OBRA ANALISADA Tieta do Agreste GÊNERO prosa AUTOR DADOS BIOGRÁFICOS Nascimento: 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da .

Morte: 6 de agosto de 2001, em Salvador. BIBLIOGRAFIA Romance O país do carnaval, 1931 , 19333 Suor, 1934 Jubiabá, 1935 Mar morto, 1936 Capitães da areia, 1937 Terras do sem fim, 1943 São Jorge dos Ihéus, 1944 Seara vermelha, 1946 Os subterrâneos da liberdade, 1954 Gabriela, cravo e canela, 1958 A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, 1961 Os velhos marinheiros, 1961 Os pastores da noite, 1964 Dona Flor e seus dois maridos, 1966 Tenda dos milagres, 1969 Teresa Batista cansada de guerra, 1972 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, 1976 Tieta do Agreste, 1977 Farda, fardão, camisola de dormir, 1979 Tocaia grande, 1984 O sumiço da santa: uma história de feitiçaria, 1988 A descoberta da América pelos turcos, 1992 Milagre dos pássaros, 1997

Biografia ABC de Castro Alves, 1941 O cavaleiro da esperança, 1942

Memória O menino grapiúna, 1981 Navegação de cabotagem, 1992

Drama O amor do soldado, 1947

Infantil A bola e o goleiro, 1984

Guia da cidade / de viagem Bahia de Todos os Santos, 1945 O mundo da paz, 1951

Premiações Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1959) Prêmio Graça Aranha (1959) Prêmio Paula Brito (1959) Prêmio Jabuti (1959 e 1970) Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil (1959) Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1959) Troféu Intelectual do Ano (1970) Prêmio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro (1982) Prêmio Nestlé de Literatura, São Paulo (1982)

Prêmio Brasília de Literatura — conjunto de obras (1982) Prêmio Moinho Santista de Literatura (1984) Prêmio BNB de Literatura (1985).

No exterior, não foram poucas as premiações: Prêmio Internacional Lênin, Moscou, 1951 Prêmio de Latinidade, Paris, 1971 Prêmio do Instituto Ítalo-Latino-Americano, Roma, 1976 Prêmio Risit d'Aur, Udine, Itália, 1984 Prêmio Moinho, Itália, 1984 Prêmio Dimitrof de Literatura, Sofia, Bulgária, 1986 Prêmio Pablo Neruda, Associação de Escritores Soviéticos, Moscou, 1989 Prêmio Mundial Cino Del Duca da Fundação Simone e Cino Del Duca, 1990 Prêmio Camõe, 1995.

Recebeu também diversos títulos honoríficos, nacionais e estrangeiros, entre os quais: Comendador da Ordem Andrés Bello, Venezuela (1977); Commandeur de l'Ordre des Arts et des Lettres, da França (1979); Commandeur de la Légion d'Honneur (1984); Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (1980) e do Ceará (1981); Doutor Honoris Causa pela Universidade Degli Studi de Bari, Itália (1980) e pela Universidade de Lumière Lyon II, França (1987). Grão Mestre da Ordem do Rio Branco (1985) e Comendador da Ordem do Congresso Nacional, Brasília (1986).

RESENHA Antonieta, Tieta, ex-pastora de cabras expulsa de sua terra pelo próprio pai. Por quê? Viveu aventuras amorosas que escandalizaram a população da pequena Sant'Ana do Agreste. Espancada pelo pai, foi rejeitada e humilhada. Vai para São Paulo em fuga do conservadorismo do pacato vilarejo. Volta ao lar anos vinte e seis anos depois. Como? Afirma que enriqueceu após casamento com industrial e comendador. Na verdade, ela rede dona de um bordel na capital paulista. Conta a Carmosina que tem uma butique de luxo, com preços muito caros para gente de alta sociedade; clientela de primeira ordem. Reencontra a cidade onde tudo é feito com base nas aparências; o regime patriarcal ainda é imperante. Seu pai, agora velho, continua com seu forte caráter dominando a família. Sua irmã ora viúva, com dois filhos, recebe-a na própria casa, somente por interesse; espera que a irmã adote um dos seus filhos para que a fortuna desta permaneça em família. Tieta, ao demonstrar costumes refinados, vira o centro da atenção de toda a Sant’Ana do Agreste.

