V Congresso Internacional do PPG-Letras e XIX Seminário de Estudos Literários 06 a 08 de junho de 2018

Escritas literárias: reflexão estética, política e tradução

Caderno de Resumos

Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, Câmpus de São José do Rio Preto, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – Programa de Pós-Graduação em Letras.

São José do Rio Preto UNESP/IBILCE 2018 Reitor Sandro Roberto Valentini Vice-reitor Sergio Roberto Nobre Pró-Reitora de Graduação Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari Pró-Reitor de Pós-Graduação João Lima Sant‘Anna Neto Pró-Reitora de Pesquisa Prof. Dr. Carlos Frederico de Oliveira Graeff Pró-Reitora de Extensão Universitária Profa. Dra. Cleopatra da Silva Planeta Pró-Reitor de Planejamento Estratégico e Gestão Prof. Dr. Leonardo Theodoro Büll

Diretora Profa. Dra. Maria Tercília Vilela de Azeredo Oliveira Vice-Diretor Prof. Dr. Geraldo Nunes Silva

Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Letras Modernas Prof. Dr. Peter James Harris Profa. Dra. Norma Wimmer Chefe e Vice-Chefe do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários Profa. Dra. Lúcia Granja Prof. Dr. Luís Augusto Schmidt Totti

Programa de Pós-Graduação em Letras Coordenador Prof. Dr. Pablo Simpson Vice-coordenador Prof. Dr. Cláudio Aquati

Apoio financeiro Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão de São José do Rio Preto (FAPERP) Programa de Pós-Graduação em Letras (PPG-Letras UNESP/IBILCE)

Comissão organizadora do evento Corpo docente Profa. Dra. Luciene Marie Pavanelo (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Lúcia Granja (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE) Profa. Dra. Norma Wimmer (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Ulisses Infante (UNESP/IBILCE) Corpo discente Prof. Dr. Henrique Marques Samyn (UERJ) Bianca Cristina Sinibaldi Profª Dra. Juliana Santini (UNESP- Dibo Mussi Neto Araraquara) Diego Jesus Rosa Codinhoto Profª Dra. Lúcia Granja (UNESP/IBILCE) Gisele de Oliveira Bosquesi Profª Dra. Luciene Marie Pavanelo Jean Carlos Carniel (UNESP/IBILCE) Lilian Tigre Lima Profª Dra. Milena Mulatti Magri (pós-doc Lucas de Castro Marques UNESP-IBILCE/FAPESP) Manoela Caroline Navas Prof. Dr. Nelson Luís Ramos Monelise Vilela Pando (UNESP/IBILCE) Natália Fernanda da Silva Trigo Profa. Dra. Norma Odair Dutra Santana Júnior Wimmer (UNESP/IBILCE) Pâmela Coca dos Santos Ramos Prof. Dr. Pablo Simpson (UNESP/IBILCE) Pedro Henrique Pereira Graziano Profª Dra. Sara Brandellero (Leiden University, Holanda) Comissão Científica do evento Prof. Dr. Ulisses Infante (UNESP/IBILCE) Prof. Dr. Antonio Augusto Nery (UFPR) Profª Dra. Valéria Cristina Bezerra (pós-doc Prof. Dr. Benedito Antunes (UNESP-Assis) UNESP-IBILCE/Université de Nanterre – Prof. Dr. Berthold Zilly (Freïe Universität Paris X/FAPESP) Berlin/Universität Bremen, Prof. Dr. Victor Luiz da Rosa (pós-doc Alemanha/UFSC) UNESP-IBILCE/PNPD CAPES) Profª Dra. Fabiana Gonçalves (pós-doc UNESP-IBILCE/CNPq) Organização do caderno de resumos Profª Dra. Francine Ricieri (UNIFESP) Manoela Caroline Navas Prof. Dr. Giorgio de Marchis (Universidade Diego Jesus Rosa Codinhoto de Roma III) Pâmela Coca dos Santos Ramos Pedro Henrique Pereira Graziano

Congresso Internacional do PPG-Letras (5. : 2018 : São José do Rio Preto, SP) Caderno de resumos [do] 5. Congresso Internacional do PPG-Letras e 19. Seminário de Estudos Literários [recurso eletrônico] : 06 a 08 de junho de 2018, São José do Rio Preto-SP / [Organização de Manoela Caroline Navas... [et al.]. – São José do Rio Preto : UNESP/IBILCE, 2018 96 p.

Temática do evento: Escritas literárias : reflexão estética, política e tradução E-book Requisito do sistema: Software leitor de pdf Modo de acesso: ISBN 978-85-8224-145-5

1. Literatura - História e crítica - Teoria, etc. 2. Literatura - Estudo e ensino. I. Seminário de Estudos Literários (19. : 2018 : São José do Rio Preto, SP) II. Navas, Manoela Caroline. III. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. IV. Escritas literárias : reflexão estética, política e tradução. CDU – 8.013

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE UNESP - Câmpus de São José do Rio Preto Bibliotecária: Luciane A. Passoni CRB-8 7302

APRESENTAÇÃO

O V CONGRESSO INTERNACIONAL DO PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM LETRAS e XIX SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de São José do Rio Preto. O congresso reúne professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros que desenvolvem estudos nas áreas de teoria e crítica literária em seus diversos campos, como a literatura comparada, a literatura clássica, a literatura brasileira e outras literaturas vernáculas, as literaturas estrangeiras modernas e as relações entre a literatura e outras artes, como a pintura, o cinema, a música e as narrativas gráficas. O encontro de 2018, com o tema Escritas literárias: reflexão estética, política e tradução, procurará discutir a criação literária, seja ela original ou traduzida, como fruto de um trabalho estético, mas também de interesse político, tendo-se em vista as suas relações com contextos de produção e recepção. Nesse sentido, partindo da dialética entre forma literária e conteúdo histórico-social, pretende-se refletir sobre as literaturas em língua portuguesa e estrangeira, abrindo espaço para o debate sobre a tradução de obras do português para outros idiomas e vice-versa, bem como o seu processo de adaptação para outras culturas e linguagens. O V Congresso Internacional do PPG-Letras e XIX Seminário de Estudos Literários é o principal encontro de pesquisa do programa da Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da UNESP de São José do Rio Preto. Realizado anualmente, seu objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de Mestrado e Doutorado a oportunidade de debater suas pesquisas em andamento com professores convidados, que recebem os projetos dos alunos ingressantes com um mês de antecedência. Além disso, o congresso também abrirá inscrições para a participação tanto de alunos do Programa quanto de outras universidades paulistas e de outras regiões do país, na forma de comunicações orais, e uma de suas mesas-redondas será composta pelos pós-doutorandos do Programa. Em 2018, estão previstas as vindas de dois professores de universidades estrangeiras: o Prof. Dr. Berthold Zilly (da Freïe Universität Berlin e da Universität Bremen, Alemanha, e atualmente professor visitante da UFSC), que apresentará a conferência de abertura, e o Prof. Dr. Giorgio de Marchis (da Universidade de Roma III), que apresentará uma comunicação em mesa- redonda e ministrará um minicurso que integrará a programação do evento. O congresso também contará com a presença de quatro convidados que, além de também apresentarem comunicações orais em mesas-redondas, participarão das mesas de debates de projetos dos alunos ingressantes, a fim de contribuírem com o desenvolvimento de suas pesquisas: dois desses docentes vêm de universidades paulistas (o Prof. Dr. Benedito Antunes, da UNESP de Assis e a Profª Dra. Francine Ricieri, da UNIFESP) e dois deles vêm de outros estados (o Prof. Dr. Antonio Augusto Nery, da UFPR, e o Prof. Dr. Henrique Marques Samyn, da UERJ). A conferência de encerramento será proferida pelo escritor Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira. O interesse das vindas desses convidados é facultar o debate sobre a reflexão estética, política e do fazer tradutório na literatura, debate fundamental para os alunos do Programa. *Agradecimentos: a organização do evento agradece o auxílio financeiro da FAPESP (2018/03310-4), da FAPERP e do Programa de Pós-Graduação em Letras (Ibilce/UNESP)

CONFERÊNCIAS E MESAS REDONDAS

06 de junho, às 10 horas

"A TRADUÇÃO COMO CRÍTICA LITERÁRIA: GRANDE SERTÃO: VEREDAS"

Berthold Zilly (Freïe Universität Berlin/Universität Bremen, Alemanha/ UFSC)

A palestra, motivada pelo projeto de uma nova tradução alemã de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (1956), tece reflexões sobre o texto-fonte diante de reais e possíveis estratégias em versões estrangeiras. As traduções do romance, que vêm aparecendo a partir de 1963 em muitas partes do mundo, suscitam volta e meia, devido à linguagem insólita de Guimarães Rosa, discussões sobre os limites da traduzibilidade de sua obra. O próprio autor não via diferença fundamental entre sua própria poética e aquela que recomendava a seus tradutores: a criação e a recriação compartilhariam os mesmos objetivos e procedimentos, levando em conta, naturalmente, a especificidade de cada língua-alvo. O original e a tradução deviam, pela "novidade nas palavras e na sintaxe", "chocar e estranhar", fazer valer "a música subjacente ao sentido", banir radicalmente "expressões domesticadas" – ideias que aproximam a estética rosiana da dos formalistas russos, assim como de concepções tradutológicas, por exemplo de Schleiermacher, Benjamin, H. de Campos, Venuti. As traduções já publicadas são parte da fortuna crítica e, ao mesmo tempo, ferramenta interpretativa, pois o traduzir permite uma abordagem hermenêutica privilegiada, rastreando, desvendando e tentando reconfigurar o "modo de designar" (Benjamin) de um texto, sua "lógica do estar- produzido" (Adorno), suas "operações formadoras" (H. de Campos). O exame comparativo de um breve trecho do romance em dez traduções mostra, porém, que a maioria das primeiras traduções, sobretudo a versão alemã de Curt Meyer-Clason, apesar de aproveitarem muitos esclarecimentos do autor, pouco cumprem os seus princípios poéticos, seguindo mais bem o modelo das 'belas infiéis', ou seja, uma estratégia domesticadora e naturalizadora, um estilo de fácil compreensibilidade, com uma sintaxe tradicional, com pouca oralidade, sem elipses, e cheia de lugares-comuns. Hoje em dia, as condições são mais favoráveis para mais arrojadas reconfigurações do original, com maior qualidade diferencial, e transgressão do horizonte de expectativa do leitor, graças a uma crescente disposição, da parte de leitores, críticos e editores, de apreciar traduções estrangeirizantes, com alto grau de "choque" e "estranhamento".

06 de junho, às 16h30

Mesa-redonda – A tradução e seu contexto de adaptação e recepção

"PERI E CARAMURU. COMO A ITÁLIA DA BELLE ÉPOQUE LIA O BRASIL"

Giorgio de Marchis (Universidade de Roma III)

Ao longo do século XIX, a recepção em Itália do Indianismo brasileiro foi um fenômeno cultural significativo e as traduções das obras de Gonçalves de Magalhães e José de Alencar, assim como o estrondoso sucesso da ópera Guarany de Antônio Carlos Gomes, estreada no Teatro "La Scala" de Milão em 1870, confirmam um invulgar interesse da cultura italiana para com os indígenas brasileiros. Não se trata, contudo, de uma direta consequência dos imponentes fluxos migratórios que, na segunda metade do século XIX, tornaram o Brasil num destino privilegiado para a mão de obra italiana. Bem mais interessante e produtivo poderá ser interpretar esse interesse como um reflexo do processo de unificação nacional. Sendo assim, será mais fácil compreender a razão pela qual a literatura popular produzida na Itália finissecular muda completamente o paradigma interpretativo dos indígenas do Brasil.

"A FREIRA NO SUBTERRÂNEO, UMA TRADUÇÃO DE CAMILO CASTELO BRANCO"

Antonio Augusto Nery (UFPR)

Com o subtítulo "Romance histórico", de autoria anônima e sem data conhecida da primeira publicação, a narrativa A Freira no subterrâneo foi traduzida por Camilo Castelo Branco em 1872, a partir de uma edição francesa anônima do texto, segundo relatos do próprio tradutor. A história trágica da freira Bárbara Ubryk, ocorrida em um convento carmelita de Cracóvia, Polônia, possui forte apelo anticlerical e ficou famosa pelas críticas veiculadas à Instituição religiosa. O objetivo deste trabalho é averiguar em que medida o romance dialoga com o discurso anticlerical oitocentista, presente em obras de diversos autores do contexto. Especificamente, pretende-se investigar as diferenças e similitudes entre as discussões presentes no texto e o modo como o tradutor, Camilo Castelo Branco, lidou com a temática anticlerical em várias de suas produções.

07 de junho, às 10h30

"SOBRE A FIGURAÇÃO DO EROTISMO EM FRANCISCA JÚLIA E FLORBELA ESPANCA"

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Este trabalho encerra alguns apontamentos a partir de uma pesquisa, ainda incipiente, cuja finalidade é investigar as possibilidades de um estudo comparativo entre as produções poéticas da brasileira Francisca Júlia (1871-1921) e Florbela Espanca (1894- 1930). Separadas por cerca de uma geração, autoras de obras interrompidas por mortes precoces, Francisca Júlia e Florbela Espanca deixaram escritos que dialogaram intensamente com valores estéticos finisseculares – sendo, não obstante, possível nelas divisar uma atenta propensão crítica que se traduz em textos que contestam, mais ou menos explicitamente, os valores estéticos vigentes em sua época. Meu objetivo, neste trabalho, será abordar as possibilidades de uma aproximação entre as obras das poetisas brasileira e portuguesa a partir de um tema em particular: o erotismo. Pretendo, mais especificamente, abordar questões como: em que medida uma investigação por essa via pode ser levada a cabo, considerando-se a diferença entre os corpora disponíveis para a exploração desse tema (bastante mais amplo no caso de Florbela Espanca)? Em que medida se pode enxergar, na poesia de Francisca Júlia, algo semelhante à notória ruptura efetivada por Florbela, em seus últimos escritos, no que tange à figuração do erotismo feminino? De que modo questões como a representação do corpo desejante ou a subversão de um ideário erótico androcêntrico (ou mesmo falocêntrico) se fazem presentes nas obras das referidas escritoras?

07 de junho, às 18h30

Mesa redonda - Escritas literárias no Brasil

"ESSE VÍRUS DE SCIENCE FICTION: DOENÇA E ALTERIDADE EM CAIO FERNANDO ABREU"

Milena Mulatti Magri (pós-doc UNESP/FAPESP)

Neste trabalho procuramos analisar diferentes formas de apresentação da Aids na obra de Caio Fernando Abreu tendo em vista, sobretudo, dois momentos distintos. O primeiro momento diz respeito à divulgação dos primeiros casos de Aids, no Brasil, e o segundo, ao momento posterior à convivência do próprio escritor com os sinais da doença, cujo diagnóstico se confirmaria em breve. Para tanto, apresentaremos uma leitura comparativa dos textos "Pela noite", uma novela publicada pelo autor em 1983 no volume Triângulo das Águas, e "O homem e a mancha", uma peça de teatro cujo texto foi finalizado em 1994, dois anos antes de sua morte, e recolhida postumamente em seu Teatro Completo. A Aids é caracterizada, desde seu surgimento, como uma doença socialmente temida e estigmatizada, o que acabou promovendo formas de exclusão social de pacientes soropositivos. A comparação destes diferentes momentos permite observar uma mudança na forma de compreensão da Aids, na obra de Abreu, que passa de um evento alheio e temível a uma alteridade que passa a ser constitutiva do próprio sujeito.

SE A BULGÁRIA EXISTE: VIAGEM E INEXISTÊNCIA EM O PÚCARO BÚLGARO, DE CAMPOS DE CARVALHO

Victor Luiz da Rosa (pós-doc UNESP/PNPD CAPES)

O artigo analisa o último romance de Campos de Carvalho, O púcaro búlgaro (1964), por meio das noções de viagem e inexistência. E procura mostrar algumas consequências críticas e narrativas do impasse entre a promessa de uma "expedição ao fabuloso reino da Bulgária" – feita pelo narrador logo de saída com a eloquência de um viajante tarimbado – e seu constante adiamento ao longo do romance. Por meio de um estilo na maioria das vezes inexato e fabuloso, sempre verborrágico e exagerado, o narrador desta expedição torna-se complexo não por dominar o assunto que supostamente é objeto de seu interesse (o tal púcaro búlgaro) e sim porque, ao contrário, ele gira no vazio. E nesse giro, só pode "devanear sobre o nada", como ele próprio diz, enquanto não atina para a razão de escrever o diário. Tal impasse, de um lado, dialoga de modo crítico, e certamente irônico, com certa tradição dos relatos de viagem à medida que se apropria aqui e ali de alguns dos seus pressupostos, como a confiabilidade do narrador e a obsessão pelas classificações, para fazer deles objeto de piada; de outro, na tentativa de realizar um romance altamente experimental, mas nem por isso enfadonho, toma de empréstimo o princípio que Breton formula no "Manifesto do surrealismo", segundo o qual a "existência está em outro lugar", ou seja, na Bulgária, caso exista. Desse modo, o romance de Campos de Carvalho poderia ser pensado como uma experiência de desarme da nossa maneira de ler os relatos de viagem nacionais, ao mimetizar tais narradores e expor – ao ridículo – os seus limites. É a hipótese que se propõe aqui.

08 de junho, às 10h30

Mesa redonda - Entre a estética e a política, no romance e na poesia

A PRESENÇA DO INTELECTUAL NO ROMANCE BRASILEIRO

Benedito Antunes (UNESP-Assis)

Trata-se de um breve estudo da voz narrativa de romances brasileiros em que se observa a presença de um intelectual. Seja de forma direta, enquanto narrador ou personagem, seja nas variadas formas de focalização, essa figura tende a criar uma instância que reflete sobre o objeto da narração, visando à discussão de questões históricas, sociais e políticas abordadas nos romances. Seu exame abre perspectivas para a compreensão do contexto sociopolítico representado e do modo de cada autor apreender os temas de que se ocupa. A figura do intelectual, evidentemente, está presente em toda a grande literatura e pode ser acompanhada no Brasil, entre outros, nos romances Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), de Lima Barreto, O Amanuense Belmiro (1936), de Cyro dos Anjos.

CRUZ E SOUSA EM DESLIZAMENTOS ENTRE PROSA E POESIA

Francine Ricieri (UNIFESP)

A produção literária de Cruz e Sousa coloca em questão as relações entre escrita poética e escrita em prosa. Tais relações ora se manifestam no modo de formalização de textos específicos, ora são expressamente tematizadas e discutidas em algumas de suas páginas. O objetivo desta exposição é explorar momentos de Cruz e Sousa em que as referidas relações parecem oferecer elementos pertinentes para a reflexão sobre os limites e deslizamentos das formas poéticas desde meados do século XIX. Os diálogos entre o poeta brasileiro e o projeto de escrita do francês Charles Baudelaire, bem com as não tão recentes problematizações de um paradigma crítico que delimitou a poesia da modernidade ao que se poderia definir como "lírica", ou como a "lírica" associável à "poesia pura" são, igualmente, questões implicadas e que se pretendem abordar a partir de algumas referências à produção de Cruz e Sousa.

08 de junho, às 14h30

"OS CAMINHOS DA CRIAÇÃO"

Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira

Esta apresentação discutirá o processo de criação dos livros que publiquei: Peixe e míngua, poemas (Nankin), As visitas que hoje estamos, romance (Iluminuras) e O amor pega feito um bocejo, infantil (Cia das Letrinhas).

MINICURSO

07 de junho, às 14 horas

"O TEMPO É DOCE, COMO NOS MELHORES MOMENTOS DE JUNHO NO RIO DE JANEIRO". A ITÁLIA DE RUBEM BRAGA E SCHNAIDERMAN

Prof. Dr. Giorgio de Marchis (Universidade de Roma III)

A experiência da guerra em Itália de Boris Schnaiderman e Rubem Braga, entre setembro de 1944 e abril de 1945, respectivamente como militar da FEB e como correspondente de guerra do "Diário Carioca", ofereceu aos dois autores a possibilidade de experimentar temporalidades diversas, com a contemplação dos escombros da Segunda Guerra Mundial que se sobrepunham às ruínas da Antiguidade. Além disso, os textos de caráter memorialístico que sucessivamente produziram podem também ser lidos como diários de um tardio Grand Tour ou como exemplos de cartas de achamento viradas às avessas.

COMUNICAÇÕES (Em ordem alfabética por sobrenome do autor)

A LIBERDADE EM OS IRMÃOS KARAMÁZOV

Thiago Henrique de Camargo Abrahão (UNESP/IBILCE) [email protected]

A literatura, por se tratar de um fazer sociocultural historicamente constituído, é capaz de promover reflexões não apenas estéticas, mas, também, éticas. As grandes obras literárias o fazem porque evidenciam questões demasiado humanas, como a liberdade, concomitantemente ao trabalho propriamente formal do texto enquanto construção artística. É o caso d‘Os irmãos Karamázov, último romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821–1881): a história do assassinato (ou do parricídio) do patriarca Karamázov permite-nos notar que cada personagem sugere um sentido particular para o que é ser livre, pois cada um dos quatro filhos apresenta um significado único para a liberdade: algo visceral para Dmitri, algo cerebral para Ivan, algo espiritual para Alieksiêi e algo irracional para Smierdiakóv. Afora o fato de que a própria literatura exige liberdade para existir e deve a sua existência artística às potencialidades imaginativas da linguagem verbal, passíveis de serem exploradas por uma consciência necessariamente livre, investigaremos como a liberdade está no romance, seja em seu conteúdo mais evidente — como nas discussões entre as personagens —, seja em seus aspectos estruturais — como na polifonia narrativa. Desse modo, para além da liberdade necessária ao autor, para que crie, e ao leitor, para que interprete, a liberdade no texto literário será evidenciada a partir do que denominaremos de ―índice de liberdade‖, ou seja, todo aspecto constitutivo de uma obra literária capaz de ampliar, para as personagens (e para o leitor), a indeterminação quanto ao futuro. Com a ajuda de teóricos como, sobretudo, Mikhail Bakhtin, salientaremos a importância de tais índices não apenas para o romance dostoievskiano, mas para a literatura, na qual o ético (a própria palavra o prova) se incorpora ao estético. Palavras-chave: Fiódor Dostoiévski; Liberdade; Os irmãos Karamázov; Teoria literária.

AS IMAGENS OBJETIVAS NA POESIA DE ORIDES FONTELA: VOOS TRANSVERSOS

Nathaly Felipe Ferreira Alves (UNICAMP) [email protected]

A proposta desta comunicação é refletir sobre os dados objetivos explicitados, pelo estatuto da imagem do pássaro na poesia de Orides Fontela, mais particularmente de alguns poemas de Alba (1983), a saber: um pequeno poema escrito por Orides, que funciona como uma das epígrafes do livro, e os poemas ―Vigília‖ e ―Ode (II)‖. O que consideramos ―dados‖ de objetividade não se refere à questão temática dos poemas selecionados para a discussão, mas a uma noção de ―poesia objetiva‖, que prima pelo trabalho de arte, em que a composição do texto e a materialidade das palavras e das coisas são razões para possíveis interpretações dos poemas. Para tanto, partiremos das considerações do texto crítico ―Poesia e Composição‖ (1952) de João Cabral de Melo Neto. A objetividade dos poemas diria respeito, então, à maneira pela qual o sujeito lírico seria ―despersonalizado‖, ou melhor, desapossado de seu subjetivismo. ―Fora de si‖ (Collot, 2004), o ―eu‖ estaria deslocado da cena central do poema, em um movimento que sugeriria seu encontro, sua realização, ou ―seu acontecer‖ com um outro (sua existência estaria, dessa forma, vinculada à noção de alteridade). Nesse sentido, certos campos semânticos contemplados na tessitura lírica ganhariam corpo e se mobilizariam enquanto objetos viventes do universo poético. Em outras palavras, tais objetos ganhariam certa autonomia, ao serem liricamente encarnados (ou tecidos e vivenciados pela palavra poética). As palavras não apenas aludiriam às coisas, mas as instituiriam, convocando sua presença, sua evidência concreta e sua espessura aludindo, dada a devida medida de distância crítica, ao texto ―Meu método criativo‖ (1961), de Francis Ponge. Palavras-chave: Alba; Despersonalização; Orides Fontela; Poesia objetiva.

GÊNERO E DOMINAÇÃO EM NEIL GAIMAN

Marco Aurelio Barsanelli de Almeida (UNESP/IBILCE) [email protected]

A luta feminina não se restringe ao espaço social. Na literatura é possível verificarmos o surgir constante de personagens femininas que desafiam os padrões estabelecidos e tomam posição como defensoras de si mesmas e vozes de comando, deslocando o papel masculino para o lugar de personagem subserviente e/ou em necessidade de proteção. É a partir desse posicionamento das personagens femininas que propomos um olhar mais detido à obra de Neil Gaiman, uma vez que o escritor britânico insere, em seus romances e contos, personagens femininas fortes, que não aceitam a voz masculina como influenciadora de suas atitudes. Para o estudo aqui proposto temos como objetos de análise dois romances de Gaiman: Coraline (2002), e Stardust (1999). Utilizando principalmente os conceitos apresentados por Butler (1990), sobre o feminino, por Spivak (1988), sobre a condição do subalterno, e por Campbell (2007), Kothe (1987) e Propp (1978), sobre o herói e sua jornada, intencionamos, com tal análise, mostrar o modo como as personagens femininas do mundo Gaiminiano rompem com os padrões estabelecidos para as atitudes dos heróis, uma vez que os veem como seres mais frágeis, tornando-os seus subordinados, ao mesmo tempo em que ultrapassam os percalços e salvam a ambos dos perigos que se apresentam. Palavras-chave: Dominação; Feminino; Gênero; Neil Gaiman.

SATÍRICON, LITERATURA E CINEMA

Claudio Aquati (UNESP/IBILCE) [email protected]

Orientado pela temática deste Seminário, examino neste trabalho certas características literárias do experimental Satíricon, de Petrônio, para confrontá-las com uma leitura fílmica do muito peculiar Fellini-Satyricon, longa-metragem do diretor italiano Federico Fellini. Mais que fidelidade episódica, com olhar certeiro e de alguma forma distanciado, como fora o de Petrônio, Fellini repropõe um mundo pagão que hoje nos resta em vestígios de monumentos históricos e em textos de velhos escritores romanos: um mundo em que os homens tinham outros hábitos, outros pensamentos, dir-se-ia outro sistema nervoso. Na realidade, a direção de Fellini nunca apontou para uma pura tradução de Petrônio, por mais feliz e fértil que pudesse ser, mas se empenhou também em fazer surgir na tela personagens liberados da cultura e da erudição, de tudo que de arqueológico e literário se aprende na escola e que pesa sobre nós de maneira paralisante: daí as imagens extremamente livres (costumes, perspectiva cenográfica, condução psicológica, abandono de narração convencional), uma viagem ao mundo do desconhecimento, um filme de ficção científica sobre o passado, como ele mesmo declarou. O mundo pagão é irrecuperável se a idéia geral que dele se faz apela ingenuamente para românticas imagens fotográficas da via Ápia, com os túmulos romanos, ou para o teatro elisabetano — Cleópatra, Júlio César, Coriolano — ou para o cinema e algumas medíocres representações cenográficas de uma cidade toda de mármore e logicamente ordenada (tão distante dos becos por onde erra o Satíricon...). À margem dessas convenções, o que encontramos no Fellini-Satyricon é a representação de vivíssima sociedade de elementos heterogêneos (no fazer, no sentir, nas diferenças raciais): Fellini não profana o antigo; atualiza-o, vivifica-o. Petrônio não terá sido simples pretexto, mas sólida base sobre a qual se articula a fantasia de Fellini. Palavras-chave: Fellini-Satyricon; Petronius; Satyricon; Satíricon.

O ALGUM LUGAR OCUPADO POR PALOMA VIDAL: UM ESTUDO SOBRE SEU PROJETO LITERÁRIO

Daiane Crivelaro de Azevedo (UFF) [email protected]

Paloma Vidal, escritora que diz possuir um ―jeito capenga de ser brasileira‖, faz parte da cena literária nacional desde o lançamento da coletânea A duas mãos, em 2003. O livro de contos, bem recebido pela crítica brasileira, inaugurou um longo percurso, composto por mais um livro de contos, dois romances, três textos dramáticos e duas coletâneas de breves inscrições, recolhidas de um blog pessoal. Com uma literatura fortemente marcada pela influência de sua formação acadêmica, que se estende ao Pós-doutorado, e atuação profissional, como professora de Teoria Literária da Universidade Federal de São Paulo, Vidal faz da sua obra uma espécie de laboratório, propondo livros- experimentos. Levando essa dupla inserção em consideração, proponho, neste artigo, entender o espaço ocupado por essa escritora-crítica a partir de escritas que entendo como embrionárias de um projeto literário mais extenso. Meu corpus, portanto, será o último conto, ―Genealogia‖, de A duas mãos (2003), o primeiro romance, Algum lugar (2009), e duas inscrições intituladas ―eu‖, de dois (2015) e durante (2015). Embora o objetivo não seja reduzir a obra de Vidal à análise que apresento a partir desse recorte, proponho-o como um meio para identificar e pensar um projeto literário maior. Para isso, as leituras propostas por Sérgio de Sá, a respeito de parte da obra da escritora, e Beatriz Resende, a respeito da literatura brasileira contemporânea, serão utilizadas para encaminhar este estudo. Palavras-chave: Escritora-crítica; Estrangeiridade; Feminino; Paloma Vidal.

ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO TEXTUAL EM DIFERENTES VERSÕES DE ―JOÃO E MARIA‖

Dayse Oliveira Barbosa (USP) [email protected]

Este trabalho visa ao estudo da construção textual de seis diferentes versões do conto tradicional ―João e Maria‖. São elas: a versão escrita pelos irmãos Grimm (século XIX), a letra de música composta por (1976), as versões de Flávio de Souza (1995), Tatiana Belinky (1997), Ruth Rocha (2010) e Neil Gaiman (2015), a fim de evidenciar como o enredo básico que enfatiza os vínculos de cumplicidade existentes entre um casal de irmãos abandonados pelos pais em uma floresta, que depois de viverem várias desventuras na casa de uma bruxa, conseguem matá-la e retornam para casa, levando o tesouro que a bruxa acumulara ao longo da vida, mantem-se intacto no decorrer de séculos. Contudo, cada autor imprime características únicas ao próprio texto. São essas características que tornam cada versão especial e possibilitam a existência de diferentes versões da mesma história. Busca-se no estudo da construção textual, evidenciar como os aspectos lexicais, sintáticos e semânticos agem em conjunto para gerar os efeitos de sentido pretendidos por cada autor. Para a realização desse trabalho são considerados os estudos de Vladimir Propp sobre a morfologia dos contos maravilhosos, Nelly Novaes Coelho e Maria Tatar sobre a gênese dos contos de fadas, as pesquisas psicanalíticas de Bettelheim, bem como, estudos significativos de Ingedore Koch acerca da construção da coesão e coerência textuais. Palavras-chave: Construção textual; Contos de fadas; Versões.

ENTRE A FORCA E A ESPERANÇA: ESTUDO COMPARATIVO DE ―A BALADA DOS ENFORCADOS‖, DE FRANÇOIS VILLON, E DE ―A BALLAD OF SUICIDE‖, DE GILBERT K. CHESTERTON

Heitor Benetti (UNESP/IBILCE) [email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar e discutir as relações temáticas entre dois poemas pertencentes ao gênero balada, Balada dos enforcados, de François Villon (1489), e A Ballad of Suicide, de Gilbert Chesterton (1915), evidenciando as diferentes concepções de esperança. Para estabelecer tal comparação, é fundamental a consideração da estrutura interna dos poemas. De acordo com Massaud (1984), a balada manifesta-se, relativamente, de modo estável, não só se estruturando por meio de três estrofes, de oito versos, e uma última, de quatro ou cinco versos, chamada ―envoi‖, mas também se evidenciando por meio de um teor narrativo, melancólico e dialógico. Como instrumental teórico para este estudo, recorreu-se ao conceito de tema proposto por Machado e Pageaux (1988). A análise demonstrou que os poemas apresentam, em comum, o elemento forca, todavia, simbolizando a morte de maneira distinta. Na balada de Villon, a presença da forca é sugerida pelo título e pelo eu-lírico. Na ―Balada dos enforcados‖, a forca é o símbolo da condenação à morte do eu-lírico, o qual assume a posição de condenado que, depois de morto, roga pela compaixão e intercessão dos vivos. Em ―A Ballad of Suicide‖, a forca é o primeiro substantivo do verso inicial e manifesta-se como um convite ao suicídio, porém o eu-lírico, motivado por fatos aparentemente banais, protela seu suicídio, o que é confirmado no refrão. Conclui-se que as baladas apresentam, como tema comum, a esperança como virtude cristã, porém, de modos distintos. Enquanto na obra de Villon, a esperança é compreendida como a salvação dos mortos, que padecem no purgatório aguardando a intercessão dos vivos, na obra de Chesterton, a esperança é o meio de salvação tanto pela (re)descoberta do real quanto pela (re)valorização da vida. Apesar de aparentemente mórbidos, os poemas veiculam, como tema central, a ideia de esperança. Palavras-chave: Balada medieval; Chesterton; Literatura comparada; Villon.

A PUNIÇÃO DAS PERSONAGENS MASCULINAS EM CONTOS FANTÁSTICOS DE GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER

Nathália Hernandes Bergantini (UNESP/IBILCE) [email protected]

O fantástico, de acordo com os estudos do professor David Roas (2006; 2011; 2013), estabelece-se quando um mundo fictício, que copia aquele que entendemos como real, é invadido por um fenômeno que cria uma ruptura com a anterior normalidade; este acontecimento destrói as certezas que o leitor possuía anteriormente, gerando medo e insegurança. Nos contos escolhidos para este trabalho, todos da autoria de Gustavo Adolfo Bécquer (―La ajorca de oro‖, ―La cueva de la mora‖, ―Los ojos verdes‖ e ―El monte de las animas‖), as personagens masculinas, são castigadas, pois, em seu anseio por conquistar a mulher amada, violam leis e tradições. Com os seus castigos, temos a consolidação do elemento fantástico: em ―La ajorca de oro‖ uma santa vingativa enlouquece com visões aquele que tentou roubá-la, em ―La cueva de la mora‖ o homem morre com sua amada e ambos viram fantasmas, ―Los ojos verdes‖ traz a morte do nobre Fernando, assassinado pela bela mulher que na verdade era um demônio, e em ―El monte de las animas‖ Alonso sai na noite de finados para realizar um capricho de sua vaidosa amada Beatriz e é pego por criaturas daquela noite. Enfim, buscamos neste trabalho, comprovar e elucidar como estas personagens são punidas a partir de elementos fantásticos e devido às suas paixões, que as fizeram transgredir regras morais, religiosas ou tradicionais. Palavras-chave: Contos; Fantástico; Punição; Sobrenatural.

