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: Capital Regional do Norte Baiano

Dante Severo Giudice [email protected] Prof. Dr. em Geografia, IFCH/UCSAL/BA

Resumo

A cidade de Juazeiro situa-se na região norte do estado da , se constituindo no pólo econômico da região. Devido à proximidade, tem importantes relações sócio- econômicas com os estados de e Piauí, dividindo com a importância econômica da região do Baixo Médio São Francisco, e formando com esta atualmente, o maior aglomerado urbano do semiárido, polarizando o desenvolvimento de várias outras. Palavras Chaves : Geografia Urbana, Cidades Médias, Centro Regional, Juazeiro, Bahia.

Histórico

Historicamente a ocupação ocorreu com a expansão dos currais de gado da Casa da Torre, através dos sertões da Bahia e das terras ao norte do São Francisco. Juazeiro, pela sua posição geográfica, teria constituído uma das portas de entrada para o Piauí e Maranhão, sendo, ao mesmo tempo, etapa obrigatória para os que, procedentes daquelas regiões e de outros pontos, procuravam o Recôncavo Baiano. Entretanto, tem-se como certo, que no lugar denominado Juazeiro Velho, à margem direita do São Francisco, ponto de travessia da referida estrada e pouso de viajantes e tropeiros, estabeleceu-se, em 1706, missão de franciscanos que aldearam índios existentes na região. No início do século XIX já era grande a importância da localidade, como passagem mais freqüente da Bahia para todo o norte do país. No final desse século (1878), quando foi elevada a categoria de cidade, já tinha grande influência comercial que se estendia ao longo do rio, atingindo até os sertões do Maranhão e . A expansão tem um marco importante, a chegada da ferrovia – Viação Férrea Federal Leste Brasileiro – VFFLB, ligando-a a Capital do Estado. A partir daí, segue um período de franca

prosperidade, e este surto de desenvolvimento se deu pelo fluxo de comércio que utilizava o rio e seu porto para embarque e desembarque de mercadorias e passageiros, pois era o ponto final da navegação, no sentido do litoral. A vizinhança de Petrolina, onde grupo político, ligado as oligarquias pernambucanas, incentivavam investimentos, contribui com o desenvolvimento de Juazeiro, inclusive na negociação com o governo baiano, para o asfaltamento da rodovia ligando-a a capital do estado, na década de 1960, o que beneficiava também aquela cidade. A construção da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, cujos canteiros de obras ficavam no município de Juazeiro (década de 1970), e o incentivo a fruticultura irrigada no vale do médio São Francisco, alavancaram o desenvolvimento da cidade que chega ao final do século XX, como um dos pólos do agronegócio baiano, atraindo incentivos diversos.

Considerações Gerais

A cidade de Juazeiro, com seu contexto territorial articulado por uma rede de estradas, tornou-se um importante destino de localização de parte das atividades do terciário da região norte da Bahia, como seu principal centro urbano.

Segundo Souza e Rabelo (2012), “A cidade de Juazeiro foi alvo, entre 1950 e 1980, de processos de transformações econômicas, sociais e culturais, direcionadas pelas políticas tanto nacional quanto regionais e locais, as quais implantavam um modelo econômico que visava o desenvolvimento dos espaços, como PND´s (Planos Nacionais de Desenvolvimento)”.

Aliado a isso, com a implementação do incentivo a agricultura, o agronegócio baseado na fruticultura, incrementou o desenvolvimento urbano, promovendo a expansão urbana, acentuada entre as décadas de 1990 e 2010. Por outro lado, a consolidação do agronegócio impulsionou o setor terciário e a economia urbana, bem como a polarização da população das cidades vizinhas que vão até ela em busca da oferta de bens, serviços e educação.

A Teoria de Pólos de Crescimento e Pólos de Desenvolvimento de François Perroux, parte do pressuposto que o crescimento não surge em todos os lugares ao mesmo tempo, manifestando-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento. Para et. al. (2002, citando Perroux), o pólo é sempre um ponto ou uma área que exerce influência sobre uma região, sendo a mesma interligada com outros complexos agroindustriais, por estradas e por canais diversos os quais possibilitam a circulação de fluxos de mercadorias, produtos, pessoas e capitais fixos. Além disso, o crescimento e o espraiamento dos pólos resultam na formação de eixos de desenvolvimento responsáveis pelo crescimento do mercado no espaço, o crescimento industrial e econômico da cidade e seu entorno, gerando uma área dinâmica que poderá exercer influência local e regional, o que se enquadra perfeitamente no nosso estudo.

