澳門特別行政區 立法會會刊 DIÁRIO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE

第三屆立法會 第三立法會期 (二零零七—二零零八) 第一組 第 III-97 期 III第� LEGISLATURA���� 3.ª SESSÃO第�� LEGISLATIVA��期(��� �(2007-2008) – ���� ) 第�� I Série 第 IIIN.º- 97III-97期 III LEGISLATURA 3a SESSÃO LEGISLATIVA(2007-2008) I SÉRIE N o III-97

Data: 12 de Junho de 2008 Único ponto: Discussão e votação na especialidade da proposta de lei intitulada “Combate ao crime de tráfico de pessoas”. Início da reunião: 15 horas Sumário: Intervenções no período de antes da Ordem do Dia dos Srs. Deputados , Tsui Wai Kwan, Ng Kuok Cheong, Termo da reunião: 17 horas e 05 minutos José Pereira Coutinho, Leong On Kei, , , Ung Choi Kun, Iong Weng Ian, Leong Iok Wa e Ieong Tou Local: Sala do Plenário do edifício da Assembleia Legislativa, sito Hong. A Proposta de Lei intitulada “Combate ao crime de tráfico de nos Aterros da Baía da Praia Grande, Praça da Assembleia pessoas” foi aprovada na especialidade. Legislativa.

Acta: Presidente:

Presidente: Srs. Deputados: Vice-Presidente: Lau Cheok Va

Iniciemos a sessão plenária. Primeiro-Secretário: Temos hoje 13 Srs. Deputados inscritos para usar da palavra no Segundo-Secretário: Kou Hoi In período de antes da Ordem do Dia. Tem a palavra o Sr. Deputado Au Kam San. Deputados presentes: Susana Chou, Lau Cheok Va, Leonel Alberto Alves, Kou Hoi In, Philip Xavier, Leong Heng Teng, Kwan Tsui Au Kam San: Obrigado Sr.ª Presidente. Hang, Chow Kam Fai David, Iong Weng Ian, Ng Kuok Cheong, Vitor Cheung Lup Kwan, Tsui Wai Kwan, Chan Chak Mo, Leong Caros colegas. Iok Wa, Cheang Chi Keong, Au Kam San, Ung Choi Kun, Lei Pui Lam, Lao Pun Lap, Ieong Tou Hong, José Maria Pereira Coutinho, Estamos no dia 12 de Junho. Precisamente há um mês e 33 Sam Chan Io, Leong On Kei, Chan Meng Kam e . minutos deu-se o catastrófico sismo de Sichuan. Aproveito esta minha intervenção Antes da Ordem do Dia para exprimir a minha Deputados ausentes: , , Chui Sai consternação para com todos os compatriotas sinistrados, fazendo Cheong e Chui Sai Peng. votos de que, com o apoio de todo o povo chinês, incluindo o dos compatriotas de Macau, tenham as suas casas reconstruídas quanto Convidados: antes, para o começar duma nova vida nova. Florinda Chan, Secretária para a Administração e Justiça; Cheong Weng Chun, Director dos Serviços de Assuntos de Justiça; António Marques da Silva, Assessor do Gabinete da Secretária para “Quem é nosso inimigo? Quem é nosso amigo?” Estas são as duas a Administração e Justiça; frases que dão início ao 4.º Volume da grande obra do Presidente José Luciano Correia de Oliveira, Assessor do Gabinete do Mao. De facto, trata-se de matéria essencial que deve ser encarada Secretário para a Segurança; com toda a seriedade. Iong Kuong Io, Vice-Presidente do Instituto de Acção Social; Leong Pou Yeng, Subdirectora, substituta, da DSAJ; A importação abusiva de mão-de-obra que hoje se vive em Macau Chan Man Tak, Subintendente do Corpo de Polícia de Segurança Pública; resulta na grave redução de oportunidades de emprego para os Chow Wai Kuong, Chefe do Departamento de Investigação Criminal; residentes e no agravamento das condições de trabalho. São muitos Ho Sok Han, Chefe do Departamento de Família e Comunidade. os locais de trabalho em que os trabalhadores se dividem em classes, 1.ª classe são os importados, 2.ª classe os clandestinos e 3.ª classe os Ordem do Dia: trabalhadores locais, um fenómeno resultante da manipulação da 2 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日 parte patronal detentora de muitas quotas de importação e com as trabalhadores de trezentas patacas por dia e manipulam-nos, costas quentes para se atrever a contratar elevadas quantidades de aproveitando-se do seu desconhecimento da lei de Macau e de não trabalhadores clandestinos. Essa classificação diz respeito apenas às saberem a quem recorrer para apresentar queixa. Os trabalhadores, oportunidades de emprego, não significa que os trabalhadores mesmo que inconformados, não têm grandes alternativas. Assim importados tenham estatuto superior ao dos outros, na realidade, percebe-se. Tendo mão-de-obra barata como esta, vão deixar de a tanto os importados como os clandestinos são vítimas de opressão. importar? Claro que vão sempre encontrar meios para despedir os trabalhadores locais. Porque é que alguns empregadores gostam de importar trabalhadores? Porque estes trabalhadores estão sempre à sua Os casos que referi passaram-se em Macau. Tratando-se de disposição, podem exigir-lhes, a seu bel-prazer, que trabalhem fora empresários sem escrúpulos, é natural que encontrem todos os de horas, bem como podem privá-los dos salários a que têm direito. métodos possíveis para assegurarem os seus lucros. Para além disso, O caso mais típico passou-se com um estabelecimento de comida tendo em conta que o Governo da RAEM só defende os interesses típica de Sichuan, com o seu pessoal de cozinha também proveniente dum grupo privilegiado, e se a isso se juntar a baixa eficácia do de Sichuan a auferir salários mensais da ordem das oito mil patacas. sistema judiciário de Macau, como é que Macau não pode ser o O empregador recorreu a todos os pretextos para lhes reduzir o paraíso dos empresários sem escrúpulos, e o inferno para os salário, por exemplo, baixas vendas, queixas dos clientes, erros, trabalhadores e para os empresários honestos e bons? louça partida, etc., tudo servia para descontar dos ordenados até ao cúmulo de, em vez de 8 mil patacas, chegarem a receber seiscentas. É verdade, todos sabemos, que em muitas empresas os Um dos empregados fugiu nessa mesma noite para Sichuan e quanto trabalhadores locais são humilhados pelas chefias não residentes, um aos seus colegas que não agiram tão rapidamente, viram os seus problema que tanto pode ter a ver com a moral das referidas chefias documentos de viagem confiscados pelo empregador, como forma como com o encorajamento e tolerância da entidade patronal. É de os impedir de fugirem. Isto nunca poderia acontecer com verdade que há uma pequena parte das chefias não residentes que trabalhadores locais, por isso, pode perceber-se porque é que os abusam do seu poder, mas acredito que o mesmo acontecerá com os empregadores preferem importar mão-de-obra e recorrem a todos os trabalhadores locais, por isso é que não devem afastar os não pretextos para despedir os trabalhadores locais. residentes. De facto, com o objectivo de obrigar os trabalhadores locais a abandonarem os seus empregos para poderem importar mais No ano passado, a Polícia Judiciária descobriu dois casos de mão-de-obra, as chefias não residentes são toleradas ou encorajadas ameaça e extorsão cujas vítimas eram trabalhadores importados. A a oprimir os trabalhadores locais. lei prevê um salário mínimo de quatrocentas patacas por dia e a garantia de vinte e seis dias de trabalho por mês para os operários Os trabalhadores não residentes são nossos compatriotas, na sua importados que trabalham no sector da construção civil, condições maioria simpáticos e diligentes, normalmente são oprimidos e mais fundamentais para a autorização de importação de trabalhadores para maltratados do que os trabalhadores locais. Deixam a sua terra natal, aquele sector. A parte patronal deposita mensalmente o montante do não estão familiarizados nem com o local nem com as pessoas, e salário nas contas dos trabalhadores, para comprovar que as normas quando se deparam com problemas, ninguém responde aos seus são cumpridas. Mas no caso referido, depois dos trabalhadores pedidos. Quanto mais oprimidos são, mais baixos os custos de levantarem o salário, a entidade ameaçou-os de despedimento, caso importação, maior a atracção da importação, e mais repelidos são os não devolvessem parte do salário, cerca de duzentas patacas por dia. trabalhadores locais. Os trabalhadores sabiam muito bem que isso era irracional mas, caso não o fizessem, seriam despedidos e perdiam ainda as restantes Os trabalhadores têm de saber bem “Quem é nosso inimigo? duzentas e cinquenta patacas por dia, bem como as diversas despesas Quem é nosso amigo?”. De facto, os trabalhadores não residentes relacionadas com a sua colocação em Macau, cerca de dez mil de também são oprimidos, os empresários desonestos aproveitam-se patacas. Assim, não tiveram outra alternativa que não fosse obedecer. deles para oprimirem os trabalhadores locais, para reduzirem o seu Contudo, um deles não se conformou e participou o caso à polícia, espaço de sobrevivência, assim, também estes sofrem de opressão e que depois das respectivas investigações desvendou o caso, que foi os culpados são esses empresários desonestos, detentores de regalias encaminhado para o tribunal. Devido à baixa eficácia do sistema especiais, e não os trabalhadores não residentes. Também devem ser judiciário de Macau, o empregador envolvido num desses casos imputadas responsabilidades às erradas políticas de importação de despediu os trabalhadores importados em questão, depois de ter sido mão-de-obra, às políticas desequilibradas, adoptadas apenas para os libertado após pagamento da devida caução, e quando esses detentores de regalias especiais, e ao sistema político desactualizado, trabalhadores iam sair de Macau, disse-lhes: “Aguardem pelo com um sistema eleitoral que protege apenas os interesses dum julgamento, porque até lá, não vão ver nem uma pataca. Até acabar o pequeno grupo de detentores de regalias especiais. julgamento, vão ser necessários, no mínimo, três anos, e no máximo... olhem, nessa altura já vocês deixaram Macau, o que mais Por último, há ainda a salientar, porque é que se faz alarde de que é que poderiam fazer!!!” a importação de mão-de-obra é ilimitada? Porque é que se pretende interferir na elaboração da lei sobre a regulamentação de Os empresários sem escrúpulos retiraram os devidos ensinamentos trabalhadores não residentes? Tudo isto tem apenas a ver com o da situação e ajustaram os métodos, isto é, quando o trabalhador lucro. A importação abusiva de mão-de-obra tem levado à importado chega a Macau, é acompanhado por um representante da exploração e opressão dos trabalhadores, tanto locais como não entidade patronal para ir ao banco abrir conta e pedir o cartão ATM. residentes, o que originou inimizades entre trabalhadores locais e Entretanto, tanto a caderneta como o cartão ATM ficam na posse da não residentes. Entretanto, estes regressam à suas terras e relatam os entidade patronal que apesar de depositar atempada e mensalmente factos, a exploração e opressão que sofreram em Macau, o que, na devida conta a totalidade do salário, levanta o dinheiro com o numa perspectiva objectiva, só tem efeitos negativos na relação entre cartão, deixando ao trabalhador apenas o equivalente a cento e a população de Macau e os compatriotas da , denegrindo o cinquenta patacas por dia. Essa gente não tem piedade! Privam os princípio “Macau governado pelas suas gentes”, e prejudicando a N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 3 reputação do princípio “um país dois sistemas”. saída, devido ao número demasiado elevado de trabalhadores não residentes”. Julgo que essa afirmação só se aplica a casos pontuais e Todos os residentes que amam realmente a Pátria e Macau devem não corresponde à realidade em geral. Senão, existindo em Macau 90 aumentar a sua vigilância em relação a esta questão. mil trabalhadores não residentes, estariam então 90 mil trabalhadores locais no desemprego! A não ser que alguém tenha contado um zero Obrigado. a mais, porque em Macau o número de desempregados mantém-se há já alguns anos nos 9 mil! A subjectividade de alguém não pode Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Tsui Wai Kwan. prevalecer sobre os dados científicos!

