Parte II Morgados e Casas dominantes no distrito de Castelo Branco no século XIX

Mapa do Distrito de Castelo Branco

Fonte: www.freguesiasdeportugal.com

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Capítulo I – Os processos de registo de vínculos no Governo Civil de Castelo Branco: os registadores.

1.1. Um corpus de investigação

Os vínculos registados entre 1861 e 1863 no Governo Civil de Castelo Branco constituíram o corpus de trabalho para esta investigação. Depois de uma identificação sumária de todos os administradores que procederam ao registo, observámos e acompanhámos de forma mais pormenorizada dez desses administradores representantes de parentelas de significativa importância no distrito de Castelo Branco, no século XIX. Provenientes do Governo Civil de Castelo Branco encontram-se na Torre do Tombo a cópia de 24 processos, embora estejam numerados de 1 a 29 não se encontram no Arquivo as cópias dos processos números 15, 23, 24, 25. Os números em falta deverão corresponder a processos que foram feitos de forma provisória e não passaram a definitivos, pelo que nunca foram enviados para o Arquivo da Torre do Tombo. Neste sentido sabemos por exemplo do caso de Francisco Correia da Silva Sampaio226 Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, um grande proprietário de Castelo Branco e influente político, que terá também encetado diligências para efectuar um registo de morgadio do qual era administrador. Este registo não deverá ter sido concluído, pelo menos não foi enviada qualquer cópia para Lisboa, no entanto temos provas de que o procurou concretizar as

226 Nascido em Castelo Branco foi casado com Maria Leonor José da Conceição das Dores de Mello e Castro Costa e Sousa, tendo sido pais do 1º visconde de Castelo Novo, António Manuel Pedro da Conceição Correia da Cunha de Sampaio Melo e Castro Costa e Sousa que nasceu em 1853 na casa de família na localidade de Escalos de Cima.

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quais são dadas pelo anúncio publicado no Diário de Lisboa de 20 de Janeiro de 1863, onde o Juízo da Comarca de Castelo Branco apelava ao pronunciamento de todos os que se opusessem ao processo de justificação da posse do vínculo227. De facto, parece evidente que os números em falta corresponderão a processos iniciados e nunca foram materializados e dos quais desconhecemos os autores com excepção do caso referido. Existe um documento que contém a relação dos vínculos registados definitivamente, em Castelo Branco, o qual em 1868 acompanhou as respectivas cópias enviadas para a Torre do Tombo, onde estas se encontram numeradas de um a vinte e quatro. Nesta relação está escrita provavelmente pelo punho de Alfredo Pimenta, uma nota datada de 22 de Julho de 1931 que diz: “Os 24 processos existem, mas a sua numeração não é seguida: faltam os processos nºs 15, 23, 24 e 25”. Devido a esta falta foram ordenadas, em Castelo Branco, as cópias a enviar para Lisboa numa sequência que não coincide com o número de processo no livro de registo do referido Governo Civil. Ultrapassando a questão da numeração e utilizando a que corresponde a cada processo, encontramos referenciados os seguintes vínculos registados neste distrito228.

Processos de registo de vínculos no Governo Civil de Castelo Branco

Nºde Localização Administrador Processo 1 Salgueiro (Conc. Fundão) João José de Oliveira Frazão Castelo Branco 2 São Martinho, Boidobra (Concelho Brigadeiro do exército José de da Covilhã) Figueiredo Frazão 3 Idanha a Nova Conde da Graciosa Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio 4 Lousa (Conc.de Idanha-a-Nova) João José Vaz Preto Giraldes 5 Castelo Novo (Conc. Fundão), Pedro de Ordaz Caldeira de Castelo Branco Valadares

227 Consta assim na página 171 da referida publicação, na secção dos anúncios: “PELO JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE CASTELO BRANCO, e cartório do escrivão Sá, correm éditos de trinta dias, a contar do dia 15 do corrente mês de Janeiro, chamando todas as pessoas que com melhor direito se julguem ao vínculo que actualmente administra Francisco Correia da Silva Sampaio, residente em Escalos de Cima, e que pretende fazer registar para os efeitos da lei de 30 de Julho de 1860, em virtude de justificação a que se procede no dito juízo. Todos os interessados certos e incertos que tenham direitos a opor os deverão deduzir no dito juízo até à primeira audiência depois de findo o dito prazo; sob pena de correr o processo à revelia”. 228 Optámos por retirar da obra de Alfredo Pimenta apenas o nome do vínculo e/ou a localização geográfica e o seu administrador no momento do registo.

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6 Proença-a-Velha, S. Miguel Luísa Augusta da Cunha Castro d’Acha, Aldeia de Santa Margarida Meneses Pita 7* Castelo Branco General Claúdio Caldeira Pedroso 8 Erada, Paúl, Peso, Tortozendo, Francisco Tavares de Almeida Sabugal, Penamacor Proença 9 Oleiros, Pedrogão Pequeno (Conc. António Leitão de Queiroz e Sertã) Andrade 10 Castelo Novo (Conc. do Fundão), visconde de Castelo Branco João da Castelo Branco Fonseca e Castro Refóios 11 Castelo Branco Diogo da Silva Castelo Branco 12 S. Vicente da Beira, Castelo Novo, visconde da Borralha Francisco Castelo Branco, Vila Franca de Caldeira Leitão e Brito Moniz de Xira, Monsanto, Midões, Sernache Albuquerque do Bonjardim, Covilhã, Sertã 13 Covilhã Luís Cândido de Tavares Osório 14* Capinha (Conc. Fundão) João António Franco Frazão 16 Penamacor, Fundão, Sabugal Manuel Pinto Tavares Fragoso Freire 17 Covilhã, Fundão Aires Paes de Lima Castelo Branco 18 Sernache do Bonjardim António Casimiro Biscaia da Silva 19 Oleiros, Castelo Branco, Sertã visconde de Oleiros Francisco de Albuquerque Pinto Mesquita e Castro 20 Sertã, Veiros, Estremoz, Fronteira, Carlota Granado de Castro Lemos Arraiolos 21 Pedrogão Grande, Sertã Luís António de Magalhães Taborda 22 Fundão, Idanha a Nova António de Pádua Leitão Marrocos 26 e 27 Idanha a Nova, Peroviseu, Chãos visconde do Outeiro Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e Maria Isabel Osório Macedo 28 Sertã Simão José de Mascarenhas Leitão 29 Castelo Branco Pedro de Ordaz Caldeira Valadares

Quadro nº 3

Embora não tivéssemos explorado todos os processos de vínculos registados no distrito de Castelo Branco analisámos os 24 documentos existentes e identificámos os administradores que procederam ao registo. Pretendemos dar uma panorâmica geral sobre o papel desempenhado por cada um dos indivíduos que registaram vínculos e determinar as figuras mais relevantes socialmente na região, as quais serão ponto de

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partida para uma análise mais detalhada de forma a permitir o desenvolvimento dos objectivos desta investigação. Têm em comum os administradores que registaram vínculos o facto de pretenderem continuar a ser morgados, ou seja a vontade de manterem o seu património ou pelo menos parte dele vinculado, era na realidade isso que o registo permitia. Na leitura dos processos sentimos algumas vezes que estávamos perante um registo de propriedades que nunca tinham sido vinculadas. O género de justificação dada para a falta de documentos de instituição, a forma como era testemunhada a antiguidade da vinculação, utilizando indivíduos manifestamente submetidos ao poder do pretenso morgado e ainda a troca do favor do testemunho entre registadores leva-nos a crer que havia detentores de vastas propriedades que aproveitaram a abertura da legislação para se tornarem morgados. Esta situação terá sido várias vezes denunciada por parlamentares quando se discutiu a abolição do morgadio. Não nos cabe agora a nós destrinçar esta suspeita, já que a ter acontecido só indica que apesar da contestação quase generalizada à propriedade vinculada ainda havia muitos interessados em terem o estatuto de morgado. No nosso caso os registos que analisámos foram aceites e os registadores considerados morgados. Passaremos numa primeira fase a apresentar os administradores que procederam ao registo, de forma sucinta, através de elementos obtidos a partir da leitura dos processos, coadjuvados com as informações obtidas da consulta de registos paroquiais e obras várias, principalmente de carácter genealógico. São 23 os indivíduos que fazem registos de vínculos neste Distrito em conformidade com a lei de 1860. São vinte os homens (um dos administradores fará dois registos) e três as mulheres, uma das quais surge associada ao seu marido.

1.2. Os morgados registadores

O processo de registo nº 1 refere-se a um vínculo instituído sob a invocação de Santa Maria Madalena, do Salgueiro, freguesia do Concelho do Fundão. O administrador em 1860, João José de Oliveira Frazão, era filho de João de Oliveira Frazão de Castelo Branco e de Maria Angélica Elvas Soares. Foi neto paterno de João

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Leitão Frazão de Castelo Branco e Oliveira que justificou nobreza em 1781, fidalgo de Cota de Armas (c. de 3.11.1881) e foi Senhor e morgado do Salgueiro229. Casou este administrador com Emília Carolina Vaz Leitão. Residiu no Salgueiro em casa com capela invocada a Santa Maria Madalena. Os seus bens vinculados situavam-se nos Concelhos do Fundão, no de Belmonte, no de Penamacor e no de Idanha-a-Nova. Foi sucessor o filho, João de Oliveira Frazão de Castelo Branco, bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Natural do Salgueiro, nasceu em Maio de 1834 e faleceu em Janeiro de 1892. Foi administrador dos Concelhos do Fundão, Penalva do Castelo, Covilhã e Belmonte e segundo José Germano da Cunha230 foi um dos 40 maiores contribuintes do Concelho. Foi casado com Maria Delfina Vaz Leitão Ferreira de Castro. É este que como procurador de seu pai procede ao registo. A posse do património deste vínculo teve que ser provada por um processo de justificação, pois como vai declarar o administrador, os documentos de instituição terão desaparecido no tempo das invasões francesas. Refere-se assim: “Que é constante público e notório que no tempo da invasão dos franceses, os ascendentes do suplicante e então com a administração do referido vínculo se evadiram precipitadamente abandonando sua casa, para fugir aos Franceses, em cuja conjuntura houveram e não podiam deixar de haver roubos, furtos e descaminho de papéis e mais efeitos”231. Como veremos à frente, serão feitos mais dois registos por indivíduos nascidos na Casa do Salgueiro. O processo de registo nº 2 foi feito em nome de José de Figueiredo Frazão, filho de Gregório José Pedroso da Cruz e de Gervásia de Figueiredo, nasceu no Salgueiro em 27 de Abril de 1795 e faleceu em 1878. Registou bens vinculados situados no Concelho da Covilhã, mais concretamente em São Martinho e Boidobra, que recebeu pela linha paterna. O seu nascimento ocorreu na mesma casa do anterior administrador, pois são primos, sendo a mãe de José Frazão irmã do pai de João Frazão Castelo Branco. Além

229 Anuário da Nobreza de , p.p. 844–845, tomo II, 1985. 230 Apontamentos para a História do Fundão, p.242. 231 Vínculos Abelho, processo nº 1, fl.3.

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de fidalgo da Casa Real foi Brigadeiro do exército e General, notabilizando-se pela sua ideologia liberal. Desempenhou os cargos políticos de vereador e Presidente da Câmara do Fundão em 1834, recebeu de D. Luís o título de visconde do . Casou com Ana Jacinta Pimenta Avelar. Foi seu sucessor José de Figueiredo Pimenta de Avelar Frazão que casou com uma filha do visconde do Outeiro e conde de Idanha, Maria Natividade Trigueiros Martel. O processo nº 3 corresponde ao registo feito por Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio, conde da Graciosa. Trata-se de um vínculo instituído em 1760, ao qual foram feitas nove anexações. O território deste vínculo estende-se preponderantemente pela região de Idanha-a-Nova e Monsanto, inclui também a Quinta dos Arciprestes em Lisboa. O processo de registo consta de vários documentos, entre os quais: uma escritura de “contrato de transacção amigável, composição e partilhas entre maiores, pagamento de legítimas, renunciação e instituição de vínculo e doação irrevogável…”232 documento datado de 1760, feito por Brites Maria de Andrade e Couto, viúva de Fernando Afonso Giraldes e por dez dos seus onze filhos, em que estes prescindem da sua legítima em favor do irmão mais velho, o sucessor na administração do morgadio, Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade. Este último viria a ser o avô do registador do vínculo. O conde da Graciosa nasceu em 1808 e era filho de Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Meneses e de Joana das Dores de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo e Bourbon. Veio a casar com Maria José Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque, irmã do conde da Borralha o qual era cunhado do conde da Graciosa pois estava casado com a sua irmã Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e Bourbon. Entre outras funções foi Senhor de Medelim e alcaide-mor de Monsanto e Par do Reino. Recebeu o titulo de visconde em 1840, o de conde em 1852 e o de marquês em 1879. Sucedeu a este administrador o seu filho segundo – o primeiro faleceu com 22 anos - Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio e Bourbon, nascido em 1839 e falecido em 1900. No entanto este não terá filhos pelo que o seu herdeiro será o filho de sua irmã, Francisco Furtado de Melo Mesquita Giraldes de Paiva Pinto.

232, Vínculos Abelho, proc. nº3, fl. 4v e 5, ANTT.

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O registo nº 4 foi feito por João José Vaz Preto Giraldes, que regista o morgadio de São Sebastião da Lousa cujo território se estende no Concelho de Castelo Branco pelos territórios das localidades da Lousa, Escalos de Cima, Escalos de Baixo, Mata e Alcains; no Concelho de Idanha-a-Nova pelo Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Zibreira e São Miguel de Acha. João José Vaz Preto nasceu em 4 de Setembro de 1801 e faleceu em 7 de Janeiro de 1863. Era filho de Manuel Vaz Preto Tudela de Castilho, da Idanha a Nova e de Maria José Barba de Meneses Giraldes, nascida em Lisboa. Casou com uma prima, Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon, precisamente uma irmã do primeiro visconde, Conde e marquês da Graciosa, que fez o registo de vínculo anterior. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi vereador da Câmara Municipal de Castelo Branco em 1835 e Presidente da mesma em 1839. Foi Governador Civil de Castelo Branco entre 1840 e 1843 e também durante cerca de cinco meses em 1846. Representou a província da Beira Baixa como deputado entre 1834 e 1836. Recusou posse do cargo de Senador para o qual foi eleito em 1838. Tomou assento na Câmara do Pares em 1843, renunciando em 1844. Voltou a ser deputado por Castelo Branco em 1851/52 e 1858/59. A sua actividade parlamentar pode considerar-se bastante activa, para além da sua participação em Comissões tanto na Câmara dos Deputados como na dos Pares. Teve várias intervenções de relevo nas duas Câmaras. Somente na última legislatura, 1858/59, não interveio. No fim desta legislatura retirou- se para Lousa onde se vai dedicar por inteiro aos negócios da agricultura. É numa altura em que está empenhado em dirigir as suas propriedades agrícolas que procede em conformidade com a lei ao registo dos bens vinculados. Não sobrevive, porém, muito tempo após o registo, já que este é feito em Outubro de 1862, e João José Vaz Preto morre em Janeiro de 1863. Nuno Pousinho233 refere João José Vaz Preto Giraldes como “uma das personagens mais importantes do Concelho” conjuntamente com Francisco Tavares de Almeida. Foi seu imediato sucessor, apesar de a legislação que aboliu o morgadio ter saído poucos meses após a morte de seu pai, Manuel Vaz Preto Giraldes. Nasceu em Castelo Branco em 1828 e faleceu na sua casa da Lousa em 1902. Este teve um papel

233 Castelo Branco, Governo, Poderes e Elites, Edições Colibri, Lisboa, 2004, p.141.

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político tão ou mais importante que o do seu pai. Formado em Direito, foi deputado, senador e par do reino. A sua actividade política foi muito intensa, fez parte do partido Regenerador do qual saiu para fundar uma formação política a que deu o nome de “Porto Franco”, teve grande influência na construção da linha ferroviária da Beira Baixa. Mantém-se muito presente na memória dos Albicastrenses que lhe fizeram erguer uma estátua na sua cidade. Os processos nº 5 e 29 referem-se a registos feitos por Pedro de Ordaz Caldeira Valadares. Este é o único caso no Distrito em que o administrador abre dois processos independentes de registo. Este facto ter-se-á devido não só ao desejo de manter os morgadios independentes, mas também às diferenças de procedimento que cada um exigiu para que fosse concretizado o registo. Assim enquanto no processo número cinco Pedro Valadares regista um morgadio instituído pelo seu avô João D’Ordaz Queiroz, do qual possui os documentos que fazem prova da instituição, relativamente aos bens que pretende registar como vinculados, no segundo processo consta uma justificação que era necessária sempre que não se possuía os documentos que provavam a instituição. Tratou-se de um processo mais demorado que passou pelo tribunal e exigiu testemunhas que declararam que os bens se encontravam vinculados há mais de quarenta anos. Neste caso Pedro Valadares vai informar que não possui os documentos vinculares em causa “em consequência de extravio que no Tribunal do Desembargo do Paço tiveram as suas respectivas instituições”234. O primeiro registo abrange património situado em Castelo Branco e em Castelo Novo. O segundo registo inclui bens em Castelo Branco, Alcains, Escalos de Baixo, São Domingos de Malpica e Castelo de Vide. Nascido a 14 de Julho de 1808, em São Vicente da Beira, filho de José Caldeira D’Ordaz Queiroz e de Angélica de Meneses Ordaz Queiroz e Vasconcelos. Neto do barão do 1º barão de Castelo Novo, João Ordaz Queirós. Casou com D. Maria Benedita de Sande e Castro que nasceu em São João da Pesqueira e era filha do 2º Senhor de Penedono. Não renovou o título de seu pai, justificando assim as suas simpatias pela causa absolutista entretanto derrotada, mas desempenhou vários cargos políticos, como o de vereador e vogal do conselho municipal.

234 Vínculos Abelho, processo nº 25, fl.2 ANTT.

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Constituíram os Ordaz uma família de grande importância no poder político do Distrito de Castelo Branco, não só no antigo Regime mas também no liberalismo apesar das suas posições absolutistas. Como constatou ainda Nuno Pousinho235, Pedro d’Ordaz Caldeira Valadares foi uma das personagens que entre os anos de 1834 e 1878 mais se destacou pela sua permanência nos órgãos de gestão do distrito de Castelo Branco, tendo sido escolhido em seis ocasiões para vereador. Ainda este último autor define o estatuto deste morgado no Antigo Regime como Fidalgo da Casa Real, da Principal Nobreza e proprietário, enquanto no liberalismo o seu estatuto socioprofissional define- se apenas como proprietário, acrescentando-se que recusou o título de barão de Castelo Novo236. De salientar que apesar da suas posições realistas os principais representantes destas famílias não deixaram de estar presentes na governação do distrito. Por exemplo o pai de Pedro d’Ordaz, José Caldeira d’Ordaz Caldeira presidiu à Câmara logo após as primeiras eleições liberais realizadas em 1822, como afirma Nuno Pousinho “a câmara foi mesmo presidida pelo mais destacado realista da cidade, o barão de Castelo Novo”237. O registo nº 6 foi feito por Luísa Augusta da Cunha Castro Meneses Pita. Esta senhora nasceu em 1832 e faleceu em 1868. Era filha de Luís da Cunha de Castro e Meneses e de sua mulher Maria Augusta Goldofim de Sá Nogueira. Casou com António de Gouveia Osório Metelo de Vasconcelos, 1º visconde e 1º conde de Proença-a-Velha. Herdou esta administradora, vários morgadios que vai anexar num único. A sucessão passou antes da cair em Luísa Augusta, pelos seus irmãos, entretanto falecidos, respectivamente João Filipe da Cunha Castro Meneses (o primogénito) e por Francisca da Cunha Castro Meneses Pita. Foi seu filho e sucessor João Filipe Osório de Meneses Pita, 2º conde de Proença-a-Velha, o qual veio a casar em 1884 com Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon, filha de Francisco Augusto Furtado de Mesquita Paiva Pinto, conde de Foz de Arouce e de Maria Joana de Bourbon de Melo Giraldes Caldeira de Sampaio Pereira de Figueiredo que por sua vez era filha de Fernando Afonso Giraldes

235 Op. cit., p. 134. 236 Op. cit., conf. quadro nº 44 p. 134. 237 Op. cit., p. 91.

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de Melo Sampaio 1º visconde, 1º conde e 1º marquês da Graciosa, registador dos vínculos do processo número três. Este registo envolve várias instituições que esta administradora vai anexar. Em 1669 constam as instituições feitas por Domingos Gonçalves Robalo e também por sua mulher, Leonor Peixota; em 1719, a de Maria da Cunha Robalo, de Leonor Domingues da Cunha e a de Helena da Cunha Giraldes; em 1728 um vínculo instituído por Helena da Cunha Robalo e sua irmã Leonor da Cunha Robalo, com a particularidade de exigir que o administrador deste fosse familiar do Santo Ofício; em 1731, a instituição feita por João Filipe Pereira de Castro de Castro e por sua mulher Brites Maria da Cunha; em 1742, Maria Antónia da Cunha e Castro institui um vínculo para que venha a ser anexado ao instituído em 1731 por seus pais, João Pereira de Castro e mulher; em 1747 surge nova instituição feita por Leonor Angélica da Cunha Pereira de Castro, irmã de Maria Antónia, com a mesma intenção de anexação do anterior; e ainda uma capela instituída por Apolónia Cruz. Estes vínculos que se diz no processo terem sido instituídos sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, situavam-se nas freguesias de Proença-a-Velha, S. Miguel de Acha e Aldeia de Santa Margarida. O registo nº 7 foi feito pelo General Claúdio Caldeira Pedroso. Os bens correspondentes ao morgadio terão sido recebidos de Alexandre António Pedroso seu primo (?). Estes bens estavam registados na matriz predial da freguesia de São Miguel da Sé de Castelo Branco e na matriz predial da freguesia de São Domingos de Malpica. Temos notícia de Alexandre António Pedroso ter sido eleito vereador da Câmara de Castelo Branco nos anos de 1813, 1817 e 1821. Nuno Pousinho238 apresenta-o, num quadro de “Elementos caracterizadores dos vereadores entre 1792 e 1834”, como natural de Castelo Branco e aí residente; proprietário “das principais pessoas da dita cidade”; com uma fortuna entre 19.200$000 e 48.000$000 réis a que corresponderá um rendimento anual entre 768$000 e 1.920$000. Terá sido deste primo que Claúdio Caldeira Pedroso recebeu o morgadio que na obra Uma Família da Beira Baixa239, surge como o Morgadio da Alegria. Claúdio Pedroso nasceu em Lisboa em 1790 e faleceu em 1868. Era filho de Maria Josefa Pedroso Cevada natural de Castelo Branco e de José Maria Valente

238 Castelo Branco, Governo, Poder e Elites, anexo nº 9, pp. 186/190. 239 José Luíz de Sampayo Torres Fevereiro, p. 304

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Caldeira nascido em Bragança. Teve uma grande carreira militar. Retirámos alguns elementos da sua extensa actividade tal como é apresentada por José Luíz Torres Fevereiro, na obra Uma Família da Beira Baixa240: Assentou Praça em Infantaria a 10- IV-1810, foi Alferes Porta-Bandeira das Milícias de Castelo Branco. Foi promovido a Tenente em 1815 e a Capitão em 1826. Depois de participar em várias Campanhas como por exemplo as da Guerra Peninsular de 1813-14, foi gravemente ferido na batalha das linhas de Lisboa. Recebeu um louvor em Ordem do Corpo em 1834, ano em que foi promovido a Major. Fez parte, em 1835 da Divisão Auxiliar a Espanha. Foi promovido a Tenente Coronel em 1837 e a Coronel em 1848. Foi ainda: Ajudante de Ordens do marquês de Saldanha, Chefe do Estado-Maior de várias Divisões, Comandante Militar de Coimbra entre outros cargos. Terminou a carreira militar como Tenente General, tendo ainda sido Ajudante de Campo Honorário do rei D. Luís. Para além de Militar e proprietário também foi vereador da mesma câmara em 1866. Foi seu filho Henrique Caldeira Pedroso que foi Provedor da Misericórdia de Castelo Branco, procurador à Junta Geral do Distrito, Administrador do Concelho de Castelo Branco, foi vogal do Conselho Municipal (Nuno Pousinho e Fevereiro). Este terá sido um indivíduo bastante empenhado na política Albicastrense que terá falecido em 1889. O registo nº 8 foi feito por Francisco Tavares de Almeida Proença. Nasceu no Tortosendo, casou em 7 de Dezembro de 1835 com Maria da Piedade Fevereiro, filha de Joaquim Mendes Fevereiro, vereador da Câmara Municipal de Castelo Branco e de Matilde Joaquina do Carmo. Francisco Tavares de Almeida Proença era filho de Manuel Tavares Proença (de Souto da Casa), licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e de Bárbara Joaquina Rombo do Tortosendo. Registou bens vinculados que se estendiam por localidades do distrito que abrangiam o concelho da Covilhã, como Erada, Paúl, Peso, Tortosendo; o concelho de Penamacor. Registou ainda bens no Sabugal, distrito da Guarda. Francisco Proença foi Par do Reino em 1842, em Abril de 1847 aceitou a pasta de Ministro do Reino. Sucedeu-lhe o seu filho, nascido a 30 de Março de 1853 também chamado Francisco Tavares de Almeida Proença que foi chefe do Partido Progressista

240 p. 304.

