½ Reportagem ½ Motor ½ Livros ½ Opinião As marchas Renault Clio Novos álbuns Acoluna populares de Sport e o novo de Banda semanal de Lisboa Skoda Roomster Desenhada Baptista-Bastos PÁGS. 24 E 25 PÁGS. 26 E 27 PÁG. 29 PÁG. 32 end WEEKOs gostos também se discutem

OO TOMAZ TOMAZ MORAISMORAIS DODO RUGBY RUGBY Pedro Aperta Durante algum tempo, as comparações com “o Mourinho do futebol” serviram para explicar a dimensão do êxito. Hoje, a revolução que operou no rugby português fala por si. O selecci- onador especialista em gestão e motivação de equipas já tem nome próprio: . 20 | WEEKEND Jornal de Negócios Sexta-feira 16 de Junho 2006 .

Destaque O TOMAZ MO do rugby

“Ele é o Mourinho do futebol. Eu sou o Tomaz Morais do rugby”.Enquantoamaioriasequestionavasobreseoseunome se escrevia com “s” ou com “z” as comparações foram sendo inevitáveis. Hoje, a distinção é sinónimo de justiça. Assumindo-se como “a imagem” da selecção que “escreveu o livro da vitória do rugby português”, Tomaz Morais explica a importância do “líder” e compara a gestão da sua equipa ao dia-a-dia de uma empresa. Com ele, vencer deixou de ser tabu para o rugby de um país que não cresce por culpa do “individualismo”, da “inveja” e Os ensaios do líder do “pensamento negativo” de quem nos lidera. ½ Quando Tomaz Morais pegou na selecção portuguesa de quinze, em 2001, ocupava o 30º lugar do ranking mundial. Com o seu novo “comandante” a equipa dasquinassubiuà12ªposição; Carlos Filipe Mendonça a selecção de“quinze”se prepara para atacar seleccionador. Ainda assim, Tomaz Morais [email protected] o sonho: chegar,pela primeira vez, à fase final ½ Com Tomaz Morais, Portugal venceu pela não a desliga de outro vector – a gestão das Pedro Apertta Fotografias de um campeonato do Mundo. primeira vez uma competição expectativas.“É importante percebermos até O tempo foi passando, as vitórias foram internacional: o Campeonato da Europa onde é que pode ir cada pessoa e traçarmos eráaforçamentaldosjo- surpreendendo, mas o segredo ficou guarda- dequinze,assimcomoquatroEuropeuse objectivos realistas para ela, ainda que sempre gadores a levá-los ao su- do. Só o desvenda quem se atreve a penetrar um Mundial de sevens. ambiciosos. Quando peço algo a alguém que cesso e não a força física”. naquela espécie de tribo organizada em torno trabalha comigo, tenho que sentir que esse al- Dito assim fica a dúvida: de um líder que motiva, elogia, ouve, repreen- ½ A selecção nacional nunca tinha vencido guém é capaz de me corresponder àquilo que José Mourinho? Não.To- de, exemplifica, cultiva a ideia de que o todo formações como o Uruguai, o Chile, a eu estou a pedir.Muitas vezes defraudamos as maz Morais. O homem tem que ser sempre superior à soma das par- Rússia ou a Roménia; expectativas das pessoas porque lhes solicita- que pasmou o mundo do tes e assume que o seu desígnio é encontrar“o mos coisas para as quais as elas não estão pre- rugby ao colocar a selec- combustível certo” para os “diferentes auto- ½ Tomaz Morais foi nomeado para melhor paradas e isso leva a que elas próprias se des- çãoS portuguesa entre as doze