Tsui Wai Kwan: Obrigado Sr.ª Presidente. Recentemente, ouvi um idoso, que integra um dos grupos sociais mais fragilizados, afirmar “este mês recebi o subsídio para idosos, Caros colegas. posso poupar 150 patacas de electricidade por mês e este ano não pago contribuição predial”. Estava muito contente e agradecia a Nos termos da Lei Básica, a Assembleia Legislativa é composta ajuda do Governo porque, de facto, tinha mesmo contribuído para por deputados eleitos por sufrágio directo, por sufrágio indirecto e aliviar os seus encargos. Não sei se o deputado que alega fazer parte nomeados. Uma vez tomando assento na AL, todos, dos grupos sociais mais fragilizados tem ouvido afirmações dessas. independentemente da sua proveniência, passam a representar a Diz que o Governo não é credível, mas há muitos cidadãos que, população, e exercem a sua função de fiscalização sobre a acção seguindo a voz da sua consciência, agradecem ao Governo! O governativa. Há que sublinhar que todos os deputados assumem as Governo e a Assembleia Legislativa têm desde sempre envidado mesmas atribuições, independentemente do seu background ou do bastantes esforços para melhorar a vida da população e construir método como foram eleitos. Na realidade, a maioria dos deputados uma sociedade melhor, ambos têm o dever de trabalhar, de colaborar presentes tem também as suas origens no estrato social mais baixo, e mais, de se apoiarem mutuamente. Não podem pensar apenas em conseguiu o sucesso de hoje graças a muitos anos de luta e esforço. como contra-atacar, isso não beneficiará ninguém, antes pelo Se a sinceridade de algum deputado for simplesmente ignorada só contrário, prejudicará a nossa sociedade. porque não foi eleito por sufrágio directo, isso será, então, um autêntico menosprezo à sua dedicação e espírito de servir o povo e a No mês passado, na interpelação apresentada em meu nome e em sociedade. Este tipo de estigmatização é inadmissível. nome do deputado Chan Chak Mo, referimos a autorização para as pessoas que concluíram estudos universitários em Macau Face à brusca subida do custo de vida em Macau, muitos trabalharem cá. Apareceram logo as críticas afirmando que “numa deputados do sector empresarial, incluindo eu, propusemos ao perspectiva subjectiva, podem até conseguir-se obter mais resultados, Governo, em várias intervenções neste hemiciclo, a adopção de mas objectivamente, estão é a empurrar as classes mais baixas da medidas para atenuar a pressão originada pela inflação, sociedade para o abismo, ou seja, retiram primeiro os empregos aos nomeadamente no âmbito das isenções fiscais, redução das rendas pais e, em seguida, aos filhos”. Creio que o parlamento é um local das habitações sociais, subsídio para a água e luz, subsídio de onde se permite a manifestação racional de diferentes ideias e transporte para os idosos, alunos e outros grupos desfavorecidos, etc.. opiniões, porque é que o deputado em causa emprega expressões tão Apelámos ainda e por diversas vezes à CEM para assumir a sua fortes para nos criticar? Porque esse deputado acha que os deputados responsabilidade social reduzindo as tarifas, solicitámos também que são empresários só sabem procurar o lucro, trata-nos como uma actualização, por baixo, do preço do gás, então, isto não criminosos, distorce por completo as nossas ideias, fecha corresponde às expectativas da população? Não são estas as as “portas” ao diálogo e põe em causa esta Câmara quanto à sua aspirações do povo? Em 7 de Novembro de 2007, numa intervenção função de debate e discussão das questões, actos que apenas Antes da Ordem do Dia, submeti à consideração do Governo e do prejudicam o desenvolvimento de Macau. De facto, todos os público a aplicabilidade em Macau da política de dividendos deputados podem contribuir com o seu melhor para o povo e adoptada em Singapura. Passados alguns meses, o plano de representar o povo, portanto, não devemos nunca dividir comparticipação pecuniária acabou por ser concretizado em Macau propositadamente a comunidade em classes sociais opostas. beneficiando todos os seus residentes. Na realidade, os deputados, quer sejam do sector empresarial, nomeados, eleitos directa ou Obrigado. indirectamente, têm apresentado muitas opiniões e sugestões estritamente relacionadas com a vida da população, tendo algumas Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Ng Kuok Cheong. delas sido efectivamente concretizadas. Para quê, então, diferenciar os deputados segundo a sua proveniência e estigmatizá-los? Ng Kuok Cheong: Obrigado Sr.ª Presidente.

Creio que nenhum deputado presente, enquanto representante da Caros colegas. população, espera ver o emprego dos trabalhadores locais ameaçado. Mesmo os deputados do sector empresarial também apelaram No passado mês de Abril, o Chefe do Executivo revelou que, seriamente ao Governo para a eliminação do trabalho ilegal. No seguindo as ordens do Presidente da Nação, ia ajustar a política do entanto, há um facto que é inegável. Os trabalhadores não residentes jogo, ia controlar rigorosamente o desenvolvimento do sector, salvaram muitas PME, tendo consequentemente contribuído para impedir os operadores de estabelecerem qualquer tipo de relação estabilizar o trabalho dos locais. Hoje em dia, até nos cafés, com os serviços de utilidade pública e retirar gradualmente dos supermercados ou outras pequenas empresas de venda a retalho se bairros comunitários todos os centros de apostas. Só que, até ao conta com trabalhadores não residentes. Sem estes, aquelas empresas momento, ainda não foi implementada qualquer norma legal ou teriam já entrado em falência, pondo também em causa o emprego medida concreta no sentido da concretização daquelas afirmações. dos locais. Será este o cenário social a que pretendemos assistir? Nenhum centro de apostas nem de slotmachines foi retirado dos Afirmou-se que “os locais estão a ser empurrados para um beco sem bairros comunitários, e entretanto, a reunião presidida pelo 4 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日

Secretário para a Economia e Finanças sobre o regime de comissões trabalho são tão poucas que não satisfazem os requisitos exigidos dos mediadores do jogo não surtiu qualquer efeito. Para além disso, pelo Governo em relação ao tempo mínimo de trabalho prestado o Governo não conseguiu fazer nada perante o caso de mensalmente. Tudo isto demonstra como é urgente fixar um salário incumprimento do Regime jurídico da exploração de jogos de mínimo para os sectores da segurança, limpeza e manufactureiro. fortuna ou azar em casinos por parte duma empresa concessionária, pelo facto da mesma não ter nomeado um residente para o cargo de Tendo em consideração as mudanças registadas, o Governo deve administrador-delegado. A população já perdeu a confiança na introduzir ajustamentos nas LAG para 2008, nomeadamente na capacidade do Governo para fiscalizar as actividades do sector do política de trabalho. Todas as medidas mencionadas devem ser jogo. Já apresentei uma interpelação escrita para apressar o Governo concretizadas durante este ano, o Governo não deve ficar à espera da a adoptar medidas legislativas para concretizar o que o Chefe do véspera do Dia do Trabalhador do próximo ano para agir. Executivo anunciou, ou seja, controlar rigorosamente o sector do jogo, não deixar os operadores do jogo integrarem qualquer serviço Obrigado. de utilidade pública e retirar dos bairros comunitários todos os centros de apostas. Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho.

Tendo em conta o ajustamento da política de jogo, e tendo em José Pereira Coutinho: Obrigado Sr.ª Presidente. conta que o sector do jogo entrou numa fase de ajustamento estável, o Governo deve definir, atempadamente, medidas para devolver os A Resolução n.º 57/277 da Assembleia Geral das Nações Unidas postos de trabalho do sector aos nossos residentes. Com a designou o dia 23 de Junho de cada ano, como Dia Mundial dos abundância de trabalhadores importados, cujo número ultrapassou Serviços Públicos. rapidamente os 90 mil, os trabalhadores locais ficam bastante descontentes, nomeadamente os de meia idade, que se encontram A celebração do Dia Mundial dos Serviços Públicos das Nações numa situação muito difícil. Com o início da fase de ajustamentos no Unidas tem por principais objectivos inculcar valores e virtudes no sector do jogo, é oportuno adoptar medidas concretas para que os funcionamento dos serviços públicos de qualidade ao serviço das postos de trabalho da indústria predominante sejam ocupados por comunidades, nomeadamente os contributos no processo do trabalhadores locais. Assim sendo, venho fazer um apelo ao Governo, desenvolvimento social, o reconhecimento do trabalho dos para que avance já este ano com a redução gradual, para metade, dos trabalhadores dos serviços públicos e encorajar os jovens para actuais 19 mil trabalhadores importados não qualificados das escolherem a carreira do sector público. empresas do jogo, ou seja para menos de 10 mil, e mais ainda, para que exija, aquando dos pedidos de importação de mão de obra, que Em Macau, quase todos os anos, esta data passa quase sempre se explicite o tipo de tarefa a desempenhar, no sentido de facilitar o despercebida. E percebe-se porquê. controlo das quotas dessas empresas. Desde o ano 2000, que assistimos em Macau uma governação Embora o Governo tenha afirmado a fixação dum salário mínimo direccionada somente ao “crescimento económico a qualquer para os trabalhadores importados, é ainda frequente assistir a preço” sustentado por uma educação cívica oficial para obediência, situações de exploração envolvendo trabalhadores não residentes, o passividade e ignorância, meio caminho andado para o domesticação que tem afectado indirecta e gravemente os interesses dos social generalizada. trabalhadores locais. Como os próprios trabalhadores importados não sabem o valor do salário mínimo, são obrigados a trabalhar longas Desde o estabelecimento da RAEM, que este Governo horas em troca de salários reduzidos, transformando assim o salário praticamente nunca mostrou qualquer interesse em resolver os mínimo em super mínimo. Perante isto, como é que os trabalhadores graves problemas da classe profissional, bem como interessar pela locais conseguem concorrer com os não residentes? Recentemente, sua saúde e bem-estar dos seus familiares. até os investidores que têm autorização para importar mão de obra apresentaram queixas, pois alguns empresários desonestos, Desde o estabelecimento da RAEM e já lá vão quase oito anos, detentores de grande quantidade de quotas, reduzem que para este Governo, o mais importante é “camuflar” ou “negar propositadamente os salários, criando assim situações de descaradamente” a existência de graves problemas na sociedade e no concorrência desleal. Por isso, esperam que o Governo concretize o seio da função pública. salário mínimo para os trabalhadores importados por tipo de trabalho, determine oito horas por dia como horário máximo de trabalho para Estes problemas não são segredos e a grande maioria deles foram quem aufere o salário mínimo, e que divulgue junto dos denunciados nos meios de comunicação social. O Governo em vez trabalhadores não residentes as condições de trabalho a que têm de apurar a veracidade dos factos denunciados optou sempre por direito. É indispensável reforçar medidas, pois só assim se poderão tomar uma atitude de “avestruz” que em perigo prefere enfiar a proteger eficazmente os interesses dos trabalhadores e garantir a cabeça na areia para evitar tomar conhecimento do perigo, deixando concorrência justa e leal. contudo o corpo de fora.

O salário mínimo só se aplica aos serviços de segurança e limpeza Assim comportou, comporta e muito provavelmente comportará adjudicados pelo Governo, mas mesmo assim acaba por ser uma este Governo até ao final deste mandato. injustiça para os trabalhadores dessas empresas, pois só os que são destacados para prestar esses serviços é que recebem o salário Como este Governo não foi eleito directamente pelo povo, não mínimo. Por outro lado, embora o Governo tenha implementado o precisa de assumir responsabilidades, preferindo portanto ignorar os regime de atribuição do subsídio complementar aos rendimentos do problemas deixando passar o tempo, e no máximo, na primeira trabalho, muitos trabalhadores não conseguem ser beneficiados, oportunidade tentar “pintar” um cenário de “paraíso” que se calhar especialmente os do sector manufactureiro, em que as horas de só existirá num mundo virtual e imaginário. N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 5

No dia 23 de Junho, em quase todos os países festeja-se o Dia Quando os trabalhadores do IACM deixarão de ser trabalhadores Mundial dos Serviços Públicos. de segunda classe quando comparados com os seus colegas doutros serviços públicos? Constitui minha obrigação até ao final do meu mandato como deputado, continuar a denunciar publicamente os graves problemas A ausência de uma lei sindical constitui um dos principais factores que afectam maioria dos trabalhadores da Administração Pública de para o aumento de conflitos laborais que desembocam finalmente em Macau (APM) designadamente; desnecessários litígios judiciais que poderiam ser evitados.

Como se pode haver de facto um “acordo” digno e justo entre a Os trabalhadores continuam muito desmoralizados, porque desde entidade patronal sem a existência duma lei sindical e direito à o estabelecimento da RAEM que este Governo tem dado maior negociação colectiva? importância à cultivação da bajulação, “graxa” e a “obediência” cega e subserviente como principal forma de gestão de recursos humanos. Na ausência destas leis, duma maneira geral, são sempre os Para os que não acatam estas regras de governação, o Governo trabalhadores que ficam prejudicados com os anos de demora na serve-se das armas do “abuso do poder” e incompetência dos que tramitação burocrática dos processos laborais que resulta na maioria detêm o poder de decidir, para punir e despedir os trabalhadores. das vezes dos trabalhadores desistirem de apresentarem queixa.

Todos nós sabemos, mas somente este Governo irresponsável Vários serviços públicos continuam a dar um mau exemplo de tenta ignorar, que ainda é hoje, a regra geral, que quem quiser entrar incumprimento das leis, sem que alguém fiscalize a sua actividade e com sucesso para a função pública ou arranja “padrinhos” ou ponha cobra a estes abusos. pessoas influentes para meter uma “cunha” a fim de ter um contrato com boas regalias e ficar “protegido” e “imune” das perseguições e Cito um simples exemplo do Instituto dos Assuntos Cívicos e retaliações. Municipais que exploram os seus trabalhadores, obrigando os seus operários a exercerem funções de condutores de viaturas ligeiras e E se quiser saber qual o salário e regalias contempladas no pesadas, auferindo contudo salários de simples operários. contrato individual de trabalho, o melhor é desistir porque nem no Boletim Oficial conseguirá descobrir. E nem os famosos slogans do Os que ousam reclamar são transferidos para as Ilhas ou Governo proclamados a quatro cantos do mundo quanto à simplesmente despedidos findo o término dos seus contratos de transparência, justiça e concorrência leal, ajudam a compreender a trabalho. lógica governativa. No fundo são conceitos destinados à posteridade. Alguns meses atrás, denunciei que pela primeira vez na história de Para o Governo, a responsabilidade só existe para o pessoal de Macau, até os funcionários públicos de categoria média requerem linha de frente, os mais fracos e desprotegidos que ao mínimo casas sociais, e o Governo insiste em deixar devolutas cerca de meia de “atrevimento” ou negligência de “lana caprina” são confrontados centena de habitações onde muito provavelmente neste momento com a não renovação dos contratos individuais de trabalho sem justa coabitam moscas, arranhas e alguns ratos. Hoje, infelizmente, causa ou seja, despedidos sem dó nem piedade. continua tudo na mesma.

