em direção ao interior. Depois de três dias de inauditos esforços alcançaram a foz dos ribeirões Garcia e Velha, onde acamparam. Tinham navegado cerca de oitenta quilômetros. , deixando Hackradt no acampamento da barra do “Velha”, aventurou-se mais ainda para o interior. Subiu o rio até a confluência com o rio Itajaí Norte, conhecido, hoje, como rio Hercílio, navegando cerca de cem quilômetros além do acampamento onde ficara o sócio. Blumenau encantara-se com a opulência, fertilidade das terras banhadas pelo grande rio, matas luxuriantes e virgens que cobriam enormes extensões, cortadas, de espaços em espaços, por outro rios e ribeirões que vinham Uma reprodução, certamente do original, contida em folha desaguar no Itajaí-Açu. inteira, entre as págs. 256 e 257 da obra “ Brasilien und die Decidiu colonizar essas terras, localizadas às margens do deutsch-brasilianische Kolonie Blumenau. autor Wettstein - Impressa em Leipsig - Verlag von Friedrich Engelmann 1907. rio Itajaí-Açu, a 50 km do litoral e, de regresso, obteve do A estampa está registrada como Tafel XXVIII - e contém a Presidente da Província, uma concessão de duas léguas seguinte legenda: «Ruhende “ Truppe “ (maultierkarawane) quadradas a partir do ribeirão Garcia. Após tomar algumas auf dem Hochland von Südbrasilien ». Nada mais contém. providências para o início do estabelecimento, Camplager, termo que foi utilizado para indicar o lugar da construindo uma serraria e alguns ranchos, partiu para a tomada da foto, é certamente um misto de língua alemã com Alemanha, em setembro de 1849, busca de colonos. portuguesa. “ CAMP - LAGER “, onde Camp - Em 2 de setembro de 1850, desembarcaram na barra do significando campo - ou planalto serrano. Já Lager, no caso, “Velha” os primeiros dezessete imigrantes, contratados significa acampamento. Portanto acampamento no planalto por Blumenau, que tinham feito a travessia de Hamburgo serrano. A tradução da legenda original em língua alemã supracitada é: Tropa em descanso (Caravana de Mulas) nas a Itajaí em 72 dias. Data daí a fundação da colônia, que terras altas (planalto serrano) no sul do Brasil. seria o berço da cidade de Blumenau. As terras foram divididas em pequenos lotes; geralmente COLÔNIA BLUMENAU: de 200 metros de frente por mil de fundos e, à medida que CORRESPONDÊNCIA DE IMIGRANTES iam chegando os colonos, entregava-os a cada família NO SÉCULO XIX por um preço módico. Os primeiros 14 lotes, demarcados à margem do ribeirão Garcia, foram vendidos por preços Paulo Comelli que variavam entre 7$500 a 12$000 cada. Em poucos anos, em função da propaganda que o fundador desenvolvia na Alemanha e pelas correspondências enviadas pelos Em 19 de julho de 1846 o veleiro “Johannes” aportou ao imigrantes aos parentes no Velho Mundo (o grifo é do Rio Grande do Sul, vindo de Hamburgo, trazendo a bordo autor), contando os encantos e a fertilidade do solo, a um jovem alemão, nascido no ducado de Brunswick, colônia progrediu muito. chamado Hermann Bruno Otto Blumenau (1819-1899). Em 30 de abril de 1859, o Comissário do Governo Imperial, Recém laureado em filosofia, viajou ao Brasil comissionado Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz fez uma visita pela Sociedade Protetora dos Imigrados para observar as de inspeção à Colônia Blumenau, por solicitação do condições de vida dos colonos no Brasil e estudar as Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, possibilidades de instalação de novos imigrantes. Sr. Sérgio Teixeira de Macedo, produzindo, a seguir, um Inspeccionou várias colónias de alemães no Rio Grande relatório onde afirmava: “...já no ano de 1857 havia do Sul e em . Em março de 1847 visitou a conseguido, não só introduzir no país 834 colonos, dos Colônia de São Pedro de Alcântara, fundada em 1829 com quais 580, no território da colônia, em princípios do 656 alemães, de onde seguiu, a pé, para a então freguesia ano seguinte, tendo a maior parte dos restantes se do SS. Sacramento do Itajaí, hoje a cidade de Itajaí. As estabelecido nas vizinhanças dela, nos rios Itajaí-Açú e informações que obtivera da fertilidade das terras Itajaí-Merim,...”