Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 1 2 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Fotos: Henri Figueiredo

Silvana Amorim e André Gustavo da Silva pouco antes da apuração Primeiras urnas chegam para o início do escrutínio

Apoiadores da Chapa 2 fazem as contas Juiz Cláudio Armando Couce de Menezes fiscaliza a apuração

Até o último voto: apuração se estendeu até a madrugada

SEDE: Avenida Presidente Vargas 509, 11º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20071-003 TEL./FAX: (21) 2215-2443 – PORTAL: http://sisejufe.org.br ENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected] Filiado à Fenajufe e à CUT

DIRETORIA: André Gustavo Souza Silveira da Silva, David Batista Cordeiro da Silva, Dulavim de Oliveira Lima Júnior, Flávio Braga Prieto da Silva, João Ronaldo Mac-Cormick da Costa, Leonor da Silva Mendonça, Lucilene Lima Araújo de Jesus, Márcio de Souza Marques, Nilton Alves Pinheiro, Otton Cid da Conceição, Renato Gonçalves da Silva, Ricardo de Azevedo Soares, Roberto Ponciano Gomes de Souza Júnior e Valter Nogueira Alves.

IDÉIAS EM REVISTA – REDAÇÃO: Henri Figueiredo (MTb 3953/RS) – Max Leone (MTb 18.091) – Thaís Vilela (Estagiária de Jornalismo) PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: Claudio Camillo (Mtb 20.478) – DIAGRAMAÇÃO: Deisedóris de Carvalho – ILUSTRAÇÃO: Latuff ASSESSORIA POLÍTICA – Márcia Bauer – EDIÇÃO: Henri Figueiredo CONSELHO EDITORIAL – Roberto Ponciano, João Mac-Cormick, Henri Figueiredo, Max Leone, Márcia Bauer, Valter Nogueira Alves, Nilton Pinheiro. IMPRESSÃO: DGD Artes Gráficas (8 mil exemplares)

As matérias assinadas são de responsabilidade exclusiva dos autores. As cartas de leitor estão sujeitas a edição por questões de espaço. Demais colaborações devem ser enviadas em até 2 mil caracteres e a publicação está sujeita a aprovação do Conselho Editorial. Todos os Impresso em textos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte. Papel Reciclato Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 3 Eleições Sisejufe Comparecimento aumentou 47% em relação a 2005 Sindicalizados puderam votar em suas cidades O sindicato disponibilizou 45 ur- briam todos os locais com sindicali- nezuela, TRE), 1 urna híbrida em Ni- nas, 11 delas urnas eletrônicas (todas zados do Sisejufe no estado do Rio de terói, 1 urna híbrida em São Gonçalo, localizadas na capital). Também no Janeiro. Houve um aumento expres- 4 urnas itinerantes no Interior e 2 ur- Centro do Rio de Janeiro foram colo- sivo de comparecimento em 728 elei- nas itinerantes na Capital, totalizan- cadas 3 urnas fixas na capital (de lona). tores, representando 47% a mais em do 21 urnas. Além do aumento do Para o interior, equipes de mesários relação à eleição anterior (2005), que número de urnas (mais do que o do- levaram 19 urnas híbridas, ou seja, teve um comparecimento de 1.537 bro) e a colocação de urnas eletrôni- que tinham um ponto fixo de referên- eleitores. Naquela eleição, eram 8 ur- cas, o aumento em mais de 700 filia- cia, mas percorriam as varas, juizados nas fixas no Centro do Rio de Janeiro, dos na atual gestão também ajuda a e zonas eleitorais. Além dessas urnas, 5 urnas itinerantes nos prédios do explicar o aumento na participação do 11 urnas com roteiros itinerantes co- Centro (Lavradio, TRF, Rio Branco, Ve- processo eleitoral.

4 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Eleições Sisejufe Pela primeira vez, quorum mínimo foi ultrapassado Sisejufe realiza a sua maior eleição

Foto: Henri Figueiredo Dos 3.777 sindicalizados aptos a votar nas eleições do Sisejufe, que se encerraram às 19h da quinta-feira, 7 de agosto, após três dias de pleito, 2.241 eleitores aptos a votar procura- ram as urnas para eleger a diretoria no triênio 2008-2011 e os representan- tes sindicais de base, ou seja, 59,33% do total. Pela primeira vez, nos 19 anos do Sisejufe, o quorum qualifica- do de 50% dos filiados, exigido pelo estatuto, foi ultrapassado na primeira votação. O escrutínio começou pouco depois das 21h de 7 de agosto, no au- ditório do Sisejufe, com a fiscalização do juiz Cláudio Armando Couce de Menezes, do TRT da 17ª Região. Às 2h da madrugada de sexta-feira, 8 de Urna eletrônica nº 11, no TRE Sede, teve 248 votantes agosto, a Comissão Eleitoral divulgou a ata de eleição que indica a vitória da Votos totais Chapa 1 – MAIS Sisejufe com 1.357, ou 60,55% do total de votos (62,67% Chapa 1– MAIS Sisejufe 1.357 60,55% dos votos válidos). Chapa 2 – Viva Voz 808 36,05% Votos Nulos 55 2,46,% Votos Brancos 21 0,94% Total de votos 2.241 100% Votos Válidos Chapa 1 – Mais Sisejufe 62,68% Chapa 2 – Viva Voz 37,32%

TRF: Urna nº 2 foi a que recebeu maior quantidade de votos

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 5 Eleições Sisejufe Indicados também 3 suplentes Eleitos 17 representantes sindicais de base Em paralelo à eleição para a dire- é importante para ramificar a luta sin- brancos e 209 nulos. Estão eleitos 17 ção do Sisejufe aconteceu a escolha de dical dentro dos tribunais, varas e jui- representantes e a eleição ainda indi- representantes sindicais de base – cuja zados e para estabelecer novos e im- cou três suplentes (um no TRF, outro a eleição é prevista no estatuto do sin- portantes canais de comunicação en- no TRT da Antônio Carlos e o último dicato, mas até então nunca tinha ocor- tre a categoria e os dirigentes sindi- no TRT da Lavradio). Confira a relação rido. A escolha desses representantes cais. Foram dados ? Votos válidos, 219 dos eleitos. Fotos: Henri Figueiredo VOTAÇÃO PARA REPRESENTANTES SINDICAIS

RESULTADO APOSENTADOS (2 VAGAS) Nº DE VOTOS REPRESENTANTE Cesar de Souza Barros 044 REPRESENTANTE Francisco Costa de Souza 033 TRF (2 VAGAS) REPRESENTANTE Ronaldo Almeida das Virgens 287 REPRESENTANTE Márcio de Souza Marques 245 SUPLENTE Jefferson Moreira de Oliveira 189 JF – RIO BRANCO (1 VAGA) REPRESENTANTE Luiz Eduardo Ferreira Araújo 283 JF VENEZUELA (1 VAGA) REPRESENTANTE Glauco Cesar Machado 084 SUPLENTE Jackson Araújo de Abreu 059 TRT–A CARLOS / A SEVERO (1 VAGA) REPRESENTANTE Carlos Alberto da Silva 064 LAVRADIO / GOMES FREIRE (1 VAGA) REPRESENTANTE David Batista Cordeiro da Silva 027 SUPLENTE Luiz Alberto Feitosa 023 TRE (1 VAGA) REPRESENTANTE David Gonçalves Soares 206 ANGRA DOS REIS (1 VAGA) REPRESENTANTE Maurício Martins de Souza 008 MACAÉ (1 VAGA) REPRESENTANTE Conceição de Maria Fonseca 017 MAGÉ (1 VAGA) REPRESENTANTE João Rufino Vieira 006 SÃO JOÃO DE MERITI (1 VAGA) REPRESENTANTE Sidnei Barbosa Seixas 043 NITERÓI (1 VAGA) REPRESENTANTE Marisol Freire Sampaio 086 DUQUE DE CAXIAS (1 VAGA) REPRESENTANTE Fernando Baeta Meyas 029 TRÊS RIOS (1 VAGA) REPRESENTANTE Eudes Magalhães Junior 001 VOLTA REDONDA (1 VAGA) REPRESENTANTE Luis Eduardo de Saboya Gomes 025 SÃO GONÇALO (1 VAGA) REPRESENTANTE Josuel Ferreira da Silva 001 TOTAL DE VOTOS VÁLIDOS 1760 VOTOS BRANCOS 219 VOTOS NULOS 209

6 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 VOTAÇÃO GERAL POR URNAS

Urna anulada pela Comissão Eleitoral por apresentar maior número de votos do que assinaturas na listagem.