Isto acontece com muita frequência, quase sempre precedido da Mas se tiver “cunhas” e encontrar “pessoas influentes” consegue diminuição dos prazos dos referidos contratos que de um ano passam ter moradias do Governo, como compensação ou retribuição de para seis meses, posteriormente de seis meses passam para três favores políticos ou de natureza diversa. meses e finalmente findo os três meses de prazo dos contratos individuais de trabalho são os trabalhadores despedidos sem dó nem Na minha vida profissional de cerca de vinte e tal anos nunca vi piedade. tamanha desgovernação, tanta incompetência, tanto abuso de poder e tanta infantilidade dum Governo.

Continua extremamente atrasado a reforma das carreiras gerais e Nada mais nos resta, senão aguentar os dias que faltam para que especiais, cujo processo já tem muitas barbas brancas devido aos venha outro Governo para por “ordem em casa” e acabar com a muitos anos de espera. Os trabalhadores da APM ainda estão à miséria e sofrimento dos trabalhadores da linha de frente que foram espera que sejam actualizados os subsídios de residência afim de tantas vezes enganados e massacrados por este sistema de fazer face à desenfreada subida das rendas de casa bem como o Governação. preço das habitações. Todos nós sabemos muito bem, que para este Governo, continua No segredo dos deuses, o Governo vai cozinhando o futuro e actual o bom velho ditado que diz que “O último a sair que feche a destino da maioria dos trabalhadores que dum dia para outro são luz”. confrontados com a diminuição dos seus legítimos direitos e garantias. O pessoal médico, as enfermeiras, os auxiliares continuam Solicito que esta minha intervenção seja enviada ao Chefe do à espera da concretização das muitas promessas feitas pelo Governo Executivo. à muitos anos atrás e que foram a pouco e pouco esquecidas. Obrigado. Os milhares de trabalhadores da área administrativa continuam à espera que sejam actualizados os índices de acordo com a realidade Presidente: Tem a palavra a Srª. Deputada Leong On Kei. do trabalho e funções que exercem bem como as suas habilitações literárias. Leong On Kei: Obrigada Sr.ª Presidente. 6 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日

Caros colegas. do seu sector de actividade ou mesmo actividades de utilidade pública. Tendo em conta a “Trade Protective Policy”, que visa O número de turistas tem aumentado nestes últimos anos devido salvaguardar o desenvolvimento das empresas locais, deve o ao rápido desenvolvimento do sector do jogo, tendo mesmo o porto governo ponderar com cautela e transparência as questões relativas à exterior, um dos principais portos marítimo de passageiros, atingido concessão do direito de exploração das actividades de transporte a sua capacidade máxima. Face à necessidade de atenuar a pressão marítimo. naquele porto, o Governo decidiu realizar obras de ampliação no antigo terminal marítimo de Pac On e ainda construir um novo Obrigada terminal marítimo nesse mesmo local. Para além das referidas obras, consegue ainda proporcionar-se, através da exploração de carreiras Presidente: Tem a palavra a Sr.ª Deputada Kwan Tsui Hang. regulares de passageiros entre Hong-Kong e as diferentes regiões do Delta do Rio das Pérolas, serviços de transporte mais facilitados e Kwan Tsui Hang: Obrigada Sr.ª Presidente. céleres, incrementando assim a cooperação e o intercâmbio entre as referidas regiões. Caros colegas.