. marginais do grande rio e as observações pessoais que Acrescenta: “...chegou a colônia ao estado seguinte: fizera durante sua rápida visita à freguesia do SS. Sacra- uma população laboriosa, composta de 684 indivíduos, mento, dispuseram-no a uma exploração mais minuciosa dos quais 75 por cento são exclusivamente lavradores, dessas terras. 17 por cento empregados em outros ramos de indústria, Associou-se-lhe, nessa empreitada, o conterrâneo, e 8 por cento, artistas e industriosos....; 169 casas, das Fernando Hackradt e, em janeiro de 1848, a expedição quais dois terços se podem consideram provisórias..., organizada por ambos, subiu o rio Itajaí-Açu em canoas cercadas de excelentes roças de mandioca, milho, feijão,

13 de grande número de plantas tuberculosas, como seja, o de diretor da colônia, com vencimentos anuais de 4:000$000 inhame, o cará, a batata, etc..., de plantações de arroz e (quatro contos de réis). de outros gêneros, e sobretudo de cana, a cuja cultura No ano de 1860, conforme nos ensina a Enciclopédia dos têm se dedicado os colonos em vasta escala, seguindo- Municípios Brasileiros, editada pelo IBGE em 1859, a se logo a mandioca”. colônia contava com 947 moradores e possuía as Prossegue o conselheiro, informando que a colônia seguintes fábricas: três olarias, uma de louça de barro, contava com “cerca de 20 engenhos de cana, 14 uma de vinagre, uma de cerveja, uma de charutos, uma alambiques, diversas máquinas para o preparo e fabrico padaria, um engenho de serrar, quarenta e sete engenhos da farinha e do fubá, 3 engenhos de serrar madeira, e açúcar, trinta e três engenhos de farinha de mandioca. algumas padarias, pequenas fábricas e oficinas Em 1870 possuía 6.188 habitantes e em 1880 alcançou adaptadas aos misteres da lavoura. Perto de 700 mil 13.796 habitantes. Os colonos procediam de diversos braças quadradas de pastos artificiais, 200 cabeças, estados alemães, especialmente de Brunswick, pouco mais ou menos, de muito bom gado vacum, parte Wuertemberg, Prússia e Baviera. Em 1881 fundou-se o do qual já proveniente de cruzamento da raça tourina; jornal “Blumenauer Zeitung” que circulou 800 cabeças de gado cerdum, para sustentação, além do ininterruptamente até 1938. milho, se servem principalmente do inhame, que quase Em 1884, Blumenau deixou definitivamente a colônia do espontaneamente é produzido em muita quantidade nas vale do Itajaí, retornando para a Alemanha, conquanto se ribanceiras do Itajaí-Açú, e nas margens dos ribeirões e mantivesse, até o fim da vida, em permanente contato com dos córregos que atravessam a colônia; grande número ela. de aves domésticas de ótima qualidade; produção de Em 31 de julho de 1873 a Colônia Blumenau, que até então queijo e manteiga, já quase suficiente para o consumo; pertencera à freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, eis o quadro que se apresenta a quem percorre e examina é elevada à freguesia pela Lei Provincial nº 604, tomando este núcleo colonial”. o nome de São Paulo Apóstolo de Blumenau, subordinada Informa ainda o conselheiro que no ano anterior verificou- ao município do SS. Sacramento de Itajaí. se a exportação de 2.500 arrobas de açúcar, 12.000 medidas A Agência do Correio de Blumenau foi oficialmente criada de água ardente e que foram 48 o número