ONDE AS NARRATIVAS SE CONFUNDEM: A MISE EN ABYME EM MOÇA COM CHAPÉU DE PALHA, DE MENALTON BRAFF

Kelvin Walker Bossolani (UNESP/IBILCE) [email protected]

O procedimento narrativo empregado por Menalton Braff na construção do romance Moça com chapéu de palha (2009), ao engendrar à narrativa principal os capítulos do livro escrito por Bruno, protagonista do romance, remete diretamente à mise en abyme (narrativa em abismo). O termo, cunhado por André Gide, constitui-se em inserir um segundo romance, en abyme, ao primeiro, ou, em outras palavras, na concepção gidiana, a mise en abyme se dá pelo encaixe do personagem a quem o autor atribui a tarefa de narrar, como observa Dällenbach. As variantes desse procedimento narrativo têm, ao longo das pesquisas, dificultado o consenso por parte da crítica. Desde as contribuições de Lucien Dällenbach, ao retomar os postulados de Gide, considerando o procedimento essencialmente como todo texto que apresente semelhança com a obra que o contém, busca-se, por parte da crítica, compreender as semelhanças entre os procedimentos desenvolvidos, considerando os processos de encaixe e desdobramentos da narrativa, que geram um efeito de profundidade ao infinito. O procedimento empregado por Braff em seu romance, ao explicitamente encaixar en abyme os capítulos do livro que Bruno escreve ao seu próprio romance, faz com que ambos se confundam, a ponto de não se saber se lemos a obra de Braff ou a de seu personagem escritor – efeito caracterizado pela proximidade do discurso construído e pelos temas abordados. Neste sentido, a presente proposta busca analisar o procedimento narrativo construído por Braff na composição de Moça com chapéu de palha, no intuito de contribuir às discussões sobre o procedimento empregado, considerando que, tal como a obra de Gide, o romance braffiano busca romper as fronteiras do processo narrativo, uma vez que em ambas vem a primeiro plano a construção da obra junto da história em si. Palavras-chave: Menalton Braff; Mise en abyme; Procedimento narrativo; Romance.

A INVERSÃO DE MÁXIMAS EM OS MEUS SENTIMENTOS, DE DULCE MARIA CARDOSO

Gabriela Cristina Borborema Bozzo (UNESP/FCLAr) [email protected]

O estudo da produção romanesca de Dulce Maria Cardoso revela um minucioso trabalho da forma que, organicamente, elaboram o tema de cada livro. Acreditamos que tal arquitetura chega ao ápice em Os meus sentimentos composto por apenas um período que se estende por mais de trezentas páginas, urdindo o tema da não-pertença. Neste trabalho, tendo tal romance como objeto, tomamos como tema um aspecto específico da elaboração da linguagem – a inversão de máximas – com o objetivo de verificar de que modo esse componente – em colaboração com outros recursos linguísticos e com outras categorias da narrativa – contribui para construir o tema mencionado. Na composição, salta à vista a ironia. Para a concretização dessa última é que a escritora lança mão da inversão de máximas, gerando o questionamento de verdades absolutas que compõem a realidade sócio-histórica representada na narrativa que incorpora o período salazarista e a Revolução dos Cravos. As inversões corroboram a realização do projeto artístico da autora conforme proposto por Gonçalves Neto e Gama em relação a outro romance, O chão dos pardais. Para atingir os objetivos, levantamos os provérbios presentes no texto e investigamos o modo como se dá a sua inversão. Para tanto, contamos com embasamento teórico-crítico dividido em três linhas principais: a) crítica da produção da escritora com centro no ensaio ―Liquidez, reconfigurações e pluralidades: a representação identitária da sociedade portuguesa em Chão de Pardais de Dulce Maria Cardoso‖, de Gonçalves Neto e Gama; b) teoria relativa ao conceito de máxima, com fulcro na Arte Retórica de Aristóteles, em La Rochefoucauld: reflexões ou sentenças e máximas, de Roland Barthes e ―A Ciropédia de Xenofante: um romance de formação na Antiguidade‖, de Emerson Cerdas; c) estudo sobre a antifábula de James Thurber, em The American face of Aesop: Thurber’s Fables and Tradition, de Pack Carnes. Palavras-chave: Dulce Maria Cardoso; Inversão de máximas; Os meus sentimentos.

ODILON REDON E SEU TEMPO: LITERATURA E ARTES VISUAIS

Luíza Araujo Braz (UNESP/IBILCE) [email protected]

O pintor francês Odilon Redon, comumente conhecido como ―Príncipe dos Sonhos‖, de estética fundamentalmente arquitetada a partir de uma ambientação onírica, o que o tornou reconhecido pelo rótulo de simbolista, embora ele o recusasse, promove um intenso diálogo entre sua obra gráfica e a literatura. Foi por intermédio de seu grande amigo, o botânico Armand Clavaud, que o artista plástico entrou em contato com as obras de Edgar Allan Poe, Gustave Flaubert, Stéphane Mallarmé e Charles Baudelaire, dedicando a esses autores a publicação de uma série de portfólios que apresentam interpretações de suas respectivas obras e igualmente homenagens aos escritores. Além da frutífera relação de Odilon Redon com a literatura de sua época, é inegável a identificação da marca deixada na obra do pintor pelos acontecimentos e embates mais emblemáticos do final do século XIX, tais como os crescentes avanços na pesquisa científica, a criação de instrumentos de análise laboratorial, a Revolução Pasteuriana e todas as políticas públicas acarretadas pelo progresso científico deste período. Desse modo, propomo-nos neste trabalho a descrever de que maneira a estética de Odilon Redon em sua primeira fase de produção artística, em seus Noirs, foi influenciada pelo cenário da revolução científica deste período e de que modo isso se reflete em suas interpretações gráficas das obras literárias de diversos autores de seu tempo. Para tal, a apoiamo-nos, sobretudo, no conceito de Intertextualidade revisitado pela autora Tiphaine Samoyault (A intertextualidade. Tradução de Sandra Nitrini. São Paulo: Aderaldo e Rotschild, 2008) e de paratexto literário/iconográfico apresentado por Gérard Genette (Seuils. Paris: Seuil, 1987), buscando traçar paralelos entre âmbitos literário e pictural e identificando os prolíficos diálogos entre literatura, artes visuais e sociedade. Palavras-chave: Paratexto literário-iconográfico; Odilon Redon; Simbolismo.

O TOM CRONÍSTICO DA PROSA DECRESCENZIANA

Matheus dos Santos Bueno (UNESP/IBILCE) [email protected]

Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente estudo propõe a discussão a respeito do tom cronístico presente em narrativa do escritor napolitano Luciano de Crescenzo, principalmente em suas obras Così parlò Bellavista, publicado em 1977, e Elena, Elena, amore mio, publicado em 1991. O napolitano Luciano De Crescenzo, nascido em 1928, aborda diversos temas nessas e em outras obras suas, circulando sua prosa de ficção, por meio de um tom cronístico, entre as áreas de Mitologia, Filosofia, História, memórias suas e generalidades cotidianas. É também conhecido como um diretor de comédias que tem como tema a Filosofia da cidade de Nápoles e como um escritor de ensaios direcionados para a Filosofia grega dos sofistas, como Sócrates em particular. Baseados nas considerações de Candido (1992) e Scliar (2002 e 2009), principalmente, buscamos verificar como a crônica, narrativa essencialmente breve desse gênero que se localiza entre o Jornalismo e a Literatura, tem tom leve, como em um diálogo informal, e revela alguma questão ligada ao cotidiano ou a um fato que capta alguma perspectiva social (COELHO, 2009), ajuda a constituir as narrativas de De Crescenzo e como são inseridos acontecimentos cotidianos e banais, comentários memorialísticos, fatos históricos reais ou fictícios, narrativas ou personagens mitológicos, considerações filosóficas, etc., e, a partir desses elementos, o escritor italiano configura as características das personagens, o percurso narrativo de cada uma delas, fazendo fluir a trama num espaço inusitado criado por meio do recurso ao tom cronístico no tecer das narrativas decrescenzianas. Palavras-chave: Così parlò Bellavista; Elena, Elena, amore mio; Luciano De Crescenzo; Tom cronístico.

POESIA: EXPERIÊNCIA DA ERRÂNCIA

Susanna Busato (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta comunicação faz parte de uma pesquisa maior que tem como objetivo construir um pensamento acerca da poesia como experiência e como errância. Experiência do poeta com as palavras e com os signos do mundo, o seu cotidiano e sua história. E errância como um exercício de deslocamento do olhar no mundo ao redor, que o invade com seus signos, suas direções, suas referências. A presença da poesia como corpo no espaço é sempre reinaugurada a cada tradução que o poeta faz do mundo a partir de uma experiência da deriva. Essa experiência absorve o acaso, o inesperado do encontro, incorpora-o como um elemento de criação. Assim, alguns pontos são marcados no percurso crítico. Ei-los: a poesia como exploradora de territórios e linguagens; o lugar de procura e de inserção do sujeito, o caminhante, cuja performance textual, sua voz, é traduzida como descoberta de si e do mundo; a poesia como luta temporal: memória e esquecimento; a poesia como viagem e mobilização do instante que escapa. O universo do poeta é o mundo, mas é no terreno das palavras que ele finca o pé e o olhar e imprime à experiência da errância a poesia possível de uma constelação, lugar para o qual convergem tempo e espaço em suspensão. É na experiência do deslocamento que absorve, deglute e devora o tempo e, com ele, a memória das coisas. Encontrar a poesia nas coisas é percorrer o espaço intervalar que as separa do seu cotidiano entrópico. Palavras-chave: Experiência; Errância; Poesia.

A CASA, A QUINTA E OS AVATARES FEMININOS: A ARQUITETURA DOS ESPAÇOS NO ROMANCE DE AGUSTINA BESSA-LUÍS

Fernanda Barini Camargo (UNESP/FCLAr) [email protected]

Voltando a sua escrita para o lugar que a viu nascer, as margens do rio Douro, a ficcionista portuguesa Agustina Bessa-Luís (n. 1922) trouxe aos seus romances retratos das famílias durienses (Os Clara, os Bahia, Os Paiva), bem como as suas casas, as suas quintas e os seus solares. Destacam-se, nos contextos criados pela romancista, personagens femininas que, inseridas, sobretudo em espaços domésticos, criam fissuras no sistema patriarcal que se desenha ao seu redor. Assim, ocupam especial lugar na ficção agustiniana as genealogias femininas representadas pelas figuras da mãe, da avó, das tias e das criadas que se dedicam às famílias do Douro. Isto posto, pode-se constatar que a arquitetura que abriga tais mulheres e as suas famílias reflete as transformações sofridas pelas protagonistas criadas por Agustina, por vezes caminhando, paralelamente à trajetória de tais mulheres (e como tais mulheres), rumo à decadência. Casas que desabam são motivos que se relacionam, por exemplo, a identidades femininas cuja preocupação reside na manutenção não apenas do patrimônio familiar a todo custo, mas também dos costumes e das tradições. Nestes termos, presume-se que a escritora articula um alargamento da temporalidade narrativa como técnica de composição que privilegia o trato de gerações, ao passo que o seu tratamento do espaço se concentra em regiões específicas e se caracteriza pela escassez de extensos deslocamentos. Debater a importância do espaço arquitetônico-romanesco pelas representações da casa como motivo fundamental do eixo da fábula agustiniana e a maneira pela qual tal categoria narrativa incide sobre os demais componentes diegéticos, os quais dão forma ao seu romance, é o escopo desta comunicação. Discutir-se-á a temática proposta a partir de dois romances de Agustina Bessa-Luís: Fanny Owen (1979) e Vale Abraão (1993). Palavras-chave: Agustina Bessa-Luís; Arquitetura; Espaço; Literatura.

CHATEAUBRIAND: O PRIMEIRO TRADUTOR FRANCÊS DE MILTON

Natália Pedroni Carminatti (UNESP/FCLAr) [email protected]

Em 1836, François-René Auguste de Chateaubriand (1768-1848) publicou sua tradução francesa da obra, Paradise Lost (Paraíso Perdido), de John Milton (1608-1674), no momento em que a França vivenciava o apogeu do período que se denominou romântico. Ainda que a publicação da referida obra tenha se dado em 1836; precedentemente, no Génie du christianisme (1802), Chateaubriand, na segunda parte do Livro I, intitulada ―Poétique du christianisme‖, dedicou-se ao exame geral das epopeias cristãs, conferindo o capítulo III ao estudo do texto de Milton. Para o apologista cristão, Milton foi o primeiro poeta a terminar sua epopeia com a catástrofe do protagonista, contrariando, desse modo, a simplicidade legislada por Aristóteles. É interessante dizer que Chateaubriand, admirador de Milton, consagrou-o como grande poeta, escolhendo traduzi-lo, conforme afirmou Antoine Berman (1985), literariamente. Pensando nisso, a presente comunicação visa discutir a postura de Chateaubriand enquanto tradutor, já que a crítica chateaubriana é unânime ao afirmar que a tradução do volume se destinou somente para que o tradutor garantisse sua subsistência, pois encontrava-se, em tal época, exilado. Sendo assim, seguindo o modelo tradutório literal, isto é, ―palavra por palavra‖, Chateaubriand acreditou que a tradução justalinear marcaria sua arte. Para tanto, servir-nos-emos da obra A tradução e a letra ou o albergue longínquo (1985), de Antoine Bernan a fim de sustentarmos nossas reflexões. Palavras-chave: Chateaubriand; Paraíso Perdido; Romantismo; Tradução.

A PRESENÇA DE SATÍRICON EM ―QUATROCENTOS MIL SESTÉRCIOS‖, DE MÁRIO DE CARVALHO

Jean Carlos Carniel (UNESP/IBILCE) [email protected]

Mário de Carvalho (1944-), em suas obras, recupera vários elementos do romance antigo romano; tais referências podem ser encontradas em títulos como ―Quatrocentos mil sestércios‖, Fantasia para dois coronéis e uma piscina, e Um deus passeando pela brisa da tarde, dentre outros. Dessa forma, objetiva-se, com este estudo, uma análise comparativa entre o conto ―Quatrocentos mil sestércios‖, de Carvalho, com o romance antigo romano Satíricon, de Petrônio (século I d.C.). No conto de Carvalho, há duas cenas de banquetes, enquanto que no romance romano é retratado o tão famoso Banquete de Trimalquião. A nossa análise, portanto, será pautada nas aproximações e distanciamentos do texto carvalhiano com a cena petroniana. Para isso, utilizaremos como aparato teórico os pressupostos defendidos por Kristeva (1969) e Genette (1982) acerca da intertextualidade, bem como os estudos de Mendes (2005), de Hilário (2006) e de Santos (2009) sobre a obra de Carvalho, de Aquati (2008) sobre o romance petroniano, além das reflexões postuladas por Vayne (1997) sobre algumas características do império romano. Percebe-se, portanto, que o autor contemporâneo português recupera elementos temáticos desse romance latino em sua obra, ao fazer referências diretas à obra de Petrônio, como a utilização de nomes de personagens e outras características similares ao texto romano. Palavras-chave: Intertextualidade; Literatura comparada; Mário de Carvalho; Satíricon.

AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE PATRÃO E EMPREGADO EM COSMÓPOLIS DE DON DELILLO

Alan Medeiros Casteluber (UNESP/IBILCE) [email protected]

Este estudo investiga como se revelam e como se constroem as relações de poder na pós-modernidade, mais especificamente as que compõem a dinâmica entre patrão e empregado, num contexto em que o ―capitalismo tardio‖ prepondera como sistema econômico-social padrão. Partindo da obra Cosmópolis (2003) de Don DeLillo e, baseando-se nos estudos de Byers (2011), Belsey (1980), Burns (1996), Debord (1967/2015), Harvey (1992), dentre outros, sobre os diferentes conceitos e faces do poder, suas formas e seus mecanismos, constata-se a ampla influência da ideologia capitalista na constituição da subjetividade dos indivíduos e das relações que mantêm uns com os outros. Dando ênfase especial à extensão do poder financeiro de seu protagonista Eric Packer, DeLillo apresenta uma sociedade em que o materialismo e o consumismo configuram-se como o estilo de vida dominante, e grande parte da subjetividade é substituída por preocupações referentes ao acúmulo de capital e bens materiais, e à manutenção de uma imagem de sucesso. Assim, a partir dos relacionamentos abusivos de Eric Packer com diversos outros personagens, grande parte destes seus empregados (que serão o foco deste trabalho), DeLillo faz transparecer os processos de reificação de sujeitos menos afortunados, e a potencial alienação e o afastamento social dos indivíduos em relação a si mesmos e uns aos outros. Fica evidente que a literatura de DeLillo parte de considerações de inegável relevância para a compreensão plena do cenário atual, revelando os efeitos visíveis e degradantes do alcance ideológico do capitalismo e suas concretizações na fábrica social, evidenciando as relações de poder em prática que permeiam todo este contexto e constituem, perniciosamente, a subjetividade dos indivíduos. Palavras-chave: Don DeLillo; Pós-modernidade; Relações de poder; Subjetividade.

AS IMPOSIÇÕES DE GÊNERO E A INVISIBILIZAÇÃO DOS SUJEITOS: (DES)CONSTRUINDO PADRÕES NA LITERATURA

Juliane Camila Chatagnier (IFSP) [email protected]

É possível observar que, na literatura, a dominação masculina, por muito tempo, posiciona o homem como o principal herói em romances mais lidos, deixando demais grupos à ―margem‖ (cf. Dalcastagnè, 2005). Com o intuito de desconstruir essa ideia de hierarquização, embasada no binarismo sexo/gênero, um dos propósitos deste trabalho é mostrar como vozes antes silenciadas pela cultura heteronormativa, ganham espaço na literatura, visto que essa não pode mais eternizar um cânone ligado apenas à história do homem, branco, heterossexual, de classe média-alta. Hoje, as histórias múltiplas e irregulares ganham visibilidade. Nota-se que não apenas homens têm realizado feitos dignos de louvor: mulheres, gays, lésbicas protagonizam histórias agora lidas por mais leitores. Pode-se dizer que, por meio da análise dos romances contemporâneos aqui selecionados, o rumo da literatura apresenta mudanças. As autoras trazem aos leitores as histórias silenciadas a fim de iniciar um processo de valorização das experiências ―marginalizadas‖ e os leitores as recebem com outro olhar, mais humanizado, ou seja, há acréscimo de obras literárias sobre o assunto e mudança na postura dos leitores. A leitura das obras escolhidas nos permite observar uma subversão na forma do romance, na qual o homem branco heterossexual deixa de ser protagonista e dá lugar às mulheres e aos homossexuais. Essa inversão também permite ao público entrar em contato com diferentes expressões de masculinidades e feminilidades, uma vez que a relação corpo- feminino/mulher ou corpo-masculino/homem não segue padrões. Utilizando a teoria de Judith Butler (2003; 2010; 2015), como arcabouço teórico, verificaremos que, ao invés de impor verdades, a intenção das escritoras é criar ―redes de solidariedade‖ visando chamar a atenção para os problemas vivenciados pela "minoria", de forma que isso evite a perpetuação de preconceitos e discriminações. Palavras-chave: Gênero; Invisibilidade.Contemporaneidade; Judith Butler.

ESCRITAS ESQUECIDAS DE 30: O ENTRECRUZAR DO ESTÉTICO E DO IDEOLÓGICO NOS ROMANCES NÃO CANÔNICOS

Elisa Domingues Coelho (UNESP/FCLAr) [email protected]

Entre permanências e rupturas, o processo de formação do cânone se constrói a partir de uma imensidão de esquecimentos, escritas literárias que expressam o espírito de suas épocas, as questões fundamentais com as quais a intelectualidade se debateu, mas que permanecem circunscritas ao seu tempo. No contexto da década de 30, há, em sua numerosa prosa, obras que colocaram em movimento o famoso dualismo estético- ideológico e cujos registros se limitam às críticas publicadas nos jornais da época. São elas a imensa maioria dos romances de 30 e, por serem as tentativas que são de escritas literárias respondendo à grande crise de seu tempo, são fundamentais para que a Crítica Literária compreenda, de fato, um período crucial da formação de nossa literatura. Esses romances são, portanto, um grande legado, mas que foram relegados ao esquecimento por muito tempo. Diante disso, este trabalho traz a preocupação e o esforço de resgatar alguns desses romances e, a partir da discussão da crítica feita em ocasião de seu lançamento, não só trazê-los à luz, mas também perceber como se localizam entre o ideológico e o estético, elementos que se cruzaram e se embaralharam na prosa e na crítica – dessa década e das seguintes –, imbricamento que torna urgente que revisitemos cada vez mais a prosa e a crítica de 30. Para essa discussão inicial a que nos propomos, traremos os romances não canônicos Os três sargentos, de Aldo Nay; Badú, de Arnaldo Tabayá; Paracoera, de Lauro Palhano e A rua do Siriry, de Amando Fontes. Palavras-chave: Aldo Nay; Amando Fontes; Arnaldo Tabayá; Literatura brasileira; Prosa. A NARRAÇÃO DO HORROR COMO ATO DE MEMÓRIA EM JACQUES CHESSEX

Ana Amélia Gonçalves da Costa (UERJ) [email protected]

Jacques Chessex (1934-2009), escritor suíço de língua francesa, apesar de desconhecido dos leitores brasileiros, publicou extensa obra e recebeu o prêmio Goncourt em 1973, com o romance L’Ogre. Seu último livro publicado em vida, Un Juif pour l’exemple (2009), causou polêmica no território helvético, ao relatar, baseando-se em fatos reais, o assassinato, por militantes nazistas suíços, do comerciante suíço-judeu Arthur Bloch, em 1942. O testemunho de Chessex sobre o episódio sangrento relacionado aos crimes da Shoah é claramente reação ao silêncio oriundo da preservação, a qualquer custo, de uma boa consciência coletiva. Ao transformar uma ―história morta‖ em romance, o autor se torna o porta-voz privilegiado de um tempo de desencantamento e de resgate da memória das chamadas situações-limite, aquelas em que as palavras do cotidiano parecem ser insuficientes ou que desafiam nossa capacidade de expressão e de pensamento. Uma das tendências na expressão dessas memórias na literatura pós- moderna é a alta condensação da linguagem, produzindo a sensação de que há muito sendo dito em poucas palavras. Esse é exatamente o ritmo frasal de Un Juif pour l'exemple, que busca, por outro lado, trabalhar a dificuldade de representação que aponta para a ideia de que a realidade não é passível de compreensão prévia. É nesse vácuo que reside o confronto entre a memória individual e a memória coletiva, em que é preciso atentar para o alcance das verdades fluidas. Através da bolsa de Pós-doutorado para Recém-doutor Nota 10 da FAPERJ, a obra, que já rendeu um filme intitulado ―Um Judeu Deve Morrer‖ (2016), está sendo traduzida para o português. Palavras-chave: Identidade autoral; Jacques Chessex; Literatura suíça; Memória.

CANTO AGRESTE DAS TINTAS CABRALINAS

Alex Wagner Dias (UNESP/FCLAr) [email protected]

A obra do poeta João Cabral de Melo Neto ocupa lugar de destaque no cenário da poesia moderna em língua portuguesa. A crítica comumente o distingue pela inventividade e linguagem peculiar, cujo projeto literário é marcado por uma extrema consciência de seus mecanismos de composição. O poeta, em muitos de seus poemas, fala do fazer – metapoesia – e da relação com outras formas de arte, incluindo tais reflexões, também, em ensaios que nos legou. Neste trabalho, por meio de poemas deste cunho, como ―Lição de Pintura‖ e ―O Ferreiro de Carmona‖, aproximar-se-á os ensaios do poeta, ―Poesia e Composição‖ e ―Joan Miró‖, das teorias apresentadas pelos artistas- críticos Fayga Ostrower e Wassily Kandinski, que possibilitam nova leitura e análise da obra cabralina. Note-se que o intuito não é colocar uma arte sobreposta a outra, mas promover leituras possíveis que, analisando a composição, a invenção para esses artistas, possam combinar tais teorias em prol de uma leitura crítica que desvele pontos de contato entre as teorias e poemas aqui selecionados. Há, certamente, a verificação do que João Cabral de Melo Neto distinguiu sobre as categorias de poetas, divisando-os entre os artistas inspirados e os artistas intelectuais ou os profissionais da literatura, em que o sentido que dão às suas criações se aparta da visão romântica de inspiração. Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; Pintura; Poesia e Composição.

A CRÍTICA SOCIAL EM L'ÉCUME DES JOURS (1947), DE BORIS VIAN

Glenda Verônica Donadio (UNESP/FCLAr) [email protected]

Este trabalho buscará retomar o ensaio de Walter Benjamin "O surrealismo: o último instantâneo da inteligência europeia" (1929), que demonstra o caráter político presente nas práticas do movimento surrealista, especialmente naquilo que concerne a crítica aos ideais burgueses por meio da revolução, ocasionando na transcendência da arte do âmbito puramente estético para aquele da práxis vital. Os conceitos discutidos serão evidenciados e exemplificados em quatro momentos selecionados ao longo da narrativa poética L’Écume des jours (1947), de autoria de Boris Vian. Os trechos recortados ao longo da história visam evidenciar a crítica social focada, principalmente, na inequidade presente na dinâmica das relações trabalhistas – nos moldes do sistema capitalista – e na hipocrisia recorrente em algumas práticas religiosas do cristianismo, aspectos característicos da ideologia burguesa. A associação entre o ensaio de Benjamin, as práticas surrealistas e a obra de Vian, dar-se-á pelo fato desta última, apesar de ter sido publicada em 1947, em contextos político e social diferentes daqueles observados nos textos anteriores, retoma a crítica social proposta pelo movimento surrealista na década de 20 – a qual foi também pontuada por Benjamin – executando-a via criação de sucessivas imagens surrealistas – aliadas à uma renovação estética – cristalizada por uma nova abordagem da linguagem verificada no hibridismo de gêneros característico desta narrativa poética. Palavras-chave: Boris Vian; Surrealismo; Walter Benjamin.

À LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU, DE MARCEL PROUST, EM UMA PÁGINA: ESTUDO DE UMA ADAPTAÇÃO EM QUADRINHOS

Karina Espurio (UNESP/IBILCE) [email protected]

O objetivo desta comunicação é analisar os procedimentos narrativos da adaptação do quadrinhista francês François Ayroles de À la Recherche du Temps Perdu, de Marcel Proust, para o formato de quadrinhos. Publicada na página 52 do número um de ―L‘OuBaPo‖, revista inovadora na apresentação de trabalhos em histórias em quadrinhos, a adaptação reduz as mais de 3000 páginas do romance proustiano em uma única página com seis requadros. Nessa prancha, Ayroles restaura a vida do narrador proustiano sem desenhá-lo e sem dar-lhe voz, dando importância, unicamente, ao local onde o personagem vive, destacando objetos que remetem à passagem do tempo e às memórias do personagem principal do texto fonte. Para a feitura da análise, será necessário o aporte de teorias da adaptação como, por exemplo, Uma teoria da adaptação" (2013) de Linda Hutcheon, que nos ajuda a compreender o processo de (re)criação do texto adaptado para a adaptação quadrinhística do desenhista francês. Para compreender os mecanismos de composição dos quadrinhos, que utiliza, primordialmente, imagens para contar uma história, será necessária a utilização de, dentre outros, La Bande Dessinée: Mode d'Emploi (2007) de Thierry Groensteen. Com isso, queremos mostrar como o texto proustiano foi transposto para uma história em quadrinhos na qual somente estruturas imagéticas conseguem modelar a (ausência de) ação da narrativa de Proust. Palavras-chave: Adaptação; História em quadrinhos; Marcel Proust.

A CONSCIÊNCIA DO MAL EM LE NOEUD DE VIPÈRES DE FRANÇOIS MAURIAC

Carla Alexandra Ezarqui (UNESP/FCLAr) [email protected]

Objetiva-se, com esta comunicação, analisar o romance Le noeud de vipères, de François Mauriac, cuja obra é permeada por diferentes manifestações do mal. O romancista, em detrimento do célebre epíteto de ―escritor católico‖, exaltou, ao longo de sua produção literária, os disparates e, até mesmo, os crimes para os quais são levadas suas personagens. Conduzidas pelo mal, elas atuam, na maioria das vezes, de modo consciente ao ponto de a malignidade se apresentar como um dos elementos articuladores da trama. Em se tratando dos heróis, melhor designados como anti-heróis, estas personagens revelam a complexidade da alma dividida entre a consciência do mal e a sua prática; o mal interior é agravado à medida que as possibilidades de se fazer compreender se dissipam. São seres desgarrados do amor e que, de maneira inadvertida e, por vezes, tardia, buscam a redenção. Retratadas no seio familiar, as relações entre elas, no romance em questão, são determinadas por sentimentos como a incompreensão, o ressentimento e, sobretudo, a ganância. Assim, partindo do desejo de vingança, associado à avareza de Louis, personagem protagonista, será analisado em que medida o mal se apresenta como fundamento de sua existência, levando em consideração o isolamento da família e um rancor fortalecido durante mais de quatro décadas. A análise se estende, igualmente, à forma do romance, visto a maneira pela qual o mal é provocado incidir sobre ela. Palavras-chave: Escrita; François Mauriac; Mal; Narrativa francesa; Redenção.

DOS USOS DAS SOCIEDADES BRASILEIRA E INGLESA DO SÉCULO XIX: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS EM SENHORA, DE JOSÉ DE ALENCAR E NORTE E SUL, DE ELIZABETH GASKELL

Daiane de Cássia Martins Fazan (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente trabalho objetiva a comparação de dois romances escritos e figurados no século XIX: o romance brasileiro Senhora, de José de Alencar, e o romance inglês Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell. Tendo em vista as semelhanças e divergências entre os contextos inglês e brasileiro, consideraremos a comparação dos usos do passado no que tange à quebra de expectativas e aos paradigmas relacionados aos papéis dos homens e das mulheres nessas sociedades. Estudaremos, sobretudo, possíveis aproximações e distanciamentos existentes entre elas, como as convenções sociais, o casamento, a obtenção de fortuna e como o falso moralismo é problematizado pelos referidos autores. Para isso, trabalharemos com as considerações contidas no livro organizado por Mary del Priore (2004), intitulado Histórias das mulheres do Brasil e, ainda, em outro livro, este de autoria de del Priore (1991), A mulher na história do Brasil, alguns relatos de viagem presentes na antologia de Miriam Moreira Leite (1993), denominada ―A condição feminina no Rio de Janeiro - século XIX‖. Do outro lado, consideraremos as reflexões sobre a situação das mulheres inglesas no período vitoriano contidas em Cavendish (1996), em A voz embargada e Monteiro (1996), e no artigo intitulado ―Figuras errantes na época vitoriana: a preceptora, a prostituta e a louca‖. Palavras-chave: Romance brasileiro, Romance inglês, Sociedades oitocentistas.

RUY DUARTE DE CARVALHO, E O SUL

Suiá Dylan Cavalcante Ferreira (UFF) [email protected]

Este trabalho pretende investigar as representações do sul de Angola nas literaturas de Pepetela e Ruy Duarte de Carvalho e como esse espaço é integrado ao espaço nacional angolano. Para investigar esta questão, discutimos as obras Predadores, de Pepetela, e As águas do Capembáua, de Ruy Duarte. Para a análise utilizamos os textos do próprio Ruy Duarte de Carvalho em que ele estabelece seus pressupostos antropológicos: ―Tempo de ouvir o ‗outro‘ enquanto o ―outro‖ existe, antes que haja só o outro... Ou pré-manifesto neo-animista‖ e ―Decálogo neo-animista‖. Tomamos como apoio teórico, também, a obra Epistemologias do Sul, de Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Meneses, por também discutir a posição dos diferentes saberes no cânone ocidental. Consideramos, ainda, A inconstância da alma selvagem, de Eduardo Viveiros de Castro, por considerarmos o seu pensamento multiculturalista importante para o estudo de textos literários que trazem povos com cosmologias diversas da ocidental. Considerando-se parte da categoria do Outro em relação à Europa, Ruy Duarte propõe- se a pensar essa categoria de alteridade em seu texto ―Tempo de ouvir o ‗outro‘ enquanto o ―outro‖ existe, antes que haja só o outro... Ou pré - manifesto neo-animista‖, chegando à conclusão que existem diferentes alteridades. Para a análise dos textos escolhidos, trabalhamos aquela que se refere aos sujeitos menos ocidentalizados, conforme diz o autor, e que estão mais à margem do estado-nação. Palavras-chave: Angola; Literatura; Pepetela; Ruy Duarte de Carvalho.

DONA GUIDINHA DO POÇO: A LENDA DE UMA CORONELA

Gabriela Fardin Fernandes (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta comunicação trata de uma proposta de leitura e interpretação da obra Dona Guidinha do Poço, escrita por Manoel de Oliveira Paiva, em meados de 1891, mas publicada por volta de 60 anos depois, em 1951. A crítica nos conta que a publicação tão demorada de Dona Guidinha do Poço foi resultado de uma série de imprevistos ocorridos com o manuscrito; essa saga do romance será brevemente tratada no decorrer da comunicação. Interessa-me, então, analisar a construção e o desenvolvimento dessa personagem tão peculiar que, conforme discutirei ao longo da apresentação, parece-me ter sido punida por assumir seus próprios caprichos e ser "mais fêmea do que mulher" (o uso de aspas aqui faz referência à ideia de mulher enraizada na estrutura patriarcal da sociedade sertaneja, assim como de tantos outros grupos sociais, brasileiros ou não, representada no romance, para qual era esperado de Margarida um comportamento brando, delicado, servil e passivo). A partir da leitura do romance e de trabalhos relevantes à pesquisa, analisarei a personagem com o objetivo de esclarecer o quanto Dona Guidinha representa um anti-ideal de mulher sertaneja, sendo assim, um dos elementos que compõem o romance inovador de Paiva. Palavras-chave: Dona Guidinha do Poço; Literatura brasileira; Manoel de Oliveira Paiva; Romance regionalista.

