Capítulo Intitulado “Seleções Inesquecíveis” Do DVD Comemorativo Da FIFA
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES INSTITUTO DE LETRAS Leda Maria da Costa A trajetória da queda: as narrativas da derrota e os principais vilões da seleção brasileira em Copas do Mundo Rio de Janeiro 2008 Leda Maria da Costa A trajetória da queda: as narrativas da derrota e os principais vilões da seleção brasileira em Copas do Mundo Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Literatura Comparada. Orientador: Prof. Dr. Guillermo Francisco Giucci Schmidt Rio de Janeiro 2008 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CEHB C837 Costa, Leda Maria da . A trajetória da queda: as narrativas da derrota e os principais vilões da Seleção Brasileira em Copas do Mundo / Leda Maria da Costa. – 2008. 159 f. Orientador: Guillermo Francisco Giucci Schmidt. Tese (doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Letras. 1. Copas do mundo (Futebol) – Crônicas – Teses. 2. Fracasso (Psicologia) – Teses. 3. Futebol – Brasil – Crônicas – Teses. 4. Futebol – Aspectos psicológicos – Teses. 5. Jogadores de futebol – Brasil – Teses. I. Schmidt, Guillermo Francisco Giucci. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Letras. III. Título. CDU 869.0(81)-4:796.332 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese. ___________________________ ____________________ Assinatura Data Leda Maria da Costa A trajetória da queda: as narrativas da derrota e os principais vilões da seleção brasileira em Copas do Mundo Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós- Graduação em Letras, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Literatura Comparada. Aprovado em 28 de março de 2008 Banca examinadora: _____________________________________________________ Guillermo Francisco Giucci Schmidt (Orientador) Instituto de Letras da UERJ ____________________________________________________ Flávio Carneiro Instituto de Letras da UERJ _________________________________________________ Victor Andrade de Melo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ _________________________________________________ Hugo Rodolfo Lovisolo Faculdade de Comunicação Social da UERJ _________________________________________________ Roberto Marchon Lemos de Moura Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF Rio de Janeiro 2008 Para Carol. Para meu pai, Francisco. Para o Vasco da Gama, meu grande amigo e eterno companheiro. AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo. Imensamente, a meu orientador Guillermo Giucci, pelo incentivo e pela confiança. Ao meu querido amigo Marcos, pela lealdade e apoio. Ao meu amigo Fernando Reis, cujo retorno foi um grande presente em minha vida. Aos meus amigos Justas, pelos risos, pelos bate-papos descompromissados e até mesmo pelas brigas. A Alvaro do Cabo, pela ótima contribuição de suas pesquisas e de seu conhecimento sobre a Copa de 1950. À FAPERJ, pela concessão da Bolsa Nota Dez, imprescindível para a realização desta pesquisa. Na arquibancada, o torcedor se sente só ou pelo menos desamparado na hora ruim. Não pode entrar em campo. Vem então aquela mudez e aquela imobilidade de 16 de julho (...) Quando joga o time da gente a derrota é quase crime ou é totalmente, irremediavelmente, um crime. Um crime do qual não participamos a não ser no sofrimento. Mário Filho RESUMO COSTA, Leda Maria da Costa. A trajetória da queda: as narrativas da derrota e os principais vilões da seleção brasileira em Copas do Mundo. 159f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Os vilões do futebol são filhos da derrota. Desde 1950 e a “tragédia do Maracanã”, passamos a sistematicamente tentar encontrar as razões de algum fracasso do selecionado brasileiro, procurando responder à pergunta: “Por que perdemos?” A partir desse questionamento, a derrota é situada no tempo e no espaço, seus mais relevantes acontecimentos são expostos e encadeados numa seqüência. A derrota é então narrada. E nas narrativas da derrota o protagonista é sempre o vilão, ou seja, aquele jogador cujas ações serão compreendidas como a causa fundamental do malogro dentro das quatro linhas. Ao enfocar a figura do vilão do futebol, este trabalho visa abordar o modo pelo qual as principais derrotas do selecionado brasileiro de futebol foram narradas em contos, crônicas, jornais, em produções cinematográficas etc. Através desse percurso, tentar-se-á investigar alguns significados que a derrota assume no Brasil, assim como todo um imaginário do fracasso que se revela por intermédio das narrativas da derrota e deus principais personagens: os vilões. Palavras-chave: Futebol. Narrativa. Derrota. RESUMEN Los villanos del fútbol son hijos de la derrota. Desde 