de nascimentos em 2 de novembro de 1874. Interessante notar que em e 7 o de óbitos. A colônia contava ainda com 47 pontes de 1864, o atual Estado de Santa Catarina, contava, apenas madeira construídas para facilitar a comunicação de seus com quatro Agências de Correios, quais sejam: Itajaí, habitantes. Laguna , São Francisco e Lages. O mesmo relatório afirma que Blumenau já havia feito A Lei Provincial nº 860, de 4 de fevereiro de 1880, adiantamentos monetários aos colonos no valor de 61 desmembrou o município e criou um outro autônomo, com contos de réis e a Sociedade Colonizadora de Hamburgo, sede na povoação da colônia Blumenau, que foi elevada à mais ou menos 100 contos de réis. Constata também que categoria de vila, cuja instalação ocorreu em 10 de janeiro “era, por enquanto, irrealizável a cobrança de tais de 1883. quantias... Nestas circunstâncias, solicita o Dr. D. Pedro II, com o espírito de favorecer ainda mais a Blumenau a quantia de 6 contos de réis para fazer colonização do Brasil e tencionando fixar, de modo avanços de pequenas parcelas aos colonos já definitivo, o imigrante no solo do país, dentre outras estabelecidos, que ainda carecem deste auxílio”. providências, concedeu isenção de porte às cartas que Constata-se pelo relatório do Conselheiro Ferraz que o os colonos enviavam a seus parentes de além-mar, desde Governo de S.M.I. D. Pedro II já havia aportado à colônia, que as mesmas fossem entregues no Consulado Brasileiro gratuitamente, a quantia de 8 contos de réis e emprestado, sob hipoteca de terrenos, a quantia de 80 contos de réis. Blumenau empenhou todos os seus recursos no desenvolvimento da colônia, vendendo quanto possuía na Alemanha. Mas, à proporção que o estabelecimento aumentava cresciam as dificuldades financeiras para levar avante o seu plano de colonização. Faltava-lhe capital e estava endividado. Viu-se, então, obrigado a entrar em negociação com o Governo Imperial para que tomasse a si os encargos de prosseguir na colonização da zona de sua concessão. D. Pedro II, que sempre vira com simpatia os projetos a povoar o imenso território brasileiro, deu acolhida às sugestões de Blumenau e adquiriu a colônia, para a fazenda nacional, em 13 de janeiro de 1860, que o Governo Provincial havia lhe concedido e deu-lhe o cargo Santa Catarina

14 do país de origem. colônia, Herman Blumenau. No anverso consta, no canto No parecer de 3 de novembro de 1842 da Seção do superior esquerdo: “Herzogl. D” (Herzogliche Dienstsache Conselho de Estado dos Negócios do Império, incumbida – Carta Ducal Oficial), e o endereço é: “An das Herzogl. de tratar da reforma postal, apresenta a sugestão de incluir Braunschw. Kreisgericht, Helmstedt, ” (Ao no novo regulamento postal a isenção de porte para as Forum Ducal de Braunschweig do Distrito de Helmstedt). cartas de colonos residentes no Brasil, senão vejamos, o No canto superior direito encontra-se um carimbo ovalado, que diz o texto: “A Seção julga útil facilitar as de cor azul, com os dizeres: DR. HERMANN BLUMENAU comunicações dos colonos, que emigraram para o / COLONIA BLUMENAU / STA. CATHARINA. BRA- Império, a fim de informarem suas família e amigos, dos ZIL, e no meio do carimbo a data manuscrita do despacho cômodos, e benefícios, de que gozam neste país, e assim “19.7.61”. Além do carimbo de chegada em Hamburgo, atraírem o maior número de emigrados, no que Vossa com data de 5.9., que cuidava também da correspondência Majestade Imperial tanto se desvela”. destinada ao Ducado de Brunswick, como se pode A proposta foi aprovada sem alteração e incluída no Art. verificar pelo carimbo de recepção azul “HAMBURG 5 9 13, § 2º, da Lei 254, de 29 de novembro de 1842, que 4-5”, onde recebeu, a