Total 2241284 1357 808 21 55

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 7 Eleições Sisejufe Sindicato investiu R$ 61 mil no processo eleitoral Mais de 150 trabalhadores envolvidos na eleição

Fotos: Henri Figueiredo

Início de trabalho: 90 mesários ouviram instruções na primeira manhã Márcia Bauer: assessora política do Sisejufe

Henri Figueiredo* Antes do amanhecer do primeiro Primeira urna foi aberta no TRT dia de votação, a movimentação já era A primeira urna foi aberta no Tribunal intensa com a chegada de mesários, fis- Regional do Trabalho (TRT) da 1ª Região, Das 6h da manhã de terça-feira, 5 de cais das chapas e candidatos. Na ter- na avenida Antônio Carlos, por volta de 11h. agosto, 2h de madrugada de sexta-feira, 8 ça, 5 de agosto, a primeira atividade Antes do começo da votação no prédio do de agosto, o Sisejufe mobilizou uma equi- do dia foi conduzida pela assessora TRT da Avenida Antônio Carlos, fiscais das pe de mais de 150 trabalhadores para rea- política do Sisejufe, Márcia Bauer, que Chapas 1 e 2 tiraram a “zerésima” da urna lizar as eleições para a diretoria e para os repassou as regras da votação. “Foi eletrônica – que garante que a urna está representantes sindicais de base. O custo uma reunião para relembrarmos os sem nenhum votado computado. Os servi- aproximado foi de R$ 61 mil, de acordo procedimentos que já haviam sido de- dores lotados no prédio do TRT da Antô- com o Departamento Administrativo do sin- talhados em outros encontros com os nio Carlos, mostraram que estavam com dicato – investimento que será detalhado mesários e fiscais, tudo de acordo com disposição de, além de eleger a nova dire- na prestação de contas periódica. Foram o Estatuto do Sisejufe e com o que foi ção do Sisejufe, cobrar as promessas de 90 mesários(as), 29 carros locados e, por- debatido na Comissão Eleitoral”, disse campanha da próxima direção. Muitos afir- tanto, 29 motoristas, 8 escrutinadores(as) Márcia. Enquanto repassavam as re- maram que lutar por melhores condições – além dos indicados pelas chapas – 4 téc- gras de votação, os colaboradores pu- de trabalho e pressionar o pagamento de nicos do TRE, 2 seguranças e a equipe do deram tomar café da manhã no pró- passivos atrasados devem ser os pontos sindicato (com 13 funcionários(as), além de prio sindicato. principais no triênio 2008-2011. estagiárias e advogadas). Foto: Max Leone Foto: Max Leone Foto: Max Leone

Lúcio: elogiou o processo democrático Aos 72 anos: Sílvio é eleitor assíduo Primeira a votar: Mirtes votou no TRT

8 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 É o que acha a técnica judiciária Mirtes Moreira, de 42 anos. Primeira a votar na urna instalada na entrada do prédio do TRT da Antônio Carlos, a servidora disse que a nova diretoria terá muito o que fazer para defender os interesses da categoria. Funci- onária do tribunal há 24 anos, Mirtes con- sidera importante participar de todas as atividades do sindicato para, assim, poder cobrar um trabalho efetivo da direção. “Há muita coisa a ser feita em favor da catego- ria, principalmente no TRT. Os maiores pro- blemas a serem solucionados no tribunal são a questão da jornada de trabalho de 6 horas e o pagamento dos passivos que ain- da não foram quitados pela Administração do tribunal”, explica a servidora. Chegada: movimentação na entrada do Sisejufe, às 7h de 5 de agosto

O técnico judiciário e programador de computador Lúcio de Paula Corrêa, de 47 anos, também espera uma atuação forte do sindicato na fiscalização dos atos da Admi- nistração do TRT. Lotado na Secretaria de Gestão de Pessoas, Corrêa, que é sindicali- zado há mais de dez anos, participou de vá- rias eleições do Sisejufe. Ele destaca que as condições de trabalho dos servidores não são as melhores e precisam ser modifica- das. Sobre as eleições elogiou o processo democrático que vem sendo desenvolvido e De saída: já com as urnas, rumo às seções disse que tomou conhecimento das eleições por meio das publicações do Sisejufe e do de lotados naquela seção. Os demais precisa- material impresso das chapas concorrentes. ram, como Mailza, votar em separado. Ainda “Independentemente da chapa que ganhar na Justiça Federal da avenida Venezuela, a espero que a próxima gestão do sindicato analista Maria Célia Albuquerque, sindicali- cobre e fiscalize a Administração sobre os zada há 8 anos, ressaltou a importância do direitos do funcionalismo no que diz res- processo eleitoral do Sisejufe. “É clara a de- peito aos passivos e as condições de traba- mocracia. A possibilidade dos sindicalizados lho dos servidores. Precisa ser uma cobran- escolherem seus representantes é também ça verdadeira e não só para constar”, co- um momento importante na relação de cada mentou logo após votar na urna eletrônica. um com o sindicato. Sinaliza para os demais Maria Célia: “O sindicato somos nós!” funcionários a importância de ser sindicali- Aposentados e Justiça Federal zado e de se manter informado sobre os can- didatos”, observa Maria Célia. E adverte: “Eu Os aposentados marcam presença nas elei- A votação correu tranqüila durante toda acho que a categoria fica esperando muito ções do Sisejufe. Na sede do sindicato funcio- a terça-feira, 5 de agosto. No meio da tarde, do sindicato, quando o sindicato somos nós, nou uma urna eletrônica exclusiva para rece- na Justiça Federal da Avenida Venezuela, a nós que devemos participar mais”. Pouco an- ber votos dos aposentados. Já o servidor inati- espera para votar era de poucos minutos. En- tes de registrar seu voto a servidora arriscou vo do TRT, Silvio Cardoso Nascimento, de 72 quanto estava na pequena fila da urna eletrô- uma palavra de ordem: “O sindicato somos anos, fez questão de votar na avenida Antônio nica, a técnica Diana Maria Figueira, que é nós, nossa força, nossa voz”. Carlos. Funcionário do tribunal desde 1984, sindicalizada há 8 anos, lembrava a impor- Nascimento se aposentou em 1997, mas não tância de participar da escolha dos dirigen- Às 20h de terça-feira, primeiro dia de vo- deixou de trabalhar. Atualmente exerce a ad- tes sindicais: “Participei de greves, de atos e, tação, com números ainda não totalizados vocacia e sempre participa das atividades e das nestes 8 anos, tenho ficado satisfeita com as em função das urnas itinerantes que estão conquistas do sindicato”. Opinião semelhan- eleições do sindicato, desde quando se filiou à percorriam o interior fluminense, a Comis- te tem Mailza Vaz de Melo, técnica judiciária entidade logo depois da fundação, há 19 anos. são Eleitoral calculava em mais de mil os vo- há 10 anos. “Esta é a eleição mais limpa que O aposentado afirma que a nova direção do tos depositados. Os horários de votação não Sisejufe deve continuar com a bandeira da isen- eu já vi”, comentou Mailza pouco antes de foram coincidentes: no TRT da Capital, de 9h ção da cobrança previdenciária e do Imposto depositar seu voto na urna de lona, já que foi às 19h; nos TRTs do Interior de 11h às 18h. de Renda para os servidores inativos. “Defen- recentemente transferida para a Avenida Ve- Na Justiça Federal, no TRF e no TRE o horário dendo o lado dos aposentados, o sindicato nezuela e seus registros ainda a mostravam foi de 11h às 19h. poderia pressionar o governo federal para que como lotada na Avenida Rio Branco. Só pu- nos isente da contribuição previdenciária e até deram votar nas urnas eletrônicas os servi- de Imposto de Renda”, reivindica. dores que estiverem relacionados na listagem *Com Max Leone e Thaís Vilela.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 9 Eleições Sisejufe Aposentados e até servidores em férias apareceram para votar Segundo e terceiro dias superam quorum estatutário Fotos: Henri Figueiredo Max Leone* Como havia duas votações – uma para escolher a direção do Sisejufe e outra para definir os representantes de base – as mesá- No segundo dia de votação, quarta-feira, rios tiveram sempre a preocupação de expli- 6 de agosto, a votação foi encerrada com car o procedimento para os votantes. Em 48% de votos registrados – quase atingindo o primeiro lugar, os servidores deveriam votar quorum de 50% de sindicalizados exigido em uma das duas chapas concorrentes e, em pelo Estatuto do Sisejufe para se evitar uma seguida, escolher o representantes de base. segunda eleição – daí com quorum mais re- duzido. No último dia do pleito, quinta, 7 de “Não tivemos maiores problemas, mas a agosto, além de conseguir os poucos votos maioria tinha pouca informação sobre a vo- que faltavam, os militantes de cada chapa es- tação para eleger os representantes de base”, tavam preocupados em ampliar a participa- apontou a mesária Camilla Barroso. A mesá- ção dos sindicalizados. Por isso, ocorreram ria Márcia Cristina já trabalhou em outras elei- “arrastões” em todos setores de trabalhos. ções sindicais e em processos promovidos No prédio do TRE, na Avenida Presidente pelo TRE. Ela avalia que a escolha de uma Wilson, não foi diferente. Lá, até às 13h45m direção de sindicato não é muito diferente de 7 de agosto, 198 servidores haviam vota- de outras eleições. “Não vejo diferença. Os do – de um total de 238 funcionários aptos a eleitores acabam escolhendo seus represen- participar do processo eleitoral (ou seja, que tantes no final das contas”, compara. se filiaram até o dia 6 de abril de 2008 ao Sisejufe). O número representava, aquela al- Um dos servidores que deixou para vo- tura, uma participação de 83,19% do total de tar no último dia na urna 11 no prédio do Boca-de-urna: Gisele Silva, Pitersson Almei- eleitores do TRE Sede. Os integrantes da mesa TRE, foi o técnico judiciário e programador da, Sheila Santos e Alexandre Costa disputa- da urna número 11 computaram, ainda, 26 de sistema Renato Costa do Nascimento, de ram eleitores para as duas chapas na Av. Pre- votos em separados até o começo da tarde 24 anos. A demora, segundo ele, era devido sidente Wilson do terceiro dia de votação. à dúvida que ainda mantinha sobre em que chapa votaria. Depois de conversar com os O primeiro dia da eleição, 5 de agosto, colegas de trabalho ficou mais seguro e defi- foi o mais movimentado no TRE da Presi- niu o seu voto. “Deixei para o último dia por- dente Wilson. Na terça-feira, 128 servidores que precisava esclarecer algumas dúvidas. Os lotados no prédio deixaram seus votos na colegas do meu setor me ajudaram a dirimi- urna eletrônica, ou seja, 53,78% dos filiados las”, explicou o servidor, que trabalha no TRE que constavam na lista de votantes. Vinte desde outubro de 2007 e é sindicalizado des- votos em separados foram coletados. No de que ingressou no serviço público. Para segundo dia, mais 60 servidores compare- Renato Nascimento, um dos pontos em que a ceram à urna instalada no segundo andar próxima gestão do sindicato deve centrar do prédio do tribunal, chegando a 188 vo- fogo é no combate ao projeto de lei que con- tos (78,99%). Cinco votos foram recolhidos gela os salários dos servidores públicos. em separado na urna de lona. No terceiro dia, o movimento foi mais lento. Até o início Decano do Sisejufe votou na Rio Branco da tarde, as mesárias Camilla Barroso e Már- cia Cristina computaram dez votos na urna No fim da tarde de quinta-feira, próximo eletrônica e um em separado. do horário de encerramento da votação, o oficial de justiça aposentado Sérgio Nelson Cortês Silveira procurou, orgulhosamente, uma das urnas da Justiça Federal da Avenida 1° presidente: Cortês, 75 anos, votou na JF Rio Branco para depositar seu voto. Cortês integrou a primeira diretoria do sindicato, um orgulho ver o crescimento do Sisejufe. em sua fundação, há 19 anos, e foi escolhido Principalmente porque sempre precisamos pelo colegiado como presidente daquela pri- de entidades fortes que representem bem meira gestão. os servidores do Judiciário Federal. Fico fe- liz por fazer parte desse história e por ainda Sorridente, o portador da matrícula sin- estar participando dela”, disse Cortês. dical nº 5 elogiou o processo eleitoral e dis- TRT Lavradio: André Albuquerque retornou se que faz questão de sempre participar dos das férias só para votar momentos importantes para a categoria. “É *Com Henri Figueiredo e Thaís Vilela.

