte da Câmara e a chave de ouro da cidade, além de outras curiosidades históricas, dignas de visualizadas no Museu da cidade a ser criado” (SOUSA, 1985:362-363). Esta arca foi encontrada na reforma do edifício junto com um cofre também achado no local, sendo estes

11 Principal órgão do poder público local, transportada da administração portuguesa para a Colônia. Essa importante instituição concentrava os poderes políticos e administrativos das cidades que possuíam um número significante de habitantes reconhecidas como vila. Cada vila tinha instalada uma Câmara para sua organização, além de poder votar leis, que geravam as posturas municipais e de cobrar impostos, era a Câmara que respondia pela direção da cidade, controlando a Cadeia Municipal, os impostos, as obras públicas e o auxílio à população. 4 encaminhados para a restauração por estarem bem deteriorados pelos anos de negligência com nosso patrimônio histórico. Sobre a intenção de utilização do edifício como Quartel do Corpo de Bombeiros da cidade foi encontrado no jornal “Gazeta do Povo” em 25 de janeiro de 1894 uma notícia defendendo a necessidade da criação de um Corpo de Bombeiros para a municipalidade. Neste mesmo ano o engenheiro Gregório de Miranda Pinto, foi incumbido de supervisionar as obras de construção da sede do Corpo de Bombeiros Municipal. O local escolhido foi ao lado da Câmara Municipal no edifício de menores dimensões que se encontrava ao lado esquerdo. Este imóvel foi agregado e as duas edificações foram ligadas internamente, não correspondendo às expectativas. Logo após o término das obras, verificou-se que o prédio era pequeno e não atendia as condições estabelecidas por lei para a instalação de um quartel de Bombeiros, sendo este espaço cedido para alojar a Biblioteca Municipal. Cumpre acrescentar que a Biblioteca Municipal após ter sido criada pela Lei Provincial n. 1650, de 20 de dezembro de 1871, foi fundada no ano posterior. Conforme, indica o Guia Geral da cidade de Campos de 1943 - 1947, que fazem referências sobre a Biblioteca Municipal, esclarecendo sua procedência datada do mês de fevereiro de 1872, fundada pelos Dr. Thomaz Coelho de Almeida e o Dr. Francisco Portela. No entanto, estas citações não descrevem com exatidão o local onde foi estabelecida. Foi entregue à Câmara 555 volumes de livros de diversos assuntos em 1889, pelo comendador João Gonçalves Pereira, testamenteiro do Cônego Antônio Pereira Nunes. Estas obras foram doadas pelo sacerdote para a criação de uma sonhada Biblioteca Pública, prometida por ele para ser fixada no município. Entretanto, somente em 1903 o então presidente da Câmara, Dr. Benedito Gonçalves Pereira Nunes, tomou a iniciativa de contratar o engenheiro arquiteto Miguel Clement, que cobrou a quantia de 14:728$000 (quatorze contos e setecentos e vinte oito mil réis), pelo seu trabalho de adaptação do edifício justaposto ao edifício da Câmara, para nele instalar a Biblioteca. Aproveitando o espaço anteriormente destinado ao Quartel do Corpo de Bombeiros da cidade para nele instalar a Biblioteca Municipal, inaugurada em 21 de abril de 1903, sendo seu acervo acrescido de coleções de jornais, revistas e mais livros por meio de doações e também de compras que a própria

