Os 63 Dias Que Abalaram O Estado Novo - Incursão Histórica À Crise Terminal Do Regime

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Os 63 Dias Que Abalaram O Estado Novo - Incursão Histórica À Crise Terminal Do Regime Os 63 dias que abalaram o Estado Novo - Incursão histórica à crise terminal do regime Zélia Costa de Oliveira Dissertação em História Contemporânea Setembro, 2012 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em História Contemporânea, realizada sob a orientação científica de Fernando Rosas. À Mariana e à Margarida, pela inspiração 2 AGRADECIMENTOS Quero agradecer a várias pessoas o incentivo que me deram e sem as quais este trabalho não teria sido possível. Em primeiro lugar agradeço ao professor Fernando Rosas ter-me confiado este tema e toda a orientação que me deu, bem como as palavras de apoio e de estímulo ao longo de todo o curso. Agradeço ao Paulo Agostinho, editor da Agência Lusa, o apoio incondicional na realização desta investigação. Sem a sua pronta decisão em flexibilizar o meu horário de trabalho não teria conseguido conciliar trabalho e estudo. Agradeço a Paulo Tremoceiro, da Torre do Tombo, a rapidez com que atendeu aos meus pedidos, sempre urgentes, de consulta de documentos. Agradeço aos meus amigos Sónia Lacerda e Sérgio Santos as horas que dedicaram a ajudar-me. Agradeço à minha família, especialmente ao Aníbal e aos meus pais, que me substituíram no meu papel de mãe da Mariana e da Margarida. 3 Os 63 dias que abalaram o Estado Novo – Incursão histórica à crise terminal do regime Zélia Costa de Oliveira PALAVRAS-CHAVE: Marcello Caetano, Movimento das Forças Armadas No início de 1974, o Governo português chefiado por Marcello Caetano vai sofrer um forte abalo ao ser confrontado, pela primeira vez, com a falta de apoio à sua política por parte dos mais altos representantes das Forças Armadas (FA). Esta mudança de posição das FA, instituição que constituía um dos pilares do regime, vai contribuir para a desagregação do Governo. O grande problema do país era a guerra que se travava nas colónias (Angola, Moçambique e Guiné Bissau) há 13 longos anos, arrastando consigo milhares de homens. Ao manter o conflito sem um fim à vista, o regime provocou um enorme desgaste e cansaço no meio militar. A derrota iminente na Guiné e a incapacidade do Governo para obter armamento ainda agravou mais a moral das tropas. Neste contexto, o aparecimento de um livro (a 22 de fevereiro de 1974) da autoria do vice-chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), António Spínola (a segunda principal figura das FA), a proclamar a inutilidade da guerra veio emprestar uma nova bandeira a um movimento de capitães já anteriormente formado para reivindicar questões corporativas. A historiografia nacional já caracterizou o marcelismo mas não relatou de forma aprofundada os momentos finais do regime, em que o Estado Novo se desfaz em 63 dias, a partir da data da publicação do livro. Esta dissertação relata, dia-a-dia, a crise política que se gerou após a publicação da obra “Portugal e o Futuro”. As estruturas intermédias das forças armadas organizam-se em torno do Movimento das Forças Armadas e passam a conspirar contra a política de manutenção da guerra e acentuam-se as divergências entre o presidente do conselho e o Presidente da República. A saída do livro provocou o divórcio entre o Governo e as Forças Armadas e a gravidade da situação levou Marcello Caetano a pedir a demissão a 28 de fevereiro e a 11 de março, mas sem sucesso. O Presidente da República dirá apenas que o caminho é “ir até ao fim”. 4 Chegados a esta situação “delicadíssima”, nas suas próprias palavras, Marcello Caetano procurará legitimar-se junto da Assembleia Nacional onde faz aprovar uma moção que ratifica a sua política ultramarina. Depois numa outra fuga para a frente convoca as altas patentes militares para lhe prestarem apoio publicamente e renunciarem a ter “política própria”. Dois momentos que contrastam em completo com o que se passava nos bastidores onde um grupo de capitães se move com o beneplácito do vice-CEMGFA e do CEMGFA e da polícia política e aprova um documento onde se proclama que “sem democratização do país não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas” nacionais. Os militares queriam o fim da guerra e do regime e é por isso que se vão bater nesses dias. Pelo caminho registar-se-á uma saída em falso de militares, que será aniquilada pelo Governo, mas o movimento sairá vitorioso a 25 de Abril sem ter quem lutasse por ele. KEYWORDS: Marcello Caetano; Movement of the Armed Forces In the beginning of 1974, the Portuguese Government lead by Marcello Caetano is weakened when, for the first time, it is confronted with no political support from the major representatives of the Armed Forces (AF). This change of position of the AF, which is one of the pillars of the regime, will contribute to the