9"/("* &0%&7*363#"/0$)*/4 %"4$*%"%&4%0.&*0%0.6/%0 ¤436°/"4%0'65630
5*"(04$)6-5;
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
TIAGO SCHULTZ CORTES FREIRE RAMOS
XANGAI E O DEVIR URBANO CHINÊS DAS CIDADES DO MEIO DO MUNDO ÀS RUÍNAS DO FUTURO
Salvador – Bahia – Brasil
Outubro de 2016
TIAGO SCHULTZ CORTES FREIRE RAMOS
XANGAI E O DEVIR URBANO CHINÊS DAS CIDADES DO MEIO DO MUNDO ÀS RUÍNAS DO FUTURO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia PPG-AU/FAUFBA como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. Pasqualino Romano Magnavita
Salvador – Bahia – Brasil
Outubro de 2016
Faculdade de Arquitetura da UFBA – Biblioteca
R176 Ramos, Tiago Schultz Cortes Freire . Xangai e o devir urbano chinês: das cidades do meio do mundo às ruínas do futuro / Tiago Schultz Cortes Freire Ramos. 2016. 366 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Pasqualino Romano Magnavita. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, Salvador, 2016.
1. Planejamento urbano - Xangai (China). I. Magnavita, Pasqualino Romano. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura. III. Título.
CDU: 711.4(511)
Dedico este trabalho aos meus amados pais, Marco e Clara, à minha amada irmã Luiza, à minha família, e aos meus queridos amigos.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é o resultado de uma conexão. Ou melhor, de múltiplas conexões, das mais plurais e heterogêneas, por vezes afetuosas e instigantes, por outras acadêmicas, intelectuais, desterritorializantes, improváveis e desnorteadoras, mas de perto, quase sempre simples, anônimas, potentes e, principalmente, criativas. Nasceu de um encontro. Primeiramente de um encontro de amor, carinho e plenitude, a este encontro devo a minha vida, criação e caráter, por isso agradeço aos meus pais, Marco e Clarissa, coautores e cumplices de quaisquer jornadas que me aventurei até aqui. A importância da minha irmã Luiza nesta trajetória é inenarrável, o que dizer da pessoa mais incrível e mais legal com a qual tenho a felicidade de dividir tantas emoções e realizações, irmã, obrigado por tudo, hoje e sempre. Amo vocês três! Agradeço aos meus avós, Gilton e Angélica, Claudionor e Zelina, uma imensidão de sabedoria acumulada e reconfigurada em acalento, proteção e existência criativa, por entre raízes e rizomas, são ao mesmo tempo potência e filiação, a linha e o linho, pura linhagem, muito obrigado! Às minhas tias Cristina pelos conselhos, Carol por compartilhar comigo a profissão, à tia Zélia e Julita, aos meus tios, à Nil, à querida Leozinha e às famílias Schultz/Cortes/Freire/Ramos, pelo cuidado e, um agradecimento especial, a todo amor e carinho de minha tia (e madrinha) Gerta.
Dos encontros da vida, agradeço ao arquiteto anônimo do século XXI, certamente um desses encontros inusitados, potentes e criativos que vos falei, pelas orientações e pela amizade que evoluiu desde as primeiras observações sobre anteprojeto, passando pela confiança e liberdade referentes ao tema e objeto, que acompanhou brilhantemente, sempre atento, gentil e crítico, de forma intrigante e instigante, por entre leituras, conversas e conexões, através das diversas teorias da arquitetura e do urbanismo, pelos e-mails trocados, pelos desenhos, sugestões, inúmeras conversas, por todo o apoio e compreensão, e por me abrir as portas ao pensamento político, filosófico, ético-estético de Deleuze e Guattari, dentre tantos outros, meu muito obrigado ao professor Pasqualino Romano Magnavita, orientador deste trabalho. Grande abraço, Pasqua! <3
Por todo o suporte e companheirismo, por se aventurar comigo na minha ida à campo, e pela coragem de se perder em cidades-fantasma na Mongólia Interior (extremo norte da China) agradeço a Adalberto, com quem pude discutir vários aspectos desta pesquisa, e dividir o interesse em comum pelo futuro da arquitetura enquanto arte e campo ampliado de estudos. Inclusive por partilhar o interesse por este imenso país que vive um novo momento, composto por uma subjetividade povoada por novos dragões, alguns orientados pelo axioma da propriedade privada, outros vorazes como a própria hiperurbanização em curso, ou intempestivos como aqueles que provocam mudanças radicais em modos de vida milenares.
Porém sem esquecermos de que estes são sempre desestabilizados por dragões insurgentes, resistentes e criativamente potentes, se considerarmos a figura mitológica do dragão chinês que, fundamentalmente diferente1 do ocidental, representa sempre o devir, permitindo o nascimento do novo: a transformação por vir, ou, como defende o I Ching, a eterna mutação, sem princípio nem fim.