Conforme Amorim et. al. (2010), “As cidades de Petrolina, Pernambuco e Juazeiro Bahia, são as cidades sede do Pólo de Irrigação do Vale do Rio São Francisco, situado no Semiárido do Nordeste brasileiro, na eco-região do sub-médio São Francisco, sendo considerado o maior e mais dinâmico pólo de fruticultura irrigada do Brasil e o maior aglomerado urbano do semi-árido”.

Desta forma, as autoridades públicas federais brasileiras, voltaram a atenção para o potencial agrícola da região, por volta do início dos anos 70, acentuando os investimentos em infra-estrutura, investimentos em irrigação e políticas de incentivos ao setor privado. Tal atuação do governo brasileiro provocou a transformação e o dinamismo da região, e da cidade.

De acordo com Lima & Miranda (2001), os investimentos modificaram por completo a estrutura da economia da região, transformando o Pólo, numa ilha de desenvolvimento em meio ao semi-árido nordestino.

Esse processo promoveu o deslocamento espacial, havendo um grande deslocamento de migrantes de várias partes do país, para a região, aumentando a densidade populacional, inclusive na zona rural, e o advento do agronegócio com foco na fruticultura que passou a ser a principal atividade econômica regional, acelerado nas últimas décadas. Essas migrações ocorrem principalmente em função da busca de melhores condições de vida e de oportunidades que seus lugares de origem não proporcionavam. No caso específico do Baixo Médio São Francisco, a leva dos migrantes vieram principalmente da região nordeste. A partir dessas migrações iniciais, quando o dinamismo econômico se estabeleceu, novos migrantes deslocaram-se, atraídos por este fator. Este processo só veio ocorrer efetivamente na região a partir da década de 1970.

Essas migrações fazem parte do contexto das amplas transformações ocorridas na sociedade brasileira. Segundo Sales e Baininger (2000),

“Os distintos contextos históricos, econômicos, sociais, políticos e demográficos tiveram rebatimentos nos processos de redistribuições da população e de urbanização, contribuindo para a transferência de enormes contingentes populacionais entre áreas rurais e urbanas e, atualmente, entre áreas urbanas. Assim, as migrações internas, entre 1930 e 1950, surgiram, basicamente, rumo ao meio urbano dos municípios, às fronteiras agrícolas como Paraná, Maranhão e o Centro-Oeste e também, aos centros industriais do sudeste como destaque para a cidade de São Paulo, a migração rural-urbana nacional chegou a 3 milhões de pessoas na década de 1940”.

A infra-estrutura de transporte é outro fator importante nas transformações da região. Com a pavimentação das BRs 407 e 235 ficou facilitado a circulação, proporcionando maior agilidade no transporte de mercadorias e pessoas. Neste contexto, Juazeiro teve vertiginoso crescimento populacional, entre 1970 e 2000, atingindo 221%, conforme IBGE.

Quanto à produção industrial na cidade, está ligada ao desenvolvimento agrícola, teve forte crescimento entre 1970 e 2002, sofrendo leve queda a partir de então, constituindo-se por empresas fornecedoras de insumos e equipamentos, bem como

aquelas de processamento e distribuição dos produtos. Por outro lado, ao analisar o número de estabelecimentos ligados ao comércio e serviços, nota-se outra dinâmica. É neste sentido que a centralidade exercida é diferente das demais cidades de porte médio da Bahia, pois sua centralidade está articulada com a economia baseada na relação entre agroindústria e prestação de serviços, ligada a Petrolina, com a qual constitui a Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Pólo Petrolina-Juazeiro, instituído por lei complementar nº 113, de 19.11.2001, regulamentada pelo decreto nº 4366 de 09.09.2002.

O setor terciário é também expressivo quando se verifica a difusão dos supermercados, lojas de departamento, lojas de implementos agrícolas, Plataforma Logística Multimodal (que irá consolidar a região como um moderno pólo agroexportador e corredor multimodal do centro do nordeste) e pelas novas atividades ligadas á prestação de serviços. Neste sentido, tais segmentos terciários são responsáveis pelo acréscimo tanto quantitativo como qualitativo das interações espaciais que advém da combinação de relações que se vinculam nas escalas, local, regional, e até nacional. A cidade pela sua dinâmica econômica, sofreu uma radical transformação, melhorando aspectos como meios de comunicação, transporte, iluminação/eletrificação, rede de comercialização e crédito, incremento do distrito industrial, já comportando um shopping (em vias de instalação) melhor estruturado do que o existente, bem como outros equipamentos típicos das cidades de seu porte.