downfall of the Government. The major problem of the Government is the colonial wars (Angola, Mozambique and Guiné Bissau) that have been going on for 13 long years and to which thousands of men are drafted. The iminent defeat in Guiné Bissau and the inability of the Portuguese Government to obtain armament and equipment deeply affected the army moral. In this context, the publication the book, “Portugal e o Futuro” on the 22nd of February 1974, by António Spínola will be the start of the regime’s decay. António Spínola, deputy chief of the General Staff of the Armed Forces, and the second most important person in the AF writes about the futility of the wars in the colonies. Within the AF a conspiracy unfolds against the policy for the colonial wars, lead by a group of captains that was already formed before the publication. At the same time, the relationship between Marcello and the President of the Republic comes under more and more strain. The severity of this situation leads Marcello Caetano to submit his resignation two times: one on the 28th of February and another on the 11th of March. Both requests were denied by the President of the Republic with the message “you will see this through to the end”. 5 This was, in Marcelo Caetano’s own words “a very delicate” situation. But with the help of National Assembly he manages to ratify the overseas policy in an attempt to legitimate himself. Next he convenes the top military to ask for their support and to renounce the policy against the wars. These two actions contrast with what was going on behind the curtains, where the group of captains is in fact active with the consent of vice-CEMGFA, the CEMGFA and the political police. The group of captains approves a document which states that ”without the country’s democratization, it will be impossible to solve the major problems of the Nation”. The military strives for an end to the colonial wars and the end of the Regime. After one failed attempt at a coup, the group of captains succeeds on their second try on the 25th of April, without any bloodshed. The regime of Marcello Caetano has been described in detail by the national historiography, but there is no account of its final days when the dictatorship dissolves in 63 days counting from the moment “Portugal e o Futuro” was published. This dissertation provides a day to day account of the unfolding political crisis initiated by the book of António Spínola and its impact within the Armed Forces. 6 ÍNDICE Introdução ........................................................................................................................ 1 CAPÍTULO I: O livro que abalou o regime......................................................................... 5 I.1 As razões da saída do Portugal e o Futuro ...................................................... 5 I.2 A obra e os capitães....................................................................................... 16 CAPÍTULO II: Diplomacia falha aquisição de armas aos EUA ......................................... 24 CAPÍTULO III: Problemas em Moçambique e subversão na metrópole......................... 33 III.1 MFA ganha forma........................................................................................ 36 III.2 Oposição tenta mobilizar as massas ........................................................... 37 CAPÍTULO IV: Encenação na Assembleia Nacional......................................................... 42 CAPÍTULO V: MFA e o derrube do regime...................................................................... 58 CAPÍTULO VI: A crise política bate no fundo .................................................................. 65 VI.1 Um acordo que nunca existiu ..................................................................... 65 VI.2 DGS faz prova de vida ................................................................................. 68 VI.3 Ir até ao fim, vencer ou ser vencido............................................................ 72 VI.4 Ministros já não controlam departamentos ............................................... 75 CAPÍTULO VII: Encenação no palácio e a saída de cena dos generais............................ 78 CAPÍTULO VIII: Remodelação no Governo ..................................................................... 83 CAPÍTULO IX: A saída em falso a 16 de março ............................................................... 88 IX.1. Incredulidade na oposição e invencibilidade para Washington .............. 106 IX.2 Acalmia na metrópole, diplomata enviado em segredo a Londres .......... 108 CAPÍTULO X: MFA reorganiza-se .................................................................................. 117 X.1. A última conversa em família.................................................................... 119 X.2. Um golpe sem oposição
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