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da Beira Baixa e Par do Reino em 1905. Ficou muito novo orfão, o seu pai morre em 26 de Agosto de 1872 e a mãe em Julho de 1873. Ficou como gestor de um vasto património partilhado com três irmãs mais velhas. Faleceu em 14 de Novembro de 1932. O registo nº 9 foi feito por António de Queiroz e Andrade, filho de Domingos José de Queirós Figueiredo e Andrade, natural de Pedrógão Pequeno e de Maria Madalena Leitão de Sequeira Pereira. O seu pai é referido por Cândido Teixeira como um “proprietário rico”241. António Queirós e Andrade nasceu em Pedrógão Pequeno, foi capitão-mor da Vila de Álvaro, cargo que tinha em 1817. Foi casado com Maria do Carmo Caldeira Melo Castro e Aboim e Silva. Teve este casal três filhos: António Maria Leitão de Melo Queirós; Higino Oto de Queirós e Melo; Eduardo Maria Leitão de Melo Queirós que foi Vereador e Presidente da Câmara da Sertã (em 1856). Os bens vinculados situavam-se nas regiões de Àlvaro, Oleiros, Sertã e Pedrogão, Fundão e Pampilhosa. O processo nº 10 foi feito de forma provisória por Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, na qualidade de imediato sucessor tal como a lei de 1860 permitia. Pelo conteúdo do processo somos levados a entender que o seu pai, não estava interessado no registo, tendo mesmo evitado que o seu filho o faça, ao negar-lhe o acesso a documentos necessários para o dito registo. Eram seus pais o visconde de Castelo Branco, João da Fonseca Coutinho e Castro de Refóios e Ana Joaquina de Lancastre Barba de Meneses. Os bens provisoriamente registados situavam-se em Castelo Novo, concelho do Fundão e em castelo Branco. Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios que veio a ser visconde de Portalegre, casou com Maria Adelaide Mesquita e Albuquerque de Castro e Nápoles, filha do visconde de Oleiros, registador do processo número dezanove. Foi sua filha Clara Maria de Guadalupe da Fonseca Coutinho que foi casada primeiro com Fernando Afonso Giraldes Vaz Preto e em segundas núpcias com João José Trigueiros Osório de Martel, não havendo descendência de qualquer dos casamentos. Tanto Francisco como o seu pai João desempenharam importante papel na política Municipal, tendo sido

241 Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache de Bom Jardim e seus Contornos, vol.I., Tipografia do Instituto, Sernache do Bom Jardim, 1925, p. 490.

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ambos vereadores e o visconde de Castelo Branco, Presidente da Câmara Constitucional várias vezes. Se a forma como é feito o registo do morgadio, ou seja sem o consentimento do administrador e pai do imediato sucessor deixa transparecer dificuldades de relacionamento entre pai e filho. Este parece ser um dos casos em que o administrador pretende obter a libertação da terra vinculada através da ausência de registo. No entanto o registo acabou por ser concretizado. As tensões familiares que este registo deixa transparecer voltam evidenciar-se publicamente após a morte do visconde de Castelo Branco. Desta polémica dá-nos notícia O Jornal Estrella da Beira que em 1866 publica em vários números uma “prevenção”em que Francisco da Fonseca Coutinho e Castro de Refóios anuncia que “se está procedendo a inventário de maiores de bens que ficaram por falecimento de seu pai, o exmo.sr. Visconde de Castelo Branco; que é o anunciante o cabeça de casal do dito inventário, e por isso é o único competente para arrendar os bens, pertencentes ao ilustre finado, e receber todos os rendimentos provenientes dos mesmos bens...”. à qual responde o irmão Rodrigo da Fonseca Coutinho Castro e Refóios com uma “contra-prevenção” na qual informa que o seu irmão Francisco da Fonseca Coutinho Castro e Refóios no inventário dos bens que tinham ficado pelo falecimento do pai, ainda não estava nomeado definitivamente cabeça de casal, pelo que não era o único que teria competência para fazer contratos com os bens deixados pelo falecido. A esta polémica nos referiremos mais adiante. Administrador do processo nº 11, Diogo da Silva Castelo Branco, nasceu a 15 de Fevereiro de 1807, filho de Antónia Maria do Almortão Capelo e de José da Silva de Oliveira Castelo Branco. Foi General de Brigada e General de Divisão, pertenceu ao conselho de S.M.F. e foi ajudante de campo de S.A.R. o infante D. Augusto, comendador das ordens de Avis e Torre Espada. Foi casado com Maria Emília de Mesquita e Costa. Faleceu em 8 de Dezembro de 1881. Os bens registados situavam-se essencialmente em Castelo Branco. Este morgado inclui-se na parentela ascendente de Amélia Capelo Fonseca que casou com o registador do processo 14. Foi testemunha do processo de justificação de Pedro d’Ordaz Caldeira Valadares, surgindo, nessa data, como viúvo e tenente-coronel do regimento de cavalaria número oito.

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O processo nº 12 corresponde ao registo feito por Francisco Caldeira Leitão e Brito Moniz de Albuquerque, 1º visconde da Borralha. Este viveu entre 1803 e 1873. Era filho de Gonçalo de Albuquerque Cardoso de Brito Moniz e de Josefa Margarida Pinto de Macedo Mascarenhas. Casou com Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e Bourbon, irmã do 1º marquês da Graciosa, registador do processo número três. O 1º visconde da Borralha foi moço fidalgo da Casa Real e Par do Reino por Carta Régia de 23 de Fevereiro de 1844. Trata-se do processo de registo com maior número de documentos anexados atingindo a cópia as 1200 páginas manuscritas. Contém 38 documentos entre os quais encontramos instituições e anexações de vínculos, descrições matriciais dos bens, testamentos, escrituras de subrogação etc. Fazem parte deste vínculo bens situados em S. Vicente da Beira, Castelo Novo, Castelo Branco, Vila Franca de Xira, Monsanto, Midões, Sernache do Bonjardim, Covilhã e Sertã. Este processo de registo evidencia também possíveis desentendimentos familiares pelo menos relativamente à vontade de fazer o registo, pelo que foi feito provisoriamente devido à contestação dos irmãos do administrador. O registo nº 13 é realizado por Luís Cândido Tavares Osório, natural da Covilhã. Este era filho do Coronel Gregório Tavares Ferreira Osório e de Ana Benedita de Sousa Cabral Osório de Castro. Foi casado com uma senhora inglesa de nome Jane Ann de Latour. Regista um vínculo composto por várias quintas situadas no concelho da Covilhã. Este morgado terá vivido em Londres provavelmente após a vitória das forças liberais em Portugal. Em 1833 encontramo-lo como coronel entre os militares apoiantes de D. Miguel242, E, em 1862, será um dos acompanhantes de D. Miguel, na visita à Exposição Universal realizada em Londres. Apresenta no processo de registo o assento paroquial de baptismo do seu filho igualmente chamado Luís Cândido de Tavares Osório. Nada sabemos deste último, no entanto o seu pai e registador do morgadio, em 1866 já tinha falecido. Neste ano, o jornal A Sentinella da Liberdade publica o anúncio do leilão de todos os móveis pertencentes a Luís Cândido de Tavares Osório e

242 Luiz Pereira Carrilho, Os Oficiais D’El-Rei Dom Miguel, p. 22.

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existentes na sua Quinta da Vargem. Esta Quinta e outros bens vão à praça em 1867 como também surge anunciado no mesmo periódico243. O processo nº 14 refere o registo de uma Capela feito por João António Franco Frazão. Trata-se de um processo que regista um vínculo que neste caso é chamado de Capela, instituído pelo Dr. João Gonçalves Franco e Manuel Martins Franco e que abrange propriedades situadas nas freguesias da Capinha, Salgueiro e Peroviseu. No entanto os documentos de instituição não existiam, pelo que se procedeu a um processo de justificação. O administrador nasceu em 23 de Janeiro de 1837, na Capinha, Concelho do Fundão, era filho de José Joaquim Franco e de Emília Albertina de Oliveira Frazão. Frequentou os cursos de Matemática, Filosofia e Direito em Coimbra, formando-se em Direito em 1861. Foi Governador Civil e Presidente da Junta Geral do Distrito de Castelo Branco, Presidente da Câmara do Fundão, deputado e Par do Reino. Como se afirma no Dicionário Biográfico Parlamentar244: “Vivendo num distrito onde a política era definida pelos interesses dos grupos dos grandes caciques regionais, era um dos “amigos de Vaz Preto”, grupo que predominou na Beira Baixa até à década de 1890”. Foi pai, entre outros, de Bartolomeu Franco Frazão e de José Capelo Franco Frazão, conde de Penha Garcia. O processo nº 16 corresponde a um vínculo administrados por Manuel Pinto Tavares Fragoso Freire, natural de Pedrógão, Concelho de Penamacor. Abrange propriedades situadas nos limites de Vale Prazeres, Alcongosta, Bemposta, Pedrógão, Aguas, Penamacor e Bendada (Monsanto). Segundo o processo tratava-se de um vínculo que tinha sido administrado por Sebastião Pinto Fragoso, avô do “justificante”, a quem sucedeu Luís Pinto Fragoso Freire e por morte deste Manuel Fragoso Freire que procede ao registo. Este era no momento do registo, viúvo de Maria José Miranda e Silva, da qual tem três filhos, que testemunham no processo de registo a posse do morgadio. Chamavam-se estes, Luís Pinto Tavares Fragoso Freire, Ana Angélica Pinto Tavares e Maria José Pinto Tavares casada com António Pinto Tavares Osório. O processo nº 17 corresponde ao registo feito por Aires Pais de Lima Castelo Branco, natural de Dominguiso, concelho da Covilhã, nascido em 1819 e casado com

243 São anúncios que foram publicados no referido jornal entre 23 de Dezembro de 1866 e 27 de Janeiro de 1867. 244 Vol. II, pp. 222/223.

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Maria Angélica de Almeida Lima. Compreende o morgadio, propriedades situadas nos limites do Telhado, Alcaria (concelho do Fundão) e no Tortozendo (concelho da Covilhã). Este vínculo foi instituído em 1759, por Pedro Antunes do lugar de Alcaria. Veio a suceder nele o pai de Aires Castelo Branco, o tenente coronel José Joaquim Leal Castelo Branco, natural do Telhado casado com Ana Bárbara de Proença Giraldes , natural do Alcaide que tinha sucedido a seu pai, capitão José dos Santos Leal, natural do Telhado, casado com Francisca Nunes, natural do Dominguiso. O processo nº 18 corresponde ao registo feito por António Casimiro Biscaia da Silva. Era este, filho do Dr. Pedro José Bruno Biscaia da Silva, natural de Gafede e que foi corregedor da Vila do Crato e também da Comarca de Castelo Branco, tendo vivido em Sernache de Bom Jardim, aí faleceu em 1842. António Casimiro que casou com Eduarda Lusitana Biscaia de Sousa Leitão e Silva, sua prima, foi filho do 2º casamento do seu pai o qual teve dois filhos de um primeiro matrimónio com Maria Felizarda de Oliveira e Silva e seis do segundo que realizou com Joaquina Amália da Silva. Segundo uma nota apresentada por Cândido Teixeira, António Casimiro terá nascido vinte e quatro horas antes dos seus irmãos gémeos, Maria Amália e João Teófilo pelo que foi considerado o mais velho (hoje seria considerado o mais novo dos gémeos) pelo que sucedeu na administração do morgado dos Silvas, situado em Sernache que “esbanjou perdulariamente”245. Na realidade no processo de registo, este apresenta-se como administrador do “morgado dos Silva”, no qual sucedeu a seu pai. Foi o morgadio instituído em 1780 por António da Silva Leitão e Felizarda Josefa da Silva. O processo número 19 compreende o registo feito por Francisco de Albuquerque Pinto Mesquita e Castro, nascido em 1841 em Castelo Branco, imediato sucessor de seu pai, na altura ainda administrador do vínculo, o visconde de Oleiros Francisco Rebelo de Albuquerque Mesquita e Castro casado com Antónia Maria de Paiva e Albuquerque, esta natural de Macau. Neto paterno de Francisco de Albuquerque Pinto de Castro e Nápoles, barão de Oleiros e natural de Oleiros e de Maria Guadalupe da Fonseca Pereira Coutinho Forjaz de Mesquita.

245 Conf. Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache do Bom Jardim, p. 597.

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Os bens deste morgadio estendiam-se pelo distrito, principalmente em Oleiros, Sertã, Escalos-de-Baixo, Alcains e na cidade de Castelo Branco. Deste processo não constam os documentos relativos à instituição do morgadio pois como declara o justificante “em consequência das comoções políticas se encontram dilaceradas as suas respectivas instituições”246. Por este motivo e cumprindo a legislação vai abrir-se um processo de justificação em que são chamadas testemunhas que vão confirmar a posse da família, em forma de vínculo, dos diversos bens que compõem o morgadio. O imediato sucessor, neste caso quem procede ao registo, tem em 1862, 21 anos, é solteiro, bacharel formado em Direito na Universidade de Coimbra e residente em Coimbra. O processo nº 20 apresenta-se com uma administradora feminina, Carlota Granado de Castro e Lemos. Trata-se de uma jovem, que será “maior de quinze anos mas menor de vinte e cinco”247, tal como se afirma no processo. Carlota e sua irmã mais nova, Maria José Magalhães de Mendonça Castro e Lemos, filhas de David de Mendonça Granado Castro e Lemos e de Ana Magalhães Taborda, segundo se depreende do texto do registo, terão ficado órfãs e ao cuidado do seu tio materno, Luís António de Magalhães Taborda. Terá sido este que preparou todos os trâmites necessários ao registo do morgadio de sua sobrinha, da mesma forma que o fará para o que ele próprio administra e que constitui o processo número vinte e um que descreveremos em seguida. Os bens do vínculo de Carlota Castro e Lemos situavam-se na comarca da Sertã e da de Estremoz e terão sido instituídos na Sertã por Inocência Soares – cujo testamento data de 1689 –, por Francisco Ferreira e por Gregório de Oliveira que terá sido mestre de escola da Sé da Guarda. Dos bens situados em Veiros, Estremoz, Fronteira e Arraiolos a instituição deveu-se a João de Lemos da Herdade Grande, em 1565. O processo nº 21 foi registado, como já afirmámos, por Luís António de Magalhães Taborda, tio materno da administradora do processo anterior. Este administrador era filho de João Magalhães Taborda da Costa Leitão, natural da Sertã e

246, Vínculos Abelho, Processo nº19, fl.2, ANTT. 247 Vínculos Abelho, processo nº 20, fl.3, ANTT.

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de Isabel Caldeira de Meireles, da Aldeia Nova do Cabo. Foi casado com Maria Saturnino Câmara de Faria e Serpa de Pina e Almeida. Luís Taborda foi uma personagem de forte intervenção na política local tendo sido por três vezes Presidente da Câmara Municipal do Fundão, precisamente em 1852, 1856 e em 1872. Segundo Mendes Rosa “o seu mandato ficou caracterizado pela implementação de várias obras de grande importância”248. O morgadio registado resulta da anexação dos nove vínculos seguintes: o instituído em 1749 por Florência das Neves Taborda; o vínculo de S. Domingos, instituído por Domingos Leitão; o instituído em 1597, em Pedrógão, por Miguel de Magalhães e sua mulher Simôa Florina; o instituído por Diogo de Almeida; o instituído por Ambrósio de Andrade Freire, na Sertã, em 1630; o instituído por Catarina de Coimbra, na Sertã em 1646; o instituído por Catarina Bernardes; o instituído por Ana Mota; o instituído por Maria Esteves na Sertã em 1591. Este morgadio abrange propriedades situadas principalmente no Concelho do Fundão e no da Sertã. O processo nº 22 corresponde ao registo de um vínculo administrado por António de Pádua Leitão Marrocos, natural da Idanha-a-Velha. Era este administrador filho de João dos Reis Leitão Marrocos. Terá casado cerca de 1842 com Maria Emília Castro e Silva, nascida em 1818 em Alcains, sendo já viúvo no momento do registo. Este morgadio que foi instituído por Leonardo Ferreira Faísca e sua mulher Inês da Cunha Robalo no Fundão e em Idanha-a-Nova em 1747 foi considerado um morgadio de grande valor no tempo do pai do presente administrador. Segundo escreve Sanches Roque no livro Alcains e a sua História “João dos Reis Leitão Marrocos, nascido em Idanha-a-Velha, cerca de 1768 (…) era Senhor dum vínculo que então havia sido avaliado em 14 800 000 réis”249. Em 1863 o património deste morgadio estendia-se pelo concelho do Fundão por: Alpedrinha, Alcaide, Donas, Castelo Novo, Póvoa da Atalaia, Orca e Vale Prazeres. No concelho de Idanha-a-Nova por: Monsanto, Salvaterra do Extremo, Alcafozes, Proença- a-Velha e São Miguel de Acha. Embora para efeitos de registo os bens situados nas duas últimas freguesias não tenham sido considerados vinculados por “não ter

248 Fundão, História Cronológica – Da Pré-História ao século XIX, Câmara Municipal do Fundão, 2005, p. 141. 249 p. 375.

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justificado de uma maneira certa e precisa quais os bens que naquelas freguesias possui e administra, com a natureza de vinculados”250. Tem António Marrocos dois filhos, João dos Reis Leitão que será o seu imediato sucessor, e uma filha, Maria José, na altura do registo recolhida no Colégio das Urselinas em Coimbra. As cópias dos processos nº 26 e 27 surgem juntos e referem-se ao Morgadio da Idanha administrado por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e ao de Peroviseu e Chãos cuja administradora é Maria Isabel Osório Macedo. Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa, nascido em 17-7-1825, 1º conde de Idanha-a-Nova e também visconde do Outeiro (segundo decreto de 17-VII- 1866, de D. Luís), casa em 1850 com Maria Isabel Osório Macedo. Esta senhora foi a herdeira do morgadio de Peroviseu e Chãos que acaba por ficar, após o casamento, aliado ao património de seu marido e por ele administrado. Em 1863, Jerónimo Trigueiros de Aragão e sua esposa para registar os vínculos que administram, abrem dois processos que no entanto se vão manter juntos, numerados como o 26 e 27 do distrito de Castelo Branco. O morgadio de Idanha-a-Nova foi instituído em 1751, por Domingos Ambrósio e sua mulher Maria Marques Gouloa. O morgadio de Peroviseu e Chãos surgiu de duas instituições, uma feita em 1696, no testamento do padre Luís Machado e outra feita por um sobrinho deste também chamado Luís Machado Freire, em 1725. A administradora já referida deste último vínculo, Maria Isabel Osório Macedo, nasceu cerca de 1834, foi filha única de Diogo Dias Preto e de Maria Justina de Macedo Tovar de Vilhena de Gusmão Mendonça. O património destes vínculos situava-se essencialmente no concelho de Idanha- a-Nova e no do Fundão, neste caso em Peroviseu e Donas. O processo nº 28 corresponde ao registo feito por Simão José de Mascarenhas Leitão filho e sucessor de José de Mascarenhas Leitão. Tratou-se de dois vínculos anexados denominados o do Poço e o do Castelo instituídos na Sertã. A primeira instituição foi feita por Julião António Nunes, por Joana Maria Josefa da Mota Manso, por Cristóvão Luís Serrão e por Maria da Mota Manso. A segunda instituição deveu-se

250 Vínculos Abelho, processo nº 22 , fl. 1v, ANTT.

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a Manuel Leitão Correia e a Catarina Leitão. Os bens compreendidos nestes dois vínculos, situavam-se nos concelhos da Sertã, Proença-a-Nova e Oleiros.

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Capítulo II - Morgados e Casas dominantes

Os administradores que procederam aos registos de vínculos em resposta à legislação de 1860 eram, na sua maior parte, figuras proeminentes na sociedade da região da Beira-Baixa. A sua importância na política e na economia local transvazou mesmo algumas vezes para o domínio da política nacional. Um caso que não deixa margem para dúvidas é o da família Franco à qual se encontra ligado não só o conde de Penha Garcia mas também João Franco, o ministro de D. Carlos que conduziu de forma polémica os destinos de Portugal durante alguns anos. Mas outros casos há cujo envolvimento na política local e nacional se fez com grande intensidade, como aconteceu com os Vaz Preto ou os Proença Tavares ou mesmo os Giraldes, da Casa da Graciosa. Imiscuídos numa complicada rede parental gerida cuidadosamente, principalmente através de alianças em que o casamento era o instrumento principal, a maior parte dos morgados da Beira Baixa controlavam a política, a economia e a sociedade até onde os meios que dispunham o permitia. A origem do poder destes senhores terratenentes, dificilmente se poderá atribuir a uma única causa, devendo-se sim a um conjunto de circunstâncias, em que se imbricam acções conscientemente premeditadas com outras menos conscientes e dependentes do acaso. A maior parte dos grandes morgados da região são na generalidade as figuras que dominam as opiniões, que são ouvidas pelas gentes locais e pelos dirigentes nacionais. Não terá havido no século XIX qualquer decisão importante, política, económica ou militar, para a Beira Baixa que não tivesse passado pela opinião ou pela acção de um homem que usasse algum dos seguintes apelidos: Vaz Preto, Tavares Proença, Giraldes, Franco Frazão, Castelo Branco ou Ordáz Caldeira.

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Analisaremos com algum pormenor o percurso de vida e as relações familiares de alguns dos indivíduos com vínculos registados, no sentido de compreender as estratégias consciente ou inconscientemente postas em prática no sentido da manutenção ou aumento do seu poder. Baseámo-nos essencialmente nas reconstituições genealógicas e nas indicações recolhidas juntos dos actuais descendentes. Em cada caso as relações parentais foram seguidas de forma a constatar qual seria o actual descendente que poderia ser morgado caso a tradição se mantivesse e as práticas comuns fossem cumpridas.

2.1. A “Casa do Salgueiro” e os seus morgados

São três os administradores que fazem registos de vínculos em resposta à lei de 1860 e que partilham o apelido Frazão. Foram estes: João José de Oliveira Frazão Castelo Branco que foi o autor do registo número 1; José de Figueiredo Frazão, o administrador que faz o registo com o número 2; João António Franco Frazão faz o registo número 14, como administrador de uma capela. Todos eles têm em comum terem nascido ou descenderem de alguém nascido na Casa do Salgueiro. Esta casa enquanto edifício situa-se na aldeia do Salgueiro, Concelho do Fundão. Como já afirmámos anteriormente quando redigimos alguns dados biográficos sobre os morgados que registam os seus vínculos, os dois primeiros indivíduos são primos direitos entre si. Enquanto o terceiro, João Franco Frazão é sobrinho de João José Oliveira Frazão Castelo Branco (pois é filho de uma irmã deste, chamada Emília Albertina Oliveira Frazão Castelo Branco) e segundo primo de José de Figueiredo Frazão (neste caso a mãe de João Franco, a já referida Emília, é que é prima direita do morgado José de Figueiredo Frazão). João José Oliveira Frazão Castelo Branco é o sucessor e herdeiro da Casa e morgadio do Salgueiro. Este património entrou na posse da família Frazão Castelo Branco através do casamento de João de Figueiredo Frazão Castelo Branco, da Covilhã, com Rosa Madalena Leitão, Senhora da Casa do Salgueiro251, casamento que deverá ter

251 Segundo Armando Sacadura Falcão (Frazões das Beiras, p.243), Rosa Madalena era filha de Manuel Pires Vaz, familiar do Santo Ofício e Capitão de Ordenanças e de sua mulher Isabel Leitão, ambos do Salgueiro.

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acontecido no início da segunda metade do século XVIII252. Sucedeu na casa o filho deste casal, João de Oliveira Frazão de Castelo Branco, nascido em 1780 - que justificou nobreza em 1781 (fidalgo de cota de armas com carta de brasão de 3.11.1789) - que casou com Maria Angélica Leitoa Elvas Caldeira, de Monsanto, estes foram os pais, entre outros, do morgado administrador do vínculo da Casa do Salgueiro em 1860 (João José de Oliveira Frazão). No entanto foi o imediato sucessor, João de Oliveira Frazão Castelo Branco que procede ao registo como procurador de seu pai. Este imediato sucessor foi, como já afirmámos, bacharel em Direito e uma figura que desempenhou cargos de grande importância política não só no concelho do Fundão, mas também em Penalva do Castelo, Covilhã e Belmonte. José Figueiredo Frazão, o registador do processo número dois, tal como o morgado que referimos anteriormente, nasceu na casa do Salgueiro, embora descendente da linha feminina. Era filho de Gervásia de Figueiredo, irmã de João de Oliveira Frazão Castelo Branco. Esta casou com Gregório José Pedroso, ainda seu parente (segundo a nossa reconstituição Gregório seria primo cruzado do pai de Gervásia) e teve o seu filho primogénito também na casa do Salgueiro (onde também nasceram os filhos de seu irmão). No entanto, este descendente por linha feminina, apesar de não ser herdeiro e sucessor nesta Casa, vai receber bens vinculados do lado paterno. O vínculo que regista foi instituído em 1736, por Helena da Cruz, tia do seu avô paterno, Filipe Pedroso da Cruz casado com Joaquina de Figueiredo Frazão, deste passou a sucessão para o seu filho Gregório José Pedroso, o pai de José Figueiredo Frazão. Este morgado seguiu a vida militar, sendo em 1862 Brigadeiro e acabando por ser General em 1864, quando devido às reformas militares foi extinto o posto de brigadeiro. Assumindo uma posição política liberal terá prestado importantes serviços ao país o que lhe proporcionou diversas condecorações. Recebeu o título de visconde do Sardoal em 1866. Casou com Ana Jacinta Pimenta de Avelar, natural de , de quem teve José de Figueiredo Pimenta de Avelar Frazão, 2º visconde do Sardoal, que viria a casar com Maria Natividade Trigueiros Martel, filha de Jerónimo Trigueiros de

Terá recebido a casa do Salgueiro de seu tio Dr. Manuel Leitão que se atendermos ao apelido seria provavelmente irmão de sua mãe. 252 Sabemos que a primeira filha deste casamento, Gervásia de Figueiredo Leitão Frazão, terá nascido a 27 de Maio de 1776 (Sacadura Falcão p. 243).