lápis vermelho, a taxação de “4” declarou isentas as cartas dos imigrantes para seus países (Groschen), a ser pago pelo destinatário, referente a 3 de origem. Groschen para a distância acima de 20 milhas + 1 Groschen A Lei 296, de 19 de maio de 1843, no Art. 8, traz as restrições como sobretaxa para cartas não franqueadas. a essa isenção de porte, no sentido que a mesma somente é assegurada aos colonos que vivessem em sociedades de colonização autorizadas por lei. E o Art. 9 previa que tais cartas deveriam ser providas de carimbo da respectiva sociedade de colonização e que tais carimbos deviam ser, antes, dados a conhecer às Administrações Postais e Agências respectivas. O Decreto 399, de 21 de dezembro de 1844, que dava novo Regulamento para o serviço dos Correios do Império, ratificava esse favorecimento nos Art. 201 e 202, que explicitavam: “Art. 201. São isentas de porte nos Correios do Império as cartas que os colonos dirigirem às pessoas residentes no país de onde emigraram, uma vez que Fig. 1 tenham vindo por conta do Governo, e ainda não tenham estabelecimento próprio independente, ou façam parte No verso encontra-se o carimbo azul circular de passagem de alguma companhia ou estabelecimento autorizado por “BRAUNSCHWEIG - 6 SEPT. 1861 – Nachis” e o pelo Governo, ou a tais companhias ou estabelecimentos carimbo verde retangular de chegada a “HELMSTEDT 6 se achem adstritos e subordinados”. “Art. 202. Só 9”. Além disso, encontramos uma etiqueta branca, quase gozarão do benefício do artigo antecedente as cartas ovalada, em relevo, tipo sinete, com as armas do Ducado levadas ao Correio do lugar da residência dos colonos, de Brunswick e a legenda, parcialmente ilegível, marcadas com um carimbo privativo da companhia ou “CONSULAT DE...... DE BRUNSWICK”, certamente, estabelecimento, os quais se hão de ter feito conhecer aplicada no fecho do envelope, para segurança, no transito anteriormente aos Administradores e Agentes antes da entrega ao destinatário. respectivos; bem assim as entregues aos colonos que fizerem ver que estão nas circunstâncias mencionadas”. Assim é que em 1959, durante a realização da INTERPOSTA, em Hamburgo, em uma reunião da Associação dos Colecionadores de Precursores (Altbriefsammelerverein), o Sr. Gerard, residente em Brunswick, apresentou ao Sr. Verner Ahrens um enve- lope, no qual constava uma etiqueta amarela no verso, que tinha encontrado em 1932 num arquivo de Helmstedt. Este envelope foi, posteriormente, trocado com o Sr. Reinhold Koester, por uma carta de Brunswick, que tem um selo obliterado com um carimbo raro nº 49. Hoje, este envelope remetido da Colônia Blumenau encontra-se na coleção do autor deste artigo. O remetente do envelope foi o próprio fundador da Fig. 2

15 E mais, ainda no verso encontramos uma etiqueta amarela, Imperial do Brasil, em Hamburgo. de 57 x 35 milímetros, com texto em alemão, que, traduzido Outro detalhe que se deve ater é tentar saber se estas para o português, informa: “O Consulado Geral Imperial cartas foram embarcadas no Rio de Janeiro, ou se os navios do Brasil em Hamburgo expedirá gratuitamente cada mês de comércio que freqüentavam o litoral brasileiro, todas as cartas que lhe chegarem até o dia 2 e que se aportavam no porto do SS. Sacramento de Itajaí, para destinarem a colonos residentes no Brasil; cartas recolher as referidas cartas de colonos. Em nenhuma das recebidas mais tarde, seguirão no mês seguinte”. duas cartas acima descritas consta qualquer referência a carimbos brasileiros e ou nomes de navios, que nos pudesse indicar o porto de embarque. Entretanto, o fato de instruções publicadas (ver ao final o artigo) terem sido dadas, já no período republicano, aos Correios