Ana Matilde Diogo De Sousa 2011
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES BUKIMI-TAN SOBRE O CONCEITO DE KAWAII NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA JAPONESA (UM ROTEIRO) Ana Matilde Diogo de Sousa MESTRADO EM PINTURA 2011 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES BUKIMI-TAN SOBRE O CONCEITO DE KAWAII NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA JAPONESA (UM ROTEIRO) Ana Matilde Diogo de Sousa MESTRADO EM PINTURA Dissertação orientada pelo Professor Doutor Carlos Vidal Tenes Oliveira Caseiro 2011 SINOPSE Apesar da sensibilidade aos kinderschema e o respectivo instinto protector nos serem biologicamente inatos, a formulação do conceito de cute, assim como as suas primeiras manifestações culturais, são relativamente recentes: datam do início do século XX, a par de uma reformulação subtil, mas significativa, do papel social da infância e da criança. Com o emergir da cultura kawaii no Japão, nos anos 70, o conceito ganha um novo fôlego, elevando-se à categoria de obsessão nacional, reveladora da ligação intrínseca entre o cute e os traumas que enformam a identidade japonesa do pós-guerra. Em Bukimi-tan, elaboro um “roteiro” pessoal, com o objectivo de fazer um levantamento de algumas categorias estéticas e estratégicas plásticas através das quais o conceito de kawaii se torna um modelo operacional na produção artística contemporânea. Este “roteiro”, um conjunto de observações, notas, exemplos, apontamentos, considerações sintéticas, pistas, memorandos, impressões e pequenos comentários que reflecte as minhas inclinações, preferências e interesses no momento em que a dissertação foi redigida, procura esboçar pontes e elos entre as artes plásticas (com especial enfoque em artistas nipónicos) e a(s) (sub)cultura(s) pop japonesa(s) – manga e anime como Neon Genesis Evangelion ou Puella Magika Madoka Magika, subculturas como otaku ou rorikon, street fashion como kogyaru e roriita, etc. –, assentes na ligação entre cuteness e conceitos como “ignóbil” (Sianne Ngai), “informe” (Yve-Alain Bois e Rosalind Krauss), “abjecto” (Julia Kristeva), “uncanny” (Freud, Lacan), “queerness” (Lee Edelman), “kyara” e “base de dados” (Azuma Hiroki). Por outro lado, através da aplicação dos princípios poéticos analisados ao longo do texto à própria estrutura material e conceptual da dissertação, tenho como objectivo fazer convergir a prática artística e a investigação teórica no mesmo suporte físico e, assim, integrar este projecto numa reflexão mais ampla sobre aquilo que são as especificidades metodológicas de uma tese na área da Pintura. SYNOPSIS Although both the sensibility to kinderschema (baby schema) and the nurturing instinct are biologically innate, the formulation of the concept of “cute”, and its first cultural manifestations, are relatively new: they date back to the beginning of the 20th century, along with a subtle, yet significant, reformulation of the social role of the child and infancy. With the emergence of the kawaii culture in Japan, in the early 70s, the concept gains a newfound vigor, rising to the status of a national obsession that reveals the intrinsic relation between cuteness and the traumas that shaped the post-war Japanese identity. In Bukimi-tan, I design a personal itinerary whose goal is to compile some aesthetic categories and plastic strategies through which the concept of kawaii becomes an operational model in contemporary artistic production. This “itinerary” – a series of observations, notes, examples, brief considerations, hints, memos, impressions, and small comments – reflects my own preferences and interests at the time the text was written. It aims at outlining affinities and links between the fine arts (focusing mainly on Japanese artists), and Japanse pop (sub)culture(s) – a manga and anime such as Neon Genesis Evangelion or Puella Magika Madoka Magika, subcultures like otaku or rorikon, street fashion like kogyaru and roriita, etc. – based on the connection between cuteness and concepts like “ignoble” (Sianne Ngai), “formless” (Yve-Alain Bois and Rosalind Krauss), “abject” (Julia Kristeva), “uncanny” (Freud, Lacan), “queerness” (Lee Edelman), “kyara” and “database” (Azuma Hiroki). On the other hand, in applying the poetical principles analyzed throughout the text to the dissertation’s own material and conceptual structure, I attempt at a convergence of the artistic praxis and the theoretical investigation in the same physical support, thus integrating this project in a larger reflection on the methodological specificities of a thesis in the field of Painting. PALAVRAS-CHAVE Kawaii; Moe; Cute; Anime; Japão KEY-WORDS Kawaii; Moe; Cute; Anime; Japan AGRADECIMENTOS Agradeço ao Professor Carlos Vidal, não só pela sua orientação neste projecto de Mestrado, como pelo entusiasmo e abertura