Filmes Nacionais Indicados Brasil 2018 106 Min
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2020 2020 Criado em 1974, o Festival Sesc Melhores Filmes é o primeiro festival de cinema da cidade de São Paulo e oferece ao público a oportunidade de ver ou rever o que passou de mais significativo pelas telas da cidade no ano anterior. Os filmes exibidos são escolhidos democraticamente por meio de votação de público e crítica. Em 46 anos de realização, o Festival Sesc Melhores Filmes já exibiu centenas de longas-metragens brasileiros e estrangeiros. Em 2010, o festival inovou ao ser o primeiro evento do gênero a disponibilizar sua programação com serviços de audiodescrição e legendagem open caption, recursos de acessibilidade que ampliam o alcance do público. O ano de 2020 foi marcado pela pandemia do corona vírus (covid-19). O país se viu obrigado a entrar em período de isolamento social, com o fechamento de inúmeros estabelecimentos, dentre eles cinemas e instituições culturais, como medida de segurança contra a propagação da doença. Por essa razão, o 46º Festival Sesc Melhores Filmes foi realizado em uma edição especial online. Este catálogo é uma homenagem ao cinema e ao público do festival. Janelas de Filmes Nacionais oportunidade Indicados Abram Szajman 35 8 Filmes Gosto que Estrangeiros se discute Premiados Danilo Santos de Miranda 55 9 Vilões brilham Filmes nas telas Estrangeiros Susana Schild Indicados 11 63 Atenção: Lançamentos estamos vivos, 2019 e o sangue ferve 79 Luiz Joaquim 14 Votação dos Críticos Cinema dos 115 últimos tempos ou Quem é você Melhores dos no apocalipse? Anos Anteriores Viviane Pistache 137 17 Filmes Nacionais Premiados 21 Janelas de oportunidade Abram Szajman As complexidades do mundo contemporâneo alcançado por meio de um sólido programa exigem o envolvimento das várias esferas da institucional que compreende diferentes sociedade para que se possa almejar outros áreas de atuação – educação, saúde, cultu- modelos de desenvolvimento. Para tanto, há ra, lazer e assistência – voltado às diversas que se racionalizar as atuações do poder faixas etárias. público e da iniciativa privada, integrando- Considerando essas perspectivas e o -os em um organismo simbiótico capaz de atual cenário de pandemia, o empresaria- ampliar o cardápio de opções para os dife- do, por intermédio do Sesc, coloca-se como rentes públicos. Há que se ter em mente o mais um agente no enfrentamento desse bem comum, em ações realizadas em com- processo, abrindo janelas de oportunidade plementaridade. para favorecer a circulação e o acesso aos A priori, caberia às instâncias governa- bens culturais, mantendo assim ativos os mentais disciplinar as questões relativas diversos setores da cadeia produtiva. O Fes- à oferta e à demanda por meio de crité- tival Sesc Melhores Filmes é um exemplo da rios específicos, assegurando a prestação realização desse propósito, ao promover a dos mais variados serviços aos cidadãos. A inserção de inúmeros profissionais e pos- crescente importância da cultura, como se- sibilitar a formação de novos públicos para tor econômico estratégico, tem solicitado a esse universo do consumo. composição com outras forças produtivas, valorizando seu potencial catalizador de di- nâmicas e mobilizações sociais em nível lo- cal e global. O Sesc, entidade de caráter privado e sem fins lucrativos, possui uma trajetória comprometida com os valores educativos e de transformação social. Iniciativa criada, mantida e administrada pelos empresaria- dos do comércio de bens, serviços e turis- mo, busca contribuir, prioritariamente, para a melhoria na qualidade de vida dos traba- Abram Szajman é Presidente do lhadores desses setores. Isto vem sendo Conselho Regional do Sesc São Paulo. 8 Gosto que se discute Danilo Santos de Miranda O ser humano é um ser de opiniões e contra- dições. Cada um tem suas preferências, len- “Em tempos de tamente consolidadas, a partir de vivências, radicalismos e sensibilidades e percursos de vida. O que é bom para alguns é insuficiente para outros; polarizações, uma faz parte do ambiente democrático. Ainda maneira de se assim, em alguns campos, o senso comum definiu como norma a impossibilidade de contrapor aos riscos discussão: crença, futebol ou gosto estéti- do conformismo e co, por exemplo. A constituição do gosto, nesse sentido, da indiferença (...) é passa longe de ser uma ciência exata, isen- exercitar a escuta e o ta de obstáculos, desvios ou mesmo recuos. Antes, torna-se um recurso de experimen- diálogo no encontro com tação e aprendizagem sobre os mecanismos os outros, buscando de escolha e apreciação, em permanente processo de teste e validação. A percepção, criar e estabelecer nos dias atuais, de que liberdades e direitos consensos” estejam sob ataque sugere a necessidade de ampliar horizontes e possibilidades. a imersão na sala escura –, a exibição pú- Isso porque, em tempos de radicalismos blica, especialmente nos raros cinemas de e polarizações, uma maneira de se contrapor rua, permanece como um relevante fator de aos riscos do conformismo e da indiferen- convivência, troca de ideias e impressões