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Editorial vol. 36 n.1 Revista Contracampo Caras leitoras e leitores, O volume 36 número 1 da Revista Contracampo, do PPGCOM da Universidade Federal Fluminense, inaugura duas importantes mudanças concernentes à divulgação científica: 1) a publicação dos artigos em português e inglês e 2) a implementação da dinâmica Ahead of Print. A primeira mudança visa um processo de internacionalização da revista, ampliando a interlocução com pesquisadores de outros países, enquanto a segunda tem como objetivo proporcionar mais agilidade e rapidez na disseminação do conhecimento. Os artigos aqui reunidos, de autoria de pesquisadoras e pesquisadores de instituições diversas do país, trazem objetos, questões, fundamentação teórica e análises distintos, compondo uma edição de temáticas livres. Contudo, destaca-se que três dos trabalhos que fazem parte deste número trazem discussões que envolvem televisão, ainda que a partir de olhares distintos. O artigo intitulado “Natureza, paisagem e representação na fotografia de Claudia Jaguaribe”, de Fernando Gonçalves (UERJ), apresenta uma análise de cinco trabalhos da série “Quando eu vi”, e problematiza, a partir dela, a ideia de fotografia enquanto representação testemunhal de um real, propondo, ao contrário, que seja entendida enquanto construção imagética, mediadora e moduladora de percepções. Já em “Tempos e lugares da Rádio Rebelde Zapatista: as ritualidades dos usos sociais” Ismar Costa Filho (UFC) apresenta pesquisa feita a partir de análise das ritualidades (proposta por 2 Martín-Barbero) da programação da rádio, bem como entrevistas com seus ouvintes. O autor aponta que a rádio rompe com uma temporalidade “industrial”, reforçando a defesa de autonomia e autogestão não apenas em seus conteúdos como sua própria organização temporal, atrelada ainda às experiências dos ouvintes e do movimento zapatista. Passando para uma discussão sobre o uso da categoria “classe social” em estudos de recepção no Brasil, Rafael Grohmann (FIAM-FAAM e USP) traz levantamento de 16 teses e dissertações defendidas entre 2010 e 2014 em Programas de Pós-Graduação em Comunicação no país e conclui, dentre outros aspectos, que a dimensão dos conflitos de classe tem sido pouco valorizada em tais pesquisas e que ela deveria ser pensada enquanto um conceito “em movimento”, que faz parte dos processos e relações comunicacionais. Partindo para temática distinta, João Ladeira (Unisinos) traz artigo que discute a difusão de conteúdos televisivos na contemporaneidade a partir de dispositivos das empresas Google e Apple. O autor argumenta que os fluxos de transmissão de conteúdos a partir delas envolve uma tríade de objetos – smart TVs, tablets ou smartphones e aplicativos de conteúdo – que ganham relevância a partir necessariamente da sua interconexão, gerando um formato televisivo que opera com lógicas distintas de funcionamento. Yvana Fechine (UFPB), por sua vez, problematiza o conceito de TV Social, argumentando que o termo tem sido utilizado de modo impreciso para se referir ao ato de se fazer comentários em sites de redes sociais acerca de programas televisivos. A autora defende que o termo deve ser acionado para se referir a um tipo específico de conversação, em rede, que é mediado por tecnologias digitais interativas e parte das estratégias das próprias empresas de comunicação. Em “O ‘pão que o diabo amassou’ é a melhor dieta: internautas e telespectadores de programa de TV compartilham 3 3 relatos de humilhação, sofrimento e superação na conquista de emagrecimento e autoestima” Tania Silva (Fiocruz) e Kátia Lerner (Fiocruz) focam nas relações entre “corpo, visibilidade e processos de subjetivação” a partir de coleta de narrativas de espectadores do programa Bem Estar (TV Globo) ao site G1. As autoras mostram como os relatos, por um lado, parecem cumprir a função de aumentar uma ideia de autoestima dos que conseguem perder peso, mas, por outro, reiteram sentidos negativos produzidos sobre a gordura e a obesidade, tidas como elementos vexatórios. Por fim, Leonardo De Marchi (UERJ / USP) tece considerações relevantes, a partir de estudo de caso, sobre o mercado fonográfico brasileiro na contemporaneidade, mediado pela cultura digital. O autor ressalta, dentre outros aspectos, a importância de se repensar a distribuição financeira proveniente do comércio eletrônico e a obsolescência da lei brasileira de direitos autorais em um cenário de disponibilização de conteúdo musical em plataformas como o YouTube, levantando questões sobre possibilidades de intervenção estatal para regularização deste mercado. Esperamos que a leitura seja proveitosa e aproveitamos para informar que a próxima edição, vol. 36 n. 2, contará com artigos de temas livres. Cordialmente, Beatriz Polivanov e Thaiane