A OBSESSÃO PELO SISTEMA EM THE NAMES (1982) E UNDERWORLD (1997), DE DON DELILLO

Giséle Manganelli Fernandes (UNESP/IBILCE) [email protected]

O escritor Don DeLillo revela, em suas obras, uma obsessão pelo sistema. Neste trabalho, examinamos seus romances: The Names (1982) e Underworld (1997), a fim de analisar a postura do autor em relação ao sistema vigente, colocando-o em xeque e expondo sua fragilidade. Em The Names (1982), DeLillo aborda o poder do capital determinante para as relações entre países e a ameaça constante do terror na vida cotidiana. Por meio da atuação da personagem principal, o americano James Axton, um analista de risco que trabalha para um conglomerado, avaliando as possibilidades de sucesso para corporações com dinheiro aplicado em países cujas economias são instáveis, o autor traz reflexões acerca da vulnerabilidade do sistema dominante. Já em seu romance Underworld (1997), verifica-se uma nostalgia por um passado pré-Guerra Fria, ao qual não se poderá nunca mais voltar, e expõe toda a insegurança causada pela crise dos mísseis de 1962 e pelo lançamento do Sputnik, enfatizando a oposição ―Nós/Eles‖. Esta última tornou-se um fator de grande instabilidade para o mundo e ainda está presente na realidade atual. Assim, a partir das estratégias narrativas empregadas por DeLillo, este estudo mostra sua contestação no tocante a um sistema aparentemente vigoroso, porém, na verdade, suscetível a intempéries. Palavras-chave: Don DeLillo; Sistema; The Names; Underworld.

O SAGRADO FEMININO NA OBRA THE AWEKENING, DE KATE CHOPIN

Rosemary Elza Finatti (UNESP/FCLAr) [email protected]

O célebre romance O despertar (The Awakening, 1899), obra-prima da autora Kate Chopin (1850 – 1904) tem sido analisado por diversos críticos como um romance político e de temática sexual, no qual a protagonista Edna Pontellier frequentemente é considerada como uma Bovary Americana, semelhante à Emma Bovary, protagonista do romance Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert. Do ponto de vista de tais análises críticas, a protagonista é vista como uma mulher sulista casada e insatisfeita com os papéis sociais de mãe e esposa impostos pela sociedade patriarcal, que busca o amor, a liberdade e a autoafirmação, assim como Emma Bovary. Diferentemente da perspectiva da crítica em geral, o ensaio intitulado ―The Second Coming of Aphrodite: Kate Chopin‘s Fantasy of Desire‖ (1983), de Sandra Gilbert, defende a ideia de que o sagrado feminino pode ser compreendido como o mito de Afrodite na figura de Edna Pontellier. Neste sentido, a protagonista se transforma em uma mulher independente, desperta para o seu próprio espírito, para o seu poder de pensar e agir, independentemente das regras patriarcais. Assim, pretende-se apresentar uma proposta diferente de leitura da obra máxima chopiniana, no que tange ao seu caráter mítico, à transformação da protagonista em Afrodite e uma nova abordagem em relação ao suposto suicídio no final do romance: a volta da protagonista para o mar, como a deusa que ela encarna. Tomaremos como principais fundamentações teóricas da pesquisa os apontamentos do ensaio supracitado, as reflexões de Mircea Eliade sobre o sagrado, as considerações de Cathérine Clement e Julia Kristeva sobre o sagrado feminino, os elementos da mitologia grega sobre Afrodite e sua relação simbólica com a água e o sagrado feminino e a vertente crítica do feminismo que se dedica à questão do sagrado e do metafísico relacionado ao feminino. Palavras-chave: Kate Chopin; O despertar; Afrodite.

AS MASCULINIDADES EM DIÁLOGO COM OS ESTUDOS LITERÁRIOS: UMA ANÁLISE SOBRE AS CRÔNICAS CONTEMPORÂNEAS

Fabricia Cristina Florencio (UEL) [email protected]

Ao final do século XX, com avanço do feminismo e o movimento LGBT, os estudos sobre as masculinidades começaram a crescer e evidenciar a necessidade de colocar em debate a ideia do que é ―ser homem‖ e a construção do masculino. As pesquisas no âmbito literário têm proporcionado diversos caminhos para os estudos de gênero e contribuído para o enriquecimento do debate sobre as representações culturais e sociais dos indivíduos na sociedade. A partir das leituras das obras, encontramos terreno fértil para fomentar discussões e acrescentar outro olhar para as produções literárias. Embora o ineditismo da temática proporcione um campo totalmente inexplorado nas pesquisas, possibilitando revisitar obras de toda nossa história literária, trabalharemos apenas com as produções de crônicas contemporâneas. Além de elencar nomes de cronistas que tem contribuído para as discussões sobre as masculinidades, como Xico Sá, Fabrício Carpinejar, Eliane Brum, Marcelo Rubens Paiva, Luis Fernando Verissimo, faremos análises das crônicas de Antonio Prata, almejando demonstrar de que maneira as representações sobre o tema aparecem na literatura e contribuem para as discussões literárias e os estudos de gênero. Para desenvolver as análises buscaremos auxílio em nomes como de Joan Scott (1989), Elisabeth Badinter (1993), Raewyn Connell e Rebecca Pearse (2015), entre outros. Palavras-chave: Crônica; Gênero; Masculinidades.

ZERO K: CIÊNCIA E TECNOLOGIA ALIADAS NA BUSCA PELA IMORTALIDADE

Maura Cristina Frigo (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente trabalho trata da análise da obra Zero K, publicada em 2016. pelo autor norte-americano Don DeLillo. É sabido que os avanços científico-tecnológicos são determinantes na formação do panorama socioeconômico de uma comunidade. As diferentes fases de desenvolvimento do século XX sinalizam grandes mudanças no cenário social, tendo como pano de fundo as eras industrial, espacial e tecnológica. Esta última influenciando grandemente no comportamento humano e na busca desenfreada pela preservação da vida e busca pela imortalidade. No romance em questão, as personagens são confrontadas com sua finitude e lançam mão do uso de aparatos científico-tecnológicos para se perpetuarem. Elas representam o homem em sua constante busca por respostas sobre a própria existência. Inimigos antigos como a guerra, a fome e doenças são lembrados na narrativa, bem como aspirações humanas para a felicidade, imortalidade e divindade. São cenas do mundo pós-moderno retratadas por Don DeLillo e estudadas por teóricos como Fredric Jameson (capitalismo tardio), Baudrillard (simulacro), Terry Eagleton (pós-moderno), Stuart Hall (descentramento do sujeito), Linda Hutcheon (discurso, poder e ideologia) e Zygmunt Bauman (modernidade líquida), Donna Haraway (tecnologia), Yuval Noah Harari (ciência), entre outros. Esta pesquisa evidencia a maneira como a literatura permite representar, reler e reavaliar os diferentes avanços e aspirações do sujeito nas comunidades do mundo pós-moderno. Palavras-chave: Ciência; Imortalidade; Tecnologia; Zero K.

LÍRICA SACRA NO BARROCO LUSO-BRASILEIRO: FUNDAMENTOS PARA UMA PESQUISA

Daniel de Assis Furtado (UNESP/FCLAr) [email protected]

Elencamos, ao longo da pesquisa que resultou na dissertação ―Manuel Botelho de Oliveira: a estética barroca, o nativismo e o mito do Brasil‖, uma série de poetas luso- brasileiros cuja produção efetuou-se sob os princípios do estilo barroco. Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711), cuja silva ―À Ilha de Maré‖ então analisamos, além de sua Música do Parnaso (1705), compôs também uma obra que permaneceu inédita até 1971: a Lira sacra (ms. 1703); enquanto naquela o poeta houvesse incluído todos seus poemas de caráter profano, nesta relegou sua poesia de caráter religioso. Foi nesse contexto que alcançamos o objeto de nosso projeto de pesquisa para o doutoramento (em curso): o levantamento e a análise da poesia sacra produzida em Portugal e no Brasil no período em que vicejou o estilo barroco. Tal projeto pretende, a partir da leitura da Lira sacra, realizar um apanhado da poesia de caráter religioso produzida pelos poetas portugueses e brasileiros do período barroco, tanto comparando os elementos comuns de que fizeram uso, seja em sua poética ou em seus tópoi literários, quanto destacando elementos particulares a cada um. Esta comunicação pretende dispor os fundamentos para estes esforços, apresentando: a) um breve panorama da produção lírica luso-brasileira do período barroco, com o apontamento de uma série de poetas, em grande parte, obscuros, e o destaque para algumas de suas obras; b) uma exposição sucinta sobre a vida de Botelho de Oliveira e, particularmente, de sua Lira sacra; e c) os elementos sobre os quais se sustenta grande parte do ideário da poesia sacra barroca luso-brasileira: Contra-Reforma e ação jesuítica. Acreditamos que estes esforços venham a contribuir tanto com o resgate de poetas cujos nomes via de regra são esquecidos ou relegados aos bastidores do estilo da época, quanto com a análise mais cuidadosa do conjunto de suas obras. Palavras-chave: Barroco; Lírica sacra; Poesia luso-brasileira.

INSPEÇÃO INTERIOR E INADEQUAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA EM CAETÉS, DE GRACILIANO RAMOS

Pedro Barbosa Rudge Furtado (UNESP/FCLAr) [email protected]

O objetivo da presente comunicação é assinalar o surgimento, mesmo que embrionário, da introspecção em Caetés, característica marcante em obras posteriores de Graciliano Ramos. Trata-se, portanto, de ampliar o modo como a crítica tem avaliado essa narrativa e a produção do autor, considerando a primeira, muitas vezes, apenas como romance de costumes e o início da presença do mergulho introspectivo somente em livros que vieram depois. Tal intromissão interior quebra o tom de crônica de costumes encontrado em grande parte do romance. Se, na crônica de costumes, João Valério – narrador- protagonista – já demonstra certo sentimento de incompatibilidade entre o eu e o meio em que estava inserido, nos momentos de auto-análise, o mal-estar, no que tange à incompatibilidade com tal meio, acentua o seu sofrimento. Fazendo uso de alguns textos da fortuna crítica do livro e da proposta de Alfredo Bosi (2006) para uma classificação das tendências do romance brasileiro – dos anos 30 aos 60 – tendo em vista a tensão entre o herói e o mundo, há a tentativa de mostrar como essa obra movimenta-se entre a tensão mínima – crônica de costumes – e a interiorizada, alterando a sua forma/conteúdo dependendo do momento narrativo. Brevemente, indicamos que, em Graciliano, quanto maior o nível de inspeção interior, mais grave tornam-se os conflitos sócio-históricos sentidos no âmago das personagens. Palavras-chave: Crônica de costumes; Graciliano Ramos; Inadequação; Introspecção; Subtexto social. INDIVIDUALISMO E UTILITARISMO EM MOLL FLANDERS, DE DANIEL DEFOE

Ana Paula Garcia (UNESP/IBILCE) [email protected]

É muito comum, nos estudos sobre o gênero romanesco, análises que enfatizam as diferenças entre as primeiras obras, do século XVIII, e as mais modernas do início do século XX. Discussões que vão à direção oposta, no entanto - observando aspectos dos romances do XX que já se mostravam presentes, ainda que de forma primitiva, nos primeiros exemplares do gênero –, parecem menos frequentes. O presente trabalho tem, portanto, o objetivo de fazer essa discussão, partindo de dois traços considerados característicos das composições mais modernas: as vontades individuais como verdadeiro motor das escolhas dos heróis e a relação com Deus como mais uma relação de interesses, desvinculada da fé. Em Moll Flanders (1722), de Daniel Defoe, a protagonista narra sua acidentada trajetória de vida, marcada pela instabilidade emocional e financeira, que a acaba conduzindo à criminalidade. Ao analisar a personagem, em seu livro A ascensão do romance, Ian Watt define a heroína como uma ―vítima de circunstâncias que qualquer um poderia ter experimentado‖ (p. 101), o que é válido se consideradas apenas as condições que a levaram a começar a roubar, mas insuficiente se observarmos as razões pelas quais ela continua com a prática mesmo depois de ter alcançado condição financeira estável. Desse modo, a comunicação pretende mostrar o peso das vontades individuais nas escolhas da personagem e, consequentemente, em sua ruína, assim como o modo definitivo com que esses interesses determinam sua relação com a religiosidade, revelando a superficialidade e o caráter utilitário atribuído à fé, na medida que esta passa a funcionar como uma maneira da heroína se confortar e se justificar a cada momento em que se aproxima da percepção da vacuidade de seus arrependimentos. Palavras-chave: Daniel Defoe; Individualismo; Romance; Utilitarismo.

A presença da tradução no jornal O Sexo Feminino

Priscila Renata Gimenez (UFG) [email protected]

A imprensa do século XIX inscreve-se no fenômeno da globalização das práticas culturais das mídias impressas, caracterizada pela circulação internacional de textos e ideias. Isto foi possível, principalmente, graças à intermediação de periódicos em vários idiomas que circulavam entre a Europa e as Américas, bem como pela reprodução de artigos desses diversos periódicos nos periódicos nacionais, como os brasileiros. O ―Sexo Feminino‖ (1873-1890), jornal dirigido por Francisca Senhorinha da Mota Diniz e cujo corpo redacional era majoritariamente feminino, foi um periódico que incorporou traduções em suas rubricas. Assim, esta intervenção apresentará estudos iniciais sobre a presença da tradução nesse periódico feminino, com o objetivo de repertoriar, descrever e analisar a frequência de publicação de traduções, os tipos de rubricas e/ou artigos traduzidos, suas temáticas, conteúdo e as ideias políticas e socioculturais desses textos. Além disso, também compõem o foco desta investigação o modo como tais traduções se relacionam com as demais rubricas e concepções do ―Sexo Feminino‖ e os artigos fontes das traduções. Pretende-se examinar, igualmente, as questões culturais imbricadas nessa prática tradutória da imprensa, partindo da ideia de que a ―noção de tradução entre culturas e também entre línguas‖ pode ser entendida como ―a adaptação de ideias e textos conforme eles passam de uma cultura para outra‖ (Burke; Hsia, 2009, p. 9). Amparando-se nos estudos sobre literatura e imprensa e sobre a história cultural da tradução, este trabalho visa contribuir para a visibilidade da prática tradutória na imprensa do século XIX no Brasil, bem como suas contribuições para nossa imprensa e literatura. Palavras-chave: Imprensa; O Sexo Feminino; Século XIX; Tradução.

UMA JORNADA DE (DES)APEGO: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENTRE MÃE E FILHA NA MULHER-MARAVILHA DE GREG RUCKA

João Pedro Fernandes Gomes (UNESP/IBILCE) [email protected]

Este trabalho pretende investigar as relações entre mãe e filha nos quadrinhos da Mulher-Maravilha, especificamente na fase roteirizada por Greg Rucka entre 2016 e 2017. Consideramos, em consonância com Curtis (2017), que o parentesco é um dos pilares fundamentais na construção simbólica e identitária da super-heroína em pauta, sendo que a recente retomada desse tópico nas HQs favorece uma atualização das leituras já existentes. Visamos, ainda, lançar olhares a uma obra contemporânea em que se evidencia a maternidade, uma vez que, segundo Fontes (2014), tal temática, apesar do papel fundamental das mães desde a antiguidade, é escassa até mesmo na literatura de autoria feminina. Centraremos a análise nas personagens de Diana, a Mulher- Maravilha, e sua mãe, Hipólita, bem como na antagonista, Veronica Cale, que tem como motivação maior para o início de sua vilania o rapto de sua filha para satisfazer os interesses dos deuses. As referências à Mitologia greco-romana nos permitem traçar relações interpretativas homológicas com Deméter e Perséfone, mito no qual a maternidade também é fator de destaque, de forma a observar, segundo a perspectiva de Salis (2003), como a temática do desapego maternal nele presente é essencial também na jornada tanto da super-heroína quanto da vilã. Por fim, após levantados aspectos sobre a figura social da mulher mãe, concluímos o trabalho buscando averiguar de que formas a narrativa perpetua e/ou subverte a representação da maternidade na literatura. Palavras-chave: Maternidade na literatura; Mito de Perséfone; Super-heróis.

A PERDA DA EXPERIÊNCIA NAS NARRATIVAS DE ALESSANDRO BARICCO E CAIO FERNANDO ABREU

Pedro Henrique Pereira Graziano (UNESP/IBILCE) [email protected]

Com o desenvolvimento daquilo que se compreende por modernidade, seguindo as ideias do pensador alemão Walter Benjamin (1996), observa-se um quadro em que progressivamente a capacidade de intercambiar experiências entre sujeitos entra em declínio. Ainda Benjamin caracteriza este mundo de incomunicabilidade como o um mundo de barbárie que, de acordo com o autor, se caracterizaria justamente pela pobreza de experiências comunicáveis. Isto aconteceria uma vez que no cenário social existe um grande fluxo de imagens e informações que bombardeiam os leitores constantemente de modo veloz, de modo que não é mais possível filtrar aquilo que lhes é realmente importante e construir algum tipo de saber legítimo que possa ser compartilhado com seus semelhantes. A partir do estudo crítico deste paradigma, serão levados em conta os romances Castelli di rabbia, do autor italiano Alessandro Baricco e Onde andará Dulce Veiga?, do brasileiro Caio Fernando Abreu. Nos dois romances existe a temática de como os personagens objetivam construir algum tipo de saber, isto é, de experiência comunicável, em um mundo caótico dentro do qual são constantemente atingidos pelo excesso de velocidade. No romance italiano, isto se dá em um universo insólito no qual cada um dos personagens procura por si próprio e por sua voz em meio ao caos e à velocidade, ao passo que no romance brasileiro o cenário é a metrópole São Paulo, onde o protagonista parte em uma busca por Dulce Veiga, que acaba se configurando também em uma busca por si mesmo e por sua voz perdida em meio ao caos metropolitano. O objetivo deste estudo é compreender criticamente como se dá esta busca pela própria voz e a tentativa de resistência ao caos nos dois romances. Palavras-chave: Baricco; Benjamin; Caio Fernando Abreu; Experiência; Romance.

O CAMPO DE PRODUÇÃO ERUDITA E O CAMPO DA INDÚSTRIA CULTURAL, DE PIERRE BOURDIEU, EM CONSONÂNCIA COM AS IDEIAS DE VALORAÇÃO DAS OBRAS LITERÁRIAS E AS INSTÂNCIAS DE LEGITIMAÇÃO

Ana Paula Scatolim Hoffmann (UEM)

Este trabalho tem por objetivo relacionar o campo de produção erudita com o campo da indústria cultural, partindo das reflexões de Pierre Bourdieu (2011), da obra A economia das trocas simbólicas, em consonância com a literatura. Isso se dará através de análises de valoração das obras literárias e da relação destas com o que é legitimado pelas instâncias de consagração do campo de produção erudita, em contraponto com a da indústria cultural. Também iremos buscar compreender o significado de letramento, demonstrar sua variedade e complexidade, bem como desafiar algumas suposições dominantes sobre esse termo na nossa cultura, analisando como elas foram construídas. A escolha pela obra de Bourdieu se dá pelo fato de expor, com bastante audácia, reflexões a respeito dos bens simbólicos, destrinchando o que de mais tem arraigado na sociedade de forma geral sobre um tema pouco questionado. Além disso, ao considerar uma área de pesquisa que trata da formação do leitor e do que é a leitura literária, faz-se importante questionar também os textos e as concepções tidas a respeito dele pelas mais diversas pessoas e posições sociais que ocupam, desde críticos literários, professores, alunos, todos os que passaram pela escola e de todos os que, através das outras pessoas, construíram e abraçaram ideais muitas vezes impostos de maneira hierarquizada e simbólica a respeito do valor de certas obras literárias em detrimento de outras. A isso, especificamente, Bourdieu pouco trata, mas o cenário que compõe nos é propício para relacionar com a literatura, especificamente no recorte deste trabalho. Palavras-chave: Campo erudito; Indústria cultural; Literatura.

A CARTOMANTE: COMO FAZER PARA GOSTAR DE LER LITERATURA?

Reginaldo Inocenti (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente estudo busca compreender como se organiza a análise de A Cartomante, de Machado de Assis, no material didático disponibilizado pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. A sequência de atividades, apresentada como uma Situação de Aprendizagem, tem por título o slogan ―para gostar de ler literatura‖ e procura diferenciar ―os sistemas de arte e de distração‖. Entretanto, a forte tendência do material em evidenciar que a arte literária não possui função recreativa acaba desvinculando o conto da sua grandeza estética e do seu papel fruitivo, alocando-o em uma dimensão de análise que não é nem sincrônica, nem diacrônica, nem interativa. Ora, a arte, no caso a literária, não pode ser diversão? Só lemos literatura para análises formais? Embora a Situação de Aprendizagem se propõe a desenvolver no aluno o gosto pela literatura, ela o faz por meio de procedimentos metodológicos refletidos de velhas práticas acadêmicas cujo foco é o estudo do texto enquanto objeto de conhecimento e não como meio para o conhecimento. Para Bakhtin (2010, p. 359-366), a literatura não pode ser desvinculada das práticas culturais, pois está intimamente integrada aos aspectos sociais, históricos e filosóficos dos povos e, como fruto de um trabalho estético, guarda em si sentidos potenciais, os quais só podem ser desvelados no contexto de recepção. Assim, acreditar que a arte literária deve ser estudada na escola ―por espelhar aquilo que foi feito por outros ao longo do tempo‖ é reduzi-la a uma historiografia vazia de significados culturais. Dizer que arte literária e diversão são conceitos divergentes entre si é colocar os estudos literários na contramão da proposta inicial da Situação de Aprendizagem, pois essa afirmativa antes afasta, do que aproxima o aluno atual do texto literário. Palavras-chave: A Cartomante; Distração; Literatura.

TRADUÇÃO LITERÁRIA: DA PONTE AO ABISMO – UM ESTUDO DE TRADUÇÃO POR MEIO DA LITERARIEDADE

Dalila Silva Neroni Jora (UNESP/FCLAr) [email protected]

Publicado em 1831, Notre-Dame de Paris teve o título modificado para O corcunda de Notre-Dame (The Hunchback of Notre-Dame) após sua tradução para o inglês em 1833. A mudança, além de não agradar a Hugo, alterou o principal foco da obra e a inversão, que parecia inocente, criou um abismo na formação imagética dos leitores da versão traduzida deste romance. Ao transferir o protagonismo a Quasimodo, automaticamente, o núcleo da narrativa muda e o olhar do leitor passa a ser guiado, sobretudo, por esta personagem, relegando a catedral apenas como mero cenário onde se dá a narrativa. Desta forma, a tradução, que, metaforicamente, se apresenta como uma ponte, cuja finalidade é auxiliar leitores que não possuem conhecimento de uma determinada língua e cultura na travessia de uma margem a outra, figura-se, aqui, perigosamente, como sorvedouro cultural. Em sua tradução, a catedral é posta em segundo plano e o objetivo politizado do romance de Hugo perde, desta maneira, um pouco de sua força. Partindo disto, o presente trabalho objetiva realizar uma análise descritiva e crítica, comparando alguns capítulos previamente escolhidos de duas versões brasileiras entre si e com a obra original de Victor Hugo, a fim de refletir sobre a natureza do texto original e as proximidades e distâncias dos textos derivados. Ressaltaremos, também, o lugar de Victor Hugo e do romance Notre-Dame de Paris em seu contexto estético e histórico a partir da fortuna crítica de Victor Hugo e do Romantismo na França. O desenvolvimento desta pesquisa tem como ponto de partida a tradutologia aplicada à versão de obras literárias. Resulta oportuno destacar que a tradução é em grande parte estudada, analisada e teorizada por meio de um viés linguístico, abordagem que não proporciona dimensão literária. Como resultado destas considerações, depreendemos a importância de investigar a tradução por meio da literariedade. Palavras-chave: Estudos de tradução; Literariedade; Tradução comparada.

UMA ALEGORIA DO HORROR SOB A DITADURA CIVIL-MILITAR: ―HOLOCAUSTO‖, DE CAIO FERNANDO ABREU

Arnaldo Franco Junior (UNESP/IBILCE) [email protected]

Nesta comunicação, analisaremos o conto ―Holocausto‖, de Caio Fernando Abreu, publicado originalmente em 1977 no livro Pedras de Calcutá. Neste conto, as personagens, encerradas numa casa fechada, queimam móveis, livros e objetos para tentarem sobreviver a um frio intenso. Com a agudização da situação crítica, cogitam a necessidade de se sacrificarem, imolando-se para manterem vivo o fogo que as aquece. Essa situação dramática, que gradativamente se intensifica, é passível de ser lida, neste conto, como uma alegoria do horror sob a ditadura civil-militar instalada no Brasil a partir de 1964. É deste modo, pois, que a leremos. Palavras-chave: Alegoria; Caio Fernando Abreu; Conto; Ditadura civil-militar.

AS TENTATIVAS DE COLEÇÃO PARA A LITERATURA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX

Odair Dutra Santana Júnior (UNESP/IBILCE) [email protected]

O debate a respeito da História Literária (DARNTON, 1998; ABREU, 2014) vem refletindo sobre a necessidade de olharmos além das obras canônicas e nos atentarmos aos interesses dos leitores. A partir daí, procuramos contribuir para o detalhamento da investigação do processo de formação do sistema literário no Brasil (CANDIDO, 1959), estudando algumas tentativas e ações mais consistentes de formar coleções para a literatura brasileira, que foram lançadas no Rio de Janeiro no decorrer do século XIX. Nessa comunicação, apresentamos o levantamento dessas coleções, que foi realizado a partir da observação dos anúncios e dos demais espaços dos jornais do XIX e de catálogos de livrarias do período, além de uma análise inicial de dados materiais e textuais presentes nas próprias obras que formam esses conjuntos. Entre essas coleções, destacam-se a Bibliotheca Brasileira (1862-1863), iniciativa de Quintino Bocaiuva que somou doze números, correspondentes a oito obras, entre elas As minas de prata, de José de Alencar, e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida; e a Brazilia Bibliotheca Nacional (anos de 1870), de Baptiste-Louis Garnier, na qual foram publicados Manoel Inácio da Silva Alvarenga, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Alvares de Azevedo, Laurindo José da Silva Rabello, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire. Buscamos compreender como cada uma dessas iniciativas, por meio de seus trabalhos de seleção e edição, atuou para a produção e circulação da literatura e dos livros no século XIX, além de ter contribuído para a consolidação da literatura nacional e do gosto pela leitura literária. Palavras-chave: Coleções; Edição; História da leitura no Brasil; História literária.

A METAMORFOSE: FICÇÃO E HISTÓRIA

Leila Aparecida Cardoso de Freitas Lima (UNESP/IBILCE) [email protected]

Embasados em pressupostos da Teoria e Crítica Literária, apresenta-se uma proposta de reflexão acerca da obra A Metamorfose (Die Verwandlung), de Franz Kafka, traduzida por Modesto Carone. Com efeito, semelhante trabalho tem como objetivo relacionar a criação estética de Kafka aos respectivos contextos históricos: Alemanha, 1915, momento da primeira publicação; primeira tradução para o português em 1956 e, finalmente, o século XXI no Brasil. Partiremos de uma hipótese de que o recurso da onisciência seletiva adotado pelo narrador reflete o processo de desumanização pelo qual passa a personagem Gregor Samsa. Dessa forma, a partir desse recurso narratológico, podemos refletir sobre os desdobramentos da ascensão da burguesia que ocorre no século XVIII. Tal fato histórico em muito contribui na ocorrência da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, bem como no relacionamento alienante que se estabelece entre os indivíduos, sobretudo em relação ao trabalho. Faz-se necessário, portanto, considerar a recepção do texto de Kafka no século XX e também nos dias atuais. Para tanto, serão convidados à discussão, em momentos oportunos, autores como Norman Friedman (2002); Georg Lukács (2000); Bonnici e Zolin (2003); Antoine Compagnon (2003) e (2000). Com semelhante visada analítica na obra de Franz Kafka, espera-se chegar ao entendimento de que, certas vezes, proporcionando as diferentes recepções em momentos históricos e espaços distintos, o recurso de tradução de um texto literário conduz a uma ideia de unificação da psique humana que, em alguns casos, pode atravessar as barreiras temporais e geográficas. Palavras-chave: A metamorfose; Franz Kafka; Ficção; História.

AS TRADUÇÕES DE HONORÉ DE BALZAC EM PORTUGAL E NO BRASIL DO SÉCULO XIX: UM DESCONHECIDO EM SEU TEMPO?

Lilian Tigre Lima (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta proposta de comunicação tem por objetivo debater alguns dados de circulação da obra de Honoré de Balzac em Portugal e no Brasil no século XIX, chamando a atenção, entre outros aspectos, para a ocorrência pouco significativa do escritor no cenário das obras traduzidas para o português no Oitocentos. Embora inscrito no alto do panteão literário francês, Balzac teria conhecido pouco sucesso em vida (RONAI, 1957, p. 14), especialmente quando comparado aos seus contemporâneos Walter Scott, Fenimore Cooper e Paul de Koch (PARENT-LARDEUR, 1978, p. 172), aos seus compatriotas Chateaubriand, Eugène Sue e Alexandre Dumas (LYONS, 1990, 433) e, ainda, quando considerado o aparecimento tardio do escritor no quadro das obras traduzidas em Portugal (OLIVERIA, 2012) e no Brasil (LIMA, 2018) no século XIX. Em trabalho sobre a recepção crítica de Camilo Castelo Branco em Portugal, Paulo Motta Oliveira (2012) observa que, um pouco diferente do se imagina, Balzac não teria sido um escritor tão conhecido no Portugal em que escreveu Camilo, de tal modo que títulos importantes como Eugénie Grandet (1833), Le Père Goriot (1834), Splendeurs et misères de courtisaines (1838) e Les Illusions Perdues (1843) ganham suas primeiras versões para o português somente a partir dos anos 1870. No caso do Brasil, os dados se mostram ainda menos generosos: se, por um lado, Baptiste-Louis Garnier promoveu importante divulgação de Balzac em língua francesa no Brasil já na década de 1850, por outro lado, foi somente a partir dos anos 1880 que a oferta de traduções da obra balzaquiana para o português ganhou fôlego. A partir daí, pretende-se debater a importância do estudo em fontes primárias para melhor compreender a circulação da obra de Balzac em português no século XIX e, consequentemente, para se repensar os modos de produção, divulgação e recepção da literatura no período. Palavras-chave: Circulação dos impressos; Fonte primária; Honoré de Balzac; Tradução; Século XIX.

CAIXA DE VIAGEM

Marina Ivo de Araujo Lima (PUC/RJ) [email protected]

Essa pesquisa tem como ponto de partida uma experiência pessoal: uma viagem que a pesquisadora fez com a avó. A partir da experiência vivida, pretende-se investigar o ato da rememoração e também as relações intergeracionais avó-neta e seus assuntos correlatos – afeto, a distância geracional, morte e luto. O ato da rememoração se debruçará ainda na confecção de um objeto-caixa: a caixa de viagem. Pretende-se pensar a memória enquanto construção, no gesto do contar e elaborar uma narrativa, e não como algo imóvel e intocável do passado. A memória como processo inacabado. Cabe ressaltar que no processo da elaboração da caixa se encontra a morte da avó, que está ali, à espreita. A caixa se transforma no caixão e um luto antecipado lamenta, canta, conta o interdito da morte. Tenta-se, então, entender historicamente como morremos e pensamos o fim da vida a partir do historiador francês Philippe Ariès e também do fundador da psicanálise Sigmund Freud. Os dois mostram como o homem ocidental do século XX silenciou até mesmo o mais remoto pensamento diante da morte. O psicanalista pergunta se não haveria uma nova forma de nos portarmos? Qual seria essa nova atitude? Como dar à morte o lugar que lhe cabe? Para pensar a questão, o percurso da escrita da poeta Anne Carson no livro-caixa Nox será debatido. Ela faz uma espécie de elegia em homenagem ao seu irmão morto no ano 2000 com trechos em que rememora a vida do irmão entrelaçados com a tradução em inglês do poema 101, do poeta romano Catulo. Carson persegue lentamente a palavra certa que busca traduzir a perda. Como traduzir o sentimento diante da morte? Palavras-chave: Luto; Memória; Relações intergeracionais; Viagem velhice.

EM FAVOR DE DORA

Niccolly Evannys Zifirino Lima (IFTO) [email protected]

O presente trabalho pretende fazer uma análise feminista do romance regional O Canto da Carpideira, procurando relacionar as ações do personagem masculino Juca Espigueiro com a família da doceira Nena. As ações comportamentais e de dominação do personagem masculino são baseadas em sua origem, na cultura do patriarcado fortalecido em meio à sociedade androcêntrica. Essa relação de submissão e subordinação dos corpos femininos é afirmada por meio da violência simbólica. Este tipo de violência diferencia-se da agressão física, contudo torna-se mais eficaz porque se constrói através de tradições que são reverberadas e construídas sobre a figura feminina. Devido a isto, tanto a mulher quanto a própria sociedade, independentemente do sexo, são condizentes e compassíveis com estes atos simbólicos, decorrentes de uma herança cultural que torna a violência como natural, principalmente quando ela menospreza a mulher. Para tanto, utilizaremos os conceitos de dominação e violência em Foucault, Weber, Pateman e Bourdieu. Metodologicamente este trabalho faz parte de pesquisas realizado no Programa de Pós Graduação de Letras - PPGLETRAS, Porto Nacional - Tocantins e baseia-se em levantamento bibliográfico e análise literária que tem como objetivo mostrar a construção simbólica dentro do imaginário popular e como estas construções são repassadas por meio das artes – no caso a literatura – e podem ser despercebidas, reconhecidas ou afirmadas dentro do que se entende por normalidade. Palavras-chave: Mulher; Patriarcado; Submissão; Violência.

POR UMA POÉTICA ROMÂNTICA: UTOPIA E RESISTÊNCIA EM HOWL (1956), DE ALLEN GINSBERG E PARANÓIA (1963), DE ROBERTO PIVA

Patrícia Vieira Lochini (UNESP/FCLAr) [email protected]

Segundo os críticos Michael Löwy e Robert Sayre (1995), o Romantismo não deve ser concebido apenas como movimento histórico, mas como uma ―estrutura mental coletiva‖, uma visão de mundo que se manifesta não somente na Literatura, mas em diversos campos do conhecimento. Pensando nesse conceito de ―estrutura mental coletiva‖ podemos afirmar que o espírito romântico não se limita aos séculos XVIII e XIX, mas se estende às manifestações reconhecidamente românticas que se desdobram em atitudes e comportamentos ao longo do século XX. A obra de Allen Ginsberg e Roberto Piva pertence a uma linhagem de tradição romântica que, em permanente contestação à ordem burguesa, trilham os caminhos da resistência, rebelando-se contra os valores de sua época. Um exemplo são os surrealistas, que se mantiveram com a tradição romântico-simbolista, tendo como ponto de partida a poesia em prosa de Rimbaud. Pela viagem, pelo discurso profético, pela religiosidade, pelo ritmo, as influências mais relevantes vão de Walt Whitman a William Carlos Williams. Partindo desses princípios, o estudo tem como objetivo discutir a presença romântica nas gerações rebeldes do século XX, a partir da análise da obra Howl (1956) de Allen Ginsberg, e Paranóia (1963), de Roberto Piva, com o intuito de investigar a permanência do pensamento romântico não como um movimento histórico, mas como uma ―estrutura mental coletiva‖ e, partindo da reflexão sobre a permanência do pensamento de rebeldia nos diferentes contextos no século XX, identificar procedimentos formais, estilísticos, discursivos advindos de uma tradição romântica do século XIX. Pretende, ainda, analisar os motivos desencadeadores dos ideais propagados pelos poetas e como estes se inter-relacionam, estabelecendo, assim, um entrecruzamento literário entre períodos históricos, mas que se relacionam na busca da identidade pessoal e coletiva. Palavras-chave: Poesia contemporânea; Resistência; Romantismo.