Todas essas atividades, segundo Bessa (2005) promovem o surgimento de ocupações e empregos de elevado grau de especialização e, conseqüentemente, uma remuneração mais elevada, o que faz girar a roda da economia local.

Outro aspecto de importância fundamental para a consolidação de Juazeiro, enquanto fornecedor de bens e serviços, diz respeito ao serviço educacional, mais especificamente o ensino superior. Atualmente a cidade conta com uma universidade federal, um campus

da universidade estadual e vários centros universitários e faculdades particulares, o que garante mão de obra especializada para uma região em ascensão.

Considerações Finais

Este artigo é parte de um projeto em que se pretende fazer um estudo das cidades médias do estado da Bahia, na perspectiva da edição de um livro

A cidade de Juazeiro é a expressão da nova realidade econômica baiana e , sendo um dos focos de dinamismo da economia da região. A sua localização contribuiu para esta consolidação como pólo regional. Para isso contribuíram a infra-estrutura de estradas, a inserção do meio técnico científico informacional, através das pesquisas desenvolvidas para melhor aproveitamento da produção, e o desenvolvimento cultural alicerçado pelas instituições de ensino técnico e superior.

Parte da literatura sobre a região tem se ocupado em analisar a região numa ótica otimista e dão destaque à sua dinâmica econômica, em comparação com outras áreas do Nordeste e mesmo do país. Estudos ressaltam o desenvolvimento regional e enfatizam o a fruticultura irrigada. No Vale do São Francisco surge uma mística que tem como ênfase o desenvolvimento acima da média nacional, construindo a imagem da região como um oásis.

Um estudo aponta que nas últimas quatro décadas aconteceu, no Nordeste brasileiro, importantes mudanças tanto no plano econômico quanto no social, particularmente no Semiárido. E Juazeiro está dentro de uma das regiões agrícolas mais dinâmicas do país, graças aos investimentos capitaneados pelo Estado para a construção de grandes projetos de irrigação nos anos 1970, associados aos incentivos fiscais e financeiros de agências governamentais que foram propulsores do desenvolvimento e que tornou essa região um pólo atrativo de imigrantes.

Assim sendo, Juazeiro juntamente com Petrolina, pode ser considerada uma região metropolitana interestadual, congregando uma população de mais de um milhão de habitantes, uma vez que ambas polarizam cidades de ambos os estados. A integração entre as duas supera o de outras cidades em situação semelhante, a exemplo de Ilhéus e , pois apesar do rio que as separa, a conurbação é evidente .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AMORIM, M.C. CAVALCANTI de; FRANCHINO, R. ; NIGRO, M. As redes ambientais em Juazeiro da Bahia. IN: www.uesb.br/eventos/simposio_cidades/anais/artigos/eixo1/1d.pdf , 2010. Acessado em 14.05.2014. BESSA, Kelly Cristine. Reestruturação da rede urbana brasileira e cidades médias: o exemplo de Uberlândia (MG ). Caminhos da Geografia, v. 24, n.16, p.268-288, out 2005. LIMA, J.P.R., MIRANDA, E.A.A. Fruticultura irrigada no Vale do São Francisco: incorporação técnica, competitividade e sustentabilidade. Revista Econômica do Nordeste. V-32, n. Especial. : novembro 2001. p.611-632 SALES, Teresa. BAENINGER, Rosana. Migrações internas e internacionais no Brasil panorama deste século. Travessia. Ano XIII, nº 36, jan/abr 2000, pp 33-43. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: EDUSP, 2004; SILVA, V. da SILVEIRA; ALBUQUERQUE, G. de ARAUJO SÁ C.; BICALHO, A.M. de S. MELO. A posição de Juazeiro (ba) no contexto regional para a localização de uma nova indústria de fertilizantes. IN: Anais da X Jornada de Iniciação Científica, 2002 CEREM – Centro de Tecnologia , UFRJ . SOUZA, A.C.GOMES; RABELO, E. de ASSIS. “Metrópoles” sanfranciscanas: fotografias das cidades de Juazeiro e Petrolina nos anos 1970. In: VI Simpósio Nacional

de História Cultural Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar Universidade Federal do Piauí – UFPI -PI, 2012.