Hermann Bruno Otto - Primeiro Negociante de Terras no Vale do Itajaí Angelina Wittmann1

Quando Hermann Bruno Otto Blumenau chegou ao Brasil em 1846 - como representante do governo alemão (mesmo ainda não existindo o país da Alemanha - o qual surgiu somente no ano de 1871), tinha outros planos, além daquele pelo qual o trouxe à América - que era investigar Foto1 – Hermann Bruno Otto Blumenau as denúncias de maus tratos Fonte: Arquivo Histórico Jose Ferreira da Silva aos seus conterrâneos que chegavam à Europa.

1 Angelina Wittmann: Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (1997). Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade pela Universidade Federal de - UFSC (2008). Arquiteta autônoma com atuação desde 1997, desenvolvendo projetos paisagísticos e arquitetônicos. Autora do livro: A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí - Resgate do Trecho Blumenau a Warnow. Foi uma das vencedoras do 1° Edição do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura - Fundação Catarinense da Cultura - 2009 - Publicou o livro - A Ferrovia no Vale do Itajaí - Estrada de Ferro Santa Catarina. Integrante e Presidente da Comissão Pró Ferrovias Vale do Itajaí - Seção Blumenau. Co-autora do livro: Ferrovia e Desenvolvimento - Este é o Caminho. Parte da equipe docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDAVI – Rio do Sul. Desenvolve pesquisas na área social/espacial/cultural e histórica de Blumenau e região. Alimenta o Blog Angelina Wittmann - Arte - Cultura - História - Antropologia http://angelinawittmann.blogspot.com.br/ desde 2013.

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O representante do governo alemão possuía planos para seus negócios privados e pretendia desenvolvê-los em terras brasileiras. Hermann Blumenau, como o denominaremos daqui para frente, nasceu em Hasselfelde – Ducado de Bruswick, no dia 26 de dezembro de 1819. Nesta época - início do Século XIX, boa parte do território em que hoje está localizada a Alemanha Foto2 – Mapa das Colônias Alemãs no Sul do Brasil 1905 – Kolonien pertencia aos franceses - Südbrasilien conquistado pelo exército Fonte: Wikipédia de Napoleão Bonaparte. Nesse período, o Sacro Império Germânico havia sido abolido. Em seu lugar foi criada a Confederação do Reno, que logo após foi dissolvida pelo Congresso de Viena e constituída em novas bases com o novo nome – Confederação Germânica – em 1815. Na Prússia – os Junkers (nobres) eram contrários a essa tentativa de unificação da Alemanha a partir da Confederação – formada por 39 estados soberanos, sem força política – inspiração austríaca. A Prússia (povo que enviou muitos imigrantes para povoar o Vale do Itajaí - pautada no ideário de Quasnay) assumia princípios absolutistas, com uma visão liberal baseada no desenvolvimento econômico acentuado, e o sul do território da atual Alemanha adotava em suas constituições o ideário conservador francês –

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 33 Artigos resquícios do exército vencedor no território em questão. Nesse cenário socioeconômico e político no território onde está situada a atual Alemanha, na primeira metade do Século XIX, nasceu o fundador da Colônia Agrícola Blumenau - Hermann Blumenau - filho de Karl Friedrich Blumenau (Chefe dos Guardas Florestais e Minas do Ducado) e de Cristiane Sofie Kegel. Hermann Blumenau ingressou na escola de Hasselfelde com a idade de 6 anos e permaneceu até quando tinha a idade de 10 anos - completados em 1829, quando ingressou em um Pensionato de Shoppeenstadt, na cidade de Grosswinnisgstedt. O diretor do pensionato era o Pastor Götting. Aos 12 anos de idade, Hermann Blumenau adoeceu e por conta disso, ficou com a audição comprometida e com sequelas para sempre - tinha dificuldades na audição. Em abril de 1832, ainda no Pensionato de Shoppenstadt, fez a Confirmação na Igreja Luterana. Algumas semanas depois, mudou-se para a capital do ducado para estudar na Escola Cathatinenseum. Em janeiro do ano seguinte - em 1842, Hermann Blumenau, com 23 anos, foi convidado para trabalhar em , na fábrica de produtos químicos da família Tromsdorff, por Christian Wilhelm Hermann Tromsdorff, filho de Johann Bartholomaeus Trommsdorff e de Martha Elisabetha Johanna Hover - avós maternos do naturalista Fritz Müller, que nesta época estudava em Berlim. Em 1842, na cidade natal de Fritz Müller, conheceu Alexander Von Humbolt, e também, conheceu o naturalista. Tinham em comum, o gosto pela profissão e tornaram-se amigos, além do que, Blumenau trabalhava na firma da família da mãe de Fritz Müller. Isso não foi muito divulgado pela história formal da cidade de Blumenau e também na grande Colônia Blumenau - atual Vale do Itajaí. Neste tempo, Hermann Blumenau começou a observar as questões naturais e despertou-lhe a curiosidade de conhecer a

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América, influenciado pelas novas amizades, em Erfurt - Humboldt e Fritz Müller. Foi um período que muitos alemães emigravam para a América do Norte e, em menor quantidade, para o Brasil. No final do ano de 1843, viajou para a capital da Inglaterra, à trabalho. Em Londres, conheceu o Cônsul Geral do Brasil na Prússia - Johann Jacob Sturz. A conversa foi longa Foto 3 – Johann Bartholomaeus Trommsdorff - renomado químico da com o diplomata brasileiro Europa e avô materno do naturalista na Prússia. Neste encontro, Fritz Müller Hermann Blumenau ouviu Fonte: Wikipédia atentamente, muitas histórias sobre o Brasil, desde narrativas sobre a natureza e muito da propaganda de que o governo brasileiro vinha fazendo na Europa, para atrair imigrantes para desenvolver e povoar, o quanto antes, o inabitado Sul do Brasil - há muito tempo, região cobiçada pela Espanha. Temia que esta região fosse tomada à força pelos vizinhos de língua espanhola - já haviam acontecido inúmeras tentativas - Escrevemos sobre as fortalezas de Nossa senhora do Desterro. Era sabido que o governo brasileiro não podia pedir auxílio a Portugal, país do qual acabara de se libertar, em 1822. Necessitava fortalecer os limites do sul e povoá-lo. Enquanto isto, na Europa acontecia algumas transformações sociais, econômicas e políticas. Fritz Müller comentou seu plano para Hermann Blumenau - que pretendia formar-se médico e exercer a profissão em um navio

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- juntando o útil ao agradável - através de seu trabalho à bordo e conhecer outros países, principalmente o Brasil - oportunidade de pesquisas inéditas. Após conversar com o diplomata brasileiro em Londres - Hermann Blumenau demitiu-se da fábrica de produtos químicos do tio de Fritz Müller e fez sua matrícula na Universidade de Erlangen, na cidade de Nürenberg - lembrando-se da ideia de Müller - que após formado, poderia trabalhar em um navio. Blumenau pesquisou muito sobre a imigração e a colonização no Brasil. Procurou conversar com brasileiros, pesquisou a história do Brasil e a movimentação migratória que aconteceu de sua região (Alemanha ainda não existia como país) para o Brasil. Em 1846, formou-se químico, mesmo não tendo terminado o ginásio. Químico não é um profissional que faz uso do título “Doutor”, como também há políticos na atualidade que se apropriam do título erroneamente. Doutor é um título conquistado mediante a conclusão e aprovação de um curso de Doutorado. Desta forma, não é correto e de direito o título que muitos empregam o nome do fundador de Blumenau.

