Trio de Aldo Romano 4 de fevereiro 21h30 · Grande Auditório · Duração 1h30

Piano Danilo Rea Contrabaixo Remi Vignolo Bateria Aldo Romano

© mephisto A desarmante elegância do jazz de Aldo Romano manuel jorge veloso

Aparentando um porte algo distante e es- do Jazzpar, distinção ímpar no nosso con- fíngico na sua estatura esguia e eminente, tinente. Mas a sua personalidade artística Aldo Romano é um dos músicos de jazz mais é a de alguém cuja polivalência criativa se surpreendentemente elegantes na relação foi construindo, a par e passo, nas múlti- com o seu instrumento (a bateria) e com a plas colaborações com músicos de ten- música que estimula à sua volta, qualquer dências estéticas as mais diversas, de Don que seja o contexto instrumental que o ro- Cherry e a Gianluigi Trovesi e deia. O que não deixa de ser curioso quando Franco d’Andrea passando, entre tantos se ousa pensar, por vezes, ser missão de um outros, por Joachim Kühn, Gato Barbieri, baterista… bater forte e feio! , , Jasper van‘t Homem dos sete instrumentos, entre os Hof, Charlie Mariano, René Urtreger, Franz quais a guitarra e a bateria (agora pianista Koglmann ou , num percurso e até cantor), Aldo Romano não disfarça, no que também conheceu o hard-bop e a fu- carácter «melódico» do jazz que hoje nos são com passagem pelo free jazz. propõe, a sua origem italiana. Mas desde Descobridor de novos talentos, foi pela que, em inícios da década de 1960, iniciou mão de Aldo Romano que os seus com- uma prolífera carreira em Paris – cidade patriotas Fabrizio Bosso, , que anos antes acolhera seus pais no difí- Francesco Bearzatti ou Stefano di Battista cil trânsito da emigração –, Romano foi-se se tornaram conhecidos na cena euro- tornando o mais francês dos músicos ita- peia do jazz. E a relevância de um Michel lianos. Petrucciani no jazz internacional ficou a As notas que noutro local desta folha dever-se à sua solidariedade, insistência de sala nos dão conta dos principais pas- e persuasão, ajudando a formar (e parti- sos da sua carreira ajudarão a desvendar cipando durante anos) no trio do notável o que de mais interessante existe no tra- pianista francês. jecto profissional de um dos mais impor- O concerto a que hoje assistiremos tem tantes músicos em todo o jazz europeu, como repertório anunciado o do álbum culminando com a ainda fresca atribuição Threesome, gravado há dois anos por Aldo Romano na companhia dos mesmos músi- do contrabaixo, assegurará um contributo cos presentes em palco – o pianista italiano pulsante e harmónico, seguro e influente, Danilo Rea e o contrabaixista francês René na estratégia colectiva de um trio sobre o Vignolo – correspondendo inteiramente ao qual se percebe pairar, a todo o momento, significado daquele título a interacção e a a maturidade de Aldo Romano e uma indu- cumplicidade patentes no entusiasmante zida influência organizativa sem a qual os jogo musical dos três músicos. momentos de aparente deriva seriam um É certo que, pelo próprio carácter quase fim e não um meio. «orquestral» que o piano é capaz de assu- A solidificar este consistente trio de mir, Danilo Rea poderá desempenhar, na Romano estará, por certo, a particular mu- aparência, um papel central e determinan- sicalidade das peças saídas da sua pena te na tomada de decisões improvisativas de compositor, a um tempo líricas e explo- susceptíveis de encaminhar em sentidos di- sivas, singelas e poderosas, românticas versos a evolução de cada peça. Cultura ja- e telúricas, jamais escondendo a matriz zzística, talento e invenção não lhe faltam transalpina das toadas mas sempre fazen- na construção de uma linguagem pessoal do uso de um sistemático efeito de distan- que, encontrando certas referências na ciação, quando tudo se arrisca a parecer especial rítmica de Ahmad Jamal ou no me- demasiado familiar. lodismo de notáveis pares italianos – como Entre essas peças poderão estar (ou não) Enrico Pieranunzi ou Stefano Bollani – pa- o tempo de valsa de Sapore di Si Minore (re- rece ir beber farta inspiração na capacida- baptizado Manda, em referência à perso- de percussiva dos dedos ou na desbragada nagem interpretada por Serge Reggiani em entrega emocional de um Keith Jarrett. Casque d’Or, de Jacques Becker), as tocantes Partindo de uma pequena frase ou trans- homenagens a três desaparecidos – Michel formando um simples ostinato num novo Grailler, Claude Nougaro e Elis Regina –, o desvio temático imparável, swingando de swing médio/lento de Touched!, a impulsiva forma impetuosa ou percorrendo todo o tarantella no interior de Abruzzi, a moder- teclado em torrentes aleatórias e deixando nidade de Fleeting ou, ainda, um desejável cair com violência clusters «tayloreanos», encore: a espantosa melodia de Estate, na Rea irá sem dúvida surpreender os ama- voz do próprio Romano… dores de jazz portugueses; mas também Sabe-se lá… Remi Vignolo, na exploração virtuosística Janeiro, 2006 Biografia