da Capital Federal, sobre o assunto, tudo leva a crer que as cartas eram trazidas ao Rio de Janeiro, seja por via terrestre, seja por via marítima, e ali embarcadas com destino a portos europeus. Alguns aspectos deste sistema de isenção precisam ser discutidos e melhor analisados. Denota-se que em parte alguma dos regulamentos vigentes à época consta a isenção de porte dada aos parentes e amigos (residentes no exterior) que escrevessem para os colonos no Brasil. Fig. 3 Apenas para as cartas que saíssem do Brasil. Entretanto, o procedimento adotado pelo Consulado Geral De acordo com o Decreto 399, de 21 de dezembro de 1844, Imperial do Brasil, em Hamburgo demonstra que o Governo Art. 201 e 202, não há qualquer indicação de porte cobrado estava de acordo com a isenção e instruíra sua legação nessa correspondência por parte do correio brasileiro, seja para atuar neste sentido. As etiquetas eram afixadas como interno ou externo. publicidade aos destinatários da existência da isenção de Existe uma segunda carta, saída de Blumenau, com data porte para as cartas que desejassem enviar aos amigos e de 1867, apesar de desconhecermos seu paradeiro. Trata- parentes colonos residentes no Brasil, nas condições se de carta que foi reproduzida na revista da Casa Filatélica estipuladas na etiqueta. Assim, deviam ser entregues no Paul Khol, de Chemnitz, em 1912. Não nos foi possível Consulado do Brasil em Hamburgo ou, obviamente, com obter uma fotocópia. Estamos baseados na descrição feita porte interno alemão pago até o referido consulado. por Werner Ahrens: “Não se conhece o nome do remetente É evidente que tal isenção gerava uma despesa para o e nem o texto. A destinatária é a esposa do professor Governo Imperial, pois as Companhias de Navegação e Schmidt, em Neisse, perto de Breslau, na Silésia. No canto ou os navios de comércio de qualquer nacionalidade superior direito encontra-se um carimbo circular, cercadura cobravam pelo transporte marítimo das cartas entre o Brasil simples, de cor azul-esverdeada, com a legenda: e a Europa. ‘BLUMENAU / Sta. Catharina / ’ e no centro a data Todavia, o fato de não existir referência alguma nos manuscrita ‘19.3.67’, além das letras ‘Th. Kl.’ (PA. 1560). regulamentos, a não ser entre 1842 e 1865, não invalida o A abreviação abaixo da data indica o nome do Sr. Theodor ato do Governo continuar a dar isenção de porte às cartas Kleine, colaborador do Dr. Blumenau e secretário da enviadas do Brasil e as recebidas do exterior. Mesmo an- Colônia. A carta seguiu pela mala diplomática para tes do Regulamento de 1842, já no ano de 1830 essa isenção Hamburgo e colocada por um funcionário do Consulado de porte estava em vigor. Como nos ensina o filatelista em uma caixa coletora numa rua da cidade, o que está Werner Ahrens: “Na revista semanal ‘Brasilpost’, de provado pelo carimbo ovalado, aplicado no verso, do 27.07.1957, página 18, menciona-se uma carta de um Correio da Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo, imigrante de 1830 e reproduz todo o texto da carta, bem carimbo este usado para controlar as taxas de cartas já extenso por sinal. A carta achava-se em 1957, em poder franqueadas e taxar aquelas não franqueadas. Visto que o do Sr. Arns, de Reil, na Mosela, e fora escrita por Mathias correio hamburguês não tratava de correspondência com Burch, de Burg, na Mosela, residente em São Leopoldo e destino à Prússia, a carta foi entregue à agência postal dirigida a seu cunhado Sr. Johann Joseph niesen. Nessa prussiana, que aplicou o carimbo de despacho ‘HAM- carta encontra-se a seguinte sentença: ‘Me informe também BURG7-6-67 9-10V’ (9 às 10 horas da manhã) e taxou a sobre as despesas de porte que V. devia pagar, para saber mesma em ‘3’ (silbergröschen), porte para a distância de se poderemos lhe escrever mais cartas. Por mar, as nossas mais de 20 milhas, a ser pago pelo destinatário”. cartas seguem livre de porte. Escreva o meu endereço Interessante notar que a descrição não faz referência a como segue: An den kolonist Mathias Burch in der Pikade qualquer etiqueta aposta no verso pelo Consulado Geral Rio de Candeia oder Bernardino Schneise nº 23 links in