Notícias do Brasil na Alemanha

Na década de 40 do Século XIX, chegavam notícias do Brasil na Alemanha. As notícias mencionavam a propaganda e promessas do Estado brasileiro, na Europa - Alemanha - aliciando pessoas que se mudassem para o Brasil para trabalhar e povoar o sul do país. As notícias chegantes do Brasil afirmavam que parte destas promessas não era cumprida e muitos ficavam em situações difíceis após a grande viagem. Atento aos “ecos” que chegavam do Brasil, relacionado à situação dos alemães emigrados, o governo alemão criou a

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“Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães” - Colonisation Vereins Hamburg - 1845/1846 - com sede em Hamburg. Oportunisticamente, com intenções claras de conhecer o Brasil pessoalmente e sem gastar muito, Hermann Blumenau candidatou-se a uma vaga de Agente Fiscal da “Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães”. Como representante oficial e munidos de cartas de apresentações, visitou colônias de imigração alemã nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande, além da capital do Brasil - Rio de Janeiro. Em abril de 1846 – com 27 anos, embarca a trabalho - como representante do governo alemão para o Brasil. Despediu-se de seus pais e embarcou no veleiro Johannes, no porto de Hamburg.

“Entre 1846 e 1850, Hermann Blumenau permaneceu no Brasil, onde buscou estabelecer relações com autoridades brasileiras que o ajudassem a realizar seus planos, mantendo-se em contato com políticos e empresários na Europa. Seu interesse maior era se envolver com um empreendimento de imigração e colonização alemã no país. Neste capítulo tratarei dos planos e estratégias de Hermann Blumenau em relação à imigração e colonização, retomando sua atuação tanto nos negócios do transporte de imigrantes quanto no projeto para criar um núcleo colonial no sul do Império brasileiro.” (Dissertação de Mestrado de Vanessa Nococeli)

Viajou por mais de dois meses e chegou no Rio Grande no dia 19 de junho de 1846. Visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrando sua viagem, através de algumas correspondências, aos seus pais - na Alemanha. Estas cartas são documentos históricos materiais que ilustram suas reais intenções - em visita ao Brasil. Ao contrário de verificar a situação de seus compatriotas no Brasil, e emitir um relatório apresentando dados ao governo prussiano, Hermann Blumenau fez contatos e pesquisas, visando

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Figura 4: Mapa Sul do Brasil – 1852 Fonte: Wikipédia montar o seu negócio de terras no Brasil. Nesta mesma época - a família de imigrantes alemães Wagner decidiu mudar-se para o Vale do Itajaí. Na ocasião, solicitou ao governo da Província de Santa Catarina, a “companhia de pedestres”, uma espécie de “segurança oficial” contra ameaça dos nativos - índios que viviam na região. Quando chegaram à região do Vale do Itajaí tomaram cuidado para oficializar a posse de terras a partir da concessão oficial. Em São Pedro de Alcântara, muitos ficaram desamparados, mediante o surgimento do verdadeiro proprietário, após terem assumido instalações e feito plantações em propriedades destinadas ao imigrante. As terras não era devolutas. Os Wagner´s tomavam cuidados e queriam segurança quanto à nova propriedade. Quando Hermann Blumenau escolhia o lugar para negociar

38 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos terras e a família Wagner e outras famílias de imigrantes de São Pedro de Alcântara chegavam à região, a política de posse de terras no Brasil estava mudando (1850). Após a independência do Brasil de Portugal, em 1822, a Lei de Terras (n°601 de 18 de setembro de 1850) foi a primeira a especificar o direito do proprietário - até então regido pela Lei de Sesmarias, que apresentava algumas irregularidades fundiárias formais e inexistia a prática de “compra e venda” de terras. A lei foi implantada coincidentemente no mesmo período da chegada dos primeiros imigrantes da Colônia Blumenau em Nossa Senhora do Desterro. A Lei de Terras estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias. Foi regulamentada no dia 30 de janeiro de 1854, pelo Decreto Imperial nº 1318. A partir de 1850, portanto, só poderia haver ocupação de terras por meio de compra e venda ou de autorização da coroa. Todos os que já estavam na terra receberam o título de proprietários, porém, tinham que residir e produzir na terra, ou ainda, àqueles que reivindicavam o título. Muitos foram os que correram aos órgãos como igrejas e reivindicaram as propriedades. Esta resumida explanação é para compreender o contexto das transações fundiárias na época que Hermann Blumenau chegou ao Brasil. Lembramos, ainda, que a Igreja Católica também desempenhava o papel de Estado nas localidades e isto explica, por exemplo, a fundação da cidade da Itajaí. O imigrante português Agostinho Alves Ramos mudou-se para a Foz do Grande Rio Itajaí e requereu ao Bispo do Rio de Janeiro a permissão para a fundação de um Curato que aconteceu no dia 31 de março de 1824. Curato é um termo religioso, derivado de cura, ou padre, que era usado para designar aldeias e povoados com as condições necessárias para se tornar uma paróquia. Esta controlava a distribuição de terra àqueles

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Figura 5: Caminho até a Foz do Rio Itahahi - percorrido pelos Wagner pelo mar. Mapa de 1828 - S. Sidney Fonte: Pelos caminhos-antigos que chegaram ao local antes de Hermann Blumenau - como por exemplo a família Wagner - que já residia no território da futura Colônia Blumenau. As terras dos Wagner pertenciam à jurisdição do administrador - estavam ligadas ao recém-criado núcleo de Belchior, cuja fundação fazia parte do projeto do governo provincial que visava distribuir terras na região aos novos imigrantes. Distribuir e não vender, como aconteceu na Colônia Blumenau, fundada após esta data. A demarcação das propriedades cobria toda área da foz do Rio Itajaí Mirim até o ribeirão Conceição (Vila de Gaspar), começando no Estaleiro das Naus, passando por Pocinho, Volta de Gaspar, Pedra de Amolar, Volta de Belchior, Arraial do Belchior, até Fortaleza. Lembramos também que moravam nas matas desta região, algumas tribos de povos nativos, que foram desconsiderados dentro da nova posse de terras vigente. Os Wagner receberam instruções de que quando estivessem