Aldo Romano, um dos nomes maiores do jazz outro, “Pork Pie”, explorando os caminhos, europeu, nasceu em Belluno, Veneto, Itália, então em voga, da fusão do rock com o jazz. em 1941. Os seus pais emigraram para França Em 1977 reencontrou Enrico Rava que, com era ele muito novo, mas manteve a naciona- ele, Jenny-Clark e formou lidade italiana. Começou a tocar guitarra an- um quarteto. Numa das viagens do grupo tes de, tinha então vinte anos, se decidir pela a Itália, Romano gravou um álbum em duo bateria, ao ouvir o grupo de Donald Byrd com Jenny-Clark, dedicado a Cesare Pavese, com o baterista Arthur Taylor. Basicamente que inclui uma série de textos do escri- autodidacta, beneficiou, todavia, dos con- tor italiano ditos por um actor do Piccolo selhos de Michel Babault e Jacques Thollot. Teatro de Milão. Admirador de Philly Joe Jones, Elvin Jones, No início dos anos 80 conheceu Michel Tony Williams, Ed Blackwell e Billy Higgins, Petruciani, cuja carreira lançou, apoiando-o foi sobretudo influenciado pelo saxofonista durante três anos, compondo para ele vá- Jackie McLean com quem tocou numa das rios temas e gravando diversos álbuns. No suas viagens à Europa. Nos clubes de jazz final da década, além de ter tocado com de Paris teve, de resto, a oportunidade de Chet Baker ou René Urtreger, ou composto acompanhar muitos outros músicos ameri- algumas canções para Claude Nogaro, for- canos de visita à Europa, como Bud Powell, mou um quarteto italiano com Paolo Fresu, Stan Getz ou Kenny Drew. Franco d’Andrea e Furio Di Castri (Palatino) Com Jean-François Jenny-Clark, Bernard com quem gravou quatro discos, um deles, Vitet e François Tusques formou, em 1964, Canzone, revisitando canções populares. uma das primeiras bandas de free jazz eu- Em 1995 formou um trio com Louis ropeias. Em 1965, já músico profissional, Sclavis e com quem fez uma trabalhou com, entre outros, Carla Bley, viagem por seis países da África Central. Steve Lacey, Enrico Rava, Gato Barbieri, Don O resultado dessa viagem ficou registado Cherry. No final da década de 1960 tocou ou num célebre álbum, Suite Africaine. Carnet fez digressões com, nomeadamente, Dexter de Routes. Muito recentemente, o mesmo Gordon, Jean-Luc Ponty, Michel Portal, Phill trio voltou a África e gravou um novo dis- Woods, Joachim Kühn (com quem trabalhou co, saído em Novembro de 2005, African regularmente durante alguns anos). Flashback. A exploração que tem desen- Formou o seu primeiro grupo, “Total volvido de temas evocativos das mais di- Issue”, em 1970, seguido, em 1974, de um versas origens geográficas (Europa, África, América Latina), quer de música popular, quer de música erudita, justificarão que alguns lhe atribuam a invenção do “jazz nómada”. Aldo Romano é um músico e com- positor em permanente reinvenção, expe- rimentando novos estilos, participando em numerosas e diversificadas formações, nunca deixando de nos surpreender. Acaba de editar um CD, Chante, em que pela pri- meira vez usa a sua voz. Em 2004 recebeu o prestigiado Jazzpar, o mais importante prémio de jazz europeu, consagrando uma carreira ímpar. Nesse ano, com Danilo Rea ao piano e Remi Vignolo no contrabaixo, gravou Threesome, CD pre- miado pelas revistas da especialidade e que está na base do presente concerto. “Vejo a música como uma celebração partilhada com o público. (...) Ao longo dos anos acho que vim reduzindo a minha distância com o público, mas admito que houve um tempo em que o excluí completa- mente. (...) Passei por um período de doença e acho que isso alterou bastante a minha atitude. Sou menos tímido agora; julgo que ganhei confiança em mim. Hoje diria que sou alguém que procura o afecto e vivo as minhas experiências musicais como histó- rias de amor”. Próximo espectáculo música 7 de fevereiro 21h30 · Grande Auditório · Duração 1h00 (c/ intervalo)