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Câmara fazia a favor da população 12 . Em 1927 D. Anita Peçanha em carta endereçada ao Prefeito o Dr. Benedito Gonçalves Pereira Nunes, oferece parte dos livros do seu falecido esposo, Dr. Nilo Peçanha, à Biblioteca Municipal, “reservando o maior número possível de livros para doá-los oportunamente, conforme o desejo de seu finado marido” (LAMEGO, 1947: 8). 30 de Março de 1935 ocorreu a reinauguração da nova fase da Biblioteca Municipal, no mandato do prefeito Dr. Francisco da Costa Nunes. Devido à grande quantidade de livros foi preciso fazer uma ampliação para melhorar as instalações da Biblioteca Municipal, “sendo necessário aloja-lá nos altos do edifício” (CARVALHO, 1991:48). No ano de 1904, o edifício que servia de sede da Câmara e de Biblioteca Municipal, passou a receber também a Prefeitura Municipal, originada da reforma Constitucional Fluminense, que definiu as Prefeituras como o único órgão responsável pela função administrativa nas cidades, e as Câmaras passaram a receber apenas funções legislativas. Desde então a cidade de Campos passou a ser administrada pela Prefeitura Municipal, tendo sido a nomeação do primeiro prefeito, indicada pelo então Presidente do Estado do Rio de Janeiro, o Dr. Nilo Peçanha. Em 6 de Janeiro de 1904 o jornal “Monitor Campista” notícia a nomeação do ilustre intelectual, o conterrâneo, Dr. Manoel Rodrigues Peixoto, que passou administrar a cidade de Campos dos Goytacazes em seu gabinete localizado no edifício sede da Câmara Municipal. Sendo assim, com a criação da prefeitura no ano de 1904, o referido Solar do Visconde de Araruama, que já funcionava como Câmara Municipal e Biblioteca Municipal passou a ser ocupado por essas três instituições públicas ao mesmo tempo, se amontoando no mesmo edifício. O “Anuário” de 1920 da cidade de Campos dos Goytacazes traz a seguinte informação que o Paço Municipal 13 está na Praça São Salvador, num dos pontos mais pitorescos e aprazíveis da cidade. Ali estão instalados todos os serviços de Secretária da Prefeitura, Sala do Conselho de Vereadores, Gabinete do Prefeito, Repartição de Obras, Repartição de

12 Informações contidas no GUIA GERAL DA CIDADE DE CAMPOS. Campos dos Goytacazes, 1943 - 1947. 13 Sede do governo de um município. “Local da animação histórica e funcional da gestão de uma cidade é um lugar que tem na sua paisagem e espaços particularidades interessantes e importantes de tudo que ocorreram ali”. In: SCHWERTNER, Amélia Simões; HAERTER, Cristiane Schulz. A Importância do Paço Municipal. Retirado do site: http://www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_007/artigos/artigos_vivencias_07/artigo_14.htm. 6

Higiene, Departamento de Estatísticas e Procuradoria. Nas suas dependências funcionam também o Tribunal do Júri e a Missão Rockefeller 14 .

Discurso com manifestação popular em frente ao Paço Municipal - 1935 Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

Na sala de sessões existe um quadro alegórico à Partida dos Voluntários Campistas em 1865, pintado por Clovis Arrault 15 , e retratos a óleo o conselheiro Costa Pereira, o Dr. Nilo Peçanha, o Marechal Floriano Peixoto e o tenente-coronel Ribeiro Cardoso. Com o paulatino progresso da cidade de Campos o Paço Municipal já não comportava em suas instalações os serviços públicos da cidade, quando em 1935 foi inaugurado o Fórum Nilo Peçanha de frente para a Praça Barão do Rio Branco, “construído como objetivo de fazer parte das comemorações pelo centenário da elevação de Campos à categoria de cidade” (TAVARES; MIRANDA, 2009:100-121). Até que em 25 de abril de 1948, o Tribunal do Júri foi transferido para o novo fórum atenuando a situação de aglomeração dos órgãos públicos da cidade. Nos anos 60 a Prefeitura já não suportava acomodar suas secretárias em sua sede na Praça São Salvador, tornando-se insuficiente para o pleno funcionamento e desempenho de