CECÍLIA MEIRELES EM ROMA: ENCONTRO COM MEMÓRIAS DE SHELLEY E KEATS Delvanir Lopes (UNESP/FCLAr) [email protected]

Cecília Meireles (1901-1964) esteve na Itália durante dois meses do ano de 1953. Vinda do Congresso na Índia sobre Gandhi, a escritora ficou fascinada pela ―cidade eterna‖ e, com seu marido, Heitor Grillo, visitou inúmeros lugares, sobre os quais escreveu muitos poemas e, após a viagem, inúmeras crônicas-artigos que foram publicadas, principalmente, no jornal carioca Diário de Notícias. Por fim, os poemas reunidos foram publicados apenas em 1968, em edição bilíngue, português-italiano, com o nome de Poemas Italianos. Segundo Mercedes La Valle (1894-1997), italiana que trabalhava como jornalista-correspondente no Brasil e que se tornou cicerone de Cecília Meireles em terras italianas, um dos primeiros locais visitados pelo casal brasileiro foi a Piazza di Spagna, onde haviam morado Percy Shelley (1792-1822) e John Keats (1795-1821), dois poetas românticos ingleses. Este artigo propõe-se a analisar as impressões da escritora com a visita à casa em que habitaram os escritores, depois ao Cimitero degli Inglesi, onde está o túmulo de Keats e, por fim, às Termas de Caracalla, relembrando o Prometheus Unbound, de Shelley. Para isso, serão elencados os textos que fazem referência a tais poetas, bem como os poemas cecilianos escritos a partir dessa inspiração. É preciso lembrar que o artigo trata de um fragmento do pós-doutorado que foi desenvolvido na Universidade Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, em Araraquara. Palavras-chave: Cecília Meireles; Keats; Poemas Italianos; Roma; Shelley.

OS MATADORES DE DRAGÕES NA LITERATURA NÓRDICA E GERMÂNICA MEDIEVAL

Gabriela Carlos Luz (UNESP/FCLAr) [email protected]

A figura do matador de dragões tem sido observada e recontada inúmeras vezes na literatura mundial. Em histórias medievais, tais figuras possuíam motivações específicas e a vitória contra o monstro representa um ato singular que poderá levar a uma grande conquista, ou, em casos raros, a uma tragédia. Faremos um panorama acerca da figura do matador de dragões focando especificamente em heróis nórdicos e germânicos medievais, sendo estes Beowulf, Sigmund, Sigurd e Siegfried (os dois últimos paralelos um do outro). Ao olharmos mais a fundo para a figura dos matadores de dragões de tais histórias, conseguimos entender qualidades e motivações presentes na época e localidade de suas criações. Baseando-se principalmente nas análises de Joseph Campbell sobre a figura do herói em sua obra O Herói de Mil Faces e de J.R.R. Tolkien a respeito da construção de monstros mitológicos em seu estudo The Monsters and the Critics, será elaborada uma comparação entre os quatro guerreiros. Serão observados elementos que ora se distinguem ora se aproximam nas constituições literárias, buscando entender como suas missões nos ajudam a perceber retratos representativos de suas culturas ao focarmos na construção do dragão em si, o ato da luta, a individualidade de cada herói e o resultado de sua façanha. Palavras-chave: Herói; Joseph Campbell; J.R.R. Tolkien; Literatura fantástica; Literatura medieval.

O EROTISMO COMO AFIRMAÇÃO DE SI: UMA ANÁLISE DOS PERSONAGENS DE ANDRÉ MALRAUX Patricia de Oliveira Machado (IFG) [email protected]

A morte, o destino, o absurdo e a angústia são alguns dos motivos que levam os personagens de André Malraux a estarem diante de si mesmos e, cientes de sua existência, afirmá-la com todo fervor. A afirmação de si frente ao outro encontra seu fundamento na ideia ocidental de uma identidade permanente e sólida que não para de ressoar nos ouvidos dos moribundos Perken e Claude, de La Voie Royale, Garine, de Les Conquérants, Tchen e Kyo, de La Condition Humaine. Povoados por um tipo de enclausuramento invencível, arrastados pela solidão, esses heróis desacreditam na comunicabilidade e na possibilidade do conhecimento dos outros seres. Apesar de serem impelidos a um movimento de autoafirmação, os personagens malrucianos também são retratados em cenas e situações eróticas, o que lhes demanda uma relação ―íntima‖ com o outro. Diante de homens mergulhados em si mesmos, travando uma verdadeira luta para a afirmação de suas individualidades, o que se pode esperar de suas relações erótico-sexuais? Para muitos, o erotismo seria capaz de suprir as diferenças e ligar o eu ao outro, concepção essa presente em textos que remontam à história da filosofia. No célebre diálogo de Platão, O Banquete, o eros aparece como possibilidade de restauração de uma unidade antiga e o outro mostra-se como complementaridade e inteireza. Na contemporaneidade, Georges Bataille, autor de L’érotisme, chega a afirmar a existência de um tipo de continuidade profunda entre os amantes. A questão que se impõe, quanto à obra de Malraux, é saber se o erotismo pode unir seres tão solitários, permitindo-lhes acesso ao outro ou se contrariamente se trata de mais uma instância de imposição da subjetividade. Palavras-chave: Afirmação de si, Egoísmo, Erotismo, André Malraux.

AMIZADE NA LITERATURA: DUPLAS NO SATÍRICON, DE PETRÔNIO

Rebecca Miriã Ribeiro Martins (UNESP/IBILCE) [email protected]

A partir do conceito de amizade proposto nas obras antigas De amicitia, de Cícero, que propõe parâmetros morais e éticos que deveriam reger uma relação de amigos, e Ética a Nicômaco, de Aristóteles, que faz uma valoração do conceito de ―philia‖, pretende-se, neste trabalho, identificar e analisar a amizade em personagens da literatura, mais precisamente na obra Satíricon, de Petrônio. Considera-se que as personagens podem se ligar em duplas, como ocorre em diferentes contextos, a saber, na mitologia, na mídia televisiva de entretenimento (no âmbito de filmes, desenhos animados, etc.), no cinema (curta ou longa-metragem), nas histórias em quadrinhos, entre outros. Sobre as duplas, sabe-se que tal relação pode estabelecer-se não só durante o desenvolvimento da trama, mas pode estar formada desde o princípio da narrativa. A partir da leitura das obras antigas supracitadas, aliadas às obras modernas como Genealogias da amizade, de Ortega (2002), e A amizade no mundo clássico, de Konstan (2005), será possível tecer uma discussão, tendo em vista o viés da amizade, a respeito dos efeitos desse relacionamento para a construção da dupla amiga no Satíricon. Dito isto, verificar-se-á como a relação de hierarquia é estabelecida entre as duplas e o que leva duas personagens por vezes tão diferentes a se relacionarem e atuarem juntas, haja vista a dupla Encólpio e Gitão, presente no Satíricon. Palavras-chave: Amizade na literatura; Duplas de personagens; Petrônio; Satyrica; Satyricon.

RETORNOS AO PASSADO: MOVIMENTOS DA POESIA CONTEMPORÂNEA

Maísa de Oliveira Mascarenhas (UFG) [email protected]

Helissa de Oliveira Soares (UFG) [email protected]

É sabido que em todas as épocas da literatura ocidental os poetas dialogaram com os seus predecessores e contemporâneos, citando suas obras ou aludindo a elas. No atual cenário da lírica brasileira, a experiência de leitura do legado da tradição literária é um dos principais elementos a ser considerados como matéria de criação poética. A poesia recente amplia o campo de visão de poeta e leitor, levando-os ao exercício de uma leitura mais atenta guiada pela mínima atividade de pesquisa, propondo uma significação que exige de ambos o reconhecimento da tradição que compõe com a construção dessa poesia. Evidencia-se, desse modo, que a memória de leitura do sujeito empírico interfere em sua subjetividade, ou seja, as leituras que o poeta faz constituem o material básico a ser elaborado em sua poesia. O poeta contemporâneo, imbuído de todo o conhecimento anterior a ele, de toda cultura clássica, romântica e moderna, dispõe de um cabedal de instrumentos - resultantes dessa construção cultural, de sua construção como leitor - e recursos para enxergar o seu tempo, a poesia, a sua própria obra e o papel do leitor de forma mais ampla. A arte poética contemporânea é, portanto, composição de cânones, uma vez que o poeta traz em si uma multidão de outras leituras. Esta comunicação propõe-se a evidenciar como os resquícios da tradição estão presentes em alguns poemas de Paulo Henriques Britto e de Alexei Bueno, dois poetas bastante representativos no cenário da lírica atual. Os estudos de João Alexandre Barbosa (1974), Octavio Paz (1984), T.S. Eliot (1989), Ítalo Calvino (1990), Maria Esther Maciel (1999), Alfonso Berardinelli (2007) e Benedito Nunes (2009) fundamentam as reflexões deste projeto. Palavras-chave: Contemporaneidade; Leitura; Lírica; Memória.

O ESPAÇO EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H. DE CLARICE LISPECTOR

Gilda Marchetto (UNIR - UNESP/IBILCE) [email protected]

Entre os inúmeros desafios que se encontram em um texto, o espaço pode se revelar tão importante quanto os demais componentes da narrativa. Aberto ou restrito, constitui-se num índice representativo da condição social e do estado de espírito da personagem que se liga às outras categorias narrativas para formar o todo da obra, articulando-se principalmente com o tempo. Segundo Anatol Rosenfeld (1996), na narrativa do século XIX, o homem era extensão do lugar, da região, da cultura em que vivia ou era submetido às influências do meio. A personagem era dominada pela causalidade, subjugada pelo determinismo. Na narrativa contemporânea, rompe-se o princípio dessa causalidade, negando o compromisso com o mundo temporal e espacial posto como real e absoluto pelo realismo tradicional e pelo senso comum. Espaço e tempo fragmentam- se e instauram uma realidade mais profunda que revelam no próprio esforço de assimilar, na estrutura da obra-de-arte (e não apenas na temática), a precariedade da posição do indivíduo no mundo moderno. Esta comunicação tem por objetivo investigar, no romance A paixão segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector, como o espaço e sua ambientação, além de revelar a trajetória passional de G.H., revelam também valores, conceitos e preconceitos da classe burguesa, intrinsecamente articulados na descrição do apartamento como sinônimo de beleza e elegância e no quarto da empregada que, segundo a narradora, seria o cômodo mais sujo de sua casa. Palavras-chave: Ambientação; Clarice Lispector; Espaço; Romance.

CAETANO LOPES DE MOURA E LUIZ VICENTE D‘AFFONSECA, TRADUTORES DE FENIMORE COOPER: FICÇÃO, HISTÓRIA E TRADUÇÃO NO SÉCULO XIX

Lucas de Castro Marques (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta comunicação apresenta uma interpretação das práticas tradutórias e de uma visão de história a partir de duas traduções de romances de Fenimore Cooper: O Espião do campo neutral (1833), feita pelo português Luiz Vicente d‘Affonseca (1803-1878), e O derradeiro Mohicano (1838), de autoria do brasileiro Caetano Lopes de Moura (1780- 1860), um dos mais conhecidos profissionais da tradução da primeira metade do século XIX, no contexto lusófono. Procuraremos entender como, a partir da repercussão das duas traduções, ambos os tradutores procuraram expressar suas visões de uma história comparada das Américas para públicos-leitores brasileiros. Sendo assim, analisaremos anúncios de vendas de ambos os romances traduzidos presentes nos jornais, em comparação ao todo dos romances estrangeiros oferecidos ao público, em tradução para o português. Além disso, por meio do método descritivo de José Lambert & Van Gorp (1985), recorreremos à análise comparativa dos textos de partida e de chegada, e por meio de Silva-Reis (2012, 2015), situaremos a prática de ambos os tradutores no contexto do século XIX. Procuraremos fundamentar nossa análise nos trabalhos de Even-Zohar (1978) e Toury (1998), que concebem a literatura e a tradução a partir de um ponto de vista sistêmico. O anúncio da tradução feita por Moura, publicado no Jornal do Commercio (JC), em 1838, reverencia-o como um enriquecedor da literatura portuguesa; além disso, afirma que o romance de Cooper, que retrata a decadência das sociedades indígenas norte-americanas frente ao contato com o homem branco, é um meio de oferecer, aos brasileiros, a possibilidade de contemplar comparativamente essa história com a sua. No caso de Affonseca, o anúncio escrito pelo próprio tradutor e publicado no JC, em 1833, revela-nos a intenção de ―lisonjear‖ os brasileiros com a tradução de um romance a partir do qual ―se pode ganhar abundante informação sobre os fatos mais salientes da história americana‖, precisamente sobre a Guerra de Independência dos Estados Unidos (1765-1783). Dessa forma, ambas as traduções podem ser entendidas como sugestões para a visão comparativa das histórias dos Estados Unidos e do Brasil, no contexto pós-independência brasileiro. Palavras-chave: Caetano Lopes de Moura; História e tradução; James Fenimore Cooper; Luiz Vicente d‘Affonseca.

O INTERESSE POLÍTICO E O FAZER LITERÁRIO NAS OBRAS O PRÍNCIPE, DE NICOLAU MAQUIAVEL E OS LUSÍADAS, DE LUÍS VAZ DE CAMÕES

Ranieri Emanuele Mastroberardino (UFPR) [email protected]

A presente comunicação é inerente ao contexto do renascimento italiano e português e possui, como objetivo principal, evidenciar e analisar o papel de conselheiro, supostamente exercido pelo escritor florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) e pelo poeta lusitano Luís Vaz de Camões (1524?-1580), em suas obras-primas, O Príncipe (1513) e Os Lusíadas (1572). Nesta linha investigativa, destacaremos como que as recomendações desses dois intelectuais a seus respectivos governantes, Lorenzo dei Medici (1492-1519) e D. Sebastião (1554-1578), associavam-se aos anseios de consolidação da pátria italiana, no contexto de Maquiavel, e de reconstrução da pátria lusitana, na perspectiva de Camões. Ao assumir a função de requerentes a mentores de seus soberanos, os dois intelectuais renascentistas, nesta ótica de análise, exteriorizam- se como pensadores extremamente preocupados com os rumos de suas nações, erguendo, em virtude disso, a bandeira do bem comum, do bem público e defendendo, consequentemente, a incumbência do senhor de Florença e do rei de Portugal a serviço da coletividade, da população (ESCOREL, 1958; CALMON, 1945). No tocante a dois escritores canônicos da literatura ocidental, depreende-se como que o interesse político orienta, em certa medida, o fazer literário, a escrita literária de intervenção, a qual busca encontrar respostas às inquietações políticas e sociais que o Renascimento suscitava. Palavras-chave: Bem comum; Luís Vaz de Camões; Nicolau Maquiavel; Recomendações; Renascimento.

O ESPAÇO E O TEMPO INSÓLITOS EM DINO BUZZATI Vanessa Matiola (UNESP/FCLAr) [email protected]

Apesar de ser conhecido no Brasil principalmente por seu romance e obra-prima O Deserto dos Tártaros, o italiano Dino Buzzati também é autor de vasta quantidade de contos que, por sua vez, costumam ser analisados tendo o fantástico como perspectiva. Seguindo a postulação colocada por Tzvetan Todorov sobre o gênero em Introdução à literatura fantástica, um possível elemento sobrenatural deve aparecer no enredo e fazer com que leitor ou personagem hesitem quanto à sua existência, o que de fato ocorre nos contos fantásticos de Buzzati. Contudo, há também a criação de uma atmosfera de estranhamento em suas narrativas curtas, causada, muitas vezes, pelo desconhecido, pela angústia, pelo inevitável passar do tempo, pela morte ou, ainda, pela junção de todos estes itens. A fim de compreender essa característica buzzatiana, selecionamos o insólito como elemento conciliador dos contos fantásticos e não fantásticos do escritor, tendo como base os ensaios produzidos pelos membros do grupo de pesquisa ―Nós do Insólito: vertentes da ficção, da teoria e da crítica‖, da UFRJ, e organizados por Flavio Garcia. Para investigar a presença do insólito em Buzzati, trabalharemos com contos retirados da antologia La boutique del mistero, que reúne os mais significativos da produção do autor segundo ele mesmo e que, conforme o próprio título do volume sugere, contém narrativas que causam fascínio gerado pela intrigante atmosfera excêntrica e pelo mistério. Nosso foco inicial são os contos ―Sette piani‖ e ―I sette messaggeri‖, nos quais não há presença do sobrenatural e a manifestação do insólito se dá pela relação das personagens com o espaço e com o tempo, respectivamente. Palavras-chave: Dino Buzzati; Insólito; Literatura italiana.

MACHADO DE ASSIS E A TRANSGRESSÃO DOS GÊNEROS DA INTIMIDADE

Tatiana de Oliveira Miguez [email protected]

Considerando o crescente interesse pela escrita do ―eu‖ e baseando-se na afirmação de Jorge de Sena no ensaio ―Machado de Assis e o seu quinteto carioca‖, que declara haver como unidade entre as cinco obras finais de Machado de Assis o questionamento dos gêneros que expressam a subjetividade moderna, apresento neste artigo, baseado em minha dissertação de mestrado, a maneira como Machado de Assis lida com alguns desses gêneros da intimidade, dentro e fora do espaço ficcional. Para tanto, foram selecionadas duas das obras finais que empregam mais diretamente a escrita do ―eu‖ e que, do mesmo modo, mais ―transgridem‖ essa escrita: Memórias Póstumas de Brás Cubas, uma autobiografia escrita por um ―defunto autor‖; e Memorial de Aires, um diário que registra mais a vida dos outros do que a do próprio diarista. Para compreender os gêneros da intimidade, tomo como base os estudos de Luiz Costa Lima (1986), Elizabeth Muylaert Duque-Estrada (2009) e Leonor Arfuch (2010), que demonstram como a escrita do ―eu‖ evoluiu até os dias atuais. A respeito do gênero autobiográfico, recorri a Philippe Lejeune (2008) e Philippe Gasparini (2004), que tentam delimitar os princípios da autobiografia e dos gêneros afins. Além das obras ficcionais, foram analisadas, à luz dos estudos de Michel Foucault (2004), as missivas machadianas, observando como o escritor constrói a imagem de si na troca de cartas com intelectuais de seu convívio. Refletindo sobre o exercício desses gêneros da intimidade, por parte de Machado de Assis, observa-se que este, na sua correspondência, não ultrapassou os limites que, à época, regiam a troca de confidências entre pares e amigos. Já na ficção, ao fazer um uso engenhoso e criativo das retóricas da autobiografia e do diário, o escritor utilizou tais gêneros para recobrir e agudizar a crítica corrosiva à sociedade de seu tempo. Palavras-chave: Autobiografia; Correspondência; Diário.

A PRESENÇA DA METÁFORA NA TRADUÇÃO DO CONTO ―THE SWING OF THE PENDULUM‖ DE KATHERINE MANSFIELD

Maria Alice Sabaini de Souza Milani (UNESP/IBILCE) [email protected]

A presente comunicação tem como objetivo analisar o uso da metáfora, na tradução do conto "The swing of the pendulum", presente na primeira coletânea de contos de Katherine Mansfield publicada em 1911, a fim de observar em que medida os vocábulos, escolhidos, pela tradutora Julieta Cupertino (1998) para a constituição da metáfora, auxiliam na interpretação do conto por parte do leitor e, em que medida se aproximam da metáfora presente no texto original. Este conto narra a estória de Viola que se encontra em dificuldades financeiras e está prestes a ser despejada do lugar no qual mora, uma vez que a proprietário já havia lhe dado um ultimato para que abandonasse o lugar no dia seguinte, caso o aluguel não fosse pago. Além disso, a protagonista também vive um relacionamento com Casimir, mas acaba sendo seduzida por um desconhecido que bate em sua porta a procura de outra pessoa por acreditar que ele pudesse ajudá-la financeiramente. A obra em questão projetou a escritora neozelandesa no âmbito da literatura, no qual ela se tornou uma expressiva representante do conto moderno devido à poeticidade de sua prosa e à sensibilidade de sua escrita em retratar episódios do cotidiano da personagem, enfatizando a repercussão deste no íntimo daquele que o vivencia. Nesse sentido, com base na tradução deste conto feita por Julieta Cupetino em 1998 e de sua comparação com a versão original do conto mansfieldiano, é possível perceber que a metáfora é um recurso imprescindível para que a produção contística mansfieldiana consiga se aproximar, ainda que de maneira indireta, da vivencia e da complexidade sentimental da personagem, já que a completude dos sentimentos da alma humana é, de modo geral, intraduzível por palavras. Benjamin (1978), Arrojo (1992), Kuhn (2003), Gomes (2006), Allan (2011) entre outros estudiosos constituirão o referencial teórico dessa comunicação. Palavras-chave: Metáfora; The swing of the pendulum; Tradução.

FAN FICTIONS DE UNIVERSO ALTERNATIVO: A CONSTRUÇÃO DA VEROSSIMILHANÇA E A RECEPÇÃO DOS FÃS

Paula Renata Milani (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta comunicação visa analisar a recepção que as fanfictions de classificação Universo Alternativo têm sobre os fãs de Harry Potter, em especial a fanfiction intitulada Green Eyes, com alto número de acesso em website próprio para o gênero. Visamos analisar, por meio dos elementos verossímeis - de acordo com nomenclatura utilizada por Aristóteles e exemplificada pela estudiosa Ligia Militz da Costa (2003) - quais são os elementos verossímeis utilizados nesta obra para agradar e compensar os fãs de Harry Potter pela diferença significativa nos contextos e enredos. Para a análise dos elementos verossímeis, utilizamos o primeiro livro de Harry Potter, Harry Potter e a Pedra Filosofal, e os dois primeiros capítulos de Green Eyes. Também entrevistamos duas fãs de Harry Potter e leitoras de Green Eyes com suas opiniões sobre a fanfiction, o que fundamentou nossa conclusão de que a verossimilhança em consonância com a obra original Harry Potter é um item fundamental a ser considerado na produção do gênero fanfictions e explicativo no que diz respeito ao número de acesso dessas obras. Tendo em vista que as fanfictions são obras que agradam a um público muito específico – os fãs – a construção verossímil dos acontecimentos dentro do ―possível lógico, causal e necessário‖ (COSTA, 2003, p. 53 e 54) de Green Eyes pode ser um elemento fundamental para despertar o interesse dos fãs. Palavras-chave: Fanfictions; Harry Potter; Verossimilhança.

AMOR TRÁGICO EM JOGOS VORAZES: UMA RELEITURA DO MITO DE PÍRAMO E TISBE

Guilherme Augusto Louzada Ferreira de Morais (UNESP/IBILCE) [email protected]

Esta apresentação dedica-se a evidenciar como Suzanne Collins, autora do romance Jogos vorazes (2010), utilizou elementos da Mitologia greco-romana para compor partes significativas de sua obra, formando, assim, uma cadeia intertextual entre a Literatura Clássica e a Contemporânea. Para além de todos os mitos resgatados, atentar- nos-emos, mais especificamente, ao mito de Píramo e Tisbe, registrado literariamente por Ovídio em suas Metamorfoses, um dos precursores da afamada peça de teatro Romeu e Julieta, de Shakespeare. O escritor inglês usara também, como texto-fonte, um conto renascentista italiano chamado Romeo e Giulietta, de Matteo Maria Bandello. Partindo da proposição de Samoyault (2008), de que a literatura, antes de falar do mundo, fala de si mesma, percebemos, com a leitura do romance, um diálogo intertextual entre o mito fonte de Ovídio, a peça de Shakespeare e o romance de Collins. Podemos dizer, então, que a retomada da Literatura Clássica, antes sagrada, por outra literatura, a contemporânea, é que dá o caráter intertextual para esse diálogo, ou seja, no processo criativo de uma nova obra, há a retomada de um ou mais textos como numa espécie de interação que não se restringe somente a textos literários, se entendermos o conceito de texto como conjunto de signos que expressa alguma mensagem humana. Portanto, a nosso ver, Collins (2010), pelo viés estilístico da intertextualidade, recupera um mito e lhe dá nova roupagem, de forma que se perceba que a "literatura se escreve certamente numa relação com o mundo, mas também apresenta-se numa relação consigo mesma [...]" (SAMOYAULT, 2008, p. 9). O passado, ou seja, os livros anteriores ao "novo", é reutilizado pela autora estadunidense e, ao mesmo tempo, transformado em algo adaptado à nova situação em que é inserido, favorecendo a intersecção entre mito e literatura e, por isso, presentificando a Antiguidade Clássica na Atualidade. (FAPESP Proc. 2015/23592-6). Palavras-chave: Mito e Literatura; Píramo e Tisbe; Ovídio; Katniss e Peeta; Suzanne Collins.

INTERSECCIONALIDADES: GÊNERO E RAÇA/ETNIA SOB PERSPECTIVA

Fernando Luís de Morais (UNESP/IBILCE) [email protected]

No ensaio ―Quare studies, or (almost) everything I know about queer studies I learned from my grandmother‖ (2005 [2001]), E. Patrick Johnson enfatiza a importância de contestar noções estáveis de identidade e, ao mesmo tempo, situar o conhecimento de raça/etnia e classe nos estudos de gênero. Fundamentado nos pressupostos veiculados nesse referido texto, objetivo evidenciar como, pela assunção de um modo de expressão assertivo e contestador, viabilizado pelo aparato teórico dos estudos quare, lésbicas, bissexuais, gays e transgêneros negros empreendem uma luta pela autodefinição e pelo reconhecimento. Ao desafiar os limites da hegemonia racial e heteronormativa, instaurando uma reação de impostura subversiva frente às traumáticas imposições por ela perpetradas, esses sujeitos ditos abjetos assumem uma voz expressiva que os possibilita irromper e quebrar os silêncios impostos. Resgato as ideias de reconceptualização dos estudos queer, lançadas por Johnson (Teoria Quare), que oferecem um quadro particularmente útil dentro do qual se pode analisar a obra poética do autor negro-gay norte-americano Thomas Grimes. A partir da análise do poema ―Equations‖, ilustro o potencial operante desse novo paradigma teórico que se descortina, arejando leituras mais apuradas da identidade quare, forçosamente refreada por regimes hegemonicamente instituídos. Palavras-chave: E. Patrick Johnson; Equations; Identidade de raça/etnia e gênero; Teoria Queer/Quare; Thomas Grimes.

A ESCRITA COMO DEVIR: POÉTICA DO RIZOMA NA LITERATURA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Adriano Carlos Moura (UFJF) [email protected]

O gênero romance vem passando por várias transformações desde seu surgimento. Livros como Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Ulisses (1922), Eles eram muitos cavalos (2001) são exemplos de obras que transgrediram as concepções tradicionais do gênero, principalmente no que concerne ao foco narrativo, ao conteúdo e à estrutura. Em se tratando do escritor português António Lobo Antunes, a transgressão é um projeto literário que se renova a cada romance publicado. Este estudo pretende investigar, por meio da análise das obras Os cus de Judas (1979) e Meu nome é legião (2007), os procedimentos estilísticos, estruturais e temáticos que fazem do escritor um caso único na literatura portuguesa contemporânea. Trabalha-se com a hipótese de que, como para o autor, a escrita e o romance são atos sempre inacabados, em via de fazer- se; seus livros são agenciamentos, que se propõem abarcar o mundo percebido pelo autor em toda sua complexidade (política, psicológica, social, semiótica). Para isso, cria-se uma ―língua estrangeira dentro de sua própria língua‖, assintática e agramatical, o que torna a leitura de sua obra tão complexa quanto a própria realidade que tenta abarcar: a experiência colonial e pós-colonial da sociedade portuguesa. A análise se propõe interdisciplinar, aportando-se teoricamente nos conceitos de rizoma, agenciamento e devir, em Gilles Deleuze e Félix Guattari, na concepção de cultura e nação portuguesa como fronteiriça e semiperiférica em Boaventura Sousa Santos. Palavras-chave: António Lobo Antunes; Devir; Literatura portuguesa; Rizoma.

―DE VERÃO E DE INVERNO – CASA SEM TELHA‖ – A FIGURA DO TRABALHADORES RURAIS NA ESCRITA DE CARLOS DE OLIVEIRA

Nathália Macri Nahas (USP) [email protected]

A figura do ―ganhão‖ ou ―jornaleiro‖, ou seja, um trabalhador rural que exerce uma atividade e recebe a jorna ou o pagamento diário, é muito presente nas primeiras obras do autor neorrealista português Carlos de Oliveira. Ao trazer essa personagem aos seus poemas e à sua ficção, procurou explorar as condições de exploração e de precariedade que esses camponeses viviam no contexto da ditadura portuguesa, que esteve em vigor entre 1926 a 1974. Oliveira buscou expressar a miséria que definia a vida desse grupo social no cenário da Gândara, zona rural que se localiza entre o centro e o norte de Portugal. Dessa maneira, propomos uma análise acerca do modo como esse trabalhador é inserido no primeiro livro de poesias do autor, Turismo, de 1941, e em seu primeiro romance, Casa na Duna, de 1942, com base na influência do pensamento marxista no movimento Neorrealista e na obra oliveiriana. Nesse sentido, serão analisadas imagens que remetam a temas como a exploração do homem sobre seus semelhantes, as relações sociais presentes nesse cenário e o modo como o poder organiza a ordem social em que tais trabalhadores estão inseridos. Palavras-chave: Literatura Portuguesa Contemporânea; Neorrealismo Português; Poesia Social; Romance Social.

―UM DIA BRANCO, BRANCO‖: INTERRELAÇÕES SEMIÓTICAS ENTRE POESIA E CINEMA NAS OBRAS DE ARSENI E ANDREI TARKOVSKI

Giuliarde de Abreu Narvaes (UNESP/IBILCE) [email protected]

Andrei Tarkovski, a refletir acerca das semelhanças entre cinema e literatura, observa que, como em outros sistemas artísticos, há sempre uma dependência mútua entre a realização estética e a ―experiência emocional, espiritual e intelectual‖ do apreciador de arte. As imagens estéticas, pensamos junto com o cineasta russo, parecem nutrirem-se dessa experiência de alteridade. Todavia, entre cinema e literatura parece haver uma concepção de criação diametralmente oposta, que quando comparada a outras formas de arte revela no cinema sua própria especificidade estrutural. Segundo Tarkovski, o ―cinema é a única forma de arte em que o autor pode se considerar como (...) criador do seu próprio mundo‖ (TARKOVSKI, 2010). Aconteça o que acontecer, e isso é um aspecto fulcral em nossas investigações, o leitor irá sempre perceber a ―realidade‖ literária de maneira subjetiva. Será o cinema a criar ―extra subjetivamente‖ seu próprio mundo. Um passo à frente em relação à tradição narrativa do cinema clássico, a abordagem do cinema como uma realidade emocional é, ao nosso ver, aspecto determinante para o que caracterizaremos como cinema moderno, e que se consolidou a partir dos anos 1940. Objetivamos, neste trabalho, o aprofundamento das relações estruturais entre cinema e literatura, buscando elucidar, de modo específico, invariantes decisivas na interrelação entre a poesia e o filme. Colocaremos em evidência uma perspectiva crítica sobre a natureza expressiva que concerne a poesia de Arseni Tarkovski e o cinema de Andrei Tarkovski, cujos trabalhos e linguagens parecem o tempo todo, implícita e explicitamente, interagirem e amalgamarem-se, fazendo imergir leitor e espectador em um complexo residual de imagens e sonoridades, que dispõem sistematicamente componentes memoriais, históricos e afetivos. Resultará de nossa perquirição, por fim, nesta chave de leitura comparatista, as relações tensivas suscitadas pelas fronteiras aparentes entre tais sistemas distintos de expressão estética. Palavras-chave: Cinema; Interartes; Literatura russa; Poesia; Relações homológicas.

NOTAS E REFLEXÕES: LITERATURA DIGITAL, POESIA CONCRETA E O GÊNERO MANIFESTO

Angeli Rose do Nascimento (UNIRIO) [email protected]

A literatura digital tem suscitado inúmeras questões, tanto direcionadas para o ensino como para a teoria da literatura. Pesquisadores e produtores do campo das Letras têm encontrado alguma dificuldade para lidar com a teoria dos gêneros literários e as classificações estabelecidas em relação a eles, uma vez que novas textualidades e mesmo a expansão do campo literário são algumas das variações que colocam a produção digital entre o que se entende e toma por texto literário até o que se estendeu como artefatos literários. Neste sentido, propomos algumas reflexões sobre o ―Manifesto da literatura digital‖, escrito e propagado por Marcelo Spalding (2012) em cotejamento com proposições da poesia concreta e sua teoria (1958), do movimento concretista e a produção de seus signatários. O tratamento do recorte a que nos propomos fazer parte de uma comparação inicial que estabelece algumas diferenças e contiguidades possíveis, tanto no que tange o gênero textual manifesto, que segue uma tradição de ruptura na literatura brasileira, como o estabelecimento de algumas continuidades dentro de contextos intermidiáticos diferenciados. Deste modo, entendemos estar contribuindo para o debate do campo do literário e da arte, enfatizando o aspecto estético, sem deixar de lidar com o político na produção artística (Ranciére, 2012). Esta produção integra projeto de pesquisa em estágio pós-doutoral sobre formação inicial de professores e a leitura digital, na modalidade EAD, em contexto que considera a produção cultural e artística atual, o cibercidadão como categoria aproximada do leitor contemporâneo, além de ser estruturado a partir de metodologia dialógica (Bakhtin, 2003) e de pesquisa-formação (Bueno, 2000, apud Langorezi & Silva). Palavras-chave: Dialogismo; Literatura digital; Manifesto; Obra; Pesquisa-formação.

MEMÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE EM DIÁRIO DE BITITA, DE CAROLINA MARIA DE JESUS

Daniela de Almeida Nascimento (UNESP/FCLAr) [email protected]

Este trabalho propõe um estudo analítico da construção da identidade em Diário de Bitita (1986), enquadrando-o na tradição da literatura afro-brasileira (DUARTE, 2005). Publicado postumamente, a narrativa da escritora Carolina Maria de Jesus oferece uma leitura da história a partir da memória de um ―eu-que-se-quer-negro‖(BERND, 1988), característica da literatura negra. As memórias de Diário de Bitita cobrem o período a infância e juventude de uma mulher negra, que desafiou e superou imensas adversidades para existir desde seu nascimento numa pequena cidade de Minas Gerais, Sacramento, seu êxodo e errância por cidades mineiras e paulistas do interior, até a sua chegada a cidade de São Paulo. Há um empenho em resgatar uma memória negra apagada, cuja marca na escrita é a ruptura com contratos de fala e de escritura ditados pelo mundo branco (BERND, 1988). Cronologicamente anterior aos seus primeiros dois livros autobiográficos, Quarto de despejo (1960) e Casa de alvenaria (1961), Diário de Bitita, apesar do título, situa-se nas fronteiras entre memórias e autobiografia e integra o que reconhecemos ser um projeto literário idealizado, indicativo de uma busca por coerência e globalidade no qual Carolina de Jesus coloca-se como a autora da sua própria história, construindo, textualmente, sua identidade como escritora, mulher negra, brasileira, mas também como herdeira e participante de uma tradição ancestral africana. Pretende-se, então, uma análise da construção dessa identidade mediante o diálogo que a narrativa estabelece entre literatura, memória e história, o individual e o coletivo em quatro esferas: 1) a da autoria; 2) a do ponto de vista; 3) a da temática e 4) a da discursividade. Palavras-chave: Identidade; Literatura afro-brasileira; Memória.

O AMOR NATURAL, TRADIÇÃO E INQUIETUDES

Dibo Mussi Neto (UNESP/IBILCE) [email protected]

O amor natural representa, no conjunto da obra de Carlos Drummond de Andrade, momento marcante. É quando o amor se realiza em sua plenitude, expondo o seu contato mais íntimo, o íntimo suspiro da natureza humana. Nessa obra, o poeta propõe ―fazer uma síntese de modo a enobrecer as relações eróticas do amor‖. Buscamos, portanto, expor neste trabalho, como esse corpo poético se constrói na obra em questão, filiando-se a uma tradição milenar de poetas que cantaram a lírica de Eros, e que, nas palavras de Moraes (2015), interrogaram ―tais segredos para melhor conhecer o pacto entre a carne e a letra‖; sem deixar de perceber as inquietudes da obra drummondiana, como já destacara Candido (1965). Drummond, ao revelar o amor natural por meio de versos, revela também um conhecimento profundo desse canto do amor que ecoa desde o mundo antigo e, mais do que isso, revela uma poesia inquieta que vai buscar na tradição já consagrada parte da sua força para cantar a lírica de Eros. Sua natureza moderna envereda-se por fôrmas e formas já cultuadas, reinventando-as, a exemplo do que já fizera em Claro enigma (1951), quando opta por uma re-experimentação poética, desta feita para cantar o tema do amor, que agora se liberta das amarras do constrangimento e realiza-se explicitamente, trocando farpas com o mundo caduco, que insiste em não reconhecê-lo como natural ou em mercantizá-lo. Para fundamentar nossa reflexão, dentre outros, valemo-nos também de Gledson (1981), Paes (1983), Paz (1995), Villaça (2006), Marques (2009). Palavras-chave: O amor natural; Carlos Drummond de Andrade; Inquietudes; Tradição.

OLHOS D’ÁGUA... REPRESENTAÇÃO RACIALIZADA E SEXUADA NO CORPO DO TEXTO LITERÁRIO DE CONCEIÇÃO EVARISTO

Cláudia Maria Ceneviva Nigro (UNESP/IBILCE) [email protected]

Ao materializar sentimentos ou discursos misóginos / de ódio às mulheres negras, replicando o direito de usufruto do corpo feminino e dispondo e restringindo o espaço de atuação social da mulher, Conceição Evaristo, escritora afro-brasileira, compartilha um mundo outro exótico e de performances negativas que a sociedade brasileira a ―obriga‖ habitar. As protagonistas do livro de contos intitulado Olhos D’Água (2016) lhes pertence. HOOKS (1998), ANZALDÚA (1987) e BUTLER (2003) indicam como o discurso de gênero afeta os corpos abjetos, engendrando discursos capazes de suprimir a presença de sujeitos e fundamentando o discurso hegemônico. Conceição Evaristo, escritora contemporânea, escreve nas fissuras do sistema, servindo-se de linguagem literária própria do discurso hegemônico (considerada Guimarães Rosa de saias) para acrescentar, iterá-los à exaustão (DERRIDA, 1989), e propor significações próprias, destituindo as formas consagradas do dizer poético. Recebedora de honras, representando a literatura nacional nos Estados Unidos, em Moçambique, na Áustria, na França, em Portugal, entre outros países, escreve romances, poemas e contos que se envolvem no tratamento da linguagem de uma escrevivência, como ela própria diz. Uma língua entranhada no desejo do corpo reivindicatório. Uma língua assentada na (im)possibilidade do devir. Proponho com esse trabalho verificar como se dão as construções de feminilidades no discurso literário de Evaristo, principalmente no livro de contos Olhos D´Água (2016). Além de apresentar a maneira como a escritora magistralmente transmuta sujeitos abjetos e os exibe na mesma sociedade que os condena ao ostracismo, nosso objetivo. Palavras-chave: Conceição Evaristo; Gênero; Olhos D’Água.

A CONSTRUÇÃO PSICOLÓGICA DA BURGUESIA EM THÉRÈSE DESQUEYROUX (1927), DE FRANÇOIS MAURIAC

Andressa Cristina de Oliveira (UNESP/FCLAr) [email protected]

François Mauriac é um escritor francês do século XX, ganhador do Prêmio Nobel, contudo, atualmente, pouco conhecido e estudado no Brasil. Sua obra revela grande atualidade de temas graças ao desenvolvimento bastante aprofundado que dá à psicologia de seus personagens. O autor analisa seus sentimentos, caráter, reflexões e comportamento de forma bastante verossímil, permitindo-nos descobrir os recônditos da alma humana, conhecermo-nos melhor e, melhor compreender os outros. A isto, acrescenta-se a crítica à religião, embora pouco atual em relação a nossa contemporaneidade, e a crítica social, que ainda permanece atual. Em seus romances, Mauriac nos mostra uma sociedade demasiadamente preocupada com valores materiais, tais como o dinheiro, a propriedade privada, a reputação social, e pouco ligada a valores espirituais. Isso aniquila a sanidade psicológica dos personagens e suas relações entre si, impedindo-os, também, de serem livres, tornando-os dependentes em variados aspectos de suas vidas. Dessa forma, aqui, escolhemos analisar a questão da liberdade e da dependência no meio social burguês de Thérèse Desqueyroux, personagem principal da obra homônima publicada em 1927. Ela é uma das personagens da obra de Mauriac que deseja viver de forma diferente de sua família, sobretudo com mais liberdade. Contudo, esse desejo lhe custa a incompreensão e a recusa de seu meio. Nesta obra, evidenciam- se temas como a solidão, o desespero, o sufocamento, que causam o crime cometido por uma mulher incompreendida devido à cegueira das pessoas que a cercam, presas a tradições, estereótipos, conveniências e preconceitos ligados ao dinheiro e ao poder. Em nossa breve análise, destacaremos como Thérèse se sente aprisionada e sua necessidade de libertação, mesmo que seja por meio da tentativa de um crime. Como inspiração para escrever esta obra, Mauriac se baseou em uma história real, de uma mulher de Bordeaux chamada Blance Canaby que tentou envenenar seu marido. Vale ressaltar, ainda, que o personagem de Thérèse Desqueyroux é recorrente na obra de Mauriac, aparecendo em outras obras, como La fin de la nuit, Thérèse chez le docteur, e Thérèse à l'hôtel. Palavras-chave: François Mauriac, Romance francês do século XX; Thérèse Desqueyroux.

ESCRITAS CLARICIANAS: ENTRE CRÔNICAS E ENSAIOS BREVES

Marta Francisco de Oliveira (UFMS) [email protected]

Refletir acerca do projeto literário de Clarice Lispector envolve considerar a importante relação que a escritora teve com o jornal impresso, meio no qual publicava crônicas que, hoje, podem ser lidas em uma estreita relação com o ensaísmo breve latino-americano. Como cronista no Jornal do Brasil, escrevendo com regularidade e alcançando um público leitor ampliado, o fazer literário de Clarice se mescla com questões básicas a respeito de como desenvolver sua literatura de modo mais breve e pontual, paralelamente à escrita de outros contos e romances. Neste respeito, a crônica permite um trabalho mais livre e diversificado no qual a escritora desenvolve um estilo próprio, e o leitor se depara com um modo de escritura que o ajuda a compreender questões de reflexão estéticas e definir o projeto literário clariciano. Abarcando temas diversos, as crônicas de Clarice Lispector são a um só tempo a demonstração tanto de seu trabalho como jornalista, exercido desde muito nova, inclusive antes da publicação de seu primeiro romance, Perto do coração selvagem, como de sua forma peculiar de pensar e criar sua escritura, sua literatura, às voltas com temas e acontecimentos próprios do meio de comunicação no qual publica entre parte das décadas de 1960 e 1970. Independentemente de quais razões a tenham levado a aceitar se tornar cronista no Jornal do Brasil, Clarice usou este espaço semanal como uma oficina de escrita, um exercício para a produção literária, sobressaindo-se como escritora e aproximando-se da forma de produção ensaística breve que se desenvolve, de modo crítico e consciente, na América Latina. Palavras-chave: Clarice Lispector; Crônicas; Ensaio breve; Literatura.

O MINICONTO TREVISANIANO E A GÊNESE DO MINICONTO NO BRASIL

Camila Gouvea Prates de Paiva (UEL) [email protected]

O marco inicial da história do miniconto no Brasil é ambíguo, isso porque não há como precisar uma data específica para o momento. Alguns estudiosos, como Márcio Almeida, costumam afirmar que as produções de autores mineiros na década de 1960 são as prercussoras do formato mini, com a figura de Elias José ao centro. Já Marcelo Spalding e Pedro Gonzaga atribuem o início do miniconto no Brasil a uma publicação específica de 1994: o livro Ah, é?, de Dalton Trevisan. Mas definir o livro Ah, é? como marco do miniconto no Brasil pode ser considerado um posicionamento errôneo, porque mesmo o próprio Dalton Trevisan já vinha produzindo contos concisos e enxutos, conforme a sua característica estilística. Uma vez que a narrativa trevisaniana é marcada pela repetição, fato comprovado por meio da leitura de seus livros, nos quais os nomes, as características físicas e psicológicas, os distúrbios das personagens estão sempre presentes, como se elas fossem as mesmas. Além disso, ao conseguir manter sua produção num curto espaço do papel Trevisan já ensaiava a produção de minicontos, que seria sua especialidade no decorrer da carreira artística, culminando na produção do livro Ah, é?. Então, o que se pretende dizer aqui acerca da obra do vampiro, é que mesmo antes de ser consagrado escritor de miniconto, ele já vinha produzindo contos minimalistas em sua essência. Um clássico de Dalton que pode ser encarrado como miniconto, antes mesmo da temática definida, é ―Uma vela para Dario‖, de 1964, sendo extremamente curto se pensarmos em contos, pois contém aproximadamente 500 palavras, ou seja, um limite baixo para a produção. Por isso, acreditamos que o autor deve ser celebrado como um marco na historia do miniconto brasileiro, não pela gênese da produção, mas por ser aquele mais conhecido e pela intimidade que apresenta frente ao tema. Palavras-chave: Ah, é?; Dalton Trevisan; Miniconto no Brasil.

O RETORNO DA IMAGEM REALIZADO POR RODRIGO DE SOUZA LEÃO COMO UM CAMINHO PARA SE PENSAR O OLHAR DA SOCIEDADE À LOUCURA

Monelise Vilela Pando (UNESP/IBILCE) [email protected]

A partir do cotejo da obra literária e plástica do artista brasileiro e contemporâneo Rodrigo de Souza Leão, o trabalho pretende investigar quais são as questões levantadas pela temática da loucura e, como esse tema, que é também dado biográfico do escritor e pintor, é organizado e ressurgido socialmente. Pensando à luz de ideias como a de retorno da imagem de Didi-Huberman (2015), buscamos demonstrar como a obra de Leão não fica circunscrita apenas ao paradigma da loucura, mas traz esse assunto e o restitui à esfera da discussão pública, realizando algo possível de ser entendido como uma reinserção à sociedade daqueles que por séculos foram postos à sua margem em atos higienistas e moralmente justificados. A imagem e sua noção de potência visual e discursiva sistematizam a importância do trabalho de Rodrigo de Souza Leão e tais iluminações da literatura em sua pintura e vice-versa se encontram nas perquirições centrais para o entendimento da notabilidade do todo de sua obra como força desencadeadora de uma série de reflexões, inclusive editoriais e mercadológicas, no que se refere ao mercado da arte. Questões como de caráter provocador sobre o caráter do que representa e diz o fato de sua loucura ter sido exposta em seus quadros em um museu, ou estampando capas de seus livros. Palavras-chave: Literatura contemporânea brasileira; Literatura e Loucura; Literatura e Pintura.

O VENDEDOR DE PASSADOS: DIÁLOGO ENTRE A OBRA DE JOSÉ EDUARDO AGUALUSA E O FILME DE LULA BUARQUE DE HOLLANDA

João Gabriel Pereira Nobre de Paula (UEM) [email protected]

A proposta do presente trabalho busca estabelecer diálogo entre a obra O vendedor de Passados, publicada no ano de 2004 e de autoria do escritor angolano José Eduardo Agualusa, e sua adaptação cinematográfica homônima, de 2015, sob a direção de Lula Buarque de Hollanda. Dividido em três momentos, entendemos ser mister, por se tratarem de campos distintos do universo artístico, destinar à primeira parte de nossas ponderações um caráter mais teórico, correspondendo a uma breve exposição acerca do processo de adaptação de uma obra literária para o cinema, a qual compreende mais do que o debate a respeito da fidelidade, como implica noções como hipertextualidade e intertextualidade. A fim de cumprir tais prerrogativas, valemo-nos de algumas considerações de autores como Naremore (2000), Metz (1972) e Stam (2008), entre outros. Em seguida, importa-nos discorrer acerca de aspectos mais contextuais, ligados à criação literária do escritor angolano, bem como elucidar o enredo do romance tomado por objeto de estudo. Por fim, atendendo a nossa premissa inicial, buscamos destacar os diferentes pontos entre a obra tida como ―original‖ e sua adaptação, e alguns dos possíveis efeitos produzidos pelas alterações existentes. Como resultado, foi possível observar que a matriz fabular está presente nas duas materializações artísticas, mas que alguns aspectos fazem a obra de Agualusa ter um fundo de criticidade maior e um objetivo diferente da adaptação fílmica do cineasta brasileiro. Palavras-chave: Diferenças; O vendedor de passados; Obra Cinematográfica; Romance.

MIL E UM MISTÉRIOS, DE ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO: UMA PARÓDIA DAS NARRATIVAS DE TERROR

Luciene Marie Pavanelo (UNESP/IBILCE) [email protected]

António Feliciano de Castilho (1800-1875) é um escritor português raramente estudado, lembrado apenas pela sua contenda com Antero de Quental, na Questão Coimbrã (1865), por ser um representante da ―velha geração‖ de poetas românticos, contra os quais a Geração de 70 se insurgiu. Apontado por Maria Leonor Machado de Sousa, em O “Horror” na Literatura Portuguesa e A Literatura “Negra” ou de Terror em Portugal, como o precursor da literatura gótica portuguesa, devido à sua balada ―A Noite do Castelo‖ (1836), Castilho é também aquele que foi responsável pela ―verdadeira sátira ao romance de horror‖ (SOUSA, 1979, p. 59) em Portugal. Pelo fato de Castilho ter entrado na historiografia como poeta, a crítica literária praticamente ignora a publicação de Mil e um Mistérios: romance dos romances, cuja primeira parte foi lançada em 1845. A obra recebeu uma continuação na edição de 1907, publicada pelo seu filho, a partir de um fragmento encontrado entre os manuscritos de Castilho, mas, mesmo assim, permaneceu incompleta. Apesar de inacabado, o romance merece ser estudado pelo fato de ser uma das poucas paródias à narrativa de terror feitas em Portugal. Sendo assim, é nosso objetivo apresentar uma análise de Mil e um Mistérios, de forma a enriquecer a compreensão da ascensão do romance português, tendo-se em vista que o romance de Castilho fora publicado na década de 1840, a década que assistiu ao lançamento das narrativas históricas, repletas de elementos da literatura gótica, de Alexandre Herculano. Palavras-chave: António Feliciano de Castilho; Literatura Portuguesa; Narrativa de terror; Paródia; Século XIX.

TIPOS HUMANOS EM CONTOS DE MACHADO DE ASSIS E GUIMARÃES ROSA

Raquel Cristina Ribeiro Pedroso (UNESP/FCL) [email protected]

O trabalho analisa a constituição de protagonistas dos contos ―O espelho‖ (1882) e ―A causa secreta‖ (1885), de Machado de Assis, em diálogo com ―A terceira margem do rio‖ e ―O espelho‖, formas breves de João Guimarães Rosa, presentes nas Primeiras Estórias, de 1964. Temos por objetivo demonstrar o modo machadiano de elaborar tipos humanos em ambiente literário a partir da tensão entre o ato de colocar e retirar máscaras sociais de acordo com as circunstâncias. A partir da interlocução com os contos de Guimarães Rosa, elencamos o que Alcides Villaça (2013) afirma ser a demonstração da consciência humana e de sua identidade social pelo olhar do outro, ou melhor, pela identificação do que o outro lhe atribui: o elemento exterior é interiorizado ao ponto de fazer parte da subjetividade dos protagonistas, num polo de produção, reprodução e anulação do eu. Machado de Assis e Guimarães Rosa problematizam a necessidade vital da imagem de si refletida pelo olhar do outro como parte intrínseca do processo de autoafirmação e autoconhecimento. A figura do menino que percebe a partida do pai para a terceira margem do rio vincula-se ao desvelamento de Jacobina pela visão de seu reflexo no espelho e sua busca por reconhecer-se diante de máscaras sociais; aceitamos a proposição do personagem machadiano que afirma existir duas almas (uma interior e outra exterior) e pactuamos com uma dualidade de leitura entre o que é visível pelo reflexo da imagem no espelho/rio, e o que fica recolhido, agindo na configuração do sujeito narrativo. Palavras-chave: Espelhos; Machado de Assis; Tipos humanos.

TRAGÉDIA GREGA E DIREITO: A CONTRIBUIÇÃO DE PROMETEU PRISIONEIRO, DE ÉSQUILO

André Luiz Gardesani Pereira (UNESP/IBILCE)

Este estudo aborda a intersecção entre a literatura grega clássica e o direito em Prometeu prisioneiro, de Ésquilo. Adota como ponto de partida as teorias de Lesky, Nietzsche, Jaeger e Vernant sobre a origem da tragédia grega e sua função cívica no contexto da pólis. A pesquisa também se aporta no trabalho dos teóricos da interface direito e literatura, ao lado dos estudos interdisciplinares e da literatura comparada, especialmente da comparação da literatura com outras esferas do conhecimento humano. O objetivo geral consiste em demonstrar que a intersecção da literatura com o direito pode atender a diversas expectativas do homem moderno. No caso específico da tragédia, a função pedagógica, ao revelar erros e vícios que não devem ser cometidos, educa o leitor ou expectador. A ―força educativa‖ de Prometeu prisioneiro adverte que o operador do direito deve primar pelo conhecimento para o progresso das ciências jurídicas; que o crime, excepcionalmente, pode ser dotado de uma função social ou estar amparado por uma causa justificadora e que o delito deve necessariamente ser punido, mediante a imposição de penas razoáveis, marcadas pelo equilíbrio entre a infração praticada e a sanção imposta. Objetiva-se, ainda, demonstrar como a metódica de interpretação literária pode ser útil para identificar a temática jurídica na tragédia grega e repensar institutos do direito. Como resultado, obter-se-á a ampliação e fusão dos horizontes da literatura e do direito, sobretudo sob o ponto de vista da identificação e compreensão do direito e dos seus fenômenos na tragédia grega. Palavras-chave: Direito e literatura; Ésquilo; Prometeu prisioneiro; Tragédia grega.

IMAGENS DA MELANCOLIA E DA SOLIDÃO NO ROMANCE NÃO É MEIA- NOITE QUEM QUER, DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Daniella Sigoli Pereira (UNESP/IBILCE) [email protected]

No romance Não é meia-noite quem quer, de António Lobo Antunes, flagramos o fim de semana de uma mulher de meia-idade que decide visitar a antiga casa de praia da família. Nesse lugar, a personagem é tomada por numerosas lembranças da sua infância. Acessamos, dessa maneira, as tragédias da sua família no passado, marcada por um casamento arruinado dos pais, pela a presença de um irmão surdo sempre incomunicável, de um irmão que regressa louco da guerra e de outro que comete suicídio no Alto da Vigia, próximo a essa casa, e que se torna, durante todo o trajeto existencial da protagonista, uma fixação perturbadora. O resgate dessas memórias desperta e anuncia um lado solitário e melancólico permanente na vida da personagem, pois a vida adulta e presente já não se mostra melhor. Seu casamento é frustrante, seu emprego sem graça, ela, vítima de câncer, sofreu uma mutilação na mama e perdeu no ventre o único filho que tentou gerar. Descrevemos, dessa forma, a personagem e sua existência como melancólicas no sentido de que o sujeito melancólico é, de certa maneira, obcecado por um objeto perdido (nesse caso o irmão que se matou) e não consegue se livrar dele tão facilmente porque esse objeto passa a se tornar motivo de identificação inconsciente com o melancólico. As construções imagéticas de que o autor se utiliza dão força a essa caracterização desoladora de sua vida ao mesmo tempo que contribuem, no campo linguístico, para a construção de uma narrativa marcadamente lírica. Assim, o regresso à casa e, principalmente, o retorno ao Alto da Vigia no fim da sua viagem anunciam-se, diante dessa existência melancólica e solitária, como um convite pulsional para o seu próprio fim. Palavras-chave: António Lobo Antunes; Lirismo; Melancolia; Solidão.

A PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃO SEGUNDO SERGUEI EISENSTEIN

Erivoneide Marlene de Barros Pereira (UNICAMP) [email protected]

O cineasta e teórico russo Serguei Eisenstein propõe uma análise do ensaio "The philosophy of composition", do escritor Edgar Allan Poe, buscando elementos para a compreensão do mecanismo da composição artística a partir da tessitura literária. Tal movimento proposto por Eisenstein advém do seu interesse pela Literatura como uma estrutura artística capaz de provocar o leitor/espectador, por meio de aspectos formais e estilísticos. Cabe ressaltar que Eisenstein estabelece a investigação do texto literário como um laboratório para o estudo da criação artística em suas dinâmicas pedagógicas apresentadas aos alunos do curso de direção cinematográfica do Instituto Estatal de Cinema Russo (VGIK). Um dos resultados de sua aproximação com a arte literária é o estabelecimento do fenômeno que denominou de expressividade, efeito que tem origem na experiência artística, como resultado do tratamento dado pelo autor à sua matéria artística. Nessa perspectiva, a Literatura contribui para o desenvolvimento do Cinema enquanto linguagem ao demonstrar de que modo é possível construir uma imagem artística plena de sentido através da palavra (matéria), abstrata, que conduz a um conceito concreto, manifesto na estrutura da obra. Desse modo, esta comunicação abordará alguns aspectos do processo criativo discutidos por Eisenstein em seu texto intitulado The psychology of composition, delineando os pressupostos apresentados por Edgar Allan Poe e explorando uma possível elaboração de uma base teórica para a composição artística a partir do texto literário. Palavras-chave: Cinema; Edgar Allan Poe; Eisenstein; Literatura Comparada.

AS FIGURAÇÕES DO FEMININO EM DESMUNDO, DE ANA MIRANDA

Juliana Cristina Minaré Pereira (UNESP/FCLAr) [email protected]

O presente trabalho apresentará as discussões que estão sendo desenvolvidas para o primeiro capítulo na dissertação ―As figurações do feminino em Desmundo (1996)‖, de Ana Miranda. Abordaremos questões que são fundamentais para a compreensão da obra, tais como o que contém a fortuna crítica da autora, seu estilo de escrita, o período sócio-histórico no qual é produzida a obra, a qual tem seus efeitos na sociedade, que transcendem a arte literária. Nessa perspectiva, traremos para o debate a importância dos movimentos feministas, sua relevância frente ao cenário social da condição feminina, suas nuances e, sobretudo, suas interfaces com a Literatura. Discutiremos também o surgimento da crítica literária feminista na década de 1970, elementar para a ampliação da voz feminina dentro da Literatura e seus resvalos em todas as esferas sociais. Discutiremos como o surgimento da metaficção historiográfica, reflexo da Pós- Modernidade, contribuiu para que narrativas de autoria feminina seguissem, contestando o discurso hegemônico dentro e fora da literatura, dando voz à mulher, historicamente silenciada. É através dessa abertura discursiva que essas figuras passam a ser ouvidas e a condição das mulheres ganha centralidade nos debates sócio-políticos, visando uma ruptura na condição de subjugação histórica imposta pelo patriarcado. Intencionamos traçar um paralelo entre todas essas questões sociais e literárias que giram em torno da figura feminina através do olhar que Oribela, personagem narradora, tem sobre o ‗desmundo‘ e todas as imposições que lhe foram feitas. Intentamos, por fim, mostrar como a construção de uma personagem órfã do século XVI, retirada à força do convento, com seu discurso combativo, completamente fora dos padrões tradicionais da época, reforça e colabora com os movimentos feministas indicando-nos que não tem como estar em conformidade com esse lugar subalterno imposto à mulher. Ao longo da análise mostraremos como a luta da personagem contra o adestramento pelo casamento, contra o sexo forçado e todas as outras imposições sociais da época, em consonância com o discurso patriarcal e hegemônico da Igreja, colabora para essa luta feminista na contemporaneidade. Palavras-chave: Desmundo; Discurso; Feminino.

AS PERSONAGENS JEAN VALJEAN, JAVERT, MYRIEL E ENJOLRAS EM LES MISÉRABLES E SUA RELAÇÃO COM A CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA ILUMINISTA LEGALISTA

Maria Júlia Pereira (UNESP/FCLAr) [email protected]

Esta pesquisa pretende demonstrar, no romance Les Misérables (1862), de Victor Hugo, a relação das personagens Javert, Jean Valjean, Myriel e Enjolras com a concepção de justiça iluminista, que nelas provoca importantes reações e, por isso, é possivelmente um importante móvel da ação da história, determinando o senso de justiça que constitui e transforma as personagens, além de guiá-las no meio social e político apresentado na obra. Nesse sentido, este trabalho abordará a constituição, a ação e a transformação das personagens na narrativa e na história com o auxílio de textos teóricos sobre a personagem romanesca (BAKHTIN, 2003; CANDIDO, 1979; VIEIRA, 2008; ZÉRAFFA, 1971), bem como por meio da fortuna crítica de Victor Hugo (ACHER, 1985; ALBOUY, 1968; PARENT, 2014; ROSA, 1985). Tratará da concepção de justiça iluminista a partir do pensamento de Kant quanto à legalidade, à moralidade e à justiça fundamentada na liberdade e na obediência à lei jurídica; sendo também relevante, para análise da personagem Enjolras, o pensamento de Montesquieu no que diz respeito às idéias de insurreição, república democrática, virtude política e sua relação com a justiça. Mais especificamente, se buscará evidenciar: a oposição à concepção de justiça legalista encarnada pela personagem Jean Valjean, condenada e injustiçada pelo sistema legal; a relação da personagem Javert com a concepção de justiça enquanto conformidade à lei, traduzida em sua postura legalista extremada e também em sua reação ao legalismo – a ruptura representada pelo suicídio – pois a lei implica injustiça, e, portanto, não se sustenta; como a personagem Myriel representa reação à concepção de justiça legalista, visto que concebe a equidade como justiça; a oposição da personagem Enjolras ao legalismo, na medida em que lidera a insurreição contra a ordem imposta e crê em uma república democrática, baseada na equidade e apta a construir uma sociedade fraterna e justa. Palavras-chave: Concepção de justiça iluminista legalista; Les Misérables; Personagem.

―A DEEPER EXILE‖: ENTRE A POESIA E A HISTÓRIA

Fernando Aparecido Poiana (UNESP/IBILCE) [email protected]

A presente comunicação pretende analisar o poema ―A Deeper Exile‖, do poeta, romancista e crítico literário norte-irlandês Seamus Deane (1940). O argumento central dessa proposta de leitura é que o poema em questão, publicado no livro Rumours (1977), tematiza as noções de perda e solidão que afetam diretamente a percepção do eu-lírico sobre os seus afetos e a sua realidade imediata. Metodologicamente, essa proposta de análise organiza-se em duas etapas distintas e complementares. Primeiramente, busca-se realizar uma leitura cerrada (close reading) dos aspectos formais do poema, seu tom e dicção. A fundamentação teórica dessa etapa é formada, basicamente, pelos livros Practical Criticism (1929), de I. A. Richards, e How to Read a Poem (2007), de Terry Eagleton. Em seguida, busca-se entender de que modo as escolhas retóricas de Deane em ―A Deeper Exile‖ fazem com que o poema dê forma a algumas das tensões e contradições que permeiam o seu contexto sócio-histórico- cultural de produção e publicação. Essa segunda etapa da análise é fundamentada pelas discussões propostas por Steven Matthews em Irish Poetry: Politics, History, Negotiation (1997) e por Declan Kiberd em The Irish Writer and the World (2005). A hipótese, portanto, é que ―A Deeper Exile‖ é tomado por certo senso de perplexidade por meio do qual o poema dialoga com a realidade de onde surge. Palavras-chave: Poesia Irlandesa; Seamus Deane.

O ESPAÇO URBANO NA OBRA DA ESCRITORA CATALÃ MONTSERRAT ROIG

Nelson Luís Ramos (UNESP/IBILCE) [email protected]

O cunho nacionalista, a ideologia de esquerda e a emancipação da mulher têm lugar de destaque na obra de Montserrat Roig (1946-1991), escritora e jornalista catalã. Tendo em vista que sua trajetória literária pode ser dividida em duas fases (morreu muito nova), é a primeira – cuja ênfase aparece, sobretudo, em Ramona, adéu (1972) e El temps de les cireres (1977) e que apresenta uma espécie de painel histórico da Barcelona indo dos finais do século XIX até os anos 70, centrada quer na pequena burguesia do bairro do Eixample, quer no protagonismo feminino –, a que nos interessa. Em La voz testimonial en Montserrat Roig (1996), Christina Dupláa, professora de literatura espanhola do Dartmouth College (EUA), afirma que ―no caso de Montserrat Roig, o espaço urbano denominado Barcelona é elevado à categoria de personagem- testemunho, tanto na narrativa de ficção como em reportagens e crônicas jornalísticas‖ (p.142). Em sua análise de Roig, Dupláa aborda principalmente a questão da mulher e do espaço urbano, da memória e do testemunho, das identidades espanhola e catalã e o pós-franquismo, dentre outras, enfatizando que o ―hilo conductor de su obra es, desde ele principio hasta el final, la lucha física y psíquica por reivindicar la memoria cultural de los pueblos como parte de sus señas de identidad‖ (p.170). Em um artigo publicado em Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea (2015), a pesquisadora Sandra Goulart de Almeida ressalta que o espaço é categoria enunciativa que ―perpassa a literatura contemporânea, não apenas a literatura brasileira, mas também a cena literária de vários outros países, nos quais o espaço, em especial o urbano, ganha destaque‖ (p.16). Desta forma, visando aprofundar essa discussão sobre o espaço e a cidade em Montserrat Roig, recorreremos a Dupláa bem como a estudos brasileiros contemporâneos que analisam a categoria em questão, além das obras do crítico canadense François Paré – Les littératures de l’exiguïté (1992) e Théories de la fragilité (1994) – que tratam da exiguidade e das literaturas minoritárias (como é o caso da catalã) e da ênfase que estas atribuem ao espaço. Palavras-chave: Cidade; Espaço; Identidade; Literatura catalã; Literaturas minoritárias.

O FLUXO DE CONSCIÊNCIA NO CONTO "RODA DE PAU", DE DINORATH DO VALLE

Pâmela Coca dos Santos Ramos (UNESP/IBILCE) [email protected]

Dinorath do Valle foi, além de professora e importante personagem na história cultural da cidade de São José do Rio Preto – SP, autora de obras tais como o romance Pau Brasil, laureado com o Prêmio Casa de Las Americas (Cuba) em 1982 e o livro de contos O vestido amarelo, laureado com o Prêmio Governador do Estado em 1971. O conto "Roda de pau", objeto deste trabalho, é um dos 27 contos de O vestido amarelo. No conto em questão, o protagonista, Paulão, interrompe seu trabalho para ir ao banheiro e, lá, relembra episódios violentos de sua vida familiar, demora, por isso, a voltar ao trabalho, e é demitido. Neste trabalho, procuramos estudar o modo como o fluxo de consciência, foco narrativo com o qual o conto é narrado, contribui para o desenvolvimento da fábula do conto, de seus conflitos e desdobramentos. Para isso, teremos como base para nossos estudos, obras tais como O ponto de vista na ficção (2002) de Norman Friedman e Foco narrativo e fluxo de consciência (2012), de Alfredo Leme Coelho de Carvalho. Esperamos, com este estudo, mostrar que, ao serem narrados por meio do fluxo de consciência, os momentos de violência sofridos pelo protagonista nos levam a conclusão de que a violência que ele mesmo utiliza é um resultado e uma perpetuação da violência sofrida no passado. Palavras-chave: Dinorath do Valle; Fluxo de Consciência; Roda-de-pau.