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Aragão e de Isabel Osório de Macedo os administradores que procedem aos registos 26 e 27. Finalmente, João António Franco Frazão registou uma Capela sob a invocação de São João Baptista (registo número 14 do Distrito de Castelo Branco). Tratava-se de uma Capela instituída pelos “reverendos licenciados, João Gonçalves Franco e Manuel Martins Franco”253, naturais da freguesia da Capinha. A administração deste vínculo recaiu em José Joaquim Franco e em sua mulher Emília Albertina de Oliveira Frazão, pais do autor do registo que o faz como procurador daqueles. Também João Franco Frazão vai ter um papel de notoriedade, não só na política da sua região mas também na do País. Pois para além de governador civil, vice-presidente e presidente da Junta Geral do distrito de Castelo Branco foi também presidente da Câmara do Fundão. Veio a pertencer às duas Casas do Parlamento onde como deputado fez várias intervenções sobre política geral. Casou com Amélia Capelo da Fonseca Franco e foi pai de dez filhos entre os quais José Capelo Franco Frazão, conde de Penha Garcia. A casa do Salgueiro e laços de parentesco explícitos unem estes três administradores de vínculos que concretizaram o seu registo no início da década de sessenta do século XIX. O percurso de vida de cada um deles foi naturalmente diverso, mas também aqui são evidentes as semelhanças. O sucessor da “Casa do Salgueiro” e do seu morgadio, João José de Oliveira Frazão Castelo Branco, fez do filho primogénito seu procurador com o objectivo de proceder ao registo do vínculo cuja administração lhe viria a pertencer. Se não conhecemos muito da formação académica e da actividade política de João José, sabemos porém que o seu filho (e sucessor) foi, como já dissemos, bacharel em Direito e uma figura muito activa na política da região. Este último mereceu que José Germano da Cunha, seu contemporâneo, escrevesse sobre si: “Foi um carácter de antes quebrar que torcer. (…) Para sustentar direitos que julgava legítimos, não hesitava um momento em intentar questões judiciais, ainda que fosse com os maiores potentados. Afiançaram- me que em certa ocasião andava envolvido simultaneamente em dezoito demandas”254. O seu primo José de Figueiredo Frazão o morgado do processo número dois, também marcara presença na vida social e política da região. Optando pela vida militar como já tivemos ocasião de afirmar, teve nesta bastante êxito, principalmente no

253 Processo de registo nº 14, distrito de Castelo Branco, fl.1. 254 Apontamentos para a História do Concelho do Fundão, pp. 242/243.

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Genealogia parcial da “Casa do Salgueiro” (+ - 1750-1916)

João de F. Frazão C. Branco Rosa Madalena Leitão (Casa do Salgueiro)

Gregório José Pedroso Gervásia João de O. Ana Figueiredo Mª A. Leitoa Elvas Caldeira de Figueiredo Frazão C. B. (Testamento) (1776)

Ana J. P. José Jerónimo Trigueiros Isabel Emília João José de O. Ana Augusta Emília A. de O. José Joaquim Avelar de Figueiredo Martel Osório Carolina Frazão C.B. Frazão Franco Frazão Aragão da Costa Macedo (1806)

José de F. P. Mª. Nativi. Joaquim Amélia Capelo João António Franco José Jerónimo António de Avelar Frazão Trigueiros Martel Trigueiros da Fonseca Franco Frazão (1837-1916)

José de F. Mª Nativ. Joaquim Trigueiros Trigueiros Frazão Trigueiros F. Frazão Frazão de Aragão (1891)

Diag. 1

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade Relação de casamento (autora)

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Foto nº1 – Casa do Salgueiro

Foto nº 2 – Casa em Alcafozes de descendentes da Casa do Salgueiro. É visível a placa com o nome de Amélia Capelo Franco Frazão que dá nome ao Largo

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combate pelos ideais liberais. A sua personalidade é actualmente descrita por Leonor Osório de Castro Trigueiros de Aragão, esposa de um dos seus descendentes, precisamente do seu bisneto, entretanto já falecido, Joaquim Trigueiros Frazão de Aragão, sucessor no título de conde de Idanha. Leonor Osório de Castro descreve na sua obra255, o general como um herói na defesa de Portugal dos invasores franceses, afirmando que. “Na família a memória dos seus feitos no Buçaco e perseguição dos franceses até Vitória têm passado de geração em geração”256. A presença deste morgado e militar faz-se sentir, segundo a autora referida, não só na memória familiar mas também na memória da aldeia em que viveu, contando-se várias histórias onde o General foi protagonista e que o caracterizam como uma personagem de grande autoridade como por exemplo quando conta que “apesar de ser boa pessoa, infundia tal respeito aos seus subordinados que, um dia dando uma ordem em tom forte a um soldado, este caiu redondo, desmaiado! Por algumas peças de vestuário e um retrato de família vê-se que era um homem grande, alto, feio, as feições endurecidas”257. Finalmente a presença na política regional e nacional de João António Franco Frazão, primo do general, também não passou despercebida na sociedade do seu tempo. Para além da sua intensa actividade como parlamentar já referida, este morgado, pai do futuro conde de Penha Garcia, marcou a política regional e a sua presença na terra que o viu nascer, a Capinha, ainda hoje é recordada. Numa obra recente intitulada Memórias da Capinha - Uma Aldeia do Concelho do Fundão258, João António Franco Frazão é recordado pela grande casa que aí construiu “A Quinta do Vale Dourado”; pelo monumento funerário existente no cemitério local, em memória do seu irmão José Augusto Franco, falecido com 23 anos e cuja construção promoveu; pela arborização da Serra da Santinha. Sublinha também o autor que João António Franco Frazão foi um homem que soube manter relações privilegiadas com os reis D. Carlos e D. Manuel II.

255 Trata-se da obra intitulada Quintãs – Uma Aldeia da Beira Baixa. 256 Ibidem p. 243. 257 Ibidem p.243. 258 Publicada em 1999.

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2.1.1. Alianças matrimoniais e descendência da Casa

As alianças matrimoniais concretizadas pelos três administradores e seus descendentes terão obedecido a estratégias várias que possivelmente hoje não poderão ser na sua totalidade reconstituídas, no entanto descreveremos no fundamental as alianças realizadas pelos três registadores de vínculos ligados à casa do Salgueiro e pelos seus descendentes mais directos, constatando as suas repercussões na reprodução dos poderes em jogo. Analisando a teia genealógica reconstituída, verificamos que o sucessor da Casa do Salgueiro, João José de Oliveira Frazão Castelo Branco casou com Emília Carolina Vaz Leitão, natural de Manteigas. Sabemos que esta era filha de Manuel José Vaz Leitão também de Manteigas e de Maria Saraiva natural de S. Romão (Seia). Tudo indica que esta aliança se enquadrou nas expectativas reprodutivas da família morgada, pois na geração seguinte o sucessor do Salgueiro, João de Oliveira Frazão, filho do anterior administrador, casa com uma prima direita, mais exactamente com Maria Delfina Saraiva Leitão Ferreira de Castro, filha de Umbelina Cândida Saraiva Vaz Leitão, uma irmã de sua mãe, Emília Carolina. Tratou-se portanto de uma aliança consanguínea que reforça os laços já existentes entre as duas famílias. Na geração seguinte não se repetem alianças entre as famílias anteriores mas volta a ser marcada por pelo menos mais um casamento consanguíneo, embora não seja o do varão primogénito. Este último, Albano de Oliveira Frazão Castelo Branco, casou com Isabel da Câmara de Magalhães, natural de Alvaiázere, mas deste casamento não houve descendência. Será uma das irmãs de Albano, Maria Umbelina Frazão Castelo Branco que terá filhos que darão continuidade a esta linha familiar da casa do Salgueiro. Maria Umbelina casou com um primo cruzado, João António Crespo Frazão Castelo Branco. Este era filho de Maria Libânia Saraiva Frazão Castelo Branco, irmã do pai de Maria Umbelina (João de Oliveira Frazão Castelo Branco). Deste último casal (Maria Umbelina e João António) nasceram pelo menos quatro filhos que foram: Maria do Céu Crespo Frazão Castelo Branco, nascida em 1891; Raul Crespo Frazão Castelo Branco, nascido em 1892 em Idanha-a-nova e falecido em Penamacor em 1979; Américo (do qual nada sabemos); Maria de Castro Frazão Castelo Branco, nascida em 1896. O varão primogénito Raul Crespo que casará com Maria José Cunha Leal Frias Delgado, sendo

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pais de Albano da Cunha Leal Frazão Castelo Branco que por sua vez casará com Maria Luísa Estela Garcia de Figueiredo. No entanto não será Raul o sobrinho escolhido por Albano de Oliveira para herdar os seus bens. Segundo um dos descendentes actuais a esposa de Raul pertencia a uma família, os “Cunha Leal”, com fama de vender os bens que integravam o património familiar provenientes dos aliados, pelo que Albano fez seu herdeiro um dos filhos da sobrinha Maria de Castro, o seu sobrinho neto e também afilhado Nuno Franco Frazão. A “Casa do Salgueiro” e outro património de Albano de Oliveira ficariam assim dentro de um ramo familiar que ele considerou mais seguro. Nuno Franco Frazão é filho de Maria de Castro Crespo Frazão de Castelo Branco e de João Capelo da Fonseca Franco Frazão. Maria de Castro era filha de Maria Umbelina e de João António Crespo Frazão ambos sobrinhos de Albano Castelo Branco. Era igualmente, Maria de Castro irmã de Raul Crespo. No entanto esta senhora, ao contrário do seu irmão que concretizou uma aliança fora da rede parental, fez um casamento dentro da área parental, ao casar com um irmão do conde de Penha Garcia, voltando assim a unir linhadas directas dos morgados do registo nº1, João José de Oliveira Castelo Branco, com o do registo nº 14, João António de Oliveira Franco Frazão. Na verdade, Maria de Castro é bisneta, por parte da mãe e do pai, do primeiro e o seu marido, João Capelo, é filho do segundo. Provavelmente não foi alheio a esta reforçada e endogâmica relação parental, o facto de a casa do Salgueiro ter sido legada a um descendente deste casamento. Este edifício que foi construído com frontaria voltada para um largo na aldeia do Salgueiro exibe hoje uma placa com o nome de Dr. Albano, que dá o nome ao largo, relembrando aquele que terá sido o último senhor a viver nesta Casa, actualmente desocupada. Ao observarmos os elementos genealógicos de José de Figueiredo Frazão (autor do processo número dois) que como já dissemos enveredou pela vida militar onde obteve inúmeros êxitos, começamos por verificar que casou tardiamente, ou seja com 61 anos. Foi sua esposa Ana Jacinta Pimenta de Avelar, natural de Abrantes e ainda menor em 1856, ano do referido casamento. O Brigadeiro José de Figueiredo era na altura comandante do Regimento de Infantaria nº 11 estacionado em Abrantes. Tratou-se de um casamento antecedido por uma escritura antenupcial onde os direitos da noiva são muito defendidos. Leonor Trigueiros de Aragão viúva de um bisneto do então Brigadeiro, na obra que escreveu e a que já nos referimos, defende que estes interesses

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foram desta forma defendidos por a noiva ser mais abastada que o noivo, mas acrescenta “o noivo tinha para além dos seus bens, uma posição de prestígio: era Brigadeiro e comandante do 11º Regimento de Infantaria, o que deve ter justificado um casamento com uma diferença de idades tão notória: ela menor, ele com 61 anos”259. Na verdade, apesar de não termos elementos para comparar o património de cada um dos noivos, apercebemo-nos pelas matrizes constantes do processo de registo do morgadio feito por José Frazão que os seus bens vinculados eram razoáveis e a estes que recebeu pelo lado do seu pai, terá naturalmente junto outros bens entre os quais os que recebeu de sua mãe. Do lado materno terá herdado uma casa secundária da família situada na aldeia contígua à do Salgueiro, chamada Quintãs, a qual terá sido muito habitada não só pelo Brigadeiro, mas também pelos descendentes que a terão reconstruído no início do século XX. A vida deste militar e visconde do Sardoal foi repartida entre Abrantes, Covilhã e a casa de família em Quintãs. O bom relacionamento do Brigadeiro com a esposa e a sua família transparece no seu testamento feito em 1868, não só porque põe fim a algumas restrições relativamente à separação dos seus bens dos da mulher, mas também porque nomeia, na falta daquela, tutor do seu único filho e ainda menor, o cunhado Joaquim Pimenta de Avelar e para sub-tutor também um irmão da mulher, neste caso José Pimenta260. Nesta altura o prestígio deste morgado e militar já tinha sido reforçado com o título de visconde do Sardoal que lhe foi atribuído em 17 de Abril de 1866 pelo rei D. Luís. Chamou-se o filho do 1º visconde do Sardoal, José de Figueiredo Pimenta de Avelar Frazão. Este casou com Maria da Natividade Trigueiros Martel, uma filha do 1º conde de Idanha-a-nova, Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa casado com Isabel Osório Macedo, precisamente os registadores dos morgadios da Idanha e de Peroviseu e Chãos que deram origem aos processos números 26 e 27. A aliança com os Trigueiros de Aragão será repetida quando uma filha de José de Figueiredo e de Maria Natividade, também chamada como a sua mãe Maria Natividade (Trigueiros Figueiredo Frazão) casa com o primo Joaquim Trigueiros de Aragão. Este era filho de Joaquim Trigueiros de Aragão, 2º conde de Idanha (na família), (irmão de Maria Natividade Trigueiros Martel) e de Maria Angélica Torres Coelho.

259 Quintãs, Uma Aldeia da Beira Baixa. 260 Testamento transcrito em Quintãs - Uma Aldeia da Beira Baixa, pp. 287/289.

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O filho varão primogénito de José de Figueiredo Pimenta Avelar, chamado José de Figueiredo Trigueiros Frazão casou fora da rede parental, concretizando uma aliança com Maria Madalena de Ataíde de Abreu Castelo Branco, filha do conselheiro Dr. Lopo de Abreu Castelo Branco Cardoso e Melo e de Henriqueta Júlia Cabral de Ataíde Mascarenhas e neta do 2º conde de Fornos de Algodres. Aparentemente uma aliança exogâmica não só a nível parental mas também geográfico. Destes foi filha única Maria Madalena de Abreu Castelo Branco Trigueiros Frazão que casou em Fornos de Algodres em 1945 com o Dr. José Maria da Costa Pereira Pacheco de Sacadura Bote, médico261, nascido em 1898 em Seia e filho de João Pacheco Sacadura Bote, magistrado e senhor da “Casa da Bica”, em Seia e de sua mulher Maria Ascensão Mendes Oliva. Maria Madalena teve do seu casamento três filhos: João de Azevedo Pacheco de Sacadura Bote, José Maria de Sacadura Bote e Maria Madalena Frazão de Sacadura Bote. Seria o primogénito desta fratria o sucessor legítimo do morgadio registado pelo Brigadeiro e 1º visconde do Sardoal, caso actualmente a instituição se mantivesse. Finalmente observamos a reconstituição genealógica a partir de João António Franco Frazão o registador de uma capela (processo número catorze) que recebeu de seu pai José Joaquim Franco, capitão de milícias de Idanha. Este administrador de vínculo era como já se teve ocasião de explicar, filho de Emília Albertina de Oliveira Frazão, uma irmã de João José, o primeiro morgado desta parentela a fazer o registo. É também primo em segundo grau de José de Figueiredo (do qual sua mãe é prima direita), o segundo morgado de que temos vindo a falar. João António casa, em 1868, com Amélia Capelo da Fonseca que terá nascido em S. Miguel d’Acha em 1849, filha de José António da Cruz Capelo, bacharel em leis, e de Rosa Benedicta do Carmo Fonseca. Deste casamento nasceram vários filhos cujos casamentos representam alianças significativas com outras parentelas da região. Estas alianças associadas ao peso político que a nível nacional alcançarão o filho José Capelo Franco Frazão, conde de Penha Garcia e o primo João Franco – este era neto paterno de Antónia Emília Franco da Costa Fonseca, irmã de José Joaquim Franco - entre outros

261 Este além de uma notável carreira como médico, foi também deputado à Assembleia Nacional, Conf. NPB, vol. III, p. 361.

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parentes, fará com que os Francos Frazões, nesta geração, aumentem o seu poder político, económico e social na região. Começando por aquela que terá sido a filha primogénita de João António, a que foi dado o nome de Maria Belarmina Capelo Franco Frazão, nascida em 1869, sabemos ter casado com José Pinto Tavares Osório de Castelo Branco, nascido em 1875, tendo sido pais de António Pinto Franco Tavares Osório, nascido em 1898 e falecido na Capinha em 1967 e que veio a ser presidente da Câmara do Fundão e de Castelo Branco. O segundo filho, portanto o varão primogénito, foi José Capelo Franco Frazão, que virá a ser conde de Penha Garcia, figura de incontornável peso político na sua época, casou com Eugénia Maria Valdez Penalva. Esta senhora era filha dos viscondes e condes de Penalva de Alva, que foram José Rodrigues Penalva, nascido em 1811, na Covilhã e que veio a adquirir grande fortuna no Brasil acabando por obter o foro de fidalgo cavaleiro da Casa Real, e sua mulher, com quem casou em 1875, Eugénia Henriqueta Alves Valdez, filha primogénita dos 2ºs condes do Bonfim. Uma outra filha, Maria Júlia Capelo Franco Frazão, nascida em 1880, casou com Augusto Pedro de Figueiredo Falcão, sendo este ainda da família ou seja um primo em terceiro grau, já que o bisavô paterno de Maria Júlia era irmão da bisavó materna de Augusto. Foram pais de João Carlos Costa Falcão Franco Frazão que foi 2º visconde do Alcaide. Também Benedita do Carmo Capelo Fonseca Franco Frazão, outra filha, casou com um homem de famílias dominantes na região, José Luciano da Fonseca Castelo Branco. Foram pais de Maria Emília Franco da Fonseca Castelo Branco que por sua vez veio a casar-se com António Pinto Franco Tavares Osório de Castelo Branco, seu primo, o filho da irmã da sua mãe, Maria Belarmina, a que já nos referimos. Interessante também a aliança realizada por um outro filho de João António, neste caso João Capelo da Fonseca Franco Frazão que veio a casar com Maria de Castro Crespo Frazão filha de dois netos (portanto primos entre si) do morgado do processo número um ou seja de João José de Oliveira Frazão Castelo Branco. Por fim, referimos a aliança realizada pelo filho mais novo de João António Franco Frazão, chamado Bartolomeu Franco Frazão que casou com Maria Adelaide da Fonseca Ribeiro Martins, herdeira dos títulos de viscondessa de Portalegre e de Castelo

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Branco. Os membros deste casal fazem parte de uma parentela que se desenvolveu a partir de um casal que viveu no século XVI, Leonor Lopes Frazão e Marcos Gil, separados destes por quinze gerações, possivelmente contraíram esta aliança inconscientes deste facto. No entanto mais consciente e de um carácter endogâmico mais forte foi o casamento de uma filha de Bartolomeu e de Maria Adelaide, Mariana Eugénia da Fonseca Ribeiro Martins Franco Frazão com o seu primo Alberto Carlos de Figueiredo Franco Falcão irmão do 2º visconde do Alcaide, a que já nos referimos. Por consequência filho da irmã de Bartolomeu, Maria Júlia Capelo Franco Frazão. Voltando à descendência do primogénito de João António Franco Frazão, precisamente o conde de Penha Garcia que deveria ser o seu sucessor na administração do vínculo, se a legislação o continuasse a permitir, sabemos ter tido três filhos do seu casamento com Eugénia Valdez Penalva. Destes foi primogénito, José Penalva Franco Frazão que casou com Maria Francisca de Assis Castro pertencente à família dos condes de Nova Goa, deste casamento não haverá descendência pelo que a continuação da linhagem se fará pelo casamento do irmão do anterior, João Valdez Penalva com Nezy Schwytzer. Deste casal foi filho João José Gustavo Franco Frazão que veio a casar com Maria João Rémus Trigueiros de Martel, 4º condessa de Castelo Branco, que por sua vez foram pais de João Filipe de Martel Franco Frazão, nascido em Lisboa em 1966 e que herdou o título de 5º conde de Castelo Branco.

2.1.2. Uma parentela fortemente endogâmica

Das várias reconstituições genealógicas que fizemos as que envolvem as parentelas ligadas à casa do Salgueiro foram as que registaram maior taxa de casamentos endogâmicos, a nível familiar e por consequência também a nível geográfico, sendo muito frequentes os casamentos, principalmente, entre primos. Nas gerações que se seguiram à dos morgados registadores de vínculos, principalmente nas 2ªs 3ªs gerações, os casamentos entre parentes vão acontecer com uma certa frequência. Das vinte alianças que descrevemos neste texto, nove são endogâmicas. O que significa uma percentagem de quase cinquenta por cento. Não terá sido na verdade tão elevada, já que não contabilizámos todas as alianças possíveis, no

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entanto a taxa de endogamia é manifestamente elevada. Poderemos pensar que terá pesado nesta concentração de alianças entre parentes, uma tentativa de contrabalançar a divisão do património familiar que a extinção do morgadio vem permitir. Por testemunhos de descendentes actuais, sabemos de casamentos contrariados e outros forçados no sentido de evitar a entrada de estranhos na família. Precisamente o casamento de Maria de Castro (1896/1978) com o seu primo João Capelo Franco Frazão (1887/1930) - os pais de Nuno Castro que virá a herdar a Casa do Salgueiro do seu tio avô - teria sido forçado. João que estudou na Itália onde obteve o grau de doutor em Agronomia no Real Instituto Superior Agrícola de Perugia, ter-se-á apaixonado por uma italiana e terá pretendido casar-se, mas essa aliança nunca foi permitida e em nome dos interesses da família foi concretizado, em 1917, o casamento com a prima. Um outro testemunho familiar faz a seguinte observação sobre os casamentos realizados na família neste período, ou seja no século XIX princípio do XX: “Num outro capítulo fundamental, o das alianças matrimoniais, saíram-se igualmente bem os Avós. Consciente ou não, vão seguir neste capítulo a política adoptada pelos barões do constitucionalismo de estabelecer pelos casamentos dos filhos uma teia de relações o mais diversificado possível. E com uma descendência tão numerosa os resultados podem considerar-se brilhantes. Em termos espaciais esta política permitiu cobrir uma área extensa da Beira com Casas de família que se impõem sobre as próprias designações geográfico-industriais” 262. Neste sentido, é apresentado um mapa da região onde se encontram distribuídas as casas pertencentes a parentes, que faz parte do opúsculo distribuído num encontro de família realizado em 1987, de onde foram, aliás, retiradas as palavras que acabámos de citar. No sentido de atenuar o peso negativo que hoje poderão ter estas práticas de casamentos forçados, acrescenta ainda esta descendente: “Tal política de casamentos não pressupunha um propósito e sobrepor-se às circunstâncias concretas e, tanto assim, que não foi viabilizado no caso do tio Joaquim um projecto brilhante de aliança com a filha de uma das principais famílias do distrito mas que apresentava inconvenientes de ordem pessoal. Pelo contrário, os casamentos da

262 Texto de Maria Benedita Duque Vieira, gentilmente cedido por João Franco Frazão.

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família são de molde a permitirem a apologia da escolha criteriosa e sensata feita pelo clã. O sistema só deixava de funcionar quando se interpunham imponderáveis exteriores contra os quais não havia defesas internas à altura. Em condições normais tudo rodava sem o menor atrito e, na generalidade dos casos, com resultados espectaculares”.

Conta ainda, a autora deste texto, um episódio que terá acontecido quando se combinou e concretizou o casamento de Benedita do Carmo Capelo Franco Frazão (uma irmã de Penha Garcia e filha do morgado do processo 14), com o primo José Luciano da Fonseca Castelo Branco, este casamento, apesar de não termos dados precisos, virá reforçar a aliança com os Capelos Fonseca. De facto, Bartolomeu Capelo, ou melhor Bartolomeu Cruz Capelo, o “negociador” deste casamento era o irmão mais novo de José António da Cruz Capelo, pai de Amélia Capelo da Fonseca (a esposa do morgado João António Franco Frazão) e a aliança deverá ser realizada com um parente do lado da mãe de Amélia. Bartolomeu Capelo terá sido uma figura com alguma influência familiar vinda, neste caso, de fora. É ele que propõe a aliança de Benedita com José Luciano, em 1894, como também é padrinho de duas filhas de Amélia Capelo e de João Franco Frazão. O seu nome, Bartolomeu, é dado ao filho mais novo de João Franco Frazão, nascido em 1893. Na família recorda-se assim a combinação deste casamento entre a jovem Benedita e José Luciano: “A minha Avó contava que, tendo os tios de Alcafozes acordado na conveniência de um casamento com o primo José Luciano da Fonseca Castel-Branco, lhe fora perguntado nas férias dos seus quinze anos se estava disposta a isso. Como a ameaça era diferida, a resposta foi positiva. Quando no Verão seguinte lhe disseram que chegara a altura aí veio a recusa. Então o tio Bartolomeu Capelo impôs-se. – ‘Eu nunca faltei com a palavra a ninguém e não é agora uma macaca como tu que me vais obrigá- lo a fazê-lo’. E o caso ficou resolvido. Casada aos 16 anos tendo o Avô 25, instala-se na casa da família da Povoa onde viviam os sogros e alguns tios. Se aparecia com ar triste imediatamente as suspeitas se viravam contra o Avô – ‘Ó José o que é que fizeste à menina’ e ao longo de uma vida que permitiu a celebração de bodas de ouro, as demonstrações concretas de ternura multiplicavam-se”263.

263 Franco Frazão (1837- 1987), História e Tradição Oral, de Benedicta Maria Duque Vieira, documento gentilmente cedido por João José Franco Frazão.

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Outras alianças são referidas como por exemplo a por nós já citada, entre dois ramos familiares politicamente opostos em que foram envolvidos o casal Maria Belarmina Capelo Franco Frazão (irmã mais velha de Penha Garcia e filha do Morgado João António Franco Frazão) e José Pinto Tavares Osório de Castelo Branco. Este casamento merece a seguinte reflexão da actual descendente cujo testemunho temos vindo a acompanhar: “Dois meses depois do casamento da Póvoa [o anteriormente referido] celebrava-se o casamento da tia Belarmina com o tio José Pinto Castello- Branco. À versão romanesca de uma ‘inclinação’ de dois jovens de famílias desavindas parece poder contrapor-se a mais realista de um plano, agora dos tios da Capinha de aproximarem duas famílias já ligadas por laços de parentesco que os acasos da política e dos interesses materiais tinham afastado”264. Assim, os casamentos endogâmicos servindo estratégias muito concretas são hoje reconhecidos pelos descendentes desta forte e enorme parentela que como já se disse têm, ainda hoje, uma forte ligação à região, embora na sua maioria esteja radicada fora da Beira Baixa. No caso concreto deste testemunho, escrito em 1987, por uma descendente, a endogamia é considerada uma mais valia, responsável pela implantação que a família ainda hoje tem na Beira Baixa. Como se disse, existe aquilo que os descendentes chamam um mapa mental da família onde são referidas todas as Casas desta vasta parentela e os nomes dos diversos ramos e áreas de influência.

