Arte De Falar E Arte De Estar Calado.Pdf
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◄Augusto de Castro discursando no 3.º aniversário da reconstituição da Casa de Portugal em Antuérpia. 20 de Dezembro de 1937. Arquivo Histórico e Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lisboa. 1 CLARA ISABEL CALHEIROS DA SILVA DE MELO SERRANO “ARTE DE FALAR E ARTE DE ESTAR CALADO”: AUGUSTO DE CASTRO – JORNALISMO E DIPLOMACIA Dissertação apresentada no âmbito do Programa de Doutoramento em Altos Estudos Contemporâneos (História Contemporânea e Estudos Internacionais Comparativos) orientada pela Professora Doutora Maria Manuela Tavares Ribeiro APOIO FINANCEIRO DA FCT E DO COMPETE NO ÂMBITO DO POPH DO QREN (SFRH/BD/44107/2008) JULHO 2013 2 3 CLARA ISABEL CALHEIROS DA SILVA DE MELO SERRANO “ARTE DE FALAR E ARTE DE ESTAR CALADO”: AUGUSTO DE CASTRO – JORNALISMO E DIPLOMACIA 4 RESUMO A presente dissertação pretende ser um contributo para o conhecimento da vida e obra de Augusto de Castro, figura incontornável da vida diplomática, política e cultural do século XX português, que acompanhou de perto, praticamente, todas as grandes mudanças vividas pelo país. Assim, o estudo que aqui se propõe procura percorrer e reconstruir, numa fase inicial, os primeiros anos de vida deste periodista. Desde os ensinos primário e liceal, concluídos na cidade do Porto, até à formação superior na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Para, posteriormente, se deter na leitura dos primeiros jornais que dirigiu, A Província e a Folha da Noite , ensaiando uma análise dos seus artigos e uma interpretação da sua actuação. Tenta ainda definir o seu trabalho enquanto parlamentar e compreender a sua transição para a República, destacando a sua passagem pela Caixa Geral de Depósitos e Instituições de Previdência e pela Escola de Arte de Representar. Atenta, de igual modo, nas suas peças teatrais e nos seus primeiros livros de crónicas, observando as principais temáticas e influências. Detém-se, em seguida, na sua primeira direcção do Diário de Notícias , tentando aferir do seu envolvimento na organização dos primeiros Congressos da Imprensa Latina, em Lyon e Lisboa, respectivamente, e na constituição da Association de la Presse Latine . Para se debruçar, posteriormente, sobre a sua carreira diplomática, nomeadamente, as nomeações para as legações de Portugal em Londres (1924), Vaticano (1924), Bruxelas (1929), Roma (1931), e, de novo, Bruxelas (1935). Nesse sentido, procura dar conta do trabalho efectuado à frente dessas missões, da agenda diplomática, da participação e gestão de dossiers tão importantes e controversos como, a título de exemplo, o dos acordos de 1928. Busca, por último, de modo bastante sucinto, compreender a sua segunda e terceira passagens pelo Diário de Notícias , intentando estabelecer as linhas editoriais privilegiadas e aferir a ligação do jornal ao regime de Salazar. Detendo-se, de igual modo, nas suas diligências, enquanto comissário-geral da Exposição do Mundo Português e na sua estada em Paris, no pós-guerra, no exacto momento do (re)estabelecimento das relações diplomáticas com o governo francês de Charles De Gaulle. 5 ABSTRACT This work aims to be a contribution to the knowledge of the life and work of Augusto de Castro, inescapable figure of diplomatic life, politics and culture of the Portuguese 20 th century, that closely followed all major changes experienced by the country. Thus, the study proposed seeks to rebuild at an early stage, the early life of this journalist. Since the primary and secondary school, completed in Oporto, to higher education in the Faculty of Law of the University of Coimbra. To subsequently stopping at the reading of the first newspapers that he directed, A Província and Folha da Noite , rehearsing an analysis of its articles and an interpretation of his actions. Then it attempts to define his work as a parliamentarian and understand his transition to the Republic, highlighting its passage by CGD and Institutions Pension Fund and the School of Representational Art. It focus, also, in his plays and in his early books of chronicles, trying to detect the main themes and influences. Holds up, then, in his first direction of Diário de Notícias and tries to understand his involvement in the organization of the first Congress of the Latin Press, held up in Lyon and Lisbon, respectively, and in the constitution of the Association of the Latin Press. To focus subsequently on his diplomatic career and his passages for London (1924), Vatican (1924), Brussels (1929), Rome (1931) and, again, Brussels (1935.) Thereby, it attempts to seek the work done ahead of these missions, the diplomatic agenda and the participation and management of files as important and controversial as, for example, the Portuguese agreements with the Vatican of 1928. In the last chapter this work tries to understand, in a very briefly way, his return to Diário de Notícias , and it intends to establish the main editorial lines followed in that period. And to seek the connection of the newspaper to the Salazar regime. Pausing, likewise, in his endeavours as commissioner general of the Portuguese World Exhibition and his stay in Paris after the war, at the exact moment of the (re) establishment of diplomatic relations with the French government of Charles De Gaulle. 