10 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Eleições Sisejufe Representantes sindicais assumem no mesmo dia Posse da nova diretoria é dia 27 de agosto A posse da chapa MAIS Siseju- fe para o triênio 2008-2011 na di- retoria do sindicato será no dia 27 de agosto de 2008, à partir das 19h30min, no Clube dos Advoga- dos (Rua Marechal Câmara, 210 – 3º andar – Centro – Rio de Janei- ro). O evento terá a apresentação do grupo musical Razões Africa- nas, com as cantoras do Jongo da Serrinha Dely Monteiro, Lazir Synval e Luiza Marmello e com o cantor Lucio Sanfilippo. Convites para a posse podem ser solicitados aos diretores, em seus locais de tra- balho, ou pelo endereço eletrôni- co [email protected].

Nominata da Diretoria Colegiada eleita para o triênio 2008-2011

• Roberto Ponciano • Marcos André Leite Pereira – JF Rio Branco (Técnico) – JF São João de Meriti (Of. Justiça) • Valter Nogueira Alves • Angelo Canzi Neto Madrugada: contagem dos últimos votos – TRF/CCJF (Agente de Segurança) – JF São Gonçalo (Técnico) • Nilton Alves Pinheiro • Og Carramilo Barbosa – TRT Antônio Carlos (Agente de Segurança) – JF Equador (Técnico) • Lucilene Lima Araújo de Jesus • Leonardo Mendes Peres – TRT (Técnica Aposentada) – ZE de Nilópolis (Técnico) • Vera Lucia Pinheiro dos Santos • Willians Faustino de Alvarenga – TRT (Of. Justiça Aposentada) – TRT Antônio Carlos (Técnico) • Otton Cid da Conceição • João Souza da Cunha – TRF (Agente de Segurança) – JF Venezuela (Analista) • Dulavim de Oliveira Lima Junior • Luiz Carlos Oliveira de Carvalho Comissão Eleitoral: assinatura da ata final – JF Venezuela (Técnico) – JF Rio Branco (Agente de Segurança) • Ricardo de Azevedo Soares • José Fonseca dos Santos – JF Venezuela (Analista) – TRF (Agente de Segurança) • João Ronaldo Mac-Cormick da Costa • Marcelo Costa Neres – TRE Sede (Téc. de Informática) – JF Venezuela (Técnico de Enfermagem) • Mariana Ornelas de Araujo Goes Liria • Maria Cristina de Paiva Ribeiro – TRF (Técnica) – TRF/CCJF (Analista Bibliotecária) • Moisés Santos Leite • Gilbert de Azevedo Silva – TRE Sede (Agente de Segurança) – JF Venezuela (Técnico) • Renato Gonçalves da Silva • Marcio Loureiro Cotta Vitória: apoiadores da chapa 1 comemoram – TRF/CCJF (Agente de Segurança) – JF Rio Branco (Oficial de Justiça)

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 11 Eleições Sisejufe Conheça a avaliação da Chapa 2 – Viva Voz Por um sindicato combativo, independente de governos e centrais sindicais vendidas

A Chapa 2 – VIVA VOZ vem sau- falsa “neutralidade” que não pas- dar os 808 servidores e servidoras sa de um encobrimento e defesa que demonstraram, como nós, velada das atuais políticas impos- não abrir mão de um sindicato in- tas. dependente de governos e de en- tidades pelegas, como condição Nessas eleições sindicais a mai- fundamental para a luta por per- oria dos que votaram preferiu ade- manente melhorias e resistência rir ao discurso pragmático da di- aos ataques contra nossos direi- reção (o do velho “sindicalismo de tos. resultados”), que foi massificado durantes os três anos de manda- Avaliamos que, nesse processo to. Da nossa parte, nos recusamos eleitoral, fomos vitoriosos pelo a vender falsas ilusões, falsas ex- conteúdo da discussão que impri- pectativas e falsas facilidades. mimos. Por um lado, apresenta- mos propostas concretas em tor- Acontece que a nossa realida- no dos principais pontos de inte- de não está tão tranqüila e promis- resse geral e específico da catego- sora como diz a situação. Pelo con- ria. Por outro lado, deixamos cla- trário. Alertamos que se não rea- ro que é dever do sindicato com- girmos enquanto há tempo a ten- bater e resistir aos projetos do dência é que regridamos a uma si- governo que estão em trâmite tuação absolutamente calamito- avançado no Congresso e que são sa, como já vivemos. frontalmente contrários a nós, andamento (PLP 01/07 – congela servidores, e ao serviço público. até 2017 os salários, PLP 248/98 – Entendemos que sindicato é acaba com a estabilidade, PLP 92/ para reivindicar os interesses ime- Esse foi o nosso grande dife- 07- contratação de funcionários diatos da categoria, mas sem abrir rencial em relação à chapa da si- pela CLT, PL1992/07 – regulamen- mão de uma política clara voltada tuação que, propositadamente, ta os fundos de pensão, PL 4.497/ para a garantia e sustentação dos omitiu essa discussão da sua cam- 01 – acaba com o direito de greve, nossos direitos, a longo prazo. panha e programa por ter estrei- Lei 11.648/08 – cria a nova taxa- Isso pressupõe o firme combate às to atrelamento político com a ção sindical de 1% da renda anual, permanentes tentativas de retira- CUT. Tal entidade, desde 2003, PEC 12/06 – calote no pagamento da desses direitos pelos represen- corrobora incondicionalmente dos precatórios, etc), preferiu di- tantes das elites no poder. com toda a política do governo, zer que a oposição fazia “terroris- visando benesses, sobretudo, de mo” e criticava o governo federal Da nossa parte, vamos continu- ordem financeira (como é o caso “por motivos partidários”, por ar insistindo nesta perspectiva e da nova taxação sindical). “sectarismo”. conclamamos todos os servidores à luta. Saudações. Ao invés da chapa situacionis- Ora, na verdade, motivos parti- ta posicionar-se em relação às dários tem a situação (seus líderes nossas denúncias contra os diver- pertencem aos partidos governis- Integrantes e apoiadores sos projetos “anti-servidor” em tas) quando mantém a postura de da CHAPA 2 – VIVA VOZ.