2.2. A “Casa do barão de Castelo Novo”

Foram os registos nº 5 e 29 efectuados por Pedro de Ordaz Caldeira Valadares sendo este neto do 1º barão de Castelo Novo, João de Ordaz e Queirós, nascido em 1729 e falecido em 1804. Estes processos abrangem bens que como já tivemos oportunidade de referir, foram vinculados pelo 1º barão e bens que terão sido, eventualmente, vinculados por outros, entre os quais António Rodrigues Mourinho265 e nos quais sucedeu o administrador que procede ao registo.

264 Ibidem. 265 Trata-se de bens situados no Concelho de Castelo de Vide. Conf. Vínculos Abelho, Castelo Branco, Proc. nº 29, fl. 11v.

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São bastante diferentes as formas como são apresentadas as instituições dos morgadios dos Ordaz Queirós. No primeiro processo (nº5) a instituição é perfeitamente clara, pois tratou-se de uma instituição em testamento feita em favor da filha (legitimada) do barão e do seu sobrinho e genro (filho de uma irmã do barão e entretanto casado com a filha deste). No segundo caso (processo nº 29) argumenta-se que se perderam as instituições e apresentam-se testemunhas que justificam a existência do vínculo há inúmeros anos. Este é um dos casos que nos suscita algumas dúvidas relativamente ao facto de todas as propriedades terem sido desde tempos remotos vinculadas, tal como se pretende fazer crer. No processo de justificação são apresentados testemunhas que tudo indica fazerem parte de um círculo de relações próximas de Pedro Valadares como é o caso do administrador da sua casa, João dos Santos da Fonseca ou Diogo da Silva Castelo Branco, tenente-coronel, morgado do distrito que também regista o seu vínculo através do processo de justificação266 ou ainda Agostinho José Fevereiro, rico proprietário da região e também conhecido pela sua ideologia miguelista tal como Pedro Valadares.

2.2.1. Engrandecimento da Casa: um casamento, um morgadio

Como acabámos de explicar é a instituição a que se refere o processo número cinco que nos surge explícita, já que do processo número 29 se declara a perca dos documentos relativos às instituições dos morgadios a registar. Assim, da leitura do primeiro processo parece-nos claro que a intenção de instituir um morgadio no seu testamento terá feito parte da estratégia do 1º barão de Castelo Novo de fortalecimento da sua casa. A este facto também não será alheio o casamento da sua única filha. O 1º barão de Castelo Novo, João de Ordaz Queirós, filho do Coronel e Sargento-mor de Castelo Novo, Francisco de Ordaz e Queirós e de Isabel Joana Robalo Delgado, natural de Castelo Branco, casou com Maria Josefa Quitéria de Salazar e Melo Jordão, mas não teve filhos deste casamento. Teve, porém, o barão uma filha fora do

266 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 11.

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casamento que veio a legitimar. Tratou-se de Isabel Angélica de Meneses Ordaz Queirós, nascida em 1778 e legitimada em 10 de Junho de 1803. Esta senhora veio a casar em 24 de Agosto de 1803 com o seu primo, José Caldeira de Ordaz Queirós. Este era filho da irmã do barão, Joana Teresa de Meneses de Ordaz e Vasconcelos casada com Joaquim José Caldeira de Valadares Castelo Branco de Madureira Frazão. Tendo falecido o 1º barão em Janeiro de 1804, no seu último ano de vida as suas acções parecem directamente dirigidas para o engrandecimento da sua casa. De facto, no fim da sua vida legitimou a única filha que tinha, assistiu ao casamento desta com o seu sobrinho varão primogénito - casamento de tal forma favorável à continuação e ao fortalecimento da casa do Barão que é difícil acreditar que a sua influência não estivesse na origem do enlace – e finalmente institui já no mês e ano do seu falecimento, um morgadio cuja administração deixa à filha e ao sobrinho, já então casados. A estratégia do barão foi, a curto e a médio prazo, coroada de êxito. O sobrinho e genro, José Caldeira de Ordaz Queirós, nascido em 1774 e falecido em 1851, 2º barão de Castelo Novo por carta régia de 20-2-1804, foi uma personalidade que deu continuidade e aumentou a Casa de João de Ordaz Queirós. Segundo escreve Joaquim Candeias da Silva, acerca do 2º barão: “Em 1800 era ainda solteiro, fidalgo da Casa Real, capitão de cavalos, de boa vida e costumes, com bens de raiz calculados em 150 mil cruzados, e já tinha sido vereador da Câmara de Castelo Branco durante vários mandatos; mas rapidamente chegaria a coronel do batalhão de voluntários de Penamacor, comendador e alcaide-mor da vila de Segura”267. Nasceram do casamento do 2º barão com Isabel Angélica pelo menos quatro filhos: Joaquim que terá falecido solteiro; Pedro de Ordaz Caldeira Valadares, sucessor na administração da Casa; Frei João de Ordaz Caldeira Valadares e Maria Guilhermina de Ordaz Caldeira. Foi Pedro de Ordaz Caldeira Valadares que fez os registos vinculares que deram origem aos dois processos no distrito de Castelo Branco. Este morgado foi uma personagem muito activa na política da região, principalmente nos anos conturbados que antecederam a Regeneração. As suas posições absolutistas que o levaram mesmo a recusar dar continuidade ao título que teria direito a receber de seu pai, não o impediram, porém, de colaborar com a política do regime liberal.

267 Concelho do Fundão - História e Arte, p. 165.

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Genealogia parcial da “Casa Barão de Castelo Novo” (1792-1912)

Joaquim José Caldeira Joana Teresa de Meneses João d´Ordaz Queirós Costa Valadares d´Ordaz e Vasconcelos (1º barão de C.Novo) (1792-1804)

Ana Josefa Pedro Caldeira Caldeira d´Ordaz d´Ordaz José Caldeira Isabel Angélica d´ Ordaz e Queirós de Menezes d´Ordaz (2º barão de C. Novo)

Mª Benedita Pedro d´Ordaz Joaquim d´Ordaz Pais de Sande e Castro Caldeira Valadares (Frade)

Francisco Mª Leonor José Caldeira d´Ordaz António Lucas d´Ordaz Queirós de Valadares

Pedro d´Ordaz Francisco Mª Piedade Mª José Caldeira Lucas Caldeira d´Ordaz Q. V. Caldeira d´Ordaz Q. V. (1877-1912)

Diag. 2

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade Relação de casamento (autora)

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Foto nº 3 – Casa do barão de Castelo Novo em Castelo Braga

Foto nº4 – Pormenor do brasão do barão de Castelo Novo

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Casou com Maria Benedita de Sande e Castro, nascida em S. João da Pesqueira em 1824 e falecida em Castelo Branco em 1899. Era esta senhora filha de Manuel Pais de Sande e Castro, fidalgo da Casa Real e Senhor da “Casa do Cabo” em São João da Pesqueira, e de Maria do Resgate Correia de Sá. Do casamento deste administrador de morgadio, temos notícia do nascimento de sete filhos: Maria Leonor de Ordaz, Maria Angélica de Ordaz, Maria da Piedade, Maria Guilhermina, Manuel Caldeira de Ordaz, José Caldeira de Ordaz e Joaquim Caldeira de Ordaz. Segundo as informações que obtivemos só a filha mais velha, Maria Leonor, nascida em 1845, terá casado e tido descendência legitima. Esta casou com Francisco António Lucas, nascido em Alcains em 1854, e deste casamento nasceram: Pedro de Ordaz Caldeira Lucas em 1877 e Francisco de Ordaz Caldeira Lucas, nascido em 1881. Pedro, como primogénito, será o representante do título de barão de Castelo Novo recebido do seu tio José Caldeira de Ordaz Queirós Valadares. No entanto apesar de não se ter casado José Valadares teve duas filhas, Maria Piedade Caldeira de Ordaz Queirós Valadares e Maria José. Estas foram reconhecidas, após a morte do pai, pelas suas tias e herdaram destas. Assim, vão dar continuidade a esta parentela uma via legitima a partir de Maria Leonor e outras duas que têm na origem as duas filhas legitimadas do irmão de Leonor, representante do título. Relativamente à linha familiar representante do título, seguindo-a até à actualidade, pela primogenitura, constatamos que o filho de Leonor já referido, Pedro de Ordaz Caldeira Lucas casou em 1900 com Eloidia Patronilha de Sá Viana Conte. Deste casamento sabemos terem nascido três filhos, sendo o primogénito Pedro Conte Caldeira de Ordaz, nascido em Castelo Branco em 1906. Este casou com Maria Eugénia Cruz Tavares, nascendo deste casamento também três filhos dos quais o primogénito é Pedro Tavares Caldeira de Ordaz que nasceu em 1935, em Lisboa. Seria este o representante do titulo e o morgado caso a legislação se mantivesse.

2.3. A “Casa da Graciosa” e o morgadio dos Giraldes

O registo feito neste distrito pelo representante desta Casa, Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio, nesta data 1ºvisconde, 1ºconde e mais tarde 1º marquês da

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Graciosa, corresponde ao processo nº 3. No entanto na Torre do Tombo existe igualmente a cópia de um processo de registo feito em Lisboa, precisamente o processo número 6 deste distrito que corresponde ao “Vínculo instituído em 11 de Junho de 1789, por Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e anexado ao Vínculo instituído por Afonso Giraldes em data desconhecida, ambos em Lisboa, de que foi último administrador, o conde da Graciosa”268. Sabemos também, pela grande obra de carácter genealógico escrita por Luís Bívar Guerra, intitulada precisamente “A Casa da Graciosa”, que Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio, terá procedido no Governo Civil da Guarda ao registo de vários morgadios269, não existindo porém cópias no Arquivo da Torre do Tombo. Como não existe, aliás, qualquer cópia de processos feitos naquele Governo Civil.

2.3.1. Instituição e administração do morgadio dos Giraldes

Tudo indica que a origem deste morgadio se encontra na instituição feita em 1448 por Afonso Giraldes em favor de seu filho Giral Nunes Giraldes. Relativamente à data da instituição Luís Bívar Guerra considera a de 1458, tendo como base a inscrição numa lápide que se encontra na Casa sede deste morgadio, situada em Idanha-a-Nova, no entanto um dos documentos que faz parte do processo de registo é taxativo na apresentação da data de 1448 como a da 1ª instituição. Passou este morgadio, sem qualquer desvio pelos primogénitos de cada administrador, até à sexta geração, a partir da qual se dá um corte, por falta de descendência, passando para um quinto neto do instituidor, mas representante de outra linhada. Foram, assim, seus administradores depois do primeiro, Giral Nunes Giraldes: João Nunes Giraldes, António Nunes Giraldes, Bartolomeu Nunes Giraldes, Domingos Marques Giraldes, Francisco Marques Giraldes e Pedro Sousa Refóios. Terá sido com este 7º administrador que a continuidade foi quebrada. Tendo este último casado com Catarina Marques Giraldes, ainda sua parente – o avô materno dela era irmão do avô paterno dele - não houve filhos do casamento, passando o morgadio para a irmã de

268 Vínculos Portugueses, Alfredo Pimenta, p.33; 269 Conf. no capítulo III, da referida obra.

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Pedro Sousa Refóios, Perpétua de Sousa Refóios que também por falta de descendência não lhe deu continuidade nesta linha. Passou assim a sucessão para Fernando Afonso Giraldes primo de Catarina Marques Giraldes e também de seu marido Pedro de Sousa Refóios. Saliente-se que o morgadio recebido por este último administrador tinha vindo a ser aumentado ao longo dos tempos. Luís Bívar Guerra refere precisamente as anexações que teriam sido feitas pelo seu 5º administrador desta forma: “Domingos Marques Giraldes achou, e com lógica, que todos esses bens andando afastados de um todo, estariam em risco de se pulverizarem, por partilhas, em poucas gerações e com uma compreensão exacta do que era o verdadeiro espírito da lei dos morgados, reuniu-os ao Morgado dos Giraldes, no ano de 1611, como nos informa com clareza a segunda parte da lápide da casa solarenga de Idanha-a-Nova que ele mandou acrescentar”270. O aumento do valor patrimonial do vínculo foi conseguido pelas anexações, às quais não terá sido alheia, certamente, uma política de alianças matrimoniais preferenciais. Durante o século XVII os casamentos feitos pelos administradores do vínculo e seus parentes mais próximos caracterizaram-se por uma forte endogamia. Por exemplo na geração do administrador acima referido, Domingos Marques Giraldes, constata-se que este e seu irmão Marçal Nunes Giraldes têm esposas também irmãs entre si, respectivamente Catarina Nunes Giraldes e Brites Giraldes, as quais se tivermos em consideração os seus apelidos já deviam descender de alianças entre os ascendentes dos dois casais.

270 A Casa da Graciosa, p. 440.

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Genealogia parcial da “Casa da Graciosa” (C. 1750 - 1924)

Bartolomeu José Inês Vera Nunes Cardoso Braba de Menezes Giraldes de Andrade

Manuel Vaz Mª José Fernando Afonso Mª Joana das Dores Nunes Preto Barba Giraldes de Andrade de Melo Sampaio Giraldes de Andarde Menezes e Menezes Figueiredo Bourbon (Casa da Lousa) (+ - 1770)

João José Fernando Afonso Mª José Vaz Preto Giraldes de Melo Leitão Pinto Giraldes Sampaio Albuquerque (Visconde, Conde e Marquês) (Casa da Borralha)

Francisco Augusto Mª Joana Francisco Fernando Afonso Furtado de Mesquita de Bourbon M. G. de Melo Giraldes Paiva Pinto Sampaio Pereira Sampaio Bourbon

Filipe Osório Mª de Melo Francisco De Menezes Pita Furtado Caldeira Furtado de Melo Conde de Proença-à Velha) Giraldes Bourbon Mesquita Giraldes de Paiava Pinto

Mª Teresa da Franca João Filipe de M. O. de M. Pita Horta Machado (4º Marquês da Graciosa)

Fernando Afonso de M. S. Pereira de F. (5º Marquês da Graciosa) (1924)

Diag. 3

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade Casamento (Autora) 167

Foto nº 5 - Casa dos marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova

Foto nº 6 - Vista lateral da casa dos marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova

168

Terminada a linha primogénita do instituidor, a continuidade é retomada a partir do licenciado Fernando Afonso Giraldes. Este é filho de um casal também primos entre si, Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes e Catarina Afonso Giraldes. Esta tendência endogâmica terá contribuído para um notório aumento patrimonial e um natural reforço da importância económica e social do morgadio e da família. Fernando Afonso para além da sucessão no morgadio do seu primo Sousa Refóios, sucedeu a seu pai e ao seu tio (irmão do pai), Manuel Marques Giraldes, prior na freguesia das Donas e que deixou uma genealogia da família, manuscrito que segundo Bívar Guerra se encontra no arquivo da Casa da Graciosa. A dimensão do morgadio continuou a aumentar na geração seguinte, durante a administração de Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes, filho de Fernando Afonso Giraldes e portanto 10º administrador do morgadio. Recaiu neste administrador o direito na herança dos bens de seu irmão Fernando Afonso Giraldes que apenas teve uma filha que morreu criança e também de uma tia, irmã de seu pai, Leonor Giraldes. Com os seus bens livres e conjuntamente com sua mulher, Catarina Nunes Moucho, instituiu também um morgadio. Foi sucessor de Bartolomeu o seu primogénito, Fernando Afonso Giraldes que veio a casar com Brites Maria Andrade e Couto, uma prima paralela, ou seja com uma filha de uma irmã de sua mãe. Brites foi administradora do morgado da Tapada do Alardo sucedendo a seu pai e ainda, pela conjugação de diversas circunstâncias, administradora de pelo menos mais sete morgadios, dos quais nos dá notícia Luís Bívar Guerra na obra A Casa da Graciosa271. É precisamente uma escritura feita por Brites Maria de Andrade, no ano de 1760, o primeiro documento que é apresentado no processo de registo do vínculo que temos vindo a tratar. Trata-se de “escritura de contrato de transacção amigável, composição e partilhas entre maiores, pagamento de legítimas, renunciação e instituição de vínculo e doação irrevogável causa dotis (…)”272. Neste documento, Brites Maria - na altura já viúva de Fernando Afonso Giraldes - e dez dos seus onze filhos, faz a anexação de diversos vínculos entre os quais o que temos vindo a seguir a administração e, instituído em 1448 por Afonso Giraldes. É por

271 p. 441/442. 272 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 3, fl. 5.

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esta pessoa instituído o morgado “dos Andrades”. Para além disso, pretende Brites Maria fazer suceder na administração de todo este património o seu filho mais velho Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade. Para isso, neste documento, todos os outros seus filhos renunciam à sua legitima paterna em favor do irmão mais velho e a mãe dispõe da sua terça também em seu favor deste filho. Pretende-se, ao fazer administrador de todos os bens o filho e irmão mais velho contribuir para o aumento do poder da Casa da família e ainda neste sentido proporcionar ao senhor da Casa um bom casamento. O texto do documento é neste sentido explícito ao afirmar: “que por terem muito amor e lhe o merecer o dito seu irmão Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e desejarem concorrer quanto lhes for possível para o seu aumento para que nele como varão mais velho se conserve a memória e posteridade antiga casa dos seus pais Fernando Afonso Giraldes e a senhora Dona Brites Maria de Andrade e Couto, e daqueles de quem descendem e para melhor poder o dito seu irmão tomar o estado de casado para assim se continuar nele a sucessão da mesma casa e o esplendor da sua família (…)”273.

Conclui-se do documento que se vão manter duas Casas, ou seja os bens que chegaram à família pela linha do já falecido Fernando Afonso Giraldes que constituíram o morgadio dos Giraldes ligados principalmente à Idanha-a-Nova e os que fazem parte do património de D. Brites que constituirão o morgadio dos Andrades e que se ligam principalmente a Monsanto, estas no entanto após a morte de D. Brites ficarão na administração exclusiva do seu filho primogénito. Casou Bartolomeu Giraldes de Andrade em 1768 com Inês de Vera Barba de Meneses, filha de Gonçalo Barba Alardo de Pina e Lemos – Fidalgo da Casa Real, Alcaide-mor de Leiria, senhor do Morgado da Romeira, do morgado da Matrena e do da Quinta do Sirol, foi ainda mestre de Campo de Auxiliares de Leiria - e de Ana Joaquina Lourença de Carvalho e Meneses. Contava a noiva 15 anos enquanto Bartolomeu já tinha 53 anos. Foi este um casamento muito negociado e celebrado com grande pompa em Oeiras no Palácio de Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal com

273 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 3, fl. 6v.

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quem o noivo e seu irmão Francisco António Marques Giraldes de Andrade274 tinham relações estreitas de amizade. Esta geração parece ser de grande importância para o fortalecimento político e económico da família Giraldes. A proximidade com o marquês de Pombal é uma evidência, este será padrinho de baptismo de um filho de Bartolomeu Giraldes. Será este último que com seu irmão Francisco António institui mais um morgadio que virá a ser anexado ao dos Giraldes, tratou-se do “morgadio dos Arciprestes na cidade de Lisboa, de que era cabeça a Casa e Quinta dos Arciprestes, ao Vale do Pereiro (…)”275. Acrescente-se porém que tendo cursado na Universidade de Coimbra e sendo bacharel em Coimbra desempenhou variados cargos de importância e confiança política. Confiança que terá merecido da parte de Sebastião de Carvalho e Melo e também de D. Maria II, pois como refere o genealogista da família: “No mês de Junho do ano de 1789, já com o peso dos seus 74 anos adoeceu e no dia 3 desse mesmo mês e ano quis a Rainha D. Maria II recompensá-lo de todos os seus serviços fazendo-lhe a mercê do Senhorio de Medelim e a alcaidaria–mor de Monsanto e das Comendas de S. Pedro das Comedeiras e São Miguel de Fornos na Ordem de Cristo, tudo em duas vidas. Devendo recair a 2º vida no filho que lhe sucedesse. (…) faleceu às 4 horas da manhã do dia 14 de Junho de 1789 na sua Casa e Quinta dos Arciprestes, em Lisboa”276.

Do casamento deste 12º administrador com Inês de Vera de Meneses nasceram nove filhos, entre os quais Maria José Barba de Meneses que protagonizará uma nova aliança com a Casa da Lousa, ao casar com o seu parente Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, senhor daquela Casa e do seu morgadio – neste caso a relação de parentesco que visionamos tem a ver com o facto de uma das trisavós de Manuel ser

274 Este irmão, é mencionado na escritura de “transacção amigável…” como o irmão que não necessita que o irmão administrador do vínculo lhe pague qualquer renda não só “por ter já boa renda dos ditos seus benefícios e ordenados das referidas ocupações, mas porque para chegar a este estado haviam concorrido os ditos seus pais com grandes despesas da sua casa, assim para entrar no Convento de Avis como depois assistindo-lhe na Universidade de Coimbra em que se doutorou na faculdade dos sagrados cânones e ainda depois na corte enquanto só teve o limitado ordenado do santo ofício (…)” Proc. nº 3 , fl.7. Na verdade para além de prescindir de qualquer bem da Casa de seus pais, este clérigo foi uma personagem que desempenhou altos cargos no Reino e contribuiu muito para o aumento da Casa de sua família. Conf. Luís Bívar Guerra, A Casa da Graciosa, p.p. 172 a 174. 275 Luís Bívar Guerra, op. cit., p. 174. 276 Luís Bívar Guerra, op. cit., p.176.

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irmã de um dos bisavôs de Maria José277 -. O sucessor da Casa dos Giraldes será o varão primogénito Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Meneses que nasceu em Lisboa em 1770. Este administrador formou-se em direito e desempenhou diversos cargos - alguns recebidos de seu pai - entre os quais desembargador da “Casa da Suplicação”, desembargador dos Agravos, deputado da Mesa da Consciência e Ordens, moço fidalgo da Casa Real, Alcaide-mor de Monsanto, senhor Donatário de Medelim278. Não resistimos a comentar que a estratégia de fortalecimento económico da “Casa dos Giraldes” que vinha a ser desenvolvida há várias gerações, atinge na geração deste administrador o seu ponto mais alto. Na realidade, Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Meneses casou com uma das herdeiras mais ricas do reino no seu tempo e que entre o seu património traz a “quinta da Graciosa”, de onde virá a denominação para os títulos aristocráticos que virão a receber os seus descendentes. Chamou-se esta herdeira Maria Joana das Dores de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo, nascida na “quinta da Graciosa” em 1778, era filha de José de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo e de sua segunda esposa Joana Rita de Bourbon de Almeida Peixoto. Com 13 anos ainda incompletos, casa em 17 Fevereiro de 1791 esta herdeira e sucessora dos seus pais a quem cabe a administração do morgado do Casaínho, o morgado do Ramirão, da Capela de Casal Vasco, o prazo de Dona Briolanja, dos morgado dos Botelhos e de Gonçalo, na Guarda, da Capela de Vila Cova, da Casa e morgado da Graciosa, dos prazos da Figueira de Boialvo e de Vila Nova da Rainha e ainda da Honra de Real279. Deste casamento nascem oito filhos, sendo o varão primogénito que assume a sucessão da casa, foi este Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo, nascido na “Casa da Graciosa” em 1808 e forma-se em direito em 1835. É este sucessor que faz o registo vincular em 1860. Foi o primeiro sucessor a receber os títulos de visconde, conde e marquês da Graciosa. Foi Par do Reino, oficial-mor honorário da Casa Real entre o desempenho de outros cargos.

277 A relação entre as famílias continuava a ser muito próxima, pois João José Vaz Nunes Preto, pai do noivo surge no documento de Transacção amigável…citado no texto como primo e procurador de um dos irmãos (José Francisco Marques Giraldes de Andrade) do pai da noiva. 278 Outros cargos são referidos por Luis Bívar Guerra em op. cit., p.179. 279 Conf. Luís Bívar Guerra, op. cit., p. 180.

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Casou em 1836 com Maria José Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque, nascida em 1817 e filha de Gonçalo Caldeira Leitão de Albuquerque Cardoso de Brito Moniz e de Josefa Margarida Pinto de Macedo Mascarenhas de Abreu Castelo Branco. Este casamento levantou na altura alguma contestação. Tendo em consideração uma nota de Luís Bívar Guerra “O seu casamento fora primeiro negociado com uma filha do marquês de Penalva, mas desse casamento desistiu em virtude da sua paixão pela senhora com quem casou. Isto deu azo a uma ruptura com seu tio Francisco António que lhe havia negociado aquele casamento com muito empenho”280. Na verdade, deve ter constituído um revês para a família a não realização do casamento preparado pelo clérigo Francisco António que relembre-se foi uma personagem de que falámos anteriormente como muito próxima do marquês de Pombal e que terá contribuído em muito para o aumento do poder económico e político da “Casa dos morgados” da Idanha e de Monsanto. O poder da Casa do marquês de Penalva não era comparável àquela de onde saiu a esposa escolhida por Fernando Giraldes de Figueiredo, que era bem mais modesta. No entanto, duas alianças se realizam entre estas duas famílias no mesmo ano. De facto em 1836 Fernando casa com Maria José e o irmão primogénito desta, o futuro 1º visconde da Borralha, Francisco Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque de Brito Moniz, casa com a irmã de Fernando, Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e Bourbon. A proximidade entre as duas famílias terá sido bastante pois as alianças voltam-se a repetir quando um dos irmãos mais novos do visconde da Borralha, Albano Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque casa com uma sobrinha dos aliados Giraldes, ou seja com Emília Adelaide Vaz Preto Giraldes, filha da irmã mais velha de Fernando e de Vera, chamada Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon casada com João José Vaz Preto Giraldes de Castilho. Sublinhe-se que em 1836, ano das duas primeiras alianças nenhuma das famílias possuía títulos nobiliárquicos, Fernando Giraldes foi agraciado com o título de visconde da Graciosa em 1840, com o de conde em 1852 e com o de marquês em 1879, enquanto Francisco Caldeira Brito Moniz recebeu o título de visconde da Borralha em 1852.