Chega rica e repleta de planos: um deles é construir sua própria casa em Mangue Seco. Traz mudanças a sua cidade. Com dinheiro e influência política, ajuda a família e traz benefícios à comunidade: a luz elétrica – Hidrelétrica de Paulo Afonso, por exemplo. A luz de Tieta. Compra casa de dona Zulmira, uma das melhores da cidade, contrata o mestre de obras Liberato e manda construir 2 banheiros- chuveiros, banheiras e latrinas de luxo - para abrigar o pai, a madrasta e filha; a irmã Elisa com o marido.

Afirmações de Tieta: “- Fui gulosa, gulosa de homens, quanto mais melhor... Eu era cabra com vários bodes...”, “ -Não posso ver ninguém necessitado, passando fome,... Sei o que é precisão, dói em minha carne”. Por isso, ao

observar Cardo com o mastro do saveiro erguido, as velas desatadas... não perdeu a chance em seduzi-lo no gabinete do doutor Fulgêncio, que a hospedara. Afinal, sua tia era mestra competente, emérita catedrática, doctor honoris causa da matéria. O seminarista, louco de remorso e medo, vai se confessar ao frei Timóteo que o aconselha - nenhum homem pode viver sem mulher nem mulher sem homem, é contra a lei de Deus; dá-lhe mísera penitência. Fora liberto das penas do inferno.

Nos mais variados contextos e situações, essa cabra da peste demonstra seu caráter: mulher pronta ao prazer do sexo, ao largo sorriso, mas disponível, quando necessário, a auxiliar outrem – ex.: No Buraco Fundo, onde moram os mais pobres entre os pobres... um incêndio. O fogo vitimou 3 dos 5 filhos da viúva Dona Paulina, os menores. Marina Grossa Tripa, lavadeira fugira porta afora, mas esquece a velha Miquelina, sua avó. Tieta põe em risco a própria vida – feias queimaduras, pernas e braços em carne viva, cabelos chamuscados - mas salva a idosa. Joana d’Arc do sertão. Por isso, o antigo Caminho da Lama, na entrada da cidade, passou a ser Rua da Luz de Tieta.

Zé Esteves morreu de alegria após fechar negócio - Jarde Antunes e seu filho Josafá – para a compra da terra e do rebanho um pouquinho de terra, cabras e um bode para alegrar os últimos dias da vida. Tieta decide comprar a Vista Alegre em nome do casal. Não é grande, mas é muito bem cuidada e dá uma boa renda. Faz divisa com a fazenda de Osnar. Rebanho e plantação sob os cuidados imediatos de Menininho, filho de Lauro Branco, arranjo de Osnar.

“Invasão de extraterrestres? Marcianos? Não! Construção de hotel, estabelecimento de linha de ônibus, serviço de lanchas no rio... área de Mangue Seco onde se seriam erguidas as fábricas – moderna cidade operária... Construção de um Brasil poderoso. Será? Doutor Mirko Stefano uma exigência: segredo absoluto até nova ordem. Ascânio está escondendo leite. Papai Noel desce de helicóptero – a máquina-voadora- e traz 50 sacolas de presentes às crianças paupérrimas. Quem também chega? O Magnífico Doutor.

Doutor Mirko, porta-voz, cita estudos em Itabuna, Ilhéus, Valença, Arembeque... como as concorrentes frente a Mangue Seco. A chegada da empresa Brastânio - Indústria Brasileira de Titânio S/A causa rebuliço: uns estão a favor; outros, contra. A discussão ameaça pegar fogo. No mundo inteiro existem apenas seis fábricas de dióxido de titânio.

Bayer – um dos legendários reis da indústria mundial? Herr Professor Karl Bayer

Poluição das águas, destruição da flora e da fauna marítimas? Titânio mata caranguejo? Mata até cágado que é bicho teimoso demais para morrer. Quando relata que a equipe da Brastânio chegou a Mangue Seco já relata a travessia demorada, desagradável, em mar agitado e perigoso. Na foz do rio Real, a ressaca cresce em vagalhões, o vento faz redemoinhos de areia, transforma a geografia da praia.

Só? A mão do homem auxiliou / ampliou essa destruição.