16 der deutschen Colonie Sanct Leopoldo bey Porto Alegre, Provinz Rio Grande do Sul, Brasilien’.”. A Colônia de São Leopoldo foi fundada por alemães em 1824. Esta informação prova que, já em 1830, os imigrantes gozavam do direito de isenção dos portes nas cartas destinadas a porto europeu. Por certo, o transporte marítimo entre o Brasil e a Europa era realizado pelos paquetes ingleses, via o porto de Falmouth, para depois alcançarem os portos continentais, de acordo com a Convenção Brasil-Grã-Bretanha de 1810. O porte com toda a certeza era pago por alguma repartição governamental brasileira. Posteriormente, nas novas reformulações do serviço dos Correios do Império, ocorridas em 12 de abril de 1865 (Decreto 3443) e em 26 de março de 1888 (Decreto 9912 A), que reformaram totalmente os Correios do Império, essa isenção ou favorecimento dado aos colonos imigrantes não consta em quaisquer dos artigos nelas inseridos. É de se supor que tais vantagens tenham sido totalmente abolidas, pelo menos, apenas nos regulamentos, como poderemos constatar a seguir. Assim é que as cartas por mim conhecidas, datadas após 12 de abril de 1865, remetidas das colônias de imigrantes não são isentas de porte, pelo contrário, todas pagaram o porte devido e foram corretamente seladas. Pelo menos aparentemente... A Portaria 39, de 5 de fevereiro de 1891, nos dá uma luz sobre o assunto, pois se pode pelo texto depreender que quando as cartas chegavam à repartição Fig. 4 dos correios eram devidamente seladas, com o porte correto para o exterior, e o valor debitado ao Ministério da pertenceu também ao Sr. Reinhold Koester. Agricultura. Por outro lado, nada foi encontrado, seja Decreto, Portaria Mais ainda, encontramos um documento, datado de 4 de ou Aviso, que tenha cancelado essa isenção de porte para setembro de 1886, na Venda Sob Oferta “ MEMORABILIS as cartas de colonos. Mais ainda, quando instituídas (1842 III”, ano 2002, produzida por Rose Meyer, que ajuda a e 1843), nenhuma referência é feita quanto ao período de explicar o uso e selos postais nas cartas enviadas pelos validade. Entretanto, no final do Século XIX, já no período colonos, onde o agente postal em ofício solicita republicano, ainda existia a isenção de porte para os esclarecimentos a respeito do fornecimento de selos imigrantes, sob certas condições, conforme consta no postais aos colonos (o grifo é nosso), ora estabelecidos. Boletim Postal, ano de 1891, nas páginas 55 e 73, e no Pergunta se os mesmos devem receber selos apenas para Boletim Postal, ano de 1894, publicação esta oficial e o envio das cartas ou também para o pagamento do even- editado pelos Correios do Brasil, que transcrevemos a tual registro. seguir, na grafia atualizada: Assim, nos parece que após o ano de 1865 o uso os selos * Correspondências Dirigidas pelos Imigrantes postais em cartas enviadas pelos colonos imigrantes se Ministério dos Negócios, da Instrução Pública, Correios tornou prática comum. Diferindo, totalmente, das práticas e Telégrafos – 2ª Seção – Capital Federal, 31 de janeiro adotadas entre os anos de 1842 e 1865, cujos exemplos de 1891. De conformidade com o que me solicitou o são as três cartas conhecidas, acima mencionadas e Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, em