DO MÍTICO AO MARAVILHOSO: VARIAÇÕES E PERMANÊNCIAS ENTRE ―CUPIDO E PSIQUÊ‖ E ―O CADEADO‖

Adriana Aparecida de Jesus Reis (UNESP/IBILCE) [email protected]

Maria Celeste Tommasello Ramos (UNESP/IBILCE) [email protected]

O mito de ―Eros e Psiquê‖ ou ―Cupido e Psiquê‖ é narrado nos livros IV, V e VI do romance O asno de Ouro ou Metamorfoses, de Lúcio Apuleio, romano que viveu de 125 a 170 d. C. Neste romance, constituído por onze livros, são narradas as peripécias de Lúcio metamorfoseado em asno, mudança provocada pelo equívoco de sua amada Fótis, auxiliar e serva da feiticeira Panfília. Dessa forma, as aventuras de Lúcio servem de moldura para a narrativa mítica intitulada ―Eros e Psiquê‖. Na fonte desse texto da literatura latina, bebeu o escritor italiano Giambattista Basile (1575-1632), que, na sua obra-prima Pentamerone, fez do mito a inspiração para desenvolver a nona história narrada na segunda jornada, que tem o título de ―O cadeado‖ (―Il catenaccio‖). Trata-se da narração a respeito das aventuras vividas pela protagonista Lucinha e o seu caso amoroso com o moço encantado. Na presente comunicação, buscamos verificar como se dá o diálogo intertextual entre o texto-fonte mitológico e o conto maravilhoso italiano, uma vez que a retomada do mito clássico latino por um autor barroco é, a nosso ver, muito significativa. Na análise, tomaremos como base reflexões críticas e teóricas de Samoyault (2008), Eliade (2012), Grimal (2011), Croce (2010) e Ramos (2018) para considerarmos as variações e permanências entre as duas narrativas cotejadas, verificando assim como se dá a transformação do texto mítico, de autoria de Apuleio, realizada na estruturação do texto maravilhoso, de autoria de Basile. Palavras-chave: Conto maravilhoso; Cupido e Psiquê; Literatura Italiana; Mitologia; O cadeado.

AS MÚLTIPLAS REFERENCIAÇÕES EM ATONEMENT, DE IAN MCEWAN

Mariana Crozzatti Renofio (UNESP/IBILCE) [email protected]

Atonement pode ser descrito como uma mistura de aspectos e referenciações literárias que ultrapassam a barreira do tempo e remontam, inclusive, ao surgimento do romance como gênero literário, uma vez que McEwan insere referências a outras obras em ordem cronológica, iniciando-se no século XVIII, com as obras que dão origem ao romance como gênero textual e literário, e percorrem os séculos, passando pelo XIX até chegar à contemporaneidade. Além da Literatura, a História é usada como parte integrante da obra, sendo utilizada não apenas como ―pano de fundo‖ para o enredo, mas, mais do que isso, McEwan utiliza-se dos acontecimentos históricos e de suas memórias — criadas pelas narrativas do pai, integrante do exército inglês durante a Segunda Guerra Mundial — para tecer críticas, principalmente, contra aqueles que usaram a Segunda Guerra Mundial como meio de enriquecimento. Contudo, toda a grandiosidade da narrativa é evidenciada com o uso autoconsciente que McEwan faz da estrutura do romance: lançando mão de estratégias narratológicas, como a focalização, o escritor cria não só uma grande obra metalinguística, uma vez que Atonement narra a si própria, mas também discute ―polêmicas‖ que perpassam a história da narrativa, como a verdade ficcional. Palavras-chave: Atonement; Focalização; McEwan; Ponto de vista; Reparação.

DINORATH DO VALLE NAS ONDAS DA RÁDIO: UM ESTUDO SOBRE A CRÔNICA LITERÁRIA NA INDEPENDÊNCIA AM DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Vera Lúcia Guimarães Rezende (UNESP/IBILCE) [email protected]

A escritora Dinorath do Valle (10/07/1926 - 01/05/2004) construiu sua carreira jornalística e literária por quase 60 anos, em São José do Rio Preto, no interior do Estado de São Paulo e, mesmo longe de São Paulo e Rio de Janeiro, principal eixo da cultura nacional, foi premiada em 14 concursos internacionais e nacionais de literatura. Dinorath é mais uma escritora brasileira cujas obras ficaram recônditas a uma região, neste caso o Noroeste paulista, onde exerceu intensa atividade na imprensa de São José do Rio Preto, escrevendo crônicas para o jornal e para o rádio locais, e posteriormente contos e romances. Visando compreender o processo de formação da escritora Dinorath do Valle, este trabalho debruça-se sobre as narrativas que transitam entre o jornalismo e a literatura e que, de certa forma, representam os primórdios da técnica de composição literária revelada anos mais tarde. Propõe-se a abordagem crítica das crônicas veiculadas pelo rádio, mídia sonora acessível a todas as classes sociais, por meio das quais ela produziu narrativas analíticas, poéticas e de comentários, como convém à crônica literária genuína. Dinorath do Valle escreveu mais de 500 crônicas para a Rádio Independência AM e a despeito de constar entre as autoras reunidas por Nelly Novaes Coelho em seu Dicionário crítico das escritoras brasileiras (2002), sua produção literária e cronística de Dinorath do Valle está relegada à margem e suas narrativas pouco conhecidas do mundo acadêmico e de novas gerações de leitores. Espera-se que por meio dessa pesquisa seja possível impedir seu total apagamento, uma vez que seus livros estão esgotados e suas crônicas são praticamente inéditas, pois nunca mais vieram a público depois de veiculadas pela imprensa e pelo rádio do interior paulista. Palavras-chave: Apagamento; Autoria feminina; Crônica literária; Mídia sonora.

VERMELHO, INCOLOR, VERDE E AMARELO: O TEMA DA MATURIDADE EM "CHAPEUZINHO" NA TRADIÇÃO E NA MODERNIDADE

Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro (UNESP/FCLAr) [email protected]

Chapeuzinho Vermelho é um conto popular de tradição oral que tem forte marca no folclore ocidental, possuindo diversas versões, paródias e releituras. Neste trabalho, tomamos três narrativas modernas que buscam traduzir e ressignificar a clássica história: "The little girl and the wolf", fábula de James Thurber; "Fita verde no cabelo", conto de Guimarães Rosa e Chapeuzinho Amarelo, livro infantil escrito por Chico Buarque e ilustrado por Ziraldo. O objetivo é verificar como essas três composições constroem novas figurações da protagonista partindo do tema da maturidade. Assim, é possível que apontemos o que afasta e aproxima os três textos - entre si e em relação ao conto popular. Por isso, propomo-nos a verificar como essas diferentes formas literárias - uma fábula, um conto curto e uma narrativa em versos - retomam a folclórica história de "Chapeuzinho Vermelho" para representar o tema em pauta. Para tanto, devemos pensar as características do conto de tradição oral e estabelecer suas possíveis relações com o gênero fabular. Para a consecução de tal objetivo, lançamos mão de teorias sobre contos maravilhosos e fábulas para a análise das narrativas, das quais podemos citar A forma da fábula, de Alceu Dias Lima e O conto popular, de Michèle Simonsen. Ao analisarmos as três composições, percebemos que os textos modernos edificaram protagonistas mais autônomas e maduras que a personagem clássica, criando personalidades que conseguem vencer, por si próprias, os obstáculos a elas impostos. Palavras-chave: Conto popular; Fábula; Literatura comparada.

HERÓIS EFÊMEROS: UMA LEITURA DA OBRA INFERNO PROVISÓRIO DE LUIZ RUFFATO

Ingrid Zanata Riguetto (UNESP/IBILCE) [email protected]

O nosso trabalho visa investigar as peculiaridades literárias que fazem do projeto Inferno Provisório (2005-2012), de Luiz Ruffato, romances que buscam representar ficcionalmente os diversos grupos que compõem e caracterizam a estrutura social brasileira em processo de modernização (1950-2013). De acordo com Karl Eric Shøllhamer (2010), Luiz Ruffato dá continuidade ao realismo, portanto, representa em suas obras aspectos de uma realidade social profunda, reelaborando-os ficcionalmente, fazendo emergir a figuração de trabalhadores menores e mal remunerados, malandros, sujeitos à margem do sistema capitalista ou excluídos sociais, contudo por meio de uma linguagem fragmentária. Diante disso, com o auxílio de sociólogos como Émile Durkheim, Norbert Elias, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, Antonio Candido, compreenderemos como essas questões socioculturais estabelecem-se na relação indivíduo/sociedade dentro do microcosmo ficcional de O inferno provisório (2005- 2013) para, a partir da análise dos múltiplos e fragmentários heróis que perpassam as obras de Ruffato, investigar como esses romances representam o processo de modernização nacional, sobretudo a partir da imagem da cidade e suas transformações, motivada pela fragmentação, que a obra representa de modo tanto estrutural como temático, articulada a partir de uma lógica própria, a da permanência e da ruptura, linha de leitura pela qual perceberemos não só os elos entre os capítulos, na formação dos romances, mas também as relações entre os cinco romances da pentalogia. Palavras-chave: Literatura contemporânea; Luiz Ruffato; Modernização do Brasil.

A SUBMISSÃO DA MULHER MODERNA AO PATRIARCADO EM "DÃO- LALALÃO", DE GUIMARÃES ROSA

Natália Calderan Rissi (UFSCar) [email protected]

Este trabalho propõe analisar a novela ―Dão-Lalalão‖, de João Guimarães Rosa, por meio de uma leitura política, conforme proposta por Jameson (1992), a fim de revelar o subtexto histórico em um segundo nível de leitura (FERRREIRA, 2003), em que pretende-se apreender as questões sociais e históricas presentes na narrativa. A novela é ambientada nos Gerais, uma das nuances do sertão, que estão sendo, aos poucos, atingidos pela modernização, configurando uma nova ordem social. A fim de compreender essa nova ordem social, caracterizada pelo patriarcado, o qual é representado por Soropita, mas que vem sofrendo mudanças com a chegada da modernização, que é representada por Doralda, e caracteriza-se, portanto, como uma nova ordem ambígua, serão analisadas essas duas personagens, centrais na narrativa, e como estas dão forma às tensões do período histórico retratado na novela, ambientada entre as décadas de 1930 e 1940 (RONCARI, 2007). Este estudo focará sua análise, sobretudo, em como Doralda, ex-prostituta, mesmo sendo a representação da mulher moderna e da modernização, acaba sendo submissa ao patriarcado ao ser submissa ao seu marido, o ex-matador Soropita. Este estudo pretende mostrar, a partir da análise destas personagens da narrativa rosiana, como a modernização ainda encontra dificuldades em ser implementada no interior do Brasil, onde o sistema paternalista é dominante. Para isso, a proposta de leitura desta novela se baseará nos estudos de Candido (1951), Freyre (2006), Roncari (2007) e Soares (2007; 2008). Palavras-chave: Dão-Lalalão; Guimarães Rosa; Leitura política; Modernização; Patriarcado.

BORGES E BERTOLUCCI: A REMEMORAÇÃO LITERÁRIA SOB O VIÉS DA TRADUÇÃO

Ana Claudia Rodrigues (UNESP/FCLAr) [email protected]

Pretende-se para esta comunicação uma análise de cunho intersemiótico do conto ―Tema do traidor e do herói‖ (1944), de Jorge Luis Borges, no filme ―A estratégia da aranha‖ (1970), de Bernardo Bertolucci. Separados no tempo e no espaço, Bertolucci, pelos princípios da tradução, recria o conto de Borges na linguagem do cinema, e dela extrai a mesma história, só que agora imbuída de novos sentidos – a liberdade que cabe ao tradutor-transgressor, que, diante de formas artísticas distintas, capta o essencial mediado pela própria estética e vivência. A história é sobre aquele que sai em busca dos traços biográficos de seu ancestral e descobre, por meio de relatos dos moradores da cidade, que se trata de um herói, mas à medida que se aprofunda em suas investigações, vislumbra outra realidade: que o herói é um traidor e tudo não passava de uma encenação das peças de Shakespeare, em particular, Júlio César e Macbeth. E diante de tais revelações, faz-se silêncio, ora pelo choque que ofusca os olhos quando se está diante da ‗verdade‘ consumada, ora pela constatação de que a ‗verdade‘ não importa, e sim, a estratégia de sua representação. Assim, diante de tais aspectos citados, o que se verifica, portanto, são histórias dentro de outras histórias, ou seja, tradições das tradições, que, à luz do cinema, abrem-se ao debate aqui hoje presente, o que valeria dizer, ao futuro de possíveis e infindáveis rememorações literárias. Palavras-chave: Cinema; Rememoração literária; Tradição; Tradução.

A POESIA DE MACHADO DE ASSIS: TRADUÇÃO E DIÁLOGO COM LAMARTINE

Cristiane Nascimento Rodrigues (UFSCar) [email protected]

O ensaio de crítica de literária ―A poesia‖, de Machado de Assis (1839-1908), é o primeiro texto de prosa do autor de que se tem notícia. Publicado no dia 10 de junho de 1856 no periódico Marmota Fluminense, pertence à série Ideias Vagas que contém outros dois ensaios (―A comédia Moderna‖ e ―Os Contemporâneos‖) saídos em diferentes números do jornal. Nele, o escritor discute, de maneira breve, o que é poesia, a partir de uma concepção romântica copiada do prefácio intitulado ―Des Destinées de la Poésie‖, do livro Oeuvres Complètes (1834), do poeta e prosador francês Alphonse de Lamartine. A epígrafe de ―A poesia‖, ―A poesia, como tudo que é divino, não pode ser definida por uma palavra, nem por mil. É a encarnação do que o homem tem de mais divino no pensamento, do que a natureza divina tem de mais magnífico nas imagens, de mais melodioso nos sons‖, é uma tradução realizada por Machado, em que alguns termos foram suprimidos e inseridos no corpo do ensaio. Desse modo, a epígrafe machadiana revela ao leitor a ideia que serve de norte para a leitura do texto de crítica literária, estabelecendo um diálogo com o francês, pois, a presença de Lamartine em ―A poesia‖ não se reduziu somente ao trecho inicial. Como Magalhães Júnior observou: ―A primeira parte do artigo [de ―A poesia‖] é um simples desenvolvimento das ideias de Lamartine, em tom excessivamente romântico, impregnado de religiosidade, de crença em Deus‖ (Machado de Assis: vida e obra, 2008). Palavras-chave: Lamartine; Machado de Assis; Poesia; Romantismo; Tradução.

LETRAMENTO LITERÁRIO E CINEMA NO ENSINO FUNDAMENTAL: AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS ENTRE VER UM LIVRO E LER UM FILME

Patrícia Rodrigues [email protected]

Esta pesquisa que utilizou como metodologia a pesquisa-ação teve como foco promover o letramento literário através da interação entre uma obra literária juvenil e o cinema, suas múltiplas linguagens, diferentes plataformas de mídia, contribuições e canais que possibilitam sua circulação. Propôs-se a investigar que influência teria a utilização de imagens cinematográficas no processo de letramento literário. Esperou-se construir com os alunos do 9º ano da Escola Estadual Cândido Portinari (Tapurah/MT) uma análise do livro O escaravelho do diabo (1985), de Lúcia Machado de Almeida, e do filme homônimo do diretor Carlo Milani. Por serem dois sistemas semióticos diferentes, buscou-se as confluências e particularidades entre o texto e as imagens. A realidade que motivou a realização desta proposta foi perceber que a maioria dos estudantes/adolescentes necessitam de muito estímulo para ler obras literárias, então pretendeu-se incentivar os alunos a tornarem-se leitores competentes utilizando também a linguagem imagética do cinema. O projeto proporcionou aos alunos o conhecimento necessário de ambos os sistemas semióticos (literatura e cinema) para que pudessem realizar uma análise crítica das diferentes manifestações culturais. A produção de portfólios e book trailers (atividades dos alunos) e e-book (atividades para professores) foram os produtos finais alcançados. A pesquisa teve contribuições teóricas sobre a humanização através da Literatura com Antonio Candido (1995) e o prazer do texto com Barthes (2002); Letramento Literário e Sequência Expandida por Cosson (2009); Cinema com Bazin (1991), Cunha, Martin (2013) e Stam (2003); Semiótica do cinema com Lotman (1978) e a adaptação com Hutcheon (2013). Palavras-chave: Cinema; Letramento Digital; Letramento Literário; Literatura.

O OLHAR POLÍTICO DO QUEER EM THE WIVES OF BATH (1993), DE SUSAN SWAN Lis Doreto Romero (UNESP/FCL) [email protected]

Susan Swan, professora, jornalista, escritora e feminista canadense, tem publicado em 1993 seu romance The Wives of Bath. A história se passa em 1963, e desenvolve-se em um colégio interno só para garotas que mais se parece com uma prisão, pois há grades nas janelas, grandes escadas e muitas portas. O estilo gótico do romance contribui para dar peso à narrativa alinear que faz uso de diferentes gêneros literários e textuais. Essa não-linearidade da narrativa e dos gêneros presentes no corpo do texto vai de encontro à construção das personagens, que podem ser consideradas fora do padrão, ou abjetas, pois subvertem a padronização estética, a heteronormatividade e a heterossexualidade compulsória. Mouse, a heroína, por exemplo, é uma garota que passeia entre o feminino e o masculino e é corcunda; Paulie, a anti-heroína, é uma garota lésbica que comete um crime para tentar afirmar sua masculinidade. As duas personagens, junto ao anão travesti, à diretora lésbica, entre outras, configuram um jogo entre gênero e respeitabilidade que será analisado com base na teoria queer. Desenvolvida no final da segunda metade do século XX, a teoria queer sustenta os pressupostos necessários para relacionar a subalternidade das personagens com a política da diferença, que de acordo com Miskolci (2012) é uma política que procura ir além da tolerância e da inclusão buscando mudar a cultura como um todo. Assim, observa-se que o romance The Wives of Bath parodia a maneira como os corpos são colocados na sociedade, o que se considera um ato político, haja vista que as experiências das personagens, sendo algumas delas inspiradas em pessoas da vida real, repercutem não apenas em suas próprias vidas, como também na vida de outras personagens e, consequentemente, podem causar transformações ou colaborar para transformações na vida real. Palavras-chave: Mulher; Crítica feminista; Gênero; Queer; Literatura canadense; Susan Swan.

IDENTIDADE GOIANA E O MITO DO ATRASO NA OBRA DE HUGO DE CARVALHO RAMOS

Thiago Sanches (UNESP/IBILCE) [email protected]

A revisão historiográfica trouxe a perspectiva de um Império Marítimo Português contendo partes autônomas e um novo significado para nossa história colonial. Com Goiás não é diferente. Assim, é necessária uma nova relação entre história, literatura do período em si e a que faz menção a ele. Partindo de uma nova historiografia sobre a região, a presente comunicação traz os resultados mais incipientes da investigação da formação da identidade goiana manifestada em noções de atraso e progresso contidas na obra Tropas e boiadas, do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, publicada em 1917. Nela, encontramos uma série de contos, com causos, lendas, mitos, ditados e provérbios que emanam esporadicamente as vivências, experiências, linguagens e conhecimento do autor sobre uma região afastada dos grandes centros, o sertão de Goiás. Ao longo da pesquisa e elaboração da tese de doutorado, pretendo investigar de que maneira as personagens históricas e suas trajetórias foram exploradas na produção literária do século XIX e XX a ponto de contribuírem ou não para a construção de um imaginário em torno da identidade goiana. Somado a isso, mergulharei na busca por um entendimento das formas pelas quais a literatura eventualmente se estruturou e influenciou na composição de discursos decadentistas alternados a ufanistas e de progresso que alimentaram o imaginário da região. Palavras-chave: História; Identidade goiana; Literatura.

ESTUDOS CULTURAIS E A IDENTIDADE CHICANA NO EPISÓDIO ―ES QUE DUELE‖, DE TOMÁS RIVERA

César Augusto Alves dos Santos (UNESP/IBILCE) [email protected]

Este trabalho tem como objetivo verificar como os imigrantes mexicanos nos Estados Unidos e seus descendentes, os chicanos, têm sua identidade (des)estruturada através das personagens do episódio ―Es que duele‖, presente na obra da literatura chicana ...y no se lo tragó la tierra, de Tomás Rivera (1992). Para esse estudo, far-se-á uma breve retrospectiva dos estudos culturais e seus campos de estudos como um fio condutor das discussões sobre a identidade. Em seguida, pretende-se comprovar, por meio desse episódio, o processo de estruturação/consolidação da identidade chicana, associando-a com o conceito de identidade de subclasse, definido por Bauman (2005) como a negação do direito de um indivíduo reivindicar uma identidade que não seja a que lhe foi atribuída e imposta por outros, ao mesmo passo que o processo de desestruturação dessa identidade também está presente no episódio, articulando-o com a ideia de identidade fragmentada do sujeito pós-moderno defendida por Hall (2006), que se contrapõe à ideia de identidade pré-concebida por artefatos culturais imaginados. Esses conceitos identitários serão exemplificados por meio da extração de trechos do episódio que possibilitem demonstrar que as características e experiências dos personagens foram utilizadas como instrumentos não só de apresentação como também de ruptura dos estereótipos estabelecidos à identidade chicana. Palavras-chave: Estudos Culturais; Identidade Chicana.

RESSONÂNCIAS DO BILDUNGSROMAN EM EXTINÇÃO – UMA DERROCADA, DE THOMAS BERNHARD

José Lucas Zaffani dos Santos (UNESP/FCLAr) [email protected]

O sentido original do conceito de Bildungsroman (romance de formação) está intimamente ligado ao ideário da Alemanha do final do século XVIII, como o anseio da burguesia por uma formação universal e os princípios que definiriam a base de uma nacionalidade alemã. A crítica literária elegeu Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister (1795-1796), de Goethe, a obra paradigmática do Bildungsroman, pois entendeu que ela, além de apresentar a trajetória de formação do protagonista, promoveria também a formação do leitor. Lukács, no entanto, reconhece que esta ―tentativa de síntese‖ harmônica entre o indivíduo problemático e a realidade tornar-se- ia cada vez mais difícil de ocorrer, pois a conjectura histórica se alterara. No século XX, o indivíduo não se reconcilia com a sociedade, mas sim tenta compreender o seu estar no mundo. Desse modo, nosso objetivo é refletir sobre o romance Extinção – uma derrocada (1986), de Thomas Bernhard, partindo da hipótese de que essa obra dialoga, de forma consciente, com a tradição do Bildungsroman. Na narrativa de Bernhard, o narrador-protagonista Franz-Josef Murau, um intelectual em crise artística, inicia seu relato autobiográfico a partir da morte dos pais. Este fato desperta o narrador de seu bloqueio criativo e o impulsiona a refletir, via memória, sobre sua formação ao lado da família no período que recobre a Segunda Guerra Mundial. Além do artigo de Lukács, ―Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister como tentativa de uma síntese‖ (2009), serve-nos também de aporte teórico o livro O cânone mínimo: O Bildungsroman na história da literatura (2000), de Wilma Patricia Maas. Palavras-chave: Bildungsroman; Literatura alemã; Narrador; Thomas Bernhard.

TRADUÇÃO CULTURAL E DOMESTICAÇÃO EM O PISTOLEIRO (2004), DE STEPHEN KING: EFEITOS E POSSIBILIDADES

Mayara Stéphanie Barbieri dos Santos (UEM) [email protected]

O objetivo desta comunicação será analisar algumas escolhas tradutórias e seus efeitos de sentido, embasados no conceito de tradução cultural (AZENHA, 2013), e na abordagem de estrangeirização e domesticação de termos (VENUTI, 1995). Nesse sentido, acordados com Arrojo (2003), fomos consonantes à ideia de que cada indivíduo, sendo sujeito social e da linguagem, interpreta as línguas e as traduzem de acordo com suas vivências e ideologias. Analisamos, de forma qualitativa- interpretativista, trechos de O Pistoleiro, de Stephen King, traduzido por Mário Molina (2004), e sugerimos outras possibilidades tradutórias, considerando tradução como a materialização de uma leitura (OLHER, 2010) e uma transformação de um texto em outro novo (DERRIDA, 1972). Concebemos, neste trabalho, os efeitos de sentidos como construídos e dependentes de formações discursivas, condições de produção, de recepção e das ideologias do sujeito que lê, interpreta e traduz. As discussões e análises aqui presentes permitiram um olhar mais significativo para a tradução cultural e o método de domesticação no processo tradutório, assim como nos possibilitou a reflexão de que a tradução não é um processo de simples transferência, mas que envolve um processo de (re)criação e a constante consideração de condicionantes culturais e ideológicos. O aporte teórico do estudo tem como base as discussões de Campos (1991) quanto à transcriação, Fish (1992) no que tange as comunidades interpretativas, e Orlandi (2012) que aborda a Análise do Discurso. Palavras-chave: Domesticação; Efeitos de sentido; O Pistoleiro; Stephen King; Tradução cultural.

CASTRO ALVES E A DIALÉTICA ENTRE LOCAL E UNIVERSAL

Ricardo Russano dos Santos (USP) [email protected]

Em sua Formação da literatura brasileira: momentos decisivos (1750-1880), Antonio Candido pensa a literatura do período analisado a partir da dialética do local e do universal, ressaltando que a maturidade de uma literatura se dá quando, internamente, já há uma tradição que possibilite ao escritor utilizá-la como base, mais do que recorrer a modelos estrangeiros. Para Candido, é em Machado de Assis que essa possibilidade de construção endógena será levada a cabo, mais pelo modo de usar a tradição que o precede do que por um incremento da vida social no Brasil, relação que ele deixará mais clara em seu ―Literatura de dois gumes‖ (CANDIDO, 2017). Com base nessas considerações, o objetivo desta comunicação é entender essa dialética entre local e universal a partir de outro prisma, em que o influxo externo é aproveitado a partir de interesses internos suscitados pelas necessidades do meio social local. Para isso, o poema ―Navio Negreiro‖, de Heinrich Heine, e o poema homônimo de Castro Alves serão analisados comparativamente, de modo a ressaltar nas escolhas grandiloquentes do poeta brasileiro, mais do que uma influência do francês Victor Hugo, uma opção que tinha em vista o papel engajado do poema na nascente luta emancipacionista no Brasil do final da década de 1860. Palavras-chave: Antonio Candido; Castro Alves; Heinrich Heine; Navio Negreiro.

O GROTESCO EM ADEMIR ASSUNÇÃO: POESIA, REFLEXÃO CRÍTICA E RESISTÊNCIA

Suzel Domini dos Santos (PUC/SP) [email protected]

A poesia de Ademir Assunção ancora-se em uma consciência crítica que relê criativamente a tradição moderna e, ao mesmo tempo, arquiteta uma linguagem singular, em conformidade com os apelos do contemporâneo. Dentre as características que o poeta recupera da modernidade, notamos uma imagética da obscuridade, sobretudo marcada pelo grotesco. Considerando, especificamente, A voz do ventríloquo (2012), observamos um universo poético figurativamente denso e nonsense, que expõe as mazelas de uma realidade urbana truculenta, e que ironiza as idiossincrasias de uma sociedade embasada na lógica do consumo descomedido e do entretenimento banal. Esse aspecto da literatura de Assunção destaca-se como força motriz de um projeto estético que busca a arquitetura de uma linguagem hermética feita de pedaços, um tecido poético feito da costura de fragmentos descontínuos cuja harmonia está na composição desarmônica. O grotesco promove um desarranjo violento da ordem, invertendo a polaridade das categorias, de maneira que é mobilizado pela arte justamente para desestabilizar, denunciar ou questionar aquilo que é tomado como estável, absoluto e permanente. Ao reafirmá-lo como recurso criativo, Assunção compõe uma verdade estética que coloca em xeque as normas correntes, que diverge de um entendimento passivo do mundo, contrapondo-se à ordem da linguagem habitual e, ainda, do contexto histórico em que se insere. Dito de outra maneira, o poeta mobiliza a categoria do grotesco a partir de um posicionamento crítico não apenas estético, mas também ético e político, uma vez que o recurso em questão acaba por se manifestar como estratégia de articulação da resistência dentro de um contexto que Haroldo de Campos nominou ―pós-utópico‖. Por meio das imagens grotescas, a poesia de Ademir Assunção pronuncia-se como forma que resiste à ordem social dominante. Palavras-chave: Ademir Assunção; Grotesco; Reflexão crítica; Resistência.

RACHEL DE QUEIROZ E CONCEIÇÃO, PROTAGONISTA DE O QUINZE: TRANSGRESSÃO E AMBIGUIDADE EM LITERATURA DE AUTORIA FEMININA

Vinicius Schiochetti (UEL) [email protected]

Muito do impasse existente entre e o movimento feminista vem dos posicionamentos políticos controversos da autora cearense. A filiação ao movimento comunista e a atuação, mesmo que indireta, no golpe militar de 1964 afastam a autora das pautas e do gosto das feministas. Como muito bem diz Peregrino e Pereira (2012), em seu artigo sobre a pertinência e a impertinência do estudo da autora à teoria feminista, essas questões de ordem política afastam Rachel do interesse dessa vertente da crítica literária, no entanto, não é possível rechaçar totalmente a contribuição da autora para a literatura de autoria feminina. Citando estudos como os de Peregrino e Pereira (2012), Hollanda (2017) e Lopes (2016) é possível considerar que o pioneirismo de Queiroz ao ser aceita na Academia Brasileira de Letras e suas protagonistas fortes e, até certo ponto, contraventoras da ordem patriarcal colocam-na como uma autora interessante e cara aos estudos voltados às vozes femininas da literatura nacional. Diante desse panorama, observou-se que a autora possui opiniões ambíguas em relação ao feminismo, tal qual o de sua primeira protagonista apontada como uma mulher transgressora, Conceição, personagem de O Quinze. A figura da professora nordestina, eternizada por Rachel, é considerada por alguns críticos como contraventora da ordem patriarcal por negar o matrimônio, por adotar uma criança estando solteira, por ter uma profissão e não viver a espera do marido, no entanto, como já apontam alguns estudos, como o de Lopes (2016), o posicionamento de Conceição não é tão firme e unilateral em direção ao feminismo, pois muitas de suas atitudes e opiniões podem ser consideradas contrárias ao movimento o que dá à posição da personagem um caráter ambíguo, assim como o de sua criadora. Palavras-chave: Autoria feminina; Rachel de Queiroz; O Quinze.

O ORDINÁRIO CINEMATOGRÁFICO EM MÃOS DE CAVALO

Danatiele Soares Segato (UNESP/IBILCE) [email protected]

Não é de hoje a relação entre a literatura e outras mídias, sobretudo as imagéticas, porém, é inegável que nas últimas décadas, com a industrialização do cinema, tenhamos também uma maior relação intermidiática entre essas duas artes. A troca cultural e estética entre os dois meios é intensa e não seria exagero afirmar que são quase dependentes em alguns gêneros: o leitor-espectador espera ansiosamente pela adaptação cinematográfica de seu romance predileto, bem como vê seus filmes e jogos favoritos serem romanceados e tomarem conta das principais prateleiras das livrarias. Nesse sentido, autores brasileiros repensam o romance contemporâneo ao criar romances- roteiros ou ao descrever cenas através das lentes de uma câmera. É justamente com descrições típicas de filmes hollywoodianos e com inúmeras referências fílmicas que Daniel Galera compõe seu segundo romance, Mãos de cavalo. No livro, de 2006, acompanhamos uma narrativa fragmentada em diferentes momentos da vida do protagonista Hermano e a sua busca por redenção. Com base nos estudos intertextuais, de Antoine Compagnon (2007), e na crítica filosófica ao espetáculo, de Guy Debord (1997), pretendemos apontar e analisar como a epígrafe do romance – uma citação do ator norte-americano Nicolas Cage – prenuncia e se estende por toda a narrativa; como o protagonista recorre aos recursos cinematográficos para espetacularizar acontecimentos banais e desinteressantes de sua vida e, por fim, observar a relação estabelecida entre o paratexto, a narrativa e o efeito que poderá exercer sobre o leitor- espectador. Palavras-chave: Epígrafe; Intertextualidade; Literatura brasileira.

BALAS DE ESTALO E SEUS COLABORADORES

Vizette Priscila Seidel (UFPR) [email protected]

Este trabalho visa analisar as crônicas da seção Balas de Estalo, de 1883 a 1887, no periódico ―Gazeta de Notícias‖, contrapondo as estratégias narrativas de Machado de Assis em relação aos demais colaboradores da seção para compreendê-la de maneira geral, pois os trabalhos realizados até o momento contribuem com a visão machadiana, deixando os demais colaboradores de lado. A partir da leitura das crônicas publicadas em Balas de Estalo, pensamos em uma análise comparativa em relação à estratégia narrativa dos autores em suas crônicas, relacionando com as questões de sua época, questões que estavam vigentes no final do século XIX e eram também apresentadas no periódico no qual esses textos estavam vinculados, em contraste ao cronista Machado de Assis. Refletindo em que sentido as crônicas, tanto de Machado de Assis quanto dos demais colaboradores, podem ser uma reafirmação dos ideais propostos pelo editor. E quais são os vestígios das penas desses colaboradores ao refletir os aspectos de sua sociedade, pois são eles que dão vida a Balas de Estalo. Sabemos da importância dos estudos das fontes primarias para tentar apresentar as novas perspectivas do fazer literário e a difusão das ideias. As mudanças na sociedade podem ser discutidas a partir das crônicas de Machado de Assis e de seus contemporâneos, as angústias presentes em suas estratégias narrativas para a construção da seção que será analisada. Palavras-chave: Balas de Estalo; Fontes primárias; Machado de Assis.

A FANTÁSTICA LEITURA DA CORRUPÇÃO EM SEMINÁRIO DOS RATOS

Ana Maria Zanoni da Silva (IMESB) [email protected]

Na concepção de Freitas (1986), há duas formas de se abordar as relações entre literatura e história, ou seja: estuda-se a interação da obra com o contexto histórico no qual ela foi produzida, por meio de análises comparativas entre a literatura e a história; ou estuda-se a apropriação da temática histórica pela literatura. No segundo tipo de abordagem, não se privilegia ficções que fazem alusões às situações históricas, ou que situam a intriga num determinado momento histórico, que serve de pano de fundo, mas visa-se explorar aquelas que tomam uma realidade qualquer do universo histórico, transformando-a em parte integrante de sua estrutura interna, ou seja, uma realidade estética. O fio condutor de muitas narrativas são temas universais e, no arranjo estético do texto, o escritor, por meio do narrador, insere no campo visual do leitor elementos que propiciam a reapresentação do real, trazendo à tona aspectos do caráter humano, nem sempre passíveis de explicação. Este processo homem despe os véus que mascara lado menos vistoso do homem, revelando o ser em sua dupla face de virtudes e vícios. , no conto ―Seminário dos ratos‖ (1977), por meio de uma atmosfera fantástica, mostra a face corrupta do homem. A atualidade do conto se faz notar não apenas pelas manchetes de jornais que retratam a corrupção, mas, sobretudo, pela entrevista que o economista norte-americano Robert Klitgaard concedeu à revista ―VEJA‖ (2427, 11 de maio, 2015), na qual ele analisa o fenômeno da corrupção no Brasil. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo analisar o referido conto, contrastando-o com as afirmações de Klitgaard (2015) referentes à corrupção no cenário político brasileiro, a fim de demonstrar o quão ficcional é o real, bem como o quanto a ficção antecipa e mostra do real. Palavras-chave: Corrupção; Fantástico; Ficção; Política.