280 A Casa da Graciosa, nota 204, p. 182.

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Do casamento deste 14º administrador do morgadio dos Giraldes, nasceram três filhos: Francisco de Melo Giraldes de Sampaio e Bourbon que nasce em 1837 mas vai falecer muito jovem, em 1859, quando frequentava o último ano do curso em Coimbra; Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio que devido à morte de seu irmão será o sucessor na administração da Casa da Graciosa; Maria Joana de Bourbon de Melo Giraldes Caldeira de Sampaio Pereira de Figueiredo que nasceu em 1842 e veio a casar em 1860 com o conde de Foz de Arouce, Francisco Augusto Furtado de Mesquita Paiva Pinto. Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio, nascido em 1839, foi assim o 15º administrador do morgadio dos Giraldes, no entanto faleceu solteiro e sem descendência. Por este facto sucedeu-lhe no título o sobrinho, Francisco Furtado de Melo Mesquita Giraldes de Paiva Pinto filho da irmã Joana, casada com o conde de Foz de Arouce. Este foi mais um desvio que esta sucessão sofre e que como iremos referir se repete na geração seguinte. De facto Francisco Giraldes Paiva Pinto nasceu em 1866 e faleceu solteiro em 1940 sem descendência. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Presidente da Câmara da Anadia em 1940. A sucessão do título da Graciosa, no morgadio dos Giraldes vem a recair no seu sobrinho João Filipe. João Filipe de Melo Furtado Osório de Meneses Pita, nasceu em 1896 e era filho de Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon, irmã primogénita do anterior administrador, e de João Filipe Osório de Meneses Pita, 2º conde de Proença-a-Velha. Saliente-se que este último era filho do 1º conde do mesmo título e de Luísa da Cunha Castro Meneses Pita, a morgada que procede ao registo de Vínculo número seis no Governo Civil de Castelo Branco. Casou o 4º marquês da Graciosa com Maria Teresa Benta Jacinta de Horta Machado da Franca, filha do 1º conde de Marim. Deste casamento nasceram quatro filhos. O primogénito e sucessor é Fernando Afonso de Melo Giraldes de Sampaio Pereira de Figueiredo, nascido na Anadia em 1924. Engenheiro Agrónomo, casou em 1947 com Maria José Raposo de Sousa Alte Espargosa. Tiveram nove filhos, sendo o primogénito Francisco Giraldes Pereira de Figueiredo, nascido na “Casa da Graciosa” em 1949. Se o morgadio fosse ainda hoje uma realidade este seria o actual sucessor e administrador do morgadio dos Giraldes.

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2.4. A “Casa da Lousa” e os Vaz Preto

Quando em 1862, faz o registo do vínculo, João José Vaz Preto Giraldes diz-se administrador dos morgados de São Sebastião da Lousa, do instituído por Dona Maria Agostinha Sarafana, nos quais sucede a seu pai, Manuel Vaz Preto. Administra também o morgadio instituído por seu tio frei Manuel Vaz Nunes Preto o qual anexou ao da Lousa e ainda o instituído por Inês Nunes, que lhe pertence como representante do seu tio Fernando Afonso de Castilho. Apresenta seis documentos – certidões, escrituras e relação de bens - pelos quais prova a sua legitimidade como administrador do vínculo que pretende registar, cumprindo o exigido pela legislação de 1860281. A relação de bens apresentada no registo é muito extensa. Perante a dificuldade em definir o património pertencente a cada uma das instituições é incluído no fim do processo uma relação conjunta que descreve quatrocentos e cinquenta e cinco propriedades espalhadas pelos concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova.

2.4.1. A origem do morgadio da Lousa

O primeiro património que vai estar na origem do morgadio de São Sebastião da Lousa, vai ser vinculado por Manuel Vaz Nunes em 1703, bacharel em Leis que, segundo Luís Bívar Guerra282, terá sido Desembargador da Relação do Porto. Não se tendo casado vai nomear primeira administradora do chamado morgado de Lousa, sua sobrinha, Maria Vaz Nunes. Esta senhora, filha de Domingos Vaz Nunes, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício – irmão de Manuel Vaz Nunes – e de Feliciana de Figueiredo Manso, será filha única – duas irmãs morreram na infância – e herdeira não só do morgadio instituído pelo seu tio, mas também do instituído no testamento de seu pai, igualmente em 1703 e chamado o morgado de São Sebastião que tem como cabeça a Quinta de São Sebastião em Lousa. Casou Maria Vaz Nunes com

281, Vínculos Abelho, ANTT, Castelo Branco, Processo nº 4. 282 A Casa da Graciosa, p.203.

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Domingos Vaz Freire, filho de Domingos Vaz Burefa, morgado de Alcains, e de Maria Martins. Também deste casamento só ficará uma única filha, Catarina Antónia Madalena Vaz Nunes que casa em 1733, com Manuel Fernandes Preto, filho de Maria Nunes Simoa e de João Nunes Preto. Herda Catarina os morgados de sua mãe e ainda será 1ª administradora conjuntamente com o seu marido, de um outro morgadio instituído em 1740 pelo seu 2º primo e tio de seu marido, o clérigo João Nunes Moucho. Este último e Maria Nunes Simoa eram filhos de Gonçalo Vaz Nunes irmão dos anteriores Domingos e Manuel Vaz Nunes, respectivamente avô e tio-avô de Catarina e tios-avôs de seu marido. Catarina Vaz Nunes e Manuel Fernandes Preto tiveram sete filhos. Destes sobreviveram, pelo menos, João José Vaz Nunes Preto, Gonçalo José Vaz Nunes Preto, Frei Manuel Vaz Nunes Preto e Fernando Afonso Giraldes Preto. João José Vaz Nunes Preto, o primogénito, nascido em Idanha-a-Nova em 27 de Dezembro de 1734, será o sucessor na administração dos vários vínculos dos pais, foi também capitão-mor de Idanha-a-Nova. Casou com Luísa Madalena Tudela de Castilho, nascida em Castelo Branco em 1733, filha de Fernando Tudela de Castilho e Costa, Fidalgo da Casa Real, Juiz da Alfândega de Castelo Branco e de sua mulher Francisca Marques do Prado. São filhos deste casal: Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, Maria Caetana Tudela de Castilho, Fernando Afonso Giraldes Preto (Tenente do Regimento de Cavalaria de Almeida), Francisca Eugénia Pilar Tudela de Castilho. Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, como primogénito, assume a administração dos bens vinculados. Casa em 1800 com Maria José Barba de Menezes, filha do Dr. Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e de Inês Vera Barba de Menezes. Será nesta geração que a família Vaz Preto vai reivindicar a posse de um vínculo instituído em 1681 por Inês Nunes. O processo de reivindicação é da autoria de Fernando Afonso Giraldes Preto, datado de 1825 quando o irmão primogénito, administrador dos outros bens vinculados, Manuel Castilho, já tinha falecido. Pelos elementos que temos Fernando Preto, não teria casado ou pelo menos não teve descendência, pelo que João José Preto Giraldes quando em 1862 procede ao registo vincular apresenta-se como representante do seu tio Fernando283. Teria sido precisamente para aumentar o poder de sua casa que iria

283 Cf. ANTT, Vìnculos Abelho, Castelo Branco, Processo nº 4, fl. 1v.

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prosseguir sob a administração do seu sobrinho João que Fernando Afonso Giraldes Castilho vai reclamar em 1825, o vínculo instituído por Inês Nunes, naquela data na posse de António Carlos Oliveira. Considera o autor do processo que António Oliveira não é parente da instituidora, enquanto ele é o descendente mais próximo de Fernando Afonso Giraldes que D. Inês, a instituidora, tinha chamado em sexto lugar à administração do vínculo, tendo sido extintas as linhas dos primeiros cinco sucessores. Tendo também sido citado para o processo João Mendanha de Valadares como oponente ao autor. Considerando aquele ser o sucessor legal na administração do vínculo, vai acusar Fernando Giraldes de não ser descendente dos Giraldes chamados à sucessão por Inês Nunes, enquanto ele, João Valadares, é bisneto de Bartolomeu Afonso da Cruz chamado à sucessão em sétimo lugar. O processo parece ter sido complicado, no entanto a sentença é favorável ao seu autor, ou seja a Fernando Afonso Giraldes que consegue provar a sua descendência e se vê na posse do vínculo instituído por Inês Nunes o qual entretanto tinha usufruído de várias anexações, como a do vínculo instituído por Domingos Nunes284. É João José Vaz Preto Giraldes que administra este património do seu tio, mais o recebido de seus pais e ainda a doação que recebeu de seus tios-avós. Na verdade os irmãos de seu avô paterno Frei Manuel Vaz Nunes Preto e Fernando Afonso Giraldes Preto far-lhe-ão a doação de parte do seu património. Esta doação é feita em 1815, tendo João 14 anos e sendo já órfão de pai. Desejam estes aumentar “de mais em mais em opulência e esplendor a casa de seu sobrinho João José Vaz Preto de Castilho, para que estes e seus descendentes servissem o Estado (…)”285. Simultaneamente com o processo de registo o administrador do morgadio da Lousa vai proceder a uma escritura de anexação ao morgadio do que ele chama, no momento, “duas capelas insignificantes”, a instituída por Maria Agostinha Sarafana e a de Inês Nunes a cujo processo de reclamação no referimos anteriormente286. Constitui assim, em 1862, à data de registo o morgadio de São Sebastião da Lousa um património de tal extensão que o seu administrador opta por apresentar uma descrição conjunta de todas as propriedades vinculadas, consideradas de maior valor, com as respectivas confrontações e valor, sem a descriminação a que vínculos

284 Ibidem, fls 52v-57. 285 Ibidem, fl.35. 286 Ibidem, fls. 59 – 60.

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pertenciam, pois isso segundo ele já não era possível fazer. Descreve assim 455 propriedades.

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Genealogia parcial do morgadio “da Lousa” (+ - 1780-1954)

Mª José Barba Manuel Vaz Nunes de Menezes Preto Giraldes de Castilho

Joana Margarida Carlota João José Vaz Preto Giraldes de Melo e Bourbon Giraldes

Manuel João José Fernando Emília A. Mª José Albano Caldeira Vaz Preto Vaz Preto Vaz Preto Bourbon Vaz Leitão Pinto Giraldes Giraldes Giraldes Preto Giraldes de Albuquerque

Manuel Vaz João José Emília de Boubon Júlia Sá Valente Preto Giraldes Caldeira Vaz Preto Giraldes

Manuel Vaz Preto Bárbara Tavares Giraldes Barba de Menezes de Almeida de Proença

João Caetano Mª Taciana Manuel Barba Mª Alda de Abrunhosa T. P. Vaz Preto B. Menezes de Menezes T. P. Vaz Preto Dias Coutinho

Mª João Mª Barbara António Mª Alice Coutinho Manuel Coutinho V. P. Giraldes V. P. Giraldes Tavares Proença Vaz Preto Vaz Preto de Abrunhosa de Abrunhosa de Abrunhosa (1952) (1954)

Diag. 4

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Foto nº 7 - Casa dos Vaz Preto na aldeia da Lousa

Foto nº 8 - Pormenor de um dos jazigos dos Vaz Preto no cemitério da Lousa

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Casou João José Vaz Preto com sua prima Joana Margarida Carlota Giraldes de Melo e Bourbon e tiveram quatro filhos, sendo o primogénito Manuel Vaz Preto Giraldes que nasceu na Lousa em 1828 e sucederá na administração do morgadio.

2.4.2. As alianças matrimoniais e a subsistência da “Casa da Lousa”

Os casamentos concretizados pelos sucessores na administração do morgadio da Lousa foram de grande importância para a manutenção e aumento da Casa da família Vaz Preto. Como já afirmámos anteriormente Catarina Madalena Vaz Nunes como filha única e sucessora de outra filha única – Maria Vaz Nunes – vai reunir sob a sua administração um vasto património vinculado, como o morgadio de Alcains e o dos Vazes na Lousa. Casa com Manuel Fernandes Preto, juiz de fora de Marvão, seu primo em segundo grau, pois o avô materno deste era irmão do avô materno de Catarina. Será este património administrado pelo filho primogénito deste casal que se chamou João José Vaz Nunes Preto. Este administrador que foi também Capitão-mor de Idanha-a-Nova, como já foi referido casou com Luísa Madalena Tudela de Castilho. Esta terá sido provavelmente uma aliança vantajosa para a Casa dos “Vaz Preto”. A família Tudela de Castilho gozava na altura da fama de “nobre e abastada”. Relativamente a esta família encontramos muitas referências em diversa documentação. Todavia a sua importância parece ter tido o seu auge no início do século XIX. Uma gestão menos cuidadosa do seu património terá tido como consequência a decadência económica desta família. Por exemplo relativamente a Fernando Tudela de Castilho e Costa que pensamos ter sido irmão de Luísa Madalena, José Germano da Cunha, na sua obra Apontamentos para a História do Fundão287, descreve-o como uma personagem de grande talento, que terá morrido na miséria na freguesia das Donas no Fundão, em 1820, com apenas 47 anos. Dos quatro filhos de João José e de Maria Madalena dos quais temos notícia foi o primogénito, Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, o sucessor e

287 pag. 183/184.

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administrador dos vínculos da família. Este casou com Maria José Barba de Menezes em 1800. Esta senhora era filha do Dr. Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e de Inês de Vera Barba de Menezes. Apesar de em grau afastado Maria José tem ligações de parentesco com o seu marido, Manuel Giraldes de Castilho. De facto uma trisavó paterna deste, Catarina Afonso Giraldes era irmã de um bisavô paterno de Maria José, chamado Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes. Na realidade, as alianças entre Giraldes e Pretos já acontecidas no século XVII, vão repetir-se no século XIX. Assim, o filho sucessor deste casal (Maria José Barba de Menezes e Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho) chamado João José Vaz Preto Giraldes vai casar com Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon, uma prima direita, ou seja com a filha de Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Menezes, um irmão de sua mãe. Joana será uma aliada que reforça as relações parentais já tão próximas entre os Vaz Preto e os Giraldes. Será certamente este casamento muito vantajoso económica e politicamente. Recordemos que o pai de Joana, Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Menezes tinha contraído matrimónio com Maria Joana das Dores de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo e Bourbon que como já tivemos ocasião de escrever era considerada, no seu tempo, uma das herdeiras mais ricas do reino. Além disso Joana Carlota era irmã de Fernando Afonso que será 1º visconde, conde e marquês da Graciosa. Esta família dos Giraldes caracteriza-se pelo seu grande poder terratenente que vai afirmando ao longo dos tempos e do qual falamos quando nos debruçamos sobre o estudo dos seus vínculos no distrito de Castelo Branco. As famílias Giraldes e Vaz Preto andarão muito próximos familiarmente e politicamente durante o século XIX, mais concretamente durante os conflitos entre liberais e absolutistas em que os “chefes” de cada uma das famílias – precisamente os cunhados Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio e João José Vaz Preto Giraldes - tomarão posições idênticas em defesa dos ideais liberais. Como já afirmámos, os cruzamentos com a família Giraldes aconteceram, assim, no século XVII e repetem-se no século XIX. São famílias muitos próximas e entrecruzadas pela política de casamentos, embora os Giraldes se sobreponham no aspecto material, pois o seu património supera o dos Vaz Preto. No entanto na

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influência de cada uma das famílias na política portuguesa do século XIX, parece-nos que o dinamismo dos Vaz Preto supera o dos Giraldes, apesar de estes últimos terem recebido títulos de viscondes, condes e marqueses. Uma personagem marcante na história da segunda metade do século XIX, na Beira Baixa, foi Manuel Vaz Preto Giraldes, filho do último casal que referimos, ou seja de Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon e de João José Vaz Preto Giraldes. De facto este casal terá tido pelo menos seis filhos, tendo sido primogénito o já citado Manuel Vaz Preto Giraldes, nascido em 1828 e falecido em 1863. Não terá este sucessor casado, as genealogias consultadas são omissas neste aspecto, embora haja vários contemporâneos seus que referenciam o seu interesse pelo sexo oposto. Daí ter deixado descendência legitimada. Foi seu filho, único varão, Manuel Vaz Preto Giraldes Barba de Menezes que foi oficial da marinha e morreu em serviço em África, em vida de seu pai. Este casou com Júlia Sá Valente, a qual segundo apurámos não tinha ascendência de relevo na região. O filho deste casal chamado Manuel Barba de Menezes Vaz Preto Giraldes casou com Bárbara Tavares de Almeida Proença, filha de Francisco Tavares de Almeida Proença. Esta aliança realizada em 10 de Julho de 1920 une duas das casas mais importantes da região que muitas vezes no passado se tinham confrontado politicamente como teremos ocasião de explicar no seguimento deste trabalho. Deste casamento nasceram dois filhos, Manuel Barba de Menezes Tavares de Proença Vaz Preto e Maria Taciana Tavares Vaz Preto Giraldes Barba de Menezes. Manuel veio a falecer em 1963, na sua casa na Lousa, assassinado por um criado. Deixou viúva Maria Alda Dias Coutinho, filha de um também importante proprietário da região e neta pelo lado materno dos 4ºs marqueses de Soídos. Este casal teve também dois filhos, Maria Alice Coutinho Vaz Preto Giraldes e Manuel Coutinho Vaz Preto Giraldes. Maria Alice casou com um ainda parente, Artur José Fiúza Menezes Correia de Sá, filho do 3º visconde de Merceana. Enquanto o irmão casou com Maria Rita Pinheiro Manzarra. Manuel Giraldes seria o sucessor na administração de bens vinculados se a legislação ainda o permitisse. No entanto e apesar das actuais circunstâncias politicas e económicas, este descendente ocupa a casa de família na Lousa que mantém, desenvolvendo importante actividade agrícola que nunca foi interrompida ao longo dos anos que passaram sobre o fim da instituição morgada.

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2.5. A “Casa do visconde de Castelo Branco”

O registo de bens vinculados administrados pelo visconde de Castelo Branco surge envolvido de polémica. Como já referimos anteriormente foi o seu filho Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, como imediato sucessor que se desloca ao Governo Civil de Castelo Branco para fazer o registo. No entanto este vai queixar-se do pai, o qual não lhe cedeu os documentos necessários para concretizar o referido registo, como surge diversas vezes referido no processo: “Diz Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, moço fidalgo com exercício no paço, acrescentado a fidalgo cavaleiro, comendador da Ordem de Cristo, oficial da Casa Real, guarda-roupa da real Câmara d’El-Rei o Senhor Dom Luís Primeiro filho primogénito do excelentíssimo visconde de Castelo Branco, João da Fonseca Coutinho e Castro Refóios e seu herdeiro presumptivo, que denegando-lhe seu pai os títulos dos diferentes vínculos que administra, e não querendo o suplicante e até não devendo querer que os bens vinculados percam esta sua natureza pela falta de registo, não tanto por ser o suplicante o seu imediato sucessor, mas porque tem filhos (…)”288.

O registo foi feito de forma provisória com base em cópias de testamentos de duas antepassadas nos quais são instituídos vínculos cuja administração veio a recair no visconde de Castelo Branco. O registador deveria apresentar a certidão da matriz para se conhecer o valor de cada um dos vínculos o que parece nunca ter vindo a acontecer. Segundo o processo de registo não estavam registados na matriz predial todos os bens e rendimentos que compunham os referidos vínculos. Depreendemos do documento que estaria no momento a decorrer um processo judicial que envolvia os bens não registados, prometendo o registador apresentar essas indicações mais tarde. Apesar de incompleto a cópia do processo foi enviada conjuntamente com os registos feitos de forma definitiva, para o Arquivo da Torre do Tombo. As divergências entre administrador de morgadio e o seu imediato sucessor prolongar-se-ão para além da morte do visconde de Castelo Branco. Este terá sido um

288 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 10, fl.1;

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caso evidente em que o filho primogénito não vai aceitar a divisão do património em igualdade de circunstâncias com os seus irmãos.

2.5.1. A origem dos vínculos

Tendo em consideração o processo de registo, os vínculos que lhe deram origem foram instituídos nos testamentos de duas ascendentes do visconde de Castelo Branco. O primeiro documento apresentado é o testamento de Sebastiana Luísa de Azevedo e Melo viúva de Luís de Sousa Refóios. É um documento datado do ano de 1732, no qual aquela institui um morgado regular em que nomeia como administrador o seu sobrinho Manuel da Fonseca. A instituição do vínculo e a sua sucessão foi declarada pela testadora nos seguintes termos: “nomeio em primeiro lugar a meu sobrinho Manuel da Fonseca e sua mulher enquanto for vivo somente, em segundo lugar nomeio o seu filho mais velho e morrendo este sem sucessão irá ao que se segue, mais declaro que depois do filho mais velho não é minha tenção excluir fêmea mas vá o tal morgado ao que for mais velho ou seja varão ou fêmea, em terceiro lugar, caso que morra o mais velho chamado Diogo da Fonseca e morra também o segundo chamado Luís neste caso nomeio ao terceiro filho chamado João para possuir o tal morgado, e caso que estes sobrinhos meus já nomeados não tenham sucessão, neste caso quero que o sobredito morgado vá a meu irmão Bernardo de Azevedo e Melo e a sua mulher Dona Maria Isabel e depois a seus sucessores”289.

A sucessão na administração deste vínculo deverá ter sido de alguma forma atribulada, já que o autor do processo declara que aquele está de momento na posse de seu pai, depois de ser retirado em 1834 “das mãos de Lourenço de Azevedo e sua mulher D. Helena Bernarda de Menezes”290. No entanto na reconstituição genealógica da ascendência do 1º visconde de Castelo Branco, o primeiro administrador do vínculo, Manuel da Fonseca (ou Manuel da Fonseca Coutinho Pereira como é referido no

289 Processo de registo nº 10, fl. 9 e 9v. 290 Ibidem fl.2v.

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processo de registo) foi trisavô do visconde de Castelo Branco. A Manuel sucedeu o filho Luís de Sousa Fonseca Coutinho de Refóios (bisavô do visconde) o qual surge nomeado no testamento de Sebastiana como possível sucessor. Sucede-lhe João da Fonseca Coutinho Refóios e a este, o seu filho Francisco da Fonseca Coutinho Refóios que será o pai do visconde de Castelo Branco e avô do registador. Desta forma, a linha de sucessão no vínculo tal como foi proposta pela instituidora, na sua primeira opção, existiu sem interrupção e foi sempre possível pela varonia. Por este motivo ficamos sem explicação para o morgadio estar noutras mãos em 1834. Todavia e possivelmente por a razão assistir ao visconde de Castelo Branco, o vínculo acabou por ser recuperado por este. O outro documento apresentado neste processo de registo é o testamento de Ana de Figueiredo Castelo Branco, feito em 1643. Neste documento Ana de Figueiredo, nomeia com universais herdeiros a sobrinha, também chamada Ana de Figueiredo e o marido desta, Luís de Sousa Brandão enquanto não for possível passar os bens instituídos em capela, para a filha destes, Francisca Brandoa. Determina a instituidora “que morrendo minha sobrinha a dita Francisca Brandoa sem herdeiros passe a dita capela a meus sobrinhos filhos da dita minha sobrinha Ana de Figueiredo e Luís de Sousa Brandão (…)”291. Esta é uma possibilidade entre várias, no entanto na reconstituição realizada, não temos descendência para Francisca Brandoa, pelo que a sucessão na capela terá caído na irmã de Francisca, Maria de Refóios de Sousa, uma tetravó do 1º visconde de Castelo Branco. Usando estes dois testamentos e ainda “autos de posse judicial” dos bens da capela instituída por Ana Figueiredo, Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios procede ao registo vincular, como imediato sucessor, contrariando a vontade de seu pai e possivelmente de seus irmãos. Pensamos que os bens vinculados registados não seriam os únicos que o visconde da Castelo Branco administrou, já que o seu pai, Francisco da Fonseca Coutinho de Castro Refóios surge em diversos documentos como “Senhor do Morgado de Oledo”. No entanto a posição do seu filho primogénito perante estes bens vinculados

291 Ibidem fl. 19

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indicia a vontade de se colocar numa posição privilegiada em relação aos irmãos no que respeita à herança a receber de seus pais.