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Figuras 6 e 7 :Imagens do Google Earth – alteradas

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 41 Artigos subindo o Rio Itajaí Açu para encontrar suas terras, assim que ultrapassem a casa do último morador, se encontravam, então, em suas próprias terras. Neste tempo, não imaginavam que imediatamente acima às suas terras seria fundada a Colônia Blumenau e seria onde estaria o seu Stadtplatz, ou centralidade desta. As novas colônias não possuíam diretores e sua administração estava logada ao Juiz de Direito localizado em Santíssimo Sacramento de Itajaí. Como residentes destas colônias, eram aceitos todos os moradores locais e os estrangeiros sem impedimentos. Os chegantes recebiam terra de 350 a 730 metros de frente por 915 metros de profundidade. Nos primeiros tempos, a terra era cedida gratuitamente, isenta de impostos por 10 anos. Era proibido aos estrangeiros possuírem escravos, pois o Imperador brasileiro pretendia fazer a experiência agrícola com propriedades pequenas, possíveis de serem trabalhadas pela própria família. Mas não foi bem assim. Talvez daí surgiu a lenda do “embranquecimento” - absurdo diante da própria libertação dos escravos promovido pela Princesa Isabel - com o passar do tempo e que também por isto perdeu a coroa. Quando Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e demais imigrantes, e entre estes, seus familiares, desembarcaram às margens do Rio Itajaí Açu, encontraram brasileiros que já residiam no local há mais tempo e produziam açúcar. Eram eles, integrantes da Famílias Furtado e Mafra. Limparam o chão e prepararam ripas de palmito para a construção do primeiro rancho. Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e os demais homens fizeram um trabalho em suas terras, semelhante a este - derrubada da mata, roças e rancho provisório com material de palmito. Depois de instalados nas suas terras e com a vinda dos demais membros da família, Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e os homens construíram uma capela que batizaram de Nossa

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Figura 8: Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e os demais homens fizeram um trabalho em suas terras, semelhante a este - derrubada da mata, roças e rancho provisório com material de palmito. Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio do Sul.

Senhora da Conceição. Outro dado que imaginávamos ser importante para esta história foi o fato de que Hermann Blumenau ser maçom. Em algumas publicações dos locais, lemos que também o Imperador do Brasil, D. Pedro II, era maçom, embora esta afirmativa não seja confirmada oficialmente. Em 1847, quando montou um engenho de serrar, na Barra do Ribeirão da Velha, já era um membro da Maçonaria. Mencionavam na região do Vale do Itajaí de que Hermann Blumenau tornou-se maçom após a sua chegada para se aproximar da monarquia brasileira - questão também não confirmada. Há quem afirme e foi publicado na região de que talvez ofato de Hermann Blumenau ser maçom tenha facilitado algumas

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 43 Artigos de suas iniciativas em solo brasileiro e sua aproximação com o Imperador D. Pedro II. Repetimos, nada foi confirmado oficialmente. Buscaremos os registros locais sobre as ligações de Hermann Blumenau e Pedro II, que era filho de uma princesa austríaca e portanto, falava a língua alemã. Na década de 1847, o funcionário da Sociedade para a Proteção dos Imigrantes Alemães no Sul do Brasil - Hermann Blumenau na Figura 9 - Plaqueta fundida na Alemanha, sob coordenação dos companhia do balseiro - Ângelo Irmãos da Friedenspalme, em Dias visitou a família Wagner. comemoração à data de falecimento Esta respondeu a muitas de Hermann Blumenau - Fundador perguntas, como: As terras são da loja maçônica blumenauense. Na lapela da casaca de Hermann propícias ao plantio? Os alemães Blumenau há o distintivo da loja se adaptam bem? Há contato blumenauense, também feito na com o restante do mundo? Alemanha. O artesão que fez a plaqueta As crianças se desenvolvem? foi Max von Kawaczynski. Sobre ela tem a seguinte inscrição: “Herr. Bruno Como se mora? Como se vive? Otto Blumenau Dr. Phil. 25-12-1819 - Nada relacionado se foram bem 31 Okt 1899”, datas de nascimento e tratado em solo brasileiro, que morte do fundador da loja maçônica teria relação à sua missão. de Blumenau Friendenspalme. Fonte: A. H. José Ferreira da Silva A Família Wagner serviu, na ocasião, frutos da época colhidos na terra. E no decorrer das trocas, Blumenau anotou as informações. Seguiram Itajaí acima e retornou após dois dias,

44 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos partindo depois prometendo retornar. Após a partida de Hermann Blumenau, os Wagner´s e outros da comunidade subiram o Rio Itajaí Açú a fim de observar o local que Hermann Blumenau teve interesse, ao ponto de ter demonstrado desejo de assentar imigrantes alemães e fundar uma colônia agrícola. É interessante observar o teor de algumas passagens de correspondência narrativa dos locais, feitas por Hermann Blumenau aos pais na Alemanha - através de correspondências e perceber seu real foco durante a sua primeira visita à região Sul do Brasil.

“No dia seguinte, mandamos chamar um outro alemão, bem conhecedor da região - uma espécie de tropeiro - para conversar com ele sobre uma incursão ao interior, que eu pretendia fazer, indaguei sobre tudo que me interessava, tirando informações valiosas. Depois andamos pelos arredores, onde cheguei a conhecer muita coisa que me era novidade e que observei com grande interesse. A vegetação, particularmente, era para mim estranha novidade, as palmeiras, os arbustos de mamona, cactáceas da grossura de uma perna e com 12 a 6 pés da altura, ficus índica, uma outra qualidade de cactus aproveitada para sebes, enfim não sendo muito fértil a região, muita novidade apresentava para mim.”

“Bem do lado, onde atracava o vapor, encontrava-se uma charqueada, onde é preparada a carne-seca salgada, e onde estavam sendo secados os couros e procedido o aproveitamento da gordura. Tais charqueadas se estendem ao longo do rio, no percurso de duas horas, sendo que as maiores aproveitam, diariamente, 300, 400 e até 600 cabeças de gado. A vista e o cheiro dessas charqueadas são horríveis - sangue, ossos, carne apodrecida e peles, estômagos e intestinos em decomposição em toda parte, pesteando o ar. Os chifres, ligados ainda a uma parte dos ossos da testa são aproveitados para cercados, dentro dos quais são mantidos porcos e outros animais que, parcialmente se alimentam de sobras de carne. Onde quer que se pise, para onde quer que se vá, sempre o mesmo

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aspecto de sangue, estômagos apodrecidos e mau cheiro. Fiquei deveras contente quando de lá saímos, por mais interessante que o assunto fosse. Os proprietários dessas charqueadas, os “charqueadores”, são geralmente gente bruta, principalmente enriquecidos nos últimos tempos. Se a paz for restabelecida no país vizinho, para o que as expectativas atualmente são boas, o lucro torna-se-á menor, mas sempre ainda bastante compensador.”