descritas. Aviso de 29 do corrente, recomendo-vos providencieis Existiram muitas colônias de imigrantes autorizadas pelo no sentido de serem expedidas, francas e porte, as Governo Imperial espalhadas pelo Brasil: nas Províncias correspondências dirigidas pelos imigrantes aos seus do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de parentes no exterior; sendo que a despesa respectiva Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Todavia, correrá por conta daquele Ministério. Saúde e Fraternidade. nenhuma carta de colono foi encontrada até hoje, com – João Barbalho Uchoa Cavalcanti. – Ao Sr. Diretor isenção de porte, a não ser as duas acima mencionadas e Geral dos Correios. uma outra da Colônia Dona Francisca, datada de * Correspondências Dirigidas por Imigrantes 23.07.1858, para Lubeck, com carimbo de sinete e que Diretoria Geral dos Correios – Em 5 de fevereiro de 1891

17 – Portaria nº 39 – À Tesouraria e Contadoria. De Diretoria Geral dos Correios - Em 7 de fevereiro de 1894 conformidade com o Aviso nº 282, do Ministério da - Portaria nº 153 - Às Seções do Correio da Capital Instrução Pública, Correios e Telégrafos, de 31 de janeiro Federal e à Contadoria Geral. Em aditamento à Portaria findo, fica a Tesouraria desta Diretoria Geral autorizada a nº 111 de 25 de janeiro ultimo, declaro que a selar toda a correspondência dirigida por imigrantes aos correspondência procedente da Inspetoria Geral de Terras seus parentes no exterior, remetida pela Inspetoria Geral e Colonização para o exterior, deve ser franqueada por das Terras e Colonização, com as formalidades adotadas essa Repartição, conforme foi praticado no exercício de com a correspondência oficial, sendo que o Tesoureiro 1893, de conformidade com o Aviso de 21 de janeiro desse respectivo deverá no fim de cada mês cobrar do Ministério ano, publicado à página. 39 do “Boletim Postal” de fevereiro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas a importância também de 1893.O Diretor Geral, Demosthenes da de selos aplicados na correspondência aludida. Servindo Silveira Lobo. de Diretor Geral, o Sub-Diretor, Aristides César de Almeida. Pode-se depreender, desta forma, que os diversos * Correspondência da Inspetoria Geral de Terras e governos brasileiros, seja o do 1º Império, do 2º Império e Colonização; ordem do Correio da Capital Federal. seja da República, adotaram, oficialmente, publicados ou Diretoria Geral dos Correios - Em 25 de janeiro de 1894 não, a isenção de porte para as cartas escritas e recebidas - Portaria nº 111 - À Contadoria Geral e às Seções do pelos colonos estrangeiros residentes no Brasil. Correio da Capital Federal. De conformidade com a A meu ver, caso único nos anais da história postal univer- autorização do Sr. Ministro da Indústria, Viação e Obras sal. Publicas, em Aviso nº 13, de 22 do corrente mês, determino que seja recebida nesta Repartição livre de porte toda a Bibliografia: correspondência enviada pela Inspetoria Geral de Terras Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Volume XXXII – Santa e Colonização quer para o interior, quer para o exterior da Catarina. Editado pelo IBGE. Rio de Janeiro. 1959. República, durante o atual exercício. O Diretor Geral, Relatório do Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, Sr. Demosthenes da Silveira Lobo. Sérgio Teixeira e Macedo. Rio de Janeiro. 30.04.1859. * Franquia da correspondência da Inspetoria Geral de Ahrens, Werner. Jubileu de Ouro – 50 anos da Sociedade Terras e Colonização para o exterior; comunicação à Philatelia Paulista. São Paulo. 1969. Contadoria Geral Boletim Postal. Correios do Brasil. Anos de 1891 e 1894.

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