2.5.2. A sucessão e a herança após a morte do visconde de Castelo Branco

Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, virá a receber o título de visconde de Portalegre em 1870. Pelo que conseguimos saber do seu percurso de vida, tudo indica que o seu empenho em desenvolver estratégias conducentes ao fortalecimento da sua Casa nem sempre foi bem sucedido. Como nos foi dado a conhecer pelo processo de registo de vínculo que realizou, foi um acérrimo defensor da vinculação e consequentemente defendeu contra a vontade de seu pai a sua posição de imediato sucessor. No entanto a extinção dos vínculos em 1863, a morte do seu pai em 1866, trouxe-lhe graves desentendimentos com os seus irmãos quanto à sucessão na casa do falecido visconde de Castelo Branco. Como referiremos mais à frente o seu irmão mais novo, Rodrigo da Fonseca Coutinho e Castro Refóios irá disputar-lhe o papel de “cabeça de casal” no que terá sido apoiado por duas das suas irmãs casadas. Parece apenas ter-se colocado ao lado do futuro visconde de Portalegre a sua irmã Carolina, a qual se terá mantido solteira e terá acompanhado os pais na sua velhice. As partilhas foram assim impostas por três dos seus irmãos. O casamento de Francisco Refóios foi realizado em 1840, com Maria Adelaide de Mesquita Albuquerque de Castro e Nápoles, filha primogénita de Francisco Albuquerque de Castro e Nápoles, visconde de Oleiros e igualmente um dos morgados registadores de vínculos. Foi uma aliança que terá correspondido aos interesses das duas Casas morgadas da região, pois une a parentela de duas das mais importantes. No entanto a descendência de Francisco não deverá ter correspondido exactamente às suas expectativas e, aos interesses que ainda se impunham nos tempos em que foi pai. Realmente apenas teve três filhas. A leitura da reconstituição genealógica indica que se continuaram a procurar alianças com outras famílias morgadas. De facto a primogénita, Clara Maria da Fonseca Coutinho e Castro Refóios

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Genealogia parcial da “Casa Visconde de Castelo Branco” (1740-1955)

Francisco da Fonseca Clara Jacinta Coutinho e Castro Refoios Zuzarte de Sousa Tavares

Ana Joaquina João da Fonseca Augusta Joana de Lencastre Barros e Meneses Coutinho e Castro Refoios (1º Visconde de C. Branco)

Mª Adelaide de Mesquita Francisco da Fonseca Clara Mª C. Joana Rodrigo Augusta e Albuquerque de Castro e Nápoles Coutinho e Castro Refoios (1º Visconde de Portalegre)

Clara Mª Ana Delfina Mariana Maragarida Manuel da Silva Ribeiro de A. da F. C. Coutinho (importante negociante)

Mª Adelaide Pedro da Fonseca Ribeiro da Silva Martins

Bartolomeu Mª Adelaide Capelo Franco Frazão da Fonseca Coutinho de Lencastre e Albuquerque Martins

Edite Francisco da Fonseca Coutinho Mª Eugª Pedro Bartolomeu Sampaio de Almeida Martins Franco Frazão

Renato Francisco de Almeida Frazão de Almeida Frazão (1951) (1955)

Diag. 5

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina; em normal linha de extinção do morgadio. Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Foto nº 9 – Casa dos viscondes de Portalegre e Castelo Branco, hoje Governo Civil de Castelo Branco

Foto nº 10 – Casa do visconde de Oleiros em Castelo Branco (cuja filha casou com o visc. de Portalegre), hoje Câmara de Castelo Branco

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casou duas vezes, a primeira com Fernando Afonso Giraldes Vaz Preto e a segunda com João José Trigueiros Osório de Martel, alianças com parentelas de duas outras Casas morgadas, respectivamente com a dos Vaz Preto da Lousa e com a dos Trigueiros Martel, da Idanha. As expectativas postas nos casamentos desta filha do visconde de Portalegre terão sido goradas, já que de nenhum destes casamentos houve descendência. Foi na descendência da irmã de Clara, chamada Mariana Margarida de Albuquerque da Fonseca Coutinho e Castro que virão a cair os títulos de visconde de Portalegre e de Castelo Branco. Esta casou com Manuel da Silva Ribeiro, um negociante da cidade de Castelo Branco e teve uma filha, Maria Adelaide da Fonseca Ribeiro. Do casamento desta última com Pedro da Silva Martins nasceu também uma filha, igualmente chamada Maria Adelaide que se veio a aliar com um Franco Frazão (da Casa do Salgueiro). De facto em 1916, Maria Adelaide da Fonseca Coutinho de Lencastre e Albuquerque Martins casou com Bartolomeu Capelo Franco Frazão, um irmão do conde de Penha Garcia e filho de João António Franco Frazão. Deste casamento terão nascido pelo menos quatro filhos. Uma das filhas Mariana Eugénia casou com Alberto Carlos de Figueiredo Franco Frazão, (visconde do Alcaide), repetindo assim a aliança com os Francos Frazões. Enquanto um dos filhos varões, Francisco da Fonseca Coutinho Martins Franco Frazão, nascido em 1921 casou com Edite Sampaio de Almeida e teve dois filhos, Renato de Almeida Frazão e Francisco de Almeida Frazão. A terceira filha, Ana Delfina, veio a casar com José Joaquim de Castro da Maia e Vasconcelos, coronel do Corpo do Estado-maior e foi professor do príncipe Luís Filipe e do seu irmão, o futuro rei D. Manuel. José Joaquim nasceu em Angola onde o seu pai tinha sido Governador-Geral, pelo lado materno pertencia à família dos condes da Serra Pilar. Esta aliança da terceira filha do visconde de Portalegre com um indivíduo bem posicionado socialmente, mas perfeitamente estranho à região da Beira Baixa vai ter como consequência a sua saída da região e o consequente afastamento da sua descendência. Desta forma seria em Renato de Almeida Frazão descendente da segunda filha do visconde de Portalegre que recairia hoje a sucessão dos vínculos registados pelo visconde de Portalegre, filho do visconde de Castelo Branco. É neste descendente que recairiam igualmente estes dois títulos.

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No entanto, tudo indica que o património pertencente a esta Casa ter-se-á pulverizado através de partilhas e hoje os descendentes, na região, gerem bens procedentes do património de aliados, neste caso dos Capelo Franco Frazão, essencialmente situados em Alcafozes. O solar dos viscondes de Portalegre que serviu de residência principal desde 1743, terá sido vendido no final do século XIX e acolhe hoje os serviços do Governo Civil de Castelo Branco.

2.6. A “Casa Tavares Almeida Proença”

Francisco Tavares Almeida Proença vai registar, sem apresentar os títulos de instituição, vínculos instituídos por Maria Barata e suas filhas, na Erada, em 1698, a que foram anexados outros instituídos em 1705 por Maria Josefa Barata; em 1743 pelo Doutor Gabriel da Guerra Barata; em 1763 por Brígida de Almeida Cabral. Regista igualmente vínculos instituídos por Maria de Figueiredo, Manuel de Proença Capinhão e Úrsula de Proença, os quais recebeu do seu lado paterno. Como não apresenta as provas de instituições vai fazer um processo de justificação. O seu direito à administração dos bens vinculados recebidos do seu lado materno vai ser provado pela apresentação de uma genealogia que surge esquematizada no processo no registo. Talvez se torne interessante referir que neste processo faltou seguir um dos passos exigidos pela lei que seria “a citação às partes incertas”292 esta falta é ultrapassada com a apresentação da genealogia que segundo os responsáveis pelo registo prova não existirem “partes incertas”. Se considerarmos que a genealogia é da responsabilidade do registador que poderá ter a possibilidade de manipular os dados apresentados, tudo leva a crer que a posição dominante deste indivíduo na sociedade local e o seu estatuto de par do reino terão facilitado este registo.

292 Consta na folha 1 do processo (Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. 8), em letra diferente “Não obstante faltar na justificação junta a citação às partes incertas exigida no número doze da Portaria circular do Ministério do Reino de dezassete de Julho de mil oitocentos e sessenta e dois, faça-se o registo na forma requerida, visto mostrar-se da árvore genealógica e processo de justifcação que não há interessados incertos e que o único certo que há foi devidamente citado. Governo Civil de Castelo Branco dois de Janeiro de mil e oitocentos, sessenta e três.”

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Assim, segundo Francisco Tavares Proença, o vínculo recebido de sua mãe teve origem nos bens vinculados em 1698 por Maria Barata, viúva, e suas duas filhas, Catarina Maria Barata e Bárbara Maurícia Ferreira. Neste morgadio viria a suceder o irmão destas últimas, Luís Afonso de Almeida que também sucede num outro vínculo instituído em 1705 por outra irmã (Maria Josefa Barata). Sucedeu a Luís de Almeida o seu filho mais velho, Aleixo de Almeida Cabral que também veio a administrar outro vínculo instituído por seu tio (irmão de seu pai) Gabriel de Almeida Barata. Não tendo Aleixo tido descendência sucede-lhe o irmão Doutor Luís Afonso de Almeida que também é herdeiro de sua irmã Brígida de Almeida Cabral. Pelo que afirma Francisco Tavares Proença esta linha de sucessão termina em Luís Afonso de Almeida, que não teve descendência. Passou então a sucessão para um primo, João Ferreira Rombo, filho de João Ferreira Rombo “o velho”, este filho mais novo de Maria Barata a primeira instituidora dos vínculos. A mãe de Francisco de Almeida Tavares Proença, o registador do morgadio, Bárbara Maria Joaquina Rombo era filha daquele primo (João Ferreira Rombo) e foi portanto sucessora na administração do morgadio. Como já se referiu, além destes bens vinculados o Par do Reino Francisco Tavares de Almeida Proença foi também sucessor de seu pai, Doutor Manuel Tavares de Proença Capinhão em bens vinculados. Tendo sido estes instituídos pelos seus antepassados Maria de Figueiredo, Manuel de Proença Capinhão e Úrsula de Proença. Estes últimos bens situavam-se essencialmente nas freguesias do Souto da Casa, Castelejo e na região de Penamacor.

2.6.1.O engrandecimento da Casa: gestão de capitais

Os bens que compõe o morgadio registado por Francisco Tavares Almeida Proença serão certamente apenas uma pequena parte do património deste indivíduo. Entre 1835 e 1843 encontramos o seu nome, assim como o de sua mãe, Bárbara Maria Joaquina Rombo, na lista dos compradores de bens nacionais provenientes das leis de desamortização. Francisco Tavares Proença é comprador de nove lotes no valor de seis mil e setecentos e vinte e três reis, enquanto a sua mãe compra nove lotes no valor de mil e novecentos reis. O seu sogro Joaquim José Mendes Fevereiro também

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Genealogia parcial da “Casa Tavares Proença” (+ - 1800 - 1951)

Francisco Tavares Mª da Piedade de Almeida Proença Fevereiro

Gonçalo Xavier Mª Rosália Mª Joaquª Mª Bárbara = José Luis Francisco Judite de Almeida T de A. T. de A. T. de A. Saldanha Tavares de Almeida Gualdino Garrett Proença Proença Proença Oliveira e Sousa Proença (Conde de )

Alexandre de Proença Francisco Xavier Margarida Barbosa Francisco Tavares Bárbara Tavares Manuel Vaz Preto de Almeida Garrett de Almeida Garrett Fernandes de Almeida de Almeida Barba de Menezes

Mª Antónia Gonçalo Manuel Alexandre José Mª Mª Alda Manuel Barba de Menezes de Carvalho de Rovisco de A. F. de A. de A. de A. Godinho Pinheiro Tavares Proença Vaz Garcia Garrett Garrett Garrett Garrett Dias Coutinho Preto Giraldes

Francisco Garcia Antº José Garcia Mª Alice Coutinho Manuel Pinheiro de A. Garrett de A. Garrett Vaz Preto Coutinho Vaz Preto (1964) (1951)

Diag. 6

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade = Casamento (Autora)

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Nº 11 – Casa Tavares Proença no Tortosendo, actualmente habitada por descendentes, com apelido Almeida Garrett

N´º 12 – Casa Tavares Proença em Castelo Branco

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compra bens do mesmo género, investindo em cinquenta e nove lotes, nove mil trezentos e dezasseis reis293. Terá sido precisamente o casamento de Francisco Tavares Proença com a Maria da Piedade Fevereiro, filha única294 de Joaquim José Mendes Fevereiro, (também usou Joaquim José Nunes Fevereiro) um dos homens mais ricos e influentes da região, que terá aumentado em muito a fortuna deste morgado. O casamento aconteceu em 1835. Como se afirma no Dicionário Biográfico Parlamentar a “partir de 1858, tomou uma participação significativa como accionista do Banco de Portugal mantendo-se entre os 50 maiores accionistas desta corporação até à sua morte.”295 Mais tarde em 1868 veio a sua fortuna a ser reforçada por uma herança recebida do barão de Porto Mós, o brigadeiro Venâncio Pinto do Rego César Trigueiros. Francisco Tavares Proença era oriundo de uma família bem posicionada socialmente na região. Era formado em direito pela Universidade de Coimbra, obteve brasão de armas em 1825 e tudo indicava que o esperava uma brilhante carreira política. Apesar de se saber que iniciou a sua carreira parlamentar ao ser eleito para a legislatura de 1834 a 1836, não encontrámos referência ao círculo por que concorreu, nem a data do seu juramento. Sabe-se no entanto que foi eleito deputado pela Beira Baixa em 1836 e apesar do movimento Setembrista vir a suspender esta sua intervenção no Parlamento, veio a retomá-la e a sua actividade de parlamentar prolongou-se assim como a ocupação de cargos políticos de maior responsabilidade. Foi senador pelo distrito de Castelo Branco na legislatura de 1838 a 1840, foi elevado ao pariato em Maio de 1842 e em 1847 foi nomeado ministro do Reino convidado pela rainha D. Maria II, embora conste que tivesse anteriormente recusado vários cargos ministeriais. O casamento de Francisco Tavares Proença com a filha de um dos homens mais ricos da região terá sido determinante para o seu domínio na região. A propósito desta união, Jaime Lopes Dias escreveu: “Joaquim José Mendes Fevereiro (…) homem de inteligência prática e calculista, era já viúvo quando a filha única chegou a idade casadoira. Dispunha de

293 “Lista de compradores de compradores de Bens Nacionais (1835-1843)”, in Nacionalizações e Privatizações em Portugal, de António Martins da Silva. 294 Joaquim José Mendes Fevereiro terá tido outra filha, Maria do Patrocínio Nunes Fevereiro, que terá morrido solteira antes do casamento da irmã. 295 Dicionário Biográfico Parlamentar, Vol. III, p.388.

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avultados bens próprios e provenientes do considerável dote da esposa, multiplicados pela sua excelente administração. Não estava disposto a aceitar para genro o primeiro ou qualquer candidato desconhecido. (…). Segundo os costumes da época, os cálculos e conveniências familiares prevaleciam aos sentimentos particulares e às inclinações pessoais dos legítimos interessados. Após conscienciosas perplexidades, Joaquim José assentou de si para si que o mais convinhável dos pretendentes era o Dr. Francisco Tavares, de avantajada estatura, espadaúdo e dextro na equitação e na caça, famoso jogador de pau. Herdeiro de apreciáveis bens e de uma família de boa cepa, para mais tendo carta de nobreza e brasão de armas de D. João VI (…)”296. Esta aliança terá sido muito importante para a afirmação do poder da Casa dos Tavares Proença, provavelmente mais útil a estes que aos Fevereiro, pelo menos naquele tempo. A aliança entre o título nobre, o poder político e o dinheiro terá levado após esta aliança, entre os Fevereiro e os Tavares Proença, a uma sucessão de alianças que envolvem famílias aristocratas relativamente antigas e bem posicionadas na cena política portuguesa. O pai da noiva José Joaquim Nunes Fevereiro terá manifestado desejar associar a sua fortuna a um título nobiliárquico. Assim terá pensado em obter uma carta de armas, no que não terá sido bem sucedido, pelo que o casamento de sua filha com Tavares Proença resolveria em parte esse objectivo. José Lopes Dias aborda este assunto com as seguintes palavras: “Mais entendido em questões de negócios, gestão de capitais e administração da casa comercial e agrícola que nos altos meandros da heráldica, não ficaria insensível à honra dos pergaminhos dum genro enobrecido. De há muito ele próprio acalentava a secreta pretensão de suplicar idêntica mercê a Sua Majestade, como se infere do manuscrito: ‘Justificação tirada na freguesia de avô que mostra quem eram os parentes de José Nunes Fevereiro’ (…). De qualquer modo, Joaquim José ou não chegou a endereçar a petição pelas vias competentes, como se afigura mais provável, ou não seria bem sucedido”297.

296 Revista “Estudos de Castelo Branco” nº 40, citado em Uma Família da Beira Baixa, p. 190. 297 Citado por José Luiz de Sampayo Torres Fevereiro em Uma Família da Beira Baixa pp. 190-193.

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E como acrescenta também Lopes Dias de pouco teria valido o título, já que acabou por não ter filho varão. Os títulos acabaram por tocar de alguma forma aos seus descendentes, depois do casamento da sua filha com Tavares Proença e através de alianças aparentemente bem conseguidas (pelo menos no domínio da titularidade, de duas das suas netas). Nasceram quatro filhos do casamento de Maria da Piedade Fevereiro com Francisco Tavares Proença: Maria Rosália (1848), que ficou solteira; Maria Joaquina (1850) que casou com Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, nascido no Porto em 1841 e falecido em Castelo Branco em 1925, este era filho de um irmão de Almeida Garrett, o escritor que recebeu o titulo de visconde. Gonçalo Almeida Garrett foi Doutor em Matemática, bacharel em Filosofia e Lente na Universidade de Coimbra; Maria Bárbara (1851) que casou com José Luís de Saldanha de Oliveira e Sousa, bacharel formado em matemática e Filosofia pela Universidade de Coimbra, era filho segundo do 3º conde de Rio Maior e por morte de seu irmão primogénito veio a ser 1º marquês e 4º conde de Rio Maior. Finalmente, o filho mais novo, nascido em 1855 e único varão, Francisco Tavares de Proença que não frequentou qualquer curso universitário e veio a unir-se a Judite Gualdino, costureira de teatro. Os casamentos desta geração e possivelmente a educação destes quatro filhos de Tavares Proença e Maria da Piedade Fevereiro, terão sido marcados pela morte do casal, ele em 1872, ela no ano seguinte, quando a filha mais velha tinha 25 anos e o mais novo apenas 17 anos. As raparigas terão recebido a educação própria da sua condição, a qual provavelmente não terá sido muito afectada pela morte dos pais, os seus casamentos terão sido ainda preparados por estes, pois o de Maria Bárbara aconteceu em 1873 e o de Maria Joaquina em 1875. No caso da aliança matrimonial de Maria Bárbara existem indícios documentais que indicam ter havido um bom relacionamento entre a sua mãe, Maria da Piedade Fevereiro e a condessa de Rio Maior, mãe do futuro marido de Maria Bárbara298. Também a aliança de Joaquina com Almeida Garrett deverá ter sido pensada ainda pelos pais da noiva. De facto apesar de posteriores circunstâncias inesperadas - como a morte precoce de Bárbara Tavares Proença - as alianças realizadas por duas das filhas do casal

298 Referimo-nos principalmente às cartas trocadas entre a condessa de Rio Maior e os seus filhos. Maria Filomena Mónica, 2004;

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Tavares Proença e Maria da Piedade terão sido concretizados com famílias bastante bem posicionadas socialmente. O mesmo já não se poderá afirmar em relação à aliança efectuada pelo único filho varão que não foi concretizada no seu meio social como explicaremos em seguida.

2.6.2. Consequências de uma má aliança

Terá sido Francisco Tavares de Almeida Proença que ao ficar órfão tão novo, ficou mais liberto de constrangimentos familiares. Questionamo-nos sobre até que ponto esta circunstância não estará relacionada com o facto de ter enveredado por um casamento fora da sua condição social e também com o de não ter vindo a frequentar um curso superior. No que diz respeito à sua formação académica o que sabemos da sua vida demonstra que superou completamente esse constrangimento, apesar de José de Saldanha, marido de sua irmã Maria Bárbara, ter comentado numa carta escrita de Castelo Branco a sua mãe, condessa de Rio Maior, que o cunhado tinha algumas dificuldades em afirmar a sua autoridade por falta de um diploma299. Todavia o seu percurso de vida demonstra que a formação obtida junto de mestres da região de Castelo Branco lhe permitiu uma vida social e política de grande relevo. Na chefia do Partido Progressista na região da Beira Baixa relacionou-se intimamente com os maiores homens políticos da região e do País. Quanto à sua aliança matrimonial com Judite Gualdino, uma costureira num teatro de Lisboa, não podemos hoje contabilizar o prejuízo que isso trouxe à sua Casa. Na verdade foi uma aliança que pelas suas características não lhe trouxe mais valias nos relacionamentos nem quaisquer bens patrimoniais. Neste sentido sabemos que esta terá sido uma relação que enfrentado as suas dificuldades para ser mantida. Apesar de não termos tido acesso a fontes que nos indicassem pormenores desta relação, consta das genealogias existentes que dela nasceram dois filhos: Francisco Tavares de Almeida Proença Júnior e Bárbara Tavares de Almeida Proença. Nas suas certidões de

299 José de Saldanha, carta nº 605. Arquivo de História Social, Correspondência da Família Rio Maior, ICS;

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nascimento consta em ambas que são filhos de mãe incógnita. O seu filho varão nasceu a 1 de Junho de 1883, na freguesia da Lapa, da cidade de Lisboa, e o seu baptismo foi celebrado a 22 de Novembro de 1889 na Igreja paroquial de São Cristóvão e São Lourenço de Lisboa, ou seja quando a criança já tinha seis anos de idade, nesse mesmo dia Francisco Tavares de Almeida Proença baptiza igualmente a sua filha, nascida em 1887, a quem dá o nome de Bárbara, nome de sua irmã, acabada de falecer (Maio de 1887). Possivelmente, o processo de aceitação da relação com uma costureira de teatro, sem ascendência digna de pergaminhos, deverá ter demorado o seu tempo e exigido bastante discrição de Tavares Proença. No entanto Judite Gualdino deverá ter sido aceite no círculo familiar de Tavares Proença. Se tivermos em consideração as palavras de José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro que no seu registo genealógico, Uma Família da Beira Baixa, confessa ainda ter conhecido Judite, e escreve:“A propósito de D. Judith, uma verdadeira Senhora que eu ainda conheci em Castelo Branco e acompanhando a minha avó Rita nas visitas ao Hotel Borges, onde a ‘prima Judith’ se hospedava.”. Ainda no sentido de “dourar” a figura desta senhora, que como vimos surge de um meio social bem diferente do ideal, Torres Fevereiro, o genealogista, cita José Lopes Dias, numa passagem em que este tece grandes elogios a esta senhora, principalmente à sua beleza, a qual não permitiu que Tavares Proença lhe ficasse indiferente e o arrastasse para um romance fora dos constrangimentos da sua classe. Segundo Lopes Dias era: “D. Judite uma verdadeira beldade, como todos reconheciam de bom grado. Alta, de silhueta donairosa, cuidava com todo o esmero dos naturais dotes de formosura, e sempre havia de tratar de si até à extrema velhice (…). Muito bem a conhecemos, pessoalmente, na última quadra da existência e a impressão da distinta presença era sempre igual. (…). O palco foi assim a escola activa e única da sua mocidade, pelos métodos hoje designados audiovisuais. Nada escapava ao seu perceptivo e aguçado entendimento: mise-en-scène, palavras gestos, atitudes, toilletes. Mais tarde, na situação de grande

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senhora, saberia comportar-se à devida altura na existência de cada dia e mesmo em situações menos confortáveis e mais embaraçosas”300.

Apesar de os genealogistas ou biógrafos procurarem justificar a presença desta senhora na família, as consequências negativas deste casamento não poderão deixar-se de fazer sentir, de alguma forma, dentro de um sistema de alianças na maior parte das vezes estrategicamente definido. Sabendo da posição ocupada pela família Tavares Proença, na hierarquia social da Beira Baixa, tendo em consideração os esforços no sentido de aumentar o poder da sua Casa, não só economicamente mas também no poder político e social da região, a personalidade de Francisco Tavares Proença não levou a que fizesse grandes esforços para submeter a sua vida íntima aos constrangimentos que a manutenção e engrandecimento que a sua casa exigia. Um dos traços da sua personalidade a que não terá sido alheio a gestão da sua vida privada, terá sido a sua pouca religiosidade. Conhece-se a sua preocupação com o que considerava a exagerada religiosidade de sua mãe, Maria da Piedade Fevereiro temendo que esta viesse a deixar avultados bens à Igreja. Além disso fugia vulgarmente das práticas religiosas cujo cumprimento era exigido pela mãe, como escreveu José Lopes Dias: “Aos olhos de sua mãe – o que era mais grave, ou gravíssimo – consistia na aversão às práticas religiosas. Em todas elas, comportava-se com desacato e oposição.”301 Assim, Tavares de Almeida Proença geriu a sua Casa, não a engrandecendo através de um casamento, mas apostando numa gestão que passou pela administração das suas propriedades, por um forte investimento na política local e mesmo nacional paralelamente com um grande apoio à família nuclear da sua irmã Maria Joaquina. De facto, apercebemo-nos que se preocupou muito em conseguir benefícios para a casa de sua irmã Maria Joaquina casada com Gonçalo Almeida Garrett, várias vezes intercedeu pedindo favores políticos para o cunhado e depois mais tarde para os sobrinhos. Quanto à outra irmã, Bárbara, casada com o descendente dos condes de Rio Maior, a morte precoce desta – em Maio de 1889, com 38 anos - terá tido como

300 Citado por Torres Fevereiro, Uma família da Beira Baixa p. 2002. 301 Citado por José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro, Uma Família da Beira Baixa, p. 200.

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consequência um relativo afastamento deste ramo familiar, já que os quatro sobrinhos, órfãos de mãe, terão sido criados pela família do pai. Na correspondência de Tavares Proença com Luciano de Castro e com outros parentes e amigos, aquele acaba por evidenciar uma notória tendência para manter uma relação mais próxima com o ramo familiar Almeida Garrett que com os descendentes dos aliados Saldanhas (Rio Maior). Assim, constatámos nessa correspondência vários pedidos de intervenção em vários assuntos a favor de inúmeras pessoas entre os quais como já dissemos para o cunhado Gonçalo Almeida Garrett e mais tarde para os filhos destes, como por exemplo em 1894 sabemos que fez um pedido para aquele cunhado ser eleito para Par do Reino a que José Luciano responde: “Não tenho podido conseguir a eleição de seu Exmo. Cunhado, como par do reino. Estou trabalhando para ver se ainda posso obter que ele seja eleito pelo colégio científico (…) mas por ora não sei se os meus trabalhos terão bom resultado (…). Enfim, só depois da eleição dos delegados é que poderei dar-lhe uma resposta definitiva”302.

Um mês mais tarde, José Luciano de Castro volta a justificar-se perante o insucesso de não conseguir a eleição: “Creia que não tenho descurado a respeito da eleição de seu cunhado. (…). Fiz quanto pude para o fazer eleger pela Universidade; mas foram baldados todos os meus esforços. De todos os amigos a quem escrevi, recebi boas palavras, mas todos se declaravam comprometidos.”303 Este processo prolongou-se com vários episódios, entre os quais a possível aceitação de Gonçalo Garrett do lugar de Deputado pela oposição ao Partido Progressista, o que causou grande indisposição de Luciano de Castro. Acabou por Garrett vir a ser eleito Par do Reino quando em 1898 Tavares Proença foi convidado para integrar a lista a propor ao Rei e Tavares Proença manda responder “aceito a honra que me é oferecida, não para mim, mas para meu cunhado Almeida Garrett”304.

302 in A Política do Partido Progressista no distrito de Castelo Branco , segundo as cartas de José Luciano de Castro a Tavares Proença, carta de 9.4. 1894, p.43. 303 Ibidem,carta de 4.5.94, p.45. 304 Nota in A Política do Partido Progressista no distrito de Castelo Branco, segundo as cartas de José Luciano de Castro a Tavares Proença, p.57.