A PERSONAGEM HELENA EM "TROIA: A QUEDA DE UMA CIDADE"

Gelbart Souza Silva (UNESP/IBILCE) [email protected]

Composta de oito episódios com cerca de uma hora de duração cada um, a série ―épica‖ produzida pela parceria da BBC e da Netflix é a mais recente releitura do mito grego da Guerra de Troia. A adaptação "Troy: fall of a city" ("Troia: a queda de uma cidade") retoma a milenar narrativa do conflito bélico entre aqueus e troianos, registrada primordialmente pelo poeta Homero na sua Ilíada, e posteriormente por um sem número de poetas, tragediógrafos, romancistas e de artista de artes diversas, desde a época clássica até os dias atuais. Segundo a mitologia, a causa da guerra é o rapto da mulher mais bela do mundo, Helena, esposa do rei de Esparta Menelau. O raptor é Páris, filho do rei de Troia, Príamo, a quem Helena foi prometida pela deusa Afrodite. Em busca de vingança, o ultrajado Menelau convoca outros reis gregos para se aliarem a ele na incursão contra Troia, nomes como Agamêmnon (seu irmão), Ulisses, Diomedes, Ájax e Aquiles. Assim, sobre Helena recai a culpa de muitas mortes. Considerando principalmente as discussões trazidas por Nicholas Rynearson (2013) sobre o valor da beleza no texto homérico e por Graziana Brescia (2014) sobre algumas versões acerca do rapto de Helena, nosso objetivo nesta comunicação é analisar a representação da personagem Helena na série em contraste com os testemunhos literários clássicos. "Troia: a queda de uma cidade" explora a figura de Helena ao trazer à tona questões acerca do valor e do poder da mulher, contrapondo essa personagem a outras, como Cassandra, Hécuba e, principalmente, Andrômaca. A série apresenta uma Helena que não aceita ser tratada como uma propriedade e que entende sua importância além de sua beleza física. Demonstramos, por fim, como essa adaptação do mito atualiza a antiga narrativa por meio de questões contemporâneas. Palavras-chave: Adaptação; Helena; Homero; Guerra de Troia; Mitologia grega; Troy - fall of city.

―NO COMEÇAR § DEUS (E POETA) CRIANDO‖: A SAGA DA (RE)CRIAÇÃO POÉTICA DE HAROLDO DE CAMPOS

Laís Midori da Silva (UNESP/IBILCE) [email protected]

O projeto poético de Haroldo de Campos sempre foi pautado por um contundente diálogo com a tradição, de modo que é possível observar uma grande quantidade transcriações de obras do cânone literário, fruto, principalmente, da expressiva atividade tradutória realizada pelo poeta. No entanto, apesar de discursos como o de Homero, Dante, Mallarmé e Joyce fazerem-se sempre presentes no universo da produção haroldiana, a seleção de trechos da Bíblia e o consecutivo direcionamento do seu olhar poético para o texto religioso revelam aos leitores o surgimento de um projeto literário inovador, ou seja, a busca por uma nova origem. Desse modo, a análise dos fragmentos do Gênesis traduzidos por Haroldo pretende estabelecer e compreender os elementos que possivelmente pautam a aproximação desses textos. Nessa perspectiva, a reunião de trechos que representam os mitos da criação e da queda não nos parece aleatória e, ao considerarmos que as inovações dos processos tradutórios já haviam sido exploradas pelo poeta e que sua aproximação ao texto bíblico é laica e ―primacialmente interessada em poesia‖ (CAMPOS, 2000), trabalhamos com a hipótese de que a instauração da crise – da poesia, da vanguarda e da utopia – seja um fator significativo para a realização desse ―recorte‖. A nosso ver, ao optar por retratar os mitos da queda simbolizados, principalmente, pela passagem da Babel e pelo episódio da Serpente, Haroldo coloca-se no papel de ―Deus-poietés‖ a fim de manifestar, por meio da (re)criação da linguagem transcendental da poesia, a reconstrução do discurso da origem. Assim, entendendo que a linguagem e a criação manifestam-se no mesmo momento, busca-se comprovar que o poeta, por meio do seu labor, permite que, pela (re)criação, a poesia e a linguagem poética sejam enaltecidas, compondo a saga do eterno retorno, da queda à ascensão, demarcando a renovação da língua e da transgressão da poesia. Palavras-chave: Bere‘shith; Haroldo de Campos; Mito; Poesia; Recriação.

O VEIO POLÍTICO NA ESTÉTICA POÉTICA DE AGOSTINHO NETO E NICOLAS GUILLÉN

Lidiane Moreira e Silva (UNESP/FCL) [email protected]

O trabalho pretende apresentar um olhar crítico e comparativo para a criação literária do angolano Agostinho Neto (1922-1979) e do cubano Nicolás Guillén (1902-1989) a partir da observação dos detalhes que caracterizam as estéticas de suas poesias voltadas a um interesse político. Agostinho fez da poesia uma forma de motivar o povo a manifestar-se e organizar-se contra a colonização. Por meio de suas palavras, os movimentos anticoloniais conquistaram e somaram forças para o diálogo no interior da guerra contra a dominação portuguesa no continente africano (1961-1974). Guillén, em uma notável semelhança ao poeta angolano, usava a poesia como canal de crítica à colonização tanto a espanhola, como a invasão americana em Cuba, além de apontar os maus costumes daqueles que negavam as origens africanas. De modos distintos, os dois poetas abordavam temáticas políticas, contra a colonização dando visibilidade ao povo, especialmente à negritude. Enquanto o primeiro priorizava a linguagem, por vezes, mais próxima ao discurso militante para o povo, o segundo escreveu poesias com uma estrutura que remetia à música afro-cubana e com expressões típicas das ruas. As especificidades estéticas das linguagens não opõem as intenções de seus autores, pelo contrário, indicam para as mais variadas vestes que a literatura possibilita a um mesmo ideal ou discurso. Para a reflexão que a comunicação propõe, serão tomados como base alguns apontamentos sobre o processo de reconhecimento da identidade negra trazidos na obra Negritude: Usos e Sentidos (1984) de Kabengele Munanga, e também as visões sobre a relação da poesia com a sociedade em "Poesia e Resistência" da obra de Alfredo Bosi O Ser e o Tempo da Poesia (1977), e "Poesia, sociedade, Estado" de Octávio Paz em O Arco e a Lira (1956). Palavras-chave: Agostinho Neto; Poesia; Colonização; Negritude; Nicolás Guillén; Política.

O AVESSO DO AVESSO: RICARDO LÍSIAS E A META-AUTOFICÇÃO

Luís Cláudio Ferreira Silva (UNESP/FCLAr) [email protected]

Cunhado na França em 1977 por Serge Doubrovsky, o gênero em questão já recebeu inúmeras abordagens por diversos estudiosos tanto na França como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Produzida em grande quantidade neste século, chegou a incomodar o escritor Daniel Galera que disse, em 2013, esperar o gênero seja passageiro. Ao contrário das perspectivas o gênero se firmou e se reinventou, sobretudo pelas produções de Ricardo Lísias. O escritor vem se consolidando como um dos escritores com maior visibilidade na literatura brasileira contemporânea, não só pela qualidade de sua obra, mas também pelo que ela provoca. Não é de hoje que sua literatura causa polêmica e incomoda. Desde a publicação de Divórcio (2013), e indo até o mais recente Diário da cadeia (2017), publicado sob o pseudônimo Eduardo Cunha, seus livros têm causado as mais diversas reações, nem sempre positivas. O céu dos suicidas (2013) é o livro que inaugura sua produção autoficcional. Divórcio (2013) continua na mesma linha, embora esse último tenha causado mais repercussões. Entretanto, é a com Delegado Tobias que Lísias inaugura um novo passo na produção autoficcional, livro que transpôs os limites do livro e que chegou aos tribunais e que dá campo para a criação de Inquérito policial: família Tobias, publicado um ano depois. Autoficção que é um gênero por si só polêmico e controverso, muitas vezes acusado de fazer literatura fácil. Leyla Perrone-Moisés é uma das vozes que discordam desse lugar comum onde a autoficção é vista como subgênero. Utilizando-se de ferramentas interessantes como a metaficção, o sarcasmo, redes sociais e o mashup, Lísias reconstrói esse espelho enviesado que é a autoficção, fazendo uma espécie de dupla performance e colaborando para embaralhar ainda mais as fronteiras entre o real e o ficcional. Palavras-chave: Autoficção; Metaficção; Performance; Ricardo Lísias.

AQUELES QUE COMPÕEM AMANHÃ, DE ABEL BOTELHO: UMA ANÁLISE DE PERSONAGENS SECUNDÁRIOS

Moisés Baldissera da Silva (UNESP/IBILCE) [email protected]

O romance Amanhã (1901), de Abel Botelho, foi publicado em Portugal no final do século XIX, e em suas páginas encontramos descritas belas cenas sobre o movimento operário e as grandes reuniões para a discussão dos ideais anarquistas e socialistas. Alguns autores tendem a reduzir o romance a uma representação histórica, optando por deixar de lado uma análise mais aprofundada sobre seu conteúdo literário. Há também aqueles que investigam a obra apenas sobre os conceitos naturalistas propostos por Émile Zola, em O romance experimental e o naturalismo no teatro (1879), entretanto, ambas as formas de análise são incompletas, porque se excluem, e não leem o romance em suas peculiaridades. Sendo assim, proponho com esta comunicação uma introdução à obra Amanhã, e uma análise aprofundada de alguns personagens secundários, entre eles o boticário Gomes, para que possamos compreender a importância de cada um para o desenrolar e formação da estória, expandindo a leitura do romance e trazendo à luz uma série de minúcias, como a ambientação, até então pouco estudadas na obra do autor português. Palavras-chave: Abel Botelho; Amanhã; Romance Português.

MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA: REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO

Danieli Munique Fontes da Silveira (UNESP/IBILCE) [email protected]

O país do sol nascente sempre instigou as pessoas ao redor do mundo devido a sua cultura singular. No que diz respeito às gueixas não poderia ser diferente. Em 1997, o escritor americano Arthur Golden publicou o livro Memórias de uma Gueixa. Nesta narrativa, o leitor acompanha a trajetória da menina Chiyo até tornar-se a conhecida gueixa Nitta Sayuri no distrito de Gion em Kyoto. O filme homônimo adaptado do romance de Golden (1997) estreou em 2005 e foi dirigido por Rob Marshall, além de contar com as atrizes chinesas Zhang Ziyi e Gong Li, com a malasiana Michelle Yeoh e o japonês Ken Watanabe. Inicialmente, o filme foi classificado como ―filme de arte‖ sendo exibido em poucas salas nos cinemas, entretanto, a sua grande procura e salas cheias fizeram com que ele fosse relançado em redes Cineplex. Se o filme foi aplaudido e premiado no Ocidente, o mesmo não ocorreu no Japão. De acordo com Sérgio Dávila (2005), a obra cinematográfica recebeu inúmeras críticas orientais devido à escolha das atrizes e concepções equivocadas da imagem das gueixas japonesas. Dessa forma, o objetivo do nosso trabalho é apresentar uma reflexão sobre o processo de adaptação que a obra de Golden (1997) recebeu levando em consideração as modificações sofridas aparentemente para atender ao público do Ocidente com uma cultura distinta do país oriental onde se desenvolveu a narrativa. Utilizaremos os trabalhos de Bluestone (1956) e Lefèvre (2007) para tratar das questões relacionadas com o processo de adaptação a fim de analisar essas modificações e os seus efeitos na obra como um todo. Acreditamos que a adaptação não deve ser uma cópia fiel da obra adaptada, mas refletir sobre essas alterações considerando os contextos de produção e recepção são importantes para os estudos de adaptação e literários. Palavras-chave: Adaptação; Ocidente; Oriente; Romance.

AS RELAÇÕES ENTRE TEMPORALIDADE E ESPACIALIDADE NA CONSTRUÇÃO DOS QUADRINHOS ABSTRATOS

Guilherme Lima Bruno e Silveira (IFPR) [email protected]

O presente trabalho pretende discutir sobre as potencialidades das histórias em quadrinhos abstratas. Na produção contemporânea das HQs, uma série de rupturas se escora em outras linguagens, na tentativa de se desvincular das estratégias narrativas mais desgastadas dessa linguagem, bem como de seus gêneros cristalizados. Assim, vemos, principalmente a partir dos anos 80, uma grande aproximação, dos quadrinhos com as literaturas, artes visuais e música. É em tal percurso que o espaço para o quadrinho experimental se expande, abrindo possibilidades para a aparição de novas formas de se trabalhar com a narrativa gráfica, entre elas a abstração passa a aparecer dentro da produção quadrinhística. A ideia de abstração e de experimentação formal está presente em diferentes linguagens, e pode ser vista, por exemplo, no poema concreto e no poema processo, no neoplasticismo e no expressionismo abstrato, ou mesmo em experiências no cinema de autor, então, como ela se dá nos quadrinhos? Pretendemos levantar essa discussão com o diálogo entre teoria e prática, a partir da pesquisa em arte e processos criativos, a qual pressupõe que da própria produção artística se levantam questões teóricas, numa vinculação simultânea entre ambas. A proposta, portanto, é de um trabalho em que o pesquisador investiga, com a sua produção artística, a relação entre espaço, tempo e visualidade abstrata de diferentes linguagens e os aspectos teóricos nela implicados. Palavras-chave: Abstração; Experimentação; História em quadrinhos; Processo criativo.

A VIAGEM DAS PERSONAGENS E DAS PALAVRAS EM ―O RECADO DO MORRO‖, DE GUIMARÃES ROSA

Bianca Cristina Sinibaldi (UNESP/IBILCE) [email protected]

Neste trabalho, temos como objetivo analisar a temática da viagem na novela ―O recado do morro‖, presente na obra Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, visto que, o foco será sobre a condição andeja das personagens e das palavras. A imagem dos corpos em baile, nesta novela, remete ao movimento e a própria viagem que assume a simbologia da existência, do percurso de vida e da travessia. A vida das personagens tende a expandir-se a partir da experiência da viagem - ―Todos viajam e tudo é viagem, inclusive a própria narrativa, que a tematiza.‖ (NUNES, 2013, p. 253). As personagens na novela ―O recado do morro‖, são figuras errantes cuja busca da palavra se constitui no universo de uma escrita que parece assimilar o movimento que a noção da relação entre viagem e viajante estabelece. A estória contada por meio da oralidade sofre mudança em cada reprodução e é pela mediação dos contadores de estórias que a palavra se movimenta no decorrer do tempo e do espaço. Nesse sentido, a proposta de leitura da novela se pautará nos estudos de Benedito Nunes (1969; 2013) e Walter Benjamin (2015). O resultado da discussão proposta – uma reflexão sobre a viagem em ―O recado do morro‖ – se relaciona aos desdobramentos de noções ligadas à ideia de travessia e errância. Palavras-chave: Guimarães Rosa; Palavras; Personagens; Viagem.

RELIGIÃO SOB PERSPECTIVA IRÔNICA EM THE SCREWTAPE LETTERS, DE C. S. LEWIS

Pâmela Rodrigues Scutari (UNESP/IBILCE) [email protected]

O objetivo deste trabalho é, com base em pesquisa em nível de mestrado, em desenvolvimento no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, de São José do Rio Preto (UNESP), analisar a concepção de religião na ficção satírica The Screwtape Letters (1942), de C. S. Lewis, de modo a compreender a perspectiva irônica sob que é desenvolvida. A obra se constitui de 31 cartas, remetidas pelo demônio sênior Screwtape, a seu sobrinho, o demônio ―tentador‖ Wormwood, e, apresenta o ponto de vista daquele quanto a ―tentar‖ um ―paciente‖ inglês, isto é, corromper um ser humano recém-convertido ao Cristianismo, por meio da exposição zombeteira dos contextos religioso, familiar, amoroso e cívico desse, e por meio de ordens e repreensões ao jovem tentador. A partir de conceitos de ironia, níveis e funções irônicos, e sátira, de, respectivamente, Douglas C. Muecke (1995), Linda Hutcheon (1985; 2000), e Gilbert Highet (1962), este trabalho abordará elementos dispostos no corpus da obra, como o elogio e a censura, que denunciam o caráter irônico do discurso de Screwtape quanto à religião cristã, dada sua construção por uma personagem demoníaca. Assim, buscar-se-á confrontá-los, em caso de contradições expressas pelo autor das cartas, e observar suas contribuições à ironia que compõe The Screwtape Letters, de C. S. Lewis. Palavras-chave: C. S. Lewis; Ironia; Religião; Sátira; The Screwtape Letters.

BRANCAS DE NEVE ATRAVÉS DO TEMPO: REESCRITURAS

Denise Loreto de Souza (UNESP/IBILCE) [email protected]

A presente comunicação tem o objetivo de traçar um breve percurso histórico das reescrituras do conto ―Branca de Neve‖, tanto na literatura quanto no cinema, focalizando as transformações sofridas na esfera de ação das personagens. O primeiro registro desse conto foi realizado por Giambatistta Basile, na Itália, sob o título ―A Jovem Escrava‖ (1634). Na Alemanha, os Irmãos Grimm, em 1812, registraram a narrativa ―Branca de Neve‖ no livro Contos da criança e do lar, que foi lançado em dois volumes: o primeiro, em 1812, e o segundo, em 1815. Elas mantêm relação com o conto ―A Jovem Escrava‖, mas modificam e acrescentam outros elementos. O conto de 1812 é bastante violento, porém, vale ressaltar que, nessa época, os contos eram destinados ao público adulto. Somente quando os Irmãos Grimm perceberam que seus contos também eram lidos para crianças, que reescreveram a história, retirando as passagens que consideravam impróprias para os pequenos. Esse ato de recontar/ reescrever faz parte do gênero e o conto ―Branca de Neve‖ já sofreu diversas reescrituras, em diferentes suportes. Por isso, o objetivo dessa apresentação é mostrar, por meio de um recorte temporal, as transformações sofridas na narrativa relacionadas aos personagens para as posteriores versões, de modo a nos atentarmos também para os elementos ligados ao contexto cultural em que foram produzidas. Escolhemos, para a nossa análise, os contos ―A Jovem Escrava‖ (1634), de Giambattista Basile; Branca de Neve (1812/1815), dos Irmãos Grimm; e o filme ―Espelho, Espelho Meu‖ (2012), direção de Tarsem Singh. Como aporte teórico, utilizaremos as considerações feitas por Vladimir Propp no livro Morfologia do Conto, e por André Jolles em Formas Simples. Pretendemos, com essa seleção de reescrituras, perceber quais são os mecanismos de atualização do discurso ao longo do tempo. Palavras-chave: ―Branca de Neve‖; Conto de fadas; Reescrituras.

CO.S.M.O.FICÇÃO: COMPOSIÇÃO LITERÁRIA NARRATIVA DE ATÉ CENTO E CINQUENTA CARACTERES COMO GÊNERO AUTÔNOMO

Vanderlei de Souza (UNESP/IBILCE) [email protected]

Neste estudo de natureza teórica, desenvolvo argumentos para demonstrar as razões pelas quais composições narrativas literárias de até, aproximadamente, cem caracteres, conhecidas, entre outras denominações, como microconto, constituem um gênero discursivo-literário autônomo. Não se trata de um subgênero do conto tradicional, cuja característica de concisão foi levada às últimas consequências, nem de quaisquer outras formas breves, tais como o aforismo, a piada e o poema curto. Discuto, também, as principais questões teóricas que as envolvem, como sua história, designação e características. Para tal, buscarei suporte nas teorias de gênero do discurso, principalmente em Mikhail Bakhtin (2004, 2016), que conceitua gênero de acordo com seu tema, estilo e estrutura composicional; nos estudos sobre as fronteiras que separam os gêneros literários, como o de José Manuel Trabado Cabado (2005), nos estudos sobre recepção de leitura de textos literários, a exemplo de Umberto Eco (1979, 1990, 2003) e Roland Barthes (1977, 1980); na Análise de Discurso, principalmente em Eni Orlandi (1988, 2007, 2012), com o intuito de conceber o silêncio com fundante e, finalmente, em estudos específicos sobre narrativas curtas, especialmente de Dolores Koch (2017), David Lagmanovich (2005, 2006, 2009), Lauro Zavala (2004) e David Roas (2010). O corpus sob análise será constituído por composições brevíssimas de autores brasileiros, coletadas do livro Os cem Menores contos brasileiros do século, de Marcelino Freire (2004) e de portais da Internet, como o ―microcontos.com.br‖. Recorrerei, também, a uma gama de obras microcontísticas hispânicas e hispano-americanas, dada sua relevância nesse contexto, produções norte-americanas, ocasionalmente, além de contos tradicionais e outras formas breves, para fins de contraponto, contraste, grau de comparação ou exemplificação. Como resultado, busco reunir evidências e construir argumentação que permitam com que o objeto de estudo possa ser visto como um gênero autônomo além de construir uma referência para futuros estudos do gênero. Palavras-chave: Gênero discursivo; Gênero literário; Microconto; Miniconto.

TORRES DE MARFIM - A POESIA DE EVASÃO COMO UMA REPRESENTAÇÃO ANTIRREPUBLICANA (1888-1930)

Caio Cardoso Tardelli (UNESP/IBILCE) [email protected]

Por meio desta pesquisa, pretende-se discutir a produção poética da Belle Époque brasileira como uma crítica velada à Primeira República, sabendo-se que, na visão de estudiosos determinantes para o estudo da literatura brasileira, como Antonio Candido, grande parte da poesia produzida durante o período tinha características de escapismo e de fuga; se, pelo lado de alguns Parnasianos, havia o refúgio na República das Letras, do lado dos Simbolistas, havia a tão criticada Torre de Marfim. Em um momento de turbulência política e social, essa postura causou incômodo em críticos da época e, posteriormente, em escritores e leitores de algum modo ligados ao modernismo– movimento baseado financeiramente nas oligarquias vigentes e que se apoiou declaradamente nos governos finais da República Velha e, principalmente, no Estado Novo getulista. No entanto, sabendo-se que parte considerável dos poetas da Belle Époque apoiaram, na juventude, a proclamação da República, faz-se necessário compreender os motivos que levaram esses autores a rejeitar a contemporaneidade e se isolar em uma poética onírica. Declarações como a de Lopes Trovão, jornalista e defensor das ideias republicanas (―Esta não é a República dos meus sonhos!‖), e poemas como ―Solidão‖, de Emiliano Perneta (poeta paranaense republicano) darão um norte à tese de que a evasão poética, naquela época, não se constituía em uma fuga da realidade, mas em uma crítica profunda aos males do sistema político autoritário imposto pela Primeira República brasileira. Casos de crítica social mais explícita – como os poemas de Cruz e Sousa presentes em Últimos Sonetos e Evocações – também serão analisados, mas por outra perspectiva: a recepção dessas pautas por uma crítica acostumada à literatura sorriso de sociedade. Pretende-se, por meio de consulta bibliográfica da época (produções poéticas, cartas e críticas de então) e de estudos contemporâneos, desenvolver a pesquisa buscando uma nova visão sobre a literatura do período, sondando, inclusive, um reestudo do período chamado de ―pré-modernista‖ (1911- 1922), questionando o sentido único que a literatura brasileira supostamente tomou após a publicação de Ilusão, de Emiliano Perneta, comumente apresentado como o ponto final do período parnasiano-simbolista da poesia brasileira. Palavras-chave: História do Brasil; Literatura Brasileira; Poesia brasileira; Simbolismo.

O SER-PARA-A-MORTE EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H.

Marco Antonio Hruschka Teles (UEM) [email protected]

O presente trabalho, a partir de um estudo de cunho bibliográfico, analisa a obra A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, à luz do Existencialismo. O tema principal é a morte e a sua simbologia no romance referenciado. O aparato teórico baseia-se substancialmente na filosofia existencialista, notadamente na obra Ser e tempo (2015), de Martin Heidegger. Na concepção do filósofo alemão, o ser da presença precisa abrir- se para a angústia, lançar-se na estranheza, antecipar-se, prever a sua morte para, então, renascer para uma existência mais autêntica, cuja relação com o outro é evidenciada. O olhar está voltado para a trajetória mística da personagem G.H., caminho compreendido como uma via-crucis do ser-para-a-morte. Abandonando a sua antiga identidade humana, superficial, inautêntica e vazia, a personagem adota uma postura de ser-com, projetando e reconhecendo o seu ser no da barata em nome da vida pulsante no universo. Priorizando o agora em detrimento de uma vida após a morte, a mulher identifica o sagrado na harmonia entre os elementos da natureza. Além disso, ao investir em um processo de autoconhecimento, assume uma existência na qual a angústia mantém o ser da presença em constante atenção com relação ao seu poder-ser mais próprio: a morte. Palavras-chave: A paixão segundo G.H.; Clarice Lispector; Existencialismo.

LA MALASANGRE, DE GRISELDA GAMBARO, À LUZ DE THEODOR W. ADORNO

Amanda Guimarães Tito (UFES) [email protected]

Analisar uma obra literária é tarefa surpreendente. A cada simples leitura, um ponto de vista surge. Quando a leitura se torna mais detalhada, apoiada em críticos literários e sob à luz de determinados teóricos, uma infinidade de possibilidades acontece. La Malasangre, da autora argentina Griselda Gambaro, foi escrito em pleno período de ditadura, enquanto a escritora vivia exilada na Espanha, entre os anos de 1977 e 1980. Trata-se de um texto dramatúrgico rico em questionamentos, reflexões e conflitos, nos fazendo lembrar de alguns filósofos que discutem sobre a sociedade vigente. Um deles é Theodor Adorno que, em seus textos ―Educação após Auschwitz‖ (1954) e ―O que significa elaborar o passado‖ (1960), vem atentar para a necessidade de que se discuta com todas as gerações sobre o genocídio judeu praticado pelo nazismo na Alemanha, de modo a despertar para a consciência, na tentativa de tomar conhecimento sobre o que aconteceu e alertar para o perigo que se encontra no comum desejo de se libertar do passado, em lugar de se elaborar o passado de forma que não se repitam pensamentos e atitudes conformistas na sociedade presente. E o primeiro passo para isso, segundo Adorno, é o esclarecimento. Esclarecer, tornar claro o que, de fato, ocorreu, para aí gerar a tomada de consciência, que é fundamental para que haja uma mudança no curso da história. E é a partir destes textos e ainda de outras reflexões escritas por Adorno, em especial Dialética do Esclarecimento, que serão levantados alguns pontos importantes na obra La Malasangre, de Griselda Gambaro. Dado o momento político de enfraquecimento da ditadura civil-militar na Argentina no ano de sua estreia, La Malasangre vem ser esta voz de denúncia diante a muitas realidades de repressão velada sofrida e/ou executada por indivíduos de diferentes camadas da sociedade. Palavras-chave: Ditadura; Gambaro; Holocausto; Literatura social; Repressão.

A EXPERIMENTAÇÃO FORMAL NO QUINTO HINO DOS HINOS À NOITE, DE NOVALIS

Natália Fernanda da Silva Trigo (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente trabalho visa analisar como no quinto hino da obra Hinos à Noite o poeta alemão Novalis realiza uma experimentação formal e a partir dela coloca em discussão os gêneros historicamente conhecidos até então. Podemos entender que essa experimentação formal se realiza pelo fato do quinto hino ser construído em prosa e em verso. Além disso, pretendemos analisar como essa escolha formal dialoga diretamente com o significado desse hino. Buscamos analisar como a parte em prosa possui características muito próximas à prosa narrativa, uma vez que apresenta uma história mística do universo e das religiões, o que o difere dos demais hinos em prosa que fazem parte dos Hinos à Noite, visto que esses demais hinos têm características muito próximas dos textos em versos. Nesse hino, o verso quebra o texto em prosa em momentos específicos e a linguagem presente nos versos é muito diferente da prosa, muito mais imagética. É importante lembrar que Bernard (1994) realizou o estudo mais importante sobre o poema em prosa, publicado no livro Le poème em prose: de Baudelaire jusqu’a nos jours; a autora coloca Bertrand, com seu Gaspar de La Nuit, como fundador do gênero, em 1842, sendo que os Hinos de Novalis foram publicados em 1800, o que mostra como os poemas de Novalis foram fundamentais para a reflexão sobre as formas literárias e para o desenvolvimento de novos gêneros literários, uma vez que, ao romper com as formas historicamente conhecidas, Novalis propõe discussões sobre os gêneros literários, problemática que irá fazer parte da literatura moderna até os dias atuais. Palavras-chave: frühromantik; Hinos à Noite; Novalis; Poema em prosa.

A CIÊNCIA OITOCENTISTA A FAVOR DO DESEJO: OS LABORATÓRIOS DE ABEL BOTELHO E JÚLIO RIBEIRO

Fernando Vidal Variani (UFPR) [email protected]

O crítico Álvaro Lins (1912-1970) chegou à conclusão de que todos os movimentos literários poderiam ser resumidos em apenas duas vertentes: uma idealista, outra naturalista. A dificuldade de definir o ―Ideal‖ é evidente. Mas é mesmo fácil definir o que é a Natureza? Se tomarmos como verdade a maior parte das formulações críticas acerca do Naturalismo em literatura, poderíamos presumir que sim: trata-se da dimensão biológica da existência humana, os instintos reprimidos que vêm à tona no ―devoramento‖ (pra usar um termo de Abel Botelho) típico das sociedades modernas. Porém, quando nos aproximamos de boa parte dos romances confortavelmente associados à estética Naturalista, é possível notar, para além dos exageros frequentemente alardeados em relação à sexualidade (o que de fato se confirma), uma enorme mediação do imaginário científico, artístico ou religioso entre as personagens e as tentativas de consumação de seus desejos eróticos. Neste trabalho, recorreremos a uma breve abordagem de dois espaços ―científicos‖ que funcionam como mediadores do desejo dos protagonistas de dois romances considerados indiscutivelmente ―Naturalistas‖: os laboratórios de O Barão de Lavos (1891), do português Abel Botelho (1854-1917), e de A Carne (1888), do brasileiro Júlio Ribeiro (1845-1890). Com isso, pretendemos desenvolver parcialmente uma hipótese mais ampla: a de que há certa artificialidade inerente ao discurso científico oitocentista, e de que ela vem à tona especialmente nos romances considerados mais emblematicamente ―Naturalistas‖ do período. Palavras-chave: Erotismo; Espaço; Literatura Brasileira; Literatura Portuguesa; Naturalismo.

O DUPLO E A REPRESENTAÇÃO DO PROCESSO CRIATIVO DO ESCRITOR

Suelen Marcellino de Amorim Viegas (UNESP/IBILCE) [email protected]

O trabalho tem por objetivo abordar, por meio de uma análise interpretativa de dois contos da escritora espanhola Cristina Fernández Cubas, a complexidade do processo criativo do escritor representada com apoio no duplo. ―Lúnula y Violeta‖, publicado no livro Mi hermana Elba em 1980, é constituído por dois textos pertencentes a dois narradores diferentes e traz o duplo por meio da crise de identidade de uma escritora que sofre com o seguinte conflito: o que ela é e o que ela gostaria de ser, o eu real x eu ideal. A narrativa apresenta as dificuldades do processo criativo do escritor, do transferir uma boa história para o papel. Um conto onde o fantástico aparece associado ao duplo por meio de fatos inexplicáveis e ambiguidades construídas por meio de recursos narrativos. O segundo conto, ―En el hemisferio sur‖ foi publicado no ano de 1983 no livro Los altillos de Brumal. E traz a história de uma escritora bem-sucedida. Esta recorre ao seu amigo editor para desabafar sobre algo estranho que vem acontecendo com ela na hora de escrever. Assim como ―Lúnula y Violeta‖, ―En el hemisferio sur‖ também apresenta, com apoio no duplo, o processo de elaboração de uma obra literária. Para o desenvolvimento do trabalho, foram considerados estudos do duplo na literatura, do fantástico e do gênero conto. Em relação ao suporte teórico, citamos: Herrero Cecilia (2000, 2011), Martín López (2006), Martín Taffarel (2006), Roas (2011). Palavras-chave: Conto; Fantástico; O duplo.

A VIAGEM DE FURTADO COELHO PELO BRASIL: O SUCESSO E AS POLÊMICAS DE UM ARTISTA PORTUGUÊS EM TERRAS BRASILEIRAS

Gustavo Zambrano (UNESP/IBILCE) [email protected]

O artista português Luiz Candido Furtado Coelho pode ser considerado um dos responsáveis pela implantação do realismo teatral no Brasil. Tendo chegado em terras brasileiras em 1856, Furtado Coelho, em nosso país, desenvolveu trabalhos de ator, ensaiador e empresário teatral, sendo que como ator dramático atuou em peças que foram grande sucesso de público no Teatro Ginásio do Rio de Janeiro. Como dramaturgo, Furtado Coelho igualmente foi reconhecido por seu trabalho na Corte, uma vez que suas peças O ator, Nem por muito madrugar amanhece mais cedo, Procure-me depois do amanhã, José do Telhado, O bom anjo da meia-noite, O agiota, O ator, O remorso vivo, sendo esta última em parceria com Joaquim Serra, alcançaram o reconhecimento da crítica teatral especializada e dos espectadores. A partir destas considerações, esta comunicação tem como objetivo, portanto, abordar o segundo período de trabalho de Furtado Coelho no Brasil, ou seja, a passagem do artista português por outras províncias brasileiras, tais como São Paulo, Rio Grande do Sul e Recife. Nesta nova temporada, iremos comentar as peças encenadas pelo ator, as quais envolvem em sua maioria dramas de escritores franceses, portugueses e brasileiros, a repercussão do trabalho apresentado, além das polêmicas que o artista se envolveu com alguns empresários teatrais da região nordeste do país. Palavras-chave: Biografia artística; Furtado Coelho; Teatro Brasileiro.