Por entre coqueiros, surge correndo uma mulher vestida de calça e capa de borracha negra, dessas de marinheiro, na mão o bastão, o cajado do pai. Tieta é líder na expulsão dessa equipe de técnicos. “Fora! Fora com os envenenadores”! Eis a maneira de Jorge Amado passar-nos clara visão de como funciona a política em nosso país. Ex.: Jovem Parlamentar possui reputação duvidosa, discutida nos bastidores da Câmara Federal. Nos bastidores, jamais em público. [...] Propina seria palavra escandalosa e indigna para designar a expressiva gratidão daqueles que lhe utilizam os méritos e as relações.

E a Campanha Eleitoral? Será domingo, por volta das cinco da tarde, após a matinê e antes da bênção Essa eleição é uma loteria – afirmou padre Mariano.

Ricardo buscou novos braços como a tia prenunciara. A outra mulher foi Maria Imaculada. “Não nasci para carregar chifres.” Tieta não se conteve e Perpétua descobriu tudo.

Jarde Antunes falece. Velório concorrido como todos. Evento na cidade.

E o radialista afirma: “oficialmente concedida autorização governamental à Brastânio, para estabelecer em Arembepe duas fábricas interligadas que produzirão dióxido de titânio.

Tieta e Leonora embarcam na marinete de Jairo, a Imperatriz dos Caminhos. Tieta paga 3: dela, Nora e Maria Imaculada.

ESTILO DE ÉPOCA Modernismo – Segunda Fase – Prosa 1930 – 1945 O decênio de 1930 teve como característica própria um grande surto do romance, tão brilhante quanto o que se verificou em 1880 e 1910. E estava lançada uma das correntes mais poderosas da nossa literatura: regionalista. Na maioria das obras, a região existe como enquadramento expressivo, dando um peso de realidade e um elemento de convicção.

ESTRUTURA DA NARRATIVA Vários flashbacks. Por quê? Um deles é mostrar o que alguns cidadãos ilustres estão achando da sua história.

Gregório Eustáquio de Matos Barbosa = Barbosinha - autor de 3 livros: 2 de poesia + 1 de máximas filosóficas – teve um namoro uma paixão devoradora por Tieta pouco antes de ela ir embora; ela não gostava de mocinhos jovens. Por isso, ele nunca se casou. Ela era a musa inspiradora dos seus mais belos versos. comandante Dário Queluz – por amor ao clima de Agreste e paisagem de Mangue Seco, abandona a Marinha de Guerra + esposa D. Laura Dr. José Augusto de Faria – farmacêutico em Aracaju

NARRADOR ONISCIENTE Por quê? Narra a história em 3ª pessoa; às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Conhece tudo sobre as personagens e sobre o enredo, penetra no mundo interior das personagens, conhece suas emoções e pensamentos. É capaz de revelar suas vozes, isto é, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre.

= Exórdio ou introdução “Começo a avisar: não assumo qualquer responsabilidade pela exatidão dos fatos, não ponho a mão no fogo, só um louco o faria.” “Mas que importa minha opinião?” “alguns detalhes dificilmente merecerão crédito de parte das pessoas sensatas” “Aqui venho apenas livrar a cara, declinar de qualquer responsabilidade. Relato os fatos conforme me foram narrados, por uns e por outros.

Narrador se ref. ao leitor constantemente Prometi aos leitores um brinde, ofereço dois, ambos de graça: a receita e o conselho.

Encontro-me em Agreste trazido pelo clima de sanatório mas não sou daqui, sou de Niterói, como se diz. Não faço minhas as desvairadas paixões a abalar o burgo, a açoitar os habitantes. Não me envolvo, apenas relato.

Não podem os senhores me culpar por metido, importuno e maçador: a quantas páginas já andamos no terceiro episódio desse arrastado relato, sem que eu haja interrompido a narrativa? Afinal, cabe-me o direito de fazê-lo, sou o autor e não posso permitir que os personagens se dêem ao luxo de conduzir sozinhos os acontecimentos, ao sabor das emoções e ponto de vista nem sempre os mais convenientes à mensagem desejada.