Oliveira. Editoras-chefes da Revista Contracampo 4 4 EQUIPE EDITORIAL Editoras-chefes Beatriz Polivanov (UFF) Thaiane Oliveira (UFF) Simone Pereira de Sá (UFF) Angela Prysthon (UFPE) Editores-executivos André Bonsanto Dias Camilla Quesada Tavares Clara Câmara Fábio Agra Luana Inocêncio Rafael Ribeiro Tatiana Lima Revisão e Tradução/Versão Beatriz Medeiros Patrícia Matos Schneider Ferreira Reis de Souza Simone Evangelista Projeto gráfico / Diagramação Paulo Alan Deslandes Fragoso Daniel Rios Wanderley Anchieta Equipe de comunicação Diego Amaral Natalia Dias Julia Silveira Pollyane Belo Planejamento estratégico Ana Luiza Alves Melina Meimaridis Reynaldo Gonçalves Priscila Mana 5 5 Natureza, paisagem e representação na fotografia de Claudia Jaguaribe Nature, landscape and Edição v. 36 representation in the número 1 / 2017 photography of Claudia Contracampo e-ISSN 2238-2577 Niterói (RJ), v. 36, n. 1 Jaguaribe abr/2017A Revista-jul Contracampo/2017 é uma revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal FERNANDO NASCIMENTO GONÇALVES Doutor em Comunicação pela ECO-UFRJ (2003) com pós-doutorado em sociologia pela Fluminense e tem como objetivo Universidade René Descartes, Paris V- Sorbonne (2008). Atualmente é professor da contribuir para a reflexão crítica Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, habilitação em torno do campo midiático, Relações Públicas. Atua nas áreas de comunicação, arte, fotografia, tecnologia, atuando como espaço de sociabilidade e produção subjetiva. Brasil. circulação da pesquisa e do pensamento acadêmico. [email protected] AO CITAR ESTE ARTIGO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA: GONÇALVES, Fernanda Nascimento. Natureza, paisagem e representação na fotografia de Claudia Jaguaribe. Contracampo, Niterói, v. 36, n. 01, pp. 06-25, abr. 2017/ jul. 2017. Enviado em: 06 de novembro de 2016 / Aceito em: 24 de janeiro de 2017. DOI – http://dx.doi.org/10.22409/contracampo.v36i1.956 Resumo Este artigo discute a construção das imagens de natureza nas fotografias de paisagem de Claudia Jaguaribe na série Quando eu vi. O texto busca evidenciar como em seus trabalhos a imagem fotográfica constitui ao mesmo tempo material expressivo e uma reflexão sobre as lógicas que organizam nossos modos de ver e de mostrar o mundo. Para tanto, serão analisados cinco trabalhos da série e os procedimentos realizados pela artista para problematizar as noções de “natureza” e de “paisagem” na fotografia. Os questionamentos da artista inscrevem-se nas discussões realizadas na arte contemporânea sobre o arquivo, onde fotografia não é tratada apenas como informação visual, mas como dispositivo que permite discutir sistemas e códigos de representação e a paisagem, como um dispositivo que modula nossas percepções e relações com os espaços naturais e construídos. Palavras-chave Fotografia; Paisagem; Arte; Documento; Representação. Abstract This article aims to discuss the construction of images in Claudia Jaguaribe’s na- ture landscape photographs in the series "Quando eu vi". The text seeks to demon- strate how in Jaguaribe’s work photographs constitute at once expressive materials and a reflection on the logics which organizes our forms of seeing and of showing the world. Therefore, the text will examine five works from the mentioned series and review the procedures performed by the artist to critically discuss the notions of "nature" and "landscape" in photography. The questions raised by the artist are part of the discussion on the archive in contemporary art where photography is considered as device which allows to discuss systems and codes of representation and the landscape is seen as a device which modulates our perceptions and rela- tions with natural and constructed spaces. Keywords Photography; Landscape; Art; Document; Representation. 7 Introdução O presente artigo discute os processos de construção da imagem e a noção de paisagem natural nos trabalhos que compõem a série fotográfica Quando eu vi (2007), da artista carioca Claudia Jaguaribe. O texto argumenta que em seus trabalhos a imagem fotográfica constitui ao mesmo tempo material expressivo e uma reflexão sobre as lógicas que organizam nossos modos de ver e de mostrar o mundo. A discussão proposta pelo texto se inscreve nas reflexões sobre o papel que a fotografia contemporânea1 parece ter hoje na redefinição dos parâmetros de apreensão e mediação da experiência social através da imagem. Para diversos autores dos campos da Filosofia, da História da Arte e da Fotografia, as imagens no campo da arte constituem um fenômeno não negligenciável por discutirem a questão da representação e dos regimes de enunciação do visível na fotografia. Ao inventariar e discutir nossos sistemas de representação, muitos trabalhos de fotografia na arte contemporânea