A implementação da política de habitação pública ofereceu abrigo Para aliviar a pressão no Terminal Marítimo do Porto Exterior, o à população mais carenciada e ofereceu uma opção aos residentes Governo decidiu expandir o Terminal Marítimo do Porto de Pac On, que não têm capacidade financeira para a aquisição de fracções uma decisão que, na minha opinião, foi a mais correcta. As obras de autónomas no mercado. O fornecimento em número suficiente de expansão estarão concluídas em finais de 2009, tendo no entanto o habitações sociais e económicas e a existência de um mecanismo de Porto provisório sido aberto no dia 16 de Outubro do ano transacto. atribuição eficaz dessas habitações são factores que permitem Só que têm sido muitas as discussões e as dúvidas desde essa altura. estabilizar os preços dos imóveis e evitar situações de controlo Como Macau não tem águas territoriais próprias, necessita de humano. autorização do Governo Central para a criação e uso da trajectória de navegação. Para garantir esse uso, será que são exigidos requisitos A actual política de habitação pública foi criada nos anos 80 do específicos para os operadores de transporte marítimo que utilizam século passado, e funciona com base num modelo em que é o essa trajectória de navegação? Além disso, o direito de uso dessa Governo que concede terrenos aos promotores, a troco da assunção trajectória não foi concedido por concurso público, será que isso está das despesas e obras de construção, e de parte das fracções como a violar o princípio da transparência da acção governativa, que tem contrapartida pelos benefícios fiscais e pela concessão do terreno. sido seguido pelo Governo ao longo destes últimos anos? Quanto às restantes fracções, são vendidas pelo promotor a preços determinados pelo próprio. Esse modelo de funcionamento deu Os diversos problemas surgidos durante a entrada em grande poder e predominância aos promotores, com o ritmo das funcionamento do terminal marítimo provisório do Pac On obras a ser articulado com a situação do mercado e com o promotor demonstram que existem muitas zonas cinzentas na lei. De facto, não a obter lucros através da venda dos imóveis, sem nunca serem existe regulamentação para muitos novos problemas ligados à ponderadas as necessidades de habitação. Por isso é que essa política complexidade da exploração comercial, o que ameaça, gravemente, a nunca conseguiu surtir os melhores efeitos. capacidade de governação do Governo da RAEM. Na Sessão de Perguntas e Respostas no passado mês de Abril, o Chefe do Mesmo assim, como no passado os preços e as rendas dos imóveis Executivo manifestou a posição do Governo sobre o eram aceitáveis, a generalidade da população não precisava de desenvolvimento do sector do jogo, salientando que “o Governo da recorrer às habitações sociais e económicas, mas tendo em conta o RAEM iria executar, com todo o rigor, as disposições legais, não rápido desenvolvimento económico e as mudanças registadas no permitindo que as empresas ligadas ao jogo explorem outras mercado imobiliário, que passou dum mercado virado para os actividades, nomeadamente ligadas aos serviços de utilidade utentes para um virado para os especuladores, é cada vez maior o pública”. número de requerentes daquele tipo de habitações. O problema de habitação dos mais carenciados tornou-se o problema social mais Quanto à concessão do direito de exploração das carreiras significativo, portanto, o Governo não pode ser tão passivo, tem de marítimas do terminal permanente de Pac On, que vai entrar em assumir o papel predominante na política de habitação pública. funcionamento em 2009, o Governo deve retirar os devidos ensinamentos do sucedido com a autorização das carreiras e Na Sessão de Perguntas e Respostas realizada em Agosto de 2007, funcionamento do terminal provisório da Taipa. Para aumentar a o Chefe do Executivo referiu que ia ser o próprio Governo a transparência das políticas e reforçar a fiscalização dos serviços de construir as habitações sociais e económicas, e que, em conjunto utilidade pública, aquando da concessão do direito de exploração das com os empresários envolvidos, ia efectuar um estudo para melhor carreiras marítimas do terminal permanente de Pac On, o Governo poderem concretizar a promessa de construção daquelas habitações, não deve cometer os mesmos erros, ou seja, deve aumentar a assumida antes da transferência de soberania. Esta determinação foi transparência no processo de apreciação dos requisitos e optar pelo já aplicada ao plano de construção de habitações económicas do lote concurso público. Muitos países aplicam a “Trade Protective TN 27 situado na Taipa, cujas obras tiveram já início no passado Policy” com o objectivo de proteger e apoiar as empresas locais, mês de Março. com vista ao desenvolvimento do sector dos serviços, nomeadamente dos de utilidade pública. Espero então que na altura o A opção do Governo por este ajustamento demonstra o início Governo consiga cumprir rigorosamente as orientações das suas duma melhor concretização das políticas relacionadas com a políticas – “as empresas do sector do jogo não podem directamente habitação pública. A par disso, necessita ainda o Governo de tirar participar nos serviços de utilidade pública”, isto é, que proíba as proveito da actual situação financeira folgada para procurar mais empresas do sector do jogo de explorarem actividades diferentes da terrenos e disponibilizar mais recursos financeiros, no sentido de N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 7 melhor preparar a construção de habitações sociais e económicas e duas questões que têm afligido os residentes poderão estar de apoiar os residentes a resolverem os seus problemas de habitação. praticamente resolvidas até finais do corrente ano ou inícios do Sendo assim, apresento as seguintes sugestões: próximo ano, contribuindo assim para a construção de uma sociedade harmoniosa. 1. Cumprir, o mais rápido possível, as promessas: para além de concluir, o mais rápido possível, a construção de 19,000 habitações Trata-se, de facto, de um importante compromisso que visa públicas para responder às necessidades dos cidadãos, deve também resolver os problemas que não só afectam os residentes, mas também ordenar à entidade responsável que divulgue informações sobre o a estética e o meio urbano. Será que vai ser honrado? andamento dos trabalhos sobre o “Plano de arrendamento de Habitação para as famílias de recém-casados/Jovens” e o “Plano de O responsável do IACM tem-se deslocado várias vezes aos bairros apoio de crédito para a 1.a Aquisição”; entretanto deve também para promover essa ideia de “erradicar” os contentores de lixo até implementar, o mais rápido possível, as medidas de atribuição de finais do corrente ou no início do próximo ano e substituí-los por subsídios de residência para quem se encontra em lista de espera, câmaras de depósito de lixo. No entanto, ainda se encontram nas com vista a atenuar a pressão proveniente das rendas. ruas muitos desses contentores de lixo, será que esse objectivo vai ser concretizado no prazo fixado? Parece que não vai ser possível, 2. Aperfeiçoar o respectivo sistema jurídico: sendo as habitações mormente devido aos atrasos, como dizem, verificados na apreciação públicas totalmente financiadas pelo erário público, compete ao e autorização dos respectivos projectos, por parte dos serviços Governo desenvolvê-las e controlá-las, assim sendo, tudo deveria ser responsáveis pelas obras públicas. definido por lei, nomeadamente a distribuição das fracções; proceder, o mais rápido possível, à revisão dos diplomas respeitantes ao Se não conseguirem cumprir a promessa de “eliminar” todos os regime de concurso, espera, distribuição e gestão das habitações contentores no prazo definido, será possível conseguir cumprir a públicas, bem como aproveitar a oportunidade dessa revisão para promessa de resolver os problemas das inundações? Podemos colmatar as lacunas existentes nos respectivos regimes. encontrar a resposta nas chuvas que ocorreram há dias. Todos os cidadãos conseguiram perceber, com a grande chuvada do passado 3. Definir políticas de longo prazo: reapreciar as tendências do dia 1 de Junho, que ainda estamos longe de conseguir acabar com as desenvolvimento, as necessidades sociais bem como o inundações, contrariamente ao que afirma a autoridade desenvolvimento do mercado imobiliário, com vista a elaborar e a responsável “as inundações de Macau foram, de modo geral, definir políticas de habitação e planos de desenvolvimento resolvidas” uma vez que, as zonas baixas como a Areia Preta, a Rua habitacional de longo prazo de 5 de Outubro, a Avenida de Almeida Ribeiro, entre outras, ainda são gravemente afectadas pelas inundações. Agora também a zona 4. Reservar recursos de terras: os terrenos são os mais ricos e norte, onde no passado eram raras as inundações, é afectada pelo básicos recursos necessários para o desenvolvimento habitacional. O mesmo problema, por exemplo, na Avenida do Nordeste. Governo deve estabelecer políticas adequadas, reservando recursos de terras para a construção de habitações públicas e para o futuro Em Maio do ano transacto, o responsável do IACM afirmou que desenvolvimento urbano. antigamente existiam em Macau cerca de 50 a 60 locais onde eram frequentes as inundações, mas que após os esforços envidados ao 5. Assegurar fontes financeiras: criar um fundo exclusivo para o longo de vários anos, cerca de 90 por cento das situações tinham desenvolvimento habitacional, com a finalidade de obter fortes sido tratadas ou resolvidas. Isto quer dizer que nos dias de grandes garantias para a construção de habitações públicas no futuro. chuvadas, as inundações ocorrem em apenas 5 ou 6 locais. Há dias registou-se uma grande chuvada e pudemos constatar que não há No seu sentido amplo, a segurança social serve para proteger os grande diferença entre as afirmações do aludido responsável e a elementos da sociedade através duma série de medidas, sendo a realidade, de facto, foram poucos os locais inundados. Mas o habitação pública parte importante desse sistema de protecção. O problema é que a situação das inundações na zona do Porto Interior Governo deve mobilizar recursos de terras, prestar apoio financeiro e não melhorou, aliás, até se estendeu, especialmente às zonas de construir habitações públicas, no sentido de partilhar adequadamente Almeida Ribeiro, Ribeira do Patane e Cinco de Outubro, com os recursos, e de permitir que os trabalhadores beneficiem dos frutos influência no comércio e no fluxo de pessoas. Por outro lado, há do desenvolvimento económico, favorecendo assim a estabilidade e indícios de inundações na Zona Norte, uma situação que era rara no o desenvolvimento. O Governo da RAEM deve, de forma realista e passado. por forma a salvaguardar o interesse público, proceder a um estudo com vista a resolver os problemas de habitação das classes média e Para resolver o problema das inundações, o Instituto para os baixa, mas também resolver, com a maior brevidade possível, os Assuntos Cívicos Municipais (IACM) não parou, nestes últimos problemas de habitação dos residentes em geral. anos, com as diversas obras de melhoria, nas zonas de San Kio, na rotunda de Calos da Maia e nas partes média e oeste da Avenida de Obrigada. Horta e Costa, para além de lançar o plano de desaguamento do reservatório da Guia, foram efectuadas também obras de melhoria na Presidente: Tem a palavra a Sr. Deputado Chan Meng Kam. parte das vias do oeste da zona de San Kio e na Avenida Marginal do Lam Mau. Não há dúvida de que as obras referenciadas contribuíram Chan Meng Kam: Obrigado Sr.ª Presidente. para melhorar a situação, mas falta ver e avaliar o que vai acontecer daqui para a frente, qual é a qualidade das obras de drenagem, O responsável do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais nomeadamente no respeitante aos assoreamentos naturais dos canais. (IACM) tem apregoado, em várias declarações públicas, ter já O melhor teste vai ser o tempo. encontrado formas para resolver a questão das inundações e para acabar com os contentores de lixo nas ruas, asseverando que estas A zona do porto interior, que também ficou inundada neste 8 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日 incidente, depara-se sempre com esse problema. Há alguns anos, a Os sectores do turismo e do jogo são um importante pilar Administração afirmou que já dispunha dum plano para resolver o económico de Macau. Desde a sua liberalização que o sector do jogo problema, que aquando das obras de reconstrução do Mercado do tem vindo a desenvolver-se rapidamente, no entanto, as instalações e Patane e da instalação do sistema de bombagem, as águas da chuva os equipamentos (software e hardware) do sector do turismo há já seriam de imediato escoadas para o mar. Contudo, já há muito se fala algum tempo que não respondem às exigências do desenvolvimento na reconstrução desse Mercado mas, até ao momento, é uma obra do mercado, verificando-se assim algum desequilíbrio no que ainda não passou do papel, o que quer dizer que as inundações desenvolvimento destes dois sectores. A tendência de investimento na zona se vão manter e que os moradores vão ter de continuar a do Governo tem recaído no sector do jogo e são muitos os turistas aguentar a situação. que vêm até Macau por causa do jogo, o que só prejudica o desenvolvimento saudável do sector do turismo. As inundações nas zonas baixas da cidade, devido às chuvas intensas, e os inúmeros contentores de lixo nas ruas e ruelas têm Macau, enquanto cidade turística internacional, há já mais de influenciado o dia a dia dos residentes. O Governo afirmou que ia quatrocentos anos que constitui ponto de intercâmbio cultural entre a resolver essas questões, que já tinha criado medidas eficazes para as China e o Ocidente. Com a inclusão, em 2005, do Centro Histórico resolver, até finais do corrente ano ou no 1.º semestre do próximo de Macau na lista do Património Cultural, Macau passou a gozar ano. Trata-se duma excelente decisão, que visa concretizar um duma certa vantagem a nível turístico. No entanto, a falta de desejo comum da população, que já sofre com o problema há algum iniciativa e de planos adequados por parte das autoridades tempo. Se o IACM, serviço responsável, conseguir de facto resolver competentes, aliada à insuficiência de condições ao nível tanto do a situação no prazo definido, com certeza que os residentes software como do hardware, as características culturais e turísticas reconhecerão e elogiarão os esforços envidados, mas se o prometido de Macau não têm sido cabalmente aproveitadas. Daí que seja não for concretizado, mesmo que os residentes não critiquem, isso só necessário ponderar sobre a exploração das pontencialidades demonstrará a falta de pragmatismo dos responsáveis. As mentiras e existentes, procurando um justo equilíbrio entre o turismo e o jogo, a não concretização das promessas só acarretam consequências permitindo assim que estes dois sectores se desenvolvam de forma negativas, como sejam a perda de confiança da população no mais completa e aperfeiçoada. Governo! Para além do “Centro Histórico de Macau”, que integra a lista do Obrigado. património mundial, existem em Macau muitos outros pontos turísticos com características históricas e culturais que podem ser Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Ung Choi Kun. desenvolvidos. Por exemplo, a Avenida de Almeida Ribeiro e os bairros antigos situados no Porto Interior eram no passado o centro de comércio, a baixa da cidade, que à medida que o tempo foi Ung Choi Kun: Obrigado Sr.ª Presidente. passando, deixaram de ser escolhidos pelos turistas. Tendo em conta que essas zonas não fazem parte do Centro Histórico de Macau, é Sr.ª Presidente. provável que a Administração descure o valor histórico e cultural que, de facto, encerram. Caros colegas Antigamente, a Avenida de Almeida Ribeiro era um centro de Desde a implementação, em 2003, da política de visto individual, comércio, de tráfego e de turismo, e ainda hoje continua a ser um que o número de visitantes provenientes da China Continental não local onde os turistas querem ir, em visita e para as compras. À tem parado de crescer, de ano para ano. Mais de 27 milhões de medida que o ambiente na zona se foi alterando, devido aos mais visitantes entraram em Macau em 2007, um aumento da ordem dos diversos factores e à falta das medidas necessárias para a sua 22,7% relativamente a 2006, e 7,5 milhões apenas no primeiro melhoria, quase 9 das 10 lojas situadas na parte inferior (direcção do trimestre do corrente ano, um crescimento de 17,8% relativamente Largo do Senado para o Porto Interior) da referida Avenida estão ao período homólogo do ano passado. Já no início do ano passado o fechadas, assim, quando os visitantes passeiam pelo Largo do sector do turismo previa que para o corrente ano que o número de Senado só vão, no máximo, até meio da Avenida. visitantes poderia vir a ultrapassar a casa dos 30 milhões. Esperava-se que depois da conclusão das obras da Ponte 16, no Foi graças à política de visto individual, implementada desde início deste ano, a zona do porto interior pudesse revitalizar-se. Julho de 2003 e progressivamente alargada a várias cidades da China Porém, devido à falta de reordenamento num troço situado entre a Continental - são hoje 49 as cidades que beneficiam desta política -, Av. de Almeida Ribeiro e a Ponte 16, mais concretamente na Rua de e à liberalização do jogo que o número de visitantes tem vindo a 5 de Outubro, onde se situa o Pagode do Bazar, que é um dos bater constantes recordes. Contudo, com a introdução de alguns monumentos históricos de Macau frequentemente visitado pelos ajustamentos a essa política em meados do ano passado, no sentido turistas, não se conseguiu desenvolver o comércio e o turismo. No de criar restrições cada vez mais apertadas, os vistos concedidos aos relatório das LAG para 2008, refere-se o reordenamento das zonas residentes da província de passaram a ser limitados a antigas e a intenção do Governo redobrar esforços no sentido de uma vez por mês. Além disso, correm rumores de que os vistos para embelezar as vias públicas e melhorar as condições ambientais, por fins comerciais também vão sofrer restrições. Portanto, prevê-se que forma a elevar a qualidade de vida dos moradores e promover o o número de visitantes venha a sofrer algum impacto. Segundo os desenvolvimento económico dessas zonas. dados, os visitantes provenientes da China Continental registados no primeiro trimestre ocupavam uma faixa de 58,4% do total de Assim sendo, proponho às entidades competentes que sejam visitantes. É de crer que os ajustamentos introduzidos nessa política tomadas medidas para acelerar o ritmo dos trabalhos de se venham a traduzir num impacto directo para o sector do turismo reordenamento do bairro antigo do Porto Interior, que se embeleze local. toda aquela zona para que a atracção turística não se limite ao Largo N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 9 do Senado, mas se alargue ao Largo do Pagode do Bazar e à Ponte os filhos. 16, ou seja, que se anime a economia e eleve o valor turístico de toda a zona entre a Rua de Cinco de Outubro, Rua do Tarrafeiro, Rua de Espero que a Administração dê mais atenção às necessidades Nossa Senhora do Amparo, Igreja de Santo António e Ruínas de São urgentes da população no âmbito da assistência familiar, revendo e Paulo. Pode até ponderar-se transformar os edifícios do IACM e dos equilibrando os vários equipamentos sociais para a prestação de Correios, que têm estilo europeu, em museus, criando assim nessa cuidados familiares nas diferentes áreas urbanas, e satisfazendo, ao zona mais um ponto turístico de alto valor histórico com máximo, as necessidades ao nível dos cuidados a idosos e das características mistas, ocidentais e orientais, a fim de tornar Macau creches. Sugere-se então às autoridades que efectuem uma avaliação uma cidade turística internacional e contribuir para a diversificação às estruturas sociais existentes, reforçando os recursos nos locais adequada da nossa economia. onde a carência é maior, com vista ao necessário aumento do número de lares e creches. Para além do reforço de recursos, apela-se Obrigado. também ao Governo para que invista num modelo e reforce o seu papel fiscalizador junto das instituições civis que prestam esse tipo Presidente: Tem a palavra a Srª. Deputada Iong Weng Ian. de serviços. Torna-se ainda necessária uma articulação dos reforços preconizados com a necessidade do trabalho por turnos dos pais e Iong Weng Ian: Obrigada Sr.ª Presidente. também com a insuficiência de serviços de cuidados prestados pelas associações civis durante o dia. Para tal, devem ser Caros colegas. desburocratizadas as formalidades para abertura de lares e creches, por forma a permitir uma maior participação das instituições e A população de Macau aumentou bruscamente passando de 415 organizações interessadas, ajudando assim as famílias a verem mil habitantes em 1996 para 543 mil habitantes este ano. De entre os resolvidos os seus problemas relativos aos cuidados aos seus 543 mil habitantes, cerca de 15,2% têm menos de 16 anos e cerca de menores e idosos. 7% têm mais de 65 anos, ou seja, cerca de 120 mil habitantes necessitam de serviços comunitários e respectivas instalações de Obrigada. apoio, por exemplo, cuidados a crianças (incluindo serviços prestados pelas creches), cuidados a idosos, prestados pelos centros Presidente: Tem a palavra a Srª. Deputada Leong Iok Wa. de dia, bem como cuidados domiciliários. O crescimento demográfico, nomeadamente o da população activa, fez aumentar Leong Iok Wa: Obrigada Sr.ª Presidente. constantemente a procura por serviços comunitários e cuidados domiciliários. Caros colegas.