AMBIENTE fictícia de Sant'Ana do Agreste = Mangue Seco, situa-se na Bahia, mas só é acessível por território sergipano. centro de abastecimento de toda uma enorme região. O povo não morria de fome, porque o rio e o mangue forneciam fartura de peixes, guaiamus, caranguejos, pitus incomparáveis . Além, é claro, das frutas – bananas, mangas, jacas, mangabas, pinhas, abacaxis, goiabas e araçás, sapotis e melancias e o coqueiral. Vixe! pensão de dona Amorzinho Armazém de Plínio Xavier Matriz de Sant’Anna Nosso Cantinho – ampla e confortável vivenda de Modesto Pires. Curral do Bode Inácio – singular nome da casa de veraneio de Tieta Toca da Sogra Agência dos Correios denominada areópago substantivo masculino 1 tribunal de justiça ou conselho, célebre pela honestidade e retidão no juízo, que funcionava a céu aberto no outeiro de Marte, antiga Atenas, desempenhando papel importante em política e assuntos religiosos 2 Derivação: por extensão de sentido. qualquer tribunal ou assembléia que se aprecie pela

retidão dos julgamentos 3 Derivação: por extensão de sentido. assembleia de sábios, literatos, cientistas Crasto Encravada entre áreas de manguezais e faunas fluviais, a Mata do Crasto, no município de Santa Luzia do Itanhy é uma reserva de Mata Atlântica, a pouco mais de 75km de Aracaju. Como o município de Santa Luzia do Itanhy se situa num antigo território de engenhos, a mata resistiu às queimadas, as plantações de cana-de-açúcar, também a pecuária e mais recentemente monocultura do coco e transformou-se num Patrimônio Natural de todos os sergipanos e primeira Reserva Particular de Fauna e da Flora do Estado de Sergipe. Praça do Mercado = Praça Coronel Francisco Trindade = feira de Agreste = feira semanal = Quem dá aos pobres empresta a Deus: cego Cristóvão, beato Possidônio... Bacia de Catarina – pequena enseada na curva do rio; rio forma pequena bacia, reduto das lavadeiras Toca da Sogra Cita que um filho da terra adquiriu padaria em Cascadura, RJ – Panificação Sant’Anna do Agreste - Novidades pós-Tieta – madrinha das inaugurações Cine Teatro Tupy praça Modesto Pires, antiga praça do Curtume, com um lindo jardim Obelisco Monumento com fita verde e amarelo para descerrar a placa de concreto onde se lê a data festiva e o nome do benemérito – coronel Artur de Figueiredo. Casario com placas comemorativas Caminho da Lama, hoje, rua dona Antonieta Esteves Cantarelli, cidadã benemérita. Inauguração da Bolsa de Imóveis em Mangue Seco

TEMPO “Decorridos mais de dez anos...” Nos últimos decênios... o progresso fizera golpes contra o Agreste: lanchas direto para o porto do Crasto, Sergipe

Humor + socialmente engajado = aguça a curiosidade do leitor.

PERSONAGENS - José Esteves Filho ou Zé Esteves – o patriarca + madrasta Tonha, da idade de Tieta, mas acabada - Antonieta Esteves, Tieta – envia cartas, dinheiro mensal e presentes – roupa pouco usada, quase nova -, mas não manda endereço. A família escreve para caixa- postal 6211. A cabra com vários bodes, montada por esse ou por aquele, no chão de pedras, em cima do mato,... volta ao Agreste com 44 anos. Saiu aos 18; ficou 26 anos fora. Herdara 4 apartamentos e um andar térreo no centro da cidade. Analisemos o crescimento, a força da protagonista: possui personalidade forte, indomável desde seus primeiros atos. Para ela, não existe pecado; tudo é feito em função de obter um prazer físico. Temos a impressão de conhecê-la perfeitamente, tais são as informações que o narrador nos passa. Relações epistolares: uma carta por mês de cada lado. Fora reconhecida por D. Carmosina em foto de carnaval na Revista Manchete, baile do Teatro Excelsior, SP. - Felipe de Almeida Couto – personagem da coluna social e suposto marido - num recorte de jornal paulista – Folha da Manhã, emprestado por Dona Nícia.