melhores do móveis”. Ser capaz de colocar a diferença a treinador mundial pela Federação motivem”, explica. planeta, acumulando títulos numa modali- funcionar em prol do grupo é um dos segre- Internacional de Rugby (IRB); Mas não há motivação capaz de compen- dade que, até à sua chegada, encarava a der- dos do seu sucesso. sar um síndrome de um líder distante. O co- rota à boa maneira lusitana: como uma fa- TomazMoraisfaladaequipacomnatural ½ O comandante foi condecorado por Jorge mandante ergueu uma “família” assente em talidade. orgulho, colocando-se quase sempre à mar- Sampaio com a medalha de mérito pilares de “amizade” e aconselha as pessoas Em 2001, quando foi chamado pela Fede- gem:“Sou a imagem de um grupo, mas são os desportivo. que estão em lugares de chefia a fazerem o ração Portuguesa de Rugby,as cúpulas agita- jogadores que merecem ficar na história”. A mesmo: “Antes de ser treinador sou um ami- ram-se.“As pessoas ligadas ao rugby ficaram verdade é que livros não desprezam as narra- go e quando os meus jogadores não tiverem receosas pela sua juventude e pouca experiên- tivasdohomemdolemee,noqueaorugby a honestidade para me exporem os seus pro- cia internacional”, explica António Aguilar, português diz respeito, esta liderança tem uma rança, motivação, comunicação, etc. Conhe- blemas, algo está mal. Eles têm que sentir que jornalista da modalidade. Antes de preparar identidade que pode contagiar o mundo dos cimentos que justificam a sua confirmada eu estou cá mesmo para os ouvir, perceber, a porção do sucesso, que de mágica só tem o negócios e não só. “Há uma analogia muito transferência para o Sporting (ver páginas se- concentrar-menassoluçõesparaassuasin- suor,Tomaz Morais percebeu onde estava o grande entre a gestão de uma equipa de alto guintes) e que têm sido postos em prática no quietudes e vê-los felizes”. bloqueio: “Nós portugueses temos a tendên- rendimento e uma equipa empresarial. Os ob- comando das selecções. “O Tomaz conseguiu Aliás, basta cumprimentar Tomaz Morais cia para, quando chegamos a estes palcos in- jectivos e os princípios do dia-a-dia são exac- incutir-lhes a ideia que se podem bater com se- para perceber que não lhe é difícil criar rela- ternacionais, vacilar,deixarmo-nos pressionar, tamente os mesmos.”, explica a face da “tri- lecções mais fortes, impondo um elevado grau ções de cumplicidade.Ao aperto de mão, mes- desconcentramo-nos e tornamo-nos indisci- bo”. de exigência, injectando-lhes espírito de con- mo concedido a alguém a quem se confessa plinados”.As“fraquezas”diagnosticadas não Licenciado em Educação Física e Despor- quista e de sacrifico”, testemunha António não recordar-se da cara, o líder adiciona uma perderam actualidade e estão, de novo, no cen- to, o professor universitário é um apaixona- Aguilar,jornalista e pai de um dos atletas palmada no peito. “Não entendo o trabalho tro das preocupações do treinador,agora que do pelas temáticas da gestão de equipas, lide- A questão da motivação é central para o sem proximidade”. Ensaio! Sexta-feira 16 de Junho 2006 Jornal de Negócios WEEKEND|WEEKEND | 21 1 .