Aos amigos que me apoiaram nesta empreitada e que seguem, cada um a seu jeito, sempre por perto e torcendo um pelo outro, meu muito obrigado aos meus incríveis amigos Vanessa, Osnildo, Serginho, Loló, Laila, Roger, Weslley, Priscila, Indira, Juliana, Bruna, César, e aos queridos amigos do mestrado e chegados do Laboratório Urbano Amine, Gabriel, Cícero, Santiago, Leo, Lucas, Lumena, Paula, Bel, aos professores, Angela, Any e Heliodório, Wo e Thaís, por todos os debates, aprendizados e conhecimento compartilhado por entre seminários, grupos de pesquisa e disciplinas ministradas, e aos professores Paola Berenstein Jacques e Eduardo Teixeira de Carvalho pelo tirocínio docente na disciplina Atelier VI. Aos demais integrantes das linhas de pesquisa que integrei, Processos Urbanos Contemporâneos e Teoria e Crítica da Arquitetura e do Urbanismo, e da pesquisa permanente Cronologia do Pensamento Urbanístico que, cada um a seu modo, ajudaram a traçar o escopo teórico e o pensamento historiográfico desta dissertação de mestrado.
Agradeço àqueles que nos receberam na China, um mundo ainda desconhecido para mim, nossos interlocutores/interpretes chineses nas cidades por quais estivemos, Pequim, Ordos, Xangai, Suzhou, Hangzhou, Tianducheng, Shenzhen e Hong Kong, por quase dois meses de viagem, muito obrigado pelas trocas, pelo tempo, pelos caminhos, pela coragem e por nos mostrarem suas cidades através das suas experiências e perspectivas, por partilharem um pouco conosco suas angústias e incertezas quanto ao futuro das cidades, mas, principalmente, por aceitarem nos mostrar seu cotidiano (extremamente revelador e inventivo) em um país em plena transformação, por entre derivas e deambulações desterritorializantes, em meio a demolições, construções, arranha-céus e ruínas, que
1 O dragão chinês é composto por partes de diferentes animais como os olhos do tigre, corpo de serpente, orelha de boi, corpo de veado, bigode de carpa, etc., e simboliza o poder do fogo, a sabedoria e o Império; é considerado o regente do tempo. Símbolo da arte chinesa, esta figura mitológica longilínea também simboliza o poder no folclore, e durante algum tempo tinha uma conotação agressiva, que o governo procurou evitar ao máximo como emblema nacional, substituindo-o pelo panda gigante, bem mais amistoso, dócil e mais fácil de controlar tanto física quanto psiquicamente. Os animais foram importantes para a identidade étnica oriental: os chineses tinham os dragões, os tibetanos os macacos e entre os nômades mongóis os lobos. A figura do dragão é tão importante subjetivamente falando que foi apropriado pelo capital estrangeiro e recentemente figurou a desastrosa campanha publicitária da Nike – na qual um jogador de basquetebol americano matava um dragão chinês –, que foi imediatamente rejeitada pelo povo e depois censurada pelo governo chinês.
fizemos juntos. Por terem nos apresentado as diversas Chinas existentes, nosso muito obrigado – xie xie!
À banca examinadora, os professores doutores Fernando Gigante Ferraz e César Floriano dos Santos, agradeço a gentileza de compartilhar deste momento tão importante, de fechamento de ciclo, este ritual de passagem que é o mestrado, e por contribuírem para o aprimoramento e edição deste trabalho que, espero eu, possa contribuir para novas percepções sobre os rumos da nossa disciplina, bem como de suas teorias e práticas arquitetônicas/urbanísticas que vem configurando, ou melhor, desfigurando cidades inteiras, cada vez mais reféns do duplo Estado-Capital, capturadas pelos axiomas mercadológicos mais fetichistas, da propriedade privada e intelectual, resultantes da fórmula espetacular engendrada pelo mass media do capitalismo informacional e marcada por mercadorias made in China.
Não posso deixar de usar este espaço para agradecer ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Faculdade de Arquitetura da Ufba (FAUFBA), e a todos os professores, funcionários, secretários, bibliotecários, zeladores, pois o saber é um agenciamento coletivo e cada um de vocês é parte fundamental desta engrenagem maior deste pequeno universo que é a Ufba/Faufba/Ppgau, universidade na qual me graduei Arquiteto e Urbanista em 2011. Aproveito também para agradecer ao CNPq pelo apoio e financiamento desta pesquisa.2
Um obrigado especial a todos aqueles que de alguma forma contribuíram neste processo de (muito) aprendizado e afetos, aos demais colegas da minha turma de mestrado, e todos aqueles que por ventura acompanharam todo o nosso amadurecimento intelectual, pessoal e coletivo, direta ou indiretamente. Por fim, deixo uma última mensagem, muito cativante e estimulante, enviada por nosso querido arquiteto-anônimo, que diz assim: a vida merece o nosso amor e carinho, só assim poderemos torna-la bela no desejo de criar.