12 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Eleições Sisejufe A Chapa 1 – Mais Sisejufe analisa o pleito e a sua vitória Testada e aprovada: a categoria elege a Chapa 1 como a grande vencedora

As eleições do Sisejufe demonstra- ram que a categoria aprovou a gestão realizada pela atual diretoria e confir- mou nas urnas a chapa MAIS Sisejufe, com 63% dos votos válidos. O interesse da categoria nas questões sindicais fez com que, nestas eleições, o quorum fosse ultrapassado, na primeira votação e pela primeira vez nos 19 anos de exis- tência do sindicato. A participação de quase 60% de filiados e filiadas ao sin- dicato é o reconhecimento de que a mar a sede do sindicato, adequando o neste próximo período. O Sisejufe está nossa entidade sindical atingiu um espaço para as políticas de formação, cul- à frente desse debate em todo País. novo, e mais avançado, patamar. tura e participação política. Agora é a hora de ampliar a discussão e colher mais colaborações da base A aprovação da gestão atual se deu A política de interiorização do sin- sobre qual carreira cada um de nós pla- devido às políticas implementadas pelo dicato foi outro elemento importante neja para nossas vidas. sindicato, com mobilizações, assem- para a ampliação da participação no bléias e ações jurídicas na defesa dos processo eleitoral. Um sindicato esta- A responsabilidade da chapa eleita direitos coletivos ou individuais. E tam- dual com políticas para todos os asso- é grandiosa e já começamos o trabalho bém pelo fomento de atividades cultu- ciados e associadas. para corresponder às expectativas dos rais, através de botequins, saraus, peça 63% dos eleitores que nos confiaram o de teatro, espetáculos musicais ou com A atual gestão se fez presente em voto e dos demais, e importantes, ato- a realização dos cursos de formação es- todos os fóruns e correspondeu às de- res do cenário político da categoria. As pecífica ou geral (alguns com validade mandas da categoria. Com isso, houve conquistas são para todos. Vamos sem- para o Adicional de Qualificação). a migração de apoios de um campo para pre trabalhar com isso em mente, com outro, da oposição para a situação, cujo a convicção que nestes três anos tere- A categoria optou pela Chapa 1 por maior marco foi a grande transferência mos mais conquistas, como a redução depositar nela a esperança e a confiança de votos no TRF. Na eleição de 2005, da jornada de trabalho, melhores con- em uma gestão participativa e que tra- por exemplo, a chapa da atual diretoria dições de saúde, e o atendimento de tou com responsabilidade as finanças do obteve 10% dos votos no TRF. Nesta elei- reivindicações específicas de cada seg- sindicato. A atual gestão, que encerra um ção, ultrapassamos os 47% do eleitora- mento do judiciário – servindo de su- ciclo vitorioso à frente do sindicato, par- do naquele Tribunal num claro sinal de porte para todo sindicalizado resolver ticipou das mobilizações nacionais para aprovação das políticas implementadas questões de desigualdade de gênero, garantir a aprovação do PCS, de ativida- pela direção do Sisejufe. de idade, orientação sexual, políticas des específicas convocadas pela Fenaju- inclusivas para portadoras de deficiên- fe como, por exemplo, os coletivos naci- As propostas da Chapa 1 – MAIS Si- cia. Nós, da direção eleita, agradece- onais dos agentes de segurança, dos ofi- sejufe durante a campanha foram cla- mos e parabenizamos os servidores do ciais de justiça, dos aposentados, das ras, objetivas, situadas no campo da Judiciário Federal no Rio de Janeiro. Esta mulheres, o congresso nacional da fe- luta dos servidores públicos e na bus- vitória é, na verdade, da maturidade da deração e plenárias ampliadas. Nesses ca pela melhoria de vida da categoria. categoria que quer MAIS conquistas e momentos, o Sisejufe sempre se fez e se O Plano de Carreira, com aumento sa- um sindicato forte e de luta! fará presente com representação legíti- larial, é sem dúvida a grande bandeira ma e significativa. Para além da atuação de luta e de mobilizações que o Judici- Diretoria Colegiada da Chapa 1 – MAIS setorial, a atual gestão conseguiu refor- ário, em âmbito nacional, vai travar Sisejufe eleita para o triênio 2008-2011.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 13 Opinião É necessário repensar o processo eleitoral brasileiro As eleições e a federalização da JE

Foto: Henri Figueiredo João Mac-Cormick*

Continuando a matéria publicada no número anterior de “Idéias em Revista” no intuito de problematizar o tema, esta segun- da parte tratará de um assunto já aventado por alguns críticos do processo eleitoral brasileiro. Como já abordado anteriormen- te, seria economicamente viável juntar car- tórios em varas eleitorais apenas para tratar da questão jurisdicional, função precípua do Poder Judiciário.

Entretanto, para discutir a federalização da JE é necessário falar do processo eleito- ral uma vez que a Justiça Eleitoral (JE) é res- ponsável por 90% do processo, o qual não seria um trabalho jurisdicional, na concep- ção da divisão entre poderes no seio do Es- tado Moderno iniciada por Montesquieu. João Mac-Cormick e Ana Claudia Braga, secretária de Gestão de Pessoas do TSE, durante Discutir o processo eleitoral, que é um- o 1º Encontro Estadual da Justiça Eleitoral, em 23 de julho, no Sisejufe. bilicalmente ligado à JE no modelo brasilei- ro, é voltar na história e entender que o TSE foi criado em 1932, numa época em que a democracia ainda era incipiente. Com o pas- Na tarefa reguladora percebemos uma “aberração” sar do tempo, conceitos de uma democra- deste modelo. O TSE tem atribuições que seriam destinadas cia moderna, como a inviolabilidade do voto, a transparência da eleição e o voto universal ao Legislativo, tais como regulamentar, através de resoluções foram aperfeiçoados. próprias, os procedimentos de todos os atores, inclusive os da Na divisão de tarefas do processo temos fiscalização, determinando como estes podem ou não podem a parte jurisdicional, ou seja, o julgamento proceder, inclusive tendo o poder de julgar recursos de seus de lides judicantes conferidos à uma Justiça especializada, de envergadura federal com próprios atos em última instância. juízes estaduais em 1ª instância, e não à Jus- tiça Comum. se a vitória do candidato Moreira Franco ao julgar um recurso contra seus próprios atos, governo do Rio de Janeiro. Naquela época, tornando-o sem objeto, mas lembremos da TSE e os acúmulos de poderes a Rádio Jornal do Brasil montou um esque- decisão polêmica o ano passado referente à ma paralelo de totalização e indicava a vitó- fidelidade partidária. Depois de os ministros Na tarefa reguladora percebemos uma ria de Leonel Brizola. Após iniciada uma in- “regulamentarem” a fidelidade partidária, “aberração” deste modelo. O TSE tem atri- vestigação, os escritórios da Proconsult fo- muitas críticas do Legislativo foram ouvidas. buições que seriam destinadas ao Legislati- ram abandonados e, reinicializado o pro- Tramita no Congresso o Projeto de Decreto vo, tais como regulamentar, através de re- cesso de totalização, foi eleito Brizola para Legislativo 397/2007, que visa disciplinar a soluções próprias, os procedimentos de to- governador do Rio de Janeiro. fidelidade partidária. dos os atores, inclusive os da fiscalização, determinando como estes podem ou não Na época se alegava erro de programa- No próximo número desta revista, apre- podem proceder, inclusive tendo o poder ção, mas não se “descobriram” os respon- sentarei outras questões relativas ao pro- de julgar recursos de seus próprios atos em sáveis. Quem era responsável pela totaliza- cesso eleitoral, sinalizado assim, assuntos última instância. ção? O TSE. Quem era responsável pela in- que também devem ser analisados neste vestigação? O TSE. Quem era responsável complexo tema que é a Federalização da JE. Alguns fatos revelam isto, como por pelo julgamento? O TSE. Parece que o “es- exemplo, o caso Proconsult, ocorrido em pírito de corpo” se fez presente. 1982. Durante o processo de totalização, *Técnico Judiciário (TRE) há 12 anos, com auxílio de computadores, anunciava- Poderíamos citar o caso de o TSE não diretor do Sisejufe.

14 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Movimento Sindical É preciso pressão pela Convenção 151 da OIT A CUT e a luta pela democratização do serviço público

Foto: Henri Figueiredo Neusa Luzia Pinto*

Foi a partir da ação da classe trabalhado- ra organizada que conquistamos, na Consti- tuição de 1988, a extensão do direito de gre- ve aos servidores públicos. A conquista pode ser considerada um marco na história do movimento sindical brasileiro, e em particu- lar, dos servidores públicos municipais, esta- duais e federais.

Há 20 anos, as conquistas que estão na Constituição possibilitaram que as lutas sindi- cais dos trabalhadores e trabalhadoras do ser- viço público fossem elevadas a um patamar de destaque no cenário do movimento sindical brasileiro. Dispensa maiores comentários o papel das organizações de servidores na cons- trução da CUT e no avanço do sindicalismo classista, independente e plural que os ventos do novo sindicalismo trouxeram. Neuza no 1º Encontro Nacional sobre Jornada de 6 horas, com Roberto Policarpo (Fenajufe) e Ponciano