ORAIS

c

Não posso daro mesmo gasóleo a todos os Não acredito em líderes solitários. carros da minha equipa porque eles não são do Umlíderéaimagemdeumgrupo. mesmo modelo. O desafio é encontraro Agrandecapacidadedeumlíderélhe combustível certo para cada um. dada pelo seu lado humano.

Em Portugal não se premeia quem é Líder que não tem carisma não consegue bom. Somos individualistas e até comandar. O carisma vê-se no exemplo prático. invejosos e isso não nos tem permitido Um líderque não consegue mostrarcomo se faz crescer. não consegue geriruma equipa.

É preciso terespírito de missão e conseguir Compromisso é palavra-chave num passaresse espírito àqueles que connosco grupo. Combinei com os meus jogadores trabalham, fazendo-os acreditarnos nossos que íamos fazer os possíveis e princípios e nas nossas convicções. impossíveis para chegar ao Mundial. 222 | | WEEKEND WEEKEND Jornal de Negócios Sexta-feira 16 de Junho 2006 .

Destaque Tomaz Morais Em discurso directo...

Estamos com um problema de insatisfação nome do país bem alto, queremos é que o grupo, e individual também, mas temos que permanente. Somos tradicionalmente insa- mal chegue e ofusque esse sucesso. Somos perceber que hoje não há praticamente Portugal tisfeitos e isso torna-nos muito críticos de individualistas e até invejosos e isso não nos áreasemquenãosetrabalheemequipa. tudo e de todos. Estamos sempre preocu- tem permitido crescer. Depois, a somar a tudo isto, pensamos ne- pados com o trabalho de quem está ao nos- gativo. so lado e não nos centramos nos nossos Não temos tendência para trabalhar em Quem nos lidera pensa negativo, passa Quem nos lidera problemas e no nosso caminho. equipa.As pessoas em Portugal não são for- informações negativas e estamos sempre a madas para saberem funcionar em grupo, debater os mesmos problemas para os pensa negativo Temos muitos problemas em lidar com há muito individualismo. As pessoas têm quais nunca encontramos soluções. Temos o sucesso dos outros. Entendemos que o su- muita tendência para não ouvir nem con- dificuldade em perceber e aceitar que o me- cesso dos outros é nosso insucesso. Em vez siderar os outros e não respeitar as opiniões lhor no futuro pode implicar cedências de ficarmos orgulhosos por termos em Por- diferentes. Esse é problema bem português. hoje. tugal pessoas que vencem e que levam o Sou um grande defensor da educação em É educacional. Sporting Recrutamento

Tomaz Morais em Nunca jogo ninguém fora Alvalade para ajudar a à primeira.Vou sempre à motivar equipas procura do positivo

OprojectoquevoupôremacçãonoSporting Recrutar não é fácil e só quando estamos al- está em fase de concepção mas vai centrar-se na gum tempo com as pessoas é que percebemos ajuda ao trabalho de equipa, na ajuda à gestão quem elas são. À primeira vista deixamo-nos degrupo–situaçõesdetreinoecompetição–e impressionar,por vezes, pela sua qualidade téc- a debater assuntos relacionados com a nica, outras vezes só pela sua fisionomia. Mas motivação e a comunicação. Outro dos pilares só quando chegam os problemas, a convivên- temavercomaquiloquehojeemdiaéuma cia, a cumplicidade, a partilha... só aí é que ve- área muito importante: o ‘coaching’ – termos mos aqueles que para nós são os que nos in- alguém que nos possa ajudar a melhorar o teressam. nosso desempenho no trabalho. Confesso que o meu grande problema é Pensoqueaminhaexperiênciacomtudooque quando sou obrigado a deixar alguém de estárelacionadocomoaltorendimentopode fora... quando tenho que dizer a alguém que ser muito útil aos treinadores e, quem sabe, a não joga ou que vai ficar fora do grupo, isso quadros superiores. Não vou para propor para mim é uma grande mágoa.Acho que isto alterações radicais. Quero ser mais uma peça acontece talvez porque consigo ver coisas po- que ajude o Sporting a ser mais forte. sitivas em todas as pessoas, é uma qualidade O que posso dizer sobre esse projecto é muito que tenho: vou sempre à procura do positivo pouco. Estamos numa fase de grande em primeiro lugar e isso faz-me ganhar gran- intensidade competitiva e isso não era positivo des apostas onde outros perdem ou formar jo- para os meus jogadores... iria desconcentrá-los. gadores que outros não conseguiram. Nunca jogo ninguém fora à primeira. O essencial é “compromisso de grupo”: gosto de jogado- res que estejam dispostos a trabalhar em equi- pa, que consigam expor o seu talento ao ser- viço do colectivo. Não deixo talentos de fora, o que procuro é integrá-los. de estar. É por isso que costumo dizer que as “Ojovemtransformaumgrupo” minhas equipas começam nos 19 e depois não Quando recruto gosto de ter um misto de ex- têm limites. A idade não deve ser um factor periência e de juventude. Porque a experiên- decisivo na hora de escolher. cia só ganha importância se tiver ao seu lado É um erro não apostar na juventude. Mas a irreverência. Os jovens trazem sempre mui- os jovens têm que ter perceber que para ven- ta vontade e vêm por em causa a acomoda- cer é preciso arregaçar as mangas, dar no duro, ção das pessoas que estão aqui há mais tem- derrubar obstáculos, contornar problemas e po. Isso é importante. O jovem transforma perceber que o mercado de trabalho e a vida um grupo pela sua dinâmica e pela sua forma social são muito exigentes. Os portugueses precisam de aprender c atrabalharem equipa. Tomaz Morais O Tomaz é um líder, sem dúvida. Como jogador já era garante que essa é uma referência, exactamente por ser um lutador. Sempre uma das chaves para quis ser melhor que os outros e enquanto não virasse o o sucesso nacional. adversário não desistia. Nuno Aguiar, Treinador da selecção nacional de sub-18 Sexta-feira 16 de Junho 2006 Jornal de Negócios WEEKEND|WEEKEND| 23 3