Mandou celebrar missa pelos 15 anos de casamento, na igreja da Sé; padre Eugênio Melo Nome verdadeiro: comendador Felipe Cantarelli, rico industrial paulista [antes Felipe Camargo do Amaral casado com D. Olívia e 2 filhos homens, um EUA; outro Inglaterra]+ “enteada” de Tieta: Leonora Cantarelli, Nora. Na realidade, pais: a magra Vicenza / o troncudo Vitório Cantarelli [5 filhos = 4 homens e ela, caçula]. Aos 15 anos, foi violentada sexualmente por 4 homens no automóvel. Vai fazer a vida em randevu – Refúgio dos Lordes, de Madame Antoinette. Como surgiu o Refúgio? Madame Georgette – Nid d’Amour – Tieta era uma das fêmeas de seu vasto e renovado estoque; todas selecionadas no capricho. Madame Georgette – passa o negócio adiante; embarca para a França, no auge dos lucros. Felipe o compra em nome de Tieta que altera a denominação.

- Doutor Lucas de Lima - Perpétua Esteves Batista, luto fechado, viúva do major Cupertino Batista, oficial reformado da Polícia Militar do Estado, tem casas para alugar que lhe dão uma boa renda - Lula Pedreiro – saiu de uma delas; 3 meses sem pagar. Conseguiu alugá-la a Laerte Curte Couto, empregado de Modesto Pires. - Crianças filhos da austera Perpétua: filho mais velho, Cardo ou Ricardo [seminarista, exemplo de recato e pudicícia] / filho mais novo, Peto ou Cupertino é malandro, malicioso, sabidíssimo / Toninho [nasceu morto] - ex-dono da mansão na praça Desembargador Oliva, nº 19, que o major comprou ao casar com Perpétua: Doutor Fulgêncio Neto, esposo de dona Eufrosina, médico de fama nos idos do progresso. Remédios simples e poderosos: óleo de rícino, Maravilha Curativa [do Dr. Humphreys] , Saúde da Mulher, Emulsão de Scott [tradicional medicamento à base de óleo de fígado de bacalhau], Bromil [é expectorante], chá de sabugueiro, além, é claro, da água e do ar de Agreste.

- Elisa Esteves Simas, meia-irmã, nascida do segundo casamento do velho + casou-se aos 16 anos com Astério Simas, filho e herdeiro de Seu Ananias, da loja de fazendas; marido bom de taco, apenas porque adora jogar bilhar no Bar dos Açores, de seu Manuel Português. Adorava revistas – Amiga – e produtos cosméticos. Gostaria muito de conhecer a cidade de SPaulo, mas Tieta percebe que seria maléfico: o marido não iria se adaptar; ela certamente tornar-se-ia prostituta. - Francisco Trindade, avô de Ascânio – luz da usina de Paulo Afonso – já fora prefeito da cidade / Leovigildo, pai de Ascânio + Rafa, escura mãe de leite - Ascânio Trindade, deixou a faculdade de Direito no segundo ano. Diz-se secretário, mas manda e desmanda na prefeitura entregue ao doutor Mauritônio Dantas, cirurgião-dentista de forças reduzidas pelos desgostos e esclerose. Demente, suicida-se. Como? Usa o pijama para enforcar-se no banheiro + esposa Amélia ou Mel. De conformidade com a lei, o presidente da Câmara Municipal, coronel Artur Figueiredo, com 90 anos, assume, mas para constar. Ascânio dirige os destinos da cidade. Entretanto, mesmo enamorado de Nora, quando descobre

que já fora deflorada, a princípio, não aceita. O preconceito vive dentro da gente. Debateu-se nesse dilema, mas não sabia usar máscara. Aceita-a, violada, sim, mas perfeita de candura e de pureza, casta mais que qualquer virgem. Entretanto, quando sabe que mentiu toda a sua história, a repele de vez. - Coronel Artur de Figueiredo – dono da Fazenda Tapitanga – padrinho de Ascânio e presidente da Câmara Municipal - dona Milu, parteira, viúva - Dona Carmosina Luizer da Consolação - representante dos Correios na pequena cidade. É a pessoa mais bem informada por dois motivos: lê diariamente os exemplares dos jornais que passam pelo órgão e abre todas as correspondências que passam por ali. - Canuto Tavares – outro funcionário da Agência; proprietário da oficina de consertos em Esplanada - Modesto Pires – criador de cabras e ovelhas, proprietário do curtume, de terras a perder de vista, um dos mais irredutíveis guardiões da moral pública em Agreste. Várias casas de aluguel [dentre elas a que Elisa vive] + dona Aída + 3 filhos – Marta, filha casada com Pedro, engenheiro da Petrobras mora na Bahia + filho, médico no interior de SP, sócio de uma casa de saúde + filha Teresa, mais nova, casada, marido paranaense, empresário, construtor de imóveis, vivem em Curitiba / Carol, retraída moça - Osnar, Aminthas [Aramis/, Seixas ou Fidélio – os Mosqueteiros de Agreste, apelidara-os dona Carmosina. Antes, assunto dos 4: mulher e cama. Agora... - Fidélio Dórea Antunes de Arroubas Filho, o atual Taco de Ouro, um título abstrato. Sim, Fidélio derrotou Ascânio, na partida final, disputada ponto a ponto, tacada a tacada. - Doutor Mirko Stefano – pau mandado / testa de ferro; comanda as relações públicas e privadas, assina cheques, - fiel, corno Terto + vagabunda Edna