Hoje, depois de duas décadas de mobili- Convenção 151 da Organização Internaci- novo modelo de gestão pública baseada em zação, greves e conquistas, qualquer análise onal do Trabalho (OIT) é uma prioridade da princípios de flexibilização que são antagô- que leve em conta as debilidades e avanços, central, e devemos exigi-la de maneira ofen- nicos ao que defendemos para o serviço as idas e vindas e as vitórias e os reveses do siva para a conquista dos direitos dos servi- público, sob o nome de Fundação Estatal. movimento sindical da categoria, apontará dores públicos, com ou sem greve. O Gover- Assim a pressão sobre os parlamentares e a necessariamente como grande desafio a ser no Lula, desde janeiro, se comprometeu com difusão na sociedade sobre a importância superado a falta de um processo formal de a ratificação da Convenção 151 e com a ins- da 151 é fundamental para revertermos esse negociação com os Poderes Públicos. tituição do grupo de trabalho que construi- quadro. rá o instrumento legal para estabelecer esta A CUT defende a auto-organização dos sin- política e a metodologia para o novo forma- No início de agosto, a Comissão de Rela- dicatos como principal item de sua concep- to da Mesa Nacional de Negociação, que foi ções Exteriores da Câmara votou a favor da ção sindical. A greve, por exemplo, é conside- suspensa pelo governo no ano passado. As ratificação. Mas a proposta ainda segue tra- rada por nós como o último recurso para re- convenções da OIT – agência da ONU cria- mitando na Câmara e depois ainda vai ao solução de conflitos e deve ser auto-regula- da em 1949 – são tratados internacionais Senado. Portanto, é hora de pressionar de- mentada pelos trabalhadores. O que precisa- que, uma vez aprovadas pela Conferência putados e senadores, seja através de e-mails, mos é criar mecanismos que evitem a necessi- Internacional do Trabalho, podem ser rati- telefonemas ou cartas. É muito importante dade de utilização desse recurso extremo. O ficadas ou não pelos países membros. também assinar o abaixo-assinado da CUT e direito de negociação coletiva para o serviço engrossar nossas mobilizações em defesa público é, em nossa opinião, esse mecanismo. Os principais objetivos da Convenção da ratificação. 151 são: a proteção do direito de organiza- As negociações com os governos vêm se ção e das condições de trabalho na função A Central Única dos Trabalhadores, em dando de forma fragmentada e com níveis pública, a garantia aos servidores públicos seus 25 anos de lutas e conquistas, é a cen- de informalidade e improvisação claramente do direito de livre organização sindical e de tral sindical que organiza a maioria dos(as) nocivos aos interesses dos trabalhadores(as) negociações coletivas, em todas as esferas, trabalhadores(as) do serviço público do país, do serviço público. Os governantes, muitas com o Poder Executivo. sejam eles municipais, estaduais ou federais. vezes, se aproveitam deste vazio jurídico-le- Em nossa 12ª Plenária Nacional, a CUT apro- gal para abrir e encerrar negociações a seu O presidente Lula já encaminhou ao Con- vou uma Jornada Nacional de Lutas e Mobi- bel prazer e jogar servidores em greve con- gresso mensagem propondo a ratificação. lizações que tem como um dos eixos priori- tra a população. Em grande contradição, apresentou inicia- tários a exigência da ratificação da Conven- tivas que se contrapõem aos interesses ção 151. Reafirmamos a luta e convocamos A conquista do direito de negociação dos(as) trabalhadores(as), como o PLP 01, a a sociedade brasileira a juntar-se a nós. coletiva e sua urgente regulamentação são proposta de implantação da Previdência pressupostos básicos da democratização da Complementar (Funpresp), a idéia de criar *Servidora pública federal. sociedade. Não é à toa que a ratificação da uma lei de greve, e a apresentação de um É presidente da CUT-RJ.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 15 DVD – The Corporation (Documentário, Canadá, 145 minutos) O documentário The Corporation (Canadá, 2004) está mais atual do que nunca. Dirigido por Jennifer Abbott e Mark Achbar, o filme investiga, em 145 minutos, o poder das corporações no mundo contemporâneo. A partir da polêmica decisão da Suprema Corte de Justiça norte-americana de que uma corporação, aos olhos da lei, é uma “pessoa”, os autores analisam o modus operandi das grandes empresas, a exploração da mão-de-obra barata no Ter- ceiro Mundo e a devastação do meio ambiente. Entre os entrevistados, pre- sidentes de corporações como a Nike, Shell e IBM, intelectuais como Noam Chomsky e Milton Friedman, o cineasta Michael Moore e as ativistas Vanda- na Shiva e Naomi Klein (presenças constantes nas edições brasileiras do Fó- rum Social Mundial). O documentário foi premiado em diversos festivais de cinema, entre eles no Sundance Film Festival, no Festival da Filadélfia, no Festival de Documentários de Amsterdã e no Festival de Vancouver. No Rio de Janeiro, foi exibido na mostra Panorama do Cinema Mundial, do Festival do Rio 2004. Hoje, o DVD pode ser facilmente encontrado em boas locado- ras. Um choque de realidade para os arautos do “mundo livre”. D I C A S U L T R

Ser humano: ferramenta de produção e unidade de consumo

“Uma das características dos sistemas econômicos contemporâneos é impor flexibilidade a mercados de mão-de-obra. E isso é considerado maravilhoso. Tais mercados devem ser flexíveis. É um jeito sofisticado de dizer que não se sabe quando se vai para a cama, à noite, se estará empregado, pela manhã. Isso contribui para a eficiência. Qualquer um que tenha estudado economia enten- de que se tem mais eficiência se as pessoas não tiverem segurança – sem que se saiba o que lhes acontecerá no dia seguinte. Pessoas que possam ser movimen- tadas, como uma ferramenta. Então, com flexibilidade do mercado de mão-de- obra tem-se um tipo de eficiência. Mas, claro, isso tem um custo. Por exemplo, um dos custos são doenças mentais. O Organização Internacional do Trabalho fez um estudo recente constatando que a incidência de doenças mentais entre trabalhadores aumentou consideravelmente. Algo que atribuem, de modo plau- sível, à insegurança dos trabalhadores. Por outro lado, pode-se olhar isso como um jogo. Então, quando Allen Greenspan, do Federal Reserve, disse ao Con- gresso que economia maravilhosa ele estava tocando, atribuiu boa parte disso ao que ele chama de “aumentar a insegurança do trabalhador”. Porque, aí, as pessoas não vão pedir, têm medo de pedir melhores salários ou mais benefíci- os. Os lucros sobem, a inflação mantém-se baixa e se tem uma economia de conto de fada. Exceto para a população. Mas eles são ferramentas. Ferramentas de produção e unidades de consumo.”

Noam Chomsky (foto à esquerda), norte-americano, professor de Lingüística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).Da Redação. Trecho 16 http://sisejufe.org.br [Labour Market Flexibility] do filme The Corporation.Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Oficina Literária Já era noite quando os amantes saíram do Lima Barreto Carpe diem

Marlene de Lima*

A diretora do Colégio Lima Barreto fin- gia indiferença pelos olhos verdes e discre- to charme do novo secretário. Mas cada passagem de sua lavanda, ou roçar de mãos, eram motivos de pulsações inconfessáveis. Enfim, um ponto em comum. “Desfrutar o momento presente, antes Teria uns vinte e oito. “Menos vinte e dois “Então, leia uns versos para mim.” que ele acabe” – explicou. que os meus cinqüenta” – gemia. Puxando pelo sotaque mineiro, ele ca- “É latim, não é?” Dia da Árvore. Sozinha na sala, se lem- prichou: A distância diminuía. Respirações lá do brava do primeiro dia de Orestes. fundo do peito. A mestra esticou sensual- “Orestes de Oliveira, professora. Estou Ornemos nossas testas com as flores mente a reposta: vindo da Seção de Pessoal.” “Ah! Orestes? Nome de pastor.” e façamos de feno um brando leito; “É...é... latim.” “Evangélico?” prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Orestes sorriu, desamparado. Marília o Ela se arrependeu da risada. gozemos do prazer de sãos amores. mantinha seguro pelo olhar. “Não, do campo. Pastor do Arcadismo.” Sobre nossas cabeças, “Sempre achei você bonita como a Marí- “Arca o quê?” sem que o possam deter, o tempo corre; lia de Dirceu...” – Arriscou. “Arcadismo. Um estilo literário. Bem, dei- e para nós o tempo, que se passa, “...ou de Orestes, quem sabe?” – com- xemos pra lá. Isso é mania de quem vive também, Marília, morre.” pletou a diretora, no limite. metida numa escola, dia e noite.” O livro caiu no carpete cinza, que de Quase um ano, e a mesma timidez. Marí- Calou-se aguardando o veredicto. brando leito de feno não tinha nada. Mas lia dispensou as turmas do segundo turno, Silêncio na sala. Pela vidraça, um solzi- quem estava se importando com detalhes? para uma passeata ecológica. nho fraco dourava o topete castanho do Já era noite quando os amantes saíram Colégio quase vazio. Por volta das cinco, secretário. Ela se levantou e contornou a do Lima Barreto. Foi o início de uma longa ele apareceu mansamente trazendo um li- mesa. Encheu-se de coragem. Essa alusão história. E, pondo de lado a maledicência vro. ao tempo sempre tocava numa tecla sensí- alheia, esta se enquadra entre as melhores “Levando livro pra ler em casa, Orestes?” vel. Era agora ou nunca. Pediu forças a Afro- lembranças de vida profissional da aposen- “É, professora, tenho lido poesias, quan- dite. tada Marília Motta de Sá, que soube como do dá.” “Belo exemplo do carpe diem. Sabe o que ninguém colocar a arte literária a seu servi- “Jura? Isso é ótimo. Tem lido que poe- é carpe diem?” ço. E ainda há quem diga que poesia não tas?” “Sei, mas não lembro agora” – mentiu. serve para nada. “Este é de Tomás Antônio Gonzaga.” Ela caminhava para ele, devagar, como Excelente ocasião de esticar o papo. quem pisa nas palavras ditas. *Funcionária aposentada do TRT-RJ.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 17 Menino de Rua Roberto Ponciano* Era uma vez um tempo de pardais, de lampiões de gás Quando ainda havia fadas Fui um menino de rua, No bonde havia um anjo para guiar, outro pra dar lugar (...) não nesta acepção feia que a Veio o Marquês de uma terra então perdida palavra tomou hoje, de cri- E mais uma vez se fez dono da vida anças que não têm lar para Mandou plantar cem dúzias de avenidas para sepultar de vez as margaridas onde voltar, ou quando têm, não podem chamar aquilo Paulinho Tapajós de lar e optam por ficar na rua, ao relento, a sofrerem maior), tomar uma picada de marim- que uma criança da Baixada Flu- toda sorte de violência do- bondo, brigar na rua e voltar com um minense. Eu saí da rua da minha méstica. Quando eu era cri- olho roxo (correndo o risco de apanhar infância, mas as ruas da minha in-

