Novembro De 2014 Tese De Doutoramento Em Sociologia
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Algarve, da Urbanização Turística à Metropolização Sazonal 1960/2013 João Carlos Figueira Martins Tese de Doutoramento em Sociologia título, ano) - : Nota encadernação térmica térmica encadernação - Novembro de 2014 Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Sociologia, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Luís António Vicente Baptista Apoio financeiro da FCT com a referência SFRH/BD/64041/2009 Aos meus pais AGRADECIMENTOS Ao orientador desta tese de Doutoramento, o professor Luís Baptista (FCSH/UNL), cujos conselhos e acompanhamento se mostrou determinante no bom andamento do trabalho realizado. Aos professores Casimiro Balsa, José Resende e João Pedro Nunes (FCSH/UNL), Jordi Nofre e Patrícia Pereira (CESNOVA), João Filipe Marques (FE/UALG) e Rita Cachado (CIES/IUL) gostaria de demonstrar o meu apreço pelo apoio e aconselhamento em todas as fases desta investigação. Ao CESNOVA pelas condições positivas oferecidas para a conclusão deste trabalho. Neste centro de investigação em Sociologia, o apoio de colegas como a Inês Vieira, o Pedro Almeida, a Clara Vital, a Paula Bouça, entre outros, foi igualmente decisiva para a conclusão desta tese de doutoramento. À Fundação para a Ciência e Tecnologia pelo apoio financeiro concedido, imprescindível à realização de um trabalho desta natureza. Uma palavra especial para todos aqueles que no Algarve, com os seus comentários, sugestões e informações facilitaram em muito este trabalho. Um especial obrigado a Filomena Dias, Renato Andrade, Ana Marta Tomé, Roberto de Mello, Bruno Silva, Márcio Cardoso, Raquel Ponte, André Gomes, Nuno Carvalho, Sérgio Viegas, Sérgio Leitão, Valter Ascensão, Cristina Ramos, André Artur Carlos e José da Palma. DA URBANIZAÇÃO TURÍSTICA À METROPOLIZAÇÃO SAZONAL NO ALGARVE LITORAL 1960/2013 JOÃO CARLOS FIGUEIRA MARTINS RESUMO A turistificação do Algarve ocorreu num plano político, institucional e urbanístico em que assistimos transformações em duas escalas. Na escala nacional, assistimos a uma clara reorientação produtiva ao continente europeu por parte das elites nacionais, abandonado o comércio de natureza colonial e concentrando a sua intervenção na banca e setor imobiliário. Na conjuntura regional presenciamos a substituição da agricultura, pesca e indústria tradicionais, pelas ocupações funcionais associadas ao turismo. Ocupado temporariamente por turistas (maioritariamente portugueses e britânicos) e utilizadores de segundas residências, o território e as populações algarvias foram moldados pelo impacto em redor do fenómeno turístico e imobiliário, implicando uma forte dependência económica e sazonalidade associada ao lazer balnear. Num contexto de forte dinamização da iniciativa privada, dá-se um incremento particular do investimento financeiro nestes territórios; tanto nas suas vertentes de alta rentabilidade (resorts e grandes projetos imobiliários), como na compra de casas de segunda habitação por parte de alguns estratos das classes médias. A procura de lazer comporta um processo social, económico e cultural marcado pelo contexto de receção de turistas, na adequação da região destes, na transformação do espaço no sentido de um território que se quer adequado ao prazer, promovendo possíveis fenómenos de dependência económica de uma região. A Sociologia tratava o consumo de bens não primários como “um assunto pouco sério da vida social” (Fortuna, 1995). A integração deste campo na academia dá-se com a progressiva integração da importância do fenómeno turístico nas mentes dos agentes os melhores tempos das nossas vidas, assim como do alargamento a classes sociais mais modestas, que agora podem aceder ao lazer e ao uso do tempo livre; tornando o fenómeno um elemento central das sociedades contemporâneas. Na produção das cidades e nas suas margens urbanas está presente a criação de um espaço físico e social de trocas, e particularmente nos contextos turísticos, de essência simbólica e económica entre residentes e visitantes, elementos fundamentais destas formas de urbanização. Nesta investigação foram escolhidos um conjunto de espaços urbanos, de relações produtivas/ laborais e práticas de lazer, que pelo seu interesse sociológico significativo poderão ajudar na compreensão do processo de Urbanização Turística no Algarve. Como resultado desta análise criámos o conceito de Metropolização Sazonal, através da análise de três dimensões particulares: espaço, produção/trabalho e lazer. Da análise desenvolvida foi necessário criar uma tipologia conceptual que permitisse compreender as particularidades do processo de urbanização turística algarvia. Essa tipologia materializa-se num novo conceito, de Metropolização Sazonal, com a sua particularidade