Universidade Federal Rural Do Rio De Janeiro Instituto De Ciências Humanas E Sociais Instituto Multidisciplinar Programa De Pós-Graduação Em História
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA Descobrimentos portugueses: entre a construção da memória e as relações de poder (Século XV). Keila Natacha Silva de Lima Sob a Orientação do Professor Marcelo Santiago Berriel Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em História, no Curso de Pós-Graduação em História, Área de Concentração Relações de Poder e Cultura. Nova Iguaçu, RJ Setembro de 2017 1 2 3 Eis o mar, imenso e vasto. Nele vivem inúmeras criaturas, seres vivos, pequenos e grandes. Salmo104:25 4 AGRADECIMENTOS Ao profº Drº Marcelo Santiago Berriel pelo zelo e dedicação para que este trabalho se realizasse, através de suas assertivas orientações e valiosas sugestões. Ao profº Drº Clínio de Oliveira Amaral pelas suas contruibuições no aprimoramento do estudo e pelo acesso ao seu trabalho, ao profº Fabiano Fernandes pela abertura de perspetivas em seus pareceres. A profª Raquel Alvitos pelo incentivo, ainda na fase inicial deste projeto. Aos professores da pós-graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro por suas aulas que permitiram o aprofundamento teórico e metodológico deste trabalho. Aos colegas, que quando preciso, contribuíram com suas críticas e propostas. 5 Resumo LIMA, Keila Natacha Silva de. Descobrimentos portugueses: entre a construção da memória e as relações de poder (Século XV). 98 p Dissertação (Mestrado em História, Área de Concentração Relações de Poder e Cultura.). Instituto Multidisciplinar, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, RJ, 2017. O presente trabalho consiste em um estudo sobre o período inicial dos descobrimentos portugueses, durante o século XV, e sua relação com o contexto político do reino. A dissertação analisará as crônicas de Gomes Eanes de Zurara, cronista oficial de D. Afonso V (1448-1481) e a construção de uma memória vitoriosa sobre os feitos portugueses em África. Ao passo que este ideal será posto em perspectiva, em que tais empreendimentos marítimos foram permeados de reveses, de avanços e retrocessos que serão considerados a luz da conjuntura do reino ibérico, principalmante, após, a Batalha de Alfarrobeira. Palavras-chave: descobrimentos – memória - D. Henrique – crônicas – Gomes Eanes de Zurara. 6 Abstract LIMA, Keila Natacha Silva de. Portuguese discoveries: between the construction of memory and the relations of power (XV centrury). 98 p Dissertation (Master in History, Concentration Area Relations of Power and Culture.). Instituto Multidisciplinar, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, RJ, 2017. The present article consists of a study on the initial period of the Portuguese discoveries in the XV century and its relation with the political context of the Portuguese kingdom. The dissertation will analyze the chronicles of Gomes Eanes de Zurara, official chronicler of D. Afonso V (1448-1481) and the construction of a victorious memory of the Portuguese acts in Africa. While this ideal will be put in perspective that such maritime enterprises were permeated by troubles, advances and setbacks that will be considered the light of the conjuncture of the Iberian kingdom, especially after the Battle of Alfarrobeira. Keywords: Discoveries- memory- D. Henrique- Chronics –Gomes Eanes de Zurara 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I- HISTÓRIA, MEMÓRIA E AS CRÔNICAS DE GOMES EANES DE ZURARA 14 1. O Registro da Tomada de Ceuta 14 2. Tempo: categoria dos estudos historiográficos 16 3. Memória objeto de estudo do historiador 18 3.1. História e Memória 19 3.2. Memória e a relação com contextos históricos 20 4. Crônicas: produção de memória 25 5. A crônica em seu tempo 37 6. A produção cronística em fins da Idade Média 37 7. História e Poder 31 8. Crônica do Tomada de Ceuta e Crônica do Descobrimento e Conquista da Guiné 32 9. História, memória e crônica 34 10. Os sentidos de Estorya e memorya nos prólogos da Crônica da Tomada de Ceuta e Crônica do Descobrimento e Conquista da Guiné 37 CAPÍTULO II - OS DESCOBRIMENTOS EM PERSPECTIVA: ESTUDO SOBRE A HISTORIOGRAFIA RELATIVA AO TEMA, QUESTÕES E ABORDAGENS 41 1. Divergências sobre a guerra em África 41 1.1. D. Pedro e a cronística de Zurara 42 2. Crise das dinastias magrebinas 44 2.1. A importância estratégica de Ceuta 45 2.2. O valor simbólico da expansão 47 3. As leituras dos acontecimentos narrados por Zurara 49 3.1. Século XX e o desmonte das interpretações tradicionais 52 4. A cada novo avanço, novas possibilidades eram aberta na Expansão Marítima 62 CAPÍTULO III - REFLEXÕES SOBRE AS INTERAÇÕES ENTRE HISTÓRIA E PODER: A ESCRITA DA HISTÓRIA E OS ACONTECIMENTOS POLÍTICOS EM TORNO DA ASCENSÃO DE D. AFONSO V AO TRONO 63 1. Estamento, honra e relações de poder 63 2. O Segundo Estado 66 3.D. Afonso V: menoridade, regências, reinado e batalha de Alfarrobeira 68 3.1. A morte de D. Duarte e as animosidades entre os regentes 68 3. 