O F I C I N A L I T E R Á R I A ança, a crise que se abate so- de novo em casa)... nada das desgraças fância, tudo que aprendi nelas, bre nós ainda não tinha con- do mundo moderno, nada dos pesade- não saíram e não vão sair de den- denado milhões de crianças a este epí- los que assolam os pais hoje em dia. A tro de mim até a morte. Serei teto de “criança de rua”, havia pobre- vida das crianças pobres (e não miserá- sempre, graças a Deus, até o sus- za, mas não esta quantidade de meni- veis) era uma vida boa, umas acompa- piro final, o menino de uma rua nos vagando pelas cidades. Criança de nhando as outras nas brincadeiras de da Baixada Fluminense. rua é uma expressão absurda, nenhu- rua. ma criança é da rua, estas crianças es- As crianças de rua, nos dias de tão na rua, a nossa indiferença e nosso E agora me dá uma grande angús- hoje, foram substituídas por cri- descaso as jogou lá. Não é a pobreza tia ao perceber que, talvez, minha ge- anças de apartamento, videoga- que as condena à rua; Cuba, um país ração tenha sido a última geração de me, jogo em rede, internet. Uma pobre, tem uma frase, escrita no aero- crianças de rua, de crianças criadas na geração robotizada, presa no porto de Havana, que sempre me arre- rua, correndo ao vento, colhendo fru- medo (justificável ou não) dos pais, pia: Hoje milhões de crianças dormi- ta, jogando bola com o pé descalço, que temem a violência, que trabalham rão nas ruas do mundo. Nenhuma de- brincando de pique, jogando pelada e demais porque temem perder o em- las é cubana. chutando o chão, chutando lata, chu- prego, que temem que os filhos sejam tando tudo que fosse parecido com raptados, seviciados, que hiperprote- Isto explicado, insisto que criança uma bola. Comendo goiaba, comendo gem uma geração que vai mais e mais de rua fui, numa outra acepção, de cri- amêndoas, comendo cajá, comendo e mais e mais e mais se individuali- ança brincando ao vento despreocupa- jambo, comendo carambola, chupan- zando, se educando pela TV, pelos da, com outras dezenas de crianças da do cana, na maioria das vezes, rouban- chats, pelas lan houses e cada vez me- vizinhança, cujos pais não sofriam os do as frutas da casa do vizinho, o que nos pelo cheiro da fruta, pela carícia terrores e as neuroses dos dias de hoje. as tornava bem mais saborosas... Uma do vento, pelo nascer do sol, pelo nas- Não havia esta “guerra do tráfico”, esta geração que aprendeu na rua muito cer da lua, pela chuva no rosto, pelo preocupação neurótica com violência, mais coisa que podíamos imaginar futebol na chuva, pelo pique-esconde. notícias de pedofilia, de rapto de cri- aprender. Aprender a ser gente, a com- anças. Nossos pais nos deixavam a partilhar, a repartir, a ser solidário, a Medo da violência, medo do con- brincar na rua, as crianças tomando vida em comunidade, a chorar, a con- tato humano, casas cada vez mais pri- contas umas das outras, com quase solar e ser consolado, a brigar junto, a sões, condomínios cada vez mais fe- nenhum medo. Afinal, à época, mora- fugir junto, a criar laços e comunida- chados, próximos cada vez mais dis- va na Baixada Fluminense, num bairro des, a se preocupar com o outro. Apren- tantes, gente cada vez mais desuma- em que os carros contavam-se nos de- dizado não teórico, que trago no fun- nizada ao nosso olhar. A geração Xuxa dos e os perigos para uma criança do da minha alma até hoje. Por mais realmente teve infância? Quando eu eram rasgar o pé em um caco de vidro que os anos passem, por mais que es- era criança não tinha tempo para as- por correr descalça, cair da laje soltan- tude, que aprenda, que me aperfeiçoe, sistir TV, a rua me fascinava e prendia. do pipa (este um perigo um pouco que ganhe diplomas, nada mais sou Hoje, o espetáculo ao vivo das ruas

18 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 As crianças de rua, nos dias de hoje, foram substituídas por crianças de apartamento, cada vez se afasta mais para as peque- ando prisões em nossas ruas e casas, videogame, jogo em nas cidades sem violência, que agora vivendo vidas de condenados perpé- rede, internet. Uma estão cada vez mais distantes de qual- tuos e condenando nossos filhos às quer centro urbano, pois as cidades mesmas penas. Precisamos reconquis- geração robotizada, medianas copiam das cidades grandes tar a rua e a praça como lugares co- presa no medo no medo, no trânsito, na organização muns, arrancar as grades, conversar de classes das ruas e dos condomínios com o pipoqueiro, retomar aquele sen- (justificável ou não) fechados onde bens e pessoas ficam tido comunal que tínhamos em nos- dos pais, que temem trancadas em gaiolas de luxo. sas vidas, e olha que esta outra vida, mais humana e fraterna, ocorria não a violência (...) uma Pobre geração criada sem ruas, que faz muito tempo... geração que vai mais e sonhos sonharão? A lua em seus so- nhos será virtual? Os seus desejos se- mais se individualizando, rão expressos no Orkut? Suas fantasi- se educando pela TV. as expressas no Youtube? Estamos cri- *Escritor, diretor do Sisejufe.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 19 As cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constitui- ção, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.

Na visão, entre outros juris- tas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Me- llo, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbo- sa Gomes, o princípio constitucional da igualda- de, contido no art. 5º, refere-se a igualdade for- mal de todos os cidadãos perante a lei. A igualda- de de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mes- ma Constituição Federal. As políticas públicas de Fonte: Laboratório de Políticas Públicas – UERJ afirmação de direitos são, portanto, constitucio- nais e absolutamente necessárias.

A sociedade brasileira é contra as co As cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso

T E I A D E I D É I A S à universidade. Diversas pesquisas de o gressivo e contundente reconhecimento da Vivemos numa das sociedades mais in- brasileira. Mais da metade dos reitores e re justas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado gundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesq como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas cas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas da pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está ficas do Brasil, bem como em diversas unive longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos se- comunidade acadêmica às cotas, inclusive e gundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e minados “mais competitivos” (medicina, dir multiplicam as oportunidades educacionais. comunicação e alguns jornalistas têm fustig larmente, as cotas. Mas isso não significa, o as rejeita.

As cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro proble- ma é a péssima qualidade do ensino público no país. As cotas não podem incluir critério devido ao alto grau de miscigenaçã sileira, que impossibilita distingu É um grande erro pensar que, no campo das políti- branco no país. cas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenci- ais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a univer- Somos, sem dúvida ne sidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfati- edade mestiça, mas o valor dessa mestiçag camente de forma simultânea. retórico no Brasil. Na cotidianidade, as pes nadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, sexo e sua opção sexual. Quando se trata d ca pública de afirmação de direitos, nossa As cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades. se desmancha. Mas, quando pretendemos go, uma vaga na universidade ou, simplesme Diversos estudos mostram que, nas universida- trangidos por arbitrariedades de todo tipo des onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade se um fator crucial para a vantagem de a do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA gens de outros. A população negra é disc e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e grande parte dela é pobre, mas também pe não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. Por ou- No Brasil, quase a metade da população é tro lado, como também evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e parte dela é pobre, discriminada e excluíd a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico. mera coincidência.

20Ano III http://sisejufe.org.br– número 20 – julho/agosto 2008 Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 As cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais aos brancos pobres.

Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O projeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos e alunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito uma represen- tatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa pro- posta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É curioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setores populares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobres perderão oportunidades que nunca lhes fo- ram oferecidas. O projeto de Lei 73/99 é um avanço fundamen- tal na construção da justiça social no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.

otas. As cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.

O Brasil está longe de ser uma democracia opinião mostram que houve um pro- racial. No mercado de trabalho, na política, na educação, em todos a importância das cotas na sociedade os âmbitos, os/as negros/as têm menos oportunidades e possibili- eitoras das universidades federais, se- dades que a população branca. O racismo no Brasil está imbricado quisas realizadas pelo Programa Políti- nas instituições públicas e privadas. E age de forma silenciosa. As as mais importantes associações cientí- cotas não criam o racismo. Ele já existe. As cotas ajudam a colocar rsidades públicas, mostram o apoio da em debate sua perversa presença, funcionando como uma efetiva entre os professores dos cursos deno- medida anti-racista. eito, engenharia etc). Alguns meios de gado as políticas afirmativas e, particu- As cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, mas a obviamente, que a sociedade brasileira permanência.

Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem par- te de uma mesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senão os raciais ou étnicos ambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade, são ape- ão da sociedade bra- nas uma ferramenta eficaz na democratização das oportunidades de acesso ao ir quem é negro ou ensino superior para um amplo setor da sociedade excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, sem uma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática. nhuma, uma soci- gem é meramente ssoas são discrimi- As cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que os estigmatizam como sendo , seu sotaque, seu incompetentes e não merecedores do lugar que ocupam nas universidades. e fazer uma políti- cor magicamente Argumentações deste tipo não são freqüentes entre a população negra e, obter um empre- menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas são consideradas por eles, como uma ente, não ser cons- vitória democrática, não como uma derrota na sua auto-estima, ser cotista é hoje um orgulho para o, nossa cor torna- estes alunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, de sofrimento, de derrotas lguns e desvanta- e, também, de conquistas. Há um compromisso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no criminada porque passado, os grupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reconhecidos social- ela cor da sua pele. mente quando seus direitos são afirmados, quando a lei cria condições efetivas para lutar contra as é negra. E grande diversas formas de segregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos e alunas da. Isto não é uma pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das mais diversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles.