14 É uma fundação criada em 1913 nos Estados Unidos da América, que define sua missão como sendo a de promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o ensino, a pesquisa e a filantropia. É caracterizada como associação beneficente e não-governamental, que utiliza recursos próprios para realizar suas ações em vários países do mundo, principalmente os subsedenvolvidos. In: FARIA, Lina Rodrigues de. A Fundação Rockefeller e os Serviços de Saúde em São Paulo (1920-30) : Perspectivas Históricas. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol.9, set./dez., 2002:90-561. 15 Pintor francês de passagem no Brasil com a intenção de oferecer o seu trabalho, se fixa na cidade de Campos dos Goytacazes e deixa na cidade emblemáticas obras. Dentre as suas obras mais conhecidas estão: o quadro Partida dos Voluntários da Pátria de Campos (1875) e o quadro retrato em tamanho natural do Visconde de Araruama (1865), que se encontra no Museu Casa Quissamã. 7 suas atividades e da Câmara, quando em “7 de setembro de 1968 foi inaugurada a nova sede de administração da cidade no moderno edifício Padre Antônio Ribeiro do Rosário, conhecido como Palácio de Mármore” (CARVALHO, 2000:152). Situado na Avenida Hélion Póvoa nº 44, entre a Avenida Alberto Torres e a Rua Gil de Góis. Entretanto, somente a Prefeitura se transfere para o Palácio de Mármore definitivamente em 1969. Após essas transferências o antigo edifício, passou a ser ocupado pela Secretaria da Fazenda e a Câmara Municipal. Quando em 1979 a Prefeitura novamente opta por deslocar sua sede para a antiga residência da senhora Maria de Queiroz de Oliveira 16 , na Rua Baronesa da Lagoa Dourada. Com o Palácio de Mármore desocupado pela Prefeitura a Câmara Municipal com a justificativa de se tornar mais eficiente no desenvolvimento de suas atividades, buscando mais conforto para os vereadores se apropriando do Palácio de Mármore no mesmo ano de saída da Prefeitura deste recinto 17 . O antigo edifício da Praça São Salvador, que serviu de Câmara Municipal e Prefeitura foi tombado 18 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural - INEPAC 19 em 1978, sendo, portanto, proibida sua demolição ou descaracterização. No entanto, “os tombamentos realizados pelo INEPAC não garantem a integridade do edifício"20 , que continuou aberto a serviços até o ano de 1997, tendo funcionado neste local a Biblioteca Municipal até 1978, quando foi transferida para a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na antiga Praça da Bandeira, situada na Pelinca, a Secretária da Fazenda que foi transferida em 1992, a Secretária de Planejamento que se mudou em 1991, e a Companhia de Desenvolvimento de Campos -

16 Foi construída em 1918, para ser residência do usineiro Dr. Atilano Crisóstomo de Oliveira e Maria Queiroz de Oliveira, conhecida como D. Finazinha, tendo como arquiteto José Benevento. Entre os anos de 1979/1989 foi sede da Prefeitura Municipal, que restaurou e manteve a construção. No início dos anos 90, conforme testamento de sua proprietária, nela foi instalada a sede da reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF. 17 Conforme, expõem o ENCARTE DOS RESULTADOS DE UM PLANEJAMENTO. Dedicado ao mandato do prefeito Dr. Raul David Linhares Corrêa. Campos dos Goytacazes, 1977 - 1982. 18 A palavra “tombamento” tem origem portuguesa e significa um registro do patrimônio de alguém em livros específicos num órgão de Estado que cumpre tal função. O nome “tombamento” advém da Torre do Tombo, o arquivo público português, onde eram guardados e conservados documentos importantes. 19 Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, dedica-se à preservação do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro, elaborando estudos, fiscalizando e vistoriando obras, emitindo pareceres técnicos, pesquisando, catalogando e efetuando tombamentos. 20 TEIXEIRA, Simone. (Org.). Contribuições à Prática Pedagógica Para a Educação Patrimonial. In: TEIXEIRA, Simone. Arquitetura Eclética em Campos dos Goytacazes. Campos dos Goytacazes, RJ: EDUENF, 2008:50, 8

CODEMCA após receber sua nova sede em 1992 21 . Também há explanações em relação a outros usos do edifício, como o jornal Diário de 18 de agosto do ano 2002, que declara ter exercido funções neste solar a Junta de Alistamento Militar e o PROCON, porém não expõe data precisa de funcionamento destes órgãos. No ano de 1990 instala-se no prédio, o Projeto Museu de Campos dos Goytacazes, criado em 14 de maio de 1997, pela lei municipal nº. 6339, permanecendo até 1997, quando prédio foi interditado, devido às más condições de preservação, pela Defesa Civil, tendo as suas atividades transferidas para a Fundação Cultural Jornalística Oswaldo Lima. Esta estadia no Palácio da Cultura perpetuou-se até 2006, quando em agosto deste mesmo ano veio a funcionar nas dependências do Museu Olavo Cardoso 22 . Diante desta situação a instituição museal mais importante do município, por se tratar do museu histórico da cidade, não vinha conseguido exercer plenamente suas atividades e sua principal missão que é salvaguardar os testemunhos históricos da cidade 23 .