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Depois de sabermos que interferiu várias vezes em favor do cunhado Garrett e ter dado continuidade à protecção deste grupo parental que envolvia a sua irmã Joaquina, ao proteger os sobrinhos, nomeadamente Alexandre Almeida Garrett, vai escrever ao seu amigo e compadre Aurélio Pinto em 1908 o seguinte: “Urgente e…confidencial. Vai procurar o J. Luciano e pede-lhe que se o Alcáçovas lhe for falar em uma pretensão lhe não diga que eu não lhe pedi. – Como tu sabes, e já me tens criticado por isso, eu não peço o que quer que seja para parentes meus. O Alcáçovas quer agora um lugar junto da Companhia dos Tabacos e aperta comigo para que eu peça ao Luciano. Eu não lhe quero dizer que não, mas…não quero pedir. – Arranja lá forma a desentalar-me. É urgente isto”305. Torna-se pois, incoerente a afirmação de que não pede nada para a família quando existem documentos que provam o contrário. Provavelmente não se sentiria motivado para satisfazer pedidos que surgissem de determinada linha familiar. De facto quando tentamos identificar o “Alcáçovas” constatamos tratar-se de Caetano Henriques Pereira Faria Saldanha de Lancastre, 4º conde das Alcáçovas, que em 1900 tinha casado com Maria Teresa de Saldanha de Oliveira e Sousa, sobrinha de Tavares Proença, filha e sua irmã falecida precocemente Bárbara Tavares Proença que se casou com o filho dos Condes de Rio Maior. Isto prova que as relações com o grupo parental de sua irmã Barbara foi mais distanciado do que com o de sua irmã Joaquina. Acreditamos que a orientação que deu à sua vida familiar, concretamente o relacionamento com Judite Gualdino, a sua distância em relação à Igreja tenha interferido nas relações com a família Rio Maior e as famílias aliadas dos seus sobrinhos deste ramo familiar. Isto não implica no entanto adversidade, já que mais tarde, precisamente Alexandre de Proença de Almeida Garrett, um dos filhos de Joaquina vem a casar com a filha mais velha do conde de Alcáçovas. Relativamente aos dois filhos de Tavares de Almeida Proença e de Judite Gualdino, aconteceu que o filho varão nunca se virá a casar. A sua vida não foi muito longa pois veio a falecer com 33 anos, em 1916, portanto em vida do pai. Foi este filho, Francisco Tavares de Almeida Proença Júnior um homem que se dedicou ao estudo, tendo-se dedicado entre outras matérias à arqueologia e fundado mesmo um museu na

305 Estudos de Castelo Branco, Arquivo Tavares Proença, carta de 14.12.1908, p.17.

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cidade de Castelo Branco. A ele deve o nome o actual museu municipal da referida cidade. Dele se escreve na revista Estudos de Castelo Branco: “deve ser considerado um dos grandes homens de Castelo Branco, merecendo a gratidão do albicastrenses por ter fundado a expensas suas o ‘Museu Municipal’ que hoje tem o seu nome.”306. A sua irmã Bárbara Tavares de Almeida Proença, casou com Manuel Vaz Preto Giraldes Barba de Menezes. Este era filho de Manuel Vaz Preto Giraldes Barba de Menezes e de Júlia de Sá Valente e, neto paterno de uma figura dominante da Beira Baixa, ou seja do par do reino Manuel Vaz Preto Giraldes. O pai deste e bisavô do marido de Bárbara foi João José Vaz Preto Giraldes, o morgado da “Casa da Lousa”, que casou com sua prima Joana Carlota Giraldes de Bourbon da “Casa da Graciosa”. O casamento de Bárbara Tavares Proença com Manuel Vaz Preto vem em 1920 unir duas das mais poderosas famílias da Beira Baixa e que durante o último meio século da monarquia em Portugal mantiveram uma rivalidade política que transvazou os limites da região da Beira Baixa. Tratou-se da rivalidade entre os Vaz Preto e os Tavares Proença, chamados os “pretos” e os “brancos” respectivamente, e da qual falaremos mais detalhadamente quando na terceira parte deste trabalho abordarmos a importância política das famílias morgadas.

2.7. A “Casa do conde da Idanha” e o morgadio de Peroviseu e Chãos

O futuro conde da Idanha, Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel procede ao registo de vínculos abrindo dois processos que no entanto se mantêm juntos. O primeiro diz respeito ao vínculo instituído pelos seus bisavôs em 1751 e o outro processo regista o morgadio administrado por sua mulher Maria Isabel Osório Macedo, denominado de Peroviseu e Chãos. Perante o casamento destes dois administradores e com a posterior abolição dos vínculos, o património destes dois vínculos confunde-se, logo na geração seguinte, diante de uma descendência de dez filhos.

306 Revista Estudos de Castelo Branco, nº 7, citado por José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro, p. 204

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2.7.1. A origem do morgadio da Idanha

O morgadio registado por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel foi instituído em 1751 por Domingos Ambrósio, sargento-mor, filho de Domingos Ambrósio e de Leonor Fernandes e casado com Dona Maria Marques Gouloa, filha de Domingos Vaz Rato (de Escalos-de-Cima) e de Maria Marques Goulão (de Alcains –1670-1766). Domingos Ambrósio e Maria Marques Gouloa tiveram uma filha, Dona Maria Angélica Marques Gouloa, nascida em 1725. Neste processo de registo o documento mais antigo transcrito é precisamente a “Escritura de dote de casamento que faz o sargento maior Domingos Ambrósio e sua mulher Maria Marques Gouloa, desta vila de Idanha-a-Nova e o Padre Manuel Vaz Rato do lugar de Escalos-de-Cima, a sua filha e sobrinha Maria Angélica Gouloa para casar com o Doutor Bartolomeu Franco Português do lugar do Fundão”307. O casamento a que se refere este documento terá sido breve e sem descendência. D. Maria Angélica Marques Gouloa fará um segundo casamento com Jerónimo Trigueiros Martel Rebelo Leite (1716-1792), filho de Simão Rebelo Martel Leite e de D: Isabel Trigueiros Costa. Deste casamento nasceu para além de D. Maria Antónia Trigueiros Martel Rebelo Leite, também Joaquim Rebelo Trigueiros Martel (coronel do Regimento de Idanha-a-Nova), provavelmente o primogénito, nascido em 1764. Este último será o sucessor no vínculo de sua mãe, D. Maria Angélica. Em 1818 e em 1829 Joaquim Martel anexou bens ao morgadio. Estas anexações terão valorizado bastante o vínculo.308 Na segunda e última anexação o então administrador assegura o futuro de sua esposa, D. Angélica Ludovina de Aragão e Costa perante uma situação de viuvez e a de seu filho Jerónimo Trigueiros de Aragão que, segundo as datas, em nosso poder teria na altura desta anexação quatro anos de idade. Sabendo que Joaquim Rebelo Trigueiros Martel faleceu em 1830, a possibilidade da sua morte estava já presente em 1829.

307 Processo de registo de vínculo, nº 26 fl.17V 308 Conf. Ibidem fls. 2V a 9 e fls. 22V a 24v

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Genealogia parcial (a) da “Casa Conde da Idanha” (1707-1924)

Simão Rebelo Isabel Domingos Mª Marques Martel Leite Trigueiros Costa Ambrósio Gouloa (Fundador de morgadio) (1707)

Jerónimo Trigueiros Martel Mª Angélica Rebelo Leite Marques Gouloa

Angélica Joaquim Rebelo d´Aragão Costa e Ornelas Trigueiros Martel

Mª Isabel Osório Macedo Sousa Jerónimo Trigueiros Preto Forjaz Pereira de Gusmão d´Aragão Martel da Costa (Morgadio de Peroviseu e Chãos) (Conde da Idanha)

Joaquim Mª Mª Mª Mª de la Isabel Jerónimo Antº João José José O. Mª Graciosa Isabel Laura Trigueiros Carmo Nativ. Pied.. Salete T. O. d´A. . d´A. da Silveira Cardoso (Conde da Idanha) e Costa Martel e Vasconcelos Juzarte

Joaquim Trigueiros Carlos Nuno de Almeida Osório de Vasconcelos Vilhena de Aragão Trigueiros de Martel (1924)

Diag. 7 (a)

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina; em normal linha de extinção do morgadio. Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Genealogia parcial (b) da “Casa Conde da Idanha” (1825 – 1941)

Mª Isabel Osório Macedo Sousa Jerónimo Trigueiros (Morgadio de Peroviseu e Chãos) (Conde da Idanha) Preto Forjaz Pereira de Gusmão d´Aragão Martel da Costa (1825)

Mª Angélica José de Figueiredo Mª Joaquim João José José O. Mª Graciosa Isabel Laura Torres Coelho Pimenta Avelar da Natividade Trigueiros T. O. d´A. . d´A. da Silveira Cardoso (Conde da Idanha) e Costa Martel e Vasconcelos Juzarte

Joaquim Trigueiros José Mª Natividade António Joaquim Trigueiros Carlos Nuno Mª Ester Aragão Trigueiros de F. T. Coelho de Almeida Osório de Vasconcelos Garcia Frazão de Aragão Vilhena de Aragão Trigueiros de Martel de Lemos

Joaquim Trigueiros Mª de la Salete Mª Angélica Diogo Paulo Frazão de Aragão T. Coelho F. Osório de Portugal de Aragão. Martel Lobo F. Aragão

Diogo João Jerónimo (1939) (1940) (1941)

Diag. 7 (b)

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Nº 13 – Casa do conde da Idanha em Alcains

Nº 14 – Casa da dos condes da Idanha na Idanha–a-Nova

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Terá sido por isso mesmo que neste último documento de anexação, os interesses de seu filho são defendidos por um curador e D. Angélica, a esposa, ao consentir na anexação, aceita igualmente ficar com o usufruto “dos rendimentos dos bens anexados como alimentos consignados por sua vida, conservando-se no estado de viuvez em lugar das arras que lhe foram prometidas no contrato exponsalício por ele ilustríssimo marido (...)”309. Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa será assim o filho único deste casamento que vai assegurar a sucessão do morgadio. O seu casamento com D. Isabel Osório Macedo igualmente filha única, sucessora no morgadio de Peroviseu e Chãos, une como já se referiu estes dois vínculos.

2.7.2. Instituição e transmissão do morgadio de Peroviseu e Chãos

A origem deste morgadio encontramo-la num testamento, datado de 24 de Novembro de 1696, em que um prior de Peroviseu, Luís Machado Freire decidiu, com o seu património, instituir dois morgadios e privilegiar na sua sucessão, as suas irmãs Maria Machada e Isabel Machada da Cunha e os sobrinhos, filhos destas, que deverão ser não só os seus testamenteiros, mas também os principais herdeiros310: Por este testamento sabemos que o padre testador, para além das duas irmãs referidas, teve mais irmãs e irmãos - dos quais dois tinham, na altura, já falecido. No entanto e apesar de fazer referência no documento a todos os irmãos, a atribuição de bens só contempla alguns, o que espelha a relação entre Luís Machado Freire com aqueles. Assim, o padre faz referência aos irmãos Manuel Machado (que também tinha sido prior em Peroviseu) e José Machado ambos falecidos e dos quais terá herdado bens. Relativamente aos irmãos vivos menciona: António Machado a quem testa dez mil réis e 15 alqueires de centeio; Ana Machada que deverá receber vinte mil réis; Domingos da Cunha e seus descendentes que “nada deverão herdar”; Tomé Machado que deve receber dez mil réis; Catarina Machada, casada com Francisco Giraldes e mãe de Manuel Giraldes que nada deverão herdar. A vontade do autor do testamento é que na realidade sejam as suas duas irmãs, Maria Machada e Isabel Machada da Cunha, a receberem o seu património principal, constituído na sua parte mais consistente por dois morgadios instituídos, como já referimos, no testamento em causa.

309 fl.23V 310 Optámos por actualizar a escrita em todas as citações feitas a partir de documentos.

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Genealogia parcial do morgadio de “Peroviseu e Chãos”

Peroviseu

Peroviseu

Prior Luis Maria Francisco Isabel Diogo Dias Machado Machada Gil Machada Preto Freire da Cunha (test. 1696) Chãos Peroviseu e Chãos

Francisco Luis Lourencço Dias Gil Machado Maria Diogo Dias Machado Freire Machada Machado (test.1725)

Luis Machado Micaela Diogo Dias Freire Mota Godinho Machado Preto

Paula Catarina Osório Diogo Dias Preto da Cunha Coutinho Preto

Diogo Dias José Coutinho Antónia Soares Preto da Cunha da Cunha Machuca (Chantre)

Diogo Dias Preto Ana Justina Osório Cabral de Sousa

Diogo Dias Preto Maria Justina Macedo

Jerónimo Trigueiros Isabel Osório Aragão Martel de Macedo da Costa

Diag. nº 8

Legenda: Indivíduos pelos quais se processou a herança e a transmissão do morgadio de Peroviseu e Chãos

Herança e sucessão Junção de morgadios (test.) testamento (Autora)

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Nº 15 – “Casa do castelo” no Fundão, mandada construir por José Trigueiros Martel no início do regime republicano. Pretendeu através da sua arquitectura reafirmar valores monárquicos.

Foto nº 16 – Casa que pertenceu ao morgadio de Peroviseu e Chãos, situada na aldeia dos Chãos (Fundão) 210

Relativamente à parte dos bens deixados à irmã Maria Machada - instituídos em morgadio - estabelece que após a morte desta, aqueles passem ao filho Luís Machado Freire e depois do falecimento deste último, para a sua irmã, chamada tal como a sua mãe, Maria Machada. Fora da sucessão e herança ficará sempre Francisco Gil, filho primogénito desta irmã do padre de Peroviseu e portanto irmão de Luís e de Maria. No testamento em análise ficou registado que Francisco Gil nunca deveria ter acesso à posse ou administração dos bens do seu tio. Possivelmente um casamento não aceite estará na origem desta exclusão. Uma das menções feitas a este sobrinho, diz o seguinte: “suposto que neste testamento acima declarado que Francisco Gil filho da dita minha irmã Maria Machada nunca em tempo algum sucederia na dita minha fazenda, contudo por certas razões que me movem, quero e sou contente que também seja admitido a gozá-la, guardando-se acima, neste testamento referida, contudo nunca nela sucederão os filhos que teve da primeira mulher que são os Ramos, nem os descendentes destes tais filhos”311. A transmissão do seu património e a exclusão de familiares do acesso a este é de resto uma preocupação constante do instituidor. Ao estabelecer as condições de transmissão, após a morte da sobrinha Maria, o padre volta a nomear os familiares que nunca deverão herdar destes bens: “e também que nunca em tempo algum suceda, nem haja a tal fazenda meu irmão Domingos da Cunha e seus descendentes, nem minha irmã Ana Machada, moradora no lugar do Fundão nem seus descendentes, nem Manuel Giraldes filho de minha irmã Catarina Machada, nem os descendentes dele, nem Francisco Gil, filho da sobredita Maria Machada minha irmã, nem descendentes dele”312. As obrigações impostas aos sucessores e herdeiros serão repetidas quando o clérigo se refere à instituição de um segundo morgadio. Este deverá vir a ser administrado pela irmã Isabel Machada da Cunha. Relativamente a este vínculo o instituidor refere o facto de ele ser constituído apenas por bens seus - enquanto do primeiro faziam parte bens herdados dos irmãos falecidos – e, indica que o sucessor, após a morte de sua irmã Isabel, será o filho desta, Diogo Dias Machado:

311 Testamento do Padre Luís Machado de 1696, já citado, fl.135v 312 Ibidem, fls. 122v e 123

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No entanto, esta sucessão não será simples, pois estará dependente do casamento preferencial deste sobrinho, Frei Diogo Dias Machado com Maria Machada, a outra sobrinha, filha da irmã para quem instituiu o primeiro morgadio. Na realidade, o testador manifesta a vontade de os dois morgadios virem a unir-se, na posse e administração de um único descendente. Depreendemos da redacção do documento em causa que, relativamente ao vínculo transmitido a Maria Machada, a acção do instituidor se encontra condicionada pois, como afirma, aquele vínculo é constituído por bens herdados dos seus irmãos falecidos, os quais terão manifestado a vontade desse património vir a ser legado a Maria Machada. Relativamente ao segundo vínculo, por ser constituído por bens unicamente seus, o prior sente-se mais livre para impor condições a sua irmã Isabel e aos seus descendentes, nas futuras transmissões. Estas condições surgem sob a forma de duas possibilidades. A primeira, que depreendemos ser considerada por ele a ideal, assenta no casamento do sobrinho Frei Diogo Dias Machado (filho de Isabel) com a sobrinha Maria Machada (filha de Maria Machada). Esta aliança matrimonial deveria ser o caminho mais evidente para a unificação dos vínculos. Mas no caso de tal não vir a acontecer, o testador ditou uma segunda via para o mesmo fim. Assim, se não houvesse casamento por recusa de Frei Diogo Dias Machado, o sucessor e herdeiro de Isabel Machada da Cunha seria o seu segundo filho varão, Lourenço Dias Machado que, por sua vez, passaria o vínculo a uma irmã nomeada por si. Ou, no caso de não fazer nomeação, determinou o instituidor dever a administração do morgadio transitar da irmã mais velha para a mais nova e quando esta última falecesse deveria unir-se o vínculo ao primeiro, instituído em favor da irmã do padre, Maria Machada. Ficando assim, para sempre, unido e administrado pela descendência desta última, com a natural perca para os descendentes de Isabel. Se, pelo contrário, fosse a sobrinha Maria Machada a recusar casar com o primo Diogo Dias Machado ou mesmo com o irmão deste, Lourenço Dias Machado, os vínculos manter-se-iam separados. Maria Machada administraria o morgadio que recebeu do irmão, o prior de Peroviseu, enquanto Dona Isabel e os seus descendentes manteriam o segundo morgadio, instituído pelo mesmo. Explicitando melhor, o que se desejava que acontecesse era a unificação dos dois morgadios através do casamento entre os dois primos ou uma unificação mais tardia, a

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verificar-se no caso em que Diogo Dias Machado se negasse a casar com a prima Maria Machada. Nesta última situação, determinava o padre a passagem do morgadio, instituído a favor de Isabel, para os descendentes da prima rejeitada, após a extinção da primeira geração de descendentes da referida Isabel. Os vínculos manter-se-iam separados somente no caso em que a recusa em casar com Diogo ou com o irmão deste, Lourenço Dias Machado, fosse decisão da prima. Neste último caso, a sanção prevista pelo instituidor seria de nem Maria Machada nem a sua descendência poder herdar e suceder no morgadio de Isabel. A explicação dos objectivos do instituidor do morgadio de Peroviseu e Chãos talvez fique mais clara se atendermos às suas palavras: “e casando o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado com a minha sobrinha Maria Machada filha de minha irmã Maria Machada se vinculará este morgado e capela que também acima neste meu testamento deixo a dita minha irmã Maria Machada observando-se, guardando-se e cumprindo-se em tudo as clausulas nele conteúdas, e isto se entende que serão os ditos meus sobrinhos Frei Diogo Dias Machado e minha sobrinha Maria Machada, casados e recebidos em face da Igreja (...) e não casando o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado com a dita minha sobrinha Maria Machada como acima tenho dito, passará a dita capela e morgado a meu sobrinho Lourenço Dias Machado filho da dita minha irmã Dona Isabel Machada da Cunha, ajudando também com os rendimentos do dito morgado a sustentar suas irmãs e filhas da dita Dona Isabel Machada da Cunha e por morte do dito Lourenço Dias Machado meu sobrinho passará o dito morgado a uma das suas irmãs (...) e por morte dos ditos meus sobrinhos Frei Diogo Dias Machado e Lourenço Dias Machado e das ditas minhas sobrinhas filhas da dita minha irmã Dona Isabel Machada da Cunha passará este morgado e capela, e se unirá e vinculará a outro morgado e capela que deixo a minha irmã Maria Machada, viúva que ficou do capitão Francisco Gil do lugar dos Chãos, freguesia das Donas, mas isto se há-de entender no caso que o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado não queira casar com a minha sobrinha Maria Machada filha da dita minha irmã Maria Machada e que por culpa dele se não fizer o tal casamento, e também dado caso que a dita minha sobrinha não queira casar com o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado ou com meu sobrinho Lourenço Dias Machado filhos da dita Dona Isabel Machada da Cunha, nestes termos não deixo a dita minha irmã Maria Machada e sua filha Maria Machada minha sobrinha este segundo morgado e capela antes o deixo a

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minha irmã sobredita Dona Isabel Machada da Cunha e seus descendentes para sempre (...)”313.

A primeira vontade do prior Luís Machado Freire cumpriu-se e Diogo Dias Machado, como o denomina o prior, ou Diogo Dias Preto como sempre é referido nos documentos, casa-se com a prima Maria Machada (ou Maria Machada Freire, nome com que surge no assento de casamento). Esta cerimónia foi realizada em Peroviseu, no dia 19 de Outubro de 1699. Entretanto, o padre instituidor provavelmente já teria falecido, pois o assento de casamento realizado na Igreja de Peroviseu foi assinado pelo “prior encomendado” padre Manuel de Paiva Duran. Este matrimónio foi o que se pode considerar uma boa aliança. O enlace destes dois primos garantiu a unificação dos dois morgadios, dando assim continuidade, tudo o indica, à pretensão do tio Luís Machado: a formação de uma Casa assente no património que ele conseguiu estrategicamente unir. A prossecução deste objectivo dependeria agora da fertilidade dos nubentes. Tratou-se, também de facto, de um casamento bem sucedido relativamente à descendência. Em 22 de Março de 1700, cinco meses após o casamento nascia Diogo, o primeiro filho. Segue-se Luís, em 1702; Clemente, em 1705; João, em 1707 e Paula, em 1709. Os morgadios unidos através deste casamento dizem respeito, quase exclusivamente, a bens imobiliários situados na região de Peroviseu, será a anexação de um terceiro morgadio cujo património se situa nos Chãos e seus limites (no mesmo concelho do Fundão, freguesia das Donas) que estende os bens vinculados até esta última aldeia. A instituição deste outro morgadio é feita no testamento de Luís Machado Freire, sobrinho e homónimo do primeiro instituidor. Trata-se de um dos três filhos da irmã Maria Machada, portanto um dos irmãos da noiva referida anteriormente. Este Luís Machado Freire sucederá ao tio no cargo de prior de Peroviseu e por ele deverá passar a administração do morgadio em caso da morte da mãe, antes de passar para sua irmã, (Maria Machada) da qual se esperava que casasse com o primo (Diogo Dias Machado) e se concretizasse a junção dos dois vínculos, como verificámos ter acontecido.

313 Ibidem, fls. 133,133v,134.

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Luís Machado Freire nasceu nos Chãos em 1661314. Atendendo à data do seu nascimento pensamos que em 1696, ano do testamento do seu tio (o primeiro instituidor), este segundo padre com trinta e cinco anos, já teria uma posição consolidada dentro da Igreja e um património próprio, situação para que deverá ter concorrido o apoio do seu tio. Deste padre, temos conhecimento do seu testamento feito em 1725, onde também institui um morgadio com parte dos seus bens. Mais uma vez está presente nas determinações relativas à sucessão nesta instituição, a ideia de unificação dos morgadios. Com esta finalidade, o clérigo nomeia para administradora do referido morgadio a sua irmã Maria Machada que, relembre-se, era a detentora conjuntamente com seu primo e marido Diogo Dias Machado (ou Preto) dos bens vinculados pelo tio nas duas primeiras instituições que descrevemos. Estabelece ainda que deverá suceder a Maria Machada o seu filho Luís Machado Freire (homónimo do seu tio e do seu tio-avô) que no caso de morrer sem filhos deverá passar a administração do vínculo para o irmão, Diogo Dias Machado Preto. Neste caso deparamo-nos com uma preferência interessante: o filho mais novo é preferido ao mais velho na sucessão. Conforme se pode comprovar pelos assentos paroquiais de baptismo, Luís nasce em 1702 quando Diogo já tinha nascido em 1700315. No entanto, esta preferência poderá estar ligada à vontade do padre proteger o sobrinho que seguindo o seu exemplo terá enveredado pela vida religiosa, prevendo-se, naturalmente, a ausência de descendência, o que significava a administração do vínculo vir a recair no irmão Diogo Dias Machado Preto ou nos filhos deste. São as seguintes as palavras usadas pelo autor do testamento: “(…) disse ele reverendo testador que chama em primeiro lugar para administradora deste morgado ou capela a sua irmã Dona Maria Machada viúva que ficou de Frei Diogo Dias Preto deste lugar de Peroviseu, e por morte da dita sua irmã, chama para administrador do dito morgado ou capela em segundo lugar o seu sobrinho Luís Machado Freire, filho da dita sua irmã Dona Maria, e se este segundo chamado morrer sem filhos de legítimo matrimónio passará o dito morgado ou capela a seu

314 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freg. Donas, microfilme, rolo nº249 315 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freg. Peroviseu, microfilme, rolo 267

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sobrinho Diogo Dias Machado Preto todos deste mesmo lugar (...)”316.O acaso determinou que Diogo Dias Machado Preto, apesar de mais velho, tenha sobrevivido ao irmão padre e viesse a administrar o morgadio, entretanto já chamado de “Peroviseu e Chãos”. Tivemos acesso ao seu testamento datado do ano de 1756, altura em que tem a seu cargo a referida administração. Diogo Dias Machado Preto, segundo o documento, foi familiar do Santo Ofício, Alferes de Cavalos do Regimento de Dragões de Castelo Branco. Casou com Micaela Maria da Mota Godinho. Situámos nos registos paroquiais o baptismo de três filhos deste casamento: Diogo, Angélica e Paula. No testamento deste sucessor está implícito que o seu filho varão dará continuidade à administração do morgadio. A sua preocupação, manifestada no documento em questão, prende-se com a sua terça que é essencialmente constituída por terras e outros bens que herdou dos avós paternos ( Isabel Machada da Cunha e Diogo Dias Preto). O remanescente da referida terça – depois de cumpridas todas as obrigações - deveria ficar na posse de sua mulher Micaela Maria da Mota e passar depois da sua morte à única filha viva, Paula - Angélica era à data do testamento já falecida. Após a morte de Paula, a terça deveria ser vinculada ao primeiro morgado instituído em 1696: “(...) e depois de meus legados cumpridos deixo o remanescente de minha terça a minha mulher Dona Micaela Maria da Mota Godinho e por sua morte a nossa filha Dona Paula e por morte desta ficará vinculada a dita terça ao primeiro morgado instituido pelo primeiro Prior Luis Machado (...)”317. Transparece da redacção deste testamento a preocupação do morgado com a sobrevivência económica da sua esposa e da sua filha. Esta, cujo nome completo foi Paula Maria Angélica Preto da Cunha, casou com o Dr. Manuel Tavares Falcão. A posição deste casal em relação à forma como foi feita a administração dos bens da família não parece ter sido totalmente pacífica e provavelmente terá levantado alguns problemas. A esse propósito voltaremos a referir-nos a Manuel Tavares Falcão mais adiante, relativamente a uma anexação feita mais tarde pelo sobrinho de sua esposa Paula, Diogo Dias Preto da Cunha que virá a ser Chantre da Sé da Guarda.