e, ça, decorrentes de narrativas autoritárias, é também, de resistência. exercitar a escuta e o diálogo no encontro No contexto dos Festivais, é importan- com os outros, buscando criar e estabelecer te considerar seu caráter diferenciado, um consensos. acontecimento que cria infinitas possibili- No âmbito do cinema, embora nos últimos dades de conexão e interação entre públicos anos a quantidade de filmes e a variedade de diversos: de especialistas e pesquisadores plataformas à disposição do espectador te- a leigos e aficionados. Entre uma exibição nham alterado os rituais de fruição – como e outra, é habitual entabular comentários, 9 “A percepção, nos dias atuais, de que liberdades e direitos estejam sob ataque sugere a necessidade de ampliar horizontes e possibilidades” externar preferências e opiniões. Não por acaso, há anos o Festival Sesc Melhores Fil- mes reúne trabalhos selecionados por um júri composto por críticos e pelo público, pre- miando em pé de igualdade seus favoritos. Excepcionalmente, esse exercício de in- teligência e prazer precisa encontrar e ofe- recer outras formas de fruição e discussão, adaptados ao momento atual de pandemia, para continuar sendo esse espaço de cons- trução do livre pensar, de lapidação do gos- to estético e da argumentação pública, com responsabilidade e segurança. Assim, no intuito de registrar, preservar e celebrar esse lugar de referência para o exercício democrático e a cidadania, o Sesc disponibiliza um encontro – ou reencontro – com os destaques da cinematografia con- temporânea que, nesta 46ª edição, aconte- ce exclusivamente nos meios digitais, pro- movendo a ampliação as possibilidades de acesso e interação com outros aficionados. Danilo Santos de Miranda é Diretor Regional do Sesc São Paulo. 10 Vilões brilham nas telas Susana Schild Parasita e Coringa. Em tempos de polariza- ções generalizadas, por tudo e por nada, di- “Empatia ou ficilmente um balanço sobre os filmes mais solidariedade não marcantes de 2019 excluirá esses dois títu- los. O primeiro, da Coreia do Sul, dirigido por fazem parte do cardápio. Bong Joon-Ho, mais conhecido até então em É cada um por si – circuitos cinéfilos; o segundo, Todd Phillips, norte-americano, célebre pela trilogia Se e nada de misturas” beber não case. Antípodas geográficos, eles se encontraram ao explodirem na tela ques- vazadas pela luz, amplo jardim. A convivên- tão urgente da desordem contemporânea: a cia, a princípio, segue as leis de mercado: inserção de indivíduos, famílias e grupos de manda quem pode, obedece quem tem juí- excluídos em sociedades cindidas por fossos zo. Só que não. A ‘ascensão social’ dos Kim econômicos e seus desdobramentos (Bacu- não contempla concorrência. E com méto- rau, de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, dos espúrios, despacha motorista e a antiga alinha-se à mesma temática). empregada. Quando os patrões viajam, sen- Comecemos com Parasita, que soma 232 tem-se donos do pedaço. Mas cada mansão láureas segundo o IMDB, levou a Palma de tem seu segredo, no caso, um bunker. A luta Ouro em Cannes e mudou a história do Os- de classes ganha novo segmento e se com- car como a primeira obra estrangeira pre- plica: empatia ou solidariedade não fazem miada como melhor filme. Não, não se trata parte do cardápio. É cada um por si – e nada de um Cidadão Kane que implodiu a narrati- de misturas, até porque os donos da casa va da época com sua estrutura, montagem odeiam o cheiro dos subalternos, que pe- e deep focus. A implosão de Bong Joon-Ho gam as sobras de uma dedetização pesada tem como alvo o tradicional maniqueísmo da em um retorno ao porão. arcaica contenda ricos x pobres. Em filmes anteriores (como Memórias de Enredo básico: uma família de desempre- um Assassino), Bong Joon-Ho exibiu talento gados (pais e dois filhos) - os “Kim” - vive e apreço pela mistura de gêneros – crítica em porão insalubre. Por um golpe de sorte, social, suspense, toques de terror, humor o grupo consegue se infiltrar na mansão macabro. Esse mix autoral de requintes es- dos “Park”, construção de paredes de vidro téticos funciona para forte envolvimento do 11 psiquiátricos, Coringa trafega entre a viti- “Joaquin Phoenix mização e a vilania. Exemplo: com máscara encarna de forma de palhaço e riso convulsivo, o rapaz mata três agressivos colarinhos brancos no Me- perturbadora a trô. Para sua surpresa, ele transforma-se personalidade em celebridade, símbolo de seus pares de excluídos. Joaquin Phoenix encarna de for- desconexa e delirante ma perturbadora a personalidade desconexa de um ser que e delirante de um ser que convive com uma dor dilacerante e permanente. Levou, mere- convive com uma cidamente, a maioria dos prêmios de inter- dor dilacerante e pretação masculina da temporada. A safra 2019 também exibiu grifes respei- permanente” tadas, como Martin Scorsese, com O Irlan- dês, alentada auto-homenagem, base para espectador que, no caso de Parasita, certa- defesa da plataforma Netflix (produtora do mente estava despreparado para o clímax filme) e ataques a super-heróis da Marvel sangrento liderado por um pária que emer- como “não-cinema”.