Na mentalidade tradicional, compete à mulher a importante tarefa Determina a Lei de Bases da Política de Emprego e dos Direitos de cuidar da família. Porém, à medida que o tempo e a sociedade Laborais que a importação de mão de obra se limita a suprir as foram evoluindo, muitas mulheres necessitaram de trabalhar fora de insuficiências de recursos humanos locais. Contudo, é lamentável casa, o que deu lugar a novos problemas no que respeita aos que ao longo dos anos a Administração não tenha exercido um cuidados a prestar à família. Muitas mulheres que trabalham no controlo e uma fiscalização eficazes sobre a importação de sector do jogo, um dos sectores predominantes de Macau, trabalham trabalhadores, prejudicando assim os direitos ao emprego e ao por turnos, e como não têm horário de trabalho fixo vêem as tarefas trabalho de muitos trabalhadores locais, o que tem levado ao suscitar de cuidar da família mais dificultadas, e como regra geral são as de grande insatisfação social contra o abuso da importação de mão mulheres que enfrentam as pressões tanto do trabalho doméstico de obra. Por isso é que o sector laboral exige, reiteradamente, a como da profissão, acabam por ficar física e psicologicamente fixação de um limite máximo de trabalhadores não residentes, a cansadas. Para encontrar um ponto de equilíbrio entre ambos, muitas apreciação rigorosa e cautelosa dos pedidos de importação de mão mulheres cujos maridos têm também de trabalhar, desejam que o de obra bem como a redução, tendo em atenção a situação do Governo e as associações cívicas aperfeiçoem os seus serviços e mercado, das quotas para alguns sectores de actividade, como o da respectivas instalações de apoio, por forma a verem essa pressão construção civil, por forma a assegurar o direito dos trabalhadores atenuada. locais ao emprego. A par disso, há que dispensar ainda atenção às condições de vida dos trabalhadores não residentes que aqui vivem, As instalações de serviços comunitários não estão distribuídas de de forma a evitar que daí se gerem efeitos negativos para o forma sistematizada, pois as necessidades tanto daqueles serviços desenvolvimento social. como de serviços de apoio à família variam de zona para zona. Por exemplo, na zona norte a densidade populacional é mais elevada, Presentemente, os assuntos relacionados com a autorização de enquanto nas ilhas é onde a população aumenta mais rapidamente, importação de trabalhadores são da competência da tutela da na primeira são necessárias mais instalações ou serviços de cuidado economia e finanças. Segundo a legislação vigente, a entidade para os idosos, enquanto nas ilhas são necessárias mais instalações responsável pela apreciação e autorização dos pedidos tem a ou serviços para cuidar de crianças, instalações essas que são ainda obrigação de avaliar a adequabilidade das condições definidas nos escassas. Segundo os resultados Preliminares do Intercensos 2006, a contratos, sobretudo no que se refere ao alojamento e apoio a população da Taipa atinge já as 66.585 pessoas, um aumento de 50 oferecer a esses trabalhadores em caso de acidente de trabalho, no mil pessoas em comparação com o ano de 1996. Entre estas, 3.444 entanto, devido à falta de medidas legais, a fiscalização é imperfeita. são crianças entre os 0 e os 4 anos, para apenas quatro creches na Por outro lado, os serviços públicos responsáveis pelos trabalhos da ilha da Taipa, com apenas 358 vagas, que não conseguem, de modo área da saúde e assuntos sociais responsabilizam-se mormente pelos algum, satisfazer as necessidades. Muitos pais têm então de levar os assuntos relacionados com os residentes de Macau, pelo que, na seus filhos para as creches de Macau, o que só aumenta a pressão do prática, muito raramente se dedicam aos trabalhadores não residentes. trânsito como constitui um incómodo tanto para os pais como para Tudo isto demonstra que o Governo, por forma a resolver o 10 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日 problema da falta de recursos humanos, autorizou a importação de os modelos de funcionamento e gestão não se devem limitar à grande número de trabalhadores para Macau sem no entanto ter actualidade nem de Macau nem de Zhuhai, mas abranger os prestado a devida atenção às necessidades dos mesmos. interesses da Nação, em prol da política de abertura adoptada, por forma a promover a economia, o comércio externo e o turismo. O Nos últimos anos, o número de trabalhadores não residentes objectivo final é criar um posto fronteiriço eficiente e ordenado, aumentou bruscamente, passando de cerca de 20 mil para mais de 90 onde a passagem seja agradável. mil, sendo alguns deles apenas trabalhadores não qualificados que auferem baixos salários. Alguns deles sofrem grandes pressões ao Segundo, as obras de ampliação precisam de se articular com o verem-se obrigados a viver apinhados em locais apertados, pois os ambiente adjacente. Neste momento existem vários problemas na empregadores não cumprem o compromisso de lhes arranjar zona das Portas do Cerco, como a falta de articulação do alojamento. Às vezes surgem conflitos entre estes e os residentes, ordenamento viário, com a frequente concorrência entre veículos e normalmente devido às diferenças de hábitos, culturas, e mesmo de peões, e o estacionamento permanente de veículos pesados, que língua, por isso é que muitos sentem dificuldades de adaptação à afecta não só a fluidez do trânsito como também constitui factor para vida em Macau e, logicamente, sentem-se infelizes. Se ignorarmos a ocorrência de acidentes de viação. Quando as obras de ampliação esses factores, podem surgir problemas sociais imprevisíveis, por estiverem concluídas, o fluxo de passageiros irá necessariamente exemplo, nos últimos anos, o Governo tem mobilizado grandes aumentar, por isso, se a situação referida se mantiver, os problemas recursos comunitários para a prevenção e controlo das doenças só vão agravar-se. Por isso, devem aproveitar-se as obras de contagiosas, no sentido de fazer de Macau uma cidade saudável, mas ampliação para melhorar também a rede viária e as instalações para atingir esse objectivo não se pode contar apenas com os complementares naquela zona. residentes, também é necessário contar com os trabalhadores não residentes, que ocupam já 1/6 da população, se assim não for, a Assim, sugere-se o seguinte: 1. a redefinição das paragens promoção e a implementação da política de saúde poderão ser dos “shuttle bus” dos casinos e dos locais de espera dos passageiros. afectadas. 2. o aumento ou ampliação, em simultâneo, dos auto silos, com vista a resolver o problema do estacionamento e assegurar a fluidez A política de importação de mão de obra foi simplesmente do trânsito. 3. a construção de passagens subterrâneas ou de viadutos implementada sem que as autoridades tivessem ponderado para peões, em substituição das actuais zebras, de modo a evitar a seriamente sobre a respectiva gestão. A situação será preocupante se concorrência entre veículos e peões. 4. a instalação de coberturas o gradual alargamento do universo desses trabalhadores continuar a para abrigo dos peões na passagem pedonal em frente às Portas do não merecer a devida atenção. Assim sendo, apelo aos serviços Cerco. 5. a reserva de espaços para estação do metro ligeiro e competentes para encararem seriamente o problema, estudando em ligações de acesso tanto para peões como automóveis. 6. o conjunto os diversos problemas relacionados com a importação, aperfeiçoamento do ambiente e das instalações do Terminal fiscalização e gestão de mão de obra, ajudando-a a adaptar-se à vida Subterrâneo de Transportes Colectivos. de Macau. Ademais, há que responder rapidamente às solicitações da sociedade, definindo quanto antes a devida proporção e limite do Terceiro, as obras de ampliação devem ter lugar em simultâneo número de trabalhadores a importar, efectuando uma análise com a melhoria dos equipamentos e respectiva gestão. Tendo contínua sobre a evolução dos recursos humanos, de modo a presentes as experiências de Gongbei e de HongKong quanto à assegurar a prioridade de emprego dos locais. Com isto será possível circulação de pessoas, uma das medidas bem sucedidas consiste na reduzir o impacto da importação no emprego e na vida dos instalação de um centro de controlo supervisionado por um oficial residentes, evitando-se conflitos que possam pôr em causa a responsável no hall da entrada e saída. A referida estrutura de harmonia social. controlo tem por objectivo a distribuição de canais de acesso dos passageiros consoante as diferentes situações no local, mobilizando Obrigada. o pessoal e tomando as medidas que forem necessárias. Por isso, sugere-se a instalação de um centro de controlo semelhante no átrio Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Ieong Tou Hong. de entrada e saída para uma maior eficiência e celeridade no controlo da movimentação de pessoas, e por outro lado, que os acessos e os Ieong Tou Hong: Obrigado Sr.ª Presidente. elevadores de ligação ao átrio devam ter presente a conveniência para circulação das pessoas. Ontem, iniciaram-se formalmente as obras de expansão do Posto Fronteiriço das Portas do Cerco, cuja conclusão se prevê para daqui Quarto, sendo o turismo um dos sectores dominantes, que depende a 17 meses, altura em que se prevê também que o fluxo diário de essencialmente da vinda de visitantes, é de todo necessário assegurar passageiros aumente de 300mil para 500 mil. Não há dúvida de que uma boa gestão das instalações dos diversos postos fronteiriços de a ampliação do posto fronteiriço contribui para atenuar a pressão e Macau, enquanto cidade turística de reputação internacional. Neste para elevar a eficiência da passagem alfandegária, contudo, como se momento existem oito postos fronteiriços, três por via terrestre trata duma instalação importante, para além do alargamento do (Gongbei, Ponte Flor de Lótus e a zona transfronteiriça), três por via edifício principal há ainda que melhorar as outras instalações marítima (Porto Exterior, Porto Interior e Pac-On) e dois por via complementares. aérea (o Aeroporto e o Heliporto). A falta de instalações e pessoal não se faz apenas sentir no Posto das Portas do Cerco, neste Primeiro, as Portas do Cerco estão ligadas ao segundo maior posto momento em ampliação, também os outros postos se deparam com o fronteiriço do Estado, ou seja, ao de Gongbei, dois postos que mesmo problema, face ao crescente aumento do n.º de turistas. Por constituem partes importantes de entrada no país, por isso, devem isso, as obras de ampliação e optimização devem ser também articular-se algumas matérias, como a capacidade dos postos, o estendidas a esses postos, e devem ser incluídas na agenda de tempo para verificação dos documentos, o horário do funcionamento, trabalho do Governo. Com o amadurecer das condições, devem os etc.. Os factores a ter em consideração na tomada de decisões sobre serviços competentes ponderar sobre o prolongamento do horário de N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 11 funcionamento da fronteira entre Macau e Zhuhai e sobre a que exigem a regulamentação, nos mais diversos domínios, da possibilidade de simplificação dos procedimentos alfandegários, repressão do tráfico de pessoas. com vista à prestação de melhores serviços aos passageiros, em prol do desenvolvimento de Macau a longo prazo. Concluiu a Comissão, após exame e análise, que o conjunto de medidas estratégicas e de soluções técnicas propostas na Proposta de Obrigado. Lei pode contribuir para o pleno cumprimento das obrigações decorrentes dos instrumentos de direito internacional e dos Presidente: Srs. Deputados: objectivos nela preconizados, entre os quais:

Terminou o período de antes da Ordem do Dia. A inserção do crime de tráfico de pessoas no Código Penal para, através da tipificação penal, punir os diversos actos de tráfico de Agradecia que os Srs. Deputados se mantivessem nos vossos pessoas, conferindo assim um suporte legal para o seu eficaz lugares, pois vamos passar para a Ordem do Dia. combate e alargando-se o âmbito de aplicação do crime de tráfico de pessoas, incluindo os diversos tipos de actos ilícitos mais comuns; (Entrada da Srª. Secretária para a Administração e Justiça e outros) O realce dado na protecção às vítimas menores, ao prever-se, Presidente: Srs. Deputados: especialmente, na Proposta de Lei, uma moldura penal mais agravante para cada um dos tipos penais, se a vítima for menor de 14 Prossigamos a sessão plenária. anos, e ao criminalizar a conduta do agente que a coberto da adopção de menores trafique crianças; Da Ordem do Dia consta apenas um ponto que é a discussão e votação na especialidade da proposta de lei intitulada “Combate ao O realce dado na protecção às vítimas do crime de tráfico de crime de tráfico de pessoas”. pessoas, ao prever-se, especialmente, na Proposta de Lei, um conjunto de direitos da vítima, nomeadamente indemnização, apoio Antes de mais, dou as minhas boas-vindas aos Srs. Representantes judiciário e assistência médica e medicamentosa gratuita, bem como do governo. de medidas de protecção e assistência à vítima;

Vou agora convidar o Sr. Presidente da comissão a apresentar os O realce dado na cooperação internacional, ao consagrar, trabalhos realizados pela comissão. Faça o favor de intervir. sobretudo, que caso a vítima não seja residente, deve o facto ser comunicado, de imediato, ao conhecimento do corpo diplomático do Kwan Tsui Hang: Obrigada, Srª. Presidente. seu país ou território de origem, bem como accionar os mecanismos de cooperação necessários para que sejam adoptadas as Senhora Presidente, correspondentes medidas de protecção e assistência;

Senhora Secretária, A consagração da responsabilidade penal das pessoas colectivas pelo crime de tráfico de pessoas. Senhores membros do Governo, De resto, tanto as questões abordadas pela Comissão e pelo Caros colegas. Governo, bem como a situação do exame na especialidade da Proposta de Lei encontram-se melhor desenvolvidas no parecer que A Proposta de Lei intitulada “Combate ao crime de tráfico de ora se apresenta para apreciação do Plenário. pessoas” foi apresentada, discutida e aprovada na generalidade na sessão plenária de 27 de Fevereiro de 2008 e distribuída pela Obrigada. Senhora Presidente da Assembleia Legislativa à 1.ª Comissão para exame na especialidade. A Comissão reuniu várias vezes para Presidente: Srs. Deputados: proceder à análise da referida Proposta de Lei e manteve um amplo diálogo com os representantes do Governo, do qual resultou a Vamos agora debater os artigos 1.º a 4.º desta proposta de lei na apresentação, pelo Executivo, de uma versão alternativa. especialidade. Tem a palavra o Sr. Deputado Au Kam San.