1950 e la “tragedia de Maracana”, de modo sistemático buscamos hallar las razones de alguno fracaso de la selección brasileña, intentando responder a pregunta: “¿Porque perdimos¿” Partindo de este problema, la derrota és situada en el tiempo e espacio, sus más importantes acontecimientos son mostrados e encadenados en una secuencia. La derrota és portanto narrada. E en las narrativas de las derrotas, lo personage principal és lo villano, ou sea, lo jugador cuyas acciones serán consideradas la razón fundamental del malogro en las cuatro líneas. Ao enfocar la figura del villano del fútbol, este trabajo visa pesquisar la menera por la cual las principales derrotas de la selección brasileña fueran narradas en cuentos, crônicas, diarios, películas etc. Por este trayeto, se intentará una búsqueda por algunos de los significados que la derrota tiene en Brasil, como también todo un imaginario del fracaso revelado por las narrativas de la derrota y de sus principales personages: los villones. Palabras clave: Fútbol. Narrativa. Derrota. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS JB Jornal do Brasil CM Correio da Manhã JS Jornal dos Sports 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 12 1. NARRANDO A DERROTA 17 1.1 No tempo de Leônidas 17 1.2 Copa de 1950: a mãe das narrativas da derrota e dos vilões do futebol brasileiro 28 1.3 Hermenêutica da derrota 36 1.4 O futebol e a derrota 46 1.5 Narrativas melodramáticas 56 2. ASSIM NASCEM OS VILÕES 66 2.1 Toda derrota tem um culpado 66 2.2 Barbosa, o vilão paradigmático 81 2.3 Ninguém é vilão por acaso 102 3. UMA LEGIÃO DE VILÕES 116 3.1 Covardes, mascarados, mercenários e “estrangeiros” 116 3.2 Os quase vilões 128 3.3 Os vilões redimidos 145 CONCLUSÃO 151 REFERÊNCIAS 155 12 INTRODUÇÃO Apesar de terem sido os responsáveis por levarem a seleção brasileira para uma inédita final de campeonato mundial, projetando o futebol nacional para quase todo planeta, os jogadores que compunham o selecionado brasileiro na Copa de 1950 deixaram sua condição de heróis que eles ostentavam antes do jogo Brasil X Uruguai, ao não conquistarem a Taça desejada e sobre a qual se havia depositado tanta expectativa. O vice-campeonato os transformara em simples mortais. A perda do título mundial deixava claro que apenas a vitória poderia ter conduzido algum jogador ou o selecionado como um todo ao trono do futebol nacional. Da derrota nasceu uma outra tipologia de jogador: o vilão. A terrível perda do IV campeonato mundial modificou grandemente a sensibilidade do brasileiro em relação às derrotas da seleção em Copas do Mundo e essa alteração consolidou em nosso imaginário essa figura vilanesca cuja composição entra em clara oposição à imagem idealizada do herói. Se a vitória tem nos heróis seus protagonistas para os quais se destina o trono do futebol brasileiro, a derrota, por sua vez, também possui seu personagem principal e ele é aquilo que, aqui, denomino de vilão, ou seja, aquele jogador sobre o qual será depositada a culpa pelo insucesso em campo. Todos os seus atos dentro – e às vezes fora – das quatro linhas serão interpretados sob a luz de uma enorme intolerância com a perda da partida e, por isso, seus mínimos deslizes correrão o risco de se transformarem em erros fatais e, até mesmo, irremissíveis, pois serão compreendidos como a causa do fracasso. No futebol, os limites que separam os heróis dos vilões são tênues e claramente dependentes do resultado final de uma partida. Tanto a derrota quanto a vitória podem filtrar nossa opinião acerca de um determinada jogada e de um determinado jogador. E os vilões nascem em meio ao turbilhão provocado por uma derrota. Enquanto o herói percorre uma trajetória ascendente, em que um status de superioridade lhe é conferido (Campbell, 1995), o vilão é lançado numa queda que o conduz a um território sombrio de culpabilizações, das quais, muitas vezes, não consegue livrar-se. O vilão, ao contrário do herói, passa por um processo que o coloca numa condição de inferioridade em relação aos outros jogadores. Em 1950, o lateral Bigode, logo ao final do jogo, já desenhava o provável destino que lhe estava sendo reservado: “Já sei que estão me culpando – você não viu aquele torcedor gritar por mim, ameaçando-me com palavrões?” (O Globo 17/07/1950). O Maracanazo consolidou no futebol um tipo de fama às avessas, uma notoriedade indesejada, pois que conseguida através de uma traumatizante derrota. E essa notoriedade cabe aos vilões. 13 Em 1950, alguns jogadores foram alvos de intensas críticas e contra eles foi lançada a acusação de terem sido os principais responsáveis pela derrota da seleção brasileira. Seus perfis foram radicalmente transformados a partir da derrota.