½ Placagens

Calções e chuteiras O que têm em comum o “gestordo século XX” –que transformou a General Electric num dos maiores colossos empresariais – e o seleccionador nacional de rugby? Ambos en- no lugar do fato contraram o sucesso reconhecendo a importância da gestão dos recursos humanos. edagravata

Chega apressado ao treino no Estádio Nacional. Os colegas já levam 35 minutos de Jack Welch Tomaz Morais trabalho, mas o dia de começou cedo no escritório. Na relva, aqui mesmoàfrente,ficaofatonochãoeas Os negócios não são A equipa que tem os chuteiras substituem os sapatos. “Às sete da diferentes do desporto. A melhores jogadores ganha manhãjáestavanoescritórioapreparatrinta equipa que tem os melhores se for bem treinada, se os acções para contestar a decisão do jogadores ganha. seus jogadores forem bem Ministério da Agricultura de não pagar aos agricultores as medidas agro-ambientais do integrados, motivados e, anopassado.FuiaBejaentregá-lasejácá acima de tudo, se houver estou”. As palavras do três-quartos-centro da uma grande sintonia nos selecção revelam a realidade: o facto da objectivos. maioria dos jogadores não ser profissional complica as contas de Tomaz Morais. Mas o caso de Miguel Portela não é único. Poucos minutos antes, , capitão da formação das quinas, já tinha iniciado o Os sucessos dão-nos mais Aprendo muito mais com os ritual,voandodoexamedeDireito auto-confiança, às vezes até insucessos do que com os Constitucional, na Universidade Católica, em demasia. Mas os erros sucessos. Porque sou latino para o relvado do Jamor. O gestor bancário, ensinam-nos mais. e os latinos quando , feliz por chegar a tempo de conseguem ter sucesso treinar, teve disponibilidade para garantir acomodam-se, deslumbra-se que concedeu “alguns créditos” durante o dia. Também satisfeito deve estar Gonçalo e perdem os valores que os Malheiro, foi há pouco que realizou o último levaram às vitórias. exame do curso de Engenharia Civil, no Porto. Numa equipa em que se juntam amadores, semi-profissionais e apenas cinco profissionais, a capacidade de liderança do Otrabalhodogestoré Temos que saber escolher os treinador está sempre à prova. Ainda assim, continuar a dar às pessoas momentos certos para dar Tomaz Morais garante que o seu grupo certas as oportunidades as oportunidades certas às “pensa e actua como profissionais”, até certas. pessoas certas. É aí que está porque, “amadores só são porque não têm a virtude do líder. Não posso compensações financeiras para jogar”, mas dar uma oportunidade a uma assume as dificuldades. “Isto obriga-nos a ser mais condescendentes. Temos que ter a pessoa quando sinto que ela capacidade para saber gerir estas não está preparada. indisponibilidades para manter o grupo sempre junto. Não é fácil. Muitas vezes os outros jogadores não entendem” , explica. CFM Os líderes festejam. Festejar Sou emotivo e tento faz com que as pessoas se transmitir essa emoção aos sintam vencedoras (...). Tribos meus jogadores e viver com infelizes terão grandes eles cada momento. Acho dificuldades em vencer. que toda a gente deve festejar sempre que ½ O líder invisível consegue algo de positivo “Não acredito em líderes solitários”. Tomaz Morais faz questão de destacar, sempre, a equipa que na vida, por muito pequeno consigo trabalha no comando da selecção. Um desses elementos é Luís Ramusga, fisioterapeuta (na que isso seja. foto), o homem que o seleccionador apelida de “líder invisível”, por “conseguir interpretar e resolver muitos dos problemas da equipa” e ficar longe da visibilidade mediática. Os líderes devem encorajar os Portugal, dentro das seus colaboradores a correr equipas do top-30 mundial, riscos, dando eles próprios o é a selecção que mais exemplo. arrisca quer na defesa quer no ataque. Não sei jogar de outra forma: arrisco tudo. Às vezes perco, mas com este sistema os jogadores estão alegres, gostam de jogar e ganhamos jogando bem.