ALEJANDRA PIZARNIK, A POESIA EM DIREÇÃO AO OUTRO

Rafael Patrik Procopiuk Walter (UFPR) [email protected]

O poema ―En esta noche, en este mundo‖ (1971), de Alejandra Pizarnik, tem por espaço a noite, não uma noite única e linear, mas todas elas. Nele surge a contemplação da possibilidade de inúmeras noites contidas no termo ―noite‖, como o território do sonho. A partir da leitura dos termos ―estrangeiro‖ e ―hospitalidade‖, de Derrida (2003), e da alteridade, na perspectiva de Emanuel Lévinas (1988), aborda-se a questão da ética e do Outro na Filosofia. Em torno de questões do Eu em comunhão/tensão com o Outro, realizamos a presente leitura, considerando o processo de subjetivação da autora e caráter múltiplo de sua obra poética. As críticas literárias argentinas Alícia Genovese (2011; 2015) e Cristina Piña (1991) nos auxiliam nesta leitura. A voz poética de Pizarnik assume neste poema a impossibilidade da compreensão do Outro em sua completude através da linguagem. É possível também a leitura de que a poesia em sua língua natal carece de uma tradução a uma outra língua, a qual é uma forma de crítica e de recriação, pois simultaneamente une estas duas atividades. Há no poema em questão a negação da expectativa da linguagem como uma ―promessa‖ e o distanciamento da poesia do compromisso com a verdade. Dessa forma, aquilo que pode ser dito ou nomeado pela palavra equivale a mentira, sendo o restante o silêncio. O poema demonstra a perspectiva de um projeto de exílio existencial, na linguagem e através dela. A linguagem no poema é concebida como território estrangeiro, a ser percorrido, através da poesia. Convivem no mesmo espaço textual a tentativa de expressão poética e a frustração que se apresenta, devido a impossibilidade de se atingir a expressão almejada. O eu-poético se propõe a desconstruir as noções de sentimento nacional, territorial, ou mesmo de pátria em relação à língua. O poema de Pizarnik cita e se apropria do cão de Maldoror, personagem de Lautrèamont (2005). O eu-poético se configura como um ―estrangeiro‖ em peregrinação na linguagem e que reconhece as limitações da mesma. Evidencia-se então, o caráter paradoxal da poesia para Pizarnik, pois embora o poema seja uma tarefa árdua e difícil, por algum momento ele pode ser espaço de hospitalidade. Palavras-chave: Alteridade; Pizarnik; Poesia.

REMINISCÊNCIAS DO JORNALISMO IMPERIAL: UM TEXTO DE JUSTINIANO JOSÉ DA ROCHA

Norma Wimmer (UNESP/IBILCE) [email protected]

O número 6, de 20 de junho de 1836, do jornal ―O Chronista‖ - fundado, no Rio de Janeiro, por Justiniano José da Rocha (1812-1862) e por ele dirigido - apresenta um artigo no qual o editor manifesta sua intenção de diferenciar dos demais o novo periódico, por nele iniciar a publicação de grandes obras da literatura moderna, não em traduções, mas em breves quadros que reuniriam páginas das obras de Hugo, Balzac, Sue, Lacroix (todos eles, na época, colocados em nível de igualdade). Em seguida, anuncia a publicação de ―A luva misteriosa‖, imitada do texto de Balzac, La Peau de chagrin (1831). ―A luva misteriosa‖ foi, portanto, impressa sob forma de folhetim (Justiniano informa brevemente o leitor sobre a origem da palavra folhetim e seu uso no Chronista) em 1836, nos números 3, 8 e 9 do periódico. Não há notícias do periódico de número 10. Duas hipóteses relativas a este fato parecem poder ser aventadas. A primeira - e também a mais plausível - é a de que o "adaptador" simplesmente tenha abandonado a adaptação no jornal e a tenha feito editar em volume. Efetivamente, um anúncio de pé de página, no exemplar de número 3, segundo semestre de 1836, leva-nos a acreditar na existência de uma possível publicação do texto integral, à venda na Casa Laemmert e na Tipografia Comercial. Desta publicação também não há notícias. A segunda é a de que a adaptação tenha simplesmente sido abandonada (o que, por razões diversas, não era impossível acontecer). Na comunicação aqui proposta pretende-se comparar os textos dos dois autores e o contexto de sua produção, bem como observar o efeito alcançado pela adaptação de Rocha. Palavras-chave: ―A luva misteriosa‖; Balzac; Folhetim; Justiniano José da Rocha; La peau de Chagrin.

O PAPEL DOS APARELHOS IDEOLÓGICOS DE ESTADO EM APRENDER A REZAR NA ERA DA TÉCNICA, DE GONÇALO M. TAVARES

Ibrahim Alisson Yamakawa (UEM) [email protected]

A presente comunicação, fundamentada nos princípios da análise materialista do discurso, pretende discutir o papel dos aparelhos ideológicos de Estado como ferramenta sociopolítica de opressão, controle e manutenção do status quo em Aprender a Rezar na Era da Técnica, de Gonçalo M. Tavares. Os aparelhos de Estado são marcados por um duplo funcionamento e os aparelhos ideológicos de Estado (AIE), na concepção de Louis Althusser, funcionam majoritariamente pela ideologia enquanto que os aparelhos repressivos de Estado (ARE) funcionam majoritariamente pela repressão. Aprender a Rezar na Era da Técnica é um romance que faz o retrato de uma sociedade em crise em Estado de exceção e nesse romance os AIE têm um papel fundamental no exercício da violência física sobre as personagens para assegurar as condições políticas. Tendo em vista que esse romance se compromete com a representação da violência, da opressão em sua forma mais plena, sondando o lado mais obscuro e inexprimível da face humana, busca-se observar o funcionamento discursivo para dar a conhecer a forma como os AIE operam pela violência para assegurar o status quo, valendo-se de expedientes como o silêncio. O aporte teórico fica a cargo, especialmente, de Louis Althusser (1980), Michel Pêcheux (1995), Eni P. Orlandi (2007) e Terry Eagleton (2006). Palavras-chave: Aprender a Rezar na Era da Técnica; Ideologia; Silêncios.

PAINÉIS (Em ordem alfabética por sobrenome do autor)

AS POESIAS COMPLETAS DE MACHADO DE ASSIS (A ORGANIZAÇÃO): RECORTE EM CRISÁLIDAS

Julia Ledo de Almeida (UNESP/IBILCE) [email protected]

Machado de Assis publicou quatro livros de poesia - Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875) e Ocidentais, lançado juntamente com a reedição dos três primeiros volumes em um único tomo: Poesias completas (1901). No entanto, a completude sugerida pelo título da antologia não corresponde à totalidade dos versos machadianos, pois foram realizados reajustes e/ou supressões integrais de vários poemas, além disso, muitas marcas extratextuais foram eliminadas. Para tanto, o poeta-editor valeu-se inclusive de opiniões de críticos-leitores e amigos, conforme demonstra sua atividade epistolar. Nesse sentido, a correspondência machadiana poderia revelar nuances do processo de organização da antologia publicada em 1901 e das primeiras edições de Crisálidas, Falenas e Americanas. Considerando a extensão do corpus poético e epistolográfico de Machado de Assis, este trabalho delimitou-se à primeira coletânea, Crisálidas, e às cartas nas quais tal compilação tornou-se objeto de discussão. Nesse sentido, objetivou-se com este estudo delinear o processo de organização da primeira coletânea de poesia de Machado de Assis a partir da correspondência do autor fluminense. Com a leitura e análise do prefácio, de Caetano Filgueiras, e do posfácio, de Machado de Assis, documentos que, anteriormente, foram cartas e, posteriormente, integraram à primeira edição de Crisálidas (1864), podemos dizer que os resultados obtidos foram positivos ao nosso pensamento inicial, pois se tornou evidente a autocrítica do autor e a busca pelo aprimoramento poético, assim como, a influência de críticos, como Filgueiras, no processo de composição das Crisálidas (1864). Palavras-chave: Crisálidas; Correspondência; Machado de Assis; Poesia.

UM ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE AUTORITARISMO E INDIVÍDUO EM CARTA AO PAI, DE FRANZ KAFKA

Lorenzo Barreiro Lopes de Almeida (UNESP/IBILCE) [email protected]

O início do século XX foi marcado pelo capitalismo, por duas das maiores guerras realizadas pelo homem, pelo movimento socialista ao redor do mundo e por governantes e governos autoritários. Muitos escritores descrevem esse momento de grandes conflitos da humanidade, como Franz Kafka (1883–1924), que foi dos seus representantes mais singulares. O autor traduz, tanto em Carta ao pai (Companhia das Letras, 2003) quanto em A metamorfose (Companhia das Letras, 2016), a relação entre governante autoritário e povo oprimido a partir da alegoria da relação conflituosa entre pai e filho, dialogando criticamente com os contextos histórico, social e político de produção e de recepção dessas obras. Em Carta ao pai, o autoritarismo é trabalhado de forma literal, fato que torna a obra passível de ser lida como uma alegoria que extrapola os limites concretos da história narrada sobre a relação pai-filho. Como o autor da carta é o narrador autodiegético, o ato de narrar nos dá liberdade de debruçar-nos sobre a sua subjetividade, logo, a alegoria permite um mergulho na subjetividade de um indivíduo sob um governo autoritário. Já A metamorfose nos permite ver um homem totalmente ordinário, mas cuja transformação em inseto revela, paradoxalmente, uma consciência humana. O inseto nos mostra o grotesco não de sua forma física, mas dos outros, aqueles que o oprimem. Dessa forma, as duas obras representam algo que vai além da relação entre pai e filho, já que, por um lado, o pai assume traços característicos de um governo/governante autoritário, e, por outro, o filho possui traços que o identificam com o indivíduo e o povo subordinados pelo autocrata. Portanto, na vassalagem dos protagonistas de Carta ao Pai e A metamorfose, investigamos, a partir da submissão não voluntária, os efeitos do autoritarismo no indivíduo, cuja culpa, falta de autoconfiança, melancolia e angústia dialogam com a subjetividade do povo oprimido pelo autoritarismo de Estado. Palavras-chave: A metamorfose; Autoritarismo; Carta ao pai; Estado autoritário; Franz Kafka; Indivíduo oprimido.

LITERATURA E FILOSOFIA: A SÁTIRA NO ROMANCE FILOSÓFICO JACQUES, O FATALISTA, DE DIDEROT

Luca Barreiro Lopes de Almeida (UNESP/IBILCE) [email protected]

Desde a literatura antiga, o riso é utilizado como crítica à crise e até mesmo como uma proposição de mudança. Completamente compatível com esse processo crítico, esse procedimento foi, ao longo do tempo, um dos poucos modos possíveis para o protesto contra decisões dos reis ou perspectivas religiosas. O romance, em geral, tem a capacidade de abarcar diferentes gêneros em sua composição e os mais variados saberes. Em Jacques, a filosofia é parte integrante da composição romanesca, pois o personagem principal lida com inúmeras ideias filosóficas. Neste romance de Diderot ocorre uma identificação entre as duas instâncias (filosófica e romanesca), que estão, ambas, a serviço da elucidação das características humanas e da descrição compreensiva de como os homens vivem. O personagem Jacques é um indivíduo que coloca em ―funcionamento‖ sua filosofia, da qual também é o próprio sujeito. Com isso, a realidade se manifesta pela ficção em que, no romance estudado, o personagem usa conceitos semelhantes aos de tratados filosóficos. Entre esses conceitos, podemos observar o fatalismo (do qual o personagem é assumidamente adepto), o determinismo, o materialismo e o sensualismo — os últimos dois dos quais Diderot era adepto. Logo, nesta obra, Diderot discute, com o auxílio do sério-cômico, as mais diversas questões morais e filosóficas. Em Jacques, o fatalista, essa elucidação crítica, a partir do romanesco, se dá pelo uso da sátira vinculada à filosofia (servindo-se de diversas influências, como Rabelais, Richardson, Voltaire e Spinoza). O próprio personagem lida com suas ideologias de modo variável e, muitas vezes, elas se chocam com as situações por ele vivenciadas. Palavras-chave: Crítica; Diderot; Filosofia; Literatura; Riso; Sátira.

O CORPO É MEU! O ESTEREÓTIPO QUE ESTÁ NO IMAGINÁRIO: COMO O CORPO DO NEGRO HOMOSSEXUAL FOI REPRESENTADO NA MÚSICA ―BIXA PRETA‖

Vânia Lúcia Borges (UNEB) [email protected]

Elizabete Rodrigues Santos Neta (UNEB) [email protected]

Esta apresentação pretende buscar compreender as manobras feitas pelas mídias sobre o que é ser masculino e feminino e o que é ser homem negro e homossexual negro. Sendo a mídia um importante órgão disseminador de reprodução de estereótipos que distorce a imagem real do homem negro representado de forma equivocada e construindo a sua imagem ao longo da história por uma sociedade branca, este artigo tenciona a discutir como o negro é representado nas obras ficcionais e em contraponto, como o negro homossexual foi representado na música ―Bixa preta‖ (2017) da cantora transgênero Linn da Quebrada, onde o eu-lírico da canção se desvincula das imagens errôneas que a mídia de massa faz se voltando para a minoria que visivelmente é hostilizada pelos meios de comunicação e de uma entrevista que a própria Linn concedeu à revista Rolling Stone em março de 2017 em que ela explica com qual intuito ter feito uma música com uma letra bastante significativa. Para a análise da letra da música será estabelecido um diálogo de reflexão entre a canção e sobre como é representado o negro no imaginário das pessoas de acordo com alguns teóricos como: Frantz Fanon (2008), Stuart Hall (2006) e Anailde Almeida (2010), para, assim, buscar compreender atitudes expressivas de afirmação da sua orientação sexual e colocando em debate questões relevantes sobre gênero, preferência sexual, classe e raça. Palavras-chave: Imagem do negro; Mídia; Música Bixa preta; Negro homossexual.

DIREITO E LITERATURA NO PÓS-POSITIVISMO

Lara Giselle Guardiano (UNESP/IBILCE) [email protected]

O presente estudo tem por objetivo investigar as relações entre Direito e Literatura, no pós-positivismo jurídico, como sendo fonte e método de compreensão pluralista da lei e dos fatos sociais, ilustrando esse caminho com a análise de obras consagradas que desvelem a evolução do pensamento jurídico ao longo do tempo. A importância desta pesquisa reside no fato de que a interdisciplinaridade entre Direito e Literatura socorre o estudo do Direito. A Literatura enriquece a compreensão de valores jurídicos e possibilita o Direito ser analisado para além de suas fronteiras, revelando as articulações entre Justiça, Poder Judiciário e Sociedade. Assim sendo, a realização deste trabalho corresponde a um interesse geral, sendo especialmente voltada àqueles que pretendem descortinar seus horizontes enquanto operadores jurídicos abertos a encontrar soluções humanas para o problema universal do conflito. Buscar-se-á resgatar as origens da Literatura e levantar as principais obras literárias, em âmbito nacional e mundial, ligadas ao campo jurídico A metodologia aplicada a este estudo possui caráter fenomenológico-hermenêutico, visto que preconiza estudos teóricos de documentos e textos; e dedutivo, por partir de um valor universal para atingir um conhecimento particular específico. Foram aplicadas a ele as ações de coletar, tabular e interpretar os dados, cotejando com revisão bibliográfica acerca da temática, na doutrina, e exemplos ilustrativos na prática da aplicação do Direito pelos Tribunais. Os resultados obtidos confirmam a tese inicial, demonstrando que a ligação entre Literatura e Direito se faz fundamental para a construção de um ordenamento jurídico menos atado à norma posta e mais articulado aos valores inerentes à humanização do conflito. Palavras-chave: Direito; Justiça; Literatura; Pós-positivismo.

CAMILO CASTELO BRANCO X IMPRENSA: A CRÍTICA DO AUTOR À IMPRENSA PRESENTE EM CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO

Letícia de Freitas Greco (UNESP/IBILCE) [email protected]

O livro Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco (1862), é dividido em três partes: a primeira, representada pelo "Coração", mostra uma fase do protagonista Silvestre da Silva voltada aos assuntos amorosos. Na segunda parte, representada pela "Cabeça", o protagonista procura desviar-se das questões relativas ao amor para dedicar-se às questões relativas à razão. Já na terceira e última parte do romance, Silvestre abandona as duas primeiras fases para dedicar-se a outro órgão do corpo humano, a que ele atribui a felicidade: o "Estômago". O objetivo deste trabalho é analisar a face do personagem-jornalista, representada na segunda parte do romance, de modo a verificar como o autor retrata a Imprensa vigente em Portugal no século XIX, sobretudo nas décadas de 1850 e 1860. Para a fundamentação teórica do trabalho serão pesquisados textos de autores como José Tengarrinha, jornalista português e pesquisador da Imprensa, João Bigotte Chorão, escritor português e pesquisador de Camilo, e Paulo Franchetti, crítico literário brasileiro. Da análise textual da segunda parte, os resultados esperados são a presença de uma crítica de Camilo Castelo Branco ao romantismo, à sociedade portuguesa e à Imprensa. Este trabalho abordará de forma detalhada a crítica direcionada ao jornalismo, visto que, embora as críticas à sociedade e à Imprensa estejam intrinsecamente relacionadas, o protagonista é um jornalista, e a escolha dessa função para a personagem não foi aleatória. Tendo sido jornalista na vida real, de 1840 até sua morte, em 1890, o autor conhecia toda a dinâmica da Imprensa, assim, visamos mostrar que a crítica colocada na fala do protagonista é, na realidade, uma crítica de Camilo Castelo Branco. Palavras-chave: Camilo Castelo Branco; Coração, Cabeça e Estômago; Imprensa portuguesa do século XIX; Literatura portuguesa.

REFLEXÕES SOBRE EXÍLIO, IDENTIDADE E MEMÓRIA NA OBRA L’ÉNIGME DU RETOUR, DE DANY LAFERRIÈRE

Bárbara Souza Mattos (UFU) [email protected]

Na obra L’énigme du retour, de Dany Laferrière, publicada em 2009 e ganhadora do prêmio Médicis no mesmo ano, o protagonista Windsor, haitiano e exilado no Canadá, narra o desenrolar dos preparativos da sua partida de seu país de exílio, que se fez necessária após a ligação que o informara sobre o falecimento de seu pai, também nomeado Windsor e exilado em Nova Iorque, até o seu destino e também lugar de origem, Porto Príncipe, Haiti, para poder assim informar à mãe a morte de seu marido. A obra e viagem são divididas em duas partes, ―Lents prépraratifs de départ‖ (Lentos preparativos de partida), e o segundo, ―Le retour‖ (O retorno), sendo esse momento da obra em que o narrador e protagonista chega ao seu destino, Porto Príncipe, depois de trinta e três anos de exílio. Na primeira parte do livro, o narrador ao se preparar para o seu retorno à cidade natal começa reviver memórias de seu passado e infância com a sua família, como se estivesse vivendo nelas, contrapondo dessa forma o seu passado no Haiti ao seu presente no Canadá, o calor e sul ao frio e norte. No presente trabalho será exposto a trajetória de Windsor e o desvendamento do enigma de chegar ao seu país de origem e (re) descobrir sua terra, sua gente, sua família, sua identidade. As reflexões sobre a obra serão realizadas a partir da leitura de textos de Edward Said e Paul Ricoeur. Palavras-chave: Exílio; Identidade; Memória; Retorno.

CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE SENHORA E LE ROMAN D’UN JEUNE HOMME PAUVRE

Rodrigo Donizeti Mingotti (UNESP/IBILCE) [email protected]

O romance brasileiro do século XIX possuía contundentes marcas advindas das literaturas estrangeiras, em especial a francesa. Tal fato não era de se estranhar, visto que em Portugal o mesmo ocorria. À época, na Europa, os países centrais produtores de cultura e, consequentemente, literatura, eram a França e a Inglaterra e os demais países do continente, considerados periféricos, eram os grandes importadores dessas literaturas. Nesse âmbito do mercado literário português escasso, tendo em vista que antes do século XX somente uma pequena parcela da população portuguesa era alfabetizada e esse mercado era dominado pela França, os escritores portugueses passaram a assemelhar seus romances aos modelos franceses, a fim de conquistar público. Contudo, ao mesmo tempo que haviam as semelhanças, essas eram escoltadas de críticas a esses modelos. Isso posto, partindo de tais inferências, constitui-se o presente trabalho de Iniciação Científica, intitulado ―Convergências e divergências entre Senhora e Le roman d’un jeune homme pauvre‖, que versa realizar um estudo de cunho comparatista, visando a ligação existente entre a literatura brasileira e a europeia, tendo como objetos de pesquisa romances de dois escritores do século XIX: José de Alencar, no Brasil e Octave Feuillet, na França. Para tal trabalho, sucedeu-se o estudo dos romances Senhora (1875) e Le roman d’un jeune homme pauvre (1858), dos respectivos autores supracitados, tendo como apoio pressupostos teóricos de literatura comparada e bibliografias que abordam observações e reflexões sobre os romancistas e suas produções. Neste, é possível observar semelhanças e dissemelhanças entre as obras referenciadas e seus pertencentes autores, além de avistar e buscar compreender profusas marcas francesas identificadas nas obras de José de Alencar, sendo ele leitor assíduo assumido dessa literatura europeia. Palavras-chave: José de Alencar; Literatura comparada; Literatura brasileira; Octave Feuillet; Romance.

LITERATURA E HISTÓRIA: OUTRAS FORMAS DE CONTAR, UMA OBSERVAÇÃO SOBRE A FICÇÃO E A REALIDADE

Dayana Rodrigues Pereira (UNEB) [email protected]

Dannisleyk Moraes de Araujo Santos (UNEB) [email protected]

Pensar a relação literatura e história é conceber as complexidades envolvidas na construção de uma narrativa, o simples ato de contar sobre alguma coisa ou acontecimento, sendo real ou fictício, implica em uma série de fatores decorrentes das nossas relações sociais. Dessa forma, neste artigo abordaremos acerca da Literatura e História envolvendo a questão de ficção e realidade contidas entre os dois, a fim de compreender o elo presente, destacando assim que são elaborados a partir da interpretação. Na tentativa de entender como ocorre essa relação, apresentaremos algumas concepções teóricas acerca da história, colocados por Vavy Pacheco Borges (2005), Antonio Pereira Sousa (1999) e Vieira, Peixoto, Khoury (2005). Bem como os estudos sobre literatura realizados por Jonathan Culler (1999), e teceremos algumas considerações acerca do conceito mimético aristotélico (COSTA, 1992). Remetendo-se aos conceitos de memória e discurso, utilizou-se as concepções dos autores Jacques Le Goff (2003), Durval Muniz Albuquerque Junior (2007) e Michel Foucault (2008). Utilizamos da pesquisa bibliográfica, junto a estes autores e outros que seguiram suas diretrizes desenvolvidas sobre o tema. Esperamos com essa pesquisa não só ampliar o conhecimento do leitor, mas promover também outra concepção sobre a relação entre história e literatura observando seus pontos de convergência. Palavras-chave: Discurso; História; Interpretação; Literatura; Memória.

A DESSACRALIZAÇÃO DO CÂNONE: SUBVERSÃO E O OLHAR FEMININO EM 'D. JOÃO E JULIETA', DE NATÁLIA CORREIA

Andrezza Jaquier Pigozzo de Oliveira (UFSCar) [email protected]

O presente trabalho resulta da pesquisa que objetiva analisar as estratégias de desconstrução do cânone dramatúrgico no âmbito da escrita de autoria feminina. Para tanto, escolhemos como objeto a peça D. João e Julieta da escritora portuguesa Natália Correia (1923-1993), obra em qual, sob o signo da subversão, revisita duas personagens consagradas no teatro mundial. Importante autora do cenário português, Natália Correia, sempre engajada, sobretudo, com a busca da liberdade política e social para as mulheres, nunca se calou perante a ditadura salazarista, tanto que algumas de suas obras foram obscurecidas pela censura. Nesse contexto, de gavetas encerradas, encontra-se a obra D. João e Julieta, escrita em 1957, e só vinda a público 40 anos depois, em 1999; seis anos depois da morte da autora. O cânone dramatúrgico invocado na peça reflete uma preocupação sobre a tradição, no entanto, esta não é resumida na imitação ou glorificação dos ícones tradicionais, antes percebe-se um movimento de desconstrução ao desestabilizar personagens já fixados na tradição: de um lado, o shakespeariano, com a famosa personagem Julieta, de outro a figura de Don Juan, relido como D. João, personagem da dramaturgia mundial e considerado um mito moderno (WATT, 1997). Na concepção nataliana, Julieta guia D. João, o seduzido, e este se entrega ao amor e à morte, subvertendo, assim, os modelos canônicos dessas duas figuras emblemáticas. Em vista disso, a autora esboça e propõe uma outra tradição, não com marcas masculinistas, mas com a atuação primordial da personagem feminina em uma estratégia representacional alternativa (CARLSON, 1997) colocando-a enquanto sujeito agente de seu desejo. A fim de contemplar o nosso objetivo e análise, utilizamos um referencial crítico-teórico sobre os conceitos de cânone e tradição, estudos sobre as personagens revisitadas, e reflexões que abordem a escrita de autoria feminina em Portugal. Palavras-chave: Escrita de autoria feminina; Natália Correia; Teatro português.

ESTUDO COMPARATIVO EM APULEIO: (RE)CRIAÇÕES E (RE)SIGNIFICAÇÕES

Vinícius Medeiros dos Santos (UNESP/IBILCE) [email protected]

O objetivo deste trabalho é analisar e refletir sobre as relações intertextuais manifestadas entre O asno de ouro, de Apuleio, Lúcio ou asno, do Pseudo-Luciano, O burrico Lúcio, de Léo Vaz, e O motoqueiro que virou bicho, de Ricardo Azevedo. Para tanto, selecionaram-se determinados operadores de leitura da narrativa, a saber, fábula, espaço, tempo, personagem e narrador. Por meio deste estudo, investigamos de que modo certos aspectos e elementos ora se mantêm, ora se ressignificam. Ao conferirmos em que medida as narrativas do corpus dialogam entre si, por vezes mantendo uma relação aproximada, e em que medida se distanciam, por vezes permitindo a criação de novas interpretações, certamente nos inserimos nos estudos das relações entre a literatura antiga e a contemporânea e contribuímos com a ampliação dos horizontes dos estudos sobre as recepções dos clássicos. Nossa fundamentação teórica, baseada em Genette (Palimpsestos, 1989), Kristeva (Introdução à semanálise, 2005) e Samoyault (A intertextualidade, 2001), demonstra como a literatura moderna brasileira é, em certa medida, e relativamente, uma continuidade da literatura antiga, esta servindo de um inquestionável hipotexto para aquela. Nossa metodologia orienta-se pelo estudo da intertextualidade, do romance antigo grego e romano, da literatura infantojuvenil brasileira, do herói, dos autores implicados e da análise narratológica do corpus. Os resultados até aqui apontam para a maneira como se dá o diálogo e a conexão entre as narrativas do corpus, cujas relações intertextuais mantêm uma correspondência quer direta, confirmando a interdependência para com os traços dos romances antigos aqui abordados, quer indireta, indicando não só para novos sentidos e significações, como também evidenciando a qualidade e a técnica criativa e discursiva dos autores ora examinados neste estudo. Palavras-chave: Intertextualidade; Recepções dos clássicos; Romance antigo.

EMANCIPAÇÃO LITERÁRIA: O VALOR DA LITERATURA DE MASSA E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DE LEITORES

Bruna Camargo da Silva (Universidade do Sagrado Coração) [email protected]

Este trabalho busca discutir o valor da literatura de massa e seu papel na formação de leitores. A literatura é intrínseca ao ser humano e importante na sua humanização, sendo, portanto, a leitura literária um dos direitos do homem. Contrapondo-se à ideia que se costuma ter sobre os jovens, estes não apenas leem, como são os que mais o fazem entre qualquer faixa etária. Porém, há resistência deles em relação à literatura canônica apresentada pela escola e os métodos por ela utilizados, que fogem à fruição literária. Isso vai de encontro com a receptividade desses estudantes para com a literatura de massa, que por sua vez é desvalorizada nos meios acadêmicos e comumente rejeitada pela instituição. Sabe-se, entretanto, que não existe um consenso na definição de literatura, pois os critérios utilizados para tal estão sujeitos aos contextos históricos e antropológicos. Aqueles que legitimam a ―Grande Literatura‖ são os que possuem poder dentro da sociedade para tal, o que faz dela a literatura de uma elite, apesar de sua inegável contribuição para a sociedade, pois a massa não representa seu modo de ver e sentir. A hierarquização é inevitável, mas cada obra deve ser analisada dentro daquilo a que ela se propõe. A escola, como espaço sociocultural, deve estar aberta às diferentes ideologias e visões de mundo e ao desqualificar a literatura de massa e assumir como boa literatura apenas aquilo que por ela é legitimado, silencia parte destas visões. É direito do aluno não apenas o acesso à literatura erudita, mas também à diversidade de manifestações literárias existentes, porque é o contato com ideologias e visões de mundo diversas que o humaniza. No processo de formação de leitores, cabe à escola não a encarar como uma ameaça, mas utilizá-la como aliada nesse processo, conduzindo-os a uma leitura literária diversificada. Palavras-chave: Educação; Formação de leitores; Literatura; Literatura de massa.

SIZÍGIA NO PINHÉM: O RITUAL E O MITO EM "A ESTÓRIA DE LÉLIO E LINA"

Lucas Silveira Fantini da Silva (UNESP/IBILCE) [email protected]

O enfoque deste trabalho é a relação entre Lélio do Higino e Dona Rosalina, ambos personagens de ―A estória de Lélio e Lina‖, novela que integra as sete narrativas de Corpo de baile, cuja autoria é de João Guimarães Rosa. O fio condutor da trama são as etapas do processo de amadurecimento do vaqueiro Lélio, que procura se livrar do fantasma de uma desilusão amorosa à medida em que atravessa e experimenta diferentes esferas e manifestações do amor, como bem aponta Benedito Nunes em seu ensaio ―O amor na obra de Guimarães Rosa‖, de 1969. Em sua jornada, o jovem Lélio tem em Dona Rosalina, já de idade avançada, sua fonte de sabedoria a quem recorrer durante suas maiores aflições, portanto, ela é uma espécie de guia para sua vida. Entre os dois, porém, é edificada uma relação de dependência mútua, onde Lina só alcança o pleno sentido da sua vida ao prestar seus cuidados a Lélio. A narrativa constrói o laço entre os dois de maneira ambígua, como se flutuassem da relação maternal e filial à conjugal, demonstrando uma espécie de amor mais sublime e espiritualizada. Sustentados no aparato teórico da crítica literária arquetípica e da psicanálise de matriz junguiana, nosso objetivo é evidenciar quais são os referenciais mítico-arquetípicos que delineiam ambos os personagens, principalmente no que se refere à intervenção de Lina na trajetória do protagonista Lélio. Palavras-chave: Arquétipo; Guimarães Rosa; Mito.

ANÁLISE DOS VOCÁBULOS DE MAIOR CHAVICIDADE NO CONTO "TENTAÇÃO" DE CLARICE LISPECTOR TRADUZIDO PARA AS LÍNGUAS INGLESA E ESPANHOLA

João Vitor de Paula Souza (UNESP/IBILCE) [email protected]

Neste trabalho, analisamos o conto ―Tentação‖ de Clarice Lispector, bem como suas traduções ―Temptation‖ e ―Tentación‖ para as línguas inglesa e espanhola, respectivamente. O conto narra, em terceira pessoa, um encontro intenso e momentâneo entre uma menina e um cachorro em uma rua de Grajaú. Há uma grande identificação entre os dois personagens centrais, desenvolvida a partir da singularização da cor ruiva de seus cabelos. A ambientação da narrativa é misteriosa, como se não passasse de um sonho ou de uma fuga da realidade. Nesse sentido, os objetivos deste trabalho foram explorar alguns aspectos relativos ao léxico literário, bem como refletir sobre a literatura brasileira traduzida no exterior. Nosso arcabouço teórico-metodológico recorre sobre a Linguística de Corpus, como sugerida em importantes trabalhos de Sardinha (2004) e Baker (1993; 1995; 1996; 2004), por meio de abordagem descritiva que considera dados qualitativos e quantitativos como relevantes, no sentido de se estabelecer uma leitura crítico-comparativa entre o Texto de Partida (TP) e seus Textos de Chegada (TCs). Deste modo, partindo dos dados extraídos pelo programa WordSmith Tools, o objetivo foi analisar o campo semântico da cor vermelha e suas representações no TP e nos TCs. Para este fim, recorremos a trabalhos de Heller (2013), Paula Júnior (2006) e Farina et. al (2011) que tratam, a partir de diferentes perspectivas, dos aspectos simbólicos dos tons escarlate na cultura ocidental. Para esta análise, partimos de significados mais concretos da cor vermelha, como sua associação com o sangue e o fogo e chegamos a significações mais abstratas, como a associação com o diabo, o pecado, a morte e a secular tradição de se depreciar aqueles que têm cabelos ruivos. Os resultados obtidos apontam para a fomentação de leituras distintas nos TCs, propiciadas pelo emprego do léxico via tradução. Palavras-chave: Clarice Lispector; Estudos da Tradução baseados em Corpus; Léxico e tradução; Literatura brasileira traduzida.

TRADUÇÃO JORNALÍSTICA: REPRESENTAÇÃO CULTURAL E IDEOLOGIA

Júlia da Silva Vasconcelos (UNESP/IBILCE) [email protected]

Por meio do presente trabalho, objetivamos realizar um estudo teórico-analítico referente à tradução jornalística. Tencionamos, de maneira específica, analisar a tradução de notícias entre os pares linguísticos francês-português e espanhol-português. Para tanto, do ponto de vista teórico, partiremos de textos que tratam da problemática da tradução em sua relação com a questão da diferença, sobretudo dos trabalhos de Rodrigues (2005; 2008) e de Arrojo (1986). No campo da tradução jornalística, serão referências para esta pesquisa os trabalhos de Zipser (2006; 2009), Hernández Guerrero (2006; 2012) e Simão e Stupiello (2017). Para Zipser as notícias devem ser pensadas como diferentes leituras de um mesmo fato, o que ela nomeia ―deslocamento de enfoque‖ (2009, p.11). Nos dedicaremos, num segundo momento, à análise dos textos que compõem o corpus de nossa pesquisa, a saber, as traduções dos títulos e leads do jornal ―El País‖, edições América e Espanha, disponíveis no site do ―El País Brasil‖, e da ―Agence France Press‖, disponíveis no site da UOL. Até o presente momento pudemos notar que cada cultura e cada jornal possui seu próprio padrão de títulos e leads, fato que confere uma identidade singular ao seu modo de fazer notícia e, por conseguinte, à maneira segundo a qual esta será interpretada pelo leitor. Assim, por meio das análises das traduções buscaremos enfatizar as questões culturais e ideológicas que permeiam todo o processo tradutório. Em conformidade com Zipser (2006, p.5), ao afirmar que ―os textos devem funcionar culturalmente para o leitor no que diz respeito ao processo de construção de sentidos através da leitura‖, proporemos uma reflexão acerca das especificidades culturais e sociais de cada país, entendendo que a localidade do fato noticiado e o público ao qual se destina é um dos determinantes no que tange à construção de notícias e de sua posterior tradução. Palavras-chave: Cultura; Ideologia; Tradução jornalística.