316 Testamento de Luís Machado Freire, de 1725, transcrito no Processo de Registo de Vìnculos, ANTT, Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 27, fl.141. 317 Testamento de Diogo Dias Machado Preto, de 1756, transcrito no Processo de Registo de Vínculos, ANTT, Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc.27, fl.146.

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Na realidade, foi o irmão de Paula, Diogo Dias Preto que administrou o morgadio de Peroviseu. Diogo casou com Catarina Maria Osório Coutinho com quem teve seis filhos, segundo o que pudemos apurar: Diogo, nascido provavelmente em 1744; Maria, nascida em 1745; José, em 1746; Rosa, em 1748; Antónia, em 1750; Luís Justiniano, em 1753. Nesta geração, a sucessão do vínculo teve de se adaptar ao facto do primogénito da fratria referida, Diogo Dias Preto da Cunha, enveredar pela carreira eclesiástica e não assumir a sucessão. Este facto, não o impediu, no entanto, de orientar a administração do morgadio e continuar a tratar do engrandecimento da família. Este, que será o já referido Chantre da Sé da Guarda, vai reunir na sua posse grande quantidade de propriedades na aldeia dos Chãos, as quais virá a anexar ao morgadio. Terá sido a partir deste momento que o património do vínculo nesta última aldeia se torna ainda mais significativo. A sucessão recaiu no sobrinho do Chantre, filho do irmão (capitão-mor José de Sousa Osório Coutinho da Cunha). Enquanto tal não aconteceu é possível que a administração do morgadio se tenha prolongado entretanto nas mãos do pai do clérigo. Sabemos que o pai do Chantre, está ainda vivo em 1794, altura provável do casamento do seu neto e sucessor na administração do vínculo. Chamou-se este neto Diogo Dias Preto Osório Cabral, nascido em 1776 e filho do já referido capitão-mor e de Antónia Margarida de Vilhena Soares Machuca. Em 1816, é este neto que administra os bens vinculados e é no mesmo ano que o tio faz uma escritura de anexação de terras e casas ao morgadio. Tal como escrevemos algumas linhas atrás, encontramos indícios que nos fazem crer que esta anexação não foi totalmente pacífica, já que em dado momento do documento surge o nome de Manuel Tavares Falcão, marido de Paula - tia do Chantre da Sé da Guarda - como opositor ao processo, embora tendo desistido dessa oposição. É a seguinte a observação que nos faz levantar a questão: “(...) ouvindo o imediato sucessor do dito morgado que convém na sua pretensão do suplicante, como também a suposta oposição de Manuel Tavares Falcão, sendo ouvido com precedência de

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informação do Corregedor da Comarca de Castelo Branco, insta se faça a união dos ditos bens, afirmando ter sido por engano a sua chamada oposição (...)”318. Assim, como as palavras indicam, o aumento do património vinculado acabou por não ser posto em causa. Diogo Dias Preto Osório Cabral, que veio a ser vereador da 1ª Câmara do Fundão, casou com Ana Justina de Sousa, filha de Diogo Homem de Brito e de Joana Teresa Centúrio. Os assentos paroquiais319 dão notícia do nascimento de seis filhos: Diogo, nascido em 1796; José, em 1797; Maria, em 1799; Luís, em 1801, Francisca, em 1805; Rosa, em 1807. Mais uma vez o primogénito, igualmente nomeado Diogo Dias Preto assume a sucessão do morgadio. Casará com Maria Justina de Macedo. Deste matrimónio apenas nascerá uma filha, Isabel Osório de Macedo. A vida deste último Diogo parece ter atravessado dificuldades, dedução que fazemos do facto de ser citado como “demente”, numa sentença formal de partilhas320, feita após a morte de sua esposa Maria Justina e requerida por sua filha em 1863. Isabel Osório de Macedo casou com Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa, visconde do Outeiro que virá a ser 1º conde de Idanha a Nova (na sua família). É este casal que, como já afirmámos, faz em 1863 o registo do vínculo de Peroviseu e Chãos simultaneamente com o registo do morgadio da Idanha cujo administrador é o futuro conde. Com esta descendente única e, este casamento, acontecido numa época em que os ideais liberais vieram a ditar a lei de extinção dos morgadios, indiciam para o vínculo de Peroviseu e Chãos um futuro muito diferente de um passado em que a sua manutenção, aumento e transmissão se manteve de forma estável, sem sobressaltos visíveis, durante sete gerações.

318 Ibidem, fl. 2v. 319 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freguesia Peroviseu, microfilme, rolo 268. 320 Transcrita no processo de registo do morgadio, ANTT, Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc.27, fl. 149.

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2.7.3. A lógica das alianças matrimoniais

Uma das preocupações constante do grupo de descendentes de Luís Machado Freire – fundador do morgadio Peroviseu e Chãos -, foi a conservação e o aumento do seu património material e simbólico. As alianças matrimoniais representaram uma das vias mais significativas para concretizar esses interesses. A necessária correlação entre o modo de transmissão dos bens e a lógica dos casamentos fez com que a escolha de cônjuge não devesse ser deixada ao acaso. Tal, ressaltou da análise da reconstituição genealógica da família detentora do morgadio de Peroviseu e Chãos. A nossa atenção cingiu-se principalmente às alianças matrimoniais estabelecidas pelos sucessores na administração vincular, com o objectivo de detectarmos possíveis correlações entre estas alianças e as preocupações de manter indivisível o património, de dar continuidade ou aumentar o poder e prestígio familiar. A primeira aliança, estabelecida segundo as orientações testamentárias do primeiro instituidor, o prior Luís Machado Freire, é talvez a que mais evidencia o propósito e o desejo de, com base na união dos patrimónios, fortalecer o poder familiar. Trata-se, como já explicámos no ponto anterior, do casamento entre dois primos direitos. Com este casamento unem-se os dois morgadios que o referido padre destinou, num primeiro tempo, a duas das suas irmãs, as mães dos nubentes. Este tipo de aliança entre consanguíneos próximos, não voltará a ser repetida pelos sucessores seguintes. No entanto a concentração do património conseguida neste primeiro casamento determinará certamente alianças futuras, com o objectivo de o manter intacto ou ainda, se possível, aumentá-lo. A tendência da escolha de parceiros conjugais nas gerações seguintes parece caracterizar-se pela exogamia familiar, mas também local. Se considerarmos que em determinadas circunstâncias um tipo de aliança pode determinar a realização de outras de características idênticas, não é realmente a repetição de alianças dentro do parentesco que observamos na genealogia em análise. Podemos sim, referir um outro tipo de regularidade, ou seja o recrutamento frequente de cônjuges com laços de parentesco próximos com figuras eclesiásticas. Com efeito, tal como referiu Armindo dos Santos: “alianças futuras são determinadas por alianças passadas, o que conduz a estruturar o

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campo matrimonial em função de estratégias múltiplas (...) que se inscrevem no interior de um espaço de acção social de referência identitária”321. Tudo indica que durante o período em que seguimos a transmissão deste morgadio, os indivíduos que asseguraram a sua continuidade relacionaram-se com um universo marcadamente eclesiástico. As vantagens trazidas à Casa por alianças em que os benefícios eclesiásticos estavam presentes foram assim, procuradas em várias gerações. A este propósito, Fernanda Olival e Nuno Monteiro referem que os benefícios eclesiásticos “podiam representar um primeiro espaço de capitalização de honra e recursos a serem reinvestidos nos parentes, designadamente nos irmãos, irmãs, sobrinhos e sobrinhas. Esta questão era tão ou mais significativa quanto, geralmente, se esboçava à escala das pequenas localidades”322. De facto, ao longo dos duzentos anos em observação, houve sempre pelo menos uma entidade religiosa muito próxima de cada um dos sucessores. Quando o eclesiástico não era um consanguíneo, era consanguíneo de aliado. Como referimos na descrição da fundação e transmissão do morgadio, o padre Luís Machado faz as primeiras instituições em 1696 reunindo património seu ao herdado de dois irmãos igualmente padres. Na geração seguinte, um dos seus sobrinho, filho da irmã Maria Machada, chamou-se igualmente Luís Machado Freire e foi padre, tal como o tio, na Igreja de Peroviseu, assegurando assim, nesta geração, a presença do poder eclesiástico junto da família. Este último teve também o seu nome reproduzido num dos sobrinhos, um irmão do sucessor na administração do vínculo. Relativamente a este sobrinho apenas conseguimos saber que para além de se chamar Luís Machado Freire, nasceu em 1702. Acreditamos que também lhe estivesse, à partida, destinada a carreira eclesiástica, no entanto não conseguimos mais notícias deste indivíduo. Sabemos porém que o seu irmão que sucedeu na administração do morgadio, foi Alferes de Cavalos e Familiar do Santo Ofício e casou com Micaela Maria da Mota Godinho, irmã do Padre Inácio Godinho da Costa e Mota, o padre que substituiu Luís Machado

321 «Identité et parenté», in AAVV, Espaces et Culture, (ed. Pierre Pellegrino), Berne/Saint-Saphorin, Editions Georgi-Saint-Saphorin,p.212. 322“ Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas em Portugal (1500-1820)” in Análise Social, vol.XXXVII, Inverno de 2003, p.1229.

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Freire na Igreja de Peroviseu. Continuando, assim, a sentir-se a presença do mundo eclesiástico junto desta família. Voltamos a encontrar outra entidade clerical, agora consanguínea, no neto do casal Diogo e Micaela. Trata-se do neto primogénito, Diogo Dias Preto da Cunha, Chantre da Sé da Guarda. Este, contribuiu grandemente para o aumento do património da sua Casa e possivelmente para o seu prestígio. O clérigo da Guarda vai concorrer para o acréscimo do vínculo com a anexação de grande quantidade de propriedades situadas na aldeia dos Chãos. O seu sobrinho - filho do irmão José - e futuro sucessor no vínculo, Diogo Dias Preto Osório Cabral, também é beneficiado com doações do tio como referiremos adiante. A presença eclesiástica mantém-se através da aliança matrimonial concretizada por este último, dado casar-se - provavelmente em 1794 - com Ana Justina de Sousa, sobrinha por via materna do Padre Domingos Pires Centúrio (da aldeia de Castelejo) e por via paterna do Bispo de Angola. Assim, em documentos da Chancelaria de D. Maria I323, encontramos as doações, datadas de 1794, recebidas pelo casal Diogo Dias Preto Osório Cabral e Ana Justina, da parte do Chantre da Catedral da Guarda e de D. Luís Brito Homem, Bispo de Angola. Pretendem estas doações, a que se juntam as da mãe, do irmão e as de seis irmãs de Ana Justina de Sousa e ainda do avô do noivo, assegurar a sobrevivência económica do casal enquanto Diogo não aceder à administração do vínculo. Além dos bens que deverão ter sido recebidos na data em que foram feitas as escrituras, é referido num destes documentos que Diogo Dias Preto deverá ser o herdeiro do Chantre. Mais uma vez temos que considerar estar perante atitudes muito comuns na época, pois como afirmam Fernanda Olival e Nuno Monteiro: “não era apenas em torno da instituição de morgadios que actuavam os eclesiásticos em favor dos respectivos parentes. Por vezes era muito importante o seu papel no mercado matrimonial, independentemente do patamar do espaço social que se queira considerar, quer pela sua hipotética contribuição nos dotes de irmãs e sobrinhas, quer pelo empenhamento do seu capital de status na escolha do cônjuge. Os exemplos a invocar seriam inúmeros”324.

323 Conf. ANTT, Chancelaria D. Maria I, Próprios, Livro 47, fls. 296 a 300. 324 “Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas em Portugal (1500-1820)” in Análise Social, vol. XXXVII, Inverno de 2003, p. 1232

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Ao filho e sucessor deste último casal tão protegido por doações - a que não seriam estranhos o prestígio e riqueza da Igreja Católica – foi dado o nome de Diogo Dias Preto, mantendo a tradição familiar. Nascido em 1796 veio a casar com Maria Justina de Macedo Tovar de Vilhena de Gusmão Mendonça. Este matrimónio, sem deixar de ser uma boa aliança, já não está tão próximo de entidades religiosas como as anteriores. De facto, não devemos esquecer que este sucessor vai viver o auge da sua juventude num ambiente marcado pela Revolução Liberal, época que como sabemos, não é muito auspiciosa para a Igreja Católica e para os que dela vivem. Concluindo, sublinhamos a ideia de que os morgados de Peroviseu e Chãos ao privilegiarem as alianças matrimoniais feitas com famílias onde prevaleciam as carreiras eclesiásticas terão usufruído de vantagens que permitiram o aumento do poder económico, político e simbólico da Casa a que pertenceram.

2.7.4. A gestão do património após a extinção legislativa do morgadio

Como já referimos os morgadios da Idanha e de Peroviseu e Chãos vão ser registados em simultâneo e tudo indica que a sua administração será feita em conjunto por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa, à vontade do qual se deverá ter submetido a sua esposa, sucessora e herdeira de Peroviseu e Chãos. Será neste novo desenvolvimento que o património dos dois vínculos irá receber o impacto da legislação que em 1863 extingue os morgadios. Tudo indica que não resistiu à partilha dos seus territórios que a lei passou a permitir e os novos ideais sociais incentivavam. Não seria necessário que assim fosse, pois como afirma Brien O’Neill em relação ao Código Civil de 1867: “o Código Civil não foi um Deus ex machina que instituiu as partilhas em todo o país”325. Por vias diversas, a lei continuou a permitir o desenvolvimento de acções que evitavam a divisão patrimonial e a prova disso é a existência ainda nos dias que correm de casas e patrimónios fundiários cujas dimensões indicam que a partilha igualitária não foi estritamente cumprida. De facto e neste caso o testamento de Jerónimo Trigueiros comprova a existência de possibilidade

325 “Práticas de Sucessão em Portugal : Panorama Preliminar” in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Vol. 37, Porto,1997, pp.121/148.

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de continuar a favorecer na herança determinados descendentes. Assim o casal registador dos morgadios teve dez filhos. Tendo a morte de Isabel, ocorrido após o parto do seu 10º filho, o marido Jerónimo Trigueiros fará, na situação de viúvo, o seu testamento no ano de 1900. Neste documento o testador favorecerá, usando a terça, as filhas que o acompanham na velhice, Maria de La Salete e Maria Isabel, e principalmente o seu filho primogénito, Joaquim, 2º conde da Idanha, a quem deixa a Quinta do Outeiro e propriedades anexas e ainda uma quantia em dinheiro. Este primogénito casou com Maria Angélica Torres Coelho, de Alcains, filha de Francisco Pereira Torres, lente catedrático da Universidade de Coimbra. Esta aliança, apadrinhada por Manuel Vaz Preto Giraldes, da Casa da Lousa e por Afonso Giraldes da Casa da Graciosa, foi muito vantajosa economicamente para Joaquim Trigueiros, pois o pai da noiva era detentor de grande fortuna. Em 1889, o Conselheiro João Franco em carta dirigida a Tavares Proença, refere-se a Joaquim Trigueiros como o “herdeiro do bom coelho”326, numa alusão à fortuna que este recebeu do seu sogro. Do casamento de Angélica Torres Coelho com o 2º conde da Idanha nasceram quatro filhos sendo o primogénito também chamado Joaquim. Este casou com sua prima direita, Maria Natividade Trigueiros de Figueiredo Frazão, filha da irmã de seu pai, igualmente de nome Natividade e que tinha casado com o 2º visconde do Sardoal, José de Figueiredo Pimenta Avelar Frazão. Este primogénito nunca tomou posse do título pois morreu com 45 anos ainda em vida do pai. Assim foi 3º conde de Idanha, o seu filho Joaquim Trigueiros Frazão de Aragão que casou com Leonor Osório de Castro. Deste casamento não houve descendência, o mesmo acontecendo da parte da irmã do conde, Maria de La Salete Trigueiros Coelho que faleceu solteira. Esta linha familiar dos Trigueiros de Aragão que se cruzou com os Viscondes do Sardoal, extingue-se nesta geração. O segundo filho do 2º conde de Idanha foi António Trigueiros de Aragão que casou com Ana Augusta de Portugal Lobo Vasconcelos. Deste casamento nasceram quatro filhas. A primogénita Maria Angélica de Portugal Lobo Trigueiros de Aragão casou com um primo direito de seu pai, Joaquim Trigueiros de Almeida Osório de Vilhena de Aragão. Deste casamento nasceram três filhos: Diogo de Portugal Trigueiros

326 Conf. “Cartas Politicas do Conselheiro João Franco a Tavares Proença”, Separata de Estudos de Castelo Branco, 1963, p. 45

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de Aragão (1939), João de Portugal Trigueiros de Aragão (1940) e Jerónimo de Portugal Trigueiros de Aragão (1941). O património dos morgadios de Peroviseu e Chãos e da Idanha, terá sofrido diversas partilhas e enfrentou com as gestões empreendidas pelo filho do 2º conde, António Coelho de Aragão, e pela do sobrinho deste, o 3º conde de Idanha, importantes perdas. Pois o envolvimento destes indivíduos em negócios ligados a actividades industriais terão obrigado a diversas vendas. Actualmente este património divide-se, essencialmente, por duas linhadas que procuram distinguir-se pelo nome e pela situação genealógica em relação ao 1º conde. De facto e apesar de o título de conde da Idanha ter a sua representação em Leonor Osório de Castro Trigueiros de Aragão, esposa do falecido 3º conde, os filhos de Maria Angélica de Portugal, procuram que o título passe para sua mãe, de forma a o primogénito, Diogo, vir a ser o próximo representante do título de conde da Idanha. Este seria igualmente o sucessor na administração dos morgadios de Peroviseu e Chãos e da Idanha caso a este tipo de instituição ainda existisse. Todavia é nesta linha familiar que ainda hoje se concentra parte do património reunido no século XIX, pelo 1º e 2º condes da Idanha. A sua administração é feita, essencialmente, por dois dos filhos de Angélica de Portugal conjugando a actividade agrícola com a industrial. Esta última ligada à produção de farinhas dirigida a partir de Lisboa por Diogo de Aragão. Ainda mantém bens significativos na região, embora sem qualquer actividade económica, a linha familiar que se desenvolveu a partir da descendência do filho mais novo do 1º conde, ou seja a partir de José Trigueiros de Aragão Martel. Este, do seu casamento com Maria Graciosa da Silveira e Vasconcelos, teve quatro filhas e um filho varão. A afirmação na sociedade do Fundão, no início do século XX, de José Martel ainda se encontra hoje, simbolicamente patente, numa casa acastelada situada na entrada sul daquela cidade. Esta e outras casas, assim como vasto património rústico situados na região limite do Fundão são hoje administrados por Carlos Nuno de Vasconcelos Trigueiros de Martel (1924), filho varão de José Martel. Estão assim representadas na região da Beira Baixa duas linhas familiares desta parentela, distinguidas pelo nome e pela região de implantação. Enquanto na região da Idanha domina a linhada Aragão, na do Fundão distingue-se a linhada Martel. Principalmente as casas ainda na posse de

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indivíduos desta parentela, quer estejam em processo de degradação ou conservadas, são ainda hoje a marca mais visível do poder antes detido na região.

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Morgados registadores de vínculos no Governo Civil de Castelo Branco

1Proc. nºde Localização Administrador Data e local Título e Cargos políticos Casamento Naturalida nº vínculos de nascimento habilit. acad. de e data nasc. Noiva/0 1 1 Salgueiro (Conc. João José de Salgueiro Vereador da Câmara Emília Manteigas Fundão) Oliveira Frazão Municipal do Fundão Carolina Vaz Castelo Branco Leitão 2 2 São Martinho, José de Salgueiro, visconde do Vereador e Presidente Ana Jacinta Abrantes Boidobra (Conc. Figueiredo 1795 Sardoal; da Câmara do Fundão Pimenta Covilhã) Frazão Brigadeiro do Avelar exército 3 1 e 9 Idanha-a-nova Fernando 1808 visconde, Senhor de Medelim, Maria José 1817 anexações Afonso Giraldes conde e Par do Reino Caldeira de Melo marquês da Leitão Pinto Sampaio Graciosa de Albuquerque (irmã do Conde da Borralha) 4 1 e 2 Lousa (Conc. João José Vaz 1801 Formado em Vereador e presidente Joana anexações Idanha-a-Nova) Preto Giraldes Direito, pela da Câmara de Castelo Carlota Univ. Coimbra Branco; Governador Giraldes de Civil; Parlamentar na Melo e Câmara dos Pares e na Bourbon dos Deputados. (prima) 5 e 29 2 Castelo Novo Pedro de Ordaz São Vicente da Recusa o título Vereador Maria São João da (Conc. Fundão); Caldeira de Beira, 1808 de barão de Benedita de Pesqueira Castelo Branco, Valadares Castelo Novo Sande e 1824 Castelo de Vide Castro

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6 8 Proença-a-Velha; Luísa Augusta 1832 viscondessa e António de 1831 S. Miguel de da Cunha condessa de Gouveia Acha; Aldeia de Castro Meneses Proença-a- Osório Santa Margarida Pita Velha Metelo de Vasconcelos, Visconde e Conde de Proença-a- Velha 7 2 Castelo Branco Cláudio Lisboa, 1790 Militar, Vereador da Câmara anexados Caldeira terminando a de Castelo Branco; Pedroso carreira como Conselheiro Tenente Municipal; Presidente? General 8 4 Erada, Paúl, Francisco Tortosendo Formado em Par do Reino; Ministro Maria da Peso, Tavares de Direito; do Reino; Deputado da Piedade Tortosendo, Almeida Nação; Vereador Fevereiro Sabugal e Proença Penamacor 9 2 Oleiros, António Leitão Pedrógão Capitão-mor da Vila Maria do Pedrógão de Queiroz e Pequeno de Álvaro Carmo Pequeno Conc. Andrade Caldeira Sertã) Castro e Aboim e Silva 10 3 Castelo Novo Francisco da visconde de Vereador da Câmara Maria (Conc. Fundão); Fonseca Portalegre de Castelo Branco; Adelaide Castelo Branco Coutinho e Vogal do Conselho Mesquita e Castro Refóios Municipal Albuquerque (regista como de Castro e imediato Nápoles sucessor) (filha dos visc. de Oleiros

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11 1 Castelo Branco Diogo da Silva Militar, Castelo Branco Tenente Coronel 12 9 São Vicente da Francisco 1803 visconde da Fidalgo da Casa Real; Inês de Vera Beira, Castelo Caldeira Leitão Borralha Par do Reino Giraldes de Novo, Castelo e Brito Moniz Bacharel em Melo Branco, Vila de Albuquerque Direito Sampaio e Franca de Xira, Par do Reino Bourbon Monsanto, (irmã do 1º Midões, Marquês da Sernache do Graciosa) Bom Jardim, Covilhã, Sertã 13 1 Covilhã Luís Cândido Militar, Absolutista Jane Ann de de Tavares Coronel Latour Osório 14 1 Capinha (Conc. João António Capinha, 1837 Frequentou os Governador Civil de Amélia Idanha-a- Fundão) Franco Frazão cursos de Castelo Branco, Capelo da Nova, Matemática, Deputado e par do Fonseca 1847; Filosofia e foi Reino Franco bacharel em Direito 16 1 Penamacor, Manuel Pinto Pedrogão Maria José Fundão, Sabugal Tavares Miranda e Fragoso Freire Silva 17 1 Covilhã Fundão Aires Pais de Dominguiso, Pai e avô Maria Lima Castelo 1819 militares Angélica de Branco Almeida Lima 18 1 Sernache do António Eduarda Bom Jardim Casimiro Lusitana Biscaia da Silva Biscaia de Sousa Leitão (prima)

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19 1 Oleiros, Castelo Francisco de 1841, Castelo visconde de Governador Civil de 1ºcas. Inácia Branco, Sertã Albuquerque Branco Oleiros; Angra do Heroísmo, de Meneses Pinto Mesquita Bacharel em Funchal e castelo Pita e Castro; e Castro Direito; Branco 2ºcas. Camila (imediato Celestino sucessor) Claúdio Ferreira 20 2 Sertã, Veiros, Carlota Estremoz, Granado de Fronteira, Castro Lemos Arraiolos 21 9 Pedrógão Luís António de Sertã Presidente da Câmara Maria Cernache Grande, Sertã Magalhães do Fundão Saturnino do Taborda Câmara de Bonjardim Faria e Serpa 1830 de Pina e Almeida 22 1 Fundão, Idanha- António de Maria Emília Alcains, a-Nova Pádua Leitão Castro e Silva 1818 (Já Marrocos falecida em 1862) 26 1 Idanha-a-Nova Jerónimo 1825 1º conde de Maria Isabel c. 1834 Trigueiros de Idanha-a- Osório Aragão Martel Nova; Macedo visconde do Outeiro 27 2 Peroviseu e Maria Isabel c. 1834 condessa de Jerónimo Fundão Chãos Osório Macedo Idanha e visc. Trigueiros de 1825 Outeiro Aragão Martel 28 2 Sertã, Proença-a- Simão José de Nova, Oleiros Mascarenhas Leitão

Quadro nº 4

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