6 ESCLARECIMENTOS 1. Na presente dissertação de doutoramento não se adoptou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, em vigor desde 2009, tendo a autora decidido seguir o Acordo Ortográfico de 1945, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 32/73, de 6 de Fevereiro. 2. Nas transcrições de textos, as grafias foram actualizadas, mantendo-se, todavia, a pontuação, mesmo que incorrecta, ressalvando os casos em que manifestamente se trataria de uma gralha no texto original. 3. No texto principal, nas notas e na bibliografia actualizou-se quase sempre a grafia dos nomes, dos títulos das obras e dos jornais. 4. O texto segue, no essencial, uma ordem cronológica, pelo que, partindo do Porto, cidade natal de Augusto de Castro, procura-se reconstruir o seu percurso de vida, ao mesmo tempo que se pretende acompanhar a evolução da vida política portuguesa e europeia. 7 ÍNDICE Introdução…………………………………………………………………………………….10 CAPÍTULO I – O HOMEM , A TERRA E AS GENTES ...…...………………………..…………........ 22 1.1. Entre a tradição e a modernidade: o Porto na segunda metade do século XIX….…...23 1.2. A Ilustre Casa de Oliveirinha………………………………………………………....28 1.3. As paisagens que iluminaram a infância……………….……………………………..34 1.4. A instrução primária e os estudos preparatórios……………………………………...39 1.5. Na “cidade das serenatas e dos rouxinóis”……………………………………………43 CAPÍTULO II – VÁRIAS CARREIRAS , UMA ÚNICA (G RANDE ) VOCAÇÃO : O JORNALISMO …........60 2.1. Da agonia da Monarquia à implantação da República……………………………….61 2.2. As carreiras fugazes: o advogado e o parlamentar………………………….………...67 2.3. A direcção d’ A Província e uma aventura a solo – A Folha da Noite …………….…83 2.4. Da escola da escrita à escola do teatro: a passagem pelo Jornal do Comércio e pela Escola de Arte de Representar…………………….………………………………………94 2.5. Fumo do meu Cigarro e Campo de Ruínas – crónicas d’ O Século (da Noite) ……..110 CAPÍTULO III – “ARTE DE FALAR E A ARTE DE ESTAR CALADO ”: DO JORNALISMO À DIPLOMACIA ………………………………………………………………………………….123 3.1. Da implantação da República ao “Reino da Traulitânia”……………….…………...124 3.2. Diário de Notícias : percursos………………………………………….…………….135 3.3. A primeira incursão no Diário de Notícias….……………………………….………143 3.4. Os Congressos da Imprensa Latina………………….………………………………165 3.5. “Cinco Anos”………………………………………………………………...……...174 8 CAPÍTULO IV – TEMPOS DE BONANÇA … ANOS DE CRISE ………………...………………….183 4.1.De Lisboa a Londres – “chapéu alto e coco”………………………..……………....184 4.2. No Jardim da Basílica de S. Pedro…………………...………………………..…….194 4.3. Impressões de Bruxelas…………………………………………………...…………218 4.4. “Roma e o seu destino imperial”…………………………………………………….227 5.5. De regresso à Bélgica…………………………………………………...…………...253 CAPÍTULO V – ÉPOCA ÁUREA E CREPÚSCULO : EM JEITO DE EPÍLOGO ………………..…...269 Conclusões…………………………………………………………………….……………286 Arquivos e Bibliotecas…………………………………………………………..………….292 Fontes, Bibliografia e Internet…………………………………………………...………….294 Anexos…………………………………………………………………………...…….……330 9 INTRODUÇÃO O homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem: uma corda por cima do abismo; perigosa travessia. Perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso parar e tremer 1. Nascido no mesmo ano da publicação de Assim Falou Zaratustra e da morte do compositor alemão Richard Wagner, a vida do jornalista e diplomata Augusto de Castro viria a ter, como o próprio, mais tarde afirmou, “ironias deliciosas” 2. Assim, se a primeira obra pertencia a um dos autores mais apreciados por Benito Mussolini – ditador italiano de quem Castro seria admirador confesso no decorrer das primeiras décadas do século, nascido, também, em 1883 –, o desaparecimento do criador de Parsifal , “entre as sombras venezianas que ele amara” 3, daria o mote para um dos seus artigos mais nostálgicos, que intitulou a sua penúltima obra, Há oitenta e três anos em Veneza (1966). Nietzsche, a par de Schopenhauer e Stirner, havia celebrado a vontade, o eu, a acção individual. Mussolini reteve, da sua obra, “o modelo do «homem novo», forjado pela luta e apto a envolver-se em empreendimentos prometaicos” 4. E “esticou a corda”, no seu “quero viver perigosamente” 5, por “cima do abismo”, numa viagem “irreversível”, em que se tornou impossível “parar” e “olhar para trás”. No entanto, a atitude de Augusto de Castro, perante a vida e as suas circunstâncias, seria muito diferente da exibida pelo ditador italiano. Viajante apaixonado, a sua jornada compreendeu muitas paragens, mas a prudência, a sensatez, o equilíbrio foram princípios norteadores, que impuseram um trajecto sem grandes perturbações. E, por isso, ao contrário do líder fascista, raramente o “perigo” constituiu o seu modo de vida, pelo que a “travessia” se caracterizou por uma aparente tranquilidade. Se esteve longe de ser um “super-homem”, Castro teve, de facto, dois: Mussolini e Salazar, cada a um à sua maneira, ambos ditadores. Uma viagem pela vida de Augusto de Castro Sampaio Corte Real é o que se propõe neste estudo de acentuado carácter biográfico.