“Mais tarde visitei ainda um negociante alemão, que me acolheu muito bem, tendo me oferecido pouso e um cavalo, dispondo-se a fazer uma excursão comigo. Andei depois por ali assim, tendo visto pela primeira vez, um lindo pomar de laranjeiras, que apresentava um esplendido aspecto, as árvores de ramagem escura e copa arrendondadas, onde apontavam as maravilhosas frutas que estavam justamente amadurecendo. É um belo espetáculo observar-se os pomos dourados, um perto do outro, às centenas! Os pés já produzem no seu quinto ano e consta que, já no décimo ano dão 4 a 6 mil frutas anualmente (Propaganda para os conterrâneos!). No interior me afirmaram que há laranjeiras de 8 polegadas de diâmetro de renderiam seus 4 a milhares de frutas por ano e teriam apenas 8 anos.”

“O proprietário também não estava em casa, mas sim a patroa e uma irmã dela, ambas chinas, ou índias, com olhos um tanto oblíquos, pele amarelada e cabelos pretos muito compridos. Como fosse domingo, estavam elas bem arrumadas, com vestidinhos bonitos e modernos, os cabelos penteados e bem trançados. Interessante era o contraste destes requisitos da civilização com a absoluta ausência de bons modos. Uma delas puxou as pernas, com a maior naturalidade, para cima do banco, encostando o queixo nos joelhos, enquanto a outra, penteando uma criança, falava com o meu companheiro ao mesmo tempo que, com o pente, palitava os dentes. Lá tomei pela primeira vez o chá mate (erva mate) a folha de um arbusto em forma de árvore, a qual é torrada e socada. Sobre certa porção desta erva, se põe água fervendo (e açúcar quem quiser), sugando-se o líquido através de um canutilho de folha de Flandes, ou ouro, que termina em uma pequena bola perfurada, que se coloca dentro do chá. De início é fácil queimar-se a boca, como a mim aconteceu, mas depois saboreia-se com gosto esse chá e também sem açúcar, o qual, segundo se diz,

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muito mais saudável. É preparado sempre na casca de uma pequena abobora garrafa, do tamanho de uma mão fechada, às vezes enfeitadas com lindas decorações de prata. Suga- se enquanto tiver chá. Depois, vem uma negra, pega a cuia, e despeja nela novamente água fervente e assim a cuia continua a rodar não se devendo limpar, de maneira nenhuma, a bombilha, mesmo tendo saído, talvez, da boca de um vizinho bastante sujo, porque isto seria interpretado como ofensa. Quando o mate perde o gosto, é jogado fora e coloca-se nova porção de erva.”

“A propriedade é muito bonita, um quarto de légua quadrada, totalmente cercada de laranjas e outras frutas. Mandei pedir informações pelo valor aproximado da mesma, obtendo a resposta que, ao preço de 12.000 dólares (18.000 Thalers) estaria certamente à venda. Seria uma propriedade para um agricultor abastado (Interesse nos negócios de terras). Fica à seis horas de viagem da cidade e do porto de Pelotas, margeada de boa estrada. Lá encontrei, por primeiro, as variedades de laranjas (ou da nossa “Apfelsine”, de casca alaranjada), das quais existem diversas espécies de tamanhos e gostos diferentes, assim como acontece com nossas maçãs. Tem aqui, uma laranja lima, de casca amarelo-claro, cor de limão, doce, mas um tanto insonsa, a lima de umbigo e a bergamota (da qual se obtém o óleo de bergamota) que também é doce mas nada de gosto especial. As limas são inferiores às laranjas no gosto, mas tem a vantagem da produção durante todo o ano, enquanto a laranja é apenas de seis meses. Depois há o limão, do qual também existem várias qualidades, alguns bem maiores e bastante mais ácidos do que o nosso limão, e por fim as qualidades azedas (cidras) que na Alemanha, chamamos de “Pommeranza” ou laranja azeda. Havia ainda outras árvores frutíferas, como figos, pêssegos, pinheiros, (que dão uma qualidade de nozes) como ainda cana de açúcar, batatas, etc. (Vegetais que vi ali pela primeira vez). Além disso havia uma porção de arbustos floridos, mesmo sendo inverno na época, principalmente uma espécie de acácia de flor grande purpúrea quase escarlate. Foi uma pousada agradável, aumentada ainda pela gentileza simples e agradável, mas de grande dignidade, daquela gente.”

“Fomos recebidos com a mais gentil cordialidade, e fizemos passeios de reconhecimento pela região e pela

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fazenda, tendo eu recebido muitas informações sobre produtos agrícolas, agricultura, valor das propriedades, etc., sobre o que escreverei em outra ocasião. Depois de um sólido almoço, com muita e boa carne, mas sem pão que era substituído por farinha de mandioca, entramos na mata e dirigimo-nos a diversos ribeirões onde, segundo consta, teriam sido encontrado minérios (de ferro), os quais eu queria examinar. Não encontramos nada do gênero, mas vi diversas flores lindas e árvores e outras coisas interessantes, de maneira que o tempo passou depressa demais. Os curso dágua naquela região contem todos eles ouro, e, em vários pontos tanto que um homem pode ganhar de um a três ducados diários.”

“Foi lá que vi, também pela primeira vez, abelhas nativas que fazem os ninhos nas selvas, onde são apanhadas. Não tem ferrão, são menores que as nossas abelhas e, nem de longe, tão agressivas. Fazem os ninhos em partes ocas de troncos de árvores: as células são grandes, como avelãs e a cera é escura e um tanto mole, sendo o mel fino, mas saboroso. Para obter-se o enxame, derruba-se a respectiva árvore, serrando-se depois o tronco dos dois lados da cavidade, rachando-se em seguida o bloco para tirar o mel e a cera. Depois, junta-se e amarra-se novamente as duas partes, e tapa-se tudo com barro, deixando-se apenas uma pequena abertura. Nestes blocos pendurados, as abelhas voltam aos ninhos antigos, onde produzem novamente. O processo é muito primitivo. A apicultura metódica, na forma que se faz com abelhas europeias, deveria dar bons resultados.”