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 Ano III – númerohttp://sisejufe.org.br 20 – julho/agosto 200821 Max Leone* carioca, em entrevista exclusiva à Idéias em de ; “Samba bom”, de Geral- Revista, ela avalia, num tom bastante críti- do Pereira; “A volta”, de Candeia; e “Não sou co, os efeitos da migração e da substituição mais disso”, de e Jorge Ara- O samba saiu do morro, desceu para o do samba que ocorre no Rio. gão, com a participação do próprio Zeca, asfalto e deixou um lugar vazio nas comuni- que é fã do grupo. O quarteto também assi- dades do Rio. Esse mesmo samba foi abra- No Sururu na Roda, um dos principais na composições em conjunto e apresenta çado pela classe média que descobriu o va- grupos surgidos no redivivo circuito da inéditas de Edu Krieger, “Correnteza”; Ro- lor do ritmo de origem negra e escrava. E o Lapa, Nilze brilha do lado da violonista e drigo Maranhão, “Mercado das Flores”; To- que vem ocupando o espaço deixado – o cantora Camila Costa e dos percussionistas ninho Geraes, “De maré”; e Moadir, um ve- funk carioca – está longe de se equiparar, Sílvio Carvalho, que é seu irmão, e de Fabia- lho companheiro de estrada do pai de Nilze em qualidade e conteúdo, ao samba que se no Salek. Eles se apresentam todos os sába- e de Sílvio, autor do sambalanço “Sou ga- retira do cotidiano das comunidades po- dos à noite do Centro Cultural Carioca (CCC), mado por mim”. bres. A percepção dessa transformação é palco cativo da banda. O grupo lançará, em de Nilze Carvalho, cantora, compositora, ins- setembro, o terceiro CD – Que samba bom – trumentista, produtora e integrante do gru- que inaugura o selo do Centro Cultural Ca- *Da Redação, com a colaboração de po Sururu na Roda. Dona de uma das vozes rioca. Em fase de final de mixagem, o disco Roberto Ponciano. mais marcantes do atual cenário musical tem regravações de “Morena de Angola”, Edição: Henri Figueiredo.

– De onde vem seu talento musi- 5 anos, fiquei com aquele cavaquinho pe- época, o Pedro de Lara tinha um programa cal, de cantora e instrumentista? É heredi- quenininho em casa. Comecei a brincar com de rádio de criança. Depois comecei a tocar tário? o instrumento e a tirar notas. Segundo meus na rádio Solimões, em Nova Iguaçu. Nilze Carvalho – Meu pai é músico. É trom- irmãos, eu comecei a tocar “Acorda Maria petista, fazia bailes, grandes bailes com or- Bonita”, no cavaquinho, que tem as cordas – Podemos dizer que você foi uma questras. Daí apareceram os grupos de sam- todas muito soltas. Eu ouvia meu pai tocan- criança prodígio? ba como o Exporta Samba e o Originais do do e tentava imitar. Foi aí que meu pai viu Nilze Carvalho – É, mais ou menos (risos). Samba. que eu tinha jeito e começou a me ensinar. – Quando isso deixa de ser uma – E na sua casa sempre teve isso, – Quando começa o pé na estra- brincadeira e passa a ser sério, profissio- esse movimento? da? nal? Nilze Carvalho – Sempre teve. Meu pai ga- Nize Carvalho – O primeiro cachê foi com 6 Nilze Carvalho – Meu pai comprou um vio- nhou de um amigo sambista um cavaqui- anos (risos), era aquele negócio de explora- lão para poder me acompanhar nos luga- nho para aprender a tocar e entrar no gru- ção de trabalho infantil (risos). Mas foi legal. res. Comecei a ganhar cachê quando, por po que eles estavam formando. E o cavaqui- Eu saí para tocar. Perto da minha casa tinha meio da Rádio Solimões, eu tive contato com nho era um negócio muito pequeno, era um clube com programa de criança. Eu fui alguém da TV Globo. Consegui uma repor- quase um brinquedo. E acabou que eu, com a todos os programas de criança. Até na tagem no Fantástico, que foi lá em casa e eu

22 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 “O samba quando era do morro tinha conteúdo, refletia toda uma situação. Hoje em dia o que se faz no morro, na favela, não tem conteúdo nenhum. Essa é a única restrição que tenho ao movimento de saída do samba do morro.” tinha 7 anos. Eu morava em Nova Iguaçu no cantinho o violão e o empresário viu aqui- gas, um ano, um ano e meio. Trabalhava um nessa época. Isso em 1976. Eu comecei a lo. Na época, a cantora estrela era a Eliana ano, depois vinha e ficava um ano estudan- cantar mesmo acho que com 11 anos, quan- Estevan, radicada nos Estados Unidos. Ela do, isso dos 15 aos 20 e poucos anos. De- do gravei um LP da série “Choro de meni- fazia um quadro de bossa nova e o empre- pois que consegui terminar o Segundo Grau, na”. Foram quatro LPs, um por ano, pela sário achou interessante me contrapor a ela. engatei na carreira no Japão. Fiquei sete gravadora CID. O primeiro foi gravado com Eliana tinha uma voz poderosa e eu com anos indo e voltando de lá. um conjunto maravilhoso, o “Época de uma bem bossa nova mesmo. Era um con- Ouro”, que acompanhava o Jacob do Ban- traste muito grande. A partir daí eu come- – Então, primeiro, você consoli- dolim, que é o mestre dos mestres do ban- cei a cantar, cantar, cantar.... da a carreira lá fora e depois, por aqui? dolim. Tinha o César Farias (pai de Paulinho da Nilze Carvalho – Eu não diria que consoli- Viola, recentemente falecido), o Dino, o Carli- – Foi difícil encontrar espaço para dei carreira. Na época do instrumental, foi nhos. Quando eu tinha 15 anos e fui partici- fazer música de qualidade? Como foi para bem interessante, aparecia bastante, vendia par de um show de um grupo brasileiro cha- você? razoavelmente bem para a música instru- mado Oba-Oba, que aqui era comandado Nilze Carvalho – Nessa época eu morava no mental. pelo Sargentelli. Na Itália foi vendido para bairro de Campo Grande. Tinha pouquíssi- um teatrólogo italiano, o Franco Fontana, mos lugares por lá e você acaba tendo que – Dá para viver bem com o traba- que tinha um teatro de revista muito inte- sair. E com o disco você acaba saindo para lho lá fora? Compensa financeiramente? ressante. Nós tocamos em todos os teatros fazer divulgação. Esse disco veio através da Nilze Carvalho – Lá fora é um trabalho de da Itália. Nessa época eu comecei a cantar. . A minha ligação com a Portela é meio peão, como o pessoal diz, apesar de ser ba- Fui contratada para fazer a parte instrumen- engraçada! cana. Corremos todos os teatros. Imagina tal de chorinho, só que havia um quadro de trabalhando aqui todos os dias e recebendo bossa nova. Eu ficava arranhando no meu – Como aconteceu? direitinho, sem ninguém dar bolo. Lá, você violão – mas já tocava bandolim, que passei Nilze Carvalho – Foi curta e bem no início ganha pelo que você trabalhou, é certo. É a a tocar com 11 anos. Eu migrei do cavaqui- da minha carreira. Eu tinha 9 anos e ia tocar mesma coisa em todos os lugares. Tanto nho para o bandolim. E eu ficava lá tocando na Gafieira da Tia Vicentina, olha que coi- para nós aqui quanto para eles, lá fora. Não sa... (risos). Rolava a gafieira com o maestro tem essa de facilidade, não. Cipó e outros. Ela fazia a feijoada. E eu toca- va nos intervalos da orquestra. O Carlinhos – Quando você voltou definitiva- Maracanã pagava para gente tocar. Era um mente para o Brasil? cachê super legal, deu uma força muito gran- Nilze Carvalho – Eu voltei definitivamente de na época. Agradeço muito a ele e à esco- em 1999. Eu poderia estar viajando até hoje la. Mas perdi o contato com a Portela. Foi lá, porque o trabalho sempre existe. A questão na Portela, que eu conheci o pessoal da gra- era que eu queria voltar a estudar. Era o vadora CID. As portas foram se abrindo e eu sonho que eu tinha de vir fazer Faculdade cheguei à gravadora, onde fizemos discos de Música. de choro. – É nessa época que começa o Su- – E as viagens como começaram? ruru na Roda? Nilze Carvalho – A partir dos 15 anos passei Nilze Carvalho – É começou nessa época a viajar, estudava e intercalava shows com com a minha vinda e com o encontro que viagens. Eu sumi do circuito do Brasil. Fi- tive com a Camila e a Luciana, uma outra quei viajando muito, fui para Itália, Espa- menina que estudava na UniRio e já estava nha, Estados Unidos. Eram temporadas lon- terminando o curso. É a fase pós-viagem,

Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 http://sisejufe.org.br 23 era o Empório 100. Eu gos- – Quantas indicações você tem tava muito de assistir ao “Do- para o Prêmio TIM? brando a Esquina” com a Nilze Carvalho – Tenho três indicações do Luciane Menezes. Freqüen- meu disco “Estava faltando você” em 2006: tava a Lapa como expecta- voto popular, melhor disco e melhor canto- dora e dando canjas. A par- ra. Eu, Teresa e Alcione. Perdemos para a tir do momento que eu pa- Alcione.... tudo bem (risos). Perder para Al- rei de viajar e me propus a cione vale! (risos). estudar, eu pensei “estou fora do circuito e vou cair – Mas só ser indicada é muito dentro do estudo até eu bom, não é? voltar ao métier”. Mas não Nilze Carvalho – Claro! No ano seguinte eu houve nada disso. fui jurada e vi como é difícil. É muita coisa, muita gente participando, do Brasil inteiro. – O que aconte- Tem muito trabalho bom. ceu? Nilze Carvalho – O Sururu – Quem você poderia citar que faz surgiu e eu pensei que fos- um trabalho bom na Lapa, claro que corre se ser uma coisa devagar, o risco de esquecer alguém... mas com essa minha histó- Nilze Carvalho – Eu gosto de muita gente. ria anterior acabou abrin- Gosto do trabalho da Teresa (Cristina) que é quando eu entrei para a faculdade. Come- do as portas. Logo em seguida teve o Proje- uma das pioneiras, da Luciane Menezes, que çamos a fazer prática de conjunto, que era to “Samba é minha Nobreza”, no Teatro veio antes até da Teresa, mas infelizmente uma matéria obrigatória e rolou um som Odeon. A Tereza Cristina estava no projeto não está com um espaço para fazer o traba- legal. Começamos a tocar lá dentro e pen- e ia fazer o show. Mas na hora teve proble- lho dela, que é muito interessante. Hoje, tem samos em fazer um show. Pintou um em ma de agenda. Ela preparava o disco dela e a Ana Costa que tem um trabalho lindo e São Pedro da Aldeia. Éramos nós três e pre- eu fui fazer o show no lugar dela. Faltava uma voz fantástica; o menino Moyseis Mar- cisávamos de um ritmo. Eu disse: “Pô, vou uma semana para o show estrear. Eu che- ques é muito bom. Um trabalho que está chamar o meu irmão Sílvio, que está de bo- guei de viagem e me chamaram de sopetão vindo aí, está no forno, mas, quando chegar beira e tocava num grupo. Naquele dia ele para fazer. Tive uma semana para apren- vai arrebentar, é da Luiza Dionísio, que é estava livre. Depois faltava mais uma per- der 50 músicas! (risos). fantástica, muito boa. Ela canta sempre no cussão, então a menina que não está mais Carioca da Gema. Obviamente que esquece- no grupo nos apresentou o Fabiano, que – Você sempre foi muito respeita- mos de um monte de gente. O nível da Lapa estudava na UniRio, também. Temos oito da, nunca te viram como uma forasteira é muito bom... anos de estrada e dois discos. Estamos indo que está chegando... surfando por causa do para o terceiro que, graças a Deus, deve passado... – Vocês estão há seis anos no CCC. sair em setembro... Nilze Carvalho – A receptividade sempre foi É difícil manter essa freqüência, como é a boa. Começamos numa casa na Lapa, o Ca- relação de vocês? Todo dia se encontram, – Você começa a compor com o sarão Cultural dos Arcos, que não teve su- ensaiam? Sururu ou antes de formar o grupo? E como cesso de público, mas foi legal. Estamos no Nilze Carvalho – As pessoas quando vêem a é o seu processo de composição? Centro Cultural Carioca há seis anos. gente dizem “Vocês ensaiam pra caramba!” Nilze Carvalho – Eu componho desde cedo, e eu digo “Nós não ensaiamos pra caramba desde criança. Comecei com música instru- – Dá a impressão que vocês fun- (risos)... A gente toca muito!” Tem vezes que mental e coisas minhas e do meu pai. Eu fico daram o Centro... são três, quatro vezes no dia, é festa aqui, ali mais à vontade fazendo melodia, às vezes Nilze Carvalho – (Risos) Nós, o Sururu, to- mesmo tendo um lugar fixo para tocar. E de recebo letras e coloco melodia. Às vezes faço cávamos no Casarão Cultural e eu cantava tanto tocar acaba não ensaiando. Muitos melodia e mando para as pessoas fazerem no Carioca da Gema junto com o Choro na arranjos são criados na hora. A gente leva a letra. Feira, fazia toda quinta-feira. Nisso, o Alfre- música e diz aí gente vamos tocar. Um colo- do Galhões, que é o diretor do Centro Cul- ca uma voz, outro faz uma coisa e quando – Qual a importância da ressur- tural disse “Vamos lá, Nilze”. Mas ele tinha vê sai. Agora, quando você lança um disco reição da Lapa? outra idéia, queria me colocar com um gru- você faz alguma coisa mais preparada, en- Nilze Carvalho – Eu tive o privilégio de estar po que já tinha lá formado. Depois de três tão, ensaia. Na entressafra, a gente toca... nesse projeto. Mas peguei o início como ex- meses de conversa acabei levando o Sururu pectadora. Eu estava viajando e toda vez que inteiro (risos). Agora é casa cheia sempre... voltava no Rio eu ia lá. Eu gostava muito de uma das primeiras casas que surgiram, que

24 http://sisejufe.org.br Ano III – número 20 – julho/agosto 2008 – O que você acha dos meios de comunicação? A Lapa não acontece para eles. Você fica lá anos e ninguém sabe... Como é fazer um trabalho de qualidade e não sair na mídia? Nilze Carvalho – A questão toda é a máqui- na das gravadoras com a mídia. Existe algu- ma coisa ali que ninguém consegue trans- por aquilo, sabe...

– O Monarco foi transpor pratica- mente isso agora levado pelo Zeca Pagodi- nho. Ele não aparecia na mídia... Nilze Carvalho – Mas ainda aparece pouco. Isso é muito complicado. Fico até encabula- Sururu no Botequim: festa do Sisejufe em 30 de abril teve Nilze e seu grupo da de falar porque não tem muito jeito. Ou você tem uma pessoa que conhece os cami- que é tudo ruim, pois conheço coisas inte- – Se você não fosse artista ligada nhos, ou a sorte que o Monarco teve, de ter ressantes, mas a grande maioria do que rola à música, o que você seria? um padrinho, de ter a amizade com o Zeca agora, a maior parte é sem conteúdo, é zero. Nilze Carvalho – (Muitos risos) Eu poderia para te levar. O funk pode ser música apesar de na teoria ser fotógrafa, adoro fotografia, eu adoro não ser. Como em todo segmento, você dançar, poderia ter sido uma bailarina, mo- – Você acha que ainda existe pre- pode ter um samba ruim, um rock ruim. O delo. Mas a música vem de berço. Além de conceito contra o samba? funk está engatinhando e grande parte é tocar e compor, eu também produzo. Aca- Nilze Carvalho – Diminuiu. Virou um pouco ruim. A música é pobre, mas o que mais me bei de produzir um show chamado “Sam- uma coisa intelectualóide. Hoje em dia o incomoda é o conteúdo do texto, é muito... ba na Universidade”, foi minha primeira pro- samba saiu do morro e foi pra a cidade. Está Nada! Acho que pode melhorar. dução de show grande. Eu fiz o projeto sendo meio que abraçado por essa classe que teve apoio da PUC, da Cândido Men- média que descobriu o samba. – Mas por que ficou tão pobre? A des, da Petrobras, da UFRJ. Fiz um encon- origem é a mesma do samba que é o mor- – Você acha isso ruim? ro... O que mudou? tro com a velha guarda e a jovem guarda Nilze Carvalho – Acho que não. O ruim é Nilze Carvalho – Meu pai, por exemplo, estu- nas três primeiras semanas de maio de essa coisa de ter saído do morro. Poderia dou até a terceira, quarta série. Mas você con- 2008. ter continuado no morro, ter descido para versa com ele e vê que é uma pessoa culta. a cidade sem ter saído completamente do Hoje se você pegar uma criança que estudou – Como nasceu o projeto? morro. Isso é que eu acho ruim... O que to- até a quarta série, vai ver que ela não sabe Nilze Carvalho – A idéia inicial era fazer um mou lugar do samba no morro, e as pessoas escrever. É o reflexo de uma deterioração da show para me promover, mas o pessoal da dizem que é bacana, é um pouco sem con- própria educação. Os valores mudaram, a edu- PUC resolver ampliar, fazer o negócio um teúdo. O samba quando era do morro tinha cação mudou, o pensamento é outro. A dete- pouco maior. Aí resolvemos estender essa conteúdo, dizia muita coisa, refletia toda rioração da educação ajuda a estragar tudo. A idéia e chamar mais pessoas. Fiz o encontro uma situação. Hoje em dia o que se faz no pá de cal é a história de que a criança não do Monarco comigo; fiz o Sururu na Roda morro, na favela não tem conteúdo nenhum. pode repetir o ano. É a pá de cal no ensino. com nas universidades. Minha pre- Essa é minha única pena de o samba ter sa- ocupação era fazer algo bem estruturado e ído do morro. É a única restrição que tenho fazer direito, sem problema. Eram seis mú- a esse movimento de saída. sicos, uma banda da pesada. Contratei som, luz. Fiz as coisas bem direitinhas para não – Você acha que tem como fazer o estragar o trabalho. Ninguém reclamou de samba voltar pro morro, voltar às origens? nada. Não é por que é samba que precisa Nilze Carvalho – Seria com um trabalho ser feito de qualquer maneira. Os shows eram educativo, cultural. Mas isso está tão difícil. de graça. Isso poderia vir melhorar ou amenizar se as escolas tivessem aula de música e as crian- – E quais são os planos para o fu- ças pudessem con