temporal, não permanente. PALAVRAS-CHAVE: Algarve, Turismo, Urbanização, Metropolização Sazonal ABSTRACT The Algarve Touristification occurred on a political, institutional and urbanistic phase, in which we assist transformations in two stages. In the national stage, we assist a clear productive reorientation towards the European continent by part of the national elites, abandoning the colonial trade and concentrating their intervention on banks and real estate. In the regional stage we assist an economic reorientation from agriculture, fishing and traditional industries towards functional occupations related to tourism. Occupied temporally by tourists (mainly Portuguese and British) and second use house users, the territory and Algarve populations were shaped by the impact around the tourism and real estate phenomenon, implying a strong economic dependence and seasonality associated with beach leisure. In a context of strong private intervention, we see a solid financial investment by private entrepreneurs in these territories, in its high value structures (resorts and big real estate projects), as the second house use economic promotion among some medium classes. The desire of leisure implies a social, economic and cultural process based on the tourists reception, the region adequacy towards them, the space transformation towards a territory suitable to leisure, promoting possible effects of economic dependency on the region. Sociology used to deal with these non-primary consume as a “not so serious matter regarding social life” (Fortuna, 1995). The integration of this field on the academy was made by the progressive integration of the tourism phenomenon on peoples’ minds, the best times of our lives, as the enlargement towards more modest social classes, that can now access leisure and free time; becoming a central element on contemporary societies. In the production of cities and their borders, it is present the creation of a physical and social space of trade, and particularly on tourism contexts, of economic and symbolic essence, between residents and visitors, fundamental elements of these forms of urbanization. In this investigation were chosen a group of urban spaces, productive/labor relations and leisure practices, which have a particular sociological interest, helpful in order to understand the Tourism Urbanization (Mullins, 1991) process in the Algarve. As result of this analysis it was developed a new conceptual typology in order to understand the tourism urbanization process in Algarve. That typology is materialized on a new concept, the Seasonal Metropolization process, with its temporary and non-permanent particularity. KEY WORDS: Algarve, Tourism, Urbanization, Seasonal Metropolization INTRODUÇÃO Você já ouviu falar dele. (…) De certeza que algum amigo já lhe disse coisas como: «Eu fui da praia à montanha num segundo, ou dei um passeio, observei pássaros e comi marisco tudo na mesma tarde» (…) Viu numa cadeia internacional um programa sobre a cultura, tradições e a história daquele que foi eleito o melhor destino de Golfe do Mundo (…) pode ter encontrado sites em que se diz que o Verão aqui dura o ano inteiro e que se podem praticar quase todos os desportos dentro e fora de água (…). É normal que conheça o Algarve pelos olhos, pela mão e pela voz de muita gente, mas falta-lhe ouvir aqueles que sabem todos os seus segredos, falta-lhe ouvir os que vivem cá. (Visit Algarve, 2010) O Algarve é uma unidade de natureza politica/administrativa, geográfica e cultural localizada a sul de Portugal, no sudoeste da Europa. É marcada por uma longa faixa longitudinal interior, onde a desertificação populacional e os seus efeitos económicos e espaciais marcam o território. É composta pela Serra, a zona montanhosa da região que separa o Algarve do Alentejo, onde dominam a silvicultura e agricultura de subsistência e pelo Barrocal, a faixa mais fértil associada à produção frutícola. Em ambas as zonas interiores do Algarve poderemos observar a existência de habitações de uso não permanente, que recriam muitas vezes um imaginário rural local, resultantes da reconstrução de antigas edificações existentes em pequenos povoados ou montes. Esta é a face mais ruralizada do Algarve, apesar de encontrarmos marcas determinantes de introdução do fenómeno urbano, nomeadamente no uso secundário e de lazer das habitações existentes e no contacto entre os poucos residentes originais e estes novos rurais de fim de semana. Este espaço interior do Algarve fica localizado a norte da Estrada Nacional 125 (EN125), uma via de circulação fundamental na região, perante um contexto de mobilidade marcado pela dinamização do automóvel privado como meio privilegiado de locomoção (Urry, 2004). Constitui-se assim como uma grande avenida que cruza todo o Algarve (Guerreiro,