Sábado, dia de cinema, reúne os graúdos da cidade; filmes vinham de Esplanada. árabe Chalita, na bilheteria do cinema, mercadeja lugares, alguns já marcados pelo hábito. catimplora ou cantimplora = sorveteira manual de folha- de-flandres manejada pelo moleque Sabino

- Dona Indayá Alves – prof. de arte culinária - Zuleika Rosa do Carmo, a Cinderela, casa mal- afamada, no Beco da Amargura Cinderela, por quê? Por ter chegado da cozinha da fazenda Tapitanga, onde o coronel Artur exercera o direito de pernada antes de ela completar 14 anos. É com ela a primeira vez de Peto. Antes, só na cabra. - Jonas – chefe da colônia de pescadores, ficou maneta, porque o tubarão comeu-lhe o braço esquerdo. - barco a motor de Pirica - D. Zulmira – idosa, com bela casa; vende-a para Tieta. O dinheiro é para seu sustento e remédios até a morte; ao falecer, o patrimônio ficará para a igreja matriz. - João Felício – sobrinho de D. Zulmira - se casara com a filha do pastor da Igreja Bastista de Esplanada - missionário Dom Alfonso de Narbona y Rodomon vociferava em dura mescla de espanhol e português - padre Inocêncio Maltez: 3 mulheres, 19 filhos – 8 varões e 6 moças, 5 deus levou na primeira infância - alguns netos e bisnetos; um pequeno clã; falecido há

pouco mais de um decênio, vigário, por mais de 50 anos na cidade de Laranjeiras. É reconhecido como o santo de Laranjeiras por seus milagres. Na data do aniversário de sua morte, somam peditórios e promove o turismo religioso na cidade. - padre Mariano – pároco da igreja matriz - Frei Timóteo – confessor de Cardo. - cerimônia festiva do Te Deum - dona Preciosa / dona Auta Rosa – diretora e secretária do Grupo Escolar - doutor Pedro Palmeira, engenheiro da Petrobras - doutor Hélio Colombo

LINGUAGEM FORMAL É quando há detalhes mais documentais: expõe a realidade regional brasileira; focaliza o aspecto social. cômoro = duna Carmo quando se resfria fica enjoada, vira um alfenim. = pessoa delicada, mole, franzina

METONÍMIA: parte pelo todo Se puserem as células cinzentas em ação, compreenderão...

APOSTO – acrescenta uma informação importante por meio da qual o leitor fica mais esclarecido: Nos últimos anos, sobretudo após o casamento, começara a idealizar a figura da ausente, espécie de gênio bom, heroína de conto da carochinha, imagem fugidia, quase irreal, a se fazer concreta no auxílio mensal, nos esporádicos presentes.

LINGUAGEM INFORMAL / COLOQUIAL e REGIONALISTA taco a taco = de modo equilibrado; ombro a ombro, pau a pau raro em raro / de raro em raro = uma vez ou outra, de vez em quando; a rodo = em grande quantidade; à beça lavar a égua = 1 obter grande lucro financeiro; lavar a burra 2 satisfazer à saciedade unha de fome / unhas de fome = excessivamente apegado ao dinheiro /avarento / avarentos major bom de espoleta, não negava fogo bateu a caçoleta = morreu boca de siri sobre as casas de aluguel e das economias no banco – Regionalismo [PL.: bocas de siri] = atitude de reserva; silêncio custar os olhos da cara = ter preço muito alto ter o olho maior que a barriga = ser guloso; desejar possuir imoderadamente osso duro de roer – Regionalismo diz-se de pessoa destemida, valentona; carne de pescoço no mato sem cachorro - Regionalismo =em situação muito difícil e sem meios para livrar-se dela marinete de Jairo - regionalismo de AL, BA e SE = ônibus