Durante a apreciação da Proposta de Lei, as questões que mais Au Kam San: Obrigado, Srª. Presidente. suscitaram a preocupação dos membros da Comissão prendem-se, sobretudo, com as opções a nível da política legislativa e da técnica- Srª. Secretária, Srs. Membros do governo: -jurídica, no sentido de saber se as mesmas são ou não suficientes para cumprir as obrigações que decorrem dos instrumentos de direito Tenho alguma dificuldade em compreender o n.º 4 do artigo internacional aplicáveis em Macau, nomeadamente da Convenção da 153.º – A que consta do artigo 1.º desta proposta de lei: Quem, Organização Internacional do Trabalho sobre o Trabalho Forçado ou mediante pagamento ou outra contrapartida, alienar, ceder ou Obrigatório de 1930, da Convenção da Organização Internacional do adquirir menor, ou obtiver ou prestar consentimento na sua adopção, Trabalho sobre a Abolição do Trabalho Forçado de 1957, da é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos. Convenção da Organização Internacional do Trabalho relativa à Interdição das Piores Formas de Trabalho das Crianças e à Acção Ora bem, oito anos depois do retorno à Pátria, o chinês escrito Imediata com Vista à Sua Eliminação de 1999, da Convenção das como este é incompreensível para quem só sabe chinês. Não sei Nações Unidas Contra a Criminalidade Organizada de 2000, e da porque razão desta lei ainda consta chinês como este, por Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança de 2000, exemplo, “…alienar, ceder menor…”, qual é a diferença entre 12 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日 alienar e ceder? O “alienar” não abrange já o “ceder”? Mas, aqui diz Presidente: Segundo esse esclarecimento, não foi possível alienar e ceder. Qual é o objectivo desta forma de escrever? Será encontrar uma tradução correspondente na língua chinesa. O Sr. porque há diferença entre o chinês e português? Será porque da Deputado tinha alguma razão em levantar a tal dúvida. Não vamos versão portuguesa constam duas palavras e por isso, é necessário falar mais sobre se é a língua portuguesa ou a língua chinesa que tem escrever aqui também duas palavras correspondentes? Para mim, prioridade, porque o Sr. Director já nos esclareceu isto. Quanto a esta disposição é pouco clara. Não sei se é verdade, ouvi dizer que a isso, penso que o Sr. Deputado não vai levantar objecções, pois, o Srª. Secretária deu ordem para que haja um português responsável governo já prestou o esclarecimento. Nós temos ainda a Comissão de pela qualidade dos diplomas legais. Está bem, na parte da língua Redacção que se encarrega pela melhor expressão das ideias. De portuguesa. E na parte da língua chinesa, também há um chinês facto, estes dois verbos na língua chinesa não expressam ideias responsável? Diz-se que há quem faça “maquilhagem política”, e diferentes, mas na língua portuguesa, as ideias expressas são poderá haver quem faça “maquilhagem na escrita”? Por exemplo, na diferentes, embora ambos tenham a mesma ideia, que é dar alguma área da literatura, o Sr. Sheng Wei Keng e o Sr. Hu Pei Zhou são coisa a alguém. Para isso, vamos deixar este assunto à Comissão de pessoas de peso, com uma base muito sólida na escrita. Pergunto: Redacção para encontrar melhor forma de exprimir, na medida do poderá o governo contratar também pessoas destas para serem possível, estas ideias, para que um chinês, em geral, possa perceber responsáveis pela escrita de diplomas legais? Esta é a minha bem qual é a diferença destas expressões. É de salientar que, após o pergunta. retorno à Pátria, foram feitos muitos trabalhos legislativos, mesmo na AL e, muitas vezes, temos de dar muitas voltas para encontrar Obrigado. uma forma que melhor exprima o espírito legislativo e a ideia pretendida. Contudo, neste caso, não vamos discutir sobre estas Presidente: Podem esclarecê-la? Faça favor. expressões, porque não vamos chegar a lado nenhum. Como o Sr. Director Cheong já nos esclareceu quanto ao significado destas Secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan: Srª. expressões, não vamos insistir mais nesta questão, vamos passar este Presidente: assunto para… como vocês trabalham com leis e são bilingues, espero que consigam encontrar expressões mais adequadas para este Vou convidar o Sr. Director Cheong a esclarecê-la. caso.

Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: O Sr. Deputado Pereira Coutinho levantou já o braço, mas Sr. Obrigado, Srª. Presidente. Agradeço a questão do Sr. Deputado Au Deputado Chan Chak Mo, vai também abordar a mesma questão? Kam San. Como esta questão já foi esclarecida, não vamos continuar a discutir mais. Porquê? Porque, quanto a esta expressões… quer manifestar a Francamente digo, na elaboração de diplomas legais, não temos sua opinião? Se o Sr. Deputado Pereira Coutinho não levantar uma língua indicada para ser sempre a língua da partida. Como todos objecções… o Sr. Deputado Chan Chak Mo quer manifestar as suas sabem, um diploma legal tem duas versões e a sua tradução tem de opiniões sobre a mesma questão. Se não se importar, vou deixá-lo ser precisa. O que a versão chinesa diz, a versão portuguesa tem que intervir. ter a mesma ideia. Portanto, a versão chinesa não pode deixar de se conformar com a versão portuguesa. Contudo, para além da Tem a palavra o Sr. Deputado Chan Chak Mo. preocupação com a precisão e conformidade, outra preocupação é a versão chinesa ter que ser compreensível para quem a lê, o que Chan Chak Mo: Obrigado, Srª. Presidente. também deve acontecer com a versão portuguesa. Só que, muitas vezes, estas exigências não são possíveis de satisfazer-se a cem por Srs. Membros do governo, caros colegas: cento. Portanto, importa aqui ter um equilíbrio. Quero salientar mais uma vez que muitas vezes, ao elaborar um diploma legal, não temos que necessariamente usar a língua portuguesa como a língua da Em relação à ideia da Srª. Presidente e do Sr. Deputado Au Kam partida que é traduzida posteriormente para a língua chinesa ou a San, muitas vezes pensei que esta seria uma questão relacionada com língua chinesa como a língua da partida que é traduzida a tradução, que não está fiel à ideia original, complicando as posteriormente para a língua portuguesa. No fundo, trabalhamos com dificuldades dos Deputados na leitura e ficámos intrigados: por que equilíbrio entre estas duas línguas. Portanto, quanto às dúvidas que o razão o chinês está escrito desta forma? Quanto a isso, quero fazer Sr. Deputado colocou, sabemos que o significado uma achega. Ficamos todos bem esclarecidos com a intervenção do de “alienar” e “ceder” em chinês parecem ter a mesma ideia que é Sr. Director Cheong, porque razão não foi possível encontrar uma dar alguma coisa a alguém. Ou seja, eu tenho uma coisa e não quero tradução correspondente. Uma ideia é dar uma coisa e receber ficar com ela e dou a outra pessoa. Mas, pergunta-se: por que razão benefício e outra ideia é dar uma coisa sem receber benefício. E estão aqui estes dois verbos em vez de usar só um? A resposta tem a queria chamar a atenção para o governo: se com o esclarecimento do ver com a tradução da versão da língua portuguesa, pois, da língua Sr. Director, ficamos todos esclarecidos, por que razão, essa ideia portuguesa constam algumas palavras que expressam conceitos não foi expressa na tradução, para facilitar mais a nossa leitura? jurídicos com maior precisão. Neste caso, na versão da língua portuguesa estão dois conceitos: o primeiro é dar alguma coisa a Tenho dito. alguém mas receber em contrapartida algum benefício, tal como uma venda; mas o segundo conceito é: tenho alguma coisa e quero Presidente: Quanto a isso, eu já levantei a mesma questão antes, oferecer a alguém. É esta ideia, no fundo. Mas na língua chinesa, pois trata-se de uma lei bilingue e só quem é bilingue é que percebe esta ideia não está claramente expressa, e na língua portuguesa, esta bem. Porque? Porque em português, só com uma palavra consegue- ideia é muito clara. se exprimir a ideia sem acrescentar mais nada para esclarecer. Portanto, é preciso redigir as leis, tanto em chinês como em Tenho dito. português, de forma compreensível. É isso que todos nós queríamos N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 13 uma garantia. Portanto, espero que ao redigir este artigo, tentem tipificado... o que é que se pretende... o crime, no artigo 1, diz: quem procurar traduzir com a ideia mais próxima, reflectindo a diferença acolher pessoa para fim de exploração sexual, de exploração do das duas línguas. É de notar que não é nada fácil conseguir isso. E trabalho ou dos serviços dessa pessoa, portanto, aqui, está-se mais, aqui não tem a ver só com a questão de tradução, uma vez que precisamente a punir a exploração directa do agente que trafica. em português, com apenas uma palavra consegue-se exprimir bem a ideia, mas em chinês, é preciso explicar a ideia com expressões, o No número cinco, não se trata do agente que trafica para explorar que às vezes também acontece com a língua portuguesa. Importa o trabalho ou os seus serviços, mas sim de uma terceira pessoa, que, redigir uma lei que seja compreensível para todos, especialmente na tendo conhecimento dessa prática, explora o trabalho ou utiliza AL, onde a maior parte dos Deputados fala chinês e não percebe órgãos da vítima. Ou seja, é uma situação diferente. Porquê? E português. Embora seja um pouco complicado, a lei deve exprimir porque é que não se diz claramente “os serviços”? Porque achamos ideias iguais em duas línguas, na medida do possível, está bem? que a expressão genérica “explorar o trabalho” já os engloba e Compreendemos que não tem a ver só com a questão de tradução, no depois porque poder-se-ia estar a ir longe demais, ou seja a exigir-se fundo não tem muito a ver com a questão de tradução, pois aqui tanto a quem não é o agente directo do crime, mas sim a quem se estão umas palavras simples para traduzir estes verbos em português. aproveita dele. Aliás, digo que chegámos a ponderar reduzir este A língua portuguesa, de facto, às vezes é simples mas com ideia número à simples utilização dos órgãos da vítima, por se entender precisa, mas em chinês, para exprimir essa ideia, temos de recorrer a que é essa uma das questões mais típicas. Ou seja, pensamos que a umas expressões compridas. Não faz mal, vamos procurar redigir exploração directa dos trabalhos ou serviços do agente do tráfico, esta lei para que seja compreensível. Caso contrário, se o cidadão encontra-se contemplada no número 1. Aqui, é um terceiro que se não perceber a lei, a quem é que ele vai perguntar? Não é? Temos utiliza da pessoa traficada, entendeu-se que esta formulação abrange assessores bilingues que vão trabalhar nisso juntamente com a e é suficiente para as reais situações. equipa do Sr. Director. Uma outra questão, e entendemos que a mesma dá resposta às Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho. exigências internacionais em vigor em Macau, quer a convenção contra a criminalidade transnacional, quer quanto ao protocolo José Pereira Coutinho: Obrigado, Srª. Presidente, Sr. Secretário, adicional que ainda não está em vigor mas, tanto quanto sabemos, irá Srs. Membros do Governo: ser estendido a Macau e que, obviamente, a convenção da União Europeia não tem força para vincular Macau e, quando se legisla, Já que estamos a falar sobre a qualidade deste texto jurídico, pelo tem que se ter em conta as realidades específicas de cada território e menos, para mim, cumpre realçar a qualidade técnico-legislativa de cada região. Portanto, pensamos que não há nenhuma – e para ser utilizada, pelo menos na versão portuguesa, quanto ao rigor e à sua claro – não há nenhuma diferença substancial, há sim uma redacção qualidade. Não é todos os dias – eu pelo menos, sinto isso, como cuidadosa para que não possa haver equívocos. Aliás, a Sr.ª deputado - que temos que analisar um texto tão bem redigido. Presidente da Primeira Comissão, abordada por um meio de Comunicação Social sobre esta matéria, que a questionou Pedia a palavra, talvez... não sei se o Governo podia esclarecer directamente se isto iria ou não abranger os clientes da prostituição, algumas dúvidas que têm a ver com a primeira e a segunda versão, a respondeu claramente que não, porque isso é outra matéria que não é diferença, nomeadamente no artigo 153.º-A, n.º 5. Ora bem, na regulada aqui. primeira versão, falava-se na utilização de serviços. Só que, na versão final, suprimiu-se os serviços, para acrescentar o trabalho. É Portanto, tendo em conta eventuais confusões que poderia haver evidente que, em termos jurídicos, as concepções são diferentes. na interpretação da lei, com esse termo - “serviços” - resolveu-se Uma coisa é a exploração dos trabalhos, outra coisa é a exploração tirá-lo, sendo certo que, obviamente, a Lei de Tráfico de Pessoas vai dos serviços. Aliás, a Convenção do Conselho da Europa muito além dos casos em que pessoa é traficada para prostituição, relativamente à luta contra o tráfico dos seres humanos, fala pode ser traficada para trabalho escravo e exploração do trabalho, e claramente na exploração do trabalho ou serviços forçados. E é nessa está aqui... pode ser para recolha de órgãos, e está também aqui. Ou perspectiva que eu gostaria de saber porque é que, na primeira seja, entendeu-se por bem, para evitar qualquer dúvida de versão, estava lá escrito “utilização de serviços” e foi suprimida, e interpretação, sem prejuízo de os objectivos serem perseguidos, que porque é que foi suprimida. é: seja qual for o fim, ou seja, se eu souber e tiver conhecimento de que uma pessoa foi traficada e a utilizar para explorar o seu trabalho A segunda questão é relativamente a... se, de facto, o Governo seja para trabalhar como escravo, que não lhe pago, em minha casa... entender que a exploração do trabalho abarca também a exploração e aqui convém dizer uma coisa, aqui não se trata de eu dizer à pessoa dos serviços… Porque, para meu entender, são questões e termos de que vou pagar três mil patacas e depois só pagar mil, este caso está conceptualização jurídica completamente diferentes. Era esta a integrado na Lei do Trabalho! É noutra área, é eu tê-la e não lhe dúvida que eu tinha, neste primeiro momento, para ser esclarecida. pagar, não a deixar sair de casa, tê-la coagida, coarctada nos seus movimentos. Obrigado. Temos que distinguir que esta lei não pretende resolver as Presidente: Faça o favor de intervir. questões ligadas ao Direito do Trabalho. Mas dizia eu, se eu, tendo conhecimento de que uma pessoa foi traficada, a contratar para Assessor Marques da Silva: Srª. Presidente, Srs. Deputados: trabalhar na prostituição, é óbvio que eu, além de cometer o crime de lenocínio, estou também a cometer este crime do n.º 5, em cúmulo Penso que a questão é simples e foi uma questão de redacção que jurídico. O que não se pode criminalizar, aqui, é uma coisa: a não tem nada de especial. prostituição, em si, não é crime na RAEM, quando feita, é óbvio, com livre... A exploração, sim, a exploração dela, das pessoas que se É que, se olharmos para a maneira como o próprio crime está prostituem, isso sim, é o crime de lenocínio. 14 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日

Resumindo e concluindo: não há alteração nenhuma quanto às na nossa opinião, não deixando de abranger as situações que se entidades e quanto aos objectivos da lei perseguida, entendeu-se que queria abranger, não indo é ao ponto de que pudesse interpretar a lei, esta era a redacção mais consentânea, que não iria criar problemas de que queríamos abranger situações que realmente o legislador não interpretação da mesma. queria.