“No dia seguinte, visitei uma fábrica de sebo nas proximidades, por cujo proprietário, um francês, fui muito bem recebido e que me mostrou as instalações, tendo conversado com ele sobre tudo que se pode ali empreender, ainda. O homem havia iniciado, fazia cinco anos, com pouco recursos e, através de muito trabalho e empenho, possui agora, uma grande fábrica com 25 escravos. Ele deu-me esperanças para um empreendimento químico, convidando-me, também, para fazer o necessário estágio no seu estabelecimento, para o caso de eu resolver voltar a Pelotas para estabelecer-me ali.” “Aqui, no Rio de Janeiro, a hospitalidade anda danadamente escassa; Todas as minhas recomendações

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serviram-me de quase nada. Tendo de gastar, assim, muito dinheiro, pretendo afastar-me, o mais depressa possível. Em convites para a mesa, sem se fala, o que mesmo não é possível, porque quase todas as famílias (estrangeiras) moram longe, por vezes duas horas de distância do centro, e só aqui chegam para cuidar dos negócios, voltando logo depois. O Sr. H. Fröhlich, para cujos filhos eu trazia cartas, sem procurei, porque ele, segundo consta, parece ser um homem bastante original. Simples jornaleiro antigamente em Brehmen, estaria ele aqui hoje muito rico, pelos próprios esforços, mas de maneiras bruscas e insultuosas, muitas vezes, tendo eu sido advertido de não procurá-lo, para poupar-me de aborrecimentos. A filha (no endereço ainda “Fräulein” é agora Madame Emília, recebeu-me muito bem em companhia de seu marido e de um primo, morando eles também uma meia hora de viagem distante da cidade. As cartas de recomendação, desta maneira, com exceção de alguns bons conselhos, que de fato me valeram, nada de positivo resolveram para mim. Travei, entretanto, outros conhecimentos com pessoas que se empenharam bastante por mim, apoiando-me no desempenho de meus objetivos. Encontrei aqui, aliás, uma família com a qual pretendo estreitar relações, onde fui muito bem recebido, se ter sido recomendado. O chefe desta família é um comerciante hamburguês, Sr. Bahre, homem muito inteligente, se bem que excêntrico, que veio para cá com os mesmo objetivos que eu, isto é colonização. A amabilidade calma da esposa é o equilíbrio para as adversidades criadas pelo caráter do marido. Esta família pretende estabelecer-se em Pelotas ou Montevideo e, possivelmente, eu os acompanharei, tanto mais quanto o Sr. Bahre me fez propostas para um empreendimento em comum, caso não sejam realizáveis os nossos objetivos de colonização.”

“Na província do Rio Grande, a hospitalidade é muito grande, podendo-se viajar durante meses sem fazer gastos, além de alguns talers em milho para os cavalos. É tido como ofensa oferecer-se pagamento em uma propriedade onde se comeu, bebeu e pernoitou. Quem é dedicado às crianças, pode contar com o mais sincero acolhimento, mesmo para uma permanência mais prolongada. Se eu, portanto, me decidir a fazer viagens de sondagem ao Rio Grande, às despesas serão mínimas. O que se conta aí de animais selvagens e cobras também não é tão assustador.

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Quem quiser ver uma onça, ou um tigre, vivos nas selvas, deverá mesmo caça-los, pois evitam timidamente o homem, atacando mesmo só quando muito famintos, ou então quando feridos.”

“É interessante que não é atacado o branco, quando este se encontra em companhia de um negro, que então será cobiçado. Com as cobras o caso, igualmente, não é tão grave como supõe. Consta que há muitas, segundo alguns dizem, mas as mordidas são relativamente raras, porque as cobras são medrosas e fogem, se tiverem alguma oportunidade. (Seguem considerações sobre o assunto, como também da calamidade dos mosquitos, etc. Anotação na cópia da carta da qual foi feita esta tradução.) No Rio Grande estas calamidades são menores, e no inverno, em que estamos pouco se percebe das mesmas. Mas mesmo que fossem um pouco mais graves, a terra e o clima pelo menos no Rio Grande, ao qual sempre se voltam os meus pensamentos, são tão excelentes que se pode suportar também algumas adversidades.”

“Além disso, há minérios e carvão, ouro, comércio e bons salários. Poderia existir terra melhor para os alemães? Só talvez, um pouco mais de fé e boa vontade da parte do governo. Em Montevideo, o clima é mais frio, mas saudável da mesma maneira. Com a paz restabelecida, consta que muitos alemães pretendem transferir-se para lá, onde há mais justiça que aqui. O trigo da ali muito bem, que antigamente se cultivou com muito sucesso no Rio Grande, onde, desde uns 20 anos passado, é atacado pela “ferrugem”, não dando mais lucro, foi substituído pelo plantio de outros cereais além do milho, batatas, mandiocas, etc.”

“Caso eu não consiga nada no Rio Grande, irei, provavelmente com o meu projeto de colonização a Montevideo, para onde já tenho propostas da parte de um espanhol rico, mas cujas bases ainda não estudei bastante. De qualquer maneira, contanto que a minha vista permaneça boa, poderei eu arrumar aqui o meu futuro, podendo afirmar desde já, que jamais arrepender-me-ei de ter vindo para cá, contanto que eu possa preservar a saúde. (Segunda a cópia de onde foi feita esta tradução, à carta seguiam conselhos para os sobrinhos Gaetner e Kegel,

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caso quisessem emigrar para o Brasil).”

Estes são trechos da primeira carta do fiscal da “Sociedade de Proteção aos emigrados Alemães”, que veio a Brasil a trabalho para checar as denúncias de maus tratos e não comprimento de acordo e contratos sofridos pelos imigrantes alemães, que chegavam à Europa - Hermann Bruno Otto Blumenau. Esta terminada de ser escrita no dia 5 de agosto de 1846. A carta ilustra o trabalho privado e pesquisas efetuados por Hermann Blumenau. Nesse tempo, ouviu alguns conterrâneos seus no Sul do Brasil, pesquisou possibilidades de negócios e fez contatos. Após, seguiu para a capital do Brasil - a cidade do Rio de Janeiro. Permaneceu na cidade do Rio de Janeiro, por aproximadamente 8 meses, igualmente efetuando estudos e contatos. Neste tempo, articulou e procurou conhecer toda a tramitação para efetivação da imigração e colonização de terras, bem como suas vantagens e desvantagens. Estudou clima e a geografia de algumas províncias do Brasil.