2. O turbulento período da regência e seus efeitos na governaça afonsina 71 3.3. A escrita dos acontecimentos e a escrita da história: a descrição de Rui de Pina sobre inicio do reinado do africano e as impressões da historiografia sobre esse período. 72 3.3.1. O balanço sobre a historiografia afonsina e a renovação dos estudos 73 4. Os reis avisnos da Conquista de Ceuta à conquista do Tânger 76 5. A escrita da história através da produção cronística 79 8 5. 1. As crônicas sobre D. Afonso V sob investigação: a monarquia e a produção cronística 79 5.1.1. Cronistas portugueses dos reinados de D. Duarte e D. Afonso: Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara 80 5.1.2. Característcas das crônicas quinhentistas 81 5.1.3. As crônicas produzidas por Gomes Eanes de Zurara e sua relação com o poder régio 81 6. O texto no âmbito do contexto: análise das crônicas de Gomes Eanes de Zurara 83 6.1. Perfil da nobreza nas crônicas de Zurara: servidora e fiel 83 CONCLUSÃO 90 FONTES PRIMÁRIAS 93 BIBLIOGRAFIA 93 9 INTRODUÇÃO Este trabalho começou a partir de uma afirmativa não muito lisonjeira feita por um historiador a D. Afonso V: Oliveira Martins prossegue seu discurso de exaltação da imagem de D. João II, enfatizando que ‘o filho não tinha nada dos loucos desvarios do pai’, que D. Afonso V tinha sido “um aborto, ou um anacronismo medieval, e que ‘Os tempos da coruja tinham acabado’, porque [D. João II] não carecia mais de pactuar com as tontices do pai; rei agora (1481), seria o falcão.1 Essa afirmativa causava certa estranheza, pois, determinava que o governo do rei D. Afonso V2 fora anacrônico, isto é, suas atitudes estariam em descompasso com o seu o tempo. O que se apresentou como um interessante ponto de reflexão, visto que, as ações deste reinado poderiam ser entendidas de outra forma, como situadas em um momento de transição, em que seriam perceptíveis traços de modernidade e de arcaísmo na condução da política portuguesa. Para tratar deste monarca, recorreu-se ao material produzido ao seu respeito. Tem-se, neste sentido, o trabalho de Rui de Pina, que fora cronista do reino português e escrevera uma crônica sob o título de Crônica de D.Afonso V, feita a pedido de D.Manuel I3. Todavia, ainda que o texto fizesse referência ao africano, alcunha recebida por D. Afonso V, como explicou o historiador português Saul Gomes: D. Afonso V é um monarca que portugueses de antanho, mas não, cremos, os seus coevos, cognominaram Africano, inspirados seguramente no clássico e eruditíssimo exemplos de Cipião. Triuinfador na Hispania, correndo a segunda guerra púnica, conquistador de Cartago e vencedor de Aníbal em Zama. Um dos primeiros a usar o cognome de Afonso V como o Africano, que saibamos, foi o erudito renascentista eborense Cristovão Rodrigues Acenheiro, nas suas Crónicas dos Senhores Reis de Portugal, em redação por 1530.4 O texto Crônica de D. Afonso V não fora produzido em seu próprio período governo, sob seu requerimento, e como comentou, Gomes, o biografo do décimo terceiro rei de Portugal: “Rui de Pina é o autor da principal biografia afonsina de que dispomos, ainda que este escritor seja sobretudo o cronista de D. João II, como Zurara o fora de D. Afonso V”5. Estas palavras do autor são importantes, pois, ajudam a entender que a produção cronistica estava intimamente ligada ao monarca que a solicitava. Isto é, o cronista como um funcionário régio, dispunha-se a escrever sobre o que seria considerado relevante em cada reinado. No caso do africano, seu cronista fora Gomes Eanes de Zurara, personagem que se integrou a história do reino, por sua ligação a uma figura de renome, D. Henrique, membro da 1 -SILVA, Priscila Aquino. “De Príncipe Perfeito a Rei Pelicano - a construção da imagem de D, João II através da historiografia portuguêsa.” In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA - O HISTORIADOR E SEU TEMPO XVIII, 2006. Anais do XVIII Encontro Regional de História - O historiador e seu tempo. Assis: UNESP, 2006. CD- ROOM. p. 5. 2 D. Afonso V, foi o terceiro rei da dinastia de Avis, décimo segundo monarca português e governou o reino entre os anos de 1448 a 1481. Seu reinado foi marcado pelo inicio conturbado, no qual ele e seu tio D. Pedro, antigo regente, enfrentaram-se em campo de batalha, episódio que ficou conhecido como Batalha de Alfarrobeira, em 1449. Embora, D. Afonso V tenha saído vitorioso do conflito, a batalha contra o duque de Coimbra abalou a confiança no novo rei, com destaque para os reinos estrangeiros, visto que, D. Pedro era reconhecido como um homem proeminente por suas viagens, seus textos e pela governança do reino a época da regência.