Provérbios / Máximas “com os olhos que a terra há de comer” Não arrote antes de comer. Eu aprendi a não soltar foguete antes do tempo para não queimar a mão. = regozijar-se prematuramente por algo cuja realização é duvidosa

2ª pessoa do singular / flexão incorreta comum na fala: “Tem horas que tu nem parece mulher feita e casada, fala o que não deve. O que tu precisa é ir ajudar na igreja em vez de ficar em casa lendo revista e ouvindo rádio, gastado tempo com essas porcarias” – disse Perpétua a Elisa.

“ESTRANGEIRISMOS” APORTUGUESADOS No raunde inicial – tentativa de aportuguesar: round soarê de domingo - forma aportuguesada de soirée uiquiendes = aportuguesar weekends Conversar a batons rompus = conversa reservada INTERTEXTUALIDADE As adaptações da obra de Jorge Amado para o cinema e televisão foram numerosas e contribuíram decisivamente para difundir ainda mais as suas histórias entre o povo que, em todos os estratos sociais e culturais; houve identificação imediata – povo + histórias. Filme Tieta do Agreste, comédia de Cacá Diegues, diretor e adaptador do romance, 1996. A atriz Sonia Braga foi a protagonista. Cacá Diegues - um dos fundadores do Cinema Novo, ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra, entre outros.

TV, novela de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, 1989, Rede Globo, Betty Faria foi a protagonista.

Tieta do Agreste, Caetano Veloso, trilha sonora com letra para cada um dos personagens, 1996, gravadora Sony.

Tieta do Agreste, o musical. Em duas temporadas de sucesso, no teatro Frei Caneca e teatro Brigadeiro em SP, com Fábio Barreto e Tânia Paes, 2009 Direção geral e adaptação de Christina Trevisan, direção musical de Pedro Paulo Bogossian e acompanhamento dos músicos Silvio Venosa, Itamar Vidal, Beto Sodré, Rodrigo Mardegan e Micaela Marcondes. Integra o projeto Grandes Autores Brasileiros. Objetivo: adaptação e montagem para o teatro de obras conhecidas de vários autores brasileiros. Suborno: Magnífico Doutor / Jovem Parlamentar Propina seria palavra escandalosa e indigna para designar a expressiva gratidão daqueles que lhe utilizam os méritos e as relações. Se respeitável bolada lhe advém, trata-se de merecida pecúnia, pois um passo em falso, um erro de pessoa, pode custar mandato e carreira: os da linha dura são infensos à corrupção e vivem de olho atento, desconfiadíssimos. Tarefa delicada, exige alta recompensa. [p. 256] Como esse trecho é tão atual! Compare, debatam. Concluam!

COMPARAÇÃO NORDESTE e SUL: Tieta do Agreste + Um certo capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo = Caracterização dos estados brasileiros - Tieta: Bahia  religiosidade do povo, hábitos provincianos, sensualidade - Um certo capitão Rodrigo: Rio Grande do Sul  valorização da valentia e da coragem, disposição para a briga.

= chegadas: de Tieta e do capitão Rodrigo Cambará, valente “gaudério” das coxilhas sulinas

Ambos causam impacto quando chegam.: - capitão Rodrigo por seu atrevimento e atitude provocativa. - Tieta vista como atrevida por não estar enlutada pela morte do marido.

= destaque para a cor vermelha - Na caracterização do capitão Rodrigo, o vermelho é o símbolo da guerra, do sangue e da audácia do personagem. - Em Tieta, o vermelho é o símbolo da sensualidade; contrasta com as cores fúnebres do cortejo enlutado da cidade.

= Regionalismos [expressões típicas de cada região] - Tieta: marinete, um tipo de ônibus; altear, levantar e outras nesta ficha.

- Um certo capitão Rodrigo: barbicacho, cordão do chapéu; alazão, cavalo; bombacha, calça típica gaúcha chilenas, esporas grandes dólmã, casaco militar apear, descer cinamomo, espécie de árvore rebenque, chicote Cumprimentos: buenas, boa tarde Me espalho, fico à vontade

Compare: fictícia de Santana do Agreste = Mangue Seco, situa-se na Bahia, mas só é acessível por território sergipano.