Legislação

Em abril de 1847, Hermann Blumenau embarcou para Nossa Senhora do Desterro, capital da Província de Santa Catarina, de onde visitou a Colônia de São Pedro de Alcântara, primeiro núcleo de imigrantes alemães na Província, fundada em 1829. Neste momento, Blumenau ouviu pela primeira vez falar da região do Vale do Itajaí, onde já viviam algumas famílias que estavam em São Pedro de Alcântara e, como já mencionamos, visitou a região e foi recebido na casa da família Wagner - localizada onde atualmente está o atual bairro de Blumenau Vorstadt. Em Desterro, Blumenau recebeu um requerimento datado

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 51 Artigos de 26 de março de 1848 - elaborado pelo Presidente da Província, Marechal Antero. Hermann Blumenau tornou-se o procurador da concessão, com a qual receberia terras às margens do Rio Itajaí Açu. Receberia sem envolver “compra”. O Marechal Antero - Presidente da Província, em um primeiro momento, recebeu muito bem a proposta de Hermann Blumenau e, pessoalmente, foi favorável, emitindo um ofício externando sua

Figura 10 - Plaqueta fundida na Alemanha, sob coordenação dos Irmãos da Friedenspalme, em comemoração à data de falecimento de Hermann Blumenau - Fundador da loja maçônica blumenauense. Na lapela da casaca de Hermann Blumenau há o distintivo da loja blumenauense, também feito na Alemanha. O artesão que fez a plaqueta foi Max von Kawaczynski. Sobre ela tem a seguinte inscrição: “Herr. Bruno Otto Blumenau Dr. Phil. 25-12-1819 - 31 Okt 1899”, datas de nascimento e morte do fundador da loja maçônica de Blumenau Friendenspalme. Fonte: A. H. José Ferreira da Silva

52 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos opinião, aprovada facilmente na Assembleia Legislativa e acompanhada de um projeto de Lei para ser sancionada. O Projeto tinha 9 artigos. O 1° Artigo concedia glebas de terras, duas partes cada uma com 24 a 28 quilômetros de largura, à Sociedade Protetora dos Imigrantes Alemães. Seria um suborno? No Artigo 2°, a Sociedade poderia escolher Figura 11: A nova Residência de Leopold as terras concedidas entre as Franz Hoeschl – comerciante da Indaial - foi projetada por seu genro, o terras devolutas, podendo Engenheiro Arquiteto Albert Weitnaeur dividi-las entre os imigrantes. e a família se mudou no ano de 1915. Hermann Blumenau comer- A nova residência Hoeschl estava cializou as terras e fez surgir localizada na esquina da Alameda Rio Branco com a Rua Dr. Luiz de Freitas o mercado fundiário pela Melro - Blumenau. primeira vez na Província de Santa Catarina - fazendo surgir a maior ou menor valo- rização fundiária e sua estruturação dentro de todo o território, de acordo com a localização. Hermann Blumenau “disponibilizava/ vendia os lotes coloniais de acordo com a importância ou ofício da família requerente - desta forma setorizando a grande área da Colônia Blumenau. Comprova esta questão o fato de que muitos daqueles que adquiriram terras junto ao Stadtplatz e seus descendentes, não aceitavam amigavelmente serem chamados de colonos - o que de fato o eram - pois adquiriam um lote colonial do fundador, e também

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 53 Artigos necessitavam trabalhar na terra, só que junto à centralidade. Quem não possuía um ofício, geralmente recebia uma gleba de terra longe do Stadtplatz (centralidade), entre outros quesitos de escolha. Com o passar do tempo de história - percebe-se isto, quando lideranças de nucleações afastadas da centralidade da colônia, melhoravam sua situação econômica através da prática comercial dentro da colônia e desta para outras regiões, - buscavam adquirir uma propriedade na centralidade de Blumenau, mais precisamente na Alameda Rio Branco. Também é importante destacar que a família imigrante adquiria seu lote colonial e, depois da aquisição, precisava derrubar a mata, construir galpões e a casa temporária, fazer plantações e nas suas horas de folga, junto com os vizinhos e na forma de mutirão, construir toda a infraestrutura básica necessária na localidade,

Figura 12: Alameda Rio Branco - 1966 Acervo: Laerte Tavares

54 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos como estradas, pontes, escola, igreja, entre outros. No Artigo 5° ficava proibida a entrada de escravos, não somente às terras concedidas à Sociedade, como às demais. As primeiras famílias residentes na região tinham escravos. O balseiro

Figura 13: Primeiras Casas Fonte: Arquivo Histórico Jose Ferreira da Silva de Pedro Wagner era seu escravo. A intensão de Hermann Blumenau e do Presidente da Província não teve êxito. Houve opiniões divergentes à transformação do projeto em lei e não foi sancionado.

“Foi constituída, na Assembleia, uma comissão especial, que, concordando com o modo de ver do Presidente, acrescentou um substitutivo ao projeto. Entretanto, também este substitutivo não logrou passar em segunda votação. Por essa razão, o Secretário da Assembleia, com a aprovação desta, encaminhou ao Presidente Antero um

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ofício comunicando ‘que a Assembleia Legislativa rejeitou o projeto de lei sobre a colonização proposta pelo Sr. Blumenau, como representante da Companhia Protetora dos Imigrantes Alemães no Sul do Brasil, estabelecida na cidade Hamburgo, e julgando a mesma Assembleia que V. Excia, pelas disposições dos decretos provinciais n° 49, de 15 de janeiro de 1836 e n° 79, de 2 de maio de 1839, está autorizado a entrar em contato com qualquer particular, ou companhia que empreenda a colonização da Província, espera que V. Excia, o fará com o sobredito Blumenau...’” (José Ferreira da Silva em - História de Blumenau - página 36)

Hermann Bruno Otto Blumenau, estava recebendo doação de terras em nome da Sociedade Protetora, a qual estava como representante no Brasil para seu negócio privado. Mas não se concretizou. O que fazer? Os planos mudaram e Hermann Blumenau oportunamente fez sociedade com o comerciante de Nossa Senhora de Desterro, imigrante alemão, Ferdinand Hackradt. Precisava de alguém no local que defendesse seus interesses, quando estivesse na Alemanha, concluindo as providencias necessárias para retornar com os primeiros imigrantes para sua colônia e de maneira definitiva. A Firma foi chamado de Blumenau e Hackradt - Firma particular de agricultura e indústria - na forma de uma colônia agrícola. O Marechal Antero, em um primeiro momento, concedeu terras nas imediações do Ribeirão Garcia - cerca de uma gleba de terra, aumentada no decorrer do tempo, atingindo a área de 150000 jeiras ou 378.000.000m². Ficou acertado entre os sócios que, enquanto Blumenau estivesse na Europa para buscar os imigrantes, Hackradt permaneceria nas terras escolhidas, preparando o local, construindo ranchos, efetuando plantações e preparando o local para as primeiras acomodações dos colonos. Os vizinhos locais acompanharam toda esta movimentação com grande expectativa e também com

56 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos auxílios, quando necessário. Ferdinand Hackradt foi para a região do local da colônia agrícola, na companhia de 5 escravos, adquiridos junto ao administrador de Itajaí (contrariando a lei vigente de que imigrantes não poderiam possuir escravos). Iniciaram a construção de ranchos, roças e engenhos no local onde atualmente está a foz do ribeirão da Velha, próximo à Prefeitura Municipal de Blumenau atual. Hermann Blumenau retorna para a Alemanha, e ao contrário de narrar as questões não muito satisfatórias envolvendo seu conterrâneos - nas colônias alemãs no Brasil, propaga as “vantagens” de vir para o país. Na foz do Ribeirão Garcia e na região onde residia a família Wagner e outras famílias, se encontravam entusiasmados, diante da perspectiva da fundação de uma colônia alemã. Enviaram, também, homens de Belchior para contribuir com os trabalhos, pois tinham interesse no êxito do projeto, que era assunto permanente em toda a região. Não durou muito tempo, o auxilio e a troca entre o sócio de Blumenau e os residentes da região. Houve diferenças e incompatibilidade com o método adotado pelo sócio de Hermann Figura 14: Carl Franz Albert Hoepcke - Sobrinho do ex sócio de Hermann Blumenau Blumenau. Com o Fonte: Wikipédia passar do tempo, a

Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 57 Artigos empreitada quase foi abandonada. Do projeto original restou um rancho, um engenho de serra semiacabado. Sem plantações e a sociedade desfeita. Por que isso? Hermann Blumenau levou dois anos para retornar à região, da Alemanha. Hackradt retornou para seus outros negócios em Nossa Senhora do Desterro. Comunicou ao sócio, por carta, que estavam saindo da sociedade. Nesta correspondência disse que o engenho construído na foz do Ribeirão da Velha estava ameaçado de ser carregado pela enchente e as tábuas serradas alcançavam preço muito baixo. Esta questão atestava que já existia um pequeno comércio na região, antes da chegada dos pioneiros que fundaram a Colônia Blumenau. Após um trabalho intenso de propaganda na Alemanha, Hermann Blumenau conseguiu reunir um pequeno grupo de pessoas para emigrar para o Vale do Itajaí. O embarque do grupo aconteceu no mês de junho de 1850. Depois de 84 dias de viagem, chegaram no Rio de Janeiro. No veleiro, Blumenau trouxe mudas de roseiras e árvores frutíferas. Para registro: Mais tarde, o sobrinho de Hackradt, Carl Franz Albert Hoepcke, que tinha vindo com uma leva de imigrantes para a Colônia Blumenau, foi aconselhado pelo tio a não permanecer na colônia e este foi trabalhar com ele, em Nossa Senhora do Desterro. O grupo viajou da Alemanha para o Brasil com o Veleiro Christian Mathias Schröder. No Brasil, Hermann Blumenau veio na frente do grupo e encontrou o local da foz do Ribeirão da Velha abandonado. Neste, estavam velhas cabanas com um velho escravo paralítico e uma escrava, sua companheira. Também, tinha um engenho de serra que não funcionava - e que foi adquirido posteriormente pelo Pastor Stutzer - importante na narrativa desta postagem. Não havia plantações, somente um pasto com algumas

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Figura 15: Chegada dos primeiro 17 imigrantes alemães para fundar a Colônia Blumenau - Foz do Ribeirão da Velha - Passaram pela propriedade de Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e família Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva vacas. A família Wagner e vizinhos acompanharam a chegada ao local dos 17 imigrantes alemães de um montante de 250 que viriam para iniciar a colônia de Hermann Blumenau. Em um primeiro momento, a família Wagner negociou com o Gärtner, sobrinho de Blumenau, que abrira um pequeno negócio. Cedeu-lhe 11 sacos de farinha, 3 barris de melado. Tiveram relações estreitas e faziam visitas de maneira constante para trocas de experiências e também de mudas e sementes. A história formal não destaca muito estas relações. Com a fundação da nova colônia alemã, vieram novos

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Figura 16: Mapa da Região - 1958 profissionais e os Wagner’s e vizinhos passaram a ter mais suporte. O agrimensor Julios Ritscher, por exemplo, mediu as terras de Johann Peter Wagner / Pedro Wagner e as legalizou junto à Colônia Blumenau. Passou a fazer parte do Distrito da nova Colônia Blumenau e ficou delimitada com quatrocentos braças de frente com mil braças de profundidade - uma braça equivale a 1,8288m. Este era o quadro existente, quando chegaram na foz do Ribeirão da Velha o sobrinho de Hermann Blumenau, Reinold Gärtner, e os primeiros 16 moradores da Colônia Blumenau que simbolicamente surgia neste momento. Nos primeiros tempos, a data de fundação de Blumenau

60 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos era comemorada no dia 28 de agosto de 1852, sendo que seu 25° aniversário foi comemorado no dia 28 de agosto de 1877.

Os Primeiros 17 trazidos por Hermann Blumenau

1. Reinhold Gaertner - 26 anos de idade, solteiro, natural de Brunsvique, sobrinho de Hermann Blumenau; 2. Franz Sallenthien - 24 anos, solteiro, lavrador, também natural de Brunsvique; 3. Paul Kellner - 23 anos, solteiro, lavrador, igualmente de Brunsvique; 4. Julius Ritscher - 22 anos, solteiro, agrimensor, natural de Hannover. 5. Wilhelm Friedenreich - com 27 anos de idade, alveitar, natural da Prússia, casado com ... 6. Minna Friedenreich - 24 anos de idade, possuindo o casal os seguintes filhos; 7. Clara Friedenreich - com 2 anos de idade; 8. Alma Friedenreich - com 9 meses. 9. Daniel Pfaffendorf - 26 anos de idade, solteiro, carpinteiro, natural da Saxônia; 10. Friedrich Geier - 27 anos de idade, solteiro, marceneiro, natural de Holstein; 11. Friedrich Riemer - 46 anos de idade, solteiro, charuteiro, natural da Prússia. 12. Erich Hoffmann - 22 anos de idade, ferreiro, funileiro, também da Prússia; 13. Andreas Kuhlmann - 52 anos de idade, ferreiro, igualmente da Prússia, acompanhado da esposa; 14. Johanna Kuhlmann - 44 anos de idade, e das filhas; 15. Maria Kuhlmann - 20 anos de idade;

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16. Christine Kuhlmann - 17 anos; 17. Andreas Boettcher - 22 anos de idade, solteiro, ferreiro, natural da Prússia. Os primeiros imigrantes eram da religião protestante luterana. Logo que aportaram, iniciaram a construção de novos ranchos, fizeram derrubadas, limpezas de terrenos e plantações. Desde que chegaram, contaram com o apoio de famílias residentes na região. Destas também era - 17 - as famílias de imigrantes

Figura 17: Limpando o terreno Fonte: Arquivo Histórico de Rio do Sul alemães - viviam nas localidades de Pocinho e Belchior, distante de aproximadamente, somente 4 quilômetros, Rio Itajaí Açú abaixo, da sede da nova colônia -Stadtplatz. Os antigos moradores da região - que já residiam no local - como os Wagner’s, que acompanharam a chegada dos 17 imigrantes alemães - como anteriormente comentado, auxiliaram os chegantes