com que recebeu quer o meu tema, quer o meu trabalho teórico e prático. Ao Professor Manuel Botelho, pelo apoio que me tem dado ao longo do meu percurso académico e artístico. À minha mãe, pela enorme disponibilidade, paciência e ajuda inestimável ao longo deste percurso, e ao meu pai, pelos seus ensinamentos e espírito crítico que sempre orientam o meu trabalho plástico. À Bá, pelo encorajamento ao estudo e ao trabalho. Aos meus amigos. Em particular, agradeço ao Ivo pelo companheirismo que torna tudo mais luminoso, ao Cientista pela constante e preciosa troca de ideias, ao Hugo Soares pelo seu delicioso conhecimento sobre manga e anime que tanto marcou este trabalho, ao João Miguel e ao João Fernandes pelos contributos atentos para o meu texto, à Ruiva pelas suas mensagens de incentivo, à Ângela, à Catarina, ao João Francisco e ao Miguel pela fonte reconfortante de preocupações partilhadas, à Rita, à Andreia, à Eunice e ao André por sempre estimularem o meu interesse na cultura japonesa. Ao Koseki-sensei, pelas aulas de japonês e ajuda à tradução. Ao Japão. ÍNDICE PARTE I Introdução e contextualização histórica; bibliografia geral e legenda das imagens. Glossário geral. INTRODUÇÃO. 1) Considerações preliminares sobre o conceito de kawaii………. 3 2) Breve explicitação de alguns termos e objectivos …………….. 7 3) Forma, estrutura, metodologia ……………………..……….... 10 SHIKATA GA NAI ― Contextualização histórica. 1) 1945-1952: O menino de 12 anos……………………………... 17 2) 1952-1970: Da acção à celebração……………………………. 20 3) 1970 e mais além: As gerações dos três niilismos…………….. 23 BIBLIOGRAFIA GERAL ……………………………………………………………… 31 LEGENDA DAS IMAGENS…………………………………………………………… 47 ANEXO I ― Glossário Geral de Termos……………………………………………… 73 PARTE II Estudo de casos, intervenções gráficas originais e conclusão. INSTRUÇÕES PARA FECHAR O TRABALHO. ESQUEMA EXPLICATIVO DAS COMPONENTES DO TRABALHO. ESTUDO DE CASOS (POR ORDEM ALFABÉTICA) E INTERVENÇÕES GRÁFICAS ORIGINAIS. AUTOSCOPIA ― Moekko como fissão na obra de Mr.; notas sobre uma experiência “extracorporal”. Como foi o fim-de-semana? [intervenção gráfica] CHIYO-CHICHI/CHIYO-CHAN ― Uncanniness e ilegibilidade emocional num capítulo de Azumanga Daioh. Nota sobre o yangire. Host [intervenção gráfica] COQUETES & DROPOUTS ― Pistas para uma poética kawaii do im(re)produtivo; subcultura kogyaru e Harakiri School Girls, de Aida Makoto. Sem título (da série Dropouts) [intervenção gráfica] DE QUE LADO É A CABEÇA DE UM CHOCO CORNET? ― Tédio e afectos frouxos em Lucky Star e K-On!; considerações breves sobre duas sequências moe. Nota sobre o panchira, d’après Strike Witches Sonna no, atashi ga yurusanai [intervenção gráfica] FÉRIAS GRANDES ― Hobbies, animais domésticos e o kawaii como estratégia de hibridez; declinações do escapismo num mundo flutuante. Uscita didattica [intervenção gráfica] GHOST SHELL ― Comentário telegráfico sobre o conceito de kyara a partir do projecto No Ghost Just a Shell, de Pierre Huyghe e Phillipe Parreno. Goosuto [intervenção gráfica] KAWAII/KOWAI ― Anotação sobre as múltiplas abjecções de Dob-kun, de Murakami Takashi. Z-chan [intervenção gráfica] LAÇOS ― Inumanidade e igualitarismo; apontamento sobre a poética da falsa- criança em Ribbons Almark, de Mobile Suit Gundam 00. Chibi Death [intervenção gráfica] LOLI POP ― Variações sobre a síndroma de Lolita na cultura pop japonesa; uma aproximação à estética ultra cute e voyeurismo nas subculturas rorikon e roriita. The bees and the butterflies [intervenção gráfica] MAGIA NEGRA ― Memorando sobre identidades foto-negativas; “caras negras”, “bruxas” e as raparigas mágicas do género mahou shoujo. Black Madoka [intervenção gráfica] MOE, MOE. KYUN! ― Vicissitudes da estética moe. Sem título (da série Moekko) [intervenção gráfica] O CASO DE AYANAMI REI ― Das ligaduras, gessos ortopédicos e seifuku ao kyara(cter) como enclave entre kyara e character; algumas observações sobre Ayanami Rei, de Neon Genesis Evangelion. Sem título (Rei expy) [intervenção gráfica] PYROMANIAC DAY/ DEAD OF NIGHT ― Componentes plásticas, cultura pop e zonas cinzentas num díptico de Nara Yoshitmo. Noli me tangere [intervenção gráfica] SMALL TALK ― Sound bites redondos e conversas circulares como fobia das relações interpessoais; algumas palavras escritas e cantadas. My Sweet Egg [intervenção gráfica] SOMETIMES HIS BRAIN KINDA SHUTS DOWN FOR A BIT ― Bloqueio, entorpecimento e branca como práxis cute; reflexão sintética em três casos. Blank memo [intervenção gráfica] SUPERFLAT KITTIES ― Minuta sobre a substância venenosa do kitsch; de Hello Kitty ao merchandise “indígena” do movimento Superflat. Estudo para papel de embrulho I [intervenção gráfica] TAKE-OUT ZOMBIES ― Corpos cute, da comestibilidade à evisceração; os casos de Mimi-chan, superflat sushi e soul gem. Mahou shoujo sushi [intervenção gráfica] THE