OrchestrUtopica Diques

Concebidos em 1892 como um enorme desafio à natureza, os diques da Holanda manifestam uma energia contraditória: ao mesmo tempo que contêm e empurram para trás as águas do Atlântico Norte, permitem expandir o território, conquistar e alargar o espaço. Simbolizam um gesto inconfor- mado: a não resignação às imperfeições do mundo, a afirmação do seu domínio técnico e cultural. Esse traço, mesmo que metafórico e simbólico, “ouve-se” e toma parte na nova música da Holanda. Se se pode dizer que a geografia determina as produções culturais humanas, certamente o carácter da nova música holandesa distingue-se no mosaico europeu e no “estilo internacional” dominante – talvez pelo mesmo traço que marca a ousadia de construir diques, pontes e canais. Uma generalização assim com esta precisão nacional é arriscada, certamente. Por isso, e para lá de uma descrição mais ou menos baseada em impressões e sensações, a escuta da nova música da Holanda permitirá reconhecer a inscrição de vozes e dis- cursos que marcam hoje decisivamente de forma relevante o panorama da nova música. Não se centrando particularmente numa ques- tão de “escola”, o concerto Diques dá destaque a Michel van der Aa (um dos compositores mais marcantes da nova música holandesa), a Jan van de Putte e ao jovem compositor português, Nuno Miguel Henriques.

Os portadores de bilhete para o espectáculo têm acesso ao Parque de Estacionamento da Caixa Geral de Depósitos. Conselho de Administração Presidente Manuel José Vaz Vice-Presidente Miguel Lobo Antunes Vogal Luís dos Santos Ferro

Assessores Direcção Técnica Gil Mendo (Dança) Eugénio Sena Francisco Frazão (Teatro) Direcção de Cena e Luzes Miguel Wandschneider (Arte Contemporânea) Horácio Fernandes Raquel Ribeiro dos Santos (Serviço Educativo) Audiovisuais Direcção de Produção Américo Firmino Margarida Mota Paulo Abrantes Produção e Secretariado Iluminação de Cena Patrícia Blazquez Fernando Ricardo (Chefe) Mariana Cardoso de Lemos Nuno Alves Exposições Maquinaria de Cena António Sequeira Lopes (Produção e Montagem) José Luís Pereira (Chefe) Paula Tavares dos Santos (Produção) Alcino Ferreira Susana Sameiro (Culturgest Porto) Técnicos Auxiliares Comunicação Tiago Bernardo Filipe Folhadela Moreira Álvaro Coelho Rita Conduto (estagiária) Frente de Casa Publicações Rute Moraes Bastos Marta Cardoso Bilheteira Patrícia Santos Manuela Fialho Rosário Sousa Machado Edgar Andrade Actividades Comerciais Joana Marto Catarina Carmona Recepção Serviços Administrativos e Financeiros Teresa Figueiredo Cristina Ribeiro Sofia Fernandes Paulo Silva Auxiliar Administrativo Nuno Cunha

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