Obrigada. Obrigado.

Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho. Presidente: O governo quer prestar um esclarecimento adicional? Faça favor. José Pereira Coutinho: Obrigado, Srª. Presidente. Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: Obrigado, Srª. Presidente. Não estou assim muito convencido com esta explicação, porque ainda continua a haver dúvidas. Nós estamos a falar de uma situação Percebo a questão que o Sr. Deputado Pereira Coutinho colocou. em que pessoas que são moralmente responsáveis pela actividade de É verdade que há uma diferença entre a versão que nós submetemos tráfico e utilização de seres humanos que, tendo conhecimento dos antes esta versão que os Srs. Deputados estão a debater. Sim, na crimes – e é essa a redacção que está aqui escrita, na primeira versão primeira versão falava-se na “utilização dos seus serviços”, mas tal estava “utilize os seus serviços”... estamos a falar de prestação de como o Sr. Assessor explicou, o objectivo da redacção em si não serviços, ou seja, serviços forçados, o que é uma matéria totalmente mudou, embora a forma como foi redigida a segunda versão tenha distinta da exploração do trabalho, porque a pessoa pode não ter uma mudado. A ideia desta versão é mais precisa, comparando com a relação de trabalho, mas ter uma relação de prestação de serviços. É versão anterior, versão que foi debatida pelos Srs. Deputados evidente que aqui fala de órgãos da vítima, mas há outros tipos de juntamente com o nosso assessor. Porquê? Como todos os Srs. prestação de serviços que não implica órgãos da vítima. Deputados já repararam e o nosso Sr. Assessor também referiu, aqui prevêem-se dois tipos de crimes, o primeiro é: uma pessoa é E é aqui que a minha dúvida se levanta, quando se abre uma traficada realmente para fins de exploração de trabalho forçado, etc. brecha para que aquelas pessoas que, moralmente, estão por detrás e Como se pode ver bem, o outro crime é relativamente menos grave: que são de difícil inculpação, possam sair de tudo isto de uma forma punir a quem utilize a pessoa traficada para se aproveitar dela. De muito à vontade. que é que a primeira versão falava? Falava-se na “utilização dos seus serviços”. Contudo, depois de análise, achámos que a esse conceito Há pouco citei a Convenção do Conselho da Europa, relativa à faltava precisão. A conclusão a que chegámos não era precisa, pois, luta contra o tráfico de seres humanos. É uma convenção que não pergunta-se: o que é a utilização dos serviços da vítima? Servir um está a ser aplicada, à qual Macau não aderiu, mas não deixa de ser copo de água é ou não utilizar os seus serviços? Portanto, do ponto uma convenção importante e no seu artigo 4.º fala muito claramente de vista jurídico, o conceito anterior não era preciso nem muito claro. de que a exploração do trabalho implica... E a exploração da Ora bem, a alteração introduzida a esta versão tem maior precisão. prestação de serviços... é essa expressão, portanto, porque eu estou Por exemplo, define-se claramente quem são as pessoas que terão preocupado, porque de facto, da forma como foi redigida na primeira contratado a vítima. A definição é: explorar o trabalho da vítima. O versão e a forma como foi redigida na segunda versão, porque é que conceito agora constante no regime jurídico é muito claro, não se levou em consideração o termo “serviços” para a segunda permitindo a sua aplicação mais fácil e operacional, incluindo para versão? É isto que eu ainda não consegui compreender. os órgãos judiciais. O Sr. Deputado Pereira Coutinho levantou uma outra questão, vou citá-la em português, “presta serviços”. Quanto a Obrigado. isso, o nosso assessor já esclareceu que, em termos de conceito jurídico, aqui os “serviços” em si referem-se à expressão Assessor Marques da Silva: Srª. Presidente, é óbvio... eu penso da “utilização dos serviços da vítima” a qual referi antes. Este que já disse tudo, quereria só dizer que o termo explorar o trabalho, é conceito é muito abrangente e não se encontra definido neste regime óbvio que se levarmos para... o trabalho não é só o trabalho jurídico. Porque não sabe até que nível é que é a utilização dos subordinado, o trabalho por conta de outrem. Não passa pela cabeça serviços da vítima? E a “prestação de serviços” definida nessa de ninguém que não se considere que um profissional liberal que referida convenção é quase igual ao conceito de “trabalho” que o presta serviços, isso não seja o seu trabalho. Um advogado quando nosso regime jurídico define. Portanto, o n.º 5 refere-se presta serviços ao seu cliente está a trabalhar. Ou seja, em termos ao “trabalho” que, no fundo, abrange já a “prestação de serviços”. técnicos há várias formas de... ou se trabalha por conta de outrem, e aí dá-se as nossas horas de trabalho ao nosso empregador ou, nas Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Au Kam San. profissões liberais, designadamente, facultamos os nossos serviços, ou seja, o resultado do nosso trabalho. Au Kam San: Obrigado, Srª. Presidente.

Portanto, primeira questão, isto de explorar o trabalho, engloba as Como não percebi muito bem este artigo, fiquei com dificuldade duas situações, em bom rigor. Outra questão que o Sr. Deputado em colocar questões. Contudo, depois do esclarecimento do Sr. colocou e que não podemos esquecer, é que esta lei se vai inserir no Assessor, acho que quanto mais esclarecimentos prestaram, com Código Penal e que, em determinados casos, não podemos esquecer mais dúvidas fiquei. O Sr. Director Cheong explicou que não se trata os princípios da autoria e da cumplicidade. Ou seja, pode haver de alteração em termos de redacção. Se calhar na versão portuguesa situações, e se se provar que a pessoa é autor, que ele próprio tinha é assim… só que, no fundo, a ideia em chinês é bem diferente: a conhecimento e participou ou foi cúmplice? A sua cumplicidade está utilização dos serviços da vítima e a exploração do trabalho da prevista no Código Penal, não vou referir… compreendo que o Sr. vítima. Em chinês, são dois conceitos diferentes. Por exemplo, Deputado não se sinta... acho que alterámos a redacção... alterámos, quanto aos serviços sexuais, esta nova redacção diz: o lenocínio é N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 15 punido, mas na redacção anterior falava-se na punição dos clientes por trás disso e na maior parte das vezes, quando se exploram os da prostituição. Não sei se é assim que se deve interpretá-la. Portanto, menores, há uma contrapartida monetária e é essa contrapartida do ponto de vista dos serviços sexuais, a ideia é completamente monetária que fica fora deste artigo. diferente. Portanto, não é como o Sr. Director Cheong disse: não há diferença nestes dois aspectos. E agora, parece que a alteração Agora, não me venha dizer que é igual o trabalho e os serviços. introduzida foi para alcançar este objectivo, mas a legislação de Trabalho e serviços são conceitos diferentes. E em termos jurídicos Macau prevê já a punição do crime de lenocínio! Por isso, parece são diferentes. Esse chapéu eu não enfio. Porque de facto, a que não valeria a pena prever aqui o crime de lenocínio. Porquê é utilização é um sentido que é distinto da prestação de serviços, que que a redacção agora é assim? Poderia responder-me que esta engloba uma transacção. redacção talvez… a redacção anterior falava na punição dos clientes da prostituição, o que é diferente do Código Penal existente, mas A pessoa cede os seus órgãos sexuais ou cede a sua prestação de com esta nova redacção, parece que as dúvidas se mantêm. Não é? serviços contra a contrapartida monetária. Mas na utilização pode Não sei se é assim ou não, mas eu pessoalmente acho que são dois não haver. Portanto, eu lamento ter que dizer que fica uma fasquia de assuntos completamente diferentes. pessoas com responsabilidades, nomeadamente os clientes e outras pessoas que, tendo conhecimento da prática destes crimes, não são Presidente: Sr. Director Cheong, faça favor. inculpados, no futuro.

Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: É esta a minha preocupação. Obrigado, Sr.ª Presidente. Agradeço as questões do Sr. Deputado Au Kam San. Obrigado.

Na sua intervenção, o Sr. Deputado Au Kam San já nos ajudou a Presidente: Quem vai responder? Faça favor. esclarecer algumas questões. Salientei antes que a intenção da versão anterior foi exactamente como o Sr. Deputado Au Kam San disse. Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: Não estamos a alterar o Código Penal vigente em Macau nem a Obrigado, Sr.ª Presidente. colocar outras exigências. Por exemplo, perguntou: na versão anterior, a prostituição e os clientes da prostituição não eram punidos Compreendo perfeitamente a preocupação do Sr. Deputado e com esta proposta de lei a entrar em vigor, eles são punidos? Bem, Pereira Coutinho. Já frisei que a nossa intenção legislativa não foi a ideia não é nada essa! Na primeira versão, a redacção não era alterada. Acho que esta nova redacção é mais precisa do que a precisa, causando mal-entendidos. Por isso, o que fizemos foi tornar expressão “utilização dos seus serviços”. Porque digo isto? Uma mais precisa a redacção desta versão. Dei um exemplo, na minha proposta de lei no âmbito do regime penal carece de definir intervenção há instantes, com a redacção da “utilização dos serviços”: claramente o que é crime e o que não é crime. Por exemplo, se eu vou a um Karaoke, ou Discoteca, e servem-me um copo de água. utilizar… sei qual é a preocupação do Sr. Deputado Pereira Coutinho, Então, este serviço é considerado a “utilização dos serviços”? Bem, ou seja, alguém tem conhecimento que aquela pessoa foi traficada Macau é uma cidade de turismo, se um serviço como este fosse um mas utiliza o serviço prestado por essa pessoa traficada e porque é crime, quem se atreveria a ir àqueles locais? Portanto, digamos que, que esse “alguém” não é punido? A resposta é: há zonas cinzentas a esta nova redacção não se trata de alteração da intenção legislativa. nível operacional. Por exemplo, se você estivesse num Karaoke, e A intenção legislativa nunca sofreu alteração, o que foi feito foi alguém lhe tivesse dito ter sido traficado, mas não foi possível saber apenas aperfeiçoar a redacção com maior precisão. se esse alguém estava a dizer a verdade ou estava a brincar? Então, você aceitaria ou não os serviços dele? Como se tratava de um crime, Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho. você participaria ou não à Polícia Judiciária e ao Ministério Público? Portanto, questões como estas merecem ser ponderadas. Portanto, José Pereira Coutinho: Obrigado, Srª. Presidente. com esta nova redacção, achamos que o objectivo quanto ao combate ao tráfico de pessoas, em termos da política penal, é Eu continuo a insistir que o contrato de trabalho e a prestação de alcançado. serviços são totalmente distintos. Porque no contrato de trabalho temos uma subordinação jurídica e está adstrito a um cumprimento Obrigado. do horário de trabalho. Quanto à prestação de serviços, não há dúvidas de que não há subordinação jurídica e não há horário de Presidente: Gostava de perguntar aos Srs. Deputados, se mais trabalho. Portanto, são essas as principais situações demarcantes dos alguém pretende pronunciar-se sobre os artigos 1.º a 4.º Caso dois conceitos. contrário, vamos votar. Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho. Ora bem, o que nós estamos a analisar agora, neste momento, no número 5, são aquelas pessoas que sabem que estão perante José Pereira Coutinho: Srª. Presidente, eu pedia para votar em situações descritas no n.º 1 e n.º 2, mas mesmo assim, naquelas separado o 153.º-A. Obrigado. situações mais agravantes do n.º 3, por exemplo, quando são menores de 14 anos, gravosas, ainda mais gravosas, essas pessoas exploram o Presidente: Ou seja, o n.º 5 do artigo 2.º, o n.º 5 do artigo 2.º desta trabalho, exploram o trabalho significa que pressupõe a existência de proposta de lei. Ou seja, o Sr. Deputado Pereira Coutinho pediu para uma relação de trabalho, quer com contrato ou sem contrato. votar em separado o n.º 5 do artigo 2.º Bem, vamos votar os artigos 1.º a 4.º, excluído o n.º 5 do artigo 2.º Ou seja, a votação do n.º 5 do artigo Agora, a outra questão é a designação do termo “utilizar”, porque 2.º vai ser adiada. Srs. Deputados, procedam à votação. utilizar pode não haver uma contrapartida monetária. Eu utilizo mas não preciso de pagar. Mas na prestação de serviços, pressupõe que (Decurso da votação) 16 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日

Presidente: Votação terminada – aprovados. vítima. Em relação à preocupação do Sr. Deputado Au, acho que não deve preocupar-se demasiado com este aspecto. Porquê? Porque já Bem, vamos votar o n.º 5 do artigo 2.º Srs. Deputados, procedam à sabemos disso. Pois, em Macau, além destes casos, muitas votação. testemunhas e vítimas de muitos casos não são locais e pergunta-se: havendo tantos casos, então, permanecem todos em Macau? Há (Decurso da votação) muitas pessoas permanecendo em Macau? Bem, numa acção penal, a prática judicial mostra que a vítima não tem de permanecer em Presidente: Votação terminada – aprovado. Macau à espera da conclusão do seu julgamento. Uma vez que, findo o julgamento, ainda vai haver lugar a recurso. Então, a vítima precisa Srs. Deputados: de permanecer em Macau durante o recurso? Não é preciso. Porque a vítima pode regressar a casa, deixar Macau, depois de prestar o seu depoimento no órgão judicial. Portanto, a prática judicial mostra que Vamos passar para os artigos 5.º, 6.º, 7.º Ou seja, vamos debater tal situação se resolve sem problema. os artigos 5.º, 6.º, 7.º