62 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos com dicas e adaptações locais, por já estarem há mais tempo na região - pelo menos 4 anos. Estes já possuíam propriedades próprias com hortas, pomares, vacas, porcos e galinhas. Alguns nomes de famílias, residentes na Colônia São Pedro de Alcântara, tinham membros residindo na região do Vale do Itajaí. Estes foram de grande auxílio e apoio aos 17 primeiros pioneiros da Colônia Blumenau. Alguns dos nomes de membros destas famílias - no Vale do Itajaí: Georg Schmidt, Ludwig Werner (roceiros); Johann Händschen e o belga Jacob Villain (Ferreiros); Georg (Pai de Peter Wagner) Wagner, Ludwig Wagner, Antonio Händschen, Josef Sesterheinn, Peter Lukas, Nikolau Deschamps, Joaquim Antônio Amorim, Jacinto Miranda, Marcelino Dias, Valentim Theiss, auxiliaram em tudo um pouco. Hermann Blumenau além de juntar sua voz às propagandas do governo brasileiro no território da atual Alemanha - vendia os lotes coloniais às famílias que chegavam e fez surgir pela primeira vez na província e o negócio fundiário. Entre todos, escolhemos dois casos para ilustrar seu perfil implacável de negociante de terras. Hermann Blumenau foi proprietário da Colônia Blumenau por 10 anos. Vendeu-a ao Império brasileiro, em 1860. Hermann Blumenau Figura 18: Hermann Blumenau assinou o termo de cessão da

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Colônia Blumenau ao Governo Imperial do Brasil e entregou as terras que possuía no Vale do Itajaí - era aproximadamente 20 léguas quadradas. As terras foram avaliadas em 120 contos de réis. Desse total, o Império retirou 85 contos de dívidas e pagou 30 contos, considerando que Hermann Blumenau recebeu 5 contos adiantados. Hermann Blumenau continuou como diretor da colônia - funcionário público e recebia um bom salário mediante a realidade local da época - 4 contos de réis por ano (mais de 40 mil reais - ao mês - no valor atual). Isso até Blumenau tornar-se município em 1880. Para entender: 1 Real (Réis) - R$ 0,123 1 Mirréis (Mil Réis) - R$ 123,00 1 Conto de Réis (Mil mirréis) - R$ 123.000,00

Família Müller

Lembram-se da família Müller - com a qual Hermann Blumenau teve contato em Erfut? Fritz Müller, colega de Hermann Blumenau na Alemanha, foi convencido pelo negociante a se mudar para sua colônia no Brasil. E no Brasil, politicamente, Hermann Blumenau usou sua influencia e transferiu o professor Fritz Müller para Nossa Senhora do Desterro, por incompatibilidade com suas ideias livres. Não somente isto.

Relembrando...

Os Müller partiram da Alemanha no dia 19 de maio de 1852. Estavam na viagem, Fritz Müller, a esposa, sua filha mais velha e seu irmão. Embarcam em Hamburgo para o Brasil, para o

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Figura 19: Colônia Blumenau Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva

Vale do Itajaí - Colônia Blumenau. A família Müller chegou à costa brasileira no dia 19 de julho, e na Colônia Blumenau no dia 22 de agosto de 1852. O comerciante de terras Hermann Blumenau vendeu para os dois irmãos Müller, os lotes com valores mais caros que aqueles vendidos aos demais colonos no Vale do Garcia. Será que pesou o poder aquisitivo da família Müller na Alemanha - pois Hermann Blumenau trabalhava para a família materna de Fritz Müller. Observar o quadro onde tem listados, compradores, terrenos e valores. Outra história que mostra o perfil de Hermann Blumenau como negociante de terras na Colônia Blumenau - a história com o Pastor Luterano Gustav Stutzer - irmão do ex-prefeito de Blumenau, Otto Stutzer . O Ribeirão da Velha, por sua importância, foi muito

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Figura 20: Do livro - História de Blumenau de José Ferreira da Silva - 2.ed Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau - 1988. - 299p considerado e respeitado pelos primeiros pioneiros na região. Foi espacializado no importante mapa da Colônia Blumenau de 1864. Antes de Hermann Blumenau chegar à região da Colônia Blumenau - em 1850 - residiam nessa região do bairro da Velha, a família de Silva Guimarães desde 1844. Venderam suas terras a Hermann Blumenau, em 1879. Mais tarde, Blumenau revendeu ao pastor alemão luterano Heinrich Albert Friedrich Gustav Stutzer - ou Gustav Stutzer - em 1885. (Este nascido em Seesen - Harz no dia 30 de janeiro de 1839). O pastor Stutzer veio para a região, como outras tantas

66 Rio Sul - RIO DO SUL - TOMO XXI N. 5/6 NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2019 Artigos famílias, e sua propriedade tinha as mesmas características das propriedades locais - na segunda metade do Século XIX e início do Século XX, quase autossuficientes. Produziam: leite e seus derivados, grãos, farinhas, legumes e verduras, frutas e derivados dessa produção em produtos beneficiados nas propriedades, como compotas, geleias, doces, etc. O Pastor Gustav permaneceu na região por somente dois anos - até 1887, Figura 21: Pastor Heinrich Albert Friedrich Gustav Stutzer pois não conseguiu pagar o preço ajustado e a propriedade retornou para Hermann Blumenau, após um longo processo judicial.

Os Stutzer retornaram para Alemanha.

Na Alemanha, antes de vir para o Brasil, o Pastor Stutzer já havia iniciado um trabalho junto à igreja luterana da cidade de Neuerkerode para fornecer apoio a pessoas deficientes físicas e mentais - que ainda existe nos dias atuais - Evangelische Stifung Neuerkerode. A instituição já comemorou os 150 anos de fundação. Pastor Stutzer faleceu na Alemanha com 83 anos, no dia 21 de março de 1921, na cidade de Heidelberg. Como mencionamos,- o Pastor Gustav Stutzer era irmão

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de Otto Stutzer - personalidade da história de Blumenau, Prefeito de Blumenau em 1895. Também, ambos éram irmãos de Albert Stutzer. O fundador de Blumenau, Hermann Bruno Otto Blumenau, após desarranjos políticos e os negócios que não saíram como suas expectativas, deixou a Colônia Blumenau e retornou para a Alemanha definitivamente no dia 15 de agosto de 1884. Viveu em Figura 22: Hermann Blumenau – dias - Baixa Saxônia. antes de falecer Foto: Arquivo Histórico Ferreira da Em outubro deste Silva mesmo ano, 1884, Hermann Blumenau é nomeado agente oficial da Colonização Brasileira em Hamburg. Faleceu no dia 30 de outubro de 1899, na cidade alemã Braunschweig. Viveu, portanto, mais 15 anos na Alemanha. Neste ano de 2019 - completou-se 200 anos do nascimento do primeiro negociantes de terras do Vale do Itajaí.

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Referências

Publicações da Revista Blumenau em Caderno. SILVA, José Ferreira da. O Doutor Blumenau -2.ed. - Florianópolis : EDEME : Paralelo 27, 1995. - 103 p. :il.

SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. J. Ferreira da Silva. -2.ed. - Blumenau : Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. - 299 p.

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