2 Foram dois anos de muito trabalho, de aproximação inicial através de livros, pensadores, modos de vida, tradições, buscando entender também como a arquitetura e urbanismo eram tratados antes da abertura econômica chinesa; perseguindo as publicações e teorias de nossa disciplina que indicavam ou terminavam por (literalmente) desembarcar nestas terras longínquas, dominadas por dragões, fábulas mitológicas, filosofia e tradições praticamente contrárias às nossas, a diferença cultural foi o primeiro obstáculo a ser ultrapassado com a aproximação em território chinês, seguido pela interlocução em língua inglesa e portuguesa, sim, conversas longas em português com estudantes universitários de línguas estrangeiras em cidades grandes como Xangai, aproveitando esta oportunidade para tê-los como interpretes de outras conversas com locais.
SCHULTZ, T. Xangai e o devir urbano chinês: das cidades do meio do mundo às ruínas do futuro. 2016. 366 fls. il. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU, Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Arquitetura – FAUFBA, Salvador, Bahia, 2016.
RESUMO
Esta dissertação trata da emergência de um novo modelo urbano em formação na cidade de Xangai desde a abertura econômica da República Popular da China, em 1978. Esse modelo-Xangai pode ser considerado como o conjunto de métodos utilizados para difundir o recente fenômeno da hiperurbanização na China continental, já que o Partido Comunista Chinês pretende tornar a China um país majoritariamente urbano – o devir urbano chinês. Abordaremos este processo de formação de um novo modelo urbano asiático a partir de noções de saber-poder e subjetividade e do pensamento pós-estruturalista, problematizando a fabricação coletiva dos novos modos de vida chineses, no contexto da produção e venda de imagens espetaculares dentro da lógica do city marketing. Esse modelo-Xangai é entendido como uma expressão dos modos de produção econômica e subjetiva da atual forma do capitalismo, o Capitalismo Mundial Integrado (CMI), dentro do contexto do “socialismo com características chinesas” ou “capitalismo de Estado”. Para compreendermos as camadas de significado que compõem esse modelo, abordamos os seus antecedentes teóricos tratando das sucessivas hibridizações políticas e socioeconômicas do fazer urbano chinês. Partiremos da análise dos fazeres urbanos tradicionais das “cidades do meio do mundo”, passando pela teoria e crítica, assim como pela ida a campo, para chegarmos ao entendimento da hiperurbanização chinesa como produto das “ruínas do futuro”. Esse modelo em formação na cidade de Xangai, e adotado pelo governo chinês como modelo para urbanização da China continental, tem o potencial de se espalhar por toda a zona de influência da República Popular da China (incluindo o Brasil) com a ascensão do Tio Chang como um dos maiores credores do mundo.
Palavras-chave: Urbanização Chinesa; Hiperurbanização; Modelo urbano; Saber-Poder- Subjetivação; Cidade-genérica; Cidades-fantasma; Capitalismo Mundial Integrado; Xangai.
SCHULTZ, T. Shanghai and the chinese urban becoming: from the cities of the middle of world to the ruins of the future. 2016. 366 pp. il. Master Dissertation in Architecture and Urbanism – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU, Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Arquitetura – FAUFBA, Salvador, Bahia, 2016.
ABSTRACT
This dissertation examines the development of a new urban model in the city of Shanghai since the economic opening of People’s Republic of China in 1978. This Shanghai-model may be defined as the set of tools that the Chinese Communist Party applied to the country's urbanization project, which caused the Chinese hyper-urbanization phenomenon. Consequently, the Shanghai-model must be considered within the context of Chinese "state capitalism". This study approaches this process of forming a new Asian urban model through concepts such as power-knowledge and subjectivity along with post-structuralist analysis, questioning the collective manufacturing of the new Chinese way of life, in the context of production and sale of spectacular images inside logic of city marketing. This Shanghai- model can be understood as an expression of the economic production means and the subjective form of contemporary capitalism, the so called Integrated World Capitalism (IWC), within the context of “socialism with Chinese characteristics” or “state capitalism”. In order to understand the layers of meaning that shape this model, we approach their theoretical background dealing with successive political and socioeconomic hybridizations Chinese city do. We start from the analysis of traditional elements of urban making that compose of "cities of the middle of the world”, through theory and criticism, as well as the in loco experience, to get to the understanding of Chinese hyper-urbanization as a product of the “ruins of the future”. This training model in Shanghai City, adopted by the Chinese government as a model for urban development in mainland China, has the potential to spread throughout the area of influence of the People’s Republic of China (including Brazil) with the rise of Uncle Chang as one of the world's largest creditors.
Key-words: Chinese Urbanization; Hyper-urbanization; Urban model; Power-Knowledge and Subjectivity; Generic City; Ghost cities; Integrated World Capitalism; Shanghai.
SCHULTZ, T. . 2016. 366 fls. il. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU, Universidade Federal da Bahia – Faculdade de Arquitetura – FAUFBA, Salvador, Bahia, 2016.