NEM LOCAL, NEM ESTRANGEIRO: POSFÁCIOS FRANCESES EM CAIO FERNANDO ABREU Wagner Vonder Belinato (UEM)1 Resumo: Caio Fernando Abreu é um escritor singular. Apontado como voz de uma geração pela ousadia com que abordou temas de extrema sensibilidade, suas obras foram traduzidas para vários idiomas. O presente artigo parte dos posfácios que acompanham as edições em francês do autor para analisar o local de sua obra: não se filiando à tradicional obra nacional, tampouco pode ser ligada a outras tradições literárias, ainda que seja aliado a um cânone queer mundial. Esse deslocamento é responsável por garantir, ao autor, um espaço singular na literatura. Palavras-chave: Caio Fernando Abreu; tradução; deslocamento. Je est un autre (Arthur Rimbaud) Local e estrangeiro Desde a publicação de Os Dragões não conhecem o paraíso , pela Companhia das Letras, em 1988, a obra de Caio Fernando Abreu passou por um período de internacionalização. O autor, que já havia morado na Europa nos anos 1970 trabalhando, agora retorna para o velho continente na qualidade de literato. De 1991 até sua morte em fevereiro de 1996, o autor passou longas temporadas entre França, Inglaterra, Holanda, Itália e Alemanha. Em 1991, foi publicada, quase simultaneamente na França e na Inglaterra, a tradução do livro de contos acima citado. Embora não sejam consideradas uma fonte de estatística segura, as cartas do autor refletem, de certo modo, a vida que este levou de 1990 a 1994. Das 50 cartas 1 Doutorando em Estudos Literários (PLE/UEM). Professor assistente de Língua e Literatura de Línguas Francesas (UEM). E-mail:
[email protected] .