Assessor Marques da Silva: Aliás, só complementando o que Tem a palavra o Sr. Deputado Au Kam San. disse o Dr. André, no próprio n.º 8 do artigo 6.º se prevê isso, apoio social a prestar pelo Instituto de Acção Social, nos casos de Au Kam San: Quero apenas colocar questões sobre os artigos 6.º comprovada situação de carência, designadamente para poder voltar e 7.º para o seu país de origem ou território. Portanto, está previsto e inclusivamente as hipóteses de apoio para o regresso ao seu território Nesta proposta de lei, é óbvio que proteger a vítima é muito de origem, que é onde tem o seu meio familiar e onde provavelmente importante. O artigo 6.º fala do direito da vítima: constituir-se será melhor inserida na sociedade. assistente e parte civil em processo judicial; o seu n.º 5 diz: Permanecer na Região Administrativa Especial de Macau. E mais, o Presidente: Gostava de perguntar se mais alguém pretende n.º 1 do artigo 7.º diz: Criar um programa de protecção à vítima, pronunciar-se sobre os artigos 5.º, 6.º e 7.º? Tem a palavra o Sr. confidencial e gratuito, com o objectivo de assegurar o acolhimento Deputado Au Kam San. temporário em lugar adequado, a fim de garantir a segurança física. Estas disposições estão bem redigidas e são necessárias. Contudo, a Au Kam San: Agradeço o esclarecimento dos membros do questão que se coloca é: sabemos todos que o sistema judicial de governo. Quanto a isso, tal situação parece resolver-se, mas se Macau foi criticado pela sua baixíssima eficiência. Face a tal pudesse… bem, embora não esteja previsto nesta lei um mecanismo situação, para estes casos, importa haver um processo urgente para rápido, enfim, resolve-se a tal situação. Vou levantar outras duas os tratar. Por exemplo, uma pessoa foi traficada para Macau e o pequenas questões, pois tenho dificuldade em compreender o n.º 9 crime de tráfico dessa pessoa foi denunciado, passando assim a do artigo 6.º, dado que, na versão anterior, a redacção era vítima a constituir-se assistente e parte civil ou testemunha. A partir mais “achinesada”, mas agora… não sei se isto tem a ver com a daí, o caso até poderia levar 5 ou 6 anos para se concluir, pois a tradução ou não… agora foi aditada a palavra “totalmente”, Polícia Judiciária levaria meio ano; o Ministério Público levaria passando a ser “totalmente gratuita”. Então, de “gratuita” passou meses e a marcação do julgamento no tribunal levaria três anos. E para “totalmente gratuita”. A redacção é muito engraçada: “Nos depois? A vítima continuava a permanecer na RAEM de forma termos de… acesso a assistência psicológica, médica e confidencial e gratuita? Bem, não fazia mal se fosse gratuito, só que medicamentosa totalmente gratuita.” Não sei se este problema tem a assim a vítima ficaria “presa” esse tempo todo na RAEM. Mas essa ver ou não com a tradução ou só foi com o objectivo de exprimir pessoa que foi traficada para Macau é vítima! Teoricamente, a com maior precisão a ideia da língua portuguesa. Esta forma de vítima deveria ser enviada para o seu país, para levar a sua vida redacção não é chinês, mas também não é um problema técnico, normal. Agora, a baixíssima eficiência judicial levará a vítima a porque foi apenas aditada à versão anterior a palavra “totalmente”. permanecer durante cinco ou seis anos em Macau. Como resolver tal Portanto, levanto esta questão sobre se há necessidade de manter esta problema? Isto parece-me muito estranho! Pois, para situações como redacção. A segunda questão tem a ver com as alíneas 3), 4) e 5) do estas, deveria criar-se um mecanismo rápido para as tratar. Nesta n.º 1 do artigo 7.º Acho que a redacção é muito engraçada. Porque é proposta de lei, não vejo nada que preveja uma solução apropriada. que é engraçada? Esta proposta de lei diz: “Promover campanhas de Afinal de conta, ficaria a vítima protegida ou presa no domicílio? informação e de difusão através dos órgãos de Comunicação Social... Gostava de ter uma resposta. brochuras…; Promover acções de formação…; Promover a realização de estudos que visem a compreensão do fenómeno do Presidente: Faça favor. crime de tráfico de pessoas…”. Por que razão acho isso engraçado? Dou um exemplo, da lei sobre o combate às actividades de Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: venda “em pirâmide” não consta nada disso, quanto a brochuras, Obrigado, Sr.ª Presidente. Agradeço as questões do Sr. Deputado Au acções de formação ou estudos. E porque é que nesta proposta de lei Kam San. isto está previsto especificamente? Será que o problema com o tráfico de pessoas é muito mais grave do que o problema das Em relação à questão colocada sobre o processo judicial actividades de venda “em pirâmide”? Ou seja, o primeiro problema é envolvendo um caso do tráfico de pessoa, podemos imaginar que a tão grave que até precisamos de prever nesta lei as medidas a tomar vítima não deve ser pessoa local, mas sim do exterior. Por isso, esta pelo governo? Pode-me esclarecer esta dúvida? proposta de lei segue as exigências da convenção internacional, estabelecendo uma série de medidas de acompanhamento e Presidente: Faça favor. protecção da vítima, pois essa vítima pode ser testemunha no mesmo caso. Tal como disse o Sr. Deputado Au, é importante a protecção da Director dos Serviços de Assuntos de Justiça, André Cheong: N.º III-97 — 12-6-2008 Diário da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau — I Série 17

Obrigado, Srª: presidente. Au Kam San: Obrigado, Srª. Presidente.

Respondo à segunda pergunta do Sr. Deputado Au. Agradeço a resposta do Sr. Assessor. Respeito igualmente a sua opinião. Contudo, a minha pergunta tem a ver com a forma como é Em primeiro lugar, em relação a esta redacção quanto às redigida em chinês. Não sei se o Sr. Assessor sabe ou não campanhas, acções de formação etc..., tudo isto se trata das chinês… porém, mesmo que saiba, talvez não seja… acho ridículo, exigências previstas na convenção internacional. Em segundo lugar, dado que foi indicada uma pessoa que pouco sabe chinês para em regra geral, no regime penal, não estão previstas medidas a tomar. responder à minha pergunta sobre a forma como é redigida a Mas aqui, resolvemos acrescentar estas medidas, pois a convenção redacção em chinês. A minha pergunta não tem apenas a ver internacional assim o exige. Pergunta-se, se não estivessem previstas com “totalmente gratuita” ou não “gratuita”, pois, a palavra em as medidas, o governo baixava os braços? Claro que não, fazia na si “gratuita” significa já a ideia de totalmente gratuita. Não faz mesma. Contudo, o facto de se preverem estas medidas a tomar é sentido aditar esta palavra “totalmente”. A minha pergunta tem apenas para demonstrar uma intenção: o governo vai actuar com apenas a ver com a forma como é redigida em chinês, por isso, não certeza, pois, se trata de exigências e também do dever do governo. fiquei satisfeito com a resposta do Sr. Assessor. Enfim, isto pouco Portanto, foi apenas uma intenção. Quanto a outras leis, por exemplo, importa, uma vez que é apenas uma questão de redacção. o Sr. Deputado Au falou na lei de combate às actividades de venda “em pirâmide”. Embora dessa lei não constem as medidas, Obrigado. mas o governo, a DSAJ distribuiu antes brochuras e realizaram-se campanhas na TV. Presidente: Gostava de perguntar aos Srs. Deputados se mais alguém pretende pronunciar-se sobre os artigos 5.º, 6.º e 7.º. Caso Vou convidar o nosso Sr. Assessor a responder à primeira contrário, vamos votar estes três artigos. Srs. Deputados, procedam à pergunta do Sr. Deputado Au. votação.

(Decurso da votação) Assessor Marques da Silva: Ora bem, realmente, em relação à primeira e à segunda redacção, incluiu-se o “totalmente” e Presidente: Votação terminada – aprovados. modificou-se ligeiramente, e dizemos “a prestar nos termos”. Isto tem a ver com um parecer levantado pelos Serviços de Saúde, que Srs. Deputados: colocavam a dúvida, porque no Decreto-Lei n.º 24/86 tem especificado quais são o universo de pessoas que têm direito à Vamos agora discutir os artigos 8.º, 9.º, 10.º e 11.º, ou seja, os assistência médica gratuita, designadamente, nalguns casos, nesse últimos quatro artigos. Nada? Srs. Deputados, é favor pronunciar-se diploma, sujeita-se essa prestação à situação de carência económica. sobre estes artigos. Caso contrário, Srs. Deputados, procedam à votação. Aqui, quis-se objectivar, a vítima não precisa de demonstrar que tem carência económica nenhuma, o facto de ser vítima – e para que (Decurso da votação) não haja dúvidas – tem assistência médica e medicamentosa totalmente gratuita sem precisar de provar esse requisito de carência Presidente: Votação terminada – aprovados. económica. A prestar... ou seja, este termo, “a prestar” o que é que quer dizer? Que tem direito à assistência médica e medicamentosa Tem a palavra o Sr. Deputado José Pereira Coutinho. que está prevista, designadamente, para os funcionários e para as outras pessoas que têm acesso ao sistema público de saúde em José Pereira Coutinho: Obrigado, Srª. Presidente. Macau. São esses cuidados, que não estamos aqui a enumerar... Mas portanto, foi para afastar as dúvidas, porque, anteriormente, remetia- A minha declaração de voto: votei a favor, na votação final global, se, dizendo que tem direito à assistência médica nos termos do artigo com excepção do n.º 5 do artigo 153.º A da proposta de lei 24.º. Ora no artigo 24.º não estão complementadas estas situações. intitulada “Combate ao Crime de Tráfico de Pessoas”, pelas Aqui, a lei está a criar uma situação para além do Decreto n.º 24/86, seguintes razões: primeiro, porque esta aprovação constitui, de a alargar a um universo de pessoas que irão ter direito aos cuidados qualquer forma, um avanço no combate pela dignidade humana, nas médicos. Portanto, daí que, para que não houvessem dúvidas, suas mais variadas componentes, nomeadamente na defesa da colocou-se este termo, “totalmente”. De alguma maneira, poderá dignidade do trabalho. dizer o Sr. Deputado que está a mais, mas há situações em que às vezes o estar a mais facilitava a vida do intérprete, de quem vai Com esta aprovação, cujo texto jurídico merece realçar, a RAEM aplicar a lei. passará a dispor de um instrumento legal e de mecanismos para proteger as vítimas deste flagelo dos tempos modernos. A RAEM E tendo surgido, da parte dos Serviços de Saúde, que vão aplicar a passará também a dispor de um instrumento legal baseado em lei, alguma dúvida, para lhes facilitar a interpretação colocámos aqui algumas das soluções jurídicas adoptadas em instrumentos de Direito claramente que essa assistência é totalmente gratuita e será a mesma Internacional, ficando desta forma a par dos países e dos territórios que têm os cidadãos, os residentes de Macau que têm direito à onde este combate é travado de uma forma eficaz e eficiente. assistência médica pública. Contudo, sinto tristeza e lamento que o diploma agora aprovado Obrigado. não tenha consagrado, no n.º 5 do artigo 153.º A, aditado ao Código Penal e aprovado pelo Decreto-Lei n.º 58/95/M, de 14 de Novembro, Presidente: Gostava de saber se mais alguém pretende do qual votei contra, a punição da utilização dos serviços das vítimas pronunciar-se? Tem a palavra o Sr. Deputado Au Kam San. de tráfico por quem disso tivesse conhecimento. Esta punição está 18 澳門特別行政區立法會會刊—第一組 第 III - 97 期—2008 年 6 月 12 日 consagrada, por exemplo, no artigo 19.º da Convenção do Conselho Muito obrigado. da Europa, relativamente à luta contra o tráfico de seres humanos. Aliás, a versão inicial do Governo incluía no n.º 5 do artigo 153.º-A Presidente: Srs. Deputados: da proposta de lei a punição da utilização de serviços das vítimas de tráfico. Porém, esta solução viria a desaparecer na segunda versão da A Ordem do Dia só tem um ponto. A reunião terminou na medida proposta do Governo. que foi concluído o debate. Antes do encerramento desta sessão, agradeço a presença dos Srs. membros do governo. Por este facto, votei contra a redacção deste artigo, na votação final, uma vez que ele foi alterado. A versão final desse artigo tinha merecido o meu voto favorável aquando da aprovação na Declaro encerrada a sessão plenária. generalidade desta proposta de lei. Faço, no entanto votos, para que, num futuro não muito distante, a lei possa abranger esta lacuna que Intérpretes-Tradutores: Gabinete de Tradução acabo de assinalar e que merece ser atempadamente colmatada. Redactores: Gabinete de Registo e Redacção