Em matéria recente do Programa Fantástico... Mangue Seco corre o risco de sumir do mapa Teu paraíso, poeta, está ameaçado mesmo. Praia do Riacho Doce, em Itaúnas, ES, na divisa dos estados da Bahia e Espírito Santo. Manguezais, rios, alagados, restinga, praia... E dunas de até 30m de altura. - Desrespeito e apreensão dos moradores A fúria das dunas é resultado de séculos de desmatamento da Mata Atlântica desta região litorânea. Esse processo também deixou suas marcas na restinga e no mangue. Rio Real avança dum lado... mar crescendo do outro; subiu 20cm nas embocaduras, regiões mais frágeis do litoral. As montanhas de areia se movimento rapidamente em direção às ruas. Diversos coqueiros já foram soterrados. Metade de uma rua, há casas já destruídas. Por quê? Talvez pela retirada da vegetação, que protege e estabiliza as duas. Eram casas de veraneio; não houve vítimas. Selvagem, rústica e quase deserta, é considerada a praia mais bonita da região, abrigando um riacho de águas escuras e formações de corais. Tem bar e acesso difícil: a pé, são 10km; de carro, 17km em estrada de terra ruim em meio a labirintos de eucaliptos.

Na costa das dunas... ao lado da praia do Saco está o Mangue Seco, famoso mangue brasileiro cuja biodiversidade estava intacta. Ao todo são 42 quilômetros de praias (Mangue Seco, Coqueiro, Vapor e Costa Azul) com vários atrativos.

Madona do Cedro, de Antonio Callado / Tieta onde o padre Mariano faz ref. ao roubo das antigas e valiosas

esculturas de santos das igrejas  vendidas a antiquários e colecionadores. Pintor Carybé / restaurador Mirabeau Sampaio Carybé (1911-1997), nome artístico de Hector Julio Paride Bernabó, pintor figurativo brasileiro de origem argentina, cuja estilização gráfica aproximou-se da abstração. Dono de uma obra vasta, na qual se estimam cerca de 5.000 trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços. Recebeu o apelido de Carybé (nome de um peixe de água doce pelo qual é internacionalmente conhecido) na época em que era escoteiro, porque esse era o nome de sua barraca de acampamento. Suas obras, tanto pinturas como desenhos, esculturas e talhas, refletem a chamada baianidade, através da representação do cotidiano, do folclore e de suas cenas populares.

José Mirabeau Sampaio (Salvador BA, 1911 / Salvador, 1993). No Museu de Arte Sacra da UFBA, há uma sala da Coleção de Arte Sacra Mirabeau Sampaio, montada ao longo de 40 anos; consta de 456 peças quase todas criadas por artesãos desconhecidos. Mirabeau era médico e foi comerciante, mas, sobretudo, se dizia um artista, posto que desenhava e esculpia, principalmente santos, e durante algum tempo lecionou na Escola de Belas Artes da UFBA. VISÃO CRÍTICA Jorge Amado foi o maior romancista do país, tradutor da essência e da cor da Bahia, profundo conhecedor da alma brasileira e criador de personagens inesquecíveis.

Profundamente marcado pelas preocupações ambientalistas que tomaram ímpeto na década de 1970, o autor faz surgir nessa obra a ameaça que nessa década sofria a costa da Bahia. Essa ameaça margeia toda a ação e traz a marca do autor: a preocupação e engajamento para com as causas sociais.

Apesar de o discurso governamental da ditadura militar que vigiava no país na década de 1970 cantava em prosa e verso as maravilhas do progresso e a implantação de indústrias de base por todo o Brasil...... os ativistas da causa da preservação do meio-ambiente alertavam para os riscos da poluição e dos dejetos industriais lançados sem tratamento à terra, ao céu e ao mar.

Esse contexto é o pano de fundo no qual se desenrola toda a ação da heroína Tieta. Assim como a Bahia do mundo real se via ameaçada pelos metais pesados da indústria petroquímica que lá se instalava, a Bahia da ficção de Jorge Amado se via ameaçada pela também fictícia indústria Brastânio – Indústria Brasileira de Titânio S. A. Poluição?!