Solar do Visconde de Araruama Abandonado - 2003 Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

21 Informações retiradas do CATÁLOGO PAREIAL DO ACERVO MUSEU DE CAMPOS - Projeto de Gestão Documental do Setor de Documentação Histórica/LEEA - Séculos XVIII e XIX. Elaborado por Simone Teixeira, Silviane de Souza Vieira e Sylvia Márcia Paes. 22 Instalado na antiga residência, construída no final do século XIX, do proprietário o Sr. Olavo Cardoso, ilustre industrial campista. O museu localizado na Av. Sete de Setembro, nº 220, é o resultado da última vontade, registrada em testamento, do Sr. Olavo Cardoso, que foi transformar a sua residência em museu após a morte de sua última herdeira. 23 Diagnóstico retirado do PROJETO MUSEOLÓGICO - Museu de Campos dos Goytacazes . Elaborado pelos museólogos Carlos Freitas - COREM 2ª Região 468 - I e Evaldo Portela - COREM 2ª Região 631 - I. Dez., 2007.

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Desde os anos 80 se cobrava uma mobilização em defesa da restauração do Solar do Visconde de Araruama. Abandonado, o simbólico solar foi se arruinado, assim como outros demais importantes casarões da cidade até se encontrar em um estado precário de conservação, em quase ruínas. Até que finalmente em 2009, com a intenção de assegurar a integridade do edifício se inicia as obras de restauração do solar pelo engenheiro proprietário da Conenge Engenharia, Rodrigo Ribeiro Gomes, que direcionou a recuperação do edifício, nos mesmos moldes da época do Visconde de Araruama. A escadaria, os salões nobres, aposentos, corredores e salões de visita, inclusive a parte do prédio anexo, e todo madeiramento, com medidas e entalhes idênticos, foram restaurados mantendo as mesmas características da época da construção. Cabe ressaltar que esta edificação secular marcante para a cidade de Campos sofreu inúmeras reformas para sediar todos os órgãos públicos que se instalaram no edifício no decorrer dos séculos XIX, XX e XXI, o que não o descaracterizou. O desfecho da saga do prédio se dá em 2012, ano que o Museu Histórico de Campos dos Goytacazes é entregue a população, voltando a se destacar de forma imponente na principal praça da cidade, a Praça São Salvador.

Museu Histórico de Campos dos Goytacazes restaurado - 2012 Acervo do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

Projeto de Exposição Permanente do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes

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A exposição permanente do museu apresenta a população informações através de painéis, sobre as funções e as sedes que o edifício abrigou durante seus quatro séculos (XVIII - XIX - XX - XXI) de existência. Ao visitar a exposição o público de todas as faixas etárias poderá também interagir com atores que interpretam diversos vultos históricos da cidade de Campos, inclusive o Visconde de Araruama, personalidade histórico que residiu no solar, que ajudará a narrar a história e a memória de sua residência. Esta proposta foi pensada com a intenção de chamar a atenção dos cidadãos campista para a trajetória histórica deste edifício representativo de sua história. Segundo Pierre Nora,

“Os Museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados, processo verbais, monumentos, santuários, associações, são os marcos testemunhas de uma outra era, das ilusões de eternidade,. Daí o aspecto nostálgico desses empreendimentos de piedade, patéticos e glaciais. São os rituais de uma sociedade sem ritual; sacralizações passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de grupo numa sociedade que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos” (NORA, 1993:13).

Conforme Le Goff “a memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens” (LE GOFF, 2003:471). Nesta perspectiva, pretende-se com este museu e com a sua principal exposição permanente contribuir para a revitalização de uma área da cidade carente de atividades educativas e culturais voltadas para o fortalecimento de suas identidades.

REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ENCARTE DOS RESULTADOS DE UM PLANEJAMENTO. Dedicado ao mandato do prefeito Dr. Raul David Linhares Corrêa. Campos dos Goytacazes, 1977 - 1982. FARIA, Lina Rodrigues de. A Fundação Rockefeller e os Serviços de Saúde em São Paulo (1920-30): Perspectivas Históricas. História, Ciências, Saúde. Manguinhos, vol.9, set./dez., 2002.

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LE GOFF, Jacquues. História e Memória . Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003.

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NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares, In: Projeto